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O Livro da Lei Para o Povo Suplicante

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O Livro da Lei (Líber Legis) Para O Povo Suplicante


Comentários de Panyatara (Jayr Rosa de Miranda)
sobre os três capítulos do
“Líber Legis”, “A Estela da Revelação” e “O Mistério do Baphomet”

Capa: Foto cedida por Francisca de Souza Hardy

Fundação Biblioteca Nacional


Ministério da Cultura
Registro n° 141.283
Livro: 227 - Folha: 323
PRECEITOS DA ALVORADA

Creio em Deus, Grande Arquiteto do Universo, em Seu duplo aspecto de


Pai e Mãe e na Força Crística, o Amor Divino implantado no mais íntimo de toda
a humanidade.
Creio que, antes de me fazer um só com o Espírito Universal e
compreender a ação da Lei Espiritual, deve morrer o ser inferior e emergir o ser
superior e novamente nascer.
Creio que eu mesmo julgarei as minhas faltas e encontrarei minha
punição, esclarecido pela Grande Luz de Deus que está dentro de mim.
Creio em um Deus de Amor, Pai e Mãe de toda humanidade e na
comunhão e trabalho conjunto dos Anjos e das Almas regeneradas.
Creio em minha união com todos os reinos da Natureza e no sagrado de
toda a vida; esforçar-me-ei, com ajuda de Deus, para ver o bem em tudo, para
me abster de tudo aquilo que conduz à vaidade, à ilusão, à impureza e ao apego
do poder terrestre; esforçar-me-ei por estar ao lado dos aflitos, dar conselhos
sinceros e impessoais a todos que procurem a minha ajuda e enviar pensamentos
de paz aos que lutam e sofrem. Farei todos os dias algum trabalho para Deus e
obedecerei às leis da hospitalidade. Tentarei cumprir minhas tarefas diárias de
bom coração e tão preparado quanto me permitam as circunstâncias.
Lembrar-me-ei de que sou o templo de Deus Vivo. Procurá-Lo-ei
interiormente, sabendo que no mais íntimo nasce o Radiante, Senhor do passado
e do futuro, Senhor de todos os espaços e que, no entanto, está sempre mais
próximo do que a própria mão.
Creio que pelo esforço contínuo chega-se ao Eterno e pela união com os
Pais Divinos, desejos e tristezas desaparecem.
Creio que, se quiser a libertação dos renascimentos, devo cumprir a Lei,
compreender a natureza do Fogo Celestial e alcançar a Sabedoria Oculta.
Procurarei que a minha mente não seja perturbada pelas coisas do
mundo e não ser dominado pelas paixões e egoísmo; procurarei ser paciente no
sofrimento e ter contentamento e gratidão.
Lembrar-me-ei de que todas as épocas foram nutridas pela Majestade de
Deus – A Essência Crística que impregna a tudo e que todas as raças foram
chamadas a ouvir a Voz de Deus, cada uma sob o aspecto e forma que mais lhe
eram propícios.
Assim, com esse conhecimento, estarei em harmonia com tudo e poderei
reverenciar a Deus em qualquer Templo e lugar e sob qualquer aspecto que O
encontrar. Amém.
I-Em-Hotep.
O Livro da Lei para o Povo Suplicante

Nossa homenagem:

A
Macarios Ptócos (Frater R+C.)
Cuja iniciativa foi fundamental para incentivar-me na
realização deste humilde trabalho.

A Déa Magalhães Bittencourt (Ramalhete)


Pelas “flores” que ajudou a materializar em nossa mente.

Agradecimentos:

A
Dulce Oiticica

Por tornarem possível este livro.

Panyatara.
O Livro da Lei para o Povo Suplicante

“O CONHECIMENTO REAL NÃO É CONSTRUÇÃO


DE ALGUNS DIAS; É OBRA DO TEMPO”.

A.L.
O Livro da Lei para o Povo Suplicante

Considerando a natureza da presente obra, o Autor dispõe-se a


atender a consultas e pedidos de esclarecimentos que possam ocorrer
entre os leitores mais interessados.
Os pedidos poderão ser dirigidos por E-mail para:
panyata@globo.com
PREFÁCIO
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei∴

“Podemos estar com Crowley,


Contra Crowley,
Porém, nunca sem Crowley”.
Fr. Tito C. da Costa.

Este livro, escrito por Panyatara, Irmão Jayr Rosa de


Miranda, é o resultado de um longo período de estudo, meditação e
aprofundamento, na compreensão do Líber Al vel Legis (O Livro da
Lei), recebido por Aleister Crowley, ou segundo alguns, por sua esposa
Rose Crowley, em 8, 9 e 10 de abril de 1904.

O Mestre Therion, ao publicar a obra com o “caráter


metafórico, cabalístico, cósmico e mágico”, como diz o autor no
prólogo, página 09, abriu os portais para a Era de Aquário, cujos
ensinamentos foram aproveitados por várias ordens iniciáticas, porém
o texto ainda continua velado para vários buscadores sinceros.

Os Thelemitas e o Povo Suplicante necessitavam de uma


obra básica escrita em português, introdutória ao Livro da Lei, para
enfrentar os desafios textuais, pois “O desafio é fundamental à
constituição do saber” (...), principalmente do saber hermético, no qual
pensar é criar, e para criar, é necessário vencer o medo e obter a
liberdade de pensar.

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

A criação pode não materializar-se de pronto, mas o


objeto formado pelo poder mental vive, e por certo o desafio
mencionado neste livro será vencido pelo Povo Suplicante. Por
derradeiro, quero elogiar o autor desta obra pela coragem, pela
pesquisa e pela sincera exposição do Livro da Lei, a “serviço dos mais
humildes” (autor, p.09) ou iniciantes. É com grata satisfação que a
recomendo a todos os estudiosos.
Ao finalizar, agradeço a Panyatara a oportunidade de
prefaciá-la, augurando-lhe êxito, reedição e acolhimento pelos
estudiosos das ciências herméticas e pelos Thelemitas do Brasil e da
América Latina.

Campo Grande (MS), 27 de outubro de 1998.


Tito Corrêa da Costa
Ŧr. Tito Corrêa da Costa∴

Ir. Maior da F.R.A., da O.T.O, da A. A. Gr. 33 – REAA.


PRÓLOGO

Este trabalho surgiu de uma solicitação feita por algumas irmãs, com
alguns anos de freqüência em estudos esotéricos, que desejavam ardentemente
conhecer o significado oculto de alguns quesitos existentes numa revista Gnose,
publicação da F. R. A. de 27 de fevereiro de 1943. Como as respostas implicavam
em algo que também permitiriam atender ao cumprimento de uma promessa feita a
um amigo de muitas vidas, residente numa cidade interiorana de Minas Gerais, foi
um grande prazer a oportunidade de atendê-las, pois assim, estaria atendendo
àquele também.
Tudo se baseava na compreensão do Liber Al Vel Legis, obra recebida
por Aleister Crowley1 nos dias 8, 9 e 10 de abril de 1904, de forma mediúnica, de
acordo com as suas próprias palavras, quando afirma que Aiwass, a entidade
comunicante, que acreditou ser seu Anjo Guardião, era uma entidade “diferente” de
si mesmo, que lhe ditou a totalidade do livro naqueles três dias.
O caráter metafórico, cabalístico, cósmico e mágico como o livro foi
apresentado aos estudantes sinceros de todo o mundo suscitou desusada polêmica
e sua linguagem demolidora tem provocado as mais diversas reações, desde a sua
publicação.
Nosso propósito é esclarecer, o melhor possível, o que está oculto em
seu texto, certo de que nosso trabalho será apenas um intróito para pesquisadores
mais capacitados, que, através dele poderão chegar a conclusões ainda mais
transparentes sobre seus três capítulos, passíveis das mais variadas interpretações,
cuja função seria a de atuar como uma espécie de Bíblia Mágica da Era de Aquário,
quando preponderarão as energias do 7o. Raio, o Raio do Ritual e da Magia. Embora
possa ser esta a sua função, naturalmente só será alcançada quando for
devidamente compreendido, o que deverá acontecer quando a humanidade estiver
perfeitamente Iniciada nos Mistérios da Magia Sagrada.
Como dissemos acima, este trabalho não tem a pretensão de ser algo
definitivo; provavelmente contém apreciações a serem reformuladas por aqueles que
estão à frente na compreensão das verdades eternas e, também, muitos erros para

1
Muitos afirmam ter sido por intermédio de sua esposa, na época, Rose Crowley.

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

quem procurar, no mesmo, somente o que se ajuste ao seu atual nível mental. Por
considerar válido tudo aquilo feito com boas intenções, tomamos a coragem de
apresentá-lo agora, ainda um produto inacabado, mas que já poderá auxiliar aqueles
que estão procurando sinceramente.
Alerto àqueles que vêem na obra de A. Crowley somente o lado libertário,
mágico e anarquista, a necessidade de reconhecerem também o enfoque
apresentado neste estudo, pois:

a) liberdade é a conseqüência direta da disciplina e responsabilidade com que


nos comportamos na vida;
b) magia representa o real conhecimento e não somente o poder de produzir
fenômenos, contrariando as leis da natureza; o verdadeiro Mago jamais faz
magia porquanto ele é o próprio fenômeno;
c) anarquia não representa desordem, mas o corolário da própria Lei, ou seja, o
respeito de cada um para todos e o de todos para cada um. Portanto, “Faz a
tua vontade será toda a Lei, porém, pensa bem no que fazes, pois terás de
dar conta de todos os teus atos”.

Sobre Aleister Crowley, a Besta 6662, cujos méritos, sensibilidade e


inteligência extraordinários permitiram a recuperação da Ciência mágica egípcia
para a humanidade, é preciso deixar claro que, se sua vida mundana de Iniciado não
se ajustou aos padrões dos ensinamentos que fazem parte, inclusive, de seu próprio
trabalho, demonstrou, entretanto, profunda compreensão e coragem à necessidade
de ultrapassar todos os limites impostos pelos padrões educacionais existentes em
sua época, para que pudesse atingir sua meta: a Verdade tão necessária a sua
personalidade, impulsionada por um interior repleto de uma vontade indômita que
somente os grandes heróis da humanidade possuem.
Não, Crowley não foi um santo nem um messias e muito menos um
enviado. Foi um homem comum, que atendeu mais aos anseios internos de sua
natureza espiritual do que os limites externos impostos pela sociedade, com
educação vitoriana, em que conviveu. Pagou um preço alto por suas experiências e
pelos excessos que cometeu, mas deixou o caminho aplainado para os que aspiram

2
Para entender a assunção deste epíteto, ler o Capítulo deste livro sobre “O Mistério do Baphomet”.

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

à Verdade e a realeza interna, da mesma forma como ele aspirou. Não precisamos
nem devemos repeti-lo em suas extravagâncias pessoais, mas devemos “aproveitá-
lo” em sua realização espiritual. Desconhecê-lo por preconceito é jogar fora um
patrimônio inestimável, apenas por intolerância. Quem aprendeu a não julgar, para
não ser julgado e a perdoar para poder ser perdoado, compreenderá do que
estamos falando.
O nome que escolheu para identificar-se no início de sua carreira, deixa
entrever isto: PERDURABO ou seja “Perdurarei até o fim”.
Foi denodado em atingir seus objetivos pessoais de iluminação e
ultrapassou todos os limites da prudência para obter o sucesso no que
pessoalmente considerou importante. Hoje é reconhecido por aqueles que, longe de
torcerem o nariz para os aspectos exteriores de sua vida, procuram, em sua
experiência, uma verdade sempre negada àqueles que apenas ficam esperando.
Muito se escreveu e se tem escrito sobre sua personalidade controvertida,
excêntrica e fora dos padrões de moralidade aconselháveis, mas pouco sobre sua
interioridade, cheia de amor e luz, que procurou oferecer aos que possuem valor
para Saber, Querer, Ousar e Calar.
Se seu gosto pela magia levou-o a experimentações não recomendáveis,
isto não quer dizer que toda a sua obra esteja assentada somente sobre este
aspecto. Há muita coisa boa, aproveitável e importante para ser estudada e
praticada pelos estudantes da Nova Era.
O enfoque libertino que muitos vêem em sua obra é ditado apenas pela
apreciação canhestra dos que não conseguem compreender que suas ações
objetivavam apenas deixar claro a importância das energias sexuais no processo
iluminativo da entidade humana. Suas experiências pessoais não podem ser
compreendidas pelos que ainda estão presos a dogmas, onde o conceito de pecado
é aceito como o limite da ação humana. Da mesma forma, os seus julgadores
esquecem que em seu coração brilhava intensamente a luz de um Cristo que, por
sua vitória sobre a ignorância do mundo, naturalmente precisava ser crucificado no
altar erguido pelos preconceitos humanos.
Esquecem que o mesmo enfoque existe em todas as religiões do mundo,
inclusive no cristianismo, depois mascarado pela Igreja com pudores não encontrado
nos quatro Evangelhos e que permitiu, às autoridades eclesiásticas, destruir o
membro viril de todas as estátuas expostas no Museu da Capela Sistina, como se

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

estes representassem pecado para aqueles que ali vão à busca da arte em todo o
seu esplendor e beleza, sempre encontrada na perfeita construção da forma
humana.
As energias sexuais representam o que há de mais sagrado no ser
humano, razão suficiente para que o lugar onde residem, seja conhecido como
região sacra ou sagrada.
Da mesma forma, o enfoque do Liber Legis a que se permitem alguns
seguidores de Crowley, apenas sob o ângulo grosseiro de que a Magia Sexual basta
para resolver todos os problemas da iluminação do ser humano é uma forma
ingênua da busca da verdade, realizada pelos aprendizes de feiticeiro que ainda
deveriam estar varrendo o chão do “laboratório” de seus Mestres; vêem a fumaça,
mas jamais encontrarão o fogo.
Esquecem o acervo de sabedoria sobre o assunto existente em todas as
religiões do mundo. O coração necessita ser preparado para tornar-se a morada de
Hadit (O Cristo Interno) e de Nuit, sua noiva imortal (A Divina Mãe Kundalinî). Esta,
em sua pureza original, jamais habitará lugares conspurcados pela ignorância do ser
humano. Ao sair de seu habitat atual, quando é “importunada” em sua manifestação
estabilizada (embora pareça incrível, atualmente ela é “protegida” de nossa
insensatez pelo Guardião do Umbral), procurará uma nova morada e, dependendo
das vibrações a que estiver sujeita, tanto seguirá o caminho para cima como para
baixo; tudo estará sujeito a qualidade das vibrações existentes dentro de nós;
portanto, os aventureiros devem cuidar-se, porque os pântanos do caminho estão
dentro de nós mesmos.
Querer é Poder. A condição de Thelemita3 advém de uma Vontade
poderosa e que só existe no Aspirante quando sustentada pelo amor de Hadit (o
Segundo Logos ou a Divina Presença EU SOU no homem encarnado). Esta só se
manifesta num coração bem formado; quando isto não acontece, primeiramente
vemos o orgulho e a vaidade, logo seguidos da insensatez e, finalmente, o desejo
emocional alicerçado na ilusão de que desejo é poder. Cresçamos; identifiquemo-
nos com nossa eternidade; pratiquemos a ciência da Paz, ou seja, a paciência; esta
é a primeira qualidade necessária Estejamos certos de que quando o Discípulo está
pronto, o Mestre sempre aparece.

3
Thelemita é o denominativo dos adeptos do axioma máximo do Liber Legis: Faze o que tu queres há de ser o
todo da Lei.

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

A grande verdade é que o Liber Legis não foi ditado somente para os
Magos ou alguns privilegiados. Suas lições devem estar ao alcance de todos. Daí
considerarmos a interpretação filosófico-religiosa do livro (no bom sentido), bastante
providencial, exatamente quando ele completa 93 anos de existência. Nosso
propósito é atender ao Povo Suplicante, os humildes, porém sinceros, aspirantes da
Verdade, que bradam pelo conhecimento real em seus anseios de libertação da
canga da ignorância em favor de seus direitos espirituais. Todos passamos por esta
fase e sempre necessitamos dos que estão à frente, no caminho, para a ajuda
necessária.
Com este trabalho, pretendemos apenas servir aos mais humildes e não
aqueles que acreditam desfrutar dos graus superiores da Verdade.
O Líber Legis é mais do que um livro de acesso à magia experimental.
Encerra, dentro de si, todos os ensinamentos relacionados às energias que
preponderarão nos próximos dois mil anos, ou seja, as energias do 7 o. Raio ou Raio
do Cerimonial e da Magia, expressão, em grau inferior, da energia do Primeiro Raio,
o Raio do Poder e da Vontade. Esclarece e ressalta a importância da compreensão
da energia do Quarto Raio de Harmonia e Beleza, que começará a fluir sobre o
Planeta já no ano 2025, ajudando a humanidade a trilhar o caminho do coração, a
morada de Hadit, a Luz Radiante, quando Este deverá influir decididamente, a fim de
que o homem só use a Magia e o Cerimonial de forma benéfica e progressista,
sempre para seu desenvolvimento superior, evitando o que já aconteceu nas duas
vezes em que as energias do Sétimo Raio estiveram atuando sobre a humanidade:
o afundamento da Lemúria e da Atlântida. Este é o aspecto que quero ressaltar
neste livro: Magia e Cerimonial sempre com amor e amor (nunca emoção), sob
vontade.
Onde existe muita luz, as trevas decorrentes são intensas. Que o Povo
Suplicante se acautele, mas persista, buscando, “pois todo o que pede recebe; o
que busca encontra e a quem bate, abrir-se-lhe-á.4

Rio de Janeiro, 10 de abril de 1997


Panyatara - A.R.C.

4
Lucas, Cap. 11, versículo 10.

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PRELIMINARES
“DO wHAT THOU wILT SHALL BE THE wHOLE OF THE LAw”
“Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei”

A finalidade deste livro é analisar e comentar cada trecho do “Liber Legis”


(Livro da Lei) de Aleister Crowley, naturalmente dentro da compreensão pessoal do
Autor, derivada dos ensinamentos que amealhou, até a presente data, do que é
conhecido pelos estudantes de ocultismo, como Ciência Espiritual.
O verdadeiro objetivo da linguagem contida nos “Textos Sagrados de
Thelema”, onde o processo de estudo e compreensão extrapola os cânones
adotados na leitura comum, é a possibilidade de suscitar interpretações cada vez
mais judiciosas e categorizadas, principalmente da parte daqueles que realmente
podem fazê-las com maior autoridade, levando o estudante comum a um novo
patamar de percepção das verdades eternas.
Como ainda não existe, dentro da ótica que estamos abordando, qualquer
interpretação mais acurada daqueles textos, principalmente de seus valores
cabalísticos e do sentido real e místico daquilo que o constitui, não pudemos deixar
de dar nossa colaboração sobre o assunto, a fim de que suas lições possam
repercutir favoravelmente sobre os buscadores da verdade, em vez de assustá-los.
Antes de iniciar a análise dos Textos referidos, é importante sabermos
que a totalidade do Livro da Lei está calcada em metáforas, muitas vezes ocultando
ensinamentos relacionados à Cabala, o que torna imprescindível nos inteirarmos de
alguns elementos algébricos, derivados de operações cabalísticas, para podermos
entender, mesmo superficialmente, seu conteúdo aparentemente truncado. A
reprodução da Árvore da Vida ajudará neste sentido.
Ainda com a finalidade de facilitar o entendimento do que será exposto
neste livro, relembramos aos leitores o seguinte:

a) Metáfora é um tropo em que a significação natural de uma palavra é substituída


por outra, em virtude da relação de semelhança subentendida.

b) Tropo é o emprego de uma palavra em sentido figurado.

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

c) A CABALA envolve o estudo das palavras, das letras e dos seus valores
numéricos, sempre estudados em três grandes subdivisões conhecidas como
Gematria (ocupa-se com o valor das palavras), Temurah (consiste na
combinação das letras de uma palavra com outras, alterando o seu valor e
significado) e Notarikon, que se envolve com a arte dos signos (pela letra inicial
de uma frase ou de uma palavra podemos saber o número chave da palavra).

Outro ponto importante a ser considerado é a forma como foram redigidos


os versículos, sempre em linguagem mágico-esotérica, com o determinado objetivo
de:
1) Afastar, de seu entendimento mágico, aqueles ainda sob o domínio de
preconceitos religiosos e interessados apenas naquilo que esteja de acordo
com sua ótica pessoal.
2) Da mesma forma, afastar os que se recusam, de pronto, a analisar o que
colide com aquilo que estabeleceu como verdade. Suas mentes não estão
ainda preparadas para compreender os dois lados da criação e aceitar que,
aquilo que as religiões rotulam como mal, é, apenas, um outro aspecto da
Divindade em manifestação, necessitando da compreensão e o amor do
verdadeiro Amante da Verdade, a fim de estabelecer o equilíbrio perfeito da
criação. Não da criação realizada pela Divindade, que já nasce perfeita,
apesar de nossa incompreensão para o fato, mas a do homem, divindade
em evolução.
3) Eliminar os medos enraizados pelas religiões em nossa psique e em nossa
formação moral, de forma que sejam extirpados e substituídos por uma
profunda compreensão da beleza existente em todas as formas, mesmo
aquelas onde nossa ignorância só consegue ver o feio e o grotesco; até
mesmo nestas, o Aspirante à Verdade deve chegar a compreender que
“Todas as coisas foram feitas por intermédio d‟Ele, e sem Ele nada do que
foi feito se fez” (Jo.1.3).
4) Tornar as coisas ocultas reveladas aos que realmente procuram de forma
intimorata a verdade, porém, testando o valor daqueles que dizem ”Abre-te
Sésamo”, para que ao depararem com os tesouros ocultos dentro de suas
cavernas pessoais, saibam separar o ouro das escórias e tornarem
luminosas todas as coisas.

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

5) Fazer com que o leitor ultrapasse seus ascos pessoais e chegue a


compreender que o valor é a primeira qualidade daqueles que aspiram ao
poder.

Não terminam aí os objetivos do livro. Seu propósito máximo é a


realização do Altar Sagrado, onde o leitor-Aspirante deverá entrar em contato com a
Divina Presença em seu coração; nisto consiste a meta do homem da Era de
Aquário. Este acontecimento se realizará com a nossa colaboração ou independente
dela. A primeira recomendação que fazemos em relação a este livro é: “Leia-o do
princípio ao fim; ao terminá-lo, garantimos que existirá uma nova compreensão,
tanto em sua mente como em seu coração e sua religiosidade, no bom sentido, sem
pieguismo, será maior do que a de agora”.
Por causa de sua importância para o entendimento das lições contidas no
livro, estamos reproduzindo, em seguida, a Árvore da Vida com as dez Sephiroth e o
alfabeto hebraico com suas correspondências.
Como o processo iniciático é ascendente, de Malkuth até Kether, mas
envolve ainda um processo ascendente da consciência, através dos Quatro Mundos
considerados pela Cabala (Atziluth, Briah, Yetzirah e Assiah), também estampamos
o gráfico da “Árvore Composta”, para facilitar o entendimento do Estudante.

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

A Árvore da Vida
Com as dez Sephiroth e os 22 caminhos

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

O ALFABETO HEBRAICO E SUAS CORRESPONDÊNCIAS

Letras: Nomes: Alfabeto Hieróglifo: Valores


‫א‬ Aleph A O homem 1
‫ב‬ Beth B A habitação 2
‫ג‬ Ghimel G Órgão, a mão que aperta 3
‫ד‬ Daleth D Seio, divisibilidade 4
‫ה‬ He E-H O alento, o sopro vital 5
‫ו‬ Vo (Vau) U-V O olho, a Luz, clareza 6
‫ז‬ Zain Z A flecha, tendência 7
‫ח‬ Heth (Shet) Ch Trabalho, um campo 8
‫ט‬ Teth T Abrigo, uma cabana 9
‫י‬ Iod I-Y-J O dedo índice, mando 10
‫כ‬ Khaph C-K O punho cerrado, forma 20
‫ל‬ Lamed L O braço estendido, elevação 30
‫מ‬ Mem M A mulher 40
‫נ‬ Nun N O fruto 50
‫ס‬ Samekh S Serpente, movimento circular 60
‫ע‬ Hwain O-W Matéria, laço materializado 70
‫פ‬ Pe P-F-Ph A boca e a língua 80
‫צ‬ Tsade Tz Teto, abrigo, têrmo 90
‫ק‬ Koph K-Q Instrumento cortante, acha 100
‫ר‬ Resh R Cabeça humana 200
‫ש‬ Shin Sh-X Duração relativa 300
‫ת‬ Tho (Thau) Th Reciprocidade 400
As seguintes cinco letras têm formas e valores diferentes quando se
acham no fim de palavras;

‫ ך‬Khaf = 500 ‫ מ‬mem = 600 ‫ ן‬nun = 700 ‫ ף‬phe= 800 ‫ ץ‬tsade = 900

20
COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO DA CAPA DO
LIBER LEGIS

Liber Al (1) vel Legis Sub Figura


(Significa: o Livro de toda a Lei velado sob imagens (ou figura) mentais.)

CCXX (220)
(é o número de versículos que tem o Liber Legis.)

As Delivered by
(significa: como (foi) transmitido (ditado) por)

XCIII (2) = 418


(significa: 93 = 418, ou seja: AIWAZ cujos valores pelo alfabeto grego somam 93, tem como
valores cabalísticos 1+10+6+1+400= 418

TO
(para)

DCLXVI
(666, é o número da Besta (o Baphomet), assumido por Aleister Crowley) (3)

(1) AL significa Deus, o poder e a extensão. Designa o Todo Poderoso, o Desenvolvimento da


Unidade, do Princípio, sua difusão no espaço e no tempo. Aqui, quer dizer todo, toda.
(2) Na página 367 do Livro „MAGIA en teoria y práctica” (Luis Cárcamo, Editor - Barcelona) de A.
Crowley, consta “A Palavra da lei é ” “Vontade”; esta palavra tem o valor de 93”. Da mesma
forma, na página 368, do mesmo livro, declara: “Amor é a lei, amor sob vontade”. “Amor (= Agapé, em
grego ) bem como Vontade (=Thelema, em grego ) somam, cada palavra, 93”. Na linha
seguinte diz: “AIWAZ também soma 93”. Como todas estas conclusões são de Crowley e não
conseguimos o mesmo valor para AIWAZ, (pelos nossos cálculos, Aiwaz somaria 89), abstivemo-nos
de estender nosso comentário sobre o assunto. Queremos esclarecer, ainda, que 93 é, também, a
letra composta por Crowley a ser acrescentada ao mantra AUM, modificando a M para MGN (M=40,
G=3 e N=50) e transformando o som do mantra para AUMGN (A=1, U=6, M=40, G=3 e N=50), cujo
somatório é igual a 100, que expressa a unidade na forma de manifestação completa pelo simbolismo
do número puro, “conforme era ensinado aos Iniciados do Santuário da Gnosis da O.T.O.. O número
100 indica misteriosamente a fórmula Mágica do universo como um motor refletindo a luz
indefinidamente. Curiosamente, 93 anos passados da recepção do Liber Legis, o Autor teve a idéia
de fazer este livro.
(3) Ver, neste livro, o Capítulo sobre o Mistério do Baphomet.

21
Exaltação A NUIT
(Extraída do Livro “KUNDALINΔ ou A Serpente
Ígnea de Nossos Poderes Mágicos Internos” de
autoria de OM. Cherenzi-Lind)

Eterna e Universal fonte de amor, de sabedoria e felicidade!


Natureza: és o nume glorioso da vida, o livro grandioso em que
está escrita a história do universo com caracteres de Forma e Consciência.
Quem não esteja instruído em tua escola não pode compreender–te. Por
isto nos fixamos em Ti, pois em Ti se ativa e desenvolve a inteligência
criadora. Em Ti se move e se eterniza a essência da Realidade Vital5, da
qual nossa vida é apenas lampejo fugaz.
Tu, Natureza, és a mãe e irmã virginal que nos alenta na vida e
determinas nossos caminhos. O universo é tua realização; tudo quanto
existe é modalidade de Teu incomensurável amor, manifestado como luz
de vida e fogo benfeitor e perfectivo que tudo glorifica.
Tudo o que se venera como supremo no universo é Teu corpo,
Tua forma, que manifesta a Consciência que nos inspira.
Nós somos viageiros do infinito; em Ti nos encontramos e
eternizamos; em Ti encontra apoio o fraco, sustento o virtuoso, ajuda o
modesto, justificação o sincero, alento o esforçado e força o digno
Cavaleiro do Universo.
És tudo e estás em todas as partes, mas o melhor de Ti fixa–se
por meio de laços morais nos Santuários Secretos do coração de Teus
eleitos.
Ó Mãe Natureza: vive plenamente em nós e assiste-nos em
nossos esforços para depurar–nos de todo o egoísmo, de todos os
preconceitos e de todas as vaidades, de modo que, superando-nos, sejamos
mais dignos de Teu hálito!

5
A Essência da Realidade Vital é Had e Hadit a sua manifestação.

22
ESCLARECENDO SOBRE OS MANTRAS
HADIT E NUIT

Existem, dentro dos textos do Líber Legis, algumas palavras com


significado muito importante demandando uma compreensão toda especial, pois,
como em todos panteões religiosos, representam a divindade em sua manifestação
nos vários planos de consciência onde o homem vive.
O Egito, de cuja filosofia religiosa o Líber Legis nasceu, possuía um
panteão que pode parecer muito confuso, dentro de uma rápida apreciação feita
pelo leigo, onde RA, a Divindade máxima, representava o Uno e era adorado através
de sua expressão como o Sol que conhecemos. Dele, partia toda a criação, em suas
várias expressões, sempre produzidas pelos deuses, seus filhos, todos, por sua vez,
expressando-se também através de um aspecto feminino e, ao mesmo tempo,
considerando outra entidade de caráter antagônico, muito significativa, que
representava o lado negativo dessa divindade; é o caso de Hórus e Set e muitos
outros.
Acresce, ainda, que uma mesma divindade possuía nomes diferentes,
dependendo da atividade ou do plano em que se estava manifestando. Os próprios
egípcios, talvez para não se perderem nessa profusão de nomes, figuravam estes
deuses com características incompreensíveis para o leitor não acostumado com
seus significados, como Hórus Cabeça de Falcão, Tot Cabeça de Íbis, Anúbis
Cabeça de Chacal, etc., porém com um significado esotérico muito importante, onde
estes animais representavam uma característica especial da ação da Divindade.
Vemos que, no Líber Legis, Aiwass, a entidade que ditou o livro para
Crowley, usou bastante os princípios espirituais das divindades egípcias, porém,
alguns de seus nomes estão adaptados a valores cabalísticos, com a finalidade de
facilitar a apreciação correta do leitor e, ao mesmo tempo, evitar possíveis
confusões em relação à mensagem do livro, mantendo, porém, toda a beleza das
vivências espirituais dos mistérios egípcios, dos quais os 32 caminhos da Árvore
Cabalística são uma adaptação valiosa, pois não permitiu que se perdesse este
maravilhoso conhecimento interno que os egípcios possuíam da entidade humana.

23
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

No Líber Legis temos a menção do nome HADIT6, que se revela como a


essência presente em tudo e todas as coisas do universo manifestado. É,
dependendo do plano consciencial onde se manifesta, Hórus (Hoor, Heru,
Harmachis, etc.), sempre relacionado ao Segundo Aspecto do Criador.
Para o entendimento perfeito deste mantra7 é preciso considerar que sua
posição na Árvore Sephirotal é como Chockmah (A sabedoria), a Segunda Pessoa
da Trindade, o Filho ou Cristo na Cosmogonia Cristã, sempre UNO com o Pai (O
Logos Manifestado), este representado por Kether (A Coroa, a Inteligência Oculta).
Ainda se manifesta como Daath (O Conhecimento), situando-se entre as duas
primeiras Trindades, (a Divina, formada por Kether, Chokmah e Binah e a Espiritual,
formada por Chesed, Geburah e Thipheret.
Na Sephirah Tiphareth aparece se expressando como o EU SOU (O
Filho, Hórus, Ieosus, Anjo Guardião, etc.), porém sempre mantendo o nome de Hadit
e a condição de “A Divina Presença Eu Sou” (a Expressão do Pai que está nos
céus).

A soma dos valores cabalísticos do mantra Hadit são:


H= 5
A+ 1
D+ 4
I + 10
T + 9 = 29 = 11 = 2

permitindo concluir o seguinte:

1º) O número 2 (somatório dos valores formadores do mantra) é a


primeira quantidade emanada do 1 manifestado (Kether, a Coroa) ou seja, é o 2o.
Aspecto da Trindade, (Chokmah), o Unigênito, a Mônada Divina, o Filho ou DIVINA
PRESENÇA no homem, que se manifesta numa nova roda da espiral para baixo,
como 11 (10 = o número do nome do Pai, a fonte da Luz e, também, o número
perfeito, mais o 1, como o princípio de uma nova espiral em direção aos planos
menos sutis), representando A Divina Presença oculta no homem. Portanto, neste
trabalho, Hadit é o núcleo gerador em todos os planos de vida, seja como EU SOU,

6
HAD significa a essência primordial; é o germe (gameta masculino) que fecunda todo o Caos (o útero)
Universal, transformando-o em Cosmo. O sufixo “it” é a partícula que imprime caráter propulsor à ideia contida no
radical.
7
Como dissemos anteriormente, todo nome de divindade é um mantra que objetiva o desenvolvimento de
determinados chacras, quando pronunciados corretamente. Em Hadit, temos as vogais “A“, relacionada ao peito
(morada de Hórus ou o EU SOU) e “I”, relacionada a cabeça (a Casa do Pai).

24
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

o Átomo Nous ou Aquele que sustenta a personalidade no plano físico. É a essência


existente no cerne de todas as coisas e a concentração do infinito na Cruz humana.

Ainda seguindo esta linha de raciocínio podemos concluir que:

a) O número 1 indica o 1o Logos - O Criador = Brahma, o RA dos Egípcios,


Deus, o Pai. Na Cabala é representado por Kether, A Coroa da Criação.
b) O número 2 representa o 2o Logos, O Unigênito, O Filho, a Mônada Divina,
a DIVINA PRESENÇA; em nosso estudo é também Hadit como
consciência do EU SOU no homem. É Chockmah na Cabala, aparecendo
também como Daath neste estudo, conforme poderemos ver no comentário
do versículo 49 do 2o. Capítulo do Líber Legis.
c) O número 3, portanto, identifica o 3o Logos, O Espírito Santo ou o Atma do
Hinduísmo. Como veremos em seguida, neste estudo é Nuit, ou seja, a
Virgem do qual tudo nasce e para onde tudo volta, a Mãe do Cosmo,
personificação de Akasha (o Tattwa de cor negra); a Natureza primordial. É
representada no homem por Kundalinî, a energia formadora do corpo do
Cristo (Eu Sou) no ventrículo esquerdo de nosso coração. Na Cabala é
Binah, a Mãe, o Grande Mar.

Esta é a Primeira Trindade manifestada. Não podemos, entretanto


esquecer que Ela é, sempre, a mesma pessoa em 3 aspectos diferentes; isto é
muito importante porque é comum o estudante colocar o Pai acima do Filho e
da Mãe ou Espírito Santo; isto representa uma deformidade da compreensão
da Trindade, já que o Espírito Santo é o próprio Pai, manifestando-se num
Plano diferente daquele da plenitude de sua própria Consciência e não uma
Entidade diferente num Plano diferente e uma consciência diferente. O Filho é
da mesma forma, o Pai e, também o Espírito Santo ou Mãe. Compreendido isto,
poderemos entender o que está exposto abaixo. Em verdade, só existe o UNO,
o Incriado, manifestando-se segundo a sua própria Vontade. Toda a
manifestação dentro do Universo é aspecto de sua vida, inclusive, obviamente,
nós, os seres humanos, que teimamos em não aceitar essa realidade e agimos
segundo aquilo que pensamos ser nossa vontade, utilizando uma criação
particular, divorciada de Seus propósitos, assentada exclusivamente no Plano

25
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

Astral, cuja essência precisaria ser mais bem estudada pelos que buscam a
Realidade Última. Esta é a razão de nossa atual percepção da verdade ser
considerada, pelos hinduístas, apenas como Maya ou ilusão.

2o.) O número 11 é, portanto, o início de uma nova espiral da


manifestação em direção aos planos menos sutis (o exterior, no caso em pauta, ou
seja o Caminho 11 da Árvore Sephirotal, que vai de Kether a Chockmah), depois de
atingir o número perfeito: o 10.
3o.) Assim sendo, o 3o Logos aparece como Formador, do qual tudo
nasce, se manifesta ou se forma. É Akasha individualizado na forma de Nuit. É a
Matéria Negra que envolve todo o universo (vide reproduções de recortes de jornais
anexos na página 25). É a Divina Mãe Kundalinî (Isis no plano físico-etérico) que, ao
chegar à Gruta (ventrículo esquerdo do coração), dá nascimento ao corpo do Cristo-
criança, o Eu Sou ou o Cristo no homem, a expressão de Hadit no plano físico-
etérico.
Tudo isto é confirmado na análise do nome de NUIT, onde podemos
verificar:

1o.) Nuit é o mantra8 que encerra os significados mais próximos, à nossa


percepção, da parte que poderíamos considerar material da divindade. Analisando
separadamente seus valores:
N = 50
U + 6 = 56
I + 10
T + 9 = 19 = 75 = 12 = 3

encontraremos para NU os valores 56 que, da mesma forma para Hadit, dá o


resultado 11, assinalando, conforme explicamos acima, a manifestação da
Divindade, numa espiral abaixo como Filho. Porém, se em Hadit, tudo se encerra no
2, em NUIT vamos encontrar como número final o 3 (50+6+10+9=75 = 12 (o
Caminho que vai de Kether a Binah) = 3), o 1 mais o 2, formando uma nova
expressão numérica, que representa o 3o Logos, manifestando-se como o Espírito
Santo, a Virgem Maria, Akasha, ou sob qualquer nome, na força física, sempre
simbolizada pelo que conhecemos por Natureza.
8
No mantra Nuit, encontramos as vogais “U“, relacionado ao chacra Muladhara e que deve ser pronunciado com
o ânus contraído e “I”, relacionada ao chacra Ajna (frontal), a Casa do Pai.

26
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

Recortes de Jornais com artigos sobre a matéria negra que envolve e permeia todo o universo conhecido e que intriga nossos
cientistas atuais. Os antigos sacerdotes egípcios já a conheciam e a simbolizaram com a Virgem Negra, adorada nos altares
cristãos, num sincretismo religioso bastante significativo.

2o.) Dentro desse contexto, NU é ainda O Pleroma Gnóstico, o rio que


corre no Abismo Celeste (Nut, o Caos), onde todos os deuses foram engendrados. É
também o Escultor celeste que cria uma jovem formosa e a envia (qual outra
Pandora a Batu) ao homem, cuja felicidade fica, desde então destruída (é a Pistis
Sofia dos Gnósticos). Campo da revolução invisível; é a própria Nuit e, também, o
TIAOU, a região dos Manes, a região infernal9. É também: o Abismo celeste (Caos),
o espaço Infinito personificado em Nuit (o Cosmos), o Princípio feminino, a massa
líquida da qual evolveram todos os deuses e a deusa do céu, pelo qual navega o

9
Ver página 42 do livro “Mistérios Iniciáticos”, de Henri Durville.

27
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

barco do Deus Sol. Os sacerdotes egípcios a figuraram como uma mulher


debruçada, tendo em seu bojo a criação e, as suas costas, o firmamento estrelado.
Conseqüentemente Nuit é a própria Mulaprakriti da Teosofia, ou seja, a
raiz da Natureza (Isis) ou da Matéria. É o abstrato princípio deífico feminino: a
substância indiferenciada ou Akasha. H.P. Blavatsky diz, ainda, de Mulaprakriti: “é a
matéria cósmica indiferenciada, a matéria primordial, essência ou raiz da matéria,
eterna causa material e substância ainda não manifestada de tudo quanto existe; é a
imensa massa de matéria informe, caótica ou indiferenciada, da qual surgem todas
as formas ou manifestações materiais do universo visível ou manifestado. Os
Alquimistas ocidentais lhe dão o nome de “Terra de Adão” e os Vedantinos “O Véu
sobre Parabrahman”. NUIT, por sua vez, deve ser compreendida como Cosmos
manifestado ou, ainda, o princípio espiritual do universo material e Isis, a Natureza
material que nos envolve. Ainda segundo H.P. Blavatsky, cada partícula ou átomo
de Prakriti (matéria) contém Jiva (Vida Divina) e é, ao mesmo tempo, o corpo do
Jiva10 que contém.
Da mesma forma, cada Jiva é o “corpo” do Espírito Divino, já que Este
impregna (é a essência de) cada Ser. Para melhor entendimento, bastaria
compreender que este Espírito Divino-Criador (Brahmâ = Kether) é o Primeiro Logos
e, cada Jiva, é Hadit, a essência espiritual de cada universo individual, este
representado pelo ser humano, o que nos leva a compreender ainda melhor a
afirmação existente no item 23 do 2o Capítulo do Líber Al vel Legis, (Eu Sou só. Não
11
existe Deus onde Eu Sou) , comentado neste livro, daí ser verdade que “impregno
com meu ser cada partícula de Nuit, a minha eterna noiva imortal”.

3o.) Confirmando o item acima é importante não esquecermos que Nuit é


o esconderijo (que envolve - vide versículo 1 do Capítulo 2) e o complemento de
Hadit, ou seja, Nuit é expressão de HADIT no plano da forma, na qual este nasce o
homem, através da expressão daquela como Kundalinî.

10
Jiva, segundo H.P.Blavatski, é o Espírito vital ou vida, no sentido do Absoluto; significa também a Mônada
Divina ou o Aspecto Crístico no homem (“EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A Vida).
11
Cada Ser Humano é a manifestação de um Universo perfeito e neste universo individual não existe outro Deus
que o EU SOU, ou seja, Jiva, Cristo Interno, Mônada Divina, etc.

28
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

É importante enfatizar que Hadit (como Cristo) só nasce, ou seja, se


manifesta no homem, pela ação de Kundalinî (Isis). Neste caso, Nuit é o útero
universal, gestor da infinita expansão da Rosa no coração humano. 12

Imagem de N. S. de Montserrat
Uma das muitas Virgens Negras adoradas nas grandes Catedrais européias,
incorporando os predicados de Nuit/Isis para a Cristandade.

12
O Ser humano vive no externo, em Nuit/Isis (a matéria) e sua consciência ainda não penetrou Hadit, o núcleo e
a essência das coisas. Hadit é a infinita concentração na cruz humana e também o próprio núcleo e a essência
da vida escondida na matéria e na forma (Nuit/Isis).

29
LIBER LEGIS

PRIMEIRO Capítulo COMENTADO

1. Had! A manifestação de Nuit.

Comentário: A compreensão deste versículo é muito sutil. Primeiramente,


o Estudante deve voltar a ler o comentário sobre a Trindade, na página 23 e imbuir-
se do sentido primário do mantra Had, como essência de tudo e de todas as coisas.
Isto feito poderá compreender que a manifestação de Nuit não pode ocorrer sem a
“anterioridade” de Had, bem como Hadit deve ser compreendido “escondido” no seio
de Nuit (ver 2o. capítulo, versículo 1).

2. O desvelar dos companheiros celestes.

Comentário: Had e Nu são as duas potências veladas no seio de Ra ou


Kether, a Coroa da Manifestação. Quando ocorre a manifestação de Nuit,
naturalmente Hadit13 está presente, daí que a manifestação de Nuit é,
verdadeiramente o desvelar dos companheiros celestes; pois a manifestação de um
é, implicitamente, a do outro.14 Na Cabala constam como Chokmah e Binah, e na
igreja cristã aparecem como Maria e seu filho Jesus, o que com todo o respeito, não
deixa de ser um entendimento imperfeito destes sublimes princípios da Divindade.

3. Todo homem e toda mulher é uma estrela.

Comentário: Esta é a grande verdade esotérica da natureza humana.


Para compreendê-la, primeiramente é necessário imaginar Hadit, o centro cósmico,
tanto do homem como da mulher, envolvido por Nuit, representada pelas energias
materiais sob as quais se manifesta o ser humano.

13
Tanto no homem como na mulher, Hadit é a Radiante Vida Eterna que ilumina e sustenta todos os átomos do
corpo humano, seja qual for o estado evolutivo em que se encontre.
14
A denominação “companheiros celestes” não deve confundir o estudante em relação aos Deuses Gêmeos
Heru-Nech-Hra-Tef e Heru-Quent-Anmaate, da cosmogonia egípcia, relacionados aos Átomos Elementais
Animal e Humano (Castor e Pólux) no Universo cosmogônico humano. Sobre o assunto, ler o livro “Os Deuses
Atômicos”, que pode ser “baixado” gratuitamente do Blog: http://revelandoosmisteriosdooculto.blogspot.com/

30
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

Em seguida, devemos projetar as partes de um zodíaco, traçando um


triângulo eqüilátero, no qual o vértice superior fica consagrado ao signo de Áries (1o.
signo), o da esquerda ao signo de Leão (5o. signo) e o da direita a Sagitário (9o.
signo), formando, os três uma figura geométrica exclusivamente de signos de fogo,
como vemos abaixo:

 (Áries)

 (Leão)  (Sagitário)


Continuando, vamos desenhar outro triângulo eqüilátero, agora com a
linha base na parte superior, onde vamos consagrar o vértice da esquerda ao signo
de Gêmeos (3o. signo), o da direita ao signo de Aquário (11o. signo) e o vértice
inferior ao signo de Libra (7o. signo), formando, desta vez uma figura somente com
signos de Ar, como está abaixo:

 (Gêmeos  (Aquário)

 (Libra)
Numa terceira etapa, vamos projetar outro triângulo eqüilátero, com
signos do elemento terra, agora com um vértice voltado para a direita, onde
colocaremos o signo de Capricórnio (10o. Signo), no vértice superior, o signo de
Touro (2o. Signo) e, no inferior, o signo de Virgem (6o. Signo), como vemos abaixo:

 (Touro)
 (Capricórnio)

 (Virgem)
Finalmente, projetemos mais um triângulo eqüilátero, agora com um
vértice voltado para a esquerda, ao qual destinaremos aos signos de água,
colocando o signo de Câncer (4o. Signo) no vértice esquerdo, o signo Peixes (12 o.
Signo) no vértice superior e o de Escorpião (8o. Signo), no vértice inferior, tendo
desta forma, a seguinte figura:

 (Peixes)

 (Câncer)

 (Escorpião)

31
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

Agora, se sobrepusermos os dois primeiros triângulos, ou seja, os de fogo


e Ar, teremos a figura abaixo, formando uma estrela de 6 pontas, com seus
elementos em perfeita combinação ou seja:

Fogo & Ar:

  

  

Da mesma forma, sobrepondo os triângulos com signos de Terra com os


de Água, teremos a figura abaixo, também uma estrela de 6 pontas, da mesma
forma com seus elementos em perfeita combinação, ou seja:

Terra & Água




 
Se agora sobrepusermos as duas estrelas de 6 pontas, uma sobre a
outra, rotacionando-as, de forma que seus vértices ocupem lugares distintos dentro
de uma circunferência, teremos uma estrela de 12 pontas, figurando um zodíaco, a
expressão mais perfeita daquilo que tanto o homem como a mulher são no universo
manifestado. No centro, invisível, resplandece a origem de toda a consciência
perceptiva do homem real, em seus aspectos positivo/negativo. É Hadit (Jiva,
Mônada Divina ou Divina Presença EU SOU), perfeita manifestação do Uno, que
atua no ser humano utilizando os 12 pares de nervos cerebrais, representando os
vinte e quatro anciãos perante o Trono (o chacra coronário ou Kether, a Coroa (ver
Apocalipse 4, 4, e as referências à palavra Trono em toda a Bíblia).


32
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

Cada triângulo forma uma expressão de consciência em três estágios de


percepção, que tanto pode ser positiva como negativa:
a) percepção sensitiva, táctil ou física com o triângulo do elemento terra, que
tem como fundamento o Tattwa Prithivî;
b) percepção emocional, sentimental ou amorável, com o triângulo do
elemento aquoso, que tem como fundamento o Tattwa Apas;
c) percepção mental, intuicional ou espiritual com o elemento fogo, que tem
como fundamento o Tattwa Tejas;
d) percepção divina, que começa após a intuicional (ainda insuspeitada pelo
ser humano) com o elemento aéreo, que tem como fundamento o Tattwa
Vayu.

A representação do ser humano como estrela implica na forma correta de


retratá-lo em seus diversos estágios de evolução.

A estrela de Davi com um ponto no meio , é sua representação


pessoal integrada ao seu aspecto divino .
A estrela de 5 pontas ou Pentagrama é a estrela da Teurgia, tanto
superior como inferior.

Representa o ser humano dentro da circunferência como vencedor dos


elementos inferiores de sua atual constituição e estágio de evolução, que culminará
quando tenha conquistado as energias superiores de Aquário, Áries, Sagitário,
Gêmeos e Libra (Vontade, Iluminação, Expansão, Sabedoria e Equilíbrio), que
ornarão sua representação no final da Ronda evolutiva em que a humanidade se
encontra (4a. Ronda).
Do centro desta estrela, no homem superior, emanam os raios do Sol
Espiritual (Signo de Leão) da seguinte forma:

a) vértice superior: Aquário (Ar), signo da Vontade Espiritual (Thélema).


b) vértice lateral esquerdo: Áries (Fogo), signo da iluminação Espiritual.
c) vértice lateral direito: Sagitário (Fogo), signo da Expansão Espiritual.

33
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

d) vértice inferior esquerdo: Gêmeos (Ar), signo da Sabedoria Espiritual.


e) vértice inferior esquerdo: Libra (Ar) signo da Harmonia Espiritual.

A cruz também é uma representação estelar do ser humano ainda


submisso à matéria; é representada por um homem em pé, os pés juntos e
aprumados em relação à cabeça e com os braços abertos. 15

Seja qual for a forma da estrela, 7 (a estrela dos grandes iniciadas), 8 (a


estrela anunciadora do Cristo), 9, 10 ou 11 pontas ou triângulos, ela sempre é uma
representação do Andrógino Cósmico, em suas diferentes etapas de vivenciamento
nos mundos manifestados, conquanto, no âmago da forma estelar, possamos
sempre ver a luz que resplandece na forma. Esta é a razão pela qual todo homem e
toda mulher é uma estrela.

4. Todo número é infinito; não há diferença.

Comentário: Esta não é uma verdade matemática, porquanto todo número


dividido por si mesmo, anula-se, resultando zero ou nada. Entretanto, se atentarmos
que todo número é um fenômeno quantitativo e expressão de um númeno, podemos
compreender que, mesmo quando uma quantidade qualquer é anulada pela divisão
no mundo dos fenômenos, permanece a infinitude de sua origem no universo
essencial, embora não possa mais ser percebida pelos sentidos da percepção
humana. O número infinito é este Númeno16, ou seja, o UM imanifestado, do qual
procedem todos os números ou Mônadas Divinas, essencialmente todas iguais, sem
diferença e infinitas como expressão e, no caso, também essência (númeno) do Um.

15
A adoração ao Cristo pregado na cruz é uma criação promovida pela Igreja Católica Apostólica
Romana, com a finalidade de explorar a emocionalidade de seus seguidores, em consonância com o aspecto
o
inferior do 6 . Raio, que preponderou durante os últimos 2.000 anos, em vez de ensinar o verdadeiro sentido do
o
símbolo do Ser Divino na Cruz humana. Isto provocou o esquecimento do aspecto superior do 6 . Raio, o
Idealismo, ensinado pelo Cristo, incompreendido e negligenciado pelos religiosos ocidentais da Era de Peixes,
embora existam meritórias exceções como foram Ghandi, Leibiniz, Newton, Anwar Sadat, Albert Einstein,
Madre Teresa de Calcutá e muitos outros que, em suas áreas específicas, tudo fizeram em prol de uma
humanidade melhor, objetivo máximo do Cristianismo.
16
Númeno (Nóumeno) - A verdadeira natureza essencial do ser, não perceptível pelos sentidos. A essência ou
substância das coisas, que é por si mesma, existente atrás dos fenômenos. Exemplo: O Raio é um fenômeno da
eletricidade.

34
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

Desta forma, todo número é infinito e não há diferença entre eles, pois a unidade é a
única realidade entre os números, que nada mais são do que somatórios do UM.

5. Ajuda-me, ó guerreiro senhor de Tebas, em minha revelação ante os


Filhos dos homens!
Comentário: Esta fala é de Aiwass17, entidade comunicante do Líber Legis
dirigindo-se a Aleister Crowley, aqui denominado como Guerreiro de Tebas em
virtude de uma encarnação anterior em que este é designado como o sacerdote
Ank-f-n-khonsu, no capítulo sobre a “Estela da Revelação”). Guerreiro é sempre o
Iniciado nos mistérios menores e o titulo de Senhor de Tebas era dado àquele que
se tornava plenamente consciente no plano mental e, por conseguinte, um
“conquistador da morte”.
A exortação em análise apela para que Crowley se incumba da tarefa da
revelação que Aiwass desejava fazer “ante os Filhos dos homens” e acabou
resultando no Líber Legis.

6. Sê tu Hadit, meu centro secreto, meu coração e minha língua!

Comentário: São ainda da Entidade comunicante as palavras acima,


dirigidas a Hadit, a Divina Presença no homem, qualquer que seja o plano de
consciência em que este se encontre, exortando-o para que prevaleça em seu
coração e em suas palavras, ajudando-a e amparando-a na tarefa a que se propõe,
ou seja, ditar o Líber Legis para Aleister Crowley.

7. Observai! Está revelado por Aiwass, o ministro de Hoor-paar-kraat.

Comentário: A partir deste versículo, o 7, não por acaso, a fala, apesar de


ditada por Aiwass, representa Nuit, tanto em seus aspectos mais sutis como nos
mais mundanos, inclusive o de Isis (a natureza material como a conhecemos).
Para entendê-lo, primeiramente necessitamos conhecer os valores
cabalísticos de Hoor-paar-kraat:

Hoor = 5+70+70+200 = 345 = 12 = 3 (Hórus)


Paar = 80+1+1+200 = 282 = 12 = 3 (Ra)
Kraat= 20+200+1+1+ 9 = 231 = 6 (Nuit)
12 = 3

17
Aiwass chegou a ser considerado por Crowley como sendo o seu Santo Anjo Guardião (Guia), mas este, pela
exortação contida neste versículo, parece deixar claro sua existência como individualidade (embora em outro
plano de consciência), ainda dependente da Realidade Máxima que se manifestava nele: A Mônada Divina ou
Divina Presença existente em cada Ser.

35
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

As formas dos nomes das Divindades da teogonia egípcia, adaptadas ao


contexto do Líber Legis, estão condicionadas ao objetivo da mensagem, sem a
preocupação de estar vinculada a qualquer forma de vernáculo, a não ser a de seus
valores cabalísticos decorrentes da mesma. Assim, no decorrer da análise dos
versículos do livro comentado, vamos encontrar palavras aparentemente símiles
(Hoor-pa-kraath, Heru-pa-kraath, Ra-hoor-khuit, etc.), mas com valores cabalísticos
diferentes ou, então, com maior ênfase no objetivo perseguido.
No caso em estudo (Hoor-Paar-Kraat), foram aplicados os recursos da
Gematria, da Temurah e do Notarikon a fim de que esta palavra pudesse ser
compreendida, por causa da sua composição trina, como a própria Trindade e não
apenas a de um de seus aspectos isolados. Disso resultou a palavra Hoor-Paar-
Kraat, como uma Trindade de caráter inferior, de quem Aiwass se intitula ministro,
assumindo a responsabilidade e dando conotação divina ao que está escrito no
Líber Legis.
É importante ressaltar que Hoor-Paar-Kraat é o próprio Hórus (Heru-pa-
crat, o Harpócrates dos gregos), porém aparecendo aqui mais como um deus fálico
do que um deus solar e, enquanto Ra-Hoor-Khuit é a expressão da Trindade mais
elevada no homem, Hoor-Paar-Kraat é a mesma coisa para os planos inferiores.
Representam a mesma entidade, embora em níveis de consciência diferentes.
Na saudação que reproduzimos abaixo, que fazia parte do processo
iniciático egípcio, encontramos menção ao Deus Par (o mesmo que Paar, em função
do que já explicamos anteriormente), exaltado como Senhor da Coroa de Ureret18.
Isto considerado fica claro que é alguém ou algo que ainda cresce na re-assunção
de sua realeza espiritual:

“Homenagem a ti, ó deus Par, poderoso, Senhor da coroa Ureret, que governas
com o chicote; és o senhor do falo, cresces à medida que brilhas com raios de luz
e o teu brilhar chega as partes mais extremas (da terra e do céu e, neste caso, do
corpo humano). És o senhor das transformações e tens múltiplas peles
19
(reencarnações) que escondes no Utchat quando nasce. És o poderoso dos
nomes entre os deuses, o poderoso corredor de passadas consideráveis; és o
deus, o poderoso que chega e livra o necessitado e o aflito de quem o oprime”.

18
Coroa de Ureret é o disco Solar que encimava a cabeça de Hórus, de Ra e de todos os Iniciados que tinham
conquistado sua emancipação espiritual.
19
UTCHAT é a imagem do olho de Hórus ou de Ra, atacado por Set, significando “percepção em muitas vidas e,
também, em todos os planos de consciência”.

36
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

8. O Khabs está no Khu, não o Khu no Khabs.

Comentário: O mantra KHABS tem os seguintes valores algébricos:

K = 20
H =+ 5
A =+ 1
B =+ 2
S =+ 60 =
88 = 16 = 7
O número sete é o número da casa do ser real (Hadit, a Mônada ou
Divina Presença) em sua manifestação no Plano físico, compreendida com
facilidade por todos aqueles que já estudaram alguma coisa sobre os 7 chacras ou
centros de força e os 7 planos de consciência. Khabs é O Triângulo eqüilátero
sobre o quadrado ou a pirâmide triangular sobre o cubo. Como Hadit é o cerne
e o centro de todas as coisas, por analogia é fácil depreender que, sendo o chacra
cardíaco aquele que corresponde exatamente ao meio algébrico entre os chacras
superiores (Sahasrara, Ajna e Vishudda) e os inferiores (Manipura, Swadhisthana e
Muladhara) é na parte espiritual do coração onde Hadit mora, ou seja, o Coração
humano é a Khabs.
KHABS é sempre veículo, corpo ou morada, seja o coração do corpo
físico ou do espiritual. Nas iniciações egípcias, também era o corpo físico ou os mais
sutis (denominado Ka ou Kha), quando se tratava do duplo do iniciado ao se
desprender em busca das experiências fora do corpo grosseiro. É o veículo
manifestado da consciência, qualquer que seja o grau desta. 20

20
Observação:
a) Analogamente, o Sol físico é o coração do Logos do nosso sistema planetário, pulsando a cada 2h40‟
a uma velocidade de cerca de 4 mph, alterando sua superfície em contrações e expansões de
aproximadamente 10 quilômetros de altura.
b) Um eminente filólogo brasileiro, cuja inteligência, sinceridade com a Ciência Sagrada e
conhecimentos esotéricos o Autor reverencia pela sua estatura de “Mestre no coração”, dá outra
interpretação na análise deste item, também respeitável, mas diferente da aqui exposta, principalmente
quando diz que Hadit é o “átomo material”. Provavelmente referia-se ao átomo semente físico-etérico e
compreendia esta passagem sob outra ótica, também muito respeitável, mas que não conseguimos alcançar
em sua plenitude. No trecho em que diz que o coração é a própria morada de Khabs (?), acreditamos ter
havido algum erro de datilografia, pois o Líber Legis diz claramente que “Khabs é o nome de minha casa”, ou
seja, sendo Khabs morada ou casa de Hadit e considerando que Hadit expressa-se como EU SOU no
ventrículo esquerdo do coração, seria incongruente pensar que Khabs (a casa de Hadit) pudesse morar em si
mesma, ou seja, no coração. Entretanto, é importante ressaltar sua alta percepção espiritual e seu valor
como bandeirante do pensamento humano, porquanto consideramos muito próxima sua concepção de Khabs
(20+5+1+2+60 = 88 = 16 = 7), embora a tenha traduzido como “Kaukab”, uma palavra árabe que quer dizer
estrela, quando, se usarmos as operações cabalísticas denominadas Gematria e Themurah, ela parece ser
apenas a palavra egípcia “khat (100+5+1+9 = 115 = 7), usada no “Livro Egípcio dos Mortos” de E. A. Wallis
Budge - Editora Pensamento (pág. 34), significando corpo físico, que, como morada de Hadit, é o coração,
que aparece como “ab”, na página 35 do mesmo livro. (Na “Estela da Revelação”, “n khab” é traduzida como
“ao corpo, ao homem e “sombra”).

37
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

É importante também, na análise deste versículo, considerar que 7 é o


número da Sephirah Netzach (Vitória), relacionada à Alma como veículo inferior do
Espírito e superior da Personalidade, bem como suas implicações cabalísticas.
KHU, por sua vez, é, conforme já explicamos anteriormente, o 3 o. Aspecto
da Trindade; a matéria negra, em estado potencial (o Caos, o Abismo) que envolve
todo o universo manifestado, do qual é a base e da qual tudo emana e para a qual
tudo volta.
Desta forma, podemos compreender perfeitamente que Khabs, o veículo
manifestado, seja o coração, o corpo físico ou o sutil está no Khu, base de toda a
manifestação existente; o inverso é inadmissível, embora alguns estudantes ainda
não se aperceberam da sutileza que representa o Khu dentro do Livro da Lei, pois
ele é o princípio “negro” perseguido pelo alquimista para obter a pedra filosofal.

9. Adorai então o Khabs e vejam, sobre vós, a manifestação de minha luz!

Comentário: Este versículo confirma o que foi comentado acima,


enfatizando a importância do coração (Khabs, a morada de Hórus - página 61 do
Livro Egípcio dos Mortos) como ponto focal da consciência humana21 para o próximo
estágio evolutivo da raça humana. “Adorai o coração e vede minha luz” é a grande
mensagem de Nuit para a humanidade, pois ela sabe que ali reside a Luz Radiante:
Hadit, Hórus, o Cristo, etc. o Filho, sua Luz e, também, da humanidade; o
sustentador da eternidade para toda a criação.
A focalização do coração retirará a mente humana de sua posição atual,
restrita ao plexo solar (atendimento dos apetites materiais e tudo o que é externo e
mundano) para centralizá-la no chacra cardíaco, de onde o homem “receberá a luz”
que vem do alto, quando, então, a intuição prosperará até chegar ao estágio em que
“já não sou eu quem vive, mas o Cristo vive em mim” (Gálatas, 2, 20).

21
Na contraparte etérica do corpo físico, na câmara superior do ventrículo esquerdo do coração humano, está
presente a manifestação da Divina Presença ou Hadit, conhecida como “Eu Sou”, “Rei Artur” Átomo Nous, Cristo
Interno, Moisés, Krishna, etc., etc.

38
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

10. Que meus servidores sejam poucos e secretos: eles regerão a maioria e
os conhecidos.
Comentário: Em primeiro lugar, quem são os servidores de Nuit?
Encontramo-los entre os servidores da Humanidade, os protetores da vida animal,
da vida vegetal, os ecologistas e todos aqueles que já compreenderam a
necessidade da preservação da vida no Planeta, em todas as suas formas de
expressão. São poucos em relação aos destruidores inconseqüentes e geralmente
trabalham de forma solitária, enfrentando as maiores dificuldades em seus afãs,
tendo como único propósito servir à vida. Vemo-los entre os componentes do
“Greenpeace”, nos cientistas que trabalham nas mais remotas e adversas regiões do
planeta e todos aqueles que estão sempre procurando salvar vidas, preservar a
natureza e recuperar sua expressão anterior para as gerações futuras. Recusam
sistematicamente o convívio com a maioria da sociedade e o conluio com as
autoridades reconhecidas, por tripudiarem sobre os valores de suas funções e
fazerem prevalecer os interesses subalternos e imediatos em detrimento do bem
geral, insurgindo-se, muitas vezes, contra os Servidores de Nuit, tachando-os de
loucos e “desligados”.
No âmbito esotérico. os Servidores de Nuit são aqueles que se preparam
devidamente para a subida de Kundalinî, preparando o Khabs para servir como nova
morada para a Divina Mãe. Nesta atividade, encontraremos aqueles que
compreenderam a necessidade de se manterem em paz, em silêncio e recusam os
valores perseguidos pela maioria da humanidade e as pretensas “autoridades” em
assuntos esotéricos; sabem que o processo é estritamente particular e depende
única e exclusivamente do esforço de cada um; a experiência de alguns não é válida
para todos. Sabem, também, que o verdadeiro Iniciador está dentro de nós mesmos.
Regerão os muitos e os conhecidos porque se tornarão sábios e dominarão tanto no
mundo externo como no interno.

11. Estes são tolos que os homens adoram; ambos, seus deuses e seus
homens são ingênuos.

Comentário: Aqui Nuit refere-se à maioria e os reconhecidos


mencionados no versículo anterior, ou seja, os seres humanos ainda “adormecidos”
em relação à Senda Espiritual e as autoridades religiosas, que “fabricam” imagens
de Deuses (os santos da igreja cristã) completamente estranhas à Realidade Única,

39
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

porquanto nunca chegaram a pressentir o que representa a vida espiritual e têm a


veleidade de, sobre a mesma, estabelecerem “valores” completamente fantasiosos,
apenas para satisfazer suas concepções e interesses particulares.
Na segunda frase, de forma metafórica, é deixado claro que ambos, os
homens e as divindades de suas concepções são fantasiosas, quiméricas e tolas,
por não corresponderem à Realidade Única, que está muito além dessas criações.

12. Avancem sob as estrelas, ó Crianças, e tomai vosso alimento de amor!

Comentário: Neste versículo temos uma palavra chave da ciência


esotérica: Crianças. Ela quase sempre está associada ao conceito de verdadeiro
Iniciado, em sua condição de pureza, alegria e a capacidade de crescer cada vez
mais em seu aperfeiçoamento espiritual. Era a essas “crianças” que o Mestre Jesus
se referiu quando disse: “Em verdade vos digo que se não vos converterdes e
não vos tornardes crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”.22
Avançar sob as estrelas é o mesmo que vivenciar as energias de todas as
constelações do Zodíaco, tomando seu alimento de amor, representado pelas lições
superiores contidas em cada signo. Dessa forma, este versículo pode ser entendido
como a necessidade do Iniciado (o que começa) reencarnar novamente em cada
signo zodiacal, agora incorporando e aprendendo a comandar essas energias, com
a finalidade consciente de servir a sua própria evolução e ao Plano de evolução da
Divindade.

13. Eu Sou sobre vós e em vós. Meu êxtase está no vosso. Minha felicidade é
ver vossa alegria.
Comentário: Para compreender este versículo é imprescindível
aceitarmos Nuit como Akasha, de quem tudo nasce, tudo se mantém e para a qual
tudo volta. É o Terceiro Aspecto da Divindade, pressentido por Paulo em seu
discurso em Atenas23 quando diz: “pois nele vivemos, nos movemos e existimos
porque dele também somos geração”, testificando a imanência e transcendência da
presença divina no homem, conforme o item nos deixa perceber. Realmente Nuit, a
matéria-vida do Universo está sobre nós e em nós. Tudo o que se passa conosco é
vivenciado por este maravilhoso Aspecto da Consciência Divina que nos ama e

22
Mateus, capítulo l8, versículo 3.
23
Atos dos Apóstolos, capítulo 17, versículo 28.

40
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

participa, tanto de nossas alegrias como também de nossas tristezas. Para o


Iniciado é fundamental compreender esta verdade e tudo fazer para viver em
Alegria, pois sua consciência não pode mais ultrajar o amor de Nuit; não pode mais
deixar-se envolver por pensamentos ou atitudes que não estejam em sintonia com a
intensidade do amor da Divina Mãe. Em consonância com esta verdade, é sempre
bom não esquecer as qualidades da Deusa Kâli, “a negra”, divindade do panteão
hindu que destrói aqueles que não sabem participar de seu amor.
A vibração-chave de nosso atual Universo é o puro Tattwa Prithivî. Êxtase
e alegria são vibrações prithivicas; vivenciá-las de noite e de dia é obrigação do
verdadeiro Iniciado.

14. Acima, o azul cintilante é o esplendor desnudo de Nuit; Ela curva-se em


êxtase para beijar os ardores secretos de Hadit. O Globo alado, o azul
estrelado. São meus, Ó Ank-af-na Khonsu! 24

Comentário: É clássica a figura de Nuit encurvada, tendo em seu bojo


toda a criação manifestada e, em suas espaldas, o azul do firmamento estrelado.
Este versículo é a representação poética deste símbolo, deixando perceber o
sentido místico do amor da Divina Mãe em relação a todos as criaturas. Os ardores,
energias e fogos secretos de Hadit representam a Luz das Mônadas Divinas dentro
da criação.
O Globo Alado (o “Urœus” ou “atef”) simboliza as duas verdades, ou seja,
o poder sobre o bem e o mal e, também, sobre a vida e a morte; nos antigos
Mistérios egípcios, era colocado sobre a cabeça do Osiris-defunto (o Iniciado),
conforme as narrativas hieroglíficas das cerimônias de Iniciação.
Ao dirigir-se a Ank-af-na Khonsu, Nuit alerta-o: o poder final sobre todas
as coisas é seu, pertence à Mãe Natureza que, na simbologia egípcia, também é
retratada como Tot ou Teuti, o julgador de vivos e mortos, conforme já foi explicado
anteriormente.

24
Ver explicações sobre este personagem no capítulo 4 deste livro, A ESTELA DA REVELAÇÃO.
a) Ank-af-na Khonsu, é o que matou a si mesmo (superou a personalidade), ou seja, o vencedor da morte
ou Iniciado Real.
b) Aleister Crowley acreditava ou aceitava a possibilidade de ter uma “certa identidade” ou ser uma
“continuidade” de Ank-f-n-khonsu, Alto Sacerdote no Egito Antigo, que teria empreendido, sem êxito, a
restauração dos mistérios solares em sua época; foi sábio, praticante da Teurgia e adquiriu renome por
ter conquistado sua iniciação maior com sucesso, sendo considerado um “vencedor da morte”. A Estela
da Revelação, catalogada pelo Museu Boulaq, no Cairo, Egito, sob o n°. 666 (coincidência?) pertence a
um monumento funerário dedicado a este sacerdote, que teria vivido nos idos de 725 a.C. “The Holy
Book of Thelema” de A. Crowley, publicado por Samuel Weiser, Inc. (York Beach, Maine, USA) aborda
com detalhes e comentários esclarecedores, os estudos feitos sobre esta Estela.

41
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

Reprodução de uma gravura egípcia onde Nuit, encurvada, envolve em seu bojo toda a
criação, tendo, as suas costas, o firmamento azul estrelado.

42
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

15. Agora sabereis que o escolhido, Sacerdote e apóstolo do espaço


infinito, é o príncipe-sacerdote a Besta25; e em sua mulher, chamada a
Mulher Escarlate está todo o poder outorgado. Eles acolherão minhas
crianças em seu aprisco: trarão a glória das estrelas para os corações
dos homens.

Comentário: O versículo acima parece conter algo muito importante para


o aprendizado do Estudante sincero, obrigando-o a uma perscrutação especial sobre
seu sentido velado.
Primeiramente, é preciso descartar a possibilidade do mesmo se referir a
Crowley e a sua esposa Rose, pois os títulos outorgados não se ajustam as suas
personalidades, nem tampouco os acontecimentos de suas vidas estão de acordo
com as afirmações metafóricas nele enunciadas.
Isto esclarecido, podemos analisar as palavras-chaves para chegar a uma
compreensão mais próxima da verdade.
A Besta é a mente inferior (he phren) e a Mulher Escarlate é a Grande
Cidade Babilônia que, em linguagem apocalíptica26, personifica a natureza física em
todas as suas expressões de vida; no caso do homem, é o corpo carnal e os desejos
pela existência, nele inerentes.
O escolhido, Sacerdote e apóstolo do espaço infinito, pode se estar
referindo ao homem real, a Mente superior (Iêsous = = 10+8+
200+70+400+200 = 888), pois somente ele é o superior (Príncipe = poder,
autoridade e sacerdote = o que dirige o processo mágico, aquele que determina o
que e como deve ser feito)
Isto esclarecido, poderíamos fazer a leitura do versículo da seguinte
forma: “A Mente Superior é a forma escolhida para ensinar a verdade por toda a
eternidade; ela está acima da mente inferior, a qual utiliza, com o propósito de
realizar a evolução definitiva da humanidade. A natureza física prepondera
atualmente sobre todas as formas de vida, entretanto, sua união com a Mente
Superior, objetiva receber todas as Almas em evolução e destiná-las à glória
das estrelas, através da iluminação do coração dos homens.
Poderíamos substituir, no versículo, o Príncipe-Sacerdote por Hadit,
Hórus, Cristo Interno, etc. e a Mulher Escarlate por Nuit, que seu sentido

25
Besta ( = 8+500+100+8+50=666). Veja o comentário do versículo na página seguinte.
26
Ver Apocalipse, capítulo 14, versículo 8.

43
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

permaneceria integral; o fato é que estamos lidando com valores espirituais e


qualquer atitude de personificá-los, pode desfigurar seu sentido superior.

16. Pois ele é sempre um sol e ela uma lua. Porém para ele a alada chama
secreta e para ela a inclinada luz estelar.

Comentário: Este versículo confirma o aspecto transcendental e esotérico


do versículo anterior, pois Hadit será sempre a manifestação das energias solares
positivas na natureza do homem, ao invés de Nuit, a representação das energias
refletidas, portanto passivas, em toda a criação.

17. Entretanto, vós não sois assim escolhidos.

Comentário: O esclarecimento indica que a raça humana ainda não


participa da transcendentalidade da natureza de Hadit e Nuit.

18. Arde em suas frontes, ó serpente esplendorosa!

Comentário: Este versículo representa uma exortação da própria Nuit


para que seu aspecto como Kundalinî, a energia serpentina, formadora do corpo
radiante do ser humano, atinja seu ponto mais elevado e brilhe esplendorosa no
chacra frontal de todos os que sabem ousar.
19. Ó mulher de pálpebras azul-celeste, inclina-te sobre eles!

Comentário: Nuit, aqui denominada “mulher de pálpebras azul-celeste” é


exortada a envolver os homens com seu amor e perfeição.

20. A chave dos rituais está na palavra secreta que lhe dei.

Comentário: É sempre temerário a tentativa de descobrirmos o que é


secreto, mas é importante intentarmos vencer as limitações antigas e elegermo-nos
para a participação no banquete da Nova Era que se aproxima. Para o Autor, a
palavra secreta, chave dos rituais dada a Crowley é Thelema = Vontade. Sem ela,
os rituais não tem expressão e se perdem nos desejos de “ver o que acontece”.
Querer é poder e ritual é poder quando realizado com amor, mas amor
sob vontade. Caberá ao estudante acrescentar sua experiência pessoal para o
enriquecimento da compreensão deste versículo.

44
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

21. Com o Deus e o Adorador eu nada sou: eles não me vêem. Estão como que
sobre a terra; Eu sou o Firmamento e não existe outro Deus que eu e meu
Senhor Hadit.

Comentário: O Deus aqui referido é a cristalização da concepção humana


sobre a divindade; o Adorador é o homem devocional, que procura a divindade, sem
chegar a compreendê-la presente em tudo que envolve sua expressão de vida,
dentro e fora de si mesmo. Para estes, o imaginador e seu Deus imaginado, Nuit
nada é, pois estão impossibilitados de percebê-la como a real Divindade,
expressando-se em seu aspecto tangível, nas múltiplas formas da Natureza. Estes
estão como que sobre a Terra, ou melhor, materializados, e o imaginador não
percebe que apenas está utilizando as formas materiais que lhe foram concedidas
para aprender a se manifestar nos diversos mundos de consciência criados pela
Divina Mãe, o Terceiro Aspecto da Divindade, real e tangível. Não percebe que a
pátria de sua origem27 é o mundo espiritual; identifica-se com as aparências da
forma, sem procurar sua essência, onde, além de descobrir o real objeto da
adoração, ou seja, Hadit e sua Divina Mãe, atentaria que é nele mesmo onde
deveria construir o Altar dessa adoração.
No período seguinte, Nuit revela-se para o Estudante como o universo
manifestado; reconhece-se como a única Divindade perceptível, existente,
ressalvando, porém a Divindade de seu filho e, ao mesmo tempo, seu Senhor: Hadit,
o fruto de seu Amor, a razão de sua substância e de sua existência.
O alerta existente neste versículo é para que o Estudante procure o real
nas aparências e abandone sua posição de “mendigo dos favores das divindades de
sua criação”, reconhecendo, em si mesmo, a presença de Hadit e Nuit como os
únicos provedores de todas as suas reais necessidades. 28
Para isto, o Estudante deve sempre ser objetivo, aprender tudo sobre a
natureza (o estudo dos Tattwas é imprescindível) pois Nuit é Deus acessível ao
homem, ou como os católicos dizem: “é por intercessão de Nossa Senhora (a
Virgem Maria) que conseguimos a Graça do Filho”.

27
O homem real vive e sempre viveu em Briah, o Plano Mental, de onde projeta sua consciência nos mundos
inferiores, para conformá-lo à sua expressão plena, de acordo com objetivos que fogem a consciência ilusória da
personalidade. A ilusão da encarnação e do aprisionamento da consciência na matéria são provocados pela
identificação da personalidade com o corpo físico e com a matéria grosseira de que é constituído e, também, por
não perceber que esta faz parte da consciência de Nuit, o Terceira Aspecto da Divindade.
28
Reais em termos espirituais e não supérfluas, como as ditadas pelas suas ilusões materiais.

45
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

22. Agora, portanto, Eu sou conhecida por vós pelo meu nome Nuit e, por
ele, através de um nome secreto que lhe darei quando, por fim, me
conhecer. Posto que EU SOU o Espaço Infinito e a imensidade de
estrelas nele existente, procedei vós também assim. Nada ligueis! Que
não haja diferença feita em vosso meio entre uma coisa e qualquer outra
coisa; pois daí vem a dor.

Comentário: Dentro dos cânones egípcios, a expressão do Universo


visível era conhecida como Nut, o Abismo celeste (Caos), o espaço Infinito
personificado em Nuit (o Cosmos), a massa líquida29 da qual evolveram todos os
deuses.
O nome Nuit também está relacionado à energia constitutiva do estado da
matéria que denominamos Kundalinî.
Para o Discípulo, que conquista o direito de trabalhar esta energia em si
mesmo, ela tem um outro nome, formado com a sexta vogal, ainda sem condições
de ser pronunciada pelo ser humano comum, porém formadora do som
imprescindível à entonação do mantra que deve ser pronunciado durante a operação
de libertação de Kundalinî, no chacra Muladhara. Esta vogal só é dada quando toma
conhecimento desta expressão da vida universal.
O versículo continua com a revelação de Quem é Nuit e depois com a
orientação para que nada liguemos na face da terra, ou seja, não nos envolvamos
com o que possa gerar carma, bom ou mau, porquanto isto sempre implicará em
dissonâncias vibratórias que não nos permitirão a necessária paz para a construção
do corpo Crístico em nosso coração. Todo tipo de emoção precisará ser controlado
e por isso vem o esclarecimento de que não há diferença entre os seres da criação,
pois todos são expressão da Realidade única e todo sentido de diferença é trazido
pela ilusão dos sentidos; é a ilusão sobre a realidade que provoca as apreciações
inadequadas da Verdade, alimentando ódios, sofrimentos, mágoas e tudo aquilo que
concorre para impedir a integração do homem com a vivência do poder de Kundalinî
e libertar-se da ignorância.

29
Expressão tattwica (Apas) se refere a energia sutil que precedeu o atual estado universal. Nele, o elemento
mais denso foi uma espécie de “umidade aquosa”. No atual, o elemento preponderante é a energia sutil que
denominamos Prithivi, que contém todas as outras energias sutis em si. O próximo Universo estará constituído
novamente do elemento sutil denominado Apas, porém numa oitava vibratória superior.

46
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

23. Porém, quem quer que se aproveite disto, que ele seja o chefe de tudo!

Comentário: Aquele que tira proveito da sabedoria real é o eterno


servidor. Cresce, não para mandar, mas para servir; sabe que todos são iguais, de
que não há diferença entre os seres, embora as várias escalas de vida e
compreensão da realidade, permite-lhe estar na chefia de tudo, para o bem de
todos.

24. Eu Sou Nuit e minha senha é seis e cinqüenta.


Comentário: No capítulo “Esclarecimentos sobre Hadit e Nuit” do
presente trabalho (páginas 21 a 27), analisamos suficientemente o mantra Nuit,
porém, agora, o temos escrito de forma inversa (“meu nome é 6=U e 50=N”) com o
mesmo valor cabalístico (11). Assim sendo, precisamos considerá-lo sob uma nova
ótica, obedecendo à inversão das letras e do sentido de manifestação. Isto nos leva,
naturalmente, à senha para o reconhecimento de Nuit como a 11a. letra do alfabeto
hebreu, a letra K, cujo valor é 20 (=2) e nos conduz, a Kteis, o órgão sexual
feminino ou para Olam Klippoht, residência de Samael, o Príncipe das Trevas, nas
alegorias cabalísticas, o Satã da crença cristã ou o Tifão dos egípcios.
Para se compreender bem esta afirmação de Nuit (minha senha é 6 e 50),
é necessário considerar que o mundo de Assiah é constituído da matéria de que
estão feitos os planetas, as estrelas e até mesmo os homens, demonstrando que a
inversão dos números, em sua afirmação, inclui a Klippoht Samael com suas legiões
indicando a existência da matéria caótica, descontrolada, que, em seu estado mais
sutil, é utilizada, na Magia e pelos “espíritos”, para a “criação” de suas formas. Isto
compreendido, podemos concluir que a região qliphótica é o aspecto de Akasha
reconhecido e usado na magia sob o nome prosaico de “luz astral”. O domínio e a
utilização deste aspecto de Nuit inversa é o objetivo do Mago. Como são energias
caóticas, não são fáceis de ser manipuladas, a não ser por uma vontade treinada e
poderosa, daí a necessidade das precauções que o Mago deve e tem de tomar.

25 Dividi, somai, multiplicai e entendei.


Comentário: Estas são instruções para o uso das operações cabalísticas,
já comentadas no intróito deste livro, com a finalidade de compreendermos as
mensagens contidas no Líber Legis, como vimos tentando fazer, mas deixando claro
que muito fica a ser dito em relação ao mesmo.

47
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

26. Então disse o Profeta e escravo da Beleza una: Quem Sou e qual será o
sinal? E ela lhe respondeu, inclinando-se, numa delicada chama azul,
tudo tocante, toda penetrante, suas amáveis mãos sobre a terra negra e
seu flexível corpo arqueado para amar; seus suaves pés não magoam as
florezinhas. Tu sabes! O sinal será meu êxtase, a consciência da
continuidade da existência, a onipresença de meu corpo.

Comentário: A forma poética destes diálogos está de acordo com seu


objetivo básico: a linguagem ritualística, com a finalidade de provocar certos estados
psíquico-mentais necessários ao desenvolvimento interno do Estudante. Nuit não é
uma vida, mas a totalidade de toda vida; não tem forma e é a Mãe de todas as
formas. O modo pelo qual se apresenta nestes diálogos implica na necessidade do
Estudante desenvolver uma profunda imaginação e aprender, pela meditação, “a
ouvir” internamente as respostas que estão dentro dele mesmo. O exemplo disso é a
contida neste versículo ”Tu o sabes!” relacionada a clássica pergunta do “Buscador
da Verdade”: Quem Sou? Sobre “qual será o sinal?” a resposta não deixa dúvidas: é
imprescindível e profundamente necessário a integração do Estudante com as
forças da natureza, ao ponto em que seu amor envolva não somente os objetos de
seu desejo pessoal, mas acima de tudo, toda a criação. O êxtase de Nuit é a
resposta que o estudante recebe, em seu próprio corpo, da transformação que se
segue àquela integração amorosa. Compreende definitivamente a continuidade da
existência e a presença de Nuit em tudo e em todas as coisas.
Esta verdade é ainda mais fácil de ser alcançada quando consegue ver
em sua Mulher Escarlate, não o objeto de prazer de seus sentidos materiais, mas o
elo de ligação e adoração à sublimidade de Nuit que, então, lhe pode conferir os
louros da conquista espiritual sobre o bem e o mal, simbolizados no “atef” egípcio
que ornava a fronte dos conquistadores da morte. Este é o Tantra que o Iniciado
precisa realizar; para isto, precisa amar verdadeiramente e o amor verdadeiro não é
luxurioso, como alguns querem fazer crer.

48
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

27. Então o sacerdote respondeu e disse à Rainha do Espaço, beijando


amorosamente sua fronte; o rocio de sua luz banhando todo o seu corpo
num doce aroma de água exsudada: Ó Nuit, contínua unidade do Céu,
que seja sempre assim; que os homens não falem de Ti como Uma, mas
como Nada; que jamais falem de ti, já que és eterna.

Comentário: Continua a linguagem ritualística. O canto a Nuit revela a


compreensão do Iniciado de que Nuit é a totalidade do existente e entoa o mantra
sagrado AUM (Amem; assim seja). Exorta que os homens não se refiram a Ela sob
seu aspecto manifestado ou universo visível, material, frio e impenetrável, mas
entendam sua essência divina, seu princípio de amor que agasalha em seu seio
toda a criação, por toda a eternidade.

28. Nada, respirando a claridade, lânguida e fantasiosa das estrelas e duas.

Comentário: e a “sente” na luz das estrelas, primeiramente em seu


Aspecto Invisível, sem forma, como Essência Divina de Amor e, em seguida, em seu
aspecto manifestado, onde sustenta toda a vida universal; Nenhuma e duas ao
mesmo tempo.

29. Pois estou dividida por amor ao amor, pela oportunidade da união.

Comentário: O Amor é Hadit, o Filho, o Chrestos Cósmico, o Segundo


Aspecto de uma trindade composta de Vontade-Poder (1o. Logos), Amor-Sabedoria
(2o. Logos) e Atividade Inteligente (o 3o. Logos). Nuit, o 3o. Aspecto dessa Trindade,
o aspecto materno que envolve e mantém em si toda a criação, está dividida pelo
amor ao Amor, ou seja, amor a Hadit e a oportunidade de unir-se a sua criação,
onde ele também se encontra.

30. Esta é a criação do mundo; a dor da divisão é nada e o prazer da


dissolução tudo.

Comentário: Este item refere-se à criação do Universo (Manvantara),


quando o Logos, em seu aspecto trino (os três “véus“ da existência negativa da
Árvore da Vida, conhecidos como Ain, Ain Soph e Ain Soph Aur, cujo Malkuth é
Kether projeta-se” do Absoluto (O Sem Atributos da filosofia hindu), formando um
campo para a manifestação de Sua Consciência numa nova experiência (se assim
podemos dizer) para Seu aperfeiçoamento.

49
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

Esta é a dor da divisão que é nada; está relacionada a separação do


Logos que se manifesta do Absoluto, Que Permanece, Sem Alteração.
O prazer da dissolução é o fenômeno conhecido como Pralaya, que
ocorre quando um Universo cumpriu sua finalidade e é reabsorvido no Seio do
Absoluto, com todas as experiências vivenciadas pelas Mônadas Divinas,
incorporadas naquela fantástica Consciência que aqui é mencionada sob o nome de
Absoluto. 30

31. Nunca te preocupes de modo algum com a infantilidade e a mágoa dos


homens! Eles pouco percebem; o que existe, está equilibrado por débeis
satisfações; porém sois meus escolhidos.

Comentário: O Estudante não se deve perturbar com a ignorância e os


desapontamentos vivenciados por seus semelhantes; ao contrário, deve
compreendê-los como a conseqüência direta do estado infantil da humanidade em
geral e aprender que tudo está equilibrado por reações cármicas que a própria
humanidade não chega a perceber. Entretanto estas reações podem e devem ser
ultrapassadas, por representarem débeis satisfações que o homem comum sente
prazer em testemunhar ao Deus de sua concepção particular, geralmente tido como
vingativo e necessitado de sacrifícios, mesmo que estes impliquem na cessação de
sua felicidade.

32. Sigam ao meu profeta! Levem ao extremo os ordálios de minha


instrução! Procurem a mim somente! Então, os prazeres de meu amor
vos redimirão de todo sofrimento. Isto é assim: Juro-o pela abóbada de
meu corpo; por meu sagrado coração e língua; por tudo que posso
proporcionar, por tudo que desejo de todos.
Comentário: Aparentemente, parece que os Estudantes são convidados a
tornarem Crowley o novo líder da humanidade, o que contrariaria o espírito da Nova
Era onde a mensagem de liberdade é total e a própria tônica deste “Profeta”, que
jamais aceitou a liderança de “carneiros” e daqueles que não querem realizar os
esforços necessários para a conquista do caminho espiritual.
Porém este versículo, como todos os outros do Líber Legis, contém outra
instrução. O Profeta aqui é a Inteligência Atômica conhecida na Ciência Oculta sob o
nome de Átomo Mestre (o que aparece quando o Discípulo está pronto),

30
O estudo da Cosmogênese sob a ótica dos Tattwas e da Árvore Sephirotal é imprescindível tanto para o
entendimento do Líber Legis como de qualquer operação Mágica nele contida.

50
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

localizada no lótus (chacra) de oito pétalas, que nasce na parte superior do “Salão
da Senhora dos Bosques”, relacionado à bolsa seminal do homem. A este, sim,
devemos segui-lo confiantemente, aceitando todas as provas (ordálios) do caminho,
pois estas representam as instruções de Nuit. O conselho para procurar somente
Nuit, implica na meditação profunda em Kundalinî, que não admitirá desvios de
atenção em sua ascese. Isto conquistado, então, novas capacidades surgirão na
consciência iluminada do Estudante, redimindo-o de toda a necessidade de
sofrimento, pois, então, passa a ser senhor de si mesmo e não está mais ao sabor
das ondas descontroladas dos pensamentos da maioria; sua meta passa ser a
subida ao monte31 e penetrar o “Altar dos Perfumes”32; só o conseguirá mantendo-se
firme em seu propósito espiritual.
O juramento de Nuit é o penhor de um estado de consciência
insuspeitado pelo Estudante, porquanto implica em venturas a que jamais poderia
aspirar, por suas implicações divinas.

33. Então o sacerdote caiu em profundo transe ou desfalecimento e disse


para a Rainha do Céu: Escreve para nós os ordálios; escreve para nós
os rituais; escreve para nós a lei!

Comentário: Sacerdote é aquele que pratica o sacro-ofício. No versículo


em estudo é o Estudante na sagrada tarefa de preparar o templo para a realização
dos “esponsais alquímicos”. Neste versículo, ele, num momento de arrebatamento,
pede a Nuit que lhe revele todos os passos que precisará dar para realizar sua
conquista: as provas que deverá sofrer, os rituais a serem praticados e os ditames
da lei a serem obedecidos.

34. Porém ela respondeu: os ordálios não posso escrever: os rituais serão
metade conhecidos e metade velados: a Lei é para todos.

Comentário: Ela lhe contesta dizendo que os ordálios não podem ser
escritos, por ser impossível, pois cada Estudante terá aqueles de que,
particularmente, vier necessitar; que os rituais serão metade conhecidos, pois
estarão escritos, mas seu sentido real e oculto, permanecerá velado, implicando no
esforço a ser empreendido por ele para compreendê-lo macro e microcosmicamente;

31
Chacra cardíaco.
32
Vivência de prática cabalística realizada na Sephirah Tiphereth (o coração espiritual do homem).

51
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

sem esse entendimento não poderá realizá-los com aproveitamento total; quanto à
Lei, porém, esta estará para todos, como deve ser.

35. Isto que escreves é o tresdobrado33 livro da Lei.

Comentário: O Líber Legis é constituído de três capítulos,


compreendendo, o primeiro a Revelação de Nuit, o segundo a de Hadit e o terceiro a
de Ra-Hoor-Khuit. Cada um apresenta um Aspecto do que poderíamos chamar a
Trindade existente em quase todas as religiões do mundo, relacionadas ao que os
Cristãos chamam de Pai, Filho e Espírito Santo e os hinduístas de Brahma, Shiva e
Vichnú. Suas implicações na vida do Estudante são ditadas por uma ótica de
compreensão e respeito para com a Natureza, com sua condição moral e social e
pelo entendimento supremo de que faz parte de uma realidade que transcende de
muito, os interesses de sua personalidade.
Além desses fatos, o Líber Legis objetiva a libertação do Estudante dos
dogmas religiosos, através do reconhecimento de sua condição divina e a realizar
diversos rituais, sendo o mais importante aquele que ensina como entrar em contato
com a Realidade existente em seu coração. 34

36. Meu escriba Ankh-af-na-Khonsu, o sacerdote dos príncipes, não mudará


uma letra sequer deste livro, porém por temor a leviandade, comentará
sobre ele pelo critério de Ra-Hoor-Khuit.

Comentário: O Escriba é Aleister Crowley, aqui sendo confirmado como


reencarnação de Ankh-af-na-Khonsu.35 Neste versículo está sendo alertado para
não mudar, absolutamente, nada do que está escrito no Líber Legis, ficando,
entretanto, autorizado a comentá-lo, utilizando, para isso, o critério da Divindade
mais elevada no Homem, que aparece no livro como Ra-Hoor-Khuit, com a
finalidade de evitar as modificações levianas daqueles que, por não entendê-lo como

33
O vocábulo inglês “threefold” significa triplo, tríplice, tresdobrado, porém a preferência dada a este último termo
se justifica por melhor expressar a forma como foi instituído o Líber Legis.
34
Ver principalmente os versículos 21 a 34 e seus comentários, do terceiro capítulo.
35
A. Crowley acreditava ter sido, também, reencarnação de Eliphas Levy, com o qual, durante sua vida, teve
várias provas de identificação, inclusive interesses mentais, aliados a particularidades acontecidas em sua vida
social.

52
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

está, em seu sentido oculto, tentarão adaptá-lo aos seus entendimentos pessoais ou
modificar seu texto a fim de que se ajuste aos seus interesses religiosos.36

37. Também os mantras e os conjuros; o obeah e a wanga,37 o trabalho do


cetro (caduceu) e o da espada; ele os aprenderá e ensinará.

Comentário: Também os mantras e as evocações não devem ser


modificados e respeitados, porém o “obeah” e a “wanga”, são formas de magia
inferior que precisam ser conhecidas, mas nunca praticadas, porquanto seus
princípios estão contra o lema e a meta daquilo que o próprio Crowley ensinou:
Magia é a arte da Vida, acrescentando que deve ser praticada para tornar a vida
mais agradável sem, entretanto envolver atitudes que impliquem em eliminar
inimigos ou estejam dirigidas contra Nuit, pois aí, ele começará a se autodestruir. A
lei é amor; portanto, o inimigo deve ser transformado em amigo, aplicando em si
mesmo a Lei, sempre sob vontade clara e determinada.
Quanto ao trabalho do cetro (o caduceu de Mercúrio ou o trabalho de
desenvolvimento dos centros de força da coluna vertebral) e o da espada (o falo, o
trabalho da magia sexual com a finalidade da superação humana) estes serão
ensinados por Crowley, como realmente aconteceu durante sua vida.
Apenas a título de observação sobre a necessidade de um estudo cada
vez mais acurado de cada versículo, acrescentamos ainda que a Espada é, também,

36
Existe um livro, sob o título “The Law is for All”- The Authorized Popular Commentary to The Book of the Law”,
editado por Luis Wilskinson and Hymenaeus Beta, onde Crowley comenta os três capítulos do Líber Legis,
naturalmente sob sua ótica pessoal, que naturalmente prescindiria nosso esforço. Entretanto, com todo o
respeito a A. Crowley, decorridos 93 anos da recepção dos ditados (será coincidência o número 93 dentro do
processo total que envolve o livro recebido por Crowley?), se os que estudam nada pudessem acrescentar, em
termos de entendimento, àqueles ditados, o Autor acredita que perderiam, de certa forma, sua utilidade e
continuariam sendo apenas “o patrimônio de uns poucos privilegiados”, o que não se ajusta aos princípios
energéticos da Era de Aquário, quando tudo será desvelado e nada pode permanecer oculto. Acresce que os
membros da O.T.O. são proibidos taxativamente de escrever qualquer comentário sobre o Livro da Lei - somente
Crowley teria condições de fazê-lo - (apesar de que no versículo 47 do Terceiro Capítulo consta que “mas virá
um após ele, de onde Eu não digo, que descobrirá a Chave para tudo isto”). Como a Direção da O.T.O. no Brasil,
até a presente data, não saiu com qualquer trabalho neste sentido, nasceu “O Livro da Lei para o Povo
Suplicante”, pois a humanidade vive um grande momento: o da Liberdade e da Fraternidade Universal. Nossa
atitude implica num grande esforço daqueles que mais possuem em favor dos que muito necessitam. O
isolamento e o silêncio do sábio só é permissível no que tange a sua realidade interna. Dentro da sociedade em
que vive, suas responsabilidades são muito grandes e necessitadas do verdadeiro valor, pois precisa lutar contra
o entenebrecimento cultural e religioso a que foram relegados “os mais tarde nascidos”; este entenebrecimento
é escória (matéria Qlipphótica) e não pode permanecer no novo Éon que a humanidade viverá.
37
Nos Extratos do “novo comentário do livro da lei” Crowley, diz que Obeah é a magia da Luz Secreta,
relacionada à ação do Mago e Wanga é a sua correspondência verbal ou mental, ou seja, Obeah são os atos e o
Wanga as palavras próprias da Magia. Tudo muito bem, porém existem outros significados para as palavras
acima e, sendo assim, o Mago deve saber onde se manifestam os efeitos de suas palavras e onde e quais os
efeitos que provocam seus atos.

53
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

o símbolo da força do 1o. Raio, o Raio da Vontade/Poder cujas energias o Mago


precisa aprender a utilizar.

38. Ele deve ensinar, porém deve tornar severos os ordálios.

Comentário: Esta é uma orientação no sentido de que os ensinamentos


do Líber Legis devem ser levados a todos, sem exceção, de forma, entretanto, que
os candidatos à sabedoria sejam bem provados, com ordálios severos, a fim de não
serem jogadas pérolas aos porcos, conforme consta de Mateus, cap. 7, vers. 6. Esta
recomendação continua válida, porém sem os exageros antigos e o cuidado para
que os julgamentos de aptidão dos candidatos sejam realizados por verdadeiros
Epoptas,38 a fim de que as aparências mundanas e as deficiências pessoais dos
julgadores impeçam um homem de bem, mas que ainda não está dentro dos
padrões de seus julgadores, seja prejudicado, permitindo-se que aconteça um novo
“Julgamento de Apolônio”, como costuma suceder quando pretensiosas
“autoridades” se insurgem contra o que é espiritual. Não julgueis para não serdes
julgados e Amor é a Lei, Amor sob vontade, sempre devem prevalecer.

39. A palavra da Lei é Thelema ( ).

Comentário: A palavra da Lei é VONTADE, tradução do vocábulo grego


(Thelema). Embora pequeno, este versículo aporta uma mensagem
transcendental para a Nova Era de Aquário, quando serão vivenciadas pela
humanidade as energias do 7o. Raio (o Raio do Ritual e da Magia), intimamente
relacionado com o 1o. Raio (Raio da Vontade e Poder)39.
Embora a quase totalidade dos seres humanos não goste de admitir,
jamais experimentaram esta energia denominada Vontade, vivenciada até agora
apenas pelos Grandes Instrutores do mundo e pelos verdadeiros Magos.

38
Epopta era o Iniciado nos Mistérios de Eleusis, possuidor da faculdade de clarividência e, geralmente, por ter
passado por seu último grau iniciático, era o encarregado das novas iniciações. S.Paulo aplicou a si mesmo este
grau conforme podemos ver em 1 Coríntios, cap. 3, versículo. 10.
39
Ler a obra “Tratado sobre os 7 Raios”, do Mestre Djwal Khul através de A. Bailey, publicação da Fundação
Cultural Avatar, no Brasil e da Editorial Kier, na República Argentina.

54
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

Quando movimentada pela mente humana, tem um poder fantástico e


assemelha-se ao conceito de fé, enunciado pelo Mestre Jesus quando disse “se
tiverdes fé do tamanho do grão da mostarda, direis a este monte: Passa daqui para
acolá e ele passará. Nada vos será impossível (Mt. 17, 20).
Em verdade, o ser humano comum ainda não é “um produto acabado”
que possa “metabolizar” esta energia adequadamente; seu cérebro ainda não está
suficientemente desenvolvido para manejá-la com aproveitamento. As exceções
(Napoleão, Hitler, e alguns tipos que alcançaram destaque pela firmeza de suas
atitudes) apresentaram-se à humanidade de forma desequilibrada e foram
tremendamente destruidores, embora haja exceções com grande aproveitamento
como foi o caso de Apolônio de Tiana, Conde de Saint Germain, Cagliostro e vários
outros grandes taumaturgos, inclusive aquele que recebeu nos Evangelhos o nome
de Jesus; estes, souberam utilizar essa energia em nível raramente capaz de ser
expressado pela mente humana em seu atual estágio de desenvolvimento.
O homem comum utiliza esta energia apenas em sua expressão mais
deletéria, relacionada ao chacra Manipura e ao plexo solar, na forma daquilo que
conhecemos como desejo; nada mais do que isso, a não ser em raras ocasiões e
em circunstâncias tão fortuitas que considera seus resultados como milagres.
Na Era de Aquário, esta energia estará atuando sobre toda a humanidade
e já se está fazendo presente, de forma inequívoca, sobre os tipos mais adiantados,
levando-os a uma consciente VONTADE de viver em harmonia, fraternidade e em
progresso. O resultado tem sido as grandes alianças políticas e econômicas em
desenvolvimento na Europa e nas Américas, embora sua ação sobre os tipos menos
evoluídos venha provocando, em contrapartida, o sentimento de ódio e revolta
organizada, como atualmente presenciamos em todas as partes do mundo.
Mas a Lei para o novo Éon é VONTADE, vontade com Amor e Amor sob
vontade; sem ela as energias do 7o. Raio (Ritual e Magia) poderão causar
novamente grande retrocesso ao progresso da humanidade, como já ocorreu na
Atlântida e na Lemúria, daí a coerência do Líber Legis em afirmar: A PALAVRA DA
LEI É THELEMA.

55
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

40. Quem nos chama Thelemitas não errará, quando se adentra no sentido
mais estrito (oculto, secreto) da palavra. Pois ali há Três Graus, o de
Eremita, o de Amante e o de Homem da Terra. Faze o que tu queres há
de ser tudo da Lei.

Comentário: Existem três sugestões neste versículo:

1a.) os seguidores das instruções contidas no Líber Legis deveriam reunir-


se numa Fraternidade cujos membros seriam reconhecidos ou
denominados como Thelemitas;
2o.) somente deveriam ser admitidos em tal Fraternidade aqueles
dispostos a aprender, a desenvolver e a viver o que está implícito no
sentido mais estrito da palavra Vontade, a tremenda energia do 1o. Raio,
sucintamente descrita no versículo 39;
3o.) Esta Fraternidade seria constituída de 3 Graus:
1o. Grau = o de Homem da Terra, destinado aos aprendizes da
Ciência do Amor;
2o. Grau = o de Amante, destinado aos aprendizes da Ciência da
Vontade;
3o. Grau = o de Eremita, destinados aos aprendizes da Ciência do
Cosmo Interno (Onde EU SOU não há Deuses). Somente este
estará apto para viver integralmente o lema “Faze o que tu queres
há de ser tudo da Lei”.

41. A palavra de Pecado é Restrição. Ó homem! Não recuse tua esposa, se


ela quiser! Ó amante, se queres, vai! Não existe vínculo que possa unir o
dividido senão o amor: tudo, além disso, é uma blasfêmia. Maldito!
Maldito seja isto para sempre! Inferno.

Comentário: Não existe pecado a não ser na mente do homem. O


conceito de pecado é derivado da concepção de que tudo aquilo que infrinja as leis
sociais, morais e religiosas de um País ou de uma religião, está contra a Vontade de
Deus; portanto o pecador deverá ser julgado e castigado pelo que fez Isto é
puramente humano e falso, pois se fosse realmente uma das expressões d‟Aquele
ou d‟Isso que chamamos Deus, ou Amor-Sabedoria (a energia do 2o. Raio) não
haveria, de sua parte, outra atitude do que aquela de suprema compaixão e perdão

56
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

às suas criaturas por desvios cometidos na execução de Seus Próprios Desígnios,


pois nada acontece que não esteja consubstanciado em sua vontade.
Sendo o homem, uma partícula da Divindade, seus erros, se os
houvesse, seriam erros da própria Divindade e isto é completamente fora de
propósito para a nossa compreensão.
Em vários trechos do Evangelho vemos o Cristo perdoando pecados (a
união do homem com seu Cristo Interno redime-o de seus desequilíbrios,
denominados pecados) e na Primeira Epístola de Pedro, Capítulo 4, versículo 8,
lemos: “tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre
multidão de pecados.
Em verdade, o conceito de pecado é tremendamente limitativo e restritivo,
atuando na mente do “pecador” de forma altamente destrutiva, sem lhe trazer
benefício algum; ao contrário estagna sua evolução em mundos de dor e sofrimento
criados mental e emocionalmente por ele mesmo.
Tudo o que acontece na vida do ser humano é necessário para sua
evolução e aprendizado, mesmo aquilo que denominamos erros de conduta, seja ela
social, moral ou religiosas. A Alma, muitas vezes, necessita de experiências para
atuar no futuro com mais perfeição, que parecerão “pecados” na mente estreita dos
julgadores inveterados; entretanto, dentro de sua sabedoria, o Aquele que foi o
Mestre Jesus aconselhou a perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes
(Mt. 18, 21). Perguntamos: Por que este perdão quase infinito? Porque sabia a razão
que movia a atitude humana e compreendia sua psique, portanto, não via “pecados”
e sim aprendizado necessário no caminho da Eternidade. E mais ainda: a
recomendação possibilitava que os de “sangue mais quente” viessem a “esfriar-se”
com o decorrer do tempo, dando tempo que a razão superior (deus no homem)
vencesse a razão inferior (o diabo no homem).
Do exposto acima, podemos inferir que o Thelemita não pode estar
acorrentado às instruções do passado e deve fazer sempre a sua vontade, pois isto
é o todo da lei. Sexo não é pecado nem existe o pecado original trazido pelo sexo.
Ao contrário, devemos ver as energias sexuais dentro de seu contexto divino e
libertador, principalmente quando utilizadas sob a égide do amor; nunca, porém, sob
a luxúria; mesmo sabendo que cada um pode fazer o que quiser, também sabemos
da existência de um caminho que constrói e de outro que destrói.

57
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

O Thelemita não deve recusar as experiências do sexo, principalmente


com sua companheira de jornada, toda vez que ela quiser. Se existe amor, atração
real entre um homem e uma mulher, onde o objetivo seja realmente a integração
entre o casal e não a satisfação de uma vaidade pessoal, a conquista pelo simples
prazer, os amantes devem dar-se um ao outro (“Aquele dentre vós que estiver sem
pecado, atire a primeira pedra” - João, 8, 7).
Entretanto, devemos aceitar que Amor é a Lei, porém Amor sob Vontade.
O desejo, que movimenta a quase totalidade do relacionamento sexual entre os
casais, não levará a nada, no que tange ao avanço espiritual, mas aproxima o
homem da morte.
A afirmação da penúltima oração do versículo em estudo: “não existe
vínculo que possa unir o dividido senão o amor” é conseqüente e verdadeira; o
homem é um ser dividido e precisa reconstruir-se a fim de voltar a sua perfeição,
perdida com a separação dos sexos há mais de 20 milhões de anos atrás, quando
deixou sua condição de andrógino ovíparo para tornar-se homem e mulher com
reprodução vivípara.40 Chegará a essa perfeição quando, maximizado em sua
consciência, estiver vivendo, plenamente, em todos os mundos conscienciais; aí não
terá mais necessidade de procurar fora de si mesmo um complemento que lhe
permita criar. A alma gêmea do homem não está alhures, mas dentro dele mesmo e
a forma de unir-se a ela é o Amor; tudo, além disso, é uma blasfêmia. A imprecação
Maldito! Maldito seja isto para sempre, está relacionada ao conceito de pecado; que
sua concepção errônea seja maldita para sempre, por distanciar o homem de sua
realeza espiritual. Inferno é o lugar dos que acreditam no pecado.

40
Sobre isto, ver Gênesis 2, 24 e Efésios 5, 31/33: “Por isso deixa o homem (de ser) pai e mãe (andrógino
ovíparo) e se une a sua mulher, tornando(-se) os dois uma só carne (para poder gerar; tornam-se vivíparos).
“Grande é esse mistério, mas eu me refiro a Cristo e à Igreja. Não obstante vós, cada um de per si (sozinho,
isoladamente) ame a sua própria esposa (sua contraparte feminina) como a si mesmo.

58
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

42. Deixai-os manter esse estado de multiplicidade limitada e repugnante.


Assim com teu todo; só tens direito de fazer a tua vontade.

Comentário: Faze o que quiseres é a totalidade da lei não só para o


Estudante, mas também para o homem ainda não desperto para sua realidade
interna; a tolerância para com estes deve ser ilimitada, respeitadas as conveniências
sociais que permitam o livre arbítrio de todos.
A multidão limitada e repugnante é formada por aqueles que, pelo medo
do pecado, se auto-limitam em todas as coisas, abdicando de sua majestade como
Filhos de Deus e se auto-escravizam às forças da ignorância e das trevas. Esses,
pelo estado vibratório em que vivem, acabam por impedir que a luz, como energia
divina interna, se manifeste plenamente em seus corpos e terminam por modificar a
estrutura de suas células, aparecendo à vista do clarividente como massas amorfas
e repugnantes. É por isto que, com teu todo, ou seja, na totalidade do teu ser (corpo,
alma e espírito) somente deves fazer a tua vontade, que deve ser compreendido
como a tua Vontade interna e não como os desejos insanos de tua personalidade.
Para isto, devem ser intensificados os exercícios de Pranayama e meditação, que
fortalecem sobremaneira a intuição, em detrimento da razão lógica, atributo da
personalidade.

43. Faça isto e ninguém se oporá.

Comentário: O fortalecimento das energias internas e da intuição,


proporciona ao Estudante uma forte e notável aura magnética,41 envolvendo em
profunda simpatia todos aqueles que se acercam de seu ambiente vibratório,
trazendo-lhe simpatia e concordância para a sua ação; esta passa a ser ilimitada,
sem nenhuma força de oposição.

44. Pela Vontade pura, isenta de propósito, liberta de desejo intenso por
resultado, é o único caminho perfeito.

Comentário: Este versículo confirma o comentário do versículo 42 quando


informamos que o axioma Faz a tua vontade... refere-se exclusivamente à Vontade
do Ser Interno, único senhor e agente capaz de manipular a energia do 1 o. Raio. A

41
Envoltura Argentada do Mago Branco, formada por Átomos Transformadores do Plano mental superior; é o
refulgente Augoeides ou Corpo causal dos teosofistas.

59
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

vontade pura, isenta de propósitos e liberta do desejo por resultados, é a Lei para a
Nova Era; só será conquistada por aqueles que abandonarem seus propósitos
pessoais e procurarem, no interno, a comunhão com sua contraparte divina; este é o
único caminho perfeito.42 O resto são aventuras, válidas apenas como experiência
necessária à evolução das almas.

45. O Perfeito e o Perfeito são um Perfeito e não dois; ou melhor, são nada!

Comentário: O versículo nos fala do estado de arrebatamento extático


completo, conhecido como Samâdhi, ou seja, a contemplação supraconsciêncial
(ainda um estado mental, como tudo no presente universo), em que a concentração
no próprio Espírito chega a um ponto tão extremo, que a mente se unifica com aquilo
em que se acha concentrada. Nesse instante, cessam ou ficam em suspenso todas
as suas transformações e o Estudante perde a consciência de toda a
individualidade, inclusive a sua, convertendo-se no Todo. Em outras palavras,
experimenta seu Pralaya individual,43 não pela anulação de si mesmo, mas pela
expansão de seu ser, participando do que parece ser a totalidade, quando, então, se
torna um com esta consciência total, sobrevindo, posteriormente, o estado extático
“Eu e Pai (o Absoluto) somos Um”, ou melhor, Somos a Eternidade ou Nada.

46. Nada é uma chave secreta desta Lei. Os Judeus chamam-na sessenta e
um; chamo-a oito, oitenta, quatrocentos e dezoito.

Comentário: Este versículo é corolário do anterior, onde Nada aparece


como a eternidade ou Consciência (se assim podemos dizer) do Absoluto, onde não
existe qualquer diferenciação. Os Judeus chamavam-na 61, que entendemos como
sendo ‫( ס‬Samekh) cujo valor é 60 e representa hieroglificamente um movimento
circular cíclico, e ‫( א‬Aleph), cujo valor é 1, significando a unidade, o ponto central, o
princípio abstrato de uma coisa. Estas duas letras representam o Círculo com um
ponto no meio  e sua soma dá 7, a chave da criação de Moisés e o símbolo de
toda a sua religião, ou seja, da Lei Mosaica. Simbolicamente, esta chave também é

42
Naturalmente, esta afirmação provocará a contrariedade dos estudantes com conceitos de iluminação
diferentes dos esposados pelo Autor e do que está contido no versículo. Somente podemos acrescentar para
estes que a Sabedoria não nasce da contradição, mas da integração. O Autor sempre estará à disposição para
conversar com seus discordantes, pois sempre respeitará o mundo mental de cada um, pois aprendeu o que é
melhor para seus semelhantes.
43
Essa experiência individual é semelhante a do Pralaya universal, quando todo o Universo é recolhido ao
Absoluto, Dele nada permanecendo manifesto.

60
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

44
representada pelo Selo de Salomão com um ponto no meio e, na Cabala, se
refere a Sephirah Netzach (A vitória), estando relacionada às polaridades, cuja
finalidade é estabelecer a harmonia do Superior com o Inferior, do Macrocosmo com
a Microcosmo, que leva ao Absoluto, à Eternidade ou Nada.
Em seguida, vem a afirmação: “Chamo-a oito, oitenta e quatrocentos e
dezoito” e isto nos leva novamente a um símbolo duplo, desta vez representado

pelas duas serpentes entrelaçadas do caduceu formando o número 8 e


significando, sobretudo, a vida eterna, que se mantém pelo equilíbrio do
movimento.45 Oito é também o número do Cristo, conforme será demonstrado
posteriormente e Oitenta indica a extensão de 8 como reverberação da Eternidade
(Nada), por meio do mecanismo de opostos equilibrados,46 estando relacionado à
Sephirah Hod, cuja imagem mágica é o hermafrodita (o que tem dupla polaridade),47
cujo chacra mundano é Mercúrio, que corresponde ao Deus Egípcio Hermes, o
Trimegistus, o Patrono da Magia.
Quanto ao número quatrocentos e dezoito (418), que consta na Capa do
Liber Legis como igual (=) a XCIII, ou melhor XCIII = 418, remetemos a atenção do
Estudante ao comentário do versículo 78 do Segundo Capítulo do Líber Legis, neste
livro, onde é devidamente explicado, sob a análise do mantra ABRAHADABRA,
apenas acrescentando-se que a conotação de Eternidade justifica-se por ser a casa,
ou seja, onde Hadit permanece no centro: A ETERNIDADE.

47. Mas eles têm a metade: une por tua arte de maneira que tudo
desapareça.

Comentário: Os judeus têm a metade da chave porque possuem a


Cabala; é importante que o Estudante saiba unir os conhecimentos contidos no Líber
Legis com os da Cabala, para que todas as dificuldades desapareçam.
A importância da interação entre os versículos que vêm sendo estudados,
os trinta e dois caminhos (10+22) da Arvore Sephirotal (em verdade 33) e as práticas
ensinadas por Crowley no livro “Magick,” são de grande importância para o
Buscador sincero.

44
Também conhecido como Estrela de Davi. Na Índia, é chamado de “Sinal de Vichnú” e usado nas casas de
todas as aldeias como um talismã contra o mal.
45
“Curso de Filosofia Oculta” de Éliphas Lévi, página 180, da Editora Pensamento.
46
“Magia - en teoria y práctica”, de Aleister Crowley, página 190, da Editora Luis Cárcamo, Editor.
47
A Palavra “hermafrodita” nasce da conjunção de Hermes com Afrodite, símbolo do casal perfeito.

61
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

48. Meu profeta é um tolo com seu um, um, um; não são eles o Boi e
nenhum pelo Livro?

Comentário: Aqui parece que o Profeta é o próprio Crowley, sendo


considerado um ingênuo por priorizar exclusivamente a parte numérico-cabalista que
envolve o Líber Legis, principalmente por não considerar que esta parte envolve
apenas a metade do que está sendo escrito. A pergunta: “não são eles o Boi, e
ninguém pelo Livro?” poderia ter duas interpretações:

- a primeira considerando o vocábulo Boi (está com letra maiúscula no


original de Crowley) a sustentação, a base religiosa de parte do que foi
ditado no tocante ao Livro, isto por causa da conotação de Boi com o
culto a Apis, pelos egípcios e judeus antes de Moisés;
- a segunda, considerando Crowley e sua esposa Rose apenas como
“veículos de carga” no que se refere à difusão do Líber Legis para a
humanidade e apenas isto, portanto ninguém, ou seja, não têm a
importância capital que se lhe poderia querer emprestar.

É possível interpretações melhores para o presente versículo, o que o


Autor incentiva ao máximo, pois um dos fundamentos do Líber Legis é fazer com
que o Estudante expanda sua consciência “ad infinitum”, a fim de conquistar as
condições necessárias para participar da Nova Era.

49. Ab-rogados estão todos os rituais, todos os ordálios, todas as palavras


e sinais. Ra-Hoor-Khuit tomou seu assento no Oriente (Leste) ao
Equinócio dos Deuses; e que Asar seja com Isa, os quais também são
um. Mas eles não são de mim. Que Asar seja o adorador. Isa o sofredor;
Hoor, em seu secreto nome e esplendor, é o Senhor iniciando.

Comentário: O versículo ordena que todos os rituais, ordálios, palavras de


passe e sinais secretos para “penetrar” no “Templo”, sejam abolidos, a partir da
publicação do Líber Legis, indicando que uma nova Era se inicia com a saída do Sol
no Equinócios dos Deuses, quando o domínio da Força Trina, representado por Ra-
Hoor-Khuit;48 marca um novo período de Primavera Espiritual para a Humanidade.

48
Ver o comentário do versículo 21 do Segundo Capítulo do Líber Legis, neste livro. Embora tenhamos
encontrado outras explicações para Ra-Hoor-Khuit, depois de analisá-las com o devido respeito e reverência às
mentes que as adotaram, preferimos permanecer com a que nos foi intuída.

62
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

Preconiza, também, a integração de todas as religiões, explicando que


Ásár (um dos nomes de Osiris-defunto, ou seja, o Iniciado),49 seja um com Isa (ou
Issa é como os maometanos denominam Jesus no Corão) e que Ásár, represente a
coorte celestial e que Isa, represente a Humanidade (a sofredora).
Acrescenta que Hadit (o mesmo que Hórus, o morador do coração) é o
Iniciador da nova fase de evolução da humanidade, o que é confirmado pelos
diversos movimentos religiosos do Planeta que parecem convergir para a realidade
do EU SOU como o Cristo Interno em cada ser humano.

50. Há uma palavra para ser dita em relação à tarefa Hierofântica. Atentai!
Existem três ordálios em um e isto deve ser dado em três caminhos. O
grosseiro deve passar pelo fogo; que o sutil seja testado no intelecto e o
sublime separado no mais elevado. Desta forma, existem estrela e
estrela, sistema e sistema; que um não conheça bem o outro!

Comentário: Entendemos que estamos tratando de uma iniciação interna


e, embora o versículo 49 deixe claro que tudo o que era externo e antigo deve ser
abolido, isto não implica em que assim seja no que se refere ao interno, onde
devemos aprender a conhecer a “senha”50 a ser proferida, perante o guardião, capaz
de nos dar entrada, em cada esfera Sephirotica, onde temos de percorrer os
caminhos de nossa iluminação.
A advertência para os três ordálios em um e que isto será dado ao
Iniciante em três caminhos, provavelmente está relacionada aos caminhos 32 31 e
29 da Árvore Sephirotal, todos partindo de Malkuth, onde o grosseiro passa pelo
fogo (caminho 31), o sutil é testado no intelecto (caminho 29) e o sublime separado
no mais elevado (caminho 32), onde, neste, após a passagem no “labirinto” renasce
o espiritual do material.
Sobre estrela já falamos o suficiente, acrescentando que cada criatura
tem suas características vibratórias particulares, constituindo cada ser um sistema
atômico universal diferente do outro. Quanto à recomendação “que um não conheça
bem o outro” deve referir-se à necessidade de preservação, cada um, de sua
“seidade” enquanto individualidade, para evitar interferências quase sempre
maléficas no processo evolutivo.

49
Este nome também aparece associado a Osiris, seguido de Un-nefer, ou seja, “o que perdura para sempre”.
50
Esta “senha” pode ser uma exaltação, um hino, uma palavra-chave, etc., dependendo do Plano e da esfera
(Sephirah) onde pretendemos entrar.

63
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

51. Existem quatro portas para um palácio; o chão desse palácio é de prata e
ouro; a lazulita e o jaspe estão ali; e todas as fragrâncias raras: jasmim e
rosa e os emblemas da morte. Que entre alternativamente ou ao mesmo
tempo pelas quatro portas; mantenha-se em pé sobre o chão do palácio.
Não afundará? Amn. Ó Guerreiro! se teu servidor afundar? Porém há
meios e meios.51 Seja admirável, contudo: vesti-vos com as mais finas
roupagens; comei manjares excelentes e bebei vinhos doces e
espumantes! Também, saciai-vos de amor ao máximo, quando, onde e
com quem vós quereis! Mas sempre para mim.

Comentário: Novamente estamos “pisando” os caminhos da Árvore


Sephirotal, onde as indicações tanto nos falam da Sephirah de Saída como a de
Chegada, dos incensos adequados e da necessidade de reconhecimento dos níveis
mágicos de consciência que precisam ser observados.
Somente com o estudo e a prática dos Caminhos Cabalísticos e o
reconhecimento de cada esfera (Sephirah), este versículo poderá ser entendido. O
que o Estudante não pode fazer é tentar materializar o que consta do versículo,
porque tanto se perderá em imaginações inócuas como poderá chegar a uma
compreensão inexata e negativa (Qliphótica) do assunto, o que lhe será
extremamente prejudicial. Porém: faz o que quiseres, há de ser tudo da lei.
Vários livros que abordam a iniciação interna sempre mencionam o
Palácio ou Câmara de quatro portas (uma preta, outra azul, outra vermelha e outra
branca) que estariam relacionadas às quatro pétalas do chacra fundamental
(Muladhara). Estudo e prática da Cabala, empreendidos muitas vezes, levarão o
Estudante ao completo esclarecimento das manifestações do inconsciente não
racional, onde está a chave para a compreensão deste versículo.52
O que importa, no final de tudo, é que tudo seja feito por amor e respeito
à Divina Mãe.

51
Deve-se entender “métodos e métodos”.
52
Para os que desejarem maiores detalhes sobre estas experiências, recomendamos a leitura do livro “A
Santíssima Trinosofia”, atribuído ao Conde de Saint Germain e editado pela Editora Mercúrio. Todo o processo
ali narrado representa os diversos caminhos internos da iniciação humana.

64
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

52. Se isto não estiver correto; se confundis as marcas do espaço, dizendo:


Elas são uma; ou dizendo, são muitas; se o ritual não for sempre para
mim: então esperai os terríveis julgamentos de Ra Hoor Khuith.

Comentário: Aí está a advertência: antes de iniciar um caminho, o


estudante deve preparar-se devidamente para o mesmo, estudando ao máximo suas
características e possíveis experiências, a fim de não fazer confusão dentro de seu
propósito. Cada caminho e cada Sephirah tem o seu ritual, que deve ser seguido por
amor à Divina Mãe. Práticas temerárias com as escórias energéticas ou confusas
(Qliphóticas), levarão o Estudante a um julgamento terrível.

53. Isto regenerará o mundo, o pequeno mundo minha irmã, meu coração e
minha língua, para quem mando este beijo. Também, ó escriba e profeta,
embora sejas dos príncipes, isto não te suavizará nem te absolverá.
Porém que o êxtase seja teu e a alegria da terra: sempre para mim! A
mim!

Comentário: Este versículo parece deixar claro que as “vivências”


experimentadas na Senda Cabalística regenerarão o pequeno mundo interno do
estudante, levando em conta os benefícios do reconhecimento dos mundos
anímicos que constituem a contraparte superior e inferior de sua própria expressão
individual-pessoal.
A frase “o pequeno mundo minha irmã” pode estar se referindo a Rose
Crowley (cada homem e cada mulher é um estrela), ao que parece o verdadeiro
médium psicógrafo do Líber Legis, principalmente porque tornou-se “o coração e a
língua” da entidade comunicante (Aiwass), merecendo, por isto, seu carinho, contido
na expressão “para quem mando este beijo”.
Entretanto, também poderíamos dizer que está se referindo ao pequeno
mundo de Nuit, o coração do Estudante, representado por todas as formas de vida
existentes, que se beneficiarão da reforma do homem e de sua língua, a expressão
criadora da Natureza, que, então, poderá fazer-se plena. O beijo enviado tanto pode
implicar num ato de carinho dessa expressão criadora, para a humanidade, como
também para o Líber Legis, com seus ensinamentos para a Nova Era.
No final, adverte Crowley, deixando claro que seu trabalho pela difusão do
livro, não lhe trará benefícios extras pelo serviço prestado, porém que a sua
conquista pessoal dos estados superiores de consciência se realizem e possa ser

65
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

feliz em sua encarnação, sempre em benefício da Divina Mãe, sempre


compreendendo que ela é a vida e a expressão da vida, em toda a natureza.

54. Não mudes sequer o estilo de uma letra; pois observai! Tu, ó profeta não
verás todos estes mistérios ali escondidos.

Comentário: Mais uma advertência de que nada, em relação ao livro,


deve ser modificado, até mesmo o estilo de uma letra; de modo estranho, mas
profeticamente, Aiwass, como mensageiro de Nuit, diz textualmente neste versículo,
que Crowley não perceberá todas as lições contidas no Líber Legis,53 o que ele de
certa forma comprovou ser verdade ao escrever “The Law is for All”, onde confirma
não perceber ou entender o sentido de uma boa parcela dos versículos analisados,
passando, inclusive, por cima de alguns, sem dar explicações.

55. A criança de tuas entranhas, ela os verá.

Comentário: A “criança” das entranhas de Crowley certamente é o seu


Cristo Interno ou Eu Superior, que tudo sabe e tudo vê, a qual ele buscou
tenazmente em sua vida e que denominava seu SANTO ANJO GUARDIÃO.
Este Cristo-criança (Hadit ou Hórus) existe no coração de cada ser
humano, nascendo quando Kundalinî, a matéria ígnea que reveste os corpos
divinos, é levada ao chacra do coração (Anahata). Quando isto ocorre, o ser humano
vence um grau em seu processo evolutivo e abandona o estado de humanidade,
tornando-se uma consciência cristificada, não necessitando mais reencarnar na face
da Terra.
Nos diversos mitos religiosos, esta “Divina Criança” sempre nasce numa
cova ou caverna, (como Jesus, do mito cristão), representação exotérica do
ventrículo esquerdo do coração, onde Esse Ser Radiante trabalha ativamente para
iluminar a consciência do homem adormecido.

53
As interpretações dos versículos do Líber Legis, pelo Autor deste livro, não pretende complementar o trabalho
de Crowley no livro citado e, muito menos têm a pretensão de cotejar os conceitos emitidos pelo mesmo. É
preciso que os “seguidores” de Crowley compreendam que o presente livro é para aqueles que se interessam
por sua obra, realmente muito valiosa, porém, querem gozar do direito de concluir, diferentemente do mesmo,
sobre os ensinamentos recebidos. É o que o Autor fez, sem temer os anatematizadores e intolerantes da
liberdade de pensamento, tão defendida pelo próprio Crowley. Nisto não vai a recusa da obra, mas sua
percepção sob uma ótica cheia de ensinamentos, também cheia da magia da beleza e do amor.

66
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

56. Não o esperes do Oriente nem do Ocidente; pois de nenhuma casa


presumível virá esta criança. Aum! Todas as palavras são sagradas e
todos os profetas verdadeiros; salvo somente que entendem pouco;
solucione a primeira metade da equação, deixe a segunda intocada.
Porém tens tudo na claridade e algo, embora nem tudo, na escuridão.

Comentário: Confirmando o que dissemos no 2o. item da resposta ao


versículo 55, está claro que a “Criança” não deve ser esperada nem do Oriente nem
do Ocidente, pois está dentro de nós mesmos: é o EU SOU, Hadit ou o “Morador do
Coração”. O fato de não vir de nenhuma casa presumível consubstancia-se no fato
de que não está sujeita às Casas Astrológicas para seu nascimento, pois está acima
delas.
É proferido, em seguida, o mantra Aum, que deve ser pronunciado
jogando a respiração na parte interna dos lábios, sonorizando a letra A, levando
depois o som para o céu da boca, sonorizando a letra U e, por último, exalando o ar
pelo nariz, sob o som da letra M, mantendo o pensamento no chacra coronário,
como ressonância.
O Estudante sincero sabe que todas as palavras sagradas contêm sons
vocálicos que atuam vibratoriamente sobre os diversos centros de força. A
entonação da palavra e a qualidade do pensamento por ela expressa é que pode ser
benéfica ou maléfica.
A afirmação: “todos os profetas são verdadeiros, salvo somente que
entendem pouco”, seguida da recomendação de que “devemos solucionar a primeira
parte da equação e deixar a segunda intocada” é uma metáfora e provavelmente
está relacionada aos guias internos encontrados no percurso dos caminhos
existentes na árvore cabalística; cada um destes guias tem conhecimento adequado
exclusivamente ao caminho onde os encontramos e nada, além disso.
O fechamento do versículo parece ser uma comprovação do que estamos
dizendo.

67
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

57. Invocai-me sob as minhas estrelas! Amor é a lei, amor sob vontade. Que os
ingênuos54 não interpretem mal o amor; pois há amor e amor. Existe a
pomba e a serpente. Escolhei bem! Ele, o meu profeta, escolheu
conhecendo a Lei da fortaleza e o grande mistério da Casa de Deus. Todas
estas letras antigas de meu Livro são como deve ser; mas tsade (‫ )צ‬não é
uma Estrela. Isto também é secreto: meu profeta o revelará aos sábios.

Comentário: “O que está em cima, é igual o que está em baixo”; o


Macrocosmo é igual ao Microcosmo. Compreender este axioma é extremamente
necessário para a interpretação de alguns versículos do Líber Legis, senão a
maioria.
O que temos em estudo, tanto pode ser interpretado como a invocação de
Nuit no mundo externo, durante a noite, sob um céu estrelado, como também (e é o
que nos interessa), interna e conscientemente, sob as energias Sephiróticas, que
congregam as diversas Inteligências Atômicas, em todos os níveis de manifestação,
dentro do Universo-Templo representado pelo nosso corpo.
Entretanto, aqui, devemos entender Nuit em seu aspecto de Kundalinî,
quando a invocação deve pretender sua manifestação plena, sem abrigar qualquer
resquício emocional, e com o objetivo de obter a iluminação plena, direito inalienável
de todos os seres humanos.
O amor, ou seja, a integração plena da natureza feminina com a
masculina deve ser exercido sob o império de uma vontade firme, poderosa e
objetiva, capaz de controlar toda manifestação emocional com repercussão externa,
para que o êxtase seja puro e criativo somente nos reinos de nossa natureza
interna.
Existe, sobre isso, a advertência de que os ingênuos (os tolos, os
pretensos “sábios” e criadores de sistemas pessoais de Tantra) não devem
interpretar mal o Amor, o que infelizmente acontece com freqüência, com a
deturpação do que é Divino, substituído, por alguns seguidores do Tantra negro, por
uma bestialidade inconcebível pois, como arremata esta oração do versículo, há
amor e amor, portanto, necessitamos do amor sublime, SE QUEREMOS O QUE É
SUBLIME.

54
Ingênuos ou tolos (“fools”, em inglês). É a carta 22 do Tarot egípcio (Regresso, O Retorno).

68
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

Podemos acrescentar ainda: todos os caminhos levam à meta, uns com


glória e felicidade e outros, com grandes sofrimentos, desequilíbrios e atrasos
fantásticos.
Em seguida, temos dois símbolos: a pomba e a serpente, com diversas
conotações cada um, aparecendo:
a) a pomba, como representação da paz, equilíbrio, esperança e,
também da “Shekinah”, título aplicado pelos cabalistas a Malkuth, porém pelos
judeus à “nuvem de glória” que permanecia sobre o lugar de Misericórdia no “Santo
dos Santos” e que, não obstante, é de natureza muito mais elevada, pois é o véu de
Ain Soph , o Infinito e o Absoluto, segundo ensinavam os rabinos da Ásia Menor. É
também uma espécie de Mûlaprakriti cabalístico, a luz primordial, a Luz eterna no
mundo do espírito (Glossário Teosófico).
Shekinah foi representada como pomba quando o Espírito Santo (Nuit, o
o
3 . Logos) “desceu” sobre Jesus, durante o “Batismo pelas águas”. É a iluminação
“por cima” através do chacra Sahasrara.
b) a serpente é o símbolo da Perfeição e Sabedoria Divinas e sempre
representou a Regeneração Psíquica e a Imortalidade; Hermes Trimegisto a
denominou como o mais espiritual de todos os seres e Moisés, iniciado na sabedoria
de Hermes, seguiu o seu exemplo no Gênesis. Os Gnósticos a tinham como
emblema, com as 7 vogais sobre a cabeça, representando as 7 Hierarquias dos
Criadores Planetários. Neste versículo ela aparece como símbolo das energias
nascidas no chacra Muladhara (Kundalinî) nos vários planos de consciência,
representados pelos 7 centros de força. Está relacionada a iluminação por baixo.
A advertência para que o Estudante escolha bem se justifica
perfeitamente, porque cada escolha envolve um sistema de iluminação diferente,
embora válidos, os dois, para o alcance do mesmo objetivo. O da Serpente implica
no Tantra, método de iluminação utilizando as energias sexuais que, segundo os
Tantristas, é mais natural e direto, pois alegam que “se o homem foi expulso do
Paraíso por causa da Serpente, é pelo caminho da Serpente que poderá voltar a
ingressar no Paraíso”.
Alegam, também, que a iluminação ocorre como o despertar do sono e o
morrer, pois ninguém acorda gradualmente ou morre aos poucos: ou está acordado
ou está dormindo e ou está vivo ou está morto. Por isso, para eles, a iluminação não
é conquistada aos poucos, vida após vida, pagando todo o carma acumulado, mas

69
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

pela consecução do Mahamudra ou êxtase supremo,55 obtido pelo domínio da


energia sexual (Kundalinî, a força ou energia ígnea, base da vida nos planos
manifestados), posteriormente direcionada para a iluminação dos 7 estados de
consciência (7 chacras) onde a vida se desenvolve.
O Mahamudra, que traz a Suprema Sabedoria (A serpente) torna o
homem, pelo conhecimento da verdade sobre si mesmo, isento de pecados, ou seja,
do seu carma, que aflige aqueles que perseguem o sistema de desenvolvimento
gradual, pela conquista das virtudes que engalanam a Alma dos “antes nascidos”.
Como dissemos acima, os dois sistemas, ou seja:
a) o da iluminação gradual, vida após vida, realizando a conquista da
sabedoria através da experimentação e do domínio de si mesmo
perante a adversidade e,
b) aquele que preconiza o Tantra.

Os dois são válidos e levam à mesma meta.


O melhor? Não há resposta que possa ser aceita por quem ainda está
buscando; só quem chegou a realizá-los poderia dizer alguma coisa, mas, também o
que dissesse, não seria, da mesma forma, aceito; esta é uma verdade incontestável
para os que sabem alguma coisa.
Todavia, de forma sutil, porém fortemente presente neste versículo, está
um terceiro caminho para a conquista da iluminação: o Caminho do Coração 56ou a
Senda para a Morada de Hórus (Hadit, a Divina Presença ou a manifestação da
Mônada Divina no coração humano) ou, ainda, o EU SOU, no homem. Este
caminho, que vem sendo preparado há milhares de anos, ou seja, desde a Era de
Touro, que começou há mais de 6.000 anos atrás, propõe a libertação da

55
O Reino dos céus é arrebatado (pela) a força –(Mt. 11,12). A força é Kundalinî.
56
Aparentemente, apesar de ter enaltecido de todas as formas o Amor (dentro de sua compreensão), Crowley não chegou a
perceber ou não quis dar ênfase ao aspecto superior da mensagem do Líber Legis: aquele que revela Hadit também como o
EU SOU, a realidade divina no homem, como uma das partes mais importantes do livro. Deixou também de enfatizar o aspecto
trino da manifestação divina como Ra-Hoor-Khuit, bem caracterizada nos três capítulos do Livro.
Ateve-se, quase que exclusivamente, ao aspecto mágico das revelações (aliás, de forma brilhante), parecendo
(aos que não chegaram a compreendê-lo totalmente), não ter pressentido que existia outro caminho para obter os efeitos que
buscava. Esse caminho estava contido exatamente na visão de Hadit como “a chama que arde em todo coração humano e no
âmago de cada estrela”, ou seja, mais uma, e definitivamente a última, revelação do EU SOU para a humanidade que, com as
energias que atuarão nos próximos dois mil anos sobre o Planeta (principalmente as do 4o. Raio - Harmonia e Beleza, a se
iniciar no ano 2025), trarão amplas condições para que ela, a humanidade, definitivamente se reconheça como filha de Deus e
realize, através de toda a Magia nascida no coração, a tremenda renovação do mundo, coerentemente com os primeiros
Manifestos Rosa-cruzes. Os estudantes sinceros e não fanáticos devem meditar muito sobre o Líber Legis; procurar a sua real
mensagem, vivenciar o seu conteúdo por dentro dos caminhos da Cabala e, aí então, praticar a Magia em toda a sua beleza,
esplendor e poder: aquela que nasce no coração, a magia que liberta o homem imediatamente de seu carma, passado,
presente e futuro, pois o identifica com a própria Divindade. Então compreenderá, como apóstolo da Verdade que: “O amor
cobre multidão de pecados” (1Pedro 4, 8) e que a mensagem do Líber Legis para a Nova Era é o coração, onde
encontraremos Hadit (Tiphareth), nascido pela ação do amor de Nuit (Binah em sua união com Chokmah), elevando-nos a Ra
(Kether) para o conluio da Eternidade (Ain Soph).

70
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

humanidade dos véus da ignorância, pela conscientização, do ser humano, de sua


Divindade Interna. Esta proposta fica explícita:
no Bhagavad Gîtâ (Era de Touro), por Krishna, quando se revela a
Arjuna como “EU SOU a Essência Espiritual que habita nas
profundezas da Alma e no Íntimo de cada criatura; o Princípio, o
Meio e o Fim de todas as coisas; a sua Origem, a sua Existência, o
seu Termo Final.
no Antigo Testamento (Era de Áries, há 4.000 anos atrás), a Moisés
(Êxodo 3, 14/15) quando diz “EU SOU o que Sou. Disse mais Deus a
Moisés: assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós
outros”.
no Novo Testamento (Era de Peixes, há 2.000 anos atrás), através de
Jesus, quando este, confirmando o dito por seus veículos anteriores,
afirma: EU SOU o Caminho, a Verdade e a Vida; EU SOU a Luz do
Mundo, etc. etc. (ver o Apêndice, no final deste Livro).
Atualmente (Era de Aquário, Éon de Hórus), nos três capítulos do Líber
Legis, vemos a constante afirmação de que EU SOU (“Eu Sou a Chama
que arde em cada coração humano; Eu Sou o Mago e o Exorcista...,
etc. etc.), principalmente no 2o. capítulo, que pode ser considerado o
Livro de Hadit.
E tudo isso fica muito claro se observarmos atentamente a oração do
versículo em estudo, que diz: “Também não deixe que os ingênuos interpretem mal
o amor; pois há amor e amor”. Ele se refere ao Amor do Coração, em consonância
com o versículo 7 do 2o. Capitulo que se complementa afirmando: “Eu sou o eixo da
Roda e o Cubo no Círculo. Vinde a mim é uma sentença ingênua, pois Eu Sou
o que vai”. 57
O versículo termina dizendo que o Profeta (neste caso: Crowley) escolheu
a lei da fortaleza e o Grande Mistério da Casa de Deus; cabe-nos, somente, tentar
compreender o que isto pode significar. Senão, vejamos:
a) A lei da Fortaleza relaciona-se a Sephirah Geburah, cujo chacra
mundano é Marte, que a despeito de seu aspecto de violência (espada
na mão), nem sempre deverá ser encarado dessa forma. É importante

57
Ver o comentário do versículo 7 do Capítulo 2, para maiores esclarecimentos.

71
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

apreender o sentido superior da força marciana relacionada a Geburah,


representado pelo pentagrama, muito utilizado na magia “não só para a
invocação, como também na limpeza ou banimento, na esfera psíquica,
de elementos interiores indesejáveis”.58 Estes últimos seriam as energias
Qliphóticas.
b) O Grande Mistério da Casa de Deus (Luz demasiada causa Trevas) está
relacionado à Sephirah Geburah e se refere ao arcanjo Khamael, o Anjo
Brilhante, que aparece como um ovóide brilhando numa luz purpúrea e o
Anjo obscuro, que aparece como uma serpente escarlate de Fogo. Estes
dois são antropomorficamente tidos como o “Bem” e o “Mal” e, às vezes
apresentados sob o aspecto rigoroso, caótico, tenebroso, não que sejam
assim, mas por despertarem em nós estes estados.59

Assim esclarecidos, poderíamos deduzir: este é o caminho do “fio da


espada” (lembremo-nos que o signo complementar de Áries, regido por Marte, é
Libra, signo de nascimento material de Crowley, regido por Vênus, que representa o
amor mundano), onde só se admite duas contingências: Vencer ou sucumbir, o que
parece se enquadrar perfeitamente na tônica iniciática de Crowley. O resultado por
ele conseguido está acima de nossa avaliação. Procurou a Magia e chegou a
resultados extraordinários. Deixou, entretanto, bem claro, como mensagem mais
importante do que a Magia por ele praticada o axioma: “Amor é a Lei, Amor sob
Vontade”, aliás, como deve ser o Amor; nunca sob emoção, como a humanidade
ainda o vivencia.
O trecho do versículo: “Amor é a lei, amor sob vontade. Também não
deixe que os ingênuos interpretem mal o amor; pois há amor e amor” é muito
sugestivo. Ele representa a Sephirah Tipharet (a do Meio, se considerarmos Daath)
na coluna do Equilíbrio e, apesar do Abismo que a separa de Kether (O Pai que está
no céu, o “Eu Sou o que Sou” do Gênesis) podemos afirmar, com certeza, que é, no
caminho do coração onde podemos atingir a Primeira Glória do Homem como ser
Divino. O Amor libera o homem de seu carma; o Amor é, nele, o produto mais
sublime da manifestação divina; é mais facilmente atingível do que a conquista da
iluminação obtida pelo êxtase sexual; o Amor-Sabedoria é a expressão viva da

58
Mistérios Revelados da Cabala - William Whats - Edição da FEEU.
59
Idem, ibidem.

72
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

consciência da Mônada Divina e pode ser experimentado em seus albores por


aquele que atinge o conhecimento em Tiphareth. Os mundos inferiores fazem parte
da entidade humana, porém são todos ilusórios; em Tiphereth, nos aproximamos da
Realidade. O trabalho no coração não oferece os perigos dos planos inferiores, pois
nele encontramos “paz e repouso para as nossas Almas”.
A última oração do versículo (Todas estas letras antigas de meu Livro
são como deve ser; mas Tsade (‫ )צ‬não é uma Estrela. Isto também é secreto:
meu profeta o revelará aos sábios) é totalmente metafórica; portanto deve ser
encarada sob ângulos subjetivos para poder ser entendida.
Primeiramente, está claro que as letras antigas são as letras hebréias,
cujos significados devem permanecer no Líber Legis em toda a sua plenitude,
principalmente aqueles relacionados à Cabala. No que tange a letra Tsade (‫)צ‬,
sabemos que está relacionada ao Arcano 18 do Tarot egípcio (O Crepúsculo),
governado pelo signo de Escorpião e representando, no caminho iniciático, a fase da
vida onde se deve abandonar os prazeres da vida animal, em todas as suas formas
de vivenciamento (principalmente aqueles provindos das energias sexuais), em favor
de um renascimento espiritual, representado pelo Arcano 17 (A Esperança) com
todas as suas promessas de uma superação humana no futuro.
A afirmação de que Tsade não é uma Estrela foi uma forma sutil, na
enunciação do versículo, de endereçar o raciocínio do Estudante para estes dois
arcanos e suas conotações espirituais, porquanto a letra Tsade encerra a
mensagem do arcano 18 e a palavra Estrela, a mensagem do Arcano 17. Se num a
mensagem é a morte no mundo lunar (o mundo das emoções), no outro existe a
promessa da vida espiritual, representado pela Esperança, irmã da Fé, cuja
conotação superior é Vontade-Força.
Para que o Estudante acompanhe melhor o que é exposto acima, pelo
comentário, reproduzimos, na página seguinte, estas duas cartas do Tarô egípcio,
onde vemos, no Arcano 18, relacionado a Tsade (‫)צ‬, na parte central, dois cães
latindo e olhando para cima, um preto e outro branco, simbolizando a natureza
animal, tendo ao fundo, com os vértices para cima, dois triângulos, o primeiro branco
e o segundo preto.
Embaixo, dentro de um triângulo branco, com o vértice para baixo, um
escorpião, o único animal que “mata a si mesmo”.

73
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

Em cima (representação da parte espiritual do Arcano), vemos uma lua


em fase crescente, encimada pelo chicote das gravuras egípcias que simboliza
sempre a soberania e, ao lado, a serpente e uma letra aparentemente do alfabeto
cuneiforme.
Como dissemos no comentário, esta carta representa o estágio de
declínio ou desinteresse pela vida material naqueles que começam a sentir a
aspiração pelo caminho espiritual. Acontece quando o homem, cansado da prisão da
existência sensorial, contempla o nascimento da luz em sua consciência espiritual,
embora permaneça ainda envolvido nos apelos animais da vida, nesta fase de sua
existência, mesmo permanecendo pleno de suas energias criadoras, não olha mais
para baixo e começa a aspirar somente a criação superior.
Profanamente, este Arcano está relacionado aos abismos do infinito, às
dificuldades que envolvem o Ser espiritual quando se submete aos domínios dos
instintos animais, as decepções amorosas e aos inimigos ocultos, representando
uma advertência e, também, o sinal de que se deve mudar de vida.
Após a vivência do Arcano 18 (que representa uma das fases da vida
iniciática, que vai do Arcano 22, representado pelo Tolo, o Ignorante, o homem
alheio a sua realidade espiritual, até o Arcano 1, o Mago, o Homem Perfeito, Senhor
do Céu e da Terra, o Estudante envereda pelas energias do Arcano 17, o da “Estrela
Resplandecente” ou da Esperança.
Neste, vemos o que seria a natureza feminina do Aspirante, representada
por uma jovem desnuda, com adornos na cabeça, formando, com as pernas, dois
triângulos que também estão representados no inferior por um quadrado dividido
diagonalmente, um branco (com o vértice para cima) e o outro preto (com o vértice
para baixo). Acima, entre o plano espiritual e o mental, a Estrela de oito pontas (a
estrela do Cristo) ligando os símbolos potenciais do céu a terra.
Segura, ainda, um vaso em cada mão, um de ouro e o outro de prata dos
quais jorram o que poderia ser o sêmen fecundante na terra ainda árida da natureza
espiritual.
Este Arcano está relacionado às experiências internas do Caminho 28 da
Árvore Sephirotal, que vai da Sephirah Yesod até Netzach, onde inclusive a jovem
desnuda, portando um cinturão com uma espada pode aparecer, como guia (a
Estrela Resplandecente) do caminho a ser percorrido. Já o Arcano 18 (O
Crepúsculo) está relacionado ao Caminho 29 (de Malkuth a Netzach). Este é um

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

caminho sombrio em seus significados, cheio de percalços, porém onde adquirimos


o poder de fazer a nossa vontade, se soubermos querer verdadeiramente. Nestas
condições, chegaremos à vitória (Netzach).
Concluindo o comentário do versículo, podemos dizer ainda que a
esperança de um dia nos tornarmos sábios depende exclusivamente que “o profeta”,
neste caso não mais Crowley, mas o Átomo Mestre,60 o morador da bolsa seminal e
Iniciador nos planos Internos da vida, nos revele suas instruções.

60
Para compreender observe atentamente as figuras existentes dentro da ilustração do chacra Swadhisthana na
Gravura “Anatomiæ Occultii” e os esclarecimentos sobre o assunto contido Na página 98 do livro “OS DEUSES
ATÔMICOS”.

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PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

58. Concedo inimagináveis alegrias sobre a Terra: certeza, não fé, enquanto
em vida, sobre a morte; paz indescritível, repouso, êxtase; tampouco
exijo alguma coisa em sacrifício.

Comentário: Este versículo está relacionado às vivências do Estudante


nos mundos e caminhos internos daquilo que a Psicanálise chama “inconsciente”,
por considerarem como realidades apenas as coisas do mundo material. Em
verdade, as percepções chamadas conscientes (Vigília) representam uma pequena
parcela da realidade que açambarca a personalidade integral da entidade humana;
mais de noventa por cento dessa personalidade integral (aí incluímos até mesmo as
percepções físicas, com um potencial grande ainda a ser desabrochado) manifesta-
se continuamente em mundos mais sutis, sem que a mente chamada consciente
perceba e que, entretanto, além de regular e comandar a maior parte das ações
humanas no estado de vigília, não faz parte das cogitações do homem comum,
totalmente ignorante das realidades mais sutis da vida. 61
Aqui estamos tratando das “vivências” que a Cabala situa na Sephirah
Tiphereth, em seu caminho para Binah, parcela real de nossa “integralidade”
humana (mais real e intensa do que nos pode proporcionar a consciência de vigília e
que, em verdade, constitui apenas um estado de sonho da verdadeira entidade
humana). Esta “vivência” é conhecida do praticante da Cabala por experiência
própria.
São simplesmente inenarráveis, em linguagem humana, as visões,
envolvimentos e participações a que o Estudante é submetido quando alcança este
estado de consciência; somente ali podem concretizar-se as promessas de Nuit. Os
prazeres na terra advêm do novo estado de consciência que passa a usufruir e lhe
permite considerar as coisas, após estas vivências, com muito maior poder de
avaliação.

61
Além do físico grosseiro, existem 4 estados de matéria sutil no universo, denominadas pelos hindus como:
a) Prâna, a matéria vital de quem o Sol é o centro difusor.
b) Manas, a matéria mental, que tem por centro o Manú.
c) Vijñâna, a matéria psíquica, que tem por centro Brahma e,
d) Ananda, a matéria espiritual, que tem Parabrahman como substrato infinito.
A Cabala também apresenta o universo com 4 estados de matéria que são:
a) Assiah - plano físico - sistema solar visível.
b) Yetzirah - o astral ou emocional.
c) Briah - o plano mental ou das idéias e arquétipos.
d) Atziluth - o plano divino, sede dos 10 Sephiroth.
O homem, enquanto encarnado, mantém, sem nenhuma interrupção, sua expressão de vida em todos estes
planos, muitas vezes acessando-os através do sono ou, então, conscientemente, através das práticas
cabalísticas.

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O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

O conhecimento sobre-humano adquirido lhe traz certeza, nãos mais fé,


em tudo aquilo que se relacione com o processo eterno da vida e, portanto, lhe dá a
certeza da inexistência do que chamamos morte.
Naturalmente, de posse dessa certeza, conquistada numa vivência que
passa a integrar sua personalidade humana, o Estudante adquire, interiormente,
uma paz inexprimível, tranqüilidade absoluta e passa a manter sua consciência
extasiada perante verdades antes insuspeitadas. Nada disso é conquistado através
de sacrifícios, oferendas ou advém de favores especiais; tudo isto é oferecido ao
Estudante por amor à Divina Mãe Natureza, não como condição, mas proveniente
da conquista que realiza em busca de sua inerente realeza espiritual.

59. Meu incenso é de goma e madeiras resinosas; e não existe sangue ali
dentro, por causa de meu cabelo, as árvores da Eternidade.
Comentário: Temos a continuidade da fala de Nuit, em prosseguimento ao
versículo 58. No caminho que está sendo percorrido, chega o momento de acender
o incenso, que deve ser adequado ao nível de consciência vivenciado e não possuir
resíduos industriais nem matéria cujo perfume possa criar vibrações nocivas, daí a
admoestação para que a oferenda não possua sangue, como acontece em algumas
operações mágicas.62 A oração seguinte justifica a razão para que não sejam
usados elementos grosseiros, afim de que não seja criada desarmonia nessa região
de perfeição, beleza e perenidade. 63
Chamamos a atenção dos praticantes de Magia para a sentença “por
causa dos meus cabelos, as árvores da Eternidade”. Para o autor, os cabelos de
Nuit (as árvores da Eternidade) estão relacionados exclusivamente as energias
tattwicas e já faziam parte das operações mágicas entre os antigos egípcios. O
trabalho mágico, através do domínio dos Tattwas, é feito de acordo com as leis que
governam os elementos e prescinde totalmente de qualquer forma grosseira de
magia cerimonial, em que são empregados recursos deletérios na invocação de
elementais. As várias referências aos “cabelos de Nuit” nos Livros dos Mortos e, de
alguma forma, nos rituais que eram celebrados durante as iniciações, nos levam a

62
Sobre a utilização de sangue em práticas mágicas, aconselhamos ao Estudante a ler a Terceira parte, Capítulo
12, do Livro Magia, en teoria y práctica, onde Crowley aborda o assunto, inclusive com sua vivência pessoal,
repudiando toda e qualquer forma de tortura de animais até a morte e esclarecendo suficientemente o assunto.
63
No livro The Law is for All, Crowley oferece sua interpretação pessoal sobre a visão que teve sobre “because
of my hair the trees of Eternity”, que traduzi como “por causa de meu cabelo, as árvores da Eternidade”.
Naturalmente, nesses reinos mágicos internos, as experiências sempre estão condicionadas ao estado de
desenvolvimento de cada um e Crowley teve a sua, particular.

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PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

64
supor a manipulação de energias para sagrar a cabeça do iniciado,
proporcionando-lhe forças adequadas às viagens que deveria empreender na “Barca
Solar”.

60. Meu número é 11, tal como os números daqueles que são nossos. A
Estrela de cinco Pontas, com um Circulo no Meio e o circulo é Vermelho.
Minha cor é negra para os cegos, mas o azul e ouro são vistos da visão.
Também tenho uma glória secreta para aqueles que me amam.

Comentário: Como já foi explicado anteriormente (páginas 22 a 26), o


número onze é a soma natural das letras do alfabeto hebreu Nun (50) e Vau (6), ou
seja, NU = 56 = 11; também foi explicado que 11 é o Número de Hadit
(5+1+4+10+9=29=11), presente em toda a criação como Mônada Divina,
principalmente para os que “descobriram” a verdade do EU SOU em seus corações,
que podem ser considerados como identificados com Nuit, daí ela afirmar que 11 é
também o número dos que são nossos.
A Estrela de cinco pontas representa o poder de Marte, o chacra
mundano da Sephirah Geburah, já abordada no comentário do versículo 57; o
círculo vermelho está relacionado à própria esfera de Marte.
A afirmação de que “minha cor é negra (Akasha) para os cegos” já está
bem esclarecida nas páginas 21 a 27 do presente livro e sabemos que cegos são os
que ainda não compreenderam a essência da Vida Manifestada, onde o azul que
envolve nosso Planeta é a concentração de Vayu, o Tattwa do Ar, em forma de
atmosfera e o ouro (amarelo) é a cor de Prithivî, relacionado ao desenvolvimento
atual da Mente Universal e, também, o Tattwa da terra, perfeitamente perceptíveis
pela visão comum.
Sabemos que Kether é a Gloria Primordial, a manifestação primária
daquilo que é “Imanifesto”, representado na Árvore da Vida pelos três véus Ain, Ain
Soph e Ain Soph Aur. Deduzimos, pela Glória de cima que a Glória de Nuit é a
Gloria de Baixo, representada por Kundalinî, cujo poder e manifestação realiza a
glorificação do veículo humano para servir como o corpo Crístico da Divina Criança.
Mas como diz o versículo, a glória deste corpo é somente para aqueles que
adquirem a Sabedoria e tornam-se amantes da Divina Mãe.

64
A iniciação no candomblé mantém esta prática.

78
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

61. Porém, amar-me é melhor do que todas as coisas: se sob o noturno céu
65
estrelado, no deserto, presentemente queimas meu incenso ante mim,
invocando-me com um coração puro e dentro dele a chama da Serpente,
virás por algum tempo em meu peito deitar. Por um só beijo então
desejarás dar tudo; mas aquele que neste momento der uma partícula de
pó, perderá tudo nesta hora. Reunireis bens, provisão de mulheres e
especiarias; ostentareis jóias preciosas; ultrapassareis os povos da Terra
em esplendor e altivez; mas sempre por amor a mim e, então entrareis na
posse de minha alegria. Eu vos ordeno ardentemente a comparecer ante
mim numa túnica inconsútil e coberto com um magnífico adorno na
cabeça. Amo-vos! Desejo-vos ardentemente! Pálido ou purpúreo, vela do
ou voluptuoso. Eu, que sou todo prazer e dignidade real, a ebriedade do
mais íntimo sentido, desejo-vos. Colocai vossas asas e despertai o
serpentino esplendor dentro de vós: Vinde a mim!

Comentário: Uma constante neste primeiro capítulo do Líber Legis é a


necessidade do Estudante aprender a amar a Nuit, ou seja, a Natureza em todas as
suas expressões de vida.
Isto só pode ser alcançado pelos adeptos da Sofia, que aprendem a não
mais separar (discriminar) para poder conhecer; ao contrário, aprendem a discernir a
vida em seu habitat natural, identificando-se com as suas leis e integrando seus
padrões à sua própria consciência.
Assim procedendo externamente, passa a participar ativamente da vida
em seus diversos reinos de expressão (mineral, vegetal, animal, ígneo e aéreo), com
o objetivo de ajudá-la a conquistar níveis de expressão cada vez mais elevados,
identificando-se, dessa forma, com suas forças, e abandonando sua natural
agressividade contra os reinos inferiores, principalmente aqueles em que a Beleza
aparentemente está ausente.
Como conseqüência, harmoniza-se com a vida Elemental interna,
passando a desfrutar a amizade e o respeito das inteligências atômicas que
constituem seu universo de expressão nos vários planos conscienciais onde é, ou

65
É bom lembrar que toda iniciação passa pela visita que temos de fazer a região do “deserto” existente dentro
de nós mesmos. Foi lá que Jesus enfrentou Satanás, vencendo-o (mas não destruindo-o) e onde também
deveremos comparecer, em nossa busca interior. Sob a ótica cabalista, o aspirante vai de Malkuth a Yesod
(Caminho 32 do Tarô) e lá chegando será tentado em sua maior fraqueza e se não tiver controle absoluto sobre
suas energias sexuais falhará com certeza.

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PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO DA LEI COMENTADO

seja, onde existe. E é essa harmonia com as forças que envolvem sua consciência
interna e externamente, que permite ao Estudante realmente amar verdadeiramente
a Nuit, daí Ela afirmar que: amá-la é melhor do que todas as coisas, pois seu amor
confere realeza, poder, sabedoria e desfrute em sua mais alta expressão ao Iniciado
(em seus Mistérios), tornando-o verdadeiramente um Mago, Soberano acima dos
Reis Elementais, aos quais respeita com seu amor e divina compreensão. 66
Após a advertência de que “amar-me é melhor que todas as coisas”, o
que deduzimos como uma senha de proteção, segue-se uma clara descrição do
caminho 31 (Malkuth a Yesod) onde “no deserto, sob o noturno céu estrelado,
queimas meu incenso ante mim, etc. etc.”, representando o trabalho e a orientação
mágica para o Estudante proceder o ritual necessário a fim de estabelecer o contato
com Kundalinî (a Serpente), que lhe trará prazeres inimagináveis.
A seguinte afirmação: “Por um só beijo então desejarás dar tudo...”
significa que, apenas pelo leve envolvimento, o Estudante terá a tendência de
entregar-se totalmente ao êxtase a que é levado, seguindo-se a dura advertência de
que, se “neste momento der uma partícula de pó, tudo para ele estará perdido".
Para o melhor entendimento da advertência, esclarecemos que o êxtase
experimentado pode levar o Estudante ao orgasmo (o que deve ser evitado
definitivamente), com emissão externa de esperma (= pó), cujo substrato é
imprescindível para a iluminação; se este for desperdiçado, anulará o êxito da
operação e todo o processo estará perdido.
Na oração seguinte fica claro que se ele vencer, recolherá bens,
fragrâncias e provisão67 de mulheres; ostentará jóias preciosas e ultrapassará todos
os povos da terra e, esplendor e altivez, mas que tudo seja por amor a Ela, Nuit; se
assim for, participará de sua santa alegria ou o êxtase contínuo em que vivem os
conquistadores de sua própria ignorância.
Segue-se a exortação para que o Estudante compareça ante Nuit em seu
corpo espiritual, numa túnica inconsútil,68 que nada mais é do sua armadura
argentada ou aura do corpo mental superior e coberto com um adorno na cabeça,

66
O Autor acredita ter deixado claro que a matança de animais nunca é realizada pelo verdadeiro Mago, que
possui recursos naturais para realizar sua vontade, sempre em harmonia com as leis da Natureza.
67
Provisão de Mulheres não deve ser entendido como uma grande quantidade de mulheres que será dada ao
Estudante, mas “abundância” de energias femininas, necessárias à harmonização de sua constituição
corporal-espiritual, a fim de que se torne um Andrógino Perfeito.
68
Túnica inconsútil, ou sem costura é, em linguagem esotérica, a aura do corpo humano.

80
O LIVRO DA LEI PARA O POVO SUPLICANTE

que deve ser entendido como as irradiações dos chacras frontal e coronário (Ajna e
Sahasrara), agora ativados pelos albores da energia de Kundalinî).
Posteriormente, segue-se o convite à divina integração do Estudante com
sua natureza feminina, a ser liberta, para fazer parte de seu ser; convida-o, em
troca, a fazer parte dela e experimentar todos os prazeres do êxtase espiritual,
representado pelo desfrute de sua consciência nos planos mais elevados da vida.
Isto posto, ordena que se prepare e desperte Kundalinî (o Poder Serpentino) dentro
dele e participe de seu Amor, o Amor da Divina Mãe.

62. Em todos os meus encontros convosco a sacerdotisa dirá – e seus


olhos arderão com desejo enquanto ela permanece despida e
regozijante em meu templo secreto – A mim! A mim! estimulando a
chama de todos os corações em seu cântico amoroso.
Comentário: O versículo anterior e o presente são mágicos e Iniciáticos e
este é a culminação de um encontro que deverá sempre ser renovado pelo
Estudante. Em todas as práticas ele deverá reativar Kundalinî, até que ela ilumine
todos os seus veículos (todos os corações) em sua exaltação amorosa. A fala: “e
seus olhos arderão com desejo enquanto ela permanece despida e regozijante em
meu templo secreto” significa que Kundalinî, a energia ou sacerdotisa iniciadora,
anseia por sua libertação e permanece no esplendor de sua natureza ígnea, pura,
sem véus, no templo Secreto de Nuit, neste caso, o chacra Anahata.

63. Cantai a arrebatadora canção de amor para mim! Queimai perfumes


para mim! Usai para mim jóias! Bebei para mim, pois amo-vos! Amo-vos!
64. Eu sou a filha de pálpebras azuis do crepúsculo; Sou a nua
luminosidade do voluptuoso céu noturno.
65. A mim! A mim!
Comentário: Os três últimos representam um convite e um pedido para que o
Estudante permaneça sempre alegre e feliz e não deixe de cultuar a Natureza, fortalecendo
seus laços dentro de si mesmo. Não poderíamos terminar este capítulo sem ressaltar a
importância da alegria na vida daquele que busca, por ser condição imprescindível para a
harmonização com o Tattwa Universal da presente emanação Divina, ou seja, PRITHIVÎ.

66. Termina a Manifestação de Nuit.

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