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cadernos temáticos CRP SP
Patologização e medicalização
das vidas: reconhecimento
e enfrentamento - parte 3
XV Plenário (2016-2019)
Diretoria
Presidenta | Luciana Stoppa dos Santos
Vice-presidenta | Larissa Gomes Ornelas Pedott
Secretária | Suely Castaldi Ortiz da Silva
Tesoureiro | Guilherme Rodrigues Raggi Pereira
Conselheiras/os
Aristeu Bertelli da Silva (Afastado desde 01/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Beatriz Borges Brambilla
Beatriz Marques de Mattos
Bruna Lavinas Jardim Falleiros (Afastada desde 16/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Clarice Pimentel Paulon (Afastada desde 16/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Ed Otsuka
Edgar Rodrigues
Evelyn Sayeg (Licenciada desde 20/10/2018 - PL 2051ª de 20/10/18)
Ivana do Carmo Souza
Ivani Francisco de Oliveira
Magna Barboza Damasceno
Maria das Graças Mazarin de Araújo
Maria Mercedes Whitaker Kehl Vieira Bicudo Guarnieri
Maria Rozineti Gonçalves
Maurício Marinho Iwai (Licenciado desde 01/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Mary Ueta
Monalisa Muniz Nascimento
Regiane Aparecida Piva
Reginaldo Branco da Silva
Rodrigo Fernando Presotto
Rodrigo Toledo
Vinicius Cesca de Lima (Licenciado desde 07/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Organização do caderno
Lucia Masini, Rosangela Villar, Maria Rozineti Gonçalves e Lilian Suzuki
Revisão ortográfica
Lucia Masini
___________________________________________________________________________
C755p Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Patologização e medicalização das vidas: reconhecimento e
enfrentamento - parte 3. Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. - São
Paulo: CRP SP, 2019.
80 p.; 21x28cm. (Cadernos Temáticos CRP SP /nº 35)
ISBN: 978-85-60405-62-6
07 Introdução
Núcleo de Educação e Medicalização do CRP SP
09 Mesa de Abertura
Palestras
20 Lucia Silva
23 Debate
A patologização da Educação
29 Pedro Tourinho
29 Rosangela Villar
30 Ângela Soligo
35 Debate
Eu digo não à medicalização
e à patologização da educação
46 Lilian Suzuki
48 Rosangela Villar
49 Claudia Lofrano
50 Ione Xavier
51 Elisabeth Gelli
52 Beatriz Mattos
53 Marília Alves
65 A Pedagogia/Educação e a Medicalização
Cecília Collares
75 Debate
Introdução 7
- parte 3
Psicologia em emergências e desastres
Psicologia em emergências
CRP SPdas vidas: reconhecimento e desastres
e enfrentamento
Temática fundamental que merece reflexão e tem como consequência a patologização, em
construção de ações de enfrentamento tanto especial de crianças e adolescentes nas esco-
nos aspectos ligados diretamente à Educação, las. Estes PLs são reeditadas sistematicamente
quanto à vida das pessoas. nas casas legislativas e merecem total atenção
e medicalização
e articulação do Sistema Conselhos, de profis-
O CRP SP tem essa diretriz fruto de deli-
sionais da categoria e outros – ligados ou não
Cadernos Temáticos
berações de nossos COREPs e CNPs, há várias
à Educação e representantes do Legislativo.
gestões e o presente Caderno Temático traz à
Estes PLs geralmente tem a temática ligada a
categoria e à sociedade debates, palestras e
supostos transtornos de aprendizagem, como
Patologização
conferências que o Conselho organizou, apoiou
a dislexia e o TDAH, mas podem também atin-
ou foi parceiro, na gestão 2016 a 2019.
gir outros temas, que medicalizam, patologizam
Entendendo a medicalização/patologiza- e judicializam – como a manicomialização, as
ção da educação e da vida como um processo/ questões étnico-raciais e de gênero, o abuso de
atitude que transforma, artificialmente, ques- cesáreas no Brasil, o parto desumanizado, a cri-
tões não médicas em médicas, com aspectos minalização de crianças e adolescente, via redu-
da vida - de diferentes ordens - sendo trans- ção da maioridade penal, dentre outras pautas.
a Recomendação Mercosul/XXVI
RAADH/P nº 1/2015, de 6 de julho de
2015, que afirma a importância de ga-
rantir o direito de crianças e adoles-
centes a não serem excessivamente
medicados e recomenda o estabeleci-
mento de diretrizes e protocolos clíni-
cos sobre o tema;
as Recomendações do Ministério da
Saúde para a adoção de práticas não
medicalizantes, de 1 de outubro de 2015;
e a Recomendação nº 19 do Conselho
Nacional de Saúde, de 8 de outubro de
2015, que recomenda ao Ministério e
Secretarias de Saúde a promoção de
práticas não medicalizantes,
- parte 3
Psicologia em emergências e desastres
e desastres
e enfrentamento
Mesa de Abertura
Psicologia em emergências
CRP SPdas vidas: reconhecimento
Eliseu Gabriel: Boa noite. Vamos começar o nosso logia, é uma imensa satisfação estar aqui, nesses
evento que comemora, pelo sexto ano consecuti- anos todos compondo esses eventos junto com o
vo, o Dia Municipal de Luta Contra a Medicalização Fórum sobre Medicalização. E dizer que a psicolo-
da Educação, instituído pela lei municipal 15.554 de gia sempre tem como pauta contribuir para a de-
e medicalização
30 de março de 2012. Foi de minha autoria, vere- fesa dos direitos humanos, para a defesa das po-
ador Eliseu Gabriel, e, hoje, vamos trazer uma re- líticas públicas, especialmente, num momento que
Cadernos Temáticos
flexão sobre o tema “Medicalização da vida, uma vemos cada vez mais o avanço de direitos sendo
questão de saúde, educação ou política”. Mas, an- aviltados. Posso citar alguns deles: recentemen-
tes, temos nossa mesa de abertura. te, tivemos um olhar para a homossexualidade de
Patologização
novo como um desvio, como uma doença. Algo que
Vera Regina Vitagliano Teixeira: Boa noite
a psicologia havia superado, está sendo retomado.
a todas e todos. Primeiramente, eu gostaria de
Tivemos recentemente também, uma lei, conheci-
cumprimentar os membros que compõem a mesa
da como Lei do Risco Psíquico para identificação
de abertura deste evento. Em nome da diretoria
precoce em bebês e crianças, com aplicação de
e do colegiado do Conselho Regional de Fono-
protocolos em larga escala, cujos princípios e mé-
audiologia, agradeço o convite para participar
todos são questionáveis, principalmente por não
- parte 3
ressante de Santos, em que uma lei tinha sido mente fundamental. Tem muito a ser feito ainda e
e desastres
aprovada, já estava até começando a entrar em nós temos de ganhar ideologicamente a socieda-
prática, foi convencido o vereado a refazer a lei de. E, para isso, a gente tem de estar o tempo intei-
e enfrentamento
contrária, anulando aquela lei, quer dizer, foi vo- ro combatendo, o tempo inteiro lutando, o tempo
Psicologia em emergências
tado de novo, extinguindo aquela lei. Mas isso inteiro buscando alternativas. Hoje, aqui, somos
continua pipocando no Brasil inteiro, temos de um grupo absolutamente fundamental “ah, mas
estar sempre atentos, aqui, na Câmara, volta e não tem tanta gente”, mas é essa gente mesmo
meia alguém mais desavisado faz e vamos para que vai fazer a diferença. Existem as publicações,
e medicalização
a institucionalidade, por onde as instituições de- Dar os parabéns para todas que estão nessa luta
cidem as coisas. Então, o Congresso Nacional e me comprometer a continuar junto com vocês.
Cadernos Temáticos
aprovou uma lei que eu nem fiquei sabendo, mas Muito obrigado.
se tivéssemos tido uma atuação no Congresso
Nacional, tivesse alguém lá, se alguém tivesse Jason Gomes: Vou fazer a mediação da pró-
Patologização
descoberto, teria um jeito de barrar, certo? xima mesa. Antes de chamar os componentes,
queria reforçar uma fala do Eliseu Gabriel, que acho
Então é uma luta constante, muito o que é
que é muito importante nesse contexto. A luta é
o nosso dia hoje, porque aqui a tendência da nos-
em defesa da diversidade e eu queria lembrar que
sa sociedade é individualizar o problema, é focar
o Fórum tem feito, nesses últimos sete anos, um
o consumo individual, é cada um ter seu aparta-
esforço muito grande para que essas lutas sejam
mento, é cada um ter seu carro, é cada um con-
em respeito à diversidade nos diferentes modos
sumir individualmente. Isso, de certo modo, vai se
- parte 3
tiu o filme Divertida Mente tem uma ideia do que é sentidos e outras organizações para a existên-
e desastres
a personificação de um complexo, nessas figuras cia. É fundamental a atitude da consciência. Se
que o filme apresenta. a atitude for de exclusão e combate, o efeito é
e enfrentamento
de um tipo. Se ao contrário, é uma atitude de
O complexo, então, teria uma posição rela-
Psicologia em emergências
escuta, escuta a sério, de inclusão, uma escuta
tivamente autônoma diante do complexo do eu,
que não é só literal, mas é uma escuta também
ou seja, seriam outros para o complexo do eu. Na
poética, simbólica, metafórica, os efeitos são
perspectiva junguiana, o complexo do eu é um en-
muito diversos. Do ponto de vista junguiano,
e medicalização
do mesmo ser, por que não se cansar? Minha alma que todas as sequências associativas possam
procura-me, mas eu ando a monte, oxalá que ela querer dar sentido, ela produz novos sentidos. E
Cadernos Temáticos
nunca me encontre. Ser um é cadeia, ser eu, não é é importante que também haja lugar para o des-
ser. Viverei fugindo, mas vivo a valer”. O que essa conhecido, para o mistério, para o inconsciente,
poesia nos coloca é a possibilidade de uma mul- não só para aquilo que cabe nas sequências
Patologização
tiplicidade que se estabelece tanto no mundo associativas que nos faz pensar que sabemos,
quanto em cada um de nós. com certeza, o que é uma coisa ou outra.
- parte 3
a partir do tratamento. Isso é explícito em al-
que os valores vão nos levando
e desastres
guns textos psiquiátricos. Foi, por exemplo, o
a achar que a maneira de viver tratamento do transtorno de pânico que deu ao
e enfrentamento
é jogo de tênis e não jogo de transtorno de pânico a sua solidez diagnóstica.
Psicologia em emergências
frescobol” Mas, em 1980, quando o DSM-3 é lança-
do, também é uma década onde temos uma
Assim, nós temos um mundo de relações impulsão do neoliberalismo como política de
e medicalização
muito interessante que cronologicamente, tive- te o que isto produziu: a expansão criativa do
mos umas circunstâncias que se casaram. número de diagnósticos. Se mais ou menos até
Cadernos Temáticos
1840, tínhamos duas categorias diagnósticas,
Em 1980, a Associação Psiquiátrica Ame- em 1880 tínhamos, mais ou menos, sete cate-
ricana lança o DSM-3, que foi um marco na psi- gorias diagnósticas. Pinel, Esquirol, no final do
Patologização
quiatria no mundo, por fazer uma mudança im- século 18, tinham por volta de oito categorias
portante na maneira de fazer diagnóstico. Os diagnósticas, todo esse período pré-século 18,
diagnósticos passam a ser feitos de forma ob- nunca teve muito mais do que isso de diagnós-
jetiva, equivalente. Então, eu vou fazer um diag- tico. Quando chegamos na metade do século 20
nóstico vendo se a pessoa tem tristeza, desâ- tínhamos 22 diagnósticos; quando chegamos
nimo. Veja: uma tristeza por acaso é vivida por em 68, 182 diagnósticos; com o DSM-3 vamos
cada um de nós sempre do mesmo jeito, com para 265 diagnósticos e, hoje, no DSM-5, nós
- parte 3
Psicologia em emergências e desastres
Psicologia em emergências
CRP SPdas vidas: reconhecimento e desastres
e enfrentamento
Medicalização da vida, uma questão de saúde, sentidos, uma lógica completamente questionável
educação ou política? cujo motor, como disse o doutor Ajax, é o consumo.
Começo minha fala apontando um número ex- Essa lógica vem afetando o modo de vida
e medicalização
cia cujo nome comercial é Ritalina e Concerta, e acho principalmente a escola, como um microssistema
Cadernos Temáticos
extremamente importante trazer esse número para que acaba reproduzindo em seu interior os grandes
nós termos ideia do quão isso está crescendo a cada problemas sociais. Quer dizer, a escola é um reflexo
dia. Em 2000, foram vendidas 70 mil caixas de Metil- da sociedade. E por trás dessa lógica, que é ape-
Patologização
fenidato; em 2012, esse número aumentou para dois nas a ponta do iceberg, e em que ficamos presos,
milhões e 400 mil caixas de Metilfenidato. Acho um tem dinâmica, tem movimento, tem valores huma-
número bastante expressivo e bastante preocupante. nísticos, diversidade humana, diversidade cultural,
coletividade, singularidade, complexidade, contra-
Embora eu não seja do campo da saúde, en-
dições. Portanto, há um espaço bastante conside-
tendo que, tanto a saúde quanto à educação, a so-
rável para nós conseguirmos superar essa lógica
ciologia e a política, estão imbricadas nessa temática.
tão predatória e que tanto mal está nos fazendo.
Trago aqui Alvin Toffler, escritor e doutor em letras,
- parte 3
considere o direito à sua singularidade. Fui buscar al-
e desastres
fio pode ser, além de questionarmos o óbvio, mudar-
gumas alternativas e algumas propostas de escolas
mos as perguntas. Retomo uma questão que achei
diferentes para tentar superar, para tentar entender
e enfrentamento
bastante interessante trazida pela professora Mari-
quem vem tentando superar essa escola hegemô-
lene Proença Rebello de Souza, em que ela desloca a
Psicologia em emergências
nica que temos hoje, e encontrei o Projeto Âncora,
pergunta do “por que a criança não está aprenden-
onde estou fazendo a minha pesquisa e tenho tido
do?”, para “que escola estamos oferecendo?”
resultados bastante interessantes. A escola tradi-
cional parte das disciplinas em direção à criança, e
e medicalização
cimento, dos conteúdos, das disciplinas, e ganha au-
para aprender, tem sede de
tonomia, ganha cidadania. Essa escola parte de três
saber, ela só precisa de uma
Cadernos Temáticos
pilares, e o pilar que acho um dos mais importantes é
escola que fale a sua linguagem, o dos valores. Os valores vitais, os valores estéticos,
os valores políticos, os valores éticos como: solida-
uma escola que considere o
Patologização
riedade, honestidade, verdade, lealdade, altruísmo. A
direito à sua singularidade” ética vai para além da moral, procura os principais
fundamentos do comportamento (ou) da atitude; a
saúde, lidar com o corpo, entender o corpo, a harmo-
A psicologia escolar tem contribuído muito nia; a questão estética, como definir feio e bonito.
para pensar, estudar. A psicologia escolar lá no Ins-
tituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Acho que temos de ampliar um pouco mais o
- parte 3
Psicologia em emergências e desastres
Psicologia em emergências
CRP SPdas vidas: reconhecimento e desastres
e enfrentamento
Jason Gomes: A gente que agradece novamen- tinua sendo vista como mercadoria, e você tem
te, Eliseu, sua parceria de sempre. Obrigado. Pri- um produto federal que é muito parecido com
meiro lembrar todo mundo, eu acho que a pro- os manuais dos grandes grupos educacionais
fessora Lúcia falou muito bem da BNCC, não sei privados. E, enfim, eu anotei aqui uma coisa que
e medicalização
se todo mundo sabe, mas ela mudou a lógica o Ajax falou no começo, que não se trata de ser
completamente na terceira versão, de uma ló- contra diagnósticos, não se trata de ser con-
Cadernos Temáticos
gica de garantia de direitos para aprendizagem, tra procedimentos, mas que é contra uma do-
ela entrou numa lógica de habilidades e compe- minação unilateral e fundamentalista. Acho que
tências que as crianças precisam ter. O governo tivemos isso na fala de todos. De certa forma,
Patologização
atual, inclusive, fez um documento que é sobre é contra uma dominação na forma de aprender,
a mudança, para todo mundo entender como que foi o que a Lucy trouxe na fala dela, e tam-
essas mudanças foram feitas. E o documento é bém contra essa forma escolar, que vem lá des-
muito curioso, porque tem uma parte em que o de, basicamente, a Revolução Francesa, com a
que estava como direito entrou como questões industrialização e com a Revolução Francesa,
transversais, e aí ele aparece com um tracejado que trata a escola como um espaço de docili-
e mais apagadinho assim para você entender zação dos corpos. Enfim, acho que temos esse
- parte 3
pelo número de exames feitos, porque isso é pela indústria farmacêutica, porque a escola
e desastres
transformar a saúde em mercadoria. A mes- tem uma lógica que reflete a lógica social de
ma coisa para habitação. O primeiro imóvel, o mercantilização e a indústria farmacêutica ocu-
e enfrentamento
imóvel que a pessoa mora, não pode ser mer- pa esse espaço que está ali suscetível.
Psicologia em emergências
cadoria, não pode ser tratado como mercado-
ria, para ser quantificado, ter imposto, tudo do Segundo o que eu li, de cada 10 médicos,
mesmo jeito que os outros. Isto não quer dizer oito prescrevem tarja preta para adolescente.
que tenhamos de acabar com a forma de mer- Esses comportamentos são encontrados na
e medicalização
de que eu tenho mais intimidade. Não se trata e a medicalização. A Associação Americana de
de você culpabilizar o médico, o psicólogo ou o Psiquiatria é quem convenciona o DSM de que
Cadernos Temáticos
profissional que trabalha na estrutura, ele tra- falou, aqui, o Ajax. E existem alguns membros
balha funcionando dentro dessa lógica, a hora da Associação Americana de Psiquiatria que
de trabalho dele é por consulta, a produção é tem conflito de interesses com a indústria far-
Patologização
feita de determinada maneira. E aí assim, não macêutica. E isso é muito sério, porque esbarra
interessa se o sujeito morreu de diabetes ou na questão ética. Então vemos que o problema
se ele perdeu um dedo, eu quero saber “olha, é muito maior do que se imagina. É uma ques-
quantas consultas ele teve, se ele fez os exames tão mesmo de poder, é uma questão ética, uma
que fez”. Há uma lógica que é a da mercadoria, questão de mercantilização da vida. Vou falar
e isso funciona muito. Então, eu acho que tem de duas questões que eu acho que são muito
de tomar um cuidado nesse sentido de não cul- importantes que tem acontecido e que nós nos
- parte 3
não consigo conceber a separação entre ensi- no espaço escolar possa abordar outras di-
e desastres
no e aprendizagem. Ensino/aprendizagem, um mensões. O indivíduo precisa ter uma possibi-
pressupõe o outro, não existe aprendizagem lidade de pensar seu mundo, seu entorno, suas
e enfrentamento
sem ensino e não existe ensino sem aprendi- relações com o seu meio. É lógico que temos,
Psicologia em emergências
zagem. Então assim, quem são os responsá- na disciplina de sociologia, a discussão da so-
veis? É o professor? É o aluno? Eu acho que a ciedade de classes, e para eles, é bem difícil
questão é muito mais ampla. Ao meu ver, penso quando começo a falar disso, no primeiro ano,
que a proposta pedagógica que continua nas porque existe toda uma concepção da merito-
e medicalização
Participante: Boa noite, trabalho em uni- ridos. E também trazer a possibilidade de eles
dade básica de saúde do SUS, colega do Ajax poderem expressar os anseios, os conflitos que
Cadernos Temáticos
há décadas. A mesa apontou a questão do ca- eles têm em cada fase, em cada momento da
pitalismo selvagem no neoliberalismo, influindo sua vida. Sentimos muita falta de ter espaços
na formação das pessoas e na relação da es- dinâmicos, também ter a tecnologia, mas ter
Patologização
cola com o educando. Então, a causa, a gente possibilidade de fazer essas interações com os
já consegue identificar. Agora, como será que nossos alunos que pudessem abarcar esse tipo
poderíamos solucionar essa dificuldade da es- de discussão, de vivência, de troca com eles, e
cola de falar sobre as diferenças de classes? eu acho que seria profundamente proveitoso
Não vejo essa entrada. Somos uma frente que para eles.
incentiva o reconhecimento das subjetividades,
Lucy Duró: Quando você fala em espiri-
as diferenças, e quando chegamos na escola
tualidade, imediatamente já me remete a essa
Pedro Tourinho
- parte 3
Médico sanitarista, docente da PUC Campinas e vereador na cidade de Campinas.
e desastres
e enfrentamento
Boa noite a todas. É um prazer receber vocês simplificadoras, que, de certa forma, oprimem as
Psicologia em emergências
aqui na Câmara, eu sou o vereador Pedro Tou- pluralidades das manifestações dos indivíduos,
rinho e no mês de novembro sempre realizamos cada vez mais são apresentadas por gestores
atividades que celebram o dia que nós aprova- públicos, por formuladores de políticas públicas,
e medicalização
cipal devem ser debatidos com a importância que do CRP; uma pessoa central nessa história; e Ân-
eles merecem. E particularmente um tema como gela Soligo, docente da Faculdade de Educação
Cadernos Temáticos
esse, a medicalização e patologização, cada vez da Unicamp e presidente da Associação Brasilei-
mais se torna necessário, dado que as soluções ra de Ensino de Psicologia.
Patologização
Rosangela Villar
Mais uma vez, como diz Pedro, estamos aqui para em todas as nossas ações, em todas as nossas
esse tipo de debate e reflexão. Desde 2013, es- formas de relacionamento na sociedade. Desde
tamos junto. Esse ano é, para nós, um pouquinho quando ficamos grávidas, desde quando a gen-
diferente porque ele está encampado também te nasce, desde tipo de alimentação que a gente
pelo Conselho Regional de Psicologia, que, embo- come; o fenômeno da medicalização passa por
ra nos anos anteriores tenha sido nosso parceiro tudo, é um fenômeno transversal.
nessa reflexão, esse ano entra mais forte: o dia
foi aprovado no Estado de São Paulo. Então, ele Hoje vamos falar da patologização da edu-
passa a ser também um dia estadual de enfren- cação, origem do nosso movimento, com a ques-
tamento, ou contra a medicalização da educação tão dos transtornos, da dificuldade da criança,
e da sociedade. Assim, o estado de São Paulo sua culpabilização e também da escola, ou do
todo, no mês de novembro, todas as subsedes professor e a dificuldade em ver isso como um
estão com eventos fazendo a marcação dessa fenômeno que é socialmente construído e que tá
data. Eu digo que isso é só simbólico, porque a lastreado em políticas públicas bastante inten-
gente tem de fazer a demarcação dessa data cionadas. É importante fazermos essa conversa.
e desse enfrentamento o ano inteiro, em cada Mas eu não vou falar mais, eu vou deixar a Ângela
uma das nossas ações, porque a medicalização fazer sua fala e depois ficamos à disposição para
e a patologização da vida, elas estão arraigadas participar da conversa.
30 Ângela Soligo
Psicóloga, docente da Faculdade de Educação da Unicamp e
presidente da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia.
Bom, boa noite a todas e a todos. É sempre um pra- cupado, ou você tem um problema sério a resolver,
zer participar desse debate sobre a questão da me- bom, a solução está num remédio líquido, que o dei-
dicalização, da despatologização; é necessário. E eu xa calminho ou calminha. Se você tem gripe, você
queria começar dizendo que hoje é um dia bastante não pode parar de trabalhar, você tem umas pílu-
emocionante para mim que sou uma pesquisadora las milagrosas que vão deixar você em pé. Se você
do racismo, porque hoje nós conseguimos aprovar quer emagrecer, você vai ter acesso a cápsulas que
finalmente a política de cotas na Unicamp, e parece vão queimar as suas gorduras. Se você está triste,
que não tem relação uma coisa com a outra, mas na desanimado, seja por qual motivo for, você tem re-
verdade, essas frentes todas, as políticas de inclu- médios que vão dar energia, sem falar nos florais
são social, de cotas, a luta contra a patologização, que são tiro e queda. Se você quer o seu cabelo
são lutas por uma vida cidadã plena, que nós não mais brilhante, mais sedoso, você pode tratá-los
temos, não é? Nós não teremos enquanto tivermos de dentro para fora com cápsulas, com remédios.
racismo, enquanto tivermos homofobia, enquanto Se você é mulher e fica irritada por alguma razão,
tivermos misoginia, enquanto tivermos pobrefobia, existem os remédios para TPM. Se você é homem
enquanto considerarmos que a vida social se resolve e anda desanimado, sexualmente meio lento, tam-
com remédios. Então é um dia para mim importan- bém tem remédio pra isso. Não é? Se você vai enve-
te e foi importante vir aqui hoje. Eu faço parte des- lhecer, nem pensa nisso, existem vitaminas que vão
se debate já há algum tempo, participo sempre que retardar o seu envelhecimento. Então, acabamos
possível, mas mesmo que não presencialmente eu brincando muito, as duas, e isto não é brincadeira,
participo da discussão, da produção de conteúdos e é sério. Parece que para viver, na nossa sociedade,
de ideias para esse debate. você precisar tomar, por dia, entre 10 e 12 medica-
mentos, no mínimo. Isso faz parecer que estar vivo
Queria começar minha fala contando uma
é estar doente, e que os problemas cotidianos, os
história. Há uns dias, eu estava sentada com a
problemas da vida em sociedade são problemas
minha filha mais nova, assistindo televisão, o que
do indivíduo, são seus problemas individuais e isso
é raro, mas tivemos aí uns feriados e assistindo a
não tem nada a ver com a sociedade.
TV, pude notar que, num período de mais ou menos
uma hora, de aproximadamente 10 propagandas de
televisão, cinco eram sobre medicamentos. Minha
filha e eu começamos a brincar com isso, porque
“Criamos rótulos e nós os vemos
fomos constatando que, se você trabalhar demais crescer, serem ampliados”
e esse trabalho te produz dores, dor de cabeça, dor
nas costas, dor nas pernas, tem analgésico, anti-
inflamatório e parece que isso resolve seus pro- Eu recebo muitas queixas de pessoas que
blemas trabalhistas. Se você não pode tomar leite, procuram atendimento psicológico, pessoas ne-
tem intolerância, já tem remédio para isso, você gras e, quando relatam situações de sofrimento
toma o remédio e toma leite. Se você está preo- por causa do racismo, elas escutam “racismo não
existe, esse problema é seu”. Então, vamos con- logias. Isso é patologizar. É focar essas questões
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centrando todas as nossas questões, nossos no indivíduo e deslocar das condições de produ-
dilemas no sujeito individual; e concentrando no ção. Quando dizemos que uma pessoa, que está
sujeito individual, vamos identificando ou criando há mais de uma semana triste, está com depres-
doenças, criando patologias. Porque se é do su- são, não nos perguntamos por que essa pessoa
jeito individual, ele tem um problema que se mani- está triste e o que podemos fazer por ela. Temos,
- parte 3
festa com algum tipo de sintoma e, então, damos portanto, uma compreensão estreita dos proble-
e desastres
nome para eles. Eu diria que criamos rótulos e nós mas, limitada, unilateral. Qual é a consequência
os vemos crescer, serem ampliados. Há patologias imediata da patologização? É a medicalização. Se
e enfrentamento
para as quais nós não tínhamos nomes, não ha- dizemos que o sujeito está doente, se situamos
Psicologia em emergências
víamos criado ainda, mas nós vamos modulando os dilemas sociais nele e ele adoece, precisamos
os rótulos. Por exemplo: existem classificações de apontar ou apresentar um remédio. E hoje o que
depressão que vão dizer que mais de um mês de percebemos é que existe medicamento para tudo,
tristeza já é depressão, não importa qual a razão, existe remédio para tudo. E, junto com isso, vem
e medicalização
exercício, comia pulando. Na escola, também não
escola é maravilhosa, a sociedade é maravilhosa,
parava quieta, mas, ao mesmo tempo, prestava
ninguém passa fome, ninguém está preocupado
Cadernos Temáticos
atenção em tudo, só que pulando. Felizmente, ela
com o desemprego, ninguém está desempregado,
estudava numa escola que não rotulava, porque
ninguém está preocupado com a reforma da previ-
numa escola comum ela seria certamente consi-
dência, com a venda do Pré-sal ou das riquezas da
Patologização
derada hiperativa. Então, as crianças que querem
Amazônia. Então, nos perguntamos: a quem isso
correr, que querer pular, que querem brincar, hoje
interessa? Por que temos funcionado desta ma-
são chamadas de hiperativas.
neira? Selecionei alguns setores.
Quando nos deparamos com crise entre
casais, rapidamente, alguém situa a razão da
crise na mulher e diz que ela tem TPM. Quando “É alarmante a quantidade de
temos crianças questionadoras, adolescentes
- parte 3
aqueles medicamentos que não são psicoativos, por que eu conto isso?
e desastres
não são tarja preta, ao tomá-los regularmente,
vamos sim habituando o organismo, habituando-
e enfrentamento
nos e nos tornando dependente deles, mesmo que “E as queixas são das crianças
Psicologia em emergências
não fisicamente dependente, não é? Mas parece
que não conseguimos tocar a vida se aquele me- que ‘não para quieta’; ‘Ah, é
dicamento não estiver presente, como se fosse um pouco mais lenta do que
ele a prevenir qualquer possiblidade de risco. Tem os colegas pra ler’ ou ‘é rápido
e medicalização
eficácia. Então, ele é uma droga. A gente poderia que será transformado numa
trocar o nome Metilfenidato por qualquer droga e patologia que necessita de
Cadernos Temáticos
poderia fazer essa mesma descrição. Ele produz
efeitos colaterais já constatados: efeitos no fun-
remédios”
cionamento cardíaco, no funcionamento do sistema
Patologização
gastrointestinal e efeitos psicológicos, inclusive, de
Porque todos os dias, pais e mães de crian-
longo prazo. Já existem estudos internacionais que
ças nas escolas são chamados e são aconselha-
associam o consumo por período muito longo da
dos a levar os seus filhos ou no neurologista, ou no
Ritalina com tendências a suicídio e tendências psi-
pediatra, ou quando, é na escola pública, ao posto
cóticas. Então, ela produz consequências de longo
de saúde, e são aconselhados a pedir a prescri-
prazo e consequências bastante sérias. Mesmo as-
ção de Ritalina. As pessoas vão já com esta fala
sim, esses medicamentos são utilizados, tem sido
- parte 3
Psicologia em emergências e desastres
Psicologia em emergências
CRP SPdas vidas: reconhecimento e desastres
e enfrentamento
Pedro Tourinho: Ângela, muito obrigado. Foram vá- deixar uma receita pronta para o paciente poder pe-
rias provocações. Queria complementar e falar um gar de volta e continuar usando sua medicação sem
pouco da minha experiência de médico. Trabalho prejuízo. Não é possível fazer consulta todo mês para
na saúde da família, na atenção básica, e, em tan- avaliar se o paciente está ou não melhorando com a
e medicalização
tas vezes, me senti e senti colegas meus como se medicação. Fazer um plano de desmame, um plano
fôssemos traficantes que operam dentro da lei. Por- para melhorar, ou para diminuir também não existe. O
Cadernos Temáticos
que vemos situações, por exemplo, de renovação de que tem, na verdade, são casos de pessoas com 25,
medicamentos psicotrópicos, especificamente dos 20, 15 anos de uso dessas medicações. E se faltar,
benzodiazepínicos. Benzodiazepínicos são medica- no centro de saúde, especialmente o Rivotril, ou por
Patologização
mentos ansiolíticos. Para quem não sabe é o famoso algum motivo a receita não estiver lá, a briga é feia. Já
Rivotril, o famosíssimo Diazepam, Lexotan. Existem vi barraco na recepção, com todas as características
vários e promovem muita situação de dependência de substância de abuso, de ter uma ansiedade asso-
e de um uso abusivo. Existem milhões e milhões de ciada à eminência da não utilização do remédio.
brasileiros consumindo, na verdade, o Rivotril; ele
Hoje, 18% do PIB norte-americano está no se-
está sempre no top 2 ou 3. Na verdade, ao longo dos
tor saúde, isso é mais do que todo o PIB brasileiro; e
anos 90, houve uma transição, entre o primeiro cam-
- parte 3
podemos manifestar contrariedade, temos de sor- aqui falar com vocês”. Então um pouco é isso que
e desastres
rir o tempo todo, temos de estar felizes apesar de precisamos aprender também. Quer dizer, quando
qualquer coisa. Essa imposição também é patologi- dizemos que deve caber todo mundo na escola, é
e enfrentamento
zação, porque se você não é feliz, algum problema mais do que espaço. Deve caber no sentido de que
Psicologia em emergências
você tem, não é? E se você não é feliz você tem de deve haver formas diversas, estratégias para ensi-
achar um mecanismo de resolver a sua infelicidade, nar, para aprender. Aprendemos que ensinar de um
mesmo que ela seja momentânea, seja com remé- jeito só não funciona para todo mundo. Isso inde-
dio, seja com exercícios, porque você aumenta a pende do estudante ter algum rótulo do que quer
e medicalização
diversas se quisermos atingir de fato aquela pes-
aprendemos? Não é através de conflitos? Quando
soa que está ali para aprender. Então, precisamos
estamos muito fechados num determinado pro-
Cadernos Temáticos
também superar essa ideia de que há pessoas que
cesso de criação, de construção, não avançamos.
não podem aprender. Todas as pessoas que estão,
Precisamos ser conflitados, precisamos ter dúvida,
na escola ou em qualquer lugar, podem aprender.
precisamos de curiosidade para avançar. Então,
Patologização
processos de conflitos são processos de cresci- Juliana Garrido: Sou Juliana Garrido, sou
mento. Claro que, com isso, não estamos fazendo pedagoga, professora da educação básica e pro-
apologia ao sofrimento, certo? Não é isso, mas é fessora alfabetizadora, e estou passando pesso-
preciso desestabilizar para dar o próximo passo no almente por um momento interessante, porque mi-
seu processo de desenvolvimento. Só que isso não nha segunda filha está aprendendo a engatinhar
está sendo permitido. Quando desestabilizamos e a forma que ela está aprendendo engatinhar é
para dar o próximo passo, já corremos o risco de completamente diferente da forma que meu filho
Ângela Soligo: Queria falar mais uma coisa. Quando a Rosangela fala da escola e da
Mesmo quando estamos diante de uma criança ou alfabetização, e acho que vem ao encontro da
adolescente, que tem uma dificuldade ou certa ca- última fala da Ângela, tem a ver com isso, com
racterística, não significa que ela não seja capaz acreditarmos que não há capacidade naquela
de aprender. Nós recebemos, na Unicamp, há um criança de aprender, e é isso que preocupa. E do
tempo, uma professora da Universidad Complu- jeito como vocês estavam falando, a mesa toda,
tense de Madrid, María del Pilar, que trabalha com a o Pedro contribuiu também bastante para essa
questão da hiperatividade, do TDH. Ela apresentou análise de como, no fundo, estamos mergulha-
na Faculdade de Educação uma proposta de estra- dos numa sociedade que é de consumo, e por
tégias de ensino/aprendizagem para crianças que isso consumimos tudo, inclusive o medicamen-
são consideradas hiperativas e foi descrevendo to, o rótulo e as respostas rápidas, consumimos
as estratégias. No final, foi bem legal porque ela também essa impressão de que diferenças são
incapacidades e, portanto, se o aluno faz qual- sados em vender essas respostas e tudo mais.
38
quer coisa que foge do meu esquema esperado, E, no fundo, é contra isso que lutamos. Enfrentar
eu já penso em interpretar essa diferença como essa avalanche é um trabalho árduo, de formi-
uma incapacidade. Quando, na verdade, não só ga. Queria aproveitar, Ângela, e pedir para você
cada um tem o seu processo como nós mesmo falar sobre como você enxerga, na sua experiên-
passamos por processos diferentes, ao longo cia enquanto professora da universidade, essa
da vida, dependendo do momento, do estudo, do construção da despatologização do ambiente
assunto ou do envolvimento que temos com o escolar no sentido da formação de uma visão
tema em questão. E, no caso da alfabetização, mais ampla, tanto do desenvolvimento quanto
acho que estamos ainda aprendendo, não só da aprendizagem. Como você vê esse momen-
na escola, mas socialmente. E as professoras to, e que passos estamos dando em direção a
não podem sair desse universo. Socialmente, esse entendimento mais múltiplo da infância, da
estamos aprendendo ainda que as diferenças criança e da aprendizagem?
são constitutivas das pessoas e não marcas
Ângela Soligo: A impressão que eu tenho,
de melhor ou pior. Então, você comentar sobre
às vezes, é que damos passos para muitos lados
falhas no processo, acho muito marcante e re-
e andamos pouco. Acho que é um pouco dife-
levante não entender que a alfabetização é um
rente você pensar a formação na Faculdade de
processo, e que o processo se desenha de infi-
Educação na Unicamp, em que vários de nós tem
nitas formas, porque, de verdade, não podemos
uma inserção nessa discussão da questão da
prever como cada criança vai passar. Eu, como
patologização, da medicalização, da questão da
professora, vou vendo como cada criança expe-
diferença. Estou num grupo de pesquisa que se
rimenta aquele conhecimento e vou oferecen-
chama “Diferenças e Subjetividades em Educa-
do estímulos e ferramentas que possam ajudar
ção”. Temos vários grupos olhando para a ques-
no seu processo. Claro que há semelhanças, há
tão da diferença como aquilo que nos constitui e
também crianças que um mesmo estímulo pode
como nosso ponto de partida e chegada. Então
atender aquele momento do desenvolvimento da
conseguimos promover essa reflexão, na sala de
leitura e da escrita; outro grupo de criança, ou-
aula na formação. Do que eu conheço e escuto
tro estímulo pode atender. Mas enfim, o que está
das professoras e dos professores, na formação
posto em jogo é que a diferença é premissa e
continuada, ainda circula na formação na educa-
não o similar. A premissa é que cada um vai pas-
ção, de maneira geral, a ideia da homogeneidade
sar por aquele processo de maneira diferente,
como princípio; e então temos sempre um en-
como uma criança aprende a engatinhar de um
frentamento com esta ideia, com este conceito,
jeito e outra de outro e ninguém está assusta-
de que é bom aquilo que pode ser homogenei-
do com isso. Diante desse processo, os adultos
zado. Assim, acho que ainda esse é um universo
em volta, os professores, os responsáveis vão
diverso, mas eu diria que na Faculdade de Educa-
oferecendo estímulo que pareça mais adequado
ção, se pensarmos no país todo, nós não somos
àquele momento do desenvolvimento.
a regra. Então, é preocupante. Também precisa-
mos reconhecer que muitas das estudantes e
É interessante pensar como, no fundo, de-
dos estudantes que vêm para fazer um curso de
pois de tanta discussão construída, de tanto co-
pedagogia, vêm com a ideia da homogeneidade.
nhecimento agregado a esse debate, queríamos
Então, temos uma tarefa de desconstruir isto.
ver serviços mais avançado, mas ainda não é
isso que acontece. Ainda estamos engatinhan- Uma coisa muito comum, principalmente
do nessa concepção de que a diferença é que é para os estudantes mais inexperientes em rela-
o natural, não é? Portanto, ninguém tem de ter ção à escola real, é a idealização da escola em
medo da diferença. Pelo contrário, eu não preci- que estudaram. “A minha escola era maravilhosa
so correr para classificar aquela diferença por- para mim, então o meu ideal de escola é aquele”.
que, na verdade, ela é só parte de um todo que Então é a primeira coisa que temos de descons-
é comum. O normal, o comum, devia ser muito truir é que o mundo não é tão pequeno assim. A
diverso, mas alguém, que eu não sei quem, re- segunda coisa é a ideia de que encontrarão um
solveu classificar que o normal é muito estrito e, conjunto de saberes e de estratégias que se-
portanto, tudo que foge deste desenho muito es- rão a solução para tudo. “Eu vou aprender a ser
trito, passa a ser classificado como o problema. a melhor professora ou o melhor professor que há
E, então, existem mil respostas e muitos interes- porque eu estou nesta grande universidade”. Isso
vale para todo mundo o tempo todo. Então essa em que ela está, mas o quanto menos ela ficar, o
39
é uma outra ideia que você tem que desconstruir, quanto mais depressa ela voltar para o rumo de
porque ela também é homogeneizante. E aí o que desenvolvimento da vida dela, melhor”. E tem pro-
acontece no estágio é que quando essas pesso- fessor que fala, “mas espera um pouquinho, como
as caem na escola é um desespero. Por quê? Por- assim?”. Eu falo “ela não é doente, ela foi tornada,
que a escola não é do jeito que está na cabeça ela foi construída com essa crença e a gente vai
- parte 3
das pessoas; aquelas crianças, aqueles jovens ajudá-la a lembrar que ela é uma pessoa que tem
e desastres
são a diversidade. E aí, muitas vezes a primeira todas as capacidades para aquilo que ela quiser
reação das pessoas é “então eu não gosto da es- fazer”. Porque isso é o que nós somos. Na nossa
e enfrentamento
cola, não é dessa escola que eu gosto”. diversidade, na nossa potencialidade avança-
Psicologia em emergências
mos para onde quisermos, o problema é que a
O tempo todo temos de trabalhar na des-
sociedade em que vivemos diz que a gente não
construção, mesmo na Unicamp. Na desconstru-
pode, ela nos limita. Então, essa desconstrução
ção dessa ideia de que a homogeneidade deve
é o convite que eu deixo hoje para que a gente
e medicalização
desconstrução. Nos despedimos daqui da região como está o seu trabalho. Talvez você precise
de Campinas, nesta campanha, mas não da nos- mudar de trabalho. Obrigada.
Cadernos Temáticos
sa luta, que é contínua, de todo dia. O convite é
Ângela Soligo: Temos sim um desafio de am-
para desconstruir conceitos, pré-conceitos, ex-
pliar esse debate para onde vocês estiverem e de
pectativas e tentar trabalhar na contramão dis-
conhecer o movimento melhor, conhecer os conte-
Patologização
so que estão cobrando de nós, de que temos de
údos que já existem sobre o tema. Como eu sou
nos comportarmos, de que temos de nos contro-
da psicologia escolar, vou me dirigir aos psicólogos
larmos, de que temos de ser o melhor, o melhor
também, porque a psicologia está sendo convoca-
em tudo que fazemos; de que falhas são ruins,
da a patologizar. Toda vez que convocarem vocês
de que erros são negativos. Desconstruir esses
para fazer atendimento individual na escola, digam
conceitos é um enfrentamento árduo, mas contí-
não, porque fazer atendimento individual na escola
nuo. E extremamente gratificante.
é atuar na dimensão da patologização. Olhem para
Atualmente dou aula na Famat, uma faculdade par- Então, com a produção desses eventos,
ticular em Niterói e tenho tido um enorme prazer não foi difícil identificar os nexos que ligam a in-
em conviver com os jovens. Eu dou a mão para Ma- dústria farmacêutica ao advento do medicamen-
ria Helena Souza Patto e vou, porque trabalho com to e a emergência da psiquiátrica biológica. Vou
textos dela. Trabalho com a produção do fracasso voltar a isso mais adiante. É uma engrenagem
escolar. Trabalho com o clássico dentro da Psico- que se formou e se consolidou para produzir o
logia Educacional. Tenho participado do fórum so- que, lá em 2004, eu ficava “ai meu Deus, e es-
bre Medicalização da Educação e da Sociedade, sas crianças tomando Ritalina”. Foi a produção de
desde 2010. Já fizemos muitas coisas: produções, uma engrenagem. Também não foi difícil mostrar,
eventos, parcerias firmadas, mas fica a pergunta: ao longo desses anos, a função da mídia como
a desmedicalização da vida é uma pauta consoli- produtora do sistema: mercado, mercadoria,
dada, já conseguimos pautar isso na sociedade, é consumidor. O quanto esse mercado é produ-
uma pauta que percorre todos os espaços? zido, ao mesmo tempo, em que se inventa uma
mercadoria. As matérias de jornal, as novelas,
Esses espaços coletivos que criamos têm o Fantástico, o Globo Repórter. O quanto, em
trazido essa discussão. Vejo meus alunos que já tempo real, eles estão produzindo mercadoria,
chegam pautando essa discussão, já sabem que mercado e consumidor. Quantificamos o aumen-
existe essa discussão. Acho que já consegui- to exponencial da dispensação dos psicofárma-
mos, desde de 2010 e até de outras produções cos ao longo das últimas décadas. Conseguimos
já mais anteriores, com Cida Moysés, que é a avançar nisso, mostrar, dar visibilidade. Nós
nossa precursora maior. Quando conheci a Cida, não tínhamos esses dados mas conseguimos
em 2003, no evento que participamos juntas, ela produzi-los, que é a nota técnica que mostra o
já pesquisava, já produzia material sobre esse aumento do consumo do Metilfenidato, e tam-
tema. É muito acúmulo que nós temos. Conse- bém do Rivotril. Falamos bastante do Metilfeni-
guimos pautar a medicalização na infância, na dato, porque nos afeta no sentido da educação,
educação, no parto, na menopausa, na velhice. da escola, do TDH, é essa parte da engrenagem.
Tenho a impressão que hoje é bem mais fácil do Mas o Rivotril também é muito sério. Consegui-
que era. Eu me lembro que, em 2003/2004, tinha mos mostrar isso e foi um avanço muito grande.
um amigo jornalista, ele era diretor de jornal, e Em nossos encontros, também alertamos para
eu falei “Dácio, eu tenho uma matéria bombás- os projetos de lei que visam proliferar diagnós-
tica, a gente tem que fazer uma matéria sobre ticos, aumentando o consumo de determinados
essa questão do TDH. Isso é um absurdo e tal...”. psicofármacos. Lutamos contra a judicialização
Ele ficou olhando para mim, como quem diz “tá da vida, que foi outro movimento que começou a
maluca? O que é isso? Teoria da Conspiração?”. acontecer de 2009 para cá. Foi a interferência do
Eu falei, “mas você não está entendendo, o que Judiciário, na judicialização da vida, que começou
está acontecendo?”. Hoje, conseguimos pautar a criar um binômio: medicalização-judicialização.
bastante também na mídia. Essas duas forças agindo no quê? No controle e
no aprisionamento da vida. São duas forças que tinha tido consciência disso. A medicalização não
41
tem caminhado de mãos dadas. E os efeitos da é uma coisa nova, não está acontecendo agora,
judicialização, também temos visto aí em outras mas porque falar a esse respeito, forçar a rede de
áreas, ela realmente tem aprisionado a nossa informação institucional, nomear, dizer quem fez,
vida de forma bem real. O início do fórum, veio o que fez, designar o alvo, é uma primeira inversão
por conta do PL da dislexia em São Paulo. Teve do poder”. Então é uma primeira inversão do po-
- parte 3
a lei lá; no Rio de Janeiro, foi em 2012. Aprovada. der. Mas não podemos ficar só na denúncia, não
e desastres
Cochilamos e aprovaram numa sessão, sem mui- é? Ela produz efeitos, produzimos evento em
to alarde, rapidamente, uma lei que estimula a que queremos denunciar, mas temos de produ-
e enfrentamento
capacitação dos professores para identificar as zir também outros eventos para problematizar
Psicologia em emergências
crianças portadoras de TDH. Eles até fizeram, no e pensar alternativas. Eu participei, na Fiocruz,
Rio, uma pegadinha, escreveram TDA, eles vão com Paulo Amarante de um evento que ele já
fazendo de jeito para que fiquemos mais desa- queria trazer alternativas. Então, dessa forma,
tentos e, então, eles emplacam. Fui na audiência designar o alvo constituiu-se como primeiro
e medicalização
teresses. Sabem o que é conflito de interesses?
namento da vida? São perguntas que temos de
Hoje mais do que nunca, sabemos, ninguém nos
fazer. Muitas vezes, para denunciar a invenção
Cadernos Temáticos
engana mais com relação a isso. E ele estava lá;
desse transtorno, ficamos na afirmação de que
na hora em que eu fui falar, ele saiu da sala e eu,
“TDH não existe, TDH não existe, TDH não existe,
que na época era mais brava, falei “vai sair da
remédio não faz bem, tem efeito colateral”. Mas,
Patologização
sala?”. Tínhamos uma força, ainda temos, porque
o que mais podemos fazer? Como agir no pensa-
nosso grupo renova. Temos pessoas mais jovens
mento viciado em paradigma problema/solução?
para mobilizar forças para coisas seríssimas que
Essa é uma questão importante para pensarmos.
estão tramitando, como PL da luta pela criminali-
Se vivemos nesse paradigma em que tem uma li-
zação da psicofobia, que é colocar, por exemplo,
nha reta entre problema e solução, não criamos,
o movimento do Fórum, o Despatologiza, como
não agimos, não problematizamos, porque não é
crime. Podemos ser tipificados como crimino-
linha reta. Então se pensamos nessa questão da
- parte 3
vernantes e suas respectivas políticas públicas
e desastres
isentos de qualquer responsabilidade. Quando Então, o que é essa tal de medicalização, se
começamos a classificar, segregar, o que esta- não é um conceito novo, se é uma lógica que acon-
e enfrentamento
mos fazendo? Ou a educação é um direito à edu- tece há bastante tempo? É a construção de uma
verdade sobre o outro, a partir de um ponto de vis-
Psicologia em emergências
cação para todos, ou instituímos uma política de
segregação a partir de um esquadrinhamento da ta, é a produção do uno e das totalizações.
população infantil. Nessa época, o que resultou?
Uma caçada aos anormais. Então, a partir de
e medicalização
sarmos é que o que está na base da nossa dis-
cussão não é novo, é segregação para uma nova as variações das experiências
Cadernos Temáticos
categoria psiquiátrica. Podemos dizer que, das sejam totalizadas, que deixemos
crianças anormais, avançamos para os portadores
de viver as variações das
de transtorno de TDH. A lógica se mantém a mes-
Patologização
ma, construímos um outro regime de verdades, experiências”
para sustentar a mesma lógica, que é segregação
e esquadrinhamento.
Eu digo não à medicalização e à patologi-
No início do século XX, o Pavilhão Bourneville,
zação da vida, é o nosso tema. Dizer não, nesse
no Rio de Janeiro, foi construído para abrigar crian-
sentido, passa a ser lutar contra a dominação de
ças anormais. Minha orientadora de doutorado fez
um certo regime de verdade que produz uma for-
- parte 3
tico chamado TDH e pronto. Os antidepressivos,
e desastres
desmedicalização do olhar, envolve a recusa do
o laboratório até hesitava, “será que vai ter algum
destinado olhar para a criação de um olhar calei-
deprimido que vai consumir esse remédio?”. Então,
e enfrentamento
doscópico. No caleidoscópio, a cada giro tudo se
a gente, divulga, divulga, depressão, depressão,
altera, as possíveis combinações entre as par-
Psicologia em emergências
tristeza não, depressão, depressão, depressão é o
tes geram totalidades sempre provisórias que
carro-chefe de todos os laboratórios.
mudam a cada golpe de mão. Com ele, ousamos
Como agir na desmedicalização? Como mu- pensar a vida na complexidade. Escapamos do
e medicalização
“É preciso transver o mundo. Tirar da natu-
desconstruir, desmontar, transformar.
reza as naturalidades, a expressão reta, aquela
Cadernos Temáticos
É preciso construir micropolíticas, construir coisa do paradigma, problema, solução, uma reta.
rede, agenciar coletivos, que é isso que estamos A expressão reta não sonha.”.
Patologização
Cadernos Temáticos CRP SP
Helena muito obrigada. Nossa, você fez um resgate ter uma série de pequenas conversas, nas quais as
histórico para nos trazer para realidade e para as pessoas possam contar como isso está se dando
múltiplas verdades, acho que foi bastante impor- na prática no estado de São Paulo. A Lilian vai co-
tante para o nosso começo de entendimento do meçar, com a voz do território pensando aqui na
dia. Queremos engatar um pouco como isso tem cidade de São Paulo, especialmente na Comissão
circulado nos territórios aqui em São Paulo. Vamos Gestora Metropolitana.
46 Estado da Arte - Voz dos Territórios: desafios e
proposições da Psicologia no Estado de São Paulo
Lilian Suzuki
A Rozi falou do nosso trabalho, da Nossa luta • Campanha em comemoração ao Dia Nacional
cria, e do Núcleo de Educação e Medicalização. da Luta Pela Educação Inclusiva;
Temos uma campanha bastante intensa que já
• Campanha do Dia Estadual de Luta Contra a
começou na gestão anterior que fala sobre o
Medicalização da Educação e da Sociedade;
“Resistir para reexistir”, que também fala sobre
os processos de medicalização e patologização • Evento A infância em risco;
da educação e da vida.
• Campanha sobre a psicologia e as demandas
Vou aqui muito rapidamente pensar porque, escolares na rede de assistência social, saúde
nesse momento, estamos fazendo esse diálogo e e educação, foi um trabalho bastante interes-
fazendo esse link com o COREP. Vou muito rapida- sante que conseguimos apresentar agora no
mente, retomar aqui as diretrizes e objetivos para Congresso Brasileiro de Psicologia.
o nosso COREP, e acho que é muito importante já
• A reforma do ensino médio, a psicologia e as
ir destacando algumas coisas para esse encontro.
conferências nacionais de educação;
A ideia é discutir e analisar o papel da psicologia
na educação e as ações do profissional nos con- • Educação inclusiva e pessoas com TEA;
textos educacionais com base numa psicologia
• Mudar a escola ou mudar as crianças;
crítica, que permita a sua inserção prioritária nas
políticas públicas da educação. • Emancipação e transformação, o que compõe
as metodologias participativas;
Vou apontar como diretrizes e objetivos,
nesse momento, alguns mais direcionados: • Organização da etapa estadual da revisão
das diretrizes curriculares nacionais da gradu-
(1) Destacar a contribuição da psicologia na
ação em psicologia;
luta pela consolidação de uma educação
para todos, combatendo as exclusões so- • Representações em universidades; encontro
ciais, a medicalização, a patologização e a com estudantes de psicologia, encontro com
judicialização da vida; coordenadores de cursos de psicologia e su-
pervisores de serviço-escola.
(2) Dar visibilidade às práticas psicológicas em
educação;
E apoio e participações em eventos parcei-
(3) Aproximar, dialogar e debater os conheci- ros: no GT de formação, no GT de educação, mos-
mentos científicos e as práticas das e com tras de práticas desmedicalizantes, encontros do
as psicólogas, que atuam ou defendem a Despatologiza, encontro natureza e desmedicali-
temática da educação: zação, Congresso Encontro Regional na Abrapee,
Congresso Brasileiro de Psicologia, o Conpe; no
(4) contribuir para combater o preconceito,
Conape, essa também foi uma ação bastante in-
promovendo a diversidade e enfrentando
teressante, em que pudemos marcar, dentro da
práticas patologizantes, medicalizantes e
educação e dentro das conferências, o lugar da
judicializantes.
Psicologia que era um lugar que éramos pouco
Acho que esse é o nosso maior foco, quando convocados; Seminário internacional da Educação
pensamos no nosso núcleo temático. A ideia foi de Medicalizada; Encontros de Psicologia e Educação,
aproveitar este espaço para ampliar e dar transpa- que é o EPE; Encontros Estadual de Serviço-Esco-
rência para as ações que nós fizemos nessa ges- la, junto com os coordenadores; o Seminário Esta-
tão, nesse período também. Vou começar falando dual de Educação em Direitos Humanos, e o Se-
da Metropolitana. Fizemos: minário sobre o Ensino religioso na Escola Pública.
Isso é uma coisa muito legal que a gente pôde fa- ção na Comissão Estadual de Educação em Direi-
47
zer, que é um encontro inter-religioso. É um fórum tos Humanos e a representação no Programa de
inter-religioso, muitas pessoas participam, muitos Atuação do Grupo de Educação do Ministério Pú-
chefes, muitos pastores, para dizer que eles estão blico (GEDUC). Uma mobilização contrária aos PL
muito mais preocupados com educação do que medicalizantes e patologizantes, mobilização con-
com a diversidade religiosa. Elaboramos notas de trária ao ensino à distância. Uma mobilização de
- parte 3
posicionamento. apoio em audiências públicas contrárias à Escola
e desastres
sem Partido, uma mobilização favorável à inserção
Estamos também fazendo a revisão das re- de psicólogos e assistentes sociais na educação.
e enfrentamento
comendações dos serviços-escolas, um documen- E um projeto de lei do atendimento de psicólogos
to que está ligado com a Base Comum Curricular e
Psicologia em emergências
aos alunos da Rede Pública de Educação Básica.
notas contrárias à utilização de muitas das avalia- Participação em orientações e fiscalizações, junto
ções e de muitas portarias. à Comissão de Orientação e Fiscalização, e parti-
cipação das reuniões de direitos humanos e políti-
e medicalização
Cadernos Temáticos
Patologização
Pessoal, bom dia, eu sou Maria da Penha. Eu e Então, nos deparamos com uma defasa-
a Elis somos do Grande ABC e nós compomos o gem que é bem conhecida por todos: os psis não
Núcleo de Educação e Medicalização do Gran- existem e os poucos que existem estão aloca-
de ABC, da subsede do Grande ABC. O que eu dos em outras secretarias. Os poucos que exis-
trouxe para vocês hoje é um pouco do nosso tem, em São Bernardo, estão se aposentando
trabalho. Somos novos nessa luta, começamos sem reposição. Isto é: psicólogo escolar, ligado à
em 2015. O nosso núcleo se iniciou, na verdade, escola, realmente quase não existe na nossa re-
O que nós já fizemos nesses três anos? No • Dois cine-clubes em parceria com a Abrapso;
primeiro momento, nós fizemos o mapeamento
• Um seminário que foi Psicologia Escolar no
das universidades da região. No Grande ABC,
ABC, em 2016, em que a Rozi estava presente;
nós temos cinco universidades. É uma região
pequena, porém, muito cheia de universidades • Uma roda de conversa, em 2017, em que a Li-
que concorrem entre si. Nas universidades na lian estava presente;
região, fizemos um mapeamento para compre-
• E, há três semanas, fizemos o nosso evento
ender como se dão as disciplinas da psicologia
com relação à medicalização, ao dia da Luta da
escolar, educacional, infância, desenvolvimen-
Medicalização, um encontro com professores
to, como os alunos estão tendo conhecimento
da rede e coordenadores da rede do Grande
da disciplina, de que forma é ensinada e como
ABC, em que trabalhamos a potência do pro-
está o trabalho do professor com relação a essa
fessor frente ao histórico da medicalização.
disciplina. E também fizemos um mapeamento,
nas secretarias da educação das cinco regiões • E, enquanto isso, estamos fazendo sempre
do ABC, os cinco municípios do ABC, para poder reuniões ordinárias, reuniões do grupo, e
compreender onde está localizado o psicólogo reuniões ampliadas para toda a comunida-
escolar nas prefeituras, do Grande ABC. de do ABC.
48 Rosangela Villar
Pincelamos algumas das ações que desenvolvemos uma plateia imensa, auditório lotada. E isso foi muito
esse ano, e apontamos que tínhamos de trazer para importante, porque vimos trabalhando na possibili-
cá alguns dos nossos desafios. Queria começar a fa- dade de incluir na grade curricular, de maneira trans-
lar não de desafio, mas de uma coisa que, para gen- versal, a questão do enfrentamento à medicalização.
te, tem sido boa, a parceria do Despatologiza como E ter sido convidado para fazer a fala de abertura,
o Conselho de Psicologia. E como eu represento os foi uma espécie de “acho que a estamos chegando
dois ficou muito fácil articular, fortalecer e capilarizar onde a gente queria”. Parece que é um tema que está
as discussões. Não é todo mundo que vai ter essa chamando atenção. Em novembro, já entrando na
possibilidade, mas eu sugiro que a gente se aproxime campanha mesmo, no mês de fazer o enfrentamento
de todos que tenham a mesma luta que nós porque à medicalização, tivemos, na Câmara de Vereadores,
fica mais fácil de trabalhar. Começamos, em abril, com desde que temos o dia Municipal em Campinas, que
uma prefeitura perto de Campinas, Vinhedo, fazen- é 2012, todos os anos fazemos uma visita no espa-
do um trabalho de intersetorialidade, com a saúde, ço legislativo. A gente brinca: é o lembrete para eles
educação e assistência. A questão da queixa escolar, não esquecerem que estamos de olho neles. Todos
mas não só a queixa escolar, todos os processos de os anos, levamos uma temática diferente no enfren-
patologização e como fazer seu enfrentamento. Foi tamento à patologização. Esse ano, a gente levamos
uma coisa mais pontual, eles ficaram de pensar em Bárbara Costa, psicóloga do Despatologiza Rio de
possibilidade de continuar, mas ainda não tivemos Janeiro, discutindo a Lei 13438, que é a da detecção
retorno. Quando a sede fez a roda de conversa “con- precoce de risco psíquico. Foi superlegal a fala dela,
versando sobre educação inclusiva com as pessoas está gravada e disponível no TV Câmara Campinas,
de transtorno de espectro autista”, a gente foi polo no Youtube. Ao invés de ela focar primeiro a lei, ela
de transmissão em Campinas e convidamos uma falou de uma experiência, no Rio de Janeiro, lidando
mediadora em Campinas, que é a Carmem Ventura, com isso. E depois, ela fala da lei e por que ela é tão
psicóloga da PUC, e que toda a discussão, pós a fala ruim; porque não tinha nada a ver com possibilidade
aqui da sede, a gente levou para o TEA, as questões de atuação despatologizante. Trabalhamos também,
da inclusão e da exclusão, e a patologização que isso ainda em novembro, num outro município, Valinhos,
implica. Estou trazendo aqui só as ações que fizemos também próximo de Campinas. Fomos procurados
no tocante ao enfrentamento à patologização, mas por um grupo de profissionais muito incomodados
independente do eixo em que isso aconteceu, porque com a política altamente patologizante da Secretaria
tentamos trabalhar lá na transversalidade. de Educação e da Secretaria de Saúde em relação à
queixa escolar. Fizemos um trabalho já no início des-
Em agosto, tivemos para o dia do psicólogo se mês; na próxima semana, teremos uma roda de
vários eventos em Campinas e, em um deles, pe- conversa, que vai ser queixa escolar e processos de
gamos as práticas integrativas e complementares patologização, pegando profissionais de saúde, edu-
como uma possibilidade de cuidado das pessoas, cação e assistência. E, para o grupo que a gente fez
mas não só das pessoas que a gente cuida, mas das no começo do mês, tem já uma proposta para 2019,
pessoas nós mesmos. Nós, enquanto profissionais, um trabalho com profissionais de um território em
como uma forma de nos mantermos mais inteiros, Valinhos, que tem uma situação privilegiada, porque
mais saudáveis, mais felizes, não como uma prescri- eles têm um equipamento de saúde, todos os níveis
ção, mas como mais uma possibilidade de cuidado. de escolarização e assistência na mesma rua. É uma
Foi supergostoso, tivemos muitos alunos e muitos área rural em Valinhos; eles não sabem trabalhar de
profissionais da psicologia tentando conhecer que forma intersetorial, e o convite é que os ajudemos a
oferta era essa. Ainda em agosto, participamos da fazer isso. Então, vamos trabalhar intersetorialidade
conferência de abertura na Jornada de Psicologia da e processos de enfrentamento à patologização. Isso
PUC e foi superlegal porque foi uma conferência com- já tá marcado para o começo do ano. Ontem, tive-
partilhada, com uma fonoaudióloga que é a Maria mos atividade na praça: já é o quinto ano em que fa-
Tereza, a Bibi, que a Vera Teixeira, aqui presente, co- zemos práticas integrativas, intervenções culturais,
nhece bem, e eu falando para alunos dos cinco anos, atividades lúdicas e uma aproximação com os equi-
pamentos de saúde mental. Nosso público-alvo tem um trabalho sobre a questão da construção social
49
sido os usuários dos equipamentos da RAPS. E tem da deficiência e os processos de patologização, e
sido muito interessante estarmos todos juntos, fa- nesse, mudamos de território, viemos para cá, den-
zendo conversas, fazendo vivências. Ontem, fomos tro da Faculdade de Educação da USP.
presenteados com uma bela de uma chuva no final
Os nossos desafios são basicamente dois. Um:
do evento, que foi para lavar a alma. Ficamos brin-
é termos perfil de profissional, precisamos nos apro-
- parte 3
cando, saímos de lá todos refrescados frente a isso
e desastres
ximar dos órgãos formadores, por isso que eu fiquei
tudo que estamos vivendo, não é? Acho que foi um
feliz com a história da PUC, mas temos outras facul-
bom encerramento de evento.
e enfrentamento
dades na região em que ainda temos muito trabalho
Temos também as reuniões mensais abertas para fazer. Acho que é fundamental olharmos para
Psicologia em emergências
do Despatologiza dentro da subsede, e isso faz essa isso porque não adianta propormos uma forma dife-
aproximação dupla, de recebermos convites para po- rente de trabalhar, se não temos profissionais que fa-
dermos fazer essa conversa fora. E o apoio e parceria çam, que acreditem e que estejam olhando para isso.
e medicalização
começo. E no começo do ano, em maio, fizemos são esses dois desafios para olharmos.
Cadernos Temáticos
Patologização
Claudia Lofrano
Bom dia, gente. Eu sou de São José do Rio Preto, sou Partido não fosse ruim, o mesmo vereador, não satis-
do Núcleo de Educação e Medicalização. E só para feito, escreveu, “Escola sem Pornografia”. Como todo
Bom dia a todas, a todos. Não sei se alguns de vocês trole. Vamos inquietando um pouco as diferentes
conhecem, a psicologia, em Sorocaba, é muito pecu- gestões. Antigamente, esses órgãos de controle não
liar, na realidade, muito hospitalocêntrica. Nós, quan- tinham tanta paridade, poder público e sociedade,
do começamos o grupo de educação e medicalização agora vemos o atual prefeito fazendo questão que
lá, pensando no Fórum naquela época, isso foi, em o poder público esteja presente também para mani-
2011. Na época, eu me recordo que havia apenas uma pular os órgãos de controle. Então, vamos tentando
universidade de Psicologia, sete hospitais psiquiátri- pelas beiras, mas estamos no momento agora em
cos na cidade, e foi quando começamos o embate da que o CMDCA tem considerado um pouco as ques-
luta antimanicomial. E hoje a realidade está um pouco tões que temos colocado no plano e, pelo menos em
melhor. Já não temos mais os hospitais psiquiátricos relação a políticas públicas, tentando fazer com que
e temos cinco universidades de psicologia na cidade, as ONG’s, por exemplo, que trabalhem com questão
no entorno. Esse quadro, é animador se pensarmos de violência, com a medicação exagerada com crian-
nas lutas que temos aí pela frente. Mas ainda assim, ças, tenham esse olhar. Mas caminhamos a passos
nós temos uma cidade muito difícil, muitos núcleos, lentos aí. E esse ano também, desde 2011, estamos
lojas de maçons e o nosso maior embate lá tem sido tentando participar como ouvinte, porque como ca-
político para sair dessa lógica medicalizante que a deira é impossível, no Conselho Municipal de Educa-
Helena trouxe para nós, que eu gostei muito de ouvir. ção. Quando tentamos, em 2011, nem o regimento
Então todas as ações que fazemos também quando queriam que fosse lido por nós, era uma coisa bem
vamos para as ruas para falar com a população tem fechada, tudo acontecia ali a portas fechadas. Esse
sido nesse sentido de sair dessa lógica da verdade, ano, conseguimos. Mudou o Conselho e estamos lá.
regime de verdade que trouxe e que eu pensando nis- Então, tem sido um espaço que estamos entendendo
so. Acho que é isso que temos feito, mas com muita que vamos ter bastante abertura.
oposição do lado de lá. Sorocaba foi um dos poucos
municípios em que não conseguimos fazer o levan- E, sempre que acontece também as audiências,
tamento da dispensação do Metilfenidato, claro, por estamos participando. Essa da lei, tentamos barrar,
questões políticas. Ultimamente, ouvimos a Bárbara, barramos da Lei do TEA que a Rosangela colocou. Fi-
também em Sorocaba, que esteve para falar da Lei zemos também as rodas de conversa em Sorocaba,
13438 para alguns psicólogos. Ela, junto com a Cida em Porto Feliz, foi muito bacana a experiência, com
Moysés, nos motivou a correr atrás dessa questão de muita diferença também de uma cidade para outra,
novo, porque não é possível que não consigamos ter porque Porto Feliz tem profissionais na área de edu-
transparências, na forma como a questão da medi- cação, Sorocaba tem, mas eles estão sendo deslo-
cação tem sido determinante na vida das pessoas, cados, tem uma tensão política. Vamos apresentar o
como tem sido em Sorocaba. Então como é que nós trabalho ano que vem, no encontro da Abrapee, em
estamos tentando driblar tudo isso? Via controle so- Sorocaba. E, temos feito ações também todos os
cial, porque nós temos, desde 2011, também um pla- anos no terminal. Essa é uma ação bacana, que fa-
no municipal. Eu participo da Comissão Municipal de zemos, nos parques também, há três anos seguidos.
Enfrentamento à Violência Sexual na cidade e nós te- A do Parque é sobre violência sexual, aproveitamos
mos um plano municipal, elaboramos o plano e vimos para ter uma comunicação com os presos que co-
tentando fazer com que ele seja considerado, porque meteram delitos sexuais. Eles passam plantando o
tem uma proposta bonita. Muitos profissionais nos ano todo, e nesse dia 18, pegamos as plantas, leva-
ajudaram a pensar intersetorialmente a questão; mos para a população e distribuímos as plantas com
só não tem vontade política. Insistimos, insistimos, bexigas para as crianças falando da importância da
cada prefeito vamos lá, falamos, falamos, e ninguém prevenção, distribuindo cartilhas do CRP. E no parque
considera. Chamamos jornal, fazemos estardalhaço, também, tentando sair dessa lógica medicalizante,
mas a coisa não acontece. Ano passado, começamos chamando o pessoal para cantar com a gente, le-
uma participação no Conselho Municipal de Direitos vando os movimentos juvenis para cantar hip-hop na
da Criança e do Adolescente (CMDCA), e vemos que praça, enfim, com várias expressões e parceiros que
o caminho tem sido por aí, estar nos órgãos de con- nos acompanham todo ano. E é isso. Obrigada.
Elisabeth Gelli 51
- parte 3
Eu sou da subsede de Assis, uma região que é bem sar com as mães, porque as crianças eram insu-
e desastres
grande. Ela vai de Santa Cruz do Rio Pardo até o portáveis. Aproveitamos um dia que as mães iam
Pontal do Paranapanema. São 110 municípios e fazer a consulta das crianças no médico. Quando
e enfrentamento
desses, somente quatro não possuem psicólo- chegaram, com as crianças, deixei-as à vontade,
Psicologia em emergências
gos inscritos no CRP, na nossa subsede. A região correndo para um lado e para o outro, danifican-
conta com 10 cursos de Psicologia, sendo nove do tudo. Deixei as crianças brincarem bastante e,
privados: Adamantina, Dracena, Marília. E Marília então, perguntei para as mães se elas estavam
tem dois, Unimar e a Faculdade Católica Paulista. achando estranho o comportamento das crian-
e medicalização
sempre é como gostaríamos, em termos de ética que ela fala sobre a Ritalina abrir as portas para o
e formação. Também estamos pretendendo fazer uso da cocaína. Foi o momento em que as mães
Cadernos Temáticos
ações com relação à formação. Foi formado um questionaram a prescrição. Eu queria deixá-las
grupo de estudos e pesquisas, Medicalização do pensando no assunto. Uma mãe se enfureceu e
Social no Contemporâneo, que foi criado pela Ma- rasgou a receita. A outra guardou.
Patologização
rilene e coordenado pela Daniela de Andrade Fer-
Então, essas conversas próximas são óti-
razza, no curso de psicologia em 2010. Esse grupo
mas, e eu quero continuar com as rodas de con-
desenvolveu trabalhos muito importantes, mas o
versa, mas nós não temos material humano. Não
grupo acabou, porque as pessoas que o compu-
tem muita gente que gosta de educação nesse
nham se formaram e foram trabalhar em outros
mundo, então a gente não consegue dentro da
lugares. Participamos agora, em 2018, do even-
subsede ter mais gente interessada em educa-
to Integrando Vertente: psicologia e saúde em
Oi, bom dia. Eu sou a Beatriz. Estou como con- fazer uma conversa lá em Ribeirão Preto também.
selheira na gestão de 2016 a 2019 do CRP São Tivemos profissionais de diversas cidades ali da
Paulo, estou na coordenação lá da subsede de região e também de diversas profissões para con-
Ribeirão Preto e represento o NEM lá na subse- tar um pouquinho mais de um trabalho mais pró-
de. Acho que o nosso primeiro desafio, a Beth fa- ximo, mais prático, porque as psicólogas estavam
lou muito bem, é material humano. Nós somos 98 já tinham um conhecimento legal da teoria, mas
municípios, na região de Ribeirão Preto, sendo as na prática, ficavam meio sem saber como agir. Foi
cidades maiores Ribeirão Preto, Araraquara, São muito legal e produtivo o encontro.
Carlos e Franca. São, mais ou menos, 16 univer-
Um outro desafio da região de Ribeirão Pre-
sidades nessa região e em torno de sete mil psi-
to, como a Cláudia colocou, é no campo da sexua-
cólogas inscritas no CRP, e eu no núcleo do NEM.
lidade e gênero. Temos uma vereadora, evangélica,
Então, ou seja, quase nada de material humano
que tem feito discussões bastante retrógradas e
aí para trabalhar. Assim, nosso maior desafio é
ela tem muita força na Câmara de Vereadores de
como aproximamos as psicólogas e as estudan-
Ribeirão Preto. Então, temos também o projeto de
tes das ações do CRP São Paulo para podermos
lei da Escola sem Pornografia. Ele não caminhou,
fazer ações nas diversas cidades.
mas está lá e todas as oportunidades que ela tem
Bom, vamos às ações de 2016 até agora. No para barrar essa discussão, ela barra. Acho que
ano passado, em 2017, pelo NEM, tivemos Cida hoje a nossa maior dificuldade é transversalizar os
Moisés e Cecília Collares lá, a partir da mediação temas de gênero e orientação sexual e a educa-
da Rosangela que nos ajudou a levá-las para Ri- ção. Em São Carlos, também temos uma situação
beirão Preto. Foi muito importante a roda que elas dessa; após as eleições, vários professores fo-
fizeram lá, pois trouxeram uma contextualização ram rechaçados, fotografados, filmados, bastante
das discussões da temática; tivemos fonoaudiólo- polêmica em São Carlos. E em Araraquara, que é
gos, professores, psicólogas. Tivemos uma grande um outro polo importante da região, nós tivemos
diversidade de profissionais nessa roda. Foi mui- a questão da Escola sem Partido. Não avançou
to interessante. E, neste ano, a partir da demanda também não. Estivemos presentes na audiência
de profissionais da psicologia da prefeitura de Ri- que não avançou, está tudo meio parado. É isso,
beirão Preto, convidamos a Beatriz de Paula para de forma bastante sucinta.
Marília Alves 53
- parte 3
Bom dia. Meu nome é Marília, sou da subsede de escolar da cidade. Então, não temos ainda o Es-
e desastres
Bauru junto com Caio Portela. Ele não pôde estar cola sem Pornografia, mas temos representantes
presente hoje porque estamos com uma atividade de igrejas nas escolas implementando namoro
e enfrentamento
concomitante lá, do Núcleo de Educação também. blindado, que é um projeto que deriva daquele
Psicologia em emergências
casamento blindado que tem na televisão. A ci-
Algumas atividades que realizamos esse
dade de Bauru está com um cenário educacio-
ano por ordem cronológica: em abril, participamos
nal péssimo e estamos tentando nos organizar
da Etapa Municipal do Conae. O Caio foi eleito
informalmente com outros profissionais da edu-
e medicalização
no Municipal de Educação, vamos ter argumentos
Escola sem Partido não chegou a ser votado. Em
para combater essas pessoas. Por fim, o último
agosto, realizamos, em comemoração ao Dia da
Cadernos Temáticos
evento é o que está acontecendo hoje, que é o 2º
Psicóloga, uma mesa redonda em Araçatuba com
Encontro de Estagiários e Supervisores de Psico-
o título, “Psicologia e a educação: debates sobre
logia Escolar. Se eu não me engano, a subsede
infância e juventude”. Participaram dois profes-
Patologização
de Bauru conta com aproximadamente 80 cida-
sores da psicologia escolar e militantes pelos
des, e temos muitas universidades de psicologia.
direitos da educação e dos adolescentes. Essa
Em Bauru, são cinco ou seis, tem também em
mesa aconteceu em Araçatuba, principalmen-
Araçatuba, Jaú, Lins e, acho, em São Manoel. E a
te por conta do contexto de uma Câmara muito
psicologia escolar, nessa região, só acontece por
conservadora, muito reacionária; tentamos levar
meio dos estágios. Então, estamos com o nosso
esse debate do que seria uma educação crítica
segundo encontro de estagiários, com o tema: “a
Lilian Suzuki
Obrigado, Marília. Acho legal que a gente possa estão com ações nas subsedes, a Baixada Santis-
esclarecer principalmente para os estudantes que ta, Vale do Paraíba e litoral Norte. Acho importante
quando dizemos Bauru, Ribeirão estamos nos re- marcar que vamos ter a décima primeira subsede,
ferindo à região, para abranger todo o estado de vai ser do Alto Tietê.
São Paulo. Não puderam estar presentes, porque
54 Intervenção cultural com Gustavo Braunstein
Lilian Suzuki: Bom, o Gustavo tem 27 anos, é ator, uma cobrança para que eles se adaptem, para que
artista e educador, dramaturgo formado em atua- eles se enquadrem nas caixinhas, nos padrões de
ção pela SP Escola de Teatro e interpretação pelo comportamento das escolas.
Teatro Escola Macunaíma. Fundador dos grupos
Sou psicóloga da Unidade Básica de Saúde e
Núcleo Tumulto! de Investigação Cênica e Oniro-
recebo muitos casos que vêm das escolas. A orien-
nautas, nos quais desenvolve trabalhos como ator
tação que damos aos professores é justamente a
e dramaturgo. É licenciado em artes cênicas pelo
de tentar fazer um olhar, contextualizar de onde que
Instituto de Arte da Unesp e é ator do 17º Núcleo
vem essa criança, as privações, a privação cultural,
Experimental do Sesi e vai ficar aqui também pra
privação de lazer, antes de tentar exigir qualquer
gente conversar um pouquinho.
resposta conteudista dela. Também introduzir as
Maria Rozineti Gonçalves: Queria agradecer brincadeiras de infância, reforçar os espaços lúdi-
muito Gustavo, acho que é até difícil falar depois cos dentro das escolas, começar a fazer as hortas,
de te ouvir. Estamos com o microfone aberto para levar os professores a fazerem junto. Trabalhar com
quem quer contar como se sentiu tocado pela ma- essa parte não medicalizada. Nós temos o trabalho
nhã, quem quer fazer algum questionamento. intersetorial de rede com o setor cultural na Casa
de Cultura, a Casa dos Esportes. Então, como fa-
Ariadne: Então, eu sou Ariadne. Quero tentar
zer uma comunicação? Por exemplo, tem bairros
unir um pouco essas provocações da Helena com
que têm circo escola, né? Trazer esses profissionais
a provocação do Gustavo. Acho que nosso gran-
para a interação com os professores dentro da sala
de salto para evoluir, sair dessa linearidade que a
de aula. E sempre que possível também trazer a
Helena trouxe, é conseguir introduzir nas nossas
consciência na atenção integral da criança na esco-
relações, no sistema escolar, nas condições de tra-
la, a consciência do exercício de cidadania, que é um
balho da escola, a arte, trazer os artistas para den-
suporte muito grande, um aliado muito forte de po-
tro das escolas. Então esse que é o nosso grande
litização e de participação. Assim, trabalhamos com
desafio: esse trabalho interdisciplinar. Nós esta-
a voz e o protagonismo dos estudantes. Como psi-
mos com um projeto de lei para tentar trazer algo
cólogas, é um jeito de trabalhar muito importante.
novo, um paradigma novo para dentro da escola,
Além disso, chamar os pais para participar e ocupar
para sociedade. Mas ainda precisamos fazer muita
os Conselhos, os fóruns, as audiências públicas, os
discussão para sair desse paradigma: psicólogo,
grêmios e tudo mais. O desafio da desmedicaliza-
fonoaudiólogo, assistente social dentro da escola.
ção tá posto, certo? Obrigada.
É importante, é uma etapa de um processo, mas
precisamos dialogar muito com essa classe dos Elisabeth Gelli: Primeiro queria dizer que fiquei
artistas para ajudarmos essas crianças que têm encantada com esse moço. Eu penso uma coisa de-
os traços mais evoluídos, mais criativos. As pes- pois do que ele trouxe para nós, é como podemos
soas que têm mais criatividade, que têm mais ver- ter essa escuta. A Ariadne estava falando dos vá-
satilidade acabam sendo os mais prejudicados, os rios profissionais que podem levar uma perspectiva
que mais sofrem, porque existe, a todo momento, diferente na escola. Eu acho que, então, nós iriamos
levar perfis já constituídos na sociedade. Levamos coisa de dar milho às galinhas, essa ideia de que
55
um psicólogo, levamos um outro profissional que qualquer migalha serve. Não sei se é esse o senti-
possa dar esse “suporte” para esses alunos. Não do, você lógico depois pode até contar para a gente,
acho que é assim não. Eu acho que nós não sabe- mas me tocou muito isso. E eu estava pensando o
mos, nós enquanto psicólogos. Agora quero falar quanto que nós também, no Fórum e nas discus-
como professor. Quem são esses professores que sões sobre a medicalização no Conselho, podería-
- parte 3
trabalham com as crianças? Com essas crianças? mos talvez trilhar mais esse caminho da formação
e desastres
Essas ou outras todas as crianças? O João [de que de psicólogos. Acho importante que o pessoal de
falou Gustavo na sua apresentação]. Quem são os Bauru esteja fazendo o segundo encontro de esta-
e enfrentamento
professores? São outros tantos coitados. Eles não giários e de professores dos cursos de psicologia.
Psicologia em emergências
têm oportunidade de dizer da vida sacal que eles Quantos cursos de psicologia nós temos no esta-
levam, que eles não têm apoio das escolas, eles não do de São Paulo? É o estado que mais tem curso
têm apoio da Secretaria de Educação, eles não têm de psicologia no Brasil, que mais forma psicólogos
nenhum tipo de apoio que possa torná-los menos no Brasil. Como é que nós poderíamos talvez criar
e medicalização
ser feita? Temos modelos predeterminados, temos essa discussão da medicalização, de como pensar
modelos que nós aprendemos e que até está no esse trabalho junto às novas gerações. Nós temos
Cadernos Temáticos
Google, mas temos de quebrar esses paradigmas, pensado bastante nos professores, nas escolas,
quebrar esses modelos que já estão postos. Quer mas talvez precisemos pensar também nos nossos
dizer, quando pensamos numa psicologia dentro do estudantes que estão aqui. Ficamos muito felizes
Patologização
ambiente escolar, pensamos naquele psicólogo que de ver todo esse grupo e tantos outros que pode-
vai lá trabalhar com as crianças, vai trabalhar com riam estar participando dessa discussão e que mui-
os professores. Não quebra isso nunca. Quer dizer, tas vezes desconhecem. Acho que essa poderia ser
quem é esse psicólogo? Que formação ele tem para uma ação nossa estratégica de atuar no campo da
poder quebrar isso que está acontecendo den- formação de profissionais.
tro da escola? Deixa falar o professor, deixa falar
o aluno, deixa falar a mãe. Eu gosto muito dessas Vera: Sou Vera, Vera Teixeira, sou fonoaudió-
- parte 3
e modos de funcionar não entravam em questão. a campo, fui participar do dia a dia das esco-
e desastres
Como denuncia Maria Helena Patto, a psicologia las, buscando entender como é que nós, como
contribuiu e contribui para a reprodução de uma psicólogos, podíamos olhar para esse material,
e enfrentamento
sociedade opressora e manipuladora, na qual as e eu identifiquei algo muito diferente. Encontrei
Psicologia em emergências
pessoas se expressam por meio de mordaças muitos cadernos que estavam rasgados, puí-
sonoras, a fala amordaçada pela ideologia que dos, amassados, sem capa, com orelhas, e eram
silencia formas de compreender situações que de crianças que caminhavam 20, 30 minutos por
só maquiam situações de desigualdade e de fal- estradas de terra, debaixo de sol, umedecendo
e medicalização
por todas as mazelas da educação. Gostaria de educacionais, de falta de transporte escolar,
tomar algumas cenas para ilustrar essa questão, do fato de a escola ser distante de casa. Indi-
Cadernos Temáticos
para discutir esses fenômenos que nos aprisio- vidualizar, psicologizar, o que observamos, cria
nam, que silenciam aspectos sociais, políticos, um modo muito limitado de compreender e de
históricos, se revelando numa interpretação úni- explicar. Tal forma de compreensão do que se
Patologização
ca e verdadeira dos fatos. encontra nos cadernos escolares tem ganhado
nova roupagem. Ainda esses dias entrei nuns
sites para procurar o que que estava sendo
“E eu me pergunto, quantos dito, encontrei lá vários psicólogos, ou psis pelo
menos, psicopedagogos, que iam contar como
dos erros e dificuldades,
é que a gente olha para os cadernos e detecta
manifestadas pelas crianças sinais de TDAH, de dislexia, de discalculia. E eu
- parte 3
sino. As diretrizes para ensino médio, aprovadas
econômicos, políticos, sociais
e desastres
essa semana, preveem até 80% de educação à
em que os indivíduos estão distância no EJA, a Educação de Jovens e Adul-
e enfrentamento
inseridos” tos. Presidente eleito propõe EAD para o ensino
Psicologia em emergências
fundamental. Considerando o quanto o vínculo,
se diagnóstico de TDAH. E aqueles formulários a proximidade, o quanto conhecer a condições
tinham perguntas como essa: “sai do lugar na concretas de vida dos nossos estudantes são
elementos fundamentais para a condução de
e medicalização
psicologia também possa ajudar a pensar em aprendizado em um momento em que a milita-
relação a isso, quando pensamos sobre o senti- rização da educação ganha força? O que fare-
Cadernos Temáticos
do das atividades escolares e outros caminhos. mos? Vamos reforçar os diagnósticos de TOD,
Mas diante desses formulários em que as per- de Transtorno Opositor Desafiante, enquadran-
guntas estão prontas e as respostas são quase do todos aqueles que não se submetem, que
Patologização
óbvias, os professores se propuseram a ocupar questionam, que não se enquadram? Em um mo-
um outro lugar. Eles decidiam que não iam mais mento em que professores se veem fiscalizados,
preencher formulário, que não era isso que eles silenciados, perseguidos e que se sentem muito
tinham a dizer, e se propuseram a fazer relató- vulneráveis, tomaremos o adoecimento docente,
rios. Relatórios que contassem da experiência como um fracasso pessoal, uma sensibilidade
deles com esses estudantes, daquilo que eles extrema a condições de trabalho um pouco difí-
haviam tentado e não tinha dado certo, aquilo ceis? Chamaremos esse adoecimento político de
Boa tarde, principalmente para quem tá resistindo nóstico psiquiátrico do nascimento até os 21 anos
aqui desde de manhã. Mas eu acho que é isso, te- de idade. Então, começamos a perceber que, óbvio,
mos essa oportunidade, como a Anabela falou, de tem alguma coisa muito errada acontecendo, já que
ter uma discussão interessante, qualificada, inter- os normais, aos 21 anos de idade, correspondem a
disciplinar, que já começou pela manhã com as apre- 17% da população. São os sortudos que consegui-
sentações, principalmente com a conferência da ram, nessa idade, mas conseguiram até aí não ser
Helena. Vou tentar, então, contribuir com essa dis- enquadrados em nenhuma categoria. Como a Hele-
cussão sobre medicalização da educação e a rela- na disse, em algum momento, serão enquadrados.
ção da psiquiatria com isso, numa abordagem mais
Como é que entendemos, então, esses núme-
crítica, que eu acho que é o interesse mesmo desse
ros? Temos várias possibilidades, várias explicações.
evento e desse debate. Agradeço então o convite
do CRP de São Paulo para estar aqui com vocês. A primeira costuma ser a explicação oficial
do campo psiquiátrico, pelo menos nas últimas três
Vou tomar como ponto de partida dessa con-
décadas, que, na verdade, o que está acontecendo
versa alguns números. Bem recentemente, a partir
é um aperfeiçoamento dos instrumentos diagnós-
dos anos 2000, começamos a ter estatísticas, da-
ticos, que antes então haveria um subdiagnóstico
dos epidemiológicos. Antes havia, mas de qualidade
e que agora, de fato, estamos enxergando a verda-
mais duvidosa do que os atuais, ainda muito raros. E
de, estamos vendo quantas crianças e adolescen-
geralmente os números vão nessa direção, que num
tes, de fato, apresentam transtornos.
determinado momento, segundo o site da OMS, 10
a 20% de crianças e adolescentes teriam algum tipo Uma outra possibilidade de explicação é de
de transtorno mental. Um resumo de vários estudos que, de fato, a vida contemporânea estaria produ-
interacionais achou uma mediana de 12%. Os estu- zindo um aumento de psicopatologia em criança e
dos brasileiros, que também começam a ser mais adolescente, seja por fatores físicos, do ambiente
frequentes, a partir de 2004 principalmente, com nú- físico, ou fatores socioculturais, segundo explica-
meros que vão mais ou menos de 12 a 19%, muito ção a ser explorada. É claro que cada uma dessas
parecidos com os números da Organização Mundial explicações pode caber mais para um determinado
de Saúde. Então isso já chama a atenção. Isso re- tipo de situação, menos para outras.
presenta, se tomarmos o limite superior, 1 em cada
Um outro tipo de possibilidade é entender que
5 crianças têm algum tipo de transtorno mental, al-
há mudanças nos critérios diagnósticos, ou seja, o
gum tipo de transtorno psiquiátrico? Mas os núme-
modo como descrevemos os quadros psicopatoló-
ros vão além. Um pesquisador americano fez um es-
gicos na infância e adolescência vêm promovendo
tudo sobre prevalência cumulativa. Ou seja, vamos
variações artificiais nesses números, certo? Então,
somar os transtornos que a pessoa supostamente
são artifícios epidemiológicos produzidos, não pelo
apresenta durante a infância e adolescência até o
aumento da incidência do número de casos novos
início da vida adulta. E ele verificou que 83% das
em crianças e adolescentes, mas por mudanças, alar-
pessoas se qualificavam para ter tido algum diag-
gamentos, afrouxamentos dos critérios diagnósticos.
E por fim, uma outra possibilidade, tem mais faz parte desses grupos menos empoderados, por
61
a ver com o que a gente está discutindo aqui, em- que como é que a gente descreve a infância des-
bora essa penúltima também, é entender esses de a modernidade? Imaturo, inocente, dependente,
números a partir dessa grade de leitura, que pro- não responsável, deve ser alvo de proteção no seu
blemas relacionais ou pedagógicos, começam a melhor interesse, os comportamentos então des-
ser reescritos em vocabulário médico, como pro- viantes, quaisquer que sejam, são considerados
- parte 3
blemas médicos, e passam a ser entendidos como desviantes, classificados e descritos por nós. Não
e desastres
quadros patológicos passíveis de tratamento. En- são as crianças em geral que acham, de fato, que
tão é nesse último registro que está a discussão uma questão comportamental, o comportamento
e enfrentamento
sobre medicalização, principalmente nesses dois desafiador dela é um problema psiquiátrico. Nós,
Psicologia em emergências
últimos registros. adultos, é que muitas vezes achamos isso. Então
somos nós que classificamos. A criança tem pou-
ca voz nesse processo. Pois bem. Agora, embora
o tema medicalização, venha sendo estudado
e medicalização
achamos isso. Então somos nós história, a pré-história do nosso campo. Então, eu
sempre gosto de mostrar esse texto, que é da Liga
que classificamos”
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Brasileira de Higiene Mental, do campo do higie-
nismo, uma visão muito moralizante, racializada,
Bem, eu não vou estender aqui a discussão uma pretensão de um certo saneamento moral da
Patologização
sobre medicalização, até porque de manhã vocês sociedade, a extinção de alcoolismo, criminalidade,
já tiveram uma ótima introdução a esse respei- prostituição, loucura, crianças malcomportadas.
to. Você tem várias possibilidades, várias manei- A liga foi muito forte no Rio e em São Paulo, nos
ras. O próprio debate. Eu não vou me aprofundar anos 30, com muita adesão médica. Ela publicou
nisso, porque é interessante, mas corre um certo os arquivos brasileiros de higiene mental, e ela tem
risco de ficar muito acadêmico. Mas tem um deba- um panfleto dos anos 30 que já mostrava coisas
te grande dentro do campo dos estudos sobre a que estamos preocupados hoje, no vocabulário da
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taminas que se constituiu numas das razões para volvimento, que inclui grupos variados, o autismo
e desastres
reunião desse grupo, aparentemente heterogêneo está aqui, retardo mental, com outro nome, está
de crianças”, crianças com problemas de compor- aqui, e o TDAH, então, faz parte desse grupo nas
e enfrentamento
tamento, mas os mais variados possíveis, “sob o duas classificações mais usadas no mundo todo.
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cognome de Disfunção Cerebral Mínima”. Disfunção Se passarmos os olhos pelos critérios diagnósti-
Cerebral Mínima passa a ser então... que é Disfun- cos do DSM 5, vamos ver o quanto isso que estou
ção Cerebral Mínima? Ah, é aquilo que as anfeta- ressaltando, ou seja, um certo caráter do TDAH
minas tratam. E o que as anfetaminas tratam? É como um transtorno escolar, fica evidente nos
e medicalização
function”, Disfunção Cerebral Mínima, e está aqui atenção em tarefas, como manter o foco durante
o garotinho concentrado, comportado, um certo as aulas; frequentemente não segue instruções
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ideal de criança, caucasiana, o que também não até o fim, não consegue terminar os seus traba-
é à toa. Pois bem. Se pegarmos então, chegan- lhos escolares, tarefas, etc.; frequentemente evi-
do mais para cá, agora já com o TDAH, as publi- ta, não gosta ou reluta em se envolver em tare-
Patologização
cidades, também fora do Brasil, as publicidades fas que exigem esforço mental prolongado, como
dos remédios para TDAH, vemos que é a escola trabalhos escolares ou lições de casa; frequente-
que está no centro da publicidade. Concerta, que mente perde coisas necessárias para tarefas ou
é uma apresentação de longa duração do Metil- atividades, material escolar, lápis, livro. É a escola
fenidato. Na peça publicitária está dizendo quais dentro dos critérios diagnósticos do TDAH. No
são as duas possíveis trajetórias, com o remédio campo da hiperatividade também aparece aqui:
e sem o remédio. Não é à toa que sem o remédio frequentemente levanta da cadeira em situações
Cecília Collares
Possui graduação em Pedagogia pela PUC São Paulo (1961), mestrado em Educação (Psicologia da
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Educação) pela PUC São Paulo (1977); doutorado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de
e desastres
Sociologia e Política da USP (1981) e Livre-Docência em Psicologia Educacional pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente da Faculdade de Educação da UNICAMP, no Departamento
e enfrentamento
de Psicologia Educacional, atualmente aposentada. Sua atuação em ensino, pesquisa e extensão
é no campo da Educação, em especial nas áreas ligadas a fracasso escolar, escola, formação de
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professores e medicalização dos processos ensino-aprendizagem. Publicou inúmeros artigos em
periódicos científicos nas áreas de Educação e Psicologia. É autora do Livro Preconceitos no Cotidiano
Escolar: Ensino e Medicalização. É militante do DESPATOLOGIZA - Movimento pela Despatologização
da Vida, que tem articulado reflexões críticas e ações que buscam enfrentar e superar os processos
Gente, muito prazer, boa tarde. Muito obrigada miliares mais velhos e experientes”. “Uma for-
para as organizadoras do evento. É um grande ma”, diz o Illich, “de expropriação da saúde asse-
prazer estar aqui com vocês e eu vou tentar ver gurada e organizada pela medicina. Uma oficina
se eu consigo entreter vocês com algumas coisas. de reparos e manutenção destinada a conser-
e medicalização
var o funcionamento do homem, usado como
um produto não humano”. É uma fala pesada do
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Illich, não? Agora o nosso amigo, o Foucault. O
“O que é medicalizar? É
Foucault diz o seguinte, “a medicina como téc-
descontextualização da nica geral de saúde assume num lugar cada vez
Patologização
vida, é naturalizar a vida, mais importante nas estruturas administrativas
e nesta maquinaria de poder que durante o sé-
é estigmatizar diferenças,
culo 18 não cessa de se estender e de se afir-
é destruição de direitos, é mar. O médico penetra em diferentes instâncias
despolitização, é naturalizar de poder e constitui-se igualmente uma ascen-
dência político-médica sobre uma população
desigualdades, é antiético, é uma
que se enquadra com uma série de prescrições
“Ela não acredita que o problema é só peda- “Você aprende sozinha. A pedagogia não
gógico, a criança é que tem problema. O que que prepara para a sala de aula. Pode-se ficar instru-
ela pode fazer?” ída na psicologia da escola, mas a sala de aula
se aprende sozinha. Nunca discuti essas ques-
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“A criança com mais de duas repetências
e desastres
tões no meu curso de pedagogia. A experiência
não vai, precisa ser encaminhada pra prefeitu-
me ensinou. Sempre ouvi falar disso. Nunca estu-
ra, para a saúde mental. Criança com distúrbio,
e enfrentamento
dei nada que me ajudasse a encaminhar crianças
com problema, você percebe pelo olhar, no falar.
que não conseguem aprender. A experiência e a
Psicologia em emergências
A gente chama os pais, peço pra fazer exame, não
prática de mais de 20 anos de escola é que me
vai. A criança não aprende a ler e a escrever de
ensinaram”,
jeito nenhum. A escola não tem que assumir isso,
é ela que precisa fazer um eletro”. “Sabe onde é que aprendi muito? Na sala
e medicalização
bio na criança, minha filha, nem Cristo faz mila- dico da escola examinava e dizia”, isso nos anos
gre, tá? Mas os pais, muitas vezes, não aceitam 80, “desnutrição. A criança quer aprender, mas
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esse diagnóstico da escola, né? Eles não aceitam não aprende”, um bichinho comeu o neurônio, né,
facilmente isso. Então Natália é alheia ao mundo, acho, “ele vinha e era muito bom”, o médico, “em
mas a mãe dela não concorda, diz, “lá em casa menos de duas horas conseguia examinar de 15 a
Patologização
ela é ótima”. 20 crianças. Quando eu estava no magistério, eu
tive uma aula prática e pudemos assistir aplica-
“eu nunca tinha percebido que o meu filho era
ção do teste. Mas a médica do postinho esteve
doente. Foi aqui na escola que disseram isso. Eu não
aqui explicando tudo”, quer dizer, ela aprendeu a
acredito. Em casa ele não tem nada disso”.
aplicar teste.
Então existe ainda alguns pontos de dis-
Profissionais da saúde que atuam direta
cordância. E também a voz discordante dos
ou indiretamente na escola, o que é que eles di-
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mas vocês não sabem ensinar. nhamento de estratégias baseadas em teorias
e desastres
pedagógicas adequadas ao caso em questão,
Quem tem de ensinar é a professora. Os
sempre levadas a efeito de forma lúdica, atra-
e enfrentamento
outros, que não são vocês, claro, também não
ente e que trouxesse resolutividade e adesão
sabem, mas eles pensam que sabem, não é?
Psicologia em emergências
do corpo docente. Era um trabalho bastante in-
Esse é o problema, a maioria pensa que sabe.
teressante, porque eram duas equipes, a equi-
“Como pedagoga eu continuo no campo pe da escola e a equipe da universidade, que
educacional. Eu penso que para reverter esse interagiam respeitando os saberes e a realida-
e medicalização
existe uma necessidade premente de se voltar de teorias com a realidade concreta dessa es-
a olhar para dentro da sala de aula. É preciso cola em particular, a partir da assunção de não
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aprender as necessidades e possibilidades de ter a vivência de submeter seus conhecimentos
soluções do fazer no cotidiano da sala de aula, ao embate do mundo real, sem prepotência.
da praxis pedagógica. A meu ver a educação, a
Patologização
formação continuada em serviço deve ser um
trabalho coletivo, entre pares, em que podem “Estou convencida e tenho
estar juntos os fonoaudiólogos, os psicólogos,
médicos, quem tiver, no acompanhar do traba-
experienciado a necessidade de
lho docente de maneira respeitosa e compe- nos agruparmos, tendo em vista
tente, construindo conjuntamente o programa, determinados objetivos, desafios,
sempre a partir de necessidades e demandas e
utopias, enfim, pensar e agir
- parte 3
em Fonoaudiologia pela mesma instituição (2004). É professora assistente mestre do Departamento de
e desastres
Clinica Fonoaudiológica e Fisioterápica da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC SP. Título
de especialista em Linguagem concedido pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia - CFFa. Exerceu a
e enfrentamento
Coordenação Didática do Curso de Fonoaudiologia da PUC SP de agosto de 2007 a julho de 2009 e a Chefia
do Departamento de Clinica Fonoaudiológica e Fisioterápica de agosto de 2011 a julho de 2015. Atualmente
Psicologia em emergências
ministra disciplinas nos Cursos de Fonoaudiologia, Fisioterapia e de Especialização em Psicopedagogia
da COGEAE/PUC SP. Tem experiência na área de Fonoaudiologia, com ênfase em linguagem oral/escrita,
motricidade orofacial e surdez, sendo que suas áreas de atuação envolvem a atividade clínica em consultório
e de assessoria em Fonoaudiologia Educacional. Tem interesse nos seguintes temas: linguagem, surdez,
e medicalização
nossa compreensão sobre a medicalização. É im-
de uma ideologia, que é a ideologia
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portante situar que a fonoaudiologia nasceu na
educação. Helena e Rossano já trouxeram algu- do bem falar, presente na nossa
mas informações sobre a década de 20, 30, época
sociedade até hoje”
Patologização
Vargas, em que havia uma questão importante, a
questão da unificação para fortalecimento do país
como nação. Naquele momento, era importante o
E aqui temos uma questão importante para
sentido de unidade e um dos aspectos necessá-
pensarmos. O início claramente marcado por de-
rios para isso era a unificação da língua. Nós tí-
terminada motivação política nos fez também nos
nhamos muitos migrantes e filhos de migrantes na
aproximarmos de uma ideologia, que é a ideologia
escola. E o que acontecia? Esses migrantes tinham
do bem falar, presente na nossa sociedade até
- parte 3
linguagem da pessoa; enfim, uma visão biomédica. Na promoção da saúde. Evidente que ele ainda precisa,
e desastres
segunda, não calcada na atenção à ideologia do bem como todos os outros, ser olhado. Não é ser olhado
falar, há potencialização do sujeito na sua singulari- apenas porque tem uma questão que está fugindo à
e enfrentamento
dade, sendo os fenômenos observados na linguagem regra, que está fugindo ao padrão, não é?
Psicologia em emergências
compreendidos a partir da sua história de vida, dos
aspectos sociais, políticos, econômicos, ambientais e O segundo caso é o do Lucas, 12 anos, estudan-
relacionais que a compõem. te do sétimo ano. O Lucas chegou para mim já tendo
passado por algumas etapas, chegou para o atendi-
e medicalização
cuja referência é a funcionalidade, que procura ampliar ditivo, que apresentava uma imaturidade das funções
o olhar para aquela pessoa. “Qual é a sua participa- de integração auditiva. Lá nesse serviço ele passou
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ção? Qual é a sua singularidade? Que fatores ambien- por uma avaliação neuropsicológica, passou também
tais podem auxiliar, podem limitar, podem capacitar, por avaliação de linguagem, que deu como conclusão
podem incapacitar?”; enfim, entender melhor o que
Patologização
um quadro importante de desatenção e dislexia. Esta
acontece com essa pessoa, sendo, dessa forma, um avaliação estava baseada apenas e exclusivamente
instrumento de um modelo biopsicossocial. em aspectos biomédicos. Na medida em que ele che-
Essas são algumas questões para pensarmos gou para mim, fui tentar entender um pouco melhor o
um pouco sobre como reconhecer brechas que po- que acontecia com esse garoto.
dem ampliar a nossa visão desse tensionamento en-
Então sob um olhar desmedicalizante, a história
tre práticas medicalizantes e desmedicalizantes no
pode ser diferente. Como os pais já tinham dito que
- parte 3
Psicologia em emergências e desastres
Psicologia em emergências
CRP SPdas vidas: reconhecimento e desastres
e enfrentamento
Anabela Almeida Costa e Santos Peretta: Obri- para buscarmos espaços potencializadores, inclu-
gada, Vera. Encerramos agora essa etapa de sive na área da pedagogia também. Como esta-
participação da mesa com falas de áreas de co- mos distante da escola, distante dos professores,
nhecimento, que tantas vezes compõem uma dos alunos e como poderíamos ter um outro olhar
e medicalização
despotencialização da escola, dos professores, para tudo o que acontece na escola. Não sei se
dos estudantes, mas que também trazem uma eu tenho alguma pergunta, mas eu tô aqui ainda
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possibilidade de compor essa potência, esse impactada com todas as falas. Mas queria proble-
fortalecimento, essa recuperação da educação matizar isso, de não deixarmos esse momento fi-
como um espaço político. Estamos com o micro- car só aqui, de pensarmos numa reprodução dele
Patologização
fone aberto para que possamos ter um momento em outros espaços. Eu já fiz uma proposta, inclu-
mais coletivo também. sive, uma proposta pensando nessa perspectiva,
para levarmos para o Conselho de Psicologia, de
Ione Xavier: Ione de Sorocaba falando. Es-
estarmos mais vezes juntos. Nós vamos ter o en-
tou encantada com a riqueza das falas, com a
contro da Abrapee no ano que vem, em Sorocaba,
riqueza dessa mesa e me perguntando se vocês
então estão hiper convidados. Com certeza, eu fi-
todos não podem ir para Sorocaba para travar-
quei pensando no seu trabalho, Cecília, de leva-lo
- parte 3
dentro do ambiente escolar. Então, realmente eu pouco para o contingente da escola, porque é
e desastres
acho muito importante que tenha esse pensa- muita, é muita escola e muita necessidade, mas
mento dessa preparação do futuro profissional tem que haver uma formação. Acho que temos
e enfrentamento
de psicologia, porque se não abrirmos a mente de lutar muito para as nossas formações, tan-
Psicologia em emergências
para a questão de contextualização, de desnatu- to do educador como do psicólogo. E acho que
ralização, vai estar sempre voltado para o aten- você tem razão quando você fala da dificuldade
dimento clínico e não vamos conseguir modificar da medicina, porque infelizmente o status social
e trabalhar essa questão da medicalização. do médico permite determinadas coisas. Vemos
e medicalização
que nós temos de discutir para ver o contexto no
no modo da psicologia se colocar. Entendo que
geral, para que não aconteça um enviesamento e
outras áreas também têm feito isso, a psicologia
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que vá contra aquilo que pensamos, certo? Esse
escolar não está sozinha. Mas, em relação ao que
é um problema.
você traz, da questão da inserção do psicólogo
na educação, essa é uma luta, é uma luta grande.
Patologização
Mônica: Acho que uma coisa importante
A Marilene aqui, pode contribuir em relação ao
que aconteceu na área da psicologia, em 2013,
projeto de lei, que está em tramitação desde o
foi termos construído as nossas referências
ano 2000, que foi reformulado em 2007, o 3688, e
técnicas para atuação do psicólogo na educa-
que prevê a inserção dos psicólogos nas equipes
ção básica. Esse documento foi, pela primeira
de educação. Essa é uma batalha política que eu
vez na história da psicologia, do Sistema Con-
entendo que é importante realmente. Hoje temos
selhos, construído coletivamente por cinco mil
vários municípios que não têm a psicologia na
- parte 3
de disciplina e eu sou líder da disciplina de psi- discussão. Tenho muito orgulho mesmo de tra-
e desastres
cologia escolar. Junto com os professores que balhar com a Mônica nessa disciplina e deste
ministram essa disciplina nós montamos uma modo como é dado. Sei que não são todos os
e enfrentamento
ementa, que é utilizada durante todo o curso e professores que querem dar, tem os professo-
Psicologia em emergências
depois questionada, revista, e segue toda uma res falando, “não, isso aqui... não, não, quero fa-
perspectiva crítica de atuação do psicólogo es- lar dos problemas da aprendizagem”. Porque tem
colar. Só que não é uma disciplina. A disciplina de professores de psicologia formados com uma
psicologia escolar acontece no sexto semestre, outra escuta, com um outro olhar, e que bom
e medicalização
aqui na Unip, que é professora desse eixo de ah não, a gente quer ir na escola, porque a gente
disciplinas que forma o psicólogo para atuar em estudou com você que é importante ir na escola”.
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processos educativos, que não é só na escola. Tem mudado esta prática. E os professores têm
Porque os processos educativos acontecem na permitido e endossado que os nossos alunos
área jurídica, na área da saúde, na área da comu- vão às escolas na época do psicodiagnóstico.
Patologização
nidade. Então acho que pensar a psicologia es- Tem sido muito bom.
colar como uma disciplina isolada também não
Lilian Suzuki: Esse evento, que chamamos
é por aí. E me sinto feliz de ser professora de
de Eu Digo Não à Medicalização e à Patologi-
psicologia escolar, na Unip, como líder de disci-
zação da Educação, é o primeiro evento prepa-
plina. E o nosso currículo forma psicólogos para
ratório do Núcleo de Educação e Medicalização
uma atuação crítica. Então tem muito psicólo-
do nosso Conselho aqui de São Paulo para o
go aí. Eu hoje tenho 77 estagiários de psicolo-
10º Congresso Nacional de Psicologia. E é mui-
Valéria: Só queria complementar que essa Maria Rozineti Gonçalves: Quero agrade-
questão da psicologia escolar nessa vertente cer imensamente a Anabela, Cecília, Vera, Ros-
crítica acabou influenciando as outras disci- sano, a Cida também aqui presente, Marilene,
plinas. Temos textos que discutem a medicali- Mônica, e a Helena, e a todas vocês que pude-
zação na educação e na vida, na disciplina de ram vir e nos prestigiar, enfim, dando por encer-
políticas públicas; temos na disciplina que fala rado o nosso evento de hoje, meu agradecimen-
sobre psicologia social. Nas disciplinas que eu to em nome do Conselho Regional de Psicologia
dou, discutimos o Foucault e as questões re- de São Paulo.
Realização: