15/08/2021 Ciência Hoje | 2012, afinal, é o fim do mundo?

2012, AFINAL, É O FIM DO MUNDO?

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á cerca de 4 mil anos, uma complexa civilização – os maias – surgiu na região da América Central onde estão situados hoje o sul do México, Guatemal
onduras, El Salvador e Belize. A cultura maia teve seu maior desenvolvimento entre os anos 300 e 900 do calendário cristão, e manteve suas identida
nguísticas e culturais até a invasão da América Central pelos espanhóis, iniciada em 1519.

o contrário do que se acredita, porém, os espanhóis não aniquilaram os maias: na Guatemala e no México, principalmente, milhões de descendentes a
lam línguas maias e mantêm vivos aspectos dessa antiga cultura.

m seu período áureo, os maias construíram cidades urbanizadas, com templos grandiosos e estradas pavimentadas ligando regiões distantes. Elabor
m complexo sistema de escrita fonética e ideográfica, o mais sofisticado do continente americano na época pré-colombiana, e registraram sua histó
eus conhecimentos em livros de papel (feito da casca de árvores) ou de pele de veado e em monumentos de pedra (as estelas). Poucos de seus livros,
enominados códices, sobreviveram à destruição determinada pelos invasores europeus.

oram grandes guerreiros. Várias cenas pintadas nos templos retratam ações militares para a expansão de seus territórios e de seu poder. Além disso
antinham comércio de longa distância, importando e exportando produtos.

ecebiam a pedra preciosa turquesa, por exemplo, de áreas de produção a mais de 2 mil km, no
rritório dos atuais Estados Unidos, e exportavam produtos como o jade, pedra de valor Os maias não viviam em harmonia com o mei
estimável para os maias e outros povos da região, pois sua cor – verde – era associada à vida. ambiente

declínio dos maias começou em meados do século 9, por causa da falta de terras para a
odução de alimentos, da intensificação dos conflitos com outros povos e do desmatamento que realizaram.

esmatamento? Sim, os maias não viviam em harmonia com o meio ambiente. A contínua exploração dos solos sem os cuidados necessários e a
estruição da floresta para a construção de espaços urbanos levaram à falta de água e ao aumento da temperatura, fatores que certamente tiveram
articipação no colapso.
escobertas recentes
esquisas realizadas nos últimos anos vêm modificando alguns conhecimentos anteriores sobre os maias. Em 2007, acreditava-se, por exemplo, que a
aiores cidades maias tinham cerca de 60 mil habitantes e que aspectos como cidades muito populosas, arquitetura monumental e escrita surgiram
penas no chamado período clássico dessa civilização, entre os anos 300 e 900 da era atual (ver ‘Reis na floresta tropical?’, em CH 236).

oje, porém, os arqueólogos aceitam que algumas cidades maias eram bem maiores do que se pensava há alguns anos. Novos estudos indicam que
xistiam no território maia cidades com mais de 100 mil habitantes.

so é de grande importância porque, até agora, aceitava-se que a maior cidade da Mesoamérica (área cultural onde viveram os maias e povos como
ltecas e astecas) teria sido Teotihuacán, construída provavelmente por um povo anterior a maias e astecas e situada perto de onde está hoje a Cidad
éxico.

gora, pesquisas arqueológicas indicam que a população de cidades maias como Tikal e Calakmul se igualaria à de Teotihuacán. Além disso, estudos s
utro período da civilização maia, o chamado pré-clássico tardio (do quarto século antes da era atual até meados do segundo século), na região
enominada bacia do Mirador, no norte da Guatemala, onde foram construídas cidades importantes como El Mirador, Naachtun e Nakbé, levaram a
onclusões surpreendentes. 

Pirâmide em El Mirador
Pirâmide em El Mirador, no norte da Guatemala. Pesquisas recentes revelaram que a pirâmide
mais alta da Mesoamérica, com 70 m de altura, ficava nessa região, que teria sido palco do
primeiro grande colapso da civilização maia, no início da era cristã. (foto: Geoff Gallice/ Flickr
– CC BY 2.0)

primeira é que várias características que antes se acreditava terem surgido somente no período clássico já estavam presentes antes, como a escrita
quitetura grandiosa e as amplas cidades.

ssas pesquisas revelaram, por exemplo, que a pirâmide mais alta de toda a Mesoamérica, e não apenas da área maia, ficava em El Mirador. Chamada d
anta, tem mais de 70 m de altura, o que corresponde a um edifício de cerca de 24 andares.

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ais polêmica é a nova teoria segundo a qual os maias passaram por vários colapsos, e não apenas um. Um primeiro grande colapso teria ocorrido na
gião de El Mirador, no início da era cristã. Para alguns arqueólogos, os motivos desse colapso teriam sido os mesmos presentes no final do século 9:
uerras e destruição ambiental.
fim do mundo
s maias ganharam destaque nos meios de comunicação, nos últimos meses, e o responsável por isso é seu calendário. O motivo do destaque é a
firmação de que os maias previram o fim do mundo para 2012. Mas isso é verdade?

polêmica partiu de uma inscrição do chamado Monumento 6, pedra trabalhada encontrada nas ruínas da cidade maia de Tortuguero, no sul do México
ssa inscrição apresenta uma data relevante do calendário maia, interpretada como um anúncio do final dos tempos.

a verdade, a data desse monumento indica somente o fim de um grande ciclo do calendário maia, e não a destruição do mundo. 

abe esclarecer que o calendário maia – um sistema complexo de calendários combinados –

cluía diferentes ciclos. Na cultura desse povo não existiam lendas ou mitos sobre o fim do Na verdade, a data desse monumento indica
undo. A interpretação recente é de responsabilidade não dos cientistas que estudam os maias, somente o fim de um grande ciclo do
as de escritores não especializados em cultura maia ou outras pessoas que – por erro ou calendário maia, e não a destruição do mund
eliberadamente – confundiram o fim do ciclo mais longo do calendário maia com o fim do mundo.

ideia do fim do mundo está associada às tradições religiosas judaico-cristãs, que incluem episódios sobre essa questão: é o caso do ‘Livro do
pocalipse’, na Bíblia. O fato de muitas pessoas, na chamada civilização ocidental, acreditarem nessa ideia não significa que outras culturas, em outra
giões e em diferentes períodos da história, tivessem as mesmas concepções de criação e destruição do planeta.

Você leu apenas o início do artigo publicado na CH 295. Clique no ícone a seguir para baixar a versão integral. PDF aberto (gif)

exandre Guida Navarro

epartamento de História

niversidade Federal do Maranhão

Matéria publicada em 14.08.2012

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