Você está na página 1de 1

O que podemos chamar de Cabalá Hermética? Qual sua origem? Quais as suas fontes?

Em
primeiro lugar, é importante entender como o Ocidente enxergou a Cabalá durante o
desenvolvimento da Cabalá. Aqui, o significado da palavra Cabalá, do hebraico ‫קַ ָּבלָה‬, isto é,
“tradição” ou “entrega”, influenciou a visão ocidental sobre a Cabalá.

Na Renascença, o desejo por conhecimentos perdidos do Oriente foi o principal motor do


desenvolvimento das diversas ciências e escolas de realização: Alquimia, Astrologia,
Hermetismo et al, e isso pode ser notado através dos diversos pseudo-epigráficos atribuídos a
Abraham, o Sacerdote Judeu ou Hermes Trismegistos, figuras ligadas ao Egito e Israel. Isso
porque a própria Renascença começa influenciada pelo contato entre Oriente e Ocidente
durante as cruzadas e as primeiras transmissões iniciáticas e doutrinárias dos orientais aos
ocidentais. John Dee (1527 - 1608), em “O Pequeno Livro da Vênus Negra”, atribui suas
técnicas à Cabalá, referida como o mistério que separa a boa magia da feitiçaria vil. Talvez esta
referência seja uma das mais importantes na análise da Cabalá Hermética, pois é uma
referência à Cabalá enquanto a mais excelsa filosofia e escola de Magia. Por outro lado, o
desenvolvimento mais filosófico da Cabalá Hermética surgiu em um antecessor de Dee, o
renascentista Giovanni Pico della Mirandola (1463 - 1494), em sua obra “Conclusiones
philosophicae, cabalisticae et theologicae”, que abriu espaço para outras especulações típicas
da Renascença em torno da Cabalá, sintetizando neoplatonismo, hermetismo, cristianismo
gnóstico e Cabalá judaica.

Nesta mesma linha, as obras Splendor Lucis (1745); O Anfiteatro da Sabedoria Eterna, de
Khunranth (1595); O Ideário da Sabedoria Oculta, de Sabbathier (1679) e As Gravuras Secretas
dos Rosacruzes (meados do século XVIII) são continuações daquilo iniciado em Pico della
MIrandola, acompanhando o desenvolvimento da Alquimia e Heremtismo.

Entretanto, para melhor compreender a Cabalá Hermética, faz-se mister entender o próprio
desenvolvimento da Cabalá Judaica. Enquanto em obras mais antigas, como no “Anifteatro” de
Khunranth, notamos uma influência Cabalista típica da época, ou seja, mais relacionada aos
mistérios da criação e da redenção segundo fontes como o Sepher HaZohar; em obras como
“As Gravuras Secretas dos Rosacruzes” já notamos um outro tipo de influência cabalística, pois
a Cabalá Judaica atinge outro estado depois do movimento Sabateísta, iniciado por Shabbatai
Tzevi (1626 - 1676), onde o drama da criação atinge seu auge e, por conta de sua conversão
externa ao Islã e a continuidade do Judaísmo enquanto esoterismo, surge a possibilidade de
vivenciar a Cabalá como uma ciência voltada aos círculos iniciáticos, possibilitando uma Cabalá
de Sociedades Secretas e voltada a quem é cristão ou muçulmano “por fora”, mas cabalista por
dentro.

Neste aspecto, a Cabalá também influenciou diversas ordens rosacruzes e aspectos da


Maçonaria, pois sabateístas fugidos do Império Otomano levaram à Alemanha, Inglaterra,
França e Portugal este conceito de “cripto-cabalismo”.

Estudar as obras fundamentais da Cabalá Hermética é fundamental para que entendamos o


desenvolvimento da Cabalá Judaica e sua ligação com o Ocidente, algo que é um tanto
negligenciado por muitos praticantes e estudiosos do ocultismo ocidental, o que leva à
idealização errônea da Cabalá, algo que foi muito acentuado nos séculos XIX e XX.

Você também pode gostar