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A cidade de amanhã
Mobilização, ocupação e apropriação do espaço público
Laura Sobral
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consequentes injustiças sociais promovidas pela cultura do consumo na
Europa do pós-guerra, nasce a Internacional Situacionista – IS. A IS
elaborou uma poética da cidade com novas formas de representação e de
cartografia dos espaços urbanos e formas de agitação e ações coletivas,
destinadas a promover o uso livre e a livre transformação do meio urbano.
Com seu projeto vanguardista de fusão entre arte e vida, criou situações
definidas como “momentos da vida concretamente e deliberadamente
contruídos por uma organização coletiva de uma ambiência unitária e um
jogo de eventos” (3).
Ser livre
Quais são os modos de organização coletivos que têm como resultado uma
vida cotidiana livre?
Não à toa foram eles os ocupados na virada dos 1960 para os 1970 em Paris
e são eles os disputados hoje nas grandes cidades do mundo.
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Cidades outras
A cidade livre seria uma cidade de códigos abertos e nela não haveria
propriedade, mas direito de uso de seus espaços. A cidade toda seria
pública, e mais que pública, comum.
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produtiva à participação política, sem perder de vista a ludicidade
própria da vida social.
Emergência
Desde 2008 o mundo tem visto uma série de movimentos nas ruas pelos bens
comuns urbanos e justiça socioespacial. São ocupações pontuais,
permanentes, manifestações, intervenções artísticas, que tomam o espaço
público e o reclamam para o povo.
As nossas
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No Brasil, as manifestações e intervenções de rua ganharam novos adeptos
e uma nova e mais ampla abordagem midiática, especialmente depois de
2013, quando multidões tomaram as ruas de diferentes cidades demonstrando
insatisfação com o sistema vigente e suas repressões. O disparador da
tomada das ruas foi o aumento de 20 centavos na passagem do transporte
público. Então o MPL – Movimento Passe Livre convocou a população às ruas
pela agenda mais ampla do direito à cidade nele incluso os direitos ao
acesso e à mobilidade. Brutalmente reprimida a manifestação, se fez notar
o firme controle das ruas pela “manutenção da ordem”, o que fez com que
as manifestações diárias subsequentes fossem cada vez maiores e
polifônicas. “Não é pelos 20 centavos” diziam os cartazes nas ruas.
Hoje pelo país todo são muitos os Praias do Capibaribe, Parques Augustas,
Ocupe Estelitas, Resiste Isidoras, Praias da Estação, Movimentos Boa
Praça, OcupaPL que, de forma semelhante à A Batata Precisa de Você, em
São Paulo, movimento do qual faço parte, ocupam espaços públicos e buscam
pela hierarquia não entre pessoas, mas de prioridades.
Muitos movimentos atuais são ensaios de autogestão que tem como norte que
cada agente influencie as decisões proporcionalmente ao quanto ele é
afetado, todos tendo fácil acesso às avaliações relevantes dos resultados
esperados. Se persegue que cada agente do processo tenha conhecimento
geral e segurança intelectual suficientes para entender as avaliações e
desenvolver suas preferências sob sua luz. A organização da sociedade
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autogerida idealmente deve garantir que as fontes das análises, que
tenham relação com a tomada de decisão, sejam imparciais, diversas e bem
testadas.
Mobiliário urbano construído pela sociedade civil, Largo da Batata, São Paulo
Foto Abilio Guerra
Bordas
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Apesar das dificuldades, ou até incentivadas por elas, se multiplicam
cada vez mais experiências inovadoras de gestão nos espaços públicos das
periferias, muitas vezes não ganhando suficiente repercussão ou suporte.
[...]
[...]
Amanhã
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que pretendia fechar 92 escolas e transferir mais de 300 mil alunos da
rede pública sob o argumento de que era necessária uma separação em
ciclos únicos (Fundamentais I e II e Médio) para melhorar o desempenho
escolar. Os jovens ocuparam gradualmente cerca de 200 escolas estaduais,
se posicionando fortemente contra a proposta e, principalmente, à falta
de diálogo sobre sua educação imposta pelas autoridades públicas.
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Mobiliário urbano construído pela sociedade civil, Largo da Batata, São Paulo
Foto Abilio Guerra
notas
1
ANDREOTTI, Libero. Le grand jeu à venir, textes situationnistes. Paris,
Editions de La Villette, 2008.
2
WISNIK, Guilherme. Temos espaço público? . Revista SescTV 10/2015
<www.sescsp.org.br/online/artigo/9498_TEMOS+ESPACO+PUBLICO>.
3
ANDREOTTI, Libero. Op. cit.
4
CALVINO, Italo. Cidades invisíveis. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.
5
Idem, ibidem.
6
CASTORIADIS, Cornelius. Socialismo ou barbárie – o conteúdo do socialismo. São
Paulo, Editora Brasiliense, 1983.
7
ANDREOTTI, Libero. Op. cit.
8
PALLAMIN, Vera. Formas urbanas em mutação (Entrevista com Otília Arantes
realizada em out. 2013). Revista Eptic Online, vol. 16, n. 1, jan./abr. 2014,
p. 58-67 <www.fau.usp.br/wp-
content/uploads/2015/09/entrevista_otilia_arantes.pdf>
9
LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2008.
10
Website Rechaim The Streets London <http://rts.gn.apc.org>.
11
ANDREOTTI, Libero. Op. cit.
12
BEY, Hackim. Zonas Autonomas Temporárias. 1990
<www.mom.arq.ufmg.br/mom/arq_interface/4a_aula/Hakim_Bey_TAZ.pdf>
13
SOBRAL, Laura; VINCINI, Lorena; KARPISCHEK, Tatiana (Org.). Ocupe Largo da
Batata – Como fazer ocupações no Espaço Público – A Batata precisa de
Você.2015. <http://largodabatata.com.br/publicacao>; SOBRAL, Laura. O Largo da
Batata Precisa de Você. Ocupação e apropriação do espaço público. Minha Cidade,
São Paulo, ano 14, n. 166.06, Vitruvius, maio 2014
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.166/5176>.
14
BOUFLEUR, Rodrigo. Fundamentos da gambiarra: a improvisação utilitária
contemporânea e seu contexto socioeconômico. Tese de doutorado. São Paulo, FAU
USP, 2013.
sobre a autora
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Laura Sobral é arquiteta e urbanista (FAU USP), com intercâmbio na Universidad
Politecnica de Madrid. Atualmente é mestranda na Universidade de São Paulo,
onde pesquisa sobre a produção social dos espaços públicos e comuns. Em janeiro
de 2014 teve a iniciativa do A Batata Precisa de Você, movimento de ocupação
regular do Largo da Batata, São Paulo SP.
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