Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Schubert-Jasamblea Mujeres Chile
Schubert-Jasamblea Mujeres Chile
Resumo
Este trabalho discute as reinvenções do movimento feminista, a partir de nossa experiência junto a Assamblea de
Mujeres Revolucionárias Maipu (A.M.R.M) em Santiago no Chile. Esta organização se auto define como um espaço de
construção coletiva política e social de caráter territorial, cujos eixos articuladores são: a luta de classes, o feminismo e
a reconstrução do poder popular. Esta investigação utilizou uma metodologia de caráter qualitativo, por sua natureza
que pondera processos políticos, discursivos, construções sociais e atores diversos. Uma das discussões desta
organização reside na participação masculina, além disto, diferentemente das materialistas francesas, o movimento
A.M.R.M vivencia um processo pedagógico dialético, produzindo teoricamente através das diversas atividades que
organiza com mulheres campesinas e indígenas, pode-se ressaltar a importância da construção de uma teoria feminista
desde as bases, distanciando do pensamento eurocentrado e neocolonizado.
Introdução
Este texto aborda o surgimento de novas organizações feministas que ensejam à construção de uma
teoria feminista, com um olhar do sul global (Matos, 2010), a organização feminista pesquisada
denominada Asamblea de Mujeres Revolucionárias de Maipu (A.M.R.M.) incorpora as categorias
classista e revolucionária, refletindo profundamente sobre a indissociabilidade da questão de classe
e de gênero, e, portanto, a imprescindível crítica ao sistema capitalista.
Uma das primerias teóricas feministas do pós-colonialismo que pode ser considerada como uma das
primeiras vozes contra-hegemônicas no Norte global é Mohanty (1984; 2003; 2006) suas
contribuições visam destacar os problemas que uma visão teórica exclusivamente marcada “a partir
de olhares ocidentais” acarreta para os debates dos feminismos e das questões centrais que afetam
as mulheres no mundo.
1 Mestre em Extensão Rural pela Universidade Federal de Santa Maria, Pedagoga, Professora do Centro de Ciencias da
Sáude e Ciências Agrárias da Universidade de Cruz Alta, Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Estudos Humanos e
Pedagógicos. Membro Titular do Comitê Gestor do Programa em Rede de Pesquisa-Desenvolvimento em Sistemas de
Produção com Atividade Leiteira no Noroeste Gaúcho - Rede Leite e articuladora do GT-Social da Rede Leite. E-mail:
rfelix@unicruz.edu.br
2 Mestre e Cientista Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Professora do Centro de
Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Cruz Alta. E-mail: jschubert@unicruz.edu.br;
janeteschubert@yahoo.com.br.
3 Médica-Cirurgiã pela Universidad Mayor De San Simon (Cochabamba-Bolívia), Coordenadora da Região Andina
no Conselho Mundial pela Saúde dos Povos. E-mail: camachovivian@gmail.com.
4Ativista, integrante da organização Assembleia de Mulheres Revolucionarias de Maipu. E-mail:
paulinarebolledo.p@gmail.com.
I Seminário Internacional de Ciência Política
Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
A organização estudada se auto define como um espaço de construção coletiva política e social de
caráter territorial, cujos eixos articuladores são: a luta de classe, o feminismo e a reconstrução do
poder popular, foi fundada em janeiro de 2010, congrega mulheres urbanas, campesinas, indígenas
e homens, atua na cidade de Santiago, mas tem expressão em outras cidades, através das redes de
movimentos sociais populares no Chile.
As reflexões apresentadas resultam da possibilidade de conhecermos esta organização em março
deste ano, nosso contato foi possível através do convite para realização de uma mesa de diálogos, a
convivência com uma das integrantes nos possibilitou realizar uma observação participante, foram
também realizadas entrevistas que permitiram compreender, em parte, os mecanismos de
constituição e atuação da A.M.R.M.
Nossa análise permite dizer que uma das mais importantes discussões desta organização situa-se
exatamente na afirmação e constituição de uma organização feminista classista e revolucionária,
diferenciando-se do movimento feminista liberal e do movimento feminista radical.
Conforme Segundo Cecília Sardenberg (2004, p. 24):
Realizamos uma mesa de diálogos composta por três painéis (apresentados pelas autoras deste
artigo) em um espaço formativo da organização A.M.R.M. No primeiro painel se abordou algumas
questões relativas aos temas poder, neocolonização e processos de resistência na América Latina,
buscando discutir os novos processos de colonização, fez-se também uma análise das políticas de
ajuste neoliberal desde os anos 90 na América Latina e também as várias formas de vigência do
saqueio do planeta terra, por aqueles que se creem donos do mundo. Discutiu-se o que significou o
período ditatorial nos países latino-americanos e alguns aspectos da crise civilizatória que vivemos
na contemporaneidade com a mais brutal concentração de riqueza da história humana.
5 As traduções, ao longo deste artigo, de trechos de obras em outro idioma, são de responsabilidade das autoras.
I Seminário Internacional de Ciência Política
Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
No segundo painel se compartilhou a experiência de um trabalho de formação continuada, baseado
na pedagogia da alternância, na temática de gênero. A referida formação foi voltada para
profissionais vinculados a Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência
Técnica e Extensão Rural - ASCAR-EMATER/RS, que atende às demandas diárias de
agricultores(as) familiares, quilombolas, pescadores(as) artesanais, indígenas,
assentados(as). Os relatos presentes nesta formação desvelaram que ainda vivemos em
uma sociedade patriarcal regida, portanto, por valores patriarcais, que naturaliza os
papéis sociais de homens (provedores, produtores, espaço público) e mulheres
(cuidadora, reprodutora, espaço privado), a opressão à mulher em nossa sociedade é
invisibilizada, ou seja, é tão “natural” que sequer nos damos conta. A temática da
desnaturalização/desconstrução da questão de gênero possibilitou o (re)pensar das ações
extensionistas contribuindo para dirimir as múltiplas formas de desigualdade de
gênero, eixo norteador do grupo de trabalho social (GT- Social) do Programa em Rede de
Pesquisa - Desenvolvimento em Sistemas de Produção com Atividade Leiteira na Região
Noroeste do Rio Grande do Sul, do qual a Universidade de Cruz Alta e a Emater são
integrantes.
A terceira painelista a médica Boliviana Vivian Camacho discutiu a descolonização na saúde,
demostrando o quando a saúde hegemônica no capitalismo é voltada para o lucro e não para as
pessoas. E como necessitamos de espaços de resistência e, também, recuperar nossas formas de
cuidado ancestral.
Ao final dos três painéis abriu-se o debate em que se retomaram questões centrais e a luta das
mulheres na América Latina, neste momento abordou-se a importância de espaços de luta que
propiciem a formação política das mulheres.
Reinvenções do feminismo
Ressalte-se que a tendência socialista marxista funda suas concepções nas lutas de classes; esta
tendência localiza o sistema de dominação masculina na divisão do trabalho. Na opinião de Silva
(2000 p. 361), as feministas marxistas “[...] argumentam no sentido da importância do gênero e da
luta de classes e analisam os modos como duas estruturas paralelas, economia (capitalismo) e
família (patriarcado), estruturam a vida das mulheres”.
Considerações finais
Ao longo da história o feminismo parecia ser visto com “algo só de mulher”, entretanto, atualmente,
compreende-se que o feminismo não é um movimento exclusivo de mulheres, mas que desenvolve
suas ações em prol das mulheres, inserindo-se mundialmente em um projeto de dignificação da
pessoa humana.
Ao avançar no seu processo histórico, o feminismo se transforma em uma das mais importantes
causas políticas e ideológicas das últimas décadas. Embora seja percebido de múltiplas formas,
parecem-lhe comuns todas as teses de que a relação entre os sexos se caracteriza pela desigualdade
ou opressão. Se o feminismo é apresentado de variadas formas é em virtude da necessidade de
atuar, buscando mudanças de uma realidade de opressão exposto com diferentes nomes e variadas
faces.
Nossas análises nos permitem afirmar que organizações feministas como A.M.R.M são de extrema
importância para o avanço das discussões feministas descolonizadas. A possibilidade de
aprendizado propiciado pelo encontro de representantes dos três países, Bolívia, Brasil e Chile, nos
faz refletir sobre a necessidade de reafirmação de organizações feministas voltadas para as
problemáticas do sul global, vale dizer, para a construção de movimentos feministas populares que
I Seminário Internacional de Ciência Política
Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
visibilizem as problemáticas das mulheres pobres, negras, trabalhadoras urbanas, agricultoras,
indígenas, cujos dramas foram historicamente invisibilizados por movimentos feministas,
constituídos por pensadoras europeias e norte-americanas brancas, em sua maioria, intelectuais de
classe média ou alta.
Referimos como importante a busca por produzir teoricamente desde os movimentos populares de
base, o que necessariamente inverte o polo do conhecimento, que historicamente tem se dado desde
a academia para os movimentos sociais.
Percebe-se um esforço da organização no sentido da formação permanente e contínua das mulheres,
não desconectado da luta de classes e visando a reconstrução do poder popular e a reafirmação de
uma organização revolucionária, com suas implicações políticas, econômicas e sociais.
Referências bibliográficas
MATOS, Marlise. Movimento e teoria feminista: é possível reconstruir a teoria feminista a partir do
Sul global?. Rev. Sociol. Polit., Curitiba , v. 18, n. 36, p. 67-92, jun. 2010 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
44782010000200006&lng=pt&nrm=iso>.Acesso em 22 ago. 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782010000200006.
_____. 2006. US Empire and the Project of Women’s Studies: Stories of Citizenship, Complicity
and Dissent. Gender, Place and Culture, London, v. 13, n. 1, p. 7-20.
PINTO, Celi. Feminismo, História e Poder. Revista de Sociologia e Política V. 18, Nº 36: 15-23
JUN. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v18n36/03.pdf> Acesso em
30/06/2015.