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O Sêfer Ietsirá - Apresentação

O Sêfer Ietsirá é, sem dúvida, uma obra-prima universal.


Trata das origens do Universo, contém os ensinamentos Divinos que permitem ao
iniciado transformar pensamento em realidade, letras e números em energia e a
energia em matéria.
É o livro que traz a chave da realização em todos os sentidos.
Como tudo que emana poder, o Sêfer Ietsirá é um livro temido, em parte pela
dificuldade em interpretá-lo corretamente e, por outro lado, por ser o livro da
genética do Universo.
Isto causa uma considerável inquietação no homem contemporâneo, tão
acostumado ao ceticismo da atualidade.
Este estudo é especial.
Primeiro, por ser comentado por um dos maiores conhecedores do assunto e, sem
dúvida, uma das personalidades mais brilhantes que o século XX produziu: o
Rabino Aryeh Kaplan Z"L
Este mestre conseguiu ser cientista sem perder a fé e místico sem perder a
racionalidade.
O que o torna único é o fato de, aliado aos seus vastos conhecimentos científicos,
ter uma impressionante erudição e cultura da mística judaica.
Quis Deus que ele tivesse curto tempo entre nós, mas fica a certeza de que o
mundo se tornou melhor por que ele passou por aqui.
Com sua extrema sabedoria e poder de síntese, o Rabino Kaplan conseguiu tornar
compreensíveis os mais profundos aspectos da prática cabalística.
Ele não somente demonstrou conhecimento, mas fez transparecer uma coragem
extraordinária, ao tornar acessível ao público leigo textos ocultos da Cabalá,
quebrando tradições que mantinham esta maravilhosa ciência sob o véu da
superstição e do temor excessivo.
Este estudo do Sêfer Ietsirá ocupa o lugar que lhe cabe naturalmente por ser obra
da mais pura pesquisa e da mais valiosa síntese prática.
Para o iniciado, será uma complementação em sua busca; para o pesquisador da
mística será fonte preciosa de sabedoria e conhecimento; para o neófito ou leigo,
este estudo será a porta de entrada para os mistérios do Universo.
Com o Sêfer Ietsirá em mãos inicia-se verdadeiramente o estudo profundo da
ciência cabalística.
Este não é um estudo fácil.
É o primeiro livro da Cabalá e como todo livro que trata dos mistérios do Universo,
necessita de pré-requisitos para ser aprendido.
Destaco sete que considero essenciais: equilíbrio emocional, inteligência normal,
persistência e determinação, tranqüilidade para esperar os resultados, merecimento
(que pode ser adquirido pela caridade e reza), e que seja ferramenta de estudo de,
no mínimo, duas pessoas, já que, devido aos poderosos efeitos das meditações, o
praticante solitário pode, em dado momento, perder a noção do que é realidade e
imaginação.
Como estudioso do Sêfer Ietsirá, comprovei seu poder no campo material, e sei, na
prática, que todo o conteúdo deste livro é totalmente realizável.
Por isso. recomendo enfaticamente que os pré-requisitos acima mencionados sejam
obedecidos para que os resultados manifestem-se de forma harmônica.

Por: Erwin Von-Rommel Vianna Pamplona

Sobre a transliteração
As regras de transliteração adotadas e aplicadas visam, antes de mais nada,
facilitar ao máximo a leitura das palavras hebraicas.
Portanto, este sistema não diferencia graficamente determinadas letras, como Chaf
 
(Caf ou Kaf) ( ) e Chet ( ), que tem som de “rr” como em “carro”, e utiliza sempre
o “CH” para designá-las.

O mesmo ocorre com as letras Caf e Cof (ou Cuf, ), que tem som de “C” como em
carro, e utiliza o “C” para designá-las, exceto na frente das vogais “E” e “I”, quando
só então utiliza o “K”, resultando assim “Ke” e “Ki”.

O “H” designa a letra Hê (ou Hei) ( ), que tem som aspirado com em "half" em
inglês.
No final das palavras, o som da Hê é mudo e, portanto, não foi transcrito, exceto
na palavra “Yah”.

O “R” designa a letra Resh ( ), que tem som de “r” aberto como em “caro”, tanto
no início como no meio ou no fim de uma palavra.
Estas regrinhas foram aplicadas também neste trabalho, de forma geral.
Mas como surgiram questões que exigiam uma diferenciação gráfica de algumas
letras com som similar, fomos obrigados a abrir algumas exceções onde isto era
indispensável graficamente.

Assim, às vezes “Q” ou “K” aparecem representando a letra Cof ( ), e “Y” (ao invés

de “I”) representando a consoante Yod ( ).
  
Ficou insolúvel a diferenciação gráfica entre Samech ( ) e Shin ( ), Têt ( ) e

Tav ( ).

Aos leitores que realmente tencionam entender este livro, sugiro algumas lições de
hebraico, principalmente noções básicas de leitura.
A leitura deste livro será completamente diferente.
O Sêfer Ietsirá - Introdução

O Sêfer letsirá é, sem dúvida, o mais antigo e mais misterioso de todos os textos
cabalísticos.
Os primeiros comentários sobre este livro foram escritos no século X, e o texto em
si é citado como do século VI.
Referências ao trabalho aparecem já no século I, enquanto a tradição considera sua
existência desde os tempos bíblicos.
Este livro é tão antigo que sua origem não é acessível aos historiadores.
Somos totalmente dependentes da tradição com respeito a sua autoria.
Igualmente misterioso é o sentido deste livro.
Se o autor pretendeu ser obscuro, ele foi eminentemente bem-sucedido.
É unicamente através da mais cuidadosa análise de cada palavra e seu paralelismo
na literatura bíblica e talmúdica que seu halo de obscuridade começa a ser
penetrado.
Há muitas interpretações do Sêfer Ietsirá.
Seus primeiros comentadores experimentaram interpretá-lo como um tratado
filosófico, mas seus esforços lançaram mais luz sobre seus próprios sistemas que
sobre o texto.
O mesmo é dito dos esforços para encaixá-lo no sistema do Zohar ou dos cabalistas
posteriores.
Esforços para vê-lo como um livro de gramática ou fonética são, todavia, mais
discutíveis.
Em geral, a Cabala se divide em três categorias: teórica, meditativa e mágica.
A Cabalá teórica, que em sua presente forma, é baseada fundamentalmente no
Zohar, trata principalmente da dinâmica do domínio espiritual, especialmente os
mundos das Sefirot, almas e anjos.
Este ramo da Cabalá alcançou seu zênite nos escritos da Escola de Safed, no século
XVI.
Inclui-se nessa categoria a grande maioria dos textos publicados.
A Cabalá meditativa trata do uso de nomes Divinos, permutações de letras e
métodos similares para alcançar estados superiores de consciência.
Assim entendido, compreende um tipo de ioga.
Muitos dos principais textos nunca foram publicados, porém permanecem
espalhados em manuscritos nas grandes bibliotecas e museus.
Alguns de seus métodos experimentaram um breve renascimento em meados de
1700 com o surgimento do movimento chassídico, mas meio século depois eles já
haviam sido esquecidos em grande parte.
A terceira categoria da Cabala — a mágica — está intimamente relacionada à
meditativa.
Ela consiste em diversos sinais, encantamentos e nomes Divinos através dos quais
se poderá influenciar ou alterar os eventos naturais.
Muitas de suas técnicas são intimamente parecidas com os métodos meditativos e
seu êxito pode depender de sua habilidade para induzir a estados mentais onde os
poderes telecinético e espiritual podem ser canalizados efetivamente.
Assim como a segunda categoria, os mais importantes textos nunca foram
impressos, ainda que alguns fragmentos tenham sido publicados.
O livro Raziel é um exemplo.
Um estudo cuidadoso indica que o Sêfer Ietsirá é um texto meditativo com fortes
insinuações mágicas.
Esta posição é apoiada pelas mais antigas tradições talmúdicas, as quais indicam
que ele poderia ser usado para criar seres vivos.
Especialmente significativos são os muitos testemunhos e lendas nos quais o Sêfer
Ietsirá é usado para criar um Golem, um tipo de andróide místico.
Os métodos do Sêfer Ietsirá parecem envolver meditação; e é muito provável que
tenha sido originalmente escrito como um manual de meditação.
Um dos maiores filósofos do século XII estabeleceu que o livro não contém
Filosofia, mas sim mistérios Divinos.
Isso se torna claro no comentário de um dos maiores cabalistas, Isaac o Cego
(1160-1236), que enfatiza os aspectos meditativos do texto.
Isto é particularmente evidente em um manuscrito muito antigo do Sêfer Ietsirá
que data do século X ou antes.
O colofão introdutório afirma: "Este é o livro das Letras de Abraham, nosso pai, e
se chama Sêfer Ietsirci, e quando alguém olha (Tsofe) nele, não há limites para sua
sabedoria".
É oportuno dizer que a palavra hebraica "Tsofe" não denota um mero olhar físico,
mas sim um insight místico-meditativo.
Portanto, esta muito antiga fonte apoiaria a posição de que o Sêfer Ietsirá foi
destinado a ser usado como um texto meditativo (conforme se lerá no parágrafo
1:6).
Os comentários que tratam o Sêfer Ietsirá como um texto teórico lêem a maior
parte dele em terceira pessoa: "Ele combinou", "Ele formou" e assim por diante.
De acordo com esta leitura, o texto está se referindo à criação realizada por Deus.
Em muitos casos, entretanto, a forma gramatical se parece muito mais com o
imperativo.
O autor está dizendo ao leitor que "combine" e "forme" como se ele estivesse
realmente dando instruções.
Em muitos outros casos, o texto é instrutivo e sem ambigüidade, como em
passagens quando diz: "se teu coração corre, volta ao lugar", ou "entende com
sabedoria e sê sábio com entendimento".
Em vez de ter o texto oscilando entre a terceira pessoa e o imperativo, seria mais
lógico lê-lo todo no imperativo.
O Sêfer Ietsirá torna-se, assim, um manual de instrução para um tipo muito
especial de meditação.
Por deferência à maioria dos comentários, temo-nos abstido de traduzi-lo no
imperativo, mas as implicações de tal leitura é discutida no comentário.
No Sêfer Ietsirá temos então o que parece ser um manual de instruções que
descreve certos exercícios meditativos.
Existe alguma evidência de que estes exercícios pretendiam fortalecer a
concentração do iniciado, e eram particularmente efetivos no desenvolvimento de
poderes telecinéticos e telepáticos.
Com estes poderes, alguém seria capaz de realizar façanhas que, de fora,
pareceriam mágicas.
Tudo isto se apóia em referências talmúdicas que parecem comparar o uso do Sêfer
Ietsirá a um tipo de magia branca.
No século XIII, um importante comentador escreve que, aos estudantes do Sêfer
Ietsirá, era dado um manuscrito do livro Raziel, um texto mágico que contém selos,
figuras mágicas, nomes Divinos e encantamentos.

O Texto
O Sêfer Ietsirá é um livro muito pequeno e conciso.
Em sua Versão Curta constam somente 1.300 palavras, e a Versão Longa tem
aproximadamente 2.500 palavras.
A Versão "Gra" usada na presente tradução contém perto de 1.800 palavras.
Tão pequeno é o texto que um dos mais antigos fragmentos parece ter todo o livro
escrito em uma única página.
Especula-se que a fonte original conteria não mais de 240 palavras.
O texto atual consta de seis capítulos e, em algumas edições, diz-se que estes
correspondem às seis ordens da Mishná.
Algumas fontes antigas dizem, entretanto, que o livro contém cinco capítulos e é
possível que os atuais quinto e sexto capítulos tenham sido transformados em
apenas um.
O comentador mais antigo, Saadia Gaon, em uma versão um tanto diferente, divide
o livro em oito capítulos.
O texto é apresentado dogmaticamente, sem substanciação nem explicação.
O primeiro capítulo em particular é solene e sonoro, assemelhando-se em estilo a
uma poesia de verso livre, ou seja, sem métrica definida.
Muito poucas passagens bíblicas são citadas e, com exceção de Abraham, não se
menciona nenhum nome nem autoridade.
O livro parece estar dividido em quatro partes básicas.
O primeiro capítulo introduz as Sefirot, falando extensamente delas.
Nos capítulos seguintes, entretanto, não há qualquer menção acerca das Sefirot.
Isto deu lugar à especulação de que o Sêfer Ietsirá seja realmente uma combinação
de dois (ou mais) textos antigos.
O segundo capítulo consiste em uma discussão geral sobre as letras do alfabeto.
É claro que se está introduzindo seu uso em um contexto meditativo.
Também neste capítulo se apresentam as cinco famílias fonéticas e aos 231
Portões.
Depois não se volta a mencionar nem um desses conteúdos no resto do livro.
Nos capítulos três, quatro e cinco discute-se as três divisões das letras "mães,
duplas e elementares".
São relacionadas ao "Universo, alma e o ano", apresentando-se um sistema
astrológico amigavelmente bem detalhado.
Nestes capítulos muda-se por completo o modo do livro e não há virtualmente
nenhum indício de seus aspectos meditativos, que, entretanto, pode explicar-se por
um princípio que aparece em muitos textos cabalísticos posteriores.
Para poder focalizar os poderes mentais e espirituais há que se levar em conta o
tempo e o meio ambiente astrológicos.
Também o sexto capítulo não guarda uma clara conexão com as partes anteriores
do texto, ainda que na Versão Longa seja apresentado quase como um comentário.
Nesse capítulo introduz-se — pela vez primeira — os conceitos de "eixo, ciclo e
coração", idéias que não mais serão discutidas em nenhum outro lugar das
literaturas hebraica e cabalística, com exceção do Bahir.
Este parece ser o mais obscuro de todos os capítulos e é difícil decidir se sua ênfase
é teórica ou meditativa.
O capítulo conclui com uma estrofe, que vincula o Sêfer Ietsirá a Abraham.
Esta citação serve de fonte para a tradição que afirma que o Patriarca é o autor do
livro.

Autoria
A mais antiga fonte a que o Sêfer Ietsirá é atribuído refere-se ao Patriarca
Abraham.
Já próximo do século X, Saadia Gaon afirma que "os antigos dizem que Abraham o
escreveu.
Esta opinião é apoiada por quase todos os primeiros comentadores.
Textos cabalísticos antigos, como o Zohar e Raziel, também atribuem o Sêfer
Ietsirá a Abraham.
Igualmente, alguns manuscritos muito antigos do Sêfer Ietsirá começam com um
colofão que o titula "As Letras de Abraham, nosso Pai, que é chamado Sêfer
letsirá".
Isto não significa, entretanto, que todo o livro em sua forma atual tenha sido
escrito por Abraham.
Como Saadia Gaon declarou, os princípios do Sêfer Ietsirá foram, em primeiro
lugar, ensinados por Abraham, mas, de fato, não se reuniram em um livro senão
muito depois.
Outra autoridade faz notar que ele realmente não poderia ter sido escrito por
Abraham, pois, se assim fosse, certamente teria sido incorporado à Bíblia, ou ao
menos mencionado nas Escrituras.
Igualmente, quando o Zohar fala dos livros anteriores à Torá, não inclui o Sêfer
letsirá entre eles.
A atribuição a Abraham se apóia na estrofe final do Sêfer Ietsirá: "Quando
Abraham... olhou e investigou.., teve êxito na criação..."
Esta passagem sugere claramente que Abraham fez efetivamente uso dos métodos
propostos no texto.
Em muitas edições do Sêfer letsirá propõe-se como evidência bíblica o seguinte
versículo: "Abraham foi como Deus lhe havia dito, e Abraham tomou... as almas
que eles haviam feito em Haran" (Gênesis 12:5).
De acordo com alguns comentários, isto indica que Abraham usou, de fato, os
poderes do Sêfer Ietsirá para criar pessoas.
Este seria o exemplo mais antigo do uso do Sêfer Ietsirá para se criar um Golem.
De acordo com isso, Abraham teria aprendido como usar os mistérios do Sêfer
Ietsirá antes que Deus lhe mandasse abandonar Haran.
Outras autoridades, entretanto, dizem que "fazer almas" se refere a convertê-las à
crença em um Deus único e verdadeiro; esta é também a opinião do Zohar.
Alguns comentários tentam reconciliar ambos pontos de vista e explicam que, com
os milagres realizados mediante o Sêfer letsirá, Abraham pôde convencer pessoas
do poder de Deus, convertendo-as à verdadeira fé.
A Escritura declara: "as almas que eles haviam feito", no plural. Isto indicaria que
Abraham não estava só em seu uso do Sêfer letsirá, mas que tinha um
companheiro.
Um Midrash afirma que, se Abraham houvesse se engajado nos segredos da criação
sozinho, teria ido demasiado longe na emulação de seu Criador; assim, ele
trabalhou juntamente com Shem, o filho de Noé.
As fontes antigas identificam Shem a Melquisedec, que abençoou Abraham e lhe
ensinou muitas das tradições primitivas.
Os mistérios mais importantes do Sêfer Ietsirá são os relativos ao significado
interno das letras do alfabeto hebraico.
Aqui também descobrimos que Abraham era um mestre nesses mistérios.
Um Midrash nos diz que "as letras não foram dadas a nenhum outro senão
Abraham."
Como veremos no comentário (1:3), a organização dos animais, quando Abraham
fez sua aliança com Deus, também parece estar baseada nos mistérios do Sêfer
Ietsirá.
Mais argumentos que vinculam o Sêfer Ietsirá a Abraham encontram-se no
ensinamento talmúdico de que "Abraham tinha muita astrologia em seu coração, e
todos os reis do leste e do oeste se apresentaram à sua porta‖.
O Sêfer Ietsirá é um dos primeiros e mais antigos textos astrológicos e é possível
que incorporasse os ensinamentos astrológicos de Abraham.
O fato de esta astrologia estar "em seu coração" também poderia significar que
envolveria várias técnicas meditativas, como era em verdade o caso com a
astrologia antiga, e isto também é sugerido pelo Sêfer Ietsirá.
Há evidências de que esses mistérios foram transmitidos a Abraham por Shem,
junto com o mistério do calendário (Sod Ha-Ibur).
Quando Deus se revelou a Abraham, uma das primeiras coisas que Deus falou para
ele foi para não ser excessivamente dependente das predições astrológicas.
Abraham era também plenamente consciente dos usos mágicos e idólatras que
podiam desenvolver-se a partir destes mistérios.
O Talmud nos diz que Abraham tinha um tratado sobre idolatria que constava de
400 capítulos.
Há também um ensinamento talmúdico que afirma que Abraham ensinou os
mistérios sobre os "nomes impuros" aos filhos de suas concubinas.
Isto se baseia no versículo "aos filhos das concubinas, Abraham deu presentes, e os
mandou embora para as terras do leste" (Gênesis 25:6).
Estes presentes consistiram em mistérios ocultos, que se estenderam então pela
Ásia Oriental.
A atribuição a Abraham dos mistérios do Sêfer Ietsirá colocaria sua origem no
século XVIII antes da era comum.
Isto não surpreende muito porque textos místicos, como as escrituras védicas,
datam desse período, e há razão para crer que a tradição mística estava mais
avançada no Oriente Médio do que na índia naquela época.
Sendo Abraham o maior místico e astrólogo de sua época, é natural assumir que
ele estava familiarizado com os mistérios do antigo Egito e da Mesopotâmia.
Afinal, Abraham nasceu lá e também viveu no Egito.
O segundo lugar onde aparece o uso do Sêfer Ietsirá é em uma tradição sobre os
filhos mais velhos de Jacob, que afirma que eles o usaram para criar animais e
donzelas.
Quando a Escritura diz que "José levou uma má notícia (a respeito de seus irmãos)
a seu pai" (Gênesis 37:2), está se referindo a isso.
Os irmãos de José haviam comido um animal sem matá-lo adequadamente e José
não sabia que o animal havia sido criado mediante o Sêfer Ietsirá e, portanto, não
necessitava tal morte.
Reportou então que seus irmãos haviam comido "carne de um animal vivo".
Os mistérios do Sêfer Ietsirá foram usados novamente após o Êxodo quando os
israelitas estavam construindo o Tabernáculo no deserto.
O Talmud diz que Betzalel foi escolhido para construir este Tabernáculo porque ele
"sabia como permutar as letras com as quais o céu e a terra foram criados" .
Tal conhecimento esotérico era necessário, visto que se pretendia que o
Tabernáculo fosse um microcosmo, traçando um paralelo simultâneo com o
Universo, o domínio espiritual e o corpo humano.
Não era suficiente a mera construção de um edifício físico.
Na construção, o arquiteto tinha de meditar no significado de cada parte e imbuí-las
com as propriedades espirituais necessárias.
O Talmud deriva tudo isto do versículo onde Deus diz: "Eu chamei por seu nome, a
Betzalel... e o enchi com o espírito de Deus, com sabedoria, entendimento e
conhecimento" (Êxodo 31:2-3).
"Sabedoria, Entendimento e Conhecimento" (Chochmá, Biná e Daát) referem-se a
estados de consciência que discutiremos extensamente.
Tais estados de consciência são obtidos mediante a manipulação das letras.
As fontes silenciam acerca do Sêfer Ietsirá até o tempo do profeta Jeremias.
Aqui novamente encontramos a tradição de que Jeremias queria fazer uso do Sêfer
letsirá, mas, como no caso de Abraham, foi advertido a não fazê-lo sozinho.
Tomou então a seu filho, Ben Sirá, e os dois, juntos, exploraram os mistérios.
Mediante seus esforços, chegaram a criar um Golem, mas não o preservaram.
É possível que tenha havido mais de uma pessoa com o nome Ben Sirá, mas o
desta tradição era claramente o filho de Jeremias.
Há uma tradição fascinante a respeito de seu nascimento.
Jeremias havia sido abordado por homossexuais na casa de banhos e, como
conseqüência, havia experimentado uma ejaculação na banheira.
Seu sêmen permaneceu sendo viável e, quando sua filha usou depois a mesma
banheira, foi fecundada por ele, dando à luz a Ben Sirá.
Ben Sirá era, portanto, o filho de Jeremias e de sua filha.
Algumas fontes dizem que seu nome original era Ben Zéra (Filho do Sêmen), mas
quando este nome tornou-se embaraçoso, mudou-o para Ben Sirá.
Devido à natureza delicada de seu nascimento, ele não chamou a si mesmo "filho
de Jeremias".
Existe entretanto uma alusão em seu nome, pois Sirá (  ) e Jeremias ( )
têm ambos o valor numérico de 271.
Autoridades posteriores usaram este incidente como prova de que a inseminação
artificial não constitui adultério ou incesto.
Estas tradições são de particular interesse, pois existem muitos indícios de que
Jeremias ensinou estes mistérios a um certo Iossef, filho de Uziel, filho de Ben Sirá.
Existe também ao menos uma fonte que estabelece que Ben Sirá realmente
ensinou o Sêfer Ietsirá a lossef ben Uzie1.
O que é mais interessante é que existem indícios de que este mesmo lossef ben
Uziel possa ter escrito um comentário sobre o Sêfer Ietsirá, ou inclusive uma das
primeiras versões do texto em si.
Isto é importante porque situaria a primeira versão do Sêfer Ietsirá nos primeiros
anos do Segundo Templo.
Esta foi também a época da Grande Assembléia, que pôs por escrito alguns dos
últimos livros da Bíblia, como Ezequiel, por exemplo, encerrando assim o Cânon
Bíblico.
Grande parte do serviço de oração regular hebraico foi também composto por esta
Assembléia.
Como essas orações, o Sêfer letsird ainda não havia sido escrito, mas apenas
ensinado de memória.

O Período Talmúdico
No período talmúdico acontece a transição da tradição para a história.
Encontra-se no Talmud uma menção real do Sêfer Ietsirá e, embora não seja
absolutamente certo que seja idêntica à nossa versão, tampouco existem
verdadeiras razões para duvidar que ambos os textos sejam os únicos e os
mesmos.
Na época talmúdica, o Sêfer Ietsirá começou como um ensinamento oral e, com o
tempo, foi colocado em forma de livro e usado pelos sábios.
A primeira referência de tal uso implica a Rabi Iehoshua (ben Chanania), um sábio
líder do primeiro século.
Atribui-se a ele a afirmação: "Posso pegar sucos e abóboras e, com o Sêfer Ietsirá,
convertê-los em belas árvores. Elas, por sua vez, produzirão outras belas árvores".
Ainda que a frase "com o Sêfer Ietsirá" não apareça nas edições impressas do
Talmud de Jerusalém, esta se encontra em manuscritos.
A referência a Rabi Iehoshua é muito significativa.
Ele foi um dos cinco principais discípulos de Raban Iochanan ben Zacai (47 a.e.c. -
73 d.e.c), líder de todos os judeus depois da destruição do Templo e reconhecido
conhecedor em todas as artes ocultas.
Rabi Iehoshua foi o principal discípulo de Raban lochanan nos mistérios da
"Mercabá" (Carruagem) e este último alcançou a fama de ser o maior conhecedor
de seu tempo no oculto.
Isto também lança luz sobre outra personalidade mística importante.
Segundo outra fonte antiga, Rabi lehoshua também recebeu a tradição de Rabi
Nechunia ben HaCaná, líder da escola que produziu o Bahir.
No Sêfer Há-Taguin encontramos que a tradição a respeito do significado místico
das coroas (Taguin) sobre as letras hebraicas foi transmitida da seguinte maneira:
"Menachem passou a Rabi Nechunia ben HaCaná, Rabi Nechunia ben HaCaná deu-a
a Rabi Elazar ben Arach, Rabi Elazar ben Arach transmitiu-a a Rabi Iehoshua que,
por sua vez, passou-a para Rabi Akiva".
Rabi Elazar ben Arach é mais conhecido como o maior discípulo de Raban Iochanan
ben Zacai.
Sabe-se também que aprendeu os mistérios da "Mercabá" de Raban lochanan.
Vemos da tradição anterior que também aprendeu de Rabi Nechunia, possivelmente
depois de deixar Raban Iochanan.
O Talmud relata que Rabi Elazar foi viver junto ao rio Dismas, na cidade de Emaús.
Sabe-se também que Emaús era o lugar de Rabi Nechunia e um centro geral de
ensinamentos cabalísticos.
É muito provável que Rabi Elazar tenha se envolvido tanto com o misticismo que,
como o Talmud reporta, perdeu sua compreensão em matérias legais.
Também é significativo o fato de Rabi Nechunia ter recebido a tradição de
Menachem.
Sabe-se que Rabi Nechunia era o principal místico do século I, assim como colega
de Raban Iochanan ben Zacai.
Não se tem dados, entretanto, sobre quem foram seus mestres.
Do Sefer HaTaguin aprendemos que Rabi Nechunia aprendeu ao menos alguns dos
mistérios de Menachem, que serviu como vice-presidente do San’hedrin (Corte
Suprema) sob o mandato de Hilel.
Quando Menachem demitiu-se de seu cargo, Shamai foi designado em seu lugar.
A maioria das autoridades identificam este indivíduo como Menachem, o Essênio,
citado por Josefo.
Em certa ocasião, Menachem viu Herodes ainda criança e profetizou que ele
chegaria a ser Rei.
Por causa disso, quando Herodes ascendeu ao trono, honrou a Menachem e aos
demais essênios.
Devido a seu relacionamento com Herodes, Menachem não pôde manter sua
posição no San'hedrin.
Se aceitarmos a tradição anterior, Nechunia ben HaCaná poderia ter recebido ao
menos algo do conhecimento místico de Menachem, o Essênio, o que indicaria que
os essênios eram entendidos nas artes místicas, e que as ensinaram ao menos para
alguns dos mestres talmúdicos.
Josefo afirma que os essênios faziam uso dos nomes angélicos e que podiam
predizer o futuro mediante diversas purificações e métodos dos profetas.
O que é mais significativo é que Josefo também identifica os essênios com os
pitagóricos.
Devido ao fato de o Sêfer Ietsirá aparentemente conter alguns elementos que
lembram as técnicas dos pitagóricos, é possível que o texto tenha sido preservado
pelos essênios durante o período que precedeu ao Talmud.
Rabi Elazar ensinou a tradição relativa às coroas sobre as letras a Rabi lehoshua
que, por sua vez, transmitiu-a a Rabi Akiva (12-132 d.e.c).
Rabi Akiva sobressaiu-se nesta área e o Talmud assinala que ele podia derivar
muitos ensinamentos importantes destas coroas.
Também recebeu a tradição da "Mercabá" de Rabi Iehoshua, assim como outros
conhecimentos ocultos importantes.
Não resta dúvida que, em seu tempo, Rabi Akiva foi considerado o maior de todos
os conhecedores do domínio místico.
Rabi Shimon bar Iochai, autor do Zohar, foi discípulo de Rabi Akiva.
Não é de causar surpresa que algumas fontes atribuam a autoria do Sêfer Ietsirá a
Rabi Akiva.
A maioria dos primeiros textos talmúdicos tiveram sua origem em Rabi Akiva, que
os transmitiu oralmente de uma forma bem definida.
Ainda que esses livros não fossem escritos, haviam sido compostos por Rabi Akiva
e era a sua redação que era ensinada oralmente.
Naquele tempo, existia a regra de que a tradição oral fosse recapitulada
exatamente, palavra por palavra, precisamente como havia sido dada.
A norma era: "Alguém deve sempre repassar as palavras precisas de seu mestre."
E cada mestre proporcionaria assim um programa de estudo que seus discípulos
memorizariam palavra por palavra.
No campo legal isto era conhecido como a "Primeira Mishná" .
É possível que Rabi Akiva também tenha produzido um texto oral do Sêfer letsirá
para que seus alunos do conhecimento místico o memorizassem.
Além disso, suas notas pessoais podem ter sido guardadas.
Neste respeito, o Sêfer Ietsirá não teria sido diferente do resto da tradição oral.
Ainda que sua finalidade fosse a de ser transmitida oralmente, não sendo de fato
publicada, suas notas pessoais e manuscritos foram guardados.
Isto era especialmente verdadeiro para importantes técnicas de ensinamento que
não eram vistas nas academias, assim como em textos esotéricos.
Do mesmo modo, os chefes das academias haviam escrito anotações para
preservar exatamente as tradições.
Ainda que tais notas nunca fossem publicadas, eram cuidadosamente preservadas
nas academias.
Os mestres seguintes freqüentemente acrescentavam notas marginais aos
manuscritos, e tais notas encontram-se, às vezes, inclusive nos rolos bíblicos que
usavam.
Devido ao fato dessas notas serem preservadas por indivíduos privados, e nunca
serem distribuídas publicamente, eram conhecidas como "os rolos ocultos"
(Meguilat Setarim).
Nesta categoria incluía-se não só material esotérico, como o Sêfer Ietsirá, como
também material legal, como a Mishná, cuja transmissão devia ser oral.
Isto pode ajudar a explicar por que o Sêfer Ietsirá existe em tantas versões.
Diferente da Mishná, que com o tempo foi publicada em uma edição bem definida,
o Sêfer Ietsirá nunca evoluiu para além do estado de ser um "rolo oculto".
Diferentes versões podem ter sido ensinadas por vários mestres e, como o texto
nunca foi abertamente publicado, não havia modo de comparar e corrigir essas
diferentes versões.
Além disso, pode ser que muitas notas marginais foram incorporadas ao texto,
produzindo-se diferentes versões, o que explicaria o fato de não existir outro
clássico hebraico em tantas variantes e versões como o Sêfer Ietsirá.
Parece muito provável que o Sêfer Ietsirá existia já em sua forma presente quando
a Mishná foi redigida no ano 204 e.c.
O editor da Mishná foi Rabi lehudá, o Príncipe (135-220), chamado simplesmente
de "Rabi".
É certamente possível que exista uma referência concreta ao Sêfer Ietsirá na
Mishná.
Em um dos poucos lugares onde se discute o conhecimento esotérico, a Mishná
afirma: "Os mistérios da Criação (Maasse Bereshit) não podem ser expostos na
presença de dois discípulos, e os mistérios da Mercabá (Maasse Mercabá) não
podem ser expostos inclusive na presença de apenas um, a menos que seja sábio e
compreenda seu conhecimento".
O termo "Maasse Mercabá" refere-se aos métodos meditativos empregados para
ascender aos domínios espirituais superiores.
Ainda que filósofos posteriores, tais como Maimônides, sustentassem que isto
envolvia especulação filosófica, as mais antigas fontes claramente estabelecem que
"Maasse Mercabá" tratava de métodos meditativos usados para a ascensão
espiritual.
Como tal, este foi considerado o mais esotérico de todos os exercícios espirituais.
De acordo com muitas autoridades, "Maasse Bereshit" refere-se aos mistérios do
Sêfer Ietsirá.
Como sabemos que "Maasse Mercabá" era de natureza mística, é lógico supor que o
mesmo era verdadeiro para "Maasse Bereshit".
Além disso, a suposição de que "Maasse Bereshit" incluía o Sêfer Ietsirá esclarece
também um bom número de referências talmúdicas de outra maneira obscuras.
Existe também evidência de que Rabi estava familiarizado com os mistérios da
Mercabá, e é lógico supor que conhecia o Sêfer Ietsirá.
Assim, uma geração depois, tem-se o relato de dois discípulos de Rabi claramente
envolvidos nos mistérios do Sêfer Ietsirá.
O Talmud diz que "Rabi Chanina e Rabi Hoshia dedicavam-se ao Sêfer Ietsirá toda
sexta-feira, antes do Shabat, e criavam para si um novilho, e o comiam".
Uma outra versão deste mesmo relato diz que se ocupavam de "Hilchot letsirá"
(Leis da Criação) em vez de Sêfer Ietsirá.
O termo Hilchot pode, entretanto, aplicar-se tanto a regras filosóficas como legais.
De fato, em alguns manuscritos mais antigos, o Sêfer Ietsirá realmente é intitulado
de "Hilchot Ietsirá".
Existem muitas interpretações sobre o que exatamente os dois sábios conseguiam
criando tal novilho e por que o faziam.
Alguns dizem que não criavam de fato um novilho físico, mas sim uma imagem
meditativa com tal clareza que a satisfação espiritual era similar à da comida.
Um cabalista do quilate de Abraham Abulafia (1240-1296) sustenta inclusive que
sua criação era mística, e não física.
O Rashba (Rabino Shelomo ben Aderet, 1235-1310) viu um significado particular
no fato de eles se ocuparem daquilo na sexta-feira, o dia da criação original dos
mamíferos.
Toda esta questão será discutida depois em nosso comentário.
Evidentemente, Rabi também ensinou os mistérios a seu discípulo Rav (Aba
Arichta), que por sua vez os ensinou a Rabi lehudá (220-299 e.c.), fundador e
primeiro mestre da academia babilônica em Pumpedita.
Rabi lehudá, junto com Rabi Aina, eram chamados de "Anciões de Pumpedita".
O Talmud relata que os "Anciões de Pumpedita" estavam versados (Tanu) em
(Maasse Bereshit).
O uso da palavra Tanu evidencia que Maasse Bereshit já existia em uma forma
definida, muito provavelmente como um livro escrito.
Isto sugere que o Sêfer Ietsirá já estava escrito.
Existe também outra evidência de que Rabi lehudá aprendeu os mistérios do Sêfer
Ietsirá de Rav.
O ensinamento de que "Betsalel sabia permutar as letras com as quais o céu e a
terra foram criados" é atribuído a "Rabi lehudá em nome de Rav".
Também é atribuído a ele a afirmação de que Deus revelou a Abraham que "saísse
de sua astrologia", o que indica que ele tinha alguma evidência de que Abraham
era versado em astrologia, uma posição que se encontra claramente no Sêfer
Ietsirá.
Existem provas também que Rabi lehudá aprendeu de Rav os mistérios do Nome de
42 letras.
Na qualidade de iniciado nos mistérios do Sêfer Ietsirá, Rabi Iehudá havia tido
também um profundo entendimento do significado místico da língua hebraica.
Descobrimos assim que ele enfatizou o uso da língua hebraica, inclusive na
conversação cotidiana.
Rabi Iehudá defendia também que a oração devia ser realizada em hebraico e não
no aramaico vernacular.
O Talmud relata que Rabi lossef conhecia os mistérios da Mercabá, enquanto os
"Anciões de Pumpedita" eram versados nos mistérios da Criação.
Rabi Iossef conseguiu que os anciões lhe ensinassem os mistérios da Criação mas
não lhes confiou os mistérios da Mercabá.
Isto indica que os mistérios da Mercabá e do Sêfer Ietsirá eram ensinados por
escolas diferentes, e que os membros de uma escola não conheciam os
ensinamentos da outra.
As duas envolviam-se em diferentes disciplinas e tinha-se o cuidado de mantê-las
separadas.
Isto também responde à pergunta do porquê o Sêfer Ietsirá nunca ser mencionado
nos "Hechalot" (Palácios), o clássico da literatura da Mercabá.
A literatura da Mercabá desenvolveu-se em uma escola que pode não ter tido
acesso ao Sêfer Ietsirá, ainda que alguns de seus membros possam definitivamente
ter sido versados nele.
No mesmo contexto, o Sêfer Ietsirá é mencionado poucas vezes no Zohar, mas
jamais no texto principal.
Naquele período, houve alguns sábios que evitaram por completo tais mistérios.
Um deles foi Rabi Elazar ben Padat, que chefiou a academia de Tibérias após a
morte do Raban lochanan no ano 279 e.c.
Quando Raban Iochanan se ofereceu para ensinar-lhe os mistérios da Mercabá, ele
declinou sob o argumento de que era muito jovem.
Depois da morte de Raban lochanan, quando Rav Assi quis compartilhar estes
mistérios, ele novamente declinou, dizendo: "Se eu fosse digno, teria aprendido-os
de Raban Iochanan, teu mestre" .
Em vez disso, Rabi Elazar adotou uma postura um tanto quanto oposta à das
escolas esotéricas, aceitando o ponto de vista de Rabi Iossi ben Zimra.
Negando que com o Sêfer Ietsirá pudesse realmente criar-se outra vida, disse em
nome de Rabi Iossi: "Se todas as pessoas no mundo se reunissem, não poderiam
criar um único mosquito e imbuí-lo com uma alma" .
Não que Rabi Elazar duvidasse da existência de tais poderes, mas acreditava que
eles não eram mais conhecidos.
Estes poderes, entretanto, existiam na Torá.
Assim, Rabi Elazar disse: "Os parágrafos da Torá não estão em ordem. Se
estivessem em ordem (correta), qualquer um que os lesse seria capaz de (criar um
mundo,) ressuscitar os mortos e realizar milagres".
Uma geração mais tarde encontramos dois importantes sábios ativamente
engajados nos mistérios do Sefer Ietsirá.
O primeiro foi Rava (299-353 e.c.), fundador e primeiro mestre da academia
babilônica de Mechuza.
A ele é atribuído o dito: "Se os justos quisessem, poderiam criar um mundo" .
Seu companheiro foi Rav Zeira, conhecido como o "Santo da Babilônia" .
Tão grandes eram seus poderes meditativos que podia meter os pés no fogo sem
queimar-se.
Ele testava a si mesmo a cada mês para ver se seus poderes haviam diminuído.
Em certa ocasião, foi distraído pelos demais sábios, de modo que falhou; a partir de
então passou a ser chamado de "o pequeno homem dos pés queimados" .
Uma tradição antiga afirma que Rava e Rav Zeira trabalharam juntos durante três
anos meditando no Sêfer Ietsirá.
Quando por fim o dominaram, criaram um bezerro e o abateram, servindo-o em
uma festa para celebrar sua realização.
Eles então perderam seus poderes e tiveram que trabalhar por outros três anos
para restaurá-los.
O Talmud diz que "Rava criou um homem" e o enviou a Rav Zeira.
Quando este viu que o andróide não poderia responder às suas perguntas, ele
percebeu que era um Golem e disse: "retorne ao pó".
O Bahir assinala que o Golem não podia falar porque Rava não estava
completamente livre da corrupção e do pecado, e quanto mais o homem peca, não
pode participar dos poderes do Criador.
Somente Deus pode fazer um homem que pode falar.
Esta é a primeira menção da criação de um Golem na literatura hebraica, mas
vários outros exemplos são relatados na Idade Média.
Até a expressão "Rav criou um homem" possui conotações místicas.
No original se lê RaBA BaRA GaBRA (  ) e, como um cabalista antigo
faz notar, a segunda palavra não é outra que o inverso da primeira.
A terceira palavra acrescenta um Guimel, a terceira letra do alfabeto, para a
palavra que a antecede.
Isto produz uma frase de dez letras com valor numérico de 612, um menos que
613, o número de ossos e vasos sangüíneos do corpo humano.
O homem criado por Rava era, assim, algo menos que humano.
Em muitos aspectos, esta expressão é recordação da palavra Abracadabra
(ABRA CADaBRA -  ), que significa literalmente "eu criarei como falo"
Durante o período talmúdico houve muitos sábios que se engajaram nesses
mistérios.
Com o fim desta era, entretanto, uma cortina de silêncio ergueu-se sobre todas as
atividades ocultas.
Parece que um número de livros místicos foi escrito durante o período gaônico que
se seguiu, mas sua origem está envolta em mistério.
Contudo, o conhecimento dessas práticas existiu claramente até o século X, e Hai
Gaon (939-1038) fala de pessoas envolvidas na permutação (Tseruf) mística das
letras.
Textos e Comentários
Não é apenas no período pós-talmúdico que encontramos citações concretas do
Sêfer Ietsirá.
Uma das primeiras referências encontra-se em um poema do Rabino Elazar Kalir,
que viveu provavelmente no quinto ou sexto séculos.
Ele escreve:
Então, desde a eternidade, com dez ditos tiraste
Com escriba, escrita e pergaminho — Dez, Tu acabaste em seis direções,
Dez palavras.

Existem também alusões aos ensinamentos do Sêfer Ietsirá na Baraita de Shemuel


HaCatan, o qual, de acordo com evidência interna, foi escrito aproximadamente em
776 e.c.
Existe também uma menção das "Dez Sefirot do Nada" em um Midrash tardio que
pode ter sido redigido perto desta época.
A ausência de qualquer referência inequívoca ao Sêfer Ietsirá na literatura anterior
tem levado alguns historiadores a especular se as citações talmúdicas se referem
ou não ao nosso texto.
Alguns sustentam que a nossa versão foi escrita muito depois do Talmud.
Uma lista de tais estimativas é dada na Tabela 1.
Entretanto, uma análise mais criteriosa revela um número de camadas no texto.
As partes mais primitivas do livro parecem ser muito antigas, possivelmente
anteriores à era talmúdica.
Uma quantidade de texto considerável parece ter sido acrescentada depois,
possivelmente como um glossário ou comentário.
Como fazem notar alguns dos primeiros comentaristas do Sêfer Ietsirá,
comentários e notas marginais foram ocasionalmente incorporados ao texto.
No século X, o Rabino laacov ben Nissim escreveu: "pessoas escrevem comentários
em hebraico no livro, e alguns tolos vêm e comentam o comentário. Entre eles, a
verdade se perde".
Isto não nos surpreende: desde os tempos talmúdicos, notas marginais eram muito
comuns em pergaminhos bíblicos, embora houvesse bastante conhecimento do
texto, para que os comentários não fossem incorporados a ele.
Vários extratos são evidentes no Sêfer Ietsirá, alguns aparentemente
acrescentados no final do período talmúdico e outros na era gaônica.
Deste modo, estimativas críticas a respeito de sua idade dependeriam da parte
analisada.
Os primeiros comentários ao Sêfer Ietsirá foram escritos no século X.
O primeiro foi escrito em 931 por Saadia Gaon, um dos mais importantes líderes
religiosos e filósofos de seu tempo.
O segundo, Chakamoni, foi escrito pelo Rabino Shabatai Donelo em 946, enquanto
o terceiro foi escrito por Donash ibn Tamim uma década depois.
Em seu conteúdo, todos são mais filosóficos que místicos.
Mais significante é o fato desses comentários terem sido escritos sobre diferentes
versões do Sêfer Ietsirá.
O comentário de Donash foi escrito sobre a geralmente conhecida Versão Curta.
Com pequenas variações, esta versão foi impressa em 1562 na edição de Mântua e
é dominante em todas as subseqüentes edições impressas.
O comentário de Shabatai Donelo foi escrito sobre o que é conhecido como Versão
Longa.
Muitas edições impressas incluem esta Versão Longa como uma espécie de
apêndice.
Existe também um manuscrito completo desta versão que data do século X.
Ainda que existam diferenças importantes na indicação dos valores das letras e
planetas, a Versão Longa é muito mais uma Versão Curta com um comentário
adicional.
Isto é particularmente evidente no sexto capítulo, onde encontramos um
comentário sobre a primeira estrofe do livro.
Também são significativas algumas recapitulações (ver 4:14, 5:20), que são
realmente revisões do texto anterior.
A existência de ambas, uma Versão Curta e uma Longa, foi notada já no século XIII
por Abraham Abulafia.
A terceira versão é a de Saadia Gaon, que também aparece em alguns fragmentos
de Gueniza primitivos.
Ela é muito parecida com a Versão Longa, exceto pelo fato das estrofes estarem em
ordem completamente diferente.
Esta variante, comumente chamada de Versão Saadia, tem sido virtualmente
ignorada pelos cabalistas, se bem que, aparentemente, foi usada pelo Rabino
lehudá HaLevi em seu livro O Cuzari.
Já no século X, o próprio Saadia Gaon comentou sobre as muitas variantes do Sêfer
letsirá, dizendo: "Não se trata de um livro comum, e muitas pessoas têm sido
descuidadas na mudança e transposição do texto".
Um século mais tarde, o Rabino Iehudá Barceloni notou também que "existem
muitas versões, algumas muito confusas" .
Em 1562, os impressores da primeira edição de Mântua comentaram que tiveram
que revisar muitos manuscritos para encontrar um texto confiável.
Se todas as variações encontradas em manuscritos fossem contadas, teríamos
literalmente dezenas de diferentes variações do texto do Sêfer Ietsirá.
Em nenhum outro texto judaico encontramos tantas versões.
Algumas delas podem ter vindo de diferentes escolas, que, por causa do segredo de
seus ensinamentos, não tinham comunicação entre si.
Aparentemente, diferentes notas marginais e comentários também foram
incorporados ao texto.
Além do mais, se o texto foi preservado oralmente por um longo tempo, as
variações em sua organização podem ter acontecido também.
Além disso, existe outra possibilidade sugerida pelo fato de, em essência, os
cabalistas rejeitarem todas as versões mencionadas anteriormente.
É sabido que durante o período gaônico (séculos VI a X), os cabalistas restringiram
seus ensinamentos a sociedades secretas muito pequenas.
Grandes esforços foram empreendidos na manutenção do segredo para que seus
ensinamentos não caíssem em mãos impróprias.
Como o Sêfer letsirá é um livro pequeno, isto representava grande perigo.
Os chefes dessas escolas podem ter divulgado versões espúrias deliberadamente,
para confundir todos aqueles que poderiam ser tentados a penetrar em seus
mistérios.
Com várias versões em circulação, os não-iniciados não saberiam qual escolher.
Inicialmente, foram os próprios cabalistas que preservaram o texto correto,
escondendo-o dos intrusos.
Por volta de 1550, o Rabino Moshe Cordovero, líder da Escola de Safed e maior
cabalista de seu tempo, examinou minuciosamente dez dos melhores manuscritos
disponíveis e escolheu o que mais se adaptava à tradição dos cabalistas.
Uma geração mais tarde, o texto foi refinado ainda mais pelo Ari (Rabino Yits'chac
Luria), um dos maiores cabalistas de todos os tempos.
Seu texto, conhecido como "Versão Ari", foi publicado inúmeras vezes,
normalmente como parte de alguma outra coleção.
Ela se parece com a Versão Curta em muitos aspectos, mas existem diferenças
muito significativas nas suas indicações.
Em geral, a Versão Ari é a única que está em concordância com o Zohar.
Um número de variações são encontradas nestas versões, e uma edição final do
texto foi produzida pelo Gra (Rabino Eliahu, o Gaón de Vilna) no século XVIII.
Esta é conhecida como a Versão Gra-Ari, ou simplesmente como Versão Gra.
Portanto, existem quatro versões importantes do Sêfer Ietsirá, que são:
1) A Versão Curta
2) A Versão Longa
3) A Versão Saadia
4) A Versão Gra
Como a Versão Gra foi considerada a mais autêntica pelos cabalistas, esta é a que
nós escolhemos para a tradução inicial e comentários.
As outras três versões são apresentadas no final do estudo.
Mais de 80 comentários foram escritos sobre o Sêfer Ietsirá.
Alguns, especialmente os mais antigos, foram basicamente filosóficos.
Com a emergência da Cabalá como ensinamento público, um número de
comentários místicos e cabalísticos foi também escrito.
Quando o Bahir e o Zohar foram publicados, os comentaristas trabalharam para
encaixar o Sêfer Ietsirá no sistema de ambos os textos.
O mesmo é verdadeiro para os ensinamentos do Ari, que domina sobre os
comentários posteriores.
A história dos comentários sobre o Sêfer Ietsirá ensina tanto quanto a história da
Cabalá em geral.
Uma lista dos principais comentários consta numa Bibliografia.
Nosso comentário sobre o Sêfer Ietsirá leva em consideração a maioria deles, assim
como nossas outras pesquisas sobre os métodos dos cabalistas, muitas das quais
publicadas no estudo Meditação e Cabala.
Ainda que várias aproximações teóricas sejam importantes, concentrei-me
principalmente nas técnicas místicas resumidas no Sêfer Ietsirá, assim como nos
métodos meditativos que implicam.

Por: Arieh Kaplan

Texto Complementar:

Falar sobre o Sefer Y’tziyrah é falar sobre o ―sistema‖ original que deu origem a
todo o universo como nós o percebemos.
Trata-se do ―mapa‖ da formação que permite ao cabalista dar forma aos seus
pensamentos, ou seja, transformar pensamentos em realidade.
Transformar letras em energia e energia em matéria.
Este é o livro que permite o acesso as ―chaves‖ que abrem todas as portas criadas
no universo conceitual da Realidade Residual e nos dá a possibilidade da liberdade
dos sentidos.
Como tudo o que emana poder, o Sefer Y’tziyrah foi durante muitos séculos um
texto temido, justamente por ser o mapeamento genético do universo.
A simples contemplação de seus ensinamentos já transmite o poder de transformar
a Realidade Residual a nossa volta e abrir novas perspectivas.
Por isso, desde a sua origem, as Chayot Harah (Criaturas Inferiores) tentaram
tomar o controle dos segredos e códigos que emanam desta poderosa ferramenta
espiritual.
Não há como falar apenas do Sefer, é preciso experimentar as portas que ele nos
impulsiona a abrir a todo o momento, ou seja, não adianta apenas compreender
suas palavras, é preciso se arriscar nas trilhas tortuosas da prática cabalística.
O Sefer é o primeiro livro sobre Cabalá e nos foi revelado pelo primeiro ―cabalista
desperto‖ da história: Av’raham (Abraão)– o patriarca.
Para mergulhar nos mistérios da Cabalá Prática é preciso que se tenha alguns pré-
requisitos que o mestre Rav Av’raham Abuláfia nos exige lembrar
permanentemente:

- Equilíbrio Emocional.

- Inteligência.

- Permanência.

- Determinação.

- Tranqüilidade para esperar os resultados.

- Merecimento (que pode ser adquirido pela meditação e pelo desejo de


compartilhar).

Para Rav Av’raham Abuláfia, não é possível aprender os segredos do Sefer sem o
auxílio de um mestre.
O Sefer não é um livro sobre meditação como qualquer outro livro, é a obra
definitiva sobre os mistérios do universo.
O Sefer é um texto relativamente pequeno, mas com um grande poder construtor
ou destruidor.
Para Rav Abuláfia a autoria do texto atribuída ao patriarca Av’raham está contida
na estrofe final do Sefer Y’tziyrah:

―Quando Av’raham... olhou e investigou... teve êxito na criação...‖


Esta passagem sugere claramente que Av’raham fez uso das chaves do Sefer.
Também de acordo com Rav Abuláfia, Av’raham usou, de fato, os poderes do Sefer
para criar almas. Este seria o exemplo mais antigo do uso do Gom’lem.
Av’raham teria aprendido a criar 300 almas para travar um grande combate com as
Chayot Hara assim que recebeu o Sefer de Shem (Melquisedec) em sua Yeshivah e
antes de receber instruções do anjo Razy’el para decifrar os segredos do ―deserto
da existência‖.
Os mistérios do Sefer foram usados novamente após o Êxodo quando os hebreus
estavam construindo o Tabernáculo no deserto.
Betzalel foi escolhido para construir este Tabernáculo porque ele ―sabia como
permutar as letras com as quais o céu e a terra foram criados‖.
Tal conhecimento espiritual era necessário, visto que o Tabernáculo era uma
construção (tal como uma base) entre os 2 mundos em uma fronteira vazia e
aparentemente caótica chamada Midbar (Deserto) traçando um paralelo entre a
Realidade Residual (Egito) e a Consciencial (Sion).

A princípio devemos saber que existem três ―campos‖ da realidade.


Um é o campo real, o outro é o campo criado e elaborado pela Força Assediadora
para manter o homem como escravo e o outro é a fronteira, a linha divisória entre
os mundos, um território intermediário cheio de armadilhas e tropeços.
Usando a linguagem abulafiana para decifrar tais campos poderíamos associar:

- Realidade Residual = Mitz'rayim (Egito).

- Campo Intermediário = Midbar (Deserto).

- Realidade Consciêncial = Sion (Terra Prometida).

Através do Sefer conseguimos a chave para cruzar o ―Campo Intermediário‖ e


chegarmos a Sion, ou o que seria mais pretensioso – desvendar todas as ―chaves‖
de construções dos sistemas de regras da Realidade Residual.
Por que um dos grandes mistérios é que as Chayot Hara fizeram uso do Sefer para
construir a realidade como nós a percebemos, podendo também construir ―almas‖
para a tarefa de manter o ser humano como escravo de seu ego.

Fonte: Academia de Cabala


O Sêfer Ietsirá – Parte 1

Conforme será explicado na estrofe seguinte, estes 32 caminhos manifestam-se


como os 10 dígitos e as 22 letras do alfabeto hebraico.
Os 10 dígitos manifestam-se também nas Dez Sefirot, que são os conceitos básicos
da existência.
As letras e os dígitos são a base dos ingredientes mais elementares da Criação: a
qualidade e a quantidade.
A qualidade de qualquer coisa pode ser descrita por palavras formadas por letras,
enquanto todas as quantidades associadas a ela podem ser expressas por números.
Os números, entretanto, não podem ser definidos até que exista algum elemento
de pluralidade na Criação.
O Criador em si mesmo é absolutamente simples, não contendo qualquer
pluralidade.
Ele é a mais absoluta unidade imaginável.
Portanto, a pluralidade só veio à existência com o advento da Criação.
Só nesta ocasião os números puderam ser definidos.
Os primeiros elementos de pluralidade na Criação implicaram às Dez Sefirot.
Portanto, foram as Sefirot que definiram os números e, por conseguinte, o conceito
de quantidade em geral.
A maior parte do Sêfer Ietsirá trata dos 32 caminhos tal como se manifestam nas
letras e nos números.
Contudo, os 32 caminhos em si não são mencionados novamente.
Os primeiros cabalistas os definem como diferentes estados de consciência.
Deles se dá uma lista no final deste estudo.
De acordo com os cabalistas, estes 32 caminhos são aludidos na Torá pelas 32
vezes que o nome de Deus Elohim aparece no relato da Criação no primeiro
capítulo do Gênesis.
Neste relato, a expressão "Deus disse" aparece dez vezes e esses são os Dez Ditos
com os quais o mundo foi criado.
Esses Dez Ditos fazem paralelo às Dez Sefirot.
Diz-se que o primeiro dito é o verso: "No princípio criou Deus os céus e a terra"
(Gênesis 1:1).
Embora nele não apareça a expressão "Deus disse", está implícita e subentendida.
As vinte e duas vezes restantes que o nome de Deus aparece neste relato
correspondem então às 22 letras do alfabeto.
As três vezes que aparece a expressão "Deus fez" correspondem às três Mães.
As sete repetições de "Deus viu" correspondem às sete Duplas, e os restantes doze
nomes às doz-e Elementares. Ver Tabela 2.
Em geral, nenhum dos nomes de Deus refere-se ao próprio Criador.
O Criador é aludido somente mediante o título de Én Sof, que significa o Ser Infinito
ou, simplesmente, o Infinito.
Os nomes usados na Escritura e em outros lugares referem-se meramente aos
diversos caminhos através dos quais Deus manifesta a Si mesmo na Criação.
O nome Elohim, usado em todo o primeiro capítulo do Gênesis, refere-se à
manifestação da delineação e da definição.
Por conseguinte, cada um dos 32 caminhos serve para delinear e definir um
aspecto da Criação em particular.
O homem é visto como um microcosmo, com cada parte de seu corpo
correspondendo a algo nas forças da Criação.
Assim, por exemplo, os seis dias da Criação têm seu paralelo nos dois braços, duas
pernas, tronco e órgão sexual do homem.
Este é o significado da afirmação da Torá de que Deus formou o homem "à imagem
de Deus" (Gênesis 1:27).
Note-se que a palavra usada para "Deus" é Elohim.
É por isso que a forma do homem é comparada com a estrutura das forças
delineadoras que definem a Criação.
Os cabalistas observam que os 32 caminhos da Sabedoria têm seu paralelo no
sistema nervoso humano.
Trinta e um dos caminhos correspondem aos 31 nervos que partem da medula
espinhal.
O trigésimo segundo e mais elevado caminho corresponde a todo o complexo de
nervos cranianos, que são em número de doze.
O sistema nervoso serve a um duplo propósito.
Primeiro, transmite mensagens do cérebro a todas as partes do corpo, permitindo à
mente controlar os órgãos e membros.
Segundo, o sistema nervoso transmite informações dos diversos sentidos ao
cérebro.
Quatro dos sentidos — visão, audição, paladar e tato — vêm diretamente através
dos nervos cranianos, totalmente contidos no cérebro.
Os impulsos que vêm dos 31 nervos inferiores tratam fundamentalmente com o
sentido do tato.
Como os nervos, cada um dos caminhos é uma via de duas mãos.
Em primeiro lugar, é o canal mediante o qual a Mente exerce controle sobre a
Criação.
Em segundo lugar, entretanto, é também o caminho através do qual o homem pode
chegar à Mente.
Se um indivíduo quer conseguir uma experiência mística e aproximar-se da Mente
deve percorrer os 32 caminhos.
Em hebraico, o número 32 escreve-se Lamed Bet (), que se lê Lev, a palavra
hebraica para coração.
É no coração que a ação da Mente é manifestada no corpo.
O coração deixa de funcionar logo que a influência da mente cessa, o que se
constitui na definição de morte.
O coração também proporciona força vital ao cérebro e ao sistema nervoso.
Quando o coração deixa de bombear, o sistema nervoso não pode seguir
funcionando e a mente não mais exerce influência sobre o corpo.
O coração, por conseguinte, serve como vínculo causal entre a mente e o corpo.
Por isso, o Sêfer Ietsirá chama o coração "o rei sobre a alma" (6:3).
Também descreve a experiência mística como um "correr do coração" (1:8).
A Tora é vista como o coração da Criação.

A primera letra da Tora é Bet ( ) de Bereshit ( ) - "No princípio".
A última letra da Tora é Lamed () de Yisrael, () — Israel.
Juntas, as duas letras também se lêem Lev (), significando coração.
Os 32 caminhos estão contidos na Tora, que é o meio através do qual a Mente se
revela.
É também o vínculo entre a Mente e o universo físico.
A Tora é, por conseguinte, explanada por 32 diferentes modos, tal como ensinava
Rabi Iossi da Galiléia.
As letras Lamed () e Bet () compartilham também outra distinção única.
Como prefixos, Lamed significa "para" e Bet significa "em".
As três letras do Tetragrammaton, Yod (), Hê () e Vav (), podem servir também
como sufixos de pronomes pessoais.
O sufixo Yod significa "meu", Hê significa "ela" e Vav "ele".
Dentre todo o alfabeto hebraico, só há duas letras às quais estes sufixos podem se
unir, e estas são Lamed e Bet.
Formam-se então as palavras:

As duas letras, Lamed e Bet, são as únicas no alfabeto inteiro que combinam com
as letras do nome Divino desta maneira.
O número 32 é a quinta potência de dois .
Conforme o Sêfer Ietsirá explica (1:5), as Dez Sefirot definem um espaço de cinco
dimensões: os 32 caminhos correspondem ao número de vértices de um hipercubo
pentadimensional.
Isto não é tão difícil quanto possa parecer.
Uma linha, que tem uma dimensão, tem dois vértices ou terminações.
Um quadrado, que tem duas dimensões, tem quatro (2²) vértices ou cantos.
Um cubo, que tem três dimensões, tem oito (2³) cantos.
Vemos assim que, com a adição de cada dimensão, o número de vértices dobra.
Um hipercubo tetradimensional tem 16 ou vértices, enquanto que um hipercubo
pentadimensional tem 32 ou vértices.

Caminhos
A palavra hebraica usada aqui para "caminhos" é Netivot ( 
), um vocábulo
que aparece raramente na Escritura.
Muito mais comum é a palavra Dérech ( 
).
De acordo com o Zohar, há uma importante diferença entre ambas as palavras.
Um Dérech é uma estrada pública, uma rota usada por todo mundo.
Um Nativ, por outro lado, é uma rota pessoal, um atalho aberto por um indivíduo
para seu próprio uso.
É um caminho oculto, sem marcas nem sinalizações, que ele tem que descobrir por
si mesmo e caminhar pelos significados com suas próprias ferramentas.
Os 32 caminhos da Sabedoria são então chamados Netivot.
São caminhos privados que devem ser desbravados por cada indivíduo.
Não há uma auto-estrada aberta para os mistérios.
Cada indivíduo deve descobrir seu próprio caminho.
O valor numérico de Nativ ( ) é 462.
É duas vezes o número dos 231 Portões discutidos logo mais (2:4).
Estes Portões são um meio através do qual se ascende e descende pelos 32
caminhos.

Místico
Estes são os caminhos ditos místicos, Peliyot ( ) em hebraico.
A palavra vem da raiz PALA (  ), que tem a conotação de estar oculto e separado
do mundo em geral.
Estes caminhos não são apenas individuais, como também ocultos, mantidos em
segredo e transcendentais.
Este vocábulo acha-se estreitamente relacionado com a palavra Pêle ( 
), que
significa "milagre".
Um milagre está separado e é independente das leis do mundo físico.
É também influenciado por forças "ocultas", que são uma ligação com o plano
místico e transcendental.
O mesmo acontece com os caminhos da Sabedoria.
Segundo o Zohar, a palavra Pêle está especificamente relacionada com os caminhos
da Sabedoria.
O tipo de milagre que a palavra Pêle denota realiza-se mediante a manipulação
desses caminhos.
Os métodos para manipulá-los constituem um dos ensinamentos importantes do
Sêfer Ietsirá.
O Sêfer Ietsirá chama depois às três Mães, "um grande segredo místico (muflá)"
(3:2).

A primeira das três Mães é Alef ( ).

Quando se soletra, vê-se que Alef ( ) tem as mesmas letras que Pêle ( 
).
De acordo com os cabalistas, a letra Alef denota Kéter (Coroa), a mais elevada das
Sefirot.
É a Kéter que se refere Ben Sira quando diz "No que é misterioso (mufla) para ti,
não entre" .
Os cabalistas chamam Kéter de o nível do nada (Áyin).
É neste nível que as leis da natureza cessam de existir e podem, portanto, ser
alteradas.
Como assinala o livro Raziel, as três letras de Pêle ( 
) representam valores cada
vez mais ocultos.
Segundo as famílias fonéticas definidas pelo Sêfer Ietsirá (2:3), a primeira letra, Pê
 
( ), pronuncia-se com os lábios; a segunda, Lamed ( ), com a metade da língua, e

a letra final, Alef ( ), com a garganta.
Assim, a primeira letra é pronunciada com a parte mais externa e revelada da boca,
enquanto a última com a mais interna e oculta.
A palavra Pêle denota então a transição do revelado para o oculto.

Sabedoria
Estes 32 caminhos são denominados os caminhos da Sabedoria (Chochmá).
Em um sentido cabalístico, a Sabedoria é considerada como a Mente pura e
indiferenciada.
É pensamento puro que ainda não foi quebrado em idéias diferenciadas.
A Sabedoria é o nível acima de toda divisão, onde tudo é uma unidade simples.
Em reconhecimento deste fato, o Talmud declara: "Quem é sábio (Chacham)?
Aquele que aprende de todo homem".
Este está no nível da sabedoria que todos os homens são um.
Portanto, se alguém está neste nível, deve aprender de todo ser humano, e na
verdade, de toda a Criação.
Segundo o Baal Shem Tov, isso significa que uma pessoa em tal nível de Sabedoria
deve inclusive aprender do Mal.
Este está somente nos níveis abaixo da Sabedoria, onde as pessoas são separadas
em diferentes indivíduos.
Somente nos níveis inferiores existe a divisão entre o bem e o mal.
O Talmud, igualmente, declara: "Quem é sábio? Aquele que percebe o futuro" .
Isto é porque a Sabedoria é a força mental pura que transcende o tempo.
No nível da Sabedoria, o passado, o presente e o futuro não foram ainda
separados.
Portanto, neste nível, alguém pode ver o futuro exatamente como o passado e o
presente.
A antítese da Sabedoria é o Entendimento.
A palavra hebraica para Entendimento é Biná ( ), que vem da raiz BEN ( 
),
que significa "entre".
O Entendimento é o nível imediatamente abaixo da Sabedoria.
É no nível do Entendimento que as idéias existem separadamente, podendo ser
pesquisadas e compreendidas.
Enquanto a Sabedoria é a Mente pura e indiferenciada, o Entendimento é o nível
onde existe a divisão e onde as coisas são delineadas e definidas como objetos
separados.
No nível da Sabedoria, todos os homens são incluídos em uma única alma do
mundo.
O Entendimento é o nível da Neshamá onde a alma de cada indivíduo assume uma
identidade distinta e cada um é visto como uma entidade separada.
O Nome Divino associado com o Entendimento é Elohim.
Esta é uma palavra plural, já que Entendimento implica numa pluralidade de forças.
E é o nome Elohim que é usado em todo o primeiro capítulo do Gênesis para
descrever o ato da Criação.
As 32 vezes que este nome aparece correspondem aos 32 caminhos da Sabedoria.
Isto soluciona uma importante dificuldade: se a Sabedoria é uma Mente simples e
indiferenciada, como pode manifestar-se como 32 caminhos distintos?
Sim, realmente, a Sabedoria é indiferenciada, e é unicamente através do poder do
Entendimento que ela é dividida em caminhos separados.
Os caminhos são então designados mediante o nome Elohim, o nome associado ao
Entendimento.
Um exemplo poderia ser a água fluindo através de um sistema de tubos.
A água em si é um fluido indiferenciado, não tendo estrutura essencial
(macroscópica).
Só lhe impõe a estrutura quando flui através do sistema de tubos (encanamento).
Na analogia, a Sabedoria representa a água, enquanto o Entendimento representa
os tubos que a canalizam.
Os 32 caminhos são expressados como as letras e os números.
Já que eles representam divisão, constituem manifestações do Entendimento.
Portanto, a Sabedoria representa o pensamento não-verbal, enquanto o
Entendimento é sua verbalização.
Neste aspecto, Sabedoria e Entendimento são vistos como sendo macho e fêmea,
respectivamente.
Na Cabalá, a Sabedoria é vista como o Pai (Aba), enquanto Entendimento é a Mãe
(Ima).
O masculino representa força criativa não-canalizada.
Esta só pode ser levada à realização quando delineada, encerrada e canalizada pelo
útero feminino.
Por esta razão, o Sêfer Ietsirá (1:2) chama as letras primárias de "Mães".
Isto também resolve uma outra dificuldade.
Vimos antes que os 32 caminhos representam o coração, desde que a palavra
hebraica para coração, Lev, realmente soletra o número 32 escrito.
O coração, entretanto, associa-se normalmente com Entendimento, enquanto estes
caminhos são ditos pertencer à Sabedoria.
Mas os caminhos meramente canalizam a Sabedoria, enquanto a substância dos
caminhos em si mesmos é o Entendimento.

Gravou
O texto declara que o Criador usou estes 32 caminhos para "gravar", a fim de criar
Seu Universo.
A palavra hebraica empregada aqui é Chacac (  ), que usualmente tem a
conotação de remover material, como no verso, "Grave (chacac) uma morada na
rocha" (Isaías 22:16).
Da mesma raiz derivam as palavras Choc (  
) e Chucá ( ), que significam
"regra" e "decreto", já que as regras e as leis servem para tirar algo da liberdade
de ação indivídual.
Assim, a palavra Chacac está intimamente ligada a Ma-chac (  ), que significa
"apagar", e também à raiz La-cach (  ), que significa "tirar" ou "tomar".
A palavra Chacac está estreitamente ligada ao conceito de escrever.
A principal diferença entre gravar (Chacac) e escrever é que, quando alguém
escreve, acrescenta algo material, como a tinta, para escrever em uma superfície,
enquanto que, quando alguém grava, remove material.
Quando a Bíblia usa o termo Chacac para designar escritura, refere-se a sistemas
como o cuneiforme, onde o texto era escrito removendo-se cunhas de argila de
uma tabuleta.
Para compreender por que o autor usa aqui o termo "gravou", devemos entender a
idéia da Criação.
Antes do Universo ser criado, existia um espaço vazio no qual ele pudesse ser feito.
Mas, inicialmente, só Deus existia, e toda a existência estava cheia da Essência
Divina, a Luz do Infinito (Or Én Sof).
Nesta Essência indiferenciada, um espaço vago teve que ser gravado.
O processo, conhecido pelos cabalistas como o Tsimtsum (Constrição), está
claramente descrito no Zohar:
No princípio da autoridade do Rei
A Lâmpada da Escuridão
gravou um vazio na Luminescência Divina...

O vazio gravado na Luminescência Divina foi o Espaço Vago, no qual toda a Criação
subseqüentemente ocorreu.
A Luz indiferenciada do Infinito que existia antes da Constrição está no nível da
Sabedoria, que é a Mente pura e não delineada.
O poder da Constrição é o do Entendimento; isto é, o que o Zohar chama de
"Lâmpada da Escuridão".
É luz negativa, ou existência negativa, que pode gravar um vazio na Essência
Divina.
Esta Constrição ou esvaziamento da Essência Divina não ocorreu no espaço físico,
mas, sem dúvida, num espaço conceitual.
Ela é "vazia" no sentido que contém a possibilidade para informação, mas não
informação de fato.
Como tal, é o "Caos e Vazio" (Tohu e Bohu) mencionados no relato da Criação, tal
como declara a Escritura: "a terra era caos e vazio" (Gênesis 1:2).
O caos é um estado em que a informação pode existir, mas onde ela não existe.33
O vazio foi feito mediante os 32 caminhos, posto que as letras e os dígitos são as
unidades básicas de informação.
Enquanto letras e números ao acaso não comportam de fato informação alguma, no
momento que elas existem, possibilitam também a existência da informação.
O Espaço Vago é então o estado no qual é possível a existência de informação, mas
no qual esta possibilidade ainda não foi realizada.
Essas letras foram posteriormente combinadas em palavras, formando os Dez Ditos
da Criação.
Cada um deles trouxe informação ao Espaço Vago, através do qual a Criação pôde
ter lugar ali.
A ordem foi, portanto, primeiro "gravar" e logo "criar".
O Sêfer letsirá declara então que o Criador "gravou.., e criou seu Universo".

Gravou Yah
Muitos dos comentários cabalísticos traduzem esta expressão como "Ele gravou
Yah...".
Em hebraico, com freqüência a palavra "ele" não é escrita, mas sim subentende-se
da forma verbal.
O pronome "Ele" neste lugar refere-se ao Ser Infinito (Ên Sof) que está acima de
todos os Nomes Divinos.
De acordo com isto, o Sêfer letsirá está dizendo que o Ser Infinito começou a
Criação gravando os Nomes Divinos mediante os 32 caminhos da Sabedoria.
Os Nomes foram escritos com letras; eles só puderam vir à existência depois que
as letras foram criadas.
Da mesma forma, alguns dos primeiros cabalistas interpretaram o primeiro
versículo do Gênesis como sendo: "No princípio Ele criou Elohim, junto com os céus
e a terra".
A primeira coisa que o Ser Infinito criou foi o nome Elohim, que está associado à
Constrição.
Os Nomes Divinos também são paralelos às Sefirot.
Uma vez que o Espaço Vago tenha sido gravado, as Sefirot puderam ser criadas
dentro dele.
A "gravação" desse Espaço esteve então intimamente relacionada a estes Nomes.
Isto também pode ser lido no imperativo: "Com 32 caminhos místicos de
Sabedoria, grava Yah... e cria seu mundo."
Aqui, o termo "grava" significa formar uma clara imagem mental do Nome para
meditar sobre ele, como se discutirá depois (1:14).
O método é aludido nas palavras de Rava: "Se o justo desejasse, poderia criar um
mundo".
Yah
Saadia Gaon o traduz como "o Eterno".

Os cabalistas associam normativamente o nome Yah ( ) com a Sabedoria
(Chochmá).

De fato, somente a primeira letra deste nome, o Yod ( ), designa a Sabedoria.

Sua segunda letra, Hê ( ), designa o Entendimento, o princípio feminino.
A razão pela qual este nome como um todo é usado para designar a Sabedoria é
porque esta não pode ser captada, exceto quando se acha vestida de
Entendimento.
Por isso, o Yod sozinho não é usado como o "nome" para a Sabedoria, mas sim o
Yod combinado com Hê.
Existem várias razões pelas quais estas duas letras representam a Sabedoria e o
Entendimento, respectivamente.
A forma primitiva do Yod é um simples ponto.
Isto alude ao fato de que a Sabedoria é simples e indiferenciada.
O valor numérico do Yod é 10, indicando que todas as Dez Sefirot estão incluídas
na natureza simples da Sabedoria.
No princípio de uma palavra, a letra Yod indica o futuro masculino.
Isto se relaciona com o ensinamento: "Quem é sábio? Aquele que percebe o futuro"
Ao final de uma palavra, a letra Yod, usada como sufixo, significa "para mim" ou
"meu".
A Sabedoria é a natureza essencial do indivíduo, pertencendo só a ele.
Como tal, é o "meu" último.
O mesmo é verdade sobre a Sefirá da Sabedoria (Chochmá) com respeito ao Ser
Infinito.
Hê tem o valor numérico 5, em alusão aos cinco dedos da mão.
Representa Entendimento, a mão que sustenta a Sabedoria, distribuindo-a e
canalizando-a.
No início de uma palavra, o prefixo Hê significa "o/a" "os/as", ele é o artigo definido
que especifica e delineia um objeto.
Como uma mão, o artigo definido sustenta e especifica um conceito que é
específico, mais que geral.
Ao final de uma palavra, Hê indica o possessivo feminino "seu/sua", "dela".
Isto porque o Entendimento está no domínio da Essência Feminina.
He é uma das duas letras do alfabeto hebraico que se escreve com duas partes
separadas.
Alude ao fato de que o Entendimento representa o princípio da separação.
Há certo desacordo no Talmud sobre se Yah é ou não um nome Divino.
O Sêfer Ietsirá assume claramente a posição que sim.

Yah, o Senhor...
Isto se escreve em hebraico como YH YHVH ( ).
E foi com essas seis letras que Deus criou todas as coisas.
Assim está escrito: "Confia em Deus por uma eternidade de eternidades, porque
com o YH YHVH Ele formou Universos" (Isaías 26:4).

O Senhor dos Exércitos


É comum designar este nome às Sefirot associadas com revelação e profecia, que
são: Nêtsach (Vitória) e Hod (Esplendor).
Este nome, entretanto, contém também o Tetragrammaton (YHVH), traduzido aqui
como "o Senhor".
O Tetragrammaton designa a totalidade das Sefirot.
Daí que a frase "YHVH dos Exércitos" represente de fato todas as Sefirot tal como
são reveladas ao homem.
Esta é a razão da designação "YHVH dos Exércitos".
Isto se refere à revelação, ao estado no qual Deus associa a Si mesmo a seres
inferiores a Ele, nomeando-os de Seus "exércitos".
Segundo o Talmud, a primeira pessoa que usou esta designação de "Senhor dos
Exércitos" foi Ana, quando orou: "Ó Senhor dos Exércitos! Se olhas para a aflição
de Tua serva..." (1 Samuel 1:11).

Deus de Israel
Está conectado a "Senhor dos Exércitos".
Enquanto a revelação em geral é para todos os exércitos de Deus, ela é outorgada
a Israel, em particular. Como veremos (2:4), o nome Israel está estreitamente
associado aos 231 portões.
Aqui, a palavra hebraica para "Deus" é Elohim, que faz alusão ao Entendimento, o
conceito que divide e delineia.

O Deus Vivente
Este nome está associado às forças criativas essenciais, representadas pela Sefirá
de Iessód (Fundação).
No homem, esta força é análoga ao órgão sexual.
A frase em hebraico é Elohim Chayim.
Esta Sefirá agrupa todas as forças às quais o nome Elohim coletivamente se refere,
e apresenta-as de um modo ativo e procriativo.
Define-se a Vida como o que está ativo e procria, e é daí que esta seja a conotação
de "Deus Vivente".

Rei do Universo
Este é o modo em que Deus Se relaciona com o Universo como um rei, e está
associado com a Sefirá de Malchut (Reino).
De todas as Sefirot, esta é a única que entra em contato direto com os estágios
inferiores da Criação.
Assim, as primeiras cinco designações, "Yah, Senhor dos Exércitos, Deus de Israel,
Deus Vivente, Rei do Universo", designam as Dez Sefirot em seu modo descendente
como sendo a fonte de toda força criativa.

El Shadai
Estes dois nomes são comumente traduzidos como "Deus Todo-Poderoso".
Saadia Gaon, entretanto, os traduz como "Onipotente Todo-Poderoso".
Aqui o Sefer Ietsirá começa a designar as Sefirot de um modo ascendente.
No Bahir, os discípulos perguntam assim: "De cima para baixo nós sabemos. Mas
de baixo para cima não sabemos".
A designação El Shadai também se relaciona com a força procriativa representada
por Iessód (Fundação) e que corresponde ao órgão sexual do homem.
Temos então duas designações para Iessód (Fundação): "Deus Vivente" (Elohim
Chayim) e El Shadai.
"Deus Vivente" é a designação desta Sefirá do ponto de vista de Deus, enquanto El
Shadai é sua designação do ponto de vista do homem.
Assim, Deus disse a Moisés: "Eu apareci a Abraham, Isaac e Jacob como El Shadai"
(Êxodo 6: 3).
As primeiras cinco designações descreveram o processo descendente de Deus no
Universo, mediante o qual a força criativa é canalizada.
O autor, entretanto, está agora designando os nomes que se relacionam ao
processo ascendente, através do qual o homem se aproxima do Divino.
"Rei do Universo", o estágio inferior, aplica-se a ambas as direções.

Clemente e Misericordioso
São estes o segundo e o terceiro dos Treze Atributos da Misericórdia, expressos no
versículo "El, Clemente e Misericordioso" (Êxodo 34:6).
Neste nível, alguém pode compreender o funcionamento interno das seis Sefirot:
Chéssed (Amor), Guevurá (Força), Tiféret (Beleza), Nêtsach (Vitória), Hod
(Esplendor) e Iessód (Fundação).
É através dessas Sefirot que Deus expressa Sua misericórdia para o mundo.
Este nível foi conquistado por Moisés quando Deus lhe disse: "Eu terei misericórdia
sobre quem Eu quiser ter misericórdia e Eu serei clemente para quem Eu quiser ser
clemente" (Êxodo 33: 19).

Elevado e Exaltado
As seguintes designações são todas tiradas do versículo: "Porque assim diz (Deus),
Elevado e Exaltado, morando na Eternidade e cujo Nome é Santíssimo: Eu habito
(em um plano) elevado e sagrado..." (Isaías 57:15).
"Elevado e Exaltado" pertence ao nível do Entendimento (Biná).
As sete Sefirot inferiores correspondem aos sete dias da Criação.
O Entendimento (Biná) está acima dessas sete Sefirot e, portanto, está no nível
que precede a ação e a Criação.
Este é o nível onde Deus é visto como completamente transcendental, separado de
todo o profano e elevado acima de todas as coisas mundanas.
"Morando na Eternidade" fala do nível da Sabedoria (Chochmá).
Este é o nível que está acima do tempo.
Aqui alguém percebe Deus como transcendendo não somente o espaço, como
também o tempo.
"Seu Nome é Santíssimo" alude ao nível da Coroa (Kéter), a mais alta das Sefirot.
Os cabalistas notam que a expressão "Seu Nome", que em hebraico é
Shemo (  ), tem um valor numérico (Guematria) de 346.
Trata-se do mesmo valor que Ratson ( 
), que significa "vontade".
A vontade está inclusive acima da Sabedoria, visto que é o impulso que faz surgir
todas as coisas, incluindo o pensamento.
Em termos cabalísticos, designa-se a Vontade como Coroa (Kéter).
Assim como uma coroa é usada sobre a cabeça, a Vontade está acima e é
extrínseca a todos os processos mentais.
A palavra Santíssimo (Cadosh) denota separação, e seu sentido geral implica
separação do mundano.
A expressão "Seu Nome é Santíssimo" indica que a Coroa é um nível separado e
distante de qualquer conceito imaginável, já que ela está acima dos processos
mentais e não pode ser captada por eles.
A última expressão, "elevado e sagrado", não aparece em muitas versões do Sêfer
letsirá.
Possivelmente refere-se ao Ser Infinito (Én Sof), o qual é eleva-do acima de todo
conceito, inclusive o da Vontade.
Assim, as últimas cinco designações referem-se aos degraus que o homem deve
subir para alcançar o Infinito.
Estes degraus são nada mais do que as Sefirot em seu modo ascendente.
O impulso da Criação descendeu primeiro através das Sefirot e logo ascendeu de
novo, voltando para o Infinito.
Só então pôde a Criação acontecer.

Com três livros


O Sêfer Ietsirá começa agora a definir a palavra Sefirá, o termo hebraico para
designar as emanações Divinas que formam a base da Criação.
A palavra hebraica para livro, Sefer ( ), tem a mesma raiz que a palavra Sefirá

( ), exceto que a primeira é masculina e a última, feminina.
Estes três livros são mencionados como sendo "texto, número e comunicação".
A palavra hebraica para "texto", aqui, é Sefer (  ), que literalmente significa
"livro".
), de onde deriva a palavra "cifra".
"Número" é Sefar (
"Comunicação" é Sipur () que, literalmente, significa "narração".
Estas três divisões representam, respectivamente, qualidade, quantidade e
comunicação.
Estas são as letras, os números e a maneira como são usadas.
Os três livros correspondem às três divisões da Criação definidas pelo Sêfer Ietsira,
ou seja, "o Universo, o Ano e a Alma".
Em palavras mais modernas seriam chamados espaço, tempo e espirito.
"Universo" refere-se às dimensões do espaço, "ano" ao tempo e "alma" à dimensão
espiritual.
Ver Tabela 4.

Como veremos, o Sêfer Ietsirá fala de um continuum pentadimensional definido


pelas Dez Sefirot.
As três primeiras são as três dimensões do espaço, a quarta dimensão é o tempo e
a quinta é a dimensão espiritual.

Dado que as três dimensões espaciais abrangem um único continuum, as três


juntas constituem o primeiro "livro".
O tempo é o segundo "livro", enquanto a dimensão espiritual é o terceiro.
Os três livros definem os três modos em que se pode apresentar o sistema dos 32
caminhos.
Em primeiro lugar, pode-se desenhar um diagrama que os represente tal como
descritos em um livro.
Este é o aspecto de "texto".
É também o aspecto no qual eles aparecem no livro da Torá, no primeiro capitulo
do Gênesis.
Em segundo lugar, alguém pode expressar as seqüências e distribuições numéricas
dos caminhos.
Assim, por exemplo, como o Sefer Ietsirá declara (1: 2), os 32 caminhos consistem
em Dez Sefirot e 22 letras, as quais, por sua vez, dividem-se em três Maes, sete
Duplas e doze Elementares.
Este e o aspecto do número nos 32 caminhos.
Isto esta também relacionado a sua afinidade com certas formas geométricas.
Finalmente, alguém pode falar do relacionamento entre estes caminhos como
transmissores de informação.
Este é o nível de "comunicação".
Esta estreitamente relacionado com os 32 caminhos, onde estes representam
estados de consciência, tal como são descritos no final desse estudo.
Os três aspectos aparecem da forma mais clara nas letras do alfabeto.
Existem três modos primários de interpretar as letras.
Em primeiro lugar, existe a forma física das letras tal como são escritas em um
livro.
Este é o aspecto de ―texto‖ (Sefer), que significa literalmente livro.
Em segundo lugar, esta o valor numérico ou Guematria das letras, o que representa
o "numero".
Por último tem-se o som da letra e também o modo como o seu nome é
pronunciado, o qual constitui uma "comunicaçao" ou "narrativa".
Ver Tabela 5.

Texto (Sefer), a forma física da letra, pertence ao continuum do espaço, visto que
sua forma só pode ser definida no espaço.
Isto é, "Universo".
O número (Sefar) implica sequencia, e esta é a sequencia do tempo, que é o
continuum do "Ano".
Finalmente, comunicação (Sipur) aplica-se a mente e esta no continuum espiritual,
que é a "Alma".
Estas três palavras também definem a palavra Sefirot.
Em primeiro lugar, a palavra Sefirá compartilha raiz com Sefer, que significa livro.
Como urn livro, cada Sefirá pode gravar informações.
As Sefirot servem então como um banco de memória no domínio do Divino.
Uma gravação permanente de tudo que tenha acontecido em toda a Criação é feita
nas Sefirot.
Em segundo lugar, a palavra Sefirá compartilha raiz corn Sefar, que significa
número.
E são as Sefirot que introduzem um elemento de núimero e pluralidade na
existência.
O Criador, o Ser Infinito, constitui a mais absoluta unidade, e o conceito de número
não se aplica a Ele de modo algum.
Por isso, falando do Ser Infinito, no Sefer Ietsirá pergunta-se: "Antes do um, o que
você conta?" (1:7).
É somente com a Criação das Sefirot que o conceito de número passa a existir.
Deste modo, todo evento e ação é medido e pesado pelas Sefirot, e a resposta
apropriada e concebida e calculada.
Assim, usando a analogia de um computador, as Sefirot funcionariam como a
unidade processadora no Domínio Divino.
Por último, a palavra Sefira compartilha raiz com Sipur, que significa "comunicação"
e "narrativa".
As Sefirot são os meios com os quais Deus se comunica com Sua Criação.
São tamb[em os meios através dos quais o homem se comunica com Deus.
Se não fosse pelas Sefirot, Deus, o Ser Infinito, seria absolutamente incognoscível
e inatingível.
E somente através das Sefirot que Ele pode ser aproximado.
E obvio, e tal como todos os cabalistas advertem, não se deve de modo algum,
adorar ou orar as Sefirot.
Pode-se, entretanto, usa-las como um canal.
Por exemplo, ninguém pensaria em dirigir uma petição ao carteiro, mas o usaria
para entregar a mensagem ao rei.
Em sentido místico, as Sefirot constituem uma escada ou árvore através da qual se
pode "ascender" e aproximar-se do Infinito.
Por conseguinte, quando o Sêfer Ietsirá apresenta aqui as palavras Sefer, Sefar e
Sipur, ele não está fazendo isso de forma acidental.
Sem dúvida, o livro está deliberadamente apresentando as raízes que definem o
conceito das Sefirot.
Isto é mais do que óbvio, já que o capítulo inteiro trata das Sefirot.
Os três aspectos "texto, número e comunicação" são a chave dos métodos do Sêfer
Ietsirá.
Se alguém deseja influenciar alguma coisa no universo físico (espaço), deve fazer
uso da forma física das letras.
Se isto envolve uma técnica meditativa, alguém deveria contemplar as letras
apropriadas como se estivessem escritas em um livro.
O método consiste em fazer que cada combinação particular de letras preencha
todo o campo de visão, eliminando todos os outros pensamentos da mente.
Finalmente, se alguém deseja influenciar no domínio espiritual, terá que fazer uso,
ou dos sons das letras ou de seus nomes.
Esta técnica, que descreveremos, é a que se usa para fazer um Golem.

Textos complementares:

Exercícios e Meditação

Primeiro
Seguindo as definições abulafianas o universo se estabelece a partir de 32 módulos
de consciências (tais como sistemas inteligentes).
Esta informação é de fundamental importância para todo o desenvolvimento da
consciência do cabalista.
Todo o universo se encontra formado somente a partir destas 32 dimensões.
Aqui (nestes 32 caminhos) podemos encontrar as 10 Sefirot (números) e as 22
letras do alfabeto hebraico.
Os números (sefirot) e as letras (caminhos) representariam a base construtiva de
todo o universo e são os ingredientes de todo o processo de Criação.
Tudo o que existe pode ser descrito por palavras (formadas por letras), enquanto
todas as coisas também podem ser expressas por números.
Mitz’rayim é plural, ou seja, é descrito por múltiplas letras e números, já Sion é
singular e unitária.
Os primeiros elementos de pluralidade na Criação se encontram nas 10 sefirot.
Estas 10 sefiyrot formaram 10 mundos (olamot) diferentes e assim as 10
dimensões da realidade.
O Sefer Y‟tziyrah começa descrevendo ―com 32‖, e isso significa que toda a obra de
formação é feita ―com essas 32 substâncias‖.
A primeira entre as 10 Sefirot ainda continha a essência da unidade, pois é formada
pela mesma ―substância‖ que forma Or (a Luz do Mundo Infinito).
Seu nome é Keter (Coroa) e não é nada menos que Adam Cadmon (o Homem-
Primordial), o Recipiente primeiro da Luz do Mundo Infinito.
Esta Sefirah é uma dimensão constante, o que nos indica que este Adam Cadmon
continua existindo e não é algo ligado a um tempo passado.
É claro que não podemos retornar ao estado original de unidade (anterior à
fragmentação), não podemos retroceder à grande expansão do universo. Mas o que
aconteceria se alguém chegasse à dimensão consciencial de Keter?
Esta pessoa atingiria um nível de dimensão de alma chamada Yechiydah (unificada)
e teria domínio sobre todo o processo da Criação, ou seja, de todos os 32 caminhos
ou consciências do universo.
Atualmente não teríamos um Adam Cadmon, mas sim um Mashiach (o ungido).
Aqui reside toda a expectativa do ser humano.
Na medida em que este estado potencial já existe, temos que considerar que cada
um de nós é o Mashiach em potencial e possui a capacidade de estar ligado e
consciente de todo o universo.
Foi por chegar a esta conclusão que nosso mestre Rav Avraham Abuláfia foi
atacado pelas autoridades ortodoxas da época, que o acusaram de se intitular ―o
Mashiach‖.
Na verdade o que Rav Abuláfia estava afirmando era que potencialmente todo ser
humano pode se tornar desperto e também o centro de toda a Criação.
Esse é o próprio estado de Devekut (acoplagem) com o Sagrado.
Por esse mesmo motivo diversos personagens que marcaram a história de nossa
tradição demonstraram ter um controle absoluto sobre fenômenos naturais e até
mesmo sobre os astros e o anjo da morte.
Tal autoridade espiritual só poderia ser alcançada em estado extremamente
elevado de emunah (certeza espiritual) e consciência de Mashiach.

Conforme explicam os cabalistas, os 32 caminhos estão contidos na Torah pelas 32


vezes que o nome de Elohiym aparece no relato da Criação no primeiro capítulo do
Bereshiyt (Gênesis).
Neste relato, a expressão ―Elohiym disse‖ aparece dez vezes e esses são os 10
ditos com os quais o mundo foi criado.
Esses 10 ditos fazem paralelos às 10 Sefirot.
Diz-se que o primeiro dito é o verso: ―No princípio criou Elohiym os céus e a terra‖.
Embora nele não apareça a expressão ―Elohiym disse‖, está implícita e
subentendida.

―No princípio criou Elohiym...‖ – Keter.


―Elohiym disse: seja luz!‖ – Chokhmah.
―Elohiym disse: haja um firmamento...‖ – Biynah.
―Elohiym disse: juntem-se as águas...‖ – Chessed.
―Elohiym disse: produza a terra vegetação...‖ – Guevurah.
―Elohiym disse: sejam luzeiros...‖ – Tiferet.
―Elohiym disse: que as águas produzam...‖ – Netzach.
―Elohiym disse: que a terra produza animais...‖ – Hod.
―Elohiym disse: façamos o homem...‖ – Yesod.
―Elohiym disse: frutificai e multiplai...‖ – Malkhut.

Assim sendo temos nossa primeira experiência prática.


Para Rav Abuláfia, é preciso recriar o ―Bereshiyt‖ em si mesmo para que se possa
estar preparado para prosseguir, assim, elaborou o seguinte exercício:
Deve-se procurar relaxar e aquietar a mente e o coração.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz do Mundo Infinito sobre a sua


cabeça.
E dizer: ―No princípio criou Elohiym‖.
O Fluxo de energia desce e penetra pelo alto de sua cabeça e se estabelece ali
mesmo. Agora você é um grande receptor da Luz do Mundo Infinito. Tudo à sua
volta é uma grande escuridão, toda a Luz é recolhida para dentro do seu ser, como
um grande ralo nada escapa de seu desejo de receber.
Este é o processo da contração da Luz.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça
e indo até o lado direito de seu cérebro.
Diga: ―Elohiym disse: seja a luz!‖
Sinta que tudo à sua volta se transforma em Luz, a Luz que até então havia sido
absorvida integralmente por você agora se expande como uma grande explosão
preenchendo todo o universo à sua volta.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo de seu cérebro.
Diga: ―Elohiym disse: haja um firmamento‖.
Sinta que o espaço vazio à sua volta começa a tomar forma, pequenas partículas de
centenas e milhares de letras hebraicas flutuam em um espaço vazio à sua volta,
algumas destas letras se juntam e formam pequenas partículas luminosas.
Mas neste instante tudo ainda parece um pouco desordenado.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro e também
para o seu braço direito e mão direita.
Diga: ―Elohiym disse: juntem-se as águas‖.
As pequenas partículas luminosas começam a se juntar e formar gradativamente
um oceano à sua volta.
Submerso em água (como no momento que precede o nascimento) você está
envolvido por um sentimento de grande misericórdia e amor.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda.
Diga: ―Elohiym disse: produza a terra vegetação‖.
O oceano começa a recuar até que surge a terra seca debaixo de você e a toda a
sua volta, plantas, árvores e todo o tipo de vegetação começam a surgir à sua volta
até constituir uma gigantesca floresta.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda e se alojando no seu tórax.
Diga: ―Elohiym disse: Sejam luzeiros‖.
Veja todos os astros se formando à sua volta, as luas, os planetas, as estrelas, as
galáxias, os cometas, e tudo o que existe no cosmos.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda, tórax e perna direita.
Diga: ―Elohiym disse: que as águas produzam‖.
Volte ao oceano e veja surgir todo o tipo de seres marinhos.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda, tórax, perna direita e perna esquerda.
Diga: ―Elohiym disse: que a terra produza animais‖.
Veja toda a extensão do planeta e o surgimento de todos os animais existentes,
dos mais simples aos maiores mamíferos.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda, tórax, perna direita, perna esquerda e órgãos
sexuais.
Diga: ―Elohiym disse: façamos o homem‖.
Veja a formação de seu corpo, começando por seus ossos, em seguida seus
músculos, órgãos e peles. Tenha absoluta consciência de sua formação e do que
você é.

- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda, tórax, perna direita, perna esquerda, órgãos
sexuais. A energia deste fluxo forma um ―turbilhão‖ de força na altura dos órgãos
sexuais e sobe por sua coluna vertebral até chegar à sua boca.
Este é o território de Malkhut.
Diga: ―Elohiym disse: frutificai e multiplicai‖.
Inspire lenta e profundamente e ao expirar deixe o ar sair pela boca e quando este
sair imagine centenas e milhares de letras hebraicas sendo expelidas pelo seu
hálito, como um sopro Divino de criação, cada expiração libera uma quantidade
infinita de micro letras hebraicas que se espelham por todos os cantos do universo.
Em seguida retome a consciência de seu corpo como um todo e abra os seus olhos.

As 3 vezes que aparece a expressão ―Elohiym fez...‖ correspondem às 3 letras


mães.
As sete repetições de ―Elohiym viu...‖ correspondem às sete duplas (planetas), e
os restantes 12 nomes de Elohiym às 12 letras elementares (constelações).
Mais adiante estaremos propondo alguns exercícios com estas outras forças.

É muito importante sinalizar que os Nomes de D‟us mencionados na Torah ou nos


textos sagrados em geral não se referem ao ―nome‖ de D‟us propriamente dito e
sim à forma ou Shefaa (Fluxo) que a Or (Luz) escolheu para se manifestar.
São essencialmente ―formas‖ da Luz se expressar.
O nome Elohiym, usado em todo o primeiro capítulo do Bereshiyt , refere-se à
manifestação da delineação e da definição da Luz neste primeiro momento da
Criação.
Para os cabalistas abulafianos, o mais sublime nome do Eterno é Eyn Sof (Nada
Periférico).
Traduzimos este nome também como Mundo Infinito.

Segundo
Como dissemos anteriormente, como prefixos, Lamed significa “para” e Bet significa
“em” ou “dentro”.
Logo podemos concluir que o verdadeiro caminho espiritual é “para” “dentro”, ou seja, é
um caminho de contração e introspecção.
Outra experiência que podemos estabelecer seria usarmos o Tetragrama, que são as letras
Yod, He e Vav.
Yod significa “meu”.
He significa “ela”.
E Vav significa “ele”.
Dentre todas as letras do alfabeto hebraico, só existem duas letras às quais estes sufixos
podem se unir e estas são as letras Lamed e Bet.
Formando assim a “fórmula”:
1) Li – para mim.
2) La – para ela.
3) Lo – para ele.
4) Bi – em mim.
5) Ba – nela.
6) Bo – nele.

Assim outro exercício é proposto por Rav Abuláfia:


Quando falamos “mim” estamos nos referindo a nossa Nefesh (nossa alma animal).
Quando falamos em “ela”, estamos falando da Shekhiynah (Presença Divina) manifestada
no mundo físico.
Quando falamos “ele” estamos falando da Luz do Mundo Infinito.

1) Visualize as letras Lamed e Yod () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração.
2) Visualize as letras Lamed e Hei () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração e descer para se manifestar e se espalhar pela terra abaixo de seus
pés.
3) Visualize as letras Lamed e Vav () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração e subir se espalhando pelo universo.
4) Visualize as letras Bet e Yod () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração.
5) Visualize as letras Bet e Hei () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração e descer para se manifestar e espalhar pela terra abaixo de seus pés.
6) Visualize as letras Bet e Vav () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração e subir se espalhando pelo universo.

Terceiro
Procure estar sozinho em um local escuro, que poderá ser o seu quarto.
- Faça a “Bênção de Yom Tov” e acenda três velas brancas.
- Pegue uma folha de papel em branco e comece a desenhar (ou imprimir) as três letras
mães na seguinte ordem: Mem, Alef e Shin.

Sempre em preto sobre uma superfície branca. Faça o desenho em três folhas separadas.
- Em seguida procure contemplar a letra Mem, visualizando o espaço em branco em torno
da letra em preto.
- Em seguida procure contemplar a letra Alef, visualizando o espaço em branco em torno da
letra em preto.
- Em seguida procure contemplar a letra Shin, visualizando o espaço em branco em torno da
letra em preto.
- Feche os seus olhos e visualize a letra Mem diante de seus olhos (bem próximo ao seu
rosto), coloque a palma da mão direita para frente como se indicasse a algo que esteja vindo
em sua direção para parar e diga o guerush: Mem.
- Repita diversas vezes.
- Mantenha os olhos fechados e visualize a letra Alef diante de seus olhos (bem próximo ao
seu rosto), coloque a palma da mão direita para frente como se indicasse a algo que esteja
vindo em sua direção para parar e diga o guerush: Alef.
- Repita diversas vezes.
- Mantenha os olhos fechados e visualize a letra Shin diante de seus olhos (bem próximo ao
seu rosto), coloque a palma da mão direita para frente como se indicasse a algo que esteja
vindo em sua direção para parar e diga o guerush: Shin.
- Repita diversas vezes.
- Mantenha os olhos fechados e fique em absoluto silêncio por alguns minutos.
- Ao seu tempo você poderá abrir os olhos.

Benção de Yom Tov:

Baruch Atá A-do-nai E-lo-hênu Mêlech haolam, asher kideshánu


bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner shel Yom Tov
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D-us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus
mandamentos e nos ordenou acender a vela de Yom Tov.

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, she- he-cheyánu


vekiyemánu vehiguiánu lizman hazê.
Bendito és Tu, ó Eterno, nosso D'us, Rei do Universo, que nos deu vida, nos
manteve e nos fez chegar até a presente época

Fonte: Academia de Cabala

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 2

O Sefer Ietsirá define agora os 32 caminhos como consistindo de 10 Sefirot e 22


letras.
A palavra Sefirá significa literalmente "conta".
Distingue-se, assim, de Mispar, que significa "número".
Embora diga-se que as Sefirot representem os dez dígitos básicos, na realidade não
são números.
Contudo, são as fontes nas quais os números se originam.
Apesar do Sêfer Ietsirá não dar o nome das 10 Sefirot, estes são bem conhecidos
na Cabalá clássica.
Elas são mostradas na Tabela 6.
As Sefirot apresentam-se geralmente dispostas em três colunas, como mostrado na
Figura 1.
Os nomes das dez Sefirot são todos derivados da Escritura.
Ao enumerar as qualificações de Betsalel, Deus diz: "Eu o enchi com o espírito de
Deus, com Sabedoria, com Entendimento e com Conhecimento" (Êxodo 31:3).
Como o Sêfer Ietsiret declara posteriormente (1:9), o "Espírito de Deus" refere-se a
Kéter (Coroa), a primeira das Sefirot.
Sabedoria e Entendimento referem-se então às duas Sefirot seguintes.
As primeiras duas Sefirot estão aludidas no versículo: "Com Sabedoria Deus
estabeleceu a terra, com Entendimento a firmou nos céus e com seu Conhecimento
as profundidades foram quebradas" (Provérbios 3:19-20).
Igualmente, está escrito: "Com Sabedoria se constrói uma casa, com Entendimento
ela é estabelecida e com Conhecimento seus cômodos se enchem" (Provérbios
24:3-4).
Todas estas fontes enumeram três qualidades: Sabedoria, Entendimento e
Conhecimento.
Entretanto, o Conhecimento não é propriamente uma Sefirá mas, meramente o
ponto de confluência entre a Sabedoria e o Entendimento.
Não obstante, de muitos modos comporta-se como uma Sefirá, e assim
freqüentemente aparece incluída entre as Sefirot.
As seguintes sete Sefirot se nomeiam no versículo: "Teus, á Deus, são a Grandeza
(4), a Força (5), a Beleza (6), a Vitória (7) e o Esplendor (8), por Tudo (9) no céu e
na terra; teu, ó Deus, é o Reino (10)..." (1 Crônicas 29: 11).
Aqui são definidos os nomes de todas as Sefirot inferiores. Ver Figura 1.
Em quase todas as fontes, entretanto, chama-se à primeira Chéssed (Amor) em
vez de Guedula (Grandeza).
Similarmente, a sexta é chamada Iessod (Fundação) em lugar de Tudo.
Entretanto, nos textos cabalísticos mais antigos, ambas as designações são usadas.
Segundo alguns cabalistas, as Dez Sefirot têm seu paralelo nas 10 vogais
hebraicas, que junto com as 22 letras compreendem então a totalidade do alfabeto
hebraico.
Para Rav Av‟raham Abuláfia, o paralelo entre as 10 sefirot com as dez formas de pontuação
do alfabeto hebraico (as 10 vogais), junto com as 22 letras compreendem então a chave do
Tzeruf (união).
• Camatz = a = Keter
• Patach = a = Chokh´mah
• Tzerê = e = Biynah
• Segol = é = Chessed
• Chirik = i = G´vurah
• Chirik = i = Tif´eret
• Cholam = o = Netzach
• Cholam = o = Hod
• Kubutz = u = Y‟sod
• Shuruk = u = Mal´khut
• Sh'vá = som da letra = Da'at

Do Nada
A palavra empregada aqui é Belima (ou Blimah) ( 
) que pode também ser
traduzida como "fechado", "abstrato", "absoluto" ou "inefável".
Esta palavra aparece uma só vez na Escritura, no versículo: "Ele estende o norte
sobre o Caos, pendura a terra sobre um nada (Belima)" (Jó 26:7).
Segundo muitos comentários, a palavra Belima deriva de duas palavras, Beli, que
significa "sem", e Ma, que significa "o que" ou "algo".
A palavra Belima viria então a significar "sem absolutamente nada" ou "nada”.
De acordo com esta interpretação usa-se a designação "Sefirot do nada" para
indicar que as Sefirot são conceitos puramente ideais, sem substância de nenhum
tipo.
Diferente das letras, que têm forma e som, as Sefirot não têm propriedades físicas
intrínsecas.
Como tais, são puramente conceituais.
Outras fontes estabelecem que Beli-ma vem da raiz Balam ( 
), que significa
"freio".
Isto é encontrado no versículo: "Não sejas como o cavalo ou a mula que não
entendem, cuja boca deve ser freada (Balam) com cabresto e rédeas" (Salmos
32:9).
Esta segunda interpretação parece ser indicada no próprio Sêfer Ietsirá, já que
depois este afirma: "Refreia (Balom) sua boca de falar delas" (1:8).
De acordo com isto, a tradução de Beli-ma seria "inefável".
O texto falaria então de "Dez Sefirot inefáveis", indicando que não podem ser
descritas de nenhuma maneira.
Similarmente, o versículo bíblico "Ele pendura a terra sobre o inefável", significaria
que as forças que sustentam a Criação não podem ser descritas.
De acordo com ambas as interpretações, as Sefirot são distintas das letras.
Enquanto as letras são primariamente modos de expressão, as Sefirot são
inexpressíveis por sua própria natureza.
Um dos maiores cabalistas, Rabi Isaac de Aco (1250-1340), assinala que Beli-ma
tem valor numérico 87.
Por outra parte, o nome Divino Elohim soma 86.
Beli-ma representaria então o estágio que segue imediatamente à pura essência do
Divino.

A palavra "bli" também é um poderoso guerush (mantra), pois seu som tem o poder de
afastar as energias negativas internas e manter a clipah (casca) com abertura para a entrada
da Luz.
A palavra "bli" tem o valor guemátrico de 42 que por sua vez faz uma referência a oração
Aná Bekoach (que é o Nome de HaShem de 42 letras).
A palavra "ma" é a palavra usada também, segundo os sábios da Tradição, para a criação do
Mundo Físico, enquanto a palavra "mi" (quem?) representa a Criação do Mundo Espiritual.
Desta forma, a energia com o poder de anular a negatividade (contida no "bli") está atuando
diretamente sobre as energias físicas.
Por associação poderíamos definir o conceito de "blima" também como sendo "sem as
cascas negativas do mundo físico".
Para o cabalista, para refazer em sua essência o processo de Criação ele deve se livrar das
clipot e quebrar as limitações do Mundo Físico.
A ferramenta para chegar a este estágio de elevação espiritual é através da aquisição de
virtudes ligadas as 10 sefirot.
De acordo com esta interpretação usa-se a designação "sefirot do nada" para indicar que as
sefirot são conceitos puramente ideais, sem substância de nenhum tipo.
Diferente das letras, que têm forma e som, as sefirot não têm forma e som, as sefirot não
têm propriedades físicas intrínsecas.
São, desta forma, conceitos.
O cabalista deve meditar em suas qualidades e em seus atributos para poder ligar o seu ser
ao "ser ideal", o Adam Cadmon, que contém todas as virtudes das sefirot.
Deve imaginar o exercício destas virtudes em determinados momentos do dia e da semana
refletindo sobre o seu significado.
Outra explicação está no fato da palavra "blimah", como dissemos, vir da raiz Balam, que
significa "freio".
Através da meditação sistemática sobre as virtudes as sefirot, podemos "frear" o impulso de
nossas ações reativas e instintivas.
Meditações dentro do dia:
• Shachariyt - Keter – Emunah (Fé, Certeza).
• Minchah - Chokh´mah - Auto-anulação.
• Arviyt - Biynah - Alegria.

Meditação dentro da semana:


• Domingo - Chessed - Amor.
• Segunda - Guevurah - Temor.
• Terça - Tiferet - Kavanah.
• Quarta - Netzach - Confiança.
• Quinta - Hod - Refinamento.
• Sexta - Yesod - Verdade.
• Shabat – Malkhut - Humildade.
Podemos, desta forma, ligar cada dia da semana com as três qualidades diárias unindo-as ao
atributo do dia.
Exemplo:
Segunda pela manhã
A Certeza no Temor.
Segunda à tarde
A Auto-anulação no Temor.
Segunda à noite
A alegria no Temor.

Obs: E assim deveria ser feito em todos os momentos em todas as horas.


Estas são as chaves para vivenciar a experiência intensa das sefiyrot no dia-a-dia e fazer
com que cada momento torne-se uma grande oportunidade para gerar brechas no sistema
fechado e robótico da existência física.

22 Letras Fundação
No sentido mais simples, as letras são chamadas Fundação porque foi através das
letras do alfabeto hebraico que o Universo foi criado.
Por conseguinte, o próprio Sêfer Ietsird diz das letras: "Com elas Ele descreveu
tudo o que foi formado e tudo o que será alguma vez formado" (2:2).
Isto é também aludido no que o Talmud diz do construtor do Tabernáculo: "Betsalel
sabia como permutar as letras com as quais foram feitos o céu e a terra".
Em cada ato da Criação, a Tora reporta que "Deus disse".
Assim, "Deus disse: seja a luz", e "Deus disse: haja um firmamento".
Os decretos mediante os quais Deus trouxe a Criação a ser consistiram em ditos.
Estes, por sua vez, consistiam em palavras, e estas eram compostas por letras.
Portanto, foi através das letras do alfabeto que o Universo foi criado.
As letras da Criação não só foram responsáveis pelo começo do mundo como
também sustentam-no constantemente.
Está assim escrito: "Por todo o sempre, ó Deus, Tua palavra permanece nos céus"
(Salmos 119:89).
As mesmas palavras e letras com as quais o Universo foi criado são também as
mesmas que constantemente o sustentam.
Se essas letras e palavras fossem retiradas por um instante sequer, o universo
deixaria de existir.
Então, se soubermos como manipular corretamente as letras, podemos manipular
também as forças mais elementares da Criação.
Os métodos para fazê-lo constituem os principais temas do Sêfer Ietsiná.
Em hebraico "Letras Fundação" são escritas Otiot Iessód.
Esta expressão pode também traduzir-se por "Letras da Fundação".
Em Cabalá, Fundação (Iessód) é a Sefira que corresponde ao órgão sexual.
Ela, portanto, tem a conotação de acoplar e emparelhar, geralmente com o
propósito da procriação.
Diz-se que as letras pertencem à Fundação (Iessód) pois é unicamente através das
letras que a Sabedoria e o Entendimento podem vir a aproximar-se e acoplar-se.
Como foi dito, a Sabedoria é pensamento puro não-verbal.
O Entendimento, por outra lado, só pode ser verbal, pois se uma idéia não pode ser
expressa verbalmente, tampouco pode ser entendida.
O único vínculo entre a Sabedoria não-verbal e o Entendimento verbal consiste nas
letras do alfabeto.
Isto também é evidente no ensinamento talmúdico mencionado anteriormente.
O Talmud estabelece que "Betsalel sabia como permutar as letras com as quais o
céu e a terra foram feitos".
Isto deriva do versículo em que Deus diz sobre Betsalel: "Eu o encherei com o
espírito de Deus, com Sabedoria, com Entendimento e com Conhecimento" (Êxodo
31:3).
Vemos então que a capacidade de manipular as letras da Criação depende de
"Sabedoria, Entendimento e Conhecimento".
Conhecimento (Dáat) é o ponto de encontro entre Sabedoria e Entendimento; tem
a conotação de união e intercurso, como no versículo: "Adam conheceu sua mulher
Eva" (Gênesis 4:1).
O conhecimento representa a Fundação entre a Sabedoria e o Entendimento.
É neste mesmo contexto que o Sêfer Ietsirá fala de "Letras da Fundação".
Em um sentido mais amplo, as letras servem para emparelhar e conectar entre si
todas as Sefirot.
Isto é particularmente verdadeiro na "Árvore da Vida" mostrada na Figura 1, que
discutiremos detalhadamente.

Três Mães
  
Estas são as três letras: Alef ( ), Mem ( ) e Shin ( ).
Elas serão comentadas em profundidade posteriormente.
Estas letras são chamadas "Mães" porque são primárias.
Essencialmente, Alef é a primeira letra do alfabeto, Mem a do meio, e Shin a
penúltima.

A razão porque Tav ( ) — a última letra do alfabeto — não é usada, é pelo fato de
ser uma das Duplas.
A razão pela qual estas letras são chamadas "Mães", é por que, em geral, as letras
derivam do Entendimento (Biná).
Como foi dito antes, o Entendimento é o princípio feminino original, e é, portanto,
chamado Mãe.
A isto se alude no versículo "Chamará Mãe ao Entendimento" (Provérbios 2:3).
Desde que estas são as letras primárias, elas são chamadas "Mães"
Essas letras são também chamadas de mães (Imot) no mesmo sentido que a uma
encruzilhada é dado o nome de "mãe do caminho" (Ezequiel 21:26).
Estas três letras são chamadas "encruzilhadas", já que formam os vínculos
horizontais entre as Sefirot no diagrama da Árvore da Vida.
Em um nível mais básico, essas letras são chamadas de "mães" porque o número
de vínculos horizontais define a ordem de sua disposição, como se discutirá depois.

Sete Duplas
 
Estas são as sete letras que podem expressar dois sons: Bet ( ), Guímel ( ),
    
Dalet ( ), Caf ( ), Pê ( ), Resh ( ) e Tav ( ).
As Elementares são as doze letras restantes que têm uma pronúncia única.
Ambos os grupos de letras serão discutidos posteriormente

Se desenharmos dez pontos em três colunas da forma mais simples, vemos que
ficam automaticamente ligados por 22 linhas.
Dessas linhas, três são horizontais, sete verticais e doze diagonais, tal como é
mostrado na Figura 2.
A divisão apresentada pelo Sêfer letsirá é, por conseguinte, uma conseqüência
natural da disposição.
De fato, esta figura pode ser contemplada como membro de uma família de
diagramas.
O número de ordem de cada diagrama fica então determinado pelo número de
vínculos horizontais.
Na prática e por razões que tratam com a natureza básica das Sefirot, estas não
podem ser organizadas na ordem natural, mas têm a linha média um pouco mais
abaixo.
Existem várias formas diferentes dos cabalistas colocarem as letras nestes
diagramas.
Esses são mostrados nas Figuras 3 a 6.
ontinua
O Sêfer Ietsirá – Parte 3

Diz-se que a Criação se completou com os dedos de Deus, como está escrito:
'Quando eu vejo os Teus céus, o trabalho de Teus dedos" (Salmos 8:4).
Os 10 dígitos numéricos igualmente têm seu paralelo nos dez dedos do homem.
Os cinco dedos da mão contém um total de catorze ossos.

Este é o valor numérico de Yad ( ) a palavra hebraica para mão.

Cinco Opostos a Cinco


Embora as Sefirot sejam comumente divididas em três colunas, elas também
podem ser arrumadas em duas ordens, uma à direita e a outra à esquerda.
As Sefirot "masculinas" no lado direito serão todas as que normalmente ficam à
direita, assim como as duas superiores da coluna do meio.
As Sefirot "femininas", na esquerda, incluirão as três normalmente à esquerda,
juntamente com as duas Sefirot inferiores do centro.
As cinco Sefirot masculinas são freqüentemente chamadas de "os cinco Amores
(Chassadim)", pois estão no lado de Chéssed (Amor).
As cinco Sefirot femininas são do mesmo modo chamadas de "as cinco Forças
(Guevurot)" por estarem no lado de Guevurá (Força). Ver Figura 7.
Quando as Sefirot estão em sua posição normal, dispostas em três colunas,
encontram-se em um estado de equilíbrio.
Mas quando as Sefirot da coluna central são movidas à direita ou à esquerda,
divididas em duas formações, uma poderosa tensão é produzida.
Quando elas estão em tal disposição, poderosas forças espirituais podem ser
dirigidas e canalizadas.
Por isso, em muitos lugares onde Deus interfere diretamente com o mundo físico, a
Escritura fala dos dedos ou mãos de Deus.
O caso mais óbvio ocorre com referência à Criação em si mesma, na qual o
Salmista chama "a obra de Teus dedos", como foi citado acima.

Encontramos igualmente: "Minha mão [esquerda] fundou a terra e Minha mão


direita estendeu os céus" (Isaías 48:13).
Antes que tal ato criativo pudesse acontecer, todas as Sefirot tiveram que
polarizar-se para os lados masculino e feminino, gerando tensão e força.
Tal como a procriação humana precisa de macho e fêmea, o mesmo ocorre com a
Criação Divina.
Muito ligadas a isto estão as diversas ações que usam as mãos para canalizar
forças espirituais.
Entre elas está a imposição de mãos, a elevação das mãos na Bênção Sacerdotal e
o abrir das mãos na oração.
Em todas as ocasiões a intenção é canalizar o poder das Dez Sefirot através dos
dez dedos.
Ao fazê-los corresponder às duas mãos, as Sefirot são polarizadas, criando tensão
espiritual. Ver Figura 8.

Uma vez que tal tensão exista, através da meditação e da concentração, os poderes
das Sefirot podem ser focalizados e canalizados.

E Uma Única Aliança


A expressão hebraica é Berit Yachid.
Alguns lêem Berit Yichud, "uma aliança unificadora" porém o significado é similar.
Um conceito parecido encontra-se no último capítulo com referência a Abraham
(6:7).
Em geral, uma aliança (Berit) é algo que se produz entre duas partes separadas.
O paradigma de uma aliança é a que Deus fez com Abraham quando ordenou-lhe:
"Traga-Me uma novilha, uma cabra, um carneiro, uma rola e um pombinho"
(Gênesis 15:9).
Estes cinco animais se correspondem com os cinco dedos.
Três deles foram divididos pela metade, de forma que as seis metades
representassem as seis Sefirot que estão normalmente à direita e à esquerda.
As quatro metades das aves, que não foram divididas, representam as quatro
Sefirot que estão normalmente na linha central. Ver Figura 9.

As duas tábuas que continham os Dez Mandamentos eram também chamadas as


Tábuas da Aliança (Deuteronômio 9:9).
Por esta razão, elas foram dadas em duas tábuas em vez de apenas em uma.

Quando as Dez Sefirot são divididas segundo esta dupla disposição, o lugar do meio
se torna foco de tensão espiritual.
Este lugar é então chamado a "aliança única" ou "aliança unificadora".

Circuncisão da Língua
A palavra hebraica para "circuncisão" é Milá.
Esta mesma palavra, entretanto, também significa "palavra", tal como
encontramos: "O espírito de Deus fala por mim e Sua Palavra (Milá) está em minha
língua" (2 Samuel 23:2).
Daí que isto também possa traduzir-se como "a palavra da língua".
A "circuncisão da língua" refere-se à capacidade para usar os mistérios da língua
hebraica.
Também se refere à capacidade para perscrutar os mistérios da Torá.
Em um sentido mais geral, tal circuncisão denota fluência verbal.
De alguém que não pode falar propriamente é dito que tem "lábios incircuncisos".
Moisés, por conseguinte, disse: "Como o Faraó me ouvirá se tenho os lábios
incircuncisos?" (Êxodo 6:12).
Quando é dado a alguém o poder de falar propriamente, sua língua é considerada
"circuncidada".
Isto é, este poder manifesta-se tanto através da "circuncisão" como na "palavra"
falada.
Um bom exemplo disto se encontra na Bênção Sacerdotal.
Nela os sacerdotes levantam as mãos e pronunciam a bênção delineada na
Escritura (Números 6:22-27).
Os sacerdotes levantam as mãos precisamente ao nível da boca, conforme está
escrito: "Aharon levantou suas mãos para o povo e o benzeu" (Levítico 9:22).
O sacerdote-cohen deve concentrar-se no fato de que seus dez dedos representam
as Dez Sefirot.
Como resultado da focalização da força espiritual entre suas duas mãos, sua língua
está circuncidada e a bênção surte o efeito apropriado.
O mesmo é verdadeiro no ato de elevar as mãos em oração.
Aqui, novamente, as duas mãos focalizam o poder espiritual para "circuncidar" a
língua, permitindo ao indivíduo orar efetivamente.
Em alguns sistemas de meditação cabalística também se usava a aposição de mãos
no alto para focalizar a energia espiritual.
Por uma razão parecida, os sacerdotes-cohanim tinham que lavar suas mãos e pés
antes do Serviço Divino.
Tudo isso lança luz sobre o significado dos dois Querubins sobre o Arca da Aliança
no Santo dos Santos.
Os dois Querubins eram a fonte de toda profecia.
A profecia supõe uma focalização particularmente intensa de energia espiritual,
permitindo ao profeta falar a verdade em nome de Deus.
A profecia constituía, assim, o nível último de "circuncisão da língua".
Deus disse a Moisés ao descrever a Arca: "Comunicar-Me-ei contigo e te falarei de
cima do tampo da Arca, entre os dois Querubins que estão sobre a Arca do
Testemunho" (Êxodo 25:22).
O que era verdadeiro para Moisés era também verdadeiro para outros profetas, e o
influxo da profecia canalizava-se primariamente mediante os dois Querubins no
Santo dos Santos.
Existe alguma evidência de que, ao menos em alguns casos, a experiência profética
era o resultado de uma intensa meditação nestes dois Querubins.
Com a destruição do Primeiro Templo, quando os Querubins foram removidos do
Santo dos Santos, a profecia como tal cessou de existir.
De acordo com o Zohar, os dois Querubins representavam as Sefirot divididas em
ordem masculina e feminina.
Eles foram colocados sobre o Arca, que continha, por sua vez, as Tábuas originais
dos Dez Mandamentos.
Havia cinco mandamentos em cada tábua, de forma que as duas representavam
uma disposição similar das Sefirot.
Isto criava um estado de tensão através do qual a força espiritual associada à
profecia podia ser focalizada.

Circuncisão do Membro
Do mesmo modo que os dedos das mãos representam as Dez Sefirot, o mesmo
pode dizer-se dos dedos dos pés.
Entre as pernas tem lugar a circuncisão do órgão sexual.
Para entender o significado desta circuncisão, alguém deve compreender por que
Deus ordenou que ela fosse realizada no oitavo dia.
A Tora estabelece: "No oitavo dia, a carne de seu prepúcio deve ser circuncidada"
(Levítico 12:3).
A aliança da circuncisão foi originalmente dada a Abraham.
O mundo foi criado em seis dias, o que representa as seis direções primárias que
existem no universo tridimensional.
O sétimo dia, o Shabat, é a perfeição do mundo físico e representa o ponto focal
das seis direções, conforme será comentado depois (4:4).
O oitavo dia constitui então um passo acima do físico no domínio do transcendental.
Mediante a aliança da circuncisão, Deus deu a Abraham e a seus descendentes o
poder sobre o plano transcendental.
O caso mais óbvio em que isto acontece é na concepção, onde uma alma é trazida
ao mundo.
Como a marca da aliança está no órgão sexual, ela dá ao indivíduo acesso aos
domínios espirituais superiores de onde pode atrair as almas mais elevadas.
Meditando no fato de que os dez dedos dos pés representam as Dez Sefirot alguém
é capaz de concentrar no órgão sexual a energia espiritual.
Com tais métodos pode-se conseguir um controle completo sobre as próprias
atividades sexuais, inclusive no meio do intercurso.
Santificando-se desta maneira durante o ato sexual, alguém pode ser apto a
determinar as qualidades do menino que vai ser concebido.
A aliança da circuncisão também representa a canalização da energia sexual.
O impulso sexual é uma das mais poderosas forças psicológicas no homem, e
quando canalizada ao longo das linhas espirituais, pode ajudá-lo a alcançar os mais
elevados estados místicos.
Ao ordenar a circuncisão, Deus indicou que as emoções e desejos associados com o
sexo podem ser usados para a busca mística do Divino em um plano
transcendental.
A justaposição entre a "circuncisão da língua" e a "circuncisão do membro" explica
a posição profética favorita de Elias.
A Escritura relata: "Elias subiu ao topo do monte Carmel, e prostrando-se em terra,
pôs seu rosto entre os joelhos" (1 Reis 18:42).
Esta posição era empregada para uma concentração intensa de energia espiritual.
Segundo o Midrash, usava-se esta postura porque colocava a cabeça em conjunção
com a marca da circuncisão.
Quando se está na posição descrita, todas as forças vêm a reunir-se.
Os dez dedos das mãos, os dos pés, a língua e o órgão sexual compreendem um
total de 22 elementos, equivalentes às 22 letras do alfabeto hebraico.
Então, o corpo do indivíduo torna-se um alfabeto com o qual pode "escrever" no
domínio espiritual.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 4

A faculdade suprema no homem é a vontade.


Corresponde à primeira das Sefirot, Kéter (Coroa).
Se alguém tentasse descrever Deus, seria tentado a dizer que Ele é Vontade pura.
Isto seria muito parecido a dizer que Deus é "Espírito", ou que Ele é "Amor", visto
que todas estas descrições tentam descrever a Deus em palavras de qualidades
humanas.
Entretanto, se tivéssemos que usar uma qualidade humana, esta seria, sem dúvida,
a vontade, pois é a mais alta das faculdades humanas.
Mas se disséssemos que Deus é Vontade pura, estaríamos dizendo que Ele é
idêntico a Kéter.
Entretanto, Kéter é meramente uma Sefirá, e como tal, algo criado por Deus e
inferior a Ele.
Por conseguinte, não podemos sequer dizer que Deus é Vontade pura.
Inclusive a Vontade conta-se entre Suas criações e é inferior a Ele.
Portanto, não existe palavra alguma que possa ser usada para descrever a essência
de Deus.
O autor, conseqüentemente, afirma que as Sefirot são "dez e não nove".
Porque se disséssemos que Deus é Vontade, Kéter seria idêntico a Deus, e só
ficariam nove Sefirot.
Mas como existem dez Sefirot, inclusive a Vontade não é mais que uma Sefirá, e
ela é algo inferior ao Criador.
O Sêfer letsirá também adverte: "dez e não onze".
Isto é para ensinar que Deus em si mesmo, o Ser Infinito, não deve ser incluído
entre as Sefirot.
Se assim fosse, haveria onze e não dez Sefirot.
Deus pertence a uma categoria totalmente diferente que as Sefirot e não deve ser
contado entre elas.
Como resultado disso, não podemos sequer descrevê-Lo com qualidades puramente
abstratas, tais como vontade, sabedoria, amor ou força.
Quando a Bíblia faz uso de qualquer uma destas qualidades em relação a Deus, ela
está falando das Sefirot criadas por Deus, e não do próprio Criador.
Isto é particularmente importante para o místico.
Quando uma pessoa chega aos níveis superiores, pode pensar que está de fato
alcançando ao próprio Deus.
O Sêfer Ietsirá adverte então que, quando alguém sobe a escada das Sefirot, há só
dez passos, e não onze.
O Criador está sempre além de nosso alcance.
Por esta razão, Deus é chamado Ên Sof, literalmente "o Infinito".
Pode-se ascender mais e mais para o infinito, mas nunca se pode conseguir.
A infinitude pode permanecer como uma meta, mas é só uma meta que assinala
uma direção e não um fim que possa realmente ser alcançado.
O mesmo é verdadeiro em relação ao infinito Ên Sof.

Entende com Sabedoria


Como já foi dito antes, o Entendimento (Biná) implica pensamento verbal,
enquanto a Sabedoria (Chochmá) é puro pensamento não-verbal.
O Entendimento consiste em devaneio normal, no qual uma pessoa reflete as coisas
como para entender e organizar os pensamentos.
Por outro lado, a Sabedoria é o pensamento puro, e em particular refere-se a um
estado de consciência no qual a mente não está engajada em devaneios.
É muito difícil experimentar o pensamento puro, não-verbal.
Logo que alguém começa a esvaziar sua mente de pensamentos, começa
imediatamente a pensar, “agora não estou pensando em nada".
O estado de sabedoria ou consciência Chochmá é de pensamento puro, não-verbal,
o qual é muito difícil de conseguir.
Em uma intenção de alcançar esse estado de consciência Chochmá, usam-se as
diversas técnicas meditativas.
Assim, a meditação com mantras pretende limpar a mente de devaneios,
enchendo-a com as palavras repetidas do mantra.
Do mesmo modo, a contemplação persegue a mesma meta, enchendo a mente
com o objeto contemplado.
A Sabedoria está associada com o hemisfério direito não-verbal do cérebro e o
Entendimento com o hemisfério esquerdo verbal.
Como explicam os cabalistas, a Sabedoria só se experimenta normalmente quando
se acha vestida com o Entendimento.
Alguém pode ser apto para experimentar os trabalhos não-verbais da mente, mas
só quando os veste com pensamentos verbais.
Aqui o Sêfer Ietsirá começa a instrução sobre como captar as Sefirot.
O primeiro passo é "Entender com Sabedoria e ser sábio com Entendimento".
Isto supõe uma deliberada oscilação entre o Entendimento e a Sabedoria, entre a
consciência Biná verbal e a consciência Chochmá não-verbal.
Tente por um momento deixar de pensar.
Você permanece completamente consciente, mas não haverá pensamentos verbais
na sua mente.
Se for uma pessoa mediana, poderá ser capaz de manter tal estado durante alguns
segundos, mas imediatamente sua mente começa a verbalizar a experiência.
Você poderá dizer a si mesmo: "Não estou pensando em nada."
Mas logo que você faz isto, é obvio, você na verdade estará pensando em algo.
Entretanto, por esses poucos segundos você experimentou a consciência Chochmá
não-verbal.
Se você trabalhar esse exercício, poderá gradualmente aprender a estender o
tempo de permanência nesse estado.
É como um pêndulo pesado.
Quanto mais você o empurrar para frente e para atrás, por mais tempo ele
balançará.
Igualmente, quanto mais você aprender a oscilar entre a consciência Biná verbal e
a consciência Chochmá não-verbal, mais profundo você chegará nesta última, e
mais tempo será capaz de manter-se nesse estado.
A consciência Chochmá é particularmente importante para conseguir alcançar as
Sefirot.
Como já foi dito antes (1:2), as Sefirot são inefáveis e não podem ser entendidas
verbalmente.
Como o próprio Sêfer Ietsirá diz, devem ser alcançadas por "caminhos de
Sabedoria", ou seja, mediante os caminhos da consciência Chochmá não-verbal.

Examina com elas


Uma expressão similar será usada depois com respeito às Sefirot inferiores (4:5).
Uma vez que um indivíduo seja capaz de experimentar as Sefirot, deve fazer uso
delas para examiná-las e testá-las.
O autor não diz "examine-as", mas, "examine com elas".
A palavra hebraica usada é Bachan, que significa que alguém está para testar
coisas através de suas qualidades intrínsecas, assim como elas são no momento
imediato.
Quando uma pessoa tem uma consciência das Sefirot, ela pode então "examinar"
alguma coisa na Criação e determinar a Sefirá à qual esta coisa pertence.
Conforme ela se torna proficiente em fazer isto, pode empregar as distintas coisas
para reforçar seu vínculo pessoal com suas Sefirot associadas.
Na época em que o Sêfer Ietsirá foi escrito pela primeira vez, cada indivíduo tinha
que fazer isto por si mesmo.
Hoje em dia, entretanto, há muitas listas que associam diversas coisas e idéias com
suas Sefirot correspondentes e, como já foi dito, podem empregar-se como
"ajudas" para ligar-se a elas.

Perscruta delas
A palavra hebraica usada aqui para "perscrutar" é Chacar, que comumente indica o
alcance do conhecimento último de uma coisa.
O Sêfer Ietsirá afirma que alguém deveria "perscrutar delas".
Como resultado do poder espiritual que se obtém das Sefirot, deve-se investigar as
coisas até suas profundidades últimas.
Através da experiência adquirida das Sefirot, ganha-se a mais profunda percepção
das coisas no mundo.
Perceba cuidadosamente que o Sêfer Ietsirá não nos diz para contemplar as Sefirot
em si.
Mas nos instrui para usá-las no desenvolvimento de uma visão interior com a qual
perceber o mundo.

Faz que (cada) coisa se erga sobre sua essência


Desta forma alguém pode aprender a perceber a natureza essencial de cada coisa.
O Sêfer Ietsirá diz "faz que cada coisa se erga sobre sua essência" em um paralelo
com a seguinte frase: "faz que o Criador se sente em sua base (ocupe o seu
lugar)".
O Sêfer Ietsirá está também indicando que, quando uma pessoa percebe a
verdadeira natureza espiritual de algo, ela também eleva esse algo espiritualmente.
"Erguer-se" refere-se a tal elevação.
A expressão "faz que cada coisa se erga" diz, por conseguinte, que quando se
"perscruta delas" elevam-se as coisas perscrutadas.

Faz que o Criador se sente em sua Base


A palavra hebraica que se usa aqui para "base" é Machón, que em vários locais é
visto como o lugar no qual Deus "se senta".
Assim, Salomão fala em sua oração:
"os céus, a base (Machón) de seu assento" (1 Reis 8:39).
Igualmente a Escritura diz:
"A retidão e o julgamento são a base (Machón) de teu trono" (Salmos 89:15).
Em outros locais, a Bíblia fala do Templo como sendo a "base" sobre a qual Deus se
senta.
A palavra Machón (  
) deriva da raiz CON ( ), que é também a raiz da palavra
Hechin ( ) significando "preparar".
Daí que Machón se refira não só a uma base física, mas também a uma base
preparada especificamente para um propósito especial.
Diz a Escritura: "Ele fundou a terra sobre Sua base (Machón)" (Salmos 104:5).
Este versículo indica que tudo no mundo físico tem uma base ou contraparte
espiritual específica mediante a qual pode ser elevada.
Em geral, o antropomorfismo "sentar" usado com respeito a Deus tem o sentido de
"abaixar-se" .
Quando alguém se senta, baixa seu corpo.
Similarmente, quando Deus se "senta", Ele "baixa" a sua essência para envolver-se
com sua Criação.
Quando a Bíblia fala Trono de Deus está se referindo ao veículo pelo qual Ele
expressa seu envolvimento.
Há uma regra geral em Cabala que diz que "todo o despertar de baixo" motiva um
"despertar de cima".
Assim, quando alguém eleva mentalmente uma coisa à sua essência espiritual, faz
também descer sustento espiritual (Shefa) a esse objeto particular.
Este sustento pode então ser canalizado e usado pelo indivíduo.
Sob algumas condições, isto pode se usado para realmente levar a cabo mudanças
físicas no mundo.
O Talmud também interpreta o termo Machón como indicando um paralelismo entre
os domínios físico e espiritual.
A "base preparada" (Machón) mediante a qual Deus "senta" e canaliza sua
influência espiritual para o mundo é precisamente este Machón — o paralelismo
entre o espiritual e o físico.
Este é o aspecto mediante o qual "Deus senta", e por isso a Escritura fala como a
base (Machón) de Seu assento.
Neste contexto, o Sêfer Ietsirá chama Deus de Iotser.
Nós temos traduzido isto como "o Criador", mas uma tradução mais precisa seria "o
Formador" ou "Aquele que Forma".
Há três palavras em hebraico que têm significado parecido.
São Bara, que significa "criar"; Iatsar, que significa "formar", e Assa, que significa
"fazer".
Segundo os cabalistas, Bara indica Criação ex-nihilo, "alguma coisa do nada".
Iatsar denota formação de algo a partir de uma substância que já existe, "algo de
algo".
Assa tem a conotação de finalização de uma ação.
Os cabalistas ensinam que tais estágios são a contraparte dos três universos
superiores chamados Beriá (Criação), Ietsirá (Formação) e Assiá (Fabricação).
A isto faz alusão o versículo:
"A tudo o que é chamado em meu Nome, por Minha Glória (Atsilut), criei-o (Beriá),
formei-o (Ietsirá) e o tenho feito (Assiá) (lsaías 43:7).
O universo supremo é Atsilut, o domínio das próprias Sefirot.
Debaixo está Beriá, o domínio do trono.
Visto que Beriá (Criação) é "algo do nada", Atsilut é freqüentemente chamado
"Nada" (Áyin).
Daí, as Sefirot que estão em Atsilut serem chamadas de Sefirot do nada.
Debaixo de Beriá está o universo de Ietsirá (Formação), que é o mundo dos anjos.
E, por fim, está o universo de Assiá (Fabricação), que consiste no mundo físico e
sua sombra espiritual. Ver Tabela 7.

O Sêfer Ietsirá está falando aqui primariamente sobre o estabelecimento de um


vínculo entre os dois mundos inferiores, Ietsirá e Assiá.
Os métodos do Sêfer Ietsirá envolvem a manipulação das forças do Universo de
Ietsirá e esta é a razão do nome do livro.
O texto fala de Deus, por conseguinte, como Iotser, o Formador, para indicar Sua
manifestação no mundo de Ietsirá.
No versículo acima citado: "Ele Fundou (Iassad) a terra sobre sua base (Machón)",
vê-se que Machón se refere a um nível espiritual que está próximo ao mundo físico,
ou seja, o nível inferior de letsiró.
Machón está no nível correspondente a Iessód (Fundação), que tem a conotação de
conectar e ligar.
Isto liga Ietsirá a Assiá.
Através da elevação dos objetos do mundo físico pode-se então recorrer às forças
de Ietsirá, o mundo dos anjos.
Por isso o Sêfer Ietsirá emprega o palavra Machón (Base) em vez de Trono (Kissê).
O termo "Trono" refere-se ao universo de Beriá, o chamado "mundo do Trono".
Machón, por outro lado, está no nível de Ietsirá.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 5

Aqui o Sêfer Ietsirá define um continuum pentadimensional que é a estrutura de


seu sistema.
Estas cinco dimensões definem dez direções, duas direções opostas em cada
dimensão. Ver Tabela 8.
O espaço continuum consiste em três dimensões, acima-abaixo, norte-sul, leste-
oeste.
Este continuum é definido por seis direções e é chamado "Universo".
O tempo continuum consiste em duas direções, passado e futuro, ou início e fim.
Ele é chamado "ano".
Finalizando, existe uma moral, quinta dimensão espiritual, cujas duas direções são
o bem e o mal.
Esta é chamada "alma".
De acordo com cabalistas posteriores, estas dez direções correspondem às Dez
Sefirot da seguinte forma:

Princípio Chochmá (Sabedoria)


Fim Biná (Entendimento)
Bem Kéter (Coroa)
Mau Malchut (Reino)
Acima Nêtsach (Vitória)
Abaixo Hod (Esplendor)
Norte Guevurá (Força)
Sul Chéssed (Amor)
Leste Tiféret (Beleza)
Oeste Iessód (Fundação)

As Dez Sefirot são vistas assim como consistindo de cinco conjuntos de opostos.
Estes são os "cinco opostos a cinco" discutidos antes (1:3).
Os opostos têm seu paralelo nos cinco dedos de cada mão.
A Sabedoria é sempre definida como o início pelos cabalistas.
Isto é baseado em versículos tais como:
"O princípio é a sabedoria" (Provérbios 4:7).
Isto corresponde ao início da existência, antes que a Criação fosse definida,
pronunciada ou verbalizada.
Deus criou então o mundo com dez ditos.
Eles representam o poder do Entendimento (Biná), que é o aspecto do pensamento
verbal.
Como discutido anteriormente, o nome Elohim, usado no relato da Criação,
representa o Entendimento.
Os "ditos" só podem acontecer através do Entendimento denotado pelo nome
Elohim.
Psicologicamente, a Sabedoria também representa o passado de uma outra
maneira.
A memória não é verbal e é armazenada na mente de uma forma não-verbal.
Somente quando alguém traz uma memória à superfície é que ela se torna
verbalizada.
Já que a memória pura é totalmente não-verbal, ela está na categoria de
Sabedoria.
O futuro, por outro lado, não pode ser imaginado em absoluto, exceto em termos
verbais.
Pode-se recordar o passado, mas não o futuro.
O futuro só pode ser percebido quando é descrito.
O modo principal no qual nós conhecemos o futuro é por extrapolação do nosso
conhecimento do passado, ou, na linguagem do Talmud, "entendendo uma coisa a
partir de outra".
Passado e futuro são também as contrapartes de Sabedoria e Entendimento, até o
ponto em que eles são respectivamente macho e fêmea.
O passado é declarado como sendo macho, porque influi diretamente no futuro.
Desta forma, é como se o futuro, feminino, fora engravidado pelo passado.
Kéter é chamado o "bem" porque é a Sefirá mais próxima de Deus.
Pela mesma razão, Malchut, a Sefirá mais afastada de Deus, é dita como o "mal".
Isto não significa que Malchut seja realmente o mal, já que todas as Sefirot são
completa e absolutamente boas.
Entretanto, ao assinalar Malchut na direção oposta de Deus, diz-se que denota a
direção do mal.
A disposição completa das Sefirot é freqüentemente chamada de "Árvore da Vida".
A linha central, de Kéter a Malchut, quando considerada sozinha, é chamada de
"Árvore do Conhecimento".
É sobre esta linha que o bem e o mal se juntam, sendo este o mistério da "Árvore
do Conhecimento do Bem e do Mal" (Gênesis 2:9) da qual Adam e Eva foram
ordenados a não compartilhar.
O bem e o mal convergem na quase-Sefirá do Conhecimento (Dáat).
Por causa disso, alguns dos últimos cabalistas colocam ambas, "a profundidade do
bem como a profundidade do mal" no Conhecimento (Dáat).
Existem 32 hiperquadrantes que podem ser definidos em um hiperespaço
pentadimensional.
Eles correspondem aos 32 vértices de um hipercubo pentadimensional, como se
discutiu acima (1:1).
Estes, por sua vez, estão relacionados com os 32 Caminhos da Sabedoria.
Ver Tabela 9.
Em geral, pode-se dizer que uma faca ou lâmina de cortar tem uma dimensão
menor que o continuum que esta corta.
Em nosso continuum tridimensional, uma lâmina é essencialmente um plano
bidimensional.
Portanto, em um continuum pentadimensional, alguém deve esperar que uma
lâmina de faca tenha quatro dimensões.
Uma lâmina tal seria um hipercubo tetradimensional com 16 vértices.
O Midrash estabelece que a espada de Deus tem 16 fios, indicando que trata-se,
em realidade, de um hipercubo tetradimensional.

Sua medida é dez, que não tem fim


O Sêfer Ietsirá não diz "seu número é dez", mas sim "sua medida é dez".
O que este diz é que as Sefirot definem um continuum de dez direções ou cinco
dimensões.
Cada direção se diz infinita e sem fim.
De fato, ao dizer que não tem fim, o Sêfer letsirá usa a palavra "En (la-hem) Sof”.
Este é o termo usual para Deus, o Ser Infinito.
As direções se estendem sem limites e, neste sentido, as Sefirot compartilham uma
propriedade com o Ser Infinito.
Dá-se aqui ao iniciado uma alegoria mediante a qual ele/ela pode perceber seu
caminho para o Ser Infinito.
A alegoria consiste em quaisquer das direções.
Assim, por exemplo, "acima" não tem fim.
Pode-se continuar viajando em uma direção vertical, mas nunca chegar de fato ao
"acima".
O mesmo é certo quando se viaja para "cima" espiritualmente.

A profundidade do princípio
O Sêfer letsirá não fala de direções, mas sim de profundidades.
Em geral, o conceito de profundidade indica algo a uma grande distância, como
quando se olha para baixo, em um poço muito fundo, contemplando suas
"profundidades".
Esta profundidade, portanto, denota grande distância, tanto física como mental.
Assim sendo, diz-se também que uma idéia de difícil entendimento, que está muito
afastada de nossa compreensão, é profunda.
Há muitos exemplos disso na Escritura.
Assim encontramos:
"Para a altura dos céus, para a profundidade da terra e para o coração dos reis não
há investigação" (Provérbios 25:3).
Também diz Cohelet em relação à Sabedoria:
"Ela é profunda, profunda, quem a achará?" (Eclesiastes 7:24).
Em particular, a palavra "profundidade" é empregada em relação ao Divino, como
por exemplo:
"Quão grandes são Tuas obras, ó Deus; Teus pensamentos são muito profundos!"
(Salmos 92:6).
Estas dez profundidades, por conseguinte, representam as dez direções estendidas
até o infinito.
Está escrito:
"O conselho no coração do homem é como água profunda, mas um homem de
entendimento o extrairá" (Provérbios 20:5).
Ainda que a profundidade destas direções seja infinita, pode ser descrita
mentalmente.
A primeira técnica envolve pensamento verbal, através de ser "um homem de
Entendimento".
Gradualmente, então, alguém pode também aprender a descrever essas
profundidades infinitas não-verbalmente .
O primeiro exercício é experimentar descrever a "profundidade do princí-io".
Tente imaginar uma infinitude de tempo no passado.
Deixe sua mente retornar um minuto atrás, uma hora atrás, um dia atrás, um ano
atrás, continuando assim até alcançar um nível onde você experimenta imaginar
"um infinito atrás".
Então faça o mesmo em relação ao futuro.
O próximo exercício consiste em tentar imaginar o bem infinito e o mal infinito.
Os limites serão idéias puras, que não podem ser verbalizadas.
Finalmente terá que imaginar os limites das dimensões espaciais.
Deve-se perceber a altura do céu e além do céu, a profundidade da terra e além da
terra.
Desta maneira, gradualmente treina-se a mente para descrever o infinito.
Como as Sefirot em si mesmas são também infinitas, este exercício pode ajudar a
conseguir uma comunhão com elas.
O indivíduo pode então aprender a subir pela Árvore das Sefirot e finalmente
aproximar-se das mais elevadas alturas espirituais.
Isto se consegue através destas profundidades.
Está escrito:
"Um canto de degraus, das profundidades Eu te chamo, ó Deus" (Salmos 130:1).
Alguém chama a Deus meditando nas profundidades, e então alguém pode subir
por uma série de degraus.
O salmo recebe então o nome de "canto dos degraus".

Exercício Completo:
O exercício consiste em 10 estágios de contemplação:

• Na primeira parte experimente a profundidade de Keter, ou seja, procure


contemplar o que seria o Bem Infinito.
Imagine o Bem Infinito expresso na natureza humana.
• Depois contemple a natureza de Chochma.
Visualize o Princípio de tudo, o começo da Criação, o momento em que tudo se
iniciou.
Retorne gradativamente, comece por eventos nesta vida e vá para além dela, em
vidas anteriores até o instante em que universo se formou.
• Agora vá para Bina e se projete no tempo e no espaço e vá para além do tempo
presente para o Fim de todas as coisas.
Corno seria o fim de sua vida, de sua obra nesta existência, o fim do Universo.
• Agora volte-se em direção ao Sul e se projete em uma linha para além do infinito
deste mundo.
• Agora volte-se em direção ao Norte e se projete em uma linha para além do
infinito deste mundo.
• Agora volte-se em direção ao Leste e se projete em uma linha para além do
infinito deste mundo.
• Agora volte-se em direção aos Mundos Superiores, as Dimensões Superiores e vá
ao mais distante que você possa alcançar.
• Agora volte-se em direção aos Mundos Inferiores, as Dimensões Inferiores e vá
ao mais distante que você possa alcançar.
• Agora experimente a profundidade de Malchut, ou seja, procure contemplar o que
seria o Mal Infinito. Imagine o Mal Infinito expresso na natureza humana.
• Mergulhe por último no En Sof e estenda a sua percepção para muito além da
ideia de Infinito Em Todas As Direçóes.
• Termine lendo o Salmo 130.

Desta forma, você estará treinando a mente para descrever o Infinito.


O cabalista, neste momento estará apto a perceber a real Profundidade de cada
Sefira e de si mesmo.
O Mestre único
Também pode ser lido como "o Mestre é Único", e uma expressão similar é
encontrada adiante (1:7).
Depois de descrever o continuum pentadimensional definido pelas Sefirot, o Sêfer
Ietsirá se refere especificamente a Deus como o "Mestre Único".
A palavra hebraica para "único" aqui é Yachid, indicando uma completa e absoluta
unidade.
A unidade de Deus é absoluta.
Ela não é como uma pessoa que consiste de muitas partes.
Ela não é nem como o mais simples dos objetos físicos, desde que inclusive tal
objeto tenha três dimensões.
Dizer que Deus está limitado por dimensões introduziria em si mesmo um elemento
de pluralidade em Sua essência, e isto está excluído.
Depois de haver definido o continuum de cinco dimensões, alguém poderia errar
pensando que Deus é um ser pentadimensional.
O Sêfer Ietsirá, portanto, enfatiza neste ponto Sua unidade.
O conceito de dimensionalidade não se aplica a Deus, em absoluto.

Deus, Rei fiel


Em hebraico, isto é El Melech Neeman ( ).
Tomando as letras iniciais de cada palavra obtém-se a palavra Amén (  ) e, de
acordo com o Talmud, é esta a frase que define a palavra Amén.
A afirmação de que Deus é "fiel" significa que Ele é acessível unicamente através da
fé.
O intelecto humano só pode captar conceitos dentro do continuum de cinco
dimensões de espaço-tempo-espírito.
Deus, o Ser Infinito, entretanto, está além disso.
Ele pode relacionar-se com o universo como "Rei", mas Ele, em Si mesmo, está
acima de nossa capacidade de compreensão mental.

Domina todas elas


A palavra hebraica para "dominar" aqui é Moshel.
Existem dois sinônimos que indicam dominância — Melech e Moshel.
Um Melech é um rei que interage com seus súditos e que é, portanto, afetado por
eles.
Por outra parte, um Moshel é um tirano e ditador, que governa mas não é
influenciado de nenhum modo por seus subordinados.
Deus é algumas vezes chamado Melech, mas isto se refere somente às suas ações
através de Malchut (Reino), a mais baixa das Sefirot.
O Ser Infinito, entretanto, é realmente, um Moshel, um governante absoluto que
não é afetado de nenhuma forma por sua Criação.
A Escritura diz então:
"Se fores justo, o que darás a Ele? O que Ele receberá de tua mão?" (Jó 35:7).
Isto é particularmente verdadeiro na relação de Deus com as Sefirot.
Ele não é de nenhum modo afetado ou definido por elas.

Desde sua Santa habitação


A palavra hebraica para designar "habitação" é Maón ( ).
A expressão "Santa Habitação" (Maón Cadosh) ocorre várias vezes na Bíblia.
É também usada novamente adiante (1:12).
A palavra Maón é definida pelo verso "Ó Deus, Tu tens sido uma habitação (Maón)
para nós" (Salmos 90:1).
O Midrash o interpreta indicando que "Deus é a habitação do mundo e o mundo não
é sua habitação".
Deus é o "lugar" do mundo, definindo o continuum espaço-tempo-espírito,
enquanto que Ele não é definido por nenhum tipo de continuum.
O continuum está contido em Deus, por assim dizer, e Ele não está contido no
continuum.
A palavra Maón está muito relacionada com a palavra Macom (  ) que significa
"lugar".
Macom vem da raiz COM (  ), "levantar-se".
Macom denota um lugar no espaço físico, onde alguma coisa pode "levantar-se".
Maón ( ) por outro lado, vem da mesma raiz que Oná (  ) que significa
"tempo" ou "período".
Exatamente como Macom define um ponto no espaço, Maón define um ponto no
espaço-tempo continuum.
Então, quando o Sêfer Ietsirá diz que Deus domina as Sefirot desde Seu "Santo
Maón", o texto está indicando que Ele é o "lugar" e "habitação" do continuum
pentadimensional.
Não só Deus circunscreve o universo do espaço, mas também define o tempo e o
espírito.
É dito ser "Santo", e como foi discutido anteriormente (1:1), a palavra "Santo"
(Cadosh) denota separação do mundano.
O Ser Infinito está separado de todas as Sefirot, e em relação a Ele, até mesmo as
Sefirot são mundanas.

Até a eternidade das eternidades


Em hebraico, isto é Ade Ad ( ) e esta expressão ocorre numerosas vezes na
Bíblia.
Existem dois sinônimos que denotam eternidade.
O primeiro é LeOlam, traduzido geralmente como "para sempre", que indica o
ponto final do continuum temporal.
Freqüentemente emprega-se a expressão LeOlam VaEd (  ), que significa
"para sempre e eternidade".
A expressão "Eternidade" designa aqui o domínio além do tempo continuum, onde o
conceito de tempo não existe em absoluto.
Em tal domínio atemporal, entretanto, existe ainda um tipo de hipertempo, onde os
eventos podem ocorrer em uma seqüência lógica.
O Midrash chama a esse hipertempo, "ordem do tempo" (Seder Zemanim).
A expressão "a eternidade das eternidades" (Ade Ad) denota um domínio que está
inclusive além desse hipertempo.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 6

A palavra para "visão" é aqui Tsefiá, que geralmente denota uma visão mística ou
profética.
Os Hechalot, um antigo texto místico que pode ser contemporâneo do Sêfer Ietsirá,
fala da visão (Tsefiá) da Mercaba.
A Mercabá é a carruagem Divina da visão de Ezequiel e a palavra é empregada
para denotar a experiência mística em seus mais altos níveis.
O Sêfer letsirá descreve agora como as Sefirot aparecem na visão mística.
Em seções anteriores, o texto falou dos exercícios usados para visualizar as Sefirot
e agora descreve suas aparições.
O Bahir, outro texto muito antigo, explica que a palavra Tsefiá, derivada da raiz
Tsafá, indica que alguém está olhando para baixo de uma grande altura.
Na seção anterior, o Sêfer Ietsirá falou das Sefirot como dez "profundidades".
Quando se olha uma profundidade, geralmente está se olhando para baixo.
Nos Hechalot, freqüentemente se descreve a experiência mística como uma
descida, e é chamada "descida para a Mercabá".
Olhar para as Sefirot é chamado uma "descida".
A razão disso deve-se ao fato de que, para consegui-lo, alguém deve primeiro
alcançar uma consciência tipo Chochmá, como discutido anteriormente.
No esquema das Sefirot, entretanto, Chochmá é a mais alta, ao menos as que são
acessíveis.
Para subir à Árvore dos 32 Caminhos da Sabedoria alguém deve começar por ligar-
se à Chochmá (Sabedoria).
Quando isso é conseguido, olha-se para baixo para as demais Sefirot.
Só então se começa a subir pelas Sefirot, iniciando pela mais baixa.

Como a aparição do relâmpago


A expressão está no versículo "e as Chaiot, correndo e retornando, como a aparição
do relâmpago (Bazac)" (Ezequiel 1:14).
A palavra Bazac, que só aparece neste lugar na Bíblia, traduz-se geralmente como
"relâmpago" ou "centelha".
Segundo outras interpretações, Bazac denota um meteoro lampejante ou uma
bolha estourando.
De acordo com todas essas opiniões, o que o Sêfer Ietsirá está afirmando é que as
Sefirot podem somente ser visualizadas por um instante, e logo desaparecem.
O grande cabalista Rabino Moshe de Leon (1238-1305), conhecido principalmente
pela publicação do Zohar, oferece-nos uma analogia interessante.
Quando as Sefirot são contempladas em visão mística, sua aparência é como a luz
do sol refletida em uma parede de tigela de água.
Uma vez que a tigela esteja completamente imóvel, a imagem refletida é clara,
porém a mais ínfima vibração a faz romper-se e oscilar abruptamente.
Similarmente, em teoria, é possível uma visão clara das Sefirot, mas só se a mente
estiver absolutamente tranqüila e calma.
O mais tênue pensamento exterior destrói a imagem completamente.
Quando a mente se acha em um estado em que pode visualizar as Sefirot, as mais
insignificantes distrações a perturbam.

Seu limite não tem fim


Obviamente deriva do versículo:
"De cada limite vi o fim; Seu mandamento é muito amplo" (Salmos 119:96).
A palavra hebraica usada aqui para "limite" é Tachlit ( ), que também
significa "conclusão" e "ultimato".

Ela é derivada da raiz Calá ( ), que significa "completar" ou "terminar", como
em "os céus e a terra se completaram (Cala)" (Gênesis 2:1).
Tachlit também denota propósito, pois quando algo cumpre seu propósito, diz-se
estar completo e terminado.
A expressão "seu limite não tem fim (Kets)" pode comparar-se à expressão anterior
"sua medida... não tem fim (Sof)" (1:5).
Ambas as palavras, Kets e Sof, denotam um final, mas com significado um tanto
diferentes.
A palavra Sof ( 
) deriva da raiz Safa ( ) que significa "deixar de existir".
A palavra Kets (), por outra lado, vem de Catsats, () que significa "cortar".
Daí que o fim indicado por Sof é onde alguma coisa deixa de existir, enquanto que
Kets indica o ponto onde a coisa é "cortada", isto é, sua fronteira ou limite extremo.
Como explica uma autoridade, Sof é o fim em relação ao que segue a este, e Kets é
o fim com relação ao que precede a este.
Quando o Sêfer Ietsirá falou antes das Sefirot como extensões, o texto dizia que
não tem Sof.
Isto indica que não há lugar onde elas cessem de existir por mais longe que alguém
vá.
É uma infinitude de extensão.
Do mesmo modo, quando Deus é chamado Én Sof, literalmente "Sem Sof', isto
também significa que não há lugar onde Ele cesse de existir.
Aqui, por outro lado, o Sêfer Ietsirá está falando das Sefirot tal como aparecem na
visão mística.
O texto diz então que seu propósito, compleição e resultado não têm limite (Kets).
Embora as Sefirot sejam vistas só como um flash, não há limite para a
compreensão que elas podem impregnar no indivíduo.

Sua palavra nelas está "correndo e retornando"


Isto também alude ao versículo: "E as Chaiot correndo e retornando, como a
aparição do relâmpago" (Ezequiel 1:14).
Isto será abordado novamente mais tarde (1:8).
A expressão "Sua Palavra" é Devaro (  ).
Outros, entretanto, vocalizam Dabru (), que significa "eles falam".
A linha completa então se leria: "Eles falam delas como correndo e retornando".
Isto nos ensina que não se pode focar nenhuma das Sefirot durante qualquer
período de tempo.
A mente pode concentrar-se e vê-las como um "relâmpago", mas só por um
instante.
Logo terá que retornar.
Oscila-se entre "correr" e "retornar", olhando de relance, por um instante, e logo
voltando imediatamente para seu próprio estado mental normal.
Os cabalistas fazem notar que "correr" denota Chochmá, enquanto que "retornar"
se refere à Biná.
Como foi discutido antes, só é possível visualizar as Sefirot com consciência
Chochmá, mediante a parte não-verbal da mente.
Tal consciência Chochmá é muito difícil de manter, pois a mente funciona
normalmente em um estado de consciência Biná verbal.
Como foi explicado antes (1:4), o único modo de conseguir uma consciência
Chochmá é oscilar para frente e para trás entre Chochmá e Biná.
Só durante o instante de pura consciência Chochmá podem as Sefirot ser
percebidas.
Geralmente, em hebraico, "correr" é Ruts (  ).
Aqui, entretanto, os comentários notam que a raiz da palavra é Ratsa ( 
)e
aparentemente este é o único lugar em toda a Bíblia em que esta raiz aparece.
Segundo o Midrash, a raiz está relacionada tanto com o Ruts, "correr", como com o
Ratsa ( ) que significa "vontade" ou "desejo".
A palavra Ratsa ( ) implicaria então "correr com a própria vontade", ou impelir a
vontade a concentrar-se em algo além de sua compreensão.
Isto indica o esforço mental através do qual as Sefirot são visualizadas.
O Sêfer Ietsirá relaciona o "correr e retornar" com a fala.
A fala existe unicamente em relação à consciência Biná, pois ela é a parte verbal da
mente.
Uma vez que uma pessoa está normalmente em um estado de consciência Bina, ela
pode somente visualizar as Sefirot como um flash, "correndo e retornando".

Elas precipitam-se (apressam-se) a seu dito como um furacão


O Sêfer Ietsirá diz que a "palavra de Deus nelas corre e retorna".
A palavra de Deus pode visualizar-se através das Sefirot, mas "corre e retorna".
"A palavra" (Davar) refere-se ao conceito geral, enquanto que um "dito" (Maamar)
denota um enunciado particular.
Só com respeito à "palavra" genérica é que as Sefirot oscilam, "correndo e
retornando".
Quando há um Maamar, um dito ou decreto específico, já não oscilam, mas sim
precipitam-se "como um furacão".
Isto nos ensina que quando existe um decreto de Deus, o místico pode ir muito
além dos limites normais para persegui-lo.
O fato dele estar indo atrás de um "dito" Divino lhe permite ter acesso a estados de
consciência muito mais elevados que os que normalmente pode alcançar.
E é por esta razão que muitos místicos se empenhavam em meditações
relacionadas com a observância de diversos mandamentos.
Faziam uso do decreto e "dito" de Deus e, desta forma, eram capazes de alcançar
níveis muito mais altos do normal.
O "dito" Divino associado ao mandamento serviria também para atrair as Sefirot e
fazê-las mais acessíveis.
Há dois tipos de vento de tempestade: Seará e Sufá.
Seará é um vento que meramente agita (Saar), enquanto Sufá é um furacão que
varre tudo o que há em seu caminho.
No princípio de sua experiência mística, Ezequiel diz que viu um "vento de
tempestade (Seará) vindo do norte" (Ezequiel 1:4).
Segundo alguns comentários, isto se refere à agitação da mente quando se entra
no domínio transcendental.
O veículo mediante o qual alguém se eleva e entra no domínio místico chama-se
Mercabá (carruagem), e a arte de envolver-se nesta prática recebe o nome de
"trabalho da carruagem" (Maassê Mercabá).
É pois altamente significativo que a Escritura diga: "Sua Carruagem (Mercabá) ) é
como um furacão (Sufá)" (lsaías 66:15).
Isto indica que o vento Sufá age como uma Carruagem, transportando-o a um
domínio místico.
Esta é uma força que conduz alguém para além dos limites (Sof) normais, para
dentro do transcendente.
Saadia Gaon interpreta que Sufá denota as colunas de pó que se vêem nos
pequenos redemoinhos, onde o pó assume muitas formas e figuras.
Estas formas constantemente mudam, e uma forma distinta permanece somente
por um momento.
De forma similar, quando alguém visualiza as Sefirot, pode vê-las de muitas
formas, mas, como as colunas de pó, duram só um instante e logo se dissolvem.

Diante de Seu Trono elas se prostram


Como foi comentado anteriormente (1:4), quando se fala de Deus como
((sentando", significa que Ele está baixando Sua essência para relacionar-se (por
estar envolvido/interessado por) com Sua Criação.
Seu Trono é o objeto sobre o qual Ele se senta e, portanto, denota o veículo de tal
descida e relacionamento (interesse/envolvimento).
Enquanto "sentar-se" é uma descida que se faz por iniciativa própria, prostrar-se e
inclinar-se é uma descida que se faz por causa de um poder superior.
Os instrumentos de relacionamento de Deus são as Sefirot, pois é através delas
que Ele dirige o universo.
Como resultado do conceito do Trono de Deus, as Sefirot devem também fazer
baixar sua essência e interagir com o mundo inferior.
O Sêfer Ietsirá diz, portanto: "diante de seu Trono elas se prostram".
O universo das Sefirot é chamado Atsilut.
Abaixo deste está Beriá, o mundo do Trono.
Como Ezequiel o descreve: "Por cima do firmamento que estava sobre suas cabeças
havia à semelhança de um Trono... e sobre a semelhança do Trono havia a
semelhança da aparência de um Homem" (Ezequiel 1:26).
O Trono se acha no universo de Beriá, e o "Homem" no Trono representa a
disposição antropomórfica das Sefirot em Atsilut.
O universo mais alto que pode realmente ser visualizado é Ietsirá, o mundo dos
anjos.
Nele, alguém pode visualizar um reflexo do Trono, e foi aí que Ezequiel disse ter
visto "a semelhança de um Trono".
Alguém pode também ver o "reflexo do reflexo" das Sefirot, e ele então viu "a
semelhança da aparência de um Homem".
Quando o Sêfer Ietsirá diz que as Sefirot "prostram-se", está indicando que são
refletidas nos universos inferiores.
Posto que se prostram diante do Trono de Deus que está em Beriá, elas são então
visíveis em Ietsirá .
E é no universo de Ietsirá que o reflexo das Sefirot é visualizado.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 7

De acordo com a maioria dos comentários, o "princípio" é Kéter (Coroa), enquanto


o "fim" é Malchut (Reino/Reinado).
Ambos constituem os dois pontos terminais da dimensão espiritual.
No nível mais baixo, considera-se Kéter o conceito de Causa e Malchut o arquétipo
de Efeito.
Como uma causa não pode existir sem um efeito e um efeito sem uma causa,
ambos são interdependentes.
O Sêfer letsirá equipara esta situação a uma chama unida ao carvão em brasa.
A chama não pode existir sem o carvão e o carvão em brasa não pode existir sem a
chama.
Embora o carvão seja a causa da chama, esta é também a do carvão em brasa.
Sem a chama, o carvão não estaria em brasa.
Como Causa não pode existir sem Efeito, o Efeito é também a causa da Causa.
Neste sentido, o Efeito é a causa e a Causa é o efeito.
Já que princípio e fim são inseparáveis, "seu fim está contido em seu princípio e seu
princípio em seu fim".
Assim, embora Kéter seja Causa e Malchut Efeito, existe também um sentido em
que Malchut é a causa de Kéter.
Freqüentemente, em Cabalá, onde tal situação exista, Kéter é visto como existindo
em um nível inferior a Malchut.
Assim, por exemplo, Kéter de Beriá está abaixo de Malchut de Atsilut, e Kéter de
Ietsirá está abaixo de Malchut de Beriá.

Como foi discutido anteriormente, não existe um termo que possa ser usado para
descrever Deus.
Deus em si mesmo não pode sequer ser chamado de Causa.
Uma causa é, em algum grau, dependente de seu efeito, e Deus não depende de
nada.
Por isso, os cabalistas ensinam que, antes de criar o nada, Deus criou o conceito de
"Causa", que é a Sefirá de Kéter (Coroa).
Kéter é também freqüentemente identificado como Vontade.
Isto, entretanto, é um antropomorfismo, já que no homem, a vontade é a causa de
todas as ações.'
O Sêfer Ietsirá estabelece então que "o Mestre é único, Ele não tem segundo".
As Sefirot podem ser interdependentes, mas isto não inclui o Ser Infinito.
Como Deus é absolutamente unitário, não pode sequer ser chamado de Causa,
porque isso implicaria um efeito como um "segundo".
Quando as Sefirot são comtempladas como dez direções em um continnum
pentadimensional, podemos interpretar isto de outra maneira.
Cada par de Sefirot define uma linha infinita que se estende infinitamente em
ambas as direções.
Entretanto, os extremos dessa linha infinita encontram-se e se unem novamente no
"ponto para o infinito".
Este é um fato reconhecido pelos matemáticos.
O considerável uso do "ponto para o infinito" é fundamentado na análise complexa,
no cálculo dos números complexos.
Embora se trate de um conceito altamente abstrato, não é tão difícil de entender.
Imagine um círculo com dois pontos antípodas, O e N.
Obviamente duas linhas que partem de O em direções opostas se encontrarão
novamente no ponto N.
Mas o que acontece se fizermos o círculo imensamente grande?
Quanto maior o círculo, mais a curva se assemelhará a uma linha reta.
No limite, no que o círculo se faz imensamente grande, as linhas que partem de O
tornam-se de fato linhas retas.
Mas ainda seguem unindo-se no ponto N.
Este ponto no infinito é onde se encontram todos os extremos.
Veja Figura 10.

Em nosso continuum tridimensional, todas as linhas podem igualmente estender-se


infinitamente.
Os extremos de todas elas constituiriam então uma esfera infinita rodeando todo o
espaço.
Entretanto, cada par de linhas opostas se encontraria no ponto para o infinito e,
portanto, todas as linhas de partida deverão encontrar-se nesse ponto.
Assim, em certo sentido, todo o continuum espacial tridimensional pode ser visto
como rodeado por uma esfera infinita.
Entretanto, em outro sentido, esta esfera infinita completa pode também
representar-se por um único ponto — o ponto para o infinito.
Um ponto, contudo, é infinitamente pequeno.
Assim, o ponto para o infinito pode ser visto como infinitamente grande e
infinitamente pequeno ao mesmo tempo.
O mesmo argumento pode estender-se facilmente ao hiperespaço de cinco
dimensões discutido no Sêfer Ietsirá.
Assim, se cada par de Sefirot define uma linha infinita, o princípio de cada linha
está "contido" em seu fim.
Isto é verdadeiro para todas as Sefirot.
Todos os opostos em seu limite extremo aparecem unidos como um.
Alguém pode usar isto como uma meditação.
Experimente imaginar a esfera no infinito e o ponto para o infinito, e tente perceber
como eles são realmente um.
Você poderá ver que sua concepção habitual do espaço e extensão não é tão
simples como você acredita.
Isto é particularmente certo da linha de Kéter-Malchut.
Na direção de Kéter esta linha estende-se infinitamente para Deus, o Bem último.
Na direção de Malchut estende-se infinitamente longe de Deus, para o mal último.
Estes dois extremos podem ser vistos como o essencialmente espiritual e o
essencialmente físico.
Neste sentido, podemos dizer que o essencialmente físico e o essencialmente
espiritual estão "contidos" um no outro.
Para entender isto mais profundamente devemos primeiro expor algumas questões.

A questão mais básica é: por que Deus criou um mundo físico?


Deus criou o universo para dar o bem à Sua Criação, mas este bem é puramente
espiritual.
Se isto é verdadeiro, qual o motivo da existência de um mundo físico?
Antes de poder responder a esta pergunta, devemos expor outra questão: Qual é a
diferença entre o material e o espiritual?
Fala-se do material e do espiritual como dois conceitos distintos.
Sabe-se que o espiritual não é material.
Mas qual é precisamente a diferença?
A resposta deve ser óbvia.
A principal diferença entre o material e o espiritual envolve o espaço.
O espaço físico só existe no mundo físico.
No espiritual, não há espaço da forma como o conhecemos.
Embora os conceitos de distância e proximidade existam no domínio espiritual, eles
não têm o mesmo significado que no mundo físico.
Em um sentido espiritual, a proximidade implica em semelhança.
Diz-se de duas coisas que se parecem entre si que estão espiritualmente perto.
Duas coisas que se diferem, por outro lado, estão afastadas em um sentido
espiritual.
As implicações disto são muito importantes.
No mundo espiritual, é completamente impossível unir dois opostos.
Como são opostos, são por definição pólos à parte.
Assim, por exemplo, Deus e o homem são mundos à parte — "como os céus são
mais altos que a terra".
Em um plano puramente espiritual, seria totalmente impossível que os dois se
reunissem.
Por esta razão, Deus criou o conceito de espaço.
As coisas espirituais podem ligar-se ao material do mesmo modo que, por exemplo,
a alma está ligada ao corpo.
Dois opostos podem então ser reunidos se estão ligados a objetos físicos.
No mundo físico existe o espaço, e dois opostos podem literalmente ser
empurrados juntos.
Além disso, dois opostos espirituais podem inclusive ligar-se ao mesmo objeto
material.
Assim, por exemplo, o homem tem uma inclinação ao bem e uma inclinação ao
mal, o Ietser Tov e o Ietser HaRa.
Em um sentido puramente espiritual, ambos são pólos à parte.
Sem um mundo físico, eles nunca seriam reunidos em uma única entidade.
O arquétipo do ser espiritual é o anjo.
Já que um anjo não tem corpo, ele nunca conterá ambos, o bem e o mal, em seu
ser.
Nossos sábios ensinam que os anjos não têm Ietser HaRa.
Só em um ser físico podem existir conjuntamente tanto o bem como o mal.
Embora espiritualmente ambos estejam em pólos opostos, os dois podem reunir-se
no homem físico.
Uma razão pela qual Deus criou o homem no mundo físico foi permitir que tivesse
uma plena liberdade de escolha, com ambos, bem e mal, como parte de sua
constituição.
Sem um mundo físico, ambos os conceitos nunca poderiam existir no mesmo ser.
O fato de o bem e o mal existirem no mesmo espaço físico também permite ao bem
superar ao mal neste mundo.
Novamente, isto só é possível no mundo físico.
Em um cenário puramente espiritual, o bem nunca poderia estar perto do mal o
suficientemente para ter qualquer influência sobre ele.
No mundo físico, entretanto, ambos podem coexistir e, então, o bem pode superar
o mal.
Nossos sábios nos ensinam que uma das principais razões do homem ter sido
colocado no mundo físico foi superar as forças do mal.
O Zohar expressa isto declarando que nós estamos aqui "para tornar a escuridão
em luz".
Todo o conceito do não-físico é muito difícil de compreender e pode ser esclarecido
por um extraordinário ensinamento de nossos sábios.
O Midrash nos diz: "Um anjo não pode ter duas missões. Nem dois anjos podem
compartilhar a mesma missão”.
Este ensinamento lança luz sobre toda nossa argumentação.
O anjo é o arquétipo do ser não-físico.
Quando falamos de um anjo estamos falando de uma entidade que existe
puramente em um plano espiritual.
Os anjos só podem diferenciar-se por sua missão, ou seja, por seu envolvimento e
fixação com alguma coisa física.
Dois anjos, portanto, não podem compartilhar a mesma missão.
E é unicamente suas diferentes missões que fazem deles entidades diferenciadas.
Eles não podem ser separados por espaço como os objetos físicos.
Por conseguinte, se ambos tivessem a mesma missão, não haveria nada para
diferenciá-los e eles seriam um.
Similarmente, um anjo não pode ter duas missões.
Em um plano puramente espiritual, dois conceitos diferentes não podem existir em
uma mesma entidade.
Se um anjo tivesse duas missões, então seriam dois anjos.
Podemos também entender isto em palavras da mente humana.
Em certo sentido, a mente é uma entidade puramente espiritual ligada ao cérebro
físico do homem.
O cérebro físico pode reunir muitos pensamentos e memórias, mas a mente só
pode enfocar um deles por vez.
Em palavras simples, uma pessoa só pode pensar em uma coisa por vez.
Um pensamento é uma entidade espiritual e, como tal, só pode conter um único
conceito.
Já que tanto um pensamento como um anjo são entidades espirituais básicas, isto
está estreitamente ligado ao fato de que um anjo só pode ter uma única missão.
Pela mesma razão, os anjos não têm meios de saber nada que não pertença a sua
missão particular.
Um anjo pode ser criado inicialmente com um vasto cabedal de conhecimentos,
mas ele não pode, de modo algum, incrementá-lo, pelo menos não além de sua
própria esfera de atividade.
Assim, encontramos um anjo fazendo a outro uma pergunta: "E um (anjo) disse ao
homem vestido de linho... 'Quando será o fim destas maravilhas?"' (Daniel 12:6).
Um anjo teve que perguntar ao outro, porque ele mesmo não poderia saber nada
além de seu próprio domínio.
No mundo físico podemos aprender coisas mediante cinco sentidos.
Podemos ver, ouvir, tocar, cheirar e saborear.
Nosso conhecimento das coisas provém de nossa proximidade física a elas.
Isto não se dá, entretanto, nos mundos espirituais.
Nosso único modo de aprender sobre uma coisa é chegar a uma proximidade
espiritual com ela.
Um anjo não pode fazê-lo fora de seu próprio domínio.
O homem tem, então, uma vantagem sobre o anjo.
Sua existência neste mundo inferior capacita-o a chegar cada vez mais alto.
Existem conceitos do bem criados por Deus e, como decretos, acham-se
intimamente ligados a Ele.
Quando um homem envolve-se fisicamente com tais conceitos bons, liga-se a Deus
em sentido literal.
Alcança desse modo uma aproximação que nenhum anjo pode jamais almejar.
Esta é a diferença fundamental entre o homem e o anjo.
Um anjo é fixado para um lugar espiritual, e não tem meios para elevar-se.
Assim, quando o profeta fala de anjos, diz: "ao redor Dele estavam os serafins"
(lsaías 6: 2).
Os anjos são descritos como "estando" e estacionários.
Mas, quando Deus fala com o homem, diz-lhe: "Se andares por Meus caminhos...
dar-te-ei um lugar para te moveres entre aqueles que aqui estão" (Zacarias 3:7).
Deus estava mostrando ao profeta uma visão de anjos estacionários e falando que
ele poderia chegar a mover-se entre eles.
O homem pode deslocar-se de nível em nível, mas os anjos estão atados a seu
plano particular.
Existem muitos níveis no mundo espiritual.
Se existisse unicamente o mundo espiritual, não haveria nenhuma possibilidade
destes níveis se unirem.
A única coisa que, possivelmente, pode unificar estes níveis é sua relação com o
mundo físico.
Por conseguinte, para alcançar os máximos níveis de santidade o homem deve
fazer-se parte do mundo físico.
Ao obedecer aos mandamentos de Deus, ele se liga aos mesmos objetos físicos
como Aquele que deu os mandamentos.
Em obediência a esses mandamentos, o homem, portanto, liga-se a Deus no grau
máximo possível, sendo então capaz de escalar as maiores alturas espirituais.
Este é o simbolismo do sonho de Jacob, no qual ele viu "uma escada apoiada sobre
a terra cujo extremo alcançava os céus" (Gênesis 28:12).
Somente mediante ações terrestres podemos subir às mais elevadas alturas.
Os diferentes níveis do mundo espiritual, os degraus da "escada", só podem unir-se
quando estão "apoiados sobre a terra".
As Sefirot não são físicas e não parecem estar ligadas a qualquer conceito físico.
Como representam diferentes conceitos e níveis, surge então a seguinte pergunta:
Como podem interagir entre si?
Obviamente, o único modo possível é mediante algum tipo de relação com o mundo
físico.
Só quando duas Sefirot se unem em interação com o mesmo objeto físico podem
também interagir entre si.
Por isso, os cabalistas empreendem um grande número de atividades físicas com a
intenção principal de "unificar as Sefirot".
Outro modo de unificar as Sefirot é mediante os Nomes Divinos.
Isto é especialmente efetivo com o Tetragrammaton, YHVH ( ).

Segundo os cabalistas, a ponta superior da letra Yod ( ) representa Kéter; o
restante de Yod representa Chochmá; a primeira Hê (), a Biná; a Vav (), que tem
o valor numérico seis, representa as seis Sefirot seguintes, e a última Hê, a
Malchut.
Ver Tabela 10.
É fato que este Nome pode ser escrito sobre um pedaço de papel onde as letras
que representam as Sefirot estão reunidas.
Isto serve para unificar as Sefirot.
Cada Sefirá está associada a uma letra e quando estas ficam fisicamente unidas, as
Sefirot podem também interagir.
Interações específicas envolvendo as Sefirot podem ser realizadas quando diversos
nomes são combinados.
O mesmo é verdadeiro para outros diagramas cabalísticos e representações das
Sefirot.
Ainda que as Sefirot tenham sido criadas antes do mundo físico, elas existem em
um domínio que está acima do tempo, onde o passado, o presente e o futuro são
um.
É fato que elas teriam uma contraparte física no futuro, o que lhes proporcionou um
vínculo com o mundo físico.
Como Deus quis que em algum tempo futuro as letras do Nome pudessem ser
representadas por formas físicas e serem escritas sobre um meio físico, elas
tiveram uma associação com o (plano) físico, inclusive antes que este fosse criado.
Isto permitiu às Sefirot interagirem, inclusive antes da Criação do universo físico.
O mesmo é verdadeiro com relação às outras letras do alfabeto.
Embora as letras sejam melhor conhecidas tal como são escritas fisicamente,
também representam realmente as forças espirituais.
Mediante as diversas combinações das letras, as forças espirituais associadas a elas
são também reunidas em diversas combinações efetivas.
Essas forças espirituais constituem "as letras com as quais o céu e a terra foram
criados".
De tudo isto vemos que há um importante vínculo entre o físico e o espiritual.
Inclusive Kéter, a mais alta das Sefirot, tem uma representação física na ponta
superior da letra Yod do Nome Divino.
Tudo isso também se relaciona com nossa discussão anterior sobre causa e efeito.
O nível supremo de Kéter é a causa definitiva, enquanto o mundo físico é o efeito
definitivo.

Como a chama em um carvão em brasa


Ao descrever a relação entre o físico e o espiritual, o Zohar emprega uma
expressão muito parecida com esta.
Diz assim:
"Se alguém deseja conhecer a sabedoria da sagrada unificação, que olhe a chama
que surge de um carvão em brasa ou de um candeeiro aceso. A chama não pode
surgir a menos que esteja unida com alguma coisa física."
Do contexto evidencia-se que o Zohar está falando das distintas partes da chama.
O único modo com que esta pode surgir é quando todas essas partes estão
reunidas.
Isto só é possível quando a chama está ligada ao carvão ou ao pavio físicos.
Do mesmo modo, todos os níveis espirituais não podem funcionar ou interagir a
menos que estejam ligados ao físico.
O Sêfer Ietsirá estabelece, por conseguinte, que "seu fim está contido em seu
princípio... como chama em um carvão em brasa".
O único ponto em que fim e princípio podem interagir é quando ambos estão
ligados a conceitos físicos relacionados.
Isto também pode ser usado como uma meditação.
O pavio representa o mundo físico, enquanto a chama azul mais próxima do pavio é
a contraparte de Malchut.
Rodeando tudo isso está a brilhante chama amarela que corresponde às seguintes
seis Sefirot: Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nêtsach, Hod e Iessód.
Acima disso encontra-se a amplamente visível chama exterior, a parte mais quente
de todas, que é paralela a Biná.
Logo vem a luz que irradia da vela, que é Chochmá.
Por último, tem-se o conceito da chama em si mes-ma, e este corresponde a Kéter.
Todas essas partes são unificadas somente através do pavio.
(Por esse exemplo), pela contemplação da chama, alguém pode ligar-se às Dez
Sefirot.
Por esta razão, o Sêfer Ietsirá declara que as Dez Sefirot correspondem às dez
direções.
Embora as Sefirot sejam puramente espirituais, o fato delas estarem associadas
com as direções físicas serve para unificá-las.
Assim, o ponto para o infinito no hiperespaço de cinco dimensões representaria o
Infinito inalcançável.
O grande cabalista, Rabi Abraham Abulafia, faz notar que a palavra hebraica para
"carvão", Gachélet ( ) tem o valor numérico de 441.
Este é o mesmo valor de Emét (  ), que significa "verdade".
É a Verdade que une todos os opostos.
Isto está indicado pela própria palavra.

A palavra Emét começa com o Alef ( ), a primeira letra do alfabeto, e termina com

o Tav ( ), a última letra.
Assim, o "fim está contido no princípio".

Isto se realiza mediante a Mem ( ), a letra do meio do alfabeto.
Outro mestre cabalista, Rabi Joseph Gikatila (1248-1323), assinala que Alef e Tav
são também as primeiras letras da palavra Atá ( 
) que signifi-ca "Tu".

A Hê ( ) ao final desta palavra, que tem o valor numérico de cinco, representa
Biná, tal como está explícito nos cinco livros da Torá e nas cinco famílias fonéticas
do alfabeto.
Para nos dirigir a Deus como "Tu", devemos primeiramente introduzir o princípio
(Alef) no fim (Tav).
Só então podemos nos dirigir a Ele através das letras da Torá, representadas pela
Hê.

Porque o Mestre é Único


Antes de integrar-se através de Sua associação com o mundo físico, Deus unifica
também as Sefirot.
Assim diz Elias em sua oração em relação às Sefirot: "Tu as liga, Tu as unifica".
Quando as Dez Sefirot são representadas como as dez direções, o físico pode ser
tomado como o ponto zero do qual todas elas emanam.
Deus, por assim dizer, teria seu paralelo no ponto para o infinito onde todas elas
convergem.
É óbvio que Deus não tem qualquer representação, mas isto é o mais próximo que
a mente humana pode imaginar como uma representação.
Contemplando o ponto para o infinito, alguém pode aproximar-se de uma
concepção do Ser Infinito.
Este ponto para o infinito é infinitamente grande e infinitamente pequeno.
Não tem um lugar definido nos contínuos de espaço, tempo ou espírito.
Não tem forma nem contorno, mas ao mesmo tempo está definido como um ponto
único, unitário e indiferenciado.
Tudo isso é também verdadeiro com relação a Deus.
É óbvio: Deus é muito mais que tudo isso.
Ao descrever Deus neste lugar, o Sêfer Ietsirá não diz que Ele é um (Echad), mas
que Ele é único (Yachid).
Isso afirma que Deus é tão absolutamente único que não existe qualidade alguma
que possa ser atribuída a Ele.
Tal como os filósofos afirmam, não se pode descrever Deus com nenhuma
qualidade nem adjetivo, mas só com atributos negativos ou de ação.
Embora não possamos dizer o que Deus é, pelo uso de atributos negativos nós
podemos dizer o que Ele não é.
Do mesmo modo, com atributos de ação, nós podemos falar o que Deus faz.
Isso implica também que Deus é absolutamente simples.
No domínio que existia antes da Criação não havia outro senão Deus.
Como mencionado anteriormente, até mesmo conceitos simples como Causa e
Efeito tiveram que ser criados.
O mesmo é verdadeiro a respeito do número.
Se o conceito de "unidade" existisse em Deus, isto implicaria que o conceito de
número existiria em Sua essência.
Isto, por si só, introduziria um elemento de pluralidade.
Alguém poderia então falar de Deus e Sua "unidade", ou seja, Sua associação com
o número um.
Deus e Sua unidade seriam então dois conceitos.
A palavra Echad denota uma associação com o número um.
Yachid, por outro lado, é um atributo negativo que indica a ausência de qualquer
tipo de pluralidade.

Ele não tem segundo


A expressão se apóia no versículo:
"Há Um. Ele não tem segundo. Não tem nem filho nem irmão." (Eclesiastes 4:8)
Antes do um, o que você conta?
Como pode alguém contar antes do conceito de "um" vir à existência?
Como o Sêfer Ietsirá estabelece depois, o "um" corresponde a Kéter, a primeira
Sefirá (1:9).
Como discutimos anteriormente (1:1), o conceito de número não veio à existência
até a Criação das Sefirot, que foram os primeiros elementos de numeração e
pluralidade na Criação.
O conceito de "um" não veio à existência até que a Sefirá Kéter fosse criada.
Deus, o Ser Infinito, existia antes que Kéter viesse à existência.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 8

O Sêfer Ietsird define aqui a palavra Belimá que traduzimos como "nada".
Ela também pode ter a conotação de refrear (Balam).
A essência das Sefirot só pode ser alcançada quando alguém refreia seus lábios de
falar e fecha sua mente a todo pensamento verbal e descritivo.
Só com a mente completamente em branco podem as Sefirot ser experienciadas.
Este aspecto é particularmente importante, já que muitas técnicas de meditação
cabalística envolvem a recitação de lemas tipo mântras ou diversos tipos de
contemplação.
Todas estas técnicas, entretanto, são apenas meios para limpar a mente de todo
pensamento.
A experiência real das Sefirot só ocorre depois que alguém deixou de usar a técnica
e permanece absolutamente calmo, com todos os processos pensantes silenciados.

E teu coração de pensar


Em Cabalá, a palavra "coração" denota geralmente Biná.
Indica a parte verbal da mente que é o assento da consciência tipo Biná.
Esta consciência Biná deve ser refreada para que as Sefirot possam ser
experienciadas ou vivenciadas unicamente com a consciência Chochmá.

E se teu coração corre


"Coração" refere-se aqui novamente à consciência Biná.
As Sefirot devem ser experienciadas com a consciência Chochmá.
Se alguém tenta descobri-las com Biná (o "coração"), então a mente pode ver-se
imersa em uma profusão de simbolismos.
Como explicam os cabalistas, isto é muito perigoso, já que a mente pode ser
engolida por este caleidoscópio de simbolismos e pode não ser capaz de emergir
dele.
Foi o que aconteceu a Ben Zomá, que perdeu sua mente ao entrar no Paraíso.
Esse "correr" consiste em uma rápida profusão de simbolismo, seja ele verbal ou
visual.
Se o coração "corre", o Sêfer Ietsirá adverte que se deve "retornar ao lugar".
Terá que focalizar-se então em algo físico para restaurar o equilíbrio espiritual.
Neste sentido terá que emular as Chaiot, os "anjos vivos" observados por Ezequiel
em sua visão.
Deve-se oscilar entre "correr e retornar".
Já que só se pode pensar com a consciência Biná, deve-se usá-la para balançar-se
para a consciência Chochmá.
Este estado só pode ser mantido por um curto espaço de tempo, depois do qual a
consciência Biná retorna e alguém tenta descrever sua experiência.
Neste ponto, deve-se imediatamente voltar para o físico.
Deste modo pode-se oscilar para frente e para trás, chegando cada vez mais longe.

Foi feita uma aliança


Deste contexto deduz-se que esta aliança é um contrato mútuo entre Deus e o
místico.
O místico promete que não tentará descrever as Sefirot com consciência Biná e
Deus promete que, se ele retornar imediatamente, então ele será capaz de voltar.
Neste contexto, os cabalistas advertem a todos os que tentem chegar aos níveis
superiores que liguem sua alma com um juramento de voltar para o corpo.
Além de tais votos individuais, há também a aliança geral que implica em que a
alma seja capaz de voltar inclusive dos níveis superiores.
Em palavras mais gerais, uma aliança é algo que vem entre duas coisas e as une.
Esta é a aliança que enlaça o espiritual e o físico.
Em particular, como estabelece o Sêfer Ietsirá (1:3), a aliança denota a
circuncisão.
Uma das razões que justificam as circuncisões é que indicam que alguém deve ser
capaz de controlar suas paixões sexuais.
A comunhão com o espiritual é também sexual, em certo sentido, e a aliança da
circuncisão também ajuda a controlar esta paixão.
Quem pode controlar seus impulsos sexuais, inclusive no clímax do desejo, pode
controlar também sua mente quando entra no domínio espiritual.
Segundo alguns estudos críticos, esta frase é o final da parte mais antiga do texto.
O Sêfer Ietsirá (6:7) também parece indicar que a aliança mencionada aqui é a que
Deus fez com Abraham.
O que o texto poderia estar indicando é que, considerando-se todas as coisas que
foram escritas até este ponto, uma aliança foi feita possivelmente com Abraham.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 9

Aqui a alusão é à Sefirá de Kéter (Coroa), o número um.


Este é o primeiro dos números a vir à existência.

O fôlego do Deus Vivo


A expressão se apóia no versículo onde Deus diz sobre Betsalel, o construtor do
Tabernáculo no deserto:
"Eu o encherei com o Fôlego de Deus (Rúach Elohim), com Sabedoria,
Entendimento e Conhecimento" (Êxodo 31:3).
Dizemos, portanto, que o "Fôlego de Deus" vem antes da Sabedoria e do
Entendimento, que entre as Sefirot corresponde a Kéter.
Como diz o Talmud, graças a este "Fôlego de Deus", Betsalel foi capaz de
manipular as letras da Criação.
A palavra Rúach, traduzida aqui como "fôlego", significa também "vento", e o Sêfer
Ietsira aparentemente a emprega também para designar o ar.
Esta palavra, entretanto, é com freqüência usada na Bíblia como denotativa de
"espírito", e este é o sentido em que aparece aqui.
Em geral, a palavra Rúach indica movimento e comunicação.
Está relacionada com as palavras Orach, que significa "caminho", e Orêach, que
significa "hóspede".
O espírito (Rúach) de vida em um animal é o poder que o faz mover-se.
Normalmente, o ar é invisível e imperceptível.
É unicamente quando ele se move que alguém pode senti-lo como vento ou fôlego.
Similarmente, o continuum espiritual é imperceptível, exceto quando se move.
É então experienciado como espírito (Rúach).
Daí que Rúach designe tanto vento, fôlego ou espírito.
Isto também é descritivo do ato da Criação.
A analogia seria a fabricação de um recipiente de vidro.
Primeiro o fôlego (Rúach) emana da boca do soprador.
O recipiente toma forma através da interação do fôlego, onde o vento que se choca
com as paredes causa uma pressão.
O recipiente se expande então em todas direções espaciais.

Deus Vivo
Como foi mencionado antes (1:1), a palavra "Deus Vivo" (Elohim Chayim) denota
Iessód (Fundação), quando esta Sefirá se encontra em seu modo procriativo,
desembolsando todas as forças da Criação.
Aqui o "espírito", que vem de Kéter, é o que finalmente é desembolsado por Iessód.
Já que Kéter em si mesma não pode ser experienciada, o texto refere-se a ela em
palavras de Iessód, que é onde pode ser experienciada.

Abençoado e bendito
Em outros textos cabalísticos antigos, tais como o Bahir, estes mesmos adjetivos
são usados também em relação a Kéter.
Em hebraico, as duas palavras aqui citadas são Baruch (  )e
MeBorach (  ).
De fato, ambos significam "abençoado".
Baruch denota que Deus é intrinsecamente abençoado, enquanto MeBorach implica
que Ele é abençoado por outros nas orações (expressando a gratidão de quem reza
para Deus).
Quando se diz que Deus é "abençoado", isso significa que sua essência se aproxima
para baixo de forma que interaja com Sua Criação e a "benza".
Nesse sentido, ela se relaciona com a palavra Bérech (  ), que significa "joelho".
Como o joelho que, quando se curva, serve para baixar o corpo, uma bênção serve
para baixar o Divino.
Isto se relaciona muito de perto com o conceito de "sentar", já discutido antes
(1:4).
Deus tem um modo intrínseco, através do qual Ele traz Sua essência para
relacionar-se com Sua Criação.
Nesse sentido, Ele é chamado de Baruch.
Sua essência é também levada a relacionar-se em um maior grau como resultado
da oração e ações similares.
Neste caso, Ele é chamado de MeBorach.

Vida dos mundos


Também se refere à Sefirá de Iessód (Fundação), mas no modo em que esta
transmite o influxo espiritual e a vida aos universos abaixo de Atsilut.
Ela é então chamada "Vida dos Mundos".

A Voz do Fôlego e a Fala


Eis aqui os instrumentos da Criação, tal como está escrito:
"Com a Palavra de Deus se fizeram os céus e com o Fôlego (Rúach) de sua boca
todas as Suas Hostes" (Salmos 33:6).
Segundo o Talmud, isto é uma alusão ao primeiro Dito da Criação, isto é, a Kéter.
A Voz (Col) é puro som inarticulado e, como tal, está relacionada à Chochmá.
A Fala, por outro lado, está articulada e relacionada à Biná.
Os dois opostos são então conectados mediante o "Fôlego" (Rúach).
Isso também pode interpretar-se em palavras de Criação.
A "Voz" é força criativa pura e inarticulada.
Alude-se a ela no primeiro versículo da Torá: "No princípio criou Deus o céu e a
terra".
O Talmud afirma que este foi o primeiro dos Dez Ditos com os quais o mundo foi
criado.
É um Dito inarticulado, já que só sua conseqüência, e não o Dito, está registrado na
Torá.
Logo depois disso, a Torá relata: "o Fôlego de Deus (Rúach Elohim) pairava sobre a
face das águas" (Gênesis 1:2).
Isto é, o "Fôlego" ou Espírito (Rúach).
E é somente depois disso que Deus fala e diz: "Seja a Luz" (Gênesis 1:3).
Esta é a razão da seqüência que aparece no Sêfer Ietsirá: "Voz, Fôlego e Fala".
Este é o Fôlego Santo
Em hebraico, isto é Rúach HaCódesh, traduzido geralmente como "Espírito Santo".
Este é o termo usual para Inspiração Divina que. em suas formas superiores. inclui
a profecia.
O "Espírito Santo" pode ser visto como o intermediário entre a Voz e a Fala.
Ele é também intermediário entre as consciências Chochmá e Biná.
Rúach HaCódesh é a Inspiração Divina e a informação que alguém pode recordar de
um estado de consciência Chochmá para um estado normal de consciência Biná.
Rúach HaCódesh é como Kéter, que se acha entre Chochmá e Biná, mas acima
delas.
Tanto Chochmá como Biná são funções da mente em si mesma, enquanto Rúach
HaCódesh vem de fora.
Assemelha-se então a Kéter, dado que uma coroa é levada sobre a cabeça e é
externa a ela.
Este Rúach HaCódesh é o "Fôlego de Deus" mencionado no versículo:
"Eu o Encherei com o Fôlego de Deus (Rúach Elohim), com Sabedoria,
Entendimento e Conhecimento".

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 10

Este é Malchut (Reino), a mais baixa das Dez Sefirot.


Ela é contada logo após Kéter, seguindo o princípio mencionado antes: "Contém
seu fim em seu princípio".
Kéter é a Causa, enquanto Malchut é o Efeito.
Não pode haver Causa sem Efeito.
Na linguagem dos cabalistas recentes, o primeiro Fôlego de Kéter é chamado de
Luz Direta (Or Yashar).
Este segundo "Fôlego do Fôlego", associado com Malchut, é chamado Luz Refletida
(Or Chozer).
Na analogia anterior do soprador de vidro, seria o fôlego que vai de encontro às
paredes do recipiente que está sendo formando.
Em um sentido conceitual, a Luz Direta é o conceito de causalidade, onde Kéter é a
Causa de todas as coisas.
Entretanto, como foi dito antes, sem Efeito não pode existir Causa, e daí que o
Efeito seja também a causa da Causa.
Malchut, o Efeito, é também a Causa, e este é o conceito de Luz Refletida.
Os cabalistas frequentemente falam de Luzes e Recipientes.
A "Luz" denota o conceito de "dar", enquanto os Recipientes indicam o de aceitar e
receber.
Os cabalistas ensinam também que os Recipientes vieram à existência pela
"colisão" entre a Luz Direta e a Luz Refletida.
Estes Recipientes são as letras do alfabeto.
O Sêfer Ietsirá fala então de "Fôlego" e de "Fôlego do Fôlego".
O primeiro "Fôlego" denota o simples fôlego que emana dos pulmões e da
garganta.
"Fôlego do Fôlego" é aquele refletido nas distintas partes da boca para produzir os
sons da fala.
Os sons se produzem através da interação dos fôlegos direto e refletido.
No homem, isto tem lugar na boca, enquanto nas Sefirot ocorre em Malchut.
Por esta razão, o Ticune Zohar fala de Malchut como a "Boca".
É também através de Malchut que todas as imagens das Sefirot superiores são
refletidas de modo a serem visualizadas.
O Sêfer Ietsirá diz, portanto, que as 22 letras foram criadas através desta segunda
Sefirá (Malchut).

Gravou e entalhou
Como já foi comentado anteriormente (1:1), a palavra Chacac, traduzida como
"gravar", denota a remoção de material.
As letras vieram à existência quando o fôlego refletido tira porções do fôlego direto.
Isto acontece através dos diversos movimentos da boca.
O segundo processo é Chatsav, traduzido como "entalhar" ou "extrair".
Isto denota separar material de sua fonte ou origem, como no versículo:
"Das montanhas tu extrais (Chatsav) cobre" (Deuteronômio 8:9).
Também se refere a "esculpido" em um sentido espiritual, como em:
"Olhai para a Rocha (Deus) de onde fostes esculpido/entalhado (Chatsav)"
(Isaías 51:1).
A palavra Chatsav denota assim o processo no qual os sons das letras deixam a
boca e se expressam independentemente.
Neste contexto, "gravar" (Chacac) indica a articulação e pronúncia dos sons, e
"entalhar" (Chatsav) denota sua expressão.
Da última seção do Sêfer Ietsirá (6:7) deduzimos também que "gravar" e
"entalhar" denotam processos meditativos.
Isto será discutido depois.

E um só fôlego procede delas


Todas as letras expressas envolvem o mesmo fôlego.
Em um sentido espiritual, isto significa que a mesma inspiração vem de todas as
letras.
Isto é Rúach HaCódesh, que emana de Malchut.
Como Malchut é chamada de "Boca", o espírito que dela emana é chamado de
"Fala".
Igual à fala física, esta consiste de "palavras" que, por sua vez, são compostas de
"letras".
Algumas autoridades interpretam esta frase, "e o fôlego é uma delas".
Isto porque Fôlego (Rúach) está associado com a letra Alef, como veremos depois
(3:7).

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 11

Esta é a Chochmá (Sabedoria).


O Midrash diz que "o Fôlego (Rúach) deu origem à Sabedoria".
A Sabedoria está representada pela água porque esta é um fluido indiferenciado,
como foi argumentado antes (1:1).
A estrutura deve ser imposta sobre ela de fora.
O processo descrito pelo Sêfer letsirá é aludido no versículo:
"Ele faz que Seu fôlego (Rúach) sopre e as águas fluam" (Salmos 147:18).
A analogia é a chuva, que se forma quando se chocam massas de ar quente e
úmido com outras de ar frio.
Similarmente, a interação do fôlego direto e refletido criou a Sefirá de Chochmá.
Assim como a chuva cai sobre todas as coisas por igual, Chochmá reparte sem
distinção a bênção de Deus sobre todas as coisas.
Do mesmo modo que o ar pode manter a umidade, Chochmá está implicada no
"Fôlego", que é Kéter.
O paralelismo entre Chochmá e a chuva está descrito nos versículos
(Isaías 55:9-11):
“Como o céu é mais alto que a terra, assim são Meus caminhos mais altos que teus
caminhos e Meus pensamentos que teus pensamentos. Assim como a chuva e a
neve descem do céu e não voltam para lá sem regar a terra, fazendo-a germinar e
frutificar, dando semente ao semeador e pão ao que come, Assim a palavra que sai
de Minha boca não voltará a Mim com as mãos vazias, sem realizar o que quero e
tendo sucesso em sua missão.”
Deus está aqui dizendo que Seu "pensamento", que é Chochmá, está tão acima da
mente humana como o céu sobre a terra.
Mas, como a chuva pode descer do céu, do mesmo modo a Sabedoria de Deus pode
descer ao homem e realizar o que Ele deseja.
A diferença entre o fôlego e a água é que o fôlego deve ser impulsionado soprando
para baixo, enquanto a água cai por si mesma.
A essência espiritual implicada por Kéter pode somente ser concedida por uma
intervenção direta e vontade Divinas.
Por outro lado, a implicada por Chochmá desce aos níveis inferiores por si mesma.
Em um sentido psicológico, Kéter representa o Rúach HaCódesh, a Inspiração
Divina que pode ser outorgada por Deus.
A Sabedoria, entretanto, pode ser alcançada pelo homem por si mesmo.
Se o homem fizer de si mesmo um recipiente para a Chochmá, esta descerá sobre
ele automaticamente.
Neste sentido, é como a chuva, que pode ser usada por qualquer um que tenha um
recipiente adequado para contê-la.
O Fôlego também faz alusão ao processo através do qual Deus impõe
deliberadamente Sua vontade sobre a Criação para mudar os eventos naturais.
Chochmá, por outro lado, envolve o curso natural dos acontecimentos que antecede
qualquer intervenção Divina.
E é por causa da Chochmá que o curso da natureza pode existir.
Em um sentido físico, diz-se que a água alude à matéria primitiva indiferenciada.

Com elas Ele gravou


O Sêfer Ietsirá fala aqui do começo das letras escritas.
As letras faladas surgem do fôlego, mas para que existam as letras escritas deve
haver um fluido com o que escrever, tal como a tinta.
Isto supõe um estado líquido do qual o protótipo é a água.
O fluido de escrever é chamado "lama e barro".

O Caos e o Vazio
Tohu e Bohu, em hebraico.
Isto alude ao estado inicial da Criação, tal como está escrito:
"A terra era caos e vazio" (Gênesis 1:2).
O Sêfer Ietsirá declara depois que a substância foi formada (2:6) deste caos
(Tohu).
Tohu denota pura substância que não contém informação.
Bohu é informação pura, não relacionada a qualquer sustância.
Ambos são indiferenciados e, portanto, incluídos em Chochmá.
Com o Bohu (informação), as letras do alfabeto puderam ser gravadas no Tohu
(substância).
A Escritura declara que "a terra era caos e vazio".
Os cabalistas fazem notar que "terra" (Érets) é uma palavra feminina, e ensinam
que alude a Malchut, o arquétipo do feminino.
"O caos e o vazio", relacionados com a Chochmá, não vieram à existência até
depois do surgimento de Malchut.
Esta é a mesma ordem do Sêfer Ietsirá, que também põe Chochmá depois de
Malchut.

Lama e barro
Lama em hebraico é Réfesh, e barro, Tit.
O único lugar na Bíblia onde ambos aparecem mencionados juntos é no versículo:
"Os ímpios são como o mar agitado. Não podem descansar e suas águas arrojam
lama e barro" (Isaías 57:20).
Ao descrever o estado original da Criação, a Torá afirma:
"A terra era caos e vazio, e a escuridão estava sobre a face das profundezas
(Tehom)" (Gênesis 1:2).
Segundo os comentários, a palavra Tehom denota a lama e o barro do fundo do
mar.
"Caos e vazio" aludem à interação entre o Chochmá (água) e Kéter (Fôlego).
"A lama e o barro" fazem menção à interação entre o Chochmá (água) e Malchut
(terra).
A lama consiste fundamentalmente de água e representa então o domínio da
Chochmá.
O barro consiste fundamentalmente em terra e representa o domínio de Malchut.
A lama é o fluido de escrever.
O barro é o meio sobre o qual se escreve.

Gravou-as...
As letras hebraicas têm três partes básicas: topo, centro e base.
O topo e a base consistem geralmente de grossas linhas horizontais, enquanto que
o centro consiste de linhas verticais mais finas.
As bases das letras foram "gravadas como um jardim".
É daqui que se tira material da matriz deixando um vazio.
Os lados das letras foram então "entalhados como um muro".
Estas são as linhas verticais que separam as letras entre si, como as paredes.
Finalmente, os topos das letras foram acrescentados como um teto que as cobre.
Segundo algumas autoridades, o processo se refere também à Criação do espaço.
Como veremos depois (2:4), esta pode também ser instrução para uma meditação.

Derramou neve sobre elas


Este versículo é omitido em algumas versões, mas a idéia aparece no Midrash.
O estado líquido representa fluidez e mudança, enquanto o sólido representa
permanência.
Sempre que a Torá fala de instabilidade, usa a água como exemplo, como no
versículo "instável como a água" (Gênesis 49:4).
Por conseguinte, quando Chochmá se acha em estado de fluxo, está representado
pela água, e quando se encontra em estado de permanência, é representada por
meio da neve.
Como foi mencionado antes, Chochmá tem dois modos.
O primeiro é o da consciência tipo Chochmá, e o segundo o da memória.
A consciência Chochmá é fluida e está representada pela água.
A memória, por outro lado, é fixa e vem denotada pela neve.
Embora Chochmá seja não-verbal e não-visual, ela, contudo, representa a fonte
das letras.
Só depois que estas letras são combinadas em palavras, representam a consciência
verbal Biná.
As letras em si são os "Caminhos da Sabedoria" mas, como foi explicado antes
(1:1), expressam-se primariamente através do Entendimento.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 12

Trata-se de Biná (Entendimento).


O processo descrito aqui vem relatado no versículo:
"O fogo acende a água" (Isaías 64:1).
Podemos usar a mesma analogia que antes, onde a chuva era provocada pela
confluência de ar quente e frio.
O "Fogo da Água" denotaria então o relâmpago que acompanha a tempestade.
O processo estaria mencionado no versículo:
"A voz de Deus entalha (Chotsev) chamas de fogo" (Salmos 29:8).
Outros comentários estabelecem que se trata aqui do fogo aceso por um globo de
água, usado como lente ou espelho que concentrasse os raios do sol.
[“Vidro ustório” ou “vidro em chamas” ].
Em ambas as interpretações vê-se o fogo como algo que é finalmente focalizado em
um lugar particular.
Isto é muito diferente da chuva que cai por toda parte sem distinção.
Trata-se de uma diferença importante entre Biná e Chochmá.
Biná focaliza um único objeto, enquanto Chochmá envolve tudo.
Há outra diferença importante entre o fogo e a água.
A água flui para baixo de forma natural, enquanto o fogo tende a ascender.
O fogo faz também que o ar sobre ele se mova para cima e o impede de descer.
Igualmente, Biná tende a restringir e reduzir o fluxo de sustento espiritual (Shefa)
para baixo, em direção às esferas inferiores.
A esse respeito, ela é diatramentralmente oposta à Chochmá.
Se Chochmá é a fonte do dar, Biná é a fonte da restrição.
A analogia entre fogo e água aplica-se também aos estados mentais indicados por
Chochmá e Biná.
O Midrash estabelece que "a Água concebeu e deu nascimento à Escuridão (Afelá),
o Fogo concebeu e deu nascimento à Luz, e o Fôlego (Rúach) concebeu e deu
nascimento à Sabedoria" .
Da afirmação de que "o Fôlego deu nascimento à Sabedoria" deduz-se que toda
esta passagem está falando de estados mentais.
A Água, que representa a consciência Chochmá, dá lugar à escuridão e às trevas.
Isto é o aquietamento e nulificação dos sentidos, assim como a cessação de todos
os processos mentais normais.
O Fogo, que representa a consciência Biná, dá lugar à luz, já que é neste estado
que as imagens visíveis são percebidas.
Como a água permanece em um estado de quietude e serenidade, a consciência
Chochmá está perfeitamente em calma.
Na verdade, a experiência de entrar nesse estado pode muito bem ser comparada à
descida em água profunda e quieta.
Por isso, quando Rabi Akiva e seus companheiros entraram nos mistérios, ele os
advertiu a não dizer "Água, água" .
Eles não deviam se deixar enganar pelo pensamento de que estavam realmente
experienciando a água física.
No domínio da consciência Chochmá, inclusive as letras existem unicamente em um
estado de pura informação.
Esta informação existe como "caos e vazio", que não podem ser captados de modo
algum, assim como "lama e barro", que são completamente opacos.
Conforme explicado antes, a informação e as letras em Chochmá só podem ser
captadas através das imagens de Biná (1:1).
É em um estado de consciência Biná que esta informação pode ser descrita,
usando-se imagens como anjos e o Trono da Glória.

O Sêfer Ietsirá implica também que o mundo físico veio a ser por meio de
Chochmá, enquanto o mundo espiritual tem suas raízes em Biná.
Isso porque Chochmá, o conceito de dar sem medida, é a raiz da misericórdia.
Biná, o conceito de restrição, constitui a raiz da Justiça.
Como o mal existe no mundo físico, este só pode sustentar-se mediante a
misericórdia de Deus, como canta o Salmista:
"Eu tenho dito: o mundo está edificado sobre a misericórdia" (Salmos 89:3).
Por outro lado, no mundo espiritual prevalece o julgamento puro.
Segundo os filósofos, a Água representa a matéria primeva, e o Fogo o éter
primevo.

O Trono da Glória
Este é o veículo através do qual Deus "senta" e "baixa" sua essência para
relacionar-se com sua Criação, como ensinado anteriormente (1:4).
Segundo os cabalistas, este Trono representa o Universo de Beriá.
Nele, é dominante o poder de Biná.

Serafim
Esta é a espécie superior de anjos que existem no Universo de Beriá.
Outros cabalistas referem-se a eles como Poderes, Forças ou Potências (Cochot),
em vez de anjos.
O profeta disse assim:
"Vi o Senhor sentado em um elevado e exaltado Trono... e ao redor Dele estavam
os Serafins" (Isaías 6:1-2).
O profeta Isaías estava visualizando Beriá, o mundo do Trono, e viu os Serafins, os
anjos deste universo.
A palavra "Serafim" provém da raiz Saraf, que significa "queimar".
Eles têm esse nome porque estão no mundo de Beriá, onde Biná, que é
representada pelo fogo, é dominante.
As Chaiot são anjos de Ietsirá e são os seres visualizados por Ezequiel.
Por conseguinte, ele disse:
"Acima do firmamento que estava sobre as cabeças [das Chaiot] estava a
semelhança de um Trono..." (Ezequiel 1:26).
Por último, os Ofanim são os anjos de Assiá.
Foram, portanto, vistos abaixo das Chaiot, tal como diz o profeta:
"Havia um Ofan sobre a terra perto das Chaiot" (Ezequiel 1:15).
"Anjos ministros" são todos aqueles que aparecem ao homem na terra.
Enquanto outros anjos são vistos apenas profeticamente, os anjos ministros podem
ser vistos fisicamente também.
A Tabela 11 mostra os anjos em relação às Sefirot.
Destes três
Ou seja: com Fôlego, Fogo e Água.

Ele fundou Sua morada


A palavra "morada" usada aqui é Maón, já encontrada previamente (1:5).
O termo refere-se a Deus como envolvendo toda a Criação, incluindo tempo e
dimensão espiritual.
O Fôlego, o Fogo e a Água são as fontes dos continuuns espirituais (Keter-Malchut)
e temporais (Chochmá-Biná) que envolvem toda a Criação.

Como está escrito...


O versículo completo é:
"Ele estabelece as vigas de seus aposentos superiores com água... Ele faz aos
fôlegos seus anjos, seus ministros de fogo chamejante".
Os "aposentos superiores" de Deus são os universos espirituais, enquanto seu
aposento inferior é o mundo físico.
Diz-se que as vigas de suas câmaras superiores são feitas de água.
Isto se refere ao nível acima de Beriá, que é Atsilut.
Em Atsilut, Chochmá é dominante, e esta vem representada pela água.
O versículo diz que os anjos são feitos de "fôlegos" (Ruchot), no plural.
Refere-se com isso tanto ao fôlego direto como ao refletido.
A palavra para anjo neste lugar é Malách, que significa também "mensageiro".
Assim como o fôlego descende e ascende através da vontade Divina, o mesmo
fazem esses anjos.
Desempenham, portanto, as funções dos Fôlegos direto e refletido.
O segundo tipo de anjos funcionam como um ministro, permanecendo em um só
universo.
São visualizados como fogo.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 13

O Sêfer Ietsirá enfatiza a importância do fato destas letras terem sido escolhidas
entre as Letras Elementares.
Isto nos dá uma razão do motivo da escolha das letras Yod, Hê e Vav ( ).
Como o Sêfer Ietsirá explicará depois (2:3), em ordem alfabética, as primeiras três
famílias fonéticas são:

É óbvio que as primeiras letras destes grupos são as primeiras três letras do
alfabeto.
Destas, Alef é uma das três Mães, enquanto Bet e Guímel encontram-se entre as
Duplas.
Portanto, as primeiras letras simples dos três grupos são Hê, Vav e Yod,
justamente as letras do Tetragrammaton.
A ordem primária destas três letras é Yod Hê Vav.
Segundo o livro Raziel, isto se deve aa fato de Yod incluir as primeiras quatro letras
do alfabeto.
Yod tem o valor numérico 10, que é, por sua vez, a soma das quatro primeiras
letras (1 + 2 + 3 + 4 = 10).
Depois do 4 vem o 5, o valor numérico de Hê, e logo o 6, o valor numérico de Vav.
Outros significados dessas letras foram discutidos antes (1:1).
No mistério das três Mães
As três letras do Nome Divino, Yod Hê Vav ( ), são o paralelo das três Mães, Alef
Mem Shin ( ). Ver Tabela 12.

Como o Sêfer Ietsirá explicará depois (3:4), Mem é água, Shin é fogo, enquanto
Alef é o fôlego-ar.
Entretanto, sabemos também que Yod representa Chochmá, que é o arquétipo da
água, e Hê representa Biná, que é o fogo.
Temos, portanto, uma relação entre Yod e Mem, e também entre Hê e Shin.
Vav tem o valor numérico 6 e, portanto, representa as seis direções espaciais
básicas.
Ela também representa as seis Sefirot: Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nêtsach, Hod e
Iessód.
Entre os elementos, diz-se que Vav representa o ar e o fôlego.
De fato, em hebraico, a palavra para "direção" é Rúach, que é a mesma para
Fôlego.
Vav, por conseguinte, deriva de Alef.
Como veremos, as três Mães (Alef Mem Shin) representam tese, antítese e síntese,
a tríade básica do Sêfer Ietsirá (3:1).
O texto explica aqui como um espaço tridimensional se produz a partir desses três
conceitos.
Tese e antítese representam duas direções opostas em uma linha dimensional.
Junto com a síntese, constituem três elementos.
Já que esses três elementos podem permutar-se de seis modos diferentes, definem
um espaço tridimensional com seis direções.

Ele selou "o alto"


Existem diversos modos com os quais as direções são representadas pelas letras.
Na Versão Gra temos as seguintes atribuições:

Neste sistema o eixo vem determinado pela letra neutra Vav.


Conforme mencionado antes, Yod é tese, Hê é antítese e Vav é síntese.
Já que representa a síntese, Vav é, por conseguinte, o ponto zero, que é o ponto no
eixo.
Ver a Tabela 13 e a Figura 11.
A posição da Vav determina então o eixo.
O eixo acima-abaixo está representado pela última coluna; o eixo leste-oeste pela
primeira coluna; e o eixo norte-sul pela coluna do meio.
A direção fica então determinada pelas duas letras restantes, Yod e Hê.

Se elas estão em ordem direta, YH ( ) definem a direção positiva do eixo.

Em ordem inversa, HY ( ) definem a direção negativa.
O segundo sistema importante é o que aparece na Versão Curta e é usado na
maioria dos comentários.
Aqui o sistema é:

Aqui, o eixo é determinado pela letra que aparece na primeira coluna.


A indicação é:
A posição das últimas duas letras determina então se elas estão em direção positiva
ou negativa ao longo do eixo dado.
O sistema que aparece na Versão Longa é muito parecido ao da Versão Gra, salvo
pela direção acima-abaixo.
Examinando-o cuidadosamente, tem-se a suspeita de que se tratava originalmente
do mesmo da Versão Gra, mas com as duas primeiras combinações confundidas.
Esta tese se vê apoiada pelo fato de que a permutação YVH aparece repetida.
A Versão Saadia é muito parecida com a Curta, exceto que as permutações
correspondentes ao leste e oeste estão intercambiadas.
Muito significativo é o sistema do Ari, apresentado em sua discussão das
meditações místicas associadas às Quatro Espécies, que são: a cidreira (Etrog), a
palmeira (Lulav), o mirto (Hadas) e o salgueiro (Aravá).
Estas espécies são cortadas na Festa de Sucót (Tabernáculos) seguindo o
mandamento:
"No primeiro dia tomarás do fruto da cidreira, ramo da árvore de palmeira, galhos
de mirto e salgueiros dos riachos (Levítico 23:40).
Estas espécies são agitadas em todas as seis direções e, de acordo com o Ari, uma
combinação apropriada de letras deve ser meditada sobre cada uma das direções
correspondentes.
Cada direção está também emparelhada com sua Sefirá correspondente.

O Ari começa com o Chéssed (Amor), a primeira Sefirá, que representa o Sul,
tomando as letras em sua ordem natural, YHV ( 
). Ver Tabela 14.
Para determinar a ordem da direção oposta, o Ari faz uso do mesmo sistema que o
próprio Sêfer Ietsirá emprega (2:4).
O texto estabelece que os dois primeiros opostos são Oneg (ANG 
), que significa
"prazer" e Nega (NGA 
), que significa "praga".
Para formar o oposto, toma-se a primeira letra que fica ao final da palavra.
Isto é precisamente o que se faz para produzir Guevurá (Força), que representa o
norte.

A Yod ( ), que estava no princípio, coloca-se agora no final, produzindo a
combinação HVY ( ).
O eixo norte-sul vem então representado pelas duas letras HV ( ).

O eixo acima-abaixo fica definido igualmente pelas letras YV ( ), com a posição da

H ( ) determinando a direção.
Neste sistema, a primeira letra é significativa também.
 
Para o sul e acima, a letra inicial é Y ( ), enquanto para o norte e abaixo é a H ( ).
Em ambos os casos, trata-se de opostos na representação em três colunas.
O eixo leste-oeste acha-se no ponto zero neutro tanto da linha acima-abaixo como
na norte-sul.
Na representação em três colunas, Tiféret (leste) e lessód (oeste) estão na linha do
meio.

Como tanto a linha do meio como a letra V ( ) representam síntese, o conjunto de
ambas as direções começa com a Vav. Ver Figura 12
O sistema do Zohar é exatamente o mesmo que o do Ari, exceto que leste e oeste
estão intercambiados.
O sistema do Ticune Zohar usa um princípio similar, mas aplicado de modo um
pouco diferente.
Depois veremos que as doze possíveis permutações do YHVH representam os doze
limites diagonais (5:2).
Cada uma das seis direções básicas pode incluir dois dos limites diagonais.
O primeiro destes vem representado pela segunda Hê ao final da tríade, e o
segundo com Hê no princípio.

Podemos agora entender a natureza conceitual das Sefirot.


O mais antigo relacionamento possível é o que existe entre Criador e Criação.
Este é um relacionamento de causa e efeito.
Causa é Kéter, Efeito é Malchut.
Uma vez que existem os conceitos de Causa e Efeito, outro conceito vem a ser, isto
é, o de oposição.
Se existem opostos, também deve haver semelhantes.
Dois novos conceitos aparecem assim: Semelhança e Oposição.
Em linguagem filosófica, estes são tese e antítese.
Em nossa terminologia, Semelhança é Chochmá, enquanto Oposição é Biná.
Estas são a Yod e a primeira Hê do Tetragrammaton.

Uma vez que existe a Semelhança e a Oposição, surge outro conceito: o de


Relacionamento.
Em termos filosóficos, esta é a síntese entre tese e antítese.
Em nossa terminologia corresponde à Vav do Tetragrammaton.
A palavra "Vav" significa "gancho" e a letra Vav, como prefixo, significa "e".
Em ambos os sentidos denota conexão e relacionamento.
Na seqüência lógica temos, neste ponto, cinco conceitos: Causa e Efeito,
Semelhança e Oposição e Relacionamento.
São, respectivamente, Kéter e Malchut, Chochmá e Biná, e a Vav.
Até a introdução do conceito de Relacionamento, existiam apenas quatro pontos
abstratos: Kéter e Malchut, Chochmá e Biná.
É com o conceito de Relacionamento que o continuum conceituai tridimensional
vem à existência.
Isto define seis direções e daí que o valor numérico de Vav seja 6.
Cada um dos quatro conceitos abstratos dá lugar a um relacionamento.
Chochmá dá lugar a Chéssed (Amor), Biná a Guevurá (Força), Kéter a Tiféret
(Beleza) e Malchut a Iessód (Fundação).
Conforme discutido anteriormente, em um sentido espiritual, a Semelhança é
proximidade e a Oposição é distância.
Para poder dar, o doador deve estar perto do beneficiário.
Em sentido espiritual, deve haver um elemento de semelhança entre doador e
beneficiário.
Por conseguinte, Chochmá, que é semelhança, dá lugar a Chéssed, o conceito de
dar.
Inversamente, Biná, que é Oposição, dá lugar a Guevurá, o conceito de reter.
Tiféret deriva igualmente de Kéter, o conceito de Causa.
Para poder ter o relacionamento de Causa, um elemento deve dar a quantidade
precisa de existência ou motivação requerida para o efeito.
Este é o conceito de doação medida representado por Tiféret.
Tiféret é beleza, a regra de ouro.
Poderia-se esperar que, como Tiféret deriva de Kéter, estivesse por cima de
Chéssed e de Guevurd.
Entretanto, como Tiféret é também a síntese entre Chéssed e Guevurá, ela é
normalmente representada como estando abaixo delas.
Malchut, o conceito de Efeito, é considerado o arquétipo feminino da Criação.
Como lessód deriva de Malchut, sente-se naturalmente atraída para esta e
motivada a ligar-se a ela.
Por esta razão, diz-se que Iessód é o paralelo do órgão sexual.
Ela é chamada Iessód (Fundação) porque é a mais baixa das seis Sefirot.
Há agora quatro novos conceitos derivados dos quatro originais: Chéssed, Guevurá,
Tiféret e Iessód.
Uma vez que o conceito de Relacionamento foi introduzido, esses quatro já não são
meramente pontos abstratos no espaço conceituai, achando-se conectados pelo
conceito de relacionamento.
Os dois pares, Chéssed-Guevurd e Tiféret-lessód, são como duas linhas que se
cruzam.
Isto nos dá quatro direções em um continuum bidimensional.
As duas dimensões podem representar-se no espaço físico.
O eixo Tiféret-Iessód pode representar o leste-oeste e Chéssed-Guevurd pode
representar o eixo sul-norte.
Tem-se assim um continuum bidimensional.
Desde que o conceito de relacionamento existe, a relação entre as duas dimensões
em si é também significativa.
Na descrição do espaço conceituai, esta viria representada por uma linha
desenhada entre as duas já existentes.
A relação Causa-Efeito ou Kéter-Malchut é a primária.
Ela é representada pelo eixo Tiféret-Iessód.
A relação tese-antítese foi introduzida unicamente para fazer a relação Causa-Efeito
possível.
A relação Tese-Antítese ou Chochmá-Biná é então secundária.
Ela é representada pelo eixo Chéssed-Guevurá.
O eixo Tiféret-Iessód é portanto dimensão primária, enquanto o eixo
Chéssed-Guevurá é a dimensão secundária.
Isto nos dá um conceito totalmente novo, ou seja, a qualidade de ser primário ou
secundário.
Isto, por sua vez, forma uma nova terceira dimensão que pode ser relacionada com
a direção acima-abaixo.
Este eixo liga Netsach (Vitória) com o Hod (Esplendor). Ver Figura 13.

Com a introdução destes dois conceitos, as seis Sefirot representadas por Vav estão
completas: Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nêtsach, Hod e Iessód.
Essas seis Sefirot representam as seis direções do espaço.
Junto com as quatro originais, essas seis completam as Dez Sefirot.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 14

Além de suas implicações teóricas, as Dez Sefirot têm um importante significado


místico e meditativo.
Neste primeiro capítulo, o Sêfer Ietsirá apresentou um sistema de meditação nas
Sefirot e de adesão a elas.
Podem-se usar as letras para subir na Árvore da Vida, mas as Sefirot são os pontos
nos quais se deve descansar.
Há de fato uma importante e aparente contradição no texto.
Em uma seção (1:6) o texto diz: "Sua visão é como a aparição do relâmpago... Eles
falam delas 'correndo e retornando".
Isto implicaria que é impossível ver as Sefirot por mais de um instante, como o
flash de um relâmpago.
Entretanto, o texto estabelece: "se teu coração corre, retorna ao lugar, como está
escrito 'as Chaiot correndo e retornando" (1:8).
Isto parece dizer que pode-se ir mais longe, mas que terá que se abster de fazê-lo.
O que o texto está realmente fazendo é descrevendo dois diferentes estágios de
iniciação nos mistérios das Sefirot.
O primeiro estágio começa com o exercício em que o iniciado deve "entender com
Sabedoria e ser sábio com Entendimento" (1:4).
Aprender a oscilar entre as consciências Biná e Chochmá.
Neste nível, pode-se meditar nas Sefirot como dez profundidades, permitindo que a
mente chegue até a infinidade de cada uma dessas profundidades.
Desde que nos achemos ainda em um estado de mentalidade oscilante, vemos as
Sefirot como o flash de um relâmpago, "correndo e retornando".
Entretanto, as dez direções infinitas representam um estado de separação e
desunião.
Esta é a essência de Biná.
O iniciado deve então "conter seu fim em seu princípio" (1:7).
Deve contemplar o ponto para o infinito onde todas estas direções opostas
convergem como uma.
Isto não se pode fazer com consciência Biná.
Este estado de consciência só pode imaginar coisas verbalmente ou figurá-las em
palavras físicas.
O ponto para o infinito é tanto infinito como infinitesimal e, por conseguinte, não
pode ser representado.
Tão somente pode ser contemplado com consciência Chochmá.
Como diz o texto, isto corresponde à unidade que precede o conceito de número.
Introduz um artifício muito a modo do Koan Zen ao perguntar: "Antes do um, o que
você conta?"
Qual é o número que precede todos os números?
Tanto o ponto para o infinito como o Koan estão pensados para adestrar a mente
para a visualização do nada absoluto.
O Ari assinala que Kéter, a Sefirá suprema, é freqüentemente designada mediante
a palavra Áyin, que significa "nada".
O Ser Infinito, o nível acima de Kéter, não pode sequer ser designado por essa
palavra.
A única palavra que pode ser usada é Éfes, a qual, segundo o Ari, denota um nada
que o pensamento (Biná) não pode captar absolutamente.
Tem-se dito que o melhor modo de descrever o nada absoluto é falar dele como
"algo que você vê atrás de sua cabeça".
Já que não há visão na nuca, o que se vê aí é o nada absoluto.
Se lhe perguntarem o que você vê atrás de sua cabeça, você responderá que nada
vê.
Contemplar o que se vê atrás da cabeça é também um bom modo de aprender a
visualizar o nada absoluto.

Em geral, diz-se que a alma consta de cinco partes: Néfesh, Rúach, Neshamá,
Chaiá e Iechidá.
Destas, somente as três primeiras têm efeito na mente.
As duas últimas, Chaiá e Iechidá, são chamadas envoltórios (Makifin), que não
podem entrar na mente.
Neshamá, a parte mais alta da alma que "entra" na mente, é o paralelo da Sefirá
de Biná.
Ver a Tabela 15.

A consciência Chochmá está acima do pensamento e é como algo que existisse fora
da mente.
Ou, como na analogia anterior, algo que "víssemos" atrás de nossas cabeças.
Do mesmo modo que alguma coisa atrás da cabeça só pode ser vista se refletida
em um espelho, assim a consciência Chochmá só pode ser captada quando refletida
e revestida em Biná.
Com relação ao pensamento consciente, a consciência Chochmá é chamada de
"nada".
É neste contexto que se afirma: "Refreia tua boca de falar e teu coração de
pensar".
O "coração" denota a consciência Biná e daqui se diz que neste nível o iniciado deve
esvaziar por completo a consciência Biná.
Isto se consegue mediante a contemplação do nada.
Ele deve manter este nível e conseqüentemente recebe a instrução:
"Se teu coração corre" de volta para Biná, "retorna para o lugar".
O "lugar" é a consciência Chochmá que o iniciado já alcançou.
Uma vez que chegou a um ponto em que pode manter um estado de consciência
Chochmá, o iniciado está preparado para começar de fato a subir pela Árvore da
Vida, que é a escada das Sefirot.
O hebraico se escreve sem vogais e, em conseqüência disto, a terceira pessoa e o
imperativo são escritos exatamente do mesmo modo.
Traduzimos o último parágrafo: "Selou o norte, voltou-se para a esquerda e o selou
com HVY".
Isto também pode ser lido no imperativo: "Sela o norte, volta-te para a esquer-da
e sela-a com HVY".
De forma similar, a expressão: "gravou-o e entalhou" pode também ler-se no
imperativo: "Grava-o e entalha-o".
Entendidas deste modo, as seções 1:9-13 podem ler-se como um conjunto de
instruções, em vez de uma teoria da Criação.
[No Apêndice I, traduzi a Versão Curta completamente no imperativo para
demonstrar seu sentido.]
A suposição de que está é a descrição de uma técnica vem apoiada pela última
seção do mesmo Sêfer letsirá, que diz de Abraham: "Atou sua língua às 22 letras
da Torá... inundou-as em água, acendeu-as com fogo, agitou-as com fôlego" (6:7).
O iniciado começa meditando em Kéter, o "Fôlego do Deus Vivo" inicial.
Este fôlego deve ser levado abaixo até o nível de Iessód (Fundação).
Ao fazê-lo, deve-se contemplar a essência de "a Voz, o Fôlego e a Fala".
O pensamento ordinário é verbal e daí consiste de palavras.
As palavras constam de letras.
Não são as letras físicas, mas mentais, letras conceituais.
Essas letras conceituais, entretanto, são feitas de "Voz, Fôlego e Fala".
Daí que ao meditar em tais conceitos, alguém está realmente contemplando as
verdadeiras raízes do pensamento.
Na Versão Longa, o texto conclui: "a Fala é Rúach HaCódesh (Inspiração Divina)".
Rúach HaCódesh está, entretanto, acima do pensamento.
De onde a "fala", à qual o texto se refere, é uma "fala" que precede o pensamento.
O segundo passo é "Fôlego do Fôlego".
O texto estabelece: "com ele grava e entalha 22 letras".
Os cabalistas explicam que "gravar" e "entalhar" denotam técnicas meditativas.
Isto é reafirmado na última seção (6:7), que estabelece que Abraham "olhou, viu,
entendeu, perscrutou, gravou e entalhou, e teve êxito na Criação".
Ensinam que "gravar" denota um processo no qual alguém desenha uma letra em
sua própria mente.
"Entalhar" significa então que esta letra está separada do resto dos pensamentos,
de forma que toda a mente aparece preenchida com ela.
Pode-se fazer isto contemplando uma letra ou combinação de letras até que todas
as demais imagens e pensamentos sejam banidos da mente.
De outro modo, isto pode ser conseguido cantando a letra de uma forma que será
logo descrita.
Este é o estágio de Malchut, no qual alguém se encontra na base da Árvore da
Vida.
É neste estágio que o iniciado deve trabalhar com a letra que ele deseja usar.
Ele deve, portanto, "desenhá-la na água e acendê-la com fogo" (6:7).
As instruções subsequentes, portanto, indicam como a letra deve ser carregada
com poder espiritual.
O terceiro passo é "Água do Fôlego".
Inicialmente o iniciado desenha a letra no ar transparente, visualizando-a
claramente.
Ele deve então alcançar o nível de Chochmá, voltando para um estado de
consciência Chochmá.
Começa a ver a letra como se estivesse olhando-a através da água.
Isto é, "desenhá-la através da água".
A letra começa a se apagar e desaparecer, como se a víssemos através da água
crescentemente profunda.
O iniciado deve então "gravar e entalhar o caos e o vazio, a lama e o barro".
Neste estágio a forma se rompe e dissolve por completo, como alguma coisa vista
através de uma água turbulenta.
Isto é o "caos e o vazio".
A imagem logo desaparece por completo, como se estivesse sendo vista através de
água lamacenta.
Isto é a "lama".
Finalmente, tudo o que fica é escuridão como tinta negra, como se alguém
estivesse enterrado em lama e barro totalmente opacos.
O texto descreve este processo dizendo: "grave-as como um jardim, entalhe-as
como um muro, cubra-as (ou rodeie-as) como um teto".
Primeiro visualize esta escuridão sob seus pés.
Estes podem parecer que se dissolvem, um fenômeno que também é mencionado
em outros textos místicos antigos.
Lentamente, faça esta escuridão arrastar-se sobre você, envolvendo-o
completamente como um muro.
Finalmente, faça com que ela lhe cubra e rodeie como um teto de barro manchado
de negro.
Neste ponto, você não experimentará sensação visual alguma, nem física ou
mental.
Durante todo este processo você deve estar completamente consciente da sensação
de água, tranquilo e absolutamente calmo.
Ele é o sentimento úmido e escuro do útero, no qual você está totalmente isolado
de toda sensação.
O Midrash se refere a esse respeito quando estabelece que "a água concebeu e deu
nascimento à escuridão absoluta (Afelá)" .
Este é o nível da consciência Chochmá.
O iniciado alcança então o quarto passo, onde retorna a um estado de consciência
Bina.
Este é descrito como fogo e luz ofuscante, como o Midrash continua: "o Fogo
concebeu e deu origem à luz".
É o nível em que alguém "acende-as com fogo".
Aqui o iniciado deve "gravar e entalhar o Trono da Glória, os Serafins, Ofanim e
santas Chaiot".
Desenha (grava) e enche a mente (entalha) com essas imagens que são as
mesmas visualizadas pelos profetas.
Ele deve começar pelo Trono e logo continuar através dos diversos níveis angélicos,
terminando com as Chaiot no universo de Ietsirá, que correspondem às Seis
Direções.
Levará, assim, o influxo ao nível de Biná.
A seguir, o iniciado deve levá-lo às outras seis Sefirot — Chéssed, Guevurá, Tiféret,
Nêtsach, Hod e Iessód.
Estas estão associadas às seis direções do mundo físico, que têm sua contraparte
nos seis dias da Criação.
Associando as Sefirot às seis direções físicas, a pessoa leva de fato o influxo até o
domínio físico.
O modo de atrair o influxo a estas Sefirot inferiores implica na contemplação das
três letras Yod Hê Vav ( ).
Sua visualização deve fazer-se como se estivessem em escrita Ashurit, com fogo
negro sobre fogo branco.
Ver Figura 14.
As letras devem aparecer enormes, enchendo por completo a mente.
A idéia de fogo negro não é só a ausência de luz, mas sim a presença de luz
negativa.
O negro deve ser tão intenso para ser brilhantemente negro, como a luz é
brilhantemente branca.
Este é o fogo negro com o qual as letras devem ser descritas.
Enquanto as combinações de letras são contempladas, a pessoa deve voltar-se para
a direção apropriada, seja física ou mentalmente.
Após completar as seis direções e permutações, esta parte do exercício estará
terminada.
O que fica ainda são as aplicações astrológicas desta técnica, que serão
apresentadas posteriormente.
Este é o processo descrito no caso de Abraham: "Ele as acendeu com os sete
[Planetas], ele as dirigiu com as Doze constelações" (6:7).

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 15

Uma vez que se completou a iniciação nas Dez Sefirot, o texto comenta agora as 22
letras do alfabeto hebraico.

Três Mães
O primeiro conjunto de letras está formado pelas Três Mães, que serão comentadas
com maior detalhe posteriormente.
Apresentam-se aqui porque definem a estrutura tese-antítese-síntese, que é central
nos ensinamentos do Sêfer Ietsirá.
Elas servem também como introdução às técnicas de meditação que envolvem as
letras.
Estas três letras representam as três colunas em que estão divididas as Sefirot.
A coluna direita, encabeçada por Chochmá, é representada pela letra Mem.
A coluna da esquerda, encabeçada por Biná, é representada pela letra Shin.
A coluna do centro, encabeçada por Kéter, é representada por Alef.
Como foi declarado antes, Chochmá é a água (que aqui está representada pela
Mem), Biná é o fogo (Shin) e Kéter é o fôlego-ar (que é Alef).

Um prato da balança do mérito


A palavra hebraica para "prato" é Caf.
Esta palavra pode denotar o prato de uma balança, mas também se refere à palma
da mão.
Do mesmo modo, a palavra Lashon pode ser usada para o fiel de uma balança, o
ponteiro que indica quando os dois pratos estão em equilíbrio.
Entretanto, em sua acepção corrente, é a língua que está na boca.
Portanto, se por um lado as letras Alef Mem Shin ( ) representam os dois pratos
e o fiel da balança, por outro lado representam as duas mãos e a "aliança entre
elas" (1:3), que é a língua.

A língua do decreto
A palavra hebraica para "decreto" é Choc (  ).
Ela vem raiz Chacac, que significa "gravar".
É a "língua da balança" que "grava" as letras.

Isto vem representado pela letra Alef ( ), a base do alfabeto.
Em termos mais elementares, Mem, Shin e Alef representam tese, antítese e
síntese.
A analogia é a de uma balança (veja Figura 15).
Há um prato de mérito e um prato de responsabilidade.
Parece-se muito à balança empregada para pesar os méritos e pecados de alguém,
mencionada no Talmud.
No centro estão o fulcro e o fiel, ambos representados por Alef, que é a "língua do
decreto".

Estas letras também podem ser usadas em aplicações práticas.


Se alguém deseja criar uma situação na qual ele mesmo ou outra pessoa tem que

ficar do lado do mérito, pode fazê-lo utilizando a letra Mem ( ).
As técnicas serão discutidas mais tarde.
Do mesmo modo, se alguém deseja pôr um inimigo do lado da responsabilidade, de

modo que seja julgado severamente nas alturas, pode utilizar a letra Shin ( ).

Alef ( ) é usada para que uma pessoa seja julgada eqüitativa e imparcialmente.
Estas qualidades também entram em jogo no uso popular.
O zumbido que se faz ao pronunciar a letra Mem é comumente visto como alegria,
prazer, atividade positiva.
Reciprocamente, alguém chia para um vilão ou inimigo, pronunciando a letra Shin.

Mem zumbe, Shin chia


A palavra hebraica para "zumbido" é Damam (  ), na qual a letra Mem é
dominante.
Similarmente, a palavra para chiado é Sharac (  ), que começa com Shin.
O som de zumbido associado com a Mem é muito calmo e é, desta forma, o som
associado com a água e a consciência Chochmá.
Se alguém deseja alcançar a consciência Chochmá, deve repetir este som na
maneira descrita pelos cabalistas.
A semelhança entre este e o cântico do "OM" é certamente mais que pura
coincidência.
Este som também está estreitamente associado com a profecia, a qual envolve a
consciência Chochmá.
Os cabalistas dizem que a "voz suave e sossegada" (Demamá) (1 Reis 19:12)
ouvida por Elias foi, de fato, um “suave zumbido".
Este zumbido é usado para obter esse estado de consciência e, como tal, é
experienciado quando se está em um estado profético.
O dito aparece em uma passagem de Jó que, incidentalmente, também descreve
uma experiência profética muito graficamente (Jó 4:12-16):
Uma palavra foi sussurrada a mim.
Meus ouvidos captaram seu toque.
Em meditações de visões noturnas
quando um transe sobrevém ao homem,
o terror me chamou e tremi,
aterrorizou a quase todos meus ossos.
Um espírito passou por diante de meu rosto,
fez que me arrepiasse todo o cabelo de meu corpo,
esteve diante de mim e não reconheci sua visão.
Havia uma imagem diante de meus olhos,
ouvi um zumbido (Demamá) e uma voz.

A letra Shin tem o som chiado de Sh ou S.


Este som está associado ao fogo e à consciência Biná.
Ambos os sons, M e Sh, podem também ser usados como um dispositivo para
oscilar entre as consciências Biná e Chochmá.
Alguém invoca um forte estado de consciência tipo Biná pronunciando Shin, e logo
se oscila para a consciência Chochmá pela vocalização da Mem.
A pronúncia destas duas letras pode também incluir às cinco vogais primárias de
uma forma que será descrito depois (2:5) com mais detalhes.
É significativo que ambos os sons sejam dominantes na palavra Chashmal (  ),
a qual, segundo os cabalistas, designa a interface entre o físico e o espiritual.
Em sua visão, Ezequiel diz que viu "a aparência do Chashmal no meio do fogo"
(Ezequiel 1:4).
E foi unicamente após visualizar o Chashmal que Ezequiel tornou-se apto a
perceber as Chaiot e entrar no estado de profecia.
Em nossa presente terminologia, o Chashmal seria a interface entre as consciências
tipo Biná e Chochmá.
Elas, portanto aparecem "no meio do fogo", já que surgem de um estado de
consciência Biná.
Desde que M e Sh são as consoantes dominantes no Chashmal, é possível que a
palavra em si tenha sido usada como um mântra, quando o profeta oscilava entre
as consciências Biná e Chochmá.
"A aparência do Chashmal" seria então a experiência visual que se tem durante tal
estado de oscilação.
Inclusive os mais avançados profetas, capazes de entrar à vontade no estado de
consciência Chochmá, usam a palavra Chashmal para descrever esta interface.
Segundo o Talmud, Chashmal vem de duas palavras, Chash, que significa
"silêncio", e Mal, que significa “fala”.
Pode por conseguinte ser traduzida como "silêncio falante".
É uma dupla sensação quando alguém experimenta o "silêncio" da consciência
Chochmá e a "fala" da consciência Biná ao mesmo tempo.
As duas partes da mente estão experimentando diferentes coisas simultaneamente.
Pode-se experimentar facilmente tal sensação dupla.
Pegue um vidro vermelho e coloque sobre o olho direito.
Sobre o esquerdo ponha um verde.
Quando você olhar com os dois olhos você perceberá duas sensações opostas
simultaneamente.
O mundo tomará uma aparência surrealista, quase espiritual.
A interface entre Chochmá e Biná é ainda mais etérea.
Os cabalistas também notam que ambas as letras Shin e Mem formam a palavra
Shem (  ), o termo para "nome".
Através dos "nomes" das coisas, e em particular através dos Nomes Divinos, uma
pessoa pode fazer a transição entre as consciências Chochmá e Biná.
Como ensinava o Baal Shem Tov, é mediante o nome que alguém pode captar a
essência espiritual de uma pessoa ou objeto.
O Zohar também diz que as letras Mem e Shin definem o mistério de Moisés, cujo
nome hebraico, Moshe, é soletrado Mem Shin Hê (  ).
Isto seria uma alusão ao fato das duas consonantes, Mem e Shin, representarem
Chochmá e Bina.
O Hê tem o valor numérico 5, o que representaria as cinco vogais primárias com as
quais se pronuncia a combinação das consoantes. Ver Tabela 16.

Uma idéia um pouco parecida é ensinada explicitamente pelos primeiros cabalistas.


A Torá declara que Moisés matou um egípcio que estava golpeando um israelita e o
Midrash explica que isto foi feito com um Nome Divino.
Quando golpeou o egípcio, a Torá relata que Moisés "olhou aqui (Co) e acolá (Co)".
(Êxodo 2:12).
Em hebraico, ambas as palavras "aqui" e "acolá" são Co, ( ) uma palavra cujo
valor numérico é 25.
Os cabalistas dizem que isto representa as vinte e cinco combinações possíveis
entre duas letras com as cinco vogais primárias. Ver Figura 16.

Alef é o Fôlego de ar
Alef é uma consonante muda e, como tal, representa uma simples expiração.
Ela não inclina alguém para um ou outro estado de consciência.
Normalmente, a respiração é um ato inconsciente e, portanto, pertence à
consciência Chochmá.
Entretanto, alguém pode controlar sua respiração e então estará no domínio da
consciência Biná.
O controle consciente da respiração é, portanto, uma técnica válida para reunir
ambos os estados de consciência.
Ele também é válido para fazer a transição entre os dois estados.
Assim, os cabalistas fazem uso da respiração controlada, em associação com as
técnicas, como a pronúncia de duas consoantes com as cinco vogais primárias.
Em particular, tal respiração acontece entre a pronúncia da Mem e Shin.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 16

Em primeiro lugar, as letras são "gravadas" do nada.


Logo são "entalhadas" e separadas.
Depois são "permutadas" de forma que uma dada combinação apareça em
diferentes seqüências.
Logo são "pesadas" e manipuladas de acordo com seus valores numéricos.
Finalmente, podem ser "transformadas" através dos vários códigos cifrados padrão.
Esses códigos cifrados são mostrados na Tabela 17.
Cada letra representa um tipo diferente de informação.
Através das diversas manipulações das letras, Deus criou todas as coisas.
As expressões finais da Criação foram então os Dez Ditos que aparecem no
primeiro capítulo do Gênesis.
Cada Dito consiste de palavras, as quais, a seu turno, são consistidas de letras.
Esta seção pode ser lida também no imperativo: "grava, entalha, permuta, pesa e
descreve tudo o que foi formado..."
Interpretada desta forma, esta seção está ensinando uma técnica comentada por
vários cabalistas.
O iniciado deve primeiro descrever as letras, "gravando-as" em sua mente.
Então ele deve "entalhá-las", fazendo-as preencher toda a sua consciência.
Depois disso pode permutá-las de várias formas.
Pode também manipulá-las através de seus valores numéricos e códigos padrão.
Outra técnica importante consiste em meditar nas letras mediante a escritura.
O modo mais simples é escolher uma palavra e permutá-la de todos os modos
possíveis.
Se alguém usava um conjunto de sistemas para permutar essas letras, isso era
chamado Guilgul, ou "rotação" das letras.
Em sistemas mais avançados também se usaria a Guematria (valores numéricos) e
os códigos para estender o processo.
Com efeito, escrever ou recitar essas combinações de letras era muito parecido
como a repetição de um mântra, e serve para apagar todos os pensamentos da
mente, permitindo a ela alcançar um estado de consciência Chochmá.
A visualização das letras é como alguns dos mais avançados métodos
contemplativos de meditação, e tem um efeito similar.
Em resumo, existem cinco técnicas básicas mencionadas aqui.
Correspondem às cinco famílias fonéticas abordadas na próxima seção.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 17

Como se explicou antes, "gravar" significa fazer soar uma letra, enquanto
"entalhar" significa expressá-la.
Algumas versões acrescentam: "Ele as uniu à língua como uma chama está unida
ao carvão em brasa".
Antes (1:7) usou-se uma expressão similar.

Em cinco lugares
Apresenta-se aqui a divisão das letras em cinco grupos, mas esta é a única vez em
que este tema é mencionado no Sêfer letsirá.
Não se dá nenhuma razão nem aplicação aparentes desta divisão.
Um indício pode vir do que já foi escrito antes (1:13).
As três letras do Nome, Yod Hê Vav ( ), são as primeiras das Doze Elementares
que aparecem nas três famílias fonéticas, quando dispostas em ordem alfabética:
guturais, labiais e palatais. Ver Tabela 18.

Há dois modos básicos de ordenar estas famílias.


O primeiro é o que é apresentado aqui: começa pela garganta, a parte mais interna
da boca, e logo continua para fora até os lábios.
A segunda seqüência, encontrada nos mais antigos comentários, considera os
grupos em ordem alfabética. Ver a Tabela 19.

A razão mais óbvia para a existência das cinco famílias fonéticas seria que as
divisões do alfabeto devem corresponder-se com as divisões no continuum
pentadimensional definido pelo Sêfer Ietsirá.
De fato, os cabalistas ensinam que esses cinco grupos são paralelos aos Cinco
Amores e às Cinco Forças (ver 1:3), que constituem os pontos finais dessas
dimensões.
Não se indica, no entanto, a atribuição dessas famílias às dimensões específicas,
ainda que isso possa ser derivado indiretamente.
É significativo notar-se que todas as cinco famílias estão presentes em Bereshit

( ), a primeira palavra da Torá.
Um dos mistérios do Sêfer Ietsirá é o fato de não serem mencionadas as letras
duplas finais.
Essas letras duplas são aquelas que têm diferentes formas no meio e no final das
palavras: Mem (   
), Nun ( ), Tsadi ( 
),Pê ( 
) e Caf ( ).
Como declara o Talmud, as formas destas letras foram esquecidas para serem
restituídas depois pelos profetas.
Não há absolutamente nenhuma referência destas duplas no Sêfer Ietsirá.
Mas os cabalistas traçam um paralelo entre as 5 famílias fonéticas e as 5 letras
duplas.
Segundo o Ari, as letras correspondem às cinco famílias fonéticas na ordem
apresentada aqui: Tsadi, Nun, Caf, Mem, Pê. Ver Tabela 20.

Outro conceito que é flagrantemente ausente no Sêfer Ietsirá é o das vogais.


Estas, novamente, formam um grupo de cinco, sendo as principais: Cholam (o),
Camats (a), Tsêre (e), Chiric (i) e Shuruc (u). Ver Tabela 21.
Freqüentemente se alude a elas com a expressão mnemotécnica Pituche Chotam

( ), o "sinete de gravação" (Êxodo 28:11) da Bíblia.
Outra regra mnemotécnica constitui a palavra Nutareicon ( 
).
Embora haja outras vogais no hebraico, tanto os gramáticos como os cabalistas
consideram que estas são as cinco vogais-raízes.
O Zohar traça claramente um paralelo entre as cinco famílias fonéticas e as cinco
vogais principais, e isto é acolhido pelos outros cabalistas.
As cinco vogais primárias também representam as cinco dimensões do Sêfer
Ietsirá.
Em geral, as cinco vogais são muito importantes no uso do Sêfer Ietsirá.
O procedimento usual é tomar um par de letras e pronunciá-las com as 25
possíveis combinações das cinco vogais.
Isto aparece no sistema do Rabi Abraham Abulafia, assim como nas diversas
técnicas para a criação de um Golem.
Parece, entretanto, que as opiniões diferem quanto à ordem das vogais.
Algumas delas são apresentadas na Tabela 22.
Alguns cabalistas posteriores também atribuem às cinco famílias fonéticas as cinco
Sefirot: Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nêtsach e Hod.
Iessod não é incluída porque, a este respeito, Iessod e Tiféret são contadas como
uma.
Além disso, Iessod pertence mais à melodia que ao som.
Há, entretanto, uma diferença de opinião entre o Ari e o Ramac sobre se as Sefirot
devem tomar-se em ordem descendente ou ascendente.
As cinco vogais principais são também atribuídas a essas mesmas Sefirot.
Ver Tabela 23.
O primeiro indício para efetuar a atribuição ao continuum penta-dimensional
provém da ordenação das letras finais no Talmud:
Mem, Nun, Tsadi, Pê e Caf ( ).
Em todas as fontes, tanto talmúdicas como cabalísticas, as letras são apresentadas
nesta ordem.
Entretanto, a ordem alfabética correta seria: Caf, Mem, Num, Pê e Tsadi ( ).
Ver Tabela 24.
Surge então uma pergunta: Por que estas letras não estão comumente
apresentadas em ordem alfabética?

Antes (1:3) falamos que a divisão das Dez Sefirot em dois grupos representam as
duas mãos.
São os Cinco Amores e os Cinco Julgamentos.
Na ordem das Sefirot elas são:
Cinco Amores: Kéter, Chochmá, Chéssed, Tiféret, Nétsach
Cinco Julgamentos: Biná, Guevurá, Hod, Iessód, Malchut
Torna-se óbvio imediatamente que cada grupo representa um conjunto de pontos
finais no continuum penta-dimensional.
Os pares deste continuum são os seguintes:

Kéter-Malchut Bem-Mal
Chochmá-Biná Passado-Futuro
Chéssed-Guevurá Sul-Norte
Tiféret-Iessód Leste-Oeste
Nétsach-Hod Acima-Abaixo

Se tomarmos as letras finais em ordem alfabética e as alinharmos com os Cinco


Amores em ordem, teremos as seguintes indicações:

Se tomarmos agora as Cinco Forças como as terminações opostas no continuum


penta-dimensional e as colocarmos em ordem, teremos:
Esta é a ordem precisa na qual as letras são apresentadas normalmente e é muito
improvável que isso seja coincidência.
Também é significativo o fato de o Ari afirmar que a ordem usual MNTsPCh

( ) só se aplica às letras quando estas representam as Cinco Forças.
Quando se relacionam com os Cinco Amores, encontram-se em ordem alfabética
direta. Ver Tabela 25.

Já que cada uma das letras finais corresponde a uma família fonética, estas ficam
assim automaticamente atribuídas à sua dimensão apropriada.
Para relacionar cada vogal principal com as famílias fonéticas, o Zohar as apresenta
na ordem i u e o a, que é como aparecem na expressão Pituche Chotam

( ).
Como o Zohar apresenta as famílias na ordem alfabética, extrai-se imediatamente
o seguinte paralelo:

Nós temos então três grupos de cinco elementos: as famílias fonéticas, as letras
finais e as vogais primárias.
Todos podem ser relacionados às cinco dimensões.
Como todas as seções, esta pode também ser lida no imperativo.
O texto diz então: "grave com a voz, entalha com fôlego e coloca-as na boca em
cinco lugares".
A instrução é para se pronunciar cuidadosamente cada letra de cada uma das cinco
famílias.
Isto é "grava com a voz".
Então, alguém deve "talhá-las com fôlego", contemplando cada letra
cuidadosamente e concentrando-se no fôlego que é exalado enquanto ela é
pronunciada.
Finalmente, alguém deverá "estabelecê-las na boca", meditando no lugar da boca
com o qual a letra é pronunciada.
Neste exercício também podem ser pronunciadas as letras de cada família com
suas vogais apropriadas.
Isto produz um cântico que pode ser usado para este exercício. Ver Tabela 26.

O propósito deste exercício é que o iniciado se torne altamente consciente dos


processos físicos envoltos na pronúncia das letras.
Enquanto a fala em si implica a consciência Biná, a pronúncia das letras é uma
atividade automática e, portanto, envolve a consciência Chochmá
Com este exercício, o iniciado aprende a fazer uso das letras com consciência
Chochmá.
Ele então as veste em Biná.
Através deste exercício ele aprende a usar as letras como "caminhos de Sabedoria".
Na primeira seção deste capítulo, as duas Mães, Mem e Shin, foram usadas como
exercício para oscilar entre as consciências Chochmá e Biná.
A segunda seção apresentou um exercício de pronúncia e permutação de letras,
fazendo que enchessem toda a mente.
Agora temos um terceiro exercício onde alguém medita nos processos físicos que
envolvem a pronúncia das letras, levando todas elas para a consciência Chochmá .
Dominando tudo isso, o iniciado está preparado para embarcar nas técnicas mais
avançadas envolvendo os 231 Portões.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 18

A palavra para "círculo" é Galgai.


Isto pode ser traduzido também como "esfera" ou "ciclo".
Depois o Sêfer Ietsirá fala do Galgai novamente, dizendo: "O ciclo (Galgai) no ano é
como um rei na província" (6:3).
O primeiro capítulo tratou dos 32 caminhos da Sabedoria.
Como foi dito então (1:1), o número 32 escrito literalmente forma a palavra Lev,
que significa "coração".
O texto fala depois da experiência mística dizendo: "Se teu coração corre" (1:8).
Também adverte: "Refreia teu... coração de pensar" (1:8).
O primeiro capítulo nos fala de um aspecto do reino, o coração.
Como o texto diz posteriormente:
"O coração na alma é como um rei na guerra" (6:3).
Por conseguinte, o coração domina o continuum do espiritual.
Neste segundo capítulo, o texto se volta para um segundo aspecto do reino: o Ciclo
(Galgai) que domina sobre o tempo.
Em geral, se um número de pontos são colocados em um círculo, o número de
linhas possíveis que podem conectar qualquer par de pontos pode ser facilmente
calculado.
Seja “n” o número de pontos e “L” o de linhas, a fórmula é:

Você terá que tomar o número de pontos, multiplicá-lo pelo número abaixo dele e
dividir o resultado por dois.
Assim, três pontos em um círculo podem ser unidos por três linhas, quatro pontos
por seis linhas, cinco pontos por dez linhas e seis pontos por quinze linhas.
Ver Figura 17.
Um certo número de pontos sempre pode ser unido pelo número de linhas de
acordo com a fórmula anterior.
O número de linhas que pode conectar as 22 letras colocadas em um círculo é,
portanto, (22x21)/2. Ver Figura 18.
Fazendo o cálculo se obtém 231.
Estes são os 231 Portões...

Como um muro...
Isto também pode ser lido no imperativo: "coloque-as em um círculo, como um
muro com 231 Portões".
Os cabalistas apresentam uma importante meditação a respeito desses Portões.
Isto é baseado em um texto do Primeiro Capítulo: "grave como um jardim, entalhe
como um muro, cubra como um teto" (1:11).
O iniciado deve contemplar o chão, visualizando-o como sendo de lama negra.
Ele deve então "gravar" as 22 letras, formando cada uma em sua mente.
As letras devem fazer um círculo no chão.
A seguir deve "entalhá-las como um muro".
Deve entalhar cada letra tirando-a do chão e pondo-a na vertical, construindo
assim um círculo de letras que o rodeia como um muro.
Um dos maiores cabalistas, Rabi Isaac de Aco, propõe uma meditação similar onde
as letras são visualizadas sobre o horizonte.
A seguir, o iniciado deve "cobri-las como um teto".
Deve imaginar as 231 linhas que conectam as 22 letras e desenhá-las como um
teto sobre sua cabeça.
Uma vez que completou esse exercício, acha-se preparado para fazer uso do
círculo.
Se o que quer é criar, deve proceder com ele em ordem direta, começando por
Alef.
Enfocando a mente em Alef, segue cada um dos 21 caminhos que emanam dela até
as outras letras, de Bet até Tav.
E continua desse modo usando todas as outras letras. Ver Figura 19.

Segundo alguns, esta é também uma técnica para fazer um Golem.


Se alguém deseja destruí-lo, procede-se precisamente na direção oposta,
começando com Tav e terminando com Alef.
Alguns comentários propõem um método mais primitivo no qual o iniciado desenha
de fato um círculo ao redor do objeto que quer formar.
Procedendo em círculo, ele canta as combinações de letras, primeiro Alef com todas
as demais letras, depois Bet, até que se percorra todo o alfabeto.
Se alguém deseja destruir a criação, procede em direção oposta.
Conta-se também que os discípulos do Riva tentaram usar o Sêfer Ietsirá para fazer
uma criatura.
Mas foram na direção equivocada e se inundaram em terra até a cintura através do
poder das letras.
Apanhados, gritaram pedindo auxílio.
O Riva foi finalmente contactado e fez seus outros discípulos recitarem os alfabetos
procedendo na direção oposta, até que os incautos fossem libertados.
Surgem algumas questões se, nesse caso, "proceder" significa de fato andar ao
redor do círculo ou se alguém deve meramente mover-se ao redor dele mental e
meditativamente.

Com 231 Portões


O número 231 representa o número de modos que duas letras diferentes do
alfabeto hebraico podem se conectar.
Este também é o número de palavras de duas letras que podem ser formadas,
sempre que a mesma letra não se repita e a ordem não seja considerada.
Essas combinações podem ser dispostas em um triângulo.
O primeiro método é chamado de Método Lógico (Figura 20).

Além disso, existe também o Método Cabalístico (Figura 21), que é algo mais
complexo.
No Método Cabalístico começa-se escrevendo todo o alfabeto, de Alef a Tav.
Na segunda linha escreve-se todas as outras letras terminando com Shin.
Salta-se então a Tav e começa-se de novo com Alef.
A seqüência se repete novamente.
Na terceira linha escreve-se a cada três letras; na quarta, a cada quatro, até se
completarem as 21 linhas.
Com isso obtém-se a disposição inicial.
A décima primeira linha é particularmente interessante.
Já que 22 é divisível por 11, as duas letras, Alef e Lamed, repetem-se a linha
inteira.
O passo seguinte é pegar a disposição e quebrá-la em pares.
Isso nos dá 21 linhas e 11 colunas, produzindo um total de 231 pares.
Esses são os 231 Portões segundo o Método Cabalístico. Ver Figura 22.

O sistema não é tão complicado como parece à primeira vista.


Para entendê-lo melhor, vamos fazer uma construção similar usando os números
de O a 9 em vez de letras.
É muito simples fabricar tal disposição. Ver Figura 23.

Na primeira linha conta-se meramente de O a 9.


Na segunda conta-se de dois em dois.
A partir do 10 usamos somente o último dígito.
Na terceira fila fazemos o mesmo, contando de três em três, usando só o dígito
final.
O resto da disposição é construído com os números seguintes.
O que de fato temos é uma simples tabela de multiplicar em que só se retiveram os
últimos dígitos.
Nesta disposição é claramente óbvia a simetria diagonal que aparecia também na
disposição alfabética.
A quinta linha é particularmente significativa.
Quando se conta por cinco obtêm-se os números 5, 10, 15, 25, e assim
sucessivamente.
Por conseguinte, quando só se consideram os últimos dígitos, o 5 e o O alternam-se
nesta linha sucessivamente.
O mesmo acontecia na décima primeira linha da disposição alfabética, em que se
alternavam Alef e Lamed.

Divide-se então todo o quadro em colunas duplas obtendo um análogo numérico


dos 231 Portões.
A única diferença é que quando se trabalha com o alfabeto se está de fato usando
uma base numérica de 22. Ver Figura 24.

Algo que pode ser visto com clareza é o fato que, embora se obtenha 45 pares,
estes não correspondem exatamente aos únicos 45 possíveis pares de números que
se pode conseguir a partir de 10 dígitos. Ver Figura 25.

Veremos, de fato, que faltam 14 pares, enquanto há um número igual de repetidos.


O exemplo mais notável é a repetição da combinação 05 que ocorre cinco vezes.
Outra redundância é 80, que é meramente o reverso de 08.
Do mesmo modo que se pode começar cada seqüência por Alef, também se pode
começar por Bet.
Alguém teria então uma disposição similar em que cada linha começa por Bet em
vez de Alef.
Cada letra da disposição Bet seria a imediata superior à correspondente na
disposição Alef.
Pode-se construir disposições similares para todas as demais letras do alfabeto.
É muito importante a décima primeira linha, na qual pares de letras se repetem.
Na disposição Alef, são as letras Alef e Lamed que se repetem nessa linha.
Na disposição Bet, Bet e Mem são as que se repetem.
Conforme vão sendo construídas as disposições seguintes, as letras que se repetem
continuam conformando-se às do código AL-BaM (  ). Ver Figura 26.
Isto é certo até que se chega à disposição Caf, em que se repetem as letras Caf e
Tav.
Na disposição Lamed, as letras Alef e Lamed se repetem, de modo que esta é a
inversa da disposição Alef.
As letras que se repetem nas disposições seguintes são as inversas das primeiras
11.
Portanto, existem 11 disposições onde a décima primeira linha tem os pares na
seqüência AL-BaM repetidos.
E as seguintes 11 disposições apresentam os mesmos pares de letras repetidos,
mas em ordem inversa.
Certos cabalistas posteriores empregaram outras disposições de letras bastante
parecidas.
Mas, em vez de usar o Método Cabalístico, simplesmente saltam algumas letras na
segunda coluna e logo procedem com o alfabeto na ordem usual.
Não fica claro se fizeram isso para ocultar o método verdadeiro ou se, de fato, isto
representa um procedimento completamente distinto. Ver Figura 27.
Seja qual for o procedimento, sempre há 11 disposições nas quais os pares
representados pelo AL-BaM são dominantes.
Depois existem outras 11 disposições nas quais os inversos desses pares são
dominantes.
Diz-se que as primeiras 11 disposições representam as onze Sefirot quando se
considera incluída entre elas a quase-Sefirá Dáat (Conhecimento).
A seqüência é: Kéter, Chochmá , Bina, Dáat, Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nêtsach,
Hod, Iessod, Malchut.
De fato, estas primeiras 11, nas quais os pares do AL-BaM estão em ordem direta,
diz-se que representam a "frente" dessas onze Sefirot.
O segundo conjunto de 11 pares, onde esses pares estão invertidos, representam
as "costas" das Sefirot.
Todas as disposições são apresentadas no Apêndice III.
Embora o Sêfer letsirá declare: "Dez e não onze" (1:4), isto se refere à essência
interna das Sefirot.
Quando se fala de sua representação como disposições de letras, estamos falando
de sua essência externa, e aqui também se inclui Dáat (Conhecimento), fazendo
um total de onze.

As disposições são muito importantes para ligar-se às Sefirot.


Elas também são usadas para criar um Golem.
Segundo os antigos cabalistas, o nome Israel alude aos 231 Portões.

Em hebraico, Israel se soletra YiSRAeL ( ).
Estas mesmas letras também formam YeSH RLA (  ), que literalmente
significa "existem 231".
O Midrash declara que, no princípio da Criação, “Israel surgiu em pensamento".
O nome Israel faz alusão também ao fato de que a Criação teve lugar através dos
231 Portões.
De acordo com os cabalistas posteriores, esses 231 Portões são o que restou no
Espaço Vazio que precedeu à Criação.
Quando o Sêfer Ietsirá fala dos "32 Caminhos da Sabedoria", emprega a palavra
Nativ para "caminho".
O valor numérico de Nativ ( ) é 462, exatamente o dobro de 231.
Já que cada um dos 231 Portões contém duas letras, existe um total de 462 letras
em cada disposição.
É evidente que os "Caminhos da Sabedoria" estão relacionados com estas
"disposições".
De fato, em algumas versões do Sêfer Ietsirá, lê-se literalmente "462 Portões".
Há, entretanto, uma tradição muito antiga que lê 221 Portões em vez de 231.
O Rabi Eliezer Rokêach do Worms favorece esta leitura, aprendida por tradição do
Rabi Iehudá HaChassid. Ver Figura 28.

Os cabalistas assinalam que este número está baseado no ensinamento talmúdico


de que no Mundo Futuro a taça do Rei David conterá 221 medidas.
Isto se apóia no versículo:
"Ungiste minha cabeça com azeite, minha taça transborda" (Salmo 23:5).
"Transbordar" em hebraico é Revaiá ( ), que tem o valor numérico de 221.
O Sêfer Ietsirá emprega depois o termo Revaiá para denotar a estação
"temperada", em correspondência com a letra Alef (3:5,7).
Assim como Alef serve como intermediária entre Shin e Mem, estas disposições
servem como um meio de transição entre as consciências Biná e Chochmá .
O contexto deste ensinamento é também significativo.
O princípio do versículo é: "Ungiste minha cabeça com azeite".
Isso alude à sensação de ser banhado em azeite, que é freqüentemente encontrada
durante experiências místicas.
Conseguir essa experiência está assim associado com esses 221 Portões.
O número 221 é sugerido também como sendo produto de dois números primos, 17
e 13.
Os números podem, portanto, ser colocados em uma única disposição.
Este sistema segue logicamente o Método Cabalístico discutido antes.
Recorde-se que na disposição produzida por esse método, as letras Alef e Lamed
repetem-se 11 vezes.
Como esta é uma simples combinação, tal repetição é redundante.
No sistema de Eliezer Rokêach, o par Alef-Lamed é usado uma só vez.
Já que são omitidos dez pares, ficam 221 Portões em vez dos
231
Disposições similares podem ser construídas começando com as demais letras.
Elas são apresentadas no Apêndice III.
Outra representação importante dos 231 Portões é a do Rabi Abraham Abulafia.
Ela é parecida com a da Disposição Lógica, mas coloca-se em um retângulo, com o
lado superior direito arrumado para preencher as letras que faltam (Figura 29).
A estrutura é discernível quando alguém estuda seus análogos numéricos
(Figura 30).

Uma investigação mais detalhada mostra que, nesta disposição, aparecem


redundâncias.
Algumas combinações se repetem, enquanto outras são omitidas.
Entretanto, esta disposição pode ser modificada de modo que desapareçam suas
redundâncias e todas as combinações apareçam representadas.
Ver Figuras 31 e 32.

Mesmo com as redundâncias suprimidas, a última coluna da esquerda permanece


anômala e complexa.
Esta anomalia pode ser removida e a disposição ser simplificada ainda mais.
Ver Figuras 33 e 34.

O número 231 representa o número total de combinações de duas letras.


O número de combinações de três letras é 1.540.
Rabi Abraham Abulafia assina-la que este número é 22 vezes 70.
O número 70 representa as 70 primeiras línguas.
Se cada uma destas línguas tivesse um alfabeto de 22 letras, haveria um total de
1.540 letras.
Em geral o número de combinações de n letras é dado pela fórmula:

O valor dos números de zero a 22 são dados na Tabela 27.


Não há nada no bem superior ao Prazer...
Isto porque a Bíblia se refere à mais direta experiência de Deus usando a palavra
"prazer" (Oneg).
Assim está escrito: "Apraze-te em Deus" (Isaías 58:14).
A palavra Nega ( 
) "praga", é obtida de Oneg ( ) por simples rotação.
O termo Nega denota especialmente a lepra como praga, o que era um sinal de
desaprovação por parte de Deus. Ver Figura 35.
Em uma seção anterior (1:13) já se discutiu sobre como tais permutações podem
resultar em opostos.

Os cabalistas apresentam uma permutação similar.


O supremo nível espiritual que alguém possa aspirar é a Sefirá Kéter (Coroa).
Entretanto, quanto mais se ascende à atmosfera, mais esta se torna rarefeita, e o
perigo espiritual é maior.
Através de uma simples permutação a palavra Kéter ( ) transforma-se em

Caret ( ), o termo hebraico para "excisão", quando uma pessoa é
completamente cortada do espiritual.
Um dos primeiros místicos do século X, Hai Gaon, notou que muitos dos que
embarcavam nos mistérios tinham êxito, mas encontravam morte prematura.
Quanto mais alto se ascende, mais perigosa torna-se a queda.
Uma pessoa não tentaria subir uma perigosa montanha sem treinamento e
equipamentos apropriados.
Qualquer aprendiz que tente uma escalada sem um guia experiente estaria
procurando o desastre.
A ascensão às alturas espirituais pode ser igualmente perigosa.
Ela requer treinamento e equipamento mental apropriado, bem como um guia
espiritual experiente.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 19

Um Nome
Segundo os cabalistas, este Nome é o Tetragrammaton, YHVH ( ).
Cada uma das letras tem que ser permutada com o Tetragrammaton de uma forma
apropriada.
A técnica para fazê-lo é descrita pelo Rabi Eliezer Rokêach de Worms no contexto
particular da criação de um Golem.
Isto nos põe em contato com algumas das mais poderosas técnicas meditativas do
Sêfer Ietsirá.
Quando se trabalha com uma letra, deve-se combinar esta letra com as letras do
Tetragrammaton usando as cinco vogais.
Assim, por exemplo, se alguém for usar Alef, terá que começar por combiná-la com
a Yod do Tetragrammaton usando as cinco vogais. Ver Figura 36.
Expõem-se, entretanto, algumas dúvidas sobre como levá-lo a efeito.
Das palavras do Rabbi Eliezer Rokeach, pareceria que simplesmente se faz uso de
todas a vogais em seqüência:

Mas, como foi dito anteriomente, há questões sobre qual a seqüência das cinco
vogais primárias (2:3).
Existem ao menos meia dúzia de opiniões diferentes.
Se a seqüência correta for crucial, terá de se fazer muita experimentação perigosa
para determiná-la.
É possível, entretanto, que a seqüência não seja de importância capital.

Em qualquer caso, seguindo com o sistema do Rabi Eliezer Rokêach, o iniciado deve
proceder desta forma até completar as quatro letras do Tetragrammaton.
O mesmo pode fazer-se usando qualquer outra letra do alfabeto.
Deste modo, o iniciado continua pronunciando todas as letras na disposição dos
221 (ou 231 Portões).
Como o Alef é a letra associada com o tórax, toda a disposição Alef pertencerá a
esta parte do corpo.
A seguir, o iniciado passa para a cabeça, na qual deve usar a disposição Shin, como
será explicado depois (3:9).
Formará uma disposição dos 221 Portões em que cada linha começa com Shin.
Ele deverá continuar desta maneira através de todas as partes do corpo, usando as
letras que o Sêfer letsirá associa com cada parte.
Para cada letra terá que atravessar a seqüência completa de 221 (ou 231) Portões.
Como cada uma dessas seqüências contém 442 letras, ao completar as 22 letras do
alfabeto terá feito uso de 4.862 letras.
Cada uma dessas letras deverá ter sido pronunciada com as cinco vogais primárias
e as quatro letras do Tetragrammaton, num total de vinte pronúncias para cada
letra.
Isso significa que o exercício completo faz uso de 97.240 pronúncias.
Assumindo-se que alguém pronunciasse quatro sílabas por segundo, completaria o
processo inteiro em aproximadamente sete horas.
O método para criar um Golem é descrito pelo Rabi Eliezer Rokêach em seu
comentário ao Sêfer Ietsirá e apresentado com mais detalhes pelo autor do Emec
HaMélech (Profundidades do Rei). Ver Figuras 37 e 38.
Um iniciado não deve fazê-lo sozinho, e sim estar sempre acompanhado por um ou
dois colegas.
O Golem deve ser fabricado de terra virgem que provenha de um lugar nunca
cavado pelo homem.
A terra deve ser amassada com água pura da fonte, tomada diretamente do chão.
Se esta água ficar em algum tipo de recipiente, estará invalidado seu uso.
Os fabricantes do Golem devem purificar-se totalmente antes de empreender esta
atividade física e espiritual.
Enquanto durar o processo, devem usar vestimentas brancas e limpas.
Estes autores também enfatizam que não se deve cometer nenhum engano ou erro
na pronúncia.
Eles não dizem o que deve ser feito se alguém erra, mas, de outras fontes, parece
que no mínimo deve recomeçar todo o processo desde o princípio.
Durante todo o procedimento não deve ocorrer nenhum tipo de interrupção.
Os mesmos autores insinuam que estão somente revelando o esquema do método,
e não apresentando-o em sua totalidade.
Isso parece evidente ao se consultar outras fontes.
Há também provas de que criar um Golem não era primariamente uma atividade
física, mas sim uma técnica meditativa altamente avançada.
Ao cantar as disposições de letras apropriadas junto com as letras do
Tetragrammaton, o iniciado deveria formar uma imagem mental fiel do ser
humano, membro a membro.
Essa possivelmente seria usada como corpo astral, através do qual poderia
ascender aos domínios espirituais.
Entretanto, a formação de um corpo espiritual dessa índole teria tido como
conseqüência a geração de um tremendo potencial espiritual.
Depois de ter completado o Golem conceitual, este potencial espiritual poderia ser
transferido a uma forma de argila e realmente animá-la.
Este era o processo através do qual um Golem físico seria trazido à vida.
Ao introduzir o método, o Sêfer letsirá diz: "grave-as como um jardim, entalhe-as
como um muro, cubra-as como um teto" (1:11).
Existe a questão sobre qual o papel que esta meditação tem na técnica de criação
de um Golem.
Segundo algumas fontes antigas, a pessoa deve fazer um círculo ao redor da
criatura que está sendo criada.
Isso poderia referir-se à estruturação mental deste "jardim", "muro" e "teto" antes
de formar o Golem.
Era importante também o sistema ensinado pelo Rabi Abraham Abulafia,
aparentemente enraizado em técnicas mais primitivas. Ver Figura 39.

Não há certeza, entretanto, se Abulafia está expandindo os métodos do Rabi Eliezer


Rokêach ou se inspira em uma tradição completamente diferente.
Sua técnica é também citada por um certo número de cabalistas posteriores.
Neste sistema, o iniciado pronuncia as letras junto com as do Tetragrammaton,
igual ao método do Rabi Eliezer Rokêach.
Mas em vez de meramente usar só as cinco vogais primárias, faz uso de todas as
possíveis combinações das mesmas, vinte e cinco no total.
Se esse método for usado com uma disposição completa de 221 pares de letras,
completar uma única disposição já seria uma grande tarefa que levaria
aproximadamente hora e meia.
Levaria mais de 35 horas para completar uma seqüência inteira de 22 letras.
É questionável se isso foi feito alguma vez na prática, mas em teoria não é
impossível.
Fazer um Golem era considerada a mais avançada — e perigosa — de todas as
técnicas meditativas.
Um iniciado suficientemente avançado para tentá-lo, podia também ter a disciplina
necessária para estar mais de trinta horas em meditação contínua.
Além disso, Abulafia prescreve alguns exercícios de respiração específicos para
serem feitos enquanto se cantam as letras.
Entre cada letra, a pessoa terá que tomar uma só respiração.
Entre pares, não se deve tomar mais de duas respirações; entre linhas, não mais
de cinco, e entre cada letra do Tetragrammaton, não mais de vinte e cinco.
Para esse exercício também são prescritos alguns movimentos de cabeça
específicos.
Estes devem ser realizados lenta e deliberadamente enquanto se pronuncia a letra
e se exala. Ver Figura 40.

Os movimentos correspondem às formas das vogais.


Ao fazer esse exercício, a pessoa deve estar sentada e olhando para o leste.

É evidente que os nomes e formas dos pontos vocálicos hebraicos foram usados
com intenção mística muito antes de seu emprego na escritura e gramática.
O primeiro uso não-místico das vogais data dos séculos VIII e IX, enquanto seu uso
místico encontra-se em fontes cabalísticas tão antigas como o século I.
É altamente provável que as formas de escrever as vogais tenham sido tiradas dos
movimentos de cabeça associados com seus sons.
Abulafia usa este sistema de exercícios de respiração e movimentos de cabeça com
a letra Alef, já que Alef (com valor numérico 1) expressa unidade com Deus.
O mesmo sistema pode ser usado com outras letras.
Não há evidência, entretanto, de que esse método tenha sido usado com uma
disposição completa de 221 pares de letras.
Usá-lo com uma única letra já é um grande esforço.
É possível, entretanto, que o método tivesse sido usado com várias letras para
conseguir resultados específicos.
A criação de um Golem era simplesmente o mais avançado e espetacular uso dos
métodos do Sêfer Ietsirá.
Entretanto, cada letra individualmente está associada também com uma parte do
corpo.
A disposição correspondente a essa letra em particular poderia empregar-se em
meditação para afetar um membro específico.
Isso poderia ser usado para fortalecer a energia espiritual de tal membro ou ainda
para propósitos curativos.
As letras são também associadas aos diversos tempos e signos astrológicos.
Com o sistema do Sêfer Ietsirá pode-se construir meditações associadas com eles.

Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 20

Anteriormente, o Sêfer Ietsirá estabeleceu que o caos (Tohu) foi "gravado e


entalhado" a partir da água (1:11).
Como foi explicado ali, a "Água" alude à Chochmá e à base de toda criação física.
A "água" mencionada ali denota a mais primitiva raiz espiritual da água, tal como
existe no universo de Atsilut, o domínio das Sefirot.
E foi daí que se formou o primeiro estágio da matéria, o "Caos" (Tohu).
O texto estabelece que, conseqüentemente, a partir desse "caos" se formou a
matéria.
A palavra empregada para "substância" aqui é Mamash (  ).
Esta palavra provém da raiz Mashash ( ), que significa "tocar".
O que se produz é uma realidade que não somente pode ser vista, mas é física o
bastante para ser tocada.

E fez a não-existência vir à existência


Chochmá, entretanto, está no nível do nada.
E deste Nada todas as coisas foram criadas.
Desta "não-existência", Biná e Beriá, que são chamadas existências (Yesh), vieram
a ser.

Ele Entalhou grandes pilares


A referência aqui é obviamente ao versículo: "A Sabedoria construiu sua casa,
entalhando seus sete pilares" (Provérbios 9:1).
É uma evidência a mais de que esta seção está falando de Chochmá (Sabedoria).
Discute-se, às vezes, sobre o significado destes "sete pilares" neste versículo.
O Talmud diz em certo lugar que se trata dos sete dias da semana.
Em outro, o Talmud diz que se referem aos sete pilares sobre os quais se assenta o
mundo, uma interpretação também mencionada no Zohar
Outros identificam-nos com as sete ciências: gramática, retórica, lógica, aritmética,
música, geometria e astronomia.
Os cabalistas ensinam que estes sete pilares representam as sete Sefirot inferiores.
Como estas se correspondem com os sete dias da semana e os sete pilares da
Criação, não se contradiz a interpretação talmúdica.
No sistema do Sêfer Ietsirá fica claro que os sete pilares representam as sete
Duplas.
Estas são chamadas "pilares" porque estão representadas por linhas verticais no
diagrama da Árvore da Vida.
As sete Duplas derivam das três Mães.
Isto apoiaria uma antiga versão de que, em vez de "substância" (Mamaste -  )
leria-se AMSH (( ), as três Mães.
O texto ficaria então: "Ele formou AMSH ( ) do caos... e entalhou grandes
pilares".

De ar que não pode ser agarrado


Os pilares são entalhados a partir do "ar que não pode ser agarrado".
Anteriormente identificou-se o ar com o Fôlego, que, por sua vez, é associado com
a primeira Sefirá, Kéter.
O ar também é identificado com a letra Alef (2:1, 3:4).
O Sêfer Ietsirá estabelece que a água está abaixo, o fogo acima e o ar no meio.
Isto pode inicialmente ser algo difícil de entender, já que o ar está associado com
Fôlego e com Kéter, a Sefirá mais alta.
Ele também está associado com Alef, a primeira letra do alfabeto.
Entretanto, conforme explicado antes (1:9), o Fôlego associado a Kéter é
intangível, já que esta Sefirá representa um nível que está acima do intelecto.
O único lugar onde o Fôlego pode vir a se manifestar é nas Sefirot inferiores.
Portanto, mesmo que se encontre num nível acima de Chochmá e Biná, ele só se
manifesta em um nível que está abaixo delas.
Portanto, o "ar que não pode ser agarrado" é o Fôlego que vem de Kéter.
Este não pode ser agarrado até que entre no domínio dos "pilares", isto é, das sete
Sefirot inferiores.
Esta seção é realmente melhor entendida em um sentido místico.
A seção anterior explicou como usar as disposições de letras junto com o Nome
Divino como método meditativo.
Uma das manifestações dos estados meditativos elevados (tal como alguns estados
induzidos por drogas) é a alucinogênesis, onde uma pessoa pode intencionalmente
formar imagens mentais.
Estas parecem ser reais e substanciais.
Quando alguém está em um estado de consciência normal, pode formar imagens
mentais, mas estas são frágeis, passageiras e obscurecidas por interferências
mentais.
Em contraste, as imagens formadas em estado meditativo parecem sólidas,
substanciais e reais.
Em um estado ordinário de consciência Biná, a mente está cheia de interferências e
"ruídos de fundo", a chamada estática mental.
Se você deseja ver estas interferências, basta fechar os olhos.
Você poderá ver um caleidoscópio de imagens rapidamente mutantes, umas sobre
as outras.
Se você pode captar uma imagem única durante um breve lapso de tempo, poderá
ver que ela está misturada com interferências mentais e você tem pouco controle
sobre ela.
Não poderá fazê-la ir e vir à vontade, e não poderá determinar seu
comportamento.
Mesmo que se possa exercer alguma influência sobre ela, a imagem parecerá ter
uma mente própria.
A estática também existe quando estamos com os olhos abertos, mas se acha
eclipsada pelas imagens do mundo real.
Entretanto, em uma habitação obscurecida, permanece visível até certo ponto.
A estática mental deteriora nossa percepção do mundo exterior e obscurece nossos
processos mentais.
A percepção do mundo espiritual é ainda mais tênue que a do físico.
Em um estado de consciência normal, a estática mental torna completamente
impossível sua visualização.
Aqui, o estado de estática mental é chamado "caos" (Tohu).
Tanto os cabalistas como os lingüistas ensinam que a palavra Tohu ( 
) vem do
verbo Taha ( ), que significa estar "perplexo" ou "confuso".
Este é o estado normal de confusão mental, no qual a mente aparece obscurecida
com a estática.
Também está associado à consciência Biná e, conseqüentemente, alguns cabalistas
associam Tohu com Biná.
O Zohar também ensina que Tohu está associado com a Klipá (Casca), as forças
que nos impedem de visualizar o domínio espiritual.
É a partir deste Tohu, o estado de confusa consciência Biná, que alguém deve criar
uma imagem palpável.
Existem muitas imagens que podem ser produzidas, porém a mais comum é o
Golem mental, o corpo astral.
Assim, o iniciado "forma a substância palpável (Mamash) a partir do caos".
Isto implica atingir um estado de consciência Chochmá.
Os cabalistas fazem notar que a palavra Golem (  ) tem o valor numérico 73, que
é o mesmo valor da palavra Chochmá (  ).
Alguém deve então "fazer a não-existência vir à existência".
Antes, na frase: "formou a substância a partir do caos", o texto empregou a palavra
"formar", enquanto agora usa "fazer".
Em hebraico, especialmente de acordo com os cabalistas, a palavra "formar"
(Iatsar) denota a formação inicial de "algo a partir de algo".
O termo "fazer" (Assá), por outro lado, refere-se à conclusão do processo.
Assim, ao "formar a substância a partir do caos" começa-se o ato mental de
criação.
Ao "fazer existente o não-existente", conclui-se o processo.
O termo "formação" também implica uma atividade que tem lugar no Ietsirá, o
universo espiritual inferior.
Assim, quando se "forma a substância a partir do caos" está se levando a cabo um
resultado puramente espiritual no universo de Ietsirá.
"Fazer", por outro lado, refere-se ao universo de Assiá, que faz fronteira com o
físico.
Isto implica resultados que podem de fato manifestar-se no mundo físico.
Para conseguir isto, a pessoa terá que entrar plenamente no domínio do nada.
Este é o nível superior da consciência Chochmá, que faz fronteira com Kéter.
A pessoa, portanto, começa com a "não existência" que é o nada.
Quando se chega a este nível, pode-se fazer algo "que realmente é" (Ieshno) ou
"existência".
Pode-se realmente causar resultados no universo de Assiá, os quais, portanto.
podem refletir-se no mundo físico.
Ao fazer um Golem, isto corresponderia ao estado de consciência requerido antes
que a imagem mental fosse imposta sobre a argila, fazendo-a viva.
Um processo muito similar é descrito pelo grande mestre chassídico Rabi Dov Beer,
o Maguid de Mezritch (1704-1772).
Ele escreveu que quando alguém contempla um objeto físico completa e
totalmente, pode de fato levar esse objeto a seu pensamento.
Se este pensamento for então ligado à Mente suprema, eleva-se o objeto em
questão até o nível da Mente.
Daí pode ser elevado ainda mais até o nível do nada, no qual o objeto deixa de
existir.
Quando este objeto é novamente trazido de volta ao nível da Mente, pode voltar
em qualquer forma que o iniciado deseje.
Assim, quando ele finalmente leva-o de volta ao seu estado físico normal, o objeto
pode ser mudado para qualquer forma desejada.
Como afirma o Maguid, "pode inclusive transformá-lo em ouro".
É neste estado de consciência que alguém pode visualizar as Sefirot como "grandes
pilares".
"Entalhá-las" significa que a imagem da Sefirá é vista separadamente, preenchendo
a consciência por completo.
Mesmo que as Sefirot sejam totalmente inefáveis e indescritíveis, podem ser
"entalhadas" por alguém nesse estado de consciência.
São então percebidas como pilares sólidos, feitos de ar transparente.
Como o ar, as Sefirot são ainda invisíveis, mas em tal estado de consciência até
mesmo o ar se torna visível.

Isto é um sinal...
O Sêfer Ietsirá descreve um sinal através do qual a pessoa sabe que alcançou este
estado.
O iniciado deve percorrer toda a disposição, "Alef com todas e todas com Alef".
Significa que ele permuta a disposição para frente e para trás, que são,
respectivamente, os modos de criação e destruição.
O iniciado então "prevê, transforma e faz".
A palavra para "prever" é Tsofe e, como foi discutido antes, esta palavra significa
intuição mística e previsão.
Se o iniciado tiver chegado ao estado adequado, alcança uma intuição mística
através da qual pode perceber a essência interna de todas as coisas.
Ele pode então empenhar-se no processo descrito anteriormente, onde o Sêfer
Ietsirá diz: "examina-as e perscruta delas" (1:4).
Quando o iniciado alcança este elevado nível, pode também "transformar",
mudando de fato as coisas físicas.
Pode até mesmo "fazer", criar coisas no mundo físico.
Mais importante é a realização final: "Tudo o que é formado e tudo o que é falado é
um Nome".
O iniciado não só sabe isto intelectualmente, mas também pode visualizá-lo
realmente e ver que toda a Criação não é mais que um Nome, o Tetragrammaton.

Um sinal desta coisa, 22 objetos...


Isso foi comentado antes e se refere ao capítulo inteiro.
"Vinte e dois objetos em um único corpo" é um sinal de que o iniciado completou a
disciplina e dominou-a plenamente.
Ele usa assim cada uma das 22 letras para formar uma imagem mental de uma
parte diferente do corpo.
Cada uma delas pode assim ser formada separadamente.
A capacidade para completar partes separadas não constitui, entretanto, a maestria
do método do Sêfer Ietsirá.
A prova final é a capacidade para reunir os 22 objetos em um corpo único.
Este é o processo para completar um Golem mental.
O iniciado deve não só formar todas as partes, mas também reuni-las todas de
fato.
Isto significa que, enquanto se acha envolto na meditação para criar uma parte,
não deve perder sua imagem mental das partes já formadas antes.
Ou seja, conforme se forma cada parte, deve ser retida na mente, com as imagens
subseqüentes acrescentadas a ela, parte por parte.
A quantidade de disciplina mental, junto com a natureza avançada da técnica
meditativa requerida para isso, acha-se virtualmente além de toda descrição.
A criação de um Golem mental é então uma culminação das artes do Sêfer Ietsirá,
assim como um teste para determinar se alguém as dominou.
Em geral, estas não envolvem a criação real de um Golem físico, já que esta só era
feita em ocasiões muito especiais.
Os cabalistas advertem que tal empresa não deve ser tentada sem permissão do
Alto.

Continua

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