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Ebook - Teoria Geral de Investigação e Perícia
Ebook - Teoria Geral de Investigação e Perícia
INVESTIGAÇÃO E PERÍCIA
autor
ANDERSON MARTINS DA SILVA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2019
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2019.
isbn: 978-85-5548-716-3.
1. Conceito de investigação e
sua contextualização histórica 9
Histórico da investigação criminal e pericial 10
Investigação policial 48
O modelo da Inglaterra 48
3. A importância da verdade e das provas
no Processo Penal 53
Verdade e investigação 54
A importância da verdade na evolução histórica 54
O princípio da verdade real no âmbito do processo penal 55
O princípio da verdade real na ótica Constitucional 57
Verdade real e ônus da prova 57
Princípio da verdade real e da verdade relativa 58
Ramos da perícia 85
A ciência forense 85
Criminalística 90
Principais perícias elencadas no Código de Processo Penal 91
Outros dispositivos processuais 92
5. A atuação da perícia e
da investigação criminal 101
Ramos da perícia 102
Classificação do local de crime 102
Locais de crime contra pessoa 103
Locais de crime contra o patrimônio 105
Local de crime de trânsito 108
Local de crime contra o meio ambiente 110
Prezados(as) alunos(as),
O conteúdo deste material irá fornecer ao leitor subsídios para maior apro-
ximação com os elementos que perpassam o tema da investigação e perícia na
sociedade brasileira.
Para maior compreensão, o livro foi dividido em cinco capítulos, de forma a
tratar os assuntos com maior abrangência, assim como na sua particularidade. A
estrutura de cada capítulo é composta por uma introdução, objetivos e, ao final de
cada capítulo, o leitor encontrará atividades de fixação do tema tratado, as consi-
derações finais e a bibliografia de base.
No capítulo 1, são apresentados o surgimento e a evolução da investigação e
da perícia criminal, por meio da aplicação dos sistemas processuais e de justiça no
Brasil e em alguns países precursores na Europa. Neste momento são apresentadas
as diferenças dos sistemas acusatório, inquisitório e misto, bem como o modelo
adotado no Brasil, de acordo com a doutrina majoritária.
Já o capítulo 2 discorre acerca da investigação preliminar nas diversas realida-
des dos países estudados, mas também apresenta duas importantes funções para o
poder de polícia, podendo ela ser administrativa ou repressiva, variando conforme
sua alocação na sociedade e seu objetivo. O leitor ainda encontrará, a partir do
estudo realizado com esses países, a investigação criminal sendo exercida não só
pela polícia, mas também por outros órgãos, como o Ministério Público.
O capítulo 3 trata do princípio da verdade real e suas principais característi-
cas, entendendo a verdade como elemento de suma importância no Direito. No
entanto, é possível conhecer o contraponto da utilização da verdade real, princi-
palmente no que tange a discussão da imparcialidade. Ainda constará a forma pela
qual se desenvolve a produção probatória no processo criminal com a abordagem
dos meios de prova típicos, previstos no Código de Processo Penal.
Em seguida, o capítulo 4 apresenta a atividade de perícia como ação regula-
mentada, possibilitando a atuação dos profissionais peritos com especialidades di-
versas de acordo com as normas do Código de Processo Civil (CPC) e do Código
de Processo Penal (CPP). O leitor poderá conhecer a atuação de uma segunda
perícia, com vistas a eliminar dúvidas levantadas. Fechando este capítulo, foram
abordadas técnicas como a exumação e a reprodução simulada, que auxiliam o
trabalho pericial.
7
Finalmente, o capítulo 5 traz a discussão de locais de crime e algumas medidas
adotadas para a investigação, como coleta de material, fotos e outras, variando
conforme o tipo de prática do crime. Para complementar, você poderá compreen-
der a importância e os limites da intervenção corporal, cuja investigação se dá no
corpo da pessoa. Posteriormente, a investigação na atividade empresarial é assunto
deste capítulo, apresentando até onde é possível avançar. No entanto, mecanismos
de alinhamento e conformidade, como Programas de Compliance, têm sido ado-
tados nas empresas, a fim de identificar e tratar irregularidades e até atos ilícitos.
Para finalizar, os atores que podem atuar na investigação criminal são apresenta-
dos, bem como suas características e seu escopo de atuação.
Após conhecer um pouco de cada capítulo, acredita-se que, além de orientar e
subsidiar o leitor no decorrer do curso, esse conteúdo possa instigar e aprofundar
cada vez mais o conhecimento de quem dele se apropriar.
Bons estudos!
1
Conceito de
investigação e sua
contextualização
histórica
Conceito de investigação e sua
contextualização histórica
OBJETIVOS
• Apresentar a evolução da investigação e da perícia criminal;
• Diferenciar os sistemas processuais inquisitório, acusatório e misto;
• Identificar os sistemas processuais de países europeus com grande influência nos siste-
mas de persecução penal, principalmente no sistema processual brasileiro.
CURIOSIDADE
A partir do século XVII, a investigação criminal era conhecida como devassa.
capítulo 1 • 10
Contudo, nos séculos XVIII e XIX surgiram, na França e na Inglaterra, pe-
quenos grupos de investigadores, influenciados pelos movimentos da Revolução
Industrial e da Revolução Francesa, tendo em vista a grande urbanização e os seus
impactos.
Nessa época, a pena de morte e o cárcere privado começaram a ser questio-
nados, surgindo a pena privativa de liberdade como a grande invenção e a forma
mais eficaz de controle social.
O surgimento da pena privativa de liberdade tem como pano de fundo as
dificuldades econômicas que afetaram a população, originando um aumento no
número de delitos, bem como o advento do Iluminismo, mudando a mentalidade
de pena nesse período. Assim, esses dois movimentos da época marcaram de for-
ma importante a história das penas, que deixou de ser um castigo ou uma decisão
apenas moral, punindo condutas, e não pessoas. (Carvalho Filho: 2002)
Na realidade brasileira, era o rei quem legislava. Com a Independência do país
e com a influência europeia, foram adotadas diversas medidas processuais, dentre
elas a separação entre a investigação e o processo, por meio de documento datado
de abril de 1824 (ato 81). Assim, o juiz da devassa estava impedido de julgar a
causa. No entanto, as mudanças só ocorreram no processo penal após oito anos,
com o surgimento do Código de Processo Criminal, em 1832.
A investigação criminal era feita por juízes até o ano de 1841, quando então,
naquele ano, os chefes de polícia e seus delegados passaram também a fazer inves-
tigação. Cabe destacar que o nome “delegado” surgiu nesse momento, pois é ele
quem recebe a delegação do chefe de polícia.
Outro ponto de atenção aos leitores trata-se de que os chefes de polícia só
poderiam ser os desembargadores e os juízes de direito, assim como só os juízes
e cidadãos podiam ser delegados e subdelegados, cuja aceitação era obrigatória,
conforme Lei 261/1841, art. 2º.
No ano seguinte, em 1842, a polícia judiciária foi criada no Brasil, e a inves-
tigação surgiu com o nome de “corpo de delito” e “formação da culpa” (art.198),
conduzida pela polícia ou por juízes municipais.
O inquérito policial como conhecemos atualmente surgiu no Brasil em 1871,
com o Decreto 4.824. No entanto, apesar de ser da competência da polícia, as
autoridades judiciárias poderiam manter sua interferência no inquérito policial.
No período entre 1891 e 1941, logo após a Proclamação da República, cada
estado do país passou a ter sua própria legislação processual penal. Mas foi no ano
de 1941 que passou a vigorar o atual Código de Processo Penal. Nele, o inquérito
policial é de responsabilidade da polícia, e o destinatário é o juiz.
capítulo 1 • 11
Somente com a Constituição de 1988 o Ministério Público passou a ser o
titular privativo da ação penal pública, iniciando o movimento de desjudicializar
a investigação.
A perícia criminal, como parte da Investigação Criminal, tem como objetivo
chegar à solução dos problemas que acometem a sociedade, assassinatos ou outros
crimes. Ela surgiu como marco no Brasil em 1832, no período monárquico, com
a promulgação do Código de Processo Criminal. Nesse momento surgiu também
a figura do perito oficial.
O perito é o profissional que analisa os fatos e os indícios de determinado
delito. É por intermédio dele que é possível obter provas, visíveis ou não, e os
possíveis instrumentos utilizados para executá-lo. Lembrando que a prova pericial
é indispensável em todos aqueles crimes que deixam vestígios ou apresentam víti-
mas, mesmo que o acusado confesse o crime.
Atualmente, o tratamento dispensado às perícias encontra base no Código
de Processo penal, a partir do art. 159, trazendo regras específicas que orientam a
atuação dos peritos e de outras autoridades.
O exame de corpo de delito e outras perícias será realizado por perito oficial,
portador de diploma de curso superior, e, na sua falta, o exame será realizado por 2
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, preferencialmen-
te na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a
natureza do exame.
Quando se tratar de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhe-
cimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial.
Os peritos elaborarão o laudo, descrevendo minuciosamente o que examina-
rem, e responderão aos quesitos formulados pela autoridade requisitante.
Apesar de a confissão do acusado não dispensar o exame pericial, na impos-
sibilidade de realizar o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Para o efeito de exame do local onde houver sido praticado um crime, a auto-
ridade policial providenciará a preservação até a chegada dos peritos, que poderão
instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.
Mesmo auxiliada por outras disciplinas, hoje a investigação criminal é reco-
nhecida como uma disciplina cientifica autônoma, com técnicas e conhecimentos
específicos, que objetiva descobrir e definir crimes. Assim como as demais discipli-
nas científicas, a investigação criminal é fruto do desenvolvimento histórico, cujos
saberes surgiram e foram desenvolvidos ao longo dos séculos XVIII e XIX, com os
capítulo 1 • 12
conhecimentos que nasceram e se firmaram à época, ampliando-se para países da
Europa, da América do Sul e da América do Norte.
capítulo 1 • 13
REFLEXÃO
Para finalizar esta unidade, convido a você para uma reflexão: Se o Direito é um fe-
nômeno social, causa e efeito dessas relações sociais, acompanhando os seus constantes
movimentos, por que muitas vezes o Direito se apresenta de forma conservadora, com pouco
dinamismo e deixando situações sem respostas?
Quando as leis existentes não acompanham a evolução e a dinâmica social, o Direito
atende apenas parcela dos sujeitos e fica distante de responder aos distintos interesses
sociais existentes. Autores como Cesar Augusto Ramos (2001) avaliam a importância de um
aperfeiçoamento do Direito diante da evolução da sociedade, senão pela via legislativa, por
se apresentar retrógrada, muitas vezes o caminho é traçado pela jurisprudência.
capítulo 1 • 14
1. Os crimes privados, cuja acusação estava nas mãos do ofendido ou
dos seus titulares. Sem a sua permissão, não se pretendia uma ação, pois seu
resultado não produzia maiores prejuízos para o Estado, e sim impactava
interesses individuais.
2. Os crimes públicos, cuja acusação não estava nas mãos apenas do
ofendido ou dos seus titulares (pai, tutor ou senhor), pois seu resultado
impactava de certa forma o coletivo ou interesse geral, bem como era con-
siderada a gravidade do delito. Nesses crimes, além do poder de acusação
de qualquer cidadão, os Tesmotetas, os julgadores, eram responsáveis pela
vigilância no processo e por promover também a acusação.
capítulo 1 • 15
O processo penal em Roma
É importante perceber que o processo penal em Roma passou por fases distin-
tas, como bem destaca Tourinho:
capítulo 1 • 16
O processo penal germânico
No processo penal germânico, assim como você pôde estudar nos processos
penais grego e romano, também ocorreu distinção entre crimes privados e públi-
cos. Os crimes privados eram administrados pelo rei, príncipe, duque ou conde
por assembleia, enquanto que o réu era o responsável por provar a sua inocência
no momento da defesa.
As principais provas eram o juramento e os ordálios, também conhecidos como
Juízos de Deus. O acusado jurava não ter cometido o crime de que era acusado, e
esse juramento podia ser fortalecido pelos Juízes, os quais juravam que o acusado
não era capaz de afirmar uma falsidade. Essa prova do juramento baseava-se na cren-
ça de que Deus, conhecendo o passado, pode castigar aquele que jura falsamente.
Novamente, de acordo com Tourinho Filho (2001), o juízo de Deus, acima
relacionado, era realizado de forma generalizada. Havia aqueles conhecidos como
da água fria e o da água fervente.
Exemplo 1:
No da água fria, o acusado era jogado à água. Em caso de submersão, era consi-
derado inocente e, nas situações em que ficava na superfície, era tido como culpado.
Exemplo 2:
No da água fervente, o acusado era obrigado a colocar o braço dentro da água fer-
vente. Se, no momento em que retirasse, não houvesse lesão, era considerado inocente.
Também existia o juízo de Deus do ferro em brasa, em que o acusado segurava por
algum tempo um ferro com brasa e, caso não se queimasse, era considerado inocente.
Nos primeiros anos até o século XII, o Processo Penal canônico, que surge
com o objetivo de defender os interesses da igreja, apresentava em seu formato de
julgar e aplicar a pena, o tipo acusatório. Ordenado pelo juiz, o processo só ini-
ciava com a apresentação de um acusador legitimado, que apresentasse por escrito
sua acusação e oferecesse as provas dos fatos levantadas. Nas situações em que o
acusado não estava presente, não era permitido praticar punição.
capítulo 1 • 17
Após um século de vigência do processo penal acusatório, este deu lugar ao
processo penal inquisitivo, em que se queria punir o pecado.
Nesse momento, foi consolidado gradativamente o “Tribunal da Inquisição"
ou "Santo Ofício", para reprimir a heresia, o sortilégio, a adivinhação etc. Este
tribunal era composto inicialmente por sete ou mais pessoas íntegras que juravam
depor sobre as desordens que conhecessem. Em seguida, foram criadas comissões
mistas, dando origem aos inquisidores. Esse era um Tribunal que intimidava bas-
tante, tendo em vista a gravidade das penas, a isenção de garantias para o acusado
e sem possibilidade de recurso das sentenças.
(..) Com o sistema inquisitivo em prática, foram tomadas medidas drásticas acerca do
processo penal naquela época, uma vez que foram abolidas a acusação nos crimes que
tratava de ação penal pública, também abolido foi a publicidade do processo, no qual
o magistrado procedia ex officio em segredo, também secretamente eram procedidos
os depoimentos das testemunhas, bem como o interrogatório do acusado, este era
realizado mediante torturas. (Ibidem)
CURIOSIDADE
Você sabia que a prisão surgiu no direito canônico?
A prisão nasceu como uma forma de penitência, assim como também foi auto-
rizada a reparação da honra e dos danos, multa e proibição de reincidir. Neste pe-
ríodo, a arma espiritual foi bastante utilizada, como a excomunhão e a interdição.
Sem se importar com as sanções em que se impunham, o processo penal canônico ofe-
rece a evolução mais radical que se possa conceber, só comparável com a do romano.
A prisão nasceu no direito canônico (devia resultar realmente apropriada para o logro da
penitência e emenda do culpável), que também autorizou a admoestação, a reparação
da honra, a proibição de reincidir, a multa e a reparação dos danos. Mas as armas mais
poderosas dos juízes eclesiásticos foram espirituais: A excomunhão, que implicava a se-
paração da sociedade dos fiéis, suspensão das funções, despojo de privilégios e honras,
confisco de bens, privação dos direitos civis e a proteção jurisdicional (o condenado não
podia geralmente demandar nem atuar como testemunha) e a interdição que era a sus-
pensão dos ofícios sagrados a uma cidade ou vila. (Mendroni, 2006)
capítulo 1 • 18
As disposições penais do período de XVI a XX previa delitos contra a religião,
crimes comuns contra a pessoa e contra a propriedade, além daqueles que envol-
viam pessoas do clero. No entanto, com o surgimento do Estado laico, no século
XVI, o direito canônico ficou restrito a questões religiosas e espirituais, assim
como nos seus primórdios.
Com o código de Direito Canônico de 1917, a acusação não era mais feita por
quem se sentiu ofendido. Nasceu a figura do Ministério Público, em que o promo-
tor de justiça tem a responsabilidade e o monopólio da ação acusatória. A previsão
mais interessante desse código, no que tange ao processo penal, é o instituto da
inquisição, ou, como conhecemos no Brasil, o intitulado inquérito policial. Para
canonistas como Miguélez Domíngues, a inquisição é o mesmo que investigação
e indagação e que quer conhecer o delito e quem o praticou. Nesse documento,
dois pontos devem ser destacados:
1. o inquisidor não podia atuar como juiz no mesmo processo ;
2. o juiz não podia valorar na sentença a prova colhida na inquisição.
capítulo 1 • 19
A Alemanha criou leis com base no sistema inquisitivo, e a mais importan-
te delas foi a lei de 1503, no período do Império, conhecida como Constitutio
Criminalis Carolina. A sua vinculação ao sistema inquisitivo é notória, por ter em
suas características o lugar, a forma, o acusador e os juízes como secretos.
Em contrapartida, diferentemente do movimento da Europa continental e in-
fluenciado pelas ideias iluministas, existiu no século XVIII o movimento de abolição
do sistema inquisitivo na Inglaterra. Esta defesa você poderá perceber em pensadores
como Montesquieu, que reprovava as torturas, e Voltarie, que demonstrava a im-
portância de se questionar a lei vigente, para que magistrado e acusado não fossem
tratados como inimigos, conforme estava previsto na Ordonnance de Luiz XIV.
Em seguida, nota-se um movimento de combate ao sistema inquisitivo, como
podemos verificar no trecho abaixo, do autor Fernando da Costa Tourinho Filho:
Em Nápoles, aboliam-se as torturas, e, já por volta do ano 1774, exigia-se sentença mo-
tivada. Em Toscana proibiam-se as denúncias secretas e as torturas. Na França, um édito
de 1788 proibia as torturas, exigia sentença motivada e concedia ao acusado absolvido
uma reparação moral consistente na publicação da sentença.
capítulo 1 • 20
A condução dos sistemas de processo penal pode ocorrer por meio de duas
formas: do Sistema Inquisitório e do Sistema Acusatório. No entanto, há autores
como Guilherme de Souza Nucci, que ainda define uma terceira forma, intitulada
de Sistema Misto ou Francês. Vamos conhecer as características de cada um deles.
capítulo 1 • 21
MULTIMÍDIA
Sugestão de filmes que retratam as características do sistema inquisitório:
capítulo 1 • 22
do ano de 1215, originando o princípio do devido processo legal, assegurando que
as funções de acusar, defender e julgar são responsabilidades de atores distintos.
Nesse sistema, a isonomia no processo penal é garantida, pois deve haver o
equilíbrio e a igualdade de oportunidades entre a acusação e defesa, conforme pre-
vê de fato o Estado Democrático de Direito. Cabe destacar que, na Constituição
Brasileira, pregam-se os princípios acusatórios. Em contrapartida, não é expressa
a adoção desse sistema no ordenamento jurídico, de modo que, para os autores
Marcos Kac e Nucci, o processo brasileiro adotou o sistema misto, como veremos
a seguir.
SISTEMA SISTEMA
INQUISITÓRIO ACUSATÓRIO
Acusador, Defensor e Todas as funções em Cada função é exercida
Julgador uma só pessoa. por pessoas distintas.
capítulo 1 • 23
Sistemas de Processo Penal brasileiro
O sistema de Processo Penal brasileiro é tido como acusatório, com base nos
princípios constitucionais vigentes, tais como: o devido processo legal, contra-
ditório, ampla defesa, presunção de inocência, separação das funções de acusar,
defender e julgar, publicidade, dentre outros.
Cabe destacar que princípio é um mandamento que se irradia por todas as
normas que lhe são subordinadas, direcionando o verdadeiro sentido de todo um
sistema. Segundo Tourinho Filho apud Nicolit (2014, p.114), os princípios são
postulados fundamentais que informam o conteúdo das normas regentes do pro-
cesso em seu conjunto.
Vamos conhecer, a seguir, um pouco mais sobre alguns dos princípios citados:
capítulo 1 • 24
processo legal, em que o acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova
pertinentes para sua defesa, observado ainda o contraditório.
Tal previsão é encontrada na Constituição e também em tratados internacio-
nais dos quais o Brasil é signatário, tais como:
• Art 9º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789).
• Declaração Universal de Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia da
Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro de 1948, em seu art.
11.1, que dispõe: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua
inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em pro-
cesso público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa”.
• Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Dec. 678/92 – art. 8º, §
2º): “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência
enquanto não se comprove legalmente sua culpa”.
Princípio do contraditório
Previsto no art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal, indica que aos litigan-
tes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegura-
dos o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
São dois os elementos do contraditório:
a) direito à informação;
b) direito de participação.
Este princípio tem também previsão no art. 5º, LV, da CF/88: “aos litigantes,
em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Não é por
acaso tal tratamento conjunto, pois, apesar de distintos, o direito de defesa está
capítulo 1 • 25
ligado diretamente ao princípio do contraditório. A defesa garante o contraditório
e por ele se manifesta, e o exercício da ampla defesa só é possível em virtude de um
dos elementos que compõem o contraditório – o direito à informação.
A ampla defesa se subdivide em defesa técnica e autodefesa. A primeira se
caracteriza como aquela exercida por profissional da advocacia, dotado de capaci-
dade postulatória, seja ele advogado constituído, nomeado ou defensor público.
A defesa é necessária, indeclinável, não sendo possível que alguém seja processado
sem que tenha defensor, pois é indisponível e irrenunciável. Deve ser aplicado
ainda que o acusado queira ser processado sem defesa técnica, ou seja, contra a
sua vontade.
A autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, em determinados mo-
mentos do processo, mormente durante o interrogatório. Diferentemente da de-
fesa técnica, embora não possa ser desprezada pelo juiz, é disponível, já que não
há como se obrigar o acusado a exercer seu direito ao interrogatório nem tam-
pouco a acompanhar os atos da instrução processual. Assim, deve ser intimado
pessoalmente das decisões para que, querendo, possa exercer o seu direito de re-
correr pessoalmente.
Princípio da publicidade
De acordo com o art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, todos os julga-
mentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e todas as decisões serão
fundamentadas, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em de-
terminados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em
casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação.
Tal princípio também está previsto, de modo semelhante, na Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, afirmando-se que: “o processo penal deve ser
público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça” (Dec.
678/92, art. 8º, § 5º).
capítulo 1 • 26
garantia de que essas deliberações não resultam de posturas arbitrárias por parte
do magistrado.
O princípio guarda correspondência com o sistema do livre convencimento
do juiz, adotado no art. 155, caput, do Código de Processo Penal, que possibilita
que o juiz possa decidir de acordo com suas convicções, desde que fundamente,
permitindo que os destinatários possam conhecer suas razões.
Os princípios indicados acima, assim como outros previstos na Constituição,
reforçam a tese de que o sistema adotado no Brasil é o acusatório. No entanto,
cabe destacar que a doutrina minoritária, a exemplo de Guilherme de Souza Nucci
(2009), classifica o nosso sistema como Misto, pois entende que o inquérito poli-
cial é pautado no sistema inquisitório e a base do processo é do sistema acusatório.
Com o objetivo de acabar com tal divergência, o referido autor afirma que
a única forma de se adotar o sistema acusatório na prática é com a mudança do
código de Processo Penal.
REFLEXÃO
Como você pode perceber, o homem sempre construiu formas de punição às pessoas
que cometiam crimes. No entanto, somente no século XVII é que se originou a investigação
criminal, sendo sua forma modificada ao longo da história.
Atualmente, a investigação criminal é uma disciplina científica, cujo objetivo é descobrir
e definir crimes, sendo parte dela a perícia criminal, conforme respaldo no Código de Pro-
cesso Penal.
Neste capítulo, você aprendeu as particularidades do sistema inquisitório – em que ne-
nhuma garantia é dada ao acusado –, do sistema acusatório – em que direitos do acusado
são respeitados – e, por fim, do sistema misto ou francês – que mescla características de
ambos os sistemas.
Considerações finais
De acordo com o que foi apresentado neste material, você pode perceber que
a doutrina majoritária brasileira acolhe o sistema acusatório, ainda que não seja
puro, em que há a separação das funções de acusação, defesa e julgamento. O
sistema inquisitivo não atende às garantias do Estado Democrático de Direito.
capítulo 1 • 27
Foi levantada, ainda, a necessidade de revisão do Código Penal Brasileiro à luz
da Constituição Federal de 1988 e a necessidade de que a concepção do sistema
acusatório deve estar alinhada com os princípios da imparcialidade e do contradi-
tório, para que o acusado seja sujeito de direitos na ordem jurídica.
ATIVIDADES
01. (CESPE 2016 – PC-PE – DELEGADO – ADAPTADA) No sistema processual inquisitivo,
o processo é público; a confissão é elemento suficiente para a condenação; e as funções de
acusação e julgamento são atribuídas a pessoas distintas.
capítulo 1 • 28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 1 • 30
2
A investigação
criminal no Brasil
e no direito
comparado
A investigação criminal no Brasil e no direito
comparado
OBJETIVOS
• Identificar as diferentes formas de investigação criminal;
• Definir, por meio do direito comparado, uma das etapas da persecução penal;
• Definir a realidade de diferentes países com seu modelo de investigação preliminar.
Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, li-
mitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene,
à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de ativida-
des econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tran-
quilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
capítulo 2 • 32
CONCEITO
Conceito em sentido amplo: o Poder de Polícia é a atividade do Estado em condicionar a
liberdade e a propriedade conforme os interesses coletivos.
EXEMPLO
Policial Militar que anda fardado pelas ruas age no exercício de funções de polícia admi-
nistrativa, já que atua com o objetivo de evitar a prática de delitos.
capítulo 2 • 33
Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato
determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas
ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos
infratores.
As comissões parlamentares de inquérito são órgãos que instauram proce-
dimento administrativo de feição política, de cunho meramente investigatório,
semelhante ao inquérito policial. No entanto, as Comissões Parlamentares de
Inquérito não são dotadas de poderes gerais de investigação, só podendo inves-
tigar fatos precisos e determinados que sejam de interesse público. Esses fatos
específicos podem ter qualquer natureza, inclusive criminosa, independentemente
de quem esteja envolvido.
capítulo 2 • 34
ao Parquet requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
policial.
d) O sistema do art. 129 da Constituição visa a fornecer ao Ministério
Público autonomia para levar a cabo a apuração dos fatos necessários ao
oferecimento da denúncia, por meio inclusive da expedição de notificações
para a coleta de depoimentos.
e) Não há conflito entre as normas constitucionais indicadas acima e o
que dispõe o art. 144 da Carta, tanto porque tais normas têm caráter lógi-
co, como porque o art. 144 não conferiu exclusividade à Polícia no que diz
respeito à investigação de infrações penais.
f ) Outras normas constitucionais: (I) o art. 127, caput , que impõe ao
Parquet a defesa da ordem jurídica e dos interesses individuais indispo-
níveis; (II) o art. 129, II , que conferiu ao Ministério Público o dever de
zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos, promovendo as medidas
necessárias à sua garantia; (III) o art. 129, IX, que admite que o Ministério
Público exerça outras funções compatíveis com sua finalidade;
g) Quanto à ordem infraconstitucional, a Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público (Lei nº 8.625 de 1993), em seu art. 26, I, “a” e “b” ,
prevê a expedição de notificações para colher depoimento ou esclarecimen-
tos, bem como a requisição de informações e exames.
capítulo 2 • 35
d) A competência para promover a ação penal (CF, art. 129, I9) não en-
globa a investigação criminal – esta competência não é um minus em re-
lação àquela. Trata-se, na verdade, de uma competência diversa e que foi
atribuída de forma expressa pelo constituinte a outro órgão. Não se aplica
aqui, portanto, a lógica dos poderes implícitos, pela qual o órgão a quem
compete o mais compete igualmente o menos.
e) Em decorrência dos argumentos expostos acima, a atribuição de com-
petência investigatória ao Ministério Público depende de prévia emenda
constitucional. De toda sorte, a legislação infraconstitucional atualmente
em vigor (especialmente a Lei Complementar nº 75/93 e a Lei nº 8.625/93)
em momento algum atribuiu ao Parquet essa competência, e ela simples-
mente não pode ser extraída diretamente do texto constitucional.
capítulo 2 • 36
preparatório para a ação penal, presidido por um juiz de direito, no qual eram
assegurados o contraditório e a ampla defesa.
A nova lei de recuperação de empresas e falências (Lei nº 11.101/05), no en-
tanto, além de revogar o diploma anterior, não tratou do assunto, razão pela qual
se conclui que já não existe mais o denominado inquérito judicial.
Atualmente, se houver prova da ocorrência de crime falimentar, o Ministério
Público deve apresentar denúncia se tiver elementos para tanto ou requisitar a ins-
tauração de inquérito policial, nos termos do art. 187, caput, da Lei nº 11.101/05.
O novo regramento vem ao encontro do sistema acusatório, impondo ao juiz
um distanciamento das funções investigatórias, reservando-lhe o papel de acudir à
fase preliminar apenas quando necessário para a tutela das liberdades fundamentais.
Contudo, nas infrações penais praticadas por magistrados, há previsão de investi-
gação no próprio judiciário, tanto que, quando no curso de investigação houver indí-
cio da prática de crime por parte do Magistrado, a autoridade policial, civil ou militar
remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou Órgão Especial competente para o julga-
mento, a fim de que se prossiga na investigação (LC 35/79, art. 33, parágrafo único).
Tal regramento, porém, é rechaçado pela doutrina, pois, à luz da Constituição
Federal, que adotou o sistema acusatório, com a separação das funções de acusar,
defender e julgar, ou seja, na fase investigatória, o juiz deve intervir somente para
tutelar violações ou ameaça de lesões a direitos e garantias individuais das partes
(Avena, 2017:p.12).
Destaca-se ainda que, no Brasil, não foi adotado o instituto acolhido por ou-
tros países do juizado de instrução, no qual o magistrado exerce as competências
de polícia judiciária. Portanto, o art. 33, parágrafo único, da LC nº 35/79 deve ser
interpretado conforme a Constituição no sentido de que o Tribunal de Justiça ou
órgão especial, ao presidir o inquérito, apenas atua como um supervisor, agindo
sempre por provocação, e nunca de ofício, detendo as mesmas atribuições que a
legislação processual confere aos juízes singulares.
Assim, o Judiciário, em nosso sistema processual penal, atua no inquérito para
assegurar a observância dos direitos e as liberdades fundamentais e dos princípios
sobre os quais se assenta o Estado Democrático de Direito.
capítulo 2 • 37
apurado, conforme seja de competência da Justiça Estadual ou da Justiça Federal,
respectivamente, por meio do procedimento chamado “inquérito policial”.
O termo “delegado de polícia” originou-se no fato de as atribuições investiga-
tivas serem uma delegação de funções e atribuições dos juízes municipais, também
chamados de “juízes de paz”, que existiam antes do século XX, os quais exerciam as
funções inerentes de polícia judiciária cumulativamente com as funções judiciais.
Por causa do aumento da população das cidades, houve também o crescimen-
to dos problemas intrínsecos aos agrupamentos urbanos ou rurais, e o pior deles
era a criminalidade. Com o aumento da marginalização e, consequentemente, dos
ilícitos, para tentar evitar que se perdesse o controle da situação e se mergulhasse
num caos social, foram delegadas as atribuições dos magistrados para que estes se
dedicassem apenas às funções judiciais, de maneira a permitir maior celeridade e
eficácia tanto aos julgamentos quanto às investigações. Aqueles que receberam a
delegação para investigar passaram a ser chamados de delegado de polícia.
Havia, nas Ordenações Filipinas e no Código de Processo de 1832, comandos
legais que previam o procedimento informativo inquisitivo, sem, entretanto, de-
nominá-los de “inquérito policial”.
O nome que é utilizado hoje veio na esteira do Decreto nº 4.824, de 28 de
novembro de 1871, que, por seu turno, regulamentou a Lei nº 2.033, de 1871.
Determinava o artigo 42 do aludido Decreto que o inquérito policial consistia
em todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos,
suas circunstâncias, seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instrumen-
to escrito.
Atualmente, o Código de Processo Penal traz um título específico tratando
do inquérito, com um rol de medidas a serem adotadas pela autoridade, sem, no
entanto esgotar o tema, com o fim de coletar elementos de autoria e materialidade
do ilícito penal.
RESUMO
Concluindo...O Inquérito Policial traz, em seu conceito, o procedimento administrativo in-
quisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, e consiste em um conjunto de di-
ligências realizadas pela polícia investigativa, objetivando a identificação das fontes de prova
e a colheita de elementos de informação quanto à autoria e à materialidade da infração penal,
a fim de possibilitar que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
capítulo 2 • 38
Investigação criminal no direito comparado
Os Juizados de instrução
O juiz de instrução foi criado no século XIX por Napoleão, após a Revolução
Francesa, com implantação do sistema misto no processo penal da França e na
ausência de ações democráticas, em que se tratavam as situações em segredo e sem
direito de defesa.
O continente europeu foi fortemente influenciado pelas ideias difundidas à épo-
ca, principalmente com as invasões dos territórios vizinhos pelo governo da França.
Com a análise histórica do direito processual penal nos países da Europa, nota-se
a presença de características do sistema inquisitivo, dentre eles o Juizado de Instrução,
que, apesar de ser do sistema misto, apresenta muitos princípios inquisitoriais.
Apesar das discussões que existem atualmente na Europa no sentido de eli-
minar o Juizado de Instrução das legislações de processo penal locais, ainda hoje
é possível identificar os institutos iluministas daquela época, nos ordenamentos
jurídicos de vários países.
capítulo 2 • 39
É bem verdade que as legislações europeias influenciaram países da América
Latina, principalmente por causa das colonizações.
A análise que você conhecerá nas próximas linhas está embasada no movimento
histórico e no direito comparado. Dessa forma, para sua maior compreensão e para
dar subsídios à sua criticidade, serão expostos os elementos que compõem as legisla-
ções de alguns países europeus e americanos mais expressivos para essa apresentação.
O movimento crítico torna-se importante, pois serão apresentadas as con-
tradições entre os juizados de instrução e o sistema processual acusatório, aquele
estudado no capítulo anterior, com garantias fundamentais ao homem.
O modelo francês
capítulo 2 • 40
Na França ainda há uma fase que ocorre no meio do processo, com a Câmara
de acusação, que fica entre as fases de investigação e de julgamento. Cabe destacar
que, nessa fase, ainda há princípios mais característicos do sistema inquisitório.
Dentre outros objetivos, nessa fase será decidido se será dada continuidade ao
processo ou se será escolhida sua extinção.
Conclui-se que, apesar da grande influência do juiz instrutor na história da
França, existe uma tendência na França de diminuir os seus poderes ou até mesmo
eliminá-los. Uma das evidências é o posicionamento, no ano de 2009, do ex-pre-
sidente Nicolas Sarkozy na sua intenção de eliminar o juiz de instrução. No en-
tanto, o debate persiste e ainda há quem destaque que, com a extinção desse ator,
haveria mudança no sistema francês, desenhado na era napoleônica.
O modelo espanhol
capítulo 2 • 41
O Sistema do Código Nacional Argentino
Para que você consiga ter o entendimento do processo penal argentino, é impor-
tante considerar o Código de Processo Penal da Província de Buenos Aires, tendo em
vista a sua importância diante da estrutura econômica, política e social da Argentina.
Várias reformas processuais ocorreram em Buenos Aires no ano de 1988, ten-
do como principais inovações:
a) o estabelecimento de um sistema processual acusatório, diferenciando
a função de quem acusa e de quem julga;
b) A Investigação Penal Preliminar (IPP), a cargo do Ministério Público,
com o controle do juiz de garantias;
c) um sistema de coerção processual sobre o acusado com base no risco
processual;
d) o procedimento oral e público em todos os processos;
e) a imposição de prazos processuais fatais para a cessação das instituições
de processos que tendem a ser abreviados e medidas alternativas, a exemplo
da conciliação;
f ) o fortalecimento da defesa pública gratuita (Palmieri, 2004).
capítulo 2 • 42
A investigação a cargo do Ministério Público
Os modelos da Alemanha
O modelo italiano
capítulo 2 • 43
etapa, o Ministério Público é o responsável pela direção da investigação e, assistido
pela polícia judiciária, passa a desenvolver atividades instrutórias. Nessa etapa, o
Ministério Público não só direciona, como também delineia os contornos da in-
vestigação, devendo o Juiz intervir nos limites levantados por este órgão.
Nel nuovo sistema processuale penale, di tipo acusatorio, il giudice per le indagini pre-
liminari puó conoscere dei fatti processuali, unicamente nei limiti del l'invetitura ricevuta
dal pubblico ministero (GAITO; BARGI, 2007, p. 1230). Dal principio secondo cui unico
titolare delle indagini è il pubblico ministero che le dirige, discende che il giudice rimane
durante tutta la fase, estraneo ad esse ed interviene per provvedere, sulle richieste delle
parti e della persona offesa, solo nei casi previsti dalla legge (Aprile; Silvestre, 2011, p. 10).
O modelo português
capítulo 2 • 44
A legislação de Portugal intitula como inquérito policial a fase de investigação
criminal, conforme previsto também neste mesmo código. Ao Ministério Público
cabem a direção do inquérito e a responsabilidade do exercício da ação penal, cuja
assistência é dada pelos órgãos da polícia Judiciária. Assim, você poderá identificar,
no Código de Processo Penal Português:
O modelo mexicano
capítulo 2 • 45
Dessa forma, vocês poderão obter maior clareza com o que expressa
Edmundo S. apud Kac:
No México existe uma instrução preliminar que é realizada pela polícia, di-
rigida pelo Ministério Público segundo a Lei Orgânica da Procuradoria Geral
da República. A polícia atua sob a condução, autoridade e ordens do Ministério
Público, praticando as diligências imprescindíveis à instrução criminal.
Além de investigar criminalmente, o Ministério Público tem como uma das
suas principais funções no México promover a persecutio criminis in judicio, além
de garantir os direitos fundamentais previstos na Carta Magna, vigiar o Estado de
Direito e o cumprimento de regras constitucionais.
O modelo colombiano
capítulo 2 • 46
O modelo do Equador
O modelo do Peru
O modelo do Paraguai
capítulo 2 • 47
A polícia judicial é subordinada ao poder judicial e contribui diretamente com
o Ministério Público. Cabe destacar que a Constituição de 1992 prevê a emissão
de mandados de prisão por prazo curto e determinado pelo Ministério Público.
EXEMPLO
Reportagem de Carlos da Cruz, no Jornal G1, que trata do caso de uma brasileira
estudante de medicina assassinada no Paraguai. Acesso em 22/08/2018)
O homem foi levado para oitiva no MP paraguaio (que conduz essa etapa das investi-
gações), mas, segundo o promotor Marco Antônio Amarilla, permaneceu em silêncio. Em
seguida foi levado ao fórum para prestar depoimento.
Para o promotor, apesar de ainda existir a presunção de inocência, o MP tem provas
suficientes para oferecer a denúncia: ''Temos toda a investigação policial preliminar, temos a
atuação da investigação criminalística, temos evidências coletadas, temos indícios contra o
sujeito, presunções graves e sérias".
Investigação policial
O modelo da Inglaterra
capítulo 2 • 48
Em seguida, o caso é encaminhado para o Crown Prosecution Service (CPS),
responsável pelas acusações, o qual tomará a decisão em processar ou não as pes-
soas indicadas pela polícia após sua investigação.
Considerações finais
De acordo com o que foi apresentado neste capítulo, você pôde perceber que
extraímos duas funções do poder de polícia: uma administrativa, de cunho pre-
ventivo, ligada à segurança, visando a impedir a prática de atos lesivos à sociedade;
e outra de caráter repressivo, auxiliando o Poder Judiciário.
Entendemos também que a investigação criminal não é realizada apenas pe-
las polícias, admitindo-se que outros órgãos desenvolvam tal atividade, como o
Ministério Público.
Conhecemos, ainda, os diversos modelos de investigação e como eles se desen-
volvem em diversos países.
ATIVIDADES
Ano: 2016
Banca: FGV
Órgão: MPE-RJ
Prova: Técnico do Ministério Público - Notificações e Atos Intimatórios
capítulo 2 • 49
d) legal, pois tem o Ministério Público poder de investigação direta, respeitados os direitos
constitucionais do investigado, assim como eventual foro por prerrogativa de função.
e) ilegal, somente cabendo ao Ministério Público exercer o controle da atividade policial.
02. Indique a opção que distingue corretamente as funções de polícia judiciária e de polí-
cia administrativa.
a) JUDICIÁRIA – É a função exercida por instituições que desenvolvem atividade de inves-
tigação. Tem um caráter repressivo, atuando após o cometimento de uma infração penal.
ADMINISTRATIVA – Visa a impedir a prática de atos lesivos à sociedade. Tem caráter
preventivo, atuando antes do cometimento da infração.
b) ADMINISTRATIVA – É a função exercida por instituições que desenvolvem o inquérito
policial. Tem um caráter repressivo, atuando após o cometimento de uma infração penal.
JUDICIÁRIA – Visa a impedir a prática de atos lesivos à sociedade. Tem caráter preven-
tivo, atuando antes do cometimento da infração.
c) JUDICIÁRIA – É aquela que atua dentro dos tribunais.
ADMINISTRATIVA – É a polícia civil.
d) Não existe diferença entre as funções de polícia judiciária e administrativa.
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capítulo 2 • 51
capítulo 2 • 52
3
A importância da
verdade e das
provas no Processo
Penal
A importância da verdade e das provas no
Processo Penal
OBJETIVOS
• Reconhecer a importância da verdade na sociedade e no direito;
• Definir o princípio da verdade real no Processo Penal;
• Definir as fases do procedimento probatório;
• Descrever os meios de prova.
Verdade e investigação
capítulo 3 • 54
Cabe continuar essa reflexão afirmando que é difícil mostrar um fato com a
verdade em sua totalidade, pois cada um, em seu relato ou em suas evidências, traz
seu ponto de vista ou sua lente perante a ocorrência de um fato.
Para esclarecer essa afirmação, por meio de trecho da clássica obra Elogio dei
giudici scritto da un avvocato, o autor traz a complexidade quando se fala da verda-
de, visto que uma mesma imagem apresenta ângulos distintos, refletindo que em
nenhum deles há uma verdade absoluta:
Princípios e Verdade devem andar juntos. O princípio sendo o alicerce, a viga mante-
nedora de um sistema não pode sustentar uma inverdade. Violar um princípio é pior
que transgredir uma norma. Leis, normas, decretos, portarias mudam e/ou prescrevem
o princípio continua dando o norte. O princípio jurídico detém consistência de todo
um sistema. Violar um princípio e o princípio da Verdade é inadmissível e intolerável.
(Sefhora, 2009:p.01)
capítulo 3 • 55
autor, assim como estudamos no item anterior, sinaliza que essa verdade é sempre
relativa, em razão da impossibilidade de se reconstruir a realidade assim como
ela é ou de se extrair dos autos o fiel retrato da realidade do crime. Dito de outra
forma, a verdade e a certeza nem sempre coincidem. O que para um é certo, para
outra poderá não ser.
Dessa forma, tem-se a certeza de que o juiz não garantirá ter chegado à ver-
dade de como os fatos ocorreram, mas, sim, àquela verdade aproximada e que se
apresenta por meio das provas coletadas, possibilitando a decisão final, que será a
condenação ou a absolvição.
Pode-se afirmar que a verdade real é aquela que mais se aproxima da verdade
dos fatos. Por meio desse princípio, o magistrado buscará provas, tanto quanto
as partes, pois não se satisfaz apenas com aquilo que lhe é apresentado (NUCCI,
2014, p.56). Vejamos como se apresenta tal afirmação no Código de Processo
Penal (CPP) do Brasil:
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz
de ofício: (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
I - Ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcio-
nalidade da medida; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de
2008).
capítulo 3 • 56
Antes de concluirmos este item, cabe esclarecer ao leitor que o princípio da
verdade real é um ponto de polêmicas entre os doutrinadores desse assunto, con-
forme Avena (2017) e Nicolitt (2014), pois, enquanto se há a defesa pela adoção
deste princípio, dando autonomia ao magistrado em pedir produção de demais
provas, existem pensadores que acreditam que tal inferência no processo compro-
meterá o princípio da imparcialidade, garantia essencial, no julgamento da senten-
ça. Dessa forma, o artigo 156 do CPP padeceria de grave inconstitucionalidade,
segundo André Nicolitt (2014, p.630).
capítulo 3 • 57
Outro ponto a ser sinalizado no artigo 156 do CPP é o fato de ele afirmar que
a confissão deverá ser comparada com as provas apresentadas e, assim, uma não
anular o efeito da outra, a fim de identificar se todas estão ou não em consonância
para elucidação dos fatos e julgamento justo.
Para Mike Oppenheimer (2014, p.1), a verdade real pode ser verdade recor-
tada em partes, como em um lugar específico, ou para apenas algumas pessoas,
ou apenas em um determinado momento. Em contrapartida, a verdade absoluta
é a verdade na sua totalidade, abrangendo todos os lugares, pessoas e tempos, sem
polêmicas acerca dela.
Seguindo esta linha e o exposto no artigo 197 do Código de Processo Penal,
concluímos que todo e qualquer meio de prova, oitiva de testemunha, documen-
tos, laudo pericial, dentre outros, estariam relacionadas com a verdade relativa.
Isso porque trata apenas de um dos ângulos, ou seja, por tratar de uma verdade
que apenas algumas das partes produziram. Em contrapartida, a confissão seria
classificada como a verdade absoluta, pois essa verdade é real e incontestável a
todas as partes do processo.
A verdade relativa, também conhecida como verdade formal, é uma verdade
com limites, pois o magistrado aceita apenas o que está arrolado nos autos, sem
se preocupar em determinar produções novas de provas. Seu julgamento e sua
sentença estão norteados pelas provas produzidas pelas partes, exercendo sua im-
parcialidade e com um julgamento justo.
Por fim, a utilização da verdade real nos momentos da produção das provas
do processo é fundamental, pois há situações em que há falta de provas, trazendo
dificuldades para a sentença. Logo, o juiz poderá ex officio determinar a produção
de provas para melhor formar seu convencimento sobre os fatos.
capítulo 3 • 58
Utilizar, processualmente, a expressão verdade real (absoluta) ou verdade relativa é,
ainda que inconscientemente, valorar, do ponto de vista espaço-temporal, a existência
de um fato pretérito. Ora, esta é una, insuscetível de qualquer apreciação valorativa: ou
o fato existiu, ou o fato não existiu. Dito de outro modo, a verdade, em tese, não com-
porta predicados. (JANSEN, 2006, p. 6)
Ou seja, aplicar a verdade relativa ou absoluta não faz com que o seu sentido
seja valorizado ou não. Simplesmente a verdade existiu ou a verdade não existiu.
Conceito de prova
b) Sujeitos da prova
Os sujeitos da prova são as pessoas incumbidas de levar ao juiz o meio de pro-
va, tais como as testemunhas quando do seu depoimento, os peritos ao elaborarem
seus laudos, o acusado quando se submete ao interrogatório etc.
c) Fontes de prova
Fontes de prova, que não se confundem com os meios de prova, são pessoas e coi-
sas de onde provém a prova. Já os meios de prova são os instrumentos que permitem
levar ao juiz os elementos que o ajudarão a formar seu entendimento acerca do caso.
As fontes de provas podem ser pessoais ou reais. Nas fontes pessoais, as infor-
mações são fornecidas diretamente pelas pessoas, como, por exemplo, a prova tes-
temunhal. Nas fontes reais, as informações são provenientes das provas; estas serão
interpretadas por pessoas que vierem a examiná-las, como ocorre com a prova pericial.
capítulo 3 • 59
d) Princípio da liberdade das provas
No processo penal, são admitidos todos os meios de prova, inclusive aqueles
que não estejam expressamente mencionados em lei, desde que não vedadas ou
proibidas pela constituição e demais normas infraconstitucionais.
Proposição
Essa é a fase na qual as provas são requeridas pelas partes ao juiz ou por elas
trazidas à sua admissão. A proposição das provas ocorre normalmente no início
do processo, nos chamados momentos ordinários, os quais correspondem, para a
acusação, à denúncia e à queixa-crime, e, para a defesa, à fase da resposta à acusa-
ção, mas podem ocorrer ainda em momento posterior, chamado de extraordiná-
rio, quando se dá depois de já iniciada ou encerrada a instrução criminal.
Admissão
Produção da prova
Valoração da prova
capítulo 3 • 60
entendimento, apreciará cada uma das provas realizadas, conferindo-lhes o valor
que julgar pertinente.
Objeto da prova
capítulo 3 • 61
Já quanto aos fatos incontroversos, incontestes, ou seja, que não foram refutados
ou impugnados pelas partes, ao contrário do que ocorre no processo civil, não dis-
pensam a prova, podendo o juiz, inclusive, a teor do art. 156, II, do CPP, determinar,
no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante. E não poderia ser diferente. Afinal, se a própria
confissão do crime pelo acusado não é suficiente por si para um juízo condenatório,
exigindo sempre confronto com os demais elementos de prova angariados ao processo
(art. 197 do CPP), é evidente que a simples ausência de contestação quanto a atos,
fatos e circunstâncias não tem força suficiente para elidir a produção probatória.
Quanto ao objeto (ou seja, quanto ao fato que deve ser demonstrado):
a) Provas diretas: são aquelas que por si demonstram o próprio fato objeto
da investigação. Exemplo: o testemunho prestado por determinada pessoa
que presenciou um homicídio.
b) Provas indiretas: são aquelas que não demonstram, diretamente, deter-
minado ato ou fato, mas que permitem deduzir tais circunstâncias a partir
de um raciocínio lógico e irrefutável. Exemplo: o álibi. Comprovando-se
que o suspeito se encontrava em determinado local no dia e hora do crime,
é intuitivo que não poderia estar na cena do crime.
Meios de prova
Do interrogatório
capítulo 3 • 62
Regra
Da confissão
Trata-se a confissão do reconhecimento pelo réu da imputação que lhe foi feita
por meio da denúncia ou da queixa-crime. Segundo dispõe o art. 190 do CPP, se
o réu confessar a autoria, deverá ser perguntado sobre os motivos e circunstâncias
do fato, bem como se outras pessoas concorreram para a infração, declinando-as,
em caso positivo.
capítulo 3 • 63
Mesmo que tenha sido prestada judicialmente e na presença de defensor, não
tem a confissão força probatória absoluta, havendo a necessidade, para o fim de
fundamentar sentença condenatória, de que seja confrontada e confirmada pelas
demais provas existentes nos autos, verificando se entre ela e estas existe compati-
bilidade ou concordância.
Ressalte-se que a confissão pode ser extrajudicial, quando não é realizada pe-
rante o juízo, podendo constar nos autos de inquérito policial, nas investigações
do Ministério Público, nas comissões parlamentares de inquérito, dentre outras.
No entanto, ela tem pouco valor probatório, apenas podendo ser utilizada como
fundamento para a condenação se corroborada por provas contundentes que te-
nham sido colhidas em juízo sob o crivo do contraditório.
A confissão pode ser divisível e retratável, nos termos do art. 200 do CPP.
A característica da divisibilidade significa que o juiz pode considerar verdadei-
ra uma parte da confissão e inverídica outra parte, não sendo obrigado a valorar
a confissão como um todo. Já a retratabilidade quer dizer que, se o réu, mesmo
confesso em juízo, voltar atrás, caberá ao magistrado confrontar a confissão e a re-
tratação que lhe sucedeu com os demais meios de prova incorporados ao processo,
verificando qual delas deve prevalecer.
Da prova testemunhal
Testemunha é a pessoa que, perante o juiz, declara o que sabe dos fatos apu-
rados no processo penal, ou que tem percepções sensoriais a respeito dos fatos
imputados ao acusado.
Todo depoimento é uma manifestação do conhecimento acerca de um de-
terminado fato. Ao contrário do que ocorre no processo civil, toda pessoa poderá
depor no processo penal, incluindo-se menores de idade, crianças e até incapazes,
o que não significa que todos esses estejam em condições de contribuir, de alguma
maneira, para a formação da verdade judicial. O que se está colocando em relevo
é o fato relativo à capacidade geral para ser testemunha no processo penal (art.
202, CPP). De acordo com art. 206 do CPP, a testemunha não poderá eximir-se
da obrigação de depor, e, no art. 203, encontra-se a referência feita diretamente ao
compromisso de dizer a verdade.
capítulo 3 • 64
ATENÇÃO
Limitações de prova testemunhal
Em razão dos laços afetivos decorrentes de relações de parentesco entre determinadas
pessoas, o art. 206 do CPP prevê que poderão se recusar a depor “o ascendente ou descen-
dente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que separado ou divorciado, o irmão e o pai, a
mãe, ou o filho adotivo do acusado”.
No entanto, quando o único meio de obter a prova depender do depoimento de quem
tenha presenciado os fatos, e quando se tratar de infrações graves (estupro, homicídio etc.),
estará justificada a exceção à regra da dispensa, caso em que a testemunha terá o dever de
depor, bem como o dever de dizer a verdade.
Enquanto algumas pessoas são dispensadas do dever de depor, em razão dos laços
afetivos que as unem ao acusado, outras estarão impedidas de depor, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, em que devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela
parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.
De fato, se o réu procura um advogado ou um religioso para dar a eles conhecimento de
determinado fato delituoso, o depoimento de ambos implicaria, por vias oblíquas, a violação
do direito ao silêncio.
Assim, estão proibidos de depor os padres ou pastores de quaisquer religiões, os ad-
vogados, os médicos, os psicólogos e os psiquiatras que tenham conhecimento dos fatos a
partir do exercício das respectivas funções.
Tais pessoas, quando autorizadas pela parte interessada, poderão prestar o depoimento,
se assim quiserem, não sendo a tanto obrigadas (art. 207, CPP).
Da prova pericial
capítulo 3 • 65
Os ordálios eram chamados de Juízos de Deus, firmando-se na falsa crença de
que a divindade intervinha nos julgamentos e que a veracidade dos fatos seria de-
monstrada com base em sinais externados no mundo terreno a partir da submissão
do pretenso culpado a determinadas provas corporais dolorosas, como a prova da
água fria (lançava-se o suspeito à água, sendo considerado culpado se viesse à tona
e inocente caso submergisse), a prova do ferro em brasa (obrigava-se o acusado a
transitar descalço sobre uma chapa de ferro em brasa, sendo considerado inocente
se nada lhe acontecesse) e o duelo judicial (realizado a cavalo ou a pé, de acordo
com a classe social das partes, por um determinado período de tempo, perdendo
o processo quem fosse vencido no duelo).
Por causa da evolução do direito, chegou-se, em dado momento histórico, ao
sistema legal (tarifado ou formal), segundo o qual a decisão do julgador deveria
estar vinculada a critérios predefinidos no ordenamento jurídico, ausente, portan-
to, qualquer liberdade de avaliação da prova, ou seja, a lei determinava o valor de
cada prova.
Com o passar dos tempos e o gradativo enfraquecimento dos regimes ab-
solutistas, o sistema legalista foi sendo, também, paulatinamente substituído
pelo sistema do livre convencimento (persuasão racional), em que, embora te-
nha o juiz liberdade na avaliação das provas, obriga a fundamentar as razões de
seu entendimento.
A prova pericial, antes de qualquer outra consideração, é uma prova técnica,
na medida em que pretende certificar a existência de fatos cuja certeza, segundo a
lei, somente seria possível a partir de conhecimentos específicos. Por isso, deverá
ser produzida por pessoas devidamente habilitadas, sendo o reconhecimento desta
habilitação feito normalmente na própria lei, que cuida das profissões e das ativi-
dades regulamentadas, fiscalizadas por órgãos regionais e nacionais.
Normalmente, o próprio Poder Público tem, em seus quadros de carreiras, os
peritos judiciais, responsáveis pela realização das perícias solicitadas pela jurisdição
penal. São os chamados peritos oficiais. A partir da Lei nº 11.690/08, a perícia
poderá ser realizada por apenas um perito oficial, portador de diploma de curso
superior, salvo quando o objeto a ser periciado exigir o conhecimento técnico em
mais de uma área de conhecimento especializado (art. 159, caput, e § 7º, CPP).
Na hipótese de ausência de perito oficial na comarca ou no juízo, o exame
será realizado por duas pessoas idôneas, necessariamente portadoras de diploma
de curso superior, preferencialmente na área específica, dentre aquelas que tiverem
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame (art. 159, § 1º, CPP).
capítulo 3 • 66
No que se refere ao tráfico de drogas e entorpecentes, observa-se que, já desde
a Lei nº 11.343/06, não se exigia a presença de dois peritos oficiais no caso de
exame de constatação da natureza da substância entorpecente, previsto no art. 50,
§ 1º, exame esse necessário apenas para a lavratura da prisão em flagrante e do ofe-
recimento da denúncia. Nos termos do citado dispositivo, não havendo perito ofi-
cial, o laudo de constatação (provisório) poderá ser elaborado por pessoa idônea.
Embora a respectiva legislação (de drogas) não afirme de modo expresso, há
de se exigir da tal pessoa idônea um nível razoável de habilitação técnica para
a matéria.
Para gerar uma certeza mais segura, em relação a fatos específicos, quando se
tratar de fatos cuja prova da existência reclame uma opinião especializada, deman-
da-se a participação de prova técnica.
O próprio Código de Processo Penal comina de nulidade a ausência de corpo
de delito, quando a infração tiver deixado vestígio e este não tiver desaparecido,
e a exigência de prova específica para determinados delitos está prevista no art.
158, do CPP, “quando a infração deixar vestígios”. Nesse caso, será indispensável
o exame de corpo de delito, não podendo supri-lo a confissão do acusado, segundo
o mesmo artigo, quando não desaparecidos os vestígios.
Se deixar vestígios a infração, a materialidade do delito deverá ser objeto de
prova pericial, a ser realizada diretamente sobre o objeto material do crime, o
corpo de delito, ou, não mais podendo sê-lo, pelo desaparecimento inevitável do
vestígio, de modo indireto.
O exame indireto será feito também por perito oficial, mas a partir de infor-
mações prestadas por testemunhas ou pelo exame de documentos. O exame de
corpo de delito, ainda que indireto, será realizado por perito, e somente na sua
impossibilidade é que a prova testemunhal poderá substituí-lo. Portanto, exame
de corpo de delito (direto ou indireto) e a possibilidade de sua substituição por
prova testemunhal são situações que não se confundem. A prova pericial se faz por
meio da elaboração de laudo técnico, pelo qual os peritos responderão às indaga-
ções e aos esclarecimentos requeridos pelas partes e pelo juiz, por meio de quesitos.
O CPP autoriza que as partes, Ministério Público, querelante, assistente de
acusação e acusado formulem quesitos e indiquem assistente técnico, que atuará a
partir de sua admissão pelo juiz e somente após a conclusão dos exames e elabora-
ção do laudo pelo perito oficial, com intimação das partes (art. 159, § 3º e § 4º),
ou seja, os assistentes técnicos somente ingressarão no processo na fase instrutória
e após sua admissão pelo juiz.
capítulo 3 • 67
Quando possível a conservação do material a ser periciado, o exame dos assis-
tentes técnicos deverá ser feito na presença do perito oficial (art. 159, § 6º, CPP).
É importante ressaltar que o juiz, em razão de seu livre convencimento, não
estará adstrito ao laudo apresentado, podendo rejeitá-lo no todo ou em parte.
Por reconhecimento de pessoas compreende-se o ato pelo qual não apenas ví-
timas ou testemunhas, mas também acusados ou investigados identificam terceira
pessoa. Não se trata de ato informal, estabelecendo o art. 226 do CPP as formalida-
des de sua efetivação, dentre as quais a pessoa convidada a fazer o reconhecimento
deverá descrever a pessoa que deve ser reconhecida; em seguida, deverá o reconhece-
dor apontá-la entre outras que com ela guardarem semelhança, “se possível”.
capítulo 3 • 68
Se não forem observadas as formalidades do art. 226 do CPP, isto implica
mera irregularidade, não invalidando o ato, tampouco afetando seu poder de con-
vencimento. Devemos chamar a atenção quanto ao reconhecimento por meio de
fotografia realizada na fase do inquérito. Trata-se de meio legítimo de prova, mas
terá seu valor reduzido, podendo servir de elemento de convicção apenas quando
confirmado por outras provas.
Da acareação
Dos documentos
1 O princípio do contraditório é síntese do processo, o equilíbrio entre tese e antítese. Dito de outra forma, “direito
assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos havidos no processo, podendo manifestar-se
e produzir provas necessárias antes de ser proferida a decisão jurisdicional” (Avena, 2017:p,32). Cabe destacar
também acerca do princípio da ampla defesa, pois está intimamente ligado ao princípio do contraditório, que “traduz
o dever que assiste ao Estado de facultar ao acusado toda a defesa possível quanto à imputação que lhe foi
realizada”(Idem:p,34).
capítulo 3 • 69
Dos indícios
Da busca e apreensão
capítulo 3 • 70
curso de busca domiciliar, há, na realidade, ordem judicial, uma vez que a pessoa
se encontraria dentro do local cuja inviolabilidade já havia sido quebrada.
Considerações finais
ATIVIDADES
Ano: 2018
Banca: NUCEPE
Órgão: PC-PI
Prova: Perito Criminal – Engenharia Civil (adaptada)
01. Sobre o exame do corpo de delito e as Perícias em geral, assinale a alternativa incorreta.
a) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
b) Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que,
em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto cir-
cunstanciado.
c) O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
capítulo 3 • 71
d) O juiz ficará adstrito ao laudo, não podendo rejeitá-lo no todo ou em parte.
e) Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios,
a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Ano: 2018
Banca: FCC
Órgão: DPE-AM
Prova: Defensor Público
02. A pessoa está proibida de testemunhar em processo penal, quando deva guardar segre-
do em razão de função, ministério, ofício ou profissão. A proibição restará superada quando
a) desobrigada do segredo pela parte interessada.
b) não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas cir-
cunstâncias.
c) a pessoa deixar de exercer a função, ministério, ofício ou profissão que exigia o dever
de guardar segredo.
d) for decretado o sigilo da ação penal e a identidade da testemunha for preservada.
e) a vítima do crime for pessoa vulnerável em razão de idade, deficiência ou doença mental.
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DOMINGUES, I. O grau zero do conhecimento: o problema da fundamentação das ciências
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JANSEN, Euler Paulo de Moura. A verdade formal e a real têm relacionamento harmônico.
Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2018-set-08/verdade_ formal_real_relacionamento
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NICOLITT, André Luiz. Manual de Processo Penal. 5 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista
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OPPENHEIMER, Mike. Verdade absoluta x verdade relativa – A arte do humanismo no mundo
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RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 25. São Paulo: Atlas, 2017.
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Site do STF disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms> Acesso em: 28 set. 2018.
capítulo 3 • 73
capítulo 3 • 74
4
A perícia nas
diversas áreas e
seus ramos
A perícia nas diversas áreas e seus ramos
Este capítulo apresenta, em sua primeira parte, a atuação dos peritos nas mais
variadas áreas, além de trabalhar as normas dos Códigos de Processo Civil (CPC)
e Processo Penal (CPP). Aborda as soluções em caso de divergências no laudo pe-
ricial, além da necessidade de uma segunda perícia, a fim de complementar outra
já realizada, bem como a possibilidade de declarar o perito suspeito.
No segundo e último ponto, o capítulo trabalha aspectos da ciência forense e
de demais técnicas que podem contribuir nas soluções judiciais e administrativas.
OBJETIVOS
• Apresentar os tipos de perícias e seus principais elementos;
• Identificar a contribuição das diversas disciplinas para o trabalho pericial.
capítulo 4 • 76
Dentro do Direito, uma perícia pode ter o status de prova, sendo realizada
por peritos qualificados tecnicamente para realizar a análise de fatos juridicamente
relevantes ao caso.
Esses peritos podem ser nomeados por um juiz, ou então podem ser devida-
mente e oficialmente constituídos por obra de concurso público para exercer essa
função tão importante, dando origem ao que chamamos de prova pericial.
Tipos de peritos
Perito em Informática
capítulo 4 • 77
entre a movimentação financeira e as declarações do imposto de renda e evolução
patrimonial incompatível.
Perito em documentos
capítulo 4 • 78
Peritos em engenharia
São eles os responsáveis por analisar se uma rede de esgoto foi toda construída,
o custo de mercado da escola no interior do estado, se a venda de um imóvel foi
abaixo do valor de mercado ou a causa do rompimento de uma barragem.
A área de perícias em engenharia tem, em seu histórico, casos de grande di-
versidade, tais como desvio de verbas em obras públicas, avaliações de imóveis
urbanos e rurais, acidentes aéreos e até mesmo análises em obras de arte.
Peritos em balística
capítulo 4 • 79
Peritos em locais de crime
Peritos em veículos
capítulo 4 • 80
Atua em instituições oficiais – no caso, nos Institutos Médicos Legais (IML)
– e também como perito nomeado não oficial em outras áreas do Direito, quando
a perícia for de natureza médico-legal.
capítulo 4 • 81
CURIOSIDADE
Há previsão no art. 77, § 1.º, da Lei 9.099/1995, relativa às infrações de menor potencial
ofensivo, para o oferecimento da denúncia, não é indispensável o exame de corpo de delito
quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
Ou seja, nesses casos, não se exige, no momento do oferecimento da denúncia ou da
queixa, a prova pericial comprobatória da materialidade delitiva, bastando a presença de bo-
letim médico ou prova equivalente.
capítulo 4 • 82
dois profissionais na sua efetivação; também assim o laudo toxicológico definitivo,
sugerindo a redação do art. 50, § 2.º, da Lei 11.343/2006, a necessidade de que
seja confeccionado por mais de um perito (refere o dispositivo que o perito que
subscrever o laudo provisório não ficará impedido de participar do laudo defini-
tivo, concluindo que não se pode participar de algo sozinho); e, ainda, a perícia
realizada para fins de materialização dos crimes contra a propriedade imaterial de
ação penal privada, referindo-se o art. 527 do CPP, expressamente, a “dois peritos”.
Em tais hipóteses, participando mais de um profissional no exame pericial, é
possível que venham eles a divergir nas respectivas conclusões. Para solucionar o
impasse daí decorrente, prevê a lei, no art. 180, que, se houver divergência entre os
peritos, serão consignadas no auto do exame as declarações e as respostas de um e
de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará
um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a
novo exame por outros peritos.
Sintetizando as possibilidades, teremos as seguintes situações, conforme o quadro:
capítulo 4 • 83
chamada de complementar, indica que já houve uma perícia anterior, que deve
completar algo que existe.
Duas, basicamente, são as situações que levam o Delegado de Polícia, o juiz e
o próprio Ministério Público a determinar ou requisitar essa providência, a saber:
a) Esclarecimento de omissões, obscuridades ou contradições (art. 181 do
CPP). Não se trata, aqui, de posicionamentos divergentes dos peritos, mas
de laudo, efetivamente, contraditório em suas conclusões. Exemplo: Atesta,
como causa da morte de pessoa, com base em corpo encontrado em um
incêndio, a asfixia decorrente da queima de objetos, ao mesmo tempo em
que refere encontrarem-se os pulmões do cadáver sem resíduos de fumaça
ou fuligem;
b) Necessidade de aguardar o decurso de certo período de tempo para ava-
liar a gravidade das lesões, buscando a correta tipificação. Exemplo: Exame
complementar para a constatação da efetiva incapacidade para as ocupações
habituais por mais de trinta dias, o que deve ser feito logo após o decurso
desse período (art. 168, caput e §§ 1.º e 2.º, do CPP).
Da suspeição do perito
capítulo 4 • 84
Ou seja, as causas de suspeição estão direcionadas inicialmente aos juízes, mas
se aplicam também aos peritos por expressa previsão legal.
Tal previsão também consta do código de processo civil, em seu artigo 467,
que o perito pode escusar-se ou ser recusado por suspeição, caso em que, se o juiz
aceitar a escusa ou ao julgar procedente a impugnação, nomeará novo perito.
Ramos da perícia
A ciência forense
capítulo 4 • 85
ser assistido por órgãos técnicos ou científicos, não se restringindo mais a pessoas
físicas, é uma das novidades do Novo Código Civil.
Ao ser nomeado, o auxiliar do juiz, ou perito ou órgão, deverá cumprir o seu
trabalho no prazo acordado. Poderá, ainda, se for o caso, no prazo legal de quinze
dias, escusar-se do encargo alegando justo motivo, sob pena de renúncia a tal di-
reito (art.157, § 1º, CPC).
Apesar da dispensa de assinar um termo de compromisso, o perito deve cum-
prir honestamente seu encargo. Nos casos em que o perito prestar falsas informa-
ções, este será responsabilizado pelos danos causados às partes. Além disso, este
perito fica impossibilitado de atuar em outras perícias no prazo de dois a cinco
anos, sem prejuízo de outras sanções.
A prova pericial compreenderá em exame, vistoria ou avaliação, sendo deter-
minada de ofício ou por requerimento das partes. Em contrapartida, será indefe-
rida nas seguintes situações:
a) quando não houver a necessidade de conhecimento técnico para prova
do fato;
b) quando o fato já estiver comprovado por outros meios de prova;
c) quando a verificação for impraticável (art.464, § 1º, CPC).
capítulo 4 • 86
Nomeação do perito
Perícia consensual
Honorários periciais
capítulo 4 • 87
Prova pericial e o benefício da justiça gratuita
Laudo pericial
A entrega do laudo deverá ocorrer no prazo determinado pelo juiz, com pelo
menos 20 (vinte) dias de antecedência da data da audiência de instrução e julga-
mento (art. 477, CPC). Ao perito é dada a possibilidade de requerer ao juiz uma
única prorrogação do prazo para a entrega do laudo, desde que apresente justo
capítulo 4 • 88
motivo e que não exceda a metade do prazo estabelecido inicialmente acordado
(art. 476, CPC).
O Código de Processo Civil exige que o laudo pericial elaborado pelo perito
judicial tenha a seguinte estrutura:
a) Apresentação do objeto da perícia
Tópico em que o perito trata claramente dos elementos que integram o objeto
da perícia, com destaque para os pontos em que o esclarecimento do trabalho
pericial é esperado.
c) Método utilizado
O perito esclarece, neste tópico, o método que o levou a determinada con-
clusão, inclusive apresentando o reconhecimento predominantemente do método
utilizado pelos especialistas da área.
capítulo 4 • 89
Na esfera administrativa
De acordo com a lei 8.112/90, conhecido como estatuto dos servidores públi-
cos da União, em seu artigo 155, com a instauração do processo administrativo, é
formada comissão disciplinar que ficará responsável pela tomada de depoimentos,
acareações, investigações e atos importantes, estes chamados de diligências, objeti-
vando a coleta de provas, e, quando avaliar necessário, recorrer a técnicos e peritos,
de forma a esclarecer os fatos.
Destaca-se que a diligência pode ser solicitada pelo próprio acusado ou por
iniciativa da autoridade processante. Segundo a previsão do art. 156 da Lei n°
8.112/90, é “assegurado ao servidor o direito de acompanhar o processo pessoal-
mente ou por intermédio de procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir
provas e contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de prova pericial”.
A prova pericial é de suma importância no processo disciplinar, e dentro das
possibilidades a comissão deverá escolher os peritos e os assessores técnicos dentro
dos quadros dos servidores públicos federais. Assim, quando se tratar de exame
grafotécnico, o colegiado disciplinar deverá remeter os materiais colhidos do pró-
prio punho do acusado para a Seção de Criminalística da Polícia Federal, com
a finalidade de ser emitido um laudo pericial sobre documentos que precisam
ser examinados.
Em razão de um conhecimento mais específico da matéria tratada no processo
disciplinar, o trio poderá solicitar à autoridade instauradora a autorização para a
realização da perícia por particulares, como, por exemplo, exame mecanográfico
(trabalhos de cálculo industrial ou comercial com a ajuda de máquinas contábeis,
tais como impressora fiscal) quando esse for indispensável à elucidação dos fatos
apurados no processo administrativo em execução.
Criminalística
capítulo 4 • 90
Principais perícias elencadas no Código de Processo Penal
O art. 171 do CPP dispõe que, “nos crimes cometidos com destruição ou
rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os
peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que
meios e em que época presumem ter sido o fato praticado”.
capítulo 4 • 91
de procedibilidade para o exercício da ação penal, sendo que, sem ele, inexiste a
possibilidade de ser recebida a denúncia ou a queixa.
Necropsia
capítulo 4 • 92
As fases gasosa, coliquação e esqueletização são as três últimas fases, em ca-
ráter de putrefação. O algor mortis é o esfriamento do cadáver e se efetiva entre
1 e 24 horas após a morte. O rigor mortis inicia entre 3 e 6 horas após a morte
e dura cerca de 24 horas, desaparecendo quando surgem os primeiros sinais de
putrefação. Esse fenômeno inicia-se nas pálpebras, posteriormente nos maxilares,
em seguida no pescoço e finaliza nos demais músculos do corpo. A rigidez desapa-
rece da mesma forma que se instala. Já o livor mortis é o surgimento de manchas
violáceas nas regiões de declive e faltam nas regiões em que o corpo se apoia. Seu
tamanho é variável e sua forma é claramente perceptível.
A decomposição do cadáver é tida por fenômenos, como manchas da putre-
fação, que ocorre pela invasão de bactérias, no geral com origem intestinal, na
cavidade abdominal. As manchas desse processo são de cor verde ou azulada e
surgem na pele e nos órgãos em contato com os intestinos. A cor verde é devida à
sulfometahemoglobina, formada pela ação do ácido sulfúrico, em decorrência das
fermentações bacterianas sobre a hemoglobina.
Esse processo faz surgir os fenômenos conhecidos como timpanismo e enfise-
ma. O timpanismo da putrefação é uma distensão por gases que ocorre nas cavi-
dades gastrointestinais, com aumento de volume do abdômen e pela abertura dos
membros. Já o enfisema do cadáver é o surgimento de pequenas bolhas gasosas no
tecido conjuntivo subcutâneo, sob o fígado, o baço e outros órgãos. A maceração
da mucosa digestiva é um desprendimento de tais mucosas e o pseudoprolapso
retal. Finalmente, o odor da putrefação ocorre por ação da cadaverina e é mais um
sinal de decomposição cadavérica.
Exumação
capítulo 4 • 93
Caberá ao administrador de cemitério público ou particular indicar o lugar
da sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem
indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inu-
mações, a autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que constará do auto.
No âmbito do processo civil, também é possível a realização de exumação,
desde que o juiz repute pertinente e necessária, ou seja, dirige-se a um ponto
importante e não existem outros meios para realizar a prova. São muitos os casos
em que se deve permitir a exumação nessa seara, sendo mais comum sobre a in-
vestigação de paternidade post mortem, essencialmente quando os parentes mais
próximos se negam a fornecer material genético para o exame de DNA.
EXEMPLO
Reportagem do Jornal G1 sobre a exumação do corpo de Tim Maia datada de março
de 2012
Corpo de Tim Maia é exumado no Rio para exame de DNA, diz advogado
Mulher quer provar que é filha do cantor com uma ex-funcionária do artista.
Segundo advogado, material genético será enviado a laboratório da Uerj
O corpo do cantor Tim Maia foi exumado, nesta quinta-feira (29), para a retirada de
material genético para que seja realizado um exame de DNA, segundo informou o advogado
Valfredo da Silva Santos. Ele defende Rafaela Soares Campos, que move um processo de
verificação de paternidade para provar que é filha do cantor. Ainda segundo o advogado, o
material genético de Tim Maia será enviado ao laboratório da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (Uerj).
Segundo informações do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), a exumação ocorreu na
parte da manhã, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Portuária da cidade,
autorizada pela 2ª Vara de Família da Barra da Tijuca, na Zona Oeste.
Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/03/corpo-de-tim-
-maia-e-exumado-no-rio-para-exame-de-dna-diz-advogado.html>.
capítulo 4 • 94
Identificação de cadáver
b) Necropapiloscopia
A datiloscopia aplicada para a identificação post mortem é denominada no
Brasil de necropapiloscopia.
Em 1903, o sistema Vucetich, baseado na Ciência Papiloscópica – ou seja, a
partir da coleta, classificação e confronto de impressões digitais –, é adotado no
Brasil, constituindo-se no método mais barato, seguro e prático de identificação
humana reconhecido pela legislação brasileira.
Os bancos de dados periciais civis e criminais dispensam a apresentação de pa-
drões de comparação por terceiros, já que o registro padrão encontra-se arquivado
e disponível. Assim, a partir de algoritmos formados pela disposição dos pontos ca-
racterísticos de cada impressão e da identificação das regiões do delta e do núcleo,
tornou-se possível a pesquisa de forma automatizada por padrões papiloscópicos.
capítulo 4 • 95
Esse método de identificação pode ser aplicado buscando-se a identificação de
corpos cadavéricos nas mais variadas fases dos fenômenos transformativos, sejam
destrutivos ou conservadores. Cada vez mais a necropapiloscopia tem ganhado
importância, pois traz resultados positivos e conclusivos de forma mais célere,
sendo, portanto, um eficiente método primário de identificação, inclusive nos
acidentes de massa.
c) Análise de DNA
A descoberta do DNA na década de 1950 foi a base para o desenvolvimen-
to das demais técnicas para caracterizar a individualidade de cada pessoa, pois a
análise do DNA fornece informações individuais com base em qualquer tecido,
a depender da sua quantidade e qualidade, seja ele por meio dos ossos, cabelo,
amostra de biópsia, saliva, sangue etc.
Para esse método, é necessária uma amostra ou fonte, utilizando-se ainda per-
fis de familiares, amostras da própria vítima ou de seus objetos de uso pessoal.
Cabe destacar que é o único método de identificação primário que dispensa com-
paração direta, como impressões digitais e arquivos dentais. Em contrapartida, as
técnicas de análise de DNA podem ser usadas concomitantemente com os demais
métodos utilizados na identificação de vítimas, sendo essa associação crucial em
situações que a fragmentação do corpo é severa.
Reprodução simulada
capítulo 4 • 96
A autoridade deve cercar-se de alguns cuidados ao legitimar o procedimento,
afastando curiosos do local, manter tratamento urbano com o acusado e permitir
a participação do defensor do investigado.
De regra, a reprodução simulada pode ser realizada ex officio pela autoridade
policial, ou seja, por iniciativa própria, independentemente de autorização ju-
dicial, caso esta julgue que podem ser trazidos elementos relevantes para o es-
clarecimento dos fatos delituosos. Contudo, pode também o representante do
Ministério Público requisitar que seja realizada a reconstituição do crime caso esta
diligência seja imprescindível para oferecimento da denúncia.
Há casos, porém, em que a reprodução simulada é vedada, quando ofensiva à
moralidade ou ordem pública – por exemplo, nos crimes contra os costumes e em
casos em que os atos simulados possam trazer risco de inundação, desabamento,
desmoronamento.
Considerações finais
De acordo com o que foi explanado, fica claro que existe uma variedade de
perícias que podem ser realizadas de acordo com o objeto a ser pesquisado.
A atividade pericial é regulamentada nos mais diversos diplomas legais, in-
cluindo as áreas civil, penal e administrativo, tratando da forma de contratação e
de atuação desses profissionais.
Foram abordadas técnicas que auxiliam o trabalho pericial e que são realizadas
por outros profissionais, como exumação e reprodução simulada.
ATIVIDADES
Ano: 2018
Banca: FUNDATEC
Órgão: DPE-SC
Prova: Técnico Administrativo
01. Assinale a alternativa incorreta no tocante às provas que encontram previsão legal no
Código de Processo Penal.
a) Exame de corpo de delito d) Interceptação telefônica
b) Prova testemunhal e) Confissão
c) Interrogatório do acusado
capítulo 4 • 97
Ano: 2017
Banca: IESES
Órgão: IGP-SC
Prova: Perito Criminal Ambiental
02. O perito Norberto entregou um laudo pericial referente a um local de acidente de trânsi-
to com vítimas, 35 dias após a solicitação do exame, sem pedir prorrogação de prazo, e, por
conseguinte, foi repreendido pelo Diretor do Instituto de Criminalística local, sob a alegação
de ter atrasado a conclusão do referido laudo. Segundo o artigo 160, parágrafo único, do
Código de Processo Penal, qual seria o prazo máximo para a conclusão e entrega a ser
cumprido pelo perito Norberto?
a) 30 dias, o mesmo para a conclusão do inquérito policial
b) 60 dias, prorrogáveis por mais 30 dias.
c) 10 dias, prorrogáveis em casos excepcionais
d) 15 dias, o mesmo para o oferecimento da denúncia, se o réu estiver solto ou afiançado
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STJ – MS 6.547/DJ 23.04.2001, p. 117 – Rel. Ministro Felix Fischer.
capítulo 4 • 99
capítulo 4 • 100
5
A atuação da
perícia e da
investigação
criminal
A atuação da perícia e da investigação
criminal
Este capítulo aborda, em seu primeiro item, uma visão prática da atividade pe-
ricial nos mais diversos cenários de crimes. Foram indicados pontos importantes a
serem observados pelo profissional, com o fim de auxiliar na busca por elementos
de prova e permitir, assim, subsidiar a decisão do magistrado.
Em seguida, traz as contribuições e os limites da investigação corporativa jun-
to ao Estado. Para trazer o leitor para uma discussão mais atualizada, dentro des-
sa discussão se apresentam os Programas de Compliance adotados nas empresas,
como estratégia de evitar e descobrir possíveis fraudes, irregularidades, privilégios
e até atos ilícitos, sendo essas práticas iniciadas no Chile e na Itália, já implemen-
tadas em empresas no Brasil.
Por fim, trata da importância de diferentes atividades de assessoria, sua re-
levância para o destinatário do serviço, com uma descrição, não exauriente, das
atividades desenvolvidas em cada uma das modalidades apresentadas.
OBJETIVOS
• Apresentar os diversos objetivos para atuação do perito em cada tipo de local de crime;
• Identificar a atuação da investigação na atividade empresarial;
• Definir Criminal Compliance, sua contribuição e seus limites de atuação;
• Identificar o papel de assessoria na área de segurança.
Ramos da perícia
capítulo 5 • 102
Locais de crime contra pessoa
capítulo 5 • 103
Os peritos elaborarão o laudo pericial, no qual descreverão minuciosamente o
que examinarem, e responderão aos quesitos formulados no prazo máximo de 10
(dez) dias, podendo esse prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requeri-
mento dos próprios peritos.
Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontra-
dos, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixa-
dos no local do crime. Caso não seja realizada a preservação adequada, os peritos
registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório,
as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.
capítulo 5 • 104
2. INSTRUMENTOS EM GERAL
Pela variedade de instrumentos utilizados na prática do crime, muitas vezes é neces-
sário que se use de criatividade e bom senso na coleta, no acondicionamento e até no
transporte da peça até o laboratório. A peça pode conter manchas, fios de cabelo, pêlos,
impressões digitais, que devem ser preservados do manuseio, atrito, umidade, poeira e
contato externo ou pode não conter vestígios aparentes. Evitar o manuseio desneces-
sário.
3. ARMAS DE FOGO E MUNIÇÃO
Ao manusear a arma de fogo, para posterior envio ao laboratório, envolver a
mão com luva ou saco plástico, evitando-se a introdução de impressões digitais. Inexis-
tindo luva ou saco plástico, pegar a arma pelas extremidades (boca do cano e placas da
coronha, que por serem ásperas não guardam impressões digitais completas), colocar
em uma caixa de papelão e prender firmemente com fita adesiva ou barbante, pelas
mesmas extremidades já manuseadas. A arma de fogo também pode ser manuseada
pelo guarda-mato. Na remessa para exame, fazer um breve histórico do fato, existência
de munição intacta ou deflagrada e outras observações julgadas úteis. Quanto menos
o projétil for manuseado, maiores serão as possibilidades de obtenção das característi-
cas que permitem o confronto e a identificação da arma de fogo. Deverá ser protegido,
envolto firmemente em algodão e depois embrulhado em papel. Não deve ser deixado
solto em caixas ou vidros, para que não se destruam as características do estriamento.
4. DROGAS, MEDICAMENTOS, VENENOS E OBJETOS RELACIONADOS
Maconha, cocaína, crack, inalantes, estimulantes, alucinógenos, derivados do ópio, me-
dicamentos e venenos, agrotóxicos, seringas, maricas, balanças e outros materiais utili-
zados para consumo e comercialização de drogas: manusear com cuidado, não tocar os
produtos sem proteger as mãos com luvas e, se necessário, usar máscaras para evitar
intoxicação (no caso de inalantes e agrotóxicos). Embalar com cuidado, de forma a evitar
a possível perda de material.
capítulo 5 • 105
A literatura criminalística aborda que a quantidade de vestígios gerados em
furtos é superior à de roubos. Nos primeiros, são comuns danos por meio de
ruptura ou transposição forçada de fechaduras, cadeados, portas, janelas, dutos
de ventilação etc., propiciando, assim, um acervo maior de vestígios materiais na
ação criminosa.
Na área de crimes contra o patrimônio, destacamos os seguintes tipos de lo-
cais, por serem os mais comuns:
1. Furto (residências, lojas comerciais, furto qualificado por arrombamen-
to, destruição, emprego de chave falsa etc.);
2. Roubo;
3. Dano.
A primeira pergunta a ser feita é se houve subtração de coisa móvel ou a sua tenta-
tiva para caracterizar os crimes patrimoniais citados, salvo o caso de dano. No Direito
Penal, trabalha com um conceito natural de coisa móvel, ou seja, tudo aquilo passível
de remoção, e o próprio código penal traz algumas circunstâncias relacionadas à natu-
reza do objeto furtado que poderiam gerar dúvidas, tais como energia elétrica ou outra
energia de valor econômico e animal semovente domesticável de produção.
O Código Penal tem uma causa de aumento de pena relacionada ao horário
em que fora praticada a infração: “a pena aumenta-se de um terço se o crime é
praticado durante o repouso noturno”. Observa-se, assim, que a constatação do
momento da prática delituosa é de extrema importância, já que o agente poderá
ser apenado de forma mais grave.
Abordando outros pontos que ligam a perícia e a aplicação de pena mais gra-
vosa, temos as qualificadoras do crime de furto. Na primeira delas, tem-se a des-
truição ou rompimento de obstáculo à subtração – em geral, fala-se aqui de fecha-
duras, cadeados ou construções destinadas a preservar patrimônio. Nesses casos,
é importante que seja indicado “com que instrumentos, por que meios e em que
época presumem os peritos ter sido o fato praticado e, caso os instrumentos este-
jam disponíveis para exame, devem ainda se lhes verificar a natureza e a eficiência.
Quanto ao obstáculo, considera-se tudo aquilo que tenha a finalidade precípua de
proteger a coisa e que também não seja a ela naturalmente inerente.
Em seguida, teremos a fraude, escalada e destreza, que estão relacionadas com
a dinâmica do ato. Não trataremos aqui da qualificadora abuso de confiança, pois
foge do alcance da prova material, por não ser a confiança, ou o abuso dela, mate-
rialmente determinável, devendo recair sobre outros meios de prova.
capítulo 5 • 106
Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração,
a fim de lhes verificar a natureza e a eficiência. Como escalada podemos entender,
por exemplo, subir sorrateiramente pela lateral de um edifício, apoiando-se em
beirais, saltar por sobre um muro de considerável altura, utilização de uma esca-
da. Nestes casos, deve o perito indicar e descrever de forma minuciosa os objetos
utilizados e os obstáculos transpostos, informando as alturas, e deixar a cargo da
autoridade competente a decisão quanto à aplicabilidade ou não da qualificadora.
Depois, temos a qualificadora do uso de chave falsa. Mais comum em furtos
em residências e de veículos, tal circunstância poderá ser às vezes confirmada pela
presença do instrumento, mixa ou gazua, ainda no local, quando então deverá ter
a sua eficiência para o ato verificada. Outra vezes, poderá ser indicada a proba-
bilidade de utilização de tais instrumentos se for verificada a presença de danos
internos ou externos nos cilindros das fechaduras ou ignição.
No crime de roubo, que tem seus elementos definidos no artigo 157 do
Código Penal Brasileiro, nota-se, pela comparação dos tipos penais do furto e
do roubo, que o elemento diferenciador é a grave ameaça ou violência à pessoa.
Há, no caput do art. 157, duas formas de violência. A primeira delas, contida na
primeira parte do artigo, é a denominada de própria, isto é, a violência física, vis
corporalis, que é praticada pelo agente a fim de ter sucesso na subtração criminosa;
a segunda, entendida como imprópria, ocorre quando o agente, não usando de
violência física, utiliza qualquer meio que reduza a possibilidade de resistência da
vítima, conforme consta da parte final do caput do artigo em exame, de forma
sub-reptícia, embriagando, narcotizando ou hipnotizando a vítima, por exemplo.
Na violência própria, a pessoa pode deixar vestígios materiais, tanto no corpo
humano – o que será aferido em exame médico-legal – como no local do crime, sendo
nesse caso o mais comum deles a presença de manchas de sangue humano no local.
A disposição das manchas e a identificação de sua fonte por meio de exames de
DNA podem esclarecer a dinâmica do evento, indicando a existência de violência
contra pessoa.
Na violência imprópria, ou seja, aquela que, por qualquer meio, reduz a pes-
soa à impossibilidade de resistência, os vestígios materiais encontrados nesses casos
são segmentos de cordas, cabos elétricos ou fitas adesivas, com conformação a
indicar a plausibilidade de terem sido utilizados para amarrar pessoas. Tal forma
específica de violência encaixa-se perfeitamente na parte final do caput do artigo
157, a denominada violência imprópria, pois é um meio de reduzir a pessoa à
capítulo 5 • 107
impossibilidade de resistência e não produz, em regra, lesões corporais. Já a grave
ameaça, por ser subjetiva, torna-se de difícil verificação material.
Da mesma forma que no caso do furto, exige o artigo 175 do CPP que os ins-
trumentos utilizados para a prática do crime sejam examinados com o fim de se lhes
verificar a natureza e a eficiência, devendo o quesito, portanto, esclarecer tal ponto.
Finalmente, é importante tratar aqui do crime de dano. Como forma de ates-
tar a materialidade do fato, deve o perito avaliar a destruição, a inutilização ou a
deterioração de coisa. Dessa forma, é importante também que o perito busque
elementos materiais de convicção sobre a intencionalidade de quem produziu o
dano, como a extensão e a forma de produção dos resultados encontrados. Outro
ponto importante está relacionado ao uso de substância inflamável ou explosiva,
por estar relacionado a circunstâncias que sempre agravam a pena.
capítulo 5 • 108
mecânica pode ter contribuído para o acidente. Em seguida, analisará o perito os
vestígios deixados pelo acidente sobre o pavimento, as marcas de frenagem, derra-
pagem, arrastamento e outras.
O exame das vítimas com suas lesões também poderá fornecer elementos para
a determinação da dinâmica e das causas do acidente, além da análise de dosagem
alcoólica no motorista.
No caso de fatos que envolvem veículos em movimento, o perito precisa ter o
cuidado de, antes de iniciar o exame propriamente dito, colher o maior número
de informações possíveis, uma vez que o local mediato e os locais relacionados
podem abranger uma área considerável, e eventual descuido fazer com que provas
importantíssimas sejam perdidas.
Em resumo, devem ser observadas pelos peritos, dentre outras, as marcas de
pneus, frenagem, derrapagem, sulcagem, arrastamento.
A análise das marcas produzidas pelos pneumáticos apresenta as seguin-
tes finalidades:
a) identificar a espécie de veículo utilizado;
b) determinar a direção tomada por ele;
c) identificar, especificamente, o veículo que esteve no local.
capítulo 5 • 109
Local de crime contra o meio ambiente
capítulo 5 • 110
Intervenção corporal
capítulo 5 • 111
instrumentos ou substâncias, em cavidades naturais ou não, como exames de san-
gue, ginecológicos, endoscopia. Já as provas não invasivas são aquelas em que não
haverá a penetração no organismo do acusado, porém serão realizadas a partir
de vestígios do corpo humano do acusado, como materiais fecais, fios de cabelo,
impressão datiloscópica.
O Código de Processo Penal não traz regra expressa a respeito do dever do
acusado de colaborar ou não para a realização desses tipos de provas. Por esse
motivo, caso o acusado se recuse a colaborar, não poderá ser punido por isso, pois,
como já mencionado, o réu não é obrigado a fazer prova contra si – isto é o que
prevê o princípio do nemo tenetur se detegere e do direito ao silêncio.
Investigação privada
capítulo 5 • 112
CONCEITO
Partimos do conceito de que a investigação Corporativa ou Empresarial é conjunto de
medidas implementadas para identificar, esclarecer e minimizar impactos por meio de atos
praticados pelos funcionários que fazem parte do efetivo de uma Companhia e/ou até meio
por terceiros que podem implicar no andamento e desenvolvimento da empresa.
Como toda organização está sujeita a distintas anomalias, a prática de investigação ob-
jetiva encontrar irregularidades internas, tais como fraudes, favorecimento de algum cliente,
desvios de dinheiro e/ou recursos, chantagens e espionagens, prejuízos em geral, ocultação
de bens materiais e demais outros, a fim de que as práticas ilegais possam ser de conheci-
mento dos gestores.
CURIOSIDADE
Segundo o e-commerce News, 70% das empresas no Brasil sofrem algum tipo de frau-
de, e 60% desses casos são realizados por funcionários e ex-funcionários.
Reportagem de Fabrício Rui Dias em 27/04/2016. Disponível em: <https://
ecommercenews.com.br/artigos/cases/para-que-serve-e-como-funciona-a-inves-
tigacao-empresarial/>.
Limites e contribuições
capítulo 5 • 113
A atuação privada, por meio da realização de exames ou auditorias, possibi-
lita identificar elementos que não integraram a investigação criminal realizada
pelo órgão estatal. Tal estrutura, principalmente no âmbito corporativo, mediante
departamentos ou diretorias de Compliance, torna-se cada vez mais recorrente,
principalmente por meio de medidas preventivas, como guarda de documentos
tidos como suspeitos, e-mails ou imagens de sistema de segurança, que podem ser
perdidos pelo tempo ou por interesse de alguém na destruição de provas.
Por fim, concluímos que existem poucas discussões na doutrina brasileira
acerca dos limites e possibilidades da contribuição da investigação privada. Logo,
necessitando de maior reflexão do tema, com vistas à adequação e melhor garantia
ao Estado Democrático de Direito, com critérios e limites previamente estabe-
lecidos. Isso se torna fundamental na medida em que os instrumentos de acom-
panhamento e monitoramento aumentam no mundo corporativo, podendo ser
utilizados em prol da sociedade e contribuir na investigação criminal.
Criminal Compliance
CONCEITO
Segundo Rodrigo Grandis (2017), o programa Compliance pode ser conceituado como
o conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à
denúncia de irregularidades, bem como a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta,
políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos
ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira (art. 41, Decreto
n.º 8.420/2015). Em seu escopo, prevê, ainda, a mitigação da exposição de administradores
e trabalhadores de uma empresa, a verificação de irregularidades e a aplicação de ajustes e
correções, a prevenção de gastos futuros e a construção de vantagem competitiva e trans-
parência para captação de recursos futuros.
capítulo 5 • 114
Dito isso, entende-se por criminal compliance o sistema de avaliação de forma continuada
das condutas praticadas na atividade da empresa, a fim de evitar prática de crimes contra a em-
presa ou mesmo práticas prejudiciais sob a perspectiva criminal.
capítulo 5 • 115
O sucesso de um programa de Compliance servirá como instrumento de defe-
sa, a fim de reduzir ou até mesmo excluir da responsabilidade penal. Dessa forma,
a empresa poderá demonstrar a sua capacidade de “prevenir, detectar e remediar”
anomalias existentes no âmbito empresarial. Cabe destacar que tem sido pleiteada
a atuação de especialistas de Direito penal em tais ações. No início, a assessoria
legal tinha um escopo de atuação mais restrito, pois realizava a observância dos
deveres concretos de informação sobre as regras da técnica e segurança da ativida-
de da empresa, por parte dos administradores e altos diretores, principalmente em
matéria de meio ambiente e de segurança do trabalho. Posteriormente, o escopo
de atuação se ampliou, haja vista os deveres de diligência terem se reforçado, esten-
dendo-se a outros âmbitos e a outros sujeitos, tal como o próprio ente corporativo.
Em resumo, nota-se que a finalidade do Compliance é apresentar informações
para que o Estado possa tomar ciência do cometimento de crimes, a exemplo do cri-
me de lavagem de dinheiro, bem como minimizar impactos negativos nas empresas.
capítulo 5 • 116
atenuação de pena torna-se um diferencial, pois, se por um lado o Programa de
Compliance não tem a finalidade de isentá-la da infração cometida, por outro lado
a atenuação da pena impacta diretamente na multa prevista em lei, que é elevada.
Cabe destacar que o Compliance atenua eventual pena de multa, mas também tem
um efeito comercial de certificação da empresa que o implementa.
A implementação do Programa de Compliance no Brasil traz uma nova pers-
pectiva da legislação brasileira no combate à corrupção, contribuindo para romper
com o ciclo de atitudes que corrompem e caminham nos mais diversos contratos
existentes com a administração pública.
capítulo 5 • 117
prazo. Assim, os impactos das políticas de conformidade e os das normas penais
devem ser considerados não só na esfera empresarial, mas também na esfera jurídica.
Assessoria em segurança
O assistente técnico é o perito particular, enviado pela parte, podendo ser indicado
pelo Ministério Público, pelo querelante, pelo assistente de acusação, pelo ofendido e
pelo próprio acusado. As partes enumeradas podem indicá-lo para atuar no processo
penal que se dá após a apresentação do laudo oficial, e a partir de então ingressa o assis-
tente técnico, que vai lançar o seu parecer a respeito daquela perícia oficial já realizada.
capítulo 5 • 118
Enquanto o perito oficial é nomeado pelo juiz e tem obrigações de impar-
cialidade, diligência e presteza, a figura do assistente técnico surge por meio de
nomeação das partes e não tem os mesmos compromissos que o perito oficial.
Além disso, o assistente técnico é remunerado pelas partes que o invocaram,
cumprida a entrega do laudo no mesmo prazo do perito oficial.
É correto afirmar que a participação dos assistentes técnicos representa o prin-
cípio da ampla defesa e do contraditório e, trabalhando em comum com o perito
oficial, torna-se importante para a qualidade do resultado da perícia. Uma vez
nomeado pelas partes, o assistente deve participar de toda a produção da prova,
auxiliando na confecção dos quesitos, auxiliando o perito oficial nas diligências de
perícia e oferecer a sua análise por meio da elaboração de laudo técnico.
capítulo 5 • 119
Características da atividade de inteligência:
a) foco na produção do conhecimento, por meio de metodologia própria;
b) função de assessoria ao processo decisório.
Assim, pode-se dizer que inteligência é a atividade que tem como objetivo
produzir conhecimentos relevantes, por meio de metodologia própria, a fim de
assessorar o processo decisório.
Como todas as facetas da atividade governamental necessitam de conheci-
mentos qualificados para decidirem de forma eficiente, dividiu-se a atividade de
inteligência em diversas categorias, de acordo com o foco principal do conheci-
mento produzido.
Há diversas divisões, como numerosas são as atividades governamentais. As
historicamente mais importantes são a inteligência de Estado e a inteligência mili-
tar, uma vez que todas as outras ramificações originaram-se destas.
A inteligência de Estado é aquela que visa assessorar a tomada de decisão no
mais alto nível de um Estado. Sua importância é tamanha que a Lei 9.883/99, que
institui o SISBIN, em seu art. 1º, determina que a finalidade do sistema é “forne-
cer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional”, ou
seja, o SISBIN tem como objetivo principal realizar inteligência de Estado.
Já a inteligência militar é aquela que se destina a subsidiar o processo decisó-
rio das Forças Armadas, em tempo de paz ou de guerra. Em tempo de paz, visa
estabelecer hipóteses de emprego, dentre outras coisas. Já em combate, tem como
principal objetivo identificar o plano de batalha inimigo, em todos os seus níveis.
Ao lado dessas divisões tradicionais, em razão do aumento da complexidade
da atividade estatal, surgiram diversas outras ramificações, como as citadas abaixo:
• Inteligência de segurança pública, executada pelos órgãos de segurança
pública.
• Inteligência financeira, de grande importância nos dias atuais, destina-se,
principalmente a acompanhar o sistema financeiro e identificar movimentações
anômalas, para, então, após análise, comunicar sua ocorrência aos órgãos de en-
frentamento ao delito de ocultação de bens e capitais. No Brasil, é executada pelo
Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF), criado pela Lei 9.613,
de 3 de março de 1998;
• Inteligência fiscal, que é de responsabilidade dos agentes tributários e obje-
tiva assessorar os tomadores de decisão desses órgãos na melhor forma de emprego
de seus meios, dentre outros fins.
capítulo 5 • 120
Considerações finais
ATIVIDADE
Ano: 2015
Banca: FGV
Órgão: Câmara Municipal de Caruaru - PE
Prova: FGV - 2015 - Câmara Municipal de Caruaru - PE - Analista Legislativo -
Administração
01. Estar em Compliance é estar em conformidade com leis e regulamentos externos e in-
ternos da organização ou instituição. Compliance tem sido uma expressão bastante utilizada
ultimamente e gerou uma corrida em diversas organizações para a absorção do conceito e a
implementação de estruturas, processos e mecanismos que o garantam.
A função Compliance envolve as atividades listadas a seguir, à exceção de uma. Assi-
nale-a.
a) Assumir as funções de auditoria interna na organização.
b) Avaliar os riscos do negócio referentes às regras estabelecidas.
c) Avaliar a conformidade entre normas externas, internas e políticas corporativas.
capítulo 5 • 121
d) Reportar-se diretamente ao Conselho e à Alta Administração sem intervenção ou veto
de outras áreas.
e) Agir para integrar governança corporativa, gestão de riscos e os controles da instituição,
orientados para a sua estratégia.
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capítulo 5 • 122
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XAVIER FILHO, Ernesto de Freitas. Rotina Médico-Legal. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzato, 1992. 210
p. Regimento Interno do Instituto de Criminalística do Paraná.
GABARITO
Capítulo 1
01. 02.
Capítulo 2
01. C 02. A
Capítulo 3
01. D 02. A
Capítulo 4
01. D 02. C
Capítulo 5
01. D
capítulo 5 • 123
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 124
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 125
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 126
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 127
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 128