Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
1. Introdução
1
Doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Mestra
em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. E mail:
natalia.oliveira@ufrgs.br.
2
A Amazônia Legal compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão, compondo uma área de aproximadamente
5.000.000 km2. Apesar de possuir trechos do bioma amazônico, em Nova Xavantina predomina
o Cerrado.
3
3
Segundo dados do Censo 2010 (IBGE, 2011), a cidade de Nova Xavantina possui 19.082
habitantes.
4
Há inúmeras pessoas na cidade que vieram de outros municípios e que não pertencem a
estes grupos, contudo, essas migrações foram espontâneas, diferentes da migração
seminômade dos Xavante e das migrações por projetos nacionalistas como dos Pioneiros e
Gaúchos.
5
A pesquisa de campo foi realizada entre os anos de 2006 a 2010 (realização de pesquisa de
graduação e de mestrado) e de 2012 em diante, com a pesquisa de doutorado. O trabalho de
graduação foi defendido na Universidade do Estado de Mato Grosso, no curso de Bacharelado
em Turismo e teve como título: "Lugares de memória, lembranças e esquecimentos: um novo
olhar para o turismo em Nova Xavantina". Já o mestrado foi realizado no curso de Ciências
Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, com a dissertação intitulada "Xavante,
Pioneiros e Gaúchos: identidade e sociabilidade em Nova Xavantina". Já o doutorado foi
4
7
Pouco que se conhece sobre a história dos Xavante, sabe-se que até início do século XIX
eles viviam no norte de Goiás. Os antigos Xavante se declaravam provenientes do grande mar,
Öwawẽ, de onde teriam migrado em tempos imemoráveis para o interior do Brasil, rumo aos
grandes planaltos (MAYBURY-LEWIS, 1974; LACHNITT, 2003).
8
8
Para maiores informações sobre o Xavante na cidade de Nova Xavantina, ver: OLIVEIRA, N.
A. de. Ser Xavante, morar e estudar na cidade. In: ANPOCS, 2012, Águas de Lindoia. Anais
eletrônicos. Disponível em:
<http://www.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=7967&Item
id=76> . Acesso em: 02 jun. 2015.
9
3.2 Pioneiros
A Marcha para o Oeste foi uma grande campanha de migração para o
interior do país e neste projeto estavam contempladas a criação de colônias
agrícolas em diferentes estados — Amazonas, Pará, Mato Grosso, Paraná e
Goiás — “destinadas a receber e fixar, como proprietários rurais, cidadãos
brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os trabalhos
agrícolas (...)” (Decreto n° 3.059, de 14 de fevereiro de 1941).
Segundo Esterci (1997, p. 4), com o objetivo de incentivar a migração, o
presidente Vargas viajou a diferentes locais, no quais afirmava que “(...) o
programa do ‘Rumo para o Oeste’ é o reatamento da campanha dos
9
Termo Xavante que significa homem branco.
10
Entrevista concedida pelo Xavante Ari.
10
3.3 Gaúchos
A política ocupacional que levou migrantes gaúchos a região foi lançada
pelo governo federal durante a ditadura militar, que tinha como objetivo
promover a migração para a Amazônia Legal brasileira. Naquele momento era
necessário abafar as tensões sociais por terra que iniciavam na região Sul do
país e, para tanto, o governo fez uso de projetos de colonização que levariam
os sulistas para conquistar o El dourado na região Amazônica, onde, de acordo
12
Entrevista concedida pelo Pioneiro Antônio.
12
(...) o pessoal já existia aqui também, já morava, já andava nessa parte toda
né. Mas como que veio essas pessoas assim, do exterior, toda que vinha
assim, atacando, mais pra baixo, mais pra baixo, descendo assim né, porque
os índios, eles já tinham existido muito anos, aqui dentro dessa região toda do
Brasil. Então eu acho que aqui já existia Xavantina (Xavante João).
13
Entrevista concedida pelo Xavante João.
15
contanto que os Gaúchos não tentem ter para si o pioneirismo que “pertence” a
eles. Os Pioneiros reconhecem que o período da vinda dos migrantes Gaúchos
para a região foi um tempo próspero para a cidade, pois havia emprego e
ocorreu, a partir de então, uma maior movimentação de pessoas, além do
desenvolvimento financeiro na região. Sobre esse desenvolvimento, comenta
seu Antônio14
14
Entrevista concedida pelo Pioneiro Antônio.
16
(...) com esses aí havia uma questão assim, o pessoal que veio do
sul, esses que vieram pela colonizadora, eles consideravam o povo
daqui preguiçoso, fazia pouco, já existia uma certa discriminação,
espécie de preconceito, não assim que influenciasse de ter assim
uma inimizade, um confronto por parte deles que moravam aqui.
Havia num certo momento um elogio, porque aí eles viram, de uma
hora pra outra um grande movimento, que aqui era pacato, era
parado, virou nesse movimento de caminhões, de tratores, de
máquinas, movimento na cidade, comércio crescendo, influenciando,
abrindo, aumentando, então eles elogiavam, né, o trabalho desses
Gaúchos, de Pioneiros, de desbravadores, que enfrenta os desafios,
ao mesmo tempo também criticavam que havia uma certa
discriminação, porque aí o pessoal que veio do sul se achava assim
na condição do poder, eu posso fazer, vou fazer, dou conta de fazer,
essas coisa tudo. Então existia esse negócio assim, ao mesmo tempo
em que eles elogiavam e que viram aquele movimento tudo, mas
também havia uma certa crítica, e aí depois, também, quando
começou a quebrar ficou assim na memória do povo de que o
Gaúcho, o sulista que veio era “nó cego”, então ficou também
conhecido assim, sendo um preconceito, né, que no fundo, no fundo
15
é um preconceito, né (Gaúcho Roberto) (grifo nosso).
15
Entrevista concedida pelo Gaúcho Roberto.
17
5. Considerações finais
Referências
ASSMANN, A. Cultural memory and Western civilization: functions, media,
archives. New York: Cambridge University Press, 2011.
______. Communicative and cultural memory. In: ERLL, A.; NÜNNIG, A. (edit.).
Cultural memory studies: an international and interdisciplinary handbook. Berlin:
Walter de Gruyter, 2008. p. 109-125.
IANNI, O. A luta pela terra: história social da terra e da luta pela terra numa
área da Amazônia. Petrópolis: Vozes, 1978.