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COMO RESOLVER CONFLITOS ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS COM

ENFOQUE NOS CONTRATOS

Wilson Martins dos Santos1

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar concepções sobre como resolver
conflitos entre direitos fundamentais com enfoque nos contratos, a metodologia
utilizada foi por meio de uma pesquisa bibliográfica, feita em livros, artigos
científicos, sites relacionados ao Direito, Código Civil e a Constituição Federal. Após
a elaboração de toda a pesquisa percebeu-se que nos dias de hoje a sociedade de
uma forma global exige que os ordenamentos jurídicos adotem posições em tutela
aos direitos fundamentais, objetivando a preservação da humanidade. Sobre os
conflitos entre direito fundamental e o bem juridicamente nota-se que pode ocorrer
entre inúmeros titulares de direitos fundamentais ou entre direitos fundamentais e
bens jurídicos da comunidade ou Estado. Por fim, se tratando dos contratos e os
direitos fundamentais conclui-se que o princípio da função social do contrato está
assegurado no Código Civil desde o ano de 2002, e visa orientar todos os outros
contratos, com a função de tornar igual os sujeitos de direito envolvidos em um
negócio jurídico, mantendo um equilíbrio contratual paras as partes envolvidas no
contrato, devem agir de forma tal que o conteúdo do negócio não prejudique
nenhuma delas e, também, a sociedade como um todo.

Palavras chave: Contratos. Igualdade. Solidariedade. Direitos Humanos. Código


Civil.

Abstract

The present work aims to present conceptions on how to resolve conflicts between
fundamental rights with a focus on contracts, the methodology used was through a

1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Oeste de Santa Catarina, MBA em
Direito Civil e Processo Civil, advogado, e-mail: wilson@martinsdossantos.com.br,
wilsonadv.wmds@gmail.com
bibliographical research, carried out in books, scientific articles, websites related to
Law, Civil Code and the Federal Constitution. After the elaboration of all the
research, it was realized that nowadays society in a global way demands that the
legal systems adopt positions in defense of fundamental rights, aiming at the
preservation of humanity. On the conflicts between fundamental rights and the legal
property, it is noted that it can occur between numerous holders of fundamental
rights or between fundamental rights and legal assets of the community or State.
Finally, regarding contracts and fundamental rights, it is concluded that the principle
of the social function of the contract is guaranteed in the Civil Code since the year
2002, and aims to guide all other contracts, with the function of making the subjects
of Law involved in a legal business, maintaining a contractual balance for the parties
involved in the contract, must act in such a way that the content of the business does
not harm any of them and, also, society as a whole.

Keywords: Contracts. Equality. Solidarity. Human rights. Civil Code.

Sumário: 1 Introdução. 2 Desenvolvimento. 2.1 Direitos Fundamentais e Direito Privado. 2.2 Conflitos
entre Direitos Fundamentais. 2.3 Princípio da Proporcionalidade. 2.4 Soluções Existentes para as
Colisões entre Direitos Fundamentais. 2.5 Contratos e os Direitos Humanos Fundamentais. 3
Conclusão. Referências.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema os conflitos entre direitos fundamentais e


formas de solucionar a questão juridicamente com ênfase nos contratos. Acredita-se
que o presente estudo é de fundamental importância por demostrar situações sociais
aonde é comum a proteção dos direitos fundamentais principalmente os voltados a
igualdade e a solidariedade.
Situações diárias relacionadas ao direito de imagem ou informação por
exemplo, geram dúvidas entre os profissionais do direito, sendo assim, é importante
conhecer as soluções existentes para tais conflitos que garantam segurança jurídica.
O presente trabalho também pretende demostrar a importância dos direitos
fundamentais com ênfase nos contratos.
O grande desafio da sociedade moderna para a tornar efetivo os direitos
humanos envolve necessariamente a ambição de consolidação do princípio da
dignidade da pessoa humana, que se realiza no homem como sujeito de direitos, e,
por isso, merecedor de respeito e consideração não só por parte do estado, mas
também pelos demais seres humanos. Mas, para que isto ocorra, é imprescindível
que seja reconhecido e garantido o direito de realização de sua personalidade e a
tutela, pública e privada, ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Sendo assim, o todo o embasamento teórico foi elaborado de acordo com as
concepções dos seguintes autores: Alexy, Azevedo, Canotilho, Noronha, Sarlet,
Silveira, Steinmetz, Wambier, entre outros. Para uma melhor compreensão do tema
o referencial teórico conterá os seguintes tópicos: direitos fundamentais e direito
privado, conflitos entre direitos fundamentais, princípio da proporcionalidade,
soluções existentes para as colisões entre direitos fundamentais e contratos e os
direitos humanos fundamentais.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITO PRIVADO

Os direitos fundamentais são conhecidos mundialmente, atualmente eles se


classificam em: direitos de liberdade, de igualdade, de solidariedade e de
biogenética, este último é a quarta geração, pouco conhecida e pouco doutrinada.
Portanto, pode-se dizer que os direitos sociais não são exclusivos sobre liberdade,
mas relacionados a vida, a sociedade e a economia.
Segundo as concepções de Sarlet (2013, p. 194):

A expressão direitos humanos fundamentais e divergente da ideia de


direitos humanos. Cumpre relembrar, nesse sentido, que, com o findar das
guerras mundiais, os países beligerantes fundaram novas categorias de
direitos humanos além da liberdade e igualdade, os quais, posteriormente
passaram a ser positivados nas Constituições dos Estados participantes
formando, internamente, os chamados direitos fundamentais do cidadão.
Decorre daí uma diferença interessante entre direitos humanos e direitos
fundamentais, já que os primeiros guardam relação com os documentos de
direito internacional, referindo-se as proposições jurídicas que se atribuem
ao ser humano, independentemente da vinculação com a ordem
constitucional, ao tempo que os segundos são aqueles direitos da pessoa
reconhecidos na esfera de direito constitucional de determinado Estado.

Isso confirma-se quando a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


no ano de 1978 na franca, destacava no artigo 16 que não existe sociedade se não
se assegura ao ser humano a garantia dos direitos fundamentais nem a divisão dos
poderes, não é digna de ter Constituição (FERREIRA FILHO, 2012).
Quando os direitos fundamentais se positivam, adquirindo categoria de
verdadeiros direitos processualmente protegidos, passam a ser direitos
fundamentais em um determinado ordenamento jurídico (ROBLES, 2015). Isso
ocorre quando o ordenamento jurídico torna o direito especial distinto ou em
destaque, ou seja, mais importante que os demais.
Ainda para Robles (2015) do contrário, não seria possível distinguir os direitos
fundamentais daqueles outros que são, por assim dizer, direitos ordinários.
Normalmente é a Constituição que especifica os direitos fundamentais e prevê um
tratamento especial para eles. Todas as vezes que a Constituição Federal tornar
positivo os direitos humanos automaticamente teremos os direitos fundamentais.
De acordo com Azevedo (2014, p. 20):

O princípio da dignidade da pessoa, inserido como fundamento na


Constituição Federal transparece nitidamente como fonte, ou seja, alicerce
da construção jurídica nacional, tudo isso para alcançar os objetivos
presentes no art. 3o da mesma Constituição, ou seja, erradicação da
pobreza e da marginalidade, construção de sociedade livre, justa e solidaria.

Indicados os direitos fundamentais básicos que são: vida, segurança,


propriedade, liberdade e igualdade, tenha em conta que os direitos humanos
fundamentais atuam tanto em face do poder de autoridade do Estado, como nas
relações entre indivíduo versus indivíduo, revelando-se, de forma infraconstitucional,
nos chamados direitos da personalidade (BARROSO, 2013).
Pode-se assim perceber que os direitos humanos que inspiraram o
constituinte pátrio de 1988 na formação das normas definidoras de direitos
compõem-se como clausula geral para tutela de direitos privados, aqui tratados
como direitos de personalidade ou direitos civis , já que a personalidade não pode
ser vista, apenas, como capacidade de direitos e obrigações, mas, muito além disso,
como direito a existência e as consequências de viver(TEPEDINO, 2017).
O direito privado não achava necessário a personalidade fazer parte dos
direitos e das obrigações, mas, com o passar do tempo os direitos da personalidade
alcançaram a tutela da existência. Perlingieri (2019) indicou que a personalidade não
seria meramente um direito, mas sim um valor importante do ordenamento.
Deixando claro compreender a insistência da doutrina, e do próprio ordenamento
jurídico, em tratar a personalidade como interesse ou direito extrapatrimonial,
oponível, indisponível, irrenunciável e imprescritível (DE CUPIS, 1961).
Por fim, destaca-se que os direitos tornam se reais por causa do ser humano
e de toda a sociedade, aonde não tiver vida, não se faz questão de direito, muitas
vezes, esses direitos entram em conflitos bem como seus princípios, como será
descrito no próximo item.

2.2 CONFLITOS ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os direitos fundamentais estão sendo debatidos com maior relevância, pois


são direitos relacionados a dignidade do ser humano e estão descritos e
assegurados pela Constituição Federal, muitos defendem que, a partir do momento
em que são definidos, pode ocorrer a conflitos entre os direitos fundamentais.
Canotilho (2019 p. 1191) caracteriza os conflitos de direitos fundamentais
nestes termos:

De um modo geral, considera-se existir conflitos de direitos fundamentais


quando o exercício de um direito fundamental por parte do seu titular colide
com o exercício do direito fundamental por parte de outro titular. Aqui não
estamos diante de um cruzamento ou acumulação de direitos, mas perante
um choque, um autêntico conflito de direitos. Considera-se existir uma
colisão autêntica de direitos fundamentais quando o exercício de um direito
fundamental por parte do seu titular colide com o exercício do direito
fundamental por parte de outro titular. Aqui não há cruzamento ou
acumulação de mas perante um choque, um autêntico conflito de direitos.

Nota-se que o choque entre os direitos fundamentais deve ser resolvido


perante a declaração de invalidade de uma das regras conflitantes ou a aplicação da
cláusula de exceção (ALEXY, 2017). Na ocorrência de colisão entre princípios, o
reconhecimento da preponderância de um sobre outro não resulta na declaração de
invalidade do que possui menor peso.
Não se pode pensar em aplicar a cláusula de exceção, pertinente às regras.
Dessa maneira, fica determinado o critério de ponderação ou precedência: pela
ponderação, há interesses resguardados por princípios colidentes. Esse critério
busca avaliar qual dos interesses, abstratamente do mesmo nível, possui maior peso
diante das circunstâncias do caso concreto (ALEXY, 2017).
Quando tiver uma situação com dois princípios com a mesma força, prevalece
o que tiver maior peso diante das circunstâncias. Alexy (2017) cita que a tensão
entre ambos os princípios não pode ser resolvida com a atribuição de prioridade
absoluta de um sobre o outro. Conforme Andrade (2017, p. 185) acerca da colisão
entre preceitos fundamentais afirma-se:

Haverá colisão ou conflito sempre que se deva entender que a Constituição


protege simultaneamente dois valores ou bens em contradição concreta. A
esfera de proteção de um certo direito é constitucionalmente protegida em
termos de intersectar a esfera de outro direito ou de colidir com uma norma
ou princípio constitucional. O problema agora é outro: é o de saber como vai
resolver-se esta contradição no caso concreto, como é que se vai dar
solução ao conflito entre bens, quanto ambos (todos) se apresentam
efetivamente protegidos como fundamentais […]. Terá, pois, de respeitar-se
a proteção constitucional dos diferentes direitos ou valores, procurando a
solução no quadro da unidade da Constituição, isto é, tentando harmonizar
da melhor maneira os preceitos divergentes.

Os direitos fundamentais são direitos formados por regras e princípios, a


colisão entre esses direitos pode se dar através de duas formas: (1) o exercício de
um direito fundamental colide com o exercício de outro direito fundamental (colisão
entre os princípios direitos fundamentais); (2) o exercício de um direito fundamental
colide com a necessidade de preservação de um bem coletivo ou do Estado
protegido constitucionalmente (colisão entre direitos fundamentais e outros valores
constitucionais) (CANOTILHO, 2019). A primeira hipótese, quando a colisão se dá
entre direitos fundamentais, e a segunda hipótese ocorre quando há a colisão entre
direitos fundamentais e outros valores constitucionais.

2.3 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

O Direito Penal cobra dos magistrados que as sanções criminais sejam


proporcionais a gravidade dos atos ou delitos praticados e a proporcionalidade tem
com objetivo limitar a liberdade individual, serve para orientar o ser humano perante
a sociedade, evitando que se fira as liberdades proclamadas pelo espírito
democrático. Marques (2021) destaca que o ser humano deve aferir a conformidade
das leis e dos atos administrativos aos ditames da razão e da justiça.
O princípio da proporcionalidade é reconhecido como protetor das liberdades
e inimigo dos administradores públicos porque está relacionado ao arbítrio dos
mesmos. De acordo com Marques (2021, p. 3):
Após a Segunda Guerra Mundial, o princípio da proporcionalidade foi
constitucionalizado como reação às atrocidades cometidas pelo movimento
nazista, principalmente no que tange ao poder legiferante daquele Estado
que corroborava e impulsionava o cometimento daquelas ações em que o
poder público contrariou toda e qualquer ideia de proteção aos direitos dos
cidadãos. O artigo 29 da Declaração Universal dos Direitos Humanos
estabelece que no exercício de seus direitos e liberdade, todo homem está
sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o
fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e
liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da
ordem pública e do bem-estar da sociedade democrática. A proclamação
supra mencionada traz à baila o princípio da proporcionalidade, eis que da
forma como foi estabelecido acima, a adequada proporção torna-se
condição de legalidade. Quando a medida é excessiva ou injustificável, ela
sai da proporcionalidade e por isso é inconstitucional.

Ao se fazer controle de constitucionalidade de uma lei, deve-se fazer também


o controle da proporcionalidade, especialmente quando a questão envolve Direitos
Humanos (ALMEIDA, 2019). Nos dias de hoje se tem a necessidade de utilizar o
principio da proporcionalidade em virtude das desigualdades.
Para Canotilho (2019) o princípio da proporcionalidade representa a proibição
do excesso, em sede de restrição de direitos, a proibição do excesso foi considerada
muitas vezes pelo Supremo Tribunal Federal como uma das facetas do princípio da
proporcionalidade que proíbe a restrição excessiva de qualquer direito fundamental.
Com isso, nota-se aonde o direito fundamental estiver e for restringido com excesso,
automaticamente estará explicito a proibição de excesso.
A doutrina alemã, onde o princípio em comento demonstra maior importância
ao ser analisado e desenvolvido, por força da jurisprudência da Corte Constitucional,
decompõe o princípio da proporcionalidade em três subprincípios, ofertando-lhe um
caráter trifásico: a adequação ou pertinência, a necessidade e a proporcionalidade
em sentido estrito (ponderação) (MARQUES, 2021). Resta claro que, dessa forma,
qualquer limitação legal, no âmbito dos direitos fundamentais deve ser apropriada),
exigível e proporcional.
Esses três princípios parciais podem ser explicados da seguinte forma
segundo Marques (2021, p. 04):

a) pertinência, adequação ou princípio da idoneidade - se examina a


adequação, a conformidade ou a validade do fim, podendo ser confundido
com o da vedação do arbítrio; um meio é adequado se promove o fim.
Analisa-se a possibilidade de a medida levar à realização da finalidade. Por
meio desta forma, examinamos se o meio é apto, útil, idôneo ou apropriado
para atingir ou promover o fim pretendido. b) necessidade - o meio não será
necessário se o objetivo almejado puder ser alcançado com a adoção de
medida que se revele a um só tempo adequada e menos onerosa. Um meio
é necessário se, dentre todos aqueles meios igualmente adequados para
promover o fim, for o menos restritivo relativamente aos direitos
fundamentais, o menos gravoso, o menos prejudicial. c) proporcionalidade
em sentido estrito - a escolha recai sobre o meio que, no caso concreto,
levar mais em conta o conjunto de interesses em jogo, ou seja, uma espécie
de controle de sintonia fina, indicando a justeza da solução encontrada ou a
necessidade de sua revisão. Um meio é proporcional se as vantagens que
promove superam as desvantagens que provoca.

Existem autores que destacam a proporcionalidade com um critério e não


como princípio, Canotilho (2019) sugere a adoção da proporcionalidade não como
um princípio, mas como um critério, pois como princípio estaria potencialmente
sempre em concorrência com qualquer outro princípio, devendo ambos comporem-
se para adequada solução, o que de fato não ocorre, havendo conflito de dois
princípios, por exemplo, a proporcionalidade não seria um terceiro que devesse
também ser ponderado e sim, a própria ponderação a resolver o conflito ou
concorrência, ou a aferir cada aplicação normativa, determinando o modo de
incidência.
As constituições do estado não consideram a proporcionalidade como uma
regra ou norma positiva, mas, a jurisprudência e a doutrina destacam a necessidade
de sua aplicação. Marques (2021) cita que em alguns países, como a Itália, o
princípio da proporcionalidade é denominado de razoabilidade (ragionevolezza). Já
Portugal admite-o seu artigo 18.2 (Constituição de 1976), que a lei só pode restringir
os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente previstos na
Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar
outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos.
No Brasil para Marques (2021) alguns doutrinadores afirmam que o princípio
da proporcionalidade na Constituição Federal não exclui outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte. Por fim, o princípio da proporcionalidade
contribui na solução para as colisões entre os direitos fundamentais.

2.4 SOLUÇÕES EXISTENTES PARA AS COLISÕES ENTRE DIREITOS


FUNDAMENTAIS

Sobre as colisões entre direitos fundamentais, percebe-se que existe solução


utilizando o principio da proporcionalidade, para Rolim (2021) o princípio supracitado
indica qual o direito que, na situação concreta, está ameaçado de sofrer o prejuízo
mais grave caso venha a abdicar ao exercício do outro, e, por essa razão, merece
prevalecer, excluindo a realização deste (colisão excludente).
Já Canotilho (2019), cita que há a prevalência (ou relação de prevalência) de
um direito ou bem em relação a outro, sendo legítimo dizer que um direito tem mais
peso do que o outro, isto é, um direito prefere outro em virtude das circunstâncias do
caso.
Sobre o princípio da proporcionalidade tem como objetivo equilibrar os direitos
fundamentais com as vontades da sociedade. Para Marinela (2020) a
proporcionalidade é um importante princípio constitucional que limita a atuação e a
discricionariedade dos poderes públicos e, em especial, veda que a Administração
Pública aja com excesso ou valendo-se de atos inúteis, desvantajosos,
desarrazoados e desproporcionais.
Sobre o princípio da proporcionalidade Fernandes (2017, p. 229-230)
descreve que:

Todavia, não há como discordar quando se critica a falta de precisão e rigor


técnico-metodológico, seja por parte dos Tribunais brasileiros, notadamente
o STF, que parece ter encontrado na proporcionalidade o remédio
taumaturgo (milagroso) para todos os problemas constitucionais, ou por
parte dos juristas pátrios, seja por descuido epistemológico (equívoco que
se corrige com estudo), seja por perversidade ideológica (mal a ser
combatido) que abraçam tal tese de maneira acrítica e irrefletida, sem pesar
as consequências para a construção do paradigma de um direito afeito a um
Estado Democrático.

Mesmo tendo críticas que remetem a uma reflexão sobre o uso excessivo de
tal princípio, não se pode negar que sua aplicação age naturalmente minimizando os
efeitos para que se alcance o direito fundamental para que outro proteja um bem
jurídico tutelado mais importante e produza a justiça que se almeja. Outra solução
para resolver conflitos dos direitos fundamentais é a utilização do principio da
ponderação.
Para Steinmetz (2016, p. 148):

Ao ocorrer a tensão entre dois princípios reconhecidos pelo ordenamento


constitucional em vigor, o de menor peso, de acordo com as circunstâncias
e condições inerentes ao caso concreto, abdica do seu lugar ao de maior
valor, em uma relação de precedência condicionada. É diferente do que
ocorre com os conflitos entre regras, não são estipuladas cláusulas de
exceção, pois, senão, estar-se-ia limitando o princípio constitucional para
situações futuras, quando poderá preceder frente a outros valores com os
quais entre em colisão. Busca-se, pelo princípio da ponderação, decidir,
ante as condições do caso, qual valor possui maior peso, devendo
prevalecer na situação. A ponderação entre princípios constitucionais é
tarefa das mais complexas e importantes para a manutenção da ordem
constitucional coesa. Por essa razão é enorme a responsabilidade do Poder
Judiciário, principalmente das Cortes Supremas dos Estados, quando do
controle da constitucionalidade de leis restritivas de direitos, bem como da
solução de tensões entre direitos fundamentais amparados pela
Constituição, colidentes no caso concreto.

Portanto, é comum em um estado democrático o choque entre direitos


fundamentais, e isso pode ser solucionado através dos princípios de ponderação, que
se operacionaliza através do princípio da proporcionalidade. O s conflitos de direitos
fundamentais acontecem quando a as leis constitucionais protegem dois ou mais
direitos que se acham em contrassenso em determinado ao próprio caso.

2.5 CONTRATOS E OS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS

O contrato faz parte dos direitos fundamentais do ser humano, ser para
organizar, aperfeiçoar e cooperar nas relações sociais, sua função é fazer com que
as partes contratantes, envolvidas num clima de cooperação e solidariedade,
inobstante almejem seus interesses recíprocos, não percam de vista a influência
deste negócio na vida de terceiras pessoas (DA SILVA, 2016).
É nessa reflexão entre cooperação e contratantes e a relação com terceiros
que se origina o direito contratual, Bonavides (2016, p. 98): esta ideia está insculpida
no inciso I do artigo 3º da Constituição Federal. De acordo com Da silva (2016, p.
74):

No campo do direito privado, foram grandes as transformações ocorridas


em razão das mudanças sociais. A massificação da sociedade e das
relações sociais trouxe também nas relações contratuais grandes
mudanças, onde já não existe mais a pessoalidade que outrora existia, onde
os contratantes tinham a liberdade de discutir as cláusulas contratuais e
estabelecer seus parâmetros de acordo com a vontade de ambos. Hoje, o
contrato paritário já é uma exceção, pois o que predomina são os contratos
padronizados e de adesão, no qual apenas uma das partes expressa sua
vontade livremente, cabendo à outra (aderente), apenas concordar com as
cláusulas preestabelecidas, sem que lhe seja dada a oportunidade de
discuti-las ou questioná-las.

Com isso, percebe-se que o direito não pode se alienar nas transformações
sociais, mas sim, devera estar sempre acompanhando, pois diariamente a
sociedade muda, e o direito também deve mudar, já que não se pode impor a uma
sociedade um direito baseado em valores, que não existam mais nesta sociedade
(NORONHA, 2014).
Existe uma dependência clara entre direito e sociedade, segundo Hironaka
(2017) os acontecimentos que ocorrem em uma esfera produzirão efeitos também
na outra, e a dependência entre o direito e a sociedade é bem maior do que da
sociedade em relação ao direito.
O direito deve acompanhar as mudanças sociais, sob pena de não atingir
seus objetivos de justiça, criando normas que se insiram dentro da nova realidade
da sociedade moderna (NORONHA, 2014). E é exatamente dentro dessa nova
realidade social que o princípio da função social tem seu nascimento, tendo como
essência a prevalência dos direitos coletivos sobre os direitos individuais, sem se
perder de vista, é claro, o valor fundante da pessoa humana, quando falamos em
função de algum direito, estamos nos referindo à finalidade que deve ter este direito,
e quais os objetivos que deve buscar (HIRONAKA, 2017).
Nas palavras de Da Silva (2017, p. 88);

A função social não é privativa dos contratos, veio consagrada


primeiramente em nossa Constituição na proteção da propriedade, que tem
como objetivo adaptar o direito à propriedade aos interesses da
coletividade, mas projetou-se sobre outros institutos do Direito Privado,
estando, também, agora presente nos Contratos. Atento à nova realidade
social, andou bem o legislador ao introduzir no Código Civil de 2002
disposições que disciplinam a vida em sociedade, tendo como fim último a
tutela dos interesses da coletividade. Aliás, por ter um conteúdo de cunho
puramente social, o Código Civil contém vários dispositivos nos quais o
princípio da função social é destacado. A função que sempre se destacou
no contrato é a econômica, com o objetivo de circulação de riquezas,
transferindo-a de um patrimônio para outro.

Nota-se que a função social garante o bom funcionamento das riquezas, esta
disciplinada no Código civil. De acordo com Azevedo (2013) embora este dispositivo
legal faça menção à liberdade de contratar, os limites nele impostos dizem respeito à
liberdade contratual, e visa proteger a manifestação entabulada no conteúdo do
contrato, pois a liberdade de contratar diz respeito à liberdade que têm as partes de
realizar um contrato, enquanto que a liberdade contratual está relacionada ao seu
conteúdo, que mesmo elaborado de acordo com a vontade das partes envolvidas,
deve sujeitar-se aos interesses do bem comum.
O princípio da função social do contrato, faz com que o contrato exerça uma
boa função na sociedade, e também orienta os contratantes a negociar de uma
forma que ambos se entendam, tenham respeito tendo como fundamento os
princípios da solidariedade e da dignidade da pessoa humana.
Wambier (2015) descreve que a função social dos contratos significa que
estes devem desempenhar papel na sociedade, representando um meio de
negociação sadia de seus interesses e não uma forma de opressão. Para Gogliano
(2014) o equilíbrio contratual deve estar presente em toda e qualquer avença, pois é
nele que se encontra a justiça contratual.
O contrato hoje não pode ser visto apenas como um negócio jurídico, que
apesar de atingir seu objetivo econômico, não atinja, concomitantemente, o desejo
das partes envolvidas, e para tanto, é necessário que haja efetiva outorga de
consentimento de ambas as partes, já que ele não pode ser um instrumento de
injustiças (WAMBIER, 2015).
O contrato é hoje considerado o principal instrumento das operações
econômicas, de acordo com Silveira (2016, p. 319) tem como objetivo:

A circulação e transferência de riquezas, fatos que constituem o


desenvolvimento econômico da sociedade. Neste prisma, a constituição e o
desenvolvimento de uma sociedade não é questão que interessa a cada um
individualmente, mas à sociedade como um todo. Por essa razão, para não
ocorra de apenas alguns serem beneficiados, ou melhor ainda, para que
todos sejam beneficiados igualmente, é necessário que se coloque um
pouco mais de humanização nas relações contratuais, no sentido de que
cada parte consiga enxergar, “uma na outra”, um ser humano merecedor de
um tratamento leal e sincero, sem querer apenas “levar vantagem”, sem se
importar na desvantagem do outro. O fato é que, nos dias atuais, o contrato
já não pode ser visto apenas do ponto de vista econômico em razão de sua
função social, já que a vontade das partes deve estar subordinada à
vontade e interesses da sociedade, em respeito aos direitos fundamentais
do ordenamento jurídico.

Sendo assim, esse equilíbrio só vai existir se tiver igualdade entre os


contratantes e também que não haja exploração fazendo com que um se sinta mais
fraco e um mais forte, tudo tem que ser feito levando em consideração o principio da
dignidade e igualdade humana.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a elaboração de toda a pesquisa com o objetivo de apresentar
concepções que ajudassem conflitos entre direitos fundamentais com enfoque nos
contratos, percebeu-se que nos dias de hoje a sociedade de uma forma global exige
que os ordenamentos jurídicos adotem posições em tutela aos direitos
fundamentais, objetivando a preservação da humanidade.
Sobre os conflitos entre direito fundamental e o bem juridicamente nota-se
que pode ocorrer entre inúmeros titulares de direitos fundamentais ou entre direitos
fundamentais e bens jurídicos da comunidade ou Estado. Também percebeu-se que
a Constituição não deve deixar contraposições que deixam brechas para transmitir
insegurança jurídica no ordenamento jurídico. Sabe-se que mesmo cuidando para
que isso não aconteça, na prática existem vários conflitos entre os diretos
fundamentais, principalmente, quando estes regulamentam o mesmo fato, mas cada
um do seu lado.
Uma questão que pode- perceber é que o direito a saúde, á vida, o direito a
honra e o direito de liberdade de informação são direitos que entram em conflito
mais frequência, sendo assim o poder judiciário cumpre seu papel constitucional ao
dar consonância aos direitos fundamentais conflitantes para que produzam os
efeitos desejados protegendo o bem jurídico tutelado mais importante, em dado caso
concreto.
Por fim, se tratando dos contratos e os direitos fundamentais conclui-se que o
princípio da função social do contrato esta assegurado no Código Civil desde o ano
de 2002, e visa orientar todos os outros contratos, com a função de tornar igual os
sujeitos de direito envolvidos em um negócio jurídico, mantendo um equilíbrio
contratual paras as partes envolvidas no contrato, devem agir de forma tal que o
conteúdo do negócio não prejudique nenhuma delas e, também, a sociedade como
um todo.
REFERÊNCIAS

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