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Estudo das Propriedades Petrofísicas de Rochas Artificiais

1,2 1,3 1,4


Igor Leonardo Guerra Galvão* , Milton Morais Xavier Júnior* , Francisco de Assis Olímpio Cabral*
1 2 3 4
( DGEF/Departamento de Geofísica, Bolsista PRH22-BR, Professor Orientador, Professor Co-orientador)

Copyright 2015, SBGf - Sociedade Brasileira de Geofísica


inúmeros fatores ambientais, como pressão, temperatura,
th
saturação, salinidade e argilosidade; e condições
This paper was prepared for presentation during the 14 International Congress of the
Brazilian Geophysical Society held in Rio de Janeiro, Brazil, August 3-6, 2015. instrumentais, como frequência, potência, ganho,
espaçamento, amostragem e sensibilidade. Essa
Contents of this paper were reviewed by the Technical Committee of the 14th
International Congress of the Brazilian Geophysical Society and do not necessarily investigação petrofísica pode ocorrer na escala de campo
represent any position of the SBGf, its officers or members. Electronic reproduction or (perfilagem geofísica feita na região) ou na escala de
storage of any part of this paper for commercial purposes without the written consent
of the Brazilian Geophysical Society is prohibited. bancada (medição laboratorial das propriedades físicas
____________________________________________________________________ de amostras de rochas/fluidos).
Abstract Partindo desse princípio e sabendo que a obtenção de
This report graduation contains the study of estimates of amostras de rochas-reservatório são muitas vezes de
some petrophysical properties such as porosity, difícil acesso, esse trabalho consiste num estudo de
permeability and electrical resistivity models in artificial algumas propriedades petrofísicas das rochas
rocks created in the laboratory from the sintering of glass reservatório observadas em rochas artificiais (porosidade,
beads, plus a complete microstructural analysis of these permeabilidade intrínseca e resistividade elétrica em
models, through images digital (thin sections and função de uma frequência aplicada e do grau de
computed microtomography). The objective was, knowing saturação em água das amostras), no nosso caso,
the few available evidence in the literature, producing produzidas através da sinterização de esferas de vidro
artificial rocks in the laboratory with the same com vários diâmetros, que podem, pelo baixo custo de
characteristics of the reservoir rocks and analyze the produção das mesmas, aliado a possibilidade de controle
petrophysical properties of the same, in order to study, sobre a homogeneidade e dimensões das amostras,
more cheaply (compared to samples obtained in the field permitir uma análise menos dispendiosa das suas
mainly drawn from testimonies of wells), key aspects to propriedades petrofísicas comparado com amostras de
characterize the storage and transmission of fluids in rochas reservatório obtidas em campo, principalmente as
rock, essential to manage and predict the performance of amostras retiradas de testemunhos de poços.
an oil reservoir in the subsurface. The results were Metodologia
satisfactory and, as a pioneering work, serves as a basis
for further laboratory petrophysical studies from these Os trabalhos laboratoriais desenvolvidos se dividiram em
artificial models of rocks. quatro etapas principais: a produção das amostras
sintéticas, os ensaios de porosidade, os ensaios de
Introdução permeabilidade, além da mensuração da resistividade
O conhecimento preciso das propriedades físicas das elétrica – em função de alguns parâmetros como
rochas é de suma importância para uma interpretação frequência e a saturação em água – dos modelos
mais realista dos dados geofísicos que são registrados desenvolvidos.
em campo, já que com as dificuldades físicas existentes A produção das amostras sintéticas foi feita no
na prática da prospecção de recursos minerais Laboratório de Propriedades Físicas das Rochas do
subterrâneos, a petrofísica surge como uma ferramenta Departamento de Geofísica da Universidade Federal do
fundamental da exploração mineral nos dias atuais. Rio Grande do Norte, à partir da sinterização de esferas
Estudos petrofísicos são intensamente empregados com de vidro (Figura 1) de diversos diâmetros (Tabela 1).
o objetivo de melhorar o conhecimento da distribuição de Figura 1 - Microesferas de vidro.
fases fluidas e das heterogeneidades internas num
reservatório de petróleo, por exemplo. Com isso, torna-se
possível delimitar e estimar reservas, determinando,
inclusive, a quantidade de que está no campo.
Além disso, a petrofísica se interessa, particularmente,
pelas propriedades que permitem a determinação de
porosidade, permeabilidade e saturação de fluidos em
uma rocha-reservatório, que são aspectos fundamentais
para caracterizar o armazenamento e a transmissão de
fluidos na rocha, com a finalidade de administrar e prever
a performance de um reservatório em sub superfície, em
outras palavras, a petrofísica investiga as propriedades Fonte: Zengbo Wang (2011)
físicas de minerais, rochas e fluidos nelas contidos, e
como essas características se alteram em função dos

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Tabela 1 – Diâmetros das esferas de vidro utilizadas na abrir o molde lateralmente, o que facilita a retirada das
produção das amostras sintéticas. amostras feitas nesse molde.

DIÂMETRO EM MILIMETROS (mm)


Figura 3 - Os três moldes cilíndricos utilizados na
produção das amostras sintéticas
0,063 0,090 0,125 0,180 0,250 0,355 1,00 MOLDE 1
Fonte: Própria (2014)
A sinterização é um processo natural que ocorre, por
exemplo, quando partículas de no máximo poucas
-6
centenas de micrometros (1µm=10 m) de diâmetro
encontram-se em contato e a temperatura do ambiente é
suficientemente alta para produzir uma união por
coalescência (Figura 2), isto é, pela fusão de superfícies
adjacentes. Muitas vezes as partículas em contato
podem ser até milimétricas. Para que a sinterização
ocorra é necessário que o sistema de partículas esteja o
mais empacotado possível e que os vazios existentes
entre elas sejam também, no máximo, da ordem de
micrometros. MOLDE 2
Figura 2 - Exemplo de região com união por coalescência
(em vermelho) das esferas de vidro.

MOLDE 3
Fonte: Ciência dos Materiais (2014)
Após as amostras serem lavadas e peneiradas (em um
agitador de peneiras), o processo de sinterização das
esferas de vidro aconteceu em um forno mufla (indicado
para processos laboratoriais de pesquisa), já que o
mesmo nos permite trabalhar com faixas entre 0º e
1300ºC.
Antes de serem sinterizadas, as esferas de vidro foram
depositadas em três moldes cilíndricos de aço (Figura 3)
torneados especificamente para o trabalho com as
esferas de vidro: o primeiro com 1 polegada (25,4mm) de
diâmetro no ambiente interno do molde e cerca de Fonte: Própria (2014)
110mm de comprimento, esse molde possui duas tampas
de aço que encaixam nos seus limites e mantém o molde Para a porosidade, as medidas dos modelos artificiais de
bem fechado; o segundo com 1,5 polegadas (38,1mm) de rocha foram realizadas no Laboratório de Petrofísica da
diâmetro para o ambiente interno do molde e 94mm de Universidade de Campina Grande (UFCG) a partir da
comprimento, o mesmo também possuem tampas de aço utilização do porosímetro ULTRAPORE/PERM 500. O
de aço; e o terceiro também com 1,5 polegadas equipamento mede a porosidade da rocha através do
(38,1mm) de diâmetro para o espaço interno do molde e método de expansão de gás, empregando-se a Lei de
94mm de comprimento, porém, com algumas adaptações Boyle (1662) em um porosímetro à hélio (Esquema
em relação ao segundo molde que foi fabricado, como a representado na Figura 4), onde uma alta pressão é
presilha que envolvia todo o molde, aumentando a aplicada no corpo de aço que contém a amostra sintética
fixação das suas paredes “encaixantes”, que é uma outra e uma resposta linear de um transdutor permite um
adaptação que nos permite, após a retirada da presilha, rápido equilíbrio da pressão e consequentemente a
determinação da porosidade efetiva.

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Feito o ensaio, um software (instalado no computador e Mantida uma carga hidráulica h, o coeficiente de
sincronizado com o equipamento) determina o volume de permeabilidade é determinado pela quantidade de água
grãos (VG), o volume de poros (VP), o volume bulk (VB), que percola a amostra (colocada no interior de um tubo
a densidade de grãos (DG) e a diferença de pressão de parede flexível) para um dado intervalo de tempo.
antes e após a pressurização com He (ΔP). Através dos Essa quantidade de água é medida por uma proveta
dados obtidos para esses parâmetros, o próprio sistema graduada, e nos permite determinar a vazão (Q) do fluido
equipamento-software calcula a porosidade efetiva (∅). utilizado (água) na análise. Conhecidas a vazão e as
dimensões do corpo de prova (comprimento L e a área
Figura 4 - Esboço do Funcionamento do porosímetro da seção transversal A), calcula-se o valor da
Ultra Pore 500 Pycnometer System. permeabilidade intrínseca da rocha artificial (k).
CORPO
DE AÇO Por fim, as medidas de resistividade elétrica aparente
foram obtidas a partir do método das “quatro pontas”
COMPUTADOR
CÉLULA (Figura 6), que consiste em sistemas de quatro eletrodos,
DE REFERÊNCIA sendo dois deles (A e B) usados para enviar uma
He
corrente elétrica (i) para a amostra e os outros dois
VÁLVULA
eletrodos (M e N) usados para medir diferença de
DE AMOSTRA potencial (ΔV) entre eles. Os eletrodos de injeção de
corrente (A e B) estavam conectados a fios de cobre que
TRANSDUTOR
DE PRESSÃO envolviam a amostra e os eletrodos de medida de tensão
(M e N) estavam conectados a placas esféricas de cobre
VÁLVULA DE SAÍDA (em laranja na figura 6) que estavam conectadas as
Fonte: Própria (2014) paredes do plugue em suas extremidades. Todos os
eletrodos estavam igualmente espaçados em todas as
Quanto às estimativas de permeabilidade intrínseca, medidas (em torno de 1,1cm de espaçamento).
feitas no Laboratório de Propriedades Físicas das
Rochas da Universidade Federal do Rio Grande do Além dos eletrodos, o sistema era composto por uma
Norte, as medidas foram obtidas a partir de dados de fonte de corrente, um amperímetro e um amplificador,
condutividade hidráulica obtidos com a utilização de um esse último nos dava a possibilidade de analisar a
permeâmetro de carga constante (representado na resistividade da rocha de acordo com as diferentes
Figura 5) produzido no próprio laboratório. Os ensaios de frequências de oscilação da corrente alternada que lhe
condutividade hidráulica são os mais realizados em eram aplicadas, já que, no caso deste trabalho, o objetivo
laboratório, devido os seus baixos custos de operação. era fazer uma análise das resistividades obtidas para
frequências entre 100Hz e 10000Hz em amostras 100%
Figura 5 - Esquema de Funcionamento de um saturadas, além de analisar as resistividades em função
Permeâmetro de Carga Constante. A permeabilidade da % de saturação da rocha, desde os 100% de sua
intrínseca (k) é medida em função da condutividade saturação até a rocha totalmente seca.
hidráulica (K), da viscosidade (µ) e do peso específico (ρ)
do fluido utilizado, além do valor da aceleração da Figura 6 - Esquema dos instrumentos utilizados para
gravidade (g). medir a resistividade das amostras.

Fonte: Própria (2014)


Resultados obtidos
Inicialmente, percebemos que a dificuldade encontrada
na produção das amostras sintéticas era à escolha
Fonte: Própria (2014) correta da temperatura de sinterização para cada
granulometria das esferas de vidro.
As estimativas feitas com esse tipo de permeâmetro é um
dos métodos mais utilizados para obter valores de A literatura apresentou temperaturas entre 600 a 800°C
condutividade hidráulica, muito recomendado para como ideais para que ocorresse a plena sinterização de,
estudos de rochas que possuem alta permeabilidade, no nosso caso, vidros sódio-silicatos, material que
como é o caso das rochas reservatório. compunha as esferas. Foram exatamente nessa faixa de
temperaturas que encontramos, segundo Chiang et al.
Nesse protótipo, o ensaio consta de dois reservatórios
(1977), as chamadas as “temperaturas de amolecimento”
onde os níveis de água são mantidos constantes.

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do material, onde iniciou-se o processo de adesão das fraturamentos, à natureza das partículas, a
esferas através da formação de “pescoços” recristalização dos minerais que compõe essa rocha e as
característicos de uma união por coalescência. dissoluções.
Foram produzidas amostras sintéticas (exemplo na Quanto a permeabilidade, para que uma rocha seja
Figura 7) nos três moldes, mas foram utilizadas para as considerada um reservatório de hidrocarbonetos
análises petrofísicas apenas as amostras (das sete explorável, a sua permeabilidade deve ser maior que
granulometrias abordadas nesse trabalho) produzidas cerca de 100 mD (o valor exato depende da natureza do
nos moldes 2 e 3, de 1,5’ (polegadas). hidrocarboneto - reservatórios de gás com
permeabilidades mais baixas ainda são exploráveis
Figura 7 - Amostra com esferas de vidro de 0,125mm. devido à menor viscosidade do gás relativamente ao
petróleo). Rochas com permeabilidades
significativamente mais baixas que 100 mD podem
formar selos eficientes em um sistema petrolífero.
Os valores de permeabilidade intrínseca desse trabalho
foram obtidos em laboratório através das medidas de
condutividade hidráulica em um permeâmetro de carga
constate. Os resultados variaram entre 13000 e 333000
miliDarcy, e também foram obtidas para as sete
granulometrias das amostras de rocha artificial que foram
produzidas.
A permeabilidade, assim como a porosidade, também é
inicialmente controlada por aspectos relacionados ao
tamanho, seleção, forma e arranjo dos grãos, além do
grau de deformação das esferas de vidros com as suas
Fonte: Própria (2014) temperaturas de sinterização. Como percebido nos
Numa análise das medidas das propriedades petrofísicas valores estimados, a permeabilidade nas amostras
das amostras, primeiramente de porosidade, os dados aumentou com o aumento da granulometria
obtidos nas estimativas laboratoriais nos comprovam a A priori, como a porosidade das amostras diminuiu com o
boa resposta do modelo artificial rochoso para estudos de aumento das esferas, era esperado que os valores da
reservatórios. Os valores de porosidade diminuem à permeabilidade também diminuíssem, porém, eles
medida que aumentamos a granulometria das esferas de aumentaram à medida que a granulometria também
vidro utilizadas nas amostras, variando entre 23 e 40%. aumentou, fato esse também associado a forte influência
Esses valores de porosidade estão associados a alguns da deformação nas esferas por causa da temperatura de
fatores que tem influência direta na porosidade das sinterização na qual foram submetidas, que apesar de
rochas, como a seleção dos grãos, a forma dos grãos, a piorar a seleção dos “grãos” e diminuir o arredondamento
granulometria, além de um fator em específico para as dos mesmos fazendo com que alguns dos poros fossem
amostras sintéticas, o grau de deformação das esferas até fechados, aumentou o diâmetro dos poros restantes
com a temperatura. após o rearranjo das esferas deformadas, onde poros
maiores ofereceram menos resistência ao escoamento
O grau de deformação das esferas com as temperaturas por causa da aderência entre o fluido e a parede dos
de sinterização que lhe foram estabelecidas é o principal poros.
responsável pelos valores obtidos nas estimativas de
porosidade. As esferas das amostras de baixa Esse aumento nos poros restantes após o rearranjo é um
granulometria foram sinterizadas em baixas fator importante para o aumento da vazão do fluido e
temperaturas, o que representa as mesmas um baixo consequentemente da condutividade hidráulica. Quanto
grau de deformação. O oposto acontece com as maior a condutividade hidráulica numa rocha, maior a
amostras de alta granulometria, que tiveram as esferas permeabilidade intrínseca da mesma.
sinterizadas em temperaturas maiores, fazendo com Além disso, as amostras de maior granulometria
essas esferas se deformem mais que as esferas das naturalmente tendem a ter valores de permeabilidade
amostras de menor granulometria. Com um maior grau mais altos, já que haverá uma diminuição da tortuosidade
de deformação, a seleção dos grãos piora e as esferas na passagem dos fluidos e um aumento da adesão do
se rearranjam de forma a preencher os vazios existentes fluido as paredes dos poros das amostras.
entre elas, diminuindo assim a porosidade da amostra, o
que confirma os valores de porosidade que foram Por fim, para a resistividade elétrica aparente numa
obtidos. primeira proposta, assim como em medidas feitas em
diversos trabalhos sobre rochas reservatório, os valores
Existem outras características que não foram simuladas de resistividade para todas as amostras sintéticas 100%
com as rochas sintéticas e retratadas nesse trabalho (que saturadas também diminuíram com o aumento da
podem vir a ser tema de estudos futuros) que também frequência, resultado da diminuição do número de
tem uma influência direta nos valores da porosidade de colisões entre os íons presentes no eletrólito durante as
uma rocha reservatório, são elas: a compactação dos suas movimentações entre os diferentes potenciais do
grãos (com a profundidade), a cimentação, os circuito. Com o aumento da frequência, mesmo com uma

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movimentação mais rápida dos íons, o período de reservatório. Assim como a porosidade, estavam sendo
oscilação da corrente é menor e em menos tempo ela levados em consideração apenas aspectos iniciais que
muda de direção (Por causa da mudança de polaridade influenciam nesses valores de permeabilidade intrínseca,
do campo magnético, já que se trata de uma corrente como granulometria, seleção de grãos e o
alternada), fazendo com que o percurso feito pelos íons arredondamento dos mesmos, além de, para amostras
também seja diminuído e a resistividade aparente medida sintéticas em específico, a influência do grau de
seja mais baixa. deformação com a temperatura. Em trabalhos futuros
seria interessante adaptar os modelos artificiais a outras
Numa segunda proposta dos experimentos (dessa vez influenciais que levam os resultados dos ensaios
com a % em água variando numa mesma amostra), os petrofísicos ainda mais próximos da realidade, como o
valores de resistividade aparente também diminuíram efeito da compactação de camada subjacente sobre essa
com o aumento da frequência (100, 1k, 5k e 10kHz), rocha, dissoluções, cimentação e até a recristalização de
também em consequência dos fatores explicados nas minerais. Simular todas essas influencias em novos
análises das amostras com 100% de sua saturação. A trabalhos seria mais do que essencial na obtenção de
diferença é que nas medidas de resistividade aparente resultados ainda mais consistentes.
feitas para diferentes valores de saturação, além de
existir um decréscimo nos valores de cada curva, As estimativas da resistividade elétrica também nos
causado pelo aumento da frequência de oscilação da mostraram uma boa resposta e confirmaram os efeitos já
corrente na rocha, as curvas conseguintes a saturação esperados em função da saturação em água e das
de 100% da rocha, mesmo com esse decréscimo, frequências de oscilação utilizadas. Seria interessante,
mostraram um aumento dos valores de resistividade em em trabalhos futuros, fazer novas medidas levando em
cada uma dessas curvas conseguintes. Isso basicamente consideração todos os fluidos que podem percolar uma
se deve ao fato de que a medida que a quantidade de rocha reservatório (óleo, gás e água), afim de comparar
eletrólitos diminuiu (diminuição da saturação), as os resultados com os dados desse trabalho e entender
medidas tiveram valores mais altos. Percebemos isso ao melhor como a resistividade se comporta a medidas em
comparar uma curva de resistividade aparente para um que esses fluidos se encontram juntos nos poros de uma
valor alto de saturação com uma outra curva de rocha.
resistividade aparente (na mesma rocha) agora com um
valor menor de saturação. Esse aumento é mais bem No mais, o trabalho com esse tipo de rocha artificial
visualizado na Figura 8, que mostra essas curvas da mostrou-se importante na petrofísica laboratorial de
amostra sintética composta por esferas de 0,125mm para rochas, porém como todo trabalho pioneiro em uma área,
valores de saturação que vão de 100 a 0%. inúmeras adaptações e incrementos devem ser feitos
para que esse tipo de pesquisa chegue o mais próximo
Considerações da realidade, dando um passo importante para a indústria
petrolífera.
As amostras sintéticas produzidas confirmaram os bons
resultados do modelo para estudos petrofísicos de rochas Agradecimentos
reservatório, no que diz respeito aos aspectos que
controlam inicialmente a porosidade, a permeabilidade e A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
resistividade elétrica de uma rocha. As porosidades Biocombustível (ANP) e a PETROBRAS, por meio do
foram relativamente boas, variando entre 23 e 40%, e Programa de Recursos Humanos para o de Setor de
formaram uma estrutura porosa favorável aos estudos Petróleo e Gás (ANP – PRH 22), pela bolsa concedida ao
em laboratório. Um único ponto a ser levando em autor durante o período da pesquisa. Ao Departamento
consideração nessas amostras é o fato da influência que de Geofísica da UFRN pela infraestrutura cedida. Ao
o molde de aço veio a ter em cima das amostras, fazendo
professor José Agnelo, do Laboratório de Petrofísica da
com que à medida que as temperaturas de sinterização
aumentassem, aumentasse também o grau de Universidade Federal de Campina Grande por permitir a
deformação dessas esferas, diminuindo a porosidade utilização de alguns equipamentos do laboratório.
com o aumento da granulometria, o que, em primeiro
Referências
caso deveria ser ao contrário (porosidade aumentando
com a granulometria). No fim desse trabalho, já foram ARCHIE, G.E. 1950. Introduction to petrophysics of
iniciados outros estudos com essas rochas sintéticas, reservoir rocks. American Association of Petroleum
onde as mesmas estão sendo produzidas, ao contrário
Geologists Bulletin. 34 (5), 943–961.
dessa pesquisa, em moldes de granito, o que nos gerou
uma surpresa nos resultados, já que diferente do que CHIANG, Y., Birnie III, D., Kingery, W. D.. Physical
acontecia nos moldes de aço, o granito não está tendo Ceramics, John Wiley Sons, Inc., N. York, EUA (1977)
tanta influência nas esferas e elas não estão sendo p. 392-398
deformadas com o aumento dessa temperatura de
sinterização. Isso já evidência uma primeira mudança SANTOS, R.A.A. 2014. Estimativa digital da
que deve ser feita nos próximos trabalhos com esses porosidade e permeabilidade através de imagens
modelos sintéticos, o molde a ser utilizado. tomográficas de rochas artificiais. Natal, 2014. 38 p.

Quanto à permeabilidade, os valores que foram obtidos SEGUNDO, F.R.D. 2014. Síntese de Rochas artificias a
em laboratório foram valores altos (de 13000 a 333000 partir da sinterização de esferas de vidro. Natal/RN,
mD), mas bem significativos no que diz respeito a rochas 2014. 30 p.

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Figura 8 - Curvas de resistividade aparente para diferentes valores de saturação da amostra de 0,125mm. As curvas com valores mais altos de resistividade são
obtidos para valores menores de saturação, já que os valores mais baixos de saturação representam uma rocha menor quantidade de eletrólito (água).

Fonte: Própria (2014)

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