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Caminho da
tradição.
Jorge Aguer
KABALAH, O CAMINHO DA TRADIÇÃO.
ÍNDICE:
O ESTUDO DA TRADIÇÃO
O UNIVERSO DA KABALAH
A ÁRVORE DA VIDA
Escrevi este texto com o intuito de mostrar a mística kabalista como eu a vivencio.
Um lado meu, principalmente por identificação com meus mestres, se aproxima da
Kabalah hebraica e outra faceta de meu ser, a mais Iniciática, se une à Kabalah dentro da
Tradição Egípcia.
Parece ser uma dicotomia, mas estas duas partes de meu ser convivem em perfeita
harmonia. O problema existe realmente onde encontramos culturas e crenças que se dividem
ainda tendo uma raiz de origem comum. Existe uma dicotomia entre a religião católica e a
hebraica e outra entre a cultura hebraica e a egípcia.
Parte de mim propõe neste trabalho tentar integrar o que foi separado por interesses
religiosos, conflitos edípicos de uma sociedade que continua a negar o passado e a própria
origem da sua cultura.
Sei que existem diferenças marcantes entre as religiões, mas compete aos iniciados do
mundo integrar novamente o espírito da sociedade e reintegrar a irmandade entre os homens.
AGRADECIMENTOS:
Quero agradecer a meus Mestres, Rabi Menajem Mendel bem Shmuel, Rolland, meus
irmãos e mestres Pedro Lopez Lagar[1], Omar Ardans[2], Cesar Polcino Milies[3]. Algumas
partes deste texto repetem suas palavras, ensinamentos e escrita.
Agradeço a meus discípulos que com suas dúvidas e amor pela ciência me mantiveram
unido a minha essência.
Por outro lado têm outros que quero agradecer ainda sem conhecê-los pessoalmente,
mas que estão em meu coração por compartir o mesmo caminho, alguns como iniciados e outros
como amantes da ciência. O Rabi Ione Szalay[4] e Alexandre Safran[5] que tem contribuído
notavelmente para o conhecimento da tradição em América do Sul e na Europa.
Outros autores como, Gershom Scholem, Moshe Idel[6], Martin Buber, Bashevis
Singer, Simon Halevi, Epstein Perle, Claire Lalouette[7], motivaram, muitas vezes, as noites em
que a saudade das reuniões no Jeder Abodá batia na porta de meu coração.
A CIÊNCIA SAGRADA DA KABALAH
O ESTUDO DA TRADIÇÃO
A palavra Kabalah com a grafia utilizada aqui não se encontra senão nos dicionário
hebraicos. Nas línguas latinas como português, espanhol, etc. ela aparece como “Cabala”.
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, e Antonio Geraldo da Cunha oferecem como
significados dessa palavra o seguinte:
1) Tratado filosófico religioso hebraico, que pretende resumir uma religião secreta que
se supõe haver coexistido com a religião popular dos hebreus.
2) O conteúdo desse tratado, particularmente a decifração de um sentido secreto da
Bíblia e uma teoria e um simbolismo dos números e das letras.
3) Movimentos místicos e esotéricos europeus do século XII em diante.
4) Conluio secreto entre indivíduos ou facções que trabalham para um mesmo fim.
Maquinações, trama, conspiração.
5) Nos meios editorias e teatrais, maquinações de um grupo para forjar um sucesso ou
um fracasso.
No espanhol cotidiano existe também uma expressão em que se envolve a palavra Cabala
que seria mais ou menos o seguinte:
- Por que fazes tais coisas? – Por Cabala.
O sentido desta expressão é que na realidade a pessoa não sabe por que está fazendo essas
coisas, mas as faz por via das dúvidas, envolvendo algo mágico ou supersticioso.
Das três formas de escrita egípcia utilizaremos à hieroglífica. Esta escrita esta
baseada em signos que assumem um duplo valor: como ideogramas ou signos-palavras e
como fonogramas ou signos sons.
O machado:
O símbolo do machado nos remete ao ato de cortar, de separar, e veio a ser o símbolo do
consagrado, o que é separado das coisas mundanas e, em outro sentido simboliza a divisão ou
separação de forças no plano energético.
O machado plantado no alto da pirâmide ou de uma pedra cúbica com ponta entende-se como
a abertura do centro, do cofre, do segredo do céu, isto é o ato supremo da iniciação, da tomada de
consciência, que não se pode confundir com a iluminação, (a liberação do Imack). [12]Por sua
dureza o machado de pedra ao bater, liberta centelhas e fogo, por isto, às vezes, o podemos ver
com um simbolismo duplo o de tirar e dar vida. (em outras culturas o vemos representado com duas
lâminas).
O Ka:
Como símbolo, além de se referir ao significado da alma, representa também a força geratriz,
a influência dos ancestrais sobre nós, a parte de nossos pais que levamos conosco e também algo
divino que envolve o homem, que hoje recebe o nome de campo bioenergético e antes foi
chamado de aura. Temos aqui os elementos místicos e energéticos que o hebraico resume na sua
letra Kuf ( q ).
O Ka introduz uma das noções mais difíceis de conceber do Egito antigo para um espírito
ocidental. Ele foi comparado a “um duplo” análogo ao periespírito dos ocultistas. [13] Segundo
Serge Sauneron, ele é praticamente uma manifestação das energias vitais tantos em sua função
criadora como em sua função conservadora.
O Ka pode assim designar a potência de criação que possui a divindade, mas também as
forças de conservação que animam Maat, a ordem universal. Reservatório em algum sentido das
forças vitais, de onde provem toda vida. E graças ao qual toda a vida subsiste. Estatuetas do Ka
acompanhavam os defuntos em suas tumbas. O Ka simboliza uma força vital, apta a se
personalizar cada vez mais, segundo a evolução da consciência individual e coletiva. [14]
Aqui o signo do Ka revive como uma figura que dá favores. Neste extrato o
grande homem é Deus distribuindo sorte para quem ele quer. Então Deus também tem seu
Ka, a fonte de toda sorte no mundo. De fato, com Deus, o self e o Ka são um só. Por isto
muitas vezes, o Ka é representado numa estrutura de suporte, mostrando assim que ele está
acima das fraquezas do mundo e é realmente divino.
O Ka do indivíduo é um tipo de sósia espiritual que determina os aspectos bons, os da
sorte e destino de cada um.
Assim os egípcios diziam:
“Para seu Ka, aonde nos desejaríamos sob a sorte e saúde”. O Ka ou Kas são as
disposições que as boas fadas outorgavam aos recém nascidos, ao menos quando essas eram
favoráveis.
O Ka também é a força protetora sobre os homens, assim o vemos claramente nos nomes
dos líderes quando aparece “o Ka real coloca seus braços em volta do nome real.”
O Ka também é uma força geratriz masculina. A potência masculina é simbolizada por
meio do Toro cujo nome se escrevia em egípcio com o mesmo signo do Ka.
O pai é um agente do Ka que traz a força dos ancestrais. O talvez o Ka aja através do Pai.
Assim, ir para seu Ka significava voltar para a casa dos pais, dos ancestrais ou morrer. [15]
O Ba:
O símbolo do Ba, do espírito era representado pela ave, aparece na formação da palavra
refúgio e nos fala do aspecto espiritual da moradia dos homens. Não se trata do refúgio para
um animal perseguido, mas daquele lugar no que o homem fixa sua residência espiritual.
Não é a cova na montanha, mas o lar do espírito, construído para ser o centro do vôo
místico do homem. Refúgio que se estendera depois à noção do Templo. E em outro aspecto
a criação como residência da divindade que a mística hebraica ligará a letra Beth e que
Spinoza desenvolvera como Panteísmo.[16]
O Lah:
A palavra Lah em antigo Egípcio tem o significado de corpo ou matéria, que se inclui na
palavra Kth.
Assim integrando estas palavras Ka-Ba-Lah e seus símbolos no antigo Egito podemos
dizer que a Kabalah seria uma ciência mística que estuda a alma, o espírito e o corpo físico
ou a matéria. Então em parte podemos dizer que o discípulo que estuda a Tradição aprofunda
os conhecimentos da alma do espírito e a matéria para conseguir assim ter uma consciência
real de seu ser e o criador.
Sintetizando esta análise etimológica consideramos que a palavra kabalah encerra uma
série de conteúdos simbólicos e energéticos que não são evidentes quando se define a
palavra meramente como “Tradição”. Também o “ser recebido” que expressa à palavra
Mekubal, não é suficiente.
Estamos frente a uma palavra que resume, como todo símbolo, realidades amplas e ricas.
A força geratriz, a inteligência divina criadora, a alma e o espírito, os ensinamentos, a vida.
A Kabalah enquanto sabedoria não pode ser menos que isso. É também tradição no
sentido de modo de transmitir o saber; é também ser recebido (no seio desse saber que é
maior que nós), é também vida, Tendo em vista que nos comprometa a uma integração total
com ela e com o divino.
INTRODUÇÃO AO ALFABETO HEBRAICO.
Outras Arcano
Letra Nome = Valor Imagem
correspondências do Tarô
Nascer. Equilíbrio.
1 Alef A 1 Boi 1 - Mago
Peito
Reunir. Templo.
2 Bet B 2 Casa 2 - Papisa
Sabedoria.
Dirigir.
3 Guimel G 3 Camelo 3 - Imperatriz
Maturidade.
Executar.
4 Daleth D 4 Porta 4 - Imperador
Fecundidade.
5 Hê H 5 Janela Ver. Palavra. 5 - Papa
Ouvir. Unir.
6 Vaw V, W 6 Prego 6 - Namorados
Pensamento.
7 Záin Z 7 Espada. Andar. Inverter. 7 - Carro
Falar. Investir.
8 Heth H, Kh 8 Cerca 8 - Justiça
Temor.
Paladar.
9 Tet T 9 útero 9 - Eremita
Desenvolver.
Trabalho.
10 Yod I, Y, J 10 Punho cerrado 10 - Roda Fortuna
Extensão.
11 Kaf K, C 20 Palma mão Vida. Estrutura. 11- Força
Trabalho. Cópula.
12 Lamed L 30 Serpente 12 - Pendurado
Movimento.
Corpo.
13 Mem M 40 Água 13 - Sem Nome
Merecimento
14 Nun N 50 Peixe Movimento. Pólo. 14 - Temperança
15 Samec S 60 Escora Potencial. Ira 15 - Diabo
Independência.
16 Áin Gh, O 70 Olho 16 - Casa de D’us
Alegria. Estudo.
17 Pê Ph, F 80 Boca Domínio. Energia. 17 - Estrela
Engolir.
18 Tsade Ts, X 90 Anzol 18 - Lua
Adaptação.
Integração.
19 Qof Q, K 100 Nuca 19 - Sol
Rir. Imitar.
20 Resh R 200 Cabeça Paz. Ordem. 20 - Julgamento
21 Shin Sh, Ch 300 Dente Poder. Culpa 21 - Mundo
Beleza.
22 Taw T, Th 400 Cruz. Marca. 22 ou 0 - Louco
Permanência.
Letras
Kaf K 500 Mem M 600 Noun N 700 Phé Ph 800 Tsadé Ts 900
Finais
O alfabeto hebraico, também conhecido como Alef-
Beit, é o utilizado para a escrita em hebraico, que é uma língua semítica pertencente à família das
línguas Afro-Asiáticas, mais falada em Israel.
Assim como na escrita árabe, nesse alfabeto, os textos são escritos no sentido anti-horário ou
seja, da direita para a esquerda.
O alfabeto hebraico só utiliza consoantes, sendo que as vogais podem ser representadas
por sinais diacríticos, chamados niqqud ou sinais massoréticos. A letra "aleph" existe para
representar as sílabas em que não há consoantes, como o E da palavra "Elohim" ()םיהלא
Uma narrativa do Talmud, [17] revela a importância que os sábios judeus davam a um
escriba dos pergaminhos sagrados (sopher). Shmuel contou ao Rabi Yehuda o que ouvira do
próprio Rabi Meir:
“... E quando cheguei junto a Rabi Yishmael, este perguntou qual era minha profissão.
Respondi-lhe que era um escriba. [18] Após, com mais seriedade, disse-me:
- Filho, seja cauteloso no seu serviço, pois sua profissão é uma profissão Divina. Talvez
você esteja acrescentando ou omitindo uma letra. “Você poderia estar destruindo o mundo
inteiro...”.
O UNIVERSO DA KABALAH
O Olam (mundo) para a kabalah é sagrado por sua origem divina e misteriosa. O
mistério, diz o Zohar, é o que sustenta o mundo representado pela luz.
O processo da criação é descrito pelo Zohar como um ponto luminoso na obscuridade
que se manifesta de quatro formas simultâneas e diferentes. Toda ela esta compactamente
incluída na palavra Bereshit, a palavra inicial da Torah.
Este mundo que é uno, no dizer dos antigos, é regido por leis que no máximo escalão do
saber iniciático se condensa em uma, como dizem os Kabalistas “três coisas podem ser
sustentadas sobre uma, mas nunca uma sobre três”.
Essa estrutura é que permite que a kabalah partindo do valor múltiplo de seu alfabeto,
abarque com ele realidades da natureza, tanto como do corpo e da alma. A história jasidica do
mestre que perdeu a memória e pediu que lhe repetissem somente o alfabeto (com o qual
recupero a memória novamente e todo seu conhecimento) alude ao essencial que o místico
necessita para ascender ao saber.
O universo não é para a Kabalah apenas o que nos rodeia, inclui a nós mesmos dentro
dele, e a sacralidade que aquele possui é também nossa, assim como os canais e meios através
dos qual tudo se comunica.
O gesto, a posição, a palavra, o movimento, as funções estão todas envolvidos e
comprometidos nesses elementos fundamentais.
Diziam os kabalistas que um bom Mohel [19] pode conhecer nesse momento o destino
da criança e o que o rodeia (sua aura). Para os kabalistas nada pode ficar fora, porque não existe
fora.
Nessa totalidade cada elemento adquire uma nova dimensão em função do todo. Não
tem privilégio à razão, nem tão pouco a emoção. O comer ou o dormir, o observar um pássaro e
seu vôo, o introduzir-se na água para tomar um banho, tudo tem sua importância, sua
sacralidade.
A noção de língua sagrada e de livros sagrados, não pode ser separada do contexto que
acabamos de descrever.
O oriente, o Egito, o Judaísmo, têm essa noção que inclui o campo da sacralidade. O
cristianismo tomou o latim nesse sentido, que dá um valor absoluto e supremo a linguagem, esta
já não é um sistema de signos convencionais, mas um sistema simbólico de comunicação do
homem com o divino.
B. Spinoza mostra como a Kabalah aplica essa noção de língua sagrada na relação de
letras, vogais, acentos e melodia da língua hebraica.
RELIGIÃO:
A etimologia da palavra “religião” é discutida. Mas na visão moderna se interpreta
como recolher, reunir, o que parece estar mais vinculado com o sentido comum entende-se por
religião.
Em hebraico existem duas palavras que se associam numa comparação superficial.
Dat, que significa lei, estatuto, ordem, decreto, uso, mandamento, piedade, além de
religião.
Emunah, que quer dizer firmeza, constância, fidelidade, verdade, lealdade, crença, fé,
confiança, consciência, segurança, sinceridade, estabilidade, graça, tranqüilidade, palavra de
honra, integridade.
Estamos na presença de termos que vão muito mais longe que o mero reunir da palavra
latina religare.
Enquanto leis divinas e usos e práticas em função dessas leis, enquanto características
humanas que formam o terreno ético onde aquelas devem encontrar morada a religião não têm
conflitos com a Kabalah.
Ambos os termos expressam o desenvolvimento da consciência do iniciado e sua
capacidade de ser instrumento da ordem superior e divina. Dat, Emunah, representa o duplo
aspecto do divino: o ético e o energético (criador) que não se podem separar. A consciência ética
sem energia está condenada a ser simples contemplação e a energia sem consciência está
destinada a ser uma força sem finalidade, amorfa e bestial. A expressão mais gráfica desse
paradigma foi dada por Ezequiel, com sua expressão “coração inteligente”.
COSMOLOGIA:
MISTICISMO:
“Místico é aquele ao qual se concedeu uma expressão imediata e sentida como real da
divindade”. [20]
A etimologia da palavra “místico” deriva do grego “mysticós”, que provém de
“mysités” e esta de “myein” que significa “fechar”, ou, “estar fechado” com o qual se faz
referência a algo essencial da experiência mística: ela é algo essencialmente incomunicável,
inexpressável em palavras, é algo realmente fechado.
Os místicos que tentaram formular ou expressar suas experiências não conseguiram
mais que alusões fragmentárias, quando não balbucios do que lhes aconteceu. Muitos livros
foram escritos sobre a experiência mística, mas, esta é algo que “se concedeu” a um indivíduo.
Não existem receitas para obtê-la, sua morfologia é de uma plasticidade infinita, está configurada
por diversidade de luzes, sons e sensações corporais.
Em hebraico, a palavra correspondente a “mística” é “Hohmat hanistar” que quer dizer
sabedoria secreta.
Nistar provém de NSTR que quer dizer segredo, oculto, misterioso e milagroso. No
antigo Egito temos a palavra NTR como a representação de uma força oculta.
Pode deduzir-se legitimamente que o místico é aquele que teve uma experiência direta
do divino, que tocou algo secreto, algo milagroso e que, mesmo depois dessa experiência, aquilo
continua secreto, visto que na medida em que o místico não pode comunicar sua experiência, ela
é alheia e desconhecida para quem não a teve e milagrosa para quem a vê de fora.
Se a Kabalah fosse somente um aspecto da religiosidade egípcia antiga, hebraica ou
cristã, não teríamos mais nada a fazer do que nos aprofundar no que foi dito até agora. Mas a
Kabalah é e esta além dos estados místicos que os kabalistas possam ter.
Nosso estudo se direciona no sentido de mostrar que todas estas culturas desenvolveram
místicos da Tradição, que tiveram vivências sagradas e adquiriram experiências e
conhecimentos, fruto da comunhão com o divino. Todos devem ser admirados e respeitados
como seres espirituais e irmãos da tradição.
Os estudos e as práticas iniciáticas preparam o discípulo para desenvolver sua Kevanah
[21] o instrumento para atingir o êxtase. Por isto todas as práticas e exercícios que ajudam esta
arte são de suma importância no desenvolvimento do discípulo. Quem queira ter a experiência
mística do êxtase deve-se preparar física, mental e espiritualmente para ela, é nesse ponto que a
presença do mestre se faz importante.
A Kabalah como nós a entendemos é um corpo de conhecimentos, o que nos leva a
continuar o texto em outra linha, onde as práticas e os estudos acompanham o discípulo, que
agraciado com seu misticismo avança no seu caminho.
A FORMAÇÃO INICIÁTICA:
b) O verdadeiro Poder:
Nos cursos que dou de Kratologia tento preparar as pessoas para que consigam ter as
bases de formação de qualquer Iniciado na Tradição. (livro “As ciências Sagradas dos Antigos Egípcios”).
Ter Poder sobre nossas vidas é condição básica para se libertar e obter um mínimo de
opções para poder praticar o misticismo.
Todo mestre antigamente exigia a seu discípulo:
“Se quer estudar o divino, deixa tudo, e me segue”.
Esta exigência surge da necessidade do discípulo se integrar plenamente aos estudos e
experiências místicas sem poder se preocupar com os problemas do mundo (amores, família,
finanças, saúde). Aquele que quer realmente seguir o caminho da Tradição tinha um custo alto a
pagar, como a entrega espontânea de tudo aquilo que lhe dava segurança.
Surgia assim nessa relação mestre-discípulo um novo homem com outra identidade e
outros valores sobre a vida, a morte, o sagrado e Deus.
O discípulo, antigamente, se entregava ao Templo, a seu Mestre, a seu ideal, sem
roupas, sem dependências, sem medos, dono de si mesmo. O que certamente facilitava seu
percurso.
Quando falo hoje de Poder, no processo de formação do iniciado, quero que se entenda
que o místico em nossa realidade pode aceder ao conhecimento sem deixar as conquistas de sua
vida de lado. Temos responsabilidades com a sociedade, com a família, com o trabalho, que não
precisam ser deixadas para traz para seguir nenhuma idéia ou prática mística.
Os estudos da tradição e a formação mística do discípulo devem prepará-lo hoje, para
saber atingir o meio termo das coisas e poder evoluir sem machucar ou agredir as pessoas que o
rodeiam. Às vezes, amigos, parentes, pessoas amadas que não o acompanham no caminho
espiritual podem sofrer desnecessariamente por mudanças e transformações.
A kabalah não exige do discípulo mudanças externas, mas uma transformação interior que
pode ser conseguida, sem destruir nenhuma realidade, ou pelo menos sem agredir aquilo que
criamos até agora.
Não podemos negar nossa história de vida, como muitas religiões têm feito para tentar
adquirir uma nova identidade. Cortando com o passado matam ou negam suas origens de igual
forma que um filho pode negar seus pais para ele se sentir mais importante que seu progenitor.
O aspirante à iniciação procura desenvolver uma estrutura de poder interno e externo que
lhe permita aceder à evolução mística dentro de um equilíbrio com seu mundo.
c) A transmissão da tradição:
A fórmula de estudo que se seguia nos Templos antigos se transformou e evoluiu por
séculos. A aprendizagem dos símbolos, a escrita, os cânticos, exercícios, invocações, a liturgia e
os rituais evoluíram com o passar do tempo e se aperfeiçoaram.
Os rituais iniciáticos de morte e ressurreição, alguns deles sangrentos, passaram a ser
absolutamente simbólicos. Os Templos egípcios formavam seus sacerdotes e escolhiam entre
eles alguns que tinham se sobressaído nas provas, para a aprendizagem dos segredos ocultos da
Tradição.
A perseguição e a queda dos sacerdotes e iniciados nas religiões e Templos egípcios deram
lugar à formação de discípulos da tradição peregrinos, que seguiam seus mestres iniciadores
onde eles estivessem.
Desta forma surgem as primeiras histórias das árvores sagradas:
Os mestres e seus discípulos que na maioria das vezes não tinham lugares definidos de
estudo, Templos ou casas, utilizavam-se dos lugares que a própria natureza lhes oferecia.
Grandes, velhas e frondosas árvores transformavam-se em lugares de reunião de mestres e
seus discípulos. Sentados a seus pés, embaixo da proteção de sua sombra, os antigos galhos
serviam ao mestre de exemplo para ensinar os mistérios da tradição.
A misteriosa força da árvore provinha de suas raízes, extraída da própria terra, suas forças
ocultas davam vida a majestosa criatura vegetal. Uma outra árvore invisível de raízes estendia-se
debaixo de seus pés e provia a copa de frutos e a vida, o que está embaixo é o mesmo que o de
cima.
Os antigos não tinham outros elementos para comparar a ordem cósmica, não existiam nas
suas mentes, imagens tridimensionais da molécula ou outros modelos da física atual. Para eles
nada representava melhor a idéia de macro e microcosmos que a imagem por inteira de uma
árvore.
Assim a árvore, igual ao homem e o universo surge de um mundo imperceptível para o
olho humano. As raízes (malkut) davam vida ao reino. Assim o universo, os planetas e os Deuses
eram como as raízes ocultas de uma árvore que dava vida à natureza e aos homens.
Quando o mestre ensinava os conhecimentos que serviam: a criação, a vida, a saúde,
mostrava o lado direito da árvore, e seus galhos determinavam suas ciências. Quando falava: dos
conflitos, da morte e a enfermidade, mostrava o lado esquerdo da frondosa árvore, e cada galho
levava as origens de tais situações.
Assim aula traz aula, ano após ano, os galhos da árvore se transformavam em veredas de
conhecimento. Com o passar do tempo, seus discípulos para se lembrar da sabedoria do mestre,
reviam em suas mentes a forma da velha árvore, que lhes serviu como um Templo e por sua vez,
como o livro sagrado da natureza. Assim nasce a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Com o passar dos séculos estes mestres deram lugar ao nascimento dos Jeder Aboda
(locais de estudo), Lojas e Fraternidades com seus métodos específicos de formação iniciática.
Alguns destes lugares surgem em momentos de perseguição religiosa e juntamente com
a necessidade de se preservar de um mundo que não tinha compreensão para este nível de
conhecimento e aprendizado.
As fraternidades desenvolveram métodos específicos para formar os discípulos, gerados
em milhares de anos a traves dos Templos, dos mestres da natureza e agora dentro de estruturas
organizadas e evoluídas.
Muitas de estas instituições existem até hoje, como: a Maçonaria, os Rosacruzes, o
Martinismo, os Templários e as próprias lojas Kabalistas dentro das quais, eu mesmo estudei e
me formei.
Tenho que reconhecer, que o estudo e o aprendizado dos conhecimentos da tradição,
assim como as práticas místicas que ela nos exige não teriam como ser ensinados sem a estrutura
organizacional e pedagógica destas instituições.
Com certeza quem procura à tradição, sozinho, vai ter suas experiências e adquirirá algum
conhecimento, mas só dentro de grupos iniciáticos podemos desenvolver e crescer. O estudo
místico passa pela provação espiritual, moral e pela convivência com outros seres.
Nossa cultura mística ainda está muito poluída com idéias pedagógicas de formação
intelectual. A maioria das pessoas entende que o estudo e a formação iniciática podem ser
adquiridos por meio de cursos e programas de estudo. Devemos entender que é possível obter
informações intelectuais sobre uma ciência, mas para chegar a um conhecimento precisamos
pensar como iniciados, algo muito difícil num mundo imediatista.
O desenvolvimento dentro de uma loja sempre é individual porque a experiência é única e
pessoal, mas para chegar a ela e evoluir precisamos transitar pelo grupo, adquirir uma fé, um
poder pessoal e aceitar as antigas fórmulas de ensino dos Templos.
O Mestre:
Os antigos mestres sabiam que cada discípulo tem um destino no mundo. O conhecimento
que o mestre passa está unido à fonte do ser e vai passar primeiro pela emoção, para que assim,
fique na memória para sempre.
Estudando os métodos de formação iniciática, percebemos uma estrutura sutil e simbólica,
que motiva as cordas íntimas da alma humana. As forças do bem e do mal, o amor e o ódio, se
misturam nas mãos do mestre, e transformam o discípulo num “novo homem”, livre de
preconceitos, medos e ilusões.
O mestre tem o trabalho de desmoronar aos poucos os dogmas de cada discípulo, para
poder atingir uma nova verdade que lhe dê acesso ao verdadeiro conhecimento. O trabalho do
mestre é representado dentro das ordens kabalistas pelo símbolo do martelo, a ferramenta que
serve para tombar e após construir.
Nas Lojas e Fraternidades Iniciáticas existe uma estrutura organizada com: fiscais,
instrutores, administradores, que ajudam o mestre neste serviço. Se antigamente um mestre
poderia ter dez ou doze discípulos no máximo para preservar a qualidade do ensino, hoje com as
novas estruturas podem ser formar dezenas e obter qualidade na transmissão da Tradição.
Por este motivo, recomendo aqueles que querem aprofundar e evoluir seus conhecimentos
das Ciências Sagradas ou ocultas, que procurem lugares que tenham boas referências na
formação de discípulos.
A Iniciação:
A Iniciação é um compromisso que o discípulo da tradição estabelece frente a seu mestre,
não com seu mestre. A importância de unir-se simbolicamente ao estudo estabelece o início do
compromisso pessoal do discípulo com sua ciência.
No processo iniciático, o discípulo passa por um período de aspirante, onde estuda as
tradições do grupo e se prepara para assumir o compromisso sem dúvidas, perguntas, mas com a
certeza que sabe o que quer.
Liberar o discípulo de suas interrogações e prepará-lo para o desconhecido leva um tempo
variável que depende da formação de cada um, mas nesse tempo, o aspirante começa a ter acesso
aos mistérios e ao conhecimento dos símbolos e da linguagem Iniciática.
Quando a iniciação se dá, ela se torna espontânea, como o namoro que leva ao casamento
de duas pessoas que se amam e sabem o que querem, uma coisa é conseqüência natural da outra.
O símbolo fundamental desta união é o cordão que o mestre coloca na cintura do discípulo
no momento da aceitação do compromisso. Faz um nó, que este representa a união com o
sagrado.
O nó continua sendo sagrado através do tempo. Ele amarrou as cinturas dos mais antigos
discípulos da tradição em diferentes lugares do mundo. Este nó e seu cordão continuam puxando
o céu e a terra são a força que unem o espírito e a matéria, os Deuses e os homens até hoje.
MESTRES E PRÁTICAS DA KABALAH NA TRADIÇÃO HEBRAICA
AS FONTES
Quando nos interessamos por um assunto, o primeiro passo a ser dado é procurar as fontes
onde possamos nos inteirar do alvo de nosso interesse. Em relação à Kabalah, isso se torna
um problema particularmente difícil, porém é ao mesmo tempo apaixonante.
Tomamos como exemplo um episódio que teve grande importância nos meios
católicos e que servirá para ilustrar a consideração que confere à investigação das fontes.
Em certo momento, há aproximadamente cinqüenta anos atrás, descobriu-se um rolo
que continha a versão mais antiga, conhecida até o momento, das profecias de Isaías. Sua
compra se tornou uma disputa da qual a Igreja participou de forma muito ativa, pois o
conteúdo desse rolo [23] poderia colocar em risco o fundamento profético de uma de suas
doutrinas fundamentais.
Um exemplo não tão dramático, mas não menos interessante é oferecido pelos
psicanalistas e suas discussões em torno da obra de Freud, textos que são objetos de análise
detalhada na procura de seu sentido exato - semelhante à exegese bíblica. E que só é possível
através da leitura da obra em sua língua de origem, o alemão.
Estes exemplos podem nos dar uma idéia da importância que tem para o estudo do
misticismo egípcio, hebreu ou cristão, o conhecimento dos idiomas em que foram
registrados. Quanto menor for o conhecimento de idiomas, mais restrito será o acesso às
fontes escritas originais, que são, por outro lado, as únicas fontes escritas verdadeiramente
confiáveis.
Quanto a fontes escritas de segunda mão são as que estão ao alcance do público. Os
originais se encontram em museus, bibliotecas e coleções e seu acesso é praticamente
vedado, exceto a especialistas e investigadores acreditados.
As fontes em idiomas modernos: Inglês, Francês, Alemão, Espanhol, e em menor grau,
Português - que conta com poucas edições sobre a matéria, são as que nos permitem uma
abordagem destes tópicos sem perder a seriedade de nossa intenção, no entanto, temos que
assumir o risco da tradução.
Um exemplo explicará melhor o que acabamos de dizer. O livro do Zohar circulou
em exemplares manuscritos até o ano de 1.559, data de suas primeiras edições. Seu conteúdo
está escrito em um aramaico muito difícil que só alguns eruditos conseguiram decifrar. Com
o passar do tempo, foram feitas edições em índice: alemão, inglês, francês, hebraico
moderno e espanhol. Muitas das quais, não são sequer edições completas. Trata-se em
muitos casos de seleções, fragmentos, e em outras edições foram omitidos títulos e outros
detalhes originais.
Até aqui fizemos algumas considerações sobre as fontes escritas. As fontes orais por
sua vez e ainda que pareça óbvio implicam fontes vivas.
No entanto, fontes orais e fontes vivas nem sempre são iguais. As fontes orais referem-se
à transmissão por meio da voz, mensagem que assume a forma de relato e canto
fundamentalmente. No entanto, a fonte viva não só inclui todas as outras manifestações da
conduta humana como também se refere à própria vida e suas expressões. Quem tiver visto
uma águia ou uma cobra poderá enriquecer seu conhecimento sobre estes animais mais do
que aprendeu sobre seu simbolismo em forma oral e escrita; o que se sente frente ao mar é
muito mais que uma simples ajuda para compreender o “oceano primordial”.
As fontes orais estão sendo revalorizadas pelos historiadores contemporâneos a
ponto que a História Geral da África [24] inclui um capítulo sobre a tradição oral e as fontes
vivas.
Nós ocidentais, apegados ainda a uma alta dose de etnocentrismo e cientificismo,
deveríamos aprender como o fato de que a África conserve vivo, o que foi durante toda a
história do homem, um modo de aprendizado ou um modo de estar no mundo. Toda a
antiguidade se construiu sobre a base da tradição oral, embora existisse a escrita.
Nem o mais claro hieróglifo egípcio se esgota no evidente. Enquanto ideogramas
podem ser entendidos teoricamente por qualquer um, mas como símbolo de múltiplo
significado, como mensagem, torna a transmissão de mestre a discípulo indispensável.
O misticismo hebraico.
Neste texto, vou incluir uma soma de relatos, experiências e práticas místicas de fontes
escritas dentro da Kabalah hebraica. Acredito que estes textos e autores podem nos ajudar a
“entender” a experiência mística da Kabalah dentro da cultura hebraica. Com a alma
limpa através das práticas espirituais centradas na consciência e no caminho da perfeição, o
místico hebreu está preparado para refletir uma visão do absoluto. O místico da Tradição não se
sente mais uma criatura mínima, insignificante, separada em tempo e espaço de seu Criador,
agora vê Deus como seu amigo querido (dodi). Mesmo nesse nível elevado, o amante aproxima-
se de seu objetivo em estágios; a interdependência da cadeia inteira de mundos ao longo da
Árvore Cósmica lhe permite trabalhar com o Amor que ele obteve, com o despertar da
Consciência para o conhecimento de Deus. Sua Idéia e Seu Mundo são Um. Portanto no
microcosmo correspondente de sua própria alma, o pensamento, a fala e a ação do místico
podem ser unificados como Um. Esvaziado de seu ego fica livre para criar novos mundos em
cada inspiração e destruí-los em cada expiração. [25]
As sagas no círculo do Rabi Akiva na academia judaica de estudos em Yavneh, no
primeiro século da Era Comum, relatam que se empregavam viagens "visualizadas" através das
esferas, para induzir estados estáticos. Desenhados para levar adiante o místico em sua paixão e
desejo de conhecer Deus, esses exercícios contemplativos enfatizavam excursões mentais através
de lugares celestes e elaboradas visões do Trono ou da Carruagem de Deus.
Para vivenciar a experiência mística da árvore da vida alguns Mestres da tradição como
Luria e Kaplan nos propõem meditar profundamente nos nomes dos Sefirots e nas cores que as
representam.
"E Deus deu a Akiva vida e tudo o que ele entreviu, ele pensou pensamentos
adequados com conhecimentos adequados". As visões místicas por si próprias, conclui Rabi Hai
Gaon, são verdades históricas, sucessoras de uma longa tradição de transformações visionárias,
experimentadas por santos bíblicos e profetas, em estágios elevados de
consciência.
(representação da árvore da vida formada pelo tetragramaton)
Essencialmente centrados em dois símbolos, O Palácio de Deus e Seu Trono ou
Carruagem, estas "subidas" e "descidas", nunca se tornaram propriedade do homem comum. Os
místicos que praticaram estas técnicas entre os anos 200 a.C. e 200 d.C, eram usualmente
professores, que antes de mesmo começar estas práticas, eram completamente versados na
Tradição intelectual e mística de Israel. Além disso, eram perfeitamente aderentes aos preceitos
da Torah em sua vida cotidiana e tinham atingido um estado de santidade, que lhes conferia o
direito de iniciar esta jornada. Temos aqui uma prática realizada naquela época tirada de
um papiro do século XIII.
“Tudo pode suceder quando uma pessoa está desperta e todos seus sentidos estão
anulados, enquanto as letras do nome divino ante seus olhos em cores reunidos”.
“Às vezes ouvira uma voz, um vento, umas palavras, um trovão ou um ruído em seus
ouvidos. Assim poderá ver com sua mente e com seus olhos, sentirá cheiros com seu nariz,
degustará, caminhará e levitará. Tudo isto, enquanto as letras estão ante seus olhos e suas cores
as cobrem”.
A árvore da vida, em hebraico Etz Hajaim é a mesma que narra a Bíblia, da qual foram
feitas infinitas interpretações. A Bíblia mostra a existência de um paraíso[40] em cujo centro se
encontra a árvore da vida conjuntamente com outra a Etz Hadat, a árvore do conhecimento.
Existe também um caminho o "dereh etz hajaim", o caminho até a árvore da vida que é guardado
O místico deve sentir o Universo, o Reino para poder se integrar e fazer parte dele.
Ao sentir-se parte da criação, começa a querê-la da mesma forma que se quer a si
mesmo. O iniciado ao sentir-se parte da criação, preocupa-se tanto em conservar
uma formiga como proteger qualquer animal.
O sentimento gerado por Malkut nos faz sentir responsáveis por todos aqueles seres
que a humanidade considera inferiores. O homem é o eleito para poder sentir e
compreender a criação. É um privilegiado entre os seres vivos de nosso planeta. Por
este motivo tem a obrigação de cuidar e defender a evolução do Reino.
Em Malkut nos apaixonamos pela criação, pela vida, pela formiga, pelos pássaros,
pelos planetas, tudo é criação e, tudo faz parte de nós.
Malkut por representar a raiz é o oculto, o que não se percebe a energia sutil que
sustenta o Reino. Malkut é a essência de onde tiramos toda a força que sustenta a
árvore da existência.
De Malkut entramos em outra esfera:
2) YESOD é o limite entre este e outro mundo.[42] Nesta esfera se abre caminhos,
um que nos une a Malkut e outro com o além.
Temos as duas bases, a espiritual e a material (Malkut e Yesod), as duas grandes
esferas. Yesod é a base, mas também o limite, ele divide e sem ele nada poderia
existir.
Yesod é o mistério que induz o místico a procurar a verdade e a essência de tudo o
que existe na criação. Dentro de Malkut, encontramos a energia primeira, em Yesod
a forma como ela se combina. Yesod gera a origem do universo, da matéria e da
vida.
Yesod convida o Iniciado a procurar todos os mistérios, a responder todas as
perguntas que tocam a sua alma.
Seu próprio nome inclui a palavra Sod (Mistério). Depois de o discípulo atravessar o
mistério de Yesod entra em:
4) HOD a Glória. A Glória mística não se considera uma recompensa nem uma
honra ela simplesmente é a Paz. O vitorioso consegue chegar a uma paz interior
verdadeira e absoluta.
O místico consegue uma percepção do Reino, do Mistério e da vitória sem entrar em
conceitos. Entramos assim na Glória uma felicidade que só o místico conhece. As
palavras os conceitos se transformam num caminho de formigas, tudo fica pequeno
dentro da imensidão da mística.
Assim quando o iniciado entra na verdadeira Glória e perde o conceito de até o que é
Hod entra na próxima esfera:
7) GUEBURÁ é a Força. Gueburá e o resultado de uma união sem a qual não existe
força. Na mística, essa união é uma combinação criadora de uma força daqui com
uma energia do além.
Neste reino, a força da união forma a sociedade, e esta cria a civilização, uma
cultura. Na mística aprende-se na união entre dois. Uma pessoa sozinha nunca pode
aprender, só pode evoluir pelo outro. Possivelmente, aí começa a ter a função o
Mestre, o educador.
O discípulo se une a seus Mestres, o homem se une a seu verdadeiro amor e começa
a vivenciar outra esfera:
9) BINAH é a inteligência divina, a luz. Esta esfera produz caminho que nos leva a
Coroa.
10) KETER é a Coroa, o ponto onde tudo se une, onde tudo é. Nesta esfera sentimos
um brilho, uma coroa que envolve algo que é inatingível e incompreensível.
O grande Reino abaixo e a Coroa encima. Não pode haver um Reino sem um Coroa,
nem um Keter sem Reino.
Para o místico apenas a partir de Kether se percebe Malkut, e só partindo de Malkut
é possível chegar a Kether.
3) MEMÓRIA
RESPIRAÇÃO:
A respiração começa no primeiro hálito e termina com a morte. Para os Kabalista o
último hálito se corresponde com a última palavra que se pronuncia o Aj (ajj...) que seria o
inverso do Jai a vida.
Na Torah diz:
“Deus formou o homem do pó da terra, e insuflou em seu nariz o hálito de vida
(Nishmat jaiim), e foi o homem um ser vivente”.
Ou seja, que a respiração está vinculada a vida e o ar é o veículo pela qual recebemos e
transmitimos essa energia vital.
O ar não só leva esta energia as células que fazem o combustível para que funcione o
motor do organismo. No próprio ar encontramos uma energia que alimenta a parte espiritual e
mental do homem. Isto o chamamos de Aura, ou Ka.
Dentro da kabalah em hebreu temos as palavras que significam ar e luz ou energia.
A palavra para designar o Ar contém dentro dela a palavra Luz. Por tanto, quando
respiramos adequadamente desenvolvemos uma capacidade de armazenar energia tanto no corpo,
como na mente e na alma.
Na crença kabalista quando a alma encarna, a inspiração e a exalação do ar a mantém
unida ao ser vivo.
EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO.
Para melhorar a respiração, devemos nos sentar com as costas e a cabeça reta, os pés
bem apoiados e as mãos sobre os joelhos. Após fazemos uma inspiração pelo nariz e enchemos
os pulmões até sentir os ossos das costas se acomodando.
Seguidamente levamos o ar ao baixo ventre sem forçar. Para expirar vamos exalando
lentamente de baixo para cima até eliminar todo o ar contido nos pulmões.
Após voltamos a repetir o ciclo. O segredo esta em repetir 10 vezes esta respiração
unida à visualização da cor verde que representa o ar e a letra Vav do nome de Deus de or, e
avir.
É importante tomar consciência que ao respirar corretamente nos colocamos na mesma
freqüência respiratória do universo. Desta forma integramos a unidade com o todo.
A concentração e a meditação acompanhada de um ritmo respiratório correto é uma chave
que abre a porta da alma ao conhecimento.
“NUSHA LOH”:
RESUMIR E MEMORIZAR.
Os kabalista têm vários métodos para ler e estudar. A leitura da Tora é feita pelo canto, por isso,
encontram no texto da Bíblia signos que definem entonação e ritmo, o que é muito importante
para o processo emocional da memória. Este segredo ainda não tem sido muito explorado pela
ciência, mas começa a ser observado.
É importante para quem estuda apreender a dar um ritmo a seus estudos e utilizar sua
mente para separar de um texto o essencial e o supérfluo.
O estudo de textos importantes normalmente se faz lendo por períodos de 30 a 40
minutos em ritmos de três em três páginas. Assim, lemos três páginas e retornamos a lê-las, e a
cada 40 minutos damos uma parada de cinco para fazer uma pausa. Quando o tema é mais
simples, podemos fazer um ritmo de leitura de sete em sete páginas.
A meditação Nusha Loh se faz antes de começar a leitura frente aos livros como uma
preparação espiritual e emocional. Estas palavras nos ajudam e estabelecer um vínculo com a
leitura e o autor. Com o tempo, a mente começa a sentir a intenção do autor em seu texto e isto
nos leva a entender e poder discernir o que é importante para nós nele.
Quando temos que apresentar um exame meditar uma hora antes de nos apresentar na
mesa, e no momento, minutos antes de começar, mentalizamos estas palavras para nos dar
confiança e segurança. Esta meditação ajuda muito as pessoas que tem stress e muitas vezes
ficam em branco frente a uma prova ainda sabendo de tudo.
O relaxamento, a focalização, a concentração a técnica respiratória, a técnica de estudo e
leitura, a intenção, o sentimento correto e uma alimentação adequada permite ao discípulo
receber informações e transformá-las em conhecimento, preservando este numa memória
espiritual permanente e independente. Esta memória é a cadeira onde se senta a sabedoria.
“JAZAK”
DEUS FEZ COM FORÇA.
Quando lemos a Torah em hebreu percebemos uma palavra final em cada capitulo onde
diz: “Deus fez com força (Jazak)”. Esta palavra não chega a ser traduzida nas versões
conhecidas da Torah, mas é uma das palavras mais fortes da Kabalah.
A força representa a energia universal empregada em todo processo, quando nos unimos a
ela adquirimos um suplemento de energia criativa. Para levar adiante uma idéia precisamos de
um motor que representa a fé em nossa ação, mas o combustível dessa fé é a Força universal,
Jazak, algo que Deus deixou disponível para nós criar e botar a máquina em ação.
Tudo o que queremos fazer, fica limitado á quantidade de energia psíquica e espiritual que
possuímos, mas quando nos unimos à força de Deus, adquirimos um suprimento inesgotável de
energia.
Todo discípulo se prepara para assumir responsabilidades, estuda, abre sua mente e seu
espírito ao infinito e se propõe como um grande líder a fazer realizações. Quando sente este
sentido de luta, se alia ao criador e assume sua força, aquela que abre o mar Vermelho, que faz
milagres, que transforma nossa realidade.
A “força de Deus” é como uma poupança que ele deixa depositada para quando
precisarmos dela, é a energia que rodeia o universo e está disponível a quem sabe procurá-la.
A meditação de Jazak se faz frente ao Sol, no amanhecer pegando com a mão direita uma
espada, a mente unida com a palavra e a alma comprometida com o ideal. Quando se mentaliza a
palavra Jazak se levanta a mão e a espada firmemente. O braço levantado representa o
compromisso de lutar unindo todas nossas forças. Quando sentimos um calor em todo o corpo
damos um passo à frente e abaixamos a espada cortando o ar num grito interno de ação.
Esta meditação exige uma postura mental de luta, devemos lembrar que toda força criativa
que geramos cria outra igual e contrária o que muitas vezes detém nosso progresso. A força de
Jazak por ser divina não tem a oposição provocada pela própria dualidade do ser humano. Neste
sentido, teremos uma vantagem sobre o maior inimigo que temos “aquele que esta dentro de
nós”.
Jazak deve ser interpretado como um presente que Deus deixou para o Kabalista criar e
transformar. O trabalho de um discípulo pode ser dentro dele mesmo, enfrentando uma
enfermidade incurável, propondo superar, ajudar sua comunidade e a sociedade. Quando maior a
tarefa, maior o desafio. Sentindo a ajuda de Deus não se tem mais limites para nossos sonhos, o
medo, o fracasso desaparece porque nessa hora somos seus fiéis soldados.
“BAMIDBAR”
PALAVRAS DE SABEDORIA
“LEJ LEJÁ”
VAI AO ENCONTRO DE TI MESMO
“Deus diz a Abraham: sai de tua terra e de tua pátria e da casa de teu pai e vai a terra
que te eu e de te mostrar”. (Gênesis 12:1,2)
A palavra que Deus diz a Abraham, Lej Lejá [56] pode se entender misticamente como “vai a teu
próprio eu” vai a teu encontro. [57]
O capítulo bíblico citado diz textualmente em hebreu “vaiomér Adonai, el Abrahám lej
lejá”. Geralmente se interpreta o Lej lejá no sentido que Abrahám tinha que abandonar
simbolicamente coisas que o amarravam a seu passado. Com o Lej lejá o patriarca teve que
abandonar tudo e se dirigir a um novo destino.
Abrahám se aventurou no deserto, passando por Egito e outras terras na procura de uma
nova identidade. Ele inicia uma grande mudança, um Lej lejá.
Tomando a Tora como um manual de instrução de que forma podemos entender o Lej
lejá em nossas próprias vidas?
Lej lejá significa ir ao encontro de nossa essência, deixar as máscaras de lado perceber o
que realmente se sente no centro do coração. Não é casual que utilizemos a palavra coração já
que Lej em hebreu tem o mesmo valor que Leb (coração).
Leb também significa centro, o lugar da unificação de todo nosso ser. Um centro que
estabelece uma totalidade onde só existe a unidade. Y este é o sentido do Lej lejá.
No Zohar também encontramos o Lej lejá no sentido de uma procura de identidade, mas
por meio da experiência. Isto é muito importante já que em cada momento especial da vida
sempre surge um Lej lejá. No caso disto não existir, de não se ter metas, nunca vamos chegar a
lugar algum.
A palavra Lej invertida forma Col que significa tudo. Assim Lej lejá não é uma
mudança momentânea, mas uma transmutação ontológica do ser, o que podemos chamar
iniciação ou renascimento.
Uma pessoa pode mudar sua vida num instante, mas esse instante muitas vezes não
acontece. Nestes momentos percebemos como o medo se transforma num impedimento, ele gera
dúvidas e vacilações. Enquanto a pessoa se mantenha na ambivalência não vai ter a oportunidade
da realização. Por isso a maioria das pessoas se mantém numa inércia. Ao tomar uma decisão, ao
exorcizar os medos e as dúvidas entramos no mundo da ação. [58]
Detrás do Lej lejá se esconde a mudança que vai nos levar a uma vida mais autêntica
dentro do verdadeiro, sem depressão, sem cobranças, sem desconformidades. Quando vivemos
na verdade não temos depressão por desconformidade consigo mesmo.
Lej lejá é a procura da experiência direta de nós mesmos, é o reencontro com o sentir. Isto
exige a coragem de se perguntar: Estou vivendo a vida que eu escolhi? E se pudesse escolher
seria o que sou hoje?
Temos que ser honestos ainda sabendo que é o mais difícil. Rabi Najman[59] dizia:
“Com fé, simplicidade, alegria e honestidade, pode se chegar ao paraíso”.
Quando existem em nossas vidas coisas que não escolhemos, devemos realizar uma
mudança e voltar a fazer escolhas. Ao realizar a mudança o mais importante é sentir que o que
estamos fazendo é justo.
Quando não está claro o Lej lejá, não temos uma verdade onde construir. É melhor ser
sábio reconhecendo os erros do que sermos ignorantes sem sabê-los. Reconhecendo o erro
sempre podemos mudar.
O conhecimento se expressa como um risco, ele exige coragem, entrega e fé,
condimentos indispensáveis para a verdadeira realização do homem moderno.
O primeiro passo a se dar representa um renascimento, uma iniciação, um despertar a uma
nova vida, é um Sendero que conduz a união com o divino, ao prazer de ter reencontrado o
significado profundo da existência. E este passo pressupõe uma eleição.
Este conhecimento se considera tão fundamental que o Zohar lhe dedicou capítulos
inteiros porque em todo momento temos que enfrentar a mesma questão de querer ir a algum
lugar. Ainda que em realidade o que precisamos é um Lej lejá, ir ao encontro de nós mesmos.
O Lej lejá e uma palavra que tem muitas funções. Uma delas e a emancipação que pode
representar algo a mais que trocar de lugar. A verdadeira emancipação representa mudar uma
estrutura mental determinada, ideias, apegos, medos. Deve-se trocar tudo isso e se direcionar a
um novo lar interior.
Esta ida que Deus propõe a Abraham é uma metáfora, por este motivo ainda hoje é algo
vigente. Deus lhe diz que vai lhe mostrar uma nova terra, onde ele teria que deixar sua família
(pai, mãe), a idolatria e sua infância, isto demonstra que é um grande passo em direção a uma
nova identidade.
Meditando nas palavras do Lej lejá a mente vai criando um movimento que ajuda em
cada momento da vida. Isto se da principalmente porque os problemas que se apresentam na
vida, em sua maioria, têm a ver com o fato de nós não estarmos no lugar certo, no lugar justo, o
que nos deixa distantes de nosso destino. Na idéia da meditação estamos fora de nós.
O Lej lejá é uma energia dinâmica que cria um movimento interno, uma força centrípeta
em harmonia com o “centro” que representa a unidade.
“ASHÉM IRÉ”:
DEUS VERÁ
Na Bíblia temos um episódio onde Deus pede a Abraham que sacrifique seu filho único
Itzak. Quando Abraham Le diz ao filho que vão até a montanha do sacrifício em certo momento,
Itzak pergunta: Onde está o cordeiro da oferenda? Nesse momento Abraham responde Ashém
Iré.
“Deus verá” (Ashém: é Deus, e Iré: verá). Abraham responde a seu filho: “vivamos este
momento e depois Deus verá, ainda não chegamos à montanha”.
Abraham sabendo que o cordeiro do sacrifício seria seu próprio e único filho não se
desespera nem se angústia frente à pergunta e responde Ashém Iré, Deus verá. Isto nos ensina
que devemos permanecer firmes no presente. Quando conseguimos conectarmos com
Ashém Iré deixamos para traz toda preocupação, toda expectativa, todo justificativo, toda escusa
todas as vacilações que nos deixam pobres da plenitude.
A palavra Ashém (O nome) significa Deus, mas não é o nome de Deus, ele representa o
tetragrama, as quatro letras do nome de Deus que para os judeus ortodoxos não se deve
pronunciar. A religião hebraica entende que Deus esta além do que se pode nomear.
A palavra “Ashém” esta formada por duas letras a Mem m e a Shin y. Estas duas letras
formam a palavra Shém que se traduz como “Nome” e a letra “a” que fica antes do shém é o
artigo “o Nome”.
Esta palavra está formada por duas energias o fogo do Shin é a água da Mem. Estas duas
forças formam “o nome”, assim quando pronunciamos ou pensamos Ashém estamos unindo
estes elementos. A combinação de números, letras e elementos têm uma transformação no átono
da alma humana. Nossa mente pronuncia o som que chama a alma do elemento a luz, o sol as
estrelas o fogo do universo e a essência da água que também e o rio, o oceano e o gelo.
A alma do fogo é a luz que evapora a água, que produz o Ar. O que esta encima se une
com o de baixo e se produz o ar e a terra. Assim ao pronunciar o nome estamos criando uma
combinação que gera e une os quatro elementos da criação.
Quando realizamos um projeto não podemos deixar de lado a opção do Ashém Iré, pode
ser a primeira ou a última oportunidade, mas o “Deus verá” não pode ser esquecido.
Quando meditamos profundamente nestas palavras deixamos de ter preocupações com
as expectativas e quando se solta à preocupação e como virar um espelho. Um lado dele é a
preocupação e outro o sucesso.
Quando estamos frente ao espelho só vemos a nós mesmos, nosso reflexo, nosso mundo,
nossos problemas. A própria imagem se transforma num obstáculo para a percepção de algo
maior. Virar o espelho representa nos permitir ver além de nossa realidade.
Quando uma pessoa se une a realidade, se amarra aos problemas, quando soltamos a
preocupação com Ashém Iré soltamos as amarras, o espírito se liberta e a energia flui solta, sem
os conflitos nem os temores da mente.
Alguns kabalistas comentam em relação a isto o que esta no livro de Provérbios: “Dá
um passo que Deus dará dois”.
Quando Abraham Le diz ao filho “Ashém Iré” ele dá uma resposta a Deus. Este foi um
ato de fé, de entrega ao criador sustentada numa crença verdadeira.
O Ashem Iré se transforma num freio para o medo quando o filho de Abraham pergunta:
Onde estará o cordeiro para o sacrifício? Acaso sou eu a quem ireis matar? Ainda que não
existam na Bíblia estas palavras bem poderiam representar o momento. Deus verá, é a resposta a
sua dúvida, ao temor de um homem. [60]
Quando sobem à montanha Itzak fica deitado no altar sem expectativa e no momento
que Abraham está para sacrificá-lo um Angel pega sua mão. Assim, exatamente no momento que
Abraham está para abaixar a faca um Angel nasce do Ashém Iré.
Esta meditação nasce em nós como o Angel que detém o sacrifício, nos momentos de
crise, de prova, frente a um desafio devemos manter a fé, no final sempre vamos encontrar a
salvação porque é a fé que nos salva. O verdadeiro sacrifício foi à resposta que Abraham
deu a seu filho no momento que caminhavam em direção ao altar, esta confiança é o que nos
conduz a uma vida distinta.
As meditações nos abrem as portas a um novo caminho que começa com o Gam Zé Le
továh entendendo que tudo tem um sentido. Continua com o Lej lejá porque sempre se faz
necessária uma mudança.
Temos que avançar frente à imagem do espelho, se nós não dermos um passo à frente,
Deus não vai dar dois. O avançar, ir em frente é o Ashem Iré.
AMARÁS A DEUS COM TODO TEU CORAÇÃO, COM TODA TUA ALMA, E COM TODA
TUA FORÇA.
(Deuteronômio 6:5)
Este versículo da Torah propõe amar a Deus de três formas para assim chegar à unidade:
1) Com todo teu coração: Lev = sentimento.
2) Com toda tua Alma: Nefésh = pensamento.
3) Com toda tua força: Meód = ação.
Estas três forças são portas de energia que temos no corpo do ser humano.
A palavra Nefésh a interpretaremos como energia da alma, do pensamento e as funções
cognitivas. O pensamento de alguém que ama de verdade é puro e sábio.
O versículo nos propõe “Amar a Deus” não somente com um sentimento do coração,
mas também com o pensamento e todas as forças que existem em ação em nosso ser.
Quando amamos a Deus na mente, no sentimento e na ação, nesse momento nos
transformamos num ser completo.
Nesta meditação unimos a idéia do versículo com as palavras sagradas que representam
as partes a integrar.
(Com todo teu coração): Lev. _ Ilumina seu peito e seu coração.
(Com toda tua Alma): Nefésh. _ Ilumina sua cabeça.
(Com toda tua força): Meód. _ Ilumina suas mãos.
A imagem gerada na mente no momento de expressar este sentimento é como uma
cascata de luz que nos refresca como água pura e limpa.
Primeiro: faremos mentalmente descer a cascata na cabeça sentindo uma paz no olhar e
um relaxamento. Após sentimos a cascata descendo em direção ao coração, que se abre com a
luz como um despertar. Finalmente a cascata de luz se integra com as mãos que se esquentam e
iluminam.
O amor de Deus não tem dualidade.
O místico Kabalista entende que o amor permite que o homem se unifique, assim ao nos
integrar podemos sentir a essência de Deus.
Se um homem tem comunicação com seu Pai, mas não tem um forte sentimento e não
age com ações por ele, este filho não esta presente nem integrado a sua relação.
A mística nos ensina que para amar primeiro temos que nos unir, nos integrar a nós
mesmos. Quando nos unirmos, estaremos amando. A Kabalah interpreta a palavra amor Ahaváh
e a palavra unidade Ejád [61]como tendo o mesmo valor treze (13).
Enquanto o homem este fragmentado vive na ilusão da dualidade que se une com o
medo e as dependências que ele nos gera.
Quando integramos nossas forças estamos nos permitindo sentir,pensar e fazer tudo de
uma forma integrada , e isto, é uma verdadeira benção em nossas vidas.
“VEABTÁ LEREÁJA CAMOJÁ”:
“HINÉNI”:
AQUI ESTOU
Hinéni significa “Aqui estou” e também “Presença”. É o estado a partir do qual os
grandes profetas, sábios e místicos desde épocas bíblicas até hoje respondem a um chamado
divino.
Deus chama o Abraham e diz:
-Abraham, Abraham...
E Abraham contesta:
-Hinéni, (estou aqui).
Deus chama Moisés e ele contesta, chama a Jesus e ele responde Hinéni estou aqui. [62]
Deus chama aos mestres da tradição eles contestam. Hinéni.
“Sim estou aqui, sentindo, vivendo este instante único”.
Alguns Kabalista se fizeram a pergunta:
Quando Deus chama o homem, este contesta Hinéni?
Ou:
Quando os mestres se concentram em Hinéni chegam a escutar Deus?
Por este motivo Hinéni se transformou numa palavra sagrada e num exercício de
meditação por milhares de anos.
Existem ecos no tempo na memória do universo e quando trabalhamos com ela
começamos a viver o presente de tal forma que descobrimos a Deus está aqui no presente, num
agora eterno.
A palavra Hinéni, tem duas letras Nun que nos representam biblicamente os nomes de
Noé e Jonas. Os dois possuem o Nun e estão unidos pelo símbolo da pomba.
A pomba anuncia que a terra tinha secado a Noé e a mesma pomba reencarna em Jonas, já
que seu nome significa “Pomba”.
São duas viagens, um o da Arca no dilúvio, e outro o de Jonás dentro da Baleia, onde após
ter vomitado deixou-o no lugar onde devia ficar. Isto se interpreta como que o verbo Hinéni nos
leva numa arca nos transporta como um peixe simbólico no lugar que devemos estar.
Hinéni significa também uma viagem iniciática até os portais da própria morte. Esta
meditação nos conecta com nossa própria sombra no centro do peixe no meio do oceano no útero
cósmico. Nesse momento surge à pomba anunciando a vida, o propósito. Todos estes símbolos
nos falam da liberação da alma após sua transmutação na escuridão.
Tomando consciência de nossa sombra podemos chegar à verdadeira luz da alma e
responder “Aqui estou”.
“BAJÁRTAH”:
A ELEIÇÃO
Uma vez que se prova a luz embriagante não podemos deixar de bebê-la. Quando por
meio da meditação obtemos as primeiras experiências místicas nos conectamos com a luz e não
podemos mais deixar de procurá-la com todas nossas forças.
Para poder manter a conexão com a luz, com o divino nós devemos saber discernir o
que é real e o que é ilusão.
Bajártah e uma palavra que surge da palavra Bajár.
Deus diz a Moisés:
“Olha, diante de ti de teu rosto tem as vida-s (Jaiim), o bem a morte e o mal. Escolhe
a vida (as vidas) [63] para que vivas tu e tua semente”. (Deuteronômio 30:15 e 19)
A Árvore da Vida representa a fonte de sabedoria e a Árvore do bem e o mal representa
a experiência. Quando o homem atua de acordo com a Árvore da vida adquire a sabedoria para
transcender seu próprio sofrimento e o de seus semelhantes, isto representa que aprende a
discernir entre o bem e o mal. O homem sábio se transforma num sócio ativo, participe do
programa da criação.
Bajárta é uma meditação que os kabalistas utilizam contemplativamente quando
necessário, para escolher ou fazer uma eleição verdadeira. Esta meditação se faz para que Deus
oriente o caminho.
A palavra Bajar invertida significa “magia” Rajab.
Esta meditação pode-se fazer de pé ou sentado olhando na direção de oriente e fechando os
olhos pensamos profundamente na palavra Bajárta na espera que surja uma luz em nossa eleição
em nossa escolha. O kabalista procura nesta meditação sair da dualidade porque quando o
consegue ele sente que teve uma chance de escolher sua vida. [64]
KABALAH E ALQUIMIA
“EBEN AJAD”
A primeira Pedra.
Para os kabalistas existem 22 letras,[65] signos e forças com as quais foi criado o
mundo, e três delas que são chamadas “mães” representam as três energias básicas. Estas três
letras são Aleph, Mem e Shin e se unem aos três elementos da criação.
O Aleph a representa o elemento Ar, a Mem m a Água, e a Shin w o Fogo. O kabalista
em suas combinações alquímicas entende que ao combinar letras forma palavras e energias com
as quais a criação se desenvolve a criação.
Quando falamos de alquimia as pessoas geralmente associam as práticas medievais da
procura da pedra filosofal ou do ouro, o que seria uma pequena parte da realidade de seu estudo.
A verdadeira alquimia é bem mais antiga, seu nome provém do árabe Algemia que a sua
vez decorre de Alkem que representa a “terra negra” em egípcio. Esta antiga ciência que foi
praticada quase em todo o mundo e por diversas culturas desenvolve e aprofunda o
conhecimento dos elementos e suas energias.
Os kabalistas procuravam em forma alquímica a união entre a matéria e o verbo, a
palavra (dabar).
“E formou Deus o homem do pó do chão e assoprou em seu nariz o hálito de vida e
foi o homem, alma viva”.[66]
Assoprar o hálito de Deus e o pó da terra tem a ver com a essência da alquimia
kabalista. Estes fatos se associam com a idéia de impregnar a matéria ou devolver a matéria sua
chispa vital.
O pó da terra em hebreu se diz Afar min adamah. Afar significa pó, mas também cinza.
O texto bíblico poderia significar que Deus formou Adão da terra e da cinza.
No capítulo III Deus lhe diz a Adão: “do pó surges e ao pó voltaras”. Assim vemos,
como e porque na Kabalah a cinza se utilizou para meditar, a magia e o alquímico.
No Talmude e na Torah, se faz referência ao uso da cinza para situações de luto e dor,
assim como propriedades curativas.
Para a alquimia a matéria esta em constante transformação e evolução, o mundo físico é
chamado de Assiah (Ação) este é o último resultado de todos os níveis. Nós habitamos a terra
Adamah palavra parecida com Adam (homem), e vivemos num mundo concreto sobre uma
realidade física onde existe tempo e espaço. A Kabalah entende que é o próprio homem que se
separa da Deus. Ele estabelece a união de todos os universos por meio de uma linha de luz
vertical que surge do infinito até aqui e agora. Na medida em que separamos a alma dos
acontecimentos do mundo nos separamos da línea divina de luz (Kav), o que gera os vácuos e
ausências que são os que nos levam a ter diversos sintomas e enfermidades do corpo.
Todos têm um desafio na terra, voltar a reunir a causa com o efeito, o princípio com o
fim. Fomos criados e lançados ao pó, ao mundo dos planetas do físico a dimensão da ação (Olam
assiah). Porque a ação só existe onde tem tempo e espaço. Onde temos espaço-tempo, temos
movimento, ação e transformação.
Quando lemos na Tora: “Em principio criou Deus os Céus e a Terra” [67] os
kabalistas interpretam que criou o espiritual com o material. A palavra Céus em hebreu tem a ver
com a palavra “além”. A palavra Shamaim se relaciona com Sham (além) e a palavra eretz
(terra) com ratz (correr), o que se mexe, o que esta em constante movimento ou transformação.
Podemos comparar nossas vidas com uma roda que esta girando sem encontrar o além,
o centro, o eixo, então podemos dizer que estamos separados da essência divina. [68] Deus criou
o homem com todas as propriedades, mas até que não assoprou em seu nariz o nishmat jaim
(hálito de vida) ainda não era um ser vivo e comunicável.
A Kabalah estabelece uma relação absoluta entre o ar e a palavra. O verbo não poderia
ser emitido sem a modulação do ar. Para conseguir o retorno com a integração divina o místico
kabalista conta com o “laboratório” [69] de seu corpo.
A Kabalah e a alquimia se inter-relacionam. A primeira estuda a palavra e a segunda os
elementos por isso caminham juntas dentro do espírito do iniciado. Os estudos dos discípulos da
Kabalah estudam a arte de transmutar os elementos para transforma a terra e as cinzas em
cristais. O cristal representa a essência dos elementos à origem da própria vida. A pedra
filosofal seria um cristal que permite a transmutação dos metais e atua como uma panacéia[70]
no corpo humano.
A partir da alquimia kabalista e dos elementos podemos construir objetos materiais que
tenham uma carga determinada de energia. O estudante de alquimia procura em seus estudos e
práticas retomar a conexão do céu com a terra, como o Adão feito de cinza (terra) com o hálito
(Ar) divino.
O alquimista tem que ter um lugar de trabalho para meditar, seu laboratório onde fazer
suas experiências. O ideal é que neste lugar ninguém o perturbe por isso deve ser fechado aos
olhos profanos.
Quando se estuda alquimia temos que ter contato com os elementos e a natureza. Cada
elemento seus símbolos, suas forças representam um aprendizado para o discípulo. O desafio do
estudante nesta primeira etapa da confecção da pedra é se conectar com os elementos, se integrar
a eles e definir suas energias.
Retomando o versículo da Bíblia “E Deus formou o homem com pó do chão” [71] cinza
do chão, Afar min adamah. Sabemos que Afar também é cinza e esta palavra esta formada por
três letras Ain, Fei, Reish a outra palavra Adamah significa terra e dentro dela encontramos
diversos significados:
Em primeiro lugar Adam, (Homem) palavra que tem múltiplas acepções; homem não só
no gênero, mas como terráqueo ou alma primordial, chispa original e andrógeno[72].
Em segundo lugar, a palavra Dam contida em Adamah significa sangue, por isso, os
kabalistas dizem que a terra com a qual Deus criou o homem é vermelha[73]. Assim, podemos
deduzir cabalisticamente que Deus cria o homem destas energias, cinza e terra vermelha.
Se invertermos a palavra Afar, (cinza) obtemos a palavra Rofe (sanar) e Rapo que se
traduz como cura. É a mesma palavra que Rofe, só que muda e a letra fei com pronuncia suave,
enquanto em Rapo utilizamos a pronuncia forte Pei.
Para resumir, Rofe implica curar, algo que surge do interno ao externo, enquanto Rapo
implica sarar, algo que surge do externo e se dirige ao interno.
O kabalista utiliza a cinza para curar distintas enfermidades, não esqueçamos que este
produto e o último resultado da matéria[74]. A cinza não queima e como elemento representa a
morte o último processo da vida, mas se utiliza para fertilizar a terra participando assim no
renascer da vida[75].
Quando o corpo é reduzido a cinzas fica um remanescente de 12 sais que podemos
associar com as 12 tribos de Israel. A cinza entra na terra e forma a base física do homem. Mas
falta um elemento que surge quando Deus assopra o hálito de vida Nismat Jaim. A palavra
Nishmat se origina de Neshama (a alma), e Jaim representa a vida, na Tora foi colocada em
plural o que significa a totalidade da vida.
Tendo bases de estudo e análise como estas, podemos começar a viagem do alquimista.
O místico se une aos detalhes, símbolos, sensações que lhe abrem as portas a novas formas de
compreensão de onde surgem suas futuras experiências e descobertas. Seu mundo se une ao
sagrado, se conecta com os elementos e começa dentro do Atanor de sua alma a fazer
combinações que só ele entende. Assim a cinza, tem que ser vegetal, de madeira de tal o qual
árvore; tudo começa a fazer um sentido particular e absoluto, os elementos falam com ele e ele
descobre a linguagem verdadeira da natureza.
O “sagrado” no alquimista é a força que o reintegra, assim seus elementos interiores
voltam a se unir, o Céu, a Terra, o Fogo[76] de onde nascem as cinzas, a criação volta a emergir
das profundezas do caos.
Quando começa o trabalho para conseguir obter a cinza, ela não é algo alheio ao
experimentador, tudo se vive em profundidade, o tempo não passa tudo para, a mente o espírito e
a alma do Alquimista se unem aos elementos com os quais trabalha. Descobrir quando iniciar o
Fogo, como trabalhar com ele, que dia, que hora, o tamanho das chamas, sua cor, a quantidade a
queimar, esperar que esfrie peneirar, escolher as medidas certas; tudo esta dentro do alquimista
claramente discernido, não tem duvidas, interiormente sabe o que fazer e como.
Só assim a Cinza obtida esta “impregnada de nós”.
Não basta pegar fogo e madeira, isto na realidade deve ser um processo da alma do
discípulo, assim com a “primeira pedra” começa a nascer o alquimista.
Esta etapa de estudo dentro da alquimia se chama Eben Ejad, a primeira pedra. E o
trabalho do discípulo nesta etapa tem como finalidade unir o céu com a terra.
Esta pedra que realizamos tem propriedades especiais, porque esta imbuída de
espiritualidade. Em primeiro lugar é como se fosse um grande Talismã que recebe forças astrais.
Em segundo lugar é um instrumento de cura integrado a Kevanah, a intenção de quem a usa.
Por este motivo não adianta pedir a outro que faça uma pedra para nós, não pode o
discípulo solicitar cinza “emprestada”. Toda a formação que esta sociedade nos dá não tem o
sentido espiritual da união, perdemos a essência do sagrado em nós. O trabalho do alquimista nos
leva numa viagem ao passado, onde o homem a natureza e Deus estavam unidos.
Quando se têm os elementos materiais (cinza) começa o trabalho de unir com o céu,
integrando assim o material com o espiritual. Começa-se a trabalhar com a força do elemento Ar
procurando o hálito divino. Nesta procura o discípulo começa a modular seu verbo, sua palavra,
suas letras, números e forças sobre a cinza.
O discípulo tem um mês para realizar estas combinações, passado esse tempo o elemento
terra se descompõe perdendo sua energia e terá que voltar a procurar as madeiras e retomar o
processo de queimar novamente. Ele pode repetir isto inúmeras vezes, não existindo frustração
nem perda nem fracasso no trabalho, só um recomeço.
O processo de formação do alquimista é algo pessoal sua paciência, seu tempo com o
universo pertencem só a ele, ninguém pode interferir em seu ritmo ou na sua linguagem com a
natureza.
Agora, temos que procurar terra: Deve ser algo especial, não pode ser algo comprado.
Surge na alma do iniciado à idéia absoluta de como esta deve ser. Tem que procurá-la dez
centímetros embaixo da grama, perto de um rio ao norte de onde ele se encontra, no lugar certo.
E quando tirar a terra do lugar escolhido vai perceber que têm uma cor vermelha intensa e uma
sensação úmida e fria assombrará sua alma.
Na procura dos elementos o alquimista desenvolve um diálogo com a natureza, ela lhe
abre seus segredos e com o passar do tempo, uma intimidade se desenvolve entre eles até falarem
a mesma linguagem.
Temos a cinza, já recolhemos a terra certa para “nossa pedra” agora falta à água. Estes
elementos o encontram na Torah quando diz: Afar min adamah. A palavra Min contém a letra
mem de Maim (água). Esta água representa a alma, a unidade.
Quando lemos a Torah percebemos que Deus não diz que ele criou a água, mas que a
separou. A água era um elemento preexistente. Então este elemento, sua fluidez representa a
unificação de todas as coisas. Temos as águas de cima e de baixo, águas na atmosfera, águas na
terra. Podemos entender que existe água no universo e em outros planetas. A água é o elemento
de união e de vida temos no corpo um 70% dela igual que no planeta, e ela se comporta para a
terra com o sangue no corpo.
A palavra Maim representa um elemento de união uma palavra de força a ser meditada no
processo de integração dos elementos, assim como muitas outras que fazem parte deles.
Quando se procura a água, fica claro que o discípulo não vai a fazer isto na torneira, ele
perderia o vínculo com o sagrado nele.
Em suas meditações, o alquimista sentirá a importância da água de chuva, ou de um
manancial, ou do orvalho da manhã. Mas neste momento em particular ele escolhe a chuva
porque representa para ele a força divina que descende, que une o de cima com o de baixo. Isto é
algo que o homem não pode abrir como uma torneira, o discípulo espera pacientemente a água
sagrada chegar a ele e tudo isto faz um sentido para sua alma.
Cada elemento que surge na procura das fórmulas vai despertar algo importante em seu
ser, seu próprio corpo reage, sua cinza, seu sangue, sua água, todos habitam em nós imbuídos do
espírito de vida.
Nesta etapa começa o sentimento no alquimista de procurar o eterno e surge o desejo de
fazer uma pedra dos elementos de seu corpo como se o cabelo e unhas representam o vegetal
com o qual se faz cinzas, suas lágrimas, saliva e sangue as águas, e assim por diante. [77]
Uma vez que o discípulo tem então a água a terra e a cinza deve uni-los. Os antigos
alquimistas chamavam a sua ciência à “Arte da Salvação”. O primeiro processo é a
transformação interior para depois mudar o exterior.
Nesta etapa de transformação o alquimista mede o tamanho de sua pedra e suas mãos
servem para dar-lhe forma, sua boca lhe insufla seu hálito e sua palavra, tudo é importante para
obter sua obra.
A cinza tem que estar livre de impurezas, a água na proporção certa, a força de sua mão
firme ao misturar os componentes.
Uma vez que os elementos se unem tem que secar e para isso ela passa pelo calor da luz do
dia, ou frio da noite, tudo tem que ter harmonia para conseguir a unificação dos elementos.
Quando esquenta demais seca por fora e fica branda por dentro, assim com o tempo o discípulo
consegue o equilíbrio dos opostos frio, calor, seco e úmido e entende seu significado.
A pedra (Phedra) se une com a idéia de fé por isso se diz: “Deus é mia pedra”.
Fazer a pedra desenvolve constância, paciência, perseverança e principalmente fé.
A chave da alquimia na kabalah é a palavra. Cada verbo define propriedades dos
elementos. Devemos entender que no saber kabalista se entende que todas as palavras nascem no
nome de Deus, assim cada vez que pronunciamos uma palavra estamos pronunciando seu nome.
[78]
A própria palavra Eben (pedra) inclui Ab (pai) e Bem (filho), e podemos entender seu
significado como a união do pai e o filho. O pai é o princípio, a essência, a alma e o filho a
“obra”. A maioria das pessoas fica olhando a obra construída, a realidade na qual vivemos e
perdem a essência. A realidade em si sozinha é uma ilusão, ao trabalharmos com a pedra Eben e
unirmos seus elementos está sendo integrando dois mundos: a matéria, a obra, com sua essência,
sua alma.
Reintegrar, unir o que separado é o objetivo do alquimista com os quais se associa com
o kabalista, sempre voltar à unidade, unir se a Deus ao Aleph.
A unificação da consciência se inicia quando se compreende que todos os acontecimentos
têm sua energia e sua razão, ainda aqueles que não entendemos. Quando a consciência se amplia
nada fica de fora, tudo é importante o bem e o mal começam a fazer parte do mesmo corpo como
matéria e alma. Integrar estes elementos e romper a dualidade é o primeiro passo para reintegrar
a consciência.
A alquimia é um desafio constante sobre nossa fé. A pedra vai ser testada nossa
capacidade de lutar, de acreditar tem um grau de dureza que muda de discípulo para discípulo.
Um dia o alquimista leva sua pedra ante seu mestre, que a recebe com carinho a cheira, a
prova com a ponta de sua língua, sente a força dos elementos e a transmutação nela; após a
aperta fortemente e testa sua dureza, sua energia sua fé.
Quando o mestre aperta a pedra, é como se apertasse a alma do discípulo.
Quando é aprovada temos o primeiro tijolo de uma enorme pirâmide de experiências e
estudos que não tem fim...
A VIVÊNCIA INICIÁTICA E MÍSTICA NO ANTIGO EGITO.
A geografia Sagrada:
Para a tradição egípcia o homem pode viver a experiência de relacionar-se com o
universo por meio de um território Sagrado que integra o espaço e o tempo, e que tem por
finalidade reproduzir na terra as configurações do mundo celestial.
O egípcio cria assim seu mundo como um modelo ideal o mesmo dos Deuses ao criar o
universo. Isto não quer dizer que os homens em geral se consideram Deuses, mas que não podem
viver no caos. A mística egípcia leva o discípulo a situar se num mundo organizado num Cosmos
Graças aos ritos de orientação o espaço profano se converte num “espaço Sagrado”,
habitado por Deuses e organizado pelas leis de Maat.[84] O espaço adquire um sentido e o
homem pode se incluir e viver no tempo sagrado que transforma o tempo linear no ritmo do
“tempo cíclico” que tudo regenera.
Obedecendo as regras da orientação e o calendário sagrado o céu e a terra se
reencontram e interpenetram provocando a união do alto e do baixo, do visível com o invisível.
O homem fica como mediador entre o Céu e a Terra:
Assim como o Jasid que procura a harmonia e a ordem pela lei da Tora, o egípcio a
encontra na regeneração o que permite vencer a ameaça constante do caos.
Por meio da geografia Sagrada ensinada na Casa da Vida ao lado dos Templos, os
sacerdotes egípcios conectavam com seus ritos o mundo terrestre com o celeste que os
regenerava com sua energia invisível e o reorganizava de forma inteligente.
Esta conexão entre os dois planos incumbida fará a seus representantes, os sacerdotes
magos das casas da vida. O sacerdote mago não só repetia fórmulas, ele também entrava num
trance místico e extático que lhe permitia estabelecer a relação entre os mundos.
Os Deuses se manifestam no plano concreto graças aos Templos e estátuas nos lugares
sagrados. O homem tem acesso ao cosmos pelo Ka e o Ba.
A grande diferença entre homens e Deuses esta na capacidade relativa de residir mais
tempo num plano ou em outro. Assim, como os homens visitam o reino dos Deuses, estes nos
visitam por meio de suas estátuas, pedras, Templos e animais. Os grandes mediadores e
participantes desta comunhão seriam o Faraó, os sacerdotes iniciados e os mortos.
Quem ensina os homens na casa da vida a ordem dos rituais e as palavras invocadas é o
Deus Toth, o escriba. O nome de Toth contém todos os nomes, todas as luzes, todos os poderes e
a imagem de todas as coisas.
O homem inspirado por Toth consegue vencer o medo ao vácuo, ao caos, ele se situa no
coração do iniciado, no centro dos opostos e os equilibra transformando-os em complementares.
A magia na prática tradicional não procura milagres, mas estabelecer uma
correspondência uma relação entre as partes e o todo para que interatuem em harmonia. Voltando
assim, ao principio de preservar o equilíbrio entre o céu e a terra.
Este ato implica um trabalho interior de conhecer-se, dominar-se para transformar-se
num canal das leis que regem o Cosmos.
No ano 535 D.C. o imperador bizantino Justiniano lançou desde Constantinopla o decreto
que mudaria o curso da história. Decreto por lei o fechamento imediato de todos os Templos de
Egito que continuassem cultuando os antigos Deuses.
O decreto provocou uma avalanche de crimes, e os últimos remanescentes dos Templos
antigos eram mantidos pelos sacerdotes de Ísis. O Templo da Deusa em Filae foi invadido, seus
sacerdotes massacrados e os Deuses trocados por cruzes.
Com este decreto se perderam por muitos séculos os últimos mistérios da Deusa, e como
os Templos eram o último refúgio de sua cultura, sua escrita, sua língua, seus símbolos foram
enterrados junto com seus antigos Deuses.
O CAMINHO INICIÁTICO.
OS SETE PODERES:
Assim como os kabalistas hebreus, os místicos egípcios tinham uma série de caminhos a
percorrer no encontro com “A Luz” e a eternidade.
O livro mais antigo dos egípcios é chamado do “Livro dos Mortos”, quando na realidade o
verdadeiro nome dele é “O Livro da Saída a Luz do Dia” ele trata sobre formas de atravessar os
obstáculos que surgem na transição da alma.
Para os antigos egípcios estamos na terra para transitar uma jornada que atravessa
realidades obscuras que só são debeladas nos mistérios da transição a outra forma de existência.
O egípcio vivia num ambiente “sagrado”, sua terra, seu Nilo, os animais, a natureza, o
deserto, as estrelas, todos eram Deuses[93] e guias na sua jornada. O próprio país era um enorme
Templo numa época em que os Deuses habitavam na terra.
Dentro dele o iniciado tinham inúmeras forças a descobrir para chegar a atingir a “luz
brilhante” e a eternidade. Seu trabalho como discípulo estava fundamentado no desenvolvimento
de suas energias ocultas, e para isto deveria peregrinar e transitar de Templo em Templo, de
Deus em Deus, de mestre em mestre até adquirir o conhecimento e a experiência necessária para
controlar seus “nove corpos”.
Todos conhecemos a divisão do ser humano em três corpos egípcia, o Khet, Ba e Ka,
mas o que é pouco conhecido e que estes corpos a sua vez se subdividem em outros. Conhecer
estas forças que habitam o ser, que o relacionam com o íntimo de seu físico, seu lado espiritual e
astral era a missão de todo iniciado. Seu trabalho era ir abrindo as portas ocultas e estabelecendo
ligações que permitiam que o poder de cada corpo fosse desenvolvido.
Quando se fala dos sete poderes estamos falando apenas do desenvolvimento de um
desses corpos, o astral[94]. Mas existem outros oito que tem suas necessidades de atenção,
alimentos, exercícios e meditação diferenciados.
As palavras mágicas no Egito[95] são usadas mentalmente, pronunciadas ou escritas
com as letras da língua sagrada. A kabalah hebraica tem um sistema de letras, símbolos e
números que são chaves importantes para atingir suas metas espirituais. Os egípcios tinham
milhares de combinações dentro de uma simbologia e escrita muito diferentes, mas com alguns
pontos em comum.
Farei uma breve descrição destes corpos ou núcleos de força, e após vou descrever
algumas meditações que trabalham sobre eles e seu desenvolvimento.
1 Khet Corpo físico Representado por o peixe
2 Sahu Corpo espiritual Representado pela múmia
3 Teth Corpo astral Representado por serpente
4 kaibith Aura[96] Representado por abanico
5 Haiti Herança, Representado por Cabeça de
instintos[97]. Leon
6 Ab Vontade Representado por vaso
7 Ka Individualidade Representado pelos braços em
alto
8 Ba Vínculo com divindade Representado pelo Falcão
9 Khou O poder mágico Representado pelo pássaro
Bennu
1) O corpo físico Khet também pode ser chamado ka, é aquele que a maioria das
pessoas pensa quando se referem ao seu corpo. Representa a forma física, o corpo que
termina com a morte, a parte mortal do ser humano, que pode ser preservada através de
mumificação. Em termos místicos se considera o caixão no qual fomos aprisionados.
Sahu é o corpo espiritual, o mundo da experiência religiosa. É o corpo de luz que retorna
a sua fonte, o estado espiritual desejado por todos, pois uma vez morto não existe outra
transição para ele.
Sahu representa o corpo espiritual incorruptível, que habitaria os céus, depois do
julgamento feito pelos Deuses com todas as habilidades mentais e espirituais do homem,
enquanto vivo.
2) Teth, ou corpo astral é o corpo que se une aos outros universos por meio dos centros
de energia.
3) Khaibit - A sombra do homem. Podia participar das oferendas funerárias e era capaz
de se desprender do corpo e viajar, por conta própria, embora dependesse do Ba para
existir.
4) Haiti fonte de vitalidade, alma ou energia instintiva. Esta força esta muito unida a
terra, a natureza e a sua força vital.
5) Ab representa o coração. Era a fonte do bem e do mal, dentro da pessoa, é o centro
dos pensamentos. Podia deixar o corpo, quando quisesse, e após a morte e o julgamento
iria viver com os Deuses ou seria devorado por Ammut, retornando a terra, caso não
tivesse uma pesagem adequada no julgamento final.
6) O Ka é chamado também duplo etéreo. Pode ser definido como um princípio
imaterial, invisível e volátil que permitia assegurar a sobrevivência dos homens neste
mundo, e lhes conferia a vida eterna no outro. O Ka é semelhante ao Khet já que tem
forma. O ka pode ser considerado oposto ao ser, igual a Seth em relação a Hórus.
O Ka de um homem podia sair do corpo enquanto a pessoa dormia, podia, também
aparecer como fantasma para outras pessoas que lhe tivessem feito algum mal. O Ka
poderia atormentar a vida da pessoa que o prejudicara, até que esta corrigisse o mal
feito.
7) Ba é um corpo que define o caráter e as afinidades do individuo. Designava um
princípio/elemento imaterial, invisível e volátil que conferia ao morto, na vida de além-
túmulo, a capacidade de movimento. Em plural Baw representa a alma cósmica o hálito
de vida na natureza. Quando simbolizado pelo carneiro de chifres horizontais, é a alma
que anima todos os seres e se acham sujeitos à ressurreição cíclica.
8) Khou ou Akh representa o poder mágico é algo raramente vivenciado pelas pessoas.
O contato com este plano é geralmente experimentado pelo mago sacerdote iniciado
devidamente treinado. E através deste corpo que temos o poder de servir ao cosmos o ao
caos. E o estado mais próximo dos Neters. Este estado se considera anterior ao processo
da criação. Khou é a parte imortal, o ser de luz que habita o intelecto, é a vontade que
sobrevivia à morte e ascende aos céus, para viver com os Deuses.
A VIDA ETERNA:
O mito de Osíris como Rei dos mortos num paraíso celestial, [98] e a psicostasia eram
crenças que acompanharam a cultura egípcia desde suas origens. A recompensa da vida eterna
era outorgada a aqueles cuja alma tinha passado pelo teste da pesagem do coração.
A idéia de vida após morte para o iniciado é algo diferenciado do conceito religioso
egípcio. O processo de abertura da boca representa a preparação mágica para que o Ka e o Ba se
integrem e formem um novo corpo, algo que não tem similar em outras culturas. Nesse ritual de
transformação o Ka unindo se ao Ba forma uma nova energia que adquire identidade e pode
viver mais de 10.000 anos. Esta foi uma das crenças que motivou os antigos egípcios a construir
monumentos mortuários que durassem milênios.
Os conceitos de morte e eternidade são profundamente estudados no processo iniciático,
mas para entender o fenômeno da morte deve se passar pela experiência do desprendimento. A
separação do Ka e o Ba do corpo eram práticas comuns na iniciação.
A vivência destes fenômenos leva o discípulo a entender que para atingir a vida eterna[99]
na transição da morte devia passar pela prática de exercícios, assim como a adoção de novos
valores a serem desenvolvidos para ter acesso a outra forma de existência no universo.
Existia outro elemento fundamental para atingir a eternidade que tem a ver com uma parte
vital do homem em sua jornada através da vida e na pós-morte. Uma parte mágica, que poderia
dar poder ou destruir o homem, caso seu nome fosse esquecido. Por isto, as cerimônias para
recebimento do “nome verdadeiro” [100] eram secretas, e a pessoa usava toda a vida, um
apelido, para que ninguém soubesse seu verdadeiro nome.
- Quero seguir as idéias de meu pai e realizar tudo aquilo que ele não conseguiu.
Enquanto falavam Zedna observava atentamente os movimentos do corpo de Gudu, suas
roupas transparentes, seus olhos pintados, suas pernas e seus seios descobertos no vestido de
linho semitransparente.
O filho do faraó fica excitado e pede a ela se entregar a ele. Ela lhe responde que sim, mas
que precisa cem moedas de prata para guardar para seu túmulo e para sua eternidade.
Ele fica ofendido e a insulta, mas termina lhe outorgando seu pedido. Então ela o convida
para ir a sua casa onde poderia posteriormente chamar um escrivão e confirmar o trato que
tinham feito.
Ele meio confuso e desejoso decide acompanhá-la.
Quando chegam perto da casa Zedna fica admirado com os jardins externos, os muros e as
construções de bom gosto que ela possuía, e a elogia.
Ela responde:
- Fez tudo isto pensando sempre que esta seja uma casa de amor e felicidade.
Pouco tempo depois entram na sala ricamente adornada, onde têm frutas frescas e secas,
aromas agradáveis, flores, almofadas e uma música que surgia de outra sala, ao lado, feita de tal
forma que os músicos não enxergavam o que ali acontecia.
Enquanto estão juntos, ela dança para ele, e vai tirando aos poucos suas roupas;
enquanto escutam músicas e melodias tomam vinhos embriagantes.
Nesse momento ela pede para ele que lhe entregue toda sua fortuna e fique para sempre
com ela, e ele envolvido no momento, não se conteve e aceita.
Passa um tempo e ela coberta de óleos aromáticos massageia o corpo dele com seu próprio
corpo nu, deixando-o louco de desejo e paixão. Nesse instante Gudu diz para ele:
- Como vais ficar comigo então, terás que matar teus três filhos para que não interfiram
com os meus no futuro.
Ao que ele também termina aceitando.
E por último antes de consumar a relação com ela, Gudu solicita o livro de Osíris a ele.
Zedna, não pensa muito nesse momento de desejo e sem resistir o concede.
Em esse instante Zedna se desperta e toma consciência que estava sonhando frente ao
Mago.
Bakeshna olha para ele e lhe diz:
- Zedna filho de Ramsés II, tu não é digno de ter tal poder, sacrificastes teus filhos,
quebrastes até teus próprios ideais, entregastes tua fortuna e o livro, tudo por paixão. Foste
testado e perdestes, agora sai daqui. Daqui a um ano poderás voltar e serás testado novamente de
outras formas até que tua alma este pura de desejos e pronta para evoluir.
Bakeshna nos ensina esta meditação para o iniciado não se perturbar em seu caminho.
Para vencer todo tipo de tentações, de falsos poderes e desejos incontroláveis. Quando se procura
firmeza em definir uma identidade, quando queremos manter sempre presentes as coisas
importantes da vida.
Pensamos na manhã, a palavra NERI. [106]
Antes de almoçar a palavra BAR.
E antes de dormir a palavra GAR.
Aos discípulos que estão casados se recomenda fazer a meditação final às 18 horas, porque
pode afetar sua intimidade e seu relacionamento.
Estas palavras estão escritas no túmulo de Bakeshna:
“Trata de conservar tudo para quando transcendas possas viver 10.000 anos. [107]
Voltarei a viver em distintos corpos antes de retornar novamente, mas quando o faça quero
manter minha essência. Que as tentações não façam tremer a firmeza nas minhas crenças”.
Ninguém se lembra do tumulo de Bakeshna, ele continua esperando seu Ka.
Deus Toth
LUB A RÁ
Ashiaba a Ra
Quero me unir à força de Ra.
Os egípcios acreditavam que o Sol era o responsável pela origem da vida, assim como o
centro de um sistema de energia. Eles observavam o céu e as estrelas muito atentamente, sabiam
que seu maior astro tem mudanças e transformações cada 22 anos.
Os sacerdotes do Templo de Amon Ra temiam que o Sol tomasse alguma represália
contra a Terra em esses períodos. Eles diziam que cada onze anos o astro se fortifica com seus
discípulos a Terra e a Lua renovando seu poder.
Nos Templos se festejava o aniversario do Sol cada vinte dois anos, eles entendiam que
nesse momento o astro adquire tal poder que pode até destruir o planeta. Os relatos da tradição
nos dizem que o continente da Atlântida desapareceu neste aniversario Solar.
Um ano antes do ciclo de 22 os sacerdotes meditavam para que Deus perdoasse os
homens e isto não acontecesse novamente. Entendia se que o Sol representa a grande
consciência, e nossa presença não esta alheia a ele ou aos astros aos quais devemos nossa
existência.
Um dia no ano do aniversário, os egípcios festejavam o “dia do Sol”, aquele que nos da
à vida. Nesse dia tudo parava, as pessoas se reuniam nos Templos e suas comunidades e comiam
beterraba com mel, frutas secas, passas e tâmaras, tomavam vinho, cantavam e dançavam
festejando um Shemesh Agadó, um grande Sol.
Nesse dia se discutia as ações dos homens, o destino da humanidade, a luta dos povos.
Era importante aprender sobre os erros dos vizinhos para não repeti-los e conseguir evoluir. Este
era o desejo dos Deuses para os homens.
Observar o Sol e festejar seu dia era uma forma de se identificar com ele, como se dizia
antigamente:
“Tomar a cara de Deus”
Tomar a cara representa nos identificar com o pensamento astral, assumir o Sol como o
pai de nosso sistema, sentir que somos seus filhos e reconhecer que o que ele nos dá é muito
importante. Quando sentimos isto começamos a entender a importância do Sol em nossas vidas e
na própria natureza.
O problema de nossa época é que os “Deuses tomam a cara dos homens”.
Hoje o Sol é como um pai que não consegue se comunicar com o filho. O filho esta
morando na casa dele, recebe calor, luz, uma natureza da qual se alimenta e lhe dá lucro, tudo de
graça. O pai da tudo, mas o filho não assume que tem um débito de reconhecimento para com
ele. Parece que nos dar vida e mais uma obrigação do pai que um ato de amor.
Os antigos egípcios reconheciam o Grande pai e o homenageavam em seu trajeto diário
ao nascer e ao se por. E em seu aniversário festejavam e colocavam suas esperanças em outro
ciclo da natureza.
Tem uma história egípcia de uma princesa que lhe diz ao Sacerdote:
- Tu grande mestre Sacerdote que sabes ler os corações, saberás ler o meu? Faz tempo que
parte da minha terra não recebe a luz do Sol, e sinto que nunca mais o fará.
E o sacerdote responde:
- Acredito que toda tua terra esta já sem Sol. Tu amas um homem casado com outra mulher
que solicitou a ele que nunca a deixasse nem tomasse outra esposa, essa foi a condição que ela
lhe impôs para se entregar.
- E por esse motivo ele não pode tomar outra. [113]
Os poetas têm escrito ao Sol [114], os músicos criaram melodias[115] à ele
Homens em todo mundo o tem venerado por milhares de anos, e hoje nem temos tempo para
olhar o amanhecer.
Esta meditação é importante para o iniciado ela procura ligar o discípulo com a energia
que comanda suas forças internas. O Sol e o gerador energético de todos nossos nove corpos. O
Deus Ra ainda rege e comanda nosso sistema astral.
Muitas vezes estamos cansados de lutar e acovardados de sofrer entramos em dúvidas,
nos confundimos, perdemos ânimo e força no trabalho, na vida...
Eu sei que estes podem parecer problemas que na maioria das vezes são conseqüência
de estados de ânimo, patológicos, ansiedade, stress. Isso pode parecer depressão, mas não sempre
é, muitas vezes, representa que cortamos o contato com a corrente que nos anima, com a força
vital do universo.
Aquele que procura a verdade dos antigos pode perceber que depois de fazer a
meditação “tudo muda”.
Quando nosso corpo entra em harmonia com a energia do universo muda o padrão
energético e por sua vez modifica nossa química cerebral, sem necessidade de remédios.
O homem ao igual que uma planta quando não recebe a luz, murcha, a própria terra no
escuro não produz. A natureza procura a luz do Sol como fonte de vida.
Não quero com o que estou escrevendo estimular a idéia de ir a praia e se torrar no Sol.
Estamos falando de uma energia vital que se manifesta de dia na natureza e que alimenta nosso
plano físico, assim como a força astral da Lua alimenta o plano psíquico à noite.
Hoje os iniciados acreditam numa consciência coletiva que é alimentada pelas ações
boas e ruins dos homens. Cada ciclo de 22 anos este “olho que tudo o vê” [116]purifica se
descarregando os excessos negativos e o reflexo de esta energia poderia retornar a terra tendo a
aparência de uma punição divina. [117]
Neste aniversário do Sol que os iniciados festejam até hoje se comentam os problemas
do mundo, da sociedade e se fala:
- O que queremos é que cada pessoa não se desligue da força do Sol, e não percam a
oportunidade de encontrar o caminho da natureza.
Enquanto essas conversas e pensamentos são estimulados, taças de vinho são levantadas
e todos gritam Jai a Ra, “Vida ao Sol”.
“Ao chegar o dia que viajes na barca de Rá[118] faz que tirem teu coração e
coloquem em seu lugar o escaravelho sagrado[119]”.
Quando te integres ao Cosmos deixa para traz tudo o que te amarra a esta terra.
Só assim poderão “ser verdadeiramente úteis ao senhor”.
O escaravelho, Kepher representa aquele que renasce, e vive novamente. O
discípulo esta pronto sempre para se unir ao cosmos, viajar na barca de Ra e seguir o caminho da
luz que é mostrado na hora da transição.
Quando o discípulo perde este sentido de perceber as forças que nos animam seu
organismo entra num caos que não precisa de drogas para se ordenar, mas do caminho da
natureza.
Fazemos esta prática preferencialmente nos dias domingos, frente a um rio o ao mar,
ficamos parados com as mãos retas a frente e a cabeça coberta durante unos três minutos
enquanto relaxamos e focalizamos a energia. Após nos descobrimos e falamos como os antigos
egípcios “Ashiaba a Ra”, quero me comunicar contigo, (me unir à força de Ra)
“Procura águas onde se possa ver o reflexo do Sol é igual que tua alma deixa que o
rio penetre em ti enquanto pensas no em Lub-A-Ra”.[120] Durante a semana, na
manhã, ao meio dia e a noite se comem uvas, figos e tâmaras para acompanhar a prática.
EPÍLOGO
Jorge Aguer
[12] Pág. 133 As Ciências Sagradas dos Antigos Egípcios. Jorge Aguer. Ed. Imprensa Livre.
[107] O Ka se desprende no momento da morte e após viaja pelo universo retornando a sua origem após milhares de anos.
[108] Seu Keth, seu Sahu, seu Ka e seu Ba.
[109] Estas palavras e pensamentos os encontraram hoje, no vale dos Reis no Egito.
[110] Possivelmente seja essa a palavra que levou a formação do nascimento de Cristo.
[111] Os gatos domesticados nascem no antigo Egito.
[112] Escolher uma das três Misha a Rá, MishaaAton, ou Ieru Shalem.
[113] A lei egípcia dizia que um homem que tivesse outra mulher tinha obrigação de amá-la por igual e nessa relação o coração
nunca seria sincero.