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Entre o racismo e a lesbofobia:

Como a pandemia atinge lésbicas negras

Por mais que a pandemia do COVID 19 e o distanciamento social ocasionado a


partir dela tenha modificado a vida de toda uma sociedade, corpos que
historicamente são marginalizados seguem sendo os mais atingidos. Estima-se,
segundo pesquisa realizada pelo coletivo Vote LGBT+, que pessoas negras e
LGBTQIA+ estão em uma situação de vulnerabilidade grande durante a pandemia.
Essa mesma pesquisa aponta que problemas de saúde mental durante o isolamento
social são a maior preocupação entre 44% das lésbicas.

Ao analisar os dados, nota-se que LGBTQIA+ pretos, pardos e indígenas possuem


22% mais chances de enfrentar dificuldades financeiras durante a pandemia do que
brancos e amarelos. Apesar disso, a invisibilização da população negra dentro da
comunidade segue sendo fator limitante e isso se agrava quando falamos em
mulheres negras e lésbicas. Segundo a assistente social Elaine Nascimento, “a
pandemia possui cor e gênero”. Isso fica nítido ao perceber como são as
desigualdades que estruturam a sociedade Brasileira.

Em entrevista, ela segue afirmando: “Nós, os negros, somos a maioria da população


e, no entanto, não temos acesso às mesmas oportunidades. Nós pagamos
impostos, mas o processo de gerenciamento e administração desses impostos gera
privilégios para poucos e ausência de direitos para muitos. Estamos falando de uma
sociedade racista.‘’

Dados da mesma pesquisa, apontam que 4 em cada 10 pessoas LGBTQI+ não


conseguem sobreviver sem uma fonte de renda por mais de um mês. “Logo no
início da pandemia fui demitida do meu trabalho e fiquei sem renda” conta a
educadora Joana, mulher negra e lésbica que trabalhava em uma escola particular
em Salvador e teve o contrato rescindido um dia antes do anúncio do decreto que
fechou as escolas públicas e particulas de toda a cidade.

Joana ainda conta que recebeu ajuda de um fundo coletivo para mulheres lésbicas
negras, “Após ter o auxílio emergencial negado pela falta de baixa na carteira,
recebi ajuda de outras mulheres negras e lésbicas no início da quarentena e isso foi
muito importante. Assim consegui arcar com as despesas básicas”.

A realidade incontestável mostra que mulheres negras lésbicas correm o risco ainda
maior durante esse período de pandemia mundial, pois, além de marginalizadas
pela cor e pela orientação sexual, ainda são vítimas do descaso do governo, que
não assiste de maneira correta esse nicho populacional. Essas mulheres são as que
mais sofrem por causa do isolamento e de todos os seus desdobramentos, seja
relacionado a saúde física e mental, e/ou o desemprego e falta de amparo
institucional.

Ellen Oléria, cantora, negra e lésbica, imortalizou uma música que canta a realidade
de resistência da grande maioria das lésbicas pretas. Mulheres que guerreiam
diariamente não só pelo sustento, mas também pela sobrevivência nesse país que é
o que mais mata homossexuais.

“Gritam pela minha pele, qual será o meu fim?


Eu não compactuo com esse jogo sujo, grito mais alto ainda e denuncio esse mundo
imundo. A minha voz transcende a minha envergadura, conhece a carne fraca? Eu
sou do tipo carne dura!”

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