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LUNA
Alguns Apontamentos Semióticos Breves Sobre a Obra
Esotérica de Raji Guenol: Selos de Planetas e Quadrados
Mágicos
d.o.i.10.113/2236-1499.2013v1n10p119
1. Breve Histórico
1
LUNA, Jayro. José de Almada Negreiros, Poeta (Do Futurismo e do
Sensacionismo à Poética da Ingenuidade na Poesia de Almada Negreiros).
USP/FFLCH, tese de doutoramento, orientação do prof. Dr. Carlos Alberto
Vecchi. São Paulo, 2001.
2
LUNA, Jayro. A Chave Esotérica de Mensagem de Fernando Pessoa:
Abordagem Numerológica, Astrológica e Cabalística. São Paulo, Epsilon
Volantis, 2005.
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Sua origem é desconhecida, mas há registros de sua
existência em épocas da Antiguidade na China 3 e na Índia. O
quadrado de 9 casas (3 x 3) é encontrado pela primeira vez num
manuscrito árabe, no fim do Século VIII, e atribuído a Apolônio
de Tiana (I Século) por Marcellin Berthelot (Collection des
anciens alchimistes grecs) 4 .
Na Idade Média os quadrados mágicos se tornaram
conhecidos de muitos ocultistas e admiradores das artes mágicas,
tendo seu uso proliferado como técnica mágica de produção de
Pantáculos e Talismãs, onde eram associados a Planetas que
atribuíam a eles o poder de atrair proteção astral e poderes
sobrenaturais para seus detentores.
Contudo, foi dos árabes que as Escolas de Mistério
Ocidentais receberam as idéias dos Quadrados Mágicos 5 . Em
1300 D.C., Manual Moschopoulos, um sábio greco-bizantino,
escreveu um tratado sobre os Quadrados Mágicos, inspirado pela
tradição árabe. Ele é tido como o primeiro estudioso ocidental a
travar contato com os Quadrados Mágicos. Também, em 1450
D.C., o italiano Luca Pacioli trabalhou com uma vasta variedade
de Quadrados Mágicos, tendo influenciado bastante a Tradição
Mística Ocidental. Mas o mais antigo livro que mostra os
Quadrados Mágicos tal como são os atualmente empregados, é o
"De Occulta Philosophia" de Henry Cornielius Agrippa, escrito
de 1507 à 1510 D.C., que tem o seu Cap. XXII do Livro II
(Magia Celestial), intitulado "Das tábuas dos Planetas, suas
virtudes, formas, e como os nomes Divinos, Inteligências, e
Espíritos são dispostos sobre elas", dedicado aos Quadrados
3
Consta que o quadrado mágico de nove casas surgiu no centro da China,
milhares de anos atrás, às margens de um rio; inscrito na carapaça de uma
tartaruga, que é o símbolo da longevidade; e foi interpretado como revelação
da geometria secreta do universo que está por trás de todas as coisas.
4
(3 vol., Paris, 1887–1888).
5
Manuscritos árabes do século X (Kitab al Mawazm de Djabir b Hoyân) e do
século XI (Al Ghazadi).
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Mágicos Planetários. Estes lá aparecem em suas conhecidas
formas de ordem de 3 à 9.
Um quadrado mágico de ordem é uma tabela quadrada,
formada por casas, com o mesmo número de linhas e de colunas.
Em cada casa está escrito um número natural, de tal forma que
os primeiros números naturais estejam escritos e que a soma
dos números de cada linha, de cada coluna ou de cada uma das
duas diagonais sejam iguais. À esse valor dá-se o nome
de constante mágica. A constante mágica de um quadrado mágico
depende unicamente de . Assim, para um quadrado mágico de
6
Conforme nos informa o site Wolfram Mathworld: Ball, W. W. R. and
Coxeter, H. S. M. "Magic Squares." Ch. 7 in Mathematical Recreations and
Essays, 13th ed. New York: Dover, 1987. Benson, W. H. and Jacoby, O.
Magic Cubes: New Recreations. New York: Dover, 1981. Madachy, J. S.
"Magic and Antimagic Squares." Ch. 4 in Madachy's Mathematical
Recreations. New York: Dover, pp. 85-113, 1979. Gardner, M. "Magic
Squares." Ch. 12 in The Second Scientific American Book of Mathematical
Puzzles & Diversions: A New Selection. New York: Simon and Schuster,
pp. 130-140, 1961. Andrews, W. S. Magic Squares and Cubes, 2nd rev. ed.
New York: Dover, 1960. Kraitchik, M. "Magic Squares." Ch. 7 in
Mathematical Recreations. New York: Norton, pp. 142-192, 1942.
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eram atribuídos aos sete planetas conhecidos, consideravam o Sol
e a Lua como planetas:
TABELA DE CORRESPONDÊNCIA
Planeta Quadrado Mágico Soma Linha, coluna Soma Total
ou diagonal
Saturno Ordem 3x3 15 45
Júpiter Ordem 4x4 34 136
Marte Ordem 5x5 65 325
Sol Ordem 6x6 111 666
Vênus Ordem 7x7 175 1225
Mercúrio Ordem 8x8 260 2080
Lua Ordem 9x9 369 3321
7
É difícil estabelecer com certezas o significado literal da frase composta por
estas cinco palavras, já que o termo AREPO não existe estritamente na língua
latina. Algumas conjecturas sobre esta palavra levam à tradução, com sentido
pouco claro, como o semeador, com o seu carro, mantém com destreza as
rodas, da qual se tenta tirar algum sentido através da referência a um semeador
como citação de um texto dos Evangelhos.
Se se pensar que o termino AREPO é o nome próprio de um
misterioso semeador, chega-se à tradução: “Arepo, o semeador, mantém com
destreza as rodas”, o que parece aludir a práticas agrícolas. (fonte wikipédia).
(Fig.1)
(fig.2)
9
Pierre Vincent Piobb nasceu em Paris, em 1874. De origem italiana, sua
família estabeleceu-se na França, vinda de Florença. Viaja pela Europa,
investigando o Hermetismo, a Magia, a Cabala, a Astrologia e, principalmente,
o Simbolismo usado nos rituais. Torna-se conferencista, requisitado por
instituições do assunto, escritor, ocultista e jornalista. Passa a ter seus artigos
em revistas científicas e Sociedade das Ciências Antigas Culturais. Trava
contato com a Maçonaria, a Rosacruz do Reverendo Swinburne Clymer
quando este assume o poder constitutivo da Ordem dos Magos para o
continente europeu. Clymer então exerce, na Confederação Universal de
Ordens, Sociedades e Fraternidades de Iniciados, o cargo de Supremo Grão
Mestre em 1929 e, até a passagem derradeira de Piobb, em 1942, com 68 anos,
essas organizações Iniciáticas tiveram extrema importância em sua vida, pois
Clymer não iria para a Europa. O Formulário da Alta Magia foi a primeira
obra de Piobb e considerada até hoje como uma das mais elucidativas,
publicada em 1937.
10
“Um quadrado mágico é um mapa, muito mais que um talismã, um selo ou
algo do tipo. É como um diagrama de um experimento energético. Num
quadrado mágico está inscrito um processo dinâmico de alta energia, do qual o
signo que chamamos selo é apenas o esboço desse mapa, uma vez que não
podemos apreendê-lo de todo, por estar incluso em um espaço de mais
dimensões que pode conter nosso entendimento”.
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(fig.3)
Os selos de Vênus:
(fig.4)
11
BAYARD, Jean-Pierre. Os Talismãs. São Paulo, Pensamento, 1985.
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Alguns textos apontam a semelhança entre este selos e
alguns elementos de escrita árabe, mas tais aproximações são
muito mais imaginativas do que efetivas. Os nomes dos selos da
inteligência e do espírito podem ser facilmente compreendidos se
utiliza da gematria, pela qual se associa números às letras e
tomando por base o alfabeto hebraico em uso corrente na cabala,
se obtém os nomes dos guardiões dos selos. Como exemplo
vejamos a obtenção do nome Hagiel – inteligência de Vênus a
partir do quadrado mágico:
(fig.5)
Para Raji Guenol, um quadrado mágico não é um talismã,
é um mapa ou um diagrama. Em termos semióticos isto é
significativo, haja vista que um mapa ou diagrama está na classe
dos ícones, ao passo que um talismã é um símbolo.
Quando Guenol se refere a um mapa energético ele, no
caso de Vênus, nos faz a seguinte demonstração:
(fig.6)
Raji Guenol observa que esta figura é composta por sete
células que se situam inicialmente na parte superior central do
quadrado, compreendendo os números 16 + 41 + 10 + 48 + 17 +
42 + 49, cuja soma dá 223. Tal soma não se enquadra no valor
padrão do quadrado mágico de ordem 7, que deveria ser 175. Mas
Guenol nos leva a fazer a soma de outras sete células que formam
a imagem de cabeça para baixo deste signo e a situando na parte
central inferior do quadrado mágico:
(fig.7)
Assim, somamos 40 + 9 + 34 + 8 + 33 + 2 + 1 = 127. Se
somamos os dois resultados (223 + 127 = 350) e dividimos por
dois, temos 175.
A partir daí, Raji Guenol vai fazendo girar os dois signos,
o de cima, uma casa a cada operação de soma para a direita e
respectivamente, o signo inferior, uma casa a cada operação para
a esquerda, de modo a que se complete cada signo uma volta de
360°. O surpreendente é que a cada operação se repete o mesmo,
um dos signos terá um resultado maior que 175, ao passo que o
outro um resultado menor, mas de tal forma proporcionalmente
distantes do valor 175, que a divisão por dois, dá sempre 175.
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Guenol denomina o signo superior de “Taça com Cruz”,
pois assim lhe parece. A taça, na sua posição inicial dá como
soma (16+10+17+49 = 92), e a cruz inicial dá como resultado
(41+42+48+49=180). A figura inferior, Guenol denomina
Homem Vitruviano com Cruz, pois assim lhe parece. E se a
dividimos em duas somas, como no signo superior, temos que a
taça soma (40+34+33+1=108) e a cruz, por sua vez soma
(1+8+2+9=20). A soma de taça superior com cruz inferior dá 200
e a soma de taça inferior com cruz superior também dá 200.
Observa que se subtraímos o valor da célula central que vai
ficando neutra em todo o processo de giro completo das duas
figuras pelo quadrado mágico, se obtém 175 para cada valor.
Guenol faz as mesmas operações de soma para as outras
partes do selo de Vênus, para o gládio, observando que além de
dar uma volta de 360 graus, também se pode ir centralizando o
gládio para linhas e colunas mais internas, sempre se obtendo na
soma do gládio superior com seu inverso o valor 350 e na divisão
175. Quanto ao Sol e a Lua, o primeiro é composto por quatro
células e a Lua por três, a soma do Sol com a Lua, considerando-
se também o que ele denomina de Lua Negra e Sol Negro (seus
inversos), dá soma 350 e divisão 175. O mesmo ocorre com os
cruzamentos de bastões ou canas, sendo que estes se referem à
soma conhecida das linhas, colunas e diagonais, pois fazendo eles
girarem uma casa por vez até completar a volta temos o passar
pelas linhas e colunas dos bastões.
Conclui a este respeito Raji Guenol:
(fig.8)
12
Cinco folhetos intitulados Manière de se récréer avec le Jeu de Cartes,
nomées Tarot [Como relaxar com o jogo de cartas chamado Tarô] foram
publicados em Amsterdã e Paris entre 1783 e 1787; o autor era um cartomante
que se autodenominava Etteilla, pseudônimo de Jean François Alliette (c.
1724–1792).
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no caso do selo de Netuno, p.ex. – parte do tridente, parte do
barco, parte do peixe e parte da âncora e que isto só seria possível
em se considerando realidades simultâneas.
Expõe o hermetista do Sikkim que as quatro figuras estão
relacionadas com os quatro elementos. O tridente de Netuno –
deus dos Mares – representa a água; o barco à vela, uma vez que
se move com a força do vento, representa-o; a âncora que prende
o barco à terra, é a representação desta dentre os quatro elementos;
ao passo que o peixe, uma vez pescado costuma ser tratado no
fogo (frito, cozido ou assado) e portanto é o que saindo da água
vai para o fogo e transforma-se em alimento. Assim, os quatro
elementos estão correlacionados nas quatro figuras do selo de
Netuno. Essa correlação com os quatro elementos da alquimia
(fogo, águar, ar e terra), Guenol desenvolve para todos os outros
selos também.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS