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Revisão II – 1º EM – 2º trimestre – 2021

A confusão entre o eu lírico e o autor, elementos diversos na poesia, pode


comprometer o entendimento dos textos literários.

O eu lírico é a voz que se manifesta no poema


e nem sempre é a mesma voz de seu autor
Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
 

Fernando Pessoa
 

O poema que você leu agora é de autoria daquele que é considerado o maior
poeta da língua portuguesa: Fernando Pessoa. Pessoa provou, com seus
vários heterônimos, que o poeta não cabe no poema; sua genialidade fez
nascer outros tipos, diferentes abordagens e estilos. Talvez Fernando Pessoa
seja a maior prova de que o poeta entrega seus versos para o verdadeiro dono
do poema: o eu lírico.

Você sabe o que é eu lírico? Existem outras denominações,


como eu poético e sujeito lírico, mas o termo mais conhecido e divulgado é
este: eu lírico. Esse termo designa uma espécie de narrador do poema, e
assim seria chamado se não estivéssemos falando dos textos literários,
sobretudo do gênero lírico. Quando você lê um poema e percebe a
manifestação de um “eu literário”, aquela voz, aquela personagem presente
nos versos, não é necessariamente o autor real do poema.
É preciso compreender a diferença entre o poeta e o eu lírico. Não devemos
confundir a pessoa real com a entidade fictícia. Claro que o poema não está
isento da subjetividade de seu criador, mas no momento da escrita uma nova
entidade nasce, desprendida da lógica e da compreensão de si mesmo, fatores
que nunca abandonam quem escreve os versos (autor/poeta). Observe a
construção do eu lírico na canção de Chico Buarque:
“Se acaso me quiseres 
Sou dessas mulheres que só dizem sim
Por uma coisa à toa 
Uma noitada boa 
Um cinema, um botequim 
E se tiveres renda 
Aceito uma prenda 
Qualquer coisa assim 
Como uma pedra falsa 
Um sonho de valsa 
Ou um corte de cetim 
E eu te farei as vontades 
Direi meias verdades 
Sempre à meia luz 
E te farei, vaidoso, supor 
Que és o maior e que me possuis 
Mas na manhã seguinte 
Não conta até vinte, te afasta de mim 
Pois já não vales nada 
És página virada 
Descartada do meu folhetim”.  
(Folhetim – Chico Buarque)

https://youtu.be/lUU13GTlivU
Temos, em algumas canções de Chico Buarque (vide Com açúcar, com
afeto; Atrás da porta, Iolanda, Anos Dourados, Teresinha, Palavra de
mulher  e tantas outras), um exemplo claro de manifestação do eu lírico. No
caso das canções citadas, o eu lírico fica ainda mais evidente, pois a despeito
do poeta, nos versos temos a presença de um eu lírico feminino, que retrata
diversos temas sob o ponto de vista das mulheres. Não fica claro, então, que
o poeta e o eu lírico são elementos diferentes no gênero lírico?

Podemos concluir que o eu lírico é a voz que fala no poema e nem sempre
essa voz equivale à voz do autor, que pode vivenciar outras experiências, que
não as do poeta (como fica claro na canção Folhetim, de Chico Buarque). O
eu lírico é o recurso que possibilita a criatividade do autor. Já pensou se ele
não existisse? Estaria eliminada a criatividade dos sentimentos poéticos.
Graças a esse importante e interessante elemento, os sentidos são
pluralizados, o que torna os textos poéticos tão peculiares e belos.

Gênero Dramático:
Auto da Compadecida

Trechos do Filme:
https://youtu.be/4lRpURwUzU4

https://youtu.be/4i327tfYccA
O Autor: Ariano Suassuna fala de sua obra “O auto da Compadecida”.

https://youtu.be/SisBCTYHJ1I

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