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Kabalah, o

Caminho da
tradição.

Jorge Aguer
KABALAH, O CAMINHO DA TRADIÇÃO.

ÍNDICE:

O ESTUDO DA TRADIÇÃO

O UNIVERSO DA KABALAH

MESTRES E PRÁTICAS DA KABALAH

A ÁRVORE DA VIDA

OS CINCO PASSOS DA SABEDORIA


CHAVES PARA ABRIR O REINO
KABALAH E ALQUIMIA

A VIVÊNCIA INICIATICA NO EGITO

A EVOLUÇÃO DO INICIADO EGÍPCIO


MEDITAÇÕES EGÍPCIAS
INTRODUÇÃO:

Escrevi este texto com o intuito de mostrar a mística kabalista como eu a vivencio.
Um lado meu, principalmente por identificação com meus mestres, se aproxima da
Kabalah hebraica e outra faceta de meu ser, a mais Iniciática, se une à Kabalah dentro da
Tradição Egípcia.
Parece ser uma dicotomia, mas estas duas partes de meu ser convivem em perfeita
harmonia. O problema existe realmente onde encontramos culturas e crenças que se dividem
ainda tendo uma raiz de origem comum. Existe uma dicotomia entre a religião católica e a
hebraica e outra entre a cultura hebraica e a egípcia.
Parte de mim propõe neste trabalho tentar integrar o que foi separado por interesses
religiosos, conflitos edípicos de uma sociedade que continua a negar o passado e a própria
origem da sua cultura.
Sei que existem diferenças marcantes entre as religiões, mas compete aos iniciados do
mundo integrar novamente o espírito da sociedade e reintegrar a irmandade entre os homens.
AGRADECIMENTOS:

Quero agradecer a meus Mestres, Rabi Menajem Mendel bem Shmuel, Rolland, meus
irmãos e mestres Pedro Lopez Lagar[1], Omar Ardans[2], Cesar Polcino Milies[3]. Algumas
partes deste texto repetem suas palavras, ensinamentos e escrita.
Agradeço a meus discípulos que com suas dúvidas e amor pela ciência me mantiveram
unido a minha essência.
Por outro lado têm outros que quero agradecer ainda sem conhecê-los pessoalmente,
mas que estão em meu coração por compartir o mesmo caminho, alguns como iniciados e outros
como amantes da ciência. O Rabi Ione Szalay[4] e Alexandre Safran[5] que tem contribuído
notavelmente para o conhecimento da tradição em América do Sul e na Europa.
Outros autores como, Gershom Scholem, Moshe Idel[6], Martin Buber, Bashevis
Singer, Simon Halevi, Epstein Perle, Claire Lalouette[7], motivaram, muitas vezes, as noites em
que a saudade das reuniões no Jeder Abodá batia na porta de meu coração.
A CIÊNCIA SAGRADA DA KABALAH

O ESTUDO DA TRADIÇÃO

O objetivo deste texto consiste em apresentar um panorama da Tradição Iniciática e dos


aspectos místicos que ela abrange. Pretende também, dar elementos para reflexão sobre o papel
que ela possa ter na solução da crise espiritual, a qual, o homem contemporâneo sofre.
A Tradição Iniciática atravessou civilizações e culturas diferentes. Sobreviveu ao tempo
escondida em Templos, Lojas, e mestres. Hoje chega a nós, muitas vezes, camuflada atrás de
uma religião ou filosofia, mas ainda pura para aqueles que a procuram.
Para iniciar seu estudo e prática, vamos assumir ela com seu nome mais antigo “Kabalah”
e procurar sua verdadeira identidade.
A história é importante, uma vez que, muitas gerações tomaram contato com a Kabalah e
lhe imprimiram uma forma particular de sua época. Por sua vez, a Tradição deu a esses homens
suas verdades eternas, para enfrentar o desafio de cada momento. Nesta inter-relação, criaram-se
imagens diferentes, sem que por isso a tradição tenha perdido sua identidade substancial.
No entanto, só quando separamos o histórico e o que é peculiar de cada época, podemos
identificar o essencial da Kabalah e entender porque ela é uma Ciência Sagrada.
As doutrinas cabalísticas são apresentadas, na maioria dos livros, como meros jogos
numéricos ou curiosidades de linguagem. Convém esclarecer, desde já, que esse tipo de livro,
salvo exceções, não merece confiança.
Os aspectos místicos e iniciáticos falam de um homem que quer aproximar-se da Kabalah,
mas que está vivendo num mundo “dessacralizado”, racional, onde a escala de valores é
dominada pelo pragmatismo e tecnicismo.
A mística, hoje, geralmente se confunde com a necessidade e tem o mesmo valor que
recorrer a um arquiteto para construir uma casa ou a procura de um médico para a cura de uma
doença, ligado ao fato de afirmar-se que essa pessoa tenha algum interesse em arquitetura ou
medicina, existe um abismo. Resolvido o problema, o interesse seguramente irá cessar.
Da mesma forma o homem em crise pode recorrer a uma oração cristã, ir a uma sinagoga
no dia do perdão, participar de uma roda de candomblé, ser vegetariano, praticar meditação
transcendental, consultar uma mesa branca espírita, etc.
Excepcionalmente pode ocorrer que qualquer dessas situações seja uma porta para algo
definitivo. Entendemos que só nesse caso nos encontraremos frente à mística propriamente dita,
na qual, o homem definitivamente se transforma em outro ser e sua relação com os planos
superiores não é produto de necessidades.
A mística autêntica exige superar a necessidade. Nesse estado, o ser humano está a serviço
do divino e compromete-se com ele. Em caso contrário é o divino que fica ao serviço do homem,
transformando-se em um objeto de consumo como outro qualquer.
Não é casual a explosão de seitas e grupos que oferecem ao homem a solução de todos os
seus problemas, remédios para todos os seus males, receitas formuladas de mil maneiras,
redigidas numa linguagem de marketing, entregues sem nenhum compromisso íntimo, pessoal.
Aquela pessoa que procura um estado superior se vê bombardeada por uma grande
quantidade de ofertas, a maioria das quais, são miragens de uma rota pseudoespiritual e, que não
raro, termina por fazê-lo desacreditar no misticismo quando não o leva a uma desestruturação de
personalidade.
No entanto e apesar de tudo, as escolas sérias existem. Existem, porque o tempo e as
necessidades não deformaram a essência do discípulo.
A mística egípcia e hebraica tem pontos em comum no processo da formação do discípulo
e seu misticismo. Seus conjuntos de crenças referem-se a temas que vem preocupando o homem
de qualquer sociedade ou tempo.
A mística e a iniciação existem desde a noite dos tempos. Talvez seja muito anterior ao
Egito, mas partiremos desta cultura porque é nela que ainda podemos pesquisá-la. A kabalah
egípcia influenciou a cultura israelita, helena e cristã. Não obstante para que o homem de hoje
possa aproximar-se dela, encarando desafios diferentes daqueles enfrentados pelos homens do
passado.
Para estudar a kabalah vamos ter que regredir e reaprender a linguagem dos símbolos. Eles
falam diretamente com nossa alma e muitas vezes deixam a razão muda.
A Kabalah é apresentada aos leigos, maiormente, como uma doutrina, ou uma filosofia.
Neste estudo mostraremos a cara mística e prática desta tradição, estas exigem que o discípulo
desenvolva estados alterados de consciência para poder penetrar em seus mistérios e assim,
atingir um conhecimento que só ele pode vivenciar.
Vamos desenvolver um estudo que trata de uma ciência viva, uma sabedoria que passa
pelo espírito do Mestre.
“Uma Ciência Sagrada é aquela que vai de Deus ao homem e não do homem
a Deus”.

USOS E ORIGEM DA PALAVRA KABALAH:

A palavra Kabalah com a grafia utilizada aqui não se encontra senão nos dicionário
hebraicos. Nas línguas latinas como português, espanhol, etc. ela aparece como “Cabala”.
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, e Antonio Geraldo da Cunha oferecem como
significados dessa palavra o seguinte:
1) Tratado filosófico religioso hebraico, que pretende resumir uma religião secreta que
se supõe haver coexistido com a religião popular dos hebreus.
2) O conteúdo desse tratado, particularmente a decifração de um sentido secreto da
Bíblia e uma teoria e um simbolismo dos números e das letras.
3) Movimentos místicos e esotéricos europeus do século XII em diante.
4) Conluio secreto entre indivíduos ou facções que trabalham para um mesmo fim.
Maquinações, trama, conspiração.
5) Nos meios editorias e teatrais, maquinações de um grupo para forjar um sucesso ou
um fracasso.
No espanhol cotidiano existe também uma expressão em que se envolve a palavra Cabala
que seria mais ou menos o seguinte:
- Por que fazes tais coisas? – Por Cabala.
O sentido desta expressão é que na realidade a pessoa não sabe por que está fazendo essas
coisas, mas as faz por via das dúvidas, envolvendo algo mágico ou supersticioso.

Origem da palavra Kabalah:


No início, a palavra “Kabalah” não indicava especificamente uma tradição mística ou
esotérica.
No Talmude, ela é usada para as partes extra – Pentateuco da Bíblia e na literatura pós-
talmúdica, a lei oral também é chamada de “Kabalah”. Nos escritos de Eleazar de Worms
(início do século XIII) tradições esotéricas (que se referem aos nomes dos anjos e aos nomes mágicos de Deus)
são chamados de “Kabalah”. [8]
No seu comentário do “Sepher Ietizirah” (1130), quando ele fala da criação do Espírito
Santo, isto é, a “Shekinah”, Judah B. Barzillai afirma que os sábios costumavam transmitir
esse tipo de afirmações para seus estudantes e para sábios em particular, num murmurar,
através de “Kabalah”. Tudo isso demonstra que a palavra Kabalah não era ainda usada para
um campo específico.
O uso novo preciso originou-se no círculo de Issac o Cego (1200) e foi adotado por todos
seus discípulos.
Kabalah é um dos muitos termos usados durante um período de 1500 anos para designar o
movimento místico, seus ensinamentos e seus seguidores. O Talmude fala de “Sitrei Torah”,
e “Razei Torah” (segredos da Torah), em partes da tradição secreta são chamados de “ma aseh
bereshit” (literalmente: o trabalho da criação) e “ma aseh mercabah” (literalmente: o trabalho do carro).
No período dos Kabalistas espanhóis, e provençais a Kabalah é também chamada de
“hokhma penimit” (sabedoria interior), talvez seja uma frase emprestada do árabe e, os
Kabalistas muitas vezes o chamados de “mashkilims” (aqueles que entendem) aqueles que
interpretam textos.
Da mesma maneira que o sentido da palavra Kabalah se tornou restrito para a
tradição mística e esotérica, assim, no início do século XII as palavras “emet” (verdade),
“emunah” (fé) e “hokhma” (sabedoria) foram usadas para designar a verdade mística ou
interior. Por isso o uso difundido de “hokhma há emet” (a ciência da verdade) e “derekh há-
emet” (o caminho da verdade).
Os kabalistas são também chamados de “ba alei há yediah” (os mestres do conhecimento) ou
“hayodeim” (aqueles que conhecem) que começou com Nahmanides. O autor do Zohar usa
termos como “bnei meheim-nuta” (crianças de fé), “bnei hikhala de malka” (crianças do palácio do
Rei), ”yordei middin” (aqueles que conhecem as medidas).
Alguns autores chamam os kabalistas de “ba alei há-avodah” (mestres do trabalho) isto
é, aqueles que conhecem a verdade, caminho interior para o serviço de Deus.
Na parte principal do Zohar o termo Kabalah não é mencionado, mas é usado na
ultima parte no “Ray a Meheima”, e no “Sefer há-Tikkunim”. Do inicio do século XIV o
nome Kabalah superpôs a todas as outras designações. [9]
Hoje Kabalah também se refere à tradição. “O povo da Tradição” aqueles que são
portadores do conhecimento.
Ainda que historiadores da Tradição como G. Scholem encontrem a Kabalah dentro
do mundo hebreu a partir do século XII a tradição viva dos mestres nos da esta palavra como
originária no antigo Egito como Ka-Ba-Lah ou Ka- Ba- Keth. No mundo árabe a escutamos
como Kaab-alah.
ETIMOLOGIA HEBRAICA:

Excede aos limites deste texto o aprofundamento da língua hebraica. Tocaremos o


necessário para se compreender a etimologia da palavra Kabalah tanto no âmbito hebreu
como em suas raízes no antigo Egito.
A língua hebraica constrói suas palavras a partir de raízes formadas – na maioria
dos casos – por três consoantes. A combinação destas com diferentes vogais é que fará variar
o significado, não obstante serem participantes de uma mesma raiz.
Desta forma a palavra K-B-L e a consoante H colocada no final, torna a palavra do
gênero feminino.
Essa raiz é a que dá origem ao verbo KiBeL ( lbq ) que quer dizer: receber, adotar,
acolher, tomar, aceitar, admitir, obter.
Na raiz K-B-L tem origem também as seguintes palavras:
Kibul( lbq ): aceitação, recepção, adoção.
Hakbel( lbqh ): estar em presença de, haver sido recebido.
Mkubal( lbqm ): aquele que é ou foi recebido.
Kiblah( hlbq ): remédio contra veneno.
Kabalah( hlbq ): tradição, doutrina oculta, autorização dada pelo rabino ao açougueiro que
realiza os cortes de carne prescritos pela religião para que este degole um animal.
Kbalah( hlbq ): protesta.
As sílabas da palavra, tomadas separadamente como palavras, oferecem os
seguintes significados.
Kab( bq ): perna de madeira, muleta, jarro, maldição.
Kabah( hbq ): estômago, órgão genital feminino, maldição.
Bal( lb ): não.
Bal( lb ): coração, espírito, atenção.
Passando ao estudo das letras percebemos que:
Kuf. ( q ): cujo nome se escreve ( kvq ) quer dizer macaco.
Kuf e a inicial da palavra Qof ( kvq ) que significa “macaco”, mas também aquela da palavra
Qofits ( z i kvq ) que quer dizer o “machado”.
Que relação tem o macaco com o simbolismo da letra que leva seu nome?
Embora nos pareça menos evidente, ele não pode ser separado daquela letra que ele
deu seu nome, a menos que não o tenha recebido dela. Admitindo que o macaco fosse um
animal desconhecido nas regiões onde se formava a língua hebraica por que teria ele
recebido este nome? Qual é a energia que, em sua profundidade, liga tão intimamente a letra
Qof com este animal?
Nada de mais enigmático que o macaco e o que ele significa em diferentes tradições:
Brincalhão, instável, o animal mais sábio de todos, venerado entre os japoneses,
entre os tibetanos e símbolo de alta sabedoria entre os chineses. Dentre a tradição Hindu o
macaco desempenha o papel de discípulo incondicional de um mestre espiritual (Rama),
encarnação divina precedendo Krishna.
Esta mesma tradição representa o sábio sob a forma de uma tríade: três maçados
sentados. Com seus dedos eles tampam, um os lábios, outro os olhos e o terceiro as orelhas.
Estamos diante dos gestos que evidenciam uma iniciação.
O homem sábio é o iniciado que fecha seus sentidos ao mundo exterior para ser
inteiramente receptível ao mundo divino.
Bet, ( b ) quer dizer casa.
Lamed, ( l ) quer dizer: aprender, prova, exemplo.
Hei, ( h ) é uma das letras que forma parte do nome de Deus, do verbo Ser, pertencer, nascer,
e das palavras Ele, Ela.
ETIMOLOGIA EGÍPCIA ANTIGA:

Das três formas de escrita egípcia utilizaremos à hieroglífica. Esta escrita esta
baseada em signos que assumem um duplo valor: como ideogramas ou signos-palavras e
como fonogramas ou signos sons.

Assim por exemplo:


O desenho representa como ideograma, uma cesta com alça, enquanto que o
fonograma expressa o som K para ser usado na formação de outras palavras.
Nestes exemplos encontramos os equivalentes egípcios dos elementos formativos da
palavra Kabalah.
O Macaco:
Como símbolo está vinculado ao simbolismo do Deus toth, a inteligência divina que presidiu
a criação, assim como as idéias de passagem da morte à vida eterna, o tema da reencarnação. O
julgamento das almas inclui o macaco sentado sobre a balança.
O Macaco na forma do grande cinocéfalo branco, o Deus Toth, representado por Ísis, é o
patrão dos sábios e dos letrados, ele é o escriba divino que anota a palavra de Ptah, o Deus
criador, assim como anota o veredicto de Anúbis, quanto este pesa as almas dos mortos. Ele é
então ao mesmo tempo, artista, amigo das flores, de jardins e de festas. Poderoso mágico capaz
de ler os hieróglifos mais misteriosos e, encarnação de Toth, ele governa as horas e o calendário,
ele é mestre do tempo.
A agressividade do cinocéfalo espantou os egípcios: depois do verbo “estar furioso”
desenhava-se um macaco mostrando os dentes, crispado sobre suas mãos e levantando o rabo.
Toth era uma divindade lunar, mas o cinocéfalo, que se ouve gritar na madrugada, entendia-se
que ajudava o sol a levantar-se toda manhã através das preces, no horizonte do mundo.
O hábito de certas espécies de macacos reunirem-se num tipo de corte plenária e tagarelar
pouco antes do nascer e do por do sol, quase que justifica o fato dos egípcios ter confiado aos
cinocéfalos à tarefa de saudar o astro todas as manhãs e todas as noites, quando ele aparece no
oriente ou quando ele se afasta para ocidente. [10]
Para os egípcios, no momento da viagem da alma entre a morte e a reencarnação a morada
das almas estaria no espaço entre a Terra e a Lua. Este lugar seria a morada das almas. E o Deus
Pooh (A lua) representado sob a forma humana, é sempre acompanhado de um cinocéfalo, cuja
postura indica o nascer da Lua. [11]

O machado:
O símbolo do machado nos remete ao ato de cortar, de separar, e veio a ser o símbolo do
consagrado, o que é separado das coisas mundanas e, em outro sentido simboliza a divisão ou
separação de forças no plano energético.
O machado plantado no alto da pirâmide ou de uma pedra cúbica com ponta entende-se como
a abertura do centro, do cofre, do segredo do céu, isto é o ato supremo da iniciação, da tomada de
consciência, que não se pode confundir com a iluminação, (a liberação do Imack). [12]Por sua
dureza o machado de pedra ao bater, liberta centelhas e fogo, por isto, às vezes, o podemos ver
com um simbolismo duplo o de tirar e dar vida. (em outras culturas o vemos representado com duas
lâminas).

O Ka:
Como símbolo, além de se referir ao significado da alma, representa também a força geratriz,
a influência dos ancestrais sobre nós, a parte de nossos pais que levamos conosco e também algo
divino que envolve o homem, que hoje recebe o nome de campo bioenergético e antes foi
chamado de aura. Temos aqui os elementos místicos e energéticos que o hebraico resume na sua
letra Kuf ( q ).
O Ka introduz uma das noções mais difíceis de conceber do Egito antigo para um espírito
ocidental. Ele foi comparado a “um duplo” análogo ao periespírito dos ocultistas. [13] Segundo
Serge Sauneron, ele é praticamente uma manifestação das energias vitais tantos em sua função
criadora como em sua função conservadora.
O Ka pode assim designar a potência de criação que possui a divindade, mas também as
forças de conservação que animam Maat, a ordem universal. Reservatório em algum sentido das
forças vitais, de onde provem toda vida. E graças ao qual toda a vida subsiste. Estatuetas do Ka
acompanhavam os defuntos em suas tumbas. O Ka simboliza uma força vital, apta a se
personalizar cada vez mais, segundo a evolução da consciência individual e coletiva. [14]

O símbolo do Ka representa para o iniciado um abraço, um gesto de amor ou


proteção, mas para os egípcios podia representar muito mais no sentido religioso e no seu dia a
dia.
Levantar os braços com as mãos estendidas para cima era chamado “um ato do Ka” e isto
significava o ato da transmissão da força vital dos Deuses para os homens. Não só o ato, mas
também a fonte dessa força.
Quando damos um abraço em alguém passamos a essa pessoa uma essência vital nossa, assim
quando levantamos os braços estamos gestualmente querendo dar nosso abraço aos Deuses.
Cada um é um recebedor e cada um é um indivíduo, então cada um tem seu próprio Ka.
“Se o grande homem encabeça a refeição, seu estado de espírito estará de acordo com seu Ka.
Mas pode acontecer que, à medida que anoitece seu Ka estenderá seus braços. E o grande
homem dará (petiscos) para todos os que ele conseguir alcançar”.

Aqui o signo do Ka revive como uma figura que dá favores. Neste extrato o
grande homem é Deus distribuindo sorte para quem ele quer. Então Deus também tem seu
Ka, a fonte de toda sorte no mundo. De fato, com Deus, o self e o Ka são um só. Por isto
muitas vezes, o Ka é representado numa estrutura de suporte, mostrando assim que ele está
acima das fraquezas do mundo e é realmente divino.
O Ka do indivíduo é um tipo de sósia espiritual que determina os aspectos bons, os da
sorte e destino de cada um.
Assim os egípcios diziam:
“Para seu Ka, aonde nos desejaríamos sob a sorte e saúde”. O Ka ou Kas são as
disposições que as boas fadas outorgavam aos recém nascidos, ao menos quando essas eram
favoráveis.
O Ka também é a força protetora sobre os homens, assim o vemos claramente nos nomes
dos líderes quando aparece “o Ka real coloca seus braços em volta do nome real.”
O Ka também é uma força geratriz masculina. A potência masculina é simbolizada por
meio do Toro cujo nome se escrevia em egípcio com o mesmo signo do Ka.
O pai é um agente do Ka que traz a força dos ancestrais. O talvez o Ka aja através do Pai.
Assim, ir para seu Ka significava voltar para a casa dos pais, dos ancestrais ou morrer. [15]

O Ba:
O símbolo do Ba, do espírito era representado pela ave, aparece na formação da palavra
refúgio e nos fala do aspecto espiritual da moradia dos homens. Não se trata do refúgio para
um animal perseguido, mas daquele lugar no que o homem fixa sua residência espiritual.
Não é a cova na montanha, mas o lar do espírito, construído para ser o centro do vôo
místico do homem. Refúgio que se estendera depois à noção do Templo. E em outro aspecto
a criação como residência da divindade que a mística hebraica ligará a letra Beth e que
Spinoza desenvolvera como Panteísmo.[16]

O Lah:
A palavra Lah em antigo Egípcio tem o significado de corpo ou matéria, que se inclui na
palavra Kth.
Assim integrando estas palavras Ka-Ba-Lah e seus símbolos no antigo Egito podemos
dizer que a Kabalah seria uma ciência mística que estuda a alma, o espírito e o corpo físico
ou a matéria. Então em parte podemos dizer que o discípulo que estuda a Tradição aprofunda
os conhecimentos da alma do espírito e a matéria para conseguir assim ter uma consciência
real de seu ser e o criador.
Sintetizando esta análise etimológica consideramos que a palavra kabalah encerra uma
série de conteúdos simbólicos e energéticos que não são evidentes quando se define a
palavra meramente como “Tradição”. Também o “ser recebido” que expressa à palavra
Mekubal, não é suficiente.
Estamos frente a uma palavra que resume, como todo símbolo, realidades amplas e ricas.
A força geratriz, a inteligência divina criadora, a alma e o espírito, os ensinamentos, a vida.
A Kabalah enquanto sabedoria não pode ser menos que isso. É também tradição no
sentido de modo de transmitir o saber; é também ser recebido (no seio desse saber que é
maior que nós), é também vida, Tendo em vista que nos comprometa a uma integração total
com ela e com o divino.
INTRODUÇÃO AO ALFABETO HEBRAICO.

Outras Arcano
Letra Nome = Valor Imagem
correspondências do Tarô
Nascer. Equilíbrio.
1 Alef A 1 Boi 1 - Mago
Peito
Reunir. Templo.
2 Bet B 2 Casa 2 - Papisa
Sabedoria.
Dirigir.
3 Guimel G 3 Camelo 3 - Imperatriz
Maturidade.
Executar.
4 Daleth D 4 Porta 4 - Imperador
Fecundidade.
5 Hê H 5 Janela Ver. Palavra. 5 - Papa
Ouvir. Unir.
6 Vaw V, W 6 Prego 6 - Namorados
Pensamento.
7 Záin Z 7 Espada. Andar. Inverter. 7 - Carro
Falar. Investir.
8 Heth H, Kh 8 Cerca 8 - Justiça
Temor.
Paladar.
9 Tet T 9 útero 9 - Eremita
Desenvolver.
Trabalho.
10 Yod I, Y, J 10 Punho cerrado 10 - Roda Fortuna
Extensão.
11 Kaf K, C 20 Palma mão Vida. Estrutura. 11- Força
Trabalho. Cópula.
12 Lamed L 30 Serpente 12 - Pendurado
Movimento.
Corpo.
13 Mem M 40 Água 13 - Sem Nome
Merecimento
14 Nun N 50 Peixe Movimento. Pólo. 14 - Temperança
15 Samec S 60 Escora Potencial. Ira 15 - Diabo
Independência.
16 Áin Gh, O 70 Olho 16 - Casa de D’us
Alegria. Estudo.
17 Pê Ph, F 80 Boca Domínio. Energia. 17 - Estrela
Engolir.
18 Tsade Ts, X 90 Anzol 18 - Lua
Adaptação.
Integração.
19 Qof Q, K 100 Nuca 19 - Sol
Rir. Imitar.
20 Resh R 200 Cabeça Paz. Ordem. 20 - Julgamento
21 Shin Sh, Ch 300 Dente Poder. Culpa 21 - Mundo
Beleza.
22 Taw T, Th 400 Cruz. Marca. 22 ou 0 - Louco
Permanência.

Letras
Kaf K 500 Mem M 600 Noun N 700 Phé Ph 800 Tsadé Ts 900
Finais
O alfabeto hebraico, também conhecido como Alef-
Beit, é o utilizado para a escrita em hebraico, que é uma língua semítica pertencente à família das
línguas Afro-Asiáticas, mais falada em Israel.
Assim como na escrita árabe, nesse alfabeto, os textos são escritos no sentido anti-horário ou
seja, da direita para a esquerda.
O alfabeto hebraico só utiliza consoantes, sendo que as vogais podem ser representadas
por sinais diacríticos, chamados niqqud ou sinais massoréticos. A letra "aleph" existe para
representar as sílabas em que não há consoantes, como o E da palavra "Elohim" (‫)םיהלא‬
Uma narrativa do Talmud, [17] revela a importância que os sábios judeus davam a um
escriba dos pergaminhos sagrados (sopher). Shmuel contou ao Rabi Yehuda o que ouvira do
próprio Rabi Meir:
“... E quando cheguei junto a Rabi Yishmael, este perguntou qual era minha profissão.
Respondi-lhe que era um escriba. [18] Após, com mais seriedade, disse-me:
- Filho, seja cauteloso no seu serviço, pois sua profissão é uma profissão Divina. Talvez
você esteja acrescentando ou omitindo uma letra. “Você poderia estar destruindo o mundo
inteiro...”.
O UNIVERSO DA KABALAH

O espaço para o místico kabalista:

O Olam (mundo) para a kabalah é sagrado por sua origem divina e misteriosa. O
mistério, diz o Zohar, é o que sustenta o mundo representado pela luz.
O processo da criação é descrito pelo Zohar como um ponto luminoso na obscuridade
que se manifesta de quatro formas simultâneas e diferentes. Toda ela esta compactamente
incluída na palavra Bereshit, a palavra inicial da Torah.
Este mundo que é uno, no dizer dos antigos, é regido por leis que no máximo escalão do
saber iniciático se condensa em uma, como dizem os Kabalistas “três coisas podem ser
sustentadas sobre uma, mas nunca uma sobre três”.
Essa estrutura é que permite que a kabalah partindo do valor múltiplo de seu alfabeto,
abarque com ele realidades da natureza, tanto como do corpo e da alma. A história jasidica do
mestre que perdeu a memória e pediu que lhe repetissem somente o alfabeto (com o qual
recupero a memória novamente e todo seu conhecimento) alude ao essencial que o místico
necessita para ascender ao saber.
O universo não é para a Kabalah apenas o que nos rodeia, inclui a nós mesmos dentro
dele, e a sacralidade que aquele possui é também nossa, assim como os canais e meios através
dos qual tudo se comunica.
O gesto, a posição, a palavra, o movimento, as funções estão todas envolvidos e
comprometidos nesses elementos fundamentais.
Diziam os kabalistas que um bom Mohel [19] pode conhecer nesse momento o destino
da criança e o que o rodeia (sua aura). Para os kabalistas nada pode ficar fora, porque não existe
fora.
Nessa totalidade cada elemento adquire uma nova dimensão em função do todo. Não
tem privilégio à razão, nem tão pouco a emoção. O comer ou o dormir, o observar um pássaro e
seu vôo, o introduzir-se na água para tomar um banho, tudo tem sua importância, sua
sacralidade.
A noção de língua sagrada e de livros sagrados, não pode ser separada do contexto que
acabamos de descrever.
O oriente, o Egito, o Judaísmo, têm essa noção que inclui o campo da sacralidade. O
cristianismo tomou o latim nesse sentido, que dá um valor absoluto e supremo a linguagem, esta
já não é um sistema de signos convencionais, mas um sistema simbólico de comunicação do
homem com o divino.
B. Spinoza mostra como a Kabalah aplica essa noção de língua sagrada na relação de
letras, vogais, acentos e melodia da língua hebraica.

RELIGIÃO:
A etimologia da palavra “religião” é discutida. Mas na visão moderna se interpreta
como recolher, reunir, o que parece estar mais vinculado com o sentido comum entende-se por
religião.
Em hebraico existem duas palavras que se associam numa comparação superficial.
Dat, que significa lei, estatuto, ordem, decreto, uso, mandamento, piedade, além de
religião.
Emunah, que quer dizer firmeza, constância, fidelidade, verdade, lealdade, crença, fé,
confiança, consciência, segurança, sinceridade, estabilidade, graça, tranqüilidade, palavra de
honra, integridade.
Estamos na presença de termos que vão muito mais longe que o mero reunir da palavra
latina religare.
Enquanto leis divinas e usos e práticas em função dessas leis, enquanto características
humanas que formam o terreno ético onde aquelas devem encontrar morada a religião não têm
conflitos com a Kabalah.
Ambos os termos expressam o desenvolvimento da consciência do iniciado e sua
capacidade de ser instrumento da ordem superior e divina. Dat, Emunah, representa o duplo
aspecto do divino: o ético e o energético (criador) que não se podem separar. A consciência ética
sem energia está condenada a ser simples contemplação e a energia sem consciência está
destinada a ser uma força sem finalidade, amorfa e bestial. A expressão mais gráfica desse
paradigma foi dada por Ezequiel, com sua expressão “coração inteligente”.

COSMOLOGIA:

O estudo do cosmos e em particular de sua gênese (cosmogonia) nas culturas da


antiguidade, e nas consideradas “primitivas” é abordado por nossa mentalidade moderna como
narrações mitológicas, carentes de realidade, no máximo simbólicas de uma realidade
psicológica para aqueles que compartem os conceitos da psicologia profunda.
Quando na atualidade se faz referência ao “mito da criação” no antigo Egito ou à “lenda
da ilha do Ka”, as palavras entre aspas indicam nossa postura frente a essas narrações que
determinam uma má tradução do que elas contêm, uma vez que só conhecemos parcialmente um
dos termos da igualdade: sabemos a linguagem, que é utilizada, mas não sabemos a que realidade
está se remetendo o relato.
Do mesmo modo se fala dos mundos na teoria das emanações divinas (os quatro mundos)
sendo que eles só estão representando conceitos, idéias em nosso intelecto, informações nas
quais não acreditamos que existam elementos verdadeiros.
O kabalista, através de sua meditação na criação do universo, não realiza um processo
de penetrar simplesmente. Em verdade, o desejo de experimentar, de vivenciar é um processo
que é essencialmente energético, onde a igualdade microcosmos-macrocosmos é vivida
realmente.
A Kabalah prática, a meditação nos nomes divinos, as combinações de letras, são passos
na ascensão do homem à compreensão da criação e no esforço de cumprir com “a imagem e
semelhança” que o homem tem com seu criador.
O símbolo sempre expressa uma energia seja na ciência ou na mística, na psicologia ou
na física e a Kabalah nunca esteve alheia a ele, a ponto de que com os elementos de seu sistema
(o alfabeto) abrange realidades do corpo, da alma ou da natureza em uma unidade que a ciência
atual não consegue alcançar.

MISTICISMO:

“Místico é aquele ao qual se concedeu uma expressão imediata e sentida como real da
divindade”. [20]
A etimologia da palavra “místico” deriva do grego “mysticós”, que provém de
“mysités” e esta de “myein” que significa “fechar”, ou, “estar fechado” com o qual se faz
referência a algo essencial da experiência mística: ela é algo essencialmente incomunicável,
inexpressável em palavras, é algo realmente fechado.
Os místicos que tentaram formular ou expressar suas experiências não conseguiram
mais que alusões fragmentárias, quando não balbucios do que lhes aconteceu. Muitos livros
foram escritos sobre a experiência mística, mas, esta é algo que “se concedeu” a um indivíduo.
Não existem receitas para obtê-la, sua morfologia é de uma plasticidade infinita, está configurada
por diversidade de luzes, sons e sensações corporais.
Em hebraico, a palavra correspondente a “mística” é “Hohmat hanistar” que quer dizer
sabedoria secreta.
Nistar provém de NSTR que quer dizer segredo, oculto, misterioso e milagroso. No
antigo Egito temos a palavra NTR como a representação de uma força oculta.
Pode deduzir-se legitimamente que o místico é aquele que teve uma experiência direta
do divino, que tocou algo secreto, algo milagroso e que, mesmo depois dessa experiência, aquilo
continua secreto, visto que na medida em que o místico não pode comunicar sua experiência, ela
é alheia e desconhecida para quem não a teve e milagrosa para quem a vê de fora.
Se a Kabalah fosse somente um aspecto da religiosidade egípcia antiga, hebraica ou
cristã, não teríamos mais nada a fazer do que nos aprofundar no que foi dito até agora. Mas a
Kabalah é e esta além dos estados místicos que os kabalistas possam ter.
Nosso estudo se direciona no sentido de mostrar que todas estas culturas desenvolveram
místicos da Tradição, que tiveram vivências sagradas e adquiriram experiências e
conhecimentos, fruto da comunhão com o divino. Todos devem ser admirados e respeitados
como seres espirituais e irmãos da tradição.
Os estudos e as práticas iniciáticas preparam o discípulo para desenvolver sua Kevanah
[21] o instrumento para atingir o êxtase. Por isto todas as práticas e exercícios que ajudam esta
arte são de suma importância no desenvolvimento do discípulo. Quem queira ter a experiência
mística do êxtase deve-se preparar física, mental e espiritualmente para ela, é nesse ponto que a
presença do mestre se faz importante.
A Kabalah como nós a entendemos é um corpo de conhecimentos, o que nos leva a
continuar o texto em outra linha, onde as práticas e os estudos acompanham o discípulo, que
agraciado com seu misticismo avança no seu caminho.

A FORMAÇÃO INICIÁTICA:

Elementos necessários para a formação do discípulo:


Existem vários elementos que são básicos para a prática do misticismo e a formação
iniciática, sem os quais o discípulo não consegue evoluir:
a) A “Emunah”, a Fé:
A fé sentida representa o diálogo com o criador, sentir sua presença aqui e agora, viver
“em confiança com Deus”. A fé é uma arte e um treinamento em determinadas experiências
espirituais que nos levam aos primeiros passos da comunhão.
A própria fé Emunah se transforma numa experiência de mudança espiritual que se
torna real quando percebemos a existência de Deus em todas as coisas. Desta forma sacralizamos
a existência e encontramos uma fé que se fundamenta na certeza.
A procura espiritual do místico se une com a Fé e este com um compromisso. O saber
exige um compromisso com o caminho e isto representa colocar o saber em ação. O saber e a
ação nos levam a um novo desafio, o de procurar o equilíbrio de um mundo que surge
internamente, e aquele no qual habitamos. Estes dois mundos: o espiritual, e o físico, têm suas
leis, princípios e necessidades que às vezes podem ficar opostas.

b) O verdadeiro Poder:
Nos cursos que dou de Kratologia tento preparar as pessoas para que consigam ter as
bases de formação de qualquer Iniciado na Tradição. (livro “As ciências Sagradas dos Antigos Egípcios”).
Ter Poder sobre nossas vidas é condição básica para se libertar e obter um mínimo de
opções para poder praticar o misticismo.
Todo mestre antigamente exigia a seu discípulo:
“Se quer estudar o divino, deixa tudo, e me segue”.
Esta exigência surge da necessidade do discípulo se integrar plenamente aos estudos e
experiências místicas sem poder se preocupar com os problemas do mundo (amores, família,
finanças, saúde). Aquele que quer realmente seguir o caminho da Tradição tinha um custo alto a
pagar, como a entrega espontânea de tudo aquilo que lhe dava segurança.
Surgia assim nessa relação mestre-discípulo um novo homem com outra identidade e
outros valores sobre a vida, a morte, o sagrado e Deus.
O discípulo, antigamente, se entregava ao Templo, a seu Mestre, a seu ideal, sem
roupas, sem dependências, sem medos, dono de si mesmo. O que certamente facilitava seu
percurso.
Quando falo hoje de Poder, no processo de formação do iniciado, quero que se entenda
que o místico em nossa realidade pode aceder ao conhecimento sem deixar as conquistas de sua
vida de lado. Temos responsabilidades com a sociedade, com a família, com o trabalho, que não
precisam ser deixadas para traz para seguir nenhuma idéia ou prática mística.
Os estudos da tradição e a formação mística do discípulo devem prepará-lo hoje, para
saber atingir o meio termo das coisas e poder evoluir sem machucar ou agredir as pessoas que o
rodeiam. Às vezes, amigos, parentes, pessoas amadas que não o acompanham no caminho
espiritual podem sofrer desnecessariamente por mudanças e transformações.
A kabalah não exige do discípulo mudanças externas, mas uma transformação interior que
pode ser conseguida, sem destruir nenhuma realidade, ou pelo menos sem agredir aquilo que
criamos até agora.
Não podemos negar nossa história de vida, como muitas religiões têm feito para tentar
adquirir uma nova identidade. Cortando com o passado matam ou negam suas origens de igual
forma que um filho pode negar seus pais para ele se sentir mais importante que seu progenitor.
O aspirante à iniciação procura desenvolver uma estrutura de poder interno e externo que
lhe permita aceder à evolução mística dentro de um equilíbrio com seu mundo.

Neste desenho, enxergamos uma das representações mais antigas sobre a


árvore da vida, onde percebemos o Rei como arquétipo do iniciado. Esta imagem deixa mais
clara a necessidade de independência, liberdade e poder sobre si mesmo que o discípulo precisa
para atingir seu estado de Debekut. [22]
Acredito que devemos nos apresentar frente ao Criador como filhos dispostos a se
entregar com fé ao destino que ele nos propõe. Estes são os exemplos que nos deixam
Amenophis IV, Moises e Jesus. Os três líderes e Reis de seus povos que ficaram ao serviço
exclusivo do verdadeiro criador e seu reinado.
Entendo que o reinado e a coroa, são presentes que nós devemos entregar a Deus. Estes
são os símbolos do homem maduro, sem dependências, sem medos, pronto para enfrentar o
desconhecido, um verdadeiro Iniciado na Tradição.
O presente que Deus pode dar ao homem é um sentido para sua vida, um motivo, uma
missão para carregar a coroa e servir o verdadeiro reinado, a humanidade.
O Iniciado não pretende que todo mundo seja místico. O misticismo é uma qualidade
inerente ao espírito humano, mas a ausência absoluta do misticismo na humanidade converteria o
homem numa besta absolutamente instintiva, sem história e sem destino.

c) A transmissão da tradição:

A fórmula de estudo que se seguia nos Templos antigos se transformou e evoluiu por
séculos. A aprendizagem dos símbolos, a escrita, os cânticos, exercícios, invocações, a liturgia e
os rituais evoluíram com o passar do tempo e se aperfeiçoaram.
Os rituais iniciáticos de morte e ressurreição, alguns deles sangrentos, passaram a ser
absolutamente simbólicos. Os Templos egípcios formavam seus sacerdotes e escolhiam entre
eles alguns que tinham se sobressaído nas provas, para a aprendizagem dos segredos ocultos da
Tradição.
A perseguição e a queda dos sacerdotes e iniciados nas religiões e Templos egípcios deram
lugar à formação de discípulos da tradição peregrinos, que seguiam seus mestres iniciadores
onde eles estivessem.
Desta forma surgem as primeiras histórias das árvores sagradas:
Os mestres e seus discípulos que na maioria das vezes não tinham lugares definidos de
estudo, Templos ou casas, utilizavam-se dos lugares que a própria natureza lhes oferecia.
Grandes, velhas e frondosas árvores transformavam-se em lugares de reunião de mestres e
seus discípulos. Sentados a seus pés, embaixo da proteção de sua sombra, os antigos galhos
serviam ao mestre de exemplo para ensinar os mistérios da tradição.
A misteriosa força da árvore provinha de suas raízes, extraída da própria terra, suas forças
ocultas davam vida a majestosa criatura vegetal. Uma outra árvore invisível de raízes estendia-se
debaixo de seus pés e provia a copa de frutos e a vida, o que está embaixo é o mesmo que o de
cima.
Os antigos não tinham outros elementos para comparar a ordem cósmica, não existiam nas
suas mentes, imagens tridimensionais da molécula ou outros modelos da física atual. Para eles
nada representava melhor a idéia de macro e microcosmos que a imagem por inteira de uma
árvore.
Assim a árvore, igual ao homem e o universo surge de um mundo imperceptível para o
olho humano. As raízes (malkut) davam vida ao reino. Assim o universo, os planetas e os Deuses
eram como as raízes ocultas de uma árvore que dava vida à natureza e aos homens.
Quando o mestre ensinava os conhecimentos que serviam: a criação, a vida, a saúde,
mostrava o lado direito da árvore, e seus galhos determinavam suas ciências. Quando falava: dos
conflitos, da morte e a enfermidade, mostrava o lado esquerdo da frondosa árvore, e cada galho
levava as origens de tais situações.
Assim aula traz aula, ano após ano, os galhos da árvore se transformavam em veredas de
conhecimento. Com o passar do tempo, seus discípulos para se lembrar da sabedoria do mestre,
reviam em suas mentes a forma da velha árvore, que lhes serviu como um Templo e por sua vez,
como o livro sagrado da natureza. Assim nasce a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Com o passar dos séculos estes mestres deram lugar ao nascimento dos Jeder Aboda
(locais de estudo), Lojas e Fraternidades com seus métodos específicos de formação iniciática.
Alguns destes lugares surgem em momentos de perseguição religiosa e juntamente com
a necessidade de se preservar de um mundo que não tinha compreensão para este nível de
conhecimento e aprendizado.
As fraternidades desenvolveram métodos específicos para formar os discípulos, gerados
em milhares de anos a traves dos Templos, dos mestres da natureza e agora dentro de estruturas
organizadas e evoluídas.
Muitas de estas instituições existem até hoje, como: a Maçonaria, os Rosacruzes, o
Martinismo, os Templários e as próprias lojas Kabalistas dentro das quais, eu mesmo estudei e
me formei.
Tenho que reconhecer, que o estudo e o aprendizado dos conhecimentos da tradição,
assim como as práticas místicas que ela nos exige não teriam como ser ensinados sem a estrutura
organizacional e pedagógica destas instituições.
Com certeza quem procura à tradição, sozinho, vai ter suas experiências e adquirirá algum
conhecimento, mas só dentro de grupos iniciáticos podemos desenvolver e crescer. O estudo
místico passa pela provação espiritual, moral e pela convivência com outros seres.
Nossa cultura mística ainda está muito poluída com idéias pedagógicas de formação
intelectual. A maioria das pessoas entende que o estudo e a formação iniciática podem ser
adquiridos por meio de cursos e programas de estudo. Devemos entender que é possível obter
informações intelectuais sobre uma ciência, mas para chegar a um conhecimento precisamos
pensar como iniciados, algo muito difícil num mundo imediatista.
O desenvolvimento dentro de uma loja sempre é individual porque a experiência é única e
pessoal, mas para chegar a ela e evoluir precisamos transitar pelo grupo, adquirir uma fé, um
poder pessoal e aceitar as antigas fórmulas de ensino dos Templos.

O Mestre:
Os antigos mestres sabiam que cada discípulo tem um destino no mundo. O conhecimento
que o mestre passa está unido à fonte do ser e vai passar primeiro pela emoção, para que assim,
fique na memória para sempre.
Estudando os métodos de formação iniciática, percebemos uma estrutura sutil e simbólica,
que motiva as cordas íntimas da alma humana. As forças do bem e do mal, o amor e o ódio, se
misturam nas mãos do mestre, e transformam o discípulo num “novo homem”, livre de
preconceitos, medos e ilusões.
O mestre tem o trabalho de desmoronar aos poucos os dogmas de cada discípulo, para
poder atingir uma nova verdade que lhe dê acesso ao verdadeiro conhecimento. O trabalho do
mestre é representado dentro das ordens kabalistas pelo símbolo do martelo, a ferramenta que
serve para tombar e após construir.
Nas Lojas e Fraternidades Iniciáticas existe uma estrutura organizada com: fiscais,
instrutores, administradores, que ajudam o mestre neste serviço. Se antigamente um mestre
poderia ter dez ou doze discípulos no máximo para preservar a qualidade do ensino, hoje com as
novas estruturas podem ser formar dezenas e obter qualidade na transmissão da Tradição.
Por este motivo, recomendo aqueles que querem aprofundar e evoluir seus conhecimentos
das Ciências Sagradas ou ocultas, que procurem lugares que tenham boas referências na
formação de discípulos.

A Iniciação:
A Iniciação é um compromisso que o discípulo da tradição estabelece frente a seu mestre,
não com seu mestre. A importância de unir-se simbolicamente ao estudo estabelece o início do
compromisso pessoal do discípulo com sua ciência.
No processo iniciático, o discípulo passa por um período de aspirante, onde estuda as
tradições do grupo e se prepara para assumir o compromisso sem dúvidas, perguntas, mas com a
certeza que sabe o que quer.
Liberar o discípulo de suas interrogações e prepará-lo para o desconhecido leva um tempo
variável que depende da formação de cada um, mas nesse tempo, o aspirante começa a ter acesso
aos mistérios e ao conhecimento dos símbolos e da linguagem Iniciática.
Quando a iniciação se dá, ela se torna espontânea, como o namoro que leva ao casamento
de duas pessoas que se amam e sabem o que querem, uma coisa é conseqüência natural da outra.

O símbolo fundamental desta união é o cordão que o mestre coloca na cintura do discípulo
no momento da aceitação do compromisso. Faz um nó, que este representa a união com o
sagrado.

O nó continua sendo sagrado através do tempo. Ele amarrou as cinturas dos mais antigos
discípulos da tradição em diferentes lugares do mundo. Este nó e seu cordão continuam puxando
o céu e a terra são a força que unem o espírito e a matéria, os Deuses e os homens até hoje.
MESTRES E PRÁTICAS DA KABALAH NA TRADIÇÃO HEBRAICA

AS FONTES

Quando nos interessamos por um assunto, o primeiro passo a ser dado é procurar as fontes
onde possamos nos inteirar do alvo de nosso interesse. Em relação à Kabalah, isso se torna
um problema particularmente difícil, porém é ao mesmo tempo apaixonante.
Tomamos como exemplo um episódio que teve grande importância nos meios
católicos e que servirá para ilustrar a consideração que confere à investigação das fontes.
Em certo momento, há aproximadamente cinqüenta anos atrás, descobriu-se um rolo
que continha a versão mais antiga, conhecida até o momento, das profecias de Isaías. Sua
compra se tornou uma disputa da qual a Igreja participou de forma muito ativa, pois o
conteúdo desse rolo [23] poderia colocar em risco o fundamento profético de uma de suas
doutrinas fundamentais.
Um exemplo não tão dramático, mas não menos interessante é oferecido pelos
psicanalistas e suas discussões em torno da obra de Freud, textos que são objetos de análise
detalhada na procura de seu sentido exato - semelhante à exegese bíblica. E que só é possível
através da leitura da obra em sua língua de origem, o alemão.
Estes exemplos podem nos dar uma idéia da importância que tem para o estudo do
misticismo egípcio, hebreu ou cristão, o conhecimento dos idiomas em que foram
registrados. Quanto menor for o conhecimento de idiomas, mais restrito será o acesso às
fontes escritas originais, que são, por outro lado, as únicas fontes escritas verdadeiramente
confiáveis.
Quanto a fontes escritas de segunda mão são as que estão ao alcance do público. Os
originais se encontram em museus, bibliotecas e coleções e seu acesso é praticamente
vedado, exceto a especialistas e investigadores acreditados.
As fontes em idiomas modernos: Inglês, Francês, Alemão, Espanhol, e em menor grau,
Português - que conta com poucas edições sobre a matéria, são as que nos permitem uma
abordagem destes tópicos sem perder a seriedade de nossa intenção, no entanto, temos que
assumir o risco da tradução.
Um exemplo explicará melhor o que acabamos de dizer. O livro do Zohar circulou
em exemplares manuscritos até o ano de 1.559, data de suas primeiras edições. Seu conteúdo
está escrito em um aramaico muito difícil que só alguns eruditos conseguiram decifrar. Com
o passar do tempo, foram feitas edições em índice: alemão, inglês, francês, hebraico
moderno e espanhol. Muitas das quais, não são sequer edições completas. Trata-se em
muitos casos de seleções, fragmentos, e em outras edições foram omitidos títulos e outros
detalhes originais.
Até aqui fizemos algumas considerações sobre as fontes escritas. As fontes orais por
sua vez e ainda que pareça óbvio implicam fontes vivas.
No entanto, fontes orais e fontes vivas nem sempre são iguais. As fontes orais referem-se
à transmissão por meio da voz, mensagem que assume a forma de relato e canto
fundamentalmente. No entanto, a fonte viva não só inclui todas as outras manifestações da
conduta humana como também se refere à própria vida e suas expressões. Quem tiver visto
uma águia ou uma cobra poderá enriquecer seu conhecimento sobre estes animais mais do
que aprendeu sobre seu simbolismo em forma oral e escrita; o que se sente frente ao mar é
muito mais que uma simples ajuda para compreender o “oceano primordial”.
As fontes orais estão sendo revalorizadas pelos historiadores contemporâneos a
ponto que a História Geral da África [24] inclui um capítulo sobre a tradição oral e as fontes
vivas.
Nós ocidentais, apegados ainda a uma alta dose de etnocentrismo e cientificismo,
deveríamos aprender como o fato de que a África conserve vivo, o que foi durante toda a
história do homem, um modo de aprendizado ou um modo de estar no mundo. Toda a
antiguidade se construiu sobre a base da tradição oral, embora existisse a escrita.
Nem o mais claro hieróglifo egípcio se esgota no evidente. Enquanto ideogramas
podem ser entendidos teoricamente por qualquer um, mas como símbolo de múltiplo
significado, como mensagem, torna a transmissão de mestre a discípulo indispensável.

O misticismo hebraico.
Neste texto, vou incluir uma soma de relatos, experiências e práticas místicas de fontes
escritas dentro da Kabalah hebraica. Acredito que estes textos e autores podem nos ajudar a
“entender” a experiência mística da Kabalah dentro da cultura hebraica. Com a alma
limpa através das práticas espirituais centradas na consciência e no caminho da perfeição, o
místico hebreu está preparado para refletir uma visão do absoluto. O místico da Tradição não se
sente mais uma criatura mínima, insignificante, separada em tempo e espaço de seu Criador,
agora vê Deus como seu amigo querido (dodi). Mesmo nesse nível elevado, o amante aproxima-
se de seu objetivo em estágios; a interdependência da cadeia inteira de mundos ao longo da
Árvore Cósmica lhe permite trabalhar com o Amor que ele obteve, com o despertar da
Consciência para o conhecimento de Deus. Sua Idéia e Seu Mundo são Um. Portanto no
microcosmo correspondente de sua própria alma, o pensamento, a fala e a ação do místico
podem ser unificados como Um. Esvaziado de seu ego fica livre para criar novos mundos em
cada inspiração e destruí-los em cada expiração. [25]
As sagas no círculo do Rabi Akiva na academia judaica de estudos em Yavneh, no
primeiro século da Era Comum, relatam que se empregavam viagens "visualizadas" através das
esferas, para induzir estados estáticos. Desenhados para levar adiante o místico em sua paixão e
desejo de conhecer Deus, esses exercícios contemplativos enfatizavam excursões mentais através
de lugares celestes e elaboradas visões do Trono ou da Carruagem de Deus.
Para vivenciar a experiência mística da árvore da vida alguns Mestres da tradição como
Luria e Kaplan nos propõem meditar profundamente nos nomes dos Sefirots e nas cores que as
representam.

No próprio Zohar e outros livros de Kabalah mencionam estas


cores, mas devemos compreender que a cor física é diferente da cor astral que entra em outro
conceito. Assim, devemos saber as posições corporais e a pronúncia correta de cada palavra
(Coaj) para produzir um estado mental certo.
Cores:
Malkut é verde, negro.
Yesod é roxo.
Hod é verde, bege.
Netzaj é cobre.
Tiferet é dourado.
Hesed é azul.
Guevura é vermelho.
Hohma é cinza.
Binah é preto.
Keter é transparente.
Em livros tais como: Ezekiel, O Hekhalot Menor e o Maior, Merkabah Rabbah, Shiur
Komah e o Livro de Enoch, delineam-se várias meditações Judaicas, Persas e Gnósticas, de
modo que os mais ardentes e impecavelmente preparados iniciados pudessem praticá-las.
Rabi Akiva os avisava para não serem enganados pelas ilusões, que suas mentes
inevitavelmente iriam criar durante estes estados altos de consciência; que apenas os olhassem,
mas não amassem as suas próprias projeções.
Utilizando os Salmos como livro guia para as visualizações de Deus, estes místicos,
encarnavam graus ascendentes de conscientização em imagens concretas que eventualmente
perdiam as suas formas e se transformavam em pura luz.
O autor do Hekhalot Menor [26], assim como o Rabi Akiva, também prevenia os viajantes
contra imagens criadas por suas próprias mentes: Sagas como a do Rabi Hananel [27]
relatam que ele rezava, e passava por procedimentos rituais de limpeza antes de sentar para
contemplar as Salas do Palácio de Deus. Uma vez lá, eles viam os Anjos Guardiães, a estrutura
dos Mundos, e até mesmo o Aravot. [28]
Outra saga do século XI relata que o Rabi Nathan ben Yechiel dizia que toda a jornada
meramente acontece na mente do que medita. Fixando sua atenção na Coroa da Árvore Cósmica
e no topo de sua própria cabeça, o místico torna-se capaz de ver as Salas do Palácio de Deus, as
hostes Angélicas, e os seres elevados que habitam os domínios da inconsciência humana.
Rabi Hai Gaon[29] estava mais interessado na natureza do homem, que ousa aspirar essa
jornada. Ele aconselhava seus seguidores a se afastar destas formas de contemplação, assim
como o Rabi Akiva, enquanto não tivessem experimentado a sabedoria divina.

"E Deus deu a Akiva vida e tudo o que ele entreviu, ele pensou pensamentos
adequados com conhecimentos adequados". As visões místicas por si próprias, conclui Rabi Hai
Gaon, são verdades históricas, sucessoras de uma longa tradição de transformações visionárias,
experimentadas por santos bíblicos e profetas, em estágios elevados de
consciência.
(representação da árvore da vida formada pelo tetragramaton)
Essencialmente centrados em dois símbolos, O Palácio de Deus e Seu Trono ou
Carruagem, estas "subidas" e "descidas", nunca se tornaram propriedade do homem comum. Os
místicos que praticaram estas técnicas entre os anos 200 a.C. e 200 d.C, eram usualmente
professores, que antes de mesmo começar estas práticas, eram completamente versados na
Tradição intelectual e mística de Israel. Além disso, eram perfeitamente aderentes aos preceitos
da Torah em sua vida cotidiana e tinham atingido um estado de santidade, que lhes conferia o
direito de iniciar esta jornada. Temos aqui uma prática realizada naquela época tirada de
um papiro do século XIII.
“Tudo pode suceder quando uma pessoa está desperta e todos seus sentidos estão
anulados, enquanto as letras do nome divino ante seus olhos em cores reunidos”.
“Às vezes ouvira uma voz, um vento, umas palavras, um trovão ou um ruído em seus
ouvidos. Assim poderá ver com sua mente e com seus olhos, sentirá cheiros com seu nariz,
degustará, caminhará e levitará. Tudo isto, enquanto as letras estão ante seus olhos e suas cores
as cobrem”.

Nesse texto mágico encontramos uma prática para o Tzadik desenvolver um


estado profético:
“Quando vocalizares a palavra kevarekha visualiza no pensamento as letras do
tetragramaton num círculo ou esfera de cor vermelha. Assim teu pensamento realiza inúmeras
coisas”.
A partir das descrições e de suas experiências, nós visualizamos um mundo repleto de
"criaturas vivas de fogo que enchem o mundo de alegria", e canções que somente os iniciados
puros podem ouvir sem arriscar suas vidas.

Depois de passar por sete estados de consciência, que precedem a


primeira visão do Hekhalot [30], o místico atravessava mais sete "céus" antes de chegar ao Trono
de Deus. A visão, usualmente culminava aqui com a forma projetada de um homem cósmico
pousado sobre um brilhante assento de glória.
O Caminho não era sem obstáculos. Para pacificar os guardiões que tentavam barrar o seu
caminho, o iniciado carregava "selos" contendo os nomes de Deus que correspondiam a Seus
Atributos: Compreensão, Julgamento, Amor-Delicadeza, e assim por diante. Quando se sentiam
distraídos pelos guardiões (projeções psicológicas que podiam se manifestar de forma sedutora
ou horripilante), o iniciado visualizava o "selo" e simultaneamente pronunciava o nome
apropriado. Por exemplo: "Adonai". Caso o meditador desejasse obliterar uma imagem
aterrorizante, ele meramente visualizava a esfera na Árvore Cósmica pintada de vermelho
brilhante e repetia "Adonai" até que a imagem horrível desaparecesse.
Na sua qualidade de Mestre da Merkabah (Misticismo do Trono), Rabi Akiva escreveu
diversos manuais de instrução para indução do êxtase místico. Estes tomaram a forma de
literatura esotérica da secção de Criação do Gênesis, o Cântico dos Cânticos e o Shiur Komah
[31]. O último destes, segundo Akiva, preparava o místico para uma visão, inicialmente do
Haluk [32] e posteriormente à própria glória.
O ritual chamado "colocar os Nomes" consistia literalmente de vestir o iniciado com uma
túnica com os diversos Nomes de Deus escritos. O místico da Merkabah utilizava esta túnica,
que servia como lembrança externa, ao se introduzir na meditação, absolutamente sem distração,
sobre os Nomes que o levaria a encontrar a experiência visionária.
Vestido em sua túnica sagrada, cujas características estão cuidadosamente detalhadas em
outro manual do primeiro século - Sefer Ha-Malbush [33], o místico estava realizando a metade
física da experiência contemplativa que não podia ser realizada pela mente sozinha. "Vestindo" e
conseqüentemente "encarnando" os nomes tornava o místico mais "poderoso" para sua
meditação.
Vamos ler o comentário de Rabi Akiva tendo jejuado, orado, vestindo a túnica dos Nomes,
após ser imerso no banho ritual, enquanto ascende os níveis de consciência para o Hekhalot .
]- Quando subi para o primeiro palácio: eu era Hasid (Devoto), no segundo palácio: eu era
Tahor (Puro), no terceiro: Yashar (Sincero), no quarto: eu era Tamim (com Deus), no quinto: eu
mostrava santidade perante Deus, no sexto: eu falei a Kedushah (Santificação) perante Ele, que
falou aos Anjos Guardiães que não me molestassem, no sétimo palácio: eu me mantive ereto com
todo o meu poder, e tremendo, disse a seguinte oração:
- “Louvados sejam aqueles que são exaltados, louvados sejam aqueles na sublime
câmara da grandiosidade".
Akiva emergiu de sua visão do Trono de Deus um homem transformado. Ele podia agora
meramente ao olhar uma pessoa, saber se era adúltero ou assassino; ele tornou-se mestre sobre a
natureza; um santo, ele era distinto de todos os outros homens por sua bondade e por seu
julgamento sobre as leis.
Rabi Ishmael, [34], um mestre da tradição da Merkabah, apresentou aos seus
companheiros uma lista de cânticos projetados para evocar o estado visionário de consciência no
qual, o Trono de Deus aparecia. Com base em suas próprias experiências, Rabi Ishmael esboçou
para seus discípulos um quadro cuidadosamente pintado sobre a quem eles deveriam confrontar e
como deveriam reagir.
- “Eu imediatamente levantei e levei todo o grande Sanhedrin[35] e o pequeno Sanhedrin
para o terceiro grande salão da casa de Deus. Sentei-me em um sofá de puro mármore que me foi
dado por meu pai Elisha. E então vieram Rabi Shimon ben Gamiel, Rabi Eleazar o Grande, Rabi
Eleazar ben Dama, Jonathan ben Uziel, Rabi Akiva, Rabi Yehudah ben Bava. Nós viemos e
sentamos perante “ELE”, e toda a massa de companheiros ergueu-se em seus pés, pois viram
torrentes de fogo e chamas de luz separando a nós dele. E o Rabi Nehuniah ben Hakana sentou e
arranjou ante eles as palavras da Mekabah, sua descida e subida, como um que desce deve fazê-
lo e como se deve subir”.
Quando alguém quer descer deve chamar Suryah, [36] ligando-se a ele por recitar cento e
vinte vezes um cântico, usando os Nomes: Totrosyai: Totrosyay, Tzurtek, Tutrcyal, Tofgor,
Ashruylyay, Zvudial, Vzlterriyal, Tendal, Shuked, Hozya, Yemryon, Vadiryron.
Alguém deve dizer isto apenas cento e vinte vezes, ou pode morrer. Se isto é feito
corretamente, ele desce imediatamente e assume grande autoridade sobre a Merkabah. Dividindo
os dedos da mão na forma utilizada pelo Grande Sacerdote (do Templo) e pronuncia os Nomes.
Assim, como mostramos nestes pequenos exemplos, desde a Idade Média a Árvore
Cósmica da Vida com as suas dez esferas, ou atributos divinos, tem sido a imagem central da
meditação kabalista. Mesmo que alguns mestres tenham adaptado os "sete Céus" da mística da
Merkabah do primeiro século, igualando-os aos sete ramos mais baixos da Árvore, a maioria dos
kabalistas focaliza sua atenção na própria Árvore simbólica. Com suas luzes internas,
cores correspondentes, metais e nomes divinos, a Árvore por si só é suficientemente complexa.
A atitude dos místicos quando se aproximam da meditação sobre as esferas prova a eles próprios
que este é o seu objetivo final, tão certamente quanto foi a sua reverência. [37]
“Quando Deus deu a Torah a Israel, ele abriu sete céus a eles, e eles viram que nada estava
realmente lá além de Sua Glória. Ele abriu os sete mundos para eles, e viram que nada estava
realmente além de Sua Glória. E ele abriu os sete abismos perante os seus olhos e eles viram que
nada estava lá além de Sua Glória”.
Medite sobre estas coisas e você entenderá que a essência de Deus está ligada e conectada
a todos os mundos, e que todas as formas de existência estão ligadas e conectadas umas às
outras, mas derivam de sua existência e de “Sua Essência”. [38]
Dentro deste espírito, o místico preparado para escalar a Árvore, confronta os mundos,
experimenta as ligações dentro de sua própria pessoa, e vem para a experiência direta no terreno
divino, sobre o qual todo o esquema reside.
A esfera de Malkhut (Adonai) representa o mundo da Matéria (Assiah). Yesod (El Hai ou
Shaddai), Netzah (YHVH Zevaot) e Hod (Elohim Zevaot) combinam-se como o mundo Pré-
manifesto do Espírito (Yehidah). Tifereth (YHVH), Hesed (El) e Gevurah (Elohim) formam o
mundo da Criação (Briah). Enquanto que o mundo de Hokmah (Yah), Binah (Elohim) e Kether
(Eheyeh), são o próprio domínio da divina imanência (Atziluth).
Subindo então, mentalmente em direção a sua fonte, o místico transversa uma miríade de
universos personificados em dez esferas, assim como quatro mundo arquetípicos, os sete Nomes
Divinos e inumeráveis "faces" na Árvore. [39]
Na culminação de todo o trabalho devocional, contemplativo e visionário, sobre a
ascensão, o guia dos guias é o Zohar. Um massivo compêndio de histórias e exegeses Bíblicas,
este livro decodifica a Torah Esotérica e apresenta ao devoto como um mapa detalhado do
terreno visionário que ele irá explorar ao longo da Árvore.

"Quando abri o livro do Zohar, eu segurei todo o Universo". Diz o Baal


Shem Tov. E ele queria dizer isso mesmo, literalmente...
A ÁRVORE DA VIDA

A árvore da vida, em hebraico Etz Hajaim é a mesma que narra a Bíblia, da qual foram
feitas infinitas interpretações. A Bíblia mostra a existência de um paraíso[40] em cujo centro se
encontra a árvore da vida conjuntamente com outra a Etz Hadat, a árvore do conhecimento.
Existe também um caminho o "dereh etz hajaim", o caminho até a árvore da vida que é guardado

por um anjo com uma espada de fogo.


A árvore da vida está constituída por dez elementos explícitos, um não manifesto, e fora
dele, outros três elementos que indicam três graus do infinito. No total, estão envolvidos
quatorze elementos nos diagramas que se conhecem da árvore. Este número quatorze se percebe
também nos quatorze pedaços de Osíris espalhados pelo mundo em sua lenda na tradição
egípcia.
Os dez elementos são considerados segundo um ponto de vista duplo:
a) Um ponto de vista divino, pelo quais os dez elementos seriam emanações, ou momentos
da criatividade divina.
b) Um ponto de vista humano, que mostra as fases de seu desenvolvimento místico e o
processo de sua transformação ou de sua reintegração com o divino.
O primeiro seria de cima para baixo e o segundo de baixo para cima.
O décimo primeiro elemento se faz aparecer, em geral com linhas pontilhadas que lhe
tiram o caráter formal dos outros dez, mas que fazem notar sua existência.
Os três graus que a Kabalah representa sobre a árvore estão indicando os elementos mais
abstratos “mais próximos a Deus”, ou mais “essenciais” a Deus, para tentar explicá-los. Já não
estão na árvore, estão além, e o desaparecimento de uma palavra em cada nível quer indicar um
processo de concentração, de aproximação a um mistério irredutível a um “Nada”.
Estes três graus representam para a Kabalah os pontos mais distantes que o homem pode
chegar à percepção do divino.
Esta estrutura de manifestações divinas por um lado, e de graus de elevação mística do
homem de outro, tem sido representada de diferentes maneiras, como diagrama, sobrepostos à
figura humana, em forma circular, identificando-se com os braços, com o Aleph, o tronco e pé da
Menorah.
Seja qual a forma de representação, seu simbolismo não se esgota na análise e meditação
sobre cada nome atribuído aos caminhos. A árvore é “de vida” e só na própria vida se encontra
sua realidade última.
Quem considere que este simbolismo é mera especulação, está subestimando as coisas.
Nenhuma faceta da Kabalah pode ser isolada da vida e da prática, pois ao contrário, ficaríamos
somente com uma erudição intelectual que separada das energias da vida, é estéril.
Essa árvore está plantada no meio do paraíso. Este rodeia a árvore da vida e assume a
forma de quatro círculos em função dos níveis de interpretação da Torah, os quais são o
equivalente humano dos quatro modos simultâneos[41], nos quais Deus se manifesta.
Os quatro mundos são chamados Atzilut (emanação divina), Briah (criação), Ietzirah
(formação) e Asiiah (ação). Todos eles têm graus de materialidade da criatividade divina.
O iniciado, a princípio, vai se elevando de mundo em mundo, até que nos mais altos graus
adquirem o sentido secreto e se relaciona com as emanações primordiais.
Como podemos entender, o valor do paraíso e sua reconquista, assumem para a Kabalah
um valor nitidamente diferente daquele que tem para o cristianismo, o qual acentua o pecado
original.
Então podemos nos perguntar:
Um gentil de formação cristã pode ter acesso a uma mística que lhe permita se fascinar
sem passar por uma formação cultural hebraica ou oriental?
O verdadeiro místico vive a Kabalah sem ficar preso a nomes, culturas ou línguas, assim
como interpretações intelectuais ou filosóficas.
Quem vivencia a Tradição sabe que se pode até trocar os nomes dos Sefirotz, seus
caminhos, sua forma, sua estrutura e ainda assim, a essência permanecerá intacta.
O sentido do estudo da árvore da vida representa a evolução espiritual e a transformação
pessoal através do desenvolvimento da alma. Porque o homem é potencialmente divino, uma vez
que ele veio da Fonte Primeira e Única. E, sendo assim, ele é tanto humano quanto divino.
Mas se ele só desenvolve seu lado humano, perde a meta principal, que é à volta às suas
raízes e torna distante o seu contato com o Superior. As religiões têm procurado mostrar
essa verdade, mas, de modo geral, elas se tornam exclusivistas. Quer dizer, se você não for desta
ou daquela religião, não alcançará o Reino dos Céus.
Um budista pode ser kabalista, tanto quanto um xintoísta ou um cristão. A meta principal
da Kabalah é tornar o ser humano consciente de seu lugar na natureza e no Universo. É também,
fazer despertar sua criatividade, para que ele exerça plenamente suas capacidades físicas,
intelectuais e psíquicas.
O êxtase é o estado alterado de consciência necessário para que o iniciado na tradição
tenha acesso à comunhão com o Criador. Este estado místico pode ser experimentado
independentemente da cultura a qual pertença o caminhante, aquele que procura a Tradição. A
integração com Deus é absolutamente atemporal, acultural e não religiosa.

EXPERIÊNCIAS COM A ÁRVORE DA VIDA.

Os Iniciados utilizam à mística da Tradição como um meio para se elevar, tirar o


espírito humano de sua prisão e dar lhe assas. Por este motivo vamos relatar algo sobre o que o
místico sente quando vivencia a sua árvore da vida.
Vou descrever uma percepção mística e iniciática da árvore da vida. Esta experiência está
livre de influências religiosas hebraicas ou egípcias. É uma vivência pura do discípulo sem as
roupagens do tempo ou de diferentes culturas.
Nesta realidade emocional, cada um poderá sentir onde se encontra, qual é a esfera que
habita na sua alma e os desafios que terá que enfrentar para conseguir evoluir.
O espírito da Árvore da Vida:
MALKUT é o Reino e interpretado como a criação. A criação, dentro da qual estamos
vivendo o reino de Deus, ou o reino da criação.
1) O kabalista nunca sentiu um Deus pessoal, nem sob a forma de ídolos. Nunca
criou uma dependência de adoração. Sentiu-se a si mesmo, integrado: a Deus, ao
reino, a criação. Deus e o homem como uma unidade. Isto não quer dizer que o
homem se sinta Deus, mas se sente parte de Deus. Como toda a criação é parte de
Deus e o homem é parte da criação.
Também fazemos parte da suprema inteligência participando do ato criador. Quanto
mais o homem cria, mais participa da criação e mais está em Malkut.
A mística de Malkut é sentir o universo com um todo, seu espaço, os planetas, os
outros astros, o Sol, a Lua e também uma mosca ou uma formiga, tudo pertence à
mesma criação. Tudo é o Reino, não podemos tirar os insetos, como não podemos
tirar o Sol.

O místico deve sentir o Universo, o Reino para poder se integrar e fazer parte dele.
Ao sentir-se parte da criação, começa a querê-la da mesma forma que se quer a si
mesmo. O iniciado ao sentir-se parte da criação, preocupa-se tanto em conservar
uma formiga como proteger qualquer animal.
O sentimento gerado por Malkut nos faz sentir responsáveis por todos aqueles seres
que a humanidade considera inferiores. O homem é o eleito para poder sentir e
compreender a criação. É um privilegiado entre os seres vivos de nosso planeta. Por
este motivo tem a obrigação de cuidar e defender a evolução do Reino.
Em Malkut nos apaixonamos pela criação, pela vida, pela formiga, pelos pássaros,
pelos planetas, tudo é criação e, tudo faz parte de nós.
Malkut por representar a raiz é o oculto, o que não se percebe a energia sutil que
sustenta o Reino. Malkut é a essência de onde tiramos toda a força que sustenta a
árvore da existência.
De Malkut entramos em outra esfera:

2) YESOD é o limite entre este e outro mundo.[42] Nesta esfera se abre caminhos,
um que nos une a Malkut e outro com o além.
Temos as duas bases, a espiritual e a material (Malkut e Yesod), as duas grandes
esferas. Yesod é a base, mas também o limite, ele divide e sem ele nada poderia
existir.
Yesod é o mistério que induz o místico a procurar a verdade e a essência de tudo o
que existe na criação. Dentro de Malkut, encontramos a energia primeira, em Yesod
a forma como ela se combina. Yesod gera a origem do universo, da matéria e da
vida.
Yesod convida o Iniciado a procurar todos os mistérios, a responder todas as
perguntas que tocam a sua alma.
Seu próprio nome inclui a palavra Sod (Mistério). Depois de o discípulo atravessar o
mistério de Yesod entra em:

3) NETZAH, a vitória. Não estamos falando de um triunfo sobre os outros, nem de


vingança, mas da vitória mística do iniciado consigo mesmo.
Por meio da vitória se consegue ir a outro plano. O iniciado atravessou fronteiras, e
tudo o que integramos, deixamos para trás, assim vamos à busca de novos e maiores
horizontes da mística.
Não esqueçamos que o homem tem triunfos e fracassos, mas esta vitória é definitiva
dentro da alma, através do tempo e do espaço.
Desta vitória continuamos até:

4) HOD a Glória. A Glória mística não se considera uma recompensa nem uma
honra ela simplesmente é a Paz. O vitorioso consegue chegar a uma paz interior
verdadeira e absoluta.
O místico consegue uma percepção do Reino, do Mistério e da vitória sem entrar em
conceitos. Entramos assim na Glória uma felicidade que só o místico conhece. As
palavras os conceitos se transformam num caminho de formigas, tudo fica pequeno
dentro da imensidão da mística.
Assim quando o iniciado entra na verdadeira Glória e perde o conceito de até o que é
Hod entra na próxima esfera:

5) TIFERET é a Beleza. Na mística a beleza se percebe no natural, o nascer e o pôr


do Sol, um horizonte, as nuvens, uma flor, uma criança sorrindo. A beleza de Tiferet
é algo que ninguém pode negar. Quando a beleza é discutida, então entramos no
conceito, na mente, na razão onde a mística não existe.
A beleza se transforma num caminho onde deixamos para trás a Glória estática. A
Beleza muda. Não há uma beleza que se mantenha igual, assim quando anoitece, o
amanhecer se torna escuro, ou a flor murcha, ou a criança envelhece. O místico
percebe a beleza em movimento: Quando uma flor se abre outra se fecha, a noite
mostra as estrelas, o dia as cores, tudo é a luz da beleza.
A beleza está sempre em movimento, é transformação, e quando observamos uma
beleza estática temos que chamá-la de beleza morta.
Uma pintura, algo feito pelo homem nos transmite uma beleza limitada, fechada num
quadro que nem todos podem ver.
Assim, entendemos que quando o iniciado em sua Glória começa a se movimentar
entrando em Tiferet. Esta movimentação da alma está relacionada com a
reencarnação. Para que um místico possa reencarnar como um Guia espiritual tem
que ter essa mobilidade, essa percepção da beleza da transformação.

Já estamos andando. A Glória e a paz começam a viajar, no entanto não é uma


viagem, tão pouco é móvel, nem caminha com os pés. Simplesmente sentimos que
deixamos de estar estáticos.
A experiência mística não tem palavras nem conceitos, só um sentir. Por isso Tiferet
desenhado no centro da árvore marca o fim de uma etapa mística. Acaba uma e
começa outra:

6) HESED é a misericórdia. Nesta etapa, o iniciado entra na mística do eu e do tu.


Se o discípulo encontra a paz e a beleza e só pensa nele mesmo. Quem ele é? Nesse
ponto, pode ficar só e, às vezes, se basta achando que é autossuficiente e não precisa
de ninguém. Este sentimento não representa a verdadeira mística.
Hesed leva o místico a uma comunicação, a procura de sua alma gêmea, o encontro
com outro. Se o Iniciado é um solitário, se só conta ele e a divindade, por mais que
tente elevar-se vai chegar até Tiferet, mas não avança mais. Para chegar a Keter, tem
que passar pelo tu, pelo outro. O discípulo que procura elevar-se tem que
compartilhar para continuar a frente.
Na mística, a Misericórdia representa muito mais que ajudar o próximo. É sentir a
pessoa, unir-se a ela, integrar-se à sua alma, ao seu espírito; assim juntos, os dois,
formam uma força, uma nova esfera:

7) GUEBURÁ é a Força. Gueburá e o resultado de uma união sem a qual não existe
força. Na mística, essa união é uma combinação criadora de uma força daqui com
uma energia do além.
Neste reino, a força da união forma a sociedade, e esta cria a civilização, uma
cultura. Na mística aprende-se na união entre dois. Uma pessoa sozinha nunca pode
aprender, só pode evoluir pelo outro. Possivelmente, aí começa a ter a função o
Mestre, o educador.
O discípulo se une a seus Mestres, o homem se une a seu verdadeiro amor e começa
a vivenciar outra esfera:

8) HOHMAH é a Sabedoria. A união cria a força, e a partir dela, entramos na


sabedoria. A experiência e o conhecimento se uniram por meio da meditação e a
mística e o discípulo sobe um degrau a mais:

9) BINAH é a inteligência divina, a luz. Esta esfera produz caminho que nos leva a
Coroa.
10) KETER é a Coroa, o ponto onde tudo se une, onde tudo é. Nesta esfera sentimos
um brilho, uma coroa que envolve algo que é inatingível e incompreensível.
O grande Reino abaixo e a Coroa encima. Não pode haver um Reino sem um Coroa,
nem um Keter sem Reino.
Para o místico apenas a partir de Kether se percebe Malkut, e só partindo de Malkut
é possível chegar a Kether.

Como falei anteriormente, a experiência do místico é algo pessoal, própria e fechada.


Este é um dos principais motivos pelos quais solicito aos discípulos que não comentem com
outros o resultado de suas práticas, principalmente para não contaminar ou influenciar a aqueles
que ainda não tem desenvolvido sua identidade mística.
Recomendo aos iniciantes que as práticas místicas da árvore da vida sejam feitas o mais
naturalmente possível. Quando procuramos muitos elementos para nos apoiar como: estados
emocionais, cores, elementos, letras, caminhos, planetas ou nomes divinos, a mente pode-se
confundir e atrapalhar a experiência mística.
Não digo que isso esteja errado, digo que os que começam com suas experiências devem por si
mesmos, ir descobrindo aos poucos estas qualidades específicas das esferas de manifestação.
Com o passar do tempo, cada descoberta feita interiormente vai criando a escada real onde o
discípulo pode andar.
A Kabalah hebraica construiu uma estrada para seus fieis seguidores e nós que estamos
sem a roupagem desta cultura, temos que atravessar o deserto e ir marcando o caminho para
aqueles que nos seguem.
OS CINCO PASSOS PARA ALCANÇAR A SABEDORIA:
“Na procura da sabedoria: a primeira etapa é o silêncio, a segunda é a escuta, a terceira
a memória, a quarta a prática e a quinta ensinar”. [43]
1) O primeiro passo é o silêncio, sem o qual não poderíamos escutar.
2) O segundo passo é a escuta ou a percepção sagrada.
3) O terceiro passo é a memória, para ter sempre presente o saber.
4) O quarto passo é a prática, se manter sempre em ação.
5) O quinto passo é ensinar, servir e compartilhar.
Estes cinco passos para chegar à sabedoria nos servem como referência para o estudo e a
prática da Kabalah, assim como para uma reorganização de nossas vidas. Cada passo pressupõe
um degrau na evolução do discípulo.
1) O SILÊNCIO:
ESTAR A SÓS, DENTRO DE NÓS.
A solidão, a desolação, ou desencontro acontecem muitas vezes porque não
apreendemos a nos olhar interiormente. Desde pequenos, estamos sendo “bombardeados” por
estímulos, sons, imagens, luzes, que esquecemos o que é ficar só em silêncio, tentando perceber
nosso eu interior.
As pessoas desenvolveram uma aversão à meditação, quando surge o desejo de realizá-la,
o primeiro que se manifesta é uma sensação de mal-estar. Não podemos meditar, porque temos
medo, não estamos acostumados a ser algo mais importante do que aquilo que se apresenta
exteriormente.
Se chegarmos a nos encontrar e surge alguma mensagem importante de nosso eu interior,
podemos nos perguntar. O que eu faço com isto? Geralmente construímos nossas vidas
sobre os sentidos físicos, sobre o que já está programado e sobre experiências não vivenciadas.
Nossos verdadeiros valores interiores são desconhecidos e, para nós fica mais fácil pegar os dos
outros acreditando que nos pertencem.
Quem procura o misticismo sabe que o silêncio é o momento que temos para nos escutar.
Quando o silêncio se faz presente nos convida a não ser compulsivos a meditar cada palavra,
cada passo, cada ação. Ele nos conduz passo a passo, á sabedoria de saber escutar.
Para atingir o silêncio interior às vezes, temos que seguir o caminho do isolamento ou da
reclusão. Alguns lugares como Monastérios, a própria natureza, uma cachoeira, um sitio isolado
às vezes, acompanhados de um jejum ajudam na interiorização, num silêncio que desperta o
encontro. Hitbodebút representa a solidão mística que ajuda no encontro com a essência
espiritual da personalidade.
Os trabalhos e práticas de meditação do silêncio devem ser guiados por instrutores e
mestres que tenham aprendido a ficar só consigo mesmo.
Muitas vezes, o homem adulto já tomou decisões fortes na sua vida, desenvolveu uma
profissão, formou família, mas se da conta que faltando algo, falta um sentido à sua vida.
Como se alcança o sentido?
Primeiro: sabendo que é o que acontece interiormente.
Mas, como conseguir se encontrar se o homem está sempre fugindo de si mesmo?
Sofremos de angústia, de desolação, e a solidão do sem sentido, do desencontro, porque
não aprendemos a nos observar. Não sabemos ficar no silêncio. Quando se começa a fazer
alguma prática de meditação, a mente começa a se incomodar, com o corpo, com os barulhos,
tudo nos perturba, os pensamentos nos distraem. Tudo isto acontece porque temos medo, de
deixar de ser algo no qual acreditamos e montamos nossa identidade.
O silêncio e a meditação é algo muito mais importante do que pensamos. A percepção
pura, a meditação, se relaciona com achar o ponto certo, a partir do qual se saiba qual é o
sentido.
Que sou eu? Ma Ani? Pergunta-se o kabalista.
Existem duas percepções: uma pura e outra enganosa em nosso mundo. Por séculos, o ser
humano acreditou que a competência profissional, servir a família aos filhos eram os objetivos
máximos de realização humana, mas hoje, depois de muito tempo nos damos conta que isto não é
assim.
Podemos ter trabalho, bens matérias, família e ainda ser infeliz. A idéia contemporânea de
amor já não é a mesma que no século passado. Na atualidade, é necessário que o amor tenha a
ver com uma experiência pessoal, com uma percepção pura, que seja vivida e experimentada.
“ANOJI”:
Esta meditação é uma ferramenta para conhecermos melhor, uma forma de dirigir nossa
atenção para dentro de nós. Anoji e uma força de kabalah que nos ajuda a encontrar a solidão que
acompanha o hitbodebút, o silêncio.
Meditar em silêncio, ainda é a melhor forma de nos encontrar e ficar sadios. A sanidade
mental exige saber o que nós queremos e o que sentimos. Ainda se faz necessário ter estas
respostas para ir ao encontro de nosso destino. A maioria das pessoas que tem problemas é
porque não sabem o que querem, não se encontram, perderam seu caminho.
Quando abrimos a consciência, percebemos que a realidade é infinita, que tudo é
possível com os segredos da meditação. Conhecendo as técnicas adequadas, podemos despertar
uma nova percepção, ter experiências de êxtase e felicidade. Tudo isto fundamentado numa nova
forma de viver por meio de uma percepção pura, direta, e sem intermediários.
A meditação se faz sentados frente a uma vela após as práticas de relaxamento e
focalização. Nesse estágio deixamos nossa mente concentrada profundamente na palavra Anoji.

2) A ESCUTA DA PERCEPÇÃO SAGRADA.


OUVIR NO SILÊNCIO E VER NA ESCURIDÃO.
“SHIN ARI”:
Quando o discípulo começa a viver no silêncio, percebe que não está mais só. O silêncio
nos leva a outro mundo é como alguém que procura ir até o mais fundo do oceano achando que
quando mais profundo ele for, mais escuro vai ficar, e para sua surpresa, lá embaixo, após ter
passado pela escuridão, bem no fundo, encontra luz.
Quando o medo do silêncio passa, estamos prontos para ouvir e sentir aquilo que existe, mas que
não vemos. Esta é a etapa do discípulo começar a desenvolver a capacidade da escuta da
percepção sagrada.
Shin Ari é uma meditação Kabalista para despertar a capacidade de ouvir no silêncio e
ver na escuridão.
No meio da noite, algo nos desperta como um chamado. Despertamos da ilusão do sono
a um chamado mais profundo, e, ao olhar ao nosso redor percebemos luzes na escuridão, como
pequenas estrelas que se aproximam e se afastam. O silêncio nos chama e um desejo profundo de
escutar se apodera de nossa alma. Qual é a mensagem das estrelas? O que elas têm a dizer?
Deixemos à mente aberta e o espírito ainda mais para perceber um mundo fechado para
a maioria das pessoas, mas não para aquele místico que quer sentir outras realidades. Vivemos
em um universo, no qual existem muitos outros só que não temos consciência deles.
A meditação de Shin Ari é uma combinação de Kabalah, que surge de Shemesh Ari.
[44] Da contração destas letras se obtém a força do Leon, a capacidade de ver na escuridão, e
sentir no silêncio. Com esta prática, desenvolvemos nossos olhos e ouvidos internos, para
participar de uma realidade maior. Quando o silêncio encontra espaço em nossa vida e os novos
sentidos funcionam, as mensagens e os mensageiros se aproximam.
“Quem têm ouvidos, que ouça, quem têm olhos que veja.” O Shin representa o
Fogo, à luz que ilumina os olhos na escuridão e Ari o Leon, a força para penetrar nos
muros do além.
O místico Kabalista desenvolve para-sentidos que o ajudam na procura de seu caminho.
Vozes e visões se manifestam no êxtase e nos momentos de vigília, enquanto o discípulo estiver
vigilante e presente em sua própria marcha.
Guias espirituais, anjos e demônios lutam por direcionar a travessia de nossa alma. É
importante para o discípulo entender o verdadeiro sentido desta dualidade e avançar no meio
dela. Nos sefirotz e caminhos da árvore da vida, nas meditações que nos levam a outros mundos,
temos sempre companhias. Entender suas mensagens, seus alertas é tão importante como ler os
sinais na estrada. Quando percebemos isto, tomamos consciência que somos uma conseqüência
de algo que a maioria das pessoas desconhece.
O medo fecha a porta ao avanço da alma na procura do Sagrado, esta meditação nos da à
chance de vencê-lo na luta diária da vida. Este é um poder inerente ao desenvolvimento místico e
ele chega a nós pela fé, coragem e constância.

3) MEMÓRIA

Como desenvolver a memória:

Hoje a ciência entende que o fenômeno da memória é algo absolutamente químico e


biológico. Para o Kabalista: a memória, o conhecimento e a experiência são elementos
necessários para alcançar a sabedoria.
Mas como desenvolver uma memória que seja mais produtiva onde ela assuma o lugar da
experiência, como ordenar nossos pensamentos e melhorar a capacidade de apreender?
O discípulo da Tradição sabe que, aquilo que se estuda com amor fica armazenado na
alma e, portanto é algo que nunca se esquece. Os antigos kabalistas entendiam que os Mestres
têm que atingir o coração de seu discípulo para desenvolver sua verdadeira memória, aquela que
é o cofre da alma.
Os antigos métodos Kabalistas de estudar e associar os conhecimentos com os galhos da
árvore ajudava a organizar sua mente. É muito difícil adquirir conhecimento sem disciplina e
ordem, por isso, estes métodos de associar os símbolos nos ajudam a discernir e catalogar as
informações.
Outros métodos antigos de formação nos mostram a importância do estudo cantado. Os
ritmos e harmonias da música são elementos onde podemos começar a unir a alma e a memória.
A alma fica possuída pelo ritmo e assim ela domina nossa mente e o corpo. Podemos dançar
horas sem nos cansar quando entramos no ritmo da música. A música “possui” a alma e a
domina e esta controla nossa a mente. Por esta razão, até hoje, se canta a leitura dos livros
sagrados facilitando assim sua memorização e melhorando a técnica de estudo ao incorporar no
processo a própria alma.
Temos vários segredinhos importantes no processo da memorização que são importantes
para o Discípulo. Mas, primeiro devemos saber que o cérebro consome muito açúcar e oxigênio
quando esta sendo exigido. Estes elementos devem estar perto do estudante, ar sem poluição,
sem fumaças que perturbam a concentração e mel de boa qualidade.
Por outro lado, temos que entender que a memória mística nos exige que amemos ou
que estudamos. A alma tem uma prioridade: guardar em seu cofre tudo aquilo que seja
significativo para a eternidade, e isto, passa pela emoção. O que de alguma forma não é
significativo para a pessoa, não entra na alma.
Por este motivo, desenvolvemos alguns truques para tentar modificar e melhorar a
fórmula de estudo. Assim, quando não gostamos de uma matéria procuramos alguém que nos
ensine ela, um mestre em sua arte, alguém que nos passe seu amor a esse saber. Sobre o
sentimento que o Mestre tem pela arte podemos instruir a alma. A alma pode pelo amor do outro
ascender e evoluir, o amor nos faz crescer e unificar nossa dualidade frente ao conhecimento.
A alma precisa ser alimentada com amor, assim como: o oxigênio, o açúcar e o fósforo
alimentam o cérebro.
Quando tudo fica difícil e temos que estudar coisas que aparentemente nada tem a ver
conosco, percebemos como o cérebro se fecha. Nossa mente não quer ser estuprada, nem
obrigada a fazer ou ler algo que não quer.
Assim, às vezes quando não temos outra opção, devemos romper este mecanismo da
mente. Ao se fechar, o cérebro diminui a circulação do sangue e, imediatamente a pessoa se
dispersa e começa a ter sono.
Nestas circunstâncias, os antigos se amarravam fitas de couro nos braços ou pernas, para
melhorar a circulação cerebral e hiperventilar[45] para aumentar o oxigênio no sangue.
Estes métodos têm que ter o controle dos mestres, todo estudo têm seus ritmos e tempos
certos para manter sempre a harmonia.
Temos ritmos de tempo de estudo, ritmos de respiração, ritmos para amarrar uma perna ou
um braço; temos horas certas para comer mel e, descansar a mente. Mas principalmente temos
que ter um motivo que seja algo a mais que só saber por saber.
Temos dois elementos importantes que acompanham o desenvolvimento da memória,
uma capacidade de concentração mental e técnicas respiratórias.

ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA OBTER UMA BOA RESPOSTA DA MENTE E A


MEMÓRIA.
PRÁTICAS DE CONCENTRAÇÃO.
Para melhorar a concentração podemos fazer práticas duas vezes por dia em períodos de
20 a 25 minutos pela manhã e pela noite. Aconselha-se no amanhecer e o anoitecer por serem os
momentos de transição.
É recomendável fazer os exercícios com roupas cômodas em lugares agradáveis e
silenciosos. Procuramos um lugar em que fiquemos direcionados preferencialmente ao oriente.
Podemos colocar aromas e óleos e sentarmos numa almofada com as pernas cruzadas ou sobre
uma cadeira. E importante não ter o estomago cheio nestas práticas, senão o sangue diminui no
cérebro.
As práticas iniciais de concentração se fazem com velas:
Primeiro o discípulo começa seu exercício se sentando, relaxando e focalizando o fogo de uma
vela acessa a sua frente a uma distância de um braço e na altura de seu horizonte.
Ao se sentar e relaxar vai limpando sua mente das tensões e o stress do dia. Para
conseguir relaxar a mente, devemos procurar a origem de toda distração, lembranças do dia,
coisas a ser feitas, problemas a serem resolvidos. Nessa hora, é bom ter uma agenda do lado para
anotar e organizar aquilo que ficou para se acertar posteriormente. Quando a mente percebe que
não tem mais situações que a conflitem ela fica mais calma. A ordem e o controle fazem parte do
programa de nossa mente, por isso devemos fazer isto sempre antes de meditar ou dormir.
Quando as situações que foram reprimidas ou relegadas no dia ficam organizadas,
podemos começar a fortalecer a etapa de focalização.
Focalizar implica direcionar a mente sobre um objetivo que neste caso é olhar profunda e
intensamente a chama da vela sem se distrair.
Quando conseguimos focalizar a chama por cinco ou sete minutos sem distrações,
estamos atingindo um bom grau de concentração.
A concentração é um estado da mente necessário para o discípulo direcionar sua energia
tanto nas meditações Kabalistas como seus objetivos de vida. Sobre estas práticas surgem outras
muito importantes para o Iniciado, como chegar a conseguir um estado de mente em branco,
limpa de todo pensamento. Este estado de mente em branco é o inicio do êxtase necessário a
qualquer experiência mística.
Outros exercícios de concentração são praticados para dividir a mente em partes,
escrever com as duas mãos, etc. Necessárias ao processo de preparação da mente, para que fique
ao serviço da evolução da alma.
Outro tema importante no processo do relaxamento e melhoramento do potencial da
mente é a energia do corpo que parte de uma boa técnica respiratória.

RESPIRAÇÃO:
A respiração começa no primeiro hálito e termina com a morte. Para os Kabalista o
último hálito se corresponde com a última palavra que se pronuncia o Aj (ajj...) que seria o
inverso do Jai a vida.
Na Torah diz:
“Deus formou o homem do pó da terra, e insuflou em seu nariz o hálito de vida
(Nishmat jaiim), e foi o homem um ser vivente”.
Ou seja, que a respiração está vinculada a vida e o ar é o veículo pela qual recebemos e
transmitimos essa energia vital.
O ar não só leva esta energia as células que fazem o combustível para que funcione o
motor do organismo. No próprio ar encontramos uma energia que alimenta a parte espiritual e
mental do homem. Isto o chamamos de Aura, ou Ka.
Dentro da kabalah em hebreu temos as palavras que significam ar e luz ou energia.
A palavra para designar o Ar contém dentro dela a palavra Luz. Por tanto, quando
respiramos adequadamente desenvolvemos uma capacidade de armazenar energia tanto no corpo,
como na mente e na alma.
Na crença kabalista quando a alma encarna, a inspiração e a exalação do ar a mantém
unida ao ser vivo.

A respiração estabelece a conexão do homem com o ritmo respiratório cósmico, da


contração e expansão que mantém o equilíbrio e a vida no universo.

EXERCÍCIO RESPIRATÓRIO.
Para melhorar a respiração, devemos nos sentar com as costas e a cabeça reta, os pés
bem apoiados e as mãos sobre os joelhos. Após fazemos uma inspiração pelo nariz e enchemos
os pulmões até sentir os ossos das costas se acomodando.
Seguidamente levamos o ar ao baixo ventre sem forçar. Para expirar vamos exalando
lentamente de baixo para cima até eliminar todo o ar contido nos pulmões.
Após voltamos a repetir o ciclo. O segredo esta em repetir 10 vezes esta respiração
unida à visualização da cor verde que representa o ar e a letra Vav do nome de Deus de or, e
avir.
É importante tomar consciência que ao respirar corretamente nos colocamos na mesma
freqüência respiratória do universo. Desta forma integramos a unidade com o todo.
A concentração e a meditação acompanhada de um ritmo respiratório correto é uma chave
que abre a porta da alma ao conhecimento.
“NUSHA LOH”:

RESUMIR E MEMORIZAR.
Os kabalista têm vários métodos para ler e estudar. A leitura da Tora é feita pelo canto, por isso,
encontram no texto da Bíblia signos que definem entonação e ritmo, o que é muito importante
para o processo emocional da memória. Este segredo ainda não tem sido muito explorado pela
ciência, mas começa a ser observado.
É importante para quem estuda apreender a dar um ritmo a seus estudos e utilizar sua
mente para separar de um texto o essencial e o supérfluo.
O estudo de textos importantes normalmente se faz lendo por períodos de 30 a 40
minutos em ritmos de três em três páginas. Assim, lemos três páginas e retornamos a lê-las, e a
cada 40 minutos damos uma parada de cinco para fazer uma pausa. Quando o tema é mais
simples, podemos fazer um ritmo de leitura de sete em sete páginas.
A meditação Nusha Loh se faz antes de começar a leitura frente aos livros como uma
preparação espiritual e emocional. Estas palavras nos ajudam e estabelecer um vínculo com a
leitura e o autor. Com o tempo, a mente começa a sentir a intenção do autor em seu texto e isto
nos leva a entender e poder discernir o que é importante para nós nele.
Quando temos que apresentar um exame meditar uma hora antes de nos apresentar na
mesa, e no momento, minutos antes de começar, mentalizamos estas palavras para nos dar
confiança e segurança. Esta meditação ajuda muito as pessoas que tem stress e muitas vezes
ficam em branco frente a uma prova ainda sabendo de tudo.
O relaxamento, a focalização, a concentração a técnica respiratória, a técnica de estudo e
leitura, a intenção, o sentimento correto e uma alimentação adequada permite ao discípulo
receber informações e transformá-las em conhecimento, preservando este numa memória
espiritual permanente e independente. Esta memória é a cadeira onde se senta a sabedoria.

4) A PRÁTICA DE SE MANTER EM AÇÃO.


Depois que o discípulo se encontrou consigo mesmo e ele sabe reconhecer sua missão,
as forças se integram e direcionam no sentido de transformar o pensamento em ação. A ação nos
transforma em executores do processo criativo.
A ação é como uma força centrífuga, que nos exige crescer e expandir nossa energia em
todos os sentidos. Na etapa de procura do silêncio, a força central se fecha num processo
introspectivo, e, na etapa da ação, o discípulo fica comunicativo e acessível as pessoas e a tudo o
que o rodeia.
A prática e o fazer nos levam a necessidade de medir o trabalho realizado e observar o
resultado. Nesta etapa a experiência da realidade não se transforma num obstáculo, mas no filtro
necessário que o discípulo precisa para acertar o processo criativo e finalmente observar e dizer
“foi bom”.
Na ação, a mente cumpre um papel importante desenvolvendo uma logística, o espírito e a
emoção nos dão o estimulo para continuar, mas precisamos de uma energia vital, uma força
motriz, que transforme o que crie.
A ação é uma forma de luta, criar implica ter que construir sobre outras criações, o que
resulta em enfrentamento de idéias e energias.

“JAZAK”
DEUS FEZ COM FORÇA.

Quando lemos a Torah em hebreu percebemos uma palavra final em cada capitulo onde
diz: “Deus fez com força (Jazak)”. Esta palavra não chega a ser traduzida nas versões
conhecidas da Torah, mas é uma das palavras mais fortes da Kabalah.
A força representa a energia universal empregada em todo processo, quando nos unimos a
ela adquirimos um suplemento de energia criativa. Para levar adiante uma idéia precisamos de
um motor que representa a fé em nossa ação, mas o combustível dessa fé é a Força universal,
Jazak, algo que Deus deixou disponível para nós criar e botar a máquina em ação.
Tudo o que queremos fazer, fica limitado á quantidade de energia psíquica e espiritual que
possuímos, mas quando nos unimos à força de Deus, adquirimos um suprimento inesgotável de
energia.
Todo discípulo se prepara para assumir responsabilidades, estuda, abre sua mente e seu
espírito ao infinito e se propõe como um grande líder a fazer realizações. Quando sente este
sentido de luta, se alia ao criador e assume sua força, aquela que abre o mar Vermelho, que faz
milagres, que transforma nossa realidade.
A “força de Deus” é como uma poupança que ele deixa depositada para quando
precisarmos dela, é a energia que rodeia o universo e está disponível a quem sabe procurá-la.
A meditação de Jazak se faz frente ao Sol, no amanhecer pegando com a mão direita uma
espada, a mente unida com a palavra e a alma comprometida com o ideal. Quando se mentaliza a
palavra Jazak se levanta a mão e a espada firmemente. O braço levantado representa o
compromisso de lutar unindo todas nossas forças. Quando sentimos um calor em todo o corpo
damos um passo à frente e abaixamos a espada cortando o ar num grito interno de ação.
Esta meditação exige uma postura mental de luta, devemos lembrar que toda força criativa
que geramos cria outra igual e contrária o que muitas vezes detém nosso progresso. A força de
Jazak por ser divina não tem a oposição provocada pela própria dualidade do ser humano. Neste
sentido, teremos uma vantagem sobre o maior inimigo que temos “aquele que esta dentro de
nós”.
Jazak deve ser interpretado como um presente que Deus deixou para o Kabalista criar e
transformar. O trabalho de um discípulo pode ser dentro dele mesmo, enfrentando uma
enfermidade incurável, propondo superar, ajudar sua comunidade e a sociedade. Quando maior a
tarefa, maior o desafio. Sentindo a ajuda de Deus não se tem mais limites para nossos sonhos, o
medo, o fracasso desaparece porque nessa hora somos seus fiéis soldados.

5) TRANSMITIR, EDUCAR, PASSAR...

A finalidade da vida não é só ter e reproduzir o conhecimento adquirido, a experiência e


a ação testada no ácido da realidade que alimentam a alma de sabedoria. Mas o saber que fica
guardado transforma-se numa árvore sem frutos, uma maldição quando não é compartilhado.
O Kabalista, para transformar o mundo e retornar à origem onde Deus era um com o
homem no Pardés [46] sente que tem que ensinar; exorcizar as trevas da ignorância com a luz da
sabedoria. Aquilo que ensino aos outros, são frutos da alma e sua semente pode transformar o
mundo.
- O muito estudo mal da carne é. (Eclesiastes).
Esta frase do Eclesiastes se interpreta como aquele que aprende e não compartilha nada.
Uma pessoa que acumula conhecimento é como aquele que come e não gasta calorias,
só engorda. O conhecimento é o alimento da alma e ensinar é o mesmo que gastar calorias,
quando este equilíbrio falta no homem começa a engordar o que termina por transformá-lo num
enfermo.

“BAMIDBAR”
PALAVRAS DE SABEDORIA

Quando falamos de educação não podemos deixar de colocar a palavra[47] como


veículo do conhecimento.
Aquilo que se ensina com amor passa de boca a ouvido de geração em geração. “Doses
como o mel são teus beijos”. [48] Quando a palavra é transmitida com amor e sabedoria chega
às pessoas como um bem apreciado e agradável aos sentidos, tão necessária como a própria
comida.
A palavra “Dabar” se transforma em palavras de sabedoria “Bamidbar” quando o
discípulo integra a razão com a emoção.
O Mestre[49] é portador de um coração inteligente Ajame leb, e os kabalistas são Ajame
leb, os de coração sábio que utilizam o verbo para ajudar a culminar a travessia da alma humana.
Todo ser humano tem o desafio de sair de sua escuridão e se dirigir à luz do saber.
Todo discípulo espera receber a luz dos mestres pela palavra. Quando o iniciado sente a
doçura do verbo se une a luz dos guias e anseia por chegar a produzir o mel, por transmitir a seus
futuros discípulos bamidbar que realmente os possam orientar.
O kabalista que teme se transformar num intelectual estudioso da Kabalah, prefere calar a
fazer uso da inteligência e seu coração quando sente que não tem ouvidos para escutar suas
verdades.
Saber educar significa também, saber quando falar, a quem, e o que.
Temeroso de usar sua palavra erradamente ou expor seu coração a alguém que não
compartilhe seu saber cala e medita profundamente no Bamidbar a palavra que exorciza a
escuridão da alma.
Os Kabalistas sabem que é a palavra que movimenta o mundo e realiza as
transformações da alma. Os homens curam, constroem, planejam, matam utilizando o verbo de
igual forma, sem perceber seu poder.
O místico iniciado cuida cada som que sai de sua boca e seu coração, ele é consciente
que uma palavra dita com má intenção pode destruir.
Por este motivo, antes de educar devemos aprender a ficar no silêncio para valorizar o verdadeiro
sentido do verbo.
Quando entendemos a importância do Bamidbar fazemos nas noites de quarta-feira esta
meditação, de frente a uma Bíblia e uma vela branca. Podemos usar roupas leves de cor branca e
aspirar a encontrar a luz necessária para que nossa língua fale direto de alma para alma e que seja
sempre um instrumento de justiça que exorcize a ignorância.
Quando se ensina, se passa pela última face do saber, se desenvolve a arte de deixar de
ser para “ser, nos outros”, sem ela, o saber não chega a se transformar em sabedoria.
Educar é a semente de uma árvore de vida.
Educar é permitir um futuro.
Educar eterniza nossa alma.
Educar é o máximo ato de amor ao próximo.
CHAVES PARA ABRIR O REINO
A MEDITAÇÃO NA MÍSTICA HEBRAICA
- O Rabi de Berditchev observou um homem que caminhava com pressa pela rua, sem olhar
nem à direita nem à esquerda.
- Porque tanta presa? Perguntou lhe o Rabi.
- Vou à procura de meu sustento, respondeu o homem.
- E como sabes que teu sustento corre diante de ti? Respondeu o Rabi.
Talvez este detrás de ti, e tudo o que precisas para encontrá-lo seja ficar parado. Desta forma
estarias fugindo dele.
Quando o Rabi o convida a parar abre uma porta ao irracional, ao destino. O mestre se
coloca à frente de todos nós e chama a atenção daqueles que vivem em linha reta e acreditam que
a razão é o caminho da realização. Ele nos diz, parem, pensem, sentem, meditem na suas
realidades, procurem algo mais que seu sustento; procurem a própria vida.
A meditação é fundamentalmente um meio de conseguir a liberação espiritual. Seus
diversos métodos foram criados para afrouxar o nó que amarra nosso espírito ao físico e permitir
ao indivíduo ascender ao domínio do espiritual. Quem culmina o desafio com êxito, se diz que
atingiu o Ruaj Akadesh [50] que determina na Kabalah a idéia de iluminação. [51]
A meditação kabalista combina exercícios respiratórios, alimentação, jejum, posturas
corporais, concentração em palavras divinas e cores. Quem pratica esta arte percebe seus guias
espirituais, se comunica com seus irmãos de forma telepática, percebe na raiz de sua alma suas
existências passadas, e sente sua verdadeira essência.
O místico consegue pela meditação perceber sua aura[52] e nela encontrar as relações
sutis das letras sagradas do Alefato. Com o tempo, as letras primordiais se transformam nos
livros invisíveis do céu que só podem ser lidos com os sentidos internos do Kabalista.
A meditação e a kebanah levam ao discípulo a abrir as portas de cada sefirotz e transitar
pelos caminhos da árvore, ela é a única e verdadeira guia do iniciado.
Meditar, parar, achar nosso centro, escutar o silêncio nos leva pela estrada do
desdobramento do corpo, nos permite aceder à cura, a percepção do futuro e o passado; e
finalmente ao estado mais elevado e misterioso da alma aquela que nos abre as portas da
profecia, a união com Deus o Debekut.

MEDITAÇÕES KABALISTA PARA A TRANSFORMAÇÃO


.
1. Consciência: Gam zu letováh. Tudo é para o bem. [53]

2. Desapego: Lej lejá, Vai ao teu encontro, (Gênesis 12:1)

3. Fé: Ashém iré, Deus verá, (Gênesis 22:8)

4. Unidade: Nefésh leb meód, Amarás a Deus, (Deuteronômio 6:5)

5. Amor: Veabtá lereája camója, Amarás a teu próximo como a


ti mesmo, (Levítico 18:19)

6. Presença: Hinéni, Aqui estou, (Gênesis 6:13)


7. Livre Arbítrio: Bajartah,eleição, (Deuteronômio 30:15 e 19)
Estas sete meditações são fundamentais para o progresso do discípulo, elas têm as
claves de toda transformação espiritual e de vida que podem ser feitas.
Todas as meditações estão associadas a palavras sagradas que ao pronunciar
corretamente, não só com a boca ou no pensamento, mas com todo nosso ser e intenção [54] nos
conectam com outra realidade.
Para meditar nestas palavras de força [55] devemos primeiro ter um nível de concentração
adequado. A concentração nos permite mentalizar uma palavra de forma tal que não existam
outras coisas no pensamento, assim a mente e o verbo se unificam.
Quando meditamos temos um trabalho sobre o corpo a respiração e a mente. Com uma
concentração adequada, sobre o espírito com kebanah, conseguimos uma terra fértil para semear
as sementes de luz que são as palavras. Quando tudo é bem feito o verbo e a luz transformam a
alma de forma imediata.
Nestas meditações de Kabalah vamos ver diferentes palavras que nos colocam desafios na
sua interpretação, nos abrem novos caminhos e podem mudar nossa estrutura de pensar e sentir
quando aplicadas corretamente.
“GAM ZU LETOVÁH”.
TUDO É PARA O BEM
Esta meditação foi ensinada pelo Rabi Akiva bem Iosef. Ele sempre dizia “tudo isto é
para o bem” gam zu letováh, ainda quando as coisas parecem não dar certas. A meditação nos
ajuda a descobrir o verdadeiro sentido do que aconteceu. Meditar nestas palavras leva o místico a
sentir quando algo não nos pertence, nos dá a chave para abrir a porta e deixar sair de nós tudo
aquilo que pode nos prejudicar.
De onde surge esta meditação?
O Rabi Akiva interpretou a Tora, no livro do Gênese a frase:
“E Deus olhou, e viu que a luz era boa”.
No livro do Gênese percebemos que quando Deus cria, no final, ele sempre diz: “E
observou Deus que era bom”. Esse olhar e sentir o bom em hebreu se diz “Továh”.
Os Kabalistas entendem que a criação de Deus em seu conjunto é para o bem. O Deus
criador é um Deus para o bem, e que a tudo o que nos sucede na vida o interpretamos muitas
vezes, como algo ruim, ainda que não seja assim.
Somente quando Adão e Eva comem da Árvore do Conhecimento é que começam a
viver na dualidade do Bem e o Mal. Para a Kabalah a criação é algo único, sem dualidade, é uma
unidade essencial chamada o “bem absoluto”.
O místico integra o “gam zu letováh”, a cada momento, cada situação de vida, cada
pensamento, para conseguir o “despertar da atenção”, porque o pior que pode nos suceder é
distrairmos do essencial. A distração é uma forma de negação em que a mente e os pensamentos
trabalham juntos para não nos deixar concentrar em algo até as últimas conseqüências, porque
sempre existe uma resistência natural a Luz.
A Luz sendo sublime também nos tira toda idéia de poder, e isto gera uma resistência na
personalidade. A meditação e a luz nos deixam livres sem medos, e os problemas que
consideramos importantes deixam de nos afetar. Quando a meditação e incorporada no
pensamento do místico, ela acaba com a dor da perda, não existe mais depressão, não existe mais
dor, já que a própria dor também é para o bem.
Podemos pensar então que é como perceber a realidade de uma forma otimista?
Quem diz que a realidade é pessimista, todos temos a opção de trabalhar a terra
cantando ou se queixando. Porque então não fazê-lo cantando, no final temos que fazer o mesmo,
é a mesma vida, o único que muda é nossa percepção.
Todas as palavras de Kabalah têm chaves internas:
A palavra gam zu letovah tem uma chave que é a letra Teth. h a letra número 9, o
importante é saber que esta letra simboliza o útero e o próprio número nove que é igual ao zero.
A letra Teth é a inicial da palavra Továh que se traduz como Bem. O número nove não
altera nossa realidade, se aplicamos a letra Teth a cada coisa que nos sucede no sentido da
palavra Továh perceberemos que o nove não altera nenhum número. Por exemplo: Se agregamos
ao número sete a energia do número nove vai dar 7 + 9 = 16 que volta a ser sete (1 + 6 = 7). Por
outro lado é um útero, porque quando se entra no gam zu le továh se nasce novamente.

Neste quadrado mágico do gam zu le továhformado no número 9 temos


no centro a letra Lamed ( l ) cujo valor numérico é 30 e representa a serpente. O simbolismo da
serpente tirado do antigo Egito como representação da vida eterna, ficou na cultura hebraica
interpretado como saúde.
Este simbolismo nos traz a idéia de que as forças destas letras em combinação nos dão
uma nova vida. A serpente que troca de pele significa que o homem pode se renovar, se
regenerar e renascer, no final, “tudo é para bem”.
Por isto se dizia que o aprendizado da Kabalah e suas meditações são fundamentais, ele
nos da à oportunidade de realizar uma transformação em nossas vidas.
Esta meditação pode ser feita em todo momento. Estas palavras nos abrem à percepção
da nossa realidade de vida.
Quando se freia o impulso frente a qualquer problema, se respira, e se concentra na
meditação, “tudo é para bem”, sentimos imediatamente que o temor desaparece que tudo tem sua
razão e seu momento. Assim a ansiedade desaparece, renasce a calma e a paz necessária à
travessia da vida.
O gam zu le továh medita se como se fosse uma oração continua.
Se começa a cantar em voz alta, e após se interioriza e fica no pensamento.
Se a tudo o que nós sucedemos agregar esta fórmula, as letras nos renovam.
Vivemos numa dualidade porque ela é necessária para evoluir e apreender. Mas quando
começamos a incorporar o gam zu le továh em nossa própria dualidade, inicia-se a conexão com
a árvore da vida, o centro do absoluto.

“LEJ LEJÁ”
VAI AO ENCONTRO DE TI MESMO
“Deus diz a Abraham: sai de tua terra e de tua pátria e da casa de teu pai e vai a terra
que te eu e de te mostrar”. (Gênesis 12:1,2)
A palavra que Deus diz a Abraham, Lej Lejá [56] pode se entender misticamente como “vai a teu
próprio eu” vai a teu encontro. [57]
O capítulo bíblico citado diz textualmente em hebreu “vaiomér Adonai, el Abrahám lej
lejá”. Geralmente se interpreta o Lej lejá no sentido que Abrahám tinha que abandonar
simbolicamente coisas que o amarravam a seu passado. Com o Lej lejá o patriarca teve que
abandonar tudo e se dirigir a um novo destino.
Abrahám se aventurou no deserto, passando por Egito e outras terras na procura de uma
nova identidade. Ele inicia uma grande mudança, um Lej lejá.
Tomando a Tora como um manual de instrução de que forma podemos entender o Lej
lejá em nossas próprias vidas?
Lej lejá significa ir ao encontro de nossa essência, deixar as máscaras de lado perceber o
que realmente se sente no centro do coração. Não é casual que utilizemos a palavra coração já
que Lej em hebreu tem o mesmo valor que Leb (coração).

Vai. Lej lj (lamed e jaf) 30 + 20 = 50 = 5

Coração. Leb la (lamed e bet) 30 + 2 = 32 = 5

Leb também significa centro, o lugar da unificação de todo nosso ser. Um centro que
estabelece uma totalidade onde só existe a unidade. Y este é o sentido do Lej lejá.
No Zohar também encontramos o Lej lejá no sentido de uma procura de identidade, mas
por meio da experiência. Isto é muito importante já que em cada momento especial da vida
sempre surge um Lej lejá. No caso disto não existir, de não se ter metas, nunca vamos chegar a
lugar algum.
A palavra Lej invertida forma Col que significa tudo. Assim Lej lejá não é uma
mudança momentânea, mas uma transmutação ontológica do ser, o que podemos chamar
iniciação ou renascimento.
Uma pessoa pode mudar sua vida num instante, mas esse instante muitas vezes não
acontece. Nestes momentos percebemos como o medo se transforma num impedimento, ele gera
dúvidas e vacilações. Enquanto a pessoa se mantenha na ambivalência não vai ter a oportunidade
da realização. Por isso a maioria das pessoas se mantém numa inércia. Ao tomar uma decisão, ao
exorcizar os medos e as dúvidas entramos no mundo da ação. [58]
Detrás do Lej lejá se esconde a mudança que vai nos levar a uma vida mais autêntica
dentro do verdadeiro, sem depressão, sem cobranças, sem desconformidades. Quando vivemos
na verdade não temos depressão por desconformidade consigo mesmo.
Lej lejá é a procura da experiência direta de nós mesmos, é o reencontro com o sentir. Isto
exige a coragem de se perguntar: Estou vivendo a vida que eu escolhi? E se pudesse escolher
seria o que sou hoje?
Temos que ser honestos ainda sabendo que é o mais difícil. Rabi Najman[59] dizia:
“Com fé, simplicidade, alegria e honestidade, pode se chegar ao paraíso”.
Quando existem em nossas vidas coisas que não escolhemos, devemos realizar uma
mudança e voltar a fazer escolhas. Ao realizar a mudança o mais importante é sentir que o que
estamos fazendo é justo.
Quando não está claro o Lej lejá, não temos uma verdade onde construir. É melhor ser
sábio reconhecendo os erros do que sermos ignorantes sem sabê-los. Reconhecendo o erro
sempre podemos mudar.
O conhecimento se expressa como um risco, ele exige coragem, entrega e fé,
condimentos indispensáveis para a verdadeira realização do homem moderno.
O primeiro passo a se dar representa um renascimento, uma iniciação, um despertar a uma
nova vida, é um Sendero que conduz a união com o divino, ao prazer de ter reencontrado o
significado profundo da existência. E este passo pressupõe uma eleição.
Este conhecimento se considera tão fundamental que o Zohar lhe dedicou capítulos
inteiros porque em todo momento temos que enfrentar a mesma questão de querer ir a algum
lugar. Ainda que em realidade o que precisamos é um Lej lejá, ir ao encontro de nós mesmos.
O Lej lejá e uma palavra que tem muitas funções. Uma delas e a emancipação que pode
representar algo a mais que trocar de lugar. A verdadeira emancipação representa mudar uma
estrutura mental determinada, ideias, apegos, medos. Deve-se trocar tudo isso e se direcionar a
um novo lar interior.
Esta ida que Deus propõe a Abraham é uma metáfora, por este motivo ainda hoje é algo
vigente. Deus lhe diz que vai lhe mostrar uma nova terra, onde ele teria que deixar sua família
(pai, mãe), a idolatria e sua infância, isto demonstra que é um grande passo em direção a uma
nova identidade.
Meditando nas palavras do Lej lejá a mente vai criando um movimento que ajuda em
cada momento da vida. Isto se da principalmente porque os problemas que se apresentam na
vida, em sua maioria, têm a ver com o fato de nós não estarmos no lugar certo, no lugar justo, o
que nos deixa distantes de nosso destino. Na idéia da meditação estamos fora de nós.
O Lej lejá é uma energia dinâmica que cria um movimento interno, uma força centrípeta
em harmonia com o “centro” que representa a unidade.

“ASHÉM IRÉ”:
DEUS VERÁ
Na Bíblia temos um episódio onde Deus pede a Abraham que sacrifique seu filho único
Itzak. Quando Abraham Le diz ao filho que vão até a montanha do sacrifício em certo momento,
Itzak pergunta: Onde está o cordeiro da oferenda? Nesse momento Abraham responde Ashém
Iré.
“Deus verá” (Ashém: é Deus, e Iré: verá). Abraham responde a seu filho: “vivamos este
momento e depois Deus verá, ainda não chegamos à montanha”.
Abraham sabendo que o cordeiro do sacrifício seria seu próprio e único filho não se
desespera nem se angústia frente à pergunta e responde Ashém Iré, Deus verá. Isto nos ensina
que devemos permanecer firmes no presente. Quando conseguimos conectarmos com
Ashém Iré deixamos para traz toda preocupação, toda expectativa, todo justificativo, toda escusa
todas as vacilações que nos deixam pobres da plenitude.
A palavra Ashém (O nome) significa Deus, mas não é o nome de Deus, ele representa o
tetragrama, as quatro letras do nome de Deus que para os judeus ortodoxos não se deve
pronunciar. A religião hebraica entende que Deus esta além do que se pode nomear.
A palavra “Ashém” esta formada por duas letras a Mem m e a Shin y. Estas duas letras
formam a palavra Shém que se traduz como “Nome” e a letra “a” que fica antes do shém é o
artigo “o Nome”.
Esta palavra está formada por duas energias o fogo do Shin é a água da Mem. Estas duas
forças formam “o nome”, assim quando pronunciamos ou pensamos Ashém estamos unindo
estes elementos. A combinação de números, letras e elementos têm uma transformação no átono
da alma humana. Nossa mente pronuncia o som que chama a alma do elemento a luz, o sol as
estrelas o fogo do universo e a essência da água que também e o rio, o oceano e o gelo.
A alma do fogo é a luz que evapora a água, que produz o Ar. O que esta encima se une
com o de baixo e se produz o ar e a terra. Assim ao pronunciar o nome estamos criando uma
combinação que gera e une os quatro elementos da criação.
Quando realizamos um projeto não podemos deixar de lado a opção do Ashém Iré, pode
ser a primeira ou a última oportunidade, mas o “Deus verá” não pode ser esquecido.
Quando meditamos profundamente nestas palavras deixamos de ter preocupações com
as expectativas e quando se solta à preocupação e como virar um espelho. Um lado dele é a
preocupação e outro o sucesso.
Quando estamos frente ao espelho só vemos a nós mesmos, nosso reflexo, nosso mundo,
nossos problemas. A própria imagem se transforma num obstáculo para a percepção de algo
maior. Virar o espelho representa nos permitir ver além de nossa realidade.
Quando uma pessoa se une a realidade, se amarra aos problemas, quando soltamos a
preocupação com Ashém Iré soltamos as amarras, o espírito se liberta e a energia flui solta, sem
os conflitos nem os temores da mente.
Alguns kabalistas comentam em relação a isto o que esta no livro de Provérbios: “Dá
um passo que Deus dará dois”.
Quando Abraham Le diz ao filho “Ashém Iré” ele dá uma resposta a Deus. Este foi um
ato de fé, de entrega ao criador sustentada numa crença verdadeira.
O Ashem Iré se transforma num freio para o medo quando o filho de Abraham pergunta:
Onde estará o cordeiro para o sacrifício? Acaso sou eu a quem ireis matar? Ainda que não
existam na Bíblia estas palavras bem poderiam representar o momento. Deus verá, é a resposta a
sua dúvida, ao temor de um homem. [60]
Quando sobem à montanha Itzak fica deitado no altar sem expectativa e no momento
que Abraham está para sacrificá-lo um Angel pega sua mão. Assim, exatamente no momento que
Abraham está para abaixar a faca um Angel nasce do Ashém Iré.
Esta meditação nasce em nós como o Angel que detém o sacrifício, nos momentos de
crise, de prova, frente a um desafio devemos manter a fé, no final sempre vamos encontrar a
salvação porque é a fé que nos salva. O verdadeiro sacrifício foi à resposta que Abraham
deu a seu filho no momento que caminhavam em direção ao altar, esta confiança é o que nos
conduz a uma vida distinta.
As meditações nos abrem as portas a um novo caminho que começa com o Gam Zé Le
továh entendendo que tudo tem um sentido. Continua com o Lej lejá porque sempre se faz
necessária uma mudança.
Temos que avançar frente à imagem do espelho, se nós não dermos um passo à frente,
Deus não vai dar dois. O avançar, ir em frente é o Ashem Iré.

“LEV NEFESH MEÓD”:

AMARÁS A DEUS COM TODO TEU CORAÇÃO, COM TODA TUA ALMA, E COM TODA
TUA FORÇA.
(Deuteronômio 6:5)
Este versículo da Torah propõe amar a Deus de três formas para assim chegar à unidade:
1) Com todo teu coração: Lev = sentimento.
2) Com toda tua Alma: Nefésh = pensamento.
3) Com toda tua força: Meód = ação.
Estas três forças são portas de energia que temos no corpo do ser humano.
A palavra Nefésh a interpretaremos como energia da alma, do pensamento e as funções
cognitivas. O pensamento de alguém que ama de verdade é puro e sábio.
O versículo nos propõe “Amar a Deus” não somente com um sentimento do coração,
mas também com o pensamento e todas as forças que existem em ação em nosso ser.
Quando amamos a Deus na mente, no sentimento e na ação, nesse momento nos
transformamos num ser completo.
Nesta meditação unimos a idéia do versículo com as palavras sagradas que representam
as partes a integrar.
(Com todo teu coração): Lev. _ Ilumina seu peito e seu coração.
(Com toda tua Alma): Nefésh. _ Ilumina sua cabeça.
(Com toda tua força): Meód. _ Ilumina suas mãos.
A imagem gerada na mente no momento de expressar este sentimento é como uma
cascata de luz que nos refresca como água pura e limpa.
Primeiro: faremos mentalmente descer a cascata na cabeça sentindo uma paz no olhar e
um relaxamento. Após sentimos a cascata descendo em direção ao coração, que se abre com a
luz como um despertar. Finalmente a cascata de luz se integra com as mãos que se esquentam e
iluminam.
O amor de Deus não tem dualidade.
O místico Kabalista entende que o amor permite que o homem se unifique, assim ao nos
integrar podemos sentir a essência de Deus.
Se um homem tem comunicação com seu Pai, mas não tem um forte sentimento e não
age com ações por ele, este filho não esta presente nem integrado a sua relação.
A mística nos ensina que para amar primeiro temos que nos unir, nos integrar a nós
mesmos. Quando nos unirmos, estaremos amando. A Kabalah interpreta a palavra amor Ahaváh
e a palavra unidade Ejád [61]como tendo o mesmo valor treze (13).
Enquanto o homem este fragmentado vive na ilusão da dualidade que se une com o
medo e as dependências que ele nos gera.
Quando integramos nossas forças estamos nos permitindo sentir,pensar e fazer tudo de
uma forma integrada , e isto, é uma verdadeira benção em nossas vidas.
“VEABTÁ LEREÁJA CAMOJÁ”:

AMARÁS A TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO.


(Levítico 18:19)
Uma vez que se apreende a arte da integração é o amor a Deus numa totalidade o seguinte
desafio é trabalhar com o tu, com o outro, isto é o que dá uma nova perspectiva a nossa
existência.
Nesta frase bíblica encontramos esta essência “Ama a teu próximo como a ti mesmo”.
No amar ao tu, no outro também encontramos o amor a nós, e ambos precisam sempre estar em
equilíbrio. O mesmo equilíbrio que tem que existir entre o dar e o receber no dia a dia; se damos
mais do que recebemos ou recebemos mais do que damos não vai funcionar.
Então como podemos sentir e vivenciar um amor que complete nosso ser?
Para isto, devemos unir o sentimento com o pensamento e a ação. Se nos unirmos na
emoção, ou só nas idéias, ou em algumas ações não é suficiente. Mas se unirmos todas as partes
de nosso ser acaba o exílio, a solidão e a ausência. Só assim o amor pode florescer.
A maioria dos problemas que sucedem na vida está relacionada com o outro. Sempre
tem um “outro”, um “tu” no qual se expressa à trama de nosso destino.
O Que significa e como se expressa o amor ao próximo?
Quando um Kabalista expressa seu amor ao próximo ele se integra na unidade e este ato
em si pode representar a cura. A cura da dor, da solidão ou de uma enfermidade. O amor
verdadeiro é o que pode salvar a humanidade de suas dores e seu sofrimento.
No momento que meditamos e nos unimos ao tu, ao outro, deixamos de ser um Eu. Na
união do amor surge à integração da alma, surge o nós como parte de um todo.
Quando um Kabalista esta desenvolvendo o amor ao próximo ele fica exposto, e procura
se aproximar de aqueles que precisam deste remédio. Quando atendemos uma
pessoa que nem conhecemos, mas nos procura na sua dor e no seu sofrimento podemos nos
concentrar profundamente nestas palavras, Veabtá lereája comojá, colocar as mãos sobre sua
cabeça e entregar nosso coração, nossa alma, e nossa energia vital a ela.
Nesse momento deixa de existir um ego, um eu e um tu, surge uma unidade uma força que
une e que cura tudo aquilo que nos faz sofrer por estar desintegrados. É a ausência de amor que
nos enferma, mas é ele que nos cura. O amor nos une e nos reintegra com a criação e seu
objetivo.
Esta força nos reintegra, as palavras da meditação e sua força nos ajudam a recuperar
aquilo que se distancia. Às vezes vemos a perda do vínculo com o filho, à harmonia no casal ou
entre os amigos que se separam. Estas palavras nos fazem sair do isolamento do ego para
procurar Deus, a metade que esta dentro do outro. Assim para a Kabalah todos têm uma alma
gêmea, mas está no tu.
Não podemos encontrar Deus na solidão, amar a Deus começa no exercício de sentir a
outra pessoa para encontrar a unidade.
Os kabalistas entendem que a salvação vai chegar quando este sentimento seja
reencontrado na alma de todos.
Se cada ser humano amasse verdadeiramente outro, o mundo estaria salvo. Porque uma
metade da humanidade salvaria a outra.

“HINÉNI”:
AQUI ESTOU
Hinéni significa “Aqui estou” e também “Presença”. É o estado a partir do qual os
grandes profetas, sábios e místicos desde épocas bíblicas até hoje respondem a um chamado
divino.
Deus chama o Abraham e diz:
-Abraham, Abraham...
E Abraham contesta:
-Hinéni, (estou aqui).
Deus chama Moisés e ele contesta, chama a Jesus e ele responde Hinéni estou aqui. [62]
Deus chama aos mestres da tradição eles contestam. Hinéni.
“Sim estou aqui, sentindo, vivendo este instante único”.
Alguns Kabalista se fizeram a pergunta:
Quando Deus chama o homem, este contesta Hinéni?
Ou:
Quando os mestres se concentram em Hinéni chegam a escutar Deus?
Por este motivo Hinéni se transformou numa palavra sagrada e num exercício de
meditação por milhares de anos.
Existem ecos no tempo na memória do universo e quando trabalhamos com ela
começamos a viver o presente de tal forma que descobrimos a Deus está aqui no presente, num
agora eterno.
A palavra Hinéni, tem duas letras Nun que nos representam biblicamente os nomes de
Noé e Jonas. Os dois possuem o Nun e estão unidos pelo símbolo da pomba.
A pomba anuncia que a terra tinha secado a Noé e a mesma pomba reencarna em Jonas, já
que seu nome significa “Pomba”.
São duas viagens, um o da Arca no dilúvio, e outro o de Jonás dentro da Baleia, onde após
ter vomitado deixou-o no lugar onde devia ficar. Isto se interpreta como que o verbo Hinéni nos
leva numa arca nos transporta como um peixe simbólico no lugar que devemos estar.
Hinéni significa também uma viagem iniciática até os portais da própria morte. Esta
meditação nos conecta com nossa própria sombra no centro do peixe no meio do oceano no útero
cósmico. Nesse momento surge à pomba anunciando a vida, o propósito. Todos estes símbolos
nos falam da liberação da alma após sua transmutação na escuridão.
Tomando consciência de nossa sombra podemos chegar à verdadeira luz da alma e
responder “Aqui estou”.

“BAJÁRTAH”:
A ELEIÇÃO
Uma vez que se prova a luz embriagante não podemos deixar de bebê-la. Quando por
meio da meditação obtemos as primeiras experiências místicas nos conectamos com a luz e não
podemos mais deixar de procurá-la com todas nossas forças.
Para poder manter a conexão com a luz, com o divino nós devemos saber discernir o
que é real e o que é ilusão.
Bajártah e uma palavra que surge da palavra Bajár.
Deus diz a Moisés:
“Olha, diante de ti de teu rosto tem as vida-s (Jaiim), o bem a morte e o mal. Escolhe
a vida (as vidas) [63] para que vivas tu e tua semente”. (Deuteronômio 30:15 e 19)
A Árvore da Vida representa a fonte de sabedoria e a Árvore do bem e o mal representa
a experiência. Quando o homem atua de acordo com a Árvore da vida adquire a sabedoria para
transcender seu próprio sofrimento e o de seus semelhantes, isto representa que aprende a
discernir entre o bem e o mal. O homem sábio se transforma num sócio ativo, participe do
programa da criação.
Bajárta é uma meditação que os kabalistas utilizam contemplativamente quando
necessário, para escolher ou fazer uma eleição verdadeira. Esta meditação se faz para que Deus
oriente o caminho.
A palavra Bajar invertida significa “magia” Rajab.
Esta meditação pode-se fazer de pé ou sentado olhando na direção de oriente e fechando os
olhos pensamos profundamente na palavra Bajárta na espera que surja uma luz em nossa eleição
em nossa escolha. O kabalista procura nesta meditação sair da dualidade porque quando o
consegue ele sente que teve uma chance de escolher sua vida. [64]
KABALAH E ALQUIMIA

“EBEN AJAD”

A primeira Pedra.

Para os kabalistas existem 22 letras,[65] signos e forças com as quais foi criado o
mundo, e três delas que são chamadas “mães” representam as três energias básicas. Estas três
letras são Aleph, Mem e Shin e se unem aos três elementos da criação.
O Aleph a representa o elemento Ar, a Mem m a Água, e a Shin w o Fogo. O kabalista
em suas combinações alquímicas entende que ao combinar letras forma palavras e energias com
as quais a criação se desenvolve a criação.
Quando falamos de alquimia as pessoas geralmente associam as práticas medievais da
procura da pedra filosofal ou do ouro, o que seria uma pequena parte da realidade de seu estudo.
A verdadeira alquimia é bem mais antiga, seu nome provém do árabe Algemia que a sua
vez decorre de Alkem que representa a “terra negra” em egípcio. Esta antiga ciência que foi
praticada quase em todo o mundo e por diversas culturas desenvolve e aprofunda o
conhecimento dos elementos e suas energias.
Os kabalistas procuravam em forma alquímica a união entre a matéria e o verbo, a
palavra (dabar).
“E formou Deus o homem do pó do chão e assoprou em seu nariz o hálito de vida e
foi o homem, alma viva”.[66]
Assoprar o hálito de Deus e o pó da terra tem a ver com a essência da alquimia
kabalista. Estes fatos se associam com a idéia de impregnar a matéria ou devolver a matéria sua
chispa vital.
O pó da terra em hebreu se diz Afar min adamah. Afar significa pó, mas também cinza.
O texto bíblico poderia significar que Deus formou Adão da terra e da cinza.
No capítulo III Deus lhe diz a Adão: “do pó surges e ao pó voltaras”. Assim vemos,
como e porque na Kabalah a cinza se utilizou para meditar, a magia e o alquímico.
No Talmude e na Torah, se faz referência ao uso da cinza para situações de luto e dor,
assim como propriedades curativas.
Para a alquimia a matéria esta em constante transformação e evolução, o mundo físico é
chamado de Assiah (Ação) este é o último resultado de todos os níveis. Nós habitamos a terra
Adamah palavra parecida com Adam (homem), e vivemos num mundo concreto sobre uma
realidade física onde existe tempo e espaço. A Kabalah entende que é o próprio homem que se
separa da Deus. Ele estabelece a união de todos os universos por meio de uma linha de luz
vertical que surge do infinito até aqui e agora. Na medida em que separamos a alma dos
acontecimentos do mundo nos separamos da línea divina de luz (Kav), o que gera os vácuos e
ausências que são os que nos levam a ter diversos sintomas e enfermidades do corpo.
Todos têm um desafio na terra, voltar a reunir a causa com o efeito, o princípio com o
fim. Fomos criados e lançados ao pó, ao mundo dos planetas do físico a dimensão da ação (Olam
assiah). Porque a ação só existe onde tem tempo e espaço. Onde temos espaço-tempo, temos
movimento, ação e transformação.
Quando lemos na Tora: “Em principio criou Deus os Céus e a Terra” [67] os
kabalistas interpretam que criou o espiritual com o material. A palavra Céus em hebreu tem a ver
com a palavra “além”. A palavra Shamaim se relaciona com Sham (além) e a palavra eretz
(terra) com ratz (correr), o que se mexe, o que esta em constante movimento ou transformação.
Podemos comparar nossas vidas com uma roda que esta girando sem encontrar o além,
o centro, o eixo, então podemos dizer que estamos separados da essência divina. [68] Deus criou
o homem com todas as propriedades, mas até que não assoprou em seu nariz o nishmat jaim
(hálito de vida) ainda não era um ser vivo e comunicável.
A Kabalah estabelece uma relação absoluta entre o ar e a palavra. O verbo não poderia
ser emitido sem a modulação do ar. Para conseguir o retorno com a integração divina o místico
kabalista conta com o “laboratório” [69] de seu corpo.
A Kabalah e a alquimia se inter-relacionam. A primeira estuda a palavra e a segunda os
elementos por isso caminham juntas dentro do espírito do iniciado. Os estudos dos discípulos da
Kabalah estudam a arte de transmutar os elementos para transforma a terra e as cinzas em
cristais. O cristal representa a essência dos elementos à origem da própria vida. A pedra
filosofal seria um cristal que permite a transmutação dos metais e atua como uma panacéia[70]
no corpo humano.
A partir da alquimia kabalista e dos elementos podemos construir objetos materiais que
tenham uma carga determinada de energia. O estudante de alquimia procura em seus estudos e
práticas retomar a conexão do céu com a terra, como o Adão feito de cinza (terra) com o hálito
(Ar) divino.
O alquimista tem que ter um lugar de trabalho para meditar, seu laboratório onde fazer
suas experiências. O ideal é que neste lugar ninguém o perturbe por isso deve ser fechado aos
olhos profanos.
Quando se estuda alquimia temos que ter contato com os elementos e a natureza. Cada
elemento seus símbolos, suas forças representam um aprendizado para o discípulo. O desafio do
estudante nesta primeira etapa da confecção da pedra é se conectar com os elementos, se integrar
a eles e definir suas energias.
Retomando o versículo da Bíblia “E Deus formou o homem com pó do chão” [71] cinza
do chão, Afar min adamah. Sabemos que Afar também é cinza e esta palavra esta formada por
três letras Ain, Fei, Reish a outra palavra Adamah significa terra e dentro dela encontramos
diversos significados:
Em primeiro lugar Adam, (Homem) palavra que tem múltiplas acepções; homem não só
no gênero, mas como terráqueo ou alma primordial, chispa original e andrógeno[72].
Em segundo lugar, a palavra Dam contida em Adamah significa sangue, por isso, os
kabalistas dizem que a terra com a qual Deus criou o homem é vermelha[73]. Assim, podemos
deduzir cabalisticamente que Deus cria o homem destas energias, cinza e terra vermelha.
Se invertermos a palavra Afar, (cinza) obtemos a palavra Rofe (sanar) e Rapo que se
traduz como cura. É a mesma palavra que Rofe, só que muda e a letra fei com pronuncia suave,
enquanto em Rapo utilizamos a pronuncia forte Pei.
Para resumir, Rofe implica curar, algo que surge do interno ao externo, enquanto Rapo
implica sarar, algo que surge do externo e se dirige ao interno.
O kabalista utiliza a cinza para curar distintas enfermidades, não esqueçamos que este
produto e o último resultado da matéria[74]. A cinza não queima e como elemento representa a
morte o último processo da vida, mas se utiliza para fertilizar a terra participando assim no
renascer da vida[75].
Quando o corpo é reduzido a cinzas fica um remanescente de 12 sais que podemos
associar com as 12 tribos de Israel. A cinza entra na terra e forma a base física do homem. Mas
falta um elemento que surge quando Deus assopra o hálito de vida Nismat Jaim. A palavra
Nishmat se origina de Neshama (a alma), e Jaim representa a vida, na Tora foi colocada em
plural o que significa a totalidade da vida.
Tendo bases de estudo e análise como estas, podemos começar a viagem do alquimista.
O místico se une aos detalhes, símbolos, sensações que lhe abrem as portas a novas formas de
compreensão de onde surgem suas futuras experiências e descobertas. Seu mundo se une ao
sagrado, se conecta com os elementos e começa dentro do Atanor de sua alma a fazer
combinações que só ele entende. Assim a cinza, tem que ser vegetal, de madeira de tal o qual
árvore; tudo começa a fazer um sentido particular e absoluto, os elementos falam com ele e ele
descobre a linguagem verdadeira da natureza.
O “sagrado” no alquimista é a força que o reintegra, assim seus elementos interiores
voltam a se unir, o Céu, a Terra, o Fogo[76] de onde nascem as cinzas, a criação volta a emergir
das profundezas do caos.
Quando começa o trabalho para conseguir obter a cinza, ela não é algo alheio ao
experimentador, tudo se vive em profundidade, o tempo não passa tudo para, a mente o espírito e
a alma do Alquimista se unem aos elementos com os quais trabalha. Descobrir quando iniciar o
Fogo, como trabalhar com ele, que dia, que hora, o tamanho das chamas, sua cor, a quantidade a
queimar, esperar que esfrie peneirar, escolher as medidas certas; tudo esta dentro do alquimista
claramente discernido, não tem duvidas, interiormente sabe o que fazer e como.
Só assim a Cinza obtida esta “impregnada de nós”.
Não basta pegar fogo e madeira, isto na realidade deve ser um processo da alma do
discípulo, assim com a “primeira pedra” começa a nascer o alquimista.
Esta etapa de estudo dentro da alquimia se chama Eben Ejad, a primeira pedra. E o
trabalho do discípulo nesta etapa tem como finalidade unir o céu com a terra.
Esta pedra que realizamos tem propriedades especiais, porque esta imbuída de
espiritualidade. Em primeiro lugar é como se fosse um grande Talismã que recebe forças astrais.
Em segundo lugar é um instrumento de cura integrado a Kevanah, a intenção de quem a usa.
Por este motivo não adianta pedir a outro que faça uma pedra para nós, não pode o
discípulo solicitar cinza “emprestada”. Toda a formação que esta sociedade nos dá não tem o
sentido espiritual da união, perdemos a essência do sagrado em nós. O trabalho do alquimista nos
leva numa viagem ao passado, onde o homem a natureza e Deus estavam unidos.
Quando se têm os elementos materiais (cinza) começa o trabalho de unir com o céu,
integrando assim o material com o espiritual. Começa-se a trabalhar com a força do elemento Ar
procurando o hálito divino. Nesta procura o discípulo começa a modular seu verbo, sua palavra,
suas letras, números e forças sobre a cinza.
O discípulo tem um mês para realizar estas combinações, passado esse tempo o elemento
terra se descompõe perdendo sua energia e terá que voltar a procurar as madeiras e retomar o
processo de queimar novamente. Ele pode repetir isto inúmeras vezes, não existindo frustração
nem perda nem fracasso no trabalho, só um recomeço.
O processo de formação do alquimista é algo pessoal sua paciência, seu tempo com o
universo pertencem só a ele, ninguém pode interferir em seu ritmo ou na sua linguagem com a
natureza.
Agora, temos que procurar terra: Deve ser algo especial, não pode ser algo comprado.
Surge na alma do iniciado à idéia absoluta de como esta deve ser. Tem que procurá-la dez
centímetros embaixo da grama, perto de um rio ao norte de onde ele se encontra, no lugar certo.
E quando tirar a terra do lugar escolhido vai perceber que têm uma cor vermelha intensa e uma
sensação úmida e fria assombrará sua alma.
Na procura dos elementos o alquimista desenvolve um diálogo com a natureza, ela lhe
abre seus segredos e com o passar do tempo, uma intimidade se desenvolve entre eles até falarem
a mesma linguagem.
Temos a cinza, já recolhemos a terra certa para “nossa pedra” agora falta à água. Estes
elementos o encontram na Torah quando diz: Afar min adamah. A palavra Min contém a letra
mem de Maim (água). Esta água representa a alma, a unidade.
Quando lemos a Torah percebemos que Deus não diz que ele criou a água, mas que a
separou. A água era um elemento preexistente. Então este elemento, sua fluidez representa a
unificação de todas as coisas. Temos as águas de cima e de baixo, águas na atmosfera, águas na
terra. Podemos entender que existe água no universo e em outros planetas. A água é o elemento
de união e de vida temos no corpo um 70% dela igual que no planeta, e ela se comporta para a
terra com o sangue no corpo.
A palavra Maim representa um elemento de união uma palavra de força a ser meditada no
processo de integração dos elementos, assim como muitas outras que fazem parte deles.
Quando se procura a água, fica claro que o discípulo não vai a fazer isto na torneira, ele
perderia o vínculo com o sagrado nele.
Em suas meditações, o alquimista sentirá a importância da água de chuva, ou de um
manancial, ou do orvalho da manhã. Mas neste momento em particular ele escolhe a chuva
porque representa para ele a força divina que descende, que une o de cima com o de baixo. Isto é
algo que o homem não pode abrir como uma torneira, o discípulo espera pacientemente a água
sagrada chegar a ele e tudo isto faz um sentido para sua alma.
Cada elemento que surge na procura das fórmulas vai despertar algo importante em seu
ser, seu próprio corpo reage, sua cinza, seu sangue, sua água, todos habitam em nós imbuídos do
espírito de vida.
Nesta etapa começa o sentimento no alquimista de procurar o eterno e surge o desejo de
fazer uma pedra dos elementos de seu corpo como se o cabelo e unhas representam o vegetal
com o qual se faz cinzas, suas lágrimas, saliva e sangue as águas, e assim por diante. [77]
Uma vez que o discípulo tem então a água a terra e a cinza deve uni-los. Os antigos
alquimistas chamavam a sua ciência à “Arte da Salvação”. O primeiro processo é a
transformação interior para depois mudar o exterior.
Nesta etapa de transformação o alquimista mede o tamanho de sua pedra e suas mãos
servem para dar-lhe forma, sua boca lhe insufla seu hálito e sua palavra, tudo é importante para
obter sua obra.
A cinza tem que estar livre de impurezas, a água na proporção certa, a força de sua mão
firme ao misturar os componentes.
Uma vez que os elementos se unem tem que secar e para isso ela passa pelo calor da luz do
dia, ou frio da noite, tudo tem que ter harmonia para conseguir a unificação dos elementos.
Quando esquenta demais seca por fora e fica branda por dentro, assim com o tempo o discípulo
consegue o equilíbrio dos opostos frio, calor, seco e úmido e entende seu significado.
A pedra (Phedra) se une com a idéia de fé por isso se diz: “Deus é mia pedra”.
Fazer a pedra desenvolve constância, paciência, perseverança e principalmente fé.
A chave da alquimia na kabalah é a palavra. Cada verbo define propriedades dos
elementos. Devemos entender que no saber kabalista se entende que todas as palavras nascem no
nome de Deus, assim cada vez que pronunciamos uma palavra estamos pronunciando seu nome.
[78]
A própria palavra Eben (pedra) inclui Ab (pai) e Bem (filho), e podemos entender seu
significado como a união do pai e o filho. O pai é o princípio, a essência, a alma e o filho a
“obra”. A maioria das pessoas fica olhando a obra construída, a realidade na qual vivemos e
perdem a essência. A realidade em si sozinha é uma ilusão, ao trabalharmos com a pedra Eben e
unirmos seus elementos está sendo integrando dois mundos: a matéria, a obra, com sua essência,
sua alma.
Reintegrar, unir o que separado é o objetivo do alquimista com os quais se associa com
o kabalista, sempre voltar à unidade, unir se a Deus ao Aleph.
A unificação da consciência se inicia quando se compreende que todos os acontecimentos
têm sua energia e sua razão, ainda aqueles que não entendemos. Quando a consciência se amplia
nada fica de fora, tudo é importante o bem e o mal começam a fazer parte do mesmo corpo como
matéria e alma. Integrar estes elementos e romper a dualidade é o primeiro passo para reintegrar
a consciência.
A alquimia é um desafio constante sobre nossa fé. A pedra vai ser testada nossa
capacidade de lutar, de acreditar tem um grau de dureza que muda de discípulo para discípulo.
Um dia o alquimista leva sua pedra ante seu mestre, que a recebe com carinho a cheira, a
prova com a ponta de sua língua, sente a força dos elementos e a transmutação nela; após a
aperta fortemente e testa sua dureza, sua energia sua fé.
Quando o mestre aperta a pedra, é como se apertasse a alma do discípulo.
Quando é aprovada temos o primeiro tijolo de uma enorme pirâmide de experiências e
estudos que não tem fim...
A VIVÊNCIA INICIÁTICA E MÍSTICA NO ANTIGO EGITO.

O discípulo egípcio da tradição:


Os antigos iniciados procuravam sua elevação seguindo o caminho e a formação dos
Templos de diferentes Deuses. Quando falamos de “Deuses”, devemos entender que dentro do
conceito iniciático antigo todos eles tinham uma origem comum que partia de uma unidade
essencial que se divide ou se polariza.
Ainda hoje no estudo da Kabalah mística dentro da árvore da vida podemos perceber
que cada sefirotz têm como portas de entrada nomes de Deuses ou manifestações divinas do
Criador, assim como de seus anjos e arcanjos.
Para os antigos sacerdotes o compromisso de participar da criação se realizava
participando das atividades dos Templos que representavam os corpos vivos das divindades na
terra.
Para o judio errante na diáspora Deus era representado pela lei, a procura do sagrado
passava pela conquista da pureza atingida pela prática dos mitsbotz. [79] Deus exige do povo
hebreu o cumprimento da lei e em troca lhe oferece um mundo em ordem e harmonia.
O místico Kabalista na sua Fé em Deus percebe os mandamentos como degraus que lhe
permitem ter acesso ao divino. As orações, a preservação dos preceitos, a leitura e o estudo da
Torah e os livros sagrados serviam ao jasid [80] como uma bússola que orienta o encontro com
Deus.
Dentro da kabalah hebraica se fala do “Dom Jô” o eixo da roda, o ponto de onde partem
os raios, o centro de nosso universo o lugar onde se encontra a verdadeira força da fé.
O místico egípcio vivia numa terra sagrada, eleita pelos Deuses. Todas as construções,
cidades, santuários casas são concebidas com a idéia de estar no “centro”.
O conceito de centro no Egito não representava somente um sinal espacial inerte e sem
sentido, era o lugar de convergência e nascimento das direções do espaço. O símbolo do nó
mágico que une os contrários, o lugar onde se encontram as forças vitais que fecundam a
natureza. Assim por meio do rito de orientação dos pontos cardiais o homem se faz capaz de
provocar a manifestação objetiva do sagrado. O nó de energia que mantém a Criação.
O ponto de partida se simboliza por um poste sagrado que representa o eixo do mundo o
lugar onde o céu e a terra se encontram. Assim percebemos que um obelisco, o pilar Djed, [81]
uma montanha, uma ilha podem assumir seu simbolismo original.
O próprio Deus era representado como um poste com uma bandeira que indica a
presença de uma potência invisível.
Para o discípulo egípcio era necessário estar no Centro, viver habitar significa criar um
laço com o universo. O espaço orientado ao redor de um centro expressa sempre um ponto de
união com o todo. O centro lembra a origem e cria um microcosmo onde se unem o sagrado e o
profano.
Para o iniciado egípcio todo seu país era um grande lugar sagrado e os Templos os
lugares onde poderia ter acesso à sabedoria e o conhecimento. O iniciado era considerado um ser
“Orientado”, aquele que é capaz de dar um sentido a todos seus atos e gestos.
Para o Judeu, o que o mantinha unido com sua identidade eram a Torah, suas palavras,
suas letras eram símbolos sagrados. Isto determinava a existência de um Deus que amava seus
filhos e se comunicava com eles.
O universo espiritual do Egito antigo nos revela suas claves na união da palavra e a
imagem que se reúnem na sua escrita An En Neter Zaú.[82]
Cada imagem era considerada como um núcleo de forças capaz de atuar ou receber
influência exterior. O tratamento da imagem não persegue uma finalidade estética, mas uma
finalidade mágica e sagrada. O objeto representado na pedra no metal, no couro, ou no papiro
obedece a uma rede de correspondências, de analogias que transcendem sua significação
concreta.
As imagens para os egípcios abrem portas a dimensões desconhecidas do ser e do mundo.
Entramos no universo dos símbolos.
Toth, o Deus inventor dos hieroglíficos, senhor das medidas personificava no antigo
Egito todos os poderes que se podiam obter na arte das figuras sagradas. A escrita sagrada eram
desenhos capazes de ligar diferentes mundos e níveis de realidade, o mundo interno e externo a
mente e a matéria.
Desde o ponto de vista místico a imagem pode então ser de capital importância como
base de fixação de todo processo meditativo, assim como a invocação e a palavra que se
transforma nestas culturas num elemento mágico de transformação.
Temos um paralelismo mítico entre os Kabalistas Judeus e os próprios egípcios, os dois
percebem sua escrita e palavras de força [83] como sagradas. Como explicamos anteriormente
este fato energiza as letras e as palavras com uma força espiritual que permite ao iniciado
ascender a outros graus de compreensão.

O ESPAÇO PARA O INICIADO EGÍPCIO:

A geografia Sagrada:
Para a tradição egípcia o homem pode viver a experiência de relacionar-se com o
universo por meio de um território Sagrado que integra o espaço e o tempo, e que tem por
finalidade reproduzir na terra as configurações do mundo celestial.
O egípcio cria assim seu mundo como um modelo ideal o mesmo dos Deuses ao criar o
universo. Isto não quer dizer que os homens em geral se consideram Deuses, mas que não podem
viver no caos. A mística egípcia leva o discípulo a situar se num mundo organizado num Cosmos
Graças aos ritos de orientação o espaço profano se converte num “espaço Sagrado”,
habitado por Deuses e organizado pelas leis de Maat.[84] O espaço adquire um sentido e o
homem pode se incluir e viver no tempo sagrado que transforma o tempo linear no ritmo do
“tempo cíclico” que tudo regenera.
Obedecendo as regras da orientação e o calendário sagrado o céu e a terra se
reencontram e interpenetram provocando a união do alto e do baixo, do visível com o invisível.
O homem fica como mediador entre o Céu e a Terra:
Assim como o Jasid que procura a harmonia e a ordem pela lei da Tora, o egípcio a
encontra na regeneração o que permite vencer a ameaça constante do caos.
Por meio da geografia Sagrada ensinada na Casa da Vida ao lado dos Templos, os
sacerdotes egípcios conectavam com seus ritos o mundo terrestre com o celeste que os
regenerava com sua energia invisível e o reorganizava de forma inteligente.
Esta conexão entre os dois planos incumbida fará a seus representantes, os sacerdotes
magos das casas da vida. O sacerdote mago não só repetia fórmulas, ele também entrava num
trance místico e extático que lhe permitia estabelecer a relação entre os mundos.
Os Deuses se manifestam no plano concreto graças aos Templos e estátuas nos lugares
sagrados. O homem tem acesso ao cosmos pelo Ka e o Ba.
A grande diferença entre homens e Deuses esta na capacidade relativa de residir mais
tempo num plano ou em outro. Assim, como os homens visitam o reino dos Deuses, estes nos
visitam por meio de suas estátuas, pedras, Templos e animais. Os grandes mediadores e
participantes desta comunhão seriam o Faraó, os sacerdotes iniciados e os mortos.
Quem ensina os homens na casa da vida a ordem dos rituais e as palavras invocadas é o
Deus Toth, o escriba. O nome de Toth contém todos os nomes, todas as luzes, todos os poderes e
a imagem de todas as coisas.
O homem inspirado por Toth consegue vencer o medo ao vácuo, ao caos, ele se situa no
coração do iniciado, no centro dos opostos e os equilibra transformando-os em complementares.
A magia na prática tradicional não procura milagres, mas estabelecer uma
correspondência uma relação entre as partes e o todo para que interatuem em harmonia. Voltando
assim, ao principio de preservar o equilíbrio entre o céu e a terra.
Este ato implica um trabalho interior de conhecer-se, dominar-se para transformar-se
num canal das leis que regem o Cosmos.

A iniciação do Sacerdote mago:


Os sacerdotes escribas e iniciados na magia faziam seu ritual de acesso ao portal nas
casas da vida, chamadas Per Ank. Neste lugar se estudava os textos teológicos, os tratados de
magia, astronomia, medicina e matemáticas. Mas o mais importante como se indica nos textos
era que se ensinava a “abrir o Coração” para permitir acesso à sabedoria. [85]
O diagrama místico oculto nas casas da vida se sintetiza no símbolo da cruz da vida o
Ank. Este símbolo representa a união mística entre o curso do rio Nilo (Sul-Norte) e o trajeto da
luz do sol no céu (Leste-Oeste).
Por meio da cruz o céu e a terra se unem permitindo a circulação da vida universal.
Os sacerdotes empregaram a cruz para organizar a geografia sagrada nos desenhos de
suas construções, fórmulas e rituais. Desta forma converteram o Egito num espelho do Céu, um
centro de comunicação entre um mundo e outro. Desta forma permitiam a quem se iniciava ter
um acesso a novas formas de consciência.
Esta sabedoria consiste em poder reconhecer a função e utilidade de cada aspecto da
natureza, e utilizar isto para o desenvolvimento da sociedade e do homem.
A casa da vida estava composta por quatro construções em forma de cruz com um
centro de forma quadrada. Cada muro da sala central destes santuários conduz a uma porta que
se abre em direção aos pontos cardiais. No centro do quadrado mágico encontra-se a estatua de
Osíris olhando para o leste. Osíris e a clave da instituição da casa da vida. Tendo vencido a morte
conhece os mistérios do renascer e o eterno retorno dos ciclos. De pé, no centro da sala
representa o eixo vertical que une Céu e Terra.
A casa da Vida em seu caráter esotérico era uma formação que oferecia o conhecimento
do mundo dos Neters por meio de um desenvolvimento interior. Por meio do desprendimento do
Ka e o Ba o iniciado poderia entrar no mundo dos Deuses. E só experimentando esse mundo
astral poderia se compreender a natureza e suas leis.
Por este motivo a casa da vida estava edificada do mesmo modo que a cidade Templo de
Abydos, onde residia o santo sepulcro de Osíris, simbolizando a colina primitiva da criação do
mundo.
Em Abydos pode se reencontrar a origem da vida e por conseqüência a imortalidade.
Sabemos hoje, que todo iniciado no antigo Egito viajava a Abydos, uma vez por ano, em
peregrinação, para realizar ou iniciar - se nos mistérios da eternidade.
Os místicos iniciados experimentavam vários graus de morte e renascimentos
simbólicos permitindo assim novos estados de consciência.
Hery-a - Aprendiz. (esta abaixo a mão de...).
Nebef - Mestre
Ur Hekau - Mago da casa da vida.
Fekety - Sacerdote encarregado do culto.
Henty - Sacerdote encarregado dos rituais mágicos.
Sesh-Netchery-Shefedu-Djehuty - Leitor dos livros sagrados de Toth.
Para que o cerimonial mágico funcionasse eram necessários quatro fatores: o Mago, as
imagens sagradas, as palavras e atos rituais.

O FIM DE UMA ERA:

No ano 535 D.C. o imperador bizantino Justiniano lançou desde Constantinopla o decreto
que mudaria o curso da história. Decreto por lei o fechamento imediato de todos os Templos de
Egito que continuassem cultuando os antigos Deuses.
O decreto provocou uma avalanche de crimes, e os últimos remanescentes dos Templos
antigos eram mantidos pelos sacerdotes de Ísis. O Templo da Deusa em Filae foi invadido, seus
sacerdotes massacrados e os Deuses trocados por cruzes.
Com este decreto se perderam por muitos séculos os últimos mistérios da Deusa, e como
os Templos eram o último refúgio de sua cultura, sua escrita, sua língua, seus símbolos foram
enterrados junto com seus antigos Deuses.

O CAMINHO INICIÁTICO.

Na procura da árvore da vida egípcia:


A árvore da vida se torna participe da enlevação mística do Iniciado, mas suas origens
certamente são mais antigas do que ainda podemos imaginar não só no Egito, mas em toda a
cultura mesopotâmica.
Na mitologia Egípcia, no sistema de Nove Deuses de Heliópolis, o primeiro par divino
[86] e Geb e Nut [87], representam Isis e Osíris.
Acreditava-se que estes teriam emergido da Acácia de Saosis, que os egípcios consideravam ser
a Árvore da Vida, referindo-se a ela como "a árvore em que a vida e a morte se encontram
unidas".
Outro mito relata como Set matou Osíris, fechando-o num caixão, e jogando-o ao Nilo.
Esse caixão posteriormente se tornaria a base de uma árvore o Tamarix.
A Figueira Sagrada egípcia também significava a fronteira entre a vida e a morte,
estabelecendo a ponte entre os dois mundos.
Podemos perceber que os antigos mitos se referiam as árvores diferentes, mas todos
simbolicamente associados aos mistérios da vida e a morte, o estudo e a experiência fundamental
do iniciado.
Numa citação do Zohar muito posterior aos mitos egípcios lemos:
“A árvore cósmica tem suas raízes no Líbano”.

Árvore cósmica é aquela que representa na terra a ordem do céu, esta


frase do Zohar nos mostra como territórios podem representar espaços sagrados.
(Representação da Árvore da vida em pontos da África)
Minha procura pela árvore da vida egípcia me levou a ter a percepção que os antigos
associavam esta árvore com o rio Nilo. “Aquele que trás a vida.”
Os mitos egípcios reforçam esta tese, quando vemos que sempre se referem ao Nilo
como o caminho de entrada dos Deuses, e sua morada estaria embaixo de suas águas.
Todos sabem que Egito era considerado um lugar sagrado “Kem Ra”[88]. Mas o eixo, a
línea central desta terra sagrada era marcada pela presencia do Nilo. O rio em si era considerado
um Deus e suas águas representavam à força vital do Egito, o sêmen que fecunda a terra.
Acredito que aquele discípulo que queria evoluir espiritualmente o fazia seguindo um
percurso espiritual pela sua própria terra. Nessa peregrinação Iniciática os Sefirotz da árvore da
vida simbolizam os monumentos e Templos que representavam à força dos Deuses na terra.
Os hebreus saíram de Egito levando a mística da tradição, mas não podiam levar o Nilo,
assim transformaram as forças místicas dos Templos em emanações simbolizando eles na árvore.
O iniciado procura no mundo os lugares sagrados onde estas emanações se manifestam
ainda hoje, cada sefirotz nasceu de uma força primordial da criação, assim como os próprios
Deuses egípcios nascem de Atom que na religião hebraica será chamado posteriormente de Adon
ou Adonai.
A árvore da vida egípcia tem sua representação física em espaços
sagrados na terra aos lados da força da vida do Nilo e da morte do deserto.
Do lado oriental nasce à vida junto com o sol e no ocidente se oculta representando a
morte, simbolizando a polaridade da vida e os pilares da árvore sagrada.
O rio leva sua força vital de sul a norte e os discípulos iam transitando e vivenciando a
experiência da manifestação de Deus em cada Templo de norte a sul.
Em sua peregrinação os iniciados procuravam assimilar a essência dos Deuses, o Amor
de Isis, a Justiça de Maat, a misericórdia de Osíris, a sabedoria de Toth, a força de Seth, a
iluminação de Ra. Todos estes são elementos necessários para a formação da alma do discípulo,
assim como ao espírito da sociedade.

A água, a terra, o ar, a luz, os elementos e os Deuses davam vida


à civilização do Nilo. Este fenômeno mágico era vivido e reproduzido no caminho iniciático,
aquele que percorria e experimentava a sabedoria de cada Templo teria uma visão única do
criador.
Resta para nós seguir seus passos e procurar na árvore da vida e nos Templos sagrados
do Nilo as essências que nos preparam para o encontro com o criador.
(Representação kabalista da árvore da vida 1617 e imagem do Nilo e seus centros de poder representados por
monumentos e Templos)

OS SETE PODERES:

Os egípcios tinham uma representação dos caminhos de desenvolvimento associado a


sete forças primordiais representadas por sete centros de força ou sete selos que devem ser
procurados, desenvolvidos e abertos pelo discípulo.
Cada um destes selos representa uma glândula, um Deus, um planeta, um Templo a ser
descoberto. Quando as portas do Templo são abertas e o discípulo entra nele se lhe outorga o
poder necessário para ascender e abrir as portas do próximo selo.
Citação kabalista:
“Quando Deus deu a Torah a Israel, ele abriu sete céus a eles, e eles viram que nada
estava realmente lá além de Sua Glória. Ele abriu os sete mundos para eles, e viram que nada
estava realmente além de Sua Glória. Ele abriu os sete abismos, perante os seus olhos, e eles
viram que nada estava lá além de Sua Glória”.
Os sefitotz, e os Templos egípcios preparam o discípulo para encontrar-se com o
Criador, o kabalista hebreu procura numa peregrinação de trinta e dois caminhos para chegar até
a presença divina. Os místicos egípcios atravessavam as areias ardentes em sua procura para
perceber todas as facetas do criador. O deserto foi o mestre de grandes iniciados como
Amenophys IV,[89] Moises e Cristo. Todos eles atravessaram seu silêncio na procura da
sabedoria.
O desenvolvimento dos sete poderes, os sete Deuses interiores da ao iniciado o poder de se
transformar num mago[90] e desta forma poder participar da criação. Isto representa curar,
ensinar, melhorar a vida da sociedade e da humanidade, assumir a responsabilidade como filhos
e como irmãos.
O encontro com Deus nos gera responsabilidades inimagináveis e aquele que adquire “o
toque de Deus” têm que estar preparado para assumi-las.
O kabalista hebreu divide sua experiência e conhecimento com seu povo, aquilo que ele
valoriza mais. O místico egípcio plantava a sabedoria na sua terra sagrada e os iniciados do
mundo têm um débito com a humanidade. Quando o conhecimento é recebido à responsabilidade
vem junto, e quando isso se esquece, corremos o risco de ser perseguidos pela consciência divina
[91].
O desenvolvimento do místico Egípcio passava pelas práticas de diversos Templos onde
as experiências de Catalepsia e a prática do Mehen [92] levariam o discípulo a experiência do
Imakh o desprendimento astral e sua iluminação. A partir desse estágio, a visão de Deus, o
universo e o homem mudariam radicalmente e não poderia voltar a ser um homem comum.
O Iniciado no final de sua jornada morria simbolicamente no Templo de Abydos para
renascer no universo, no grande Ovo cósmico, o Reino de Deus.

A EVOLUÇÃO MÍSTICA DO INICIADO EGÍPCIO

Assim como os kabalistas hebreus, os místicos egípcios tinham uma série de caminhos a
percorrer no encontro com “A Luz” e a eternidade.
O livro mais antigo dos egípcios é chamado do “Livro dos Mortos”, quando na realidade o
verdadeiro nome dele é “O Livro da Saída a Luz do Dia” ele trata sobre formas de atravessar os
obstáculos que surgem na transição da alma.
Para os antigos egípcios estamos na terra para transitar uma jornada que atravessa
realidades obscuras que só são debeladas nos mistérios da transição a outra forma de existência.
O egípcio vivia num ambiente “sagrado”, sua terra, seu Nilo, os animais, a natureza, o
deserto, as estrelas, todos eram Deuses[93] e guias na sua jornada. O próprio país era um enorme
Templo numa época em que os Deuses habitavam na terra.
Dentro dele o iniciado tinham inúmeras forças a descobrir para chegar a atingir a “luz
brilhante” e a eternidade. Seu trabalho como discípulo estava fundamentado no desenvolvimento
de suas energias ocultas, e para isto deveria peregrinar e transitar de Templo em Templo, de
Deus em Deus, de mestre em mestre até adquirir o conhecimento e a experiência necessária para
controlar seus “nove corpos”.
Todos conhecemos a divisão do ser humano em três corpos egípcia, o Khet, Ba e Ka,
mas o que é pouco conhecido e que estes corpos a sua vez se subdividem em outros. Conhecer
estas forças que habitam o ser, que o relacionam com o íntimo de seu físico, seu lado espiritual e
astral era a missão de todo iniciado. Seu trabalho era ir abrindo as portas ocultas e estabelecendo
ligações que permitiam que o poder de cada corpo fosse desenvolvido.
Quando se fala dos sete poderes estamos falando apenas do desenvolvimento de um
desses corpos, o astral[94]. Mas existem outros oito que tem suas necessidades de atenção,
alimentos, exercícios e meditação diferenciados.
As palavras mágicas no Egito[95] são usadas mentalmente, pronunciadas ou escritas
com as letras da língua sagrada. A kabalah hebraica tem um sistema de letras, símbolos e
números que são chaves importantes para atingir suas metas espirituais. Os egípcios tinham
milhares de combinações dentro de uma simbologia e escrita muito diferentes, mas com alguns
pontos em comum.
Farei uma breve descrição destes corpos ou núcleos de força, e após vou descrever
algumas meditações que trabalham sobre eles e seu desenvolvimento.
1 Khet Corpo físico Representado por o peixe
2 Sahu Corpo espiritual Representado pela múmia
3 Teth Corpo astral Representado por serpente
4 kaibith Aura[96] Representado por abanico
5 Haiti Herança, Representado por Cabeça de
instintos[97]. Leon
6 Ab Vontade Representado por vaso
7 Ka Individualidade Representado pelos braços em
alto
8 Ba Vínculo com divindade Representado pelo Falcão
9 Khou O poder mágico Representado pelo pássaro
Bennu
1) O corpo físico Khet também pode ser chamado ka, é aquele que a maioria das
pessoas pensa quando se referem ao seu corpo. Representa a forma física, o corpo que
termina com a morte, a parte mortal do ser humano, que pode ser preservada através de
mumificação. Em termos místicos se considera o caixão no qual fomos aprisionados.
Sahu é o corpo espiritual, o mundo da experiência religiosa. É o corpo de luz que retorna
a sua fonte, o estado espiritual desejado por todos, pois uma vez morto não existe outra
transição para ele.
Sahu representa o corpo espiritual incorruptível, que habitaria os céus, depois do
julgamento feito pelos Deuses com todas as habilidades mentais e espirituais do homem,
enquanto vivo.
2) Teth, ou corpo astral é o corpo que se une aos outros universos por meio dos centros
de energia.
3) Khaibit - A sombra do homem. Podia participar das oferendas funerárias e era capaz
de se desprender do corpo e viajar, por conta própria, embora dependesse do Ba para
existir.
4) Haiti fonte de vitalidade, alma ou energia instintiva. Esta força esta muito unida a
terra, a natureza e a sua força vital.
5) Ab representa o coração. Era a fonte do bem e do mal, dentro da pessoa, é o centro
dos pensamentos. Podia deixar o corpo, quando quisesse, e após a morte e o julgamento
iria viver com os Deuses ou seria devorado por Ammut, retornando a terra, caso não
tivesse uma pesagem adequada no julgamento final.
6) O Ka é chamado também duplo etéreo. Pode ser definido como um princípio
imaterial, invisível e volátil que permitia assegurar a sobrevivência dos homens neste
mundo, e lhes conferia a vida eterna no outro. O Ka é semelhante ao Khet já que tem
forma. O ka pode ser considerado oposto ao ser, igual a Seth em relação a Hórus.
O Ka de um homem podia sair do corpo enquanto a pessoa dormia, podia, também
aparecer como fantasma para outras pessoas que lhe tivessem feito algum mal. O Ka
poderia atormentar a vida da pessoa que o prejudicara, até que esta corrigisse o mal
feito.
7) Ba é um corpo que define o caráter e as afinidades do individuo. Designava um
princípio/elemento imaterial, invisível e volátil que conferia ao morto, na vida de além-
túmulo, a capacidade de movimento. Em plural Baw representa a alma cósmica o hálito
de vida na natureza. Quando simbolizado pelo carneiro de chifres horizontais, é a alma
que anima todos os seres e se acham sujeitos à ressurreição cíclica.
8) Khou ou Akh representa o poder mágico é algo raramente vivenciado pelas pessoas.
O contato com este plano é geralmente experimentado pelo mago sacerdote iniciado
devidamente treinado. E através deste corpo que temos o poder de servir ao cosmos o ao
caos. E o estado mais próximo dos Neters. Este estado se considera anterior ao processo
da criação. Khou é a parte imortal, o ser de luz que habita o intelecto, é a vontade que
sobrevivia à morte e ascende aos céus, para viver com os Deuses.

A VIDA ETERNA:

O mito de Osíris como Rei dos mortos num paraíso celestial, [98] e a psicostasia eram
crenças que acompanharam a cultura egípcia desde suas origens. A recompensa da vida eterna
era outorgada a aqueles cuja alma tinha passado pelo teste da pesagem do coração.
A idéia de vida após morte para o iniciado é algo diferenciado do conceito religioso
egípcio. O processo de abertura da boca representa a preparação mágica para que o Ka e o Ba se
integrem e formem um novo corpo, algo que não tem similar em outras culturas. Nesse ritual de
transformação o Ka unindo se ao Ba forma uma nova energia que adquire identidade e pode
viver mais de 10.000 anos. Esta foi uma das crenças que motivou os antigos egípcios a construir
monumentos mortuários que durassem milênios.
Os conceitos de morte e eternidade são profundamente estudados no processo iniciático,
mas para entender o fenômeno da morte deve se passar pela experiência do desprendimento. A
separação do Ka e o Ba do corpo eram práticas comuns na iniciação.
A vivência destes fenômenos leva o discípulo a entender que para atingir a vida eterna[99]
na transição da morte devia passar pela prática de exercícios, assim como a adoção de novos
valores a serem desenvolvidos para ter acesso a outra forma de existência no universo.
Existia outro elemento fundamental para atingir a eternidade que tem a ver com uma parte
vital do homem em sua jornada através da vida e na pós-morte. Uma parte mágica, que poderia
dar poder ou destruir o homem, caso seu nome fosse esquecido. Por isto, as cerimônias para
recebimento do “nome verdadeiro” [100] eram secretas, e a pessoa usava toda a vida, um
apelido, para que ninguém soubesse seu verdadeiro nome.

A mística Egípcia e a Hebraica:


O kabalista hebreu tem como meta se unir a divindade recriando a unidade inicial voltando
assim ao paraíso.
O místico egípcio tinha a idéia da separação como algo inerente ao homem. Os vários
corpos fazem parte de um processo a ser descoberto e trabalhado para chegar à evolução que
Deus e os Deuses esperam de nós.
O Kabalista percebe o Paraíso como algo interior e absolutamente espiritual. O paraíso
para os egípcios era sua pátria, algo físico que tem origem numa visão espiritual. [101] O egípcio
vivia numa terra sagrada habitada por Deuses incorporados a uma natureza vibrante que se
comunicava interna e externamente com o habitante.
O Hebreu procurava uma terra sagrada habitada pelo manto da divindade. O místico
hebreu teve que peregrinar pelo mundo procurando sua pátria, sua cidade da Paz, [102] e seu
Templo. Os egípcios viviam numa terra de Deuses vivos que se relacionavam com os homens e
lhes ofereciam em troca saúde, alimentos conhecimento e uma “vida eterna”.
Os egípcios tinham uma estrutura para o desenvolvimento da alma muito mais organizada
que a do Judeu errante perseguido na diáspora.
A diversidade de crenças promovia a identificação com os Deuses. O egípcio tinha
popularmente uma crença politeísta muito associada às carências e necessidades da população. A
idéia monoteísta era algo limitado, a um grupo seleto de místicos e iniciados. A revolução de
Akehenaton não deu resultado pelo simples fato que “não podemos tirar os Deuses nem as
necessidades humanas por decreto”.
“Os Deuses” hebreus, por mais que façam parte da própria Tora como “Heloim” [103] não
são aceitos oficialmente. Ainda que todos reconheçam os nomes dos 72 anjos ou emanações
divinas do nome de Deus. A predominância da doutrina monoteísta de Moises e Akehenaton
aparenta prevalecer dentro da Kabalah hebraica, mas as necessidades humanas ainda são mais
fortes.
Estas duas culturas desenvolveram uma evolução espiritual de formas diferenciadas. O
kabalista muito centrado nos exemplos bíblicos, e suas chaves e combinações de palavras e
intenções. Podemos afirmar que o povo hebreu e seu misticismo “nascem da Tora”.

O egípcio tinha exemplos de vida e justiça nos mitos de seus Deuses na


doutrina de seus Templos, nas histórias de seus mestres e Faraós, assim como no silêncio do
Deserto.
MEDITAÇÕES EGÍPCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO

“NERI BAR GAR”

Nas histórias da tradição, transmitidas de Mestres a discípulos se fala de Zedna, filho de


Ramsés II o grande faraó.
Zedna observou e admirou seu pai, suas conquistas, sua fama e quis ser igual a ele, ou
ainda maior, por esse motivo procurou por muito tempo a forma de superá-lo. Para isto falou
com Sacerdotes e magos que o recomendaram a procurar o famoso “Livro de Osíris” [104] que
lhe daria grandes poderes.
Na sua procura se passaram anos até que soube de um grande Ierofante que sabia onde o
livro estava escondido e como recuperá-lo. Após muita procura Zedna achou Bakeshna, o
Mago, e se apresentou a ele como filho do grande Faraó.
Após vários encontros Bakeshna lhe indica onde fica o poderoso Livro de Osíris, aquele
que tem o poder sobre a vida e a morte que foi escrito pelo Deus Toth.
- Toma uma Barca e te encaminha ao meio do Rio Nilo, ai encontrarás uma pequena
ilha, desce sozinho e leva contigo pão cozido untado com azeite, como oferenda, que oferecerás
a tudo o que tenha vida.
- No centro da ilha, ao lado de três palmeiras acharás um cofre de ferro, dentro dele,
outro, de prata e marfim, e dentro dele, outro, de ouro onde se acha o Livro de Osíris.
- Quando leres o livro desenvolverá um poder extraordinário, conseguirás ser dono
absoluto do horizonte[105]. Poderás também ter poder absoluto sobre Shet e todas as forças da
natureza. Mas lembra, enquanto estiveres com ele em tuas mãos deverás ter sobre tua cabeça um
braseiro que representa o fogo dos Deuses.
Zedna escutava as palavras do mago e ficou pensando e imaginando o poderoso que seria
quando obtivesse todos esses poderes...
No caminho de sua aventura Zedna se encontra com a Princesa de Gudu, uma formosa
mulher bonita e sedutora que lhe pergunta aonde se dirigia com tanta pressa. Ele lhe responde
que ia à procura do famoso Livro de Osíris. E ela lhe faz outra pergunta:
- Tu sabes por que queres ser tão poderoso?
E ele lhe responde:

- Quero seguir as idéias de meu pai e realizar tudo aquilo que ele não conseguiu.
Enquanto falavam Zedna observava atentamente os movimentos do corpo de Gudu, suas
roupas transparentes, seus olhos pintados, suas pernas e seus seios descobertos no vestido de
linho semitransparente.
O filho do faraó fica excitado e pede a ela se entregar a ele. Ela lhe responde que sim, mas
que precisa cem moedas de prata para guardar para seu túmulo e para sua eternidade.
Ele fica ofendido e a insulta, mas termina lhe outorgando seu pedido. Então ela o convida
para ir a sua casa onde poderia posteriormente chamar um escrivão e confirmar o trato que
tinham feito.
Ele meio confuso e desejoso decide acompanhá-la.
Quando chegam perto da casa Zedna fica admirado com os jardins externos, os muros e as
construções de bom gosto que ela possuía, e a elogia.
Ela responde:
- Fez tudo isto pensando sempre que esta seja uma casa de amor e felicidade.
Pouco tempo depois entram na sala ricamente adornada, onde têm frutas frescas e secas,
aromas agradáveis, flores, almofadas e uma música que surgia de outra sala, ao lado, feita de tal
forma que os músicos não enxergavam o que ali acontecia.
Enquanto estão juntos, ela dança para ele, e vai tirando aos poucos suas roupas;
enquanto escutam músicas e melodias tomam vinhos embriagantes.
Nesse momento ela pede para ele que lhe entregue toda sua fortuna e fique para sempre
com ela, e ele envolvido no momento, não se conteve e aceita.
Passa um tempo e ela coberta de óleos aromáticos massageia o corpo dele com seu próprio
corpo nu, deixando-o louco de desejo e paixão. Nesse instante Gudu diz para ele:
- Como vais ficar comigo então, terás que matar teus três filhos para que não interfiram
com os meus no futuro.
Ao que ele também termina aceitando.
E por último antes de consumar a relação com ela, Gudu solicita o livro de Osíris a ele.
Zedna, não pensa muito nesse momento de desejo e sem resistir o concede.
Em esse instante Zedna se desperta e toma consciência que estava sonhando frente ao
Mago.
Bakeshna olha para ele e lhe diz:
- Zedna filho de Ramsés II, tu não é digno de ter tal poder, sacrificastes teus filhos,
quebrastes até teus próprios ideais, entregastes tua fortuna e o livro, tudo por paixão. Foste
testado e perdestes, agora sai daqui. Daqui a um ano poderás voltar e serás testado novamente de
outras formas até que tua alma este pura de desejos e pronta para evoluir.
Bakeshna nos ensina esta meditação para o iniciado não se perturbar em seu caminho.
Para vencer todo tipo de tentações, de falsos poderes e desejos incontroláveis. Quando se procura
firmeza em definir uma identidade, quando queremos manter sempre presentes as coisas
importantes da vida.
Pensamos na manhã, a palavra NERI. [106]
Antes de almoçar a palavra BAR.
E antes de dormir a palavra GAR.
Aos discípulos que estão casados se recomenda fazer a meditação final às 18 horas, porque
pode afetar sua intimidade e seu relacionamento.
Estas palavras estão escritas no túmulo de Bakeshna:
“Trata de conservar tudo para quando transcendas possas viver 10.000 anos. [107]
Voltarei a viver em distintos corpos antes de retornar novamente, mas quando o faça quero
manter minha essência. Que as tentações não façam tremer a firmeza nas minhas crenças”.
Ninguém se lembra do tumulo de Bakeshna, ele continua esperando seu Ka.
Deus Toth

“NA SHI ABI”


Conta à tradição que teve um príncipe egípcio que se afastou da corte e foi ao deserto
em procura de outro reinado e outro Deus.
Uma manhã o filho primogênito se aproxima do Faraó, seu pai, e com calma e respeito
fala para ele:
- Prezado pai, vou partir em peregrinação ao deserto, como os profetas, em
procura da verdade. Espero encontrar o que desejo e então retornar.
- Estou partindo porque não me sinto convencido desta verdade que a vida me
apresenta. Nem os sacerdotes e seus Deuses, nem tu, meu pai, me mostraram a verdade que meu
coração precisa sentir.
O Faraó escuta a seu filho e lhe pergunta:
- Quatorze Deuses não foram suficientes para te convencer, nem aquele que é o pai
de todos eles. Nem eu te ofereço a confiança o amor e a segurança que precisas para viver.
- As noites que passeamos pelos jardines e te ensinava as mensagens da Lua. Quando
tua mãe te acalmava a fome e saciava tua sede, quando os sacerdotes te curaram tuas feridas;
nada disso foi importante?
- Não te convencem o Sol, a Lua, as estrelas?
- Não pai eu vou à procura da verdade, e com certeza não voltarei se não a encontro.
Ele jamais voltou...
E Sethi o faraó todas as noites olhava o por do sol como esperando o retorno de seu filho
Atsira.
Perguntar-se-ia Sethi se seu filho encontrou a verdade? E se não a encontrou, então, não
quis mais viver nesta mentir.
No Templo de Sethi vemos como o Deus Horus tem uma criança entre suas mãos. Talvez
como Sethi quisesse ter seu filho novamente.
O Faraó nunca se resignou com a perda de seu filho. Assim aparece representado em
Abydos, nas imagens gravadas nas paredes do Templo vemos um homem que perde um filho no
deserto.
Sethi foi um dos Faraós que compus o Livro da Saída a Luz do Dia, se diz que 10 a 15
páginas foram compostas por ele.
Ele tentou reviver os Deuses mortos nos que nasciam talvez, porque os Deuses procuram
uma verdade; como seu filho o fez.
Sethi foi o Faraó que mais se perguntou se ele vivia uma verdade, ou não? Se a viagem de
seu filho foi só por um capricho? Ou se foi por um castigo dos Deuses, porque aqui faltava a
verdade?
Sethi foi o Faraó que fez mais jejuns. Ainda sabendo que tinha fartura em seu país. Que
procurava este homem em seus castigos? Esperava uma verdade, seu filho de volta?
Tinha nessa época um grande sacerdote Ashira que respeitava o Faraó e era padrinho de
Atsira. Mas ele não aceitava as dúvidas do Faraó:
- Que verdade procuras tu, filho de Deus?
- Ashira, grande sacerdote, eu duvido que seja filho de Deus.
- Tu és o eleito do alto e baixo Egito, aquele que comanda nosso povo, que entende as
mensagens dos Deuses e mantém a ordem sobre nosso país. Somos um povo eleito sem
enfermidades com cultura com leis e ordem.
- Mas Ashira isso não tira o fato de que “não vivemos na Verdade”.
Akehenaton reviveu esta lenda em que se procurou tanto a verdade.
E ele a interpretou assim:
“A verdade não esta em ser filho de Deus, mas em servir a Deus”.
Para chegar à verdade temos sempre que pagar um preço.
Será que é suficiente saber que a estamos procurando?
E sabendo que estou procurando então, tenho certeza que não a estou vivendo?
A meditação começa quando temos que pagar um preço frente à verdade.
Mas como os homens podem saber se estamos frente à verdade?
Da mesma forma que os alquimistas provam o Ouro, “com ácido”.
Esta é uma meditação para que o iniciado fique desperto em sua procura, que não perda
seu objetivo frente a tudo o que se lhe oferece na vida, frente às “verdades” que a sociedade e as
religiões nos vendem. Se quisermos crescer precisamos ver tudo num plano real o que nos dá
uma tranqüilidade espiritual para poder entrar num plano místico de elevação.
Precisamos encontrar uma liberdade dentro de nós onde as coisas materiais não nos
influenciem. Ser como estrelas frente à verdade.
Esta meditação foi feita por Akehenaton, e se diz que nela encontrou ao Senhor (Aton).
Amenophis IV encontrou dentro de sua alma uma essência superior, indescritível e sem
nome. Assim ele chegou a sua verdade, sem dogmas, sem religião a própria essência da criação.
Quando o homem encontra sua verdade fica preparado para outras.
Já conheci algumas pessoas que fizeram esta meditação para encontrar suas verdades
pessoais.
Será que devo me casar com esta pessoa?

Será que posso me curar desta enfermidade?


Esta meditação é importante para a evolução do iniciado na sua procura, ela nos mostra “o
caminho”.
Assim quando o Sol desce no horizonte, quando uma verdade se oculta podemos procurar
outra...
A meditação se faz ao por do sol, olhando para oriente, com os braços cruzados sobre o
peito e mentalizando o hekau: Na-Shi-Abi.
Ter certeza do caminho, não deixar se influenciar e manter a procura da verdade à frente,
marca os primeiros passos da caminhada.
“MISHA A RÁ”
“MISHA A ATON”
“IERU SHALEM”
Antigamente quando o Faraó se despedia de alguém dizia: Ieru shalem, (vai com a paz).
Que aonde vocês vão achem a paz, porque encontrar a paz é encontrar a felicidade.
Uma antiga tradição nos fala de um Templo que se chamou Ieru Shalem. Os místicos se
perguntaram sempre:
Onde está esse Templo?
Onde podemos encontrar esse lugar que o espírito tanto anseia?
Nunca se encontrou, e esse desejo se transformou num Templo abstrato num plano
astral, onde só místicos solitários poderiam ter acesso.
As tradições continuam dando origem a outras histórias como as da Cidade Santa Ir a
Kadesh e Ir hazahov um lugar semelhante a um paraíso, onde não é preciso matar para viver,
onde não se conhecem as armas, nem a violência e onde tudo é maravilhoso. O lugar onde
nasceriam todas as religiões.
Os kabalistas hebreus se perguntaram: Não será a Ieru Shalem a cidade da paz? Mas
não se encontram respostas na Tora nem no Talmude.
Quem mudou aquele sonho, aquela essência?
Os egípcios sonharam e trabalharam para transformar o deserto num Oásis. Sempre
levaram adiante os desejos do espírito construindo pirâmides, Templos e cidades. Este povo foi
o único que nunca teve o desejo de conquistar o mundo, na maioria de suas guerras se
defenderam de agressões. Para eles Egito era uma terra sagrada e não ambicionavam mais nada
que vive nela em paz.
As religiões mudaram a essências, talvez para fortificar seus credos, ou por uma
degeneração do tempo, ou por não acreditar mais em seus próprios sonhos.
Os antigos sacerdotes egípcios nunca mataram dentro de si seus sonhos de criar um
paraíso na terra e uma cidade da paz. Eles acreditavam que tem que ter um lugar no qual o
homem possa viver em paz, sem inveja, sem ódios, sem maldade. Mas tinha que ser aqui, não no
céu.
Os antigos sacerdotes egípcios ao igual que os Franciscanos de Assis procuravam o
mesmo em suas meditações:
“Os sonhos são flores, são poesias que adornam e embelezam a vida”.
“Leva-me Deus ao lugar onde os homens se amam”
O que mudou em 40 séculos?

Os sacerdotes egípcios se fechavam em câmaras de 7 x 7 metros e meditavam sobre a


Ieru Shalem. Seu espírito, sua mente, seu coração e seu corpo[108] se uniam a esse pensamento.
[109]
“Vamos construir um mundo onde reine a paz onde o homem viva para crescer como
uma pessoa livre, sem preocupações nem desespero”.
.Nessas épocas antigas surge um místico chamado Ieshurá ou Ieshú a Rá que
representa “o salvador de Deus” [110]. Este sacerdote pertencia a uma seita que se dedicavam
integramente a uma missão. Ele dizia que queria brilhar na morte, mas nunca na vida.
Dizia-se que era tão casto e reservado que a única mulher que ele tinha tocado na vida,
era sua mãe.
Esta meditação ficou representada de uma forma oculta com um quadrado com uma
línea inferior que representava para os egípcios o cubo. Que numericamente representa três
elevados a três. Uma fórmula para transformar os sonhos em realidades.
Esta antiga meditação egípcia praticada pelos sacerdotes de diversos Templos aparece
como Misha-A-Rá antes da XVIII dinastia e como Misha-A-Aton na época de Amenophis IV.
Esta meditação se faz depois de um dia de jejum completo (de castigo) onde o místico
fica pensando que não merece comer, nem viver, se isola e tapa os espelhos da casa porque não
quer nem se olhar.
Conheci um antigo Templo Copto em Egito onde até hoje seus sacerdotes cuidam de
enfermos e leprosos e não ganhavam nada por isto. Neste Templo tinha três médicos que serviam
à comunidade. Mas para meu espírito representavam a encarnação da antiga seita de Ieshura.
Para eles, em suas vidas, esse Templo representava certamente a Ieru-shalem, o lugar onde
encontravam a paz.
Antigamente as salas sagradas de 49 metros quadrados existiam em todos os Templos
de Egito. Os sacerdotes meditavam setenta e um dias por ano nos Hekau da transformação para
plantar a semente da paz na alma das pessoas.
Estes sacerdotes escolhidos iam à peregrinação ao deserto e voltavam após messes
trazendo consigo animais selvagens domesticados.
Estes homens desenvolviam uma aura, uma energia de comunicação com a natureza que lhes
permitia mudar o próprio instinto dos animais. Quando retornavam ao Templo
apresentavam seus gatos[111] selvagens domesticados ao Ierofante do Templo e adquiriam o
direito de entrar na sala da paz. Eles tinham o poder de transformar a natureza agressiva dos
animais mais violentos e por isso tinham direito de meditar nas palavras sagradas.
Quando Akehenaton construiu Tell El Amarna ele acreditou que estava plantando a
cidade da paz.
Esta meditação se faz hoje para encontrar a paz em nossa alma.
O místico jejua, se fecha o dia todo num quarto, onde ninguém o perturba e procura
dentro dele descobrir tudo aquilo que produz conflitos, culpas e guerras internas. Tomar
consciência de nossos erros, das agressões que cometemos sem querer, dos desejos, da violência
que habita em nós são os primeiros passos da conquista da paz.
Não pensem que criar estado interior de paz, e algo fácil. Exige uma luta, um desafio
constante, talvez o mais importante da vida para quem quer participar da construção de sua
felicidade.
Meditar na paz, nas palavras sagradas, jejuar, negar nossa própria imagem, faz parte das
guerras internas que levam ao triunfo. Não estou falando do martírio, nem repressão, mas de uma
luta entre o espírito e o instinto, onde quem deve predominar sempre é o equilíbrio.
O jejum mostra ao discípulo que pode superar sua fome, sua gula, sua ansiedade; se
isolar do mundo nos leva a sentir o silêncio, mas também a realidade de estarmos sós. Tapar o
espelho, não se ver externamente e um simbolismo necessário para encontrar outra identidade
verdadeira.
Levar nossa mente, nosso corpo e coração junto com uma das combinações[112] de
palavras místicas nos dão a força para encontrar nossa paz, sem a qual não podemos: amar,
sentir, trabalhar, estudar e muito menos viver.
Todo Iniciado sabe que é responsável por ele mesmo. A nós devemos à liberdade a
felicidade e a paz, estas são nossas verdadeiras conquistas.
Quando trabalhamos internamente pela paz plantamos uma semente no futuro da
humanidade...

LUB A RÁ
Ashiaba a Ra
Quero me unir à força de Ra.
Os egípcios acreditavam que o Sol era o responsável pela origem da vida, assim como o
centro de um sistema de energia. Eles observavam o céu e as estrelas muito atentamente, sabiam
que seu maior astro tem mudanças e transformações cada 22 anos.
Os sacerdotes do Templo de Amon Ra temiam que o Sol tomasse alguma represália
contra a Terra em esses períodos. Eles diziam que cada onze anos o astro se fortifica com seus
discípulos a Terra e a Lua renovando seu poder.
Nos Templos se festejava o aniversario do Sol cada vinte dois anos, eles entendiam que
nesse momento o astro adquire tal poder que pode até destruir o planeta. Os relatos da tradição
nos dizem que o continente da Atlântida desapareceu neste aniversario Solar.
Um ano antes do ciclo de 22 os sacerdotes meditavam para que Deus perdoasse os
homens e isto não acontecesse novamente. Entendia se que o Sol representa a grande
consciência, e nossa presença não esta alheia a ele ou aos astros aos quais devemos nossa
existência.
Um dia no ano do aniversário, os egípcios festejavam o “dia do Sol”, aquele que nos da
à vida. Nesse dia tudo parava, as pessoas se reuniam nos Templos e suas comunidades e comiam
beterraba com mel, frutas secas, passas e tâmaras, tomavam vinho, cantavam e dançavam
festejando um Shemesh Agadó, um grande Sol.
Nesse dia se discutia as ações dos homens, o destino da humanidade, a luta dos povos.
Era importante aprender sobre os erros dos vizinhos para não repeti-los e conseguir evoluir. Este
era o desejo dos Deuses para os homens.
Observar o Sol e festejar seu dia era uma forma de se identificar com ele, como se dizia
antigamente:
“Tomar a cara de Deus”
Tomar a cara representa nos identificar com o pensamento astral, assumir o Sol como o
pai de nosso sistema, sentir que somos seus filhos e reconhecer que o que ele nos dá é muito
importante. Quando sentimos isto começamos a entender a importância do Sol em nossas vidas e
na própria natureza.
O problema de nossa época é que os “Deuses tomam a cara dos homens”.
Hoje o Sol é como um pai que não consegue se comunicar com o filho. O filho esta
morando na casa dele, recebe calor, luz, uma natureza da qual se alimenta e lhe dá lucro, tudo de
graça. O pai da tudo, mas o filho não assume que tem um débito de reconhecimento para com
ele. Parece que nos dar vida e mais uma obrigação do pai que um ato de amor.
Os antigos egípcios reconheciam o Grande pai e o homenageavam em seu trajeto diário
ao nascer e ao se por. E em seu aniversário festejavam e colocavam suas esperanças em outro
ciclo da natureza.
Tem uma história egípcia de uma princesa que lhe diz ao Sacerdote:
- Tu grande mestre Sacerdote que sabes ler os corações, saberás ler o meu? Faz tempo que
parte da minha terra não recebe a luz do Sol, e sinto que nunca mais o fará.
E o sacerdote responde:
- Acredito que toda tua terra esta já sem Sol. Tu amas um homem casado com outra mulher
que solicitou a ele que nunca a deixasse nem tomasse outra esposa, essa foi a condição que ela
lhe impôs para se entregar.
- E por esse motivo ele não pode tomar outra. [113]
Os poetas têm escrito ao Sol [114], os músicos criaram melodias[115] à ele
Homens em todo mundo o tem venerado por milhares de anos, e hoje nem temos tempo para
olhar o amanhecer.
Esta meditação é importante para o iniciado ela procura ligar o discípulo com a energia
que comanda suas forças internas. O Sol e o gerador energético de todos nossos nove corpos. O
Deus Ra ainda rege e comanda nosso sistema astral.
Muitas vezes estamos cansados de lutar e acovardados de sofrer entramos em dúvidas,
nos confundimos, perdemos ânimo e força no trabalho, na vida...
Eu sei que estes podem parecer problemas que na maioria das vezes são conseqüência
de estados de ânimo, patológicos, ansiedade, stress. Isso pode parecer depressão, mas não sempre
é, muitas vezes, representa que cortamos o contato com a corrente que nos anima, com a força
vital do universo.
Aquele que procura a verdade dos antigos pode perceber que depois de fazer a
meditação “tudo muda”.
Quando nosso corpo entra em harmonia com a energia do universo muda o padrão
energético e por sua vez modifica nossa química cerebral, sem necessidade de remédios.
O homem ao igual que uma planta quando não recebe a luz, murcha, a própria terra no
escuro não produz. A natureza procura a luz do Sol como fonte de vida.
Não quero com o que estou escrevendo estimular a idéia de ir a praia e se torrar no Sol.
Estamos falando de uma energia vital que se manifesta de dia na natureza e que alimenta nosso
plano físico, assim como a força astral da Lua alimenta o plano psíquico à noite.
Hoje os iniciados acreditam numa consciência coletiva que é alimentada pelas ações
boas e ruins dos homens. Cada ciclo de 22 anos este “olho que tudo o vê” [116]purifica se
descarregando os excessos negativos e o reflexo de esta energia poderia retornar a terra tendo a
aparência de uma punição divina. [117]
Neste aniversário do Sol que os iniciados festejam até hoje se comentam os problemas
do mundo, da sociedade e se fala:
- O que queremos é que cada pessoa não se desligue da força do Sol, e não percam a
oportunidade de encontrar o caminho da natureza.
Enquanto essas conversas e pensamentos são estimulados, taças de vinho são levantadas
e todos gritam Jai a Ra, “Vida ao Sol”.
“Ao chegar o dia que viajes na barca de Rá[118] faz que tirem teu coração e
coloquem em seu lugar o escaravelho sagrado[119]”.
Quando te integres ao Cosmos deixa para traz tudo o que te amarra a esta terra.
Só assim poderão “ser verdadeiramente úteis ao senhor”.
O escaravelho, Kepher representa aquele que renasce, e vive novamente. O
discípulo esta pronto sempre para se unir ao cosmos, viajar na barca de Ra e seguir o caminho da
luz que é mostrado na hora da transição.
Quando o discípulo perde este sentido de perceber as forças que nos animam seu
organismo entra num caos que não precisa de drogas para se ordenar, mas do caminho da
natureza.
Fazemos esta prática preferencialmente nos dias domingos, frente a um rio o ao mar,
ficamos parados com as mãos retas a frente e a cabeça coberta durante unos três minutos
enquanto relaxamos e focalizamos a energia. Após nos descobrimos e falamos como os antigos
egípcios “Ashiaba a Ra”, quero me comunicar contigo, (me unir à força de Ra)
“Procura águas onde se possa ver o reflexo do Sol é igual que tua alma deixa que o
rio penetre em ti enquanto pensas no em Lub-A-Ra”.[120] Durante a semana, na
manhã, ao meio dia e a noite se comem uvas, figos e tâmaras para acompanhar a prática.
EPÍLOGO

Espero que este trabalho reafirme em todo discípulo da


Tradição a procura pela verdade. Ela se oculta detrás de histórias que nos contam desde o
balançar do verso até hoje.
Só a verdade nos liberta!!!

Jorge Aguer

[1]Conhecido como Rabi Phedra bem Shmuel.


[2] Doutorado em Psicologia Social Da Aulas na Universidade de Santa Maria RS.

[3] Pos Doutorado em Matemática, Psicólogo da Aulas na USP SP


[4] Formado em Buenos Aires em Psicologia.Social. Escritor e místico contemporâneo.
[5] Grão Rabino de Genebra, (2002) Dr.Alexandre Safran.
[6] Cábala Nuevas perspectivas. E. Siruela.
[7] La sabiduría semítica Del antiguo Egipto hasta el Islam Edaf Ensayo.
[8] Por exemplo, no seu “Hilkot há-kisse” (no Mercabah Shlemah, 1921) e no “Sefer há Shem”.

[9] Guershom Scholem Usa-1974.


[10] Máspero
[11] Champollion e Alain Chevalier. Dictionaire dês Symboles.

[12] Pág. 133 As Ciências Sagradas dos Antigos Egípcios. Jorge Aguer. Ed. Imprensa Livre.

[13] Lepage, Renouf, Máspero.

[14] Alain Chevalier, Dictionaiere dês Symboles.


[15] Clark Rundle- Myth and Symbol.
[16] Baruj Spinoza
[17] Tratado Eruvin-13
[18] Alguém que escreve Sefer Torá, Tefilin e Mezuzot.

[19] O que faz a circuncisão.


[20] Guershom Scholem.

[21] Força de vontade, meditação concentrada.


[22] Comunhão com Deus.
[23] Especialmente a passagem sobre Emanuel.
[24] Editada pela UNESCO. Volume sobre Metodologia para o estudo da História Africana.
[25] Perle Epstein em seu livro "Kabalah".
[26] Salas do Palácio de Deus
[27] Rabi Hananel ben Chushiel (900 - 1055)
[28] Um lugar sagrado habitado por grandes almas que partiram.
[29] Rabi Hai Gaon (939-1038)
[30] Salas do Palácio de Deus.
[31] Medida do Corpo.
[32] Adorno de luz que circunda a glória de Deus.
[33] Livro da Vestimenta.
[34] Um contemporâneo de Rabi Akiva.
[35] Montagem rabínica

[36] O príncipe da face


[37] Moises de Leon, o grande kabalista espanhol do século treze.
[38] Gershom Scholem "Major Trends in Jewish Mysticism".
[39] Extrato do texto “A Kabala e o Tarô”.

[40] Em hebraico “Pardes”.


[41] Mundos.
[42] Olam hazé e Olam habah
[43] Shlomo Ibn Gabirol, siglo XI
[44] O Fogo do Leon.
[45] Respirar rapidamente.
[46] Paraíso.
[47] Dabar em Hebreu.
[48] Cantar dos Cantares.
[49] Aquele que ensina.
[50] Espírito santo
[51] Kaplan, Aryeh, Meditação e Kabalah.
[52] O Tzélem.
[53] (Rabi Akiva)
[54] Kebanah.
[55] Coaj Kab.
[56] Vai a.
[57] “La Cabalá y su simbolismo”, G. Scholem, Raíces, Buenos Aires, Argentina, 1988.
[58] O mundo da ação, do fazer, de realizar, se chama –assiáh em hebreu– é a última manifestação da criação e do ser humano.
[59] Rabí Najman, “La silla vacía”, .José J. De Olañeta editor, Palma de Mallorca, España, 1997.
[60] Itzak tinha mais de trinta anos nesse momento.
[61] A palavra unidade (ejad) é a essência do versículo anterior (Deut. 6:4) “O shmáh Israel”.
[62] O hebreu era sua língua mater.
[63] Jaiim em hebreu significa vidas, ainda que se traduza como vida.
[64] Bejárah e livre arbítrio.
[65] Otiot.
[66] Genesis 2:7.
[67] Capitulo I
[68] Dom Jo o eixo da roda.
[69] Lugar de labor e oratoria.
[70] Rmedio universal que cura todas as enfermidades.

[71] Genesis 2:7.


[72] Que contém os dois sexos.
[73] Argilosa. Esta terra vermelha e encontrada na região da mesopotâmia.
[74] Totalmente asséptico.
[75] Símbolo do Fênix.
[76] Começa o trabalho com os elementos Ar, Fogo e Terra.
[77] O trabalho futuro do alquimista continua até transformar as partes de seu corpo em pequenos cristais que podem ser
conservados e transmitidos de mestres a discípulos.
[78] Achem, O Nome de Deus.
[79] Mandamentos
[80] Discipulo do Rabi “Fiel”
[81] Coluna.
[82] Escrita das palavras sagradas.
[83] Coaj Kab, e Hekau.
[84] A Justiça e a ordem universal.
[85] papiro 10042,6,10 British Museum.
[86] Com excepção de Shu e Tefnut, humidade e scura.
[87] Terra e céu.
[88] Terra da Luz.
[89] Akehenatom.
[90] O desenvolvimento dos 7 centros de poder são temas desenvolvidos no Livro “As Ciências Sagradas dos Antigos Egípcios”.
[91] Maat.
[92] Representam a movimentação circular das energias dos quatro elementos. Livro As Ciências Sagradas dos Antigos egípcios.
[93] Neters.
[94] Teth.
[95] Hekau.
[96] Radiação do Sahu
[97] Contem o germe do teth
[98] Amenti.
[99] Vida no cosmos, Vida “em Deus”
[100] Em egípcio Ren.
[101] A visão de transformar um deserto num oásis.
[102] Ieru Shalem.
[103] Plural de Deus, “Deuses”.
[104] Pergaminho, rolo.
[105] Dono do horizonte e possuir os poderes dos quatro elementos.
[106] Após o banho.

[107] O Ka se desprende no momento da morte e após viaja pelo universo retornando a sua origem após milhares de anos.
[108] Seu Keth, seu Sahu, seu Ka e seu Ba.
[109] Estas palavras e pensamentos os encontraram hoje, no vale dos Reis no Egito.
[110] Possivelmente seja essa a palavra que levou a formação do nascimento de Cristo.
[111] Os gatos domesticados nascem no antigo Egito.
[112] Escolher uma das três Misha a Rá, MishaaAton, ou Ieru Shalem.
[113] A lei egípcia dizia que um homem que tivesse outra mulher tinha obrigação de amá-la por igual e nessa relação o coração
nunca seria sincero.

[114] Florencio Sanches, Shiler século XVIIII


[115] Ravel.
[116] Olho de Rá.
[117] O dilúvio universal, Sodoma e Gomorra. Etc.
[118] No momento da morte.
[119] Kepher.

[120] Animal e sol.

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