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O Nascimento da Filosofia

O que veremos nesta apostila:

• O que é a filosofia?

• Mitologia grega

• Os sofistas

• Mitos versus filosofia

• Os pré-socráticos

• Tales de Mileto, o primeiro filósofo

Filosofia é o estudo das questões que intrigam os seres humanos desde o início da civilização, sejam
elas relacionadas à natureza, ao universo ou ao próprio ser humano. Mas como surgiu a filosofia?

A palavra tem origem em duas outras palavras gregas: philia (amor fraterno, amizade) e sophia (co-
nhecimento, o saber). Filosofia, portanto, não é o simples conhecimento, mas o amor ao saber.

Então não existe nenhum conhecimento até o surgimento da filosofia? Não é bem assim. As
questões da vida, da origem de tudo, do cotidiano e da natureza eram explicadas através dos mitos, ou
seja, tudo tinha uma explicação baseada na divindade.

1 Mitologia grega: a explicação para a origem de tudo


No início só havia o Caos, o vazio. E então veio Gaia, a Terra. Do Caos também nasce Éros, o amor
primordial. Gaia criou sozinha seu companheiro Urano, o Céu, como seu igual. Ponto, a Onda do Mar,
também é cria de Gaia e encerra a lista de seres primordiais. Estes seres são forças da natureza e ao
mesmo tempo apresentam-se como divindades.

Urano fica constantemente sobre Gaia e nela gera vários filhos, mas nunca dá espaço para que eles
saiam de dentro dela. Seus filhos são os Titãs, os Ciclopes e os Hecatônquiros (Cem-Braços).

Gaia se sente inchada e violentada por seu companheiro, e então instiga seus filhos Titãs a se rebe-
larem. Cronos, o titã mais jovem, é o único que aceita. Com ajuda da mãe, corta o membro sexual de
seu pai, obrigando-o a se afastar e criando a distância entre o Céu e a Terra.
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Inicia-se o reinado de Cronos e a era


dos Titãs. Estes não são forças primordi-
ais da natureza, portanto podemos considera-
los os primeiros deuses. Cronos casa-se com
Rea, sua irmã, e com ela gera vários filhos.
Mas por medo de ter o mesmo destino de
seu pai, engole cada um de seus filhos logo
após seu nascimento. Assim como Gaia, Rea
se rebela e engana Cronos, fazendo-o engo-
lir uma pedra ao invés de seu filho mais novo,
Zeus.
Figura 1: Ruínas do Partenon (Atenas), templo dedi-
Já crescido, Zeus engana seu pai e o faz vo- cado à deusa Atena. Créditos da imagem: Pixabay
mitar todos os seus irmãos, iniciando a guerra dos
deuses. Como resultado, Cronos é derrotado e começa, então, o reinado de Zeus. Os Titãs, exceto aque-
les que se uniram aos deuses, são presos no Tártaro pela eternidade.O reinado de Zeus e dos deuses
do Olimpo mostra-se diferente dos anteriores: embora sejam divindades cultuadas, os deuses interagem
com os humanos e até têm filhos com eles. São inúmeras as narrativas sobre essas relações.

Em uma disputa com os mortais, Zeus es-


conde o fogo e os priva de seu uso. Pro-
meteu, filho do titã Jápeto, é quem salva
os mortais da catástrofe ao enganar os deu-
ses e restabelecer o fogo. Por isso ele
é castigado, sendo condenado a ficar preso
em um rochedo e ter seu fígado bicado por
uma águia todos os dias, até que Héra-
cles, o semideus mortal filho de Zeus, o li-
berta.

Outra história é a de Pandora, a primeira


mulher criada pelos deuses. Pandora foi cri-
ada para ser companheira do homem, mas
ao mesmo tempo era mentirosa e mesqui-
nha. Um dia, influenciada por Zeus, ela ig-
nora as ordens de seu marido e abre um de
seus recipientes, libertando todos os males do
mundo.
Figura 2: Escultura de Nicolas-Sébastien Adam,
A Guerra de Troia, que de fato aconteceu, é “Prometeu acorrentado ao Monte Cáucaso”, no Mu-
contada pelos gregos com elementos fantásticos, seu do Louvre (Paris) / Créditos da imagem: Musée
interferências das divindades e heróis semideuses. du Louvre / Pierre Philibert
Ulisses, Édipo, Perseu... são vários os persona-
gens mortais frutos de relacionamentos entre deuses e humanos.
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Mas, afinal, o que a mitologia tem a ver com a filosofia?

Podemos dividir a narrativa mitológica grega em três fases: a primeira é a criação do Universo, da
existência primordial, a dominação do Céu sobre a Terra; a segunda traz o triunfo dos deuses titãs, o rei-
nado de Cronos até a guerra com os deuses; por fim, a terceira fase estabelece o reinado de Zeus e dos
deuses Olímpios, que logo cedem espaço na narrativa para as aventuras heroicas de seus descendentes
mortais. Há, afinal, protagonismo dos homens nas narrativas mitológicas.

A narrativa mitológica reflete a visão cada vez mais voltada ao indivíduo e menos ao divino. Even-
tualmente a própria narrativa será substituída pelo discurso racional, mostrando o rompimento com o
pensamento mítico para dar lugar à lógica.

2 A formação das cidades-Estado gregas


A Grécia Antiga é considerada o berço da filosofia ocidental. Por isso é importante compreendermos
como se deu o desenvolvimento deste pensamento ali.

O crescimento das comunidades e a consequente formação da polis (cidade) foi fundamental para o
nascimento da filosofia, pois a relativa estabilidade abriu espaço para outras ocupações dos indivíduos,
como a poesia e a política. Neste momento o espaço central da cidade passa a ser a ágora, a praça
pública onde se discutem os assuntos do cotidiano e da vida.

Entretanto, como vimos, todas as questões da vida eram explicadas através dos mitos. Portanto, o
objetivo da discussão não era chegar à uma nova conclusão, mas descobrir quem tinha a melhor oratória.
Esses debatedores eram vistos como sábios intelectuais, os sofistas.

3 Os pré-socráticos
Os primeiros filósofos ocupavam-se da physis, ou seja, querem compreender a natureza, a causa das
coisas. Para isso utiliza-se o conceito de arché, aquilo que seria a base de tudo, o elemento primário a
partir do qual criam-se todas as coisas.
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Atenção! Arché não é simplesmente aquilo que dá origem a tudo, é algo mais complexo, o que
rege o cosmos e determina que as coisas sejam aquilo que são.

Foram várias as teorias sobre qual seria a arché. Alguns, sendo discípulos de outros, renegaram ou
aprimoraram as teorias anteriores. Falaremos sobre o primeiro destes filósofos: Tales de Mileto.

Figura 3: Filósofos da Grécia Antiga. Fonte: Enciclopedia do Estudante. História da filosofia: da Antigui-
dade aos pensadores do século XXI. v. XII. Bernardete Siqueira Abrão (et. al.). São Paulo: Moderna,
2008, p. 17

4 Tales de Mileto
Estima-se que tenha vivido por volta do ano 600 a.C em Mileto, região da atual Turquia que na época
vivia sob influência grega. Para Tales, o princípio de todas as coisas é a água. Sua teoria baseia- se na
ideia de que a água não é apenas essencial à vida, mas também pode se apresentar em várias formas,
sendo o elemento ideal. Portanto, ele é um monista, pois defende que a arché se trata de um único
elemento.
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Indicações:

• Livro: “O Universo, os Deuses, os Homens”, de Jean-Pierre Vernant. Companhia das


Letras, 2005

• Filme: “Tróia” (2004)


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5 Exercícios de Fixação
5.1 (ENEM 2014)
Compreende-se assim o alcance de uma reivindicação que surge desde o nascimento da cidade na
Grécia antiga: a redação das leis. Ao escrevê- las, não se faz mais que assegurar-lhes permanência e fi-
xidez. As leis tornam- se bem comum, regra geral, suscetível de ser aplicada a todos da mesma maneira.
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992 (adaptado)

Para o autor, a reivindicação atendida na Grécia antiga, ainda vigente no mundo contemporâneo,
buscava garantir o seguinte princípio:

a. Isonomia — igualdade de tratamento aos cidadãos.

b. Transparência — acesso às informações governamentais.

c. Tripartição — separação entre os poderes políticos estatais.

d. Equiparação — igualdade de gênero na participação política.

e. Elegibilidade — permissão para candidatura aos cargos públicos.

5.2 (ENEM 2010)


Quando Édipo nasceu, seus pais, Laio e Jocasta, os reis de Tebas, foram informados de uma profecia
na qual o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. Para evita-la, ordenaram a um criado que matasse o
menino. Porém, penalizado com a sorte de Édipo, ele o entregou a um casal de camponeses que morava
longe de Tebas para que o criasse. Édipo soube da profecia quando se tornou adulto. Saiu então da casa
de seus pais para evitar a tragédia. Eis que, perambulando pelos caminhos da Grécia, encontrou-se com
Laio e seu séquito, que, insolentemente, ordenou que saísse da estrada. Édipo reagiu e matou todos
os integrantes do grupo, sem saber que entre eles estava seu verdadeiro pai. Continuou a viagem até
chegar a Tebas, dominada por uma Esfinge. Ele decifrou o enigma da Esfinge, tornou-se rei de Tebas e
casou- se com a rainha, Jocasta, a mãe que desconhecia. Disponível em: http://www.culturabrasil.org. Acesso em 28 ago. 2010
(adaptado)

No mito Édipo Rei, são dignos de destaque os temas do destino e do determinismo. Ambos são carac-
terísticas do mito grego e abordam a relação entre liberdade humana e providência divina. A expressão
filosófica que toma como pressuposta a tese do determinismo é:

a. "Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo."Jean Paul Sartre

b. "Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser."Santo Agostinho

c. "Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte."Arthur Schopenhauer

d. "Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo."Michel Foucault

e. "O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança."Friedrich Nietzsche
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5.3 (Unioeste 2012)


O que há em comum entre Tales, Anaximandro e Anaxímenes de Mileto, entre Xenófanes de Colofão
e Pitágoras de Samos? “Todos esses pensadores propõem uma explicação racional do mundo, e isso é
uma reviravolta decisiva na história do pensamento” (Pierre Hadot).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre mito e filosofia, seguem as seguintes
proposições:

I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da physis porque as explicações racio-
nais do mundo por eles produzidas apresentam não apenas o início, o princípio, mas também o
desenvolvimento e o resultado do processo pelo qual uma coisa se constitui.

II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem da origem e do desenvolvimento do


universo, antes deles já existiam cosmogonias, mas estas eram de tipo mítico, descreviam a história
do mundo como uma luta entre entidades personificadas.

III. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-socráticos seguem o mesmo esquema
ternário que estruturava as cosmogonias míticas na medida em que também propõem uma teoria
da origem do mundo, do homem e da cidade.

IV. O nascimento das explicações racionais do mundo são também o surgimento de uma nova ordem
do pensamento, complementar ao mito; em certos momentos decisivos da história da filosofia as
duas ordens de pensamento chegam a coexistir, exemplo disso pode ser encontrado no diálogo
platônico Timeu quando, na apresentação do “mito mais verossímil”, a figura mítica do Demiurgo é
introduzida para explicar a produção do mundo.

V. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e físico é considerado filósofo – o funda-
dor da filosofia, segundo Aristóteles – porque em sua proposição “A água é a origem e a matriz de
todas as coisas” está contida a proposição “Tudo é um”, ou seja, a representação de unidade.

Assinale a alternativa correta:

a. As proposições III e IV estão incorretas.

b. Somente as proposições I e II estão corretas.

c. Apenas a proposição IV está incorreta.

d. Todas as proposições estão incorretas.

e. Todas as proposições estão corretas.


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6 Gabarito
1. a)

2. b)

3. e)

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7 Agradecimentos
Apostila idealizada e escrita por

• Karla Okamoto Dourado

Referências
• GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. História essencial da filosofia. São Paulo: Universo dos Livros,
2009. 96 p. v. 1.

• TORRANO, J. A. A.; HESÍODO. Teogonia. A origem dos Deuses. Estudo e tradução. 7. ed. São
Paulo: Iluminuras, 2007. 160p.

• VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras,
2000. 209 p.

• VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 24a ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002.
144 p.

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