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PROF. COLVARA DESPEDE-SE DE SEUS ALUNOS.

Após 10 anos de um convívio prazeroso e recompensador estou, a contragosto, afastando-me


da Escola que tanto defendi e de vocês, meus alunos, que tanto aprecio.
Razões da mais absoluta inconformidade com os critérios “estratégicos” e “pedagógicos” da
“nova escola” forçam-me, inexoravelmente, a afastar-me daqueles que, há 10 anos, vêm sendo
a minha razão de existir como pessoa que aprende enquanto ensina.
É essa convivência que durante estes anos todos me fez gostar de acordar cedo e rumar para a
escola, pois sabia que lá, com vocês, estaria mais uma vez e a cada vez de uma maneira
diferente se preparando para acontecer mais uma troca de experiências com as suas mais
diversas nuances. Estaria ocorrendo o maravilhoso ato em que aluno e professor se encontram,
seja nas vezes em que estávamos no tradicional ambiente da sala de aula ou na aula informal
de um posto de gasolina, na exposição no convencional quadro de giz ou nas revolucionárias
pesquisas da casa robotizada. Nestes e em todos os outros encontros, e em cada dia, acontecia
o milagre diário que se chama Educação. Nas experiências de Física (e quantos choques
tomamos!), ou nas aulas de Hardware (quantas e quantas peças têm um HD ou um CD, e para
que servem, não é mesmo?), ou ao utilizar a sucata derivada de nossas experiências montando
nossos veículos de exploração programáveis. E é nessa criação do dia-a-dia que se constroem
e se estabelecem as relações, acentuando-se a identidade e fortalecendo-se os laços da
relação aluno/professor.

Nesta década tive o privilégio de conviver no dia-a-dia com cerca de 5 mil alunos e com vocês
todos vivemos momentos de extrema gratificação como quando, em mais um dos projetos da
disciplina de Física, em que propus a vocês - e vocês com entusiasmo, curiosidade e interesse
aceitaram - trabalharmos junto com a NASA na tarefa que nos deixou conhecidos
nacionalmente pelo polimento dos espelhos que vieram a constituir a superfície do satélite
StarShine.

Ainda viríamos a ter projeção maior quando, em 2001, os trabalhos de meus inesquecíveis
alunos do curso de Redes, por mim orientados, nos levou aos Estados Unidos. Com que honra
participei como conferencista naquele evento que reuniu os Consultores de infraestrutura de
redes do mundo inteiro.
A mesma honra senti, quando em Dezembro último, em vista dos escassos recursos de
divulgação, me decidi a, sozinho, pintar os muros da escola para divulgar nossos cursos e
matrículas. Com que alegria foi que percebi que meu exemplo prosperou e vi juntarem-se a mim
alunos, pais, professores e direção, e, durante dois dias, sob o sol escaldante das manhãs e
tardes deste verão pudemos então deixar registrado em tinta e suor, na esquina das ruas Félix
da Cunha e Dom Pedro II, o produto mais nobre de nossa atividade: o Ensino.
A alegria se tornou ainda maior pois estava divulgando ali os cursos que, por madrugadas a fio,
eu havia idealizado, projetado e polido tal uma jóia rara para, enfim, oferecer à comunidade: os
nossos orgulhosos cursos de Técnico em Redes de Computadores e de WebMastering.

Despeço-me também dos alunos formados nos inéditos cursos de formação de Instrutores, que,
mais uma vez, vieram a nos fazer presentes em reportagem de capa do caderno de empregos
de conceituado jornal da capital. Vejo vocês como grandes sementes que, antes mesmo de
plantadas, já ofereciam, a mim mesmo, os frutos do convívio sadio, afetuoso e amigo.

Com que saudade vou levar no peito os nomes de cada um de vocês, meus queridos alunos
das disciplinas de Estágio I e Estágio II, com suas disponibilidades em percorrermos as ruas da
cidade na busca incansável da pesquisa pelos dados que nos ajudariam a traçar o perfil do
profissional de informática da cidade de Pelotas.

Aos valorosos integrantes do 3o técnico, que com garra, muita luta e força de vontade estão
levando no peito e na raça toda a campanha para sua formatura, um até breve, pois, podem
ficar certos, vou estar lá para abraçar um a um por sua parceria, amizade e companheirismo.

Aos proprietários das inúmeras empresas de informática da cidade, que mais do que
profissionais, foram meus amigos e parceiros, fornecendo-me incansavelmente as vagas para
os estágios profissionalizantes de meus queridos futuros técnicos em informática, quero aqui
deixar também o meu mais profundo agradecimento, pela compreensão, pelo profissionalismo e
por seu desprendimento em abrir as portas de suas empresas para acolher meus alunos.

Agradeço também aos pais que, por telefone ou em visitas pessoais, têm manifestado seu
descontentamento com a situação dos últimos meses, trazendo a todos nós as conseqüências
que se avizinham. Em retribuição ofereço-lhes estes 10 anos de amor e dedicação, mais do que
a uma escola, aos seus alunos.

Lamento que também, neste momento, venham vocês, alunos, a perderem também outros
professores que, muito mais do que eu, merecem ser chamados com todas as letras de
excelentes profissionais, cuja perda, para vocês é absolutamente irreparável.

Peço desculpas aos pequeninos a quem prometi a robótica na sala de aula e em cujos olhos
brilhantes de expectativa senti a ansiedade pelo início de um novo ano e que, infelizmente,
neste atual contexto, não vou poder cumprir.

Meus caros alunos, vocês já me ouviram várias vezes falar, mas não custa repetir, e agora mais
do que nunca isso se torna verdadeiro e concreto: uma escola não são as paredes, portas e
janelas. Não é um nome, um lugar, uma idéia. Uma escola é uma coisa viva, que pulsa e bate
como um coração do tamanho de mil prédios. Uma escola é os seus alunos, é vocês, que em
cada coração e em cada mente pensam, sentem e sabem que o fundamental na vida não são
as coisas concretas, mas aquilo de mais abstrato que existe: o fundamental são as amizades
que se formam nas salas de aula, os amores que brotam pelos corredores, os sentimentos que
nascem e os afetos que florescem, a estima que viceja e a admiração que eterniza.
Uma escola... somos nós.
Até um dia!

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