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Cadernos PDE
FOUANI, Mariam1
COITO, Roselene de Fátima2
RESUMO: O presente trabalho tem como título “A LEITURA PARA ALUNOS DA EJA: Com foco para
a formação do leitor - 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental”, visto que são alunos que, na maioria,
ficaram muito tempo fora da escola por diversos motivos e somente agora retornaram. Pretende-se
então, com este estudo, melhorar os conhecimentos referentes ao processo de ensino-aprendizagem
no que tange à leitura, visto que a leitura é o ponto de partida para outros entendimentos, pois sem
uma boa leitura não há interpretação, e sem interpretação não existe nem êxito escolar e nem leitor
proficiente. Para tal, o projeto fundamentou-se na leitura enquanto discurso nos contos literários, os
quais serão os norteadores de toda estratégia proposta para a reflexão e aplicação de uma leitura
efetiva.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como finalidade apresentar o resultado final do material que
foi utilizado na produção didático-pedagógica na leitura para os alunos da EJA, com
foco para formação do leitor do 6° ao 9° ano do ensino fundamental.
Tendo como objetivos, além de proporcionar aos alunos de EJA atividades
que estimulem a compreensão leitora por meio de estratégias de leitura, amenizar
as dificuldades que os alunos da EJA encontram na leitura; orientar o aluno de como
a leitura está associada às outras áreas de ensino; utilizar várias estratégias de
leitura que possibilitem ao educando a compreensão, interpretação e reflexão sobre
2 HISTÓRIA DO CEEBJA
Como o público alvo deste estudo é o ensino supletivo, mais conhecido com
EJA, faz-se necessário saber um pouco mais sobre esta modalidade de ensino. A
EJA não é recente no Brasil. Conforme Santos:
De acordo com Paiva (1973), a EJA no Brasil tem sua trajetória desde a
catequização dos indígenas, alfabetização e transmissão da língua portuguesa no
Brasil.
Já no início da industrialização no Brasil, a EJA passa por algumas
transformações, como podemos ver em Lopes:
3. A LEITURA
Ler é muito mais que simplesmente decifrar símbolos. É um ato que requer
um intercâmbio constante entre texto e leitor e envolve um trabalho ativo de
compreensão e interpretação do texto – quer seja ele verbal ou não verbal
– a partir dos objetivos do leitor, do seu conhecimento sobre o assunto, de
tudo o que sabe sobre a linguagem. (MATOS e SANTOS, 2006, p.62).
É fato que a leitura está presente na vida do ser humano; lemos tudo que
está a nossa volta. Além disso, trazemos uma bagagem de leitura e de vivência
que extrapolam o ensinamento escolar, principalmente na idade adulta na qual se
encontra o nosso público alvo. E, de acordo com Paulo Freire, o ser humano lê o
mundo muito antes da leitura das palavras:
Concordando com o que foi exposto acima, Orlandi (1999), diz que a leitura
pode ter vários sentidos: na escola significa aprender a ler e a escrever; no meio
acadêmico pode significar a construção de um aparato teórico e metodológico de
aproximação de um texto, várias são as formas de compreender um texto; assim
como pode ser uma ideologia, de forma mais ou menos geral e indiferenciada.
Desta forma, o sentido do texto não é algo dado pelo autor, e sim, algo
produzido e conquistado pelo leitor.
Segundo Orlandi (2001),
Ao fazer uma breve discussão com o citado acima, Perini expõe que
considera indefeso o analfabeto funcional, pois o mesmo não tem condições de
informar-se sobre acontecimentos e informações relevantes para o seu dia-a-
dia, tornando-o assim inerente excluso da sociedade, visto que o mesmo não tem
capacidade de ler e interpretar uma notícia em um jornal ou uma revista. Cabe
ressaltar ainda, que boa parte a população brasileira está fora da faixa etária ou
nível de escolarização diante desta realidade; torna-se, de uma certa forma inviável,
ter leitores competentes. Desta forma, a EJA, que está direcionada para a educação
de jovens e adultos, possui um papel muito importante na formação destes
indivíduos no contexto social.
Neste contexto, cabe ressaltar o papel do professor diante desta realidade.
Assim, de acordo com a Proposta Curricular Nacional da Educação de Jovens e
Adultos:
Os desafios da educação de jovens e adultos exigem do professor um
olhar cuidadoso sobre questões que norteiam a relação professor-aluno-
conhecimento e podem interferir no sucesso escolar dos alunos. Exigem
considerar fatores importantes no processo de ensino e aprendizagem de
qualquer área, como o contrato didático, a gestão do tempo, a organização
do espaço, os recursos didáticos, a interação e a cooperação e a interação
da escola e das práticas sociais (Proposta Curricular Nacional da Educação
de Jovens e Adultos, Parte Geral, p. 67).
Com base no exposto acima, ainda há muito caminho a ser percorrido para
a formação de um bom leitor, tendo em vista condições sociais que os alunos estão
inseridos. Neste sentido, a proposta aqui arrolada vem como uma possibilidade de
reflexão/prática sobre o estado atual de uma “alfabetização leitora” para este público
específico.
Pode-se dizer que narrar faz parte da essência humana. Desde sempre
houve a necessidade de se contar e de se ouvir histórias, fossem elas de aventura,
de terror, de medo, de amor... Contar e ouvir histórias faz com que o ser humano
se reconheça no mundo e, ao mesmo tempo, entenda o funcionamento do que se
concebe como mundo, haja vista a multiplicidade e pluralidade de narrativas que
constituem o indivíduo ao longo de sua vida.
É sabido que, as narrativas nasceram da oralidade e que, em épocas
remotas, mais necessariamente na época anterior à ascensão da burguesia e da
compilação dos contos realizadas pelos Irmãos Grimm, não se distinguiam adultos
de crianças. Pode-se dizer que, neste sentido, em épocas mais remotas, elas,as
narrativas, eram os “causos” narrados e ouvidos por grupos de pessoas que se
reuniam e que não tinham a preocupação do teor real ou imaginário daquilo que
contavam. Pelo fato da não distinção entre faixas etárias, estes causos traziam
imagens de extrema violência.
Após a ascensão da burguesia, em que a família passa a considerar o papel
da mulher como mãe e a criança como um ser diferenciado, a configuração da
sociedade da época – por questões do mercado – exige uma população mais letrada
e, então, criam-se instituições escolares para atender esta demanda. Por causa de
toda esta reconfiguração social, o mercado livreiro ganha impulso e as narrativas
(fábulas de La Fontaine, contos maravilhosos, romances adocicados) passam a
pertencer aos livros, já com uma preocupação ao público a que se dirigia, sem que
com isso, se extinguissem os “causos oralizados”.
A partir de toda esta mudança social, que procuramos demonstrar de forma
breve, a escola passa a ser o lugar em que a leitura se efetiva, mais
especificamente na sociedade brasileira em que não há uma prática social da leitura
literária.
Por isso, o tema leitura tem sido foco de estudo no processo educacional há
alguns anos, visto que esta é um instrumento para a vida que contribui na aquisição
de conhecimentos. É de suma importância para o desenvolvimento humano e
compreensão de mundo, pois uma pessoa que lê tende a ser mais crítico, criativo,
adquirindo assim as diferentes formas de expressão e de linguagem.
Um dos principais objetivos da escola é formar um cidadão crítico e reflexivo,
colaborando para torná-lo um ser ativo numa sociedade de tantas exigências como
a atual. O projeto de intervenção pedagógica “A LEITURA PARA ALUNOS DA EJA:
Com foco para a formação do leitor - 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental”, foi
desenvolvido no CEEBJA de Mandaguaçu-Pr, e teve como público alvo alunos do 6°
ao 9° ano do ensino fundamental, com 32 h/a de realização.
O projeto objetivou desenvolver uma prática de leitura com o gênero contos
literários, porque é uma narrativa curta, com poucos personagens, tempo e espaços
reduzidos, o que o torna adequado para a iniciação da leitura literária aos alunos da
EJA, considerando que a maioria deles passou muito tempo afastada do ambiente
escolar.
Para assegurar que esse trabalho fosse realmente efetivo e com êxitos, o
mesmo foi desenvolvido por meio de atividades sequenciais, com estratégias de
leitura proporcionando atividades que pudessem estimular a compreensão leitora.
Os objetivos almejados foram: apresentar a narrativa e os gêneros textuais
narrativos, mostrar como esses gêneros fazem parte do dia-a-dia, aproximar o
autor/leitor através de estratégias de leitura, promover a compreensão linguística e
compreensão do tema.
Em um primeiro momento, foi realizada uma discussão para sondagem das
opiniões dos alunos sobre a leitura. A discussão foi direcionada para esclarecer que
a leitura, além de prazer, aquisição de informações, é formadora do discurso e para
que percebessem como as estratégias de leitura são importantes para ajudar o leitor
na compreensão de textos.
No segundo momento, foram apresentados um poema narrativo, uma crônica
e uma música narrativa, para mostrar a presença da narrativa em nosso cotidiano.
No terceiro momento foi realizada uma atividade oral de contação de causos
para vivenciar a experiência da oralidade, visto que a narrativa surgiu na oralidade,
num tempo em que a escrita era domínio de muitos poucos letrados
Este momento do trabalho foi muito interessante. O professor apresentou
alguns causos aos alunos, que também pesquisaram outros. Como todos os alunos
eram adultos e o período de aula noturno, fomos a uma praça pública da cidade,
onde todos puderam contar e ouvir histórias, e assim,. sentir um pouco dessa prática
tão antiga e prazerosa.
Na sequência foi apresentado o gênero conto literário. Deter-nos-emos neste
momento do projeto de intervenção para uma análise e reflexão mais acurada.
Neste trabalho constou a leitura de dois contos: “O Retrato”, escrito por Artur
Azevedo e “Uma Vela Para Dario”, escrito por Dalton Trevisan.
Neste artigo, será apresentado o trabalho desenvolvido com o conto “O
Retrato” de Artur Azevedo, conforme segue abaixo.
Os procedimentos metodológicos se deram da seguinte forma:
• A promoção da exposição oral do conhecimento que os alunos possuíam
sobre o gênero conto.
• Momentos de leitura silenciosa, oral e compartilhada.
• Sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos a respeito dos textos lidos.
• Identificação da temática abordada nos textos e sua relação com a vida e com
as experiências vividas.
• Desenvolvimento das atividades de compreensão leitora.
• Apresentação seus elementos estruturais e literários.
• Aplicação de estratégias que colaborassem para uma leitura crítica.
• Estabelecimento de objetivos de leitura.
• Explicitação da função poética da linguagem.
• Levantamento de significado de vocabulários desconhecidos dos alunos.
• Solicitação aos alunos de uma produção escrita, aplicando os conhecimentos
adquiridos ao longo do desenvolvimento do projeto.
Finalizando este momento de apresentação do gênero conto, iniciaram-se
as atividades com o texto “O Retrato”, escrito por Artur Azevedo. Porém, antes da
leitura, levantaram-se as seguintes hipóteses: a) O que sugere o título? b) Sobre o
que você imagina que irá ler no texto?
Diante destes questionamentos, algumas das colocações feitas pelos alunos
foram as seguintes:
A) Que poderia ser o retrato de alguém falecido ou que havia partido para
longe há muito tempo.
B) A foto de um momento marcante como o nascimento de alguém, uma
viagem, um casamento.
C) O retrato de uma família, e algum fato marcante a respeito seria narrado.
Com essas colocações, pode-se observar que a simbologia de um retrato
para as pessoas em geral, é o registro de alguém ou de um fato marcante em
suas vidas.
Após o levantamento das hipóteses, os alunos leram uma parte do texto (até
o 7º parágrafo), para continuidade da atividade.
Segue parte do texto:
O sujeito, quando reparou que havia ali um homem, não teve mais
tempo de fugir. Mme. Rouède apresentou-o ao marido:
- Aqui tens este senhor que me tem acompanhado por toda parte, e
entrou comigo. Não sei o que pretende.
- Sei eu, acudiu prontamente o fotógrafo. - Pretende tirar o retrato; não
pode ser outra coisa.
E voltando-se para o desconhecido, perguntou-lhe olhando por cima
dos óculos, segundo o seu costume.
- Busto ou corpo inteiro?
O pobre diabo, que não sabia mais de que freguesia era, gaguejou:
- Busto... busto...
- Faça favor.
E levou uma hora a tirar-lhe o retrato que foi pago, ficando o retratado
de ir buscá-lo daí a três ou quatro dias. Este queria apenas meia
dúzia, mas Emílio Rouede convenceu-o de que devia encomendar
duas dúzias e meia.
Quando o freguês saiu, Emílio Rouède disse à esposa, que ria a
bandeiras despregadas:
- Tenho pena de não ser dentista, em vez de fotógrafo!
Escusado é dizer que os retratos ficaram na fotografia.
6. CONCLUSÃO
FARACO E MOURA - Língua e Literatura. 19. ed. Volume 1 – 2° grau. Ática: São
Paulo. 2006.
LOPES, Eliane Marta Teixeira (org). 500 Anos de Educação no Brasil. 2 ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2000.