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PROGRAMA Clínica Ampliada

e Apoio Matricial
DE EDUCAÇÃO
PERMANENTE
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA

UNIDADE
Apoio matricial
3

Anderson Sales Dias


Prezados(as) alunos(as),

Agora que vocês já conhecem conceitos importantes sobre clínica ampliada, família e as ferra-
mentas de abordagem familiar, vamos imergir nos pressupostos do apoio matricial para uma
adequada gestão do cuidado em saúde.

Clínica ampliada e apoio matricial


Gestão da clínica 2
Aula 1: Equipe de referência
e apoio matricial

Um dos grandes desafios para se realizar a gestão do cuidado em saúde sempre foi a supe-
ração dos modelos hierárquicos piramidais e a extrema especialização, com fragmentação
do trabalho.

Historicamente os serviços de saúde obedecem a uma ordem hierarquizada de organização,


semelhante aos modelos piramidais. O ápice é formado, no caso da atenção, pelos serviços
de maior densidade tecnológica dura, das atenções terciárias e quaternárias, e a base, por
serviços de menor densidade de tecnologias duras, como é o caso da atenção primária.

• Atenções Terciárias
e Quaternárias
• Maior densidade de
tecnologias duras

• Atenção Primária
• Menor densidade
de tecnologias duras

Figura 1 - Densidade de tecnologia e atenção

Fonte: Rommel Figueiredo.

Além desse arranjo vertical de relação, há uma profunda fragmentação das unidades produti-
vas de saúde, com uma crescente especialização. Em um ambulatório hospitalar, por exemplo,
encontraremos o coordenador médico, o de enfermagem, o da nutrição, o administrador que
cuidará da equipe de limpeza e insumos, o chefe da segurança etc. Geralmente a relação entre
os membros está balizada por instrumentos burocráticos, como protocolos, mapas, fichas
de encaminhamento, referência e contrarreferência, com transferência de responsabilidade
sobre o paciente, como em uma linha de produção.

Se pensarmos em uma secretaria de saúde, não será muito diferente. As diretorias e depar-
tamentos obedecem à mesma lógica piramidal, com relações verticais e baixa ou inexistente
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Apoio matricial 3
comunicação horizontal. Assim, temos a diretoria de vigilância, diretoria de Atenção Básica, dire-
toria de atenção hospitalar, o gabinete do secretário, o conselho municipal ou estadual de saúde.

A estratégia das equipes de referência e Apoio Matricial tem por objetivo original superar
essa fragmentação na perspectiva da construção de RAS, cuidadoras e corresponsáveis e
cogestoras do cuidado realizado à população.

Nesta nova unidade, conheceremos um pouco sobre o conceito de equipes de referência e


Apoio Matricial, tomando por exemplos as ações dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(NASF) e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

Segundo Campos e Domitti, (2007), os conceitos de Apoio Matricial e equipe de referência


foram propostos em uma linha de pesquisa que trabalhava reformas das organizações de saú-
de e do trabalho em saúde. Foram aplicados primeiramente no município de Campinas/SP,
enquanto metodologia de gestão do cuidado em serviços de saúde mental 2, de Atenção
Básica e da área hospitalar do Sistema Único de Saúde. Tempos depois foram adotados pelo
Ministério da Saúde como conceitos integrantes das políticas nacionais de humanização, de
saúde mental e de Atenção Básica.

Segundo esses autores, a equipe de referência seria uma equipe multiprofissional respon-
sável pela condução de problemas de saúde dentro de certo campo de conhecimento e que
busca atingir objetivos comuns, sendo responsável pela realização de um conjunto de tarefas,
ainda que operando com diversos modos de intervenção. Poderia ser a equipe responsável
pela enfermaria de oncologia de um hospital ou a Equipe de Saúde da Família responsável
pela população de um território adscrito. Independentemente de qual seja, ela estará mais
próxima dos problemas de saúde, da população acompanhada e do desenrolar dos projetos
de intervenção, ou terapêuticos, em desenvolvimento.

Para tanto, deverá trabalhar com instrumentos operacionais que auxiliem na definição da res-
ponsabilidade sanitária que ela possua e ampliem a construção de vínculo como, por exem-
plo, a adscrição de clientela à equipe de referência, por meio de registro e um cadastro de
casos sob sua responsabilidade, para avaliar risco, vulnerabilidade e identificação de casos
que mereceriam a elaboração de um Projeto Terapêutico Singular, ou mesmo alteração da
avaliação diagnóstica ou dos procedimentos de cuidado (CAMPOS; DOMITTI, 2007).

Essa equipe possui a responsabilidade sanitária e manterá o contato longitudinal com a


comunidade, mesmo quando houver inserção de outros serviços ou profissionais especia-
listas no cuidado ao usuário.

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Vamos pensar em um exemplo?

Um usuário foi identificado com transtornos mentais. Ele passa a ser


acompanhado por um CAPS, mas permanece sob responsabilidade
da Equipe de Saúde da Família que, inclusive, deve participar da cons-
trução e do acompanhamento do projeto terapêutico desenvolvido
em conjunto com a família e o CAPS.

Veja que nessa proposta não existe mais espaço para pensamentos
do tipo “o usuário não é mais ‘meu’, ele é agora do CAPS”. O usuário
é acompanhado pela RAS, e a Estratégia de Saúde da Família é a sua
equipe de referência. Assim, deverá acompanhá-lo durante todo
itinerário terapêutico.

Mas o que seria o apoiador matricial?


O termo matriz carrega vários sentidos; por um lado, em sua origem latina, significa o lugar
onde se geram e se criam coisas; por outro, foi utilizado para indicar um conjunto de núme-
ros que guardam relação entre si quer os analisemos na vertical, quer na horizontal, quer
em linhas transversais. O termo apoio sugere uma metodologia para ordenar as relações
entre referência e especialista não mais com base na autoridade, mas com base em proce-
dimentos dialógicos. Uma tentativa de ruptura com o modelo piramidal, vertical.

O apoiador matricial é um especialista que tem um núcleo de conhecimento


e um perfil distinto daquele dos profissionais de referência, mas que pode
agregar recursos de saber e mesmo contribuir com intervenções que aumen-
tem a capacidade de resolver problemas de saúde da equipe primariamente
responsável pelo caso (CAMPOS; DOMITTI, 2007, p. 401).

É importante ressaltar que ele não elimina a hierarquia nem responsabilidades, mas propõe
novas formas de interação entre os membros de uma Equipe de Saúde, de uma rede de
atenção ou da própria gestão. O termo foi retirado da proposta do apoiador institucional do
Apoio Paideia, em que este sujeito atua tanto na gestão do trabalho em equipe quanto na
clínica, na saúde pública ou nos processos pedagógicos. Dessa forma, a relação entre sujei-
tos com saberes, valores e papéis distintos pode ocorrer de maneira dialógica.

Assim, equipes de referência e equipes matriciais devem se relacionar de forma horizontal,


buscando arranjos que auxiliem na gestão do cuidado e no enfrentamento dos problemas
de saúde. Essa relação pode ocorrer em três planos fundamentais:

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a) atendimentos e intervenções conjuntas entre o especialista matricial
e alguns profissionais da equipe de referência;

b) em situações que exijam atenção específica ao núcleo de saber


do apoiador. Este pode programar para si mesmo uma série de
atendimentos ou de intervenções especializadas, mantendo contato
com a equipe de referência, que não se descomprometeria com o
caso — ao contrário, procuraria redefinir um padrão de seguimento
complementar e compatível ao cuidado oferecido pelo apoiador
diretamente ao paciente, à família ou à comunidade;

c) troca de conhecimento e de orientações entre equipe e apoiador;


diálogo sobre alterações na avaliação do caso e mesmo reorienta-
ção de condutas antes adotadas, permanecendo, contudo, o caso
sob cuidado da equipe de referência.

Os dois primeiros planos fariam parte da dimensão “clínico-assistencial”. Assim chamamos


as ações nas quais o apoiador é demandado, em conhecimentos específicos do seu núcleo
profissional, a atuar de forma compartilhada ou isolada na atenção à comunidade. É impor-
tante ressaltar que, mesmo durante condutas individuais do apoiador, a responsabilidade
do cuidado ao usuário é da equipe de referência. O terceiro plano faria parte da dimensão
técnico-pedagógica.

Nas próximas aulas traremos duas possiblidades de trabalho em equipes matriciais: os


Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

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Aula 2: Equipe de apoio matricial – NASF

Agora que você compreende a noção macro de Apoio Matricial, vamos estudar um pouco o
Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, enquanto Apoio Matricial.

O que é o NASF?
O Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF foi criado em 2008 pela Portaria nº 154, de 24
de janeiro, e atualmente é regulado pelas Portarias nº 2.488, de 2012, da Política Nacional de
Atenção Básica – PNAB, segundo a qual:

Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família são equipes multiprofissionais,


compostas por profissionais de diferentes profissões ou especialidades,
que devem atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais
das equipes de Saúde da Família e das equipes de Atenção Básica para
populações específicas (consultórios na Rua, equipes ribeirinhas e flu-
viais), compartilhando práticas e saberes em saúde com as equipes de
referência apoiadas, buscando auxiliá-las no manejo ou na resolução
de problemas clínicos e sanitários, bem como agregando práticas, na
Atenção Básica, que ampliem o seu escopo de ofertas.

Inicialmente foram criadas duas modalidades de NASF (tipo I e tipo II), que foram redefini-
das pela Portaria nº 3.124, de dezembro de 2012, a qual também criou a modalidade tipo III.
O quadro a seguir apresenta esses três tipos:

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Somatória das cargas
Modalidades Nº de equipes vinculadas
horárias profissionais

Mínimo 200 horas semanais.


5 a 9 eSF e/ou eAB para popu-
Cada ocupação deve ter, no
Nasf 1 lações específicas (eCR, equipe
mínimo, 20h e, no máximo,
ribeirinha e fluvial)
80h de carga horária semanal.

Mínimo 120 horas semanais.


3 a 4 eSF e/ou eAB para popu-
Cada ocupação deve ter, no
Nasf 2 lações específicas (eCR, equipe
mínimo, 20h e, no máximo,
ribeirinha e fluvial)
40h de carga horária semanal.

Mínimo 80 horas semanais.


1 a 2 eSF e/ou eAB para popu-
Cada ocupação deve ter, no
Nasf 3 lações específicas (eCR, equipe
mínimo, 20h e, no máximo,
ribeirinha e fluvial)
40h de carga horária semanal.

Quadro 2 – Modalidades de NASF, conforme a Portaria nº 3.124/2012

Fonte: Adaptado de DAB/SAS/MS (2014, p. 16).

A modalidade de NASF obedece a critérios populacionais e define o quantitativo de equipes


a serem acompanhadas:

NASF 1: cinco a nove equipes de AB vinculadas

NASF 2: três a quatro equipes de AB vinculadas

NASF 3: uma a duas equipes de AB vinculadas.

A proposta do NASF aponta o conceito de Apoio Matricial como orientador de sua prática.
O NASF apresenta, enquanto objetivo,

Aumentar efetivamente a resolutividade e a qualidade da Atenção


Básica. Isso deve ser feito por meio da ampliação das ofertas de cuidado,
do suporte ao cuidado e à intervenção sobre problemas e necessidades
de saúde, tanto em âmbito individual quanto coletivo. Dessa forma,
amplia-se o repertório de ações da Atenção Básica, a capacidade de
cuidado de cada profissional e o acesso da população a ofertas mais
abrangentes e próximas das suas necessidades (BRASIL, 2014).

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Cada equipe NASF pode ser composta, conforme sua modalidade e características do território
a ser apoiado, das seguintes profissões: assistente social; profissional de Educação Física;
farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; profissional com formação em arte e educação
(arte educador); nutricionista; psicólogo; terapeuta ocupacional; médico ginecologista/
obstetra; médico homeopata; médico pediatra; médico veterinário; médico psiquiatra;
médico geriatra; médico internista (clínica médica); médico do trabalho; médico acupunturista
e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós-
graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas.

Por fazer parte da Atenção Básica, o NASF é orientado pelos mesmos princípios, contudo, ele
não é um serviço com um espaço físico independente. Seu local de atuação é nas unidades
de saúde da família e em seus territórios, tendo como público-alvo as equipes de referência
apoiadas (ESF, EAB para populações específicas – consultórios na Rua, equipes ribeirinhas e
fluviais) e diretamente os usuários do Sistema Único de Saúde. Para tanto, é importante criar
mecanismos de identificação e escuta das demandas das equipes e para diálogo sobre suas
práticas e sobre o cuidado realizado diretamente aos usuários (BRASIL, 2014).

Para saber mais sobre o NASF, acesse


o Caderno de Atenção Básica, n. 39,
do Ministério da Saúde, de 2014, no
link: <http://189.28.128.100/dab/docs/
portaldab/publicacoes/caderno_39.
pdf>. Acesso em: 21 fev. 2017.

A publicação trata dos Núcleos de


Apoio à Saúde da Família (NASF) nos
municípios do Brasil, com o objetivo de aumentar efetivamente a
resolutividade e a qualidade da Atenção Básica. Aborda os seguintes
assuntos: implantação do NASF; algumas ferramentas que o NASF
pode utilizar; integração entre serviços da rede de atenção à saúde
e articulação de redes sociais de apoio e o uso da informação para a
qualificação das ações do NASF.

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Para realizar o trabalho, o NASF tem inúmeras atividades que abrangem tanto a dimensão
clínica e sanitária quanto a pedagógica (ou até ambas ao mesmo tempo), a saber:

• discussões de casos;

• atendimento em conjunto com profissionais das equipes apoiadas;

• atendimentos individuais e posteriormente compartilhados com as equipes;

• construção conjunta de Projetos Terapêuticos Singulares;

• educação permanente;

• intervenções no território e outros espaços da comunidade para além das unidades de saúde;

• visitas domiciliares;

• ações intersetoriais;

• ações de prevenção e promoção da saúde;

• discussão do processo de trabalho das equipes etc.

Estas atividades comporão a agenda da equipe NASF e podem ser organizadas em:

• reunião de matriciamento;

• reunião de equipe NASF;

• atendimento individual e compartilhado e específico;

• atendimento domiciliar compartilhado e específico;

• atividade coletiva compartilhada e específica;

• elaboração de materiais de apoio, rotinas, protocolos e outras ações de educação permanente.

Mais do que ações diferentes, são posturas diferentes de relação entre os trabalhadores da
saúde. No quadro a seguir, exemplifica-se a diferença entre o modelo tradicional de encami-
nhamento e a proposta do Apoio Matricial.

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Modelo tradicional Proposta do apoio matricial

•  Discutir o tema Diabetes melittus e


estratégias para seu controle com
os profissionais do NASF (psicólogo,
assistente social, profissional de Educação
Física, nutricionista, entre outros).
•  Encaminhar as pessoas para agendamento
de consulta individual com o nutricionista •  Discutir com os profissionais do NASF
para orientações alimentares e nutricionais. propostas de ações e condutas que a
própria equipe de AB poderia realizar
•  Encaminhar as pessoas para agendamento individual ou coletivamente.
de visita domiciliar do farmacêutico para
avaliação da adesão aos medicamentos. •  Planejar e realizar com os profissionais
do NASF intervenções conjuntas
•  Encaminhar as pessoas ao profissional de (atendimentos individuais ou coletivos,
Educação Física para prática coletiva de atendimentos domiciliares, atividades no
atividade física. território etc.).

•  Encaminhar as pessoas para o •  Pactuar intervenções específicas dos


endocrinologista. profissionais do NASF, com discussão e
repactuação permanentes com a equipe
de referência.

•  Construir Projetos Terapêuticos Singulares


para os casos mais difíceis e complexos.

Quadro 3 – Diferenças entre o modelo tradicional de encaminhamento de usuários


e a proposta do Apoio Matricial

Fonte: Adaptado de DAB/SAS/MS (2014).

É interessante entender que as coisas não mudam do dia para a noite, então realizar
um conjunto de reuniões entre equipes de referência e Apoio Matricial é fundamental.
Um importante espaço na construção da relação entre equipes de referência e Apoio
Matricial são as reuniões matriciais. Estas são configuradas por:

Discussão de casos ou temas entre os profissionais que compõem as dife-


rentes equipes envolvidas, obtendo-se um diagnóstico de necessidades e o
levantamento/planejamento de ações que possam ser desenvolvidas para
atendê-las da melhor maneira possível. A partir das pactuações realizadas,
segue-se um movimento de monitoramento dos resultados alcançados e a
continuidade dessa articulação, a partir de novas situações que se apresen-
tem na Atenção Básica (BRASIL, 2014, p. 59).

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Um primeiro ciclo de reuniões matriciais pode ter por objeto a integração entre a equipe de
referência e a equipe matricial, conforme o exemplo a seguir:

Reunião
com as ESF

Conduta e Discussão de casos


monitoramento em reunião
ESF-NASF ESF-NASF

Elaboração de Diagnóstico das


propostas necessidades

Figura 2 - Movimento de integração entre NASF e as equipes vinculadas

Fonte: OSCEJAM (2013).

Vencida essa etapa, é fundamental a pactuação das ações a serem desenvolvidas, associadas
às metas de qualidade da atenção e produção de indicadores que mensurem a efetividade
das ações. Avaliar não é uma atividade fácil, e monitorar é um dos principais desafios para as
políticas de saúde, contudo, por meio do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da
Atenção Básica – PMAQ, todos os profissionais, inclusive o NASF, possuem instrumentos pró-
prios e compartilhados para avaliarem e proporem ações que visam a qualidade da atenção.

Para tanto, são necessárias algumas medidas que garantam a efetividade da ação de avalia-
ção e monitoramento:

•  Pactuação de indicadores mais próximos da realidade e de necessidades do território de atuação


das equipes.

•  Meios de divulgação e apresentação periódicos das informações registradas pelas equipes, tais
como: relatórios, boletins, informativos, reuniões comunitárias, conselho de saúde, entre outros.

• Espaços para discussão dos resultados obtidos.

• Sistemas de informação que dialoguem com as especificidades locais.

• Melhoria da infraestrutura da tecnologia da informação das UBS.


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Aula 3: Apoio matricial e CAPS

Agora que já sabemos o papel do NASF no Apoio Matricial, vamos refletir sobre o Centro de
Atenção Psicossocial – CAPS.

Com o movimento da reforma psiquiátrica da década de 1980, surgiram no país experiên-


cias de modelos substitutivos aos hospitais psiquiátricos (como os CAPS, a própria Atenção
Básica, as residências terapêuticas, os ambulatórios, os centros de convivência, os clubes
de lazer, entre outros), com a proposta de trabalhar o cuidado em saúde mental em uma
perspectiva inclusiva de reinserção social.

Nessa abordagem, o território de origem das pessoas, não só o geográfico mas também
o afetivo, tem grande importância. A saúde mental, com o Decreto nº 7.508/11, passou a
ser uma das RAS prioritárias para o SUS, o que provoca a discussão em como a rede pode
trabalhar essa temática. Não é incomum encontrar profissionais de atenção primária que
possuem resistência, receio, insegurança ou outros adjetivos frequentemente utilizados,
quando se deparam com casos de saúde mental.

Surgidos na década de 80 do século XX, no município de São Paulo, os Centros de Aten-


ção Psicossocial constituem uma importante estratégia para os cuidados em saúde mental,
substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos.

O objetivo desta aula é apresentar o CAPS e sua potencialidade


enquanto equipe de Apoio Matricial para as equipes de atenção
primária, na linha do cuidado em saúde mental, e contribuir para a
superação do mito da dificuldade da abordagem em saúde mental
na atenção primária.

A realidade das equipes de Atenção Básica demonstra que, cotidianamente, elas se deparam
com problemas de saúde mental. Por sua proximidade com famílias e comunidades, as
equipes da Atenção Básica são um recurso estratégico para o enfrentamento de agravos
vinculados ao uso abusivo de álcool, drogas e diversas formas de sofrimento psíquico.
Existe um componente de sofrimento subjetivo associado a toda e qualquer doença,
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às vezes atuando como entrave à adesão a práticas preventivas ou de vida mais saudáveis.
Poderíamos dizer que todo problema de saúde é também – e sempre – mental, e que toda
saúde mental é também – e sempre – produção de saúde (BRASIL, 2003).

As ações de saúde mental na Atenção Básica devem obedecer ao modelo de redes de cuida-
do, de base territorial e atuação transversal com outras políticas específicas e que busquem
o estabelecimento de vínculos e acolhimento. Essas ações devem estar fundamentadas nos
princípios do SUS e nos princípios da Reforma Psiquiátrica. Podemos sintetizar como princí-
pios fundamentais dessa articulação entre saúde mental e Atenção Básica:

• noção de território;

• organização da atenção à saúde mental em rede;

• intersetorialidade;

• reabilitação psicossocial;

• multiprofissionalidade/interdisciplinaridade;

• desinstitucionalização;

• promoção da cidadania dos usuários;

• construção da autonomia possível de usuários e familiares (BRASIL, 2003).

As ações de saúde mental na Atenção Básica devem obedecer ao modelo de redes de cuida-
do, de base territorial e atuação transversal com outras políticas específicas e que busquem
o estabelecimento de vínculos e acolhimento.

Afinal, você sabe o que é CAPS? Existe algum de referência para a sua equipe?

Os Centros de Atenção Psicossociais, ou CAPS, são serviços de saúde do SUS


de acesso aberto e de base comunitária, que se constituem enquanto refe-
rência para o tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais
(psicoses, neuroses graves, uso de álcool e outras drogas etc.) que necessi-
tarem de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida
(BRASIL, 2004).

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Objetivos e responsabilidades dos CAPS

Vamos agora compreender os principais objetivos e responsabilidades dos CAPS com o


auxílio do quadro a seguir:

Objetivos Responsabilidades

•  Organizar a rede de serviços de saúde


mental de seu território.
•  Prestar atendimento em regime de
•  Dar suporte e supervisionar a atenção à
atenção diária.
saúde mental na Atenção Básica.
•  Gerenciar os Projetos Terapêuticos
•  Regular a porta de entrada da rede de
oferecendo cuidado clínico eficiente
assistência em saúde mental de sua área.
e personalizado.
•  Coordenar junto com o gestor local as
•  Promover a inserção social dos usuários
atividades de supervisão de unidades
por meio de ações intersetoriais que
hospitalares psiquiátricas que atuem no
envolvam educação, trabalho, esporte,
seu território.
cultura e lazer, montando estratégias con-
juntas de enfrentamento dos problemas. •  Manter atualizada a listagem dos pacien-
tes de sua região que utilizam medica-
mentos para a saúde mental.

Quadro 3 – Objetivos e responsabilidades dos CAPS

Fonte: Brasil, 2014.

Muitos profissionais não têm conhecimento sobre o papel de um CAPS na atenção primária, de
que forma ele pode atuar em uma perspectiva de Apoio Matricial. Como vimos anteriormente,
na dimensão clínico-assistencial ou técnico-pedagógica, ele visa fornecer-lhes: orientação
e supervisão; atendimento conjunto em situações mais complexas; realização de visitas
domiciliares acompanhadas das equipes da Atenção Básica; atendimento a casos complexos
por solicitação da Atenção Básica; participação da construção e acompanhamento de PTS.

Para tanto, é necessário: realizar atividades de educação permanente (capacitação, super-


visão) sobre saúde mental, em cooperação com as equipes da Atenção Básica; conhecer e
interagir com as equipes de Atenção Básica de seu território; e estabelecer iniciativas con-
juntas de levantamento de dados relevantes sobre os principais problemas e necessidades
de saúde mental no território (BRASIL, 2004).

De acordo com a política de saúde mental, os itens descritos são considerados dispositivos
estratégicos para a organização da rede de atenção em saúde mental. Para tanto, devem
estar territorializados de forma estratégica, circunscritos no espaço de convívio social (famí-
lia, escola, trabalho, igreja etc.) daqueles usuários que os frequentam. Se olharmos pelo
prisma da clínica ampliada, veremos que a proposta é olhar para além da doença, na vida,
resgatar as potencialidades dos recursos comunitários, pois estes fazem parte dos cuidados
em saúde mental.

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Responsabilidades compartilhadas entre as equipes matriciais
de saúde mental e da Atenção Básica

As equipes de saúde mental de apoio à Atenção Básica incorporam ações de supervisão,


atendimento em conjunto e atendimento específico, além de participar das iniciativas de
capacitação. Além disso, as seguintes ações devem ser compartilhadas:

a. Desenvolver ações conjuntas, priorizando: casos de transtornos mentais severos e


persistentes, uso abusivo de álcool e outras drogas, pacientes egressos de internações
psiquiátricas, pacientes atendidos nos CAPS, tentativas de suicídio, vítimas de violência
doméstica intradomiciliar.

b. Discutir casos identificados pelas equipes da Atenção Básica que necessitem de uma
ampliação da clínica em relação às questões subjetivas.

c. Criar estratégias comuns para abordagem de problemas vinculados à violência, abuso


de álcool e outras drogas, estratégias de redução de danos etc. nos grupos de risco e nas
populações em geral.

d. Evitar práticas que levem à psiquiatrização e medicalização de situações individuais e


sociais, comuns à vida cotidiana.

e. Fomentar ações que visem à difusão de uma cultura de assistência não manicomial, dimi-
nuindo o preconceito e a segregação com a loucura.

f. Desenvolver ações de mobilização de recursos comunitários, buscando construir espa-


ços de reabilitação psicossocial na comunidade, como oficinas comunitárias, destacando a
relevância da articulação intersetorial (conselhos tutelares, associações de bairro, grupos de
autoajuda etc.).

g. Priorizar abordagens coletivas e de grupos como estratégias para atenção em saúde men-
tal, que podem ser desenvolvidas nas Unidades de Saúde, bem como na comunidade.

h. Adotar a estratégia de redução de danos nos grupos de maior vulnerabilidade, no mane-


jo das situações envolvendo consumo de álcool e outras drogas. Avaliar a possibilidade de
integração dos agentes redutores de dano a essa equipe de Apoio Matricial.

i. Trabalhar o vínculo com as famílias, tomando-as como parceiras no tratamento e buscar


constituir redes de apoio e integração.

E como e quando realizar essas atividades? Lembremos que estamos diante de uma pro-
posta de Apoio Matricial e não de encaminhamento tradicional. Você já pensou em reuniões
matriciais envolvendo os atores do território (ESF, NASF, CAPS)?

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Consultório na Rua, Redutores de Danos e Academia da Saúde são
algumas outras possibilidades de equipes que podem trabalhar de
forma matricial com a Estratégia Saúde da Família e com as equipes
do CAPS. Acesse a Comunidade de Práticas da Atenção Básica no
link a seguir e leia os relatos de experiências de ações entre essas
equipes: <https://novo.atencaobasica.org.br/>, acesso em: 21 fev. 2017.

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