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A trajetória dos bandolins de Jacob


22/10/2015

SOBRE O ICCA A trajetória dos bandolins de Jacob, por Técio Ribeiro e Joel Nascimento.
Por Joel Nascimento
RICARDO CRAVO ALBIN
OS BANDOLINS DE JACOB – A RESTAURAÇÃO
ATIVIDADES
Por volta do ano 2000 fui procurado por Joel Nascimento que me questionou, em nome de Elena, filha de Jacob Bittencourt,
SERVIÇOS sobre a possibilidade da execução de trabalho de manutenção nos bandolins utilizados pelo mestre e que estavam sem
funcionamento desde o seu falecimento, guardados na casa da filha. Após análise, os bandolins ficaram em minha oficina
PUBLICAÇÕES DO ICCA para uma restauração. O desejo de Elena era que os instrumentos fossem doados ao MIS (Museu da Imagem e do Som, do
Rio de Janeiro.
PROJETOS
Joel Nascimento acompanhou de perto todo o trabalho, me orientando, sempre emocionado com a preservação da memória
RÁDIO CRAVO ALBIN do instrumento que o mestre escolheu como companheiro de vida. Alias, tenho que dizer que Joel Nascimento foi o músico
que me ensinou muito sobre o instrumento, e o considero co-responsável pelos resultados obtidos em minhas construções de
COLABORE COM O ICCA bandolins.

Os bandolins foram muito bem construídos, merecendo destaque o “primeiro – o menor”, o mais bonito e com material mais
EVENTOS CULTURAIS
nobre que o “segundo”. O primeiro bandolim foi feito pelo luthier Vicente, na loja “Bandolim de Ouro”, por volta dos anos 30,
no Rio de Janeiro. O segundo foi feito pelo luthier Luso Silva. O segundo é o mais novo instrumento e estava em melhor
ACONTECE
estado de conservação, tendo sido necessário apenas limpeza e polimento. Já o primeiro, tinha algumas rachaduras no tampo
e duas tarraxas com as madrepérolas das peças quebradas. Joel prontamente se propôs a pagar o material gasto na
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restauração, já que tinha me comprometido a realizar o trabalho sem a cobrança de honorários, em consideração a amizade
que sempre tivemos e em nome da memória de Jacob.

Quando finalizei o trabalho, chamei o Joel Nascimento, que teve a honra de encordoar os bandolins depois que Jacob se foi.
Foi uma tarde bem emocionante para nós – gravada em vídeo. Não entreguei os instrumentos neste dia, porque ainda
precisava de regulagens nas cordas. Nesta época, fiz contato com o Instituto Jacob do Bandolim, sob o comando de
Sérgio Prata, que estava também interessado no andamento dos trabalhos. No dia que entreguei os bandolins nas mãos do
Joel Nascimento compareceu à minha oficina o Déo Rian. Déo e Joel relembraram músicas do mestre Jacob. Neste dia, além
do bandolim, Joel mostrou seus dotes tocando violão acompanhando Déo ao bandolim – tudo documentado em
vídeo. Lembro-me de Joel saindo da minha casa com os olhos marejados de emoção, sentindo de verdade a presença física
daquele que alavancou o bandolim brasileiro. Pouco depois, tive o prazer de ser apresentado pessoalmente à Elena na festa
dos 70 anos de Joel Nascimento. Na ocasião, fechamos um acordo verbal para a manutenção periódica dos instrumentos de
seu pai, sempre sob a responsabilidade de Joel Nascimento, que gozava de sua total confiança.

Após algum tempo, o bandolim preferido de Jacob, o nº1, retornou a minha oficina para novo trabalho de restauração.
Apresentava deformação importante na boca e no tampo, sugerindo que havia sido exposto a forte calor e umidade. Sempre
questionamos o que poderia ter causado o grave empeno – existia uma história de que os bandolins teriam sido
emprestados para uma seção de fotografias, o que me fez Imaginar o forte calor dos refletores agindo sobre o instrumento.

Naquela época, também, sua filha Elena mudou-se de residência, podendo ter acontecido tal exposição.

Após minuciosa análise considerei o instrumento impróprio para uso, devido à deformidade sofrida, desta forma, sugeri ao
Joel que conversasse com Elena sobre um possível tombamento para preservação do instrumento. Fui questionado por Joel
sobre a possibilidade de trocar dois leques e travessas internas do bandolim, contudo, isso o transformaria em outro
instrumento e optamos definitivamente, com aval de Elena, pelo tombamento. Redigi então, o termo explicativo justificando a
ação e este documento ficou guardado no estojo, junto ao bandolim, pelo menos até o falecimento de Elena, em 2011, desde
então, não tive mais contato com os instrumentos.

Tércio Ribeiro Souza – Rio de Janeiro, outubro de 2015

COMPLEMENTO AO DEPOIMENTO DO LUTHIER TÉCIO RIBEIRO

Entendo que o depoimento do luthier Tércio Ribeiro, juntamente com o relatado por mim, leva aos aficionados de Jacob do
Bandolim importantes informações sobre os instrumentos que fizeram parte da trajetória do renomado músico.

É sabido que Jacob em 1967 deixou de tocar no bandolim nº 1, que era o de sua preferência, tendo gravado com ele o LP
“Vibrações”, que seria o último no referido instrumento.

Elena, sua filha, passados alguns anos da morte do pai, me confiou o encaminhamento para a restauração de seus bandolins
que eram classificados como bandolim “nº 1” e “nº 2”. Tal indicação me trouxe uma profunda emoção devido a ser, a meu ver,
os instrumentos, que além de fazer parte do seu corpo, eram portadores da sua alma, do coração e da arte do renomado
músico.

Levei os instrumentos ao competente luthier Tércio Ribeiro, que dentro da sua sensibilidade, abraçou com grande respeito e
carinho, sem cobrar honorários, a restauração dos bandolins. Depois de algum tempo os instrumentos ficaram prontos e após
testá-los foram entregues à Elena.

Em 2001, por ocasião da apresentação do espetáculo gravado ao vivo na Sala Cecília Meirelles, intitulado “Jacob e Seus
Bandolins”, Elena cedeu os bandolins para alguns solistas tocarem. Eu tive a honra de gravar o choro “Vibrações” no
instrumento nº1, o mesmo estava em perfeitas condições como mostra a gravação.

Após algum tempo, o bandolim nº 1 apresentou problemas, sofrendo empeno da caixa acústica, abertura de rachaduras no
tampo e deformação acentuada na boca. Novamente levado aos cuidados do luthier Tércio Ribeiro foi feita uma nova
restauração. Na ocasião, ele advertiu que o instrumento não poderia ser mais usado devido à fragilidade que se apossou do
mesmo, sugerindo o seu tombamento. Elena foi consultada aprovando a medida e o documento redigido por Tércio tombando

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o bandolim.

Nesta ocasião, Elena me convidou para dar assistência aos instrumentos do pai, e periodicamente, fazia visitas a sua casa e
na vistoria tinha o cuidado de não afinar o bandolim nº 1, para não forçá-lo, obedecendo ao tombamento.

É importante relatar que aproximadamente dois meses antes do falecimento de Elena, estive em sua casa para a visita de
rotina. Ela, entre outras coisas, manifestou o desejo de doar os bandolins do pai para o MIS, afirmando também, que gostaria
de fazer um disco só com os instrumentos do mesmo.

Após o falecimento de Elena, em 2011, os instrumentos foram levados para o Instituto Jacob do Bandolim, assim como todo o
acervo de Jacob do Bandolim.

No ano de 2014 o bandolim nº 1 foi doado ao Museu Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

Em minha andança pela Europa visitei os instrumentos de Chopin, Beethoven, Mozart, entre outros, todos estavam tombados
em respeito à genialidade dos mesmos.

Joel Nascimento – Rio de Janeiro, outubro de 2015

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