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Avaliacao Da Eficiencia Dos Pavimentos Na Reducao de Escoamento Superficial
Avaliacao Da Eficiencia Dos Pavimentos Na Reducao de Escoamento Superficial
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Avaliação da Eficiência dos Pavimentos Permeáveis na Redução de Escoamento Superficial
diâmetro. A capa de revestimento permeável so- mente) com uma manutenção preventiva, evitando
mente age como um conduto rápido para o escoa- assim o seu entupimento.
mento chegar ao reservatório de pedras. O As principais limitações destes dispositivo
escoamento, neste reservatório, poderá então ser podem ser:
infiltrado para o subsolo ou ser coletado por tubos
de drenagem e transportado para uma saída. As- · quando a água drenada é fortemente con-
sim, a capacidade de armazenamento dos pavi- taminada, haverá impacto sobre o lençol
mentos porosos é determinada pela espessura do freático e o escoamento subterrâneo;
reservatório de pedras subterrâneo (mais o escoa- · falta de controle na construção e manuten-
mento perdido por infiltração para o subsolo). ção que podem entupir os dispositivos tor-
Urbonas e Stahre (1993) classificam os pa- nando-os ineficientes.
vimentos permeáveis basicamente em três tipos
(Figura 1):
DIMENSIONAMENTO DO PAVIMENTO
i. pavimento de concreto poroso; PERMEÁVEL
ii. pavimento de asfalto poroso;
iii. pavimento de blocos de concreto vazados Equações - O dimensionamento envolve a de-
preenchidos com material granular, como terminação do volume drenado pela superfície ou
areia ou vegetação rasteira, como grama. por outra contribuinte que escoe para a área do
pavimento. A precipitação é obtida com base no
A camada superior dos pavimentos poro- tempo de retorno escolhido e da curva intensidade,
sos (asfalto ou concreto) é construída de forma duração e freqüência do local.
similar aos pavimentos convencionais, mas com a Para o dimensionamento de um sistema de
retirada da fração da areia fina da mistura dos a- infiltração total (sem tubos de drenagem na parte
gregados do pavimento. superior do reservatório), o reservatório de pedras
Os blocos de concreto vazados são colo- deve ser grande o suficiente para acomodar o vo-
cados acima de uma camada de base granular lume do escoamento de uma chuva de projeto
(areia). Filtros geotêxteis são colocados sob a ca- menos o volume de escoamento que é infiltrado
mada de areia fina para prevenir a migração da durante a chuva. O volume de escoamento superfi-
areia fina para a camada granular. cial gerado pela precipitação pode ser estimado
Urbonas e Stahre (1993) mencionam que através de:
não existem limitações para o uso do pavimento
permeável, exceto quando a água não pode infiltrar Vr = (ip + c – ie) . td (1)
para dentro do subsolo devido a baixa permeabili-
onde Vr é o volume de chuva a ser retido pelo re-
dade do solo ou se o nível do lençol freático for
servatório (em mm), ip é a intensidade máxima da
alto, ou ainda se houver uma camada impermeável
chuva de projeto (em mm/h), ie é a taxa de infiltra-
que não permita a infiltração. Neste caso o pavi-
ção do solo (em mm/h), td é o tempo de duração da
mento permeável poderá funcionar como um poço
chuva (em horas) e c um fator de contribuição de
de detenção, utilizando para isso uma membrana
áreas externas ao pavimento permeável, que pode
impermeável entre o reservatório e solo existente.
ser estimado pela equação:
O sistema de drenagem com tubos perfurados
espaçados de 3 a 8 m deve completar este disposi-
i p .Ac
tivo nesta situação. O sistema deverá prever o c= (2)
esgotamento do volume num período de 6 a 12 Ap
horas. Há, igualmente, restrição quando a qualida-
de da água de infiltração levar à poluição de águas onde Ac é área externa de contribuição para o
subterrâneas. pavimento permeável e Ap é área de pavimento
A utilização dos pavimentos permeáveis, permeável.
em um contexto geral, pode proporcionar uma re- A profundidade do reservatório de pedras
dução dos volumes escoados e do tempo de res- do pavimento permeável é determinado por:
posta da bacia para condições similares ou até
mesmo, dependendo das características do subso- Vr
H= (3)
lo, condições melhores que as de pré- f
desenvolvimento, desde que seja utilizado racio-
nalmente, respeitando seus limites físicos, e desde onde H é a profundidade do reservatório de pedras
que seja conservado periodicamente (trimestral- (em mm) e f é a porosidade do material.
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A porosidade pode ser determinada pela água a reter pode-se estimar a profundidade do
equação: reservatório de pedras. Aconselha-se, por questões
práticas, utilizar profundidade mínimas do reserva-
VL + VG tório de pedras de 15 cm.
f = (4)
VT
INSTALAÇÃO EXPERIMENTAL
onde VL é o volume de líquidos, VG é o volume de
vazios e VT é o volume total da amostra. O experimento, efetuado na área do Institu-
to de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade
Estimativa dos parâmetros - Os pavimen- Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), consistiu
tos permeáveis somente são viáveis para taxa de na simulação de chuvas sobre diferentes tipos de
infiltração superior a 7 mm/h. Para a sua estimativa superfície.
deve-se realizar uma sondagem a uma profundida- As simulações de chuva têm por objetivo
de de 0,6 a 1,2 m abaixo do nível inferior do reser- determinar as leis de infiltração e o escoamento
vatório de pedras a fim de verificar o tipo de solo superficial na escala pontual para relacioná-la pos-
existente (já que tipos de solos com um percentual teriormente com a dinâmica da água em parcelas e
superior a 30% de argila ou 40% de silte e argila bacias maiores. Elas fornecem um melhor conhe-
combinados não são bons candidatos para este cimento dos processos básicos da produção de
tipo de dispositivo). A camada impermeável ou o escoamento em diversas situações, no espaço e
nivel do lençol freático no período chuvoso deve no tempo, permitindo comparar a eficácia do uso
estar pelo menos 1,2 m abaixo do pavimento. dos pavimentos permeáveis em relação a outros
Para determinar a profundidade do tipos de coberturas na redução do volume de água
reservatório de pedras, é necessário selecionar o de um escoamento superficial gerado por um de-
tipo de material a ser utilizado no mesmo. Schueller terminado evento de chuva.
(1987) recomenda o uso de brita 3 ou 4 no reserva- O simulador de chuvas utilizado nas simu-
tório de pedras. lações foi o aparelho concebido por Asseline e
Foram feitos alguns ensaios de porosidade Valentin (1978). Segundo Silveira e Chevallier
para uma brita 3 (comercial) e chegou-se a valores (1991), este simulador tem a capacidade de gerar
de porosidade da ordem de 40 a 50%. Desta for- precipitações com intensidades variáveis sobre
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ma, com os valores de porosidade e volume de uma parcela alvo de 1 m .
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A água é bombeada a uma vazão constan- A simulação no solo compactado foi efetu-
te até um aspersor fixado a um braço, cujo movi- ada para se ter um parâmetro das condições de
mento pendular define a intensidade da chuva pré-urbanização do local de testes. É provável que
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aspergida sobre a parcela de 1 m . O dispositivo de o terreno escolhido tenha as suas condições natu-
aspersão é fixado no topo de uma torre metálica de rais de infiltração modificadas, em função de ter
aproximadamente 4 m de altura. As quatro faces havido um pré-adensamento por motivo do tráfego
laterais da torre são cobertas com tecido resistente que existiu no passado. Este fato coincide com
para minimizar o efeito do vento sobre o jato do uma situação generalizada que ocorre nas áreas
aspersor. O circuito hidráulico é composto de uma urbanas, onde o solo natural é alterado sofrendo
bomba elétrica e um tonel d’água, que alimenta o uma compactação mecânica natural, além de mis-
aspersor através de um conjunto de mangueiras. turas com outros materiais de diferentes granulo-
Dois manômetros, um colocado logo a jusante da metrias.
bomba elétrica e outro no alto da torre, servem A parcela de solo compactado tinha decli-
para controlar a pressão, que deve ser constante e vidade variando de 1 a 3% (declividade média de
compatível com a vazão do aspersor. Para realizar 2%). A superfície apresentava-se coberta por vege-
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as medições na parcela de 1 m , esta é isolada por tação rasteira típica da região. O solo é argiloso até
um quadro metálico vazado cravado na superfície a a profundidade de 70 cm segundo classificação
ser avaliada. No lado que recebe o fluxo do esco- USDA (Cauduro e Dorfman, 1990). Após esta pro-
amento superficial há pequenos furos (que devem fundidade o solo está classificado como franco.
estar posicionados ao nível do terreno) pelos quais
a água atinge uma calha coletora que reúne todo o
fluxo e o remete, por um tubo, à cuba de um Pavimento impermeável
linígrafo (Silveira e Chevallier, 1991).
Foi necessário efetuar-se simulações de
chuva sobre uma parcela impermeável para se ter
SUPERFÍCIES ESTUDADAS um parâmetro de comparação de locais totalmente
impermeabilizados, como passeios, estacionamen-
As superfícies escolhidas para execução tos de “shopping centers” e supermercados. A su-
dos ensaios de simulação de chuva foram (Figu- perfície escolhida para representar a parcela
ra 2): impermeável foi o pavimento de concreto de cimen-
to, areia e brita (Figura 2), devido ao fato de tal
· Solo compactado com declividade de 1 a superfície ser muito utilizada nos locais citados
3%; anteriormente e por ser de fácil execução.
· Pavimentos impermeáveis: uma parcela de O pavimento de concreto foi construído em
concreto convencional de cimento, areia e um módulo de dimensões 3 x 3 m e espessura entre
brita, com declividade de 4%; 10 e 12 cm, sendo isolada uma parcela de 1 m 2 atra-
· Pavimentos semi-permeáveis: uma parcela vés de um quadro metálico chumbado no pavimento.
de superfície com pedras regulares de gra- A construção foi efetuada de modo que o pavimento
nito com juntas de areia, conhecidas por ficasse no mesmo nível da rua.
paralelepípedos, com declividade de 4%; e
outra parcela revestida com pedras de
Pavimentos semi-permeáveis
concreto industrializado tipo “pavi S” igual-
mente com juntas de areia, conhecida por
Foram utilizados dois tipos de pavimentos
blocket, com declividade de 2%; semi-permeáveis: blocos de concreto industrializado
· Pavimentos permeáveis: uma parcela de do tipo “Pavi S” (blockets) e paralelepípedos de grani-
blocos de concreto com orifícios verticais to (Figura 2). A escolha destes pavimentos ocorreu
preenchidos com material granular (areia) em função de que tais superfícies são muito utilizadas
com declividade de 2% e uma parcela de na região da grande Porto Alegre e por apresentarem
concreto poroso com declividade de 2%. uma boa taxa de infiltração de água por suas juntas
de areia.
Os pavimentos de blocos de concreto e de
Solo compactado paralelepípedos já existiam na área experimental,
construídos para experimentos anteriores, sendo que
A parcela de solo compactado (Figura 2) foi a escavação de cada superfície foi feita de modo que
instalada sobre uma antiga rua de chão batido (que a superfície ficasse no mesmo nível da rua e que as
hoje se encontra desativada), executada em um pedras ficassem confinadas lateralmente (Genz,
corte do terreno natural há mais de 40 anos atrás. 1994).
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As pedras interiores na parcela de 1 m zados e vazados do tipo “S” e uma parcela de
de paralelepípedo têm um tamanho médio de concreto poroso (Figura 2).
13 x 18 cm, em 7 linhas paralelas à face coleto-
ra. As juntas têm uma largura média de 1 cm No dimensionamento do reservatório de pe-
e perfazem 6 linhas contínuas, paralelas à face dras foi utilizado o sistema de infiltração total, onde a
coletora, com 6 juntas por cada linha de pedra. As única maneira da água sair do reservatório de pedras
2 é através da infiltração para o subsolo. Foi adotada
pedras interiores da parcela de 1 m de blocos de
concreto industrializados formam nove linhas no chuva de duração de 10 min, com período de retorno
sentido paralelo à face coletora, possibilitando 8 de 5 anos. Utilizando-se a curva IDF do Posto Reden-
linhas de junta, com cinco juntas por linha de pedra ção, na cidade de Porto Alegre (Goldenfum et al.,
e juntas com espessura média de 4 mm. 1990), obtém-se a intensidade máxima de chuva igual
a 111,9 mm/h, estimando-se, portanto, o volume a ser
Antes de começar as simulações foi ne-
retido pelo reservatório em 17,5 mm. Sendo a porosi-
cessário executar uma limpeza em ambas as su- dade da brita 3 igual a 46%, obteve-se uma altura de
perfícies, pois apresentavam-se cobertas por reservatório de 37,3 mm. Esta profundidade é baixa
vegetação rasteira do tipo capim. Esta vegetação porque foi utilizada uma chuva com período de retor-
indica a presença de matéria orgânica e sedimen- no relativamente pequeno e por não haver áreas de
tos mais finos nas juntas de areia dos pavimentos e contribuição externas para o pavimento permeável.
possivelmente este material possa a vir reduzir a Como seria impossível a execução de uma camada
taxa de infiltração destas superfícies devido ao de brita com esta espessura, já que a própria dimen-
entupimento causado por estas partículas. Esta são da brita ultrapassaria aquela altura, resolveu-se
situação, mais uma vez, coincide com uma situa- adotar uma profundidade de 150 mm, correspondente
ção generalizada que ocorre a estes tipos de pavi- à mínima espessura verificada em projetos semelhan-
mentos, onde as partículas são carreadas para as tes.
juntas e o entupimento é inevitável.
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fundidade de 20 cm. No centro desta foi novamente las de solo compactado, pavimento impermeável
escavado no terreno uma abertura com área de (concreto), pavimentos semi-permeáveis (blocos de
1,0 x 1,0 e espessura de 15 cm, com a função de concreto e paralelepípedos) e pavimento permeá-
futuramente ser o reservatório de pedras dos pavi- vel (blocos de concreto vazados). O resumo dos
mentos permeáveis. O solo, na base da abertura, resultados das simulações pode ser observado na
não foi compactado para evitar uma redução na Tabela 2.
capacidade de infiltração do terreno. Na base da O coeficiente de escoamento é obtido pela
abertura de 1,0 x 1,0 foi colocado um filtro geotêxtil razão entre a chuva e o escoamento totais. A umi-
com a finalidade de separar o agregado graúdo do dade do solo antes da simulação de chuva foi cal-
solo e assim evitar a migração do solo para o re- culada a partir da calibração da curva de umidade
servatório de pedras, quando este estiver na condi- em relação à contagem de sonda de nêutrons e
ção de enchimento. O vão de 1,0 x 1,0 m foi está referenciado à profundidade de 50 cm.
preenchido com brita 3 de granito até o topo, perfa- Os escoamentos foram discretizados em
zendo uma espessura final de agregado igual a intervalos de 30 segundos e, por apresentarem
15 cm. Após a compactação manual do agregado, grande variabilidade em decorrência desta discreti-
novamente foi colocado um tecido geotêxtil sobre a zação, passaram por um filtro de média móvel dos
camada de agregado com a finalidade de prevenir 3 primeiros elementos. Em função deste filtro os
a migração da areia média da camada superior hidrogramas começam a decair antes dos 10 minu-
para dentro do reservatório de pedras. Uma cama- tos (tempo de duração da simulação). A Figura 3
da de 10 cm de areia média foi colocada sobre apresenta os escoamentos superficiais observados
todo o módulo de 2,00 x 2,00. Por fim, os blocos nas simulações.
vazados foram assentados sobre a areia e as jun- Nas simulações no módulo de concreto ob-
tas e os orifícios dos blocos de concreto foram servou-se escoamento superficial imediatamente
preenchidos com areia. A declividade final da par- após o início da chuva. O coeficiente de escoamen-
cela ficou em 2%. to neste pavimento foi 44% superior ao da simula-
ção no solo compactado. Este coeficiente mostra
Concreto poroso - O pavimento de concreto que praticamente toda a chuva gerou o escoamen-
poroso (também denominado concreto sem finos) to coletado na cuba do linígrafo. A diferença (5%)
foi executado seguindo o traço 1:6 da Tabela 1, entre os volumes precipitado e escoado se deu
com brita 1 (comercial) de granito. O concreto sem devido à parcela de água que fica retida no quadro
finos deve ser pouco adensável e a vibração apli- metálico e a uma pequena absorção no concreto,
cada por períodos muito curtos, para que a pasta não sendo registrada pelo linígrafo. Ao término da
de cimento não escorra para o fundo. Também não simulação, o tempo de esvaziamento foi maior que
se recomenda o adensamento com soquetes pois o das outras superfícies. Isto ocorreu devido ao
podem resultar massas específicas localizadas armazenamento de água nas irregularidades da
elevadas. Para o concreto sem finos não existem superfície do concreto e também pelo acúmulo de
ensaios de trabalhabilidade; somente é possível água dentro do quadro metálico, causado por falta
avaliar visualmente se a camada de revestimento de capacidade de vazão do tubo que saía da face
das partículas é adequada. Os concretos sem finos coletora. Este resultado reforça a necessidade de
têm baixo valor de coesão; por isso as formas de- utilização de dispositivos de redução do escoamen-
vem ser mantidas até que se tenha desenvolvido to superficial, uma vez que o excesso gerado em
uma resistência suficiente. A cura úmida é impor- áreas cobertas com este tipo de pavimento (ou
tante, especialmente em climas secos e com ocor- outros pavimentos impermeáveis) contribui direta-
rência de vento devido às pequenas espessuras da mente para o crescimento das cheias urbanas.
pasta de cimento (Neville, 1982). Nas simulações nas superfícies semi-
A construção foi semelhante à dos blocos permeáveis o escoamento superficial também co-
vazados com a única diferença no revestimento meça imediatamente após o início da chuva, mas
superficial, que foi o concreto poroso com espessu- os volumes gerados são inferiores aos do concreto.
ra de 15 cm. Na simulação no módulo de paralelepípedos, o
coeficiente de escoamento é, inclusive, menor do
que o observado no solo compactado: nos blocos
SIMULAÇÃO DAS SUPERFÍCIES de concreto observou-se coeficiente de escoamen-
to 22% superior ao do solo compactado; nos para-
Foram efetuadas simulações da chuva de lelepípedos foi registrado coeficiente de escoamen-
projeto (duração de 10 min, período de retorno de 5 to 11% menor que o do solo compactado. Pode-se
anos e intensidade de 111,9 mm/h) sobre as parce- concluir que, embora não haja garantia de manu-
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Tabela 1. Característica dos concretos sem finos para agregado de 9,5 a 19 mm. (McIntosh,
Botton e Muir, 1956 apud Neville, 1982).
120
Término
da chuva
100
80
60
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Tempo (min.)
Solo Compac. Blockets Paralelepípedo Concreto Bloc. Vazados Conc. Poroso
s
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tenção das condições de pré-desenvolvimento, há para o controle dos volumes escoados. Levando
uma significativa redução em comparação com o em conta seu baixo poder de suporte e problemas
escoamento gerado em superfícies impermeáveis. de manutenção, recomenda-se que estes pavimen-
Seu uso em áreas urbanas, embora possa acarre- tos sejam utilizados em calçadas e em estaciona-
tar aumento de escoamento superficial em relação mentos para veículos leves em áreas de “shopping
a áreas ainda não ocupadas, pode contribuir para o centers” e grandes supermercados.
controle da geração de escoamento superficial
quando instalados em substituição a pavimentos
impermeáveis. ANÁLISE DO CUSTO
É importante ressaltar que se observou um
volume de escoamento gerado no pavimento de O custo obtido para a implantação de cada
paralelepípedo bastante inferior ao dos blocos de pavimento pode ser visto na Tabela 3. Todos os
concreto. As possíveis causas para tal diferença componentes de material e mão-de-obra foram
são: retirados de REGISUL (1999). Nos custos de mão-
de-obra foram incluídos todos os custos indiretos
gastos com encargos sociais.
· a área da junta da parcela de blocos de
O uso de pavimentos permeáveis pode e-
concreto é menor do que a de paralelepí-
liminar a necessidade de caixas de captação e
pedos, o que se traduz em menor capaci-
tubos de condução da água, pois o dispositivo pra-
dade de infiltração. Os blocos de concreto
ticamente não gera escoamento quando as condi-
têm uma junta de aproximadamente 4 mm,
ções locais permitem sua adoção prevendo-se
perfazendo uma área média de juntas de
infiltração plena no solo.
5% da área da parcela, enquanto que o
Além dos custos de implantação dos pavi-
pavimento de paralelepípedos têm uma
mentos permeáveis existe o custo de manutenção
junta de aproximadamente 10 mm, corres-
que consiste na limpeza dos poros dos pavimentos
pondendo a uma área média de 10% da
porosos (concreto poroso) com jatos d’água e má-
área da parcela;
quinas de aspiração de sedimentos e poeiras. Es-
· o pavimento de paralelepípedo é mais irre- tes custos não foram estimados devido à
gular que o dos blocos de concreto possu- inexistência de empresas especializadas na manu-
indo mais depressões nas juntas e tendo, tenção deste tipo de dispositivo no país. No entan-
consequentemente, mais capacidade de to, para se ter uma idéia o custo médio gasto em
retenção de água; um manutenção nos Estados Unidos é na ordem
· é possível ter ocorrido algum vazamento de de 1 a 2% do custo de implantação do dispositivo.
água através das laterais do quadro metáli-
co da parcela de paralelepípedo, reduzindo
o escoamento superficial medido e provo- CONCLUSÕES
cando uma taxa de infiltração (calculada
por balanço hídrico da parcela) bem maior Nas simulações efetuadas no módulo de
que a da realidade. pavimento impermeável praticamente toda chuva
gera escoamento superficial, com acréscimo de
Na simulação de chuva nos pavimentos 44% no coeficiente de escoamento, em compara-
permeáveis praticamente não ocorreu escoamento ção com a simulação no solo compactado, mos-
superficial. O pequeno escoamento gerado foi pro- trando a potencialidade de crescimento das cheias
vavelmente devido ao arremate de concreto junto à urbanas em função de uma utilização intensa deste
face coletora do quadro metálico. Foram efetuadas tipo de cobertura.
três simulações de chuva nos blocos vazados e As simulações nas superfícies semi-
para as três simulações o resultado foi o mesmo permeáveis apresentaram escoamento superficial
(apenas 0,5 mm de escoamento gerado). Já na inferior ao do concreto: nos blocos de concreto
parcela de concreto poroso, nos três ensaios reali- observa-se crescimento de 22% no coeficiente de
zados na parcela o coeficiente de escoamento não escoamento e nos paralelepípedos é registrada
passou de 0,01. Observa-se, portanto, que estes queda de 11% neste coeficiente, sempre em com-
pavimentos não apenas mantém as condições paração com o solo compactado. O seu uso em
originais de geração de escoamento superficial, áreas urbanas pode contribuir para o controle da
mas podem reduzir estes valores a praticamente geração de escoamento superficial quando instala-
zero, dependendo das condições antecedentes e dos em substituição a pavimentos impermeáveis.
da capacidade do reservatório de pedras. Com isto, Na simulação de chuva no pavimento per-
mostram ser dispositivos altamente recomendados meável praticamente não ocorreu escoamento
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Tabela 3. Custo de implantação dos ORSTOM, série Hydrology, Paris, Vol. 15, n. 4, p.
pavimentos. 321-50.
CAUDURO, F. A., DORFMAN, R. (1990) “Manual de
2
ensaios de laboratório e de campo para irrigação e
Tipo de pavimento Custo unitário (m ) drenagem” Porto Alegre, PRONI, IPH/UFRGS,
216p.
Blocos de concreto 10,10 GENZ, F. (1994) “Parâmetros para a previsão e controle
Paralelepípedo 16,74 de cheias urbanas” Porto Alegre, UFRGS - Curso
Concreto impermeável 13,14 de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e
Blocos vazados 18,22 Saneamento Ambiental. D 180. Dissertação de
Concreto poroso 19,06 Mestrado.
GOLDENFUM, J. A., CAMAÑO, B., SILVESTRINI, J.
(1990) “Chuvas Intensas em Porto Alegre -
superficial. Sugere-se, por questões de resistência
Determinação de Curvas I-D-F” Porto Alegre,
estrutural e de manutenção, que estes pavimentos IPH/UFRGS, 26p.
sejam utilizados em estacionamentos para veículos NEVILLE, A. M. (1982) “Properties of Concret”
leves, especialmente em áreas de “shopping cen- (Português) Propriedades do Concreto. São Paulo,
ters” e grandes supermercados, uma vez que eles PINI. XVI, 738p. IL.
mostram ser dispositivos altamente recomendados REGISUL discriminada (1999) “Listagem discriminada de
para o controle dos volumes escoados, apresen- composições de serviço” Porto Alegre. Março.
tando inclusive redução em comparação com as SCHUELLER, T. (1987) “Controlling Urban Runoff: A
condições de pré-desenvolvimento. Practical Manual for Planning and Designing Urban
BMPs” Washington, metropolitan Washington
Neste estudo não foi analisada a capacida-
Council of Governments.
de de redução da carga de poluentes pelo uso de SILVEIRA, A. L. L. e CHEVALLIER, P. (1991) “Primeiros
pavimentos permeáveis, mas este também é um Resultados sobre Infiltração em Solo Cultivado
dos grandes benefícios deste tipo de pavimento. Usando Simulação de Chuvas (Bacia do rio
As limitações identificadas foram quanto a Potiburu, RS)” In: Simpósio Brasileiro de Recursos
necessidade de manutenção e o maior custo por Hídricos, 9, 1991, Rio de Janeiro. Anais. Rio de
2
m . O aumento do custo específico pode ser com- Janeiro: ABRH/APRH. 4v. v. 1, p. 213-21.
pensado pela redução da drenagem resultante da URBONAS, B. e STAHRE, P. (1993) “Stormwater Best
área, já que grande parte do volume se infiltrará. Management Practices and Detention” Prentice
Hall, Englewood Cliffs, New Jersey, 450p.
Deve-se ressaltar também, que o pavimen-
to apresentará uma melhoria importante para inun-
dações freqüentes e de alto risco, no entanto Analysis of Permeable Surfaces in
quando o reservatório estiver cheio para grandes
volumes de precipitação o pavimento poderá apre- Overland Flow Control
sentar uma menor ineficiência do que apresentada
nos experimentos. ABSTRACT
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