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Sobre a transliteração
As regras de transliteração adotadas e aplicadas visam, antes de mais nada,
facilitar ao máximo a leitura das palavras hebraicas.
Portanto, este sistema não diferencia graficamente determinadas letras, como Chaf
(Caf ou Kaf) ( ) e Chet ( ), que tem som de “rr” como em “carro”, e utiliza sempre
o “CH” para designá-las.
O mesmo ocorre com as letras Caf e Cof (ou Cuf, ), que tem som de “C” como em
carro, e utiliza o “C” para designá-las, exceto na frente das vogais “E” e “I”, quando
só então utiliza o “K”, resultando assim “Ke” e “Ki”.
O “H” designa a letra Hê (ou Hei) ( ), que tem som aspirado com em "half" em
inglês.
No final das palavras, o som da Hê é mudo e, portanto, não foi transcrito, exceto
na palavra “Yah”.
O “R” designa a letra Resh ( ), que tem som de “r” aberto como em “caro”, tanto
no início como no meio ou no fim de uma palavra.
Estas regrinhas foram aplicadas também neste trabalho, de forma geral.
Mas como surgiram questões que exigiam uma diferenciação gráfica de algumas
letras com som similar, fomos obrigados a abrir algumas exceções onde isto era
indispensável graficamente.
Assim, às vezes “Q” ou “K” aparecem representando a letra Cof ( ), e “Y” (ao invés
de “I”) representando a consoante Yod ( ).
Ficou insolúvel a diferenciação gráfica entre Samech ( ) e Shin ( ), Têt ( ) e
Tav ( ).
Aos leitores que realmente tencionam entender este livro, sugiro algumas lições de
hebraico, principalmente noções básicas de leitura.
A leitura deste livro será completamente diferente.
O Sêfer Ietsirá - Introdução
O Sêfer letsirá é, sem dúvida, o mais antigo e mais misterioso de todos os textos
cabalísticos.
Os primeiros comentários sobre este livro foram escritos no século X, e o texto em
si é citado como do século VI.
Referências ao trabalho aparecem já no século I, enquanto a tradição considera sua
existência desde os tempos bíblicos.
Este livro é tão antigo que sua origem não é acessível aos historiadores.
Somos totalmente dependentes da tradição com respeito a sua autoria.
Igualmente misterioso é o sentido deste livro.
Se o autor pretendeu ser obscuro, ele foi eminentemente bem-sucedido.
É unicamente através da mais cuidadosa análise de cada palavra e seu paralelismo
na literatura bíblica e talmúdica que seu halo de obscuridade começa a ser
penetrado.
Há muitas interpretações do Sêfer Ietsirá.
Seus primeiros comentadores experimentaram interpretá-lo como um tratado
filosófico, mas seus esforços lançaram mais luz sobre seus próprios sistemas que
sobre o texto.
O mesmo é dito dos esforços para encaixá-lo no sistema do Zohar ou dos cabalistas
posteriores.
Esforços para vê-lo como um livro de gramática ou fonética são, todavia, mais
discutíveis.
Em geral, a Cabala se divide em três categorias: teórica, meditativa e mágica.
A Cabalá teórica, que em sua presente forma, é baseada fundamentalmente no
Zohar, trata principalmente da dinâmica do domínio espiritual, especialmente os
mundos das Sefirot, almas e anjos.
Este ramo da Cabalá alcançou seu zênite nos escritos da Escola de Safed, no século
XVI.
Inclui-se nessa categoria a grande maioria dos textos publicados.
A Cabalá meditativa trata do uso de nomes Divinos, permutações de letras e
métodos similares para alcançar estados superiores de consciência.
Assim entendido, compreende um tipo de ioga.
Muitos dos principais textos nunca foram publicados, porém permanecem
espalhados em manuscritos nas grandes bibliotecas e museus.
Alguns de seus métodos experimentaram um breve renascimento em meados de
1700 com o surgimento do movimento chassídico, mas meio século depois eles já
haviam sido esquecidos em grande parte.
A terceira categoria da Cabala — a mágica — está intimamente relacionada à
meditativa.
Ela consiste em diversos sinais, encantamentos e nomes Divinos através dos quais
se poderá influenciar ou alterar os eventos naturais.
Muitas de suas técnicas são intimamente parecidas com os métodos meditativos e
seu êxito pode depender de sua habilidade para induzir a estados mentais onde os
poderes telecinético e espiritual podem ser canalizados efetivamente.
Assim como a segunda categoria, os mais importantes textos nunca foram
impressos, ainda que alguns fragmentos tenham sido publicados.
O livro Raziel é um exemplo.
Um estudo cuidadoso indica que o Sêfer Ietsirá é um texto meditativo com fortes
insinuações mágicas.
Esta posição é apoiada pelas mais antigas tradições talmúdicas, as quais indicam
que ele poderia ser usado para criar seres vivos.
Especialmente significativos são os muitos testemunhos e lendas nos quais o Sêfer
Ietsirá é usado para criar um Golem, um tipo de andróide místico.
Os métodos do Sêfer Ietsirá parecem envolver meditação; e é muito provável que
tenha sido originalmente escrito como um manual de meditação.
Um dos maiores filósofos do século XII estabeleceu que o livro não contém
Filosofia, mas sim mistérios Divinos.
Isso se torna claro no comentário de um dos maiores cabalistas, Isaac o Cego
(1160-1236), que enfatiza os aspectos meditativos do texto.
Isto é particularmente evidente em um manuscrito muito antigo do Sêfer Ietsirá
que data do século X ou antes.
O colofão introdutório afirma: "Este é o livro das Letras de Abraham, nosso pai, e
se chama Sêfer Ietsirci, e quando alguém olha (Tsofe) nele, não há limites para sua
sabedoria".
É oportuno dizer que a palavra hebraica "Tsofe" não denota um mero olhar físico,
mas sim um insight místico-meditativo.
Portanto, esta muito antiga fonte apoiaria a posição de que o Sêfer Ietsirá foi
destinado a ser usado como um texto meditativo (conforme se lerá no parágrafo
1:6).
Os comentários que tratam o Sêfer Ietsirá como um texto teórico lêem a maior
parte dele em terceira pessoa: "Ele combinou", "Ele formou" e assim por diante.
De acordo com esta leitura, o texto está se referindo à criação realizada por Deus.
Em muitos casos, entretanto, a forma gramatical se parece muito mais com o
imperativo.
O autor está dizendo ao leitor que "combine" e "forme" como se ele estivesse
realmente dando instruções.
Em muitos outros casos, o texto é instrutivo e sem ambigüidade, como em
passagens quando diz: "se teu coração corre, volta ao lugar", ou "entende com
sabedoria e sê sábio com entendimento".
Em vez de ter o texto oscilando entre a terceira pessoa e o imperativo, seria mais
lógico lê-lo todo no imperativo.
O Sêfer Ietsirá torna-se, assim, um manual de instrução para um tipo muito
especial de meditação.
Por deferência à maioria dos comentários, temo-nos abstido de traduzi-lo no
imperativo, mas as implicações de tal leitura é discutida no comentário.
No Sêfer Ietsirá temos então o que parece ser um manual de instruções que
descreve certos exercícios meditativos.
Existe alguma evidência de que estes exercícios pretendiam fortalecer a
concentração do iniciado, e eram particularmente efetivos no desenvolvimento de
poderes telecinéticos e telepáticos.
Com estes poderes, alguém seria capaz de realizar façanhas que, de fora,
pareceriam mágicas.
Tudo isto se apóia em referências talmúdicas que parecem comparar o uso do Sêfer
Ietsirá a um tipo de magia branca.
No século XIII, um importante comentador escreve que, aos estudantes do Sêfer
Ietsirá, era dado um manuscrito do livro Raziel, um texto mágico que contém selos,
figuras mágicas, nomes Divinos e encantamentos.
O Texto
O Sêfer Ietsirá é um livro muito pequeno e conciso.
Em sua Versão Curta constam somente 1.300 palavras, e a Versão Longa tem
aproximadamente 2.500 palavras.
A Versão "Gra" usada na presente tradução contém perto de 1.800 palavras.
Tão pequeno é o texto que um dos mais antigos fragmentos parece ter todo o livro
escrito em uma única página.
Especula-se que a fonte original conteria não mais de 240 palavras.
O texto atual consta de seis capítulos e, em algumas edições, diz-se que estes
correspondem às seis ordens da Mishná.
Algumas fontes antigas dizem, entretanto, que o livro contém cinco capítulos e é
possível que os atuais quinto e sexto capítulos tenham sido transformados em
apenas um.
O comentador mais antigo, Saadia Gaon, em uma versão um tanto diferente, divide
o livro em oito capítulos.
O texto é apresentado dogmaticamente, sem substanciação nem explicação.
O primeiro capítulo em particular é solene e sonoro, assemelhando-se em estilo a
uma poesia de verso livre, ou seja, sem métrica definida.
Muito poucas passagens bíblicas são citadas e, com exceção de Abraham, não se
menciona nenhum nome nem autoridade.
O livro parece estar dividido em quatro partes básicas.
O primeiro capítulo introduz as Sefirot, falando extensamente delas.
Nos capítulos seguintes, entretanto, não há qualquer menção acerca das Sefirot.
Isto deu lugar à especulação de que o Sêfer Ietsirá seja realmente uma combinação
de dois (ou mais) textos antigos.
O segundo capítulo consiste em uma discussão geral sobre as letras do alfabeto.
É claro que se está introduzindo seu uso em um contexto meditativo.
Também neste capítulo se apresentam as cinco famílias fonéticas e aos 231
Portões.
Depois não se volta a mencionar nem um desses conteúdos no resto do livro.
Nos capítulos três, quatro e cinco discute-se as três divisões das letras "mães,
duplas e elementares".
São relacionadas ao "Universo, alma e o ano", apresentando-se um sistema
astrológico amigavelmente bem detalhado.
Nestes capítulos muda-se por completo o modo do livro e não há virtualmente
nenhum indício de seus aspectos meditativos, que, entretanto, pode explicar-se por
um princípio que aparece em muitos textos cabalísticos posteriores.
Para poder focalizar os poderes mentais e espirituais há que se levar em conta o
tempo e o meio ambiente astrológicos.
Também o sexto capítulo não guarda uma clara conexão com as partes anteriores
do texto, ainda que na Versão Longa seja apresentado quase como um comentário.
Nesse capítulo introduz-se — pela vez primeira — os conceitos de "eixo, ciclo e
coração", idéias que não mais serão discutidas em nenhum outro lugar das
literaturas hebraica e cabalística, com exceção do Bahir.
Este parece ser o mais obscuro de todos os capítulos e é difícil decidir se sua ênfase
é teórica ou meditativa.
O capítulo conclui com uma estrofe, que vincula o Sêfer Ietsirá a Abraham.
Esta citação serve de fonte para a tradição que afirma que o Patriarca é o autor do
livro.
Autoria
A mais antiga fonte a que o Sêfer Ietsirá é atribuído refere-se ao Patriarca
Abraham.
Já próximo do século X, Saadia Gaon afirma que "os antigos dizem que Abraham o
escreveu.
Esta opinião é apoiada por quase todos os primeiros comentadores.
Textos cabalísticos antigos, como o Zohar e Raziel, também atribuem o Sêfer
Ietsirá a Abraham.
Igualmente, alguns manuscritos muito antigos do Sêfer Ietsirá começam com um
colofão que o titula "As Letras de Abraham, nosso Pai, que é chamado Sêfer
letsirá".
Isto não significa, entretanto, que todo o livro em sua forma atual tenha sido
escrito por Abraham.
Como Saadia Gaon declarou, os princípios do Sêfer Ietsirá foram, em primeiro
lugar, ensinados por Abraham, mas, de fato, não se reuniram em um livro senão
muito depois.
Outra autoridade faz notar que ele realmente não poderia ter sido escrito por
Abraham, pois, se assim fosse, certamente teria sido incorporado à Bíblia, ou ao
menos mencionado nas Escrituras.
Igualmente, quando o Zohar fala dos livros anteriores à Torá, não inclui o Sêfer
letsirá entre eles.
A atribuição a Abraham se apóia na estrofe final do Sêfer Ietsirá: "Quando
Abraham... olhou e investigou.., teve êxito na criação..."
Esta passagem sugere claramente que Abraham fez efetivamente uso dos métodos
propostos no texto.
Em muitas edições do Sêfer letsirá propõe-se como evidência bíblica o seguinte
versículo: "Abraham foi como Deus lhe havia dito, e Abraham tomou... as almas
que eles haviam feito em Haran" (Gênesis 12:5).
De acordo com alguns comentários, isto indica que Abraham usou, de fato, os
poderes do Sêfer Ietsirá para criar pessoas.
Este seria o exemplo mais antigo do uso do Sêfer Ietsirá para se criar um Golem.
De acordo com isso, Abraham teria aprendido como usar os mistérios do Sêfer
Ietsirá antes que Deus lhe mandasse abandonar Haran.
Outras autoridades, entretanto, dizem que "fazer almas" se refere a convertê-las à
crença em um Deus único e verdadeiro; esta é também a opinião do Zohar.
Alguns comentários tentam reconciliar ambos pontos de vista e explicam que, com
os milagres realizados mediante o Sêfer letsirá, Abraham pôde convencer pessoas
do poder de Deus, convertendo-as à verdadeira fé.
A Escritura declara: "as almas que eles haviam feito", no plural. Isto indicaria que
Abraham não estava só em seu uso do Sêfer letsirá, mas que tinha um
companheiro.
Um Midrash afirma que, se Abraham houvesse se engajado nos segredos da criação
sozinho, teria ido demasiado longe na emulação de seu Criador; assim, ele
trabalhou juntamente com Shem, o filho de Noé.
As fontes antigas identificam Shem a Melquisedec, que abençoou Abraham e lhe
ensinou muitas das tradições primitivas.
Os mistérios mais importantes do Sêfer Ietsirá são os relativos ao significado
interno das letras do alfabeto hebraico.
Aqui também descobrimos que Abraham era um mestre nesses mistérios.
Um Midrash nos diz que "as letras não foram dadas a nenhum outro senão
Abraham."
Como veremos no comentário (1:3), a organização dos animais, quando Abraham
fez sua aliança com Deus, também parece estar baseada nos mistérios do Sêfer
Ietsirá.
Mais argumentos que vinculam o Sêfer Ietsirá a Abraham encontram-se no
ensinamento talmúdico de que "Abraham tinha muita astrologia em seu coração, e
todos os reis do leste e do oeste se apresentaram à sua porta‖.
O Sêfer Ietsirá é um dos primeiros e mais antigos textos astrológicos e é possível
que incorporasse os ensinamentos astrológicos de Abraham.
O fato de esta astrologia estar "em seu coração" também poderia significar que
envolveria várias técnicas meditativas, como era em verdade o caso com a
astrologia antiga, e isto também é sugerido pelo Sêfer Ietsirá.
Há evidências de que esses mistérios foram transmitidos a Abraham por Shem,
junto com o mistério do calendário (Sod Ha-Ibur).
Quando Deus se revelou a Abraham, uma das primeiras coisas que Deus falou para
ele foi para não ser excessivamente dependente das predições astrológicas.
Abraham era também plenamente consciente dos usos mágicos e idólatras que
podiam desenvolver-se a partir destes mistérios.
O Talmud nos diz que Abraham tinha um tratado sobre idolatria que constava de
400 capítulos.
Há também um ensinamento talmúdico que afirma que Abraham ensinou os
mistérios sobre os "nomes impuros" aos filhos de suas concubinas.
Isto se baseia no versículo "aos filhos das concubinas, Abraham deu presentes, e os
mandou embora para as terras do leste" (Gênesis 25:6).
Estes presentes consistiram em mistérios ocultos, que se estenderam então pela
Ásia Oriental.
A atribuição a Abraham dos mistérios do Sêfer Ietsirá colocaria sua origem no
século XVIII antes da era comum.
Isto não surpreende muito porque textos místicos, como as escrituras védicas,
datam desse período, e há razão para crer que a tradição mística estava mais
avançada no Oriente Médio do que na índia naquela época.
Sendo Abraham o maior místico e astrólogo de sua época, é natural assumir que
ele estava familiarizado com os mistérios do antigo Egito e da Mesopotâmia.
Afinal, Abraham nasceu lá e também viveu no Egito.
O segundo lugar onde aparece o uso do Sêfer Ietsirá é em uma tradição sobre os
filhos mais velhos de Jacob, que afirma que eles o usaram para criar animais e
donzelas.
Quando a Escritura diz que "José levou uma má notícia (a respeito de seus irmãos)
a seu pai" (Gênesis 37:2), está se referindo a isso.
Os irmãos de José haviam comido um animal sem matá-lo adequadamente e José
não sabia que o animal havia sido criado mediante o Sêfer Ietsirá e, portanto, não
necessitava tal morte.
Reportou então que seus irmãos haviam comido "carne de um animal vivo".
Os mistérios do Sêfer Ietsirá foram usados novamente após o Êxodo quando os
israelitas estavam construindo o Tabernáculo no deserto.
O Talmud diz que Betzalel foi escolhido para construir este Tabernáculo porque ele
"sabia como permutar as letras com as quais o céu e a terra foram criados" .
Tal conhecimento esotérico era necessário, visto que se pretendia que o
Tabernáculo fosse um microcosmo, traçando um paralelo simultâneo com o
Universo, o domínio espiritual e o corpo humano.
Não era suficiente a mera construção de um edifício físico.
Na construção, o arquiteto tinha de meditar no significado de cada parte e imbuí-las
com as propriedades espirituais necessárias.
O Talmud deriva tudo isto do versículo onde Deus diz: "Eu chamei por seu nome, a
Betzalel... e o enchi com o espírito de Deus, com sabedoria, entendimento e
conhecimento" (Êxodo 31:2-3).
"Sabedoria, Entendimento e Conhecimento" (Chochmá, Biná e Daát) referem-se a
estados de consciência que discutiremos extensamente.
Tais estados de consciência são obtidos mediante a manipulação das letras.
As fontes silenciam acerca do Sêfer Ietsirá até o tempo do profeta Jeremias.
Aqui novamente encontramos a tradição de que Jeremias queria fazer uso do Sêfer
letsirá, mas, como no caso de Abraham, foi advertido a não fazê-lo sozinho.
Tomou então a seu filho, Ben Sirá, e os dois, juntos, exploraram os mistérios.
Mediante seus esforços, chegaram a criar um Golem, mas não o preservaram.
É possível que tenha havido mais de uma pessoa com o nome Ben Sirá, mas o
desta tradição era claramente o filho de Jeremias.
Há uma tradição fascinante a respeito de seu nascimento.
Jeremias havia sido abordado por homossexuais na casa de banhos e, como
conseqüência, havia experimentado uma ejaculação na banheira.
Seu sêmen permaneceu sendo viável e, quando sua filha usou depois a mesma
banheira, foi fecundada por ele, dando à luz a Ben Sirá.
Ben Sirá era, portanto, o filho de Jeremias e de sua filha.
Algumas fontes dizem que seu nome original era Ben Zéra (Filho do Sêmen), mas
quando este nome tornou-se embaraçoso, mudou-o para Ben Sirá.
Devido à natureza delicada de seu nascimento, ele não chamou a si mesmo "filho
de Jeremias".
Existe entretanto uma alusão em seu nome, pois Sirá ( ) e Jeremias ( )
têm ambos o valor numérico de 271.
Autoridades posteriores usaram este incidente como prova de que a inseminação
artificial não constitui adultério ou incesto.
Estas tradições são de particular interesse, pois existem muitos indícios de que
Jeremias ensinou estes mistérios a um certo Iossef, filho de Uziel, filho de Ben Sirá.
Existe também ao menos uma fonte que estabelece que Ben Sirá realmente
ensinou o Sêfer Ietsirá a lossef ben Uzie1.
O que é mais interessante é que existem indícios de que este mesmo lossef ben
Uziel possa ter escrito um comentário sobre o Sêfer Ietsirá, ou inclusive uma das
primeiras versões do texto em si.
Isto é importante porque situaria a primeira versão do Sêfer Ietsirá nos primeiros
anos do Segundo Templo.
Esta foi também a época da Grande Assembléia, que pôs por escrito alguns dos
últimos livros da Bíblia, como Ezequiel, por exemplo, encerrando assim o Cânon
Bíblico.
Grande parte do serviço de oração regular hebraico foi também composto por esta
Assembléia.
Como essas orações, o Sêfer letsird ainda não havia sido escrito, mas apenas
ensinado de memória.
O Período Talmúdico
No período talmúdico acontece a transição da tradição para a história.
Encontra-se no Talmud uma menção real do Sêfer Ietsirá e, embora não seja
absolutamente certo que seja idêntica à nossa versão, tampouco existem
verdadeiras razões para duvidar que ambos os textos sejam os únicos e os
mesmos.
Na época talmúdica, o Sêfer Ietsirá começou como um ensinamento oral e, com o
tempo, foi colocado em forma de livro e usado pelos sábios.
A primeira referência de tal uso implica a Rabi Iehoshua (ben Chanania), um sábio
líder do primeiro século.
Atribui-se a ele a afirmação: "Posso pegar sucos e abóboras e, com o Sêfer Ietsirá,
convertê-los em belas árvores. Elas, por sua vez, produzirão outras belas árvores".
Ainda que a frase "com o Sêfer Ietsirá" não apareça nas edições impressas do
Talmud de Jerusalém, esta se encontra em manuscritos.
A referência a Rabi Iehoshua é muito significativa.
Ele foi um dos cinco principais discípulos de Raban Iochanan ben Zacai (47 a.e.c. -
73 d.e.c), líder de todos os judeus depois da destruição do Templo e reconhecido
conhecedor em todas as artes ocultas.
Rabi Iehoshua foi o principal discípulo de Raban lochanan nos mistérios da
"Mercabá" (Carruagem) e este último alcançou a fama de ser o maior conhecedor
de seu tempo no oculto.
Isto também lança luz sobre outra personalidade mística importante.
Segundo outra fonte antiga, Rabi lehoshua também recebeu a tradição de Rabi
Nechunia ben HaCaná, líder da escola que produziu o Bahir.
No Sêfer Há-Taguin encontramos que a tradição a respeito do significado místico
das coroas (Taguin) sobre as letras hebraicas foi transmitida da seguinte maneira:
"Menachem passou a Rabi Nechunia ben HaCaná, Rabi Nechunia ben HaCaná deu-a
a Rabi Elazar ben Arach, Rabi Elazar ben Arach transmitiu-a a Rabi Iehoshua que,
por sua vez, passou-a para Rabi Akiva".
Rabi Elazar ben Arach é mais conhecido como o maior discípulo de Raban Iochanan
ben Zacai.
Sabe-se também que aprendeu os mistérios da "Mercabá" de Raban lochanan.
Vemos da tradição anterior que também aprendeu de Rabi Nechunia, possivelmente
depois de deixar Raban Iochanan.
O Talmud relata que Rabi Elazar foi viver junto ao rio Dismas, na cidade de Emaús.
Sabe-se também que Emaús era o lugar de Rabi Nechunia e um centro geral de
ensinamentos cabalísticos.
É muito provável que Rabi Elazar tenha se envolvido tanto com o misticismo que,
como o Talmud reporta, perdeu sua compreensão em matérias legais.
Também é significativo o fato de Rabi Nechunia ter recebido a tradição de
Menachem.
Sabe-se que Rabi Nechunia era o principal místico do século I, assim como colega
de Raban Iochanan ben Zacai.
Não se tem dados, entretanto, sobre quem foram seus mestres.
Do Sefer HaTaguin aprendemos que Rabi Nechunia aprendeu ao menos alguns dos
mistérios de Menachem, que serviu como vice-presidente do San’hedrin (Corte
Suprema) sob o mandato de Hilel.
Quando Menachem demitiu-se de seu cargo, Shamai foi designado em seu lugar.
A maioria das autoridades identificam este indivíduo como Menachem, o Essênio,
citado por Josefo.
Em certa ocasião, Menachem viu Herodes ainda criança e profetizou que ele
chegaria a ser Rei.
Por causa disso, quando Herodes ascendeu ao trono, honrou a Menachem e aos
demais essênios.
Devido a seu relacionamento com Herodes, Menachem não pôde manter sua
posição no San'hedrin.
Se aceitarmos a tradição anterior, Nechunia ben HaCaná poderia ter recebido ao
menos algo do conhecimento místico de Menachem, o Essênio, o que indicaria que
os essênios eram entendidos nas artes místicas, e que as ensinaram ao menos para
alguns dos mestres talmúdicos.
Josefo afirma que os essênios faziam uso dos nomes angélicos e que podiam
predizer o futuro mediante diversas purificações e métodos dos profetas.
O que é mais significativo é que Josefo também identifica os essênios com os
pitagóricos.
Devido ao fato de o Sêfer Ietsirá aparentemente conter alguns elementos que
lembram as técnicas dos pitagóricos, é possível que o texto tenha sido preservado
pelos essênios durante o período que precedeu ao Talmud.
Rabi Elazar ensinou a tradição relativa às coroas sobre as letras a Rabi lehoshua
que, por sua vez, transmitiu-a a Rabi Akiva (12-132 d.e.c).
Rabi Akiva sobressaiu-se nesta área e o Talmud assinala que ele podia derivar
muitos ensinamentos importantes destas coroas.
Também recebeu a tradição da "Mercabá" de Rabi Iehoshua, assim como outros
conhecimentos ocultos importantes.
Não resta dúvida que, em seu tempo, Rabi Akiva foi considerado o maior de todos
os conhecedores do domínio místico.
Rabi Shimon bar Iochai, autor do Zohar, foi discípulo de Rabi Akiva.
Não é de causar surpresa que algumas fontes atribuam a autoria do Sêfer Ietsirá a
Rabi Akiva.
A maioria dos primeiros textos talmúdicos tiveram sua origem em Rabi Akiva, que
os transmitiu oralmente de uma forma bem definida.
Ainda que esses livros não fossem escritos, haviam sido compostos por Rabi Akiva
e era a sua redação que era ensinada oralmente.
Naquele tempo, existia a regra de que a tradição oral fosse recapitulada
exatamente, palavra por palavra, precisamente como havia sido dada.
A norma era: "Alguém deve sempre repassar as palavras precisas de seu mestre."
E cada mestre proporcionaria assim um programa de estudo que seus discípulos
memorizariam palavra por palavra.
No campo legal isto era conhecido como a "Primeira Mishná" .
É possível que Rabi Akiva também tenha produzido um texto oral do Sêfer letsirá
para que seus alunos do conhecimento místico o memorizassem.
Além disso, suas notas pessoais podem ter sido guardadas.
Neste respeito, o Sêfer Ietsirá não teria sido diferente do resto da tradição oral.
Ainda que sua finalidade fosse a de ser transmitida oralmente, não sendo de fato
publicada, suas notas pessoais e manuscritos foram guardados.
Isto era especialmente verdadeiro para importantes técnicas de ensinamento que
não eram vistas nas academias, assim como em textos esotéricos.
Do mesmo modo, os chefes das academias haviam escrito anotações para
preservar exatamente as tradições.
Ainda que tais notas nunca fossem publicadas, eram cuidadosamente preservadas
nas academias.
Os mestres seguintes freqüentemente acrescentavam notas marginais aos
manuscritos, e tais notas encontram-se, às vezes, inclusive nos rolos bíblicos que
usavam.
Devido ao fato dessas notas serem preservadas por indivíduos privados, e nunca
serem distribuídas publicamente, eram conhecidas como "os rolos ocultos"
(Meguilat Setarim).
Nesta categoria incluía-se não só material esotérico, como o Sêfer Ietsirá, como
também material legal, como a Mishná, cuja transmissão devia ser oral.
Isto pode ajudar a explicar por que o Sêfer Ietsirá existe em tantas versões.
Diferente da Mishná, que com o tempo foi publicada em uma edição bem definida,
o Sêfer Ietsirá nunca evoluiu para além do estado de ser um "rolo oculto".
Diferentes versões podem ter sido ensinadas por vários mestres e, como o texto
nunca foi abertamente publicado, não havia modo de comparar e corrigir essas
diferentes versões.
Além disso, pode ser que muitas notas marginais foram incorporadas ao texto,
produzindo-se diferentes versões, o que explicaria o fato de não existir outro
clássico hebraico em tantas variantes e versões como o Sêfer Ietsirá.
Parece muito provável que o Sêfer Ietsirá existia já em sua forma presente quando
a Mishná foi redigida no ano 204 e.c.
O editor da Mishná foi Rabi lehudá, o Príncipe (135-220), chamado simplesmente
de "Rabi".
É certamente possível que exista uma referência concreta ao Sêfer Ietsirá na
Mishná.
Em um dos poucos lugares onde se discute o conhecimento esotérico, a Mishná
afirma: "Os mistérios da Criação (Maasse Bereshit) não podem ser expostos na
presença de dois discípulos, e os mistérios da Mercabá (Maasse Mercabá) não
podem ser expostos inclusive na presença de apenas um, a menos que seja sábio e
compreenda seu conhecimento".
O termo "Maasse Mercabá" refere-se aos métodos meditativos empregados para
ascender aos domínios espirituais superiores.
Ainda que filósofos posteriores, tais como Maimônides, sustentassem que isto
envolvia especulação filosófica, as mais antigas fontes claramente estabelecem que
"Maasse Mercabá" tratava de métodos meditativos usados para a ascensão
espiritual.
Como tal, este foi considerado o mais esotérico de todos os exercícios espirituais.
De acordo com muitas autoridades, "Maasse Bereshit" refere-se aos mistérios do
Sêfer Ietsirá.
Como sabemos que "Maasse Mercabá" era de natureza mística, é lógico supor que o
mesmo era verdadeiro para "Maasse Bereshit".
Além disso, a suposição de que "Maasse Bereshit" incluía o Sêfer Ietsirá esclarece
também um bom número de referências talmúdicas de outra maneira obscuras.
Existe também evidência de que Rabi estava familiarizado com os mistérios da
Mercabá, e é lógico supor que conhecia o Sêfer Ietsirá.
Assim, uma geração depois, tem-se o relato de dois discípulos de Rabi claramente
envolvidos nos mistérios do Sêfer Ietsirá.
O Talmud diz que "Rabi Chanina e Rabi Hoshia dedicavam-se ao Sêfer Ietsirá toda
sexta-feira, antes do Shabat, e criavam para si um novilho, e o comiam".
Uma outra versão deste mesmo relato diz que se ocupavam de "Hilchot letsirá"
(Leis da Criação) em vez de Sêfer Ietsirá.
O termo Hilchot pode, entretanto, aplicar-se tanto a regras filosóficas como legais.
De fato, em alguns manuscritos mais antigos, o Sêfer Ietsirá realmente é intitulado
de "Hilchot Ietsirá".
Existem muitas interpretações sobre o que exatamente os dois sábios conseguiam
criando tal novilho e por que o faziam.
Alguns dizem que não criavam de fato um novilho físico, mas sim uma imagem
meditativa com tal clareza que a satisfação espiritual era similar à da comida.
Um cabalista do quilate de Abraham Abulafia (1240-1296) sustenta inclusive que
sua criação era mística, e não física.
O Rashba (Rabino Shelomo ben Aderet, 1235-1310) viu um significado particular
no fato de eles se ocuparem daquilo na sexta-feira, o dia da criação original dos
mamíferos.
Toda esta questão será discutida depois em nosso comentário.
Evidentemente, Rabi também ensinou os mistérios a seu discípulo Rav (Aba
Arichta), que por sua vez os ensinou a Rabi lehudá (220-299 e.c.), fundador e
primeiro mestre da academia babilônica em Pumpedita.
Rabi lehudá, junto com Rabi Aina, eram chamados de "Anciões de Pumpedita".
O Talmud relata que os "Anciões de Pumpedita" estavam versados (Tanu) em
(Maasse Bereshit).
O uso da palavra Tanu evidencia que Maasse Bereshit já existia em uma forma
definida, muito provavelmente como um livro escrito.
Isto sugere que o Sêfer Ietsirá já estava escrito.
Existe também outra evidência de que Rabi lehudá aprendeu os mistérios do Sêfer
Ietsirá de Rav.
O ensinamento de que "Betsalel sabia permutar as letras com as quais o céu e a
terra foram criados" é atribuído a "Rabi lehudá em nome de Rav".
Também é atribuído a ele a afirmação de que Deus revelou a Abraham que "saísse
de sua astrologia", o que indica que ele tinha alguma evidência de que Abraham
era versado em astrologia, uma posição que se encontra claramente no Sêfer
Ietsirá.
Existem provas também que Rabi lehudá aprendeu de Rav os mistérios do Nome de
42 letras.
Na qualidade de iniciado nos mistérios do Sêfer Ietsirá, Rabi Iehudá havia tido
também um profundo entendimento do significado místico da língua hebraica.
Descobrimos assim que ele enfatizou o uso da língua hebraica, inclusive na
conversação cotidiana.
Rabi Iehudá defendia também que a oração devia ser realizada em hebraico e não
no aramaico vernacular.
O Talmud relata que Rabi lossef conhecia os mistérios da Mercabá, enquanto os
"Anciões de Pumpedita" eram versados nos mistérios da Criação.
Rabi Iossef conseguiu que os anciões lhe ensinassem os mistérios da Criação mas
não lhes confiou os mistérios da Mercabá.
Isto indica que os mistérios da Mercabá e do Sêfer Ietsirá eram ensinados por
escolas diferentes, e que os membros de uma escola não conheciam os
ensinamentos da outra.
As duas envolviam-se em diferentes disciplinas e tinha-se o cuidado de mantê-las
separadas.
Isto também responde à pergunta do porquê o Sêfer Ietsirá nunca ser mencionado
nos "Hechalot" (Palácios), o clássico da literatura da Mercabá.
A literatura da Mercabá desenvolveu-se em uma escola que pode não ter tido
acesso ao Sêfer Ietsirá, ainda que alguns de seus membros possam definitivamente
ter sido versados nele.
No mesmo contexto, o Sêfer Ietsirá é mencionado poucas vezes no Zohar, mas
jamais no texto principal.
Naquele período, houve alguns sábios que evitaram por completo tais mistérios.
Um deles foi Rabi Elazar ben Padat, que chefiou a academia de Tibérias após a
morte do Raban lochanan no ano 279 e.c.
Quando Raban Iochanan se ofereceu para ensinar-lhe os mistérios da Mercabá, ele
declinou sob o argumento de que era muito jovem.
Depois da morte de Raban lochanan, quando Rav Assi quis compartilhar estes
mistérios, ele novamente declinou, dizendo: "Se eu fosse digno, teria aprendido-os
de Raban Iochanan, teu mestre" .
Em vez disso, Rabi Elazar adotou uma postura um tanto quanto oposta à das
escolas esotéricas, aceitando o ponto de vista de Rabi Iossi ben Zimra.
Negando que com o Sêfer Ietsirá pudesse realmente criar-se outra vida, disse em
nome de Rabi Iossi: "Se todas as pessoas no mundo se reunissem, não poderiam
criar um único mosquito e imbuí-lo com uma alma" .
Não que Rabi Elazar duvidasse da existência de tais poderes, mas acreditava que
eles não eram mais conhecidos.
Estes poderes, entretanto, existiam na Torá.
Assim, Rabi Elazar disse: "Os parágrafos da Torá não estão em ordem. Se
estivessem em ordem (correta), qualquer um que os lesse seria capaz de (criar um
mundo,) ressuscitar os mortos e realizar milagres".
Uma geração mais tarde encontramos dois importantes sábios ativamente
engajados nos mistérios do Sefer Ietsirá.
O primeiro foi Rava (299-353 e.c.), fundador e primeiro mestre da academia
babilônica de Mechuza.
A ele é atribuído o dito: "Se os justos quisessem, poderiam criar um mundo" .
Seu companheiro foi Rav Zeira, conhecido como o "Santo da Babilônia" .
Tão grandes eram seus poderes meditativos que podia meter os pés no fogo sem
queimar-se.
Ele testava a si mesmo a cada mês para ver se seus poderes haviam diminuído.
Em certa ocasião, foi distraído pelos demais sábios, de modo que falhou; a partir de
então passou a ser chamado de "o pequeno homem dos pés queimados" .
Uma tradição antiga afirma que Rava e Rav Zeira trabalharam juntos durante três
anos meditando no Sêfer Ietsirá.
Quando por fim o dominaram, criaram um bezerro e o abateram, servindo-o em
uma festa para celebrar sua realização.
Eles então perderam seus poderes e tiveram que trabalhar por outros três anos
para restaurá-los.
O Talmud diz que "Rava criou um homem" e o enviou a Rav Zeira.
Quando este viu que o andróide não poderia responder às suas perguntas, ele
percebeu que era um Golem e disse: "retorne ao pó".
O Bahir assinala que o Golem não podia falar porque Rava não estava
completamente livre da corrupção e do pecado, e quanto mais o homem peca, não
pode participar dos poderes do Criador.
Somente Deus pode fazer um homem que pode falar.
Esta é a primeira menção da criação de um Golem na literatura hebraica, mas
vários outros exemplos são relatados na Idade Média.
Até a expressão "Rav criou um homem" possui conotações místicas.
No original se lê RaBA BaRA GaBRA ( ) e, como um cabalista antigo
faz notar, a segunda palavra não é outra que o inverso da primeira.
A terceira palavra acrescenta um Guimel, a terceira letra do alfabeto, para a
palavra que a antecede.
Isto produz uma frase de dez letras com valor numérico de 612, um menos que
613, o número de ossos e vasos sangüíneos do corpo humano.
O homem criado por Rava era, assim, algo menos que humano.
Em muitos aspectos, esta expressão é recordação da palavra Abracadabra
(ABRA CADaBRA - ), que significa literalmente "eu criarei como falo"
Durante o período talmúdico houve muitos sábios que se engajaram nesses
mistérios.
Com o fim desta era, entretanto, uma cortina de silêncio ergueu-se sobre todas as
atividades ocultas.
Parece que um número de livros místicos foi escrito durante o período gaônico que
se seguiu, mas sua origem está envolta em mistério.
Contudo, o conhecimento dessas práticas existiu claramente até o século X, e Hai
Gaon (939-1038) fala de pessoas envolvidas na permutação (Tseruf) mística das
letras.
Textos e Comentários
Não é apenas no período pós-talmúdico que encontramos citações concretas do
Sêfer Ietsirá.
Uma das primeiras referências encontra-se em um poema do Rabino Elazar Kalir,
que viveu provavelmente no quinto ou sexto séculos.
Ele escreve:
Então, desde a eternidade, com dez ditos tiraste
Com escriba, escrita e pergaminho — Dez, Tu acabaste em seis direções,
Dez palavras.
Texto Complementar:
Falar sobre o Sefer Y’tziyrah é falar sobre o ―sistema‖ original que deu origem a
todo o universo como nós o percebemos.
Trata-se do ―mapa‖ da formação que permite ao cabalista dar forma aos seus
pensamentos, ou seja, transformar pensamentos em realidade.
Transformar letras em energia e energia em matéria.
Este é o livro que permite o acesso as ―chaves‖ que abrem todas as portas criadas
no universo conceitual da Realidade Residual e nos dá a possibilidade da liberdade
dos sentidos.
Como tudo o que emana poder, o Sefer Y’tziyrah foi durante muitos séculos um
texto temido, justamente por ser o mapeamento genético do universo.
A simples contemplação de seus ensinamentos já transmite o poder de transformar
a Realidade Residual a nossa volta e abrir novas perspectivas.
Por isso, desde a sua origem, as Chayot Harah (Criaturas Inferiores) tentaram
tomar o controle dos segredos e códigos que emanam desta poderosa ferramenta
espiritual.
Não há como falar apenas do Sefer, é preciso experimentar as portas que ele nos
impulsiona a abrir a todo o momento, ou seja, não adianta apenas compreender
suas palavras, é preciso se arriscar nas trilhas tortuosas da prática cabalística.
O Sefer é o primeiro livro sobre Cabalá e nos foi revelado pelo primeiro ―cabalista
desperto‖ da história: Av’raham (Abraão)– o patriarca.
Para mergulhar nos mistérios da Cabalá Prática é preciso que se tenha alguns pré-
requisitos que o mestre Rav Av’raham Abuláfia nos exige lembrar
permanentemente:
- Equilíbrio Emocional.
- Inteligência.
- Permanência.
- Determinação.
Para Rav Av’raham Abuláfia, não é possível aprender os segredos do Sefer sem o
auxílio de um mestre.
O Sefer não é um livro sobre meditação como qualquer outro livro, é a obra
definitiva sobre os mistérios do universo.
O Sefer é um texto relativamente pequeno, mas com um grande poder construtor
ou destruidor.
Para Rav Abuláfia a autoria do texto atribuída ao patriarca Av’raham está contida
na estrofe final do Sefer Y’tziyrah:
As duas letras, Lamed e Bet, são as únicas no alfabeto inteiro que combinam com
as letras do nome Divino desta maneira.
O número 32 é a quinta potência de dois .
Conforme o Sêfer Ietsirá explica (1:5), as Dez Sefirot definem um espaço de cinco
dimensões: os 32 caminhos correspondem ao número de vértices de um hipercubo
pentadimensional.
Isto não é tão difícil quanto possa parecer.
Uma linha, que tem uma dimensão, tem dois vértices ou terminações.
Um quadrado, que tem duas dimensões, tem quatro (2²) vértices ou cantos.
Um cubo, que tem três dimensões, tem oito (2³) cantos.
Vemos assim que, com a adição de cada dimensão, o número de vértices dobra.
Um hipercubo tetradimensional tem 16 ou vértices, enquanto que um hipercubo
pentadimensional tem 32 ou vértices.
Caminhos
A palavra hebraica usada aqui para "caminhos" é Netivot (
), um vocábulo
que aparece raramente na Escritura.
Muito mais comum é a palavra Dérech (
).
De acordo com o Zohar, há uma importante diferença entre ambas as palavras.
Um Dérech é uma estrada pública, uma rota usada por todo mundo.
Um Nativ, por outro lado, é uma rota pessoal, um atalho aberto por um indivíduo
para seu próprio uso.
É um caminho oculto, sem marcas nem sinalizações, que ele tem que descobrir por
si mesmo e caminhar pelos significados com suas próprias ferramentas.
Os 32 caminhos da Sabedoria são então chamados Netivot.
São caminhos privados que devem ser desbravados por cada indivíduo.
Não há uma auto-estrada aberta para os mistérios.
Cada indivíduo deve descobrir seu próprio caminho.
O valor numérico de Nativ ( ) é 462.
É duas vezes o número dos 231 Portões discutidos logo mais (2:4).
Estes Portões são um meio através do qual se ascende e descende pelos 32
caminhos.
Místico
Estes são os caminhos ditos místicos, Peliyot ( ) em hebraico.
A palavra vem da raiz PALA ( ), que tem a conotação de estar oculto e separado
do mundo em geral.
Estes caminhos não são apenas individuais, como também ocultos, mantidos em
segredo e transcendentais.
Este vocábulo acha-se estreitamente relacionado com a palavra Pêle (
), que
significa "milagre".
Um milagre está separado e é independente das leis do mundo físico.
É também influenciado por forças "ocultas", que são uma ligação com o plano
místico e transcendental.
O mesmo acontece com os caminhos da Sabedoria.
Segundo o Zohar, a palavra Pêle está especificamente relacionada com os caminhos
da Sabedoria.
O tipo de milagre que a palavra Pêle denota realiza-se mediante a manipulação
desses caminhos.
Os métodos para manipulá-los constituem um dos ensinamentos importantes do
Sêfer Ietsirá.
O Sêfer Ietsirá chama depois às três Mães, "um grande segredo místico (muflá)"
(3:2).
A primeira das três Mães é Alef ( ).
Quando se soletra, vê-se que Alef ( ) tem as mesmas letras que Pêle (
).
De acordo com os cabalistas, a letra Alef denota Kéter (Coroa), a mais elevada das
Sefirot.
É a Kéter que se refere Ben Sira quando diz "No que é misterioso (mufla) para ti,
não entre" .
Os cabalistas chamam Kéter de o nível do nada (Áyin).
É neste nível que as leis da natureza cessam de existir e podem, portanto, ser
alteradas.
Como assinala o livro Raziel, as três letras de Pêle (
) representam valores cada
vez mais ocultos.
Segundo as famílias fonéticas definidas pelo Sêfer Ietsirá (2:3), a primeira letra, Pê
( ), pronuncia-se com os lábios; a segunda, Lamed ( ), com a metade da língua, e
a letra final, Alef ( ), com a garganta.
Assim, a primeira letra é pronunciada com a parte mais externa e revelada da boca,
enquanto a última com a mais interna e oculta.
A palavra Pêle denota então a transição do revelado para o oculto.
Sabedoria
Estes 32 caminhos são denominados os caminhos da Sabedoria (Chochmá).
Em um sentido cabalístico, a Sabedoria é considerada como a Mente pura e
indiferenciada.
É pensamento puro que ainda não foi quebrado em idéias diferenciadas.
A Sabedoria é o nível acima de toda divisão, onde tudo é uma unidade simples.
Em reconhecimento deste fato, o Talmud declara: "Quem é sábio (Chacham)?
Aquele que aprende de todo homem".
Este está no nível da sabedoria que todos os homens são um.
Portanto, se alguém está neste nível, deve aprender de todo ser humano, e na
verdade, de toda a Criação.
Segundo o Baal Shem Tov, isso significa que uma pessoa em tal nível de Sabedoria
deve inclusive aprender do Mal.
Este está somente nos níveis abaixo da Sabedoria, onde as pessoas são separadas
em diferentes indivíduos.
Somente nos níveis inferiores existe a divisão entre o bem e o mal.
O Talmud, igualmente, declara: "Quem é sábio? Aquele que percebe o futuro" .
Isto é porque a Sabedoria é a força mental pura que transcende o tempo.
No nível da Sabedoria, o passado, o presente e o futuro não foram ainda
separados.
Portanto, neste nível, alguém pode ver o futuro exatamente como o passado e o
presente.
A antítese da Sabedoria é o Entendimento.
A palavra hebraica para Entendimento é Biná ( ), que vem da raiz BEN (
),
que significa "entre".
O Entendimento é o nível imediatamente abaixo da Sabedoria.
É no nível do Entendimento que as idéias existem separadamente, podendo ser
pesquisadas e compreendidas.
Enquanto a Sabedoria é a Mente pura e indiferenciada, o Entendimento é o nível
onde existe a divisão e onde as coisas são delineadas e definidas como objetos
separados.
No nível da Sabedoria, todos os homens são incluídos em uma única alma do
mundo.
O Entendimento é o nível da Neshamá onde a alma de cada indivíduo assume uma
identidade distinta e cada um é visto como uma entidade separada.
O Nome Divino associado com o Entendimento é Elohim.
Esta é uma palavra plural, já que Entendimento implica numa pluralidade de forças.
E é o nome Elohim que é usado em todo o primeiro capítulo do Gênesis para
descrever o ato da Criação.
As 32 vezes que este nome aparece correspondem aos 32 caminhos da Sabedoria.
Isto soluciona uma importante dificuldade: se a Sabedoria é uma Mente simples e
indiferenciada, como pode manifestar-se como 32 caminhos distintos?
Sim, realmente, a Sabedoria é indiferenciada, e é unicamente através do poder do
Entendimento que ela é dividida em caminhos separados.
Os caminhos são então designados mediante o nome Elohim, o nome associado ao
Entendimento.
Um exemplo poderia ser a água fluindo através de um sistema de tubos.
A água em si é um fluido indiferenciado, não tendo estrutura essencial
(macroscópica).
Só lhe impõe a estrutura quando flui através do sistema de tubos (encanamento).
Na analogia, a Sabedoria representa a água, enquanto o Entendimento representa
os tubos que a canalizam.
Os 32 caminhos são expressados como as letras e os números.
Já que eles representam divisão, constituem manifestações do Entendimento.
Portanto, a Sabedoria representa o pensamento não-verbal, enquanto o
Entendimento é sua verbalização.
Neste aspecto, Sabedoria e Entendimento são vistos como sendo macho e fêmea,
respectivamente.
Na Cabalá, a Sabedoria é vista como o Pai (Aba), enquanto Entendimento é a Mãe
(Ima).
O masculino representa força criativa não-canalizada.
Esta só pode ser levada à realização quando delineada, encerrada e canalizada pelo
útero feminino.
Por esta razão, o Sêfer Ietsirá (1:2) chama as letras primárias de "Mães".
Isto também resolve uma outra dificuldade.
Vimos antes que os 32 caminhos representam o coração, desde que a palavra
hebraica para coração, Lev, realmente soletra o número 32 escrito.
O coração, entretanto, associa-se normalmente com Entendimento, enquanto estes
caminhos são ditos pertencer à Sabedoria.
Mas os caminhos meramente canalizam a Sabedoria, enquanto a substância dos
caminhos em si mesmos é o Entendimento.
Gravou
O texto declara que o Criador usou estes 32 caminhos para "gravar", a fim de criar
Seu Universo.
A palavra hebraica empregada aqui é Chacac ( ), que usualmente tem a
conotação de remover material, como no verso, "Grave (chacac) uma morada na
rocha" (Isaías 22:16).
Da mesma raiz derivam as palavras Choc (
) e Chucá ( ), que significam
"regra" e "decreto", já que as regras e as leis servem para tirar algo da liberdade
de ação indivídual.
Assim, a palavra Chacac está intimamente ligada a Ma-chac ( ), que significa
"apagar", e também à raiz La-cach ( ), que significa "tirar" ou "tomar".
A palavra Chacac está estreitamente ligada ao conceito de escrever.
A principal diferença entre gravar (Chacac) e escrever é que, quando alguém
escreve, acrescenta algo material, como a tinta, para escrever em uma superfície,
enquanto que, quando alguém grava, remove material.
Quando a Bíblia usa o termo Chacac para designar escritura, refere-se a sistemas
como o cuneiforme, onde o texto era escrito removendo-se cunhas de argila de
uma tabuleta.
Para compreender por que o autor usa aqui o termo "gravou", devemos entender a
idéia da Criação.
Antes do Universo ser criado, existia um espaço vazio no qual ele pudesse ser feito.
Mas, inicialmente, só Deus existia, e toda a existência estava cheia da Essência
Divina, a Luz do Infinito (Or Én Sof).
Nesta Essência indiferenciada, um espaço vago teve que ser gravado.
O processo, conhecido pelos cabalistas como o Tsimtsum (Constrição), está
claramente descrito no Zohar:
No princípio da autoridade do Rei
A Lâmpada da Escuridão
gravou um vazio na Luminescência Divina...
O vazio gravado na Luminescência Divina foi o Espaço Vago, no qual toda a Criação
subseqüentemente ocorreu.
A Luz indiferenciada do Infinito que existia antes da Constrição está no nível da
Sabedoria, que é a Mente pura e não delineada.
O poder da Constrição é o do Entendimento; isto é, o que o Zohar chama de
"Lâmpada da Escuridão".
É luz negativa, ou existência negativa, que pode gravar um vazio na Essência
Divina.
Esta Constrição ou esvaziamento da Essência Divina não ocorreu no espaço físico,
mas, sem dúvida, num espaço conceitual.
Ela é "vazia" no sentido que contém a possibilidade para informação, mas não
informação de fato.
Como tal, é o "Caos e Vazio" (Tohu e Bohu) mencionados no relato da Criação, tal
como declara a Escritura: "a terra era caos e vazio" (Gênesis 1:2).
O caos é um estado em que a informação pode existir, mas onde ela não existe.33
O vazio foi feito mediante os 32 caminhos, posto que as letras e os dígitos são as
unidades básicas de informação.
Enquanto letras e números ao acaso não comportam de fato informação alguma, no
momento que elas existem, possibilitam também a existência da informação.
O Espaço Vago é então o estado no qual é possível a existência de informação, mas
no qual esta possibilidade ainda não foi realizada.
Essas letras foram posteriormente combinadas em palavras, formando os Dez Ditos
da Criação.
Cada um deles trouxe informação ao Espaço Vago, através do qual a Criação pôde
ter lugar ali.
A ordem foi, portanto, primeiro "gravar" e logo "criar".
O Sêfer letsirá declara então que o Criador "gravou.., e criou seu Universo".
Gravou Yah
Muitos dos comentários cabalísticos traduzem esta expressão como "Ele gravou
Yah...".
Em hebraico, com freqüência a palavra "ele" não é escrita, mas sim subentende-se
da forma verbal.
O pronome "Ele" neste lugar refere-se ao Ser Infinito (Ên Sof) que está acima de
todos os Nomes Divinos.
De acordo com isto, o Sêfer letsirá está dizendo que o Ser Infinito começou a
Criação gravando os Nomes Divinos mediante os 32 caminhos da Sabedoria.
Os Nomes foram escritos com letras; eles só puderam vir à existência depois que
as letras foram criadas.
Da mesma forma, alguns dos primeiros cabalistas interpretaram o primeiro
versículo do Gênesis como sendo: "No princípio Ele criou Elohim, junto com os céus
e a terra".
A primeira coisa que o Ser Infinito criou foi o nome Elohim, que está associado à
Constrição.
Os Nomes Divinos também são paralelos às Sefirot.
Uma vez que o Espaço Vago tenha sido gravado, as Sefirot puderam ser criadas
dentro dele.
A "gravação" desse Espaço esteve então intimamente relacionada a estes Nomes.
Isto também pode ser lido no imperativo: "Com 32 caminhos místicos de
Sabedoria, grava Yah... e cria seu mundo."
Aqui, o termo "grava" significa formar uma clara imagem mental do Nome para
meditar sobre ele, como se discutirá depois (1:14).
O método é aludido nas palavras de Rava: "Se o justo desejasse, poderia criar um
mundo".
Yah
Saadia Gaon o traduz como "o Eterno".
Os cabalistas associam normativamente o nome Yah ( ) com a Sabedoria
(Chochmá).
De fato, somente a primeira letra deste nome, o Yod ( ), designa a Sabedoria.
Sua segunda letra, Hê ( ), designa o Entendimento, o princípio feminino.
A razão pela qual este nome como um todo é usado para designar a Sabedoria é
porque esta não pode ser captada, exceto quando se acha vestida de
Entendimento.
Por isso, o Yod sozinho não é usado como o "nome" para a Sabedoria, mas sim o
Yod combinado com Hê.
Existem várias razões pelas quais estas duas letras representam a Sabedoria e o
Entendimento, respectivamente.
A forma primitiva do Yod é um simples ponto.
Isto alude ao fato de que a Sabedoria é simples e indiferenciada.
O valor numérico do Yod é 10, indicando que todas as Dez Sefirot estão incluídas
na natureza simples da Sabedoria.
No princípio de uma palavra, a letra Yod indica o futuro masculino.
Isto se relaciona com o ensinamento: "Quem é sábio? Aquele que percebe o futuro"
Ao final de uma palavra, a letra Yod, usada como sufixo, significa "para mim" ou
"meu".
A Sabedoria é a natureza essencial do indivíduo, pertencendo só a ele.
Como tal, é o "meu" último.
O mesmo é verdade sobre a Sefirá da Sabedoria (Chochmá) com respeito ao Ser
Infinito.
Hê tem o valor numérico 5, em alusão aos cinco dedos da mão.
Representa Entendimento, a mão que sustenta a Sabedoria, distribuindo-a e
canalizando-a.
No início de uma palavra, o prefixo Hê significa "o/a" "os/as", ele é o artigo definido
que especifica e delineia um objeto.
Como uma mão, o artigo definido sustenta e especifica um conceito que é
específico, mais que geral.
Ao final de uma palavra, Hê indica o possessivo feminino "seu/sua", "dela".
Isto porque o Entendimento está no domínio da Essência Feminina.
He é uma das duas letras do alfabeto hebraico que se escreve com duas partes
separadas.
Alude ao fato de que o Entendimento representa o princípio da separação.
Há certo desacordo no Talmud sobre se Yah é ou não um nome Divino.
O Sêfer Ietsirá assume claramente a posição que sim.
Yah, o Senhor...
Isto se escreve em hebraico como YH YHVH ( ).
E foi com essas seis letras que Deus criou todas as coisas.
Assim está escrito: "Confia em Deus por uma eternidade de eternidades, porque
com o YH YHVH Ele formou Universos" (Isaías 26:4).
Deus de Israel
Está conectado a "Senhor dos Exércitos".
Enquanto a revelação em geral é para todos os exércitos de Deus, ela é outorgada
a Israel, em particular. Como veremos (2:4), o nome Israel está estreitamente
associado aos 231 portões.
Aqui, a palavra hebraica para "Deus" é Elohim, que faz alusão ao Entendimento, o
conceito que divide e delineia.
O Deus Vivente
Este nome está associado às forças criativas essenciais, representadas pela Sefirá
de Iessód (Fundação).
No homem, esta força é análoga ao órgão sexual.
A frase em hebraico é Elohim Chayim.
Esta Sefirá agrupa todas as forças às quais o nome Elohim coletivamente se refere,
e apresenta-as de um modo ativo e procriativo.
Define-se a Vida como o que está ativo e procria, e é daí que esta seja a conotação
de "Deus Vivente".
Rei do Universo
Este é o modo em que Deus Se relaciona com o Universo como um rei, e está
associado com a Sefirá de Malchut (Reino).
De todas as Sefirot, esta é a única que entra em contato direto com os estágios
inferiores da Criação.
Assim, as primeiras cinco designações, "Yah, Senhor dos Exércitos, Deus de Israel,
Deus Vivente, Rei do Universo", designam as Dez Sefirot em seu modo descendente
como sendo a fonte de toda força criativa.
El Shadai
Estes dois nomes são comumente traduzidos como "Deus Todo-Poderoso".
Saadia Gaon, entretanto, os traduz como "Onipotente Todo-Poderoso".
Aqui o Sefer Ietsirá começa a designar as Sefirot de um modo ascendente.
No Bahir, os discípulos perguntam assim: "De cima para baixo nós sabemos. Mas
de baixo para cima não sabemos".
A designação El Shadai também se relaciona com a força procriativa representada
por Iessód (Fundação) e que corresponde ao órgão sexual do homem.
Temos então duas designações para Iessód (Fundação): "Deus Vivente" (Elohim
Chayim) e El Shadai.
"Deus Vivente" é a designação desta Sefirá do ponto de vista de Deus, enquanto El
Shadai é sua designação do ponto de vista do homem.
Assim, Deus disse a Moisés: "Eu apareci a Abraham, Isaac e Jacob como El Shadai"
(Êxodo 6: 3).
As primeiras cinco designações descreveram o processo descendente de Deus no
Universo, mediante o qual a força criativa é canalizada.
O autor, entretanto, está agora designando os nomes que se relacionam ao
processo ascendente, através do qual o homem se aproxima do Divino.
"Rei do Universo", o estágio inferior, aplica-se a ambas as direções.
Clemente e Misericordioso
São estes o segundo e o terceiro dos Treze Atributos da Misericórdia, expressos no
versículo "El, Clemente e Misericordioso" (Êxodo 34:6).
Neste nível, alguém pode compreender o funcionamento interno das seis Sefirot:
Chéssed (Amor), Guevurá (Força), Tiféret (Beleza), Nêtsach (Vitória), Hod
(Esplendor) e Iessód (Fundação).
É através dessas Sefirot que Deus expressa Sua misericórdia para o mundo.
Este nível foi conquistado por Moisés quando Deus lhe disse: "Eu terei misericórdia
sobre quem Eu quiser ter misericórdia e Eu serei clemente para quem Eu quiser ser
clemente" (Êxodo 33: 19).
Elevado e Exaltado
As seguintes designações são todas tiradas do versículo: "Porque assim diz (Deus),
Elevado e Exaltado, morando na Eternidade e cujo Nome é Santíssimo: Eu habito
(em um plano) elevado e sagrado..." (Isaías 57:15).
"Elevado e Exaltado" pertence ao nível do Entendimento (Biná).
As sete Sefirot inferiores correspondem aos sete dias da Criação.
O Entendimento (Biná) está acima dessas sete Sefirot e, portanto, está no nível
que precede a ação e a Criação.
Este é o nível onde Deus é visto como completamente transcendental, separado de
todo o profano e elevado acima de todas as coisas mundanas.
"Morando na Eternidade" fala do nível da Sabedoria (Chochmá).
Este é o nível que está acima do tempo.
Aqui alguém percebe Deus como transcendendo não somente o espaço, como
também o tempo.
"Seu Nome é Santíssimo" alude ao nível da Coroa (Kéter), a mais alta das Sefirot.
Os cabalistas notam que a expressão "Seu Nome", que em hebraico é
Shemo ( ), tem um valor numérico (Guematria) de 346.
Trata-se do mesmo valor que Ratson (
), que significa "vontade".
A vontade está inclusive acima da Sabedoria, visto que é o impulso que faz surgir
todas as coisas, incluindo o pensamento.
Em termos cabalísticos, designa-se a Vontade como Coroa (Kéter).
Assim como uma coroa é usada sobre a cabeça, a Vontade está acima e é
extrínseca a todos os processos mentais.
A palavra Santíssimo (Cadosh) denota separação, e seu sentido geral implica
separação do mundano.
A expressão "Seu Nome é Santíssimo" indica que a Coroa é um nível separado e
distante de qualquer conceito imaginável, já que ela está acima dos processos
mentais e não pode ser captada por eles.
A última expressão, "elevado e sagrado", não aparece em muitas versões do Sêfer
letsirá.
Possivelmente refere-se ao Ser Infinito (Én Sof), o qual é eleva-do acima de todo
conceito, inclusive o da Vontade.
Assim, as últimas cinco designações referem-se aos degraus que o homem deve
subir para alcançar o Infinito.
Estes degraus são nada mais do que as Sefirot em seu modo ascendente.
O impulso da Criação descendeu primeiro através das Sefirot e logo ascendeu de
novo, voltando para o Infinito.
Só então pôde a Criação acontecer.
Texto (Sefer), a forma física da letra, pertence ao continuum do espaço, visto que
sua forma só pode ser definida no espaço.
Isto é, "Universo".
O número (Sefar) implica sequencia, e esta é a sequencia do tempo, que é o
continuum do "Ano".
Finalmente, comunicação (Sipur) aplica-se a mente e esta no continuum espiritual,
que é a "Alma".
Estas três palavras também definem a palavra Sefirot.
Em primeiro lugar, a palavra Sefirá compartilha raiz com Sefer, que significa livro.
Como urn livro, cada Sefirá pode gravar informações.
As Sefirot servem então como um banco de memória no domínio do Divino.
Uma gravação permanente de tudo que tenha acontecido em toda a Criação é feita
nas Sefirot.
Em segundo lugar, a palavra Sefirá compartilha raiz corn Sefar, que significa
número.
E são as Sefirot que introduzem um elemento de núimero e pluralidade na
existência.
O Criador, o Ser Infinito, constitui a mais absoluta unidade, e o conceito de número
não se aplica a Ele de modo algum.
Por isso, falando do Ser Infinito, no Sefer Ietsirá pergunta-se: "Antes do um, o que
você conta?" (1:7).
É somente com a Criação das Sefirot que o conceito de número passa a existir.
Deste modo, todo evento e ação é medido e pesado pelas Sefirot, e a resposta
apropriada e concebida e calculada.
Assim, usando a analogia de um computador, as Sefirot funcionariam como a
unidade processadora no Domínio Divino.
Por último, a palavra Sefira compartilha raiz com Sipur, que significa "comunicação"
e "narrativa".
As Sefirot são os meios com os quais Deus se comunica com Sua Criação.
São tamb[em os meios através dos quais o homem se comunica com Deus.
Se não fosse pelas Sefirot, Deus, o Ser Infinito, seria absolutamente incognoscível
e inatingível.
E somente através das Sefirot que Ele pode ser aproximado.
E obvio, e tal como todos os cabalistas advertem, não se deve de modo algum,
adorar ou orar as Sefirot.
Pode-se, entretanto, usa-las como um canal.
Por exemplo, ninguém pensaria em dirigir uma petição ao carteiro, mas o usaria
para entregar a mensagem ao rei.
Em sentido místico, as Sefirot constituem uma escada ou árvore através da qual se
pode "ascender" e aproximar-se do Infinito.
Por conseguinte, quando o Sêfer Ietsirá apresenta aqui as palavras Sefer, Sefar e
Sipur, ele não está fazendo isso de forma acidental.
Sem dúvida, o livro está deliberadamente apresentando as raízes que definem o
conceito das Sefirot.
Isto é mais do que óbvio, já que o capítulo inteiro trata das Sefirot.
Os três aspectos "texto, número e comunicação" são a chave dos métodos do Sêfer
Ietsirá.
Se alguém deseja influenciar alguma coisa no universo físico (espaço), deve fazer
uso da forma física das letras.
Se isto envolve uma técnica meditativa, alguém deveria contemplar as letras
apropriadas como se estivessem escritas em um livro.
O método consiste em fazer que cada combinação particular de letras preencha
todo o campo de visão, eliminando todos os outros pensamentos da mente.
Finalmente, se alguém deseja influenciar no domínio espiritual, terá que fazer uso,
ou dos sons das letras ou de seus nomes.
Esta técnica, que descreveremos, é a que se usa para fazer um Golem.
Textos complementares:
Exercícios e Meditação
Primeiro
Seguindo as definições abulafianas o universo se estabelece a partir de 32 módulos
de consciências (tais como sistemas inteligentes).
Esta informação é de fundamental importância para todo o desenvolvimento da
consciência do cabalista.
Todo o universo se encontra formado somente a partir destas 32 dimensões.
Aqui (nestes 32 caminhos) podemos encontrar as 10 Sefirot (números) e as 22
letras do alfabeto hebraico.
Os números (sefirot) e as letras (caminhos) representariam a base construtiva de
todo o universo e são os ingredientes de todo o processo de Criação.
Tudo o que existe pode ser descrito por palavras (formadas por letras), enquanto
todas as coisas também podem ser expressas por números.
Mitz’rayim é plural, ou seja, é descrito por múltiplas letras e números, já Sion é
singular e unitária.
Os primeiros elementos de pluralidade na Criação se encontram nas 10 sefirot.
Estas 10 sefiyrot formaram 10 mundos (olamot) diferentes e assim as 10
dimensões da realidade.
O Sefer Y‟tziyrah começa descrevendo ―com 32‖, e isso significa que toda a obra de
formação é feita ―com essas 32 substâncias‖.
A primeira entre as 10 Sefirot ainda continha a essência da unidade, pois é formada
pela mesma ―substância‖ que forma Or (a Luz do Mundo Infinito).
Seu nome é Keter (Coroa) e não é nada menos que Adam Cadmon (o Homem-
Primordial), o Recipiente primeiro da Luz do Mundo Infinito.
Esta Sefirah é uma dimensão constante, o que nos indica que este Adam Cadmon
continua existindo e não é algo ligado a um tempo passado.
É claro que não podemos retornar ao estado original de unidade (anterior à
fragmentação), não podemos retroceder à grande expansão do universo. Mas o que
aconteceria se alguém chegasse à dimensão consciencial de Keter?
Esta pessoa atingiria um nível de dimensão de alma chamada Yechiydah (unificada)
e teria domínio sobre todo o processo da Criação, ou seja, de todos os 32 caminhos
ou consciências do universo.
Atualmente não teríamos um Adam Cadmon, mas sim um Mashiach (o ungido).
Aqui reside toda a expectativa do ser humano.
Na medida em que este estado potencial já existe, temos que considerar que cada
um de nós é o Mashiach em potencial e possui a capacidade de estar ligado e
consciente de todo o universo.
Foi por chegar a esta conclusão que nosso mestre Rav Avraham Abuláfia foi
atacado pelas autoridades ortodoxas da época, que o acusaram de se intitular ―o
Mashiach‖.
Na verdade o que Rav Abuláfia estava afirmando era que potencialmente todo ser
humano pode se tornar desperto e também o centro de toda a Criação.
Esse é o próprio estado de Devekut (acoplagem) com o Sagrado.
Por esse mesmo motivo diversos personagens que marcaram a história de nossa
tradição demonstraram ter um controle absoluto sobre fenômenos naturais e até
mesmo sobre os astros e o anjo da morte.
Tal autoridade espiritual só poderia ser alcançada em estado extremamente
elevado de emunah (certeza espiritual) e consciência de Mashiach.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça
e indo até o lado direito de seu cérebro.
Diga: ―Elohiym disse: seja a luz!‖
Sinta que tudo à sua volta se transforma em Luz, a Luz que até então havia sido
absorvida integralmente por você agora se expande como uma grande explosão
preenchendo todo o universo à sua volta.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo de seu cérebro.
Diga: ―Elohiym disse: haja um firmamento‖.
Sinta que o espaço vazio à sua volta começa a tomar forma, pequenas partículas de
centenas e milhares de letras hebraicas flutuam em um espaço vazio à sua volta,
algumas destas letras se juntam e formam pequenas partículas luminosas.
Mas neste instante tudo ainda parece um pouco desordenado.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro e também
para o seu braço direito e mão direita.
Diga: ―Elohiym disse: juntem-se as águas‖.
As pequenas partículas luminosas começam a se juntar e formar gradativamente
um oceano à sua volta.
Submerso em água (como no momento que precede o nascimento) você está
envolvido por um sentimento de grande misericórdia e amor.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda.
Diga: ―Elohiym disse: produza a terra vegetação‖.
O oceano começa a recuar até que surge a terra seca debaixo de você e a toda a
sua volta, plantas, árvores e todo o tipo de vegetação começam a surgir à sua volta
até constituir uma gigantesca floresta.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda e se alojando no seu tórax.
Diga: ―Elohiym disse: Sejam luzeiros‖.
Veja todos os astros se formando à sua volta, as luas, os planetas, as estrelas, as
galáxias, os cometas, e tudo o que existe no cosmos.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda, tórax e perna direita.
Diga: ―Elohiym disse: que as águas produzam‖.
Volte ao oceano e veja surgir todo o tipo de seres marinhos.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda, tórax, perna direita e perna esquerda.
Diga: ―Elohiym disse: que a terra produza animais‖.
Veja toda a extensão do planeta e o surgimento de todos os animais existentes,
dos mais simples aos maiores mamíferos.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda, tórax, perna direita, perna esquerda e órgãos
sexuais.
Diga: ―Elohiym disse: façamos o homem‖.
Veja a formação de seu corpo, começando por seus ossos, em seguida seus
músculos, órgãos e peles. Tenha absoluta consciência de sua formação e do que
você é.
- Em seguida deve-se visualizar o Fluxo da Luz penetrando por sobre a sua cabeça,
indo para o lado direito e em seguida para o lado esquerdo do cérebro, braço e mão
direita e braço e mão esquerda, tórax, perna direita, perna esquerda, órgãos
sexuais. A energia deste fluxo forma um ―turbilhão‖ de força na altura dos órgãos
sexuais e sobe por sua coluna vertebral até chegar à sua boca.
Este é o território de Malkhut.
Diga: ―Elohiym disse: frutificai e multiplicai‖.
Inspire lenta e profundamente e ao expirar deixe o ar sair pela boca e quando este
sair imagine centenas e milhares de letras hebraicas sendo expelidas pelo seu
hálito, como um sopro Divino de criação, cada expiração libera uma quantidade
infinita de micro letras hebraicas que se espelham por todos os cantos do universo.
Em seguida retome a consciência de seu corpo como um todo e abra os seus olhos.
Segundo
Como dissemos anteriormente, como prefixos, Lamed significa “para” e Bet significa
“em” ou “dentro”.
Logo podemos concluir que o verdadeiro caminho espiritual é “para” “dentro”, ou seja, é
um caminho de contração e introspecção.
Outra experiência que podemos estabelecer seria usarmos o Tetragrama, que são as letras
Yod, He e Vav.
Yod significa “meu”.
He significa “ela”.
E Vav significa “ele”.
Dentre todas as letras do alfabeto hebraico, só existem duas letras às quais estes sufixos
podem se unir e estas são as letras Lamed e Bet.
Formando assim a “fórmula”:
1) Li – para mim.
2) La – para ela.
3) Lo – para ele.
4) Bi – em mim.
5) Ba – nela.
6) Bo – nele.
1) Visualize as letras Lamed e Yod () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração.
2) Visualize as letras Lamed e Hei () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração e descer para se manifestar e se espalhar pela terra abaixo de seus
pés.
3) Visualize as letras Lamed e Vav () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração e subir se espalhando pelo universo.
4) Visualize as letras Bet e Yod () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração.
5) Visualize as letras Bet e Hei () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração e descer para se manifestar e espalhar pela terra abaixo de seus pés.
6) Visualize as letras Bet e Vav () e sinta a Luz branca que sai por trás das letras
penetrar em seu coração e subir se espalhando pelo universo.
Terceiro
Procure estar sozinho em um local escuro, que poderá ser o seu quarto.
- Faça a “Bênção de Yom Tov” e acenda três velas brancas.
- Pegue uma folha de papel em branco e comece a desenhar (ou imprimir) as três letras
mães na seguinte ordem: Mem, Alef e Shin.
Sempre em preto sobre uma superfície branca. Faça o desenho em três folhas separadas.
- Em seguida procure contemplar a letra Mem, visualizando o espaço em branco em torno
da letra em preto.
- Em seguida procure contemplar a letra Alef, visualizando o espaço em branco em torno da
letra em preto.
- Em seguida procure contemplar a letra Shin, visualizando o espaço em branco em torno da
letra em preto.
- Feche os seus olhos e visualize a letra Mem diante de seus olhos (bem próximo ao seu
rosto), coloque a palma da mão direita para frente como se indicasse a algo que esteja vindo
em sua direção para parar e diga o guerush: Mem.
- Repita diversas vezes.
- Mantenha os olhos fechados e visualize a letra Alef diante de seus olhos (bem próximo ao
seu rosto), coloque a palma da mão direita para frente como se indicasse a algo que esteja
vindo em sua direção para parar e diga o guerush: Alef.
- Repita diversas vezes.
- Mantenha os olhos fechados e visualize a letra Shin diante de seus olhos (bem próximo ao
seu rosto), coloque a palma da mão direita para frente como se indicasse a algo que esteja
vindo em sua direção para parar e diga o guerush: Shin.
- Repita diversas vezes.
- Mantenha os olhos fechados e fique em absoluto silêncio por alguns minutos.
- Ao seu tempo você poderá abrir os olhos.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 2
Do Nada
A palavra empregada aqui é Belima (ou Blimah) (
) que pode também ser
traduzida como "fechado", "abstrato", "absoluto" ou "inefável".
Esta palavra aparece uma só vez na Escritura, no versículo: "Ele estende o norte
sobre o Caos, pendura a terra sobre um nada (Belima)" (Jó 26:7).
Segundo muitos comentários, a palavra Belima deriva de duas palavras, Beli, que
significa "sem", e Ma, que significa "o que" ou "algo".
A palavra Belima viria então a significar "sem absolutamente nada" ou "nada”.
De acordo com esta interpretação usa-se a designação "Sefirot do nada" para
indicar que as Sefirot são conceitos puramente ideais, sem substância de nenhum
tipo.
Diferente das letras, que têm forma e som, as Sefirot não têm propriedades físicas
intrínsecas.
Como tais, são puramente conceituais.
Outras fontes estabelecem que Beli-ma vem da raiz Balam (
), que significa
"freio".
Isto é encontrado no versículo: "Não sejas como o cavalo ou a mula que não
entendem, cuja boca deve ser freada (Balam) com cabresto e rédeas" (Salmos
32:9).
Esta segunda interpretação parece ser indicada no próprio Sêfer Ietsirá, já que
depois este afirma: "Refreia (Balom) sua boca de falar delas" (1:8).
De acordo com isto, a tradução de Beli-ma seria "inefável".
O texto falaria então de "Dez Sefirot inefáveis", indicando que não podem ser
descritas de nenhuma maneira.
Similarmente, o versículo bíblico "Ele pendura a terra sobre o inefável", significaria
que as forças que sustentam a Criação não podem ser descritas.
De acordo com ambas as interpretações, as Sefirot são distintas das letras.
Enquanto as letras são primariamente modos de expressão, as Sefirot são
inexpressíveis por sua própria natureza.
Um dos maiores cabalistas, Rabi Isaac de Aco (1250-1340), assinala que Beli-ma
tem valor numérico 87.
Por outra parte, o nome Divino Elohim soma 86.
Beli-ma representaria então o estágio que segue imediatamente à pura essência do
Divino.
A palavra "bli" também é um poderoso guerush (mantra), pois seu som tem o poder de
afastar as energias negativas internas e manter a clipah (casca) com abertura para a entrada
da Luz.
A palavra "bli" tem o valor guemátrico de 42 que por sua vez faz uma referência a oração
Aná Bekoach (que é o Nome de HaShem de 42 letras).
A palavra "ma" é a palavra usada também, segundo os sábios da Tradição, para a criação do
Mundo Físico, enquanto a palavra "mi" (quem?) representa a Criação do Mundo Espiritual.
Desta forma, a energia com o poder de anular a negatividade (contida no "bli") está atuando
diretamente sobre as energias físicas.
Por associação poderíamos definir o conceito de "blima" também como sendo "sem as
cascas negativas do mundo físico".
Para o cabalista, para refazer em sua essência o processo de Criação ele deve se livrar das
clipot e quebrar as limitações do Mundo Físico.
A ferramenta para chegar a este estágio de elevação espiritual é através da aquisição de
virtudes ligadas as 10 sefirot.
De acordo com esta interpretação usa-se a designação "sefirot do nada" para indicar que as
sefirot são conceitos puramente ideais, sem substância de nenhum tipo.
Diferente das letras, que têm forma e som, as sefirot não têm forma e som, as sefirot não
têm propriedades físicas intrínsecas.
São, desta forma, conceitos.
O cabalista deve meditar em suas qualidades e em seus atributos para poder ligar o seu ser
ao "ser ideal", o Adam Cadmon, que contém todas as virtudes das sefirot.
Deve imaginar o exercício destas virtudes em determinados momentos do dia e da semana
refletindo sobre o seu significado.
Outra explicação está no fato da palavra "blimah", como dissemos, vir da raiz Balam, que
significa "freio".
Através da meditação sistemática sobre as virtudes as sefirot, podemos "frear" o impulso de
nossas ações reativas e instintivas.
Meditações dentro do dia:
• Shachariyt - Keter – Emunah (Fé, Certeza).
• Minchah - Chokh´mah - Auto-anulação.
• Arviyt - Biynah - Alegria.
22 Letras Fundação
No sentido mais simples, as letras são chamadas Fundação porque foi através das
letras do alfabeto hebraico que o Universo foi criado.
Por conseguinte, o próprio Sêfer Ietsird diz das letras: "Com elas Ele descreveu
tudo o que foi formado e tudo o que será alguma vez formado" (2:2).
Isto é também aludido no que o Talmud diz do construtor do Tabernáculo: "Betsalel
sabia como permutar as letras com as quais foram feitos o céu e a terra".
Em cada ato da Criação, a Tora reporta que "Deus disse".
Assim, "Deus disse: seja a luz", e "Deus disse: haja um firmamento".
Os decretos mediante os quais Deus trouxe a Criação a ser consistiram em ditos.
Estes, por sua vez, consistiam em palavras, e estas eram compostas por letras.
Portanto, foi através das letras do alfabeto que o Universo foi criado.
As letras da Criação não só foram responsáveis pelo começo do mundo como
também sustentam-no constantemente.
Está assim escrito: "Por todo o sempre, ó Deus, Tua palavra permanece nos céus"
(Salmos 119:89).
As mesmas palavras e letras com as quais o Universo foi criado são também as
mesmas que constantemente o sustentam.
Se essas letras e palavras fossem retiradas por um instante sequer, o universo
deixaria de existir.
Então, se soubermos como manipular corretamente as letras, podemos manipular
também as forças mais elementares da Criação.
Os métodos para fazê-lo constituem os principais temas do Sêfer Ietsiná.
Em hebraico "Letras Fundação" são escritas Otiot Iessód.
Esta expressão pode também traduzir-se por "Letras da Fundação".
Em Cabalá, Fundação (Iessód) é a Sefira que corresponde ao órgão sexual.
Ela, portanto, tem a conotação de acoplar e emparelhar, geralmente com o
propósito da procriação.
Diz-se que as letras pertencem à Fundação (Iessód) pois é unicamente através das
letras que a Sabedoria e o Entendimento podem vir a aproximar-se e acoplar-se.
Como foi dito, a Sabedoria é pensamento puro não-verbal.
O Entendimento, por outra lado, só pode ser verbal, pois se uma idéia não pode ser
expressa verbalmente, tampouco pode ser entendida.
O único vínculo entre a Sabedoria não-verbal e o Entendimento verbal consiste nas
letras do alfabeto.
Isto também é evidente no ensinamento talmúdico mencionado anteriormente.
O Talmud estabelece que "Betsalel sabia como permutar as letras com as quais o
céu e a terra foram feitos".
Isto deriva do versículo em que Deus diz sobre Betsalel: "Eu o encherei com o
espírito de Deus, com Sabedoria, com Entendimento e com Conhecimento" (Êxodo
31:3).
Vemos então que a capacidade de manipular as letras da Criação depende de
"Sabedoria, Entendimento e Conhecimento".
Conhecimento (Dáat) é o ponto de encontro entre Sabedoria e Entendimento; tem
a conotação de união e intercurso, como no versículo: "Adam conheceu sua mulher
Eva" (Gênesis 4:1).
O conhecimento representa a Fundação entre a Sabedoria e o Entendimento.
É neste mesmo contexto que o Sêfer Ietsirá fala de "Letras da Fundação".
Em um sentido mais amplo, as letras servem para emparelhar e conectar entre si
todas as Sefirot.
Isto é particularmente verdadeiro na "Árvore da Vida" mostrada na Figura 1, que
discutiremos detalhadamente.
Três Mães
Estas são as três letras: Alef ( ), Mem ( ) e Shin ( ).
Elas serão comentadas em profundidade posteriormente.
Estas letras são chamadas "Mães" porque são primárias.
Essencialmente, Alef é a primeira letra do alfabeto, Mem a do meio, e Shin a
penúltima.
A razão porque Tav ( ) — a última letra do alfabeto — não é usada, é pelo fato de
ser uma das Duplas.
A razão pela qual estas letras são chamadas "Mães", é por que, em geral, as letras
derivam do Entendimento (Biná).
Como foi dito antes, o Entendimento é o princípio feminino original, e é, portanto,
chamado Mãe.
A isto se alude no versículo "Chamará Mãe ao Entendimento" (Provérbios 2:3).
Desde que estas são as letras primárias, elas são chamadas "Mães"
Essas letras são também chamadas de mães (Imot) no mesmo sentido que a uma
encruzilhada é dado o nome de "mãe do caminho" (Ezequiel 21:26).
Estas três letras são chamadas "encruzilhadas", já que formam os vínculos
horizontais entre as Sefirot no diagrama da Árvore da Vida.
Em um nível mais básico, essas letras são chamadas de "mães" porque o número
de vínculos horizontais define a ordem de sua disposição, como se discutirá depois.
Sete Duplas
Estas são as sete letras que podem expressar dois sons: Bet ( ), Guímel ( ),
Dalet ( ), Caf ( ), Pê ( ), Resh ( ) e Tav ( ).
As Elementares são as doze letras restantes que têm uma pronúncia única.
Ambos os grupos de letras serão discutidos posteriormente
Se desenharmos dez pontos em três colunas da forma mais simples, vemos que
ficam automaticamente ligados por 22 linhas.
Dessas linhas, três são horizontais, sete verticais e doze diagonais, tal como é
mostrado na Figura 2.
A divisão apresentada pelo Sêfer letsirá é, por conseguinte, uma conseqüência
natural da disposição.
De fato, esta figura pode ser contemplada como membro de uma família de
diagramas.
O número de ordem de cada diagrama fica então determinado pelo número de
vínculos horizontais.
Na prática e por razões que tratam com a natureza básica das Sefirot, estas não
podem ser organizadas na ordem natural, mas têm a linha média um pouco mais
abaixo.
Existem várias formas diferentes dos cabalistas colocarem as letras nestes
diagramas.
Esses são mostrados nas Figuras 3 a 6.
ontinua
O Sêfer Ietsirá – Parte 3
Diz-se que a Criação se completou com os dedos de Deus, como está escrito:
'Quando eu vejo os Teus céus, o trabalho de Teus dedos" (Salmos 8:4).
Os 10 dígitos numéricos igualmente têm seu paralelo nos dez dedos do homem.
Os cinco dedos da mão contém um total de catorze ossos.
Este é o valor numérico de Yad ( ) a palavra hebraica para mão.
Uma vez que tal tensão exista, através da meditação e da concentração, os poderes
das Sefirot podem ser focalizados e canalizados.
Quando as Dez Sefirot são divididas segundo esta dupla disposição, o lugar do meio
se torna foco de tensão espiritual.
Este lugar é então chamado a "aliança única" ou "aliança unificadora".
Circuncisão da Língua
A palavra hebraica para "circuncisão" é Milá.
Esta mesma palavra, entretanto, também significa "palavra", tal como
encontramos: "O espírito de Deus fala por mim e Sua Palavra (Milá) está em minha
língua" (2 Samuel 23:2).
Daí que isto também possa traduzir-se como "a palavra da língua".
A "circuncisão da língua" refere-se à capacidade para usar os mistérios da língua
hebraica.
Também se refere à capacidade para perscrutar os mistérios da Torá.
Em um sentido mais geral, tal circuncisão denota fluência verbal.
De alguém que não pode falar propriamente é dito que tem "lábios incircuncisos".
Moisés, por conseguinte, disse: "Como o Faraó me ouvirá se tenho os lábios
incircuncisos?" (Êxodo 6:12).
Quando é dado a alguém o poder de falar propriamente, sua língua é considerada
"circuncidada".
Isto é, este poder manifesta-se tanto através da "circuncisão" como na "palavra"
falada.
Um bom exemplo disto se encontra na Bênção Sacerdotal.
Nela os sacerdotes levantam as mãos e pronunciam a bênção delineada na
Escritura (Números 6:22-27).
Os sacerdotes levantam as mãos precisamente ao nível da boca, conforme está
escrito: "Aharon levantou suas mãos para o povo e o benzeu" (Levítico 9:22).
O sacerdote-cohen deve concentrar-se no fato de que seus dez dedos representam
as Dez Sefirot.
Como resultado da focalização da força espiritual entre suas duas mãos, sua língua
está circuncidada e a bênção surte o efeito apropriado.
O mesmo é verdadeiro no ato de elevar as mãos em oração.
Aqui, novamente, as duas mãos focalizam o poder espiritual para "circuncidar" a
língua, permitindo ao indivíduo orar efetivamente.
Em alguns sistemas de meditação cabalística também se usava a aposição de mãos
no alto para focalizar a energia espiritual.
Por uma razão parecida, os sacerdotes-cohanim tinham que lavar suas mãos e pés
antes do Serviço Divino.
Tudo isso lança luz sobre o significado dos dois Querubins sobre o Arca da Aliança
no Santo dos Santos.
Os dois Querubins eram a fonte de toda profecia.
A profecia supõe uma focalização particularmente intensa de energia espiritual,
permitindo ao profeta falar a verdade em nome de Deus.
A profecia constituía, assim, o nível último de "circuncisão da língua".
Deus disse a Moisés ao descrever a Arca: "Comunicar-Me-ei contigo e te falarei de
cima do tampo da Arca, entre os dois Querubins que estão sobre a Arca do
Testemunho" (Êxodo 25:22).
O que era verdadeiro para Moisés era também verdadeiro para outros profetas, e o
influxo da profecia canalizava-se primariamente mediante os dois Querubins no
Santo dos Santos.
Existe alguma evidência de que, ao menos em alguns casos, a experiência profética
era o resultado de uma intensa meditação nestes dois Querubins.
Com a destruição do Primeiro Templo, quando os Querubins foram removidos do
Santo dos Santos, a profecia como tal cessou de existir.
De acordo com o Zohar, os dois Querubins representavam as Sefirot divididas em
ordem masculina e feminina.
Eles foram colocados sobre o Arca, que continha, por sua vez, as Tábuas originais
dos Dez Mandamentos.
Havia cinco mandamentos em cada tábua, de forma que as duas representavam
uma disposição similar das Sefirot.
Isto criava um estado de tensão através do qual a força espiritual associada à
profecia podia ser focalizada.
Circuncisão do Membro
Do mesmo modo que os dedos das mãos representam as Dez Sefirot, o mesmo
pode dizer-se dos dedos dos pés.
Entre as pernas tem lugar a circuncisão do órgão sexual.
Para entender o significado desta circuncisão, alguém deve compreender por que
Deus ordenou que ela fosse realizada no oitavo dia.
A Tora estabelece: "No oitavo dia, a carne de seu prepúcio deve ser circuncidada"
(Levítico 12:3).
A aliança da circuncisão foi originalmente dada a Abraham.
O mundo foi criado em seis dias, o que representa as seis direções primárias que
existem no universo tridimensional.
O sétimo dia, o Shabat, é a perfeição do mundo físico e representa o ponto focal
das seis direções, conforme será comentado depois (4:4).
O oitavo dia constitui então um passo acima do físico no domínio do transcendental.
Mediante a aliança da circuncisão, Deus deu a Abraham e a seus descendentes o
poder sobre o plano transcendental.
O caso mais óbvio em que isto acontece é na concepção, onde uma alma é trazida
ao mundo.
Como a marca da aliança está no órgão sexual, ela dá ao indivíduo acesso aos
domínios espirituais superiores de onde pode atrair as almas mais elevadas.
Meditando no fato de que os dez dedos dos pés representam as Dez Sefirot alguém
é capaz de concentrar no órgão sexual a energia espiritual.
Com tais métodos pode-se conseguir um controle completo sobre as próprias
atividades sexuais, inclusive no meio do intercurso.
Santificando-se desta maneira durante o ato sexual, alguém pode ser apto a
determinar as qualidades do menino que vai ser concebido.
A aliança da circuncisão também representa a canalização da energia sexual.
O impulso sexual é uma das mais poderosas forças psicológicas no homem, e
quando canalizada ao longo das linhas espirituais, pode ajudá-lo a alcançar os mais
elevados estados místicos.
Ao ordenar a circuncisão, Deus indicou que as emoções e desejos associados com o
sexo podem ser usados para a busca mística do Divino em um plano
transcendental.
A justaposição entre a "circuncisão da língua" e a "circuncisão do membro" explica
a posição profética favorita de Elias.
A Escritura relata: "Elias subiu ao topo do monte Carmel, e prostrando-se em terra,
pôs seu rosto entre os joelhos" (1 Reis 18:42).
Esta posição era empregada para uma concentração intensa de energia espiritual.
Segundo o Midrash, usava-se esta postura porque colocava a cabeça em conjunção
com a marca da circuncisão.
Quando se está na posição descrita, todas as forças vêm a reunir-se.
Os dez dedos das mãos, os dos pés, a língua e o órgão sexual compreendem um
total de 22 elementos, equivalentes às 22 letras do alfabeto hebraico.
Então, o corpo do indivíduo torna-se um alfabeto com o qual pode "escrever" no
domínio espiritual.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 4
Perscruta delas
A palavra hebraica usada aqui para "perscrutar" é Chacar, que comumente indica o
alcance do conhecimento último de uma coisa.
O Sêfer Ietsirá afirma que alguém deveria "perscrutar delas".
Como resultado do poder espiritual que se obtém das Sefirot, deve-se investigar as
coisas até suas profundidades últimas.
Através da experiência adquirida das Sefirot, ganha-se a mais profunda percepção
das coisas no mundo.
Perceba cuidadosamente que o Sêfer Ietsirá não nos diz para contemplar as Sefirot
em si.
Mas nos instrui para usá-las no desenvolvimento de uma visão interior com a qual
perceber o mundo.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 5
As Dez Sefirot são vistas assim como consistindo de cinco conjuntos de opostos.
Estes são os "cinco opostos a cinco" discutidos antes (1:3).
Os opostos têm seu paralelo nos cinco dedos de cada mão.
A Sabedoria é sempre definida como o início pelos cabalistas.
Isto é baseado em versículos tais como:
"O princípio é a sabedoria" (Provérbios 4:7).
Isto corresponde ao início da existência, antes que a Criação fosse definida,
pronunciada ou verbalizada.
Deus criou então o mundo com dez ditos.
Eles representam o poder do Entendimento (Biná), que é o aspecto do pensamento
verbal.
Como discutido anteriormente, o nome Elohim, usado no relato da Criação,
representa o Entendimento.
Os "ditos" só podem acontecer através do Entendimento denotado pelo nome
Elohim.
Psicologicamente, a Sabedoria também representa o passado de uma outra
maneira.
A memória não é verbal e é armazenada na mente de uma forma não-verbal.
Somente quando alguém traz uma memória à superfície é que ela se torna
verbalizada.
Já que a memória pura é totalmente não-verbal, ela está na categoria de
Sabedoria.
O futuro, por outro lado, não pode ser imaginado em absoluto, exceto em termos
verbais.
Pode-se recordar o passado, mas não o futuro.
O futuro só pode ser percebido quando é descrito.
O modo principal no qual nós conhecemos o futuro é por extrapolação do nosso
conhecimento do passado, ou, na linguagem do Talmud, "entendendo uma coisa a
partir de outra".
Passado e futuro são também as contrapartes de Sabedoria e Entendimento, até o
ponto em que eles são respectivamente macho e fêmea.
O passado é declarado como sendo macho, porque influi diretamente no futuro.
Desta forma, é como se o futuro, feminino, fora engravidado pelo passado.
Kéter é chamado o "bem" porque é a Sefirá mais próxima de Deus.
Pela mesma razão, Malchut, a Sefirá mais afastada de Deus, é dita como o "mal".
Isto não significa que Malchut seja realmente o mal, já que todas as Sefirot são
completa e absolutamente boas.
Entretanto, ao assinalar Malchut na direção oposta de Deus, diz-se que denota a
direção do mal.
A disposição completa das Sefirot é freqüentemente chamada de "Árvore da Vida".
A linha central, de Kéter a Malchut, quando considerada sozinha, é chamada de
"Árvore do Conhecimento".
É sobre esta linha que o bem e o mal se juntam, sendo este o mistério da "Árvore
do Conhecimento do Bem e do Mal" (Gênesis 2:9) da qual Adam e Eva foram
ordenados a não compartilhar.
O bem e o mal convergem na quase-Sefirá do Conhecimento (Dáat).
Por causa disso, alguns dos últimos cabalistas colocam ambas, "a profundidade do
bem como a profundidade do mal" no Conhecimento (Dáat).
Existem 32 hiperquadrantes que podem ser definidos em um hiperespaço
pentadimensional.
Eles correspondem aos 32 vértices de um hipercubo pentadimensional, como se
discutiu acima (1:1).
Estes, por sua vez, estão relacionados com os 32 Caminhos da Sabedoria.
Ver Tabela 9.
Em geral, pode-se dizer que uma faca ou lâmina de cortar tem uma dimensão
menor que o continuum que esta corta.
Em nosso continuum tridimensional, uma lâmina é essencialmente um plano
bidimensional.
Portanto, em um continuum pentadimensional, alguém deve esperar que uma
lâmina de faca tenha quatro dimensões.
Uma lâmina tal seria um hipercubo tetradimensional com 16 vértices.
O Midrash estabelece que a espada de Deus tem 16 fios, indicando que trata-se,
em realidade, de um hipercubo tetradimensional.
A profundidade do princípio
O Sêfer letsirá não fala de direções, mas sim de profundidades.
Em geral, o conceito de profundidade indica algo a uma grande distância, como
quando se olha para baixo, em um poço muito fundo, contemplando suas
"profundidades".
Esta profundidade, portanto, denota grande distância, tanto física como mental.
Assim sendo, diz-se também que uma idéia de difícil entendimento, que está muito
afastada de nossa compreensão, é profunda.
Há muitos exemplos disso na Escritura.
Assim encontramos:
"Para a altura dos céus, para a profundidade da terra e para o coração dos reis não
há investigação" (Provérbios 25:3).
Também diz Cohelet em relação à Sabedoria:
"Ela é profunda, profunda, quem a achará?" (Eclesiastes 7:24).
Em particular, a palavra "profundidade" é empregada em relação ao Divino, como
por exemplo:
"Quão grandes são Tuas obras, ó Deus; Teus pensamentos são muito profundos!"
(Salmos 92:6).
Estas dez profundidades, por conseguinte, representam as dez direções estendidas
até o infinito.
Está escrito:
"O conselho no coração do homem é como água profunda, mas um homem de
entendimento o extrairá" (Provérbios 20:5).
Ainda que a profundidade destas direções seja infinita, pode ser descrita
mentalmente.
A primeira técnica envolve pensamento verbal, através de ser "um homem de
Entendimento".
Gradualmente, então, alguém pode também aprender a descrever essas
profundidades infinitas não-verbalmente .
O primeiro exercício é experimentar descrever a "profundidade do princí-io".
Tente imaginar uma infinitude de tempo no passado.
Deixe sua mente retornar um minuto atrás, uma hora atrás, um dia atrás, um ano
atrás, continuando assim até alcançar um nível onde você experimenta imaginar
"um infinito atrás".
Então faça o mesmo em relação ao futuro.
O próximo exercício consiste em tentar imaginar o bem infinito e o mal infinito.
Os limites serão idéias puras, que não podem ser verbalizadas.
Finalmente terá que imaginar os limites das dimensões espaciais.
Deve-se perceber a altura do céu e além do céu, a profundidade da terra e além da
terra.
Desta maneira, gradualmente treina-se a mente para descrever o infinito.
Como as Sefirot em si mesmas são também infinitas, este exercício pode ajudar a
conseguir uma comunhão com elas.
O indivíduo pode então aprender a subir pela Árvore das Sefirot e finalmente
aproximar-se das mais elevadas alturas espirituais.
Isto se consegue através destas profundidades.
Está escrito:
"Um canto de degraus, das profundidades Eu te chamo, ó Deus" (Salmos 130:1).
Alguém chama a Deus meditando nas profundidades, e então alguém pode subir
por uma série de degraus.
O salmo recebe então o nome de "canto dos degraus".
Exercício Completo:
O exercício consiste em 10 estágios de contemplação:
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 6
A palavra para "visão" é aqui Tsefiá, que geralmente denota uma visão mística ou
profética.
Os Hechalot, um antigo texto místico que pode ser contemporâneo do Sêfer Ietsirá,
fala da visão (Tsefiá) da Mercaba.
A Mercabá é a carruagem Divina da visão de Ezequiel e a palavra é empregada
para denotar a experiência mística em seus mais altos níveis.
O Sêfer letsirá descreve agora como as Sefirot aparecem na visão mística.
Em seções anteriores, o texto falou dos exercícios usados para visualizar as Sefirot
e agora descreve suas aparições.
O Bahir, outro texto muito antigo, explica que a palavra Tsefiá, derivada da raiz
Tsafá, indica que alguém está olhando para baixo de uma grande altura.
Na seção anterior, o Sêfer Ietsirá falou das Sefirot como dez "profundidades".
Quando se olha uma profundidade, geralmente está se olhando para baixo.
Nos Hechalot, freqüentemente se descreve a experiência mística como uma
descida, e é chamada "descida para a Mercabá".
Olhar para as Sefirot é chamado uma "descida".
A razão disso deve-se ao fato de que, para consegui-lo, alguém deve primeiro
alcançar uma consciência tipo Chochmá, como discutido anteriormente.
No esquema das Sefirot, entretanto, Chochmá é a mais alta, ao menos as que são
acessíveis.
Para subir à Árvore dos 32 Caminhos da Sabedoria alguém deve começar por ligar-
se à Chochmá (Sabedoria).
Quando isso é conseguido, olha-se para baixo para as demais Sefirot.
Só então se começa a subir pelas Sefirot, iniciando pela mais baixa.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 7
Como foi discutido anteriormente, não existe um termo que possa ser usado para
descrever Deus.
Deus em si mesmo não pode sequer ser chamado de Causa.
Uma causa é, em algum grau, dependente de seu efeito, e Deus não depende de
nada.
Por isso, os cabalistas ensinam que, antes de criar o nada, Deus criou o conceito de
"Causa", que é a Sefirá de Kéter (Coroa).
Kéter é também freqüentemente identificado como Vontade.
Isto, entretanto, é um antropomorfismo, já que no homem, a vontade é a causa de
todas as ações.'
O Sêfer Ietsirá estabelece então que "o Mestre é único, Ele não tem segundo".
As Sefirot podem ser interdependentes, mas isto não inclui o Ser Infinito.
Como Deus é absolutamente unitário, não pode sequer ser chamado de Causa,
porque isso implicaria um efeito como um "segundo".
Quando as Sefirot são comtempladas como dez direções em um continnum
pentadimensional, podemos interpretar isto de outra maneira.
Cada par de Sefirot define uma linha infinita que se estende infinitamente em
ambas as direções.
Entretanto, os extremos dessa linha infinita encontram-se e se unem novamente no
"ponto para o infinito".
Este é um fato reconhecido pelos matemáticos.
O considerável uso do "ponto para o infinito" é fundamentado na análise complexa,
no cálculo dos números complexos.
Embora se trate de um conceito altamente abstrato, não é tão difícil de entender.
Imagine um círculo com dois pontos antípodas, O e N.
Obviamente duas linhas que partem de O em direções opostas se encontrarão
novamente no ponto N.
Mas o que acontece se fizermos o círculo imensamente grande?
Quanto maior o círculo, mais a curva se assemelhará a uma linha reta.
No limite, no que o círculo se faz imensamente grande, as linhas que partem de O
tornam-se de fato linhas retas.
Mas ainda seguem unindo-se no ponto N.
Este ponto no infinito é onde se encontram todos os extremos.
Veja Figura 10.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 8
O Sêfer Ietsird define aqui a palavra Belimá que traduzimos como "nada".
Ela também pode ter a conotação de refrear (Balam).
A essência das Sefirot só pode ser alcançada quando alguém refreia seus lábios de
falar e fecha sua mente a todo pensamento verbal e descritivo.
Só com a mente completamente em branco podem as Sefirot ser experienciadas.
Este aspecto é particularmente importante, já que muitas técnicas de meditação
cabalística envolvem a recitação de lemas tipo mântras ou diversos tipos de
contemplação.
Todas estas técnicas, entretanto, são apenas meios para limpar a mente de todo
pensamento.
A experiência real das Sefirot só ocorre depois que alguém deixou de usar a técnica
e permanece absolutamente calmo, com todos os processos pensantes silenciados.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 9
Deus Vivo
Como foi mencionado antes (1:1), a palavra "Deus Vivo" (Elohim Chayim) denota
Iessód (Fundação), quando esta Sefirá se encontra em seu modo procriativo,
desembolsando todas as forças da Criação.
Aqui o "espírito", que vem de Kéter, é o que finalmente é desembolsado por Iessód.
Já que Kéter em si mesma não pode ser experienciada, o texto refere-se a ela em
palavras de Iessód, que é onde pode ser experienciada.
Abençoado e bendito
Em outros textos cabalísticos antigos, tais como o Bahir, estes mesmos adjetivos
são usados também em relação a Kéter.
Em hebraico, as duas palavras aqui citadas são Baruch ( )e
MeBorach ( ).
De fato, ambos significam "abençoado".
Baruch denota que Deus é intrinsecamente abençoado, enquanto MeBorach implica
que Ele é abençoado por outros nas orações (expressando a gratidão de quem reza
para Deus).
Quando se diz que Deus é "abençoado", isso significa que sua essência se aproxima
para baixo de forma que interaja com Sua Criação e a "benza".
Nesse sentido, ela se relaciona com a palavra Bérech ( ), que significa "joelho".
Como o joelho que, quando se curva, serve para baixar o corpo, uma bênção serve
para baixar o Divino.
Isto se relaciona muito de perto com o conceito de "sentar", já discutido antes
(1:4).
Deus tem um modo intrínseco, através do qual Ele traz Sua essência para
relacionar-se com Sua Criação.
Nesse sentido, Ele é chamado de Baruch.
Sua essência é também levada a relacionar-se em um maior grau como resultado
da oração e ações similares.
Neste caso, Ele é chamado de MeBorach.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 10
Gravou e entalhou
Como já foi comentado anteriormente (1:1), a palavra Chacac, traduzida como
"gravar", denota a remoção de material.
As letras vieram à existência quando o fôlego refletido tira porções do fôlego direto.
Isto acontece através dos diversos movimentos da boca.
O segundo processo é Chatsav, traduzido como "entalhar" ou "extrair".
Isto denota separar material de sua fonte ou origem, como no versículo:
"Das montanhas tu extrais (Chatsav) cobre" (Deuteronômio 8:9).
Também se refere a "esculpido" em um sentido espiritual, como em:
"Olhai para a Rocha (Deus) de onde fostes esculpido/entalhado (Chatsav)"
(Isaías 51:1).
A palavra Chatsav denota assim o processo no qual os sons das letras deixam a
boca e se expressam independentemente.
Neste contexto, "gravar" (Chacac) indica a articulação e pronúncia dos sons, e
"entalhar" (Chatsav) denota sua expressão.
Da última seção do Sêfer Ietsirá (6:7) deduzimos também que "gravar" e
"entalhar" denotam processos meditativos.
Isto será discutido depois.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 11
O Caos e o Vazio
Tohu e Bohu, em hebraico.
Isto alude ao estado inicial da Criação, tal como está escrito:
"A terra era caos e vazio" (Gênesis 1:2).
O Sêfer Ietsirá declara depois que a substância foi formada (2:6) deste caos
(Tohu).
Tohu denota pura substância que não contém informação.
Bohu é informação pura, não relacionada a qualquer sustância.
Ambos são indiferenciados e, portanto, incluídos em Chochmá.
Com o Bohu (informação), as letras do alfabeto puderam ser gravadas no Tohu
(substância).
A Escritura declara que "a terra era caos e vazio".
Os cabalistas fazem notar que "terra" (Érets) é uma palavra feminina, e ensinam
que alude a Malchut, o arquétipo do feminino.
"O caos e o vazio", relacionados com a Chochmá, não vieram à existência até
depois do surgimento de Malchut.
Esta é a mesma ordem do Sêfer Ietsirá, que também põe Chochmá depois de
Malchut.
Lama e barro
Lama em hebraico é Réfesh, e barro, Tit.
O único lugar na Bíblia onde ambos aparecem mencionados juntos é no versículo:
"Os ímpios são como o mar agitado. Não podem descansar e suas águas arrojam
lama e barro" (Isaías 57:20).
Ao descrever o estado original da Criação, a Torá afirma:
"A terra era caos e vazio, e a escuridão estava sobre a face das profundezas
(Tehom)" (Gênesis 1:2).
Segundo os comentários, a palavra Tehom denota a lama e o barro do fundo do
mar.
"Caos e vazio" aludem à interação entre o Chochmá (água) e Kéter (Fôlego).
"A lama e o barro" fazem menção à interação entre o Chochmá (água) e Malchut
(terra).
A lama consiste fundamentalmente de água e representa então o domínio da
Chochmá.
O barro consiste fundamentalmente em terra e representa o domínio de Malchut.
A lama é o fluido de escrever.
O barro é o meio sobre o qual se escreve.
Gravou-as...
As letras hebraicas têm três partes básicas: topo, centro e base.
O topo e a base consistem geralmente de grossas linhas horizontais, enquanto que
o centro consiste de linhas verticais mais finas.
As bases das letras foram "gravadas como um jardim".
É daqui que se tira material da matriz deixando um vazio.
Os lados das letras foram então "entalhados como um muro".
Estas são as linhas verticais que separam as letras entre si, como as paredes.
Finalmente, os topos das letras foram acrescentados como um teto que as cobre.
Segundo algumas autoridades, o processo se refere também à Criação do espaço.
Como veremos depois (2:4), esta pode também ser instrução para uma meditação.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 12
O Sêfer Ietsirá implica também que o mundo físico veio a ser por meio de
Chochmá, enquanto o mundo espiritual tem suas raízes em Biná.
Isso porque Chochmá, o conceito de dar sem medida, é a raiz da misericórdia.
Biná, o conceito de restrição, constitui a raiz da Justiça.
Como o mal existe no mundo físico, este só pode sustentar-se mediante a
misericórdia de Deus, como canta o Salmista:
"Eu tenho dito: o mundo está edificado sobre a misericórdia" (Salmos 89:3).
Por outro lado, no mundo espiritual prevalece o julgamento puro.
Segundo os filósofos, a Água representa a matéria primeva, e o Fogo o éter
primevo.
O Trono da Glória
Este é o veículo através do qual Deus "senta" e "baixa" sua essência para
relacionar-se com sua Criação, como ensinado anteriormente (1:4).
Segundo os cabalistas, este Trono representa o Universo de Beriá.
Nele, é dominante o poder de Biná.
Serafim
Esta é a espécie superior de anjos que existem no Universo de Beriá.
Outros cabalistas referem-se a eles como Poderes, Forças ou Potências (Cochot),
em vez de anjos.
O profeta disse assim:
"Vi o Senhor sentado em um elevado e exaltado Trono... e ao redor Dele estavam
os Serafins" (Isaías 6:1-2).
O profeta Isaías estava visualizando Beriá, o mundo do Trono, e viu os Serafins, os
anjos deste universo.
A palavra "Serafim" provém da raiz Saraf, que significa "queimar".
Eles têm esse nome porque estão no mundo de Beriá, onde Biná, que é
representada pelo fogo, é dominante.
As Chaiot são anjos de Ietsirá e são os seres visualizados por Ezequiel.
Por conseguinte, ele disse:
"Acima do firmamento que estava sobre as cabeças [das Chaiot] estava a
semelhança de um Trono..." (Ezequiel 1:26).
Por último, os Ofanim são os anjos de Assiá.
Foram, portanto, vistos abaixo das Chaiot, tal como diz o profeta:
"Havia um Ofan sobre a terra perto das Chaiot" (Ezequiel 1:15).
"Anjos ministros" são todos aqueles que aparecem ao homem na terra.
Enquanto outros anjos são vistos apenas profeticamente, os anjos ministros podem
ser vistos fisicamente também.
A Tabela 11 mostra os anjos em relação às Sefirot.
Destes três
Ou seja: com Fôlego, Fogo e Água.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 13
O Sêfer Ietsirá enfatiza a importância do fato destas letras terem sido escolhidas
entre as Letras Elementares.
Isto nos dá uma razão do motivo da escolha das letras Yod, Hê e Vav ( ).
Como o Sêfer Ietsirá explicará depois (2:3), em ordem alfabética, as primeiras três
famílias fonéticas são:
É óbvio que as primeiras letras destes grupos são as primeiras três letras do
alfabeto.
Destas, Alef é uma das três Mães, enquanto Bet e Guímel encontram-se entre as
Duplas.
Portanto, as primeiras letras simples dos três grupos são Hê, Vav e Yod,
justamente as letras do Tetragrammaton.
A ordem primária destas três letras é Yod Hê Vav.
Segundo o livro Raziel, isto se deve aa fato de Yod incluir as primeiras quatro letras
do alfabeto.
Yod tem o valor numérico 10, que é, por sua vez, a soma das quatro primeiras
letras (1 + 2 + 3 + 4 = 10).
Depois do 4 vem o 5, o valor numérico de Hê, e logo o 6, o valor numérico de Vav.
Outros significados dessas letras foram discutidos antes (1:1).
No mistério das três Mães
As três letras do Nome Divino, Yod Hê Vav ( ), são o paralelo das três Mães, Alef
Mem Shin ( ). Ver Tabela 12.
Como o Sêfer Ietsirá explicará depois (3:4), Mem é água, Shin é fogo, enquanto
Alef é o fôlego-ar.
Entretanto, sabemos também que Yod representa Chochmá, que é o arquétipo da
água, e Hê representa Biná, que é o fogo.
Temos, portanto, uma relação entre Yod e Mem, e também entre Hê e Shin.
Vav tem o valor numérico 6 e, portanto, representa as seis direções espaciais
básicas.
Ela também representa as seis Sefirot: Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nêtsach, Hod e
Iessód.
Entre os elementos, diz-se que Vav representa o ar e o fôlego.
De fato, em hebraico, a palavra para "direção" é Rúach, que é a mesma para
Fôlego.
Vav, por conseguinte, deriva de Alef.
Como veremos, as três Mães (Alef Mem Shin) representam tese, antítese e síntese,
a tríade básica do Sêfer Ietsirá (3:1).
O texto explica aqui como um espaço tridimensional se produz a partir desses três
conceitos.
Tese e antítese representam duas direções opostas em uma linha dimensional.
Junto com a síntese, constituem três elementos.
Já que esses três elementos podem permutar-se de seis modos diferentes, definem
um espaço tridimensional com seis direções.
O Ari começa com o Chéssed (Amor), a primeira Sefirá, que representa o Sul,
tomando as letras em sua ordem natural, YHV (
). Ver Tabela 14.
Para determinar a ordem da direção oposta, o Ari faz uso do mesmo sistema que o
próprio Sêfer Ietsirá emprega (2:4).
O texto estabelece que os dois primeiros opostos são Oneg (ANG
), que significa
"prazer" e Nega (NGA
), que significa "praga".
Para formar o oposto, toma-se a primeira letra que fica ao final da palavra.
Isto é precisamente o que se faz para produzir Guevurá (Força), que representa o
norte.
A Yod ( ), que estava no princípio, coloca-se agora no final, produzindo a
combinação HVY ( ).
O eixo norte-sul vem então representado pelas duas letras HV ( ).
O eixo acima-abaixo fica definido igualmente pelas letras YV ( ), com a posição da
H ( ) determinando a direção.
Neste sistema, a primeira letra é significativa também.
Para o sul e acima, a letra inicial é Y ( ), enquanto para o norte e abaixo é a H ( ).
Em ambos os casos, trata-se de opostos na representação em três colunas.
O eixo leste-oeste acha-se no ponto zero neutro tanto da linha acima-abaixo como
na norte-sul.
Na representação em três colunas, Tiféret (leste) e lessód (oeste) estão na linha do
meio.
Como tanto a linha do meio como a letra V ( ) representam síntese, o conjunto de
ambas as direções começa com a Vav. Ver Figura 12
O sistema do Zohar é exatamente o mesmo que o do Ari, exceto que leste e oeste
estão intercambiados.
O sistema do Ticune Zohar usa um princípio similar, mas aplicado de modo um
pouco diferente.
Depois veremos que as doze possíveis permutações do YHVH representam os doze
limites diagonais (5:2).
Cada uma das seis direções básicas pode incluir dois dos limites diagonais.
O primeiro destes vem representado pela segunda Hê ao final da tríade, e o
segundo com Hê no princípio.
Com a introdução destes dois conceitos, as seis Sefirot representadas por Vav estão
completas: Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nêtsach, Hod e Iessód.
Essas seis Sefirot representam as seis direções do espaço.
Junto com as quatro originais, essas seis completam as Dez Sefirot.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 14
Em geral, diz-se que a alma consta de cinco partes: Néfesh, Rúach, Neshamá,
Chaiá e Iechidá.
Destas, somente as três primeiras têm efeito na mente.
As duas últimas, Chaiá e Iechidá, são chamadas envoltórios (Makifin), que não
podem entrar na mente.
Neshamá, a parte mais alta da alma que "entra" na mente, é o paralelo da Sefirá
de Biná.
Ver a Tabela 15.
A consciência Chochmá está acima do pensamento e é como algo que existisse fora
da mente.
Ou, como na analogia anterior, algo que "víssemos" atrás de nossas cabeças.
Do mesmo modo que alguma coisa atrás da cabeça só pode ser vista se refletida
em um espelho, assim a consciência Chochmá só pode ser captada quando refletida
e revestida em Biná.
Com relação ao pensamento consciente, a consciência Chochmá é chamada de
"nada".
É neste contexto que se afirma: "Refreia tua boca de falar e teu coração de
pensar".
O "coração" denota a consciência Biná e daqui se diz que neste nível o iniciado deve
esvaziar por completo a consciência Biná.
Isto se consegue mediante a contemplação do nada.
Ele deve manter este nível e conseqüentemente recebe a instrução:
"Se teu coração corre" de volta para Biná, "retorna para o lugar".
O "lugar" é a consciência Chochmá que o iniciado já alcançou.
Uma vez que chegou a um ponto em que pode manter um estado de consciência
Chochmá, o iniciado está preparado para começar de fato a subir pela Árvore da
Vida, que é a escada das Sefirot.
O hebraico se escreve sem vogais e, em conseqüência disto, a terceira pessoa e o
imperativo são escritos exatamente do mesmo modo.
Traduzimos o último parágrafo: "Selou o norte, voltou-se para a esquerda e o selou
com HVY".
Isto também pode ser lido no imperativo: "Sela o norte, volta-te para a esquer-da
e sela-a com HVY".
De forma similar, a expressão: "gravou-o e entalhou" pode também ler-se no
imperativo: "Grava-o e entalha-o".
Entendidas deste modo, as seções 1:9-13 podem ler-se como um conjunto de
instruções, em vez de uma teoria da Criação.
[No Apêndice I, traduzi a Versão Curta completamente no imperativo para
demonstrar seu sentido.]
A suposição de que está é a descrição de uma técnica vem apoiada pela última
seção do mesmo Sêfer letsirá, que diz de Abraham: "Atou sua língua às 22 letras
da Torá... inundou-as em água, acendeu-as com fogo, agitou-as com fôlego" (6:7).
O iniciado começa meditando em Kéter, o "Fôlego do Deus Vivo" inicial.
Este fôlego deve ser levado abaixo até o nível de Iessód (Fundação).
Ao fazê-lo, deve-se contemplar a essência de "a Voz, o Fôlego e a Fala".
O pensamento ordinário é verbal e daí consiste de palavras.
As palavras constam de letras.
Não são as letras físicas, mas mentais, letras conceituais.
Essas letras conceituais, entretanto, são feitas de "Voz, Fôlego e Fala".
Daí que ao meditar em tais conceitos, alguém está realmente contemplando as
verdadeiras raízes do pensamento.
Na Versão Longa, o texto conclui: "a Fala é Rúach HaCódesh (Inspiração Divina)".
Rúach HaCódesh está, entretanto, acima do pensamento.
De onde a "fala", à qual o texto se refere, é uma "fala" que precede o pensamento.
O segundo passo é "Fôlego do Fôlego".
O texto estabelece: "com ele grava e entalha 22 letras".
Os cabalistas explicam que "gravar" e "entalhar" denotam técnicas meditativas.
Isto é reafirmado na última seção (6:7), que estabelece que Abraham "olhou, viu,
entendeu, perscrutou, gravou e entalhou, e teve êxito na Criação".
Ensinam que "gravar" denota um processo no qual alguém desenha uma letra em
sua própria mente.
"Entalhar" significa então que esta letra está separada do resto dos pensamentos,
de forma que toda a mente aparece preenchida com ela.
Pode-se fazer isto contemplando uma letra ou combinação de letras até que todas
as demais imagens e pensamentos sejam banidos da mente.
De outro modo, isto pode ser conseguido cantando a letra de uma forma que será
logo descrita.
Este é o estágio de Malchut, no qual alguém se encontra na base da Árvore da
Vida.
É neste estágio que o iniciado deve trabalhar com a letra que ele deseja usar.
Ele deve, portanto, "desenhá-la na água e acendê-la com fogo" (6:7).
As instruções subsequentes, portanto, indicam como a letra deve ser carregada
com poder espiritual.
O terceiro passo é "Água do Fôlego".
Inicialmente o iniciado desenha a letra no ar transparente, visualizando-a
claramente.
Ele deve então alcançar o nível de Chochmá, voltando para um estado de
consciência Chochmá.
Começa a ver a letra como se estivesse olhando-a através da água.
Isto é, "desenhá-la através da água".
A letra começa a se apagar e desaparecer, como se a víssemos através da água
crescentemente profunda.
O iniciado deve então "gravar e entalhar o caos e o vazio, a lama e o barro".
Neste estágio a forma se rompe e dissolve por completo, como alguma coisa vista
através de uma água turbulenta.
Isto é o "caos e o vazio".
A imagem logo desaparece por completo, como se estivesse sendo vista através de
água lamacenta.
Isto é a "lama".
Finalmente, tudo o que fica é escuridão como tinta negra, como se alguém
estivesse enterrado em lama e barro totalmente opacos.
O texto descreve este processo dizendo: "grave-as como um jardim, entalhe-as
como um muro, cubra-as (ou rodeie-as) como um teto".
Primeiro visualize esta escuridão sob seus pés.
Estes podem parecer que se dissolvem, um fenômeno que também é mencionado
em outros textos místicos antigos.
Lentamente, faça esta escuridão arrastar-se sobre você, envolvendo-o
completamente como um muro.
Finalmente, faça com que ela lhe cubra e rodeie como um teto de barro manchado
de negro.
Neste ponto, você não experimentará sensação visual alguma, nem física ou
mental.
Durante todo este processo você deve estar completamente consciente da sensação
de água, tranquilo e absolutamente calmo.
Ele é o sentimento úmido e escuro do útero, no qual você está totalmente isolado
de toda sensação.
O Midrash se refere a esse respeito quando estabelece que "a água concebeu e deu
nascimento à escuridão absoluta (Afelá)" .
Este é o nível da consciência Chochmá.
O iniciado alcança então o quarto passo, onde retorna a um estado de consciência
Bina.
Este é descrito como fogo e luz ofuscante, como o Midrash continua: "o Fogo
concebeu e deu origem à luz".
É o nível em que alguém "acende-as com fogo".
Aqui o iniciado deve "gravar e entalhar o Trono da Glória, os Serafins, Ofanim e
santas Chaiot".
Desenha (grava) e enche a mente (entalha) com essas imagens que são as
mesmas visualizadas pelos profetas.
Ele deve começar pelo Trono e logo continuar através dos diversos níveis angélicos,
terminando com as Chaiot no universo de Ietsirá, que correspondem às Seis
Direções.
Levará, assim, o influxo ao nível de Biná.
A seguir, o iniciado deve levá-lo às outras seis Sefirot — Chéssed, Guevurá, Tiféret,
Nêtsach, Hod e Iessód.
Estas estão associadas às seis direções do mundo físico, que têm sua contraparte
nos seis dias da Criação.
Associando as Sefirot às seis direções físicas, a pessoa leva de fato o influxo até o
domínio físico.
O modo de atrair o influxo a estas Sefirot inferiores implica na contemplação das
três letras Yod Hê Vav ( ).
Sua visualização deve fazer-se como se estivessem em escrita Ashurit, com fogo
negro sobre fogo branco.
Ver Figura 14.
As letras devem aparecer enormes, enchendo por completo a mente.
A idéia de fogo negro não é só a ausência de luz, mas sim a presença de luz
negativa.
O negro deve ser tão intenso para ser brilhantemente negro, como a luz é
brilhantemente branca.
Este é o fogo negro com o qual as letras devem ser descritas.
Enquanto as combinações de letras são contempladas, a pessoa deve voltar-se para
a direção apropriada, seja física ou mentalmente.
Após completar as seis direções e permutações, esta parte do exercício estará
terminada.
O que fica ainda são as aplicações astrológicas desta técnica, que serão
apresentadas posteriormente.
Este é o processo descrito no caso de Abraham: "Ele as acendeu com os sete
[Planetas], ele as dirigiu com as Doze constelações" (6:7).
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 15
Uma vez que se completou a iniciação nas Dez Sefirot, o texto comenta agora as 22
letras do alfabeto hebraico.
Três Mães
O primeiro conjunto de letras está formado pelas Três Mães, que serão comentadas
com maior detalhe posteriormente.
Apresentam-se aqui porque definem a estrutura tese-antítese-síntese, que é central
nos ensinamentos do Sêfer Ietsirá.
Elas servem também como introdução às técnicas de meditação que envolvem as
letras.
Estas três letras representam as três colunas em que estão divididas as Sefirot.
A coluna direita, encabeçada por Chochmá, é representada pela letra Mem.
A coluna da esquerda, encabeçada por Biná, é representada pela letra Shin.
A coluna do centro, encabeçada por Kéter, é representada por Alef.
Como foi declarado antes, Chochmá é a água (que aqui está representada pela
Mem), Biná é o fogo (Shin) e Kéter é o fôlego-ar (que é Alef).
A língua do decreto
A palavra hebraica para "decreto" é Choc ( ).
Ela vem raiz Chacac, que significa "gravar".
É a "língua da balança" que "grava" as letras.
Isto vem representado pela letra Alef ( ), a base do alfabeto.
Em termos mais elementares, Mem, Shin e Alef representam tese, antítese e
síntese.
A analogia é a de uma balança (veja Figura 15).
Há um prato de mérito e um prato de responsabilidade.
Parece-se muito à balança empregada para pesar os méritos e pecados de alguém,
mencionada no Talmud.
No centro estão o fulcro e o fiel, ambos representados por Alef, que é a "língua do
decreto".
Alef é o Fôlego de ar
Alef é uma consonante muda e, como tal, representa uma simples expiração.
Ela não inclina alguém para um ou outro estado de consciência.
Normalmente, a respiração é um ato inconsciente e, portanto, pertence à
consciência Chochmá.
Entretanto, alguém pode controlar sua respiração e então estará no domínio da
consciência Biná.
O controle consciente da respiração é, portanto, uma técnica válida para reunir
ambos os estados de consciência.
Ele também é válido para fazer a transição entre os dois estados.
Assim, os cabalistas fazem uso da respiração controlada, em associação com as
técnicas, como a pronúncia de duas consoantes com as cinco vogais primárias.
Em particular, tal respiração acontece entre a pronúncia da Mem e Shin.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 16
Como se explicou antes, "gravar" significa fazer soar uma letra, enquanto
"entalhar" significa expressá-la.
Algumas versões acrescentam: "Ele as uniu à língua como uma chama está unida
ao carvão em brasa".
Antes (1:7) usou-se uma expressão similar.
Em cinco lugares
Apresenta-se aqui a divisão das letras em cinco grupos, mas esta é a única vez em
que este tema é mencionado no Sêfer letsirá.
Não se dá nenhuma razão nem aplicação aparentes desta divisão.
Um indício pode vir do que já foi escrito antes (1:13).
As três letras do Nome, Yod Hê Vav ( ), são as primeiras das Doze Elementares
que aparecem nas três famílias fonéticas, quando dispostas em ordem alfabética:
guturais, labiais e palatais. Ver Tabela 18.
A razão mais óbvia para a existência das cinco famílias fonéticas seria que as
divisões do alfabeto devem corresponder-se com as divisões no continuum
pentadimensional definido pelo Sêfer Ietsirá.
De fato, os cabalistas ensinam que esses cinco grupos são paralelos aos Cinco
Amores e às Cinco Forças (ver 1:3), que constituem os pontos finais dessas
dimensões.
Não se indica, no entanto, a atribuição dessas famílias às dimensões específicas,
ainda que isso possa ser derivado indiretamente.
É significativo notar-se que todas as cinco famílias estão presentes em Bereshit
( ), a primeira palavra da Torá.
Um dos mistérios do Sêfer Ietsirá é o fato de não serem mencionadas as letras
duplas finais.
Essas letras duplas são aquelas que têm diferentes formas no meio e no final das
palavras: Mem (
), Nun ( ), Tsadi (
),Pê (
) e Caf ( ).
Como declara o Talmud, as formas destas letras foram esquecidas para serem
restituídas depois pelos profetas.
Não há absolutamente nenhuma referência destas duplas no Sêfer Ietsirá.
Mas os cabalistas traçam um paralelo entre as 5 famílias fonéticas e as 5 letras
duplas.
Segundo o Ari, as letras correspondem às cinco famílias fonéticas na ordem
apresentada aqui: Tsadi, Nun, Caf, Mem, Pê. Ver Tabela 20.
Antes (1:3) falamos que a divisão das Dez Sefirot em dois grupos representam as
duas mãos.
São os Cinco Amores e os Cinco Julgamentos.
Na ordem das Sefirot elas são:
Cinco Amores: Kéter, Chochmá, Chéssed, Tiféret, Nétsach
Cinco Julgamentos: Biná, Guevurá, Hod, Iessód, Malchut
Torna-se óbvio imediatamente que cada grupo representa um conjunto de pontos
finais no continuum penta-dimensional.
Os pares deste continuum são os seguintes:
Kéter-Malchut Bem-Mal
Chochmá-Biná Passado-Futuro
Chéssed-Guevurá Sul-Norte
Tiféret-Iessód Leste-Oeste
Nétsach-Hod Acima-Abaixo
Já que cada uma das letras finais corresponde a uma família fonética, estas ficam
assim automaticamente atribuídas à sua dimensão apropriada.
Para relacionar cada vogal principal com as famílias fonéticas, o Zohar as apresenta
na ordem i u e o a, que é como aparecem na expressão Pituche Chotam
( ).
Como o Zohar apresenta as famílias na ordem alfabética, extrai-se imediatamente
o seguinte paralelo:
Nós temos então três grupos de cinco elementos: as famílias fonéticas, as letras
finais e as vogais primárias.
Todos podem ser relacionados às cinco dimensões.
Como todas as seções, esta pode também ser lida no imperativo.
O texto diz então: "grave com a voz, entalha com fôlego e coloca-as na boca em
cinco lugares".
A instrução é para se pronunciar cuidadosamente cada letra de cada uma das cinco
famílias.
Isto é "grava com a voz".
Então, alguém deve "talhá-las com fôlego", contemplando cada letra
cuidadosamente e concentrando-se no fôlego que é exalado enquanto ela é
pronunciada.
Finalmente, alguém deverá "estabelecê-las na boca", meditando no lugar da boca
com o qual a letra é pronunciada.
Neste exercício também podem ser pronunciadas as letras de cada família com
suas vogais apropriadas.
Isto produz um cântico que pode ser usado para este exercício. Ver Tabela 26.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 18
Você terá que tomar o número de pontos, multiplicá-lo pelo número abaixo dele e
dividir o resultado por dois.
Assim, três pontos em um círculo podem ser unidos por três linhas, quatro pontos
por seis linhas, cinco pontos por dez linhas e seis pontos por quinze linhas.
Ver Figura 17.
Um certo número de pontos sempre pode ser unido pelo número de linhas de
acordo com a fórmula anterior.
O número de linhas que pode conectar as 22 letras colocadas em um círculo é,
portanto, (22x21)/2. Ver Figura 18.
Fazendo o cálculo se obtém 231.
Estes são os 231 Portões...
Como um muro...
Isto também pode ser lido no imperativo: "coloque-as em um círculo, como um
muro com 231 Portões".
Os cabalistas apresentam uma importante meditação a respeito desses Portões.
Isto é baseado em um texto do Primeiro Capítulo: "grave como um jardim, entalhe
como um muro, cubra como um teto" (1:11).
O iniciado deve contemplar o chão, visualizando-o como sendo de lama negra.
Ele deve então "gravar" as 22 letras, formando cada uma em sua mente.
As letras devem fazer um círculo no chão.
A seguir deve "entalhá-las como um muro".
Deve entalhar cada letra tirando-a do chão e pondo-a na vertical, construindo
assim um círculo de letras que o rodeia como um muro.
Um dos maiores cabalistas, Rabi Isaac de Aco, propõe uma meditação similar onde
as letras são visualizadas sobre o horizonte.
A seguir, o iniciado deve "cobri-las como um teto".
Deve imaginar as 231 linhas que conectam as 22 letras e desenhá-las como um
teto sobre sua cabeça.
Uma vez que completou esse exercício, acha-se preparado para fazer uso do
círculo.
Se o que quer é criar, deve proceder com ele em ordem direta, começando por
Alef.
Enfocando a mente em Alef, segue cada um dos 21 caminhos que emanam dela até
as outras letras, de Bet até Tav.
E continua desse modo usando todas as outras letras. Ver Figura 19.
Além disso, existe também o Método Cabalístico (Figura 21), que é algo mais
complexo.
No Método Cabalístico começa-se escrevendo todo o alfabeto, de Alef a Tav.
Na segunda linha escreve-se todas as outras letras terminando com Shin.
Salta-se então a Tav e começa-se de novo com Alef.
A seqüência se repete novamente.
Na terceira linha escreve-se a cada três letras; na quarta, a cada quatro, até se
completarem as 21 linhas.
Com isso obtém-se a disposição inicial.
A décima primeira linha é particularmente interessante.
Já que 22 é divisível por 11, as duas letras, Alef e Lamed, repetem-se a linha
inteira.
O passo seguinte é pegar a disposição e quebrá-la em pares.
Isso nos dá 21 linhas e 11 colunas, produzindo um total de 231 pares.
Esses são os 231 Portões segundo o Método Cabalístico. Ver Figura 22.
Algo que pode ser visto com clareza é o fato que, embora se obtenha 45 pares,
estes não correspondem exatamente aos únicos 45 possíveis pares de números que
se pode conseguir a partir de 10 dígitos. Ver Figura 25.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 19
Um Nome
Segundo os cabalistas, este Nome é o Tetragrammaton, YHVH ( ).
Cada uma das letras tem que ser permutada com o Tetragrammaton de uma forma
apropriada.
A técnica para fazê-lo é descrita pelo Rabi Eliezer Rokêach de Worms no contexto
particular da criação de um Golem.
Isto nos põe em contato com algumas das mais poderosas técnicas meditativas do
Sêfer Ietsirá.
Quando se trabalha com uma letra, deve-se combinar esta letra com as letras do
Tetragrammaton usando as cinco vogais.
Assim, por exemplo, se alguém for usar Alef, terá que começar por combiná-la com
a Yod do Tetragrammaton usando as cinco vogais. Ver Figura 36.
Expõem-se, entretanto, algumas dúvidas sobre como levá-lo a efeito.
Das palavras do Rabbi Eliezer Rokeach, pareceria que simplesmente se faz uso de
todas a vogais em seqüência:
Mas, como foi dito anteriomente, há questões sobre qual a seqüência das cinco
vogais primárias (2:3).
Existem ao menos meia dúzia de opiniões diferentes.
Se a seqüência correta for crucial, terá de se fazer muita experimentação perigosa
para determiná-la.
É possível, entretanto, que a seqüência não seja de importância capital.
Em qualquer caso, seguindo com o sistema do Rabi Eliezer Rokêach, o iniciado deve
proceder desta forma até completar as quatro letras do Tetragrammaton.
O mesmo pode fazer-se usando qualquer outra letra do alfabeto.
Deste modo, o iniciado continua pronunciando todas as letras na disposição dos
221 (ou 231 Portões).
Como o Alef é a letra associada com o tórax, toda a disposição Alef pertencerá a
esta parte do corpo.
A seguir, o iniciado passa para a cabeça, na qual deve usar a disposição Shin, como
será explicado depois (3:9).
Formará uma disposição dos 221 Portões em que cada linha começa com Shin.
Ele deverá continuar desta maneira através de todas as partes do corpo, usando as
letras que o Sêfer letsirá associa com cada parte.
Para cada letra terá que atravessar a seqüência completa de 221 (ou 231) Portões.
Como cada uma dessas seqüências contém 442 letras, ao completar as 22 letras do
alfabeto terá feito uso de 4.862 letras.
Cada uma dessas letras deverá ter sido pronunciada com as cinco vogais primárias
e as quatro letras do Tetragrammaton, num total de vinte pronúncias para cada
letra.
Isso significa que o exercício completo faz uso de 97.240 pronúncias.
Assumindo-se que alguém pronunciasse quatro sílabas por segundo, completaria o
processo inteiro em aproximadamente sete horas.
O método para criar um Golem é descrito pelo Rabi Eliezer Rokêach em seu
comentário ao Sêfer Ietsirá e apresentado com mais detalhes pelo autor do Emec
HaMélech (Profundidades do Rei). Ver Figuras 37 e 38.
Um iniciado não deve fazê-lo sozinho, e sim estar sempre acompanhado por um ou
dois colegas.
O Golem deve ser fabricado de terra virgem que provenha de um lugar nunca
cavado pelo homem.
A terra deve ser amassada com água pura da fonte, tomada diretamente do chão.
Se esta água ficar em algum tipo de recipiente, estará invalidado seu uso.
Os fabricantes do Golem devem purificar-se totalmente antes de empreender esta
atividade física e espiritual.
Enquanto durar o processo, devem usar vestimentas brancas e limpas.
Estes autores também enfatizam que não se deve cometer nenhum engano ou erro
na pronúncia.
Eles não dizem o que deve ser feito se alguém erra, mas, de outras fontes, parece
que no mínimo deve recomeçar todo o processo desde o princípio.
Durante todo o procedimento não deve ocorrer nenhum tipo de interrupção.
Os mesmos autores insinuam que estão somente revelando o esquema do método,
e não apresentando-o em sua totalidade.
Isso parece evidente ao se consultar outras fontes.
Há também provas de que criar um Golem não era primariamente uma atividade
física, mas sim uma técnica meditativa altamente avançada.
Ao cantar as disposições de letras apropriadas junto com as letras do
Tetragrammaton, o iniciado deveria formar uma imagem mental fiel do ser
humano, membro a membro.
Essa possivelmente seria usada como corpo astral, através do qual poderia
ascender aos domínios espirituais.
Entretanto, a formação de um corpo espiritual dessa índole teria tido como
conseqüência a geração de um tremendo potencial espiritual.
Depois de ter completado o Golem conceitual, este potencial espiritual poderia ser
transferido a uma forma de argila e realmente animá-la.
Este era o processo através do qual um Golem físico seria trazido à vida.
Ao introduzir o método, o Sêfer letsirá diz: "grave-as como um jardim, entalhe-as
como um muro, cubra-as como um teto" (1:11).
Existe a questão sobre qual o papel que esta meditação tem na técnica de criação
de um Golem.
Segundo algumas fontes antigas, a pessoa deve fazer um círculo ao redor da
criatura que está sendo criada.
Isso poderia referir-se à estruturação mental deste "jardim", "muro" e "teto" antes
de formar o Golem.
Era importante também o sistema ensinado pelo Rabi Abraham Abulafia,
aparentemente enraizado em técnicas mais primitivas. Ver Figura 39.
É evidente que os nomes e formas dos pontos vocálicos hebraicos foram usados
com intenção mística muito antes de seu emprego na escritura e gramática.
O primeiro uso não-místico das vogais data dos séculos VIII e IX, enquanto seu uso
místico encontra-se em fontes cabalísticas tão antigas como o século I.
É altamente provável que as formas de escrever as vogais tenham sido tiradas dos
movimentos de cabeça associados com seus sons.
Abulafia usa este sistema de exercícios de respiração e movimentos de cabeça com
a letra Alef, já que Alef (com valor numérico 1) expressa unidade com Deus.
O mesmo sistema pode ser usado com outras letras.
Não há evidência, entretanto, de que esse método tenha sido usado com uma
disposição completa de 221 pares de letras.
Usá-lo com uma única letra já é um grande esforço.
É possível, entretanto, que o método tivesse sido usado com várias letras para
conseguir resultados específicos.
A criação de um Golem era simplesmente o mais avançado e espetacular uso dos
métodos do Sêfer Ietsirá.
Entretanto, cada letra individualmente está associada também com uma parte do
corpo.
A disposição correspondente a essa letra em particular poderia empregar-se em
meditação para afetar um membro específico.
Isso poderia ser usado para fortalecer a energia espiritual de tal membro ou ainda
para propósitos curativos.
As letras são também associadas aos diversos tempos e signos astrológicos.
Com o sistema do Sêfer Ietsirá pode-se construir meditações associadas com eles.
Continua
O Sêfer Ietsirá – Parte 20
Isto é um sinal...
O Sêfer Ietsirá descreve um sinal através do qual a pessoa sabe que alcançou este
estado.
O iniciado deve percorrer toda a disposição, "Alef com todas e todas com Alef".
Significa que ele permuta a disposição para frente e para trás, que são,
respectivamente, os modos de criação e destruição.
O iniciado então "prevê, transforma e faz".
A palavra para "prever" é Tsofe e, como foi discutido antes, esta palavra significa
intuição mística e previsão.
Se o iniciado tiver chegado ao estado adequado, alcança uma intuição mística
através da qual pode perceber a essência interna de todas as coisas.
Ele pode então empenhar-se no processo descrito anteriormente, onde o Sêfer
Ietsirá diz: "examina-as e perscruta delas" (1:4).
Quando o iniciado alcança este elevado nível, pode também "transformar",
mudando de fato as coisas físicas.
Pode até mesmo "fazer", criar coisas no mundo físico.
Mais importante é a realização final: "Tudo o que é formado e tudo o que é falado é
um Nome".
O iniciado não só sabe isto intelectualmente, mas também pode visualizá-lo
realmente e ver que toda a Criação não é mais que um Nome, o Tetragrammaton.
Continua