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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Análise de metodologias de estudo da susceptibilidade à


liquefação de solos e rejeitos de mineração
Vanessa Luiza Thums
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, vanessalt91@gmail.com

Karla Cristina Araújo Pimentel Maia


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, karla.pimentel@etg.ufmg.br

Thiago Coutinho de Souza


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, thiagocoutin@hotmail.com

RESUMO: A liquefação é um fenômeno que pode correr em solos granulares sem coesão, saturados
e com comportamento contráctil quando submetidos à carregamentos suficientemente rápidos,
gerando um acréscimo de poropressões e a consequente redução das tensões efetivas e da
resistência ao cisalhamento do solo. A fim de estudar este fenômeno em barragens de mineração,
foram identificados na literatura três métodos de análise de susceptibilidade à liquefação de solos:
Ishihara (1985), Olson (2001) e Robertson (2010). Esses métodos foram avaliados utilizando-se
ensaios provenientes das Barragens de Fundão e de Germano (Morgenstern et al., 2016), que se
rompeu em Mariana, Minas Gerais, em 5 de novembro de 2015. Os resultados analisados foram
comparados a estudos de outros autores que também avaliaram estes métodos. Com isso, foi
possível concluir pela aplicabilidade dos métodos como indicativos da susceptibilidade do rejeito à
liquefação e na identificação de possíveis áreas no depósito de rejeitos susceptíveis ao fenômeno
embora, a partir da análise dos dados disponíveis, tenham sido também identificadas algumas
limitações desses métodos.

PALAVRAS-CHAVE: barragem de rejeitos, liquefação, mineração, susceptibilidade

1 INTRODUÇÃO que, para a ocorrência efetiva, depende de


outros fatores como a intensidade e o tipo de
A liquefação é um dos fenômenos mais carregamento. O critério geológico avalia o
controversos e interessantes da Engenharia tempo de depósito do material e a profundidade
Geotécnica, tendo impulsionado nos últimos do nível de água, o critério de composição do
anos vários debates devido à sua complexidade material avalia o formato das partículas e a
e importância (Teixeira, 2015). A ocorrência de distribuição granulométrica, e o critério de
liquefação está normalmente relacionada a solos estado avalia o estado de tensões do solo de
granulares saturados que, ao serem sujeitos a acordo com seu índice de vazios.
carregamentos rápidos, sob condições não O critério de estado é explicado pelo estado
drenadas (sem dissipação da poropressão), permanente que ocorre quando o solo flui
perdem a resistência e rigidez, levando ao fluxo continuamente sob tensão cisalhante, volume e
de massa do solo. velocidade constante, que é explicado por
Kramer (1996) apresenta três critérios para Kramer (1996) conforme apresentado a seguir.
estimar a susceptibilidade à ocorrência de A partir de ensaios triaxiais, Casagrande
liquefação. Estes critérios somente avaliam se (1940) constatou que há uma linha de índice de
alguns depósitos tem susceptibilidade à vazios que delimita o comportamento do solo
ocorrência do fenômeno da liquefação, visto em ser contráctil ou dilatante. Castro (1969)
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identificou uma linha de estado permanente, granulométrica que se enquadram os rejeitos de


SSL, em que o solo sofre deformação a volume granulometria fina com susceptibilidade à
e tensões constantes. A partir dessa ideia, Been liquefação.
e Jefferies (1985) introduziram o conceito de
parâmetro de estado, definido por ψ = e0 – ess,
onde ess é o índice de vazios na condição de
estado permanente sob a tensão de
confinamento efetiva de interesse, e e0 é o
índice de vazios inicial. Quando ψ é positivo, o
solo é contrativo e pode ser susceptível à
liquefação e, ψ negativo, indica solo expansivo
e não é susceptível à liquefação (Figura 1).

Figura 2: a) Faixas de curvas granulométricas que


definem os limites de solos susceptíveis ou não
susceptíveis à liquefação (depois de Tsuchida, 1970). b)
Intervalo de diâmetros dos grãos para rejeitos com baixa
Figura 1: Definição do parâmetro de estado ψ (Guillén, resistência para liquefação (depois de Ishihara, 1985)
2008 apud Been e Jefferies, 1985). (modificado de Terzaghi et al., 1996).

Been e Jefferies (1985) afirmaram, após 2.2 Método de Olson (2001)


intensos estudos em ensaios triaxiais drenados e
não drenados, que as linhas de estado O método permite avaliar as três etapas do
permanente e de estado crítico são coincidentes, fenômeno da liquefação: susceptibilidade,
independente das trajetórias de tensões. gatilho e estabilidade pós-gatilho, porém, será
descrito somente a susceptibilidade à
liquefação, tema do presente trabalho.
2 MÉTODOS DE ANÁLISE DA A análise da susceptibilidade de ocorrência
SUSCEPTIBILIDADE da liquefação consiste na caracterização do
comportamento do solo mediante cisalhamento
2.1 Método de Ishihara (1985) – contrátil ou dilatante – através das correlações
entre tensões verticais efetivas de pré-ruptura,
Tsuchida (1970) propôs faixas granulométricas 𝜎 ′ 𝑣0 , e resistências à penetração normalizadas,
em que um determinado material apresenta estabelecidas a partir de resultados de retro-
maior ou menor susceptibilidade à liquefação. análises de 33 casos históricos (Olson, 2001).
Foram analisadas curvas granulométricas de Para o cálculo das resistências à penetração
amostras de rejeitos e, ao comparar com a normalizadas, N1(60) e qc1, os valores dos
granulometria de solos, observou-se que a curva números de golpes medidos no ensaio de SPT
para os rejeitos não atendia os limites impostos (NSPT) e da resistência de ponta do cone do
por Tsuchida. Assim, Ishihara estabeleceu ensaio de CPT (qc), são corrigidos em relação à
novos contornos para solos pouco a não energia de cravação e ao nível de tensões,
plásticos, como rejeitos, com baixa resistência à respectivamente, conforme Olson (2001) e Seed
liquefação, tal como apresenta a Figura 2 (b), et al. (1985) estabeleceram em seus estudos.
em que a área rachurada indica a faixa
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Olson (2001) correlacionou sua base de As linhas de contornos de Fear & Robertson
dados com o contorno proposto por Fear & (1995) foram propostas para tensões efetivas
Robertson (1995), a qual delimita zonas inferiores a 350 kPa. Apesar de Olson (2001)
susceptíveis (comportamento contráctil) e não afirmar que é razoável a extrapolação deste
susceptíveis (comportamento dilatante) à valor, avaliações com tensões muito elevadas,
liquefação para ambos os ensaios de campo. não garantem a susceptibillidade à liquefação
A linha de contorno proposta para os ensaios encontrada, visto que, a profundidade influência
SPT é apresentada na Figura 3, enquanto que a mais que a resistência do solo em si.
linha de contorno proposta para os ensaios
CPTu é apresentada na Figura 4. 2.3 Método de Robertson (2010)

Para identificar o comportamento do solo


baseado em valores obtidos por parâmetros do
ensaio CPT, Robertson (1990) desenvolveu um
ábaco denominado CPT SBT ou SBT (“Soil
Behavior Type”), com valores corrigidos da
resistência de ponta (Qtn) e atrito lateral (Fr)
pela tensão vertical efetiva inicial ou de pré-
ruptura e a tensão vertical total.
Robertson e Wride (1998) sugeriram um
fator de correção para corrigir a resistência de
ponta normalizada em areias siltosas para ser
equivalente com valores de resistência de ponta
normalizada em areias puras, Qtn,cs.
A partir do conceito de linha de estado
crítica, Been e Jefferies (1985) desenvolveram o
parâmetro de estado (ψ) e aplicaram para
Figura 3: Envoltória das relações entre 𝜎 ′ 𝑣0 e (𝑁1 )60 ensaios de CPT para avaliar o potencial à
para solos dilatantes ou contráteis (modificado de Olson, liquefação. Been e Jefferies (2006) e Shuttle e
2001).
Cunning (2007) sugerem que solos com
parâmetro de estado ψ > -0,05 tem
comportamento contráctil e sob condições não
drenadas pode ter perda de resistência. Assim,
foi possível identificar no ábaco CPT SBT uma
linha que representa o parâmetro de estado de -
0,05, baseada nos parâmetros Qtn,cs e Fr, para
analisar a susceptibilidade à liquefação do solo,
conforme apresenta Figura 5.
Os contornos de valores constantes de Qtn,cs é
similar aos contornos dos valores de parâmetro
de estado, visto que, os valores de Qtn,cs entre 50
e 75 representa o limite de comportamento
contráctil e dilatante para um intervalo de solos,
conforme apresenta a Figura 6. Robertson
(2010) indica que os contornos de Qtn,cs
representam os contornos dos parâmetros de
Figura estado, logo, solos com valores constantes de
4Figura 4: Envoltória das relações 𝜎 ′ 𝑣0 e 𝑞𝑐1 para solos
contráteis e dilatantes (modificado de Olson, 2001).
Qtn,cs têm parâmetros de estado similares e,
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consequentemente, uma resposta similar ao dilatantes é válido, visto que todos os casos
sofrer carregamentos, e portanto, um apresentaram solos com comportamento
comportamento similar ao fenômeno da contráctil, ou seja, abaixo do contorno de Qtn,cs
liquefação. = 70. Além disso, o contorno é adequado para
os valores de CPT para areias puras a siltes e
para argilas. Este método é considerado
conservativo para avaliar se um solo é
susceptível ao cisalhamento sob condições não
drenadas, logo, susceptível à liquefação.

Figura 5: Contornos para o mesmo parâmetro de estado


para ensaios de CPT (adaptado de Robertson, 2009).

Figura 7: Dados de intervalos de valores de CPT


normalizados de casos históricos de ruptura por
liquefação (adaptado de Robertson, 2010).

Robertson (2009) apresentou uma projeção


de quatro grupos de comportamentos para
avaliar o potencial de liquefação e perda de
resistência em diferentes tipos de solos,
conforme apresenta a Figura 8. O
comportamento dos solos em cada região é:
Zona A1: solos drenados com comportamento
dilatante; Zona A2: solos drenados com
comportamento contráctil; Zona B: solos não
drenados com tendência dilatante (apresenta
Figura 6: Contornos equivalentes para valores de excesso de poropressões negativas); Zona C:
resistência de ponta normalizada para areais puras, Qtn,cs, solos não drenados com tendência contráctil
baseada nas correções sugeridas por Robertson e Wride
(1998) (adaptado de Robertson, 2010).
(apresenta excesso de poropressões positivas).

O ábaco CPT SBT da Figura 7 apresenta


dados compilados de valores normalizados de
CPT de casos históricos de rupturas por
liquefação. Os valores medidos de CPT de cada
caso histórico é representado pelos pontos
circulares, indicando que o contorno de Qtn,cs =
70 avaliado para limitar solos contrácteis e
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pontos analisados e no Dique da Baia 3 e;


comparação da avaliação dos métodos com
outros autores a fim de apoiar as conclusões
obtidas.

3.1 Barragem de Fundão, Minas Gerais

Para melhor entedimento do complexo da mina


em que a Barragem de Fundão estava inserida e,
a fim de localizar os elementos que compõem a
barragem, a Figura 10 apresenta uma imagem
de satélite da Barragem antes de sua ruptura, dia
5 de novembro de 2015.
Figura 8: Grupos de comportamentos de solos baseados
nos valores de CPT (adaptado de Robertson, 2010).

3 METODOLOGIA

O presente estudo visou avaliar alguns métodos


de análise de susceptibilidade à liquefação a
partir da aplicação dos mesmos em um mesmo
material. Os métodos foram obtidos por revisão
Figura 10: Identificação de componentes da Estrutura da
bibliográfica. Barragem de Fundão (Fonte: Google Earth).
A Figura 9 apresenta um resumo em forma
de fluxograma da aplicação dos métodos Para as análises das metodologias de estudo
selecionados. da susceptibilidade à liquefação, buscou-se na
literatura resultados de ensaios de campo e de
laboratório para o rejeito depositado na
Barragem de Fundão e para isso, foi utilizado o
relatório do comitê de especialistas que
elaborou a análise da ruptura da barragem
(Morgenstern et al., 2016). A Tabela 1
apresenta o quantititativo de ensaios que foram
analisados para este presente trabalho. A seguir
estes resultados são aplicados para os métodos
de Ishihara (1985), Olson (2001) e Robertson
(2010).
Figura 9: Fluxograma da metodologia a ser aplicada neste
trabalho. Tabela 1: Número de ensaios por tipo do relatório de
especialistas (Morgenstern et al., 2016)
A metodologia deste trabalho e a discussão Ensaios SPT 32 sondagens em 4
dos resultados será realizada de acordo com as campanhas de investigações
Ensaios CPT 76 sondagens em 7
seguintes etapas: aplicação de cada método de campanhas de investigações
susceptibilidade à liquefação com os dados de Ensaios de granulometria e 4 amostras
ensaios da Barragem de Fundão; discussão sedimentação
individual do resultado de cada método Peso específico dos grãos 4 amostras
aplicado; discussão dos resultados de todos os
métodos aplicados em duas vertentes: todos os
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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.2 Método de Olson (2001)

4.1 Método de Ishihara (1985) Para o método de Olson, primeiramente,


aplicou-se o ensaio de resistência à penetração
Com base nos resultados dos ensaios de do tipo SPT. Plotou-se os pares de valores do
caracterização, é possível observar que os número de golpes corrigido com as tensões
rejeitos de lama da Barragem possuem alto teor verticais efetivas de pré-ruptura juntamente com
de finos, % passante na peneira número 200, ou a envoltória de Fear & Robertson. A Figura 12
seja, diâmetros dos grãos entre 0,001 e 0,075 apresenta a envoltória com os pontos da
mm, e índice de plasticidade muito baixo ou campanha de investigação realizada no Dique
nulo, o que indica que os finos passantes não da Baia 3 na Barragem de Germano.
apresentam plasticidade. Logo, esse rejeito pode Outra análise possível por meio deste gráfico
ser classificado como material com é a interpretação das camadas susceptíveis à
comportamento granular não coesivo, tornando liquefação ao longo dos perfis investigados,
relevante sua análise de susceptibilidade à conforme apresenta Figura 13. As camadas
liquefação. A Figura 11 apresenta as curvas consideradas neste trabalho para avaliar uma
granulométricas do rejeito juntamente com os estatigrafia do solo quanto à susceptibilidade à
limites propostos por Ishihara (1985). liquefação são apresentadas na Tabela 2.

Curvas granulométricas de todos os furos Tabela 2: Camadas consideradas na avaliação dos perfis
100% para susceptibilidade à liquefação.
90% Camada Comportamento do solo
80% Camada A Susceptível à liquefação, porém
70%
% Passante

apresentou pontos com comportamento


60%
50% dilatante
40% Camada B Totalmente susceptível à liquefação
30% (contráctil)
20% Camada C Totalmente não susceptível à liquefação
10% (dilatante)
0%
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos grãos (mm)
Limites pontenciais de liquefação para rejeitos finos
Limites potenciais de liquefação para solos finos
Furo 10149
Furo 10150
Furo 10151
Furo 10152

Figura 11: Compilação de todas as curvas


granulométricas obtidas pelos ensaios.

A partir dos gráficos, é possível observar que


as curvas se apresentaram apenas parcialmente
dentro do intervalo definido por Ishihara (1985)
para indicação da susceptibilidade à liquefação
de rejeitos finos, o que não forneceria um
Figura 12: Valores de (N1)60 e σ’v0 obtidos para os perfis
resultado conclusivo, por meio desta avaliação, investigados na região do Dique da Baia 3, e a relação de
sendo necessária a investigação mais susceptibilidade à liquefação recomendada por Olson
aprofundada por outros métodos de análise. (2001).
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de análise pelo ábaco CPT SBT com as linhas


de parâmetros de estado (Figura 6) e pela zona
Camada A de comportamento (Figura 7) que os pontos
foram plotados, variando para os parâmetros de
estado de 0,00 a -0,20 e para as zonas de
comportamento entre 4 grupos (Figura 8).
A classificação entre comportamento
dilatante e contráctil dos pontos, foi realizada
Camada B de acordo com o seguinte critério: quando havia
somente alguns pontos acima do contorno de
Qtn,cs e quase a totalidade dos pontos abaixo do
contorno, os primeiros foram desconsiderados
para uma análise mais conservadora. Além
disso, na interpretação do parâmetro de estado e
Figura 13: Valores de (N1)60 e elevações ao longo dos grupo de comportamento, considerou-se a
perfis investigados na região do Dique Baia 3, com a região com maior concentração de pontos
divisão do perfil nas camadas indicadas plotados.
De forma geral, os ensaios apresentaram
Para os ensaios CPT, os pares de valores da rejeito com comportamento contráctil, variando
resistência de ponta normalizada e das tensões de comportamento drenado a não drenado.
verticais efetivas de pré-ruptura dos resultados
dos ensaios de CPT/CPTu já foram 4.4 Avaliação dos resultados e comparação
apresentados nos gráficos recomendados por com outros estudos realizados
Olson (2003) no relatório de Morgenstern et al.
(2016). Para a análise da susceptibilidade da De forma geral, os rejeitos depositados nas
liquefação, o método de Olson (2003) não teve Barragens de Fundão e Germano apresentaram
nenhuma alteração do da versão de 2001. comportamento contráctil pela interpretação da
Portanto, foi realizada uma interpretação dos susceptibilidade à liquefação, com regiões mais
gráficos, que teve como resultado, rejeitos com susceptíveis que outras, de acordo com os
comportamento contráctil em diversas regiões, métodos de Olson (2001) para ensaios SPT,
com a presença das Camadas A e B conforme Olson (2003) para ensaios CPT/CPTu e
analisado para os ensaios de SPT. Robertson (2010) para ensaios CPT/CPTu.
Conforme análise dos ensaios SPT, esta O dique da Baia 3 se encontra na Barragem
análise é importante para a definição da de Germano e é a única região que teve análise
estatigrafia da seção transversal típica da pelos 3 métodos utilizados neste trabalho. Pelo
estrutura em estudo, com a definição dos método de Ishihara, as amostras coletadas não
materiais susceptíveis e não susceptíveis à apresentaram susceptibilidade à liquefação, já
liquefação para a análise do gatilho, que é a pelos métodos de análise de Olson (2001) para
etapa subsequente de análise do método de ensaios SPT, Olson (2003) para ensaios CPT e
Olson (2001). Robertson (2009 e 2010) os solos apresentaram
comportamento contráctil, em condições
4.3 Método de Robertson (2010) drenadas e não drenadas.
No estudo realizado por Ferreira (2016) no
Para o método de Robertson (2010) os pontos Dique da Baia 3, os resultados da análise de
dos parâmetros normalizados dos ensaios susceptibilidade à liquefação indicaram
CPT/CPTu já estavam plotados nos gráficos de comportamento contrativo dos rejeitos locais,
acordo com cada sondagem. Logo, foi realizada indicando resultados condizentes com o
uma interpretação dos gráficos. Morgenstern et presente trabalho.
al. (2016) também fez uma análise com critério
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Ao avaliar os resultados obtidos pela análise não drenado. Rodrigues et al. (2014) avaliou o
do método de Olson (2001) por Silva (2010), comportamento do solo em relação à
Freire Neto (2009) e Ferreira (2016), tem-se susceptibilidade à liquefação e apresentou
que em todos os casos, na etapa da análise de concordância nos resultados, para um solo
susceptibilidade à liquefação, todos os arenoso e um solo lodoso. Além do relatório de
resultados apresentaram comportamento Morgenstern et al., 2016, não foi identificado na
contráctil, porém na análise do gatilho com literatura outra avaliação do método de
identificação das regiões susceptíveis à Robertson (2010) quanto à susceptibilidade à
liquefação, não houve gatilho e, portanto, não liquefação de rejeitos de minério de ferro.
foi prevista ruptura por liquefação. Todas as De acordo com Morgenstern et al. (2016), os
análises foram realizadas por rejeitos de rejeitos da Barragem de Fundão são areias e
minério de ferro na região do quadrilátero de lamas, sendo o segundo mais mole e
Minas Gerais. compressível. Durante o processo de deposição
Na metodologia de Olson (2001), mesmo dos rejeitos, a parcela arenosa deveria estar
que se conste que o solo apresenta fisicamente separada da parcela de lama, porém
comportamento susceptível à liquefação, não se há zonas de camadas intermediárias e misturas.
caracteriza, necessariamente, a manifestação de Comparando os comentários de Morgenstern et
gatilhos do processo, sendo, portanto, al. (2016) com os resultados obtidos neste
necessária a análise do gatilho da liquefação e trabalho, foi possível inferir que ao longo da
da estabilidade pós-ruptura para avaliar o profundidade de rejeitos contrácteis, havia a
potencial de liquefação. presença de camadas de lama que, ao serem
Em relação ao estudo do método de Ishihara comprimidas apresentavam extrusão lateral,
(1985), as análises realizadas por Pereira tornando as areias sobrejacentes mais fofas, ou
(2005), Silva (2010) e Freire Neto (2009) seja, susceptíveis à liquefação.
apresentaram um intervalo de curvas
granulométricas dentro dos limites de potencial
de liquefação. Apesar de Pereira (2005) ter 5. CONCLUSÃO
avaliado a susceptibilidade à liquefação dentro
de limites de solos, não levando em Este trabalho analisou a aplicação de métodos
consideração os contornos delimitados para de avaliação da susceptibilidade à liquefação de
rejeitos com baixa resistência à liquefação, as solos e rejeitos, por meio da análise do
curvas granulométricas do seu estudo também comportamento do material ser contráctil ou
se encontravam dentro deste limite. No caso da dilatante. Os métodos foram aplicados para
avaliação para os ensaios avaliados neste amostras de rejeito da Barragem de Fundão,
trabalho, o resultado foi não conclusivo em tendo como uma das causas prováveis a
relação à susceptibilidade à liquefação, ocorrência de liquefação. Os métodos
provavelmente devido ao número de amostras analisados foram o de Ishihara (1985), Olson
analisadas ter sido insuficiente, e não (2001) e Robertson (2010).
representativo dos rejeitos em estudo. As análises desenvolvidas para os resultados
Quanto ao método de Robertson (2010), dos ensaios do rejeito da Barragem de Fundão
Nejaim (2015) avaliou a confiabilidade do apresentaram comportamento contráctil, ou
ábaco CPT SBT para analisar o comportamento seja, susceptível à liquefação, com exceção do
de um solo com características conhecidas, e resultado avaliado pelo método de Ishihara que
obteve o resultado esperado para este solo não apresentou resultados conclusivos sobre a
caracterizado como uma argila plástica com susceptibilidade à liquefação.
comportamento compressivo e não drenado e Os rejeitos do estudo de caso se encaixam
para uma argila siltosa ou um silte argiloso, nos critérios de susceptibilidade dos materiais à
pouco plástico, com comportamento dilatante e liquefação. A barragem é de contenção de
rejeitos, alteada por montante, o que a torna
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mais susceptível à liquefação conforme critério do material. A partir deste estudo, não foi
geológico. A distribuição granulométrica do conclusiva a aplicação desse método, visto que,
rejeito obtida a partir dos ensaios de apresentou um comportamento não susceptível
granulometria e sedimentação, indica que o à liquefação do rejeito analisado. Entretanto, a
rejeito é mal graduado, com tamanho de falta de amostras representativas, podem ter
partículas uniformes, o que implica em maior influenciado neste resultado.
variação volumétrica e, assim, maiores valores O método de Robertson (2010) não tem
de poropressão, tornando-os mais susceptível à ainda muitos casos de avaliação na literatura,
liquefação. portanto, são necessários mais estudos para
Pelo critério do estado do material, foi verificar se sua análise é confiável e passível de
possível avaliar o parâmetro de estado (ψ) do uso para análise de liquefação em projetos de
rejeito, pelo método de Robertson (2010), que barragens de rejeitos, principalmente para
indicou, considerando os resultados de ensaios rejeitos provenientes do beneficiamento do
CPT/CPTu, que os rejeitos têm valores de minério de ferro.
parâmetros de estado superiores à -0,05, Pode-se concluir que, embora os métodos de
indicando um comportamento contráctil, logo, análise da susceptibilidade à liquefaçao
susceptível à liquefação. Além disso, a estudados no presente trabalho apresentem
barragem deve constar um sistema de drenagem limitações, os mesmos fornecem uma indicação
eficiente para impedir a condição saturada dos de possíveis áreas susceptíveis, no depósito de
rejeitos, e conforme estudado, a Barragem de rejeitos, que deverão ser analisadas em fases
Fundão apresentou diversos problemas de posteriores do estudo da estabilidade da
drenagem e surgência desde sua implantação, estrutura à liquefação.
propiciando um ambiente favorável à
ocorrência da liquefação.
De acordo com os métodos de Olson (2001) REFERÊNCIAS
para ensaios SPT, Olson (2003) para ensaios
CPT/CPTu e Robertson (2010) para ensaios FERREIRA, D. S. Análise do comportamento geotécnico
CPT/CPTu, de forma geral, os rejeitos de aterro experimental executado sobre um depósito
de rejeitos finos. 2016. 145 p. Dissertação
depositados nas Barragens apresentaram (Mestrado), Escola de Minas, Universidade Federal
comportamento contráctil pela interpretação da de Ouro Preto, Ouro Preto. 2016.
susceptibilidade à liquefação.
A partir da comparação dos resultados FREIRE NETO, J. P. Estudo da Liquefação Estática em
encontrados e com as análises realizadas por Rejeitos e Aplicação de Metodologia de Análise de
Estabilidade. 2009. 184 p. Dissertação (Mestrado),
outros autores na literatura, foi possível NUGEO, Escola de Minas, Universidade Federal de
identificar o comportamento do solo em Ouro Preto, Ouro Preto. 2009.
camadas mais representativas para análise dos
ISHIHARA K.; TRONCOSO, J.; KAWASE, Y.;
ensaios de CPT na metodologia de Olson TAKAHASHI, Y. Cyclic strength characteristics of
(2001), quando comparada aos ensaios SPT. tailings materials. Soils and Foundations. Vol. 20,
Isso ocorre devido ao ensaio de SPT ser mais No. 4, 1980, p. 127-142.
rústico e caracterizando o perfil de forma mais KRAMER, S.L. Geotechnical Earthquake Engineering,
espaçada. Prentice Hall, 1996.
O método de Ishihara (1985) é muitas vezes
usado como um método preliminar para avaliar LOPES, M. C. O. Disposição hidráulica de rejeitos
arenosos e influência nos parâmetros de resistência.
a susceptibilidade à liquefação de solos ou 2000. 158 p. Dissertação (Mestrado) –
rejeitos e, caso seja confirmada a Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
susceptibilidade, a análise da liquefação é Universidade Federal de Brasília, Brasília, DF.
realizada por outro método mais avançado que 2000.
calcula a resistência ao cisalhamento liquefeita
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MORGENSTERN, N. R.; VICK, S. G.; VIOTTI, C. B.; potencial de liquefação. 2015. 147 p. Dissertação
WATTS, B. D. Fundão Tailings Dam Review Panel (Mestrado), Faculdade de Engenharia, Universidade
– report on the immediate causes of the failure of do Porto, Porto. 2015.
the Fundão Dam. 25 de Agosto de 2016.

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