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Enfrentamento
da crise
hidrica
na RMSP
Com exceção de muita chuva, não existe uma solução única para o
enfrentamento da crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo.
Porém existem alternativas e modelos a serem seguidos.
Prezado(a)s Associado(a)s,
Diretoria Executiva
Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro
Vice-presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges
1º Secretário: João Augusto Poeta
2º Secretário: Aram Kemechiam
1º Diretor Financeiro: Walter Antonio Orsatti
2º Diretor Financeiro: Nelson Cesar Menetti
Diretoria Adjunta
Cultural: Sonia Maria Nogueira e Silva
Esportes: Evandro Nunes de Oliveira
Marketing: Paulo Ivan Morelli Franceschi
Polos: Antônio Carlos Gianotti
Projetos Socioambientais: Maria Aparecida Silva de Paula
Social: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges
Técnica: Olavo Alberto Prates Sachs
Conselho Deliberativo
Antonio Carlos Gianotti, Benemar Movikawa Tarifa, Carlos Alberto de Carvalho, Cid
Barbosa Lima Junior, Dejair José Zampieri, Evandro Nunes de Oliveira, Gilberto Alves
Martins, Iara Regina Soares Chao, Ivan Norberto Borghi, Luciomar Santos Werneck,
Maria Aparecida Silva de Paula, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Rodrigo Pereira de
Mendonça, Rogélio Costa Chrispim e Sonia Maria Nogueira e Silva
Conselho Fiscal
Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Nelson Luiz Stabile
06
Coordenador: Luciomar Santos Werneck
matéria Especial Colaboradores: Benemar Movikawa Tarifa, Luiz Yukishigue Narimatsu, Nivaldo
Rodrigues da Costa Jr e Paula Rosolino
O que nos reserva o destino: CoordenadorA de Assuntos Tecnológicos
relivro@aesabesp.org.br
matéria tema
O QUE NOS
RESERVA O DESTINO:
HAVERÁ
AGUA
EM NOSSO
FUTURO? Março a Julho de 2015
matéria tema
Na mitologia grega, as Moiras eram ma e Morta, e tinham respectivamente as funções
as três irmãs que determina- de presidir a gestação e o nascimento, o crescimento
vam o destino, tanto dos e desenvolvimento, e o final da vida; a morte.
deuses, quanto dos seres Como em um círculo místico, os discursos ini-
humanos. Eram descritas ciais e atuais sobre a crise do abastecimento de água
como três mulheres lú- na RMSP se encontram. E o que antes soava como
gubres, responsáveis por uma afirmação ou profecia: “Não irá faltar água!”,
fabricar, tecer e cortar retorna no momento atual como um revérbero de
aquilo que seria o fio da aparência funesta: “Preparemo-nos para o pior”.
vida de todos os indivíduos. Tanto a afirmação, parte da fala do governador Ge-
Durante o trabalho, as moiras raldo Alckmin durante o debate do 1º turno na TV Glo-
faziam uso da Roda da Fortuna, bo em 30 de setembro de 2014, quanto a declaração do
que era representada pelo tear utilizado para se te- presidente da Sabesp, Jerson Kelman, em seu discurso
cer os fios. As voltas da roda posicionavam o fio do de posse no dia 9 de janeiro deste ano, por mais incrível
indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou que possa parecer, guardam simetria entre si. Isso por-
em sua parte menos desejável (o fundo), explicando- que a empresa de saneamento paulista vem travando
-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. uma árdua batalha para garantir o abastecimento da
As Moiras eram filhas de Nix (a noite) e, na Ilí- RMSP e isso em um cenário que, como indicam os ní-
ada, representavam uma lei que pairava sobre deu- veis dos reservatórios, só faz piorar a cada dia.
ses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a Até aqui, as soluções apresentadas em caráter
transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. O emergencial não tem surtido o pleno efeito dese-
mito grego predominou entre os romanos, mas os jado. Mas especialistas são unânimes em afirmar a
nomes das divindades caíram em desuso. Entre eles solução no momento que de fato precisamos é a
eram conhecidas por Parcas chamadas Nona, Déci- chuva! Muita chuva!
rara a intensidade desse sistema de alta pressão (nes- Há também outros fatores que influenciam na cri-
te ano) e também a persistência - durou mais de 40 se hídrica de São Paulo. Segundo Ricardo de Camargo,
dias”, informam os técnicos do Cemaden. professor da USP, não se pode falar apenas das chu-
Segundo os meteorologistas, não é possível prever vas quando se analisa as razões para a crise hídrica de
se irá se repetir um ano tão atípico como o passado. As São Paulo. “A demanda por água superou em muito a
causas poderiam estar no aquecimento global ou no oferta nos últimos anos no Brasil. A gente tira muito
desmatamento da Amazônia, mas ainda não há com- mais do que repõe.” Orivaldo Brunini, pesquisador do
provação científica da relação da seca com o aumento Instituto Agronômico (IAC), de Campinas afirma que
do desmatamento. Porém, um relatório divulgado no o Sistema Cantareira está num processo de redução
dia 30 de outubro do ano passado pelo pesquisador nos últimos 20 anos. Afora o aumento de consumo
Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Ter- de água, ele cita maior impermeabilização do solo e
restre (CCST), concluiu que a falta de chuvas que ocor- menor preservação dos mananciais como fatores que
reu principalmente no Sudeste, é uma consequência afetam a recuperação do volume dos reservatórios.
indireta da diminuição da quantidade de árvores. Isso Muitas são as teorias que tentam explicar a atual
teria impedido o fluxo da umidade entre o Norte e o crise, o que pode fazer pensar que talvez fosse possí-
Sul do Brasil, pelos chamados “rios voadores” - grandes vel antevê-la. Porém, Marcelo Seluchi, do Cemaden,
massas de umidades responsáveis pelas chuvas. Sem a explica que não é possível prever com muitos meses
cobertura vegetal, a transferência da umidade do solo de antecedência sistemas de alta pressão como o
para a atmosfera é interrompida. Dessa forma, os rios que ocorreu no verão passado. Já para Neide Olivei-
voadores, que são transportados pelos ventos da Ama- ra, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a
zônia para o restante do país, não teriam “realizado a seca em si não era uma surpresa. “O problema (a es-
viagem”, causando escassez hídrica. tiagem) vem desde 2013, quando o nível das chuvas
O estudo ainda aponta que desde o início da dé- também foi baixo. Deveriam já montar uma estraté-
cada de 1970 até 2013, o desmatamento progressivo gia para evitar a falta de água”, afirma.
e a extração madeireira destruíram 762.979 quilô- O meteorologista Willians Bini, da Somar Consul-
metros quadrados de floresta, uma área equivalente toria, que atende empresas do setor energético, diz
a duas vezes o território de Alemanha. Os resultados, que a seca atual não é decorrente apenas do último
porém, ainda não são conclusivos e não é possível verão de pouca chuva e que há alguns anos se forma-
traçar cientificamente uma relação direta entre o va um cenário meteorológico caótico. “Há pelo menos
desmatamento e a estiagem. dois ou três anos, variando por região, estamos com
Com relação ao aquecimento global, Marcelo Se- chuvas abaixo da média registrada nos verões dos úl-
luchi, do Cemaden, afirma não ser possível cravar timos 30 anos.” No Sudeste, dos últimos 36 meses, 32
que o prolongamento do sistema de alta pressão e tiveram chuvas abaixo do normal, conclui.
a seca tenham sido resultado disso. Para ele, pes- Sobre a falta de chuvas, a Sabesp já havia infor-
quisas mostram, na verdade, tendência de a estação mado que além do ano hidrológico 2013-2014 ter
chuvosa continuar com bom volume nos próximos apresentado índices pluviométricos fortemente des-
anos. Mas ela deve ser mais curta e com chuvas con- favoráveis na bacia de contribuição do Cantareira”, a
centradas. E isso pode ter efeitos ruins: “Em vez de estiagem veio associada às temperaturas médias ele-
seca, o que pode acontecer são enchentes, desastres vadas, as mais altas registradas nos últimos 70 anos.
naturais. Isso faz parte de um conjunto de mudanças “Foi a pior seca desde que as medições dos institutos
climáticas, não dá para apontar uma culpa. Prova- de meteorologia começaram, há 84 anos. Em dezembro
velmente, a questão das chuvas concentradas tem de 2013, foi registrado índice 72% menor que a média.
relação com aumento de temperaturas”. Isso explica- Em janeiro e fevereiro de 2014 choveu cerca de 65%
ria, por exemplo, as tempestades que tem se abatido menos que o normal”, afirmou a Companhia em nota.
sobre a RMSP, mas que tem se concentrado em áreas Estaríamos então a mercê dos eventos climáticos
distantes do Sistema Cantareira. Elas causam trans- e, como na Roda da Fortuna, predispostos a boa e a
torno, mas não ajudam a recuperação do manancial. má sorte, inclusive no que diz respeito ao clima? O
professor de hidrologia e recursos hídricos da Univer- A Sabesp informa que desde 2012 realiza o projeto
sidade de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo, Aquapolo, “que elevou em 13 vezes o volume de água de
diz que um sistema hídrico não pode considerar ape- reúso fornecido pela empresa”. O governador Geraldo Al-
nas os volumes de chuva médios, porque eles nunca ckmin anunciou, em 5 de novembro, um plano para usar
ocorrem. E existem medidas de gestão para enfren- o esgoto tratado para abastecer a represa de Guarapi-
tar situações atípicas. Para ele, após a seca histórica, ranga e o Rio Cotia. A obra tem previsão de entrega para
foi ignorada uma ferramenta chamada de “curva de dezembro de 2015. Em Audiência de Sustentabilidade,
aversão ao risco”, que estabelece limites de vazão de promovida pela AESabesp, o professor titular da USP e
acordo com o volume dos reservatórios. “Continua- diretor do Centro de Referência em Reuso de Água (CIR-
ram tirando mais água do que deveriam até abril. Isso RA), Ivanildo Hespanhol, demonstrou algumas técnicas
acelerou a crise”, avalia Zuffo. O pesquisador também utilizadas e destacou o sistema de BioMembranas (ver
diz que era possível ampliar a produção de água de maior detalhamento no item Membranas Filtrantes no
reúso a partir do tratamento de esgoto. “Só tirando os final da matéria) como o principal recurso para o reuso
lançamentos de esgoto já teríamos uma melhora na no momento. A técnica baseia-se na utilização de mem-
aparência e no cheiro dos rios. Depois do tratamento, branas que possuem a espessura de uma folha de papel
eles deixariam de ser poluídos e haveria novas fontes e servem como filtro para conter impurezas e diversas
de água na própria capital”. substâncias.
O Sudeste brasileiro tem sido castigado pela pior es- Cidade do Cabo, África do Sul
cassez hídrica de todos os tempos e que vem afe- Guerra ao desperdício
tando milhões de pessoas e despertando discussões Com 450 mil habitantes, Khayelitsha, a 20 km da
sobre mudanças climáticas, consumo, investimentos Cidade do Cabo, é uma das maiores “townships”
e alternativas de abastecimento. (como são chamadas as comunidades carentes
O que parece uma triste novidade por aqui, já sul-africanas) do país. Em meados dos anos 2000 des-
aconteceu em outros lugares do mundo que também cobriu-se que o equivalente a uma piscina olímpica
enfrentam ou enfrentaram desafios semelhantes, era perdida por hora devido a vazamentos na rede de
envolvendo seca, desperdício e excesso de consumo. água. Os encanamentos domésticos, muitos dos quais
Veja alguns exemplos e as soluções mundo afora: deficientes e incapazes de resistir a alta pressão de
bombeamento eram os principais responsáveis pelas
Califórnia, Estados Unidos perdas de água. Como resultado, um elevado consu-
Lençol freático e água de reuso mo de água e também uma gigantesca inadimplên-
O lençol freático da região de Orange County, no Sul cia. Sem falar que a Cidade do Cabo vive sob constan-
do Estado, onde fica a Disneylândia, chegou ao limi- te ameaça de falta d’água.
te nos anos de 1960. Para que a população de cerca Em 2001, um projeto-piloto de US$ 700 mil atuou
de 3 milhões de habitantes tivesse água, o governo em duas frentes: a reforma de encanamentos ruins e o
começou em 1976, a tratar o esgoto que, purificado, controle da pressão da água fornecida a fim de evitar
era injetado no lençol freático. O processo evita que os vazamentos. O projeto custou menos de US$ 1 mi-
o aquífero seja contaminado pela água do mar — lhão, de acordo com um relatório do governo da Cidade
que poderia tornar as reservas salobras — e ajuda a do Cabo, e o investimento foi recuperado em menos de
reposição da fonte que permanece com uma quan- seis meses. Aliada a uma campanha de conscientização
tidade de água constante. O tratamento de água in- para evitar desperdícios a iniciativa permitiu, segundo o
clui hoje as mais avançadas técnicas de purificação, consórcio 2030 Water Resources que Khayelitsha eco-
feitas por meio de membranas e desinfecção com nomizasse 9 milhões de metros cúbicos de água por ano,
raios ultravioleta. equivalente a US$ 5 milhões.
e Nagoya. Na década de 1980, o reúso tornou-se a op- Assim como Perth, na Austrália (veja adiante),
ção também para o consumo doméstico nas grandes o programa também envolveu campanhas pela
cidades: a água é utilizada para descargas, limpeza e redução do consumo. Pelos dados oficiais o con-
para derreter neve. E há cerca de dez anos todos os sumo per capita da cidade era de 204,1 galões de
prédios com mais de 10.000 metros quadrados cons- água por dia em 1991 e caiu para 125,8 galões/
truídos em Tóquio devem ser equipados com sistemas dia em 2009.
de tratamento e reúso de água. Em Osaka e Fukuoma,
a regra vale para os prédios maiores que 5.000 metros Pequim
quadrados desde 2003. Há encanamentos duplos — Transposição de água
para água potável e água de reúso — que são também Listada pela ONU entre os 13 países com grave falta
usados em prédios comerciais e públicos. d’água, a China conta com 21% da população mun-
dial, mas tem apenas 6% da água potável do planeta.
Londres, Inglaterra Pequim é uma das cerca de 400 cidades do país que
A água que vem do mar enfrentam obstáculos de abastecimento, com uma
Não obstante ser conhecida pela garoa e neblina população crescente, a capital já consome mais água
constantes, chove menos em Londres que em Roma, do que tem disponível em seus reservatórios.
na Itália, Dallas, nos Estados Unidos, ou Istambul, na Secas prolongadas, crescimento populacional, po-
Turquia. Com uma grande população e com suas fon- luição e expansão industrial fizeram com que diver-
tes de água impróprias para o consumo — como o rio sos rios chineses secassem. A aposta para enfrentar a
Tâmisa — a cidade de Londres passou por períodos questão está em um projeto multibilionário da Com-
frequentes de escassez de água até os anos 2000, com panhia de Água de Pequim para redirecionar rios, o
reservatórios secos e racionamentos. Após um estudo Projeto de Desvio de Água Sul-Norte, cuja primeira
oficial verificar se valia a pena transportar água do etapa deve ser concluída neste ano. Bilhões de me-
Norte do país ou usar outras técnicas, a cidade abriu tros cúbicos de água deverão ser transportados do sul
em 2010 sua primeira usina de dessalinização — por ao norte (mais árido) anualmente ao longo de uma
estar perto do mar, essa foi a opção considerada mais distância superior à que separa o Oiapoque do Chuí
econômica. Ao custo de 250 milhões de libras, a usina (extremos do Brasil), a um custo que deve superar os
pode fornecer água para 1 milhão de pessoas — mas US$ 60 bilhões.
seu uso principal deve ocorrer em períodos de seca.
Perth, Austrália
Nova Iorque Dessalinização
Proteção de mananciais Entre as metrópoles da Austrália, Perth é a “cidade
Nova Iorque, uma das maiores cidades do mundo, mais seca”. A presidente da Western Australia Water
iniciou nos anos 1990 um amplo programa de pro- Corporation, Sue Murphy, em entrevista a rede BBC,
teção aos mananciais de água, para prevenir a po- em junho de 2014, disse que as mudanças climáticas
luição nessas nascentes e, assim, evitar gastos vo- ocorreram mais rápido e antes do que era esperado
lumosos com tratamento ou busca de novas fontes no oeste do país. “Nos últimos 15 anos, a água de
de abastecimento. nossos reservatórios foi reduzida para um sexto do
Terras foram adquiridas pelo governo nas nascen- que havia antes” declarou.
tes de água, com o objetivo de proteger sua vegetação A solução foi construir duas grandes estações
e garantir que os lençóis freáticos continuassem a ser para remover o sal da água coletada no Oceano Índi-
alimentados. O projeto também previu a assistência co e torná-la potável. Metade da água que hoje abas-
financeira às comunidades rurais nessa região em tro- tece Perth provém do mar. Os ambientalistas criticam
ca de cuidados com o meio ambiente e a mitigação da o processo por ser caro e demandar muita energia e
poluição nos mananciais. Graças a essas iniciativas, a os moradores sentiram o impacto em suas contas de
vida útil de seus mananciais foi ampliada em décadas. água, que dobraram de valor nos últimos anos.
relhos domésticos econômicos (chuveiros, vasos sa- da campanha apenas um terço das casas de Zaragoza
nitários, torneiras e máquinas de lavar louça eficien- praticava medidas de economia de água; ao final da
tes, cujas vendas aumentaram em 15%); melhoria no campanha, já eram dois terços. Apesar do aumento no
uso da água em edifícios e espaços públicos, como número de habitantes o consumo total caiu.
parques e jardins; e cuidados para evitar vazamentos “O projeto mostrou que é possível lidar com a
no sistema. falta d’água em um ambiente urbano usando uma
Em 1997 foi estabelecida uma meta: cortar o con- abordagem economicamente eficiente, rápida e
sumo doméstico de água em mais de 1 bilhão de litros ecológica”, diz o 2030 Water Resources Group, con-
água no prazo de um ano. A meta foi plenamente sórcio que reúne ONGs, governos, ONU e empresas
atingida. De acordo com a Comissão Europeia, antes em busca de soluções ao uso da água no mundo.
Novos hábitos
Um erro comum é imaginar que São Paulo é uma região apenas 3%. Para a indústria, vão outros 17% e os 80%
com farta disponibilidade de recursos hídricos. Embora o restantes são de uso urbano”, afirma. Fechar o registro
Brasil detenha 12% das reservas de água doce do plane- enquanto se ensaboa ao tomar banho, ou a torneira
ta, a maior parte desses recursos encontra-se na região ao se escovar os dentes ou fazer a barba já é um bom
Norte do país. Especialistas dizem que a primeira coisa começo. Mas é preciso fazer mais e evitar lavar carros
que deve ser feita é reduzir o consumo de água e mudar com frequência ou mesmo preferir varrer a calçada
a “cultura de abundância”. com vassoura ao invés de utilizar a mangueira. A rega
Outro engano é acreditar que os grandes vilões do de plantas é outro exemplo e também deve ser feita de
consumo de água potável são a indústria e a agricul- preferência com o regador. Ações como estas fazem
tura. Segundo José Carlos Mierzwa, professor do de- parte da conscientização que deve ocorrer, segundo os
partamento de engenharia hidráulica e sanitária da especialistas, por meio de campanhas permanentes e
Escola Politécnica da USP, “a parte de água de nos- também nas escolas em que o ensino deve incluir a
sos reservatórios destinada à agricultura é irrelevante, educação ambiental.
emprego dos processos de separação por mem- utilização de produtos químicos, a facilidade de
branas tem ganhado muita importância. Entre as automação e a necessidade de espaço reduzido.
principais vantagens dessa tecnologia, estão a A Sabesp a tem adotado em algumas Estações de
invariável qualidade da água produzida, livre da Tratamento de Esgoto.
Sistema Adutor Regional de água bruta Levar a água dos reservatórios das barragens
R$ 397
para as bacias do Rio Piracicaba, Pedreira e Duas Pontes para outros 14 18 meses
milhões
Capivari e Jundiaí municípios, atendendo cerca de 3 milhões.
vazamentos. No caso de prédios, um bom método é que dispensa o acionamento manual. A economia é
separar os hidrômetros de cada apartamento, para de 50% em relação a uma descarga convencional.
determinar com mais clareza quem está gastando Custa em média 135 reais.
mais. O trabalho exige mão de obra qualificada. A se- ■■ Caixa d’água acoplada a bacia sanitária: Libera ape-
gunda medida possível é a troca de peças tradicionais nas seis litros de água por descarga, reduzindo o
por modelos que economizam. consumo em 50%. Custa cerca de 110 reais.
Conheça equipamentos indicados: ■■ Regulador de vazão: Diminui a quantidade de água
■■ Arejador: Rosca interna adicionada à torneira que liberada pelo chuveiro. É recomendado para siste-
permite a passagem de água e ar ao mesmo tempo e mas com aquecimento central. Economiza 60%.
torna a vazão constante. Em caso de torneiras de alta Custa 15 reais.
pressão, a economia chega a 90%. Custa em média15 ■■ Chuveiro elétrico: embora seja considerado um
reais. vilão no consumo de energia, o chuveiro elétrico
■■ Torneira com fechamento automático: Fica aberta apresenta um consumo de 4 litros de água por
por um curto período de tempo, permitindo dimi- minuto contra 8,7 litros do solar (consumo 118%
nuir o consumo em 20%. Custa cerca de 135 reais. maior) e 9,1 litros do sistema a gás (mais 128%) e
■■ Torneira com fechamento eletrônico: Equipa- 8,4 litros do boiler elétrico (+110%). Isso deve ao
mento regulado por sensor, que economiza o do- fato de que a água aquece mais rapidamente em
bro de uma torneira automática. Pode custar em um chuveiro elétrico do que em outros sistemas.
torno de 400 reais. Há chuveiros de vários preços, mas é possível ad-
■■ Válvula de descarga automática para mictório: quirir uma ducha ao custo de 30 reais.
Equipamento instalado em banheiros masculinos e
Equipamento Equipamento
Convencional
Consumo Economizador
Consumo Economia
indireta de sinalizar que os direitos individuais do desnecessário. É claro que se as obras atrasarem
consumidor não podem se sobrepor ao direito co- ou se a natureza nos oferecer uma hidrologia ain-
letivo à segurança hídrica, nos limites impostos da pior do que a adotada no cenário, tudo muda.
pelas condições naturais. Dito isso, apesar do rodízio se configurar como um
evento de baixa probabilidade, temos que estar
Saneas: Como será o processo de articulação de preparados para a sua ocorrência. Nesse sentido, a
informações sobre a crise hídrica com mais trans- Metropolitana já identificou cerca de 300 pontos
parência? críticos – tipicamente grandes hospitais, peniten-
Jerson Kelman: O site da Sabesp já publica diaria- ciárias e centros de hemodiálises - que não podem
mente um boletim sobre a situação dos mananciais ser submetidos ao rodízio por razões óbvias. Por
e as áreas e horários em que é feita a gestão da precaução, há um intenso trabalho sendo realizado
pressão. Apesar disso, tive notícia de algumas re- para que estes locais possam não ser submetidos
clamações sobre a maneira de informar o estoque ao improvável rodízio.
de água nos reservatórios do Sistema Cantareira.
Para clarificar ainda mais esse assunto, determinei Saneas: Os engenheiros da Sabesp têm sofrido
que o percentual de armazenamento fosse expresso algumas tentativas de desmoralização na mídia
como percentual do volume útil, como vem sendo (ex: um artigo do jornal O Estado de São Paulo
feito, e também como percentual do volume total, insinuou que seus engenheiros não passariam
que é o volume útil mais a reserva técnica. No co- num exame de avaliação do ensino médio). Qual
mitê de gestão da crise de energia elétrica de 2001, o nível de confiança que o senhor deposita no
aprendi que só é possível alcançar a solidariedade corpo técnico da Companhia?
da população quando se é transparente. Tenho fir- Jerson Kelman: Tenho uma longa carreira adminis-
me convicção que esse deve ser o comportamento trando diferentes instituições em que o corpo técnico
da Sabesp. desempenha papel relevante. Quero dizer que estou
muitíssimo bem impressionado com a qualificação
Saneas: Em relação ao risco da reserva técnica técnica dos profissionais da Sabesp. Não é por sorte,
do Sistema Cantareira ser esgotada, quais são e sim por competência, que a Sabesp é empresa líder
as principais medidas atualmente trabalhadas em saneamento da América Latina.
para garantir os níveis de abastecimento em um
futuro próximo? Saneas: Existem rumores que se estuda a privati-
Jerson Kelman: É preciso a todo custo evitar que zação da Sabesp. Eles têm fundamento?
os reservatórios fiquem completamente vazios. Jerson Kelman: O Governo de São Paulo detém 51%
Atualmente, estamos retirando 14 m³/s do Siste- das ações da Sabesp. Ou seja, é o acionista contro-
ma Cantareira, em lugar da retirada normal de 32 lador. Não tenho nenhuma notícia de que tenha in-
m³/s. Portanto, uma redução de 18 m³/s ou 56%. tenção de se desfazer deste controle.
Trata-se de um esforço significativo, muito mais
intenso do que o realizado no ano passado. Pla-
nejamos retirar menos ainda nos próximos meses,
quando os sistemas produtores do Alto Tietê e do
Guarapiranga estiverem em condições de socorrer
mais ainda o Cantareira. A simulação da evolução
do estoque ao longo de 2015 - supondo um cená-
rio conservador para as afluências e levando em
consideração o cronograma de obras emergenciais
de 2015 que permitirá a redução da vazão no túnel
5 – revela que, nessas condições, o rodízio seria
O cenário da crise hídrica que se abateu sobre meiro estudo de abastecimento integrado feito
a Região Sudeste do Brasil e suas repercus- com tal abrangência territorial, e que vem sen-
sões para os sistemas de abastecimento de do usado como referência para a discussão de
água da RMSP e de importante parcela do in- medidas para enfrentamento da crise de escas-
terior do estado devem estimular a reflexão a sez hídrica, buscando avaliar como os efeitos da
respeito de um dos mais complexos e multifa- crise alteram as conclusões e proposições apre-
Eng. Carlos Alberto cetados problemas a serem enfrentados pelos sentadas pelo Plano, e de que modo condicio-
Amaral de Oliveira
governos estadual e municipais de São Paulo: nam o planejamento daqui para frente.
Pereira
Diretor Técnico da a garantia do abastecimento de água, em vo- De partida, pode-se afirmar que a água
Cobrape lume e qualidade, a uma população crescente nessa região está mais cara. A ocorrência, a
e às atividades econômicas que tendem a se partir de dezembro de 2013, de registros de
expandir. A água, todos sabemos, é essencial precipitações e de vazões afluentes aos ma-
não somente à vida, mas também à indústria, nanciais significativamente inferiores aos va-
ao agronegócio, ao comércio e aos serviços, lores mínimos até então verificados fez altera-
ou seja, é um insumo indispensável ao bem rem-se todos os padrões de dimensionamento.
estar, ao processo de desen- Para uma mesma demanda
volvimento econômico e à A elevação do custo será necessária maior capaci-
ampliação dos rendimentos da água cria forte dade de agora em diante.
das famílias. estímulo, aliado à Por outro lado, a crise,
O enfrentamento da crise mobilização que a além de obrigar a anteci-
mobilizou esforços excep- pação de investimentos e a
crise provoca, às
cionais da Sabesp, dos servi- adoção de outros não previs-
várias ações que
ços municipais e dos gover- tos, traz uma série de altera-
produzem economia
nos nos três níveis, que têm ções nas condições que fo-
possibilitado a manutenção ram consideradas pelo Plano.
do abastecimento, ainda que com restrições. A partir da mudança de hábitos de consumo:
É lógico que neste momento as ações de cur- muito do aprendizado de uso racional pela po-
to prazo concentrem as energias de todos, pulação permanecerá, e a adoção de equipa-
mas não se deve perder de perspectiva o de- mentos economizadores e de medição indivi-
senvolvimento de uma estratégia de longo dual em condomínios será acelerada. Também
prazo vinculada à segurança hídrica de uma a adoção de técnicas de menor consumo na
região que participa de forma expressiva na indústria e na agricultura será intensificada.
composição do PIB Nacional. A elevação do custo da água cria forte
Neste texto apresenta-se um resumo do estímulo, aliado à mobilização que a crise
Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos provoca, às várias ações que produzem eco-
Hídricos para a Macrometrópole Paulista, o pri- nomia e preservação de fontes existentes,
e reduzem a demanda por novas. Entre essas, dimento a uma determinada demanda terá que ser
destacam-se a redução de perdas nos sistemas maior do que o anteriormente considerado.
de abastecimento, o combate a fraudes, o trata-
mento de esgotos e outras ações de despoluição, O Plano da Macrometrópole
a preservação e recuperação de mananciais e o O Governo do Estado de São Paulo desenvolveu,
estímulo ao reúso e ao aproveitamento primário no período entre 2008 e 2013, o Plano Diretor
de águas de chuva, por residências, estabeleci- de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a
mentos comerciais, indústrias e agronegócio. Macrometrópole Paulista, que ficou a cargo das
A crise deverá ainda estimular a necessária evo- Secretarias de Saneamento e Recursos Hídricos,
lução para uma efetiva gestão integrada do uso de Planejamento e Desenvolvimento Regional e
dos recursos hídricos, o que também aponta para de Meio Ambiente. O Plano, contratado pelo De-
maior eficiência no uso dos sistemas existentes. partamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE),
Particularmente, deverá ocorrer a há tanto tempo pautou-se pelos conceitos de segurança hídrica
necessária revisão da relação do setor elétrico com e aproveitamento integrado de recursos hídricos.
os demais usuários, o que trará maior prioridade ao Foram estudados cenários de desenvolvimento
abastecimento humano, como legalmente previsto. econômico sustentável, para um horizonte de
Resumidamente, pode-se afirmar que diversos planejamento de 2035, realizando uma minucio-
fatores de economia e racionalização deverão re- sa análise da situação, atual e futura, das dispo-
sultar em menores demandas efetivas, com relação nibilidades hídricas, da evolução das demandas e
ao considerado anteriormente pelo planejamento. das alternativas para o equacionamento do su-
Por outro lado, a capacidade para assegurar o aten- primento de água bruta.
a fraudes, o tratamento de esgotos, a preservação se mostra a mais econômica alternativa para a ope-
de mananciais e a melhor alocação, como efeito do ração da região, providas as condições de gestão
avanço da gestão integrada dos recursos hídricos. integrada indispensáveis à melhor utilização dos
Isso indica que as demandas efetivas na Macro- recursos hídricos regionais de agora em diante.
metrópole nos próximos anos deverão evoluir em As simulações mostram a necessidade, após
algum espaço intermediário entre o cenário ten- 2020, de um novo grande sistema provedor de água
dencial e o de ações de controle operacional. Em bruta para a região. As opções estudadas apon-
direção contrária, no entanto, a mudança da refe- tam para transposições de bacias, do rio Juquiá, da
rência de dimensionamento, e a evidência da acen- represa do Jurumirim, ou da bacia do Paraíba do
tuação dos eventos extremos no clima, indicam a Sul, como as mais viáveis. De todo modo, como um
necessidade de maior capacidade de reserva. Em grande sistema costuma consumir de cinco a dez
uma primeira aproximação, pode-se dizer, então, anos para ser implantado, é necessário dar início
que os efeitos contrários se compensam, e que as imediato à discussão sobre as opções e aos traba-
conclusões e proposições do Plano da Macrometró- lhos de estudos de viabilidade e projetos básicos das
pole continuam aplicáveis. alternativas mais adequadas.
A mais abrangente delas é a verificação de que Em complemento, constatado claramente o
essa região possui fontes de água superficiais su- aumento do valor da água para abastecimento, os
ficientes para atender às necessidades adicionais, estímulos econômicos ao uso racional e ao com-
em qualquer horizonte de planejamento visível, bate aos desperdícios deverão ser potencializados
desde que se faça a gestão integrada de seu apro- por políticas públicas que estimulem a gestão de
veitamento. As fontes superficiais são a base para demandas, a redução de perdas, o uso racional, o
o atendimento dos acréscimos de demanda. As de- reúso, e a alocação mais eficiente dos recursos hí-
mais, subterrâneas, de reúso, e economias por re- dricos. Pela mesma lógica, deverão ser promovidos
dução de consumo, redução de perdas e fraudes, e o tratamento de esgotos e a preservação de manan-
outras, serão complementos importantes. A mesma ciais, até agora colocados em segundo plano pela
constatação vale para a macrorregião que abran- sociedade, como mostrou a falta de reação à recen-
ge a Macrometrópole paulista, o estado do Rio de te invasão e destinação a ocupação habitacional de
Janeiro e o sul de Minas Gerais, que tem suficien- uma das últimas áreas remanescentes com cober-
tes vazões regularizadas para atender as demandas tura vegetal nos mananciais da zona sul da RMSP.
projetadas, e, caso seja necessário, tem condições A crise vem sendo enfrentada por um conjunto
de ampliação das vazões regularizadas disponíveis. de medidas, desde ajustes operacionais, a aprovei-
Outra conclusão importante é a necessidade de tamentos de grande porte, como o Sistema Pro-
ampliação da reservação de água bruta na região, dutor São Lourenço, as barragens Duas Pontes e
particularmente nas bacias do PCJ. Essa região, se- Pedreira, e o sistema adutor do PCJ e a interligação
veramente atingida pela crise atual, teria plenas Jaguari – Atibainha. Outras intervenções e políti-
condições de atendimento se dispusesse de capaci- cas públicas de promoção de ações de economia
dade de regularização de vazões, o que poderá ser e eficiência terão que ser discutidas nos próximos
provido pelas represas de Pedreiras e Duas Pontes, e meses e anos. É necessário que essa discussão seja
respectivo sistema adutor regional, cuja implanta- feita amplamente com a sociedade, a partir dos
ção já foi definida pelo Governo Estadual. Comitês de Bacia e de todo o Sistema de Gestão
Em consequência das constatações acima, a dis- de Recursos Hídricos, com os poderes dos municí-
cussão da renovação da outorga do Sistema Canta- pios e estados envolvidos e com a União, particu-
reira deverá mostrar que, atendidas as necessidades larmente a Agência Nacional de Águas, de modo a
das bacias do PCJ e das parcelas das bacias forma- estabelecer as bases de um planejamento justo e
doras do Cantareira no estado de Minas Gerais, não equilibrado, capaz de assegurar a segurança hídri-
há porque deixar de utilizar a máxima capacidade ca e as condições de desenvolvimento de toda essa
do Sistema Cantareira para abastecer a RMSP, o que importante região.
Saboó: 50 anos
de história e de
bons serviços
Em um bairro, localizado em parte na zona central e
noutra parte na zona noroeste da cidade de Santos, é
que está localizada uma importante área da Unidade
de Negócio da Baixada Santista da Sabesp, a Divisão
de Manutenção e Eletromecânica ou simplesmente
Saboó. O nome popular, Saboó, tem relação com o
bairro onde a unidade fica. De origem indígena, signi-
fica “pouca vegetação”, em decorrência da vegetação
escassa da encosta dos morros da região.
Esta unidade tem um importante motivo para ce- de todo o sistema de saneamento da Baixada San-
lebrar o início de 2015, pois no último mês de fevereiro tista, seja por meio de manutenções preventivas ou
completou 50 anos. Sua criação antecede a da pró- por meio de manutenções corretivas. As sub-áreas
pria Sabesp (oficialmente criada em 1º de novembro da unidade e suas respectivas atividades macro são:
de 1973, pelo então governador Laudo Natel, a partir ■■ Cloração: combate a vazamentos de cloro, em situ-
da fusão de oito empresas) e data de 1965, como parte ações de emergências, desenvolvimento de proje-
do Departamento de Obras Sanitárias da Secretaria de tos e confecção de peças para sistemas de cloração;
Serviços e Obras Públicas do Estado. Em 1969, passou ■■ Mecânica: manutenção e recuperação de equi-
a pertencer à Companhia de Saneamento Básico da pamentos de bombeamento, válvulas, comportas,
Baixada Santista (SBS), por meio de Decreto Estadual redutores, dosadores, aeradores etc, em captação,
50.770, de 13/11/1968. distribuição e tratamento de água e esgoto nos
Para se ter ideia da importância da Saboó é pre- nove municípios que compõe a Baixada Santista;
ciso saber o que ela faz e como funciona. A unidade ■■ Elétrica: tem como atribuições manter e corrigir
tem como missão garantir o perfeito funcionamento o sistema de funcionamento e bombeamento de
todas as unidades operacionais (captações, trata- tanto para comunicação, como para monitoramen-
mento de água e esgoto, EEE, EEAs, Boosters etc); to remoto;
■■ Instrumentação: atua na área de qualidade e de ■■ Automação: área mais recente da unidade foi
produção, no tratamento de água e no de esgo- formada pela necessidade de desenvolvimento
to, com instalações e manutenções preventivas tecnológico e é onde se realiza o treinamento de
e corretivas em equipamentos analíticos, como profissionais para atuarem no serviço;
por exemplo, analisadores de cloro, flúor/cor, PH ■■ Controle de Energia Elétrica: recebe todas as
e turbidímetros, reservatórios, adutoras e VRPs contas da concessionária e realiza estudos de de-
(Válvula Reguladora de Pressão); manda e controle.
■■ Radiocomunicação: faz as instalações e manuten-
ções em rádios de viaturas Sabesp, em rádios mo- Colaboração: Miriam Santiago Santos
dem, em instalações de estações de água e esgoto, (Analista de Gestão da RS)
artigo técnico
Houve também melhoria nos gráficos de con- que poderão reduzir as potências dos motores,
trole conforme figura 2. favorecendo a redução no consumo de energia e
Os índices de perdas foram reduzidos para 46% sistemas subaproveitados.
nos setores atendidos pela VRP Bahe Macedo no setor
de Suzano, houve também melhoria nos gráficos de
controle conforme figura 3.
Um grande resultado obtido não-mensurável
que é necessário ressaltar, foi o aumento na satis-
fação pessoal e o ganho no capital intelectual que
toda a equipe conseguiu obter.
CONCLUSÃO
Para garantir a sustentabilidade e caminhar para
a universalização do saneamento ambiental,
contribuímos em utilizar os recursos que já ha-
via na Unidade, como por exemplo, os painéis de
controle e supervisão, aplicando os conversores
de freqüência, reduzindo o consumo de energia
e as perdas de água no sistema de distribuição,
pois estes recursos estão cada vez mais escas-
sos, e com isso obtivemos uma grande eficiência
operacional. Portanto podemos chamar esse pro-
jeto de Projeto Sustentável, visto que estamos
enviando a água na medida certa, evitando altas
pressões e falta de água.
RECOMENDAÇÃO
Para a melhoria futura nesse projeto, é recomen-
dável utilizar o controle por ponto crítico dos se-
tores como parâmetro operacional e redimensio-
nar os boosteres e setores de alta pressão, visto
Relacionado ao tema perdas está o conceito de sus- jetos de alto desempenho que devem alcançar dois
tentabilidade que, atualmente, está no dia-a-dia das resultados muitos importantes: o gerenciamento e
empresas que atuam no mercado, sejam elas de peque- recuperação de créditos vencidos e a ampliação e,
no ou de grande porte. Segundo Labodová (2004), tor- ou, manutenção da carteira de clientes. O inadim-
nar um empreendimento sustentável significa diminuir plente, muitas vezes, é um ex-cliente, que ao resol-
o impacto de uma companhia de maneira economi- ver suas pendências financeiras pode voltar a ser um
camente viável, utilizando abordagens preventivas em consumidor dos produtos e serviços da empresa e,
conjunto com princípios de melhoria continua. com isso, aumentar o faturamento da mesma. (SATO
Fresner e Engelhardt (2004) destacam três di- et al., 2011)
mensões nas quais as empresas devem focar: a so- Considerando todos estes aspectos, este artigo
cial, a ecológica e a econômica, que complementam analisa e discute como a inovação e as mudanças
o conceito de Labodová. No caso do saneamento, a nos processos convencionais para cobrança de clien-
sustentabilidade envolve a busca do equilíbrio entre tes inadimplentes em núcleos de baixa renda podem
a eficiência econômica (redução da inadimplência e alcançar resultados significativos.
da evasão de receitas) e a função social do serviço
prestado (a água consiste em um bem essencial para METODOLOGIA
a vida e a dignidade humana). A metodologia que suporta este trabalho foi basea-
Com relação às perdas aparentes ligadas a fatura- da e desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica
mento e cobrança, para Zschornack et al. (2010), não e pautada na literatura atual dos temas abordados:
é de hoje que a inadimplência tem se mostrado como saneamento básico, inadimplência, cobrança e nú-
um problema crônico das empresas públicas, pois os cleos de baixa renda.
mecanismos de cobrança se limitam ao que a lei per- Também foi realizado um estudo de caso com o
mite. Além do mais, os próprios órgãos públicos são objetivo de analisar o impacto da mudança do pro-
grandes devedores, o que inviabiliza um procedimento cesso de cobrança em núcleos de baixa renda.
de cobrança padrão. Devido à complexidade da área de atuação da
Ainda segundo Zschornack et al. (2010), em mui- Sabesp e do grande número de clientes a empre-
tos casos, a concessão de descontos ou outras faci- sa está organizada em Unidades de Negócio (UN) e
lidades de negociação acabam por ser classificadas para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)
como provável renúncia de receita, impedindo que existem cinco UNs.
políticas mais efetivas sejam adotadas, ao contrário A área selecionada para este piloto foi o Jar-
do que ocorre na iniciativa privada, onde há grande dim Keralux, localizada na região leste da cidade
autonomia do credor. de São Paulo, pertencente a UN Leste da Sabesp.
Com esse cenário só resta a utilização criativa A seleção desta localidade se deu com base nas
dos mecanismos legais, de forma que se possam informações contidas nos sistemas comercial e fi-
conciliar as pressões por eficiência na arrecadação nanceiro da empresa.
oriundas dos controladores com as imposições legais Para a área escolhida, foram levantados dados
dos órgãos fiscalizadores. relativos ao estoque de débitos existentes antes da
O controle da evasão de receitas e da inadim- ação de cobrança diferenciada e depois da realiza-
plência é um fator determinante para o equilíbrio ção, medindo, entre outras variáveis, a satisfação
econômico-financeiro de qualquer organização dos clientes atendidos.
(SANTOS 2003). Há maior dificuldade em cobrar e
recuperar créditos nas regiões carentes e de baixa REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
renda, devido às condições precárias de sobrevivên- Nessa etapa do presente trabalho faz-se uma revisão
cia das famílias que ali habitam. na literatura atual que trata dos temas objetos deste
As soluções inovadoras no processo de cobrança estudo: saneamento básico, inadimplência, cobran-
e recuperação de crédito têm sido baseadas em pro- ça e núcleos de baixa renda.
como os núcleos de pobreza existentes em muitos plo, não dispõem de uma renda mínima necessária à
municípios operados, em que é impossível a adoção subsistência ou têm atendimento deficiente de suas
de políticas eficazes para redução da inadimplência. necessidades básicas. (FERREIRA et al., 2006)
(SABESP, 2009) Recentemente, incorporou-se à discussão sobre
O ciclo de cobrança na Sabesp é o período com- a pobreza a concepção de vulnerabilidade social de
preendido entre a disponibilização dos dados dos pessoas, famílias ou comunidades. Nesse sentido,
imóveis devedores, execução e conclusão das ações vulnerabilidade é uma noção multidimensional, uma
de recuperação de créditos vencidos. Existem duas vez que afeta indivíduos, grupos e comunidades, em
modalidades de cobrança: planos distintos de seu bem-estar, em diferentes
■■ Administrativa: serviços voltados à recuperação formas e intensidades. (FERREIRA et al., 2006)
de créditos vencidos por meio de ações de co- A vulnerabilidade de um indivíduo, família ou
brança administrativa e de serviços de engenha- grupos sociais refere-se a sua maior ou menor ca-
ria de corte do fornecimento de água, supressão pacidade de controlar as forças que afetam seu
da ligação por débito, restabelecimento e religa- bem-estar, isto é, a posse ou o controle dos recursos
ção do fornecimento de água; requeridos (ativos) para o aproveitamento das opor-
■■ Judicial: serviços de cobranças amigáveis e ju- tunidades propiciadas pelo Estado, mercado ou so-
diciais, voltados à recuperação de créditos ven- ciedade. (KATZMAN et al., 1999)
cidos de natureza tarifária e de serviços oriun- Desenvolvido pela Fundação Sistema Estadual de
dos de ligações inativas (sem abastecimento) e Análise de Dados – SEADE, o Índice Paulista de Vul-
de processos de ligações irregulares, bem como nerabilidade Social (IPVS) é um indicador que consis-
de ligações ativas que não podem sofrer inter- te em uma tipologia derivada da combinação entre
rupção do fornecimento de água. A cobrança duas dimensões – socioeconômica e demográfica –,
judicial envolve a prática de atos processuais em que classifica o setor censitário do IBGE em seis grupos
procedimentos comuns ou especiais no patrocí- de vulnerabilidade social, conforme a tabela 1. (SEADE,
nio de cobrança ou execução de créditos inadim- 2011)
plidos, por meio de ações judiciais adequadas Este indicador, aliado às informações internas da
para cada caso. organização e aos dados populacionais do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE subsidia
Nos núcleos de baixa renda, como favelas e co- a tomada de decisão em relação à criação de proje-
munidades carentes, nenhuma destas modalidades é tos inovadores na recuperação de créditos vencidos
realmente eficaz. As ações coercitivas como o corte em núcleos verticais de baixa renda.
no abastecimento, levam muitos clientes à irregu- De acordo com o HABISP (2011), somente na Re-
laridade. Já as ações judiciais são comprometidas gião Leste do Município de São Paulo existem 297
pela falta de documentação que vincule o cliente ao favelas, sendo que 110 (37%) delas estão classifica-
imóvel devedor. das nos grupos 5 ou 6 do IPVS. Em relação aos lotea-
As empresas, para sobreviverem e crescerem, mentos irregulares, são 381 na região, 71 (18%) deles
necessitam introduzir novidades tecnológicas e or- está no grupo 5 ou 6 do IPVS. Já os núcleos verticais,
ganizacionais ao longo da sua vida (BARBIERI E ÁL- que são 225 entre CDHU, COHAB e Cingapura, não
VARES, 2003). há detalhamento do indicador IPVS. Levando-se em
consideração que este indicador tem como base o
NÚCLEOS DE BAIXA RENDA: A POBREZA Censo Demográfico IBGE de 2000, a situação desta
EM SÃO PAULO E O ÍNDICE PAULISTA DE população tende a ter piorado dos últimos anos.
VULNERABILIDADE SOCIAL (IPVS)
A classificação de indivíduos e famílias segundo suas ESTUDO DE CASO
condições de vida tende a ser realizada por meio da O presente estudo de caso avalia a negociação dos dé-
negação, ou seja, são pobres aqueles que, por exem- bitos em aberto dos clientes da empresa de saneamen-
Figura 2 – Redução do estoque de débitos dos imóveis envolvidos no processo entre fev e dez/10
trole de datas de vencimento e pagamento de parcelas de promover maior grau de satisfação dos clientes
para evitar o rompimento de acordos e aumento do quanto aos serviços prestados pela empresa, melho-
débito, necessidade de manutenção de informações rando assim sua imagem perante a comunidade.
cadastrais junto à Sabesp, necessidade de atualização Os resultados de maior relevância com o pro-
de dados referentes ao cadastramento de tarifa social, cesso de negociação in loco em núcleos de baixa
entre outras; para que o cliente possa se manter adim- renda foram:
plente com a Sabesp e, consequentemente, manter o ■■ Maior satisfação dos clientes e sociedade, pela
fornecimento de água em seu imóvel. solução de seu problema, com facilidade e a co-
modidade de não sair de casa, além da devolução
RESULTADOS da dignidade por não ter de pedir água empres-
Em seis meses de trabalhos efetivos em campo, com tada, e ter sua própria ligação novamente (pala-
a visita em 464 imóveis, alcançamos o resultado de vras do cliente);
332 acordos de parcelamento efetivados, com aná- ■■ Satisfação dos empregados com resultados posi-
lise e revisão de débito, representando 71,5% de su- tivos e solução aos problemas dos clientes;
cesso em negociação, e valor de R$ 582.972,00 atu- ■■ Satisfação das lideranças locais, bem como pre-
alizados, reduzidos do estoque de débitos. feituras e subprefeituras;
O estoque de débitos dos imóveis selecionados ■■ Bons resultados para a UN Leste e Sabesp, com
para visita de negociação, que no levantamento ini- maior rentabilidade e resultados financeiros po-
cial era de R$ 571.054,00, sofreu uma redução de cer- sitivos;
ca de 50% até dez/2010, perfazendo R$ 286.803,00 ■■ Imagem positiva da Sabesp.
atualizados, conforme apresentado na figura 2.
O diferencial neste processo de cobrança é a CONSIDERÇÕES FINAIS
questão da oferta da possibilidade de parcelamen- Com a inovação e as mudanças no processo de
to de débitos e/ou regularização da ligação de água cobrança para núcleos de baixa renda, percebeu-se
junto à Sabesp, em sua “porta”, sem que o cliente que a iniciativa da Sabesp, de ir até o cliente, é re-
tenha que se deslocar de sua residência, o que tem almente um diferencial de sucesso. Sendo assim, a
encantado os clientes. ação poderá ser estendida aos terceiros que atuam
O processo de Negociação in loco, tem trazido no segmento de cobrança para a empresa, além de
também resultados diversos além de resultados fi- repasse a outras áreas da Sabesp, as quais poderão
nanceiros, tais como, a manutenção de clientes e a aplicar esta prática objetivando resultados positivos
reabilitação de clientes inativos com a Sabesp. Além e satisfação do cliente.
O curso foi uma experiência enriquecedora que veio preencher várias lacunas do meu
conhecimento anterior, proporcionando a motivação e o preparo necessário para
gerenciar projetos”
Rosana Telles (Instituto Cultural Luiz Telles)
O curso Gestão de Projetos nos fêz reconhecer padrões, analisá-los e nos preparou para
lidar com as dificuldades e percalços, inclusive com a nossa mudança interna”
Ceci Bueno de Caprio
INVESTIMENTOS E
EXPANSÃO EM 2015
Com uma visitação de 19.000 pessoas (2000 a mais A AESabesp irá dispor uma ilha de orientação em
do que em 2013), exposição de 248 estandes (em português e inglês e em seu estande prestará infor-
2013 foram 220), apresentação de 80 trabalhos téc- mações sobre os benefícios oferecidos pela entidade
nicos, 8 mesas redondas e 3 minicursos, o Encontro e a captação de projetos que pode ser concebidos em
Técnico AESabesp – Fenasan 2014 superou todas sua Carteira de Projetos Socioambientais, com inves-
as expectativas e consolidou a sua posição como timentos em suas execuções.
o maior evento técnico-mercadológico da Améri-
ca Latina, em saneamento ambiental. Em função
desse crescimento, em 2015, sua realização será no
Pavilhão Vermelho do Expo Center Norte, o maior
espaço desse complexo, nos dias 4, 5 e 6 de agosto.
O tema central de 2015 será “A crise da água e
suas consequências no sec XXI”. Até o momento, a
Fenasan conta com mais de 200 expositores confir-
mados, entre empresas nacionais e internacionais.
Além de otimizar as negociações desse mercado, a
Feira tem como principal objetivo difundir as tec-
nologias em uso, bem como as inovações tecnológi-
cas e todas as ações importantes para o saneamen-
to ambiental. Para corresponder a essa expectativa,
a AESabesp irá estruturar um Forum de Tecnologias
trazidas pelos expositores.
Livro “Ecologia de
reservatórios e interfaces”,
em formato digital
No dia 14 de março, foi lançado o livro “Ecologia
de reservatórios e interfaces”, somente em for-
mato digital, em PDF, e baixado gratuitamente pelo discorreu sobre os procedimentos e a importância
link http://ecologia.ib.usp.br/reservatorios/. No da aplicação da limnologia ao meio ambiente e,
site apresentado, também é adicionada uma base por consequência, na estrutura do setor de sane-
de dados que facilita a busca e o acesso ao livro amento básico.
integral e mesmo aos seus capítulos individuais. Composto por 30 capítulos, o livro, de acordo
Este livro foi organizado pelos grupos de pes- com os organizadores, “é uma tentativa de integrar
quisa dos Laboratórios de Limnologia, do Depar- os conhecimentos no intuito de mostrar a neces-
tamento de Ecologia, do Instituto de Biociências, sidade de estudos multi e interdisciplinares para a
da Universidade de São Paulo e da Universidade maior compreensão da estrutura, função e dinâmi-
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus ca dos reservatórios”. Por meio de alguns estudos de
de Sorocaba. Na liderança da pesquisa se encontra casos, os capítulos buscam discutir sobre a ecologia
o prof. dr. Marcelo Luiz Martins Pompêo (foto), pro- de reservatórios, do ponto de vista teórico, mas
fessor do Departamento de Ecologia, do Instituto também apresentar questões aplicadas relaciona-
de Biologia da USP- Universidade de São Paulo e das ao monitoramento e manejo, sem se esquecer
colaborador da Revista Saneas, inclusive respon- da proteção e recuperação da qualidade das águas
sável pela matéria tema da edição nº 40, na qual dos ecossistemas aquáticos continentais.
Nilton Moraes:
guiado pela paixão E PELOS VEÍCULOS possantes
C
om muita propriedade e toda aquela descontração que lhe é peculiar, o nosso associado, eng.
Nilton Gomes de Moraes, discorre sobre o seu hobby de colecionador de carros, que contempla
histórias de vida, fatos e dados inusitados. Confira nesta entrevista:
www.fenasan.com.br
Realização Apoio Organização e comercialização