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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
UNVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

A LEITURA PARA ALUNOS DA EJA: Com foco para a formação do


leitor - 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental

FOUANI, Mariam1
COITO, Roselene de Fátima2

RESUMO: O presente trabalho tem como título “A LEITURA PARA ALUNOS DA EJA: Com foco para
a formação do leitor - 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental”, visto que são alunos que, na maioria,
ficaram muito tempo fora da escola por diversos motivos e somente agora retornaram. Pretende-se
então, com este estudo, melhorar os conhecimentos referentes ao processo de ensino-aprendizagem
no que tange à leitura, visto que a leitura é o ponto de partida para outros entendimentos, pois sem
uma boa leitura não há interpretação, e sem interpretação não existe nem êxito escolar e nem leitor
proficiente. Para tal, o projeto fundamentou-se na leitura enquanto discurso nos contos literários, os
quais serão os norteadores de toda estratégia proposta para a reflexão e aplicação de uma leitura
efetiva.

PALAVRAS- CHAVE: Jovens e Adultos. Formação. Leitor.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como finalidade apresentar o resultado final do material que
foi utilizado na produção didático-pedagógica na leitura para os alunos da EJA, com
foco para formação do leitor do 6° ao 9° ano do ensino fundamental.
Tendo como objetivos, além de proporcionar aos alunos de EJA atividades
que estimulem a compreensão leitora por meio de estratégias de leitura, amenizar
as dificuldades que os alunos da EJA encontram na leitura; orientar o aluno de como
a leitura está associada às outras áreas de ensino; utilizar várias estratégias de
leitura que possibilitem ao educando a compreensão, interpretação e reflexão sobre

1 Acadêmico profissional do PDE. E-mail: mariamfouani@seed.pr.gov.br


2 Professora Orientadora. Docente da Graduação e da Pós-Graduação. E-mail:
roselnfc@yahoo.com.br
os temas lidos; propiciar momentos de leitura em que o aluno seja capaz de pensar
criticamente e, destacar a importância da leitura e seus possíveis desdobramentos
na escrita.
Por ser uma questão relevante, principalmente na vida escolar, a leitura
para os alunos da EJA configura-se com um problema de grande repercussão, pois
apesar de esses alunos serem alfabetizados não significa que eles tenham contato
constante e experiência efetiva com a leitura do texto literário, entretanto. A leitura
pensada neste projeto, refere-se aos textos literários disponíveis em contos pré-
selecionados. E os questionamentos são:
Existe a compreensão quando o aluno lê um texto? Quais as dificuldades
na interpretação da leitura que este aluno tem? Por que muitos dos alunos de EJA
leem, mas não compreendem?
Questões como as expostas acima configuram a problematização deste
trabalho, que se volta para a questão da leitura para este público específico e para
as estratégias que podem amenizar o problema.
Cabe ressaltar que existe uma procura muito grande por parte de jovens e
adultos com relação ao retorno aos estudos, visto que houve uma evasão escolar
muito grande há tempos atrás, provocada por diversos problemas; uns relacionados
ao trabalho, outros às questões financeiras, alguns por questões familiares, enfim,
por questões variadas, porém, com esta mudança no contexto social atual, esses
alunos estão retomando seus estudos devido às exigências impostas pelo mercado
de trabalho, e mesmo tendo que enfrentar algumas dificuldades, acreditamos que
esses alunos podem vencer os obstáculos encontrados e alcançar um nível de
leitura satisfatório. Assim, este trabalho será direcionado aos alunos que estão há
muito tempo fora da escola e que precisam ter contato e compreensão da leitura de
textos literários, os quais poderão proporcionar atividades que possam estimular a
compreensão leitora por meio de estratégias de leitura.
Vale lembrar que estes alunos trazem consigo uma bagagem muito grande
de vida. Para isso, faz-se necessário uma leitura contextualizada e diferenciada para
que possam fazer uma conexão com sua vivência diária e que assim agucem sua
curiosidade.
No que tange à interpretação de texto, os alunos da EJA enfrentam algumas
dificuldades como, por exemplo, a seleção vocabular, sintaxe, utilização de
metáforas, desconhecimento de termos técnicos, falta ou excesso de imagens,
textos fragmentados que comprometem a compreensão do texto, entre outros.
E com relação ao texto literário, devido à sua complexidade composicional,
acreditamos ser o de maior valia para o pleno desenvolvimento da leitura e,
consequentemente, da escrita.
Este estudo apresenta uma proposta que pode servir como base de estudos
para profissionais da área. Serão discutidos conceitos referentes à leitura para o
ensino supletivo, com foco para estudantes do 6° ao 9° ano do ensino fundamental.
A escolha do tema – leitura – foi de agrado, visto que a mesma leva o aluno fazer
uma abstração entre o real e o imaginário, pois pode ser através da leitura que o
indivíduo sente-se vivo e consegue enxergar emoções que nem sempre conseguem
ver no dia a dia.
Pretende-se então, com este estudo, melhorar os conhecimentos referentes
ao processo de ensino-aprendizagem no que tange à leitura, visto que a leitura é
o ponto de partida para outros entendimentos, pois sem uma boa leitura não há
interpretação, e sem interpretação não existe êxito escolar. Um indivíduo que lê,
consegue desenvolver de forma mais ágil seu intelecto, pode ser mais criativo,
crítico, desenvolve seu lado social e político, mantém-se atualizado, ajuda na
definição de ideias, enriquece o vocabulário, imaginação e a forma de expressar-
se, ou seja, a leitura preenche lacunas do nosso conhecimento. Segundo Orlandi
(2001a, p.9), “a leitura, portanto, não é uma questão de tudo ou nada, é uma
questão de natureza, de condições, de modos de relação, de trabalho, de produção
de sentidos, em uma palavra: historicidade”.
Cabe ressaltar também a questão da leitura enquanto discurso que compõem
a história de leitura dos sujeitos. Ora, não é possível ancorar a leitura apenas a
um tipo de discurso (científico, filosófico, jornalístico etc.) ou gênero de discurso
(por exemplo, instrução técnica, carta, receita, história em quadrinhos). Somos
frequentemente alvos de diversos deles em nosso cotidiano, os quais conduzem a
relação entre o discurso, o texto e o objetivo que nos levam até ele, na medida em
que compõem o conjunto de leitura de cada leitor (ORLANDI 2001a).
Desta forma, entendemos que a prática de leitura se constitui na sociedade
por uma relação histórica entre os sujeitos e os sentidos, em um espaço constituído
entre o discurso e o texto, onde jogam diferentes gestos de interpretação. Assim, a
leitura pode ser vista como um:

trabalho simbólico no espaço aberto de significação que aparece quando


há textualização do discurso. Há, pois, muitas versões de leitura possíveis.
São vários os efeitos-leitor produzidos a partir de um texto, são diferentes
possibilidades de leitura que não se alternam (ORLANDI, 2001b, p. 71).

Com foco na perspectiva de enfrentamento dos problemas cotidianos


relacionados à leitura para alunos da EJA, entendendo que são alunos que estão há
muito tempo fora do ambiente escolar, o objetivo é desenvolver um trabalho voltado
para esta realidade.

2 HISTÓRIA DO CEEBJA

2.1 A TRAJETÓRIA DO ENSINO SUPLETIVO

Como o público alvo deste estudo é o ensino supletivo, mais conhecido com
EJA, faz-se necessário saber um pouco mais sobre esta modalidade de ensino. A
EJA não é recente no Brasil. Conforme Santos:

Pode-se afirmar que, desde a chegada dos portugueses ao Brasil, o ensino


do ler e escrever aos adultos indígenas, ao lado da catequese constituiu-se
de uma ação prioritária no interior do processo de colonização (SANTOS,
2008 p. 1).

De acordo com Paiva (1973), a EJA no Brasil tem sua trajetória desde a
catequização dos indígenas, alfabetização e transmissão da língua portuguesa no
Brasil.
Já no início da industrialização no Brasil, a EJA passa por algumas
transformações, como podemos ver em Lopes:

Com a vinda de D. João VI para o Brasil, em janeiro de 1808, retoma-se o


processo de desenvolvimento industrial a partir da permissão de abertura de
novas fábricas, inaugurando-se dessa forma uma nova era para o setor de
aprendizagem profissional. [...]
A solução encontrada na época foi a aprendizagem compulsória, que
consistia em ensinar ofícios às crianças e aos jovens, que na sociedade não
tivessem outra opção, como era o caso dos órfãos e desvalidos, que eram
encaminhados pelos juízes e pela Santa Casa de Misericórdia aos arsenais
militares e da marinha [...] (LOPES, 2000 p. 207).

No entanto, neste período este sistema de ensino era restrito para as


mulheres, porém, após muitas mudanças, em 1988 com a Constituição Brasileira
a educação passou a ser obrigatória para todos os cidadãos conforme o artigo:
“ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive sua oferta garantida para todos
os que a ele não tiveram acesso na idade própria”. (Constituição Federal de 1988 –
Artigo 208).
A partir da década de 1960, a alfabetização de jovens e adultos se constituiu
de vários movimentos que visavam a educação e cultura popular, nas quais citam-
se: MEB (Movimento de Educação de Base); MCP (Movimento de Cultura Popular);
CPC (Centro Popular de Cultura) e CEPLAR (Campanha de Educação Popular).
Neste período, por causa do golpe militar, muitos movimentos foram extintos devido
a questões políticas.
Durante o regime militar surge o MOBRAL. Mas logo após a queda do regime
militar o MOBRAL foi substituído pela Fundação EDUCAR.
A Fundação EDUCAR surgiu em 1985, como substituta do MOBRAL. O
estatuto, porém, só foi estabelecido pelo Decreto nº 92.374, de 6 de fevereiro de
1986, onde todos os bens do MOBRAL foram transferidos para a EDUCAR.
As diferenças mais marcantes entre o MOBRAL e a EDUCAR foram:
• A EDUCAR estava dentro das competências do MEC;
• Promovia a execução dos programas de alfabetização por meio do “apoio
financeiro e técnico às ações de outros níveis de governo, de organizações
não governamentais e de empresas” (Parecer CNE/CEB n.º 11/2000) e;
• Tinha como especialidade à “educação básica”.
De acordo com o Parecer CNE/CEB, a EDUCAR foi extinta em 1990, pelo
então governo Collor. (BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de
Educação. Parecer CNE/CEB n.º 11/2000. Brasília, 2000).
Com a LDB 9394/96, a nomenclatura Ensino Supletivo passa para EJA.Com
o Parecer CEB/CNE 11/2000 que baseou a Resolução do CNE de Diretrizes
Curriculares para a EJA, são enfatizadas as mudanças da nomenclatura de ensino
supletivo para EJA, o direito público subjetivo dos cidadãos à educação, as funções:
reparadora; equalizadora e qualificadora, assim como distingue a EJA da aceleração
de estudos, concebe a necessidade de contextualização do currículo e dos
procedimentos pedagógicos e aconselha a formação específica dos educadores
(PAIVA, 1983).
Entretanto, a EJA ganhou notoriedade e mais espaço quando Paulo Freire
e outros estudiosos passaram a discutir a importância deste sistema de ensino.
Em decorrência disso, a EJA começa a definir sua identidade com o objetivo de
erradicar o analfabetismo.
Diante desta breve explanação sobre a constituição histórica do EJA,
passamos a discutir sobre a prática de leitura e sua realidade no Brasil.

3. A LEITURA

3.1 A LEITURA E SUA PRÁTICA

A qualidade pedagógica contribui muito para um bom êxito do professor e dos


alunos. Diante disso, para tal se faz necessário o hábito de ler. Desta forma esta
fundamentação teórica se pauta no pressuposto de que a educação tem a leitura
como meio de inclusão social e de melhoria para a formação do cidadão. Então,
acreditamos que, cabe à escola e ao educador prover a relação entre a leitura e o
aluno. É função da escola ensinar o aluno a ler. No entanto, o ato de ler não remete
a simplesmente decifrar os signos da língua; vai muito além. O aluno deve ler e
interpretar. Para tanto, Matos e Santos discorre:

Ler é muito mais que simplesmente decifrar símbolos. É um ato que requer
um intercâmbio constante entre texto e leitor e envolve um trabalho ativo de
compreensão e interpretação do texto – quer seja ele verbal ou não verbal
– a partir dos objetivos do leitor, do seu conhecimento sobre o assunto, de
tudo o que sabe sobre a linguagem. (MATOS e SANTOS, 2006, p.62).

Para complementar este raciocínio, Solé nos abrilhanta com os seguintes


dizeres:

A leitura é o processo mediante o qual se compreende a linguagem escrita.


Nesta compreensão intervêm tanto o texto, sua forma e conteúdo, como o
leitor, suas expectativas e conhecimentos prévios. Para ler necessitamos,
simultaneamente, manejar com destreza as habilidades de decodificação
e aportar ao texto nossos objetivos, ideias e experiências prévias (SOLÉ,
1998, p.23).

É fato que a leitura está presente na vida do ser humano; lemos tudo que
está a nossa volta. Além disso, trazemos uma bagagem de leitura e de vivência
que extrapolam o ensinamento escolar, principalmente na idade adulta na qual se
encontra o nosso público alvo. E, de acordo com Paulo Freire, o ser humano lê o
mundo muito antes da leitura das palavras:

Desde que nascemos, vamos aprendendo a ler o mundo em que vivemos.


Lemos no céu as nuvens que anunciam chuva, lemos na casca das frutas
se elas estão verdes ou maduras, lemos no sinal de trânsito se podemos ou
não atravessar a rua. E, quando aprendemos a ler livros, a leitura das letras
no papel é uma outra forma de leitura, do mesmo mundo que já líamos,
antes ainda de sermos alfabetizados (FREIRE, 2003, p.5-6).

Conforme vemos em Freire, a leitura se dá em níveis e momentos


diferenciados do ser humano. Nos primeiros contatos com o mundo, a criança lê
o mundo e depois passa a ler a palavras, principalmente, e com maior ênfase, no
ambiente escolar.
Além do contexto escolar, a leitura está inserida no contexto social. Assim,
conforme nos relata Geraldi:

[...] a leitura é compreendida como interlocução entre sujeitos e, como


tal, espaço de construção e circulação de sentidos, sendo impossível
descontextualizá-la do processo de constituição das subjetividades,
alargado pelas possibilidades múltiplas de interação que o domínio da
escrita possibilitou e possibilita (Geraldi, 1996, p. 96).

Concordando com o que foi exposto acima, Orlandi (1999), diz que a leitura
pode ter vários sentidos: na escola significa aprender a ler e a escrever; no meio
acadêmico pode significar a construção de um aparato teórico e metodológico de
aproximação de um texto, várias são as formas de compreender um texto; assim
como pode ser uma ideologia, de forma mais ou menos geral e indiferenciada.
Desta forma, o sentido do texto não é algo dado pelo autor, e sim, algo
produzido e conquistado pelo leitor.
Segundo Orlandi (2001),

há leituras previstas para um texto, embora essa previsão não seja


absoluta, pois sempre são possíveis novas leituras dele. (...) dada a relação
entre os textos, o conjunto dessas relações indica como o texto deve ser
lido (ORLANDI, 2001, p. 87).
Diante do exposto, é notório a importância do hábito da leitura. No entanto,
cabe ressaltar que a realidade que é encontrada no Brasil, infelizmente não é a
desejada; para tal, se fez necessário um tópico dedicado a este ponto, conforme
destacado abaixo.

3.2 LEITURA E A REALIDADE BRASILEIRA

No Brasil, e em especial aos alunos da EJA, a realidade encontrada por


eles não é como está teorizada nos parágrafos anteriores. O que os estudiosos
arrolam é o ideal de leitura e apontam alguns caminhos para sua prática. É notório,
porém não para todos os alunos, que a leitura para muitos é de forma funcional, ou
seja, o aluno faz a união das letras e das sílabas, mas não há uma interpretação
contextualizada, para tal, torna-se verdade o que Perini ressalta:

[...] a maior parte da população brasileira adulta é funcionalmente


analfabeta. Quero dizer que, se bem que sejam capazes de assinar o
nome e de decifrar o letreiro de um ônibus que tomam diariamente, não
conseguiriam ler com compreensão adequada numa página completa, ainda
que se tratasse de assunto dentro de sua competência (Perini,1988:79).

Ao fazer uma breve discussão com o citado acima, Perini expõe que
considera indefeso o analfabeto funcional, pois o mesmo não tem condições de
informar-se sobre acontecimentos e informações relevantes para o seu dia-a-
dia, tornando-o assim inerente excluso da sociedade, visto que o mesmo não tem
capacidade de ler e interpretar uma notícia em um jornal ou uma revista. Cabe
ressaltar ainda, que boa parte a população brasileira está fora da faixa etária ou
nível de escolarização diante desta realidade; torna-se, de uma certa forma inviável,
ter leitores competentes. Desta forma, a EJA, que está direcionada para a educação
de jovens e adultos, possui um papel muito importante na formação destes
indivíduos no contexto social.
Neste contexto, cabe ressaltar o papel do professor diante desta realidade.
Assim, de acordo com a Proposta Curricular Nacional da Educação de Jovens e
Adultos:
Os desafios da educação de jovens e adultos exigem do professor um
olhar cuidadoso sobre questões que norteiam a relação professor-aluno-
conhecimento e podem interferir no sucesso escolar dos alunos. Exigem
considerar fatores importantes no processo de ensino e aprendizagem de
qualquer área, como o contrato didático, a gestão do tempo, a organização
do espaço, os recursos didáticos, a interação e a cooperação e a interação
da escola e das práticas sociais (Proposta Curricular Nacional da Educação
de Jovens e Adultos, Parte Geral, p. 67).

Desta forma, o professor deve também dar o exemplo. Afirma Freire:

[...] (porque há também uma espécie assim de sabedoria de fazer a leitura,


que você obtém fazendo a leitura)... Isto é: você não ensina propriamente a
ler, a não ser que o outro leia, mas o que você pode é testemunhar ao aluno
como você lê e o seu testemunho é eminentemente pedagógico (FREIRE,
1982, p.8).

Com base no exposto acima, ainda há muito caminho a ser percorrido para
a formação de um bom leitor, tendo em vista condições sociais que os alunos estão
inseridos. Neste sentido, a proposta aqui arrolada vem como uma possibilidade de
reflexão/prática sobre o estado atual de uma “alfabetização leitora” para este público
específico.

4 A INTERVENÇÃO: PRÁTICA E REFLEXÃO

Pode-se dizer que narrar faz parte da essência humana. Desde sempre
houve a necessidade de se contar e de se ouvir histórias, fossem elas de aventura,
de terror, de medo, de amor... Contar e ouvir histórias faz com que o ser humano
se reconheça no mundo e, ao mesmo tempo, entenda o funcionamento do que se
concebe como mundo, haja vista a multiplicidade e pluralidade de narrativas que
constituem o indivíduo ao longo de sua vida.
É sabido que, as narrativas nasceram da oralidade e que, em épocas
remotas, mais necessariamente na época anterior à ascensão da burguesia e da
compilação dos contos realizadas pelos Irmãos Grimm, não se distinguiam adultos
de crianças. Pode-se dizer que, neste sentido, em épocas mais remotas, elas,as
narrativas, eram os “causos” narrados e ouvidos por grupos de pessoas que se
reuniam e que não tinham a preocupação do teor real ou imaginário daquilo que
contavam. Pelo fato da não distinção entre faixas etárias, estes causos traziam
imagens de extrema violência.
Após a ascensão da burguesia, em que a família passa a considerar o papel
da mulher como mãe e a criança como um ser diferenciado, a configuração da
sociedade da época – por questões do mercado – exige uma população mais letrada
e, então, criam-se instituições escolares para atender esta demanda. Por causa de
toda esta reconfiguração social, o mercado livreiro ganha impulso e as narrativas
(fábulas de La Fontaine, contos maravilhosos, romances adocicados) passam a
pertencer aos livros, já com uma preocupação ao público a que se dirigia, sem que
com isso, se extinguissem os “causos oralizados”.
A partir de toda esta mudança social, que procuramos demonstrar de forma
breve, a escola passa a ser o lugar em que a leitura se efetiva, mais
especificamente na sociedade brasileira em que não há uma prática social da leitura
literária.
Por isso, o tema leitura tem sido foco de estudo no processo educacional há
alguns anos, visto que esta é um instrumento para a vida que contribui na aquisição
de conhecimentos. É de suma importância para o desenvolvimento humano e
compreensão de mundo, pois uma pessoa que lê tende a ser mais crítico, criativo,
adquirindo assim as diferentes formas de expressão e de linguagem.
Um dos principais objetivos da escola é formar um cidadão crítico e reflexivo,
colaborando para torná-lo um ser ativo numa sociedade de tantas exigências como
a atual. O projeto de intervenção pedagógica “A LEITURA PARA ALUNOS DA EJA:
Com foco para a formação do leitor - 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental”, foi
desenvolvido no CEEBJA de Mandaguaçu-Pr, e teve como público alvo alunos do 6°
ao 9° ano do ensino fundamental, com 32 h/a de realização.
O projeto objetivou desenvolver uma prática de leitura com o gênero contos
literários, porque é uma narrativa curta, com poucos personagens, tempo e espaços
reduzidos, o que o torna adequado para a iniciação da leitura literária aos alunos da
EJA, considerando que a maioria deles passou muito tempo afastada do ambiente
escolar.
Para assegurar que esse trabalho fosse realmente efetivo e com êxitos, o
mesmo foi desenvolvido por meio de atividades sequenciais, com estratégias de
leitura proporcionando atividades que pudessem estimular a compreensão leitora.
Os objetivos almejados foram: apresentar a narrativa e os gêneros textuais
narrativos, mostrar como esses gêneros fazem parte do dia-a-dia, aproximar o
autor/leitor através de estratégias de leitura, promover a compreensão linguística e
compreensão do tema.
Em um primeiro momento, foi realizada uma discussão para sondagem das
opiniões dos alunos sobre a leitura. A discussão foi direcionada para esclarecer que
a leitura, além de prazer, aquisição de informações, é formadora do discurso e para
que percebessem como as estratégias de leitura são importantes para ajudar o leitor
na compreensão de textos.
No segundo momento, foram apresentados um poema narrativo, uma crônica
e uma música narrativa, para mostrar a presença da narrativa em nosso cotidiano.
No terceiro momento foi realizada uma atividade oral de contação de causos
para vivenciar a experiência da oralidade, visto que a narrativa surgiu na oralidade,
num tempo em que a escrita era domínio de muitos poucos letrados
Este momento do trabalho foi muito interessante. O professor apresentou
alguns causos aos alunos, que também pesquisaram outros. Como todos os alunos
eram adultos e o período de aula noturno, fomos a uma praça pública da cidade,
onde todos puderam contar e ouvir histórias, e assim,. sentir um pouco dessa prática
tão antiga e prazerosa.
Na sequência foi apresentado o gênero conto literário. Deter-nos-emos neste
momento do projeto de intervenção para uma análise e reflexão mais acurada.
Neste trabalho constou a leitura de dois contos: “O Retrato”, escrito por Artur
Azevedo e “Uma Vela Para Dario”, escrito por Dalton Trevisan.
Neste artigo, será apresentado o trabalho desenvolvido com o conto “O
Retrato” de Artur Azevedo, conforme segue abaixo.
Os procedimentos metodológicos se deram da seguinte forma:
• A promoção da exposição oral do conhecimento que os alunos possuíam
sobre o gênero conto.
• Momentos de leitura silenciosa, oral e compartilhada.
• Sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos a respeito dos textos lidos.
• Identificação da temática abordada nos textos e sua relação com a vida e com
as experiências vividas.
• Desenvolvimento das atividades de compreensão leitora.
• Apresentação seus elementos estruturais e literários.
• Aplicação de estratégias que colaborassem para uma leitura crítica.
• Estabelecimento de objetivos de leitura.
• Explicitação da função poética da linguagem.
• Levantamento de significado de vocabulários desconhecidos dos alunos.
• Solicitação aos alunos de uma produção escrita, aplicando os conhecimentos
adquiridos ao longo do desenvolvimento do projeto.
Finalizando este momento de apresentação do gênero conto, iniciaram-se
as atividades com o texto “O Retrato”, escrito por Artur Azevedo. Porém, antes da
leitura, levantaram-se as seguintes hipóteses: a) O que sugere o título? b) Sobre o
que você imagina que irá ler no texto?
Diante destes questionamentos, algumas das colocações feitas pelos alunos
foram as seguintes:
A) Que poderia ser o retrato de alguém falecido ou que havia partido para
longe há muito tempo.
B) A foto de um momento marcante como o nascimento de alguém, uma
viagem, um casamento.
C) O retrato de uma família, e algum fato marcante a respeito seria narrado.
Com essas colocações, pode-se observar que a simbologia de um retrato
para as pessoas em geral, é o registro de alguém ou de um fato marcante em
suas vidas.
Após o levantamento das hipóteses, os alunos leram uma parte do texto (até
o 7º parágrafo), para continuidade da atividade.
Segue parte do texto:

O meu querido amigo Emílio Rouède, que há dias faleceu, foi um


homem espirituoso, que forneceria matéria para muitos contos ligeiros.
Em vez de inventar uma anedota, vou contar-vos uma historieta em
que ele figurou, e que tem, por conseguinte, o mérito de ser autêntica.
A coisa passou-se há um quarto de século pouco mais ou menos.
Emílio Rouède tinha se casado havia poucos meses, e estava
estabelecido com fotografia na Rua dos Ourives, numa casa que foi
demolida quando se tratou de construir a Avenida Central.
Um dia Mme. Rouède, que era uma linda senhora, saiu sozinha à rua,
e foi acompanhada por um impertinente que, vendo-a sorrir, supôs que
ela sorrisse não dele mas para ele.
Ela entendeu que o mais prudente era voltar para casa, e assim fez; o
conquistador, porém, continuou a segui-la imperturbavelmente.
Chegando à porta da casa, a moça olhou para trás, a fim de
verificar se continuava a perseguição, e esse movimento animou o
homenzinho, ao que parece: quando ela entrou, ele entrou também;
ela subiu a escada, ele também subiu.
Emilio Rouède estava no atelier, de blusa, a trabalhar, e, ouvindo os
passos de sua esposa, foi esperá-la no topo da escada.

FONTE: Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000100.pdf. Acesso em:


12/08/2013.

Com essa leitura, os seguintes questionamentos foram feitos aos alunos: O


que pode ter acontecido com esses personagens? Continue o conto usando sua
criatividade e imaginação dando um desfecho para essa situação.
Abaixo segue uma produção do desfecho do conto “O Retrato” escrita por
uma aluna que chamaremos pelo pseudônimo “Lisbella”.
“O conquistador seguindo-a até sua casa, deparou-se com Emilio, o marido,
e ficou surpreso ao ver que aquela moça tão linda era comprometida. Constrangido
ele tratou logo de dizer que a acompanhou até em casa porque era perigoso para
uma moça tão bonita andar sozinha”.
Com essa produção, percebe-se que a aluna compreendeu a essência do
texto: O conquistador fica sem ação diante da atitude do marido. Também fica claro
que a mesma entendeu que a época na qual o texto se localiza, não era de costume
a mulher sair de casa desacompanhada
Posteriormente, o texto foi lido na íntegra. Segue o restante do texto.

O sujeito, quando reparou que havia ali um homem, não teve mais
tempo de fugir. Mme. Rouède apresentou-o ao marido:
- Aqui tens este senhor que me tem acompanhado por toda parte, e
entrou comigo. Não sei o que pretende.
- Sei eu, acudiu prontamente o fotógrafo. - Pretende tirar o retrato; não
pode ser outra coisa.
E voltando-se para o desconhecido, perguntou-lhe olhando por cima
dos óculos, segundo o seu costume.
- Busto ou corpo inteiro?
O pobre diabo, que não sabia mais de que freguesia era, gaguejou:
- Busto... busto...
- Faça favor.
E levou uma hora a tirar-lhe o retrato que foi pago, ficando o retratado
de ir buscá-lo daí a três ou quatro dias. Este queria apenas meia
dúzia, mas Emílio Rouede convenceu-o de que devia encomendar
duas dúzias e meia.
Quando o freguês saiu, Emílio Rouède disse à esposa, que ria a
bandeiras despregadas:
- Tenho pena de não ser dentista, em vez de fotógrafo!
Escusado é dizer que os retratos ficaram na fotografia.

FONTE: Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000100.pdf. Acesso em:


12/08/2013

Após a leitura desta parte do texto, levantou-se a seguinte discussão: A


conclusão dessa história lhe surpreendeu? Por quê? Quais os termos usados pelo
narrador para se referir ao homem que perseguia Mme. Rouède? Qual o sentido
dessas palavras nesse contexto? O que você achou da atitude do marido em
relação ao “sujeito”? “-Tenho pena de não ser dentista, em vez de fotógrafo!” Qual a
intenção de Emilio Rouède ao dizer isso?
Diante destes questionamentos, observou-se que o desfecho dessa
história surpreendeu a todos os alunos, pois era completamente diferente do
que imaginavam. Também concluíram que Emílio Rouède era um homem frio e
vingativo, por sua fala final.
O estudo do vocabulário também foi feito, ou seja, foi solicitado aos alunos
que grifassem todas as palavras desconhecidas e procurassem o seu significado no
dicionário.
Na sequência, foram estudados os elementos da narrativa por meio dos
seguintes questionamentos: a) Quem são as personagens participantes desse
conto? b) Descreva cada um dos personagens. c) Em quais lugares os fatos
acontecem? d) Quais são as marcas de tempo encontradas no texto? e) Em “O
Retrato” o narrador é ativo, participante ou um observador que conta algo ocorrido
com outros? E que diferença isso faz na interpretação do texto? f) Copie do texto um
trecho que indique a presença do narrador.
Com relação às pessoas do discurso do texto, o professor apresentou
o conceito e foi trabalhado por meio dos seguintes questionamentos: a) Retire
do texto “O Retrato” dois trechos que apresentem discurso direto. b) Retire do
texto dois trechos que apresentem discurso indireto. c) Tente descrever cada
personagem observando a fala de cada um. d) Qual a importância desses discursos
na constituição da história? Nesse texto notou-se a presença de quatro vozes ou 4
discursos: a do narrador, Emilio Rouède, Mme Rouède e a do “sujeito”. Diante disso,
a proposta é identificar quem fala nos seguintes trechos: 1) – Busto ou corpo inteiro?
2) – Aqui tens este senhor que me tem acompanhado por toda parte, e entrou
consigo. Não sei o que pretende. 3) – Tenho pena de não ser dentista, em vez de
fotógrafo! 4) – O sujeito, quando reparou que havia ali um homem, não teve mais
tempo de fugir. 5) – Busto... busto... 6) Ela entendeu que o mais prudente era voltar
para casa, e assim fez; 7) – Faça favor.
Diante do que foi exposto aqui, procurou-se demonstrar a abordagem do
texto de uma forma que contemplasse o(s) sentido(s), a estrutura e a língua, pois
que a leitura é um processo que demanda do leitor uma habilidade de trabalho de
decodificação, de interpretação e de compreensão, e, por meio desta habilidade (re)
conhece o mundo e se (re)conhece no mundo.

6. CONCLUSÃO

Após a implementação do projeto, constatou-se que é de fundamental


importância as estratégias traçadas pelo professor, uma vez que uma aula bem
articulada e planejada resulta em excelentes resultados. Contudo, pode-se dizer,
também, a importância e relevância de o professor ter tempo para o preparo das
aulas e ter oportunidades de estar participando de programas que propiciem
momentos de leitura e de debates sobre o ensino e sobre a sua prática.
Por se tratar de educação de jovens e adultos, notou-se também que
a experiência de vida dos mesmos contribui muito nas reflexões e debates do
conteúdo trabalhado, tanto no que diz respeito aos sentidos produzidos sobre o
social quanto à pertinência dos estudos teóricos.
Outro ponto muito relevante é a questão do número de alunos em sala de
aula. Na EJA, o número de educandos é restrito propiciando assim uma maior
interação/integração por parte de todos.
A partir de todos estes elementos arrolados acima, podemos dizer que foi
possível constatar que a leitura é de suma importância na vida do ser humano, seja
ela no período escolar ou em qualquer fase da vida, visto que a leitura auxilia o
indivíduo na percepção de si mesmo e da sociedade; é um instrumento
imprescindível na vida do ser humano, que contribui para a aquisição de
conhecimentos e ampliação da visão de mundo, possibilitando sua inserção na vida
social como ser atuante. Amplia a comunicação entre os indivíduos, mobiliza novos
saberes e conhecimentos, possibilita novos olhares e atitudes em seu cotidiano,
transforma um simples ledor (aquele que decifra a língua) em leitor (aquele que
produz sentidos com e pela língua).
Por isso, a necessidade de um trabalho pensado especificamente para esse
público, no que diz respeito à seleção de material, estratégia e planejamento de aula
de leitura, possibilita uma resposta mais acertada da escola com relação à
sociedade. Dito de outro modo, o planejamento da prática de leitura na escola,
principalmente direcionada a este público, cumpre um papel social, qual seja, a (re)
inserção destes indivíduos como sujeitos sociais na sociedade na qual se encontra e
da qual fazem parte.
Na análise dos resultados, podemos afirmar que este projeto de intervenção
na EJA contribuiu de forma relevante para este alunado em específico, pois uma
leitura contextualizada e diferenciada pode promover um entendimento apropriado,
construindo ou reconstruindo o saber, proporcionando oportunidades aos mesmos
da inclusão de fato na sociedade letrada.
Por fim, cabe ressaltar que é de suma importância o hábito da leitura para
todas as pessoas, seja ela de qual idade for. Além disso, ao ler se produz sentidos e
ao produzi-los, o leitor se questiona e questiona o mundo.
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