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© by Sávio Marcos Garbin, 2009

Julho 2011
1000 exemplares

Criação da capa:
Sander Maeda Garbin

Arte-final da capa:
Victor Tagore

Revisão:
Fátima Loppi

Editoração eletrônica:
Cláudia Gomes

Arte-final
Thiago Sarandy

ISBN: 978-85-7062-753-7

G213i Garbin, Sávio Marcos


Inteligência colaborativa; para fazer acontecer um mundo mais
colaborativo e em harmonia / Sávio Marcos Garbin. — Brasília :
Thesaurus, 2011.
254 p.

CDU 316.6
CDD 303.4

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livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia,
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Composto e impresso no Brasil


Printed in Brazil
Agradecimentos

Agradeço à minha querida esposa Fujiko por seu amor, carinho,


orientação, sabedoria, ponderação, dedicação e estímulo.

Agradeço ao meu querido filho Sander pelo carinho, apoio,


compartilhamento de ideias e aprendizado.

Agradeço aos meus pais pelo presente da vida, formação e valores


transmitidos.

Agradeço aos meus sogros pela confiança e carinhosa acolhida.

Agradeço ao meu Anjo da Guarda pela orientação e proteção


diária.

Agradeço a inúmeras pessoas que, na trajetória da vida, têm


contribuído para que eu possa evoluir como ser humano.

Muito grato também a todas as pessoas que tornaram possível a


concretização deste livro. Em especial, agradeço a Eli Tatizawa, Milce
Toshiko Maeda Valentin, Alfeu Garbin, Francisco Paulo do Nascimento,
Elisabeth Motta Sanches, José Elias Palmeira de Sousa, Arão Amaral
Filho, Marcelo Soares Mattar, Eiji Iwamoto e Zênia de Aquino Machado
pelas valiosas observações e sugestões.
SUMÁRIO

Introdução.......................................................................................... 11

Parte 1
Inteligência e Colaboração num mundo em rede –
Algumas considerações

Inteligência – conceitos......................................................................... 19
A inteligência colaborativa antecede a inteligência coletiva............. 25
Competir, cooperar e colaborar – conceitos....................................... 26
Da competição à cooperação e à colaboração – uma nova visão
de mundo.......................................................................................... 28
Novas ciências, transdisciplinaridade e colaboração.......................... 43
Colaboração nos negócios entre organizações.................................... 51
Colaboração intersetorial – uma parceria que floresce...................... 68
Colaboração no âmbito das organizações – uma revolução de
aprendizagem e conhecimento....................................................... 71
Colaboração digital – rumo à maciça participação das pessoas........ 79
Cidades – comunidades de colaboração e capital social poten-
cializado............................................................................................ 83

Parte 2
Inteligência Colaborativa – Uma construção numa
perspectiva positiva e valorativa de um novo mundo

Inteligência Colaborativa – uma nova síntese..................................... 97


Princípios de Inteligência Colaborativa............................................... 102
1. Comunicação baseada em diálogo................................................... 102
1.1 Linguagem positiva, pacifista e inclusiva................................. 107
1.2 Ouvir ativa e profundamente.................................................... 108
1.3 Compreensão das diferentes dinâmicas das pessoas................... 109
1.4 Verdade, sinceridade e clareza na comunicação..................... 117
1.5 Assertividade.............................................................................. 118
Sávio Marcos Garbin

1.6 Empatia de mão dupla............................................................... 119


1.7 Coerência entre discurso cuidadoso e prática......................... 120

2. Compartilhamento de Valores Humanos Elevados....................... 122


2.1 Integridade.................................................................................. 125
2.2 Honestidade................................................................................ 126
2.3 Humildade.................................................................................. 127
2.4 Respeito....................................................................................... 130
2.5 Transparência............................................................................. 134
2.6 Paciência..................................................................................... 135
2.7 Gentileza..................................................................................... 137
2.8 Benignidade................................................................................ 138
2.9 Gratidão...................................................................................... 138
2.10 Responsabilidade...................................................................... 141
2.11 Coragem.................................................................................... 142
2.12 Simplicidade............................................................................. 143

3. Construção de Confiança Mútua...................................................... 146


3.1 Autenticidade cordial................................................................. 149
3.2 Ação pelo exemplo.................................................................... 150
3.3 Lealdade...................................................................................... 150
3.4 Intenção positiva e verdadeira.................................................. 151
3.5 Autoconfiança estimulada......................................................... 151
3.6 Amizade...................................................................................... 153
3.7 Cumprimento de promessas..................................................... 155
3.8 Disciplina positiva...................................................................... 155

4. Ética da Cidadania Planetária........................................................... 157

5. Sustentabilidade da Vida................................................................... 168


5.1 Alfabetização ecológica é basilar na educação para a susten-
tabilidade..................................................................................... 180
5.2 Neutralização de carbono, com a consciência elevada.......... 184
5.3 Pegada ecológica mais consciente............................................ 185
5.4 Consumo consciente, responsável e comércio justo............... 187
5.5 Internalização da importância das externalidades.................. 191
5.6 Capitalismo natural.................................................................... 192
5.7 Respeito aos direitos, às diferenças e à diversidade, para
redução de desigualdades entre os seres humanos....................... 194
Inteligência Colaborativa

6. Desenvolvimento da Espiritualidade............................................... 198


Espiritualidade é de responsabilidade individual......................... 198
Aja com excelência, alegria e a melhor das intenções,
sempre............................................................................................... 201
Saia do piloto automático no dia-a-dia, para evoluir como
ser....................................................................................................... 203
Viver em harmonia agora, com o propósito de colaborar e
servir.......................................................................................................... 204

Parte 3
Fatores que contribuem para uma Cultura de Colaboração
e o desenvolvimento da Inteligência Colaborativa

1. Histórico e cultura de colaboração na comunidade................. 211


2. Design do ambiente (físico e virtual)........................................... 212
3. Design de gestão............................................................................ 213
4. Liderança colaborativa................................................................ 216
5. Comunicação aberta, frequente e em tempo real..................... 220
6. Compartilhamento de visão, propósito, princípios e objetivos.... 221
7. Métricas compartilhadas que ressaltem a evolução do todo......... 222
8. Inovação colaborativa e redes colaborativas de inovação............ 224
9. Capital colaborativo..................................................................... 230

Considerações em continuidade... ....................................................... 233


Sementes de Reflexão............................................................................ 235
Harmonia – agir com vivacidade no coração..................................... 237
Eu acredito... .......................................................................................... 239
Sobre o Autor......................................................................................... 241
Referências.............................................................................................. 243
Bibliografia.............................................................................................. 253
Introdução

Neste mundo em rede e complexo fala-se em revoluções em vez


de mudanças, revolução biogenética, que evolui rapidamente unindo a
Biotecnologia e a Genética, a exemplo da terapia de genes; revolução
digital dos nanorrobôs inteligentes, que desobstruirão artérias e terão o
tamanho de células, e da fibra óptica de dimensões nanométricas. É um
novo contexto em que também se constata desde a Web em banda larga
às tecnologias de comunicação e de informação que permitem níveis de
comunicação “um para muitos”, “muitos para muitos” e “redes de muitos
para muitos”, jamais previstos.
Os microcomputadores e dispositivos eletrônicos estão cada vez
mais rápidos, com grande capacidade de processamento, portabilidade e
mobilidade, o que possibilita alteração radical na forma de as pessoas se
relacionarem.
Esse novo mundo da velocidade interativa, muitas vezes, nos deixa
atônitos com as informações obtidas em tempo real, onde o volume
disponível de dados e informações, cada vez maior, propicia o surgimento
de novas tecnologias de comunicação sem fio que facilitam a obtenção, a
disseminação e o compartilhamento da informação.
Vivemos num novo mundo do conhecimento em que fragmentos de
poeira, conhecidos por chips, geram riquezas; onde as organizações e os
países que se distanciam no alcance de novas fronteiras de competitividade
e na geração de riquezas são aqueles que compreendem como colaborativa
a inovação neste milênio, por meio de redes colaborativas, parcerias e
colaboração maciça.

11
Sávio Marcos Garbin

É a concepção de uma transformação tecnológica e social como uma


nova revolução, que exige formas diferentes de agir de modo colaborativo
para possibilitar mais cidadania e desenvolvimento sustentável. Floresce
uma economia baseada no conhecimento, em colaboração e no capital
colaborativo.
Nesse novo mundo, a transdisciplinaridade ganha relevância, pois o
conhecimento mais que perpassa, traspassa as disciplinas e as ciências e está
entre as disciplinas e as ciências, o que leva a pensar numa visão integrativa
e sistêmica.
A Internet transformou-se em novo paradigma para a interação
humana e oferece, em princípio, condições para minimizar o distanciamento
entre os centros científicos e as regiões ditas emergentes. Muda a maneira
como as pessoas se relacionam e possibilita uma verdadeira revolução de
colaboração digital.
É, notadamente, um grande veículo de distribuição e colaboração em
massa, que está alterando significativamente o modo de pensar, modelar
e realizar negócios. Facilita os relacionamentos e o compartilhamento de
conhecimentos. Torna os negócios mais voláteis e facilita a comunicação
global, a produção e o compartilhamento de conhecimentos entre as
pessoas, instantaneamente e para o mundo todo.
Ao mesmo tempo, porém, em que boa parte da informação disponível
ainda tem o acesso monitorado e é paga, com a proliferação de bases de
dados cada vez mais especializadas há uma democratização de conteúdos
na Internet, mediante processos colaborativos e compartilhamento de
informações sem precedentes.
Em todo esse ambiente de mudanças, diante da maior facilidade na
obtenção de informações, o que fazer com essas informações e toda a
tecnologia já disponível torna-se fundamental.
Agregar-lhes valor é trazer maior significado à vida das pessoas, num
momento em que há mais conscientização sobre questões que afetam
sobremaneira a espécie humana neste século. Como evitar a iminência
de um colapso ambiental? Como reduzir as desigualdades entre os seres
humanos que habitam o Planeta?
Evoluir para ultrapassar em conjunto a era do conhecimento que
desponta para uma era da colaboração, da consciência e da luz, é premissa
essencial.

12
Inteligência Colaborativa

Concomitantemente, é possível constatar uma evolução da consciência,


com o resgate de valores referentes à dignidade humana, em que os modelos
mentais baseados estritamente na competição estão dando lugar a uma
visão mais humanizada e integrada das pessoas, das organizações e das
comunidades no ambiente em que estão inseridas.
Quanto às organizações, amplia-se a percepção de que elas precisam
competir e colaborar ao mesmo tempo. Competem em certos mercados
num outro nível, para servir, e colaboram em outros, por intermédio de
redes colaborativas internas e externas ao seu ambiente. Acentuam a busca
de simplicidade e transparência, a definição compartilhada de propósito
e a formação da identidade baseada em valores nobres, que mobilizem
profundamente as pessoas. Estimulam relações abertas e de grande
confiança, sem prescrições limitantes, com todas as partes interessadas no
negócio, concebendo a aprendizagem e a inovação colaborativas como
premissas indispensáveis para um desenvolvimento sustentável e salutar.
Altera-se a maneira de fazer fluir, acompanhar e interpretar as
informações internas nas organizações. Facilita-se, com isso, a disseminação
do conhecimento existente e o compartilhamento do conhecimento
proveniente do saber prático das pessoas, mediante comunidades
de aprendizagem, redes colaborativas e portais colaborativos com
comunicação amigável, interativa e em tempo real.
São oferecidas condições para que seja possível agir com rapidez
e de modo sistematizado diante do excesso de informações estratégicas
e que estão no ambiente externo. O monitoramento e a análise dessas
informações, conhecidos por inteligência competitiva, começam a ser feitos
numa perspectiva alargada e colaborativa de organizações, de região, de
país e de mundo. Basta constatar a proliferação dos arranjos produtivos
locais e regionais, e as inúmeras formas de parceria entre organizações.
Da maior parceria interna à externa, ampliam-se a interação e os
relacionamentos com outros parceiros. Caminha-se para a obtenção de
resultados que possam ir além de meros números obtidos no curto prazo,
com maior transparência e responsabilidade socioambiental, rumo à
sustentabilidade, objetivando um futuro em que todos possam conviver
mais harmonicamente, num Planeta em equilíbrio.
Diversas iniciativas estão florescendo para salientar a necessidade do
equilíbrio para a vida, a partir da elevação do nível de consciência das pessoas

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Sávio Marcos Garbin

no tocante à finitude dos recursos naturais, à redução das desigualdades, à


utilização da tecnologia naquilo que é relevante para as pessoas, em conexão
e maior sintonia com o todo, com o bem comum.
Num contexto mais amplo, também começa a ser elevada a consciência
de que uma exacerbada competição focalizada em crescimento e consumo
desmesurado é incompatível com um Planeta que é finito. Isso exige novas
formas de atuar colaborativamente, que possibilitem maior inclusão das
pessoas, com relações ganha-ganha-ganha, em que possam viver mais
dignamente, com desenvolvimento e benefícios harmônicos a todos, à
própria sociedade e ao Planeta em que vivemos.
Mesmo com a existência de extremos, em que ainda há muita competição
predatória nas relações entre pessoas, organizações e comunidades de modo
geral, uma revolução já nem tão silente começa a se intensificar e ganhar
expressividade, baseada em parcerias e em colaboração. É uma outra
revolução, que pode ser denominada revolução colaborativa, em que o
estímulo à elevação do patamar de consciência das pessoas que adeja pelo
mundo parece ser a única alternativa capaz de realmente transformar
positivamente a vida neste Planeta.
Das redes colaborativas entre pessoas, entre organizações, das redes
colaborativas entre outras comunidades, a exemplo de cidades e países,
exige-se um pensar e um agir diferentes. De um novo olhar que sai da
ênfase na competição e avança para o novo paradigma da colaboração,
constata-se verdadeira revolução quanto à importância e emergência de
uma inteligência, a colaborativa.
A Inteligência Colaborativa permite sair da paralisia do egocentrismo,
que atrapalha sobremaneira, para, individualmente num primeiro momento,
e coletivamente, em seguida, avançar com maior eqüidade, rumo a um
mundo mais harmônico e justo.
No meio desse aparente caos já é possível constatar a geração de nova
ordem, baseada em colaboração para a sustentabilidade da vida em toda
a sua plenitude.
Isto remete a algumas questões: que princípios norteiam a inteligência
colaborativa; como pode a inteligência colaborativa estimular o
desenvolvimento de relações humanas mais harmoniosas; como contribuir
para a formação de comunidades colaborativas, agregando valor à vida e aos
negócios, e acelerar o desenvolvimento social e sustentável do País; como

14
Inteligência Colaborativa

avançar na formação de redes colaborativas que possibilitem ampliar o nível


de conhecimento e a consciência das pessoas, para um desenvolvimento
mais equânime do País e que possa ser referencial positivo para o mundo.
Assim, num mundo onde a informação pode ser obtida em tempo
real, buscarei estimular a reflexão para um fazer acontecer colaborativo,
agregando valor ao desenvolvimento das pessoas, aos negócios, à melhoria
da qualidade de vida e à redução dos desequilíbrios, numa visão valorativa,
integrada e participativa das pessoas e das organizações, nas comunidades
em que estão inseridas.
Coloco-me como quem, diante de um quadro com pintura abstrata,
procura compartilhar algumas percepções e propostas, com o objetivo de
estimular um diálogo que possibilite uma visão ampliada desse quadro e o
alcance de maior significado para a evolução individual e um fazer acontecer
coletivo mais harmonioso.
O livro está estruturado em três blocos, e sua leitura pode ser feita a
partir de qualquer ponto, de acordo com o interesse específico de quem o lê.
A primeira parte contém uma breve contextualização sobre as organizações,
as comunidades no mundo atual e em rede dos negócios, e uma construção
do conceito utilizado sobre Inteligência Colaborativa, no novo paradigma
da colaboração.
O segundo bloco enfatiza os princípios que norteiam e orientam o
entendimento sobre a Inteligência Colaborativa.
Em seguida, são abordados os principais fatores que contribuem para o
seu desenvolvimento e os de uma cultura de colaboração, em sinergia com
o avanço de comunidades colaborativas que estão sendo formadas num
contexto mais participativo das pessoas em todo o mundo.
Apresento, assim, uma contribuição no sentido de estimular reflexões
para um fazer acontecer mais criativo e inovador, com Inteligência
Colaborativa.
Muito grato pela oportunidade de poder compartilhá-lo com Você.

Ótima leitura!

15
PARTE 1

Inteligência e Colaboração num Mundo em Rede –


Algumas considerações
Inteligência – conceitos

Inteligência, do latim intelligentia, significa a faculdade de


compreender, discernir, entender, argumentar, perceber (pelos
sentidos), dar significação, pensar, raciocinar e interpretar. Segundo
Bueno1 (1965), inteligência é “a faculdade de compreender as ideias e
estabelecer relações entre elas”.
Goswami2 (2003, p. 190) explica que inteligência também vem
da raiz intelligo, que significa “selecionar entre”. Com o seu despertar
nós nos tornamos capazes de discernir entre nossas escolhas, tomando
consciência do que fazemos e arcando com a responsabilidade por
essas escolhas.
Gardner3 (2000), ao apresentar a existência de inteligências
humanas distintas que atuam de forma integrada, denominadas
inteligências múltiplas (linguística, lógico-matemática, espacial, musical,
cinestésico-corporal, naturalista, intra e interpessoal), conceituou
inteligência:

[....] como um potencial biopsicológico para processar


informações que pode ser ativado num cenário cultural
para solucionar problemas ou criar produtos que sejam
valorizados numa cultura (Gardner, 2000, p. 47).

1 BUENO, Francisco da Silveira. Grande Dicionário Etimológico – Prosódico da Língua


Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1965.
2 GOSWAMI, Amit. A Janela Visionária: um guia para a iluminação por um físico quânti-
co. São Paulo: Cultrix, 2003.
3 GARDNER, Howard. Inteligência, um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva,
2000.

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Sávio Marcos Garbin

Enfatiza, com isso, que:

[....] as inteligências não são objetos que podem


ser vistos nem contados e que elas são potenciais
– neurais presumivelmente – que poderão ser ou
não ativados, dependendo dos valores de uma
cultura específica, das oportunidades disponíveis
nesta cultura e das decisões pessoais tomadas por
indivíduos e/ou suas famílias, seus professores e
outros (Gardner, 2000, p. 47).

Mais recentemente, Gardner4 (2005, p. 50-51) ponderou acerca


da existência de uma nona inteligência, a existencial, como um
componente da espiritualidade a ser considerado – o pensamento
existencial. Afirma que a “inteligência existencial envolve capacidades
humanas de formular e examinar as perguntas mais importantes: Quem
somos nós? Por que estamos aqui? O que vai nos acontecer? Por que
morremos? Qual é o sentido disso tudo, afinal de contas”?
Covey5 (2005, p. 50-53) procura mostrar que as quatro partes
da natureza do ser humano são corpo, mente, coração e espírito, e a
cada uma dessas partes corresponde uma capacidade ou inteligência
que todos possuímos, e que se denominam inteligência física ou
corporal, inteligência mental, inteligência emocional e inteligência
espiritual.
Explicita que, normalmente ao falar de inteligência, pensamos
em termos de inteligência mental, isto é, nossa capacidade de
analisar, raciocinar, pensar abstratamente, usar a linguagem,
visualizar e entender. Considera que essa é uma interpretação
demasiado estreita. Por isso, procura mostrar a interligação da
inteligência física, como a capacidade de nosso corpo funcionar em
equilíbrio e harmonicamente com o cérebro, que contém a mente,
e com o coração, na busca de autoconhecimento, sensibilidade
social, autoconsciência, empatia, capacidade de nos comunicar
satisfatoriamente com outras pessoas.

4 GARDNER, Howard. Mentes Que Mudam: a arte e a ciência de mudar as nossas idéias
e as dos outros. Porto Alegre: Artmed/Bookman, 2005, pp. 50-51.
5 COVEY, Stephen. O 8º Hábito: da eficácia à grandeza. Rio de Janeiro: Elsevier; São
Paulo: Frankley Covey, 2005.

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Inteligência Colaborativa

Quando Covey (2005, p. 53) cita que “a inteligência espiritual


representa nosso impulso em direção ao sentido e à conexão com o
infinito”, ele ressalta que isto é o cerne da inteligência espiritual, e
essa inteligência é a central e mais fundamental de todas, porque é
fonte de orientação para as outras três.
As inteligências, em sua concepção, estão ligadas às quatro
necessidades das pessoas: necessidade de viver (sobrevivência),
que está ligada à dimensão do corpo; aprender (crescimento e
desenvolvimento); amar (relacionamentos) e deixar um legado
(significado e contribuição).
São inúmeros os estudos sobre inteligência que reforçam
o entendimento de que as pessoas interagem com o mundo,
transformando o ambiente enquanto modificam o meio social,
mediante uma integração dinâmica, integração essa que ocorre num
processo de desenvolvimento e aprendizagem contínuos, e parte de
uma busca de evolução dos seres que habitam o planeta Terra.
Neste mesmo sentido, Atlee 6 (2003, p. 1-9) enfatiza que a
inteligência envolve mais do que a razão lógica, já que a racionalidade
constitui só um pedaço minúsculo de nossa capacidade plena de
aprender e de nos relacionar com a vida. Encontrou um termo que
abarca diversas nuanças, o qual denominou de co-inteligência, e a
define como a habilidade para gerar ou suscitar respostas e iniciativas
criativas que integrem as diversas dádivas ou presentes que todos
recebem para o benefício de um todo maior.
Expõe que a co-inteligência pode manifestar-se de seis formas:
inteligência multimodal, inteligência colaborativa, inteligência
ressonante, inteligência coletiva, sabedoria e inteligência universal.
Atlee (2003) explica que quando a co-inteligência se manifesta
como inteligência multimodal significa que existem muitos caminhos
para aprender, saber e nos comprometer com o mundo. Nossos corpos,
mentes, coração e espírito contêm um conjunto de inteligências
emocionais, analíticas, intuitivas, cinestésicas, narrativas etc, que
possibilita, em sinergia com outras pessoas, nos integrar melhor, pois
somos todos capazes de agir de diferentes maneiras.

6 ATLEE, Tom; ZUBIZARRETA, Rosa. The Tao of Democracy – Using Co-Intelligence


to Create a World that Works for All. Rhode Island, EUA: The Writers Collective, 2003.

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Sávio Marcos Garbin

Já a inteligência colaborativa mostra que nós podemos responder


criativamente para a vida e nos unir com nossas energias. Atlee (2003,
p. 6) a define como encontrar e trabalhar com todos os aliados e forças
cooperativas ao nosso redor, pois sempre há energias existentes e
em potencial, com que as pessoas podem frutiferamente alinhar-se.
Frisa que trabalhando um com o outro, com a natureza, seguindo
nossas preferências naturais e pessoais e as tendências mundiais, nós
podemos realizar mais com menos e desfrutar, apreciar isto de modo
mais positivo.
Lévy7 (2000), noutra concepção, apresenta a inteligência coletiva
sob um novo horizonte de nossa civilização, o espaço do saber, que
traz junto com ele uma velocidade jamais vista diante da evolução das
ciências, com consequências diretas sobre a vida cotidiana, o trabalho, os
modos de comunicação, a relação com o corpo e o espaço. Esse espaço
do saber traz consigo uma massa de pessoas convocadas a aprender e
produzir novos conhecimentos para o conjunto do coletivo humano
viver melhor no Universo complexo e caótico. Traz também novas
ferramentas (as do ciberespaço), que podem fazer surgir no cenário
informacional paisagens inéditas e distintas, identidades singulares e
específicas desse espaço.
Lévy (2.000 p. 28-29) definiu que inteligência coletiva “é uma
inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada,
coordenada e mobilizada em tempo real, que resulta em uma
mobilização efetiva das competências”.
Objetiva o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas,
e tem como premissa inicial que ninguém sabe tudo, que todos sabem
alguma coisa e que todo o saber está na humanidade. O saber é o que
as pessoas sabem. A inteligência, tantas vezes ignorada e inutilizada,
passa a ser valorizada e desenvolvida pela maior consciência de sua
preciosidade, passível de ser mobilizada em tempo real, graças às
tecnologias digitais de informação e de comunicação. Contribui, desta
forma, para reconhecer as competências em toda a sua diversidade e
mobilizá-las.

7 LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva. Por Uma Antropologia do Ciberespaço. 3.ed.


São Paulo: Loyola, 2000.

22
Inteligência Colaborativa

Lévy8 (2001, p. 98-99) adota a hipótese de que a inteligência coletiva


emerge de processos de cooperação competitiva, em que a competição
se baseia essencialmente nas capacidades cooperativas dos agentes
concorrentes. Há uma convergência, e os diversos agentes tendem a
um mesmo ponto, “um alvo que se define à medida que uns correm
ao lado dos outros, cada um podendo localizar a direção por aquele
que corre mais rápido”.
Morin e Moigne9 (2000, p. 201-209), ao explicitarem a inteligência
da complexidade, enfatizam que o maior desafio do pensamento
contemporâneo – pensar sobre a complexidade – necessita de uma
reforma em nosso modo de pensar. Os pilares da ciência clássica –
ordem, englobando a ideia do determinismo, a separabilidade e a
razão absoluta – foram abalados pelo desenvolvimento das ciências
contemporâneas.
Nas ciências, o preceito do determinismo universal desmoronou
e, ao mesmo tempo, a lógica, basilar em princípio para a certeza do
raciocínio, revelou as incertezas na indução e na dedução. No Universo
aparente de multiplicidade de variáveis, de diversidade e de caos não
mais cabem a simplificação e o reducionismo, em que o conhecimento
das unidades elementares permite conhecer os conjuntos dos quais elas
são os componentes. Estamos num mundo onde existem determinações,
estabilidades, repetições, ciclos e também o aparecimento do novo,
com a presença de incertezas.
É o fim do saber absoluto e total. A complexidade reconhece
a parcela inevitável de desordem e de eventualidade em todas
as coisas, ela reconhece a parcela inevitável de incerteza do
conhecimento e exige uma inteligência, que denominam inteligência
da complexidade.
Afirmam Morin e Moigne (2000, p. 218) que a inteligência
da complexidade está intrinsecamente ligada à complexidade da
inteligência, pois quanto mais uma situação for considerada complexa,
maior deverá ser a inteligência solicitada para dominá-la. Assim,

8 LÉVY, Pierre. A Conexão Planetária: o mercado, o ciberespaço e a consciência. São Pau-


lo: Ed. 34, 2001.
9 MORIN, Edgar; MOIGNE, Jean-Louis. A Inteligência da Complexidade. 2. ed. São
Paulo: Peirópolis, 2000 (série nova consciência).

23
Sávio Marcos Garbin

a inteligência é complexa, já que não é totalmente previsível ou


antecipável, ainda que inteligível em suas manifestações, e pode ser
enriquecida como inteligência “funcionante e evoluinte”, que se adapta
e se equilibra.
Em outra perspectiva, na economia do conhecimento e no âmbito
das organizações, há necessidade de potencializar toda a inteligência
organizacional, mediante práticas concatenadas de gestão do
conhecimento. Para isso, no meu entendimento, é fundamental ativar
a colaboração das pessoas em sua plenitude, de modo sistematizado,
estimulando a aprendizagem coletiva baseada na colaboração.
Na condição de parte da abordagem da inteligência organizacional,
dissemina-se no País a inteligência competitiva. Entre inúmeras
definições, ela é, segundo Coelho 10 (1999), conceituada como
um “processo ético e sistemático de coleta, tratamento, análise e
disseminação da informação sobre as atividades dos concorrentes,
tecnologia e tendências gerais do negócio, visando subsidiar a tomada
de decisão e atingir as metas estratégicas da empresa”.
Se a gestão do conhecimento diz respeito a toda a inteligência da
organização, a inteligência competitiva diz respeito ao conhecimento
proveniente do ambiente externo e que é estratégico para o alcance
dos objetivos organizacionais.
Apenas monitorar o ambiente competitivo na ótica da organização
torna-se insuficiente diante da complexidade no envolvimento dos
inúmeros parceiros e atores nas novas redes de negócios. Tudo está
inserido num ambiente em evolução, que considera o desenvolvimento
econômico em equilíbrio com o desenvolvimento humano e o
desenvolvimento social, e uma consciência mais elevada quanto à
importância da sustentabilidade em toda a sua abrangência.
Internamente, no âmbito das organizações, a inteligência
exigida é baseada na colaboração para potencializar o conhecimento
existente.
A cultura organizacional releva a colaboração e, no ambiente
externo, passa a existir maior consciência da complexidade no

10 COELHO, Gilda Massari. Material apresentado em sala de aula na disciplina Sistemas


de Inteligência Competitiva, no curso de Inteligência Competitiva. Brasília: IBICT, 1999.

24
Inteligência Colaborativa

tocante à responsabilidade das organizações para com o bem-estar


das pessoas, à sobrevivência dos seres humanos e à sustentabilidade
do Planeta. Considerando também que a verdadeira mudança ocorre
numa pessoa de dentro para fora, com a elevação de sua consciência,
torna-se fundamental o estímulo a uma nova inteligência, a inteligência
colaborativa.

A inteligência colaborativa antecede a inteligência


coletiva
A inteligência colaborativa, como aqui proposta, compreende
a elevação da consciência de cada pessoa para a importância da
colaboração em seu cotidiano, de modo que influencie cuidadosa e
responsavelmente em seu ambiente de convivência, objetivando uma
vida mais sustentável e equânime da comunidade em que cada uma
vive.
Possibilita reconhecer a busca do bem comum como algo vital e
urgente a ser considerado por todas as pessoas. Todos somos cidadãos
protagonistas de mudanças no novo e complexo mundo a ser cultivado
por valores e propósitos nobres, que tornem possível a redução dos
desequilíbrios e das desigualdades.
Significa inserir a aprendizagem colaborativa, sobre a importância
da colaboração, em todas as esferas de relacionamento, desde o
ensino fundamental às organizações. Como exemplo, uma ênfase
exacerbada na competição, no materialismo e no egocentrismo, já
na infância e na adolescência, precisa dar lugar à colaboração e ao
compartilhamento de valores elevados. Fomentará uma cultura de
mudança que contribuirá para um mundo mais harmônico, com
base no entendimento de que as verdadeiras vantagens não são
competitivas, e, sim, colaborativas.
No limiar de uma nova era, percebe-se a elevação da consciência
das pessoas, quando elas ressaltam valores mais nobres e positivos
rumo às soluções voltadas para o bem-estar de todos, em equilíbrio
com a obtenção de resultados, individuais ou organizacionais, e com
a responsabilidade pelo desenvolvimento humano, social, econômico
e sustentável.

25
Sávio Marcos Garbin

Há maior compreensão sobre a finitude dos recursos naturais


e a necessidade de potencializar o conhecimento das pessoas para
melhorar as condições de vida e de habitabilidade de um Planeta
vivo, já exaurido, e do qual fazemos parte.
Assim, relevar a inteligência colaborativa pode contribuir
enfaticamente para a existência de relacionamentos mais harmoniosos
e o surgimento de soluções inovadoras, participativas, integradas e
evolutivas nas comunidades em que convivemos.
Em essência, na proposta ora formulada, inteligência
colaborativa significa a capacidade de pensar e agir de
modo consciente, com a intenção mais elevada, para
construir relacionamentos colaborativos e harmoniosos,
com o objetivo de um desenvolvimento centrado no bem
comum, no bem-estar de todos e no equilíbrio do mundo
em que vivemos.
Para facilitar o entendimento, inicialmente procurarei expor
diferenças entre competição e colaboração, numa visão panorâmica
destes conceitos que cada vez mais se tornam perceptíveis, sobretudo
no relacionamento entre as pessoas, organizações e no âmbito delas,
nas comunidades de um modo geral.

Competir, cooperar e colaborar – conceitos


Competir, do latim competere, diz respeito a concorrer com
outro numa mesma pretensão, evidenciando disputa, concorrência e
rivalidade. Portanto, competitivo é aquilo que envolve concorrência,
competição, mesmo que a concorrência considere a busca para um
ponto de convergência, uma fronteira, um novo estágio comum a ser
alcançado.
Etimologicamente, segundo Cunha11 (1986), cooperar deriva
do latim co-operari, e significa operar ou obrar simultaneamente. Já a
palavra colaborar, do latim collaborare, significa trabalhar com outro
na mesma obra.

11 CUNHA, Antonio Geraldo. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portu-


guesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

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Inteligência Colaborativa

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Sávio Marcos Garbin

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Do exposto pelos autores citados é possível inferir que, na


colaboração há um relacionamento de forte compromisso de contribuir
com a evolução do outro, um pensar e agir estruturado para compartilhar
com o outro ou os outros, numa visão integrativa do todo, de modo
que haja um crescimento conjunto.
Já “colaborativo” indica tudo aquilo que envolve colaboração, que
é produzido em colaboração.

Da competição à cooperação e à colaboração – uma


nova visão de mundo

Sem entrar em detalhes acerca das diferenças de sentido nas


palavras, buscarei estimular a reflexão para se evoluir da competição
à colaboração, num mundo com nova agenda colaborativa.
Brotto 12 (2001), em seus estudos sobre jogos cooperativos,
menciona que:

12 BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de


convivência. Santos, São Paulo: Projeto Cooperação, 2001.

28
Inteligência Colaborativa

[....] cooperação e competição são aspectos de um


mesmo espectro, que não se opõem, mas se compõem.
No entanto, essa composição dos contrários depende
de inúmeros fatores que a condicionam a um estado
de permanente atenção e cuidado. O senso comum
costuma associar a competição com o jogo, como se
estes fossem sinônimos e como se um não pudesse
existir sem o outro (Brotto, 2001, p. 25).

Diferencia cooperação de competição:

[....] Cooperação: é um processo onde os objetivos


são comuns, as ações são compartilhadas e os
resultados são benéficos para todos. Competição:
é um processo onde os objetivos são mutuamente
exclusivos, as ações são individualistas e somente
alguns se beneficiam dos resultados (Brotto, 2001,
p. 27).

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29
Sávio Marcos Garbin

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ade; 5) princípio da mutualidade; 6) princípio da universalidade,


Orlick13 (1989, p. 106), estudioso de jogos cooperativos, cita que o
comportamento menos ou mais cooperativo decorre de relações
menos desumanizadoras e mais desumanizadoras, como pontos
extremos de uma escala de atitudes, conforme mostrado em seguida.

13 ORLICK, Terry. Vencendo a Competição. São Paulo: Círculo do Livro, 1989.

30
Inteligência Colaborativa

COMPORTAMENTO ORIENTAÇÃO MOTIVAÇÃO PRINCIPAL


Rivalidade Anti-Humanista Dominar o outro. Impedir os outros
Competitiva de alcançarem seus objetivos. Satis-
fação em humilhar o outro e asse-
gurar que não atinja seus objetivos.
Disputa Dirigida para um A competição contra os outros
Competitiva objetivo (contra os é um meio de atingir um obje-
outros) tivo mutuamente desejável, como
ser o mais veloz ou o melhor. O
objetivo é de importância primordial
e o bem-estar dos outros competi-
dores é secundário. A competição é,
às vezes, orientada para a desvalori-
zação dos outros.
Individualismo Em direção ao ego Perseguir um objetivo individual.
Ter êxito. Dar o melhor de si. O foco
está em realizações e desenvolvim-
ento pessoais ou o aperfeiçoamento
pessoal, sem referência competitiva
ou cooperativa a outros.

Competição Em direção ao O meio para atingir um objetivo


Cooperativa objetivo (levando em pessoal, que não seja mutuamente
conta os outros) exclusivo, nem uma tentativa de
desvalorizar ou destruir os outros.
O bem-estar dos competidores é
sempre mais importante do que
o objetivo extrínseco pelo qual se
compete.
Cooperação Em direção a um Alcançar um objetivo que neces-
Não competitiva objetivo comparti- sita de trabalho conjunto e parti-
lhado (considerando lha. A cooperação com os outros
os outros) é um meio para se alcançar um
objetivo mutuamente desejado, e
que também é compartilhado.
Auxílio Humanista, altruísta Ajudar os outros a atingir seus
Cooperativo objetivos. A cooperação e a ajuda
são um fim em si mesmas, em vez de
um meio para atingir determinado
fim. Há satisfação em ajudar outras
pessoas a alcançarem seus objetivos.
Quadro 2 – Tabela Sequencial de Competição-Cooperação,
Terry Orlick, www.zoneofexcellence.ca

31
Sávio Marcos Garbin

Do até agora exposto, já é possível constatar a importância de uma


evolução no nível de consciência para melhor orientar o comportamento
das pessoas no sentido de agir de modo colaborativo.
Saraydarian14 (1990, p. 40), ao versar sobre a cooperação, numa
perspectiva psicológica, comenta que uma de suas bases é a confiança
mútua e que as pessoas devem trabalhar muito para construí-la.
Quando a confiança mútua é estabelecida, a cooperação se torna um
modo natural de ação. Acrescenta que algumas pessoas pensam que,
para haver cooperação, é absolutamente necessário que haja um grupo
de pessoas. Afirma que não são as pessoas que criam cooperação, e sim
a visão que elas têm. Se muitas pessoas estão trabalhando para efetivar
uma visão em vários lugares da Terra, mesmo sem se conhecerem,
elas são cooperadoras em torno de um objetivo comum.
Paul J. Zak, do Centro de Estudos em Neuroeconomia, da
Universidade de Claremont (www.neuroeconomicstudies.org), salienta
que a confiança é fundamental para a cooperação e que a oxitocina
pode ser parte da fisiologia humana que estimula as pessoas a sentirem
maior nível de confiança e cooperarem numa interação. Em seus
estudos, ele concluiu que a molécula produzida no cérebro e conhecida
por oxitocina tem seus níveis elevados, quando uma pessoa realiza
atividades prazerosas, agradáveis ou recebe uma demonstração de
confiança. Tende, inclusive, a ser mais generosa ao retribuir o gesto.
Joba; Maynard Jr. e Ray 15 (1996, p. 60) enfatizam que a
dependência da competição, por parte dos negócios, é disfuncional,
e apresentam um dos melhores exemplos de um paradigma que
predomina: “a competição contaminou tanto a filosofia econômica do
mundo desenvolvido que nós apenas consideramos as várias espécies
de competição, sem atentar para outras alternativas”.
Analisam, com isso, três modos de relacionamento: competição,
cooperação e co-criação. Observando as próprias raízes latinas das

14 SARAYDARIAN, Torkom. A Psicologia da Cooperação e Consciência Grupal. São Pau-


lo: Aquariana, 1990.
15 JOBA, Cynthia; MAYNARD JR., Herman Bryant; RAY, Michael. Competição, Coopera-
ção e Co-Criação: subsídios da World Business Academy. In: RAY, Michael; RINZLER,
Alan (Org.). O Novo Paradigma nos Negócios – Estratégias Emergentes para Liderança
e Mudança Organizacional. São Paulo: Cultrix, 1996.

32
Inteligência Colaborativa

palavras, citam que “competir significa disputar juntos, cooperar é


trabalhar juntos e co-criar é criar juntos”.
Quanto à competição, enfatizam que a palavra disputar tem duas
definições. A primeira informa que disputar é esforçar-se para obter
o melhor, numa questão de superar limites objetivando a excelência.
Quando principalmente os atletas falam de benefícios da competição,
referem-se a essa definição de disputar. Nas organizações, cabe citar
como exemplo a busca de maior produtividade, qualidade e inovação
como forma de agregar valor aos negócios e desenvolver-se. “A outra
definição – estar em oposição ou conflito com – é que encerra os efeitos
negativos observáveis na competição.”
Maynard Jr. e Mehrtens16 (1999, p. 23), ao adotarem e ampliarem
o conceito de onda de mudanças apresentado por Alvin Tofler, numa
visão de negócios para o século XXI, evidenciam as diferenças
entre a Segunda, Terceira e Quarta ondas de mudança. Frisam que a
Segunda Onda coincidiu com a industrialização e está arraigada no
materialismo e na supremacia do homem junto à natureza, com ênfase
na competição, autopreservação e no consumo, o que tem levado a
inúmeros problemas.
Já na Terceira e Quarta Ondas é dada importância à crescente
preocupação com o equilíbrio e a sustentabilidade:

À medida que a Terceira Onda avança, tornamo-nos


mais sensíveis a questões de conservação, ao caráter
sagrado da vida e à cooperação.

[....] quando chegar a Quarta Onda, a integração de todas


as dimensões da vida e a responsabilidade pelo todo, ter-
se-ão tornado os elementos centrais de nossa sociedade.
O reconhecimento da identidade de todos os sistemas
vivos fará surgir novos modos de relacionamento e de
interação que servirão tanto aos seres humanos como aos
não-humanos (Maynard Jr. e Mehrtens, 1999, p. 23).

Desta forma, cada onda é caracterizada por uma visão de mundo


distinta: na Segunda Onda – somos separados e temos de competir; na

16 MAYNARD Jr., Herman Bryant; MEHRTENS, Susan E. A Quarta Onda. Os Negócios


no Século XXI. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1999.

33
Sávio Marcos Garbin

Terceira Onda – somos vinculados e temos de cooperar; e na Quarta


Onda – somos um só e escolhemos co-criar. Enfatizam que:

[....] a maioria das corporações hoje existentes é


da Segunda Onda: centralizadas, hierárquicas e
concentradas em valores como o lucro, a eficiência,
o porte e o crescimento, o que se reflete inclusive
em sua linguagem e suas metas: sobrevivência,
autopreservação, vencer a concorrência, ganhar. O
sucesso é medido pelos resultados financeiros e pela
geração de lucro, e os horizontes temporais ditos de
longo prazo não ultrapassam cinco a dez anos.
A gama de atividades corporativas fica estreitamente
circunscrita aos negócios e a questões econômicas e
tecnológicas e o negócio é visto como uma maneira de
ganhar a vida (Maynard Jr. e Mehrtens, 1999, p. 24).

Uma transição da Segunda para a Terceira Onda exige que


a organização passe a ver a si mesma como criadora de valor.
Ela se concentra mais em servir às necessidades das várias partes
interessadas que com ela se relacionam (os proprietários, os clientes, os
colaboradores e suas famílias, os habitantes da região onde a empresa
está estabelecida etc.).
O pensamento estratégico é reorientado para antecipar as
necessidades futuras independentemente da organização, e o negócio
é visto cada vez mais como um veículo mediante o qual as pessoas
podem evoluir e servir às outras. Isso exige uma consciência mais
elevada para a construção de confiança e o desenvolvimento de uma
cultura de aprendizagem.
Ponderam ainda Maynard Jr. e Mehrtens17 (1999, p. 25) que
“a organização de Quarta Onda vai reconhecer o seu papel de
administradora do todo e fornecer bens e serviços a um grupo
determinado de consumidores”.
Assim, é possível assegurar que esta abordagem trata de uma
organização colaborativa, pois colaborar com o todo em que está
inserida faz parte de seu propósito, de sua essência para existir e servir
sustentavelmente.

17 MAYNARD, Jr. Herman Bryant; MEHRTENS, Susan E. 1999.

34
Inteligência Colaborativa

Henderson18 (2000, p. 62), ao propor a construção de um mundo


onde todos ganhem, já chamava a atenção, entre várias tendências, para
a necessidade de uma mudança sistêmica do paradigma de maximizar a
competição econômica global para o desenvolvimento mais cooperativo
e sustentável.
Significa que, além da recuperação do próprio Planeta, é necessário
recuperar alguns valores básicos, tais como família, comunidade, partilha
e relações com amor e simplicidade. Entre as inúmeras situações citadas
pela autora, torna-se fundamental, portanto, uma mudança de estilo de
vida, de atitudes, das percepções dos valores, de nossas crenças.
Cabe ressaltar, por exemplo, que existe a cada dia maior parcela
da população concentrada em centros urbanos, o que exige mais
alimento e mais água, e gera mais resíduos; as pessoas vivem juntas,
porém “isoladas” umas das outras. Isso enseja reflexão para um fazer
acontecer colaborativo, com valores que resgatem a importância de o
ser humano conviver em comunidade.
É também possível depreender que a competição norteia premissas
estritamente econômicas, o que já se mostrou descabido quando
se constatam os impactos dos seres humanos num Planeta finito e
exaurido.
Esse fato exige acrescentar premissas ecológicas no modo de pensar
e agir, e, quando elas são acatadas, o único modelo viável baseia-se em
cooperação e colaboração, da mesma forma que na natureza.
Como o nosso organismo tem um limite de tolerância até
esmorecer, ficando desestabilizado e doente, o Planeta é um organismo
vivo com um limite para suportar certos níveis de degradação e poder se
regenerar. Esse limite já está superado, beirando uma situação delicada
de emergência.
Estimuladas por propósito de seus gestores, e por mecanismos
indutores de mercado e legislação, as organizações vêm incorporando
a gestão ambiental e, recentemente, de forma mais explícita e enfática,
a gestão da sustentabilidade.
Muitas já vivenciavam a sustentabilidade de modo não estruturado,
e sem uma visão sistêmica e integrada das dimensões econômico-

18 HENDERSON, Hazel. Construindo Um Mundo Onde Todos Ganhem. São Paulo: Cul-
trix, 2000.

35
Sávio Marcos Garbin

financeira, ambiental e social, com clareza para todos os participantes


interessados no negócio, na mesma trilha de Aerton Paiva19 (2008).
As organizações já estão mais atentas àquilo que se denomina
resiliência, no sentido de conhecer os limites e as capacidades de
um sistema em resistir a impactos, o que faz com que elas procurem
saber mais sobre o sistema natural em que operam, cientes de que o
uso excessivo de um recurso natural rompe o equilíbrio dos sistemas
ambiental e social e afeta o sistema econômico.
Elas se tornaram mais conscientes de seu papel como agentes de
mudança e buscam equilíbrio em resultados integrados econômica,
social e ambientalmente. Sabem que isso também pode configurar uma
oportunidade de aumento de receitas ou redução de riscos decorrentes
da perda de receitas, em face da exigência de novos padrões de gestão
por parte dos compradores.
No que concerne ao meio ambiente, as alterações e a aceleração de
mudanças climáticas afligem e causarão impacto em todas as pessoas,
em maior ou menor grau, portanto afetam e atingem todas as pessoas,
já nesta geração.
Urge compreender definitivamente que a Terra é um ser vivo e
reage às mazelas que os seres humanos lhe impõem. Já tão próximas de
nós, em nosso País, as mudanças climáticas deixaram de ser inesperadas.
Os furacões, por exemplo, passaram a ser considerados normais, tendo
havido o primeiro registro de furacão no Atlântico Sul, em 2004, em
plena costa brasileira.
Os níveis de seca estão ficando mais intensos, as áreas desertificadas
crescem e as mudanças de clima são mais abruptas. Nos períodos de
estiagem, regiões inteiras ficam envoltas em fumaça, quando as cidades
deixam de ser vistas das estradas.
As pessoas cobertas de fuligem, sob um sol abrasador, precisam de
uma rápida união para impedir que uma doença chamada normalidade
as torne míopes e acostumadas a uma qualidade de vida piorada.
Poderá haver desertos inabitáveis, onde nada valerá o ter, e, sim, o
ser e o compartilhar daquilo que restar da abundância de um planeta
chamado Terra.

19 PAIVA, Aerton. Palestra em aula no Curso de Gestão Estratégica da Sustentabilidade.


São Paulo: Uniethos, julho de 2008.

36
Inteligência Colaborativa

A água, fundamental para o ser humano, concentra-se em


determinadas regiões do País, o que, em situações mais dramáticas,
exigirá muito mais do que rodízios de fornecimento, chegando, talvez,
à necessidade de seu transporte de uma cidade para outra e até de um
estado para outro.
O volume de água de superfície contaminada cresce acelerada-
mente, sobretudo por resíduos químicos industriais e agrícolas, esgoto
urbano e chorume de lixões. Os lençóis freáticos são sugados em
quantidade superior à capacidade de absorção pelo suprimento de água
das chuvas, cada vez mais ácidas, portanto também contaminadas.
Há entendimento de que o tratamento de água garante sua
potabilidade, embora isso não assegure sua descontaminação,
pois resíduos podem permanecer, em decorrência de falta de
regulamentação mais abrangente, e afetar a saúde das pessoas.
Além disso, é possível constatar a proliferação de poços artesianos
no País, com significativo aumento do uso de águas subterrâneas como
fontes alternativas de água para consumo, que também poderão ficar
contaminadas. Assim, todos nós seremos afetados, em maior ou menor
grau, com o que ingerimos, e só ações estruturadas e colaborativas
poderão contribuir para a reversão do quadro atual.
Isso exige uma profunda revisão de nossos hábitos, advinda de
uma reflexão sobre o que consideramos normal fazer no dia-a-dia,
de forma automática e focada em nós mesmos, apenas no tempo
presente.
O termo “normal” pode significar aquilo que é habitual, usual
e frequente. Por isso, a “doença” da normalidade faz com que nos
acostumemos com as situações inusitadas do cotidiano, até que uma
situação nova e chocante passe a ser recorrente.
Weil, Leloup e Crema20 (2003, p. 22 e 23) fazem uma distinção
entre normalidade saudável, normalidade neutra e normalidade
doentia. Da normalidade saudável de levantar cedo e caminhar
todos os dias à normalidade neutra de almoçar no meio do dia. Já a
normalidade doentia, por eles chamada de normose, é definida como
“o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de

20 WEIL, Pierre; LELOUP, Jean-Yves; CREMA, Roberto. Normose: a patologia da norma-


lidade. Campinas, São Paulo: Verus, 2003.

37
Sávio Marcos Garbin

pensar ou de agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria em


uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte”.
Mediante uma analogia da fábula do sapo fervido com o ser
humano, é até possível inferir que estamos vivenciando a síndrome
do humano fervido. Na fábula do sapo fervido, um sapo, ao cair na
água fervente, salta para se livrar dela. No entanto, se ele for colocado
num recipiente com água fria, aquecida gradativamente até ferver, ele
permanece na água e morre.
Com o ser humano parece estar ocorrendo o mesmo. Haverá
necessidade de deterioração ambiental, superaquecimento, desastres
em cadeia e agravamento das desigualdades no Planeta, afetando
grande parte da população, para que surja uma reação de sair desse
estado de normalidade letárgica, decorrente de torpor, indiferença e
paralisia, alicerçado no apego ao egocentrismo, ao consumismo e ao
materialismo?
É outra a patologia provinda da normalidade nas pessoas, e que
precisa transformar-se em epidemia neste século. Chama-se colaboração,
como forma de a espécie humana poder evitar uma abrupta redução
ou a sua extinção, e obter novo equilíbrio para uma vida harmoniosa
com todos e com o todo.
À medida que os nichos ecológicos e sociais vão sendo preenchidos,
começam a falhar as estratégias competitivas ganha-perde, que eram
utilizadas para densidades populacionais mais baixas e ambientes
inexplorados, típicas de ecossistema básico em que impera a busca
por obtenção de vantagem oriunda da abundância dos recursos
existentes.
Viver com esta concepção de ecossistema, num Planeta que é
finito, num mundo interligado, de mercados globalizados e tecnologias
arraigadas em uma economia por demais competitiva, frequentemente
representa uma competição “perde-perde” para todos os seres vivos.
Já os ecossistemas mais maduros, a exemplo de uma floresta,
formam uma verdadeira teia da vida, em que há uma interdependência
com ciclos fechados e autorrenováveis, num desenho que possibilita
um estado de equilíbrio por muitos e muitos anos, um ecossistema em
que inexiste a geração de lixo e os resíduos são recursos para outros
seres vivos.

38
Inteligência Colaborativa

Tideman21 (2006, p. 111), noutra vertente, liga colaboração à


espiritualidade, e discorre sobre compaixão ou competição para uma
economia mais humanizada. Enfatiza que, na sociedade moderna,
a competição passou a ser um aspecto estrutural. Expõe que as
leis econômicas disseminadas nos livros didáticos assumem “que o
homem compete naturalmente por recursos materiais escassos ou
limitados. Feliz o homem que é capaz de consumir esses recursos e
infeliz aquele que não é”.
Complementa dizendo que “a economia clássica diz que não faz
sentido despender esforço, tempo, ou despesas na manutenção de
valores, se não podemos fazer dinheiro, ignorando-os”. Considera,
assim, a competição sem uma dimensão moral, que dissocia os valores
econômicos tradicionais da espiritualidade, em que todos buscam a
felicidade mediante compaixão, e a compaixão jamais conseguirá ser
captada de maneira eficaz por qualquer indicador.
Importar-se com o outro depende de cada pessoa, individualmente.
Em nossos relacionamentos, se tratarmos uns aos outros como
competidores, teremos como resultado a desconfiança e o isolamento,
enquanto um ambiente de compaixão e cuidado mútuo criará
naturalmente um livre intercâmbio e bem-estar mútuos.
Tideman (2006) ressalta que aprender a reinventar uma economia
em que o governo e todos os atores assumam a responsabilidade por
suas vidas, e comecem a definir objetivos econômicos em termos mais
humanos, significa aprender a competir de modo mais compassivo,
num alinhamento mais amplo de mundo.
Kiuchi e Shireman22 (2003), ao estudarem os princípios ecológicos
pelos quais os sistemas vivos se sustentam, e ao estenderem esses princípios
à criação de empresas mais lucrativas e rentáveis, salientam que ecologia
e economia são palavras de mesma raiz e de significados semelhantes:

Tanto “ecologia” como “economia” derivam da palavra


grega oikos, que significa “lar”.

21 TIDEMAN, Sander in TIDEMAN, Sander (Org.). Compaixão ou Competição: valores


humanos nos negócios e na economia/ Sua Santidade, o Dalai Lama. São Paulo: Palas
Athena, 2006.
22 KIUCHI, Tachi; SHIREMAN, Bill. O Que A Floresta Tropical Nos Ensinou – lições da
natureza para a empresa. São Paulo: Cultrix, 2003.

39
Sávio Marcos Garbin

A economia estuda a administração do lar. A ecologia


vai mais além, para estudar a lógica em que se baseia
essa administração. Explora as inter-relações de todos
os seres vivos com todos os elementos do seu ambiente;
as interligações dinâmicas que animam a vida e criam
valor, tanto na empresa quanto na natureza (Kiuchi e
Shireman, 2003, p. 20).

Em essência, a lógica em que se baseia a ecologia diz respeito


ao equilíbrio dinâmico de um ecossistema que precisa ser mantido
ou obtido entre todos os seres vivos com o ambiente, mediante uma
verdadeira rede colaborativa, sob pena de todos serem afetados mais
cedo ou mais tarde. Isso exige um repensar sobre a administração
do planeta Terra, pelo qual todos nós somos co-responsáveis.
Nesse contexto, começa a ganhar expressividade a ecoeconomia
ou a economia ecológica. Brown 23 (2003) explicita que “uma
economia ambientalmente sustentável – uma ecoeconomia – requer
que os princípios da ecologia estabeleçam o arcabouço para a
formulação de políticas econômicas, e que economistas e ecólogos
trabalhem, em conjunto, para modelar a nova economia”. A
ecoeconomia tem como premissa que toda atividade econômica,
toda a vida, depende do ecossistema da Terra, um sistema maior do
qual fazemos parte.

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A ecoeconomia ressalta que a visão tradicional e mecanicista,


baseada em extração, produção e descarte, deixando todo o ônus
para a natureza, é inteiramente inadequada, e precisa ser revista
com urgência.

23 BROWN, Lester R. Eco-economia: construindo uma economia para a Terra. Salvador:


UMA, 2003. Disponível em <http:// www.wwiuma.org.br >. Acesso em: 31/08/2008.

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Inteligência Colaborativa

Começa a se tornar mais uma disciplina transdisciplinar, além


dos cursos de economia e administração de empresas. Talvez, em
futuro próximo, venha a ser uma disciplina transversal nos cursos
universitários, que perpassará as demais como formação básica e
obrigatória no novo contexto em que vivemos.
Sachs24 (2002, p. 60-61) lembra William Kapp, pioneiro sobre
custos sociais e ambientais de empresas privadas, que postulou o
nascimento de uma nova disciplina: a eco-sócio-economia, para enfatizar
que é necessária uma combinação viável entre economia e ecologia,
pois as ciências naturais podem descrever o que é preciso para um
mundo sustentável, porém compete às ciências sociais a articulação
de estratégias de transição rumo a este caminho.
Considerando as três dimensões, surgem estudos e cursos que
focalizam a gestão da sustentabilidade como forma de dar esse contorno
mais amplo para a proliferação de organizações cidadãs, levando-as
a agir de forma integrada e colaborativa para um desenvolvimento
socioambiental sustentável. Exige um pensar e agir diferentes de
seus dirigentes e de todas as partes interessadas que afetam ou são
afetadas pela atividade realizada. Acentua uma nova forma de
produzir bens a partir de um fluxo circular, em que as organizações
têm responsabilidade desde a matéria-prima no nascedouro de um
produto até o pós-consumo, com o reaproveitamento do descarte como
matéria-prima para a geração de um novo produto. Também considera
a responsabilidade da organização perante seus colaboradores diretos,
fornecedores, clientes, todas as partes envolvidas e interessadas no
negócio, a comunidade do entorno e o próprio Planeta.
Tradicionalmente, a economia focaliza a riqueza a partir da
escassez. Determinado bem ou produto adquire valor, portanto gera
mais riqueza quando se torna escasso. Acentua uma visão egocêntrica,
pois uma comunidade ou um país só podem ser verdadeiramente ricos
se houver prosperidade para todos.
Então a prosperidade, num contexto de sustentabilidade, significa
ter o suficiente, consumir sem desperdícios, de modo que todos possam
viver em equilíbrio e dignamente.

24 SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Stroh, Paula Yone


(Org.). Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

41
Sávio Marcos Garbin

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mesma, em seu egocentrismo.


Urge refletir para rever o que são realmente os benefícios, segundo
uma percepção, uma visão mais abrangente, de forma que o pensar e
o agir sejam baseados em colaboração com intencionalidade, para o
bem-estar entre gerações.
Assim, observamos diversas abordagens acerca da importância
da cooperação e da colaboração no mundo atual, complexo, dinâmico
e com recursos finitos, porém abundantes para todos, desde que o
consumo seja consciente, para o estritamente necessário, permitindo
vivermos bem, sem desperdícios.
Até aqui foi possível ter uma dimensão ampliada de que a
colaboração congrega as pessoas em torno de um objetivo comum, e
possibilita uma evolução conjunta, portanto é importante para cada uma
delas e para o todo. Eleva a autoestima e possibilita soluções criativas e
inovadoras, com menor grau de tensão, e que podem ser exercitadas no
planeta chamado cotidiano que está mais próximo de nós, na família,
no trabalho e na comunidade.
É vital, portanto, resignificar crenças, percepções e valores, nossa
própria conduta, adotando atitudes desapegadamente positivas e
proativas, com ações que sempre sejam benéficas para nós, para os
outros e para todos.
Cabe a nós agir persistente e efetivamente, de modo colaborativo,
pois há muito conhecimento e muita tecnologia no mundo que, se
compartilhados e postos em ação, contribuirão decisivamente para
a construção de um Planeta mais saudável, mais aprazível, mais
harmônico e em equilíbrio.

42
Inteligência Colaborativa

Novas ciências, transdisciplinaridade e colaboração


Observando outras abordagens, podemos perceber que as
novas ciências e a transdisciplinaridade estão no mesmo diapasão
da colaboração, como padrão essencial para a sobrevivência do ser
humano no planeta Terra.
O mundo tem, do jeito mais simples, uma tendência natural e
espontânea à organização, frisam Wheatley e Rogers25 (2000). Eles
explicam que o mundo busca a ordem, por mais caótica que uma
situação pareça de início, e os sistemas de organização aparecem
quando os elementos se combinam. A vida é atraída pela ordem, uma
ordem obtida por meio de explorações aleatórias de novas relações
e possibilidades.
Isto remete à Teoria do Caos, que demonstrou que uma aparente
desordem, desde o início, gerou uma nova ordem. Basta lembrar a
famosa questão de Edward Lorenz, que se tornou símbolo da Teoria do
Caos: “o bater de asas de uma borboleta em Tóquio tem influência no
surgimento de um furacão no Texas (ou de uma tempestade em Nova
Iorque)?” Para a infelicidade da futura previsão acurada do tempo, sua
resposta foi “sim”.
Lorenz, meteorologista norte-americano do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts, inspirado em seus estudos sobre esse assunto,
avaliava, em 1963, dois modelos análogos de previsão meteorológica
que se mostraram divergentes. Observou que pequenas ocorrências,
principalmente nas condições iniciais, geravam grandes e profundas
alterações nas suas previsões, provocando uma aparente desordem que,
na realidade, se transformava numa nova ordem.
Assim, naquelas comunidades em que as pessoas já vivenciam
os efeitos positivos da colaboração na vida cotidiana, em casa, na
organização, entre organizações e na participação comunitária e
voluntária, uma nova ordem decorrente da colaboração já merece
atenção: ela engendra sementes fortes e poderosas para a germinação
e o florescimento de vidas com maior significado.

25 WHEATLEY, Margaret J; KELLNER - ROGERS, Myron. Um Caminho Mais Simples.


9. ed. São Paulo: Cultrix, 2000.

43
Sávio Marcos Garbin

Neste contexto, Capra26 (2001) dá ênfase ao novo paradigma da


ecologia profunda, expressão criada pelo filósofo norueguês Arne
Naess, em que a percepção ecológica reconhece a interdependência
fundamental de todos os fenômenos.
Cita que, na condição de indivíduos e sociedade, todos nós estamos
encaixados nos processos cíclicos da natureza e, em última análise,
somos dependentes desses processos.
A ecologia profunda não separa seres humanos – ou qualquer
outra coisa – do meio ambiente natural. Ela vê o mundo, não como
uma coleção de objetos isolados, e sim como uma rede de fenômenos
que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes,
uma verdadeira rede de cooperação e parcerias:

A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco


de todos os seres vivos e concebe os seres humanos
apenas como um fio particular na teia da vida (Capra,
2001, p. 26).

A mudança do paradigma ecológico emergente requer uma


expansão não apenas de nossas percepções e maneiras de pensar, como
também de nossos valores (Capra, 2001, p. 26-27).
Expressa como é interessante perceber a notável conexão nas
mudanças entre pensamentos e valores. Ambas podem ser vistas como
mudanças da autoafirmação para a integração:

Essas duas tendências – a auto-afirmativa e a integrativa


– são, ambas, aspectos essenciais de todos os sistemas
vivos. Nenhuma delas é, intrinsecamente, boa ou má.
O que é bom, ou saudável, é um equilíbrio dinâmico.
O que é insalubre é o desequilíbrio – a ênfase excessiva
em uma das tendências em detrimento da outra (Capra,
2001, p. 27).

Acrescenta que, se olharmos para a nossa cultura industrial


ocidental, podemos ver que enfatizamos em excesso as tendências
autoafirmativas e negligenciamos as integrativas. Isso é evidente,

26 CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos.
6. ed. São Paulo: Cultrix, 2001.

44
Inteligência Colaborativa

tanto em nosso pensamento como em nossos valores, e é muito


instrutivo posicionar lado a lado essas tendências.

Pensamento Valores
Autoafirmativo Integrativo Autoafirmativo Integrativo
racional intuitivo expansão conservação
análise síntese competição cooperação
reducionista holístico quantidade qualidade
linear não linear dominação parceria
Quadro 3 - Mudanças entre Pensamentos e Valores, Capra (2001)

Capra27 (2002), em outro estudo, explica que inexiste organismo


individual que viva em isolamento:

Os animais dependem da fotossíntese das plantas


para atendimento de suas necessidades energéticas; as
plantas dependem do dióxido de carbono produzido
pelos animais e do nitrogênio fixado pelas bactérias
em suas raízes; e todos juntos: vegetais, animais e
microorganismos regulam a biosfera e mantêm as
condições propícias à preservação da vida (Capra,
2002, p. 23).

Pauli28 (1998), de igual modo, afirma que:

[....] a sobrevivência na natureza depende da integração


da espécie no sistema. Qualquer espécie que opte por
ficar fora do sistema terá com o tempo a sua extinção
garantida independentemente do quanto inteligente
for, ou causará a extinção de todas as demais espécies
se a sua decisão de permanecer fora do sistema tornar
o ambiente inabitável (Pauli, 1998, p. 53-54).

Mostra que este parece ser o desafio que a humanidade enfrenta


hoje, pois o homem decidiu não mais fazer parte do ecossistema.

27 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas. Ciência Para Uma Vida Sustentável. São Paulo:
Cultrix, 2002.
28 PAULI, Gunter. Upsizing: como gerar mais renda, criar mais postos de trabalho e elimi-
nar a poluição. Porto Alegre: Fundação Zeri Brasil/LP&M, 1998.

45
Sávio Marcos Garbin

Considera-se mais inteligente e explora a natureza exclusivamente para


seu conforto e vantagem.
Exemplifica, dizendo que:

[....] na natureza as bactérias, as enzimas, os


cogumelos, as minhocas, os pássaros, as abelhas,
os morcegos, os roedores, os cervos, os arbustos
e as árvores – só para citar algumas das espécies
encontradas nas florestas – dependem uma das
outras. É somente por cooperação mútua, por
colaboração que as espécies têm a chance de
sobreviver, a oportunidade de se desenvolver e de
gerar um sistema sempre melhor, no qual todas
evoluem e se aperfeiçoam (Pauli, 1998, p. 54).

Frisa que a sobrevivência das espécies, na natureza, está na


interdependência e na colaboração:

É uma colaboração entre as espécies, segundo a qual


o conhecimento não está centralizado em um único
cérebro. É altamente descentralizado, em que cada
espécie toma decisões para fazer o melhor, seguindo
princípios que determinam mais do que o próprio
interesse e a própria sobrevivência.
O objetivo é reutilizar todos os componentes da
natureza como alimento, de forma que resíduo para um
é alimento para outro. O que mais fascina é o espírito
de trabalho de equipe que pode ser evidenciado entre
as mais diversas espécies.
O ecossistema demonstra tremenda tolerância para
com a diversidade, e de fato necessita de tais diferenças
para garantir que cada elemento aproveite o melhor e
mais valioso dos recursos que o ecossistema oferece.
A diversidade dentro do sistema e a diversidade dos
sistemas constituem-se na riqueza da natureza (Pauli,
1998, p. 55).

Humberto Maturana e Francisco Varela, em seus estudos sobre


as bases biológicas da compreensão humana, enfatizaram que o que
caracteriza o ser vivo é sua organização autopoiética. Autopoiese, termo
por eles proposto para caracterizar a organização dos sistemas vivos,

46
Inteligência Colaborativa

significa autocriação, e considera que todas as células dos seres vivos


têm as informações necessárias para se reproduzirem. Contêm em sua
estrutura toda informação para enfrentar imprevistos e se autorrenovar,
sem alterar seu padrão organizativo.
Como exemplo, imaginemos uma semente de feijão plantada
num vaso, em um ambiente sem luz direta, e uma pequena abertura
de luz que alcança uma extremidade do vaso. A planta buscará a luz
e crescerá na sua direção, sem que ninguém a ensine, parafraseando
João Kon29 (1997). Em outra situação, uma pequena árvore plantada
num grande vaso na varanda de um apartamento também se curvará
buscando a luz, quando estiver bem alta, próxima do teto, sem que
seja necessário orientá-la para isso.
Por esse prisma, é possível depreender que o ser humano já nasce
com um conjunto de informações genéticas e outras obtidas desde a
sua gestação. É, portanto, de essencial importância que ele venha a ser
gerado com atitudes oriundas de sentimentos e pensamentos positivos
por parte dos pais.
A aprendizagem colaborativa começa na gestação. Depois do
nascimento, é preciso fortalecer o bebê diariamente, continuando a
agir positivamente, com valores elevados, para uma conduta solidária
e colaborativa.
Ilya Prigogine, ao estudar as estruturas dissipativas, demonstrou que
a energia que se dissipa num sistema aberto, decorrente de desordem e
impactos vindos do ambiente, causa instabilidade e pode ser fonte de
uma nova ordem para a sua regeneração e desenvolvimento. Estruturas
moleculares das novas ordens geradas de experiências com líquidos e
gases eram diferentes e até mais complexas.
Nesse sentido, cabe entender, por analogia, que a turbulência
vivenciada atualmente, com inúmeras ações centradas em colaboração,
pode ser considerada o princípio de nova ordem, diante de um
insustentável modelo de desenvolvimento focalizado em competição e que
está trazendo sequelas, em larga escala, ao ambiente e à sociedade.
O pesquisador Benoit Mandelbrot chama a atenção para a
geometria dos fractais. Fractais são estruturas geométricas complexas

29 KON, João. Apresentação no Seminário Requalificando-se para a Turbulência. São Paulo:


Facilita Consultoria, 1997.

47
Sávio Marcos Garbin

cujas partes ou fragmentos assemelham-se em qualquer escala à


estrutura em sua completude. Exemplo disso, como inúmeros na
natureza, é a verdura conhecida como brócolis. Uma pequena parte
se parece com o todo, da mesma forma que o todo se parece com a
menor parte.
Ao focalizar um ser humano, a conclusão é de que ele é um
fractal comportamental do todo. Um comportamento colaborativo
e solidário numa comunidade familiar, numa organização ou numa
cidade pode fazer grande diferença para uma pessoa, quando esta for,
por exemplo, um governante, cujas decisões abranjam e afetem um
país ou um conjunto de países.
Se essa pessoa convive com outras pessoas num ambiente baseado
em competição, centra-se no egocentrismo que afetará sua vida e a de
outras pessoas onde ela estiver, ao longo de sua trajetória.
Da mesma maneira, se sua convivência com outras pessoas, em
núcleos menores, a exemplo da família, for recheada de carinho, justiça,
valores humanos nobres e colaboração, as suas decisões no futuro, em
outras instâncias que poderão afetar a vida de muita gente, terão maior
condição de ser colaborativas.

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Assim, considerar a perspectiva das novas ciências mostra um


caminho baseado em colaboração para fazer frente à turbulência em
que vivemos. Parece ser aquele caminho que mais pode contribuir
para acelerar o desenvolvimento de ações que reduzam as distorções
e as desigualdades no mundo, sem que sejamos simplistas ou ingênuos
48
Inteligência Colaborativa

diante das adversidades na diversidade da vida, para a busca de maior


harmonia no planeta Terra.
As novas ciências surgem da constatação da complexidade do
ambiente em que vivemos e do crescimento sem precedentes do
conhecimento que, para ser potencializado, exige que seja ampliado o
escopo de estudo de uma ciência em suas ligações com as outras.
Nesta linha, Nicolescu30 (2000) enfatiza que, diante de um processo
de fragmentação generalizada do conhecimento, foi indispensável a
necessidade de ligações entre diferentes disciplinas, o que fez surgir, na
metade do século XX, a pluridisciplinaridade e a interdisciplinaridade.
“A pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de
uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo”
(Nicolescu, 2000, p. 15). Cita o exemplo de um quadro que pode ser
estudado pela ótica da História da Arte, junto com a Física, a Química.
Com isso, o objeto sairá enriquecido pelo cruzamento de várias
disciplinas. Aprofunda-se o conhecimento do objeto em sua própria
disciplina, com o enriquecimento de várias disciplinas.
Já a interdisciplinaridade tem um propósito diferente daquele da
pluridisciplinaridade. “Ela diz respeito à transferência de métodos de
uma disciplina para outra” (Nicolescu, 2000, p. 15).
O citado autor distingue três graus de interdisciplinaridade:

[....] a) Um grau de aplicação. Por exemplo, os métodos


da física nuclear transferidos para a medicina levam
ao aparecimento de novos tratamentos para o
câncer; b) Um grau epistemológico. Como exemplo,
a transferência de métodos da lógica formal para o
campo do direito produz análises interessantes na
epistemologia do direito; c) Um grau de geração de
novas disciplinas. A transferência dos métodos da
matemática para o campo da física gerou a física
matemática; os da matemática para os fenômenos
meteorológicos ou para os da bolsa, a teoria do caos;
os da informática para a arte, a arte informática.
Como a pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade

30 NICOLESCU, Basarab. Um Novo Tipo de Conhecimento – Transdisciplinaridade. In:


NICOLESCU, Basarab et al. Educação e Transdisciplinaridade. Brasília: UNESCO,
2000 (Edições Unesco).

49
Sávio Marcos Garbin

ultrapassa as disciplinas, porém sua finalidade também


permanece inscrita na pesquisa disciplinar (Nicolescu,
2000, p. 15).

Atualmente dissemina-se o entendimento acerca da importância da


transdisciplinaridade, “que como o prefixo “trans” indica, diz respeito
àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes
disciplinas e além de qualquer disciplina” (Nicolescu, 2000, p. 15).
Para o pensamento clássico, a transdisciplinaridade é considerada
um absurdo, pela inexistência de objeto. Já para a transdisciplinaridade,
o pensamento clássico tem um campo de aplicação apenas restrito.
Assim, diante de vários níveis de realidade, o espaço entre
as disciplinas e além delas está cheio, e as pesquisas disciplinares
e transdisciplinares são complementares. A transdisciplinaridade
é, portanto, uma nova maneira de compreender o mundo, de
forma transversal e ampliada. É uma nova maneira de lidar com o
conhecimento, sem fragmentação, no novo ambiente complexo.
D’Ambrosio 31 (1997) também explicita a importância da
transdisciplinaridade diante de um mundo complexo, com conheci-
mento fragmentado:

[....] o conhecimento fragmentado dificilmente poderá


dar a seus detentores a capacidade de conhecer e
enfrentar as situações novas. Situações essas que
emergem de um mundo a cuja complexidade natural
acrescenta-se a complexidade resultante desse próprio
conhecimento – transformado em ação – que incorpora
novos fatos à realidade, por meio da tecnologia
(D’Ambrosio, 1997, p. 10).

Propõe a necessidade de vencer a dominância do ser (substantivo)


sobre o ser (verbo), como forma de redefinir nossas relações com
o outro. Expõe a necessidade de um novo relacionamento com os
diferentes, com a natureza como um todo, e com o Cosmos em sua
totalidade e, diante disso, que seja adotada uma ética adequada aos
nossos tempos, da diversidade, cujos princípios básicos são:

31 D’AMBROSIO, Ubiratan. Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 1997.

50
Inteligência Colaborativa

[....] respeito pelo outro com todas as suas diferenças;


solidariedade com o outro na satisfação de necessidades
de sobrevivência e de transcendência e cooperação
com o outro na preservação do patrimônio natural e
cultural (D’Ambrosio, 1997, p. 58).

A transdisciplinaridade, portanto, leva a refletir sobre a educação


atual focada na especialização, em que as pessoas buscam instrumental
para aplicação imediata de como resolver algo, de forma muitas vezes
fragmentada. Remete a uma educação para a compreensão do todo
interligado que também inclua novas maneiras de aprender, em que a
pessoa possa refletir e extrair suas conclusões para evolução num novo
patamar de consciência.
E as novas ciências, num breve panorama, evidenciam que, se as
ações das pessoas forem centradas em avaliações, decisões e atitudes
colaborativas, integrativas, sistêmicas e mais conscientes, a harmonia
nos relacionamentos será um processo mais tranquilo, dinâmico e
enriquecedor, e contribuirá para a existência de um Planeta mais
sustentável.

Colaboração nos negócios entre organizações


Nos estudos sobre organizações e negócios podem ser constatadas
diversas abordagens que levam a ampliar a consciência e a exercitar
nosso pensamento acerca da colaboração.

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51
Sávio Marcos Garbin

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Porter (199032 e 199133), referenciado pelos gestores, focalizou seus


estudos na concepção de uma metodologia para o desenvolvimento de
estratégia competitiva que dê às organizações vantagem competitiva
para agregar valor e sustentar um desempenho diferenciado, com base
na análise da estrutura da indústria e da concorrência, e da otimização
da cadeia de valores, enquanto atividades que são executadas para
projetar, produzir, comercializar, entregar e sustentar o produto.
Quanto à vantagem competitiva das nações (1999), enfatizou que
a competitividade de um país depende da capacidade de inovar de
sua indústria. E que a produtividade é o único conceito significativo
de competitividade em nível nacional, pois o principal objetivo de um
país consiste em proporcionar aos seus cidadãos um padrão de vida

32 PORTER, Michael. Vantagem Competitiva: Criando e sustentando um desempenho su-


perior. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
33 PORTER, Michael. Estratégia Competitiva: Técnicas de análise de indústrias e da con-
corrência. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1991.

52
Inteligência Colaborativa

elevado e crescente; depende tanto da qualidade e das características


dos produtos (que determinam o seu preço) como da eficiência com
que eles são produzidos. Comenta que o papel apropriado do governo
é o de catalisador e desafiante, pois o governo exerce função poderosa
na transmissão e ampliação das forças que podem criar um ambiente
em que as empresas são capazes de ganhar vantagem competitiva.
As empresas conquistam uma posição de vantagem em relação aos
melhores competidores do mundo em face das pressões e dos desafios.
Beneficiam-se da existência de quatro amplos atributos de um país como
sistema, pois o impacto de um ponto em geral depende do estado dos
demais. Esses atributos são:
–Condições dos fatores. A posição do país quanto aos fatores
de produção, os insumos básicos necessários para competir num
determinado setor. Incluem recursos naturais, trabalho com pessoas
qualificadas, capital e infraestrutura (comercial e administrativa, de
informação, e científica e tecnológica).
–Condições de demanda. A natureza da demanda no mercado interno
para os produtos ou serviços do setor. Os países ganham vantagem
competitiva nos setores em que uma demanda interna proporciona
às empresas, com maior antecedência, um quadro mais nítido das
necessidades incipientes dos compradores, e em que compradores
exigentes as pressionam para inovar com maior rapidez e para conquistar
vantagens competitivas mais sofisticadas do que os rivais externos.
–Setores correlatos e de apoio. A presença ou a ausência, no país, de
setores fornecedores e outros correlatos que sejam internacionalmente
competitivos insere a importância dos clusters, aglomerados de empresas
ou arranjos produtivos locais, como agrupamento geograficamente
concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas,
numa determinada área (uma cidade, uma região, um estado, um país
ou mesmo uma rede de países vizinhos), vinculadas por elementos
comuns e complementares.
–Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas. As condições
predominantes no país, que determinam o modo como as empresas
são constituídas, organizadas e gerenciadas, as regras de governança e
um mercado interno, que intensifiquem ações focalizadas na busca de
aprimoramento e inovação.

53
Sávio Marcos Garbin

Quando Porter34 (1999) detalha a importância crescente dos


aglomerados de empresas numa economia mais complexa, dinâmica
e baseada no conhecimento, e da visão integrada dos atributos como
um sistema, ele reforça a emergência de novas formas de organização
baseadas em cooperação e colaboração. Acentua aí a importância
da cooperação local entre os vários atores de determinada cadeia
produtiva em busca de eficiência coletiva para um processo de
competição global.
Amato Neto 35 (2000), ao discorrer sobre os diversos tipos
de arranjos de redes entre empresas, também comenta sobre a
dinamicidade da cooperação entre um grupo de empresas que operam
na mesma cadeia produtiva e são estreitamente ligadas a um cliente
final na forma de agrupamentos, aglomerados (clusters) de empresas.
Ressalta as pequenas e médias, que efetivamente trabalham dentro
de uma cadeia produtiva e que, com maior integração e cooperação,
podem gerar economias coletivas para tornar uma cadeia produtiva
mais eficiente e competitiva.
Expõe o principal argumento contra a concentração de cluster:

É o fato de que os clusters combinam concentração


setorial e geográfica e podem levar determinada cidade
ou região a um estado de certa vulnerabilidade, em
face das mudanças de paradigmas nos produtos e nas
tecnologias empregadas (Amato, 2000, p. 55).

Chama a atenção, contudo, que:

[....] os clusters têm maior capacidade de sobreviver aos


choques e à instabilidade do meio ambiente do que as
empresas isoladas, em virtude da ação em conjunto e
de sua alta capacidade de reestruturação, capacidades
intrínsecas à própria forma organizacional de atuação
em rede (Amato, 2000, p. 55).

34 PORTER, Michael E. A Vantagem Competitiva das Nações in Competição – On Com-


petition: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
35 AMATO NETO, João. Redes de Cooperação Produtiva e Clusters Regionais: oportuni-
dades para as pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas: Fundação Vanzolini, 2000.

54
Inteligência Colaborativa

É um novo padrão de relacionamento interempresarial baseado


na confiança, de fundamental importância para a formação de redes
no novo ambiente de negócios.
Explicita outras formas do que denomina cooperação
interinstitucional, com a formação de redes de apoio público e
privado de promoção das pequenas e médias empresas, a exemplo de
incubadoras de empresas e parques tecnológicos, redes de apoio à gestão
e capacitação empresarial, e redes de apoio à inovação tecnológica.
Além disso, ressalta que a cooperação interempresarial pode
viabilizar o atendimento de uma série de necessidades que dificilmente
uma organização poderia suprir sozinha. Como exemplos, cita
a capacitação de fornecedores, o compartilhamento de recursos,
a utilização de know-how de outras empresas, a combinação de
competências, a exploração de novas oportunidades de produtos e
negócios com compartilhamento de riscos e custos, o intercâmbio
empresarial, a pesquisa tecnológica cooperativa etc.
Amato Neto36 (2005, p. 18) menciona, em outro estudo, que
principalmente no caso de pequenas e médias empresas, um grande
problema é a falta de competência para dominar e gerir todas as etapas
de uma cadeia de valor. Com a formação de redes de cooperação, “a
rede é que passa a dominar todas as etapas da cadeia, e cada empresa
desempenha sua função de acordo com sua competência essencial”.
Cita um outro fator a ser considerado: além do baixo poder de
barganha de que as pequenas e médias empresas dispõem, há falta de
confiança das grandes empresas em fornecedores de menor porte. Já
por meio das redes de cooperação, as pequenas e médias empresas
adquirem maior confiabilidade de seus clientes e ampliam o poder
de negociação.
Casarotto Filho e Pires37 (1998) também mostram que as pequenas
empresas podem ser competitivas, inclusive em nível internacional,
se inseridas em redes flexíveis, em que as empresas cooperam e

36 AMATO NETO, João. Redes Dinâmicas de Cooperação e Organizações Virtuais. In:


AMATO NETO, João (Org.). Redes entre Organizações: domínio do conhecimento e da
eficácia operacional. São Paulo: Atlas, 2005.
37 CASAROTTO FILHO, Nelson e PIRES, Luis Henrique. Redes de Pequenas e Médias
Empresas e Desenvolvimento Local: estratégias para a conquista da competitividade glo-
bal com base na experiência italiana. São Paulo: Atlas, 1998.

55
Sávio Marcos Garbin

colaboram entre si com o compartilhamento de funções da cadeia de


valor. Dão destaque à formação de consórcio com objetivos amplos
ou mais restritos, reforçada pela participação de toda a sociedade em
determinada região. Destacam, ainda, que as organizações devem atuar
com sinergia para o alcance de objetivos comuns de desenvolvimento
local sustentável, normalmente baseado nas vocações existentes,
mediante instrumentos de organização empresarial e formas de
estruturação de redes de empresas, o que requer pacto político,
estratégico e operativo entre empresas e instituições.
Ainda segundo Casarotto Filho e Pires (1998), uma região tem
inúmeros instrumentos de integração, entre os quais:
- consórcios de empresas (exportação, gestão de marca etc.),
redes de grandes empresas, e outras formas de cooperação e
colaboração entre as organizações;
- associações empresariais ativas, cooperativas de crédito e de
garantia de crédito;
- centro catalisador de tecnologias que integre os consórcios,
grandes empresas, universidades, centros de pesquisa e o poder
público;
- agência de desenvolvimento da região, mecanismo operativo
de um fórum de desenvolvimento;
- todos os atores locais interessados e envolvidos no desenvol-
vimento da região (empresas, governos, serviços de informação
e consultoria, bancos, universidades etc.).
Outros tipos de redes de organizações crescem em ritmo acelerado
no Brasil, desde rede de cooperativas a redes de organizações não
governamentais, culminando com redes de entidades representativas
de organizações como forma de ampliar o nível de interlocução no
ambiente de atuação. Enfim, proliferam também as redes de redes para
acelerar o fazer acontecer colaborativo.
São ações em diversas frentes que ocorrem em todo o País, de
modo integrado e articulado entre os setores público e privado. Um
exemplo é o do Movimento Brasil Competitivo (www.mbc.org.br),
criado em 2001 com a missão de contribuir expressivamente para a
ampliação da competitividade das organizações privadas, e da qualidade
e produtividade das organizações públicas de maneira sustentada.

56
Inteligência Colaborativa

Objetiva disseminar a cultura empreendedora e, em parceria com o


Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE),
implantou, em 2002, a Rede de Cooperação Brasil +, que busca promover
maior sensibilização para os conceitos de competitividade, qualidade,
gestão, inovação e produtividade para auxiliar no desenvolvimento das
micros e pequenas empresas do País.
Outro exemplo é o do Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (www.cebds.org.br), fundado em 1997,
e que representa no Brasil o World Business Council for Sustainable
Development. É uma coalizão de expressivas organizações brasileiras
que buscam criar condições no meio empresarial e demais segmentos
da sociedade para uma relação harmoniosa nas três dimensões da
sustentabilidade.
Diante da premissa de que a administração pública tem que ser
excelente sem deixar de considerar as particularidades inerentes à sua
natureza pública, já existe ampla disseminação de um instrumento de
avaliação da gestão pública com critérios de excelência em gestão.
Tal instrumento é revisto anualmente por uma rede de examinadores
voluntários, sob a coordenação do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão. Esse instrumento é um conjunto de orientações
e parâmetros para avaliação da gestão, referenciado por um Modelo
de Excelência em Gestão, com conceitos e fundamentos do Programa
Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GESPÚBLICA)
www.gespublica.gov.br. O Programa tem como uma de suas ações
estratégicas o Prêmio Nacional de Gestão Pública que, desde 1998, busca
identificar e valorizar o alto desempenho institucional e a qualidade
em gestão das instituições públicas.
No ciclo 2008/2009 houve um alinhamento dos critérios ao Modelo
de Excelência em Gestão (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade
(FNQ) www.fnq.org.br, inclusive com a inserção de uma abordagem
sobre a atuação socioambiental da organização, entre outros ajustes.
Ambos têm programas estaduais alinhados aos conceitos de excelência
em gestão, e os governos estaduais também intensificam programas de
modernização e de excelência na gestão pública, reforçando um ciclo
virtuoso de colaboração para a excelência em gestão, num ambiente
baseado em parcerias e redes.

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Cabe ressaltar que as organizações, ao firmarem alianças, podem


estar totalmente voltadas para a competição apenas com visões
particulares de aumento de bolo, para incrementar suas partes numa
divisão posterior, com colaboração de modo restrito.
Nota-se também que as alianças estratégicas evoluem para redes
de aliança, em que organizações, principalmente as de maior porte,
precisam gerir e deixar de focalizar apenas vantagens competitivas
para objetivar vantagens colaborativas, ensejando relacionamentos
ganha-ganha ampliados.
Com isso obtém expressividade o marketing colaborativo, em que
as informações dos clientes são compartilhadas por meio de redes
colaborativas entre organizações, habitualmente da mesma cadeia de
valor, para ações conjuntas e integradas.
Amidon38 (2003), que desenvolveu quatro conceitos-chave para
o que denominou Inovação do Conhecimento (Knowledge Innovation
TM), essenciais para o desafio de inovação mais rápida das empresas,
também releva a importância da parceria com o sucesso do cliente, das
redes e da vantagem colaborativa:

- O sistema de valores da inovação (e não a corrente de


valores) – a ideia da corrente de valores é linear e estática.
Esse sistema é dinâmico e mostra todas as relações
interdependentes que precisam ser desenvolvidas para
chegar-se a uma inovação bem-sucedida.
- Rede estratégica de negócios (e não unidades
estratégicas de negócios) – a administração por
meio de unidades estratégicas tende a criar ilhas
de conhecimento. Já a rede estratégica de negócios
estimula o fluxo de conhecimento entre parceiros,
clientes, fornecedores, organizações de pesquisa

38 AMIDON, Debra. Innovation Strategies for the Knowledge Economy apud EDVINS-
SON, Leif. Longitude Corporativa – Navegando pela Economia do Conhecimento. São
Paulo: M.Books do Brasil, 2003.

59
Sávio Marcos Garbin

e outros envolvidos (incluindo a concorrência) no


processo de inovação.
- Vantagem colaborativa (e não competitiva) – estratégias
competitivas geram situações de ganhar ou perder, nas
quais muitos competem por um pedaço do mesmo
bolo. As estratégias colaborativas geram situações de
ganhar ou ganhar, por meio de relações simbióticas. O
conhecimento aumenta e o bolo cresce para todos.
- O sucesso do cliente (e não a sua satisfação) – a
satisfação do cliente atende às necessidades articuladas
do momento. Concentrar-se no sucesso do cliente ajuda
a identificar necessidades não-articuladas do futuro, a
fonte do crescimento e do futuro sucesso (Amidon apud
Edvinsson, 2003, p. 145).

Numa perspectiva de ir além da competição, Prahalad e


Ramaswamy39 (2004, p. 39-47) salientam que a realidade emergente
leva a reexaminar o sistema tradicional de criação de valor centrado
na empresa, que serviu tão bem no último século.
A resposta, segundo os autores, parte de uma premissa diferente,
centrada na co-criação de valor. Começa com a mudança do papel
do consumidor no sistema industrial, decorrente basicamente
da transformação de seu papel, de isolado para conectado, de
desinformado para informado, e de passivo para ativo. São geradas
mais oportunidades de colaboração com o aumento dos pontos de
interação entre consumidores e organizações.
A formação facilitada, por exemplo, de comunidades temáticas
de consumidores e de comunidades de consumidores de interesses
semelhantes, exige uma nova dinâmica de criação de valor que
contenha quatro elementos básicos passíveis de ser combinados de
diferentes maneiras pelos gestores: diálogo, acesso, risco e transparência.
Diálogo, na concepção destes autores, significa:

interatividade, envolvimento profundo e propensão


a agir – por ambas as partes. Diálogo é mais que
ouvir os clientes. [....] Implica o compartilhamento

39 PRAHALAD, C. K.; RAMASWAMY, Venkat. O Futuro da Competição: como desen-


volver diferenciais inovadores em parceria com os clientes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

60
Inteligência Colaborativa

do aprendizado e da comunicação entre duas partes


em igualdade de condições, que buscam a solução de
problemas (Prahalad e Ramaswamy, 2004, p. 39).

O acesso considera a mudança do foco tradicional da empresa


orientada para a criação de produtos, e a transferência de sua
propriedade para os consumidores, pois considera que, cada vez mais,
o objetivo dos consumidores é o acesso a experiências desejáveis.
A avaliação de risco deve deixar de ser unilateral, com a
presunção de que uma empresa é mais capaz de avaliar e gerenciar
os riscos, mostrando de modo enfático para os consumidores quase
somente os benefícios. Num ambiente de co-criação, cabe também aos
consumidores participar da avaliação dos riscos.
O desenvolvimento de novos níveis de transparência em tempo
real se torna cada vez mais desejável, à medida que informações sobre
produtos, tecnologias e sistemas de negócios estão mais acessíveis.
Observa-se, também, que nas grandes organizações já ocorre
uma disseminação da importância da gestão estratégica da
sustentabilidade em suas três dimensões (econômico-financeira,
social e ambiental), e há uma interação estruturada com um conjunto
crescente de médias e pequenas empresas. Por meio de colaboração
entre si, podem considerar os impactos da sustentabilidade na
cadeia de valor dos negócios e adotar soluções para uma evolução
conjunta.
Mais recentemente, Porter e Kramer40 (2006, p. 52) destacam a
maior interdependência entre empresa e sociedade, e a importância
de considerar a responsabilidade social empresarial no cerne da
estratégia da organização. Dão destaque à necessidade de vincular a
atuação social com a atividade da empresa, priorizando os impactos
sociais na cadeia de valor, de modo afirmativo, proativo e integrado.
Para eles, a organização deve atuar naquilo em que estiver mais
equipada para contribuir, de modo que isso também se traduza em
maior benefício competitivo. Assim, dão ênfase à necessidade de foco

40 PORTER, Michael E.; KRAMER, Mark R. Estratégia & Sociedade. O Elo entre Vanta-
gem Competitiva e Responsabilidade Social Empresarial. Harvard Business Review, São
Paulo: Segmento RM, dezembro 2006.

61
Sávio Marcos Garbin

na cadeia de valor do negócio para a atuação das organizações nas


questões afetas à responsabilidade social empresarial.
Observa-se que algumas metodologias estão sendo disseminadas
no sentido de possibilitar que as organizações ajam estrategicamente
e de modo colaborativo para a sustentabilidade. Há uma busca para
avançar de uma visão linear da cadeia de valor, de dentro para fora
da organização, num foco circular*, com o engajamento das partes
interessadas, objetivando evitar impactos negativos e alcançar uma
transformação positiva no ambiente em que está inserida.
Uma metodologia que possibilita o pensamento estratégico
sistêmico é a The Natural Step (TNS ), desenvolvida por Robèrt41
(2003). Cita o autor (p. 80) que, “na sociedade sustentável, os fluxos
da matéria são equilibrados ou, pelo menos, não sistematicamente
desequilibrados. Os ciclos naturais envolvem a sociedade e definem
os limites nos quais devemos viver”. Ressalta (p. 25) que o pensamento
moldado no crescimento com aumento do uso de recursos limitados,
acompanhado da correspondente emissão de detritos, precisa ter uma
transição para o desenvolvimento, o que significa melhora da condição
humana, incluindo saúde, educação, informações, sabedoria e liberdade
de amar. O crescimento físico está inerentemente limitado, porém o
desenvolvimento pode continuar indefinidamente.
Ele parte da premissa de que é possível proporcionar um modelo
de pensamento sistêmico que permita planejar e avaliar as atividades
do ponto de vista da sustentabilidade futura. Calcado em uma estrutura
de referência que considera o declínio da ecosfera de sustentar as nossas
economias atuais e a própria vida, propõe quatro condições sistêmicas,
básicas para a sustentabilidade:

Na sociedade sustentável, a natureza não está sujeita a


aumentar sistematicamente as seguintes condições:

41 ROBÈRT, Karl-Henrik. The Natural Step: a história de uma revolução silenciosa. São
Paulo: Cultrix, 2003.
* Nota: cadeia de valor [....] é o conjunto de atividades criadoras de valor, desde as fontes de
matérias-primas básicas, passando por fornecedores de componentes, entrega ao consumi-
dor final até a fase pós-consumo. O relacionamento e o engajamento da companhia com
seus diversos públicos também podem ser qualificados como atividades criadoras de valor.
Questionário base 2008 – Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). São Paulo: Centro
de Estudos em Sustentabilidade – GVces/Conselho Deliberativo do ISE – CISE, 2008.

62
Inteligência Colaborativa

1. as concentrações de substâncias extraídas da crosta


terrestre;
2. as concentrações de substâncias produzidas pela
sociedade;
3. a degradação por meios físicos; e, naquela
sociedade,
4. as necessidades humanas são satisfeitas em todo o
mundo. (Robèrt, 2003, p. 276).

A quarta condição sistêmica é vital para neutralizar o desperdício


e assegurar que os objetivos das outras três sejam atingidos, inclusive
como um valor cultural compartilhado.
Partindo de princípios da ecosfera que balizam as condições
sistêmicas habitualmente utilizadas como diretrizes, a alta direção
de uma organização, juntamente com os colaboradores e as partes
interessadas, num processo participativo e cuidadoso de planejamento,
formula as estratégias e desenvolve atividades para um posicionamento
estratégico focado na sustentabilidade, que evite os efeitos negativos
de ações na natureza.
Como forma de também contribuir para negócios centrados na
sustentabilidade, Hart42 (2006, p. 79-90) propõe um modelo multidi-
mensional para a criação de valor sustentável em que as organizações
podem, ao mesmo tempo, contribuir para um mundo mais sustentável
e prosperar, agregando valor aos acionistas e à comunidade em geral.
O modelo possibilita que os gestores avaliem simultaneamente as
oportunidades e as vulnerabilidades entre o que necessitam para manter
os negócios numa perspectiva atual e os estimula na busca de soluções
para o futuro, mediante o desenvolvimento de novas competências para
inovar na criação de tecnologias limpas e numa forma de atuar mais
inclusiva, com uma visão ampliada da sustentabilidade.
Na configuração atual do negócio, focaliza internamente a
prevenção da poluição em suas operações, mediante a minimização de
resíduos e emissões. Externamente, atua no gerenciamento e manejo
de produto, integrando todas as partes interessadas no negócio, por
meio de amplo diálogo e transparente interação, e inclui o ciclo de vida

42 HART, Stuart L. O Capitalismo na Encruzilhada: as inúmeras oportunidades de negócios


na solução dos problemas mais difíceis do mundo. Porto Alegre: Bookman, 2006.

63
Sávio Marcos Garbin

inteiro do produto – acesso à matéria-prima, processos de produção,


uso do produto e seu descarte.
Concomitantemente, reposiciona-se com o desenvolvimento
de competências que sejam sustentáveis no futuro, acelerando
internamente a inovação focalizada em tecnologias limpas,
revolucionárias e sustentáveis. Procura, também, externamente, uma
forma mais colaborativa de atuar, um capitalismo mais inclusivo, com o
engajamento construtivo de todas as partes interessadas anteriormente
ignoradas pelas organizações, como oportunidade de oferecer soluções e
novos modelos de negócios para mercados anteriormente desatendidos.
Hart (200

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64
Inteligência Colaborativa

Nessa nova ambiência de sustentabilidade, transparência,


redes e colaboração, é disseminada no mercado a importância de
relatórios que contribuam para atender à necessidade das organizações
informarem a todas as partes interessadas, de forma estruturada e
padronizada, as ações desenvolvidas e a desenvolver, para suprir
lacunas na gestão, numa visão integrada dos impactos econômico-
financeiros, sociais e ambientais de suas atividades.
As metodologias próprias para os relatórios de sustentabilidade
procuram oferecer um padrão em que as organizações consigam
medir, gerir, relatar e divulgar seu desempenho em relação à
sustentabilidade.
Uma metodologia nacional que possibilita avaliar o desempenho
de empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo, nas dimensões
da sustentabilidade, e facilitar a detecção de lacunas para o
aprimoramento da gestão sustentável, é o Índice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE). Há um Conselho Deliberativo com a participação
de várias entidades, e a metodologia foi desenvolvida pelo Centro
de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração
de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-
EAESP).
Já a metodologia construída e aperfeiçoada participativamente
por especialistas de todo o mundo, da rede da Global Reporting
Initiative (GRI ) www.globalreporting.org, com sede na Holanda,
vem se expandindo em todos os continentes. Ela possibilita que
as organizações de todos os tipos e portes façam uma avaliação
equilibrada do desempenho de sustentabilidade e também possam
avaliar o estágio em que suas ações se encontram.

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Sávio Marcos Garbin

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Inteligência Colaborativa

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São redes autogestionadas pelos produtores, sem qualquer tipo


de exploração do trabalho, com a preservação do equilíbrio dos
ecossistemas, com parte dos ganhos excedentes aplicados para a
melhoria da própria rede, e com autodeterminação dos fins e autogestão
dos meios. Nessas redes, o vínculo recíproco entre as pessoas advém
de um sentido moral de co-responsabilidade pelo bem-viver de todos
e de cada um em particular, com cooperação e colaboração.
Constatam-se no Brasil e no mundo inúmeras formas de atuação
das organizações e das pessoas, no sentido da colaboração solidária.
Amplia-se o movimento do comércio solidário e o do comércio justo
(fair trade). O comércio justo diferencia-se do comércio solidário por ser
um sistema com critérios definidos e certificáveis por uma organização
independente. A certificação segue padrões internacionais de avaliação
de toda a cadeia de produção e assegura respeito ao meio ambiente,
com condições adequadas de trabalho e estabilidade financeira
aos produtores e suas famílias. Para isso, há grande quantidade de
produtos, principalmente agrícolas, que têm preço mínimo estabelecido,
além da definição de um prêmio de comércio justo, a ser pago por
unidade comercializada que forma um fundo comum aos produtores
e trabalhadores, para ser investido na comunidade.
As certificações de comércio justo (fair trade) diferem de
certificações que objetivam o mercado interno e funcionam bem para
produtos vendidos regionalmente.
O comércio justo, portanto, busca assegurar produto com
qualidade, respeito ambiental e preço justo para o consumidor
comprador, ao tempo em que proporciona maior nível de qualidade de
vida às pessoas envolvidas na produção; além de aproximar a produção
do consumo e tornar as pessoas partícipes de soluções colaborativas
para o bem-estar de todos.

67
Sávio Marcos Garbin

Assim, diante do que se pôde constatar até aqui, diversas são


as nuanças no que se refere à colaboração entre organizações no
ambiente de negócios. Tais nuanças existem sobretudo em função de
maior ou menor grau de consciência e de participação das pessoas, e
em decorrência das informações disponíveis, do estágio e da atuação
inclusiva e responsável das organizações no ambiente em que atuam.

Colaboração intersetorial – uma parceria que floresce


Um outro tipo de colaboração, chamada intersetorial, que
envolve empresas e empreendimentos sociais decorrentes de
organizações do terceiro setor (organizações não governamentais),
encontra-se num processo de florescimento sem precedentes no
País e no mundo.
O termo Terceiro Setor é relativamente novo no Brasil. Segundo
Ioschpe43 (2001, p. 13), "ele passou a ser utilizado a partir do início
dos anos 90 para designar organizações da sociedade civil, sem fins
lucrativos, criadas e mantidas com ênfase na participação voluntária,
que atuam na área social visando à solução de problemas sociais".
Para Fisher44 (2002, p. 45), “Terceiro Setor é a denominação
adotada para o espaço composto de organizações privadas, sem fins
lucrativos, cuja atuação é dirigida ao atendimento de finalidades
coletivas ou públicas”.
Diante da necessidade de as organizações se validarem perante a
comunidade, verificou-se, nos últimos anos, um engajamento crescente
do setor privado nas questões sociais mediante um processo de atuação
social mais forte.
Inicialmente as empresas buscaram parcerias com as organizações
da sociedade civil para obtenção de maior eficiência em seus trabalhos
sociais. Com maior experiência e o aprendizado decorrente do contato
com a realidade social, elas passaram a constituir as próprias fundações

43 IOSCHPE, Evelyn Berg. Terceiro Setor – Desenvolvimento Social Sustentado. São Pau-
lo: Gife, Paz e Terra. In: Empreendimentos Sociais Sustentáveis: como elaborar planos
de negócio para organizações sociais. Ashoka Empreendedores Sociais e McKinsey &
Company, Inc. – São Paulo: Peirópolis, 2001.
44 FISHER, Rosa Maria. O Desafio da Colaboração: práticas de responsabilidade social
entre empresas e terceiro setor. São Paulo: Gente, 2002.

68
Inteligência Colaborativa

empresariais, além de atuar em parcerias para a realização de projetos


sociais.
Percebem-se, com isso, uma crescente profissionalização das
organizações do Terceiro Setor no Brasil, a exemplo do que já ocorre
em diversos outros países, e também uma significativa expansão desse
tipo de organização, advinda da detecção da necessidade de promover
o desenvolvimento social sustentado, integrando diversos agentes de
uma comunidade.
Em virtude da visibilidade do Terceiro Setor na economia,
entende Fischer (2002) que o modelo explicativo do que denomina
trissetorialidade se mostra muito adequado num momento em que as
organizações do Terceiro Setor ganharam uma posição de importância.
O destaque passou às formas de organizar a participação de pessoas em
torno de atividades, interesses e objetivos comuns a certos segmentos
da sociedade:

A trissetorialidade é um sistema classificatório que


propõe agregar as organizações formais em três
categorias: a primeira, das organizações diretamente
vinculadas ao Estado; a segunda, aquelas que se
definem por sua relação com o mercado, e a terceira,
aquelas que, por sua vocação ou atividades prioritárias,
referem-se à sociedade civil. Este modo de classificar
as organizações atuantes no espaço social abre um
leque de possibilidades para a proposição de alianças
e parcerias e intensifica a possibilidade de multiplicar
as formas de relacionamento entre organizações de
diferentes setores (Fischer, 2002, p. 31).

Brown45 (2002) chama a atenção para a “cooperação crítica”.


Considera-a vital para a construção e implementação de iniciativas
conjuntas. Em essência, envolve:

[....] o reconhecimento tanto dos interesses convergentes,


quanto dos interesses conflitantes entre as partes
envolvidas. Quando os grupos podem explicitar onde
seus interesses divergem e convergem e desenvolvem

45 BROWN, L. David in FISCHER, Rosa Maria. O Desafio da Colaboração: práticas de


responsabilidade social entre empresas e terceiro setor. São Paulo: Gente, 2002.

69
Sávio Marcos Garbin

abordagens sistemáticas para sustentar os interesses


compartilhados e limitar conflitos de interesse, suas
chances aumentam para sustentar empreendimentos
colaborativos de sucesso e revisá-los para encontrar
circunstâncias de mudança (Brown, 2002, p. 17).

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Inteligência Colaborativa

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Nesse ambiente em que o valor público é obtido com todos servindo


a todos, integrando-se o público e o privado, é possível avançar do nível
de transações para um alinhamento de propósitos, valores estratégicos e
competência essenciais. Ainda nesse ambiente, as parcerias se expandem
continuamente, haja vista as redes abertas, a colaboração em massa,
a horizontalidade nos relacionamentos e a evolução do patamar de
consciência das pessoas para o bem-estar de todos.
Mesmo numa visão panorâmica, constatamos inúmeras formas
de relacionamento entre organizações como uma grande rede que
se movimenta rápida e evolutivamente, numa perspectiva mais
colaborativa de modelo mental dos gestores.

Colaboração no âmbito das organizações – uma


revolução de aprendizagem e conhecimento
No campo interno das organizações, De Geus46 (1998), estudioso
de aprendizagem organizacional, num estudo sobre empresas longevas,
constatou que elas tinham algumas características em comum,
evidenciando uma forma de funcionar que considera conceitos
de ecologia profunda, maior consciência quanto à participação e
sensibilidade na interação com o ambiente em que atuam.
Concluiu que as organizações longevas são as que apresentam
comportamento e certas características semelhantes aos de entidades

46 DE GEUS, Arie. A Empresa Viva: como as organizações podem aprender a prosperar e


se perpetuar. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

71
Sávio Marcos Garbin

vivas. A primeira é uma forte noção de comunidade e de identidade


coletiva, que se constrói em torno de propósito claro e um conjunto de
valores comuns, uma comunidade onde todos os membros sabem que
serão amparados em seus esforços para atingir os próprios objetivos.
Outra característica engloba abertura e sensibilidade para o meio
externo, reforçando sua capacidade de perceber e se antecipar ao que
ocorre de novo no mundo, e formar relacionamentos construtivos com
outras entidades. Por consequência, desenvolve-se uma capacidade
manifesta de aprender e adaptar-se a novas circunstâncias.
A terceira característica diz respeito à descentralização na gestão,
com uma tolerância para que fluam soluções por quem atua na ponta
do negócio.
A quarta característica, também considerada importante, é o
conservadorismo financeiro, em que a organização atua além da pressão
por resultados em curto prazo, no sentido de efetivamente governar o
próprio crescimento e evolução por longo tempo.
Ao enfatizar a migração do capitalismo para a sociedade do
conhecimento, cita que, com a facilidade da disponibilidade de capital,
o fator crítico de produção passou a se concentrar nas pessoas. No
entanto, ele não mudou para a simples mão-de-obra:

Ao contrário, o conhecimento tomou o lugar do capital


como fator escasso de produção – a chave do sucesso
corporativo. Todas as empresas ricas em cérebros não
podem ser geridas no velho estilo orientado para ativos.
Seus gerentes tiveram de modificar suas prioridades:
de dirigir empresas com o intuito de otimizar o capital
para gerir empresas com o intuito de otimizar as
pessoas (De Geus, 1998, p. 5).

Isto significa uma mudança de percepção de empresa estritamente


econômica para uma empresa que aprende, está viva e é saudável. É
uma organização com membros representados por pessoas e outras
instituições que aderirão a um conjunto de valores comuns, que
acreditarão que os objetivos da empresa tanto lhes permitem alcançar
os próprios objetivos como os ajudam nesse sentido, no entendimento
de que o potencial dos membros ajuda a criar potencial corporativo.

72
Inteligência Colaborativa

Dee Hock47 (2000) corrobora a visão de valores compartilhados


quando diz que estamos vivendo no limite entre um desastre
socioambiental e um futuro vivível. Podemos sair da casca das
instituições da Era Industrial para um novo mundo de mudanças
organizacionais profundas e construtivas, cuja resposta é obtida no
próprio conceito de organização, nas crenças e nos valores das pessoas.
Afirma que:

Nossas formas atuais de organização são quase que


universalmente baseadas em comportamento forçado
– em tirania, pois é isso o comportamento forçado,
por mais benigno que pareça, por mais disfarçado que
seja. A organização do futuro será a personificação
da comunidade baseada em propósito compartilhado,
falando às mais altas aspirações das pessoas (Dee Hock,
2000, p. 18).

Chama esse tipo de organização de caórdica. Caórdico considera o


somatório de caos mais ordem, e significa o comportamento de qualquer
organismo, organização ou sistema autogovernado que combine
harmoniosamente características de ordem e caos, e que tenha como
características os princípios fundamentais da evolução e da natureza:

A criação de uma organização caórdica começa com


uma intensa busca pelo Propósito, passa então aos
Princípios, às Pessoas e ao Conceito e só então à Estrutura
e à Prática (Dee Hock, 2000, p. 19).

Assim define propósito:

Uma afirmação de intenções clara e simples, que


identifica e une a comunidade como algo que vale
a pena buscar. É mais do que se quer realizar. Tem
que ser uma expressão inequívoca do que as pessoas,
em conjunto, querem se tornar. Deve falar a elas
de maneira tão poderosa que todas digam com
convicção: “Se nós pudéssemos fazer isso, minha vida
teria significado” (Dee Hock, 2000, p. 19).

47 HOCK, Dee. Nascimento da Era Caórdica. São Paulo: Cultrix, 2000.

73
Sávio Marcos Garbin

Concebe princípio como uma aspiração da comunidade, no


âmbito do comportamento, uma afirmação inequívoca de uma crença
fundamental como o todo e as partes pretendem se conduzir na
busca do propósito. Sempre tem conteúdo ético e moral, e descreve a
estrutura e o comportamento, jamais os prescreve. Todas as decisões,
ações e resultados são avaliados e julgados pelos princípios:
Propósito e princípios devem constituir um conjunto
de crenças coerente e coeso. Precisam vir de dentro
da mente e do coração dos membros da comunidade
(Dee Hock, 2000, p. 20).

Com o conjunto de crenças completo e aceito por todos do grupo,


este começa a investigar que pessoas e organizações devem participar
do empreendimento definido para que o propósito se realize de acordo
com os princípios.
Dee Hock (2000) complementa que com o propósito, os princípios
e as pessoas já definidas, descobre-se ser improvável que as formas de
organização permitam que essas pessoas atinjam o propósito de acordo
com seus princípios. Um novo conceito de relações na organização
deve ser considerado, conceito no sentido de uma visualização das
relações entre todas as pessoas, que lhes permita buscar o propósito
de acordo com seus princípios, uma estrutura que todos considerem
equitativa, justa e eficiente, com os direitos e obrigações de todos os
futuros participantes da comunidade.
Por fim, deve haver a materialização de propósito, princípios,
pessoas e conceito num documento escrito, capaz de criar realidade
legal e jurisdição apropriada. Desta forma:
Com propósito e princípios claros, as pessoas certas,
um conceito eficaz e estrutura adequada, a prática será
altamente focalizada e eficiente porque o espírito, o
comprometimento e engenhosidade serão liberados
(Dee Hock, 2000, p. 25).

Motomura48 (2003, p. 2) enfatiza a organização biológica como


um organismo vivo, onde “todos os seus componentes são seres vivos,

48 MOTOMURA, Oscar. Gestão Biológica: a forma integrativa de conduzir organizações à


sustentabilidade total. São Paulo: Amana-Key, 2003.

74
Inteligência Colaborativa

autônomos, embora interdependentes enquanto conjunto – e não peças


inanimadas de um grande e complexo mecanismo”.
Mesmo com a existência de obstáculos à adoção da organização
como um organismo vivo, a exemplo de uma cultura de competição
predatória, muitas vezes até internamente, onde um bom número de
executivos ainda vê a organização como algo isolado em relação ao seu
ambiente maior, percebe-se uma evolução da consciência.
Alguns fatores de evolução têm levado à visão das organizações
como organismos vivos:

- consciência geral de que a organização é parte


integrante de um organismo maior e não algo isolado;
- emergência de um pensamento sistêmico, que mostra
que o todo é maior do que a soma das partes;
- a busca por desenvolvimento sustentado e otimização
contínua do conjunto e não maximizações das partes;
- a visão de que cada pessoa (sempre considerada no
seu todo) é um organismo autônomo (e, portanto,
totalmente “independente” em princípio);
- a evolução contínua dos modelos mentais dos
participantes de organizações de todo tipo (Motomura,
2003, p. 3).

Uma organização biológica exige uma transição para o paradigma


do todo integrado, interconectado e interdependente, e deve ser
acompanhada por uma transformação profunda em termos de
pensamento e valores das pessoas.
No mesmo sentido, Straus49 (2003), ao estudar a colaboração
produtiva, menciona o que considera uma organização colaborativa
ideal:

[...] se basearia nos principais valores da dignidade


humana, na crença do direito dos stakeholders de
se envolver e no compromisso com o processo
colaborativo. Também se esforçaria para ser responsável
nos campos social e ambiental (Straus, 2003, p. 187).

49 STRAUS, David. Criando Colaboração Produtiva: 5 formas de obter colaboração das


equipes e aumentar resultados. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

75
Sávio Marcos Garbin

Afirma que a missão e os valores da organização seriam abertamente


apresentados a toda a comunidade e se tornariam uma fonte de orgulho
e motivação para os colaboradores. Ressalta a importância de confiar nas
pessoas, de modo que elas se envolvam, propiciando-lhes o desenvolvimento
de habilidades, dando-lhes ferramentas e informações para que trabalhem
colaborativamente. Concebe uma organização colaborativa como mais
responsiva e adaptativa às mudanças no ambiente externo, e enfatiza a
importância do alinhamento organizacional para a colaboração:

Para reforçar e apoiar a colaboração, diversos


componentes organizacionais precisam estar
alinhados, entre eles liderança, estrutura, estratégia,
tecnologias de apoio, o sistema de recompensa,
habilidades essenciais e cultura empresarial (Straus,
2003, p. 27).

Dessa forma, os sistemas de informação, auxiliados pelas novas


tecnologias que já exigem das organizações serem mais abertas
e colaborativas com seus colaboradores, permitem comunicação
de qualquer um para qualquer um, com um fluxo livre. O acesso
às informações relevantes sobre o negócio, seus clientes e seu
ambiente externo é imediato, para melhorar a qualidade das decisões
colaborativas.
Há efetiva gestão do conhecimento, com a utilização de tecnologias
para apoiar o compartilhamento do conhecimento e as melhores
práticas de uma parte da organização com outra. Encorajam-se o
aprendizado contínuo dos colaboradores e o estímulo à aquisição de
novas habilidades relevantes, inclusive por iniciativa própria.
Quanto à formulação da estratégia, o maior número possível de
colaboradores se envolve no desenvolvimento das principais estratégias,
da visão, da missão e dos objetivos de longo prazo, para poder entender
e também ser co-proprietário desses elementos.
Afirma também Straus50 (2003) que numa organização colaborativa
seus líderes estão comprometidos com a colaboração, apoiam a ação
colaborativa nas mais diversas situações e agem de maneira coerente
com valores colaborativos.

50 STRAUS, David, 2003.

76
Inteligência Colaborativa

Vale ressaltar que, num novo contexto em que as organizações


buscam beneficiar os acionistas e também a todos os interessados e
envolvidos, incluindo o meio ambiente, Henderson e Sethi51 (2007,
p. 32) chamam a atenção para a intensa participação de acionistas
ativistas, o que denominam capitalismo participativo, como um
novo modelo para o futuro. Talvez também possamos denominá-lo
capitalismo responsável, como disse John Elkington52 (2001, p. 28).
Tudo isso leva a refletir que é muito importante descobrir uma
base comum de modelos de organizações de aprendizagem que vão
ao encontro das novas ciências, numa percepção de que as inovações
na área de administração de empresas virão principalmente de outras
ciências. Dentro ainda dessa percepção, neste século, haverá muitas
inovações nos processos de gestão, para acompanhar o ritmo evolutivo
de atuação colaborativa das pessoas e das organizações, permeados
pelo entendimento de que os resultados vão além do curto prazo dos
números, e de que as pessoas podem contribuir mais efetivamente
quando co-criarem e fizerem acontecer com significado compartilhado
e propósito elevado.
Um exemplo simples, entre inúmeros no contexto de organização
colaborativa e´ a evolução das reuniões de ponto de controle às
reuniões e encontros de sintonia, em que também seja estimulado
o compartilhamento com todas as unidades do fazer acontecer, por
intermédio de representantes de um conjunto de unidades. Como
inexiste apresentação isolada de uma pessoa ou de uma unidade, já
na preparação ficam assegurados a colaboração e o compartilhamento
mais detalhado de soluções. Entre inúmeras possibilidades e exemplos,
a colaboração, ao ser estimulada nas mais diversas ações, passa a
ser habitual, e é internalizada tranquila e naturalmente, de modo
crescente e evolutivo.
As observações citadas anteriormente também destacam
que é fundamental o desenvolvimento de competências humanas
para um novo patamar de consciência que possibilite emergir o

51 HENDERSON, Hazel; SETHI, Simran. Mercado Ético: a força do novo paradigma


empresarial. São Paulo: Cultrix, 2007.
52 ELKINGTON, John. Canibais com Garfo e Faca. São Paulo: Makron Books, 2001.

77
Sávio Marcos Garbin

compartilhamento de significados voltados para a essência da vida,


para relações mais efetivas e afetivas das pessoas em comunidade,
se vá além das aparências e do imediatismo, com ações apenas nos
efeitos, atingindo a essência para o que realmente importa e que está
no âmago das pessoas.
Precisamos rever nosso modelo mental, despojando-nos de uma
bagagem que contenha egocentrismo e valores individualistas baseados
em competição e consumo exacerbados, que nos causam enfermidades
e nos paralisam. Devemos pensar sobre o futuro com a cabeça no
futuro, em que as pessoas se movam para o bem-comum, o bem-estar
de todos.
No âmbito das organizações, a crise de paradigmas ocorre
como resultado dos modelos mentais dos gestores, pelas percepções
de realidade em muitos casos distorcidas por meras replicações de
conhecimentos explícitos para resultados imediatos, obtidos muitas
vezes de outros lugares e aplicados em contextos diferentes, com base
em informações que são absorvidas sem maior aprofundamento ou
adequação e sem inserção ponderada no ambiente da organização.
Isso acontece porque construímos o mundo segundo nossa mente,
daquilo que pensamos. Limitamo-nos ou aprendemos em função do
nosso modelo mental, da maneira pela qual nossa mente interpreta
informações e de como essas informações fazem sentido para nós,
como pensamos e interpretamos os fatos, o que também é conhecido
pelo nome de crença.
O modo como pensamos nos dá uma percepção de mundo,
uma percepção de como agir. Criamos padrões e referenciais que são
fixados, arraigados pela educação recebida, por experiências, estímulos,
influências de pessoas e o meio em que vivemos, nossa interação com
o ambiente.
Uma ênfase em competição recebida ao longo da vida dá um
sentido para a ação, no entanto, nos tolhe para uma visão integrativa
e sistêmica de mundo. E a competição, se levada ao extremo pela
própria competição, com o objetivo de ganhar mais e mais, de ambição
e ganância, só amplia a rivalidade e o antagonismo entre as pessoas,
aumentando as desigualdades e os desequilíbrios.

78
Inteligência Colaborativa

Já a competição com os pressupostos da inteligência colaborativa


leva as organizações a colaborarem, num outro patamar de pensamento,
para a competitividade. Expande os limites da consciência dos gestores,
de modo que evoluam na compreensão de que estão no Planeta para
servir e têm grande responsabilidade, como líderes e empreendedores,
no sentido de contribuir com o bem-estar de todos nas ações que
estiverem ao alcance de cada um.
Os gestores também têm a responsabilidade de contribuir com a
expansão da consciência dos colaboradores, para inseri-los efetivamente
no novo contexto da colaboração.
Precisam estimular a aprendizagem colaborativa e agir para
contribuir com a adoção de ações ecológica e socialmente corretas,
conscientes de que no novo mundo da colaboração jamais podemos
pensar isoladamente nas soluções, pois algo aparentemente
inexpressivo pode ter grande impacto e transcender os limites da
organização ou comunidade. Uma estrada vicinal de terra, que liga
localidades próximas, exige cuidados adequados e conjuntos por
parte dos gestores dessas comunidades que ela serve. Isso evita que
a enxurrada da chuva provoque erosão do solo e assoreamento num
rio vital para milhares de pessoas ao longo dessas e outras inúmeras
comunidades, que também merecem especial atenção de todos, numa
visão integrada, ampliada e sistêmica.

Colaboração digital – rumo à maciça participação


das pessoas
Numa comunidade virtual, as pessoas mais rapidamente podem
se identificar com outras e colaborar por afinidade, por semelhança de
propósitos, por interesses comuns compartilhados.
E a convergência de dados, de imagem e voz, conjugada com
conexões cada vez mais rápidas, propicia uma condição ímpar
para que a interação e a colaboração ocorram. Eis o porquê de a
colaboração digital estar ganhando contornos importantes para
estimular e revolucionar novas formas de participação e mobilização
das pessoas, desde o movimento do software livre, que permite a cópia,

79
Sávio Marcos Garbin

o melhoramento e a distribuição em rede, à Web colaborativa, que


evoluiu do provimento de conteúdo para as interações e comunidades
dinâmicas on-line. Ampliou-se a possibilidade de redes facilitadoras de
expressão, compartilhamento de ideias, criação planetária, instantânea
e em tempo real e aprendizagem e inovação colaborativa.
A organização disso tudo possibilitará maior rapidez e melhor
qualidade na busca de respostas e na elaboração de propostas para
questionamentos e atendimento a necessidades, individuais ou coletivas.
No transcorrer de nossa vida e no dia-a-dia, estamos inseridos na
sociedade por meio de redes sociais, redes que hoje prescindem do
espaço físico e geográfico para se formarem, com o avanço dos meios
de comunicação. São pessoas que se identificam em termos de ideias,
e seus valores e interesses são compartilhados.
Um verdadeiro processo de colaboração maciça, em que as pessoas
rapidamente se manifestam acerca do que sabem ou do que acreditam,
procuram se conhecer e podem se encontrar, numa convergência que
se acentuará com maior integração de mídias.
Nas organizações, os mecanismos de colaboração digital são cada
vez mais importantes, acompanhados de políticas organizacionais que
estimulam e sincronizam os ambientes colaborativos virtuais com os
físicos.
Num ritmo de mudança sem precedentes, em que a Internet se
torna mais acessível e inclusiva em nível global, multiplicam-se as
possibilidades de colaboração maciça entre as pessoas. E a colaboração
maciça evoluirá e ocorrerá em patamar mais elevado de consciência,
quando as pessoas cooperarem e colaborarem para a melhoria do
bem-estar de todos.
Com isso, é de suma importância que ocorra uma interconexão
colaborativa proposital sempre que houver interação com alguém,
por meio digital, fixando o pensamento no todo, além do grupo de
afinidade.
Essa energia, essa atmosfera positiva da colaboração contribuirá
mais rapidamente para o bem de todos e do Planeta, num mundo virtual
pronto para ser utilizado, em tempo real, na facilitação das atividades,
na interação positiva das pessoas, da rede de pessoas e das redes de
redes de pessoas.
80
Inteligência Colaborativa

Numa comunidade, a fundamental contribuição está na expressão


participativa e no empenho com nosso talento e singularidade,
compartilhando experiências e conhecimento, mediante diálogos e
ações estimulantes para um mundo colaborativo.
Nas comunidades digitais, ao mesmo tempo em que a
comunicação é facilitada, pois inexistem barreiras iniciais decorrentes
de preconceitos, percepção e conhecimento da outra pessoa, pode
haver um estímulo ao isolamento que afeta os relacionamentos. Por
isso, é consentâneo ressaltar a importância do equilíbrio entre o digital
e o pessoal, de modo que haja compartilhamento de experiências no
mundo virtual, com base na realidade vivenciada ao tempo em que
a participação e a convivência entre as pessoas sejam estimuladas.
Uma comunidade virtual pode potencializar a colaboração entre
as pessoas, haja vista a grande facilidade para a formação de redes
colaborativas. Como as redes colaborativas evidenciam horizontalidade
nos relacionamentos, comunicação fluida e descentralizada, há
possibilidade de uma participação mais efetiva de seus membros,
criando reais condições para que elas sejam sustentáveis.
Com grande ressonância, surge uma nova ciência, a das redes,
que busca estudar o modo como elas são formadas e como ocorrem
as conexões e as ligações entre seus componentes.
Ba

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Sávio Marcos Garbin

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Num mundo digital em rede, em que podemos ter acesso às


informações e interagir com as pessoas de todo o Planeta, com um ou
poucos cliques, somos estimulados a refletir para melhor compreender
a importância das conexões.
De outra forma, se a vida é uma rede de conexões, de moléculas,
de células, de pessoas, de seres vivos, conhecer uma ou outra parte
isoladamente apenas dá uma visão fragmentada do todo. E sabedores
de que, numa comunidade digital, as interações acontecem por meio
de um equipamento, elas só reforçarão o sentido de comunidade
colaborativa se partirem daquelas intencionalmente colaborativas e
voluntárias entre os membros, os participantes.
São redes de pessoas que podem interagir e contribuir,
cooperando e colaborando de formas inimagináveis até pouco tempo,
desde a construção cooperativa e colaborativa de soluções sistêmicas
em tempo real até a otimização em conjunto de equipamentos pessoais
para o bem-estar de todos, mesmo quando sem utilização. Um exemplo
disso é agilizar pesquisas que beneficiam a humanidade, participando
como voluntário na cessão do tempo não utilizado do computador
pessoal, para imprimir maior rapidez ao processamento de pesquisas
visionárias e inovadoras em vários lugares do mundo, priorizadas pela
comunidade científica mundial e que exigem grande capacidade de
processamento, como o www.worldcommunitygrid.com.
Eu tive um professor que sempre dizia que, quando o propósito
é bom e nobre, metade do caminho já foi percorrido para o
desenvolvimento de um projeto. A outra metade exige transpiração

82
Inteligência Colaborativa

para fazê-lo acontecer, porém tudo é facilitado pela intenção inicial,


que ajuda no encaminhamento e contribui para a sua concretização.
Num contexto de Web colaborativa, as possibilidades de soluções
participativas e inclusivas que facilitem a vida das pessoas em todo o
Planeta são exponenciais, o que potencializa a inovação colaborativa,
além de novos e variados tipos de organizações globais.
Com a elevação de nossa consciência, a compreensão de que
somos interligados e que juntos podemos fazer a diferença para um
mundo colaborativo, fica mais fácil avançar e evoluir na participação
de comunidades digitais. Isso intensifica a construção de soluções
sustentáveis que nos tornam mais próximos, num Planeta em
equilíbrio e possibilita a aprendizagem, a mobilização e a inclusão
das pessoas para a colaboração maciça, em que todos podem servir
a todos.

Cidades – comunidades de colaboração e capital


social potencializado
Ao extrapolar o conceito de organização ou o conceito de comunidade
para uma cidade, há uma percepção ampliada em que as pessoas, mesmo
com suas diferenças, podem, sim, ter semelhanças de propósitos e elaborar
um projeto de futuro que as leve a agir e atuar de modo colaborativo.
Em ecologia, uma comunidade é denominada de ecossistema.
Kiuchi e Shireman53 (2003, p. 211) definem que “ecossistema não designa
exclusivamente os ecossistemas naturais em que costumamos pensar;
designa toda e qualquer comunidade dinâmica e interdependente de
seres vivos”.

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Trecho disponível na versão impressa.

53 KIUCHI,Tachi e SHIREMAN, Bill, 2003.

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Do exposto, depreende-se que o capital social, entendido como
a capacidade de as pessoas se relacionarem e atuarem juntas, em
verdadeiras redes colaborativas, visando a objetivos comuns numa
coletividade, tem como premissas o compartilhamento de valores e
normas que favoreçam o nascimento da confiança.
Granell e Vila54 (2003), ao relatarem o exemplo da cidade de
Barcelona, expressam a importância de uma cidade como comunidade
educativa e participativa:

A cidade tem sido historicamente um lugar de encontro


e de civilização. Desde seu aparecimento, há mais de
seis mil anos, a cidade tem sido estreitamente vinculada
ao conceito de cidadania e cultura. Na antiguidade, a
cidade era a polis, a civitas, o lugar supremo no qual
acontecia a participação, a vida coletiva, a civilização
e a cultura (Granell e Vila, 2003, p. 17).

No entanto, ressaltam que as cidades se encontram em crise,


em decorrência da perda de sua função comunitária, educativa ou
civilizadora. E, para resgatar essa capacidade, só com educação que
fomente a consciência social e qualifique as pessoas como cidadãs
para a vida em comunidade. Expressam que as cidades precisam
promover valores e atitudes que permitam uma participação crítica
e ativa das pessoas e uma vida respeitosa às diferenças e orientada
para a paz, para a solidariedade e para o desenvolvimento com
sustentabilidade. Que também haja um projeto educativo de cidade,
mediante um planejamento estratégico que estimule a reflexão dos
munícipes e a participação cidadã, em que cada pessoa, cada agente,
em seu âmbito de atuação, assuma sua responsabilidade educativa,
em prol do bem-estar do conjunto da sociedade.
Do exposto, no meu entendimento, torna-se vital investir na
educação cidadã e colaborativa já nas escolas, criar espaços para
engajamento cidadão e colaborativo, estimular a educação e ações para

54 GRANELL, Carmen Gómez; VILA, Ignácio. A Cidade Como Projeto Educativo. Porto
Alegre: Artmed, 2003, p. 17.

88
Inteligência Colaborativa

a sustentabilidade e desenvolver redes colaborativas de responsabilidade


cidadã, que conjuguem, de modo integrado, os governos municipais e
a sociedade civil. Potencializa-se, com isso, o capital social, mediante
a criação de círculos virtuosos na comunidade, baseados em ações
desenvolvidas com cuidado, civilidade e focalizadas no interesse
público, que transcendem para a região.
Dowbor55 (2007) também salienta que uma sociedade organizada
em torno de seus interesses é o que funciona para possibilitar a inclusão
produtiva dos mais desfavorecidos e organizar oportunidades para eles.
Isso enseja que, ao buscar um desenvolvimento local sustentável, se saia
de um foco de oferta de soluções por parte dos governantes, de cima para
baixo, e se busque uma articulação entre os integrantes da comunidade.
Significa dar informações e instrumentos para que as pessoas se apropriem
do bem que coletiva e colaborativamente podem fazer.
Entre exemplos, cabe citar que já são constatadas mudanças, como
os sistemas descentralizados em lugar de sistemas centralizados de
gestão pública municipal, desde o orçamento participativo à alocação
de orçamento estadual por região, em que os gestores municipais
precisam trocar ideias e priorizar suas ações de modo integrado.
Existem ações no sentido de que os munícipes se unam e constituam
uma organização social local apartidária, fomentando a educação e
a mobilização cidadã para comprometer a sociedade e os governos
com o desenvolvimento justo e sustentável da cidade. O movimento
denominado Nossa São Paulo (www.nossasaopaulo.org.br), na cidade de
São Paulo, é um deles. Foi lançado em maio de 2007, com a participação
de mais de 500 organizações da sociedade civil, e se desenvolve em
quatro eixos:
- indicadores e metas, com objetivo de selecionar e sistematizar
os principais indicadores de qualidade de vida para a região de
cada subprefeitura, de modo que possam servir de base para
a sociedade civil e os partidos políticos, e que os sucessivos
governos se comprometam com programas e metas para São
Paulo; um outro objetivo é o de organizar um banco de dados
sobre iniciativas exemplares de sustentabilidade urbana;

55 DOWBOR, Ladislau. Inovação Social e Sustentabilidade. São Paulo: 2007. Disponível


em http://www.dowbor.org/artigos.asp Acesso em 28/04/2008.

89
Sávio Marcos Garbin

- acompanhamento cidadão, com objetivo de comunicar e


tornar disponível, com atualização periódica e regular, a
evolução dos indicadores relativos à qualidade de vida em cada
subprefeitura, de forma que eles possam ser acompanhados
por toda a sociedade; fazer o monitoramento sistemático dos
trabalhos da Câmara Municipal; mobilizar a população para o
acompanhamento do orçamento municipal; realizar pesquisas
anuais de opinião pública, para conhecer e divulgar a percepção
da população sobre as várias ações municipais em todas as
regiões administrativas da cidade;
- educação cidadã, com objetivo de realizar ações e campanhas e
alcançar mudanças no comportamento da população; revalorizar
o espaço público, e melhorar a auto-estima e o sentimento de
pertencimento a uma cidade, que é de todos e que deve ser
cuidada por todos;
- mobilização cidadã, com objetivo de incentivar a incorporação de
novas lideranças, empresas e organizações sociais ao movimento;
constituir fóruns nas regiões de todas as subprefeituras de
São Paulo; manter um portal na Internet como um canal de
comunicação efetivo entre redes, imprensa e sociedade civil, e
gerar exemplaridade para outras cidades, estados e regiões do
Brasil.
Das organizações sociais locais surgiu, em 2008, a Rede Social
Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, com o objetivo de
amplo compartilhamento de experiências, aprendizado mútuo,
aprimoramento e fortalecimento das redes locais.
Com isso, as decisões passam a ser baseadas em projetos
concebidos por pessoas nas comunidades, comunidades inteligentes
que aprendem a agir e reivindicar, participativa e colaborativamente,
de modo estruturado, e são formados consórcios municipais para
ações integradas que considerem a região.
Dowbor 56 (2000), num outro estudo em que discorre sobre
uma comunidade inteligente, mostra experiências de gestão local e
inúmeros exemplos de mudanças em administração de cidades. Chama

56 DOWBOR, Ladislau, com colaboração de Lilia Martins. A Comunidade Inteligente (vi-


sitando as experiências de gestão local). São Paulo: Instituto Pólis, 2000.

90
Inteligência Colaborativa

a atenção para a necessidade de que a inovação e a modernização


transformem as técnicas e também promovam alteração nas relações
sociais, mediante a construção de um ambiente de transparência
efetiva, de respeito mútuo, de dignidade nas relações, e de honestidade
na apresentação de problemas e propostas de solução.
Das diversas experiências apresentadas, algumas características
sobressaem. A primeira é a de uma nova arquitetura de articulações
sociais: são parcerias de diversos tipos, convênios entre diversas
instituições, consórcios intermunicipais, acordos, contratos ou até
simplesmente um espaço informal de articulação, tendo como
ponto-chave a renovação da governança local para decisão conjunta,
participativa, de atores que até então agiam isoladamente. Outra
característica, diretamente ligada à primeira, é a busca de equilíbrio
dos diversos interesses, por meio de relações ganha-ganha.
Dowbor (2000) também chama a atenção para a necessidade da
orientação por resultados e do entendimento de que uma atividade
que funciona representa sempre um ciclo completo. Como exemplos, a
geração de uma incubadora de empresas, que precisa vir acompanhada
de mecanismos de crédito, de educação em tecnologias inovadoras, e de
parcerias entre universidades e empresas para a transferência de tecnologia;
e a implementação, por parte do poder público, de políticas de estímulo
e fomento à inovação e ao desenvolvimento local e sustentável etc.
O conceito de comunidade inteligente para as cidades leva a outro:
o das cidades do conhecimento, que focalizam empresas e cidadãos
trabalhadores do conhecimento, potencializando as vocações locais e
regionais, em harmonia com melhores condições para a qualidade de
vida sustentável dos moradores.
No lugar de distritos industriais voltados para o passado, em
que as prefeituras cediam terra e benefícios fiscais, são projetados
e desenvolvidos parques tecnológicos, ou tecnópolis, integrados a
soluções que levem as pessoas a ter maior bem-estar e qualidade de
vida, com sustentabilidade.
Na concepção do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos, “os
parques tecnológicos consistem em empreendimentos criados e geridos
com o objetivo permanente de promover a pesquisa, o desenvolvimento
e a inovação tecnológica, estimular a cooperação entre instituições de
pesquisa, universidades e empresas e dar suporte ao desenvolvimento
91
Sávio Marcos Garbin

de atividades intensivas em conhecimento”. Eles reúnem na mesma


área delimitada empresas de base tecnológica, instituições de pesquisa,
incubadoras, universidades (às vezes nos arredores do parque) e
infraestrutura de apoio (espaço para eventos, feiras, exposições etc.).
Já a tecnópolis ou tecnópole, segundo Fiates e Pires57 (2002), é um
“sistema urbano articulado que integra agentes locais e externos para
o desenvolvimento tecnológico regional, baseado numa estratégia de
desenvolvimento sustentável”.
Spolidoro58 (1997, p. 32-48) também elucida que o processo
de transformação tecnopolitana se insere num contexto inovador de
desenvolvimento regional que seja democrático, socialmente justo,
ecologicamente sustentado, promotor de elevada qualidade de vida e
capaz de facilitar a inserção das organizações e regiões na economia
global da sociedade do conhecimento.
Ele ressalta a importância da elaboração de um projeto regional
para o futuro, inovador e construído progressivamente com base
em iniciativas estruturantes ou condições necessárias para inserção
da cidade ou região na sociedade do conhecimento. Algumas
das iniciativas são: povo com elevada educação; instituições
de ensino e pesquisa de excelência; políticas governamentais
adequadas e ecologicamente corretas; condições favoráveis a novos
empreendimentos; ambiente propício à inovação; iniciativas locais
de articulação entre os vários setores da comunidade; organização
adequada do território; infraestrutura adequada etc.
Uma entre muitas possibilidades de ação é: do proprietário de terra
que antes a vendia, para um proprietário que a ceda para implantação
da infraestrutura, por parceiros diversos, cabendo-lhe explorar uma
rede de comércio e de serviços, a exemplo de lanchonete, hotel, posto
de gasolina etc. Maximiza-se o ganho para todos, numa relação ganha-
ganha-ganha, a partir de uma ação integrada e colaborativa.

57 FIATES, José Eduardo; PIRES, Sheila Oliveira (Coord.); BAETA, Adelaide Maria
Coelho; SILVA, Rosa Maria Neves da (Org.). Glossário Dinâmico de termos na área
de tecnópolis, parques tecnológicos e incubadoras de empresas. Brasília: ANPROTEC/
SEBRAE, 2002.
58 SPOLIDORO, Roberto. A Sociedade do Conhecimento e seus Impactos no Meio Urba-
no. In: PALADINO, Gina G.; MEDEIROS, Lucília Atas (Org.). Parques Tecnológicos e
Meio Urbano: artigos e debates. Brasília: ANPROTEC, 1997.

92
Inteligência Colaborativa

Numa cidade do conhecimento, portanto, há concentração de


pessoas qualificadas, numa ambiência empreendedora e colaborativa
de alta tecnologia e de elevados índices educacionais. Há participação
ativa das comunidades acadêmica e científica com a empresarial e a
governamental.
Amplia-se, portanto, a consciência de que as organizações do
conhecimento poderão ser formadas e atraídas, se houver condições
a serem oferecidas no novo contexto da sociedade do conhecimento.
Organizações e cidadãos trabalhadores do conhecimento se
instalam em cidades aprazíveis e seguras que busquem oferecer
qualidade de vida diferenciada, em equilíbrio com a natureza, além de
rede tecnológica e de conhecimento que forneça o suporte e facilite a
operação dessas organizações.
Ganha a comunidade, pois o comércio é revigorado, os serviços
são ampliados, as escolas aprimoram a formação de empreendedores
sustentáveis, e a cidade, enfim, se revitaliza.
Trata-se de cidades que nos levam a outras, denominadas criativas.
Charles Landry é um dos pioneiros nessa perspectiva, e se faz presente
junto com vários especialistas no e-book Creative City Perspectives,
organizado por Ana Carla Fonseca Reis e Peter Kageyama. Landry
cita que no movimento das cidades criativas as principais expressões
abordadas foram: a cultura, as artes, o planejamento cultural, os recursos
culturais e as indústrias culturais.
Ele frisa que a cidade criativa é um lugar que estimula uma cultura
de criatividade, envolvendo toda a comunidade, e gera uma atmosfera
propícia à atração de talentos e organizações criativas. A valorização da
cultura deve moldar o planejamento urbano e o desenvolvimento da
cidade, com visão de futuro baseada em capacidade cultural distintiva,
naqueles recursos culturais que ela tem, que a diferenciam e são únicos,
especiais. Esses recursos culturais incluem o patrimônio histórico,
industrial e artístico, as tradições locais da vida pública, festivais,
alimentos, culinária, atividades de lazer, dentre outros citados.
Reis e Urani, na mesma publicação (2009, p. 26), ressaltam também
a importância de uma cultura que amplie a singularidade de produtos e
serviços e agregue valor às indústrias culturais e também às indústrias
tradicionais, a exemplo de moda e têxtil, arquitetura e construção civil.

93
Sávio Marcos Garbin

Depreende-se que essa capacidade cultural distintiva, essa singularidade


pode ocorrer na arte, no design, em todas as formas que estimulem a
criatividade.
Quando Landry (2009, p. 12) comenta que a criatividade e a
inovação estão ligadas, para que se possa produzir de modo eficiente
e sustentável bens e serviços inovadores na fronteira tecnológica, ele
dá ênfase à importância da colaboração. A criatividade em qualquer
campo exige atitude de abertura, flexibilidade e capacidade de pensar
além de disciplinas e fronteiras. As inovações requerem ambientes de
trabalho em que as pessoas compartilhem e colaborem para vantagens
mútuas, e o ambiente físico urbano possibilita que as pessoas se sintam
encorajadas a se engajar, comunicar e compartilhar.
Assim, do mesmo modo que nas organizações empresariais,
as comunidades que se formam nessas cidades do conhecimento,
inteligentes, criativas e inovadoras, dão importância à existência de
propósitos explicitados e compartilhados, a uma cultura de colaboração
e de estímulo à inovação e à otimização das potencialidades. São focadas
no futuro, humanizadas, sustentáveis e com maior nível de qualidade de
vida para todas as pessoas que nelas convivem.
Nessas cidades, as pessoas concebem uma visão com um
planejamento participativo de longo prazo que facilita, no meu
entendimento, suprir uma das grandes lacunas na gestão pública,
qual seja, a descontinuidade que afeta a conclusão de boas iniciativas,
desmerecendo, muitas vezes, o contexto, a conjuntura vivenciada
na gestão ou em gestões anteriores, num modelo pouco agregador e
prejudicial à evolução de relações mais colaborativas.
Com isso, possibilita que os seres humanos evoluam de
comportamentos mais egocêntricos, de um estágio inicial de consciência
para a colaboração, quando esta se restringe a círculos familiares, em
ajuda a pessoas próximas, até níveis elevados de consciência e confiança,
quando a colaboração é centrada no bem-estar social.
Dessa forma, ampliar a mobilização cidadã, para a ação centrada
no bem comum, consciente da importância da colaboração com o
objetivo da boa convivência dos seres humanos em harmonia com
todo o ecossistema do Planeta, reforça a necessidade de discernimento,
de maior compreensão de uma inteligência capaz de ser estimulada,
denominada Inteligência Colaborativa.
94
Parte 2

Inteligência Colaborativa – Uma construção


numa perspectiva positiva e valorativa
de um novo mundo
Inteligência Colaborativa – uma
nova síntese

Vivemos a complexidade de um novo mundo que exige


compreensão ampliada e ações efetivas sobre aquilo que hoje é possível
fazer acerca da evolução das pessoas para a sustentabilidade da vida
no planeta Terra, ou seja, somos seres humanos num processo de
aprendizagem colaborativa e espiritual.
Para uma vida harmônica com o todo, é vital a elevação da
consciência na busca de significados comuns que mobilizem e propiciem
maior colaboração rumo a um fazer acontecer coletivo em harmonia,
e que aumentem as possibilidades de todos serem mais felizes naquilo
que realizam em seu cotidiano, por meio de relacionamentos baseados
em confiança e interações positivas nas comunidades das quais as
pessoas fazem parte.
A proposta que apresento, no sentido de potencializar uma
mobilização para a colaboração, é o estímulo ao desenvolvimento
da inteligência que se pode denominar colaborativa. Inteligência
colaborativa: uma nova síntese que possibilita a aceleração da inteligên-
cia coletiva para maior equilíbrio na busca da sustentabilidade da vida,
numa forma mais elevada de consciência, que objetive o bem comum.
Quando comento sobre elevação da consciência, utilizo a
concepção de Barret59:

59 BARRET, Richard. Libertando a Alma da Empresa: como transformar a organização


numa entidade viva. São Paulo: Cultrix, 2000.

97
Sávio Marcos Garbin

Um estado de conhecimento do eu (pensamentos,


sentimentos, idéias) baseado num conjunto de crenças
e valores dentre os quais a realidade é interpretada. A
passagem para um estado mais elevado de consciência
implica mudanças nas crenças, nos valores e nos
comportamentos. Os valores num nível mais elevado
de consciência promovem maior compreensão e
conexão e menor separação e fragmentação do todo
(Barret, 2000, p. 59).

Significa, em essência, elevar o patamar de nosso modelo mental,


revendo a bagagem de crenças, valores, premissas, daquilo, enfim,
que acreditamos ser verdade, dos nossos filtros de percepção das
coisas e do mundo.
A consciência, em última instância, numa perspectiva metafísica,
também pode ser considerada o próprio espírito. O espírito elevado
reflete uma consciência elevada.
Ampliar a consciência, portanto, significa repensar e mudar
as premissas mais íntimas e profundas, que estão arraigadas e
nos impedem de enxergar as coisas por outros prismas, em que
percebamos que todos nós estamos interligados e interconectados
num todo maior.
Cada sentimento, pensamento, palavra e atitude centrados
positivamente nas outras pessoas, com uma intenção genuína de
colaborar, sem esperar nenhuma vantagem pessoal em troca, sem
condicionantes, fazem com que evoluamos como seres humanos.
Como forma de avaliar o que move as pessoas para a colaboração,
elaborei uma pesquisa com pessoas no ambiente de trabalho, em que
pude observar uma similitude de grande parte das respostas em relação
ao constatado na bibliografia apresentada neste livro.
Tanto no que se refere aos estudos sobre colaboração, à
colaboração em seus diversos estágios no âmbito das organizações, e
entre organizações e comunidades as mais diversas.
A pesquisa constava de duas questões:
- Por que as pessoas colaboram no âmbito pessoal, profissional e
no convívio social? (o que as motiva e estimula realmente, de
modo geral).

98
Inteligência Colaborativa

- Para que as pessoas colaboram? (com que objetivo, com que


finalidade).

Quanto à primeira questão, algumas respostas tinham como


premissa uma visão individualista de ganhos pessoais ou grupos de
afinidades mais próximos:
- colaboram porque entendem que a atitude trará algum benefício,
imediato ou futuro;
- querem conservar as amizades e fortalecer os relacionamentos;
- necessitam do trabalho para sobreviver;
- querem se sentir úteis e construir um ambiente bom para viver;
- precisam de segurança, pois se reconhecem como seres sociais com
várias necessidades e potencialidades;
- acreditam que a colaboração é base de uma parceria sólida e
produtiva, fundamental para a realização de um projeto do qual
esperam uma construção conjunta;
- colaboram, por solidariedade, com pessoas em situação de
dificuldade e ou necessidade.

Outras respostas já caminhavam num sentido de maior altruísmo


e participação em comunidade:
- para a afinidade e a ética regidas por valores comuns na
sociedade;
- para se sentirem bem, visando ao bem comum, por compaixão,
generosidade e patriotismo;
- dependendo da maturidade que as pessoas alcançam, elas passam
a se preocupar com os outros, sem egoísmo;
- objetivos que valham a pena, baseados em convicções, ideais e
valores comuns.

Quanto à segunda questão (para que as pessoas colaboram), as


respostas também variaram de um sentido de utilidade pessoal até
níveis elevados de altruísmo, para:

99
Sávio Marcos Garbin

- obter benefício próprio ou em prol do grupo a que pertence;


- alcançar satisfação pessoal, para aparecer, para agradar os
outros;
- ser valorizadas e atingir realização profissional e pessoal;
- obter reconhecimento;
- obter segurança;
- atender necessidades e interesses pessoais, profissionais e
acadêmicos;
- alcançar objetivos pessoais e coletivos comuns;
- ajudar pessoas com as quais convivem, por lealdade;
- melhorar a qualidade de vida das pessoas, para viver melhor;
- obter reciprocidade (acreditar que em um momento de
necessidade também receberão colaboração);
- se sentir engajadas na comunidade a que pertencem;
- ajudar ao próximo e sentir-se úteis e necessárias;
- ser útil e contribuir com o desenvolvimento do todo;

As respostas, em seu conjunto, vão ao encontro do que mostra


Barret60 (2000) a respeito das motivações humanas, que são baseadas
no interesse próprio. Somos motivados a fazer algo quando isso nos
beneficia de alguma forma. E quanto ao bem comum? As ações que
apoiam o bem comum também são baseadas no interesse próprio?
Responde ele que sim:

No entanto o eu que tem interesse é um eu diferente,


que transcende o egoísmo. É um eu que amplia o
sentido de identidade e que se identifica com a família,
a comunidade, a organização em que trabalha, a
sociedade e o planeta. É um eu que se reconhece como
parte de uma rede de interconexão que liga toda a
humanidade e os sistemas vivos.
Todas as ações humanas tentam satisfazer uma das
quatro necessidades – físicas, emocionais, mentais ou
espirituais.
As necessidades físicas primárias são satisfeitas
quando cuidamos de nossa segurança e de nossa

60 BARRET, Richard, 2000.

100
Inteligência Colaborativa

saúde. As necessidades emocionais são satisfeitas


quando temos fortes relacionamentos pessoais
(amigos e família) e também nos sentimos bem
com nós mesmos (auto-estima). Nossas necessidades
mentais são preenchidas por meio de realização
educacional ou intelectual e do crescimento pessoal,
e nossas necessidades espirituais são satisfeitas
quando encontramos atividades que dão significado
à nossa vida e nos capacitam a servir à humanidade
ou ao planeta (Barret, 2000, p. 47-48).

Da mesma forma, uma organização tem níveis de consciência


corporativa, que vão de interesses mais restritos e egocêntricos, até
níveis mais ampliados para o bem comum. Numa analogia com as
pessoas, podemos depreender que os níveis de consciência vão de
acentuado nível de competição até níveis acentuados e aprofundados
de colaboração.
Assim, é preciso alinhar os valores de todos os envolvidos, para
uma evolução conjunta à colaboração.
Do exposto, torna-se relevante ressaltar que as pessoas evoluem
na tomada de consciência com base em valores que orientam seus
passos na trajetória da vida. Com a consciência expandida, elas
avançam e fica difícil retornar a um nível anterior. Tornamo-nos
responsáveis pela consciência expandida.
Uma questão é: ficamos no pensar ou agimos com essa
consciência expandida? A resposta sempre é individual, pois cada
pessoa, com sua liberdade de escolha, é única e exclusivamente
responsável pelo que faz e por aquilo que deixa de fazer.
Com base nessas considerações, e após analisar algumas
abordagens de colaboração nas empresas, entre organizações
e setores, em outras comunidades, e de pesquisa de campo na
organização em que trabalho, para buscar saber por que e para
que as pessoas colaboram, surgem alguns pontos em comum,
convergentes.
Esses pontos convergentes são os princípios que norteiam o
alicerce da Inteligência Colaborativa e que, de forma estruturada,
serão expostos na sequência.

101
Sávio Marcos Garbin

Princípios de Inteligência Colaborativa

Diagrama 1 - Princípios de Inteligência Colaborativa, Garbin

1. Comunicação baseada em diálogo


Tanto quanto na natureza, o que se destaca na vida dos seres
humanos são os relacionamentos e as redes de relacionamentos nas
quais estamos inseridos.
Como seres sociais, dificilmente poderemos evoluir como pessoas,
se vivermos isolados, sozinhos. Aprendemos sobre gentileza, carinho
e amor, por exemplo, se formos gentis, carinhosos e amorosos no
relacionamento com as pessoas.

102
Inteligência Colaborativa

Nesse processo de evolução do ser humano, desde os primórdios


dos tempos, a comunicação é fundamental para um relacionamento
saudável e harmônico. A palavra, o tom de voz e a linguagem corporal
têm fundamental importância nesse processo. Aprendemos como ter
boas maneiras e boa educação na interação com as outras pessoas, como
parte de um código cultural da região em que nascemos e vivemos.
Quando crianças, aprendemos a colaborar, a assumir
responsabilidades ajudando nas tarefas da casa, a nos relacionar, a
conversar com as outras pessoas. Aprendemos também a competir em
casa, na escola, em diversos lugares, e a competição nos leva, ao longo
do tempo, a uma busca de fazer prevalecer nossas ideias, num modelo
mental que se reflete na comunicação.
Comunicar é posicionar-se. Aguçamos, ao longo do tempo, nossa
percepção das coisas e do mundo. Portanto, nossa forma de falar e ouvir,
nossos gestos, se utilizados adequadamente, são dádivas que recebemos
para facilitar os relacionamentos e o nosso aprendizado para a vida.
Uma palavra, para fazer sentido, para ser compreendida, precisa
estar registrada em nosso cérebro. O entendimento de seu significado
contribui para uma atitude diferente quando nos comunicamos,
parafraseando Homero Reis61.
Quando conversamos, há uma forma e um conteúdo nessa
interação. A forma, a maneira com que nos expressamos, facilita a
interação, ainda mais se o conteúdo da conversa for útil, verdadeiro e
positivo para ambas as pessoas.
Buscar a essência do que significa se comunicar diz respeito
a compartilhar o que as pessoas têm em comum acerca de algo,
positivamente. Quando procedemos dessa maneira, há sentimentos
elevados e nobres que nos orientam, nos acompanham.
Assim, para poder conversar conscientemente, com o intuito
de colaborar, é imprescindível evoluir, com forma e conteúdos mais
afirmativos e cuidadosos, da discussão e do debate, para o diálogo.
Segundo Jaworski62 (2000, p. 134), numa referência à forma
usada por David Bohm, a palavra “diálogo” sugere “fluxo de

61 REIS, Homero. Palestra realizada na Caixa Econômica Federal. Brasília, maio de 1998.
62 JAWORSKI, Joseph. Sincronicidade – O Caminho Interior para a Liderança. São Paulo:
Best Seller, 2000.

103
Sávio Marcos Garbin

significado”. Isso contrasta claramente com a palavra “debate”, que


pode significar “derrotar”, ou mesmo com “discussão”, que possui a
mesma raiz que “percussão” e “concussão” – “quebrar coisas”. Expõe
que “o diálogo não requer que as pessoas concordem umas com as
outras. Em vez disso, encoraja-as a participar de uma corrente de
significado partilhado que leva à ação alinhada. O objetivo é criar
um ambiente especial no qual um tipo diferente de relacionamento
entre as partes passe a atuar – um que revele tanto energia como
inteligência elevadas”. Diálogo deriva de duas palavras gregas: dia,
que significa por meio de, através, e logos, que significa palavra, ou
comunicar-se por meio de, através de palavras. Para Bohm63 (2005,
p. 33 e 34), pode-se dizer que logos pode ser compreendida como
significado da palavra.
Explica Bohm (2005, p. 28 e 29) que num diálogo, “quando
alguém diz alguma coisa, o interlocutor em geral não responde com
o mesmo significado que a primeira pessoa deu às suas palavras”.
Os significados são similares, porém não idênticos. Ao perceber a
diferença entre o que se quis dizer e o que a outra pessoa entendeu,
essa diferença é considerada como algo novo e importante a ser
percebido pelos envolvidos no diálogo. Assim, ele ressalta que
“num diálogo cada pessoa não tenta tornar comuns certas ideias ou
fragmentos de informação por ela já sabidos. Em vez disso, pode-se
dizer que os interlocutores estão fazendo algo em comum, isto é,
criando juntos alguma coisa nova”.
Ao dialogar, portanto, há o compartilhamento do que se tem
em comum, para que um fluxo de significado seja realimentado
positivamente entre as pessoas.
O diálogo é próprio de um modelo mental para a colaboração. Já
o debate, de embate, luta, contenda, disputa, leva a uma preparação
para vencer, derrotar, típica da competição. Significa dizer que
uma pessoa, ao se preparar para um diálogo, traz consigo uma
intencionalidade e uma tranquilidade para um clima amistoso, que é
transmitida na maneira de se comunicar, também amigável.

63 BOHM, David. Diálogo: comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athena,
2005.

104
Inteligência Colaborativa

Gerzon64 (2006, p. 174), num estudo sobre liderança mediadora,


considera o diálogo como “comunicar-se de forma a catalisar a
capacidade humana de inovar e estabelecer ligações”. Já debate é um
combate verbal, que difere da troca de insultos porque observa regras
estabelecidas. Cada pessoa tenta mostrar que seu ponto de vista é
“certo” e o outro é “errado”.
Ele explica que a discussão é mais vaga que o debate, pois carece
de objetividade. Cada participante escolhe e adota uma forma de
participação na busca de tentar prevalecer em relação aos demais.

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

64 GERZON, Mark. Liderando pelo Conflito: como líderes de sucesso transformam dife-
renças em oportunidades. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

105
Sávio Marcos Garbin

Num diálogo há a premissa de que todos ganham e inexiste tensão


entre as pessoas, como num debate ou na discussão. Dialogar faz pensar
que, em vez de consumirmos tempo para comunicar, no sentido de
passar orientações e informar, devemos investir boa parte do nosso
tempo em conversar, produtiva e conscientemente.
Dialogar lembra que conversamos, trocamos palavras, trocamos
ideias com as pessoas, e jamais trocamos ideias para as pessoas. Se
assim fosse, teríamos um monólogo, no lugar de um diálogo que as
envolva e as inclua.
Dialogar pressupõe que haja abertura na comunicação, para
manifestação sincera, direta, verdadeira e respeitosa entre as pessoas,
o que exige humildade e assertividade, e contribui para ampliar a
confiança.
Quando uma pessoa fala em diálogo, portanto, já evidencia um
nível de consciência e uma preparação e proposta diferentes para
conversação e interação mais colaborativa e elevada com outra ou
várias pessoas.
Compreende algumas características que serão abordadas em
seguida:

Diagrama 2 Inteligência Colaborativa e Diálogo, Garbin

106
Inteligência Colaborativa

1.1 Linguagem positiva, pacifista e inclusiva

Dialogar significa interagir profundamente, sintonizado no outro


e com o outro, o que diz respeito à prática de comunicação positiva,
pacifista e inclusiva, em que se deve usar mais “e”, que soma, no lugar
de “mas”, que gera discordância e conflito por descaracterizar tudo
o que foi dito precedentemente. O dialógo usa mais “para que”, que
inclui, no lugar de “por que”, que questiona, sem incluir.
Admitir que a mente humana funciona positivamente pressupõe
que é preciso muito cuidado ao usar palavras negativas, que enfatizam
o indesejado, sem ressaltar aquilo que se quer. Não pense numa girafa
amarela de pescoço azul. Você já pensou, pois a mente é positiva.
Assim, em casa, ao invés de dizer ao seu filho para não mentir,
diga-lhe que fale a verdade. Enfatize sempre, de modo afirmativo e
positivo, o que quer. Se, porventura, disser algo negativo, procure
finalizar o que estiver falando com uma frase no sentido positivo, o que
deseja realmente, para que isso fique reforçado na mente.
A comunicação positiva na formulação de perguntas agrega mais
valor às potencialidades das pessoas, ressaltando e reconhecendo o que
há de melhor, aquilo que se tem de bom, num processo apreciativo que
estimule a capacidade de aprender e de enfatizar o potencial positivo de
cada um, parafraseando Cooperrider e Whitney65 (2006). Focalizam-se
as soluções quando fazemos questões estimuladoras que considerem o
que há de melhor em cada pessoa.
Quando a pergunta é feita de forma positiva e valorativa, deixa-se
de enfatizar o problema, pois problemas, segundo João Kon66 (1997),
são somente as grandes dificuldades. Parafraseando-o, perguntas
abertas estimulam a formulação de propostas, que incluem, agregam e
realimentam, diferentemente de perguntas que levam a uma resposta,
apenas caminhando para o término da conversa.
Já a linguagem intencionalmente pacifista refina o processo de
comunicação para a colaboração. Quantas vezes, sem perceber,
utilizamos palavras que embutem alto teor belicoso: “manda bala (no

65 COOPERRIDER, David L.; WHITNEY, Diana. Investigação Apreciativa: uma abor-


dagem positiva para gestão de mudanças. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.
66 Kon, João, 1997.

107
Sávio Marcos Garbin

sentido de ser rápido), pode entregar este relatório...”; “arrebente a


boca do balão” etc.
O cuidado com o uso das palavras, de modo pacífico, implica sair
do piloto automático, compatível com os armamentistas, significa ter
maior cuidado consigo mesmo, com os outros e com o todo.
Diálogo também é diferente de retórica, em que uma pessoa, de modo
eloquente e bem falante, procura persuadir a outra, sem se importar com
o que essa pessoa esteja pensando. Da linguagem do “ou”, baseada em
visão estanque e raciocínio excludente, para a linguagem do “e” e do “e
que tal”, de uma terceira opção que leve a uma interação efetiva e a uma
agregação de novas possibilidades, de novos horizontes em comum.
Diálogo significa sair da ênfase no “eu” ou “mim” e evoluir além
de “nós”, que pode considerar apenas um grupo de interesse mais
próximo para, numa conexão com o todo maior, incluir e considerar
“nós todos” no pensamento e na assertiva.
Dialogar também compreende entender que nos comunicamos
por meio das palavras, do tom de nossa voz e da linguagem de nosso
corpo. A reação de outra pessoa, quando nos expressamos, depende,
segundo estudos, 55% da linguagem corporal (posturas, gestos e contato
visual), 38% do tom de voz e 7% das palavras.
Se as palavras têm impacto no processo de comunicação, o tom
de voz e a linguagem corporal sobrepujam tal expressividade. Por isso,
ao dialogar, uma pessoa sabe que, mais que um sim ou um não, há de
ter muito cuidado com a forma de falar. Enfim, de comunicar-se com
o coração, para uma sintonia nos sentimentos.

1.2 Ouvir ativa e profundamente

Dialogar significa estar consciente de que a sua verdade sobre


determinado assunto pode ser diferente da de outra pessoa, pois as
crenças que a balizam podem ser distintas, o que leva a um esforço
para aprender a ouvir ativa e profundamente.
Ouvir profunda e atentamente o que está por trás daquilo que é
dito diz respeito a ouvir as premissas que estão subjacentes, embutidas
naquilo que é falado e que podem facilitar a interação e o diálogo,
parafraseando Oscar Motomura (1996). Ouvir o aparentemente
inaudível, e prestar atenção em todas as sutilezas e intenções.
108
Inteligência Colaborativa

É bom lembrar de que um choque de icebergs ocorre debaixo


d’água. As pessoas se chocam de acordo com as suas premissas, seus
valores, pela maneira que cada uma vê e percebe as coisas, e querem
fazer prevalecer sua visão, num verdadeiro choque de egos. Cada pessoa
quer predominar em relação à outra, fazendo prevalecer a sua posição.
Só se chocam porque, além da ênfase egocêntrica e individualista, há
sincronismo nos sentimentos negativos que as norteiam na ação.
Ouvir ativamente é estar por inteiro, no momento da conversa,
abstendo-se dos sentimentos negativos do interlocutor. Estar com a mente
esvaziada e aberta ao aprendizado de novas percepções da realidade que
possibilitem ver o mundo com outras lentes, sem ficar de corpo presente,
absorto num diálogo interno, ou como transeuntes trôpegos e distantes,
tateando algum horizonte, para nos sentirmos protagonistas positivos do
momento, do agora, cheio de atenção para com a outra pessoa.
Ouvir ativamente é ouvir com a total intenção de compreender o
que a outra pessoa quer dizer, expressa Jampolsky67 (2002, p. 22). Talvez
seja ouvir da mesma maneira que ouvíamos quando éramos crianças e
gostávamos que nossos pais nos ouvissem...
Ouvir ativamente é uma forma de carinho e amor, que aproxima
e multiplica, gerando mais carinho e amor, num círculo virtuoso de
energia e vibração positivas, que sintoniza, dá serenidade e harmoniza
os corações.

1.3 Compreensão das diferentes dinâmicas das pessoas

Dialogar é ter consciência de que a linguagem reflete aquilo que


pensamos, e que podemos aprimorá-la para evoluir no comportamento.
Aquilo que pensamos decorre dos sentimentos e das informações que
são recebidas por meio dos sentidos e processadas no cérebro. Reavaliar
como fazemos isso propicia uma conduta e uma nova forma de perceber
o mundo mais positivas.
Do interesse de Richard Bandler e John Grinder pela maneira
como exitosos profissionais de comunicação e de terapia agiam em
seu cotidiano, surgiu a Programação Neurolinguística (PNL). Segundo

67 JAMPOLSKY, Lee L. Atitude Para Ser Feliz. São Paulo: Gente, 2002.

109
Sávio Marcos Garbin

Spritzer68 (1993, p. 46-47), a PNL é “um modelo de como funciona


nosso sistema nervoso (Neuro), como a linguagem verbal e não-verbal
interage com nosso sistema nervoso (Linguística) e de como podemos
usar o que sabemos sobre tudo isso para obter sistematicamente os
resultados que desejamos para nós e para os outros (Programação)”.
Objetiva uma estruturação mais adequada da forma de pensar, para
comportamentos e relacionamentos mais positivos e harmoniosos.
Para dialogar também é necessário compreender que cada
pessoa, desde o nascimento, tem uma dinâmica que lhe é inerente,
uma dinâmica de personalidade que lhe é própria. Conhecê-la
facilita o autodesenvolvimento, a interação e o entendimento com
as outras pessoas para a colaboração. O estudo sobre as Dinâmicas
Humanas de Seagal e Horne69 (1998) mostra luzes nesta questão.
De estudos existentes em várias áreas do conhecimento, há uma
busca entre os exemplos da programação neurolinguística e das dinâmicas
humanas para esclarecer que as pessoas funcionam internamente,
processam as informações e se comunicam de modo diferente. Há uma
diversidade interna que se reflete na forma de se comportar, agir e ser,
o que exige um refinamento, um cuidado pessoal para nos comunicar
adequadamente, de acordo com o interlocutor, no sentido de facilitar o
diálogo e a colaboração.
Na programação neurolinguística observa-se que, dos cinco sentidos
que temos para perceber e interagir com o mundo, três deles podem
ser considerados os principais canais de comunicação, estimulados ao
longo de nossa vida por características individuais, ambiente e cultura
nos quais estivermos inseridos.
Normalmente um canal é o preferencial, o mais desenvolvido, aquele
com que nos sentimos melhor. Já uma pessoa com muita facilidade de se
comunicar pode estar com mais de um canal preferencial desenvolvido.
E essa ênfase em um ou em outro canal de comunicação se reflete na
forma de agir, como pode ser sinteticamente demonstrado a seguir.

68 Spritzer, Nelson. Pensamento & Mudança: um guia para a excelência pessoal. Des-
mistificando a Programação Neurolinguística (PNL). Porto Alegre: LP&M, 1993.
69 SEAGAL, Sandra; HORNE, David. Human Dynamics: um novo contexto para compre-
ender pessoas e realizar o potencial de nossas organizações. Rio de Janeiro: Qualitymark,
1998.

110
Inteligência Colaborativa

PNL – FORMA DE AGIR


VISUAL Primeira impressão: valoriza o olhar “olhos nos
olhos”
- fala rápida e alta;
- minuciosa, aprecia detalhes;
- valoriza a beleza, a organização e a agilidade;
- gosta de explicar algo por meio de mapas, gráficos
e desenhos;
- examina as pessoas de alto a baixo;
- adota postura correta ao sentar, de frente.
AUDITIVO Primeira impressão: valoriza o tom de voz media-
no, a objetividade e a firmeza na fala.
- fala concisa e racional;
- aprecia as coisas de modo direto e resumido;
- valoriza a qualidade e a durabilidade;
- gosta de objetividade e de simplificar as coisas;
- “conversa” muito consigo mesmo;
- adota postura de sintonizar o ouvido ao sentar,
com leve inclinação da cabeça para um dos lados.
CINESTÉSICO Primeira impressão: valoriza o aperto de mão firme
e igual. Passa-lhe confiabilidade e igualdade.
- fala grave e lenta, pausada;
- dá atenção às sensações do ambiente;
- valoriza o gosto, o cheiro, o toque, o conforto, a
ação (dança, esporte, arrumar as coisas etc.);
- gosta de mostrar o quanto “transpirou” para realizar
algo;
- precisa sentir, experimentar;
- adota postura esparramada ao sentar.
Quadro 6 PNL- Forma de Agir, adaptado de Machado70 (1996)

Como, num primeiro contato, pode ser desconhecido o canal


preferencial do interlocutor, procure falar com objetividade, olhos nos
olhos, e com aperto de mão firme e igual, o que facilita a sintonia com
a outra pessoa, em seu canal ou canais preferenciais.
Aperto de mão firme e igual ocorre quando as palmas das mãos
permanecem na posição vertical, há a mesma intensidade na pressão
recebida, e cada uma das pessoas procura transmitir cordialidade,
respeito e igualdade em relação a outra.

70 MACHADO, Maria de Lourdes. Líder 24 Horas Por Dia. São Paulo: Best-Seller, 1996.

111
Sávio Marcos Garbin

Ter consciência do nosso canal de comunicação mais desenvolvido,


dos nossos gestos e os das pessoas com as quais nos relacionamos facilita
a comunicação, propicia maior harmonia no relacionamento e ajuda
a desenvolver o canal com menor estágio de desenvolvimento.
No trabalho, ao saber que uma pessoa é mais detalhista, faz-se uma
apresentação, um relatório pormenorizado, rico em detalhes e beleza,
o que facilita a interação, o diálogo. Se a apresentação for para várias
pessoas, a sugestão é que ela seja mais sintética, podendo ser aberta
em detalhes, conforme a solicitação dos participantes.
Sem entrar no detalhamento das diversas técnicas de Programação
Neurolinguística, uma pessoa não tem, ela está, em determinado
momento, com um canal mais desenvolvido, motivo pelo qual, sabendo
disso, pode desenvolver os demais e ampliar as possibilidades para uma
comunicação mais eficaz.
Já aquilo que Seagal e Horne71 (1998) chamam de Dinâmicas
Humanas diz respeito aos distintos estilos de funcionamento das
pessoas. Procuraram comprovar em seus estudos que uma pessoa, ao
nascer, tem, geneticamente, uma dinâmica de funcionamento, com um
mecanismo preferencial de processar e interagir com o mundo. Após
pesquisas com mais de 40.000 pessoas, concluíram que as dinâmicas
humanas são ancoradas em três princípios básicos: mental, emocional
e físico. Estes princípios estão em todos nós, e, se forem desenvolvidos
harmonicamente, possibilitam maior equilíbrio na vida.
O princípio mental diz respeito ao cérebro, ao raciocínio, à
objetividade, à antevisão e visão global das coisas, ao futuro, à
construção de estruturas, a ter perspectivas e valores.
O princípio emocional é mais subjetivo: refere-se a relacionamento,
sentimento, subjetividade, organização e imaginação criativa.
Já o princípio físico ressalta a praticidade; a capacidade de
realização, de execução, de concretização; a capacidade de pensar em
detalhes e de ter experiência sensorial e sistêmica.
Os três princípios estão em todos nós, e se combinam em cada
pessoa de modo diferenciado, formando distintas dinâmicas de
personalidade. O estudo citado chegou a cinco combinações básicas

71 SEGAL, Sandra; HORNE, David. 1998.

112
Inteligência Colaborativa

que formam diferentes maneiras de “ser”, em que cada pessoa tem


uma dinâmica, um sistema integrado para processar informações,
perceber o mundo, expressar-se e interagir. As cinco dinâmicas são:
mental-físico; emocional-mental; emocional-físico; físico-emocional
e físico-mental. Segundo os autores, no lado ocidental do Planeta há
predominância das dinâmicas de princípio emocional, enquanto no
Oriente preponderam as de princípio físico.
Ao longo da vida, as influências ambientais, a exemplo de
experiências da vida, exigências profissionais, culturais e outras,
podem, até certo grau, modificar o comportamento de um adulto, sem,
entretanto, modificar seus processos inerentes e fundamentais. Em
cada dinâmica ocorrem o amadurecimento e a evolução e, quando os
três princípios são desenvolvidos e integrados, as pessoas pensam com
clareza, relacionam-se com empatia e expressam seus sentimentos de
modo prático.
É fundamental salientar que nenhuma dinâmica é melhor do que
a outra. As pessoas apenas funcionam de modo diferente, de acordo
com a dinâmica que lhes é predominante.
Conhecendo o princípio ou os princípios menos desenvolvidos,
há possibilidade de uma ação consciente para desenvolvê-lo(s), sem
alterar o processo fundamental e inerente à pessoa. Passa-se a respeitar
mais a singularidade de cada ser humano, facilitando sobremaneira o
relacionamento e o diálogo.
É possível compreender por que certos aspectos na maneira de se
comunicar e agir são mais ou menos importantes para uns do que para
outros tipos de pessoas, em suas diferentes dinâmicas de funcionamento.
O princípio central determina o modo como uma pessoa processa
as informações, e o princípio secundário está relacionado ao tipo de
informação que é processado. Quanto ao terceiro princípio, ele orienta
o desenvolvimento.
O quadro a seguir apresenta, de forma resumida, alguns exemplos
de diferenças entre as dinâmicas. Algumas pessoas poderão ter facilidade
em se perceber numa dessas colunas, e também poderão encontrar menor
número de características que lhe digam respeito em outra coluna. Isso
possibilitará uma reflexão para maior autoconhecimento e avaliação de
caminhos a serem adotados para o aprimoramento pessoal.

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114
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Inteligência Colaborativa

1.4 Verdade, sinceridade e clareza na comunicação

Dialogar significa administrar a verdade, ter veracidade, sendo


coerente em todos os momentos de uma interlocução. O que se fala
deve ser verdadeiro para as pessoas e verdadeiro de quem se fala.
Quem mente, além de carregar consigo muita energia negativa,
consome mais energia negativa para sustentar a mentira que, quando
descoberta, ainda é potencializada no ambiente. Tem a sua credibilidade
afetada profundamente.
Administrar a verdade significa conversar com base em fatos,
falando a outra pessoa da mesma forma que gostaríamos que
ela conversasse conosco, de modo que paire energia positiva no
ambiente. Significa conversar com o coração, no sentido de contribuir
positivamente para o florescimento da conversa. Significa conversar
com sinceridade, com as palavras proferidas com cuidado em relação
aos sentimentos das outras pessoas. Difere de franqueza, em que a força
das palavras é colocada sem esse cuidado.
Uma comunicação verdadeira só existe realmente se for
acompanhada de carinho e de gentileza. Quando agimos dessa forma, a
outra pessoa percebe a atenção especial, da mesma maneira que percebe
qual sentimento nos acompanha e que está por trás do diálogo.
Numa conversa, dialogar também significa confirmar a
compreensão do outro, para que realmente haja um processo de
comunicação. Muitas vezes falamos e simplesmente consideramos
que a outra pessoa entendeu.
Confirmar a compreensão do outro é imprescindível num processo
de comunicação, de diálogo. Pode ser repetindo o que a outra pessoa
disse, para confirmar o entendimento, ou sutilmente pedir ao outro para
repetir, como bem frisou Mario Lúcio Machado72 (2001). Aprender a
ser perguntador, distinguindo o que alguém diz do que você julga que
ela diz.
É muito mais simples falar a verdade com clareza e suavidade,
o que nos deixa ainda mais leves quando ela for dita com respeito,
carinho e intencionalidade positiva de contribuir, de ajudar em sintonia
com o outro.

72 MACHADO, Mario Lúcio. Curso de Liderança Aplicada. Brasília: Wisnet Consulting -


CAIXA, setembro de 2001.

117
Sávio Marcos Garbin

1.5 Assertividade

Diálogo significa que a comunicação é baseada em assertividade,


quando as pessoas são afirmativas, claras e diretas, expondo suas
preocupações e sentimentos com habilidade, sem passividade ou
agressividade, facilitando a compreensão e a interação, além de
evidenciar autorrespeito e respeito com a outra pessoa
Martins73 (2005, p.21-22) explica que “o termo assertividade se
origina de asserção. Fazer asserções quer dizer afirmar, do latim afirmare,
tornar firme, consolidar, confirmar, declarar com firmeza”. Define a
assertividade como “uma comunicação criativa, transparente, por meio
da qual as pessoas expressam suas necessidades, seus pensamentos e
sentimentos de forma honesta e direta, sem violar os mesmos direitos
dos outros”.
Uma pessoa assertiva é capaz de dizer “sim” ou “não”, de expressar
seus sentimentos para determinada situação, de forma adequada,
considerando os sentimentos da outra pessoa.
Assertividade também está intimamente ligada è ética e aos valores
que orientam a vida de uma pessoa. Por isso, se algo conflita com seus
valores e deixa de ser tratado adequadamente, ela acaba acumulando
sentimentos negativos que a afetam ou afetarão fisicamente por meio de
patologias diversas em algum momento no futuro, pois, habitualmente,
há um arrependimento quanto ao que se deixa de falar e da forma
como foi dito em determinada ocasião no passado.
Uma pessoa assertiva está atenta à voz interior, chamada intuição,
ampliada e clarificada quando está centrada e em harmonia para
permitir ouvi-la, agindo positivamente, sempre com a procura do
equilíbrio entre a forma e o conteúdo na comunicação.
Assertividade significa, portanto, afirmar-se, firmar-se como
pessoa positiva, verdadeira e responsável em sua liberdade de
expressar-se, com o respeito pela liberdade de expressar da outra e
das outras pessoas.

73 MARTINS, Vera. Seja Assertivo! – Como Ser Direto, Objetivo e Fazer o Que Tem de Ser
Feito: como construir relacionamentos saudáveis usando a assertividade. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2005.

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Inteligência Colaborativa

1.6 Empatia de mão dupla

Num ambiente global e multicultural, conhecer e respeitar


as peculiaridades de outras culturas, outros povos com os quais
buscamos nos relacionar, é fundamental para o florescimento de um
relacionamento colaborativo. Ajuda-nos a lidar com as emoções e, ao
aprendermos a lidar com as nossas emoções, a empatia é de extrema
importância para a inteligência e o aprendizado emocional, como já
preconizava Goleman74 (1996).
Ela envolve a compreensão dos sentimentos dos outros, a adoção
da perspectiva deles, com respeito às diferenças no modo de pensar,
explica Goleman (1996, p. 284). Portanto, a empatia é essencial para
uma boa comunicação, para diálogos produtivos e para a construção
de confiança e, parafraseando Mario Lúcio Machado (2001), sempre
com o cuidado de nos colocarmos no lugar de outra pessoa, sem perder
o nosso lugar, o nosso referencial.
Quando agimos com empatia de mão dupla, significa que ambas
as pessoas se preparam para um diálogo frutífero, tendo como premissa
básica fazer ao outro o que gostaríamos que nos fizessem, com gentileza.
Uma pessoa é empática sem ficar na espera pela atitude empática
da outra pessoa: ela age assim por convicção de estar fazendo o melhor
para a outra pessoa e para si. Ter a empatia como premissa básica nos
relacionamentos possibilita alcançar grande parte do caminho a ser
percorrido para um entendimento mútuo.
Considerando a importância da empatia no processo de
aprendizado emocional, sobretudo quando se aborda a colaboração
para viver melhor e mais conscientemente, além do pensamento
racional, é preciso desenvolver o controle e o autoconhecimento
emocional.
Isso leva ao exame das ações e à avaliação das consequências,
o que, por sua vez, ajuda a pessoa a identificar se uma decisão
está sendo governada por pensamento ou sentimento negativo ou
positivo. Portanto, cuide bem da porta de entrada do pensamento
e do sentimento, da mesma maneira que permite que só as pessoas
convidadas entrem em sua casa.

74 GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996.

119
Sávio Marcos Garbin

Leitor, saiba lidar com os sentimentos, para que possa reconhecê-


los e compreender a relação entre sentimentos, pensamentos e emoções,
o que facilita sobremaneira a interação com outra pessoa.
Empatia vai além da etiqueta, da formalidade social nos relacio-
namentos. Uma pessoa é empática quando age no sentido verdadeiro
de melhor contribuir, a partir do entendimento de necessidades, pelo
ponto de vista da outra pessoa com quem se relaciona.

1.7 Coerência entre discurso cuidadoso e prática

Dialogar significa que há coerência entre o discurso cuidadoso


e a prática. Aquele que fala propõe algo em que acredita e pratica. É
autêntico, caso contrário, o alicerce da confiança esvaecerá em algum
momento, dificultando o prosseguimento de uma conversa eficaz e
salutar.
A coerência entre o discurso cuidadoso e a prática começa
simplesmente por dizer aquilo que se faz e fazer o que se diz. É ser
autêntico, verdadeiro e cordial.
O discurso cuidadoso também considera que as pessoas cumprem
papéis na sociedade, em casa com a família, no trabalho ou na vida em
comunidade. Quanto mais seu papel na sociedade puder influenciar a
vida das pessoas, maior será a responsabilidade para a oportunidade
que lhe foi dada como ser humano.
A existência de um discurso coerente com a prática, por parte do
presidente de uma organização grande ou pequena, afeta, ao longo
do tempo, a vida dos colaboradores. Pode vir a afetar a vida de seus
familiares e da comunidade em que a organização estiver inserida.
Um discurso cuidadoso considera sua responsabilidade com
a evolução da consciência das pessoas, sua responsabilidade com
o crescimento individual delas, sua responsabilidade com o seu
desenvolvimento para a compreensão da ética que considere o todo
maior, sem manipulação e com abertura para que todos evoluam de
modo efetivo no seu tempo.
Reflita sobre a responsabilidade de um prefeito, de um governador,
de um presidente de país ou de uma organização; a coerência entre um
discurso cuidadoso para todas as pessoas e a prática que eles precisam

120
Inteligência Colaborativa

mostrar diariamente, e que estimule as pessoas a agirem de modo


colaborativo e solidário, sem manipulação camuflada ou ostensiva,
com luz no coração.
Cada um, ali, está com uma missão dignificante de vida para
sua evolução como pessoa, como ser que aqui veio para aprender,
servindo as pessoas sem apego pessoal e de modo desinteressado, para
o bem-estar de todos, daquele local e do Planeta do qual somos parte
integrante.
O processo de comunicação é facilitado quando evoluímos no
sentido de compreender quais são os códigos culturais, os significados
inconscientes que aplicamos ao que fazemos, como explica Rapaille75
(2007, p. 5). Uma criança, ao nascer, traz um código genético de seus
pais; no entanto, uma criança que nasça no Brasil traz consigo um código
cultural diferente do código das crianças que nascerem em outros países.
Ampliar e disseminar tal conhecimento é papel de estudiosos da
Antropologia, cada vez mais requisitados nas organizações. Outros
estudos para ampliar o que se denomina inteligência cultural também
buscam facilitar o entendimento das diferenças culturais entre os povos.
Alargar o entendimento de tais diferenças facilita avançar para uma
comunicação cuidadosa e positiva, na busca de agir colaborativamente.
E conversar tendo cuidado com o outro, dando atenção, sendo
gentil, e buscando efetivamente compartilhar ideias e soluções é inerente
à boa prática da comunicação evolutiva para o diálogo em todo lugar.
Dialogar implica fluxo horizontal de comunicação, pois inexiste
hierarquia. Na condição de seres humanos que têm liberdade,
autonomia e responsabilidade de expressão, todos estamos num mesmo
patamar. Enfim, dialogar, comunicar-se de modo profundo e amistoso,
como numa dança, em que a pessoa tenha o cuidado com os passos da
outra, atenta e no mesmo balanço, na mesma sintonia.
Para um diálogo positivo e colaborativo, portanto, é fundamental
observar os seguintes pontos:
- usar linguagem positiva, pacifista e inclusiva;
- ouvir ativa e profundamente;
- ter compreensão das diferentes dinâmicas das pessoas;

75 RAPAILLE, Clotaire. O Código Cultural: por que somos tão diferentes na for-
ma de viver, comprar e amar? Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
121
Sávio Marcos Garbin

- praticar verdade e sinceridade, com clareza na comunicação;


- cuidar da assertividade;
- agir com empatia de mão dupla; e
- manter coerência entre discurso cuidadoso e prática.
Criar uma ambiência especial em que haja um tipo diferente
de relacionamento entre as partes – algo que revele tanto energia
como inteligência e favoreça o estabelecimento do diálogo também é
fundamental.
Igualmente ainda dialogar de modo cuidadoso, atento às percepções
do outro e aberto ao aprendizado, como quando se comunica com uma
pessoa portadora de necessidade especial, com a vivacidade e alegria
de uma criança que se abre a novas possibilidades, para criar algo em
comum e sorrir juntos, é importante.
Assim, praticar a comunicação baseada no diálogo produtivo e
verdadeiro já constitui um grande passo rumo à consciência das pessoas
para uma interação positiva, essencial num processo colaborativo.
Dialogar para participar, interagir de corpo e alma, é muito mais
do que estar de corpo presente, com a mente em outro lugar, ou
simplesmente aguardando a vez de falar e, enquanto isso, deixar de
ouvir.
Num diálogo há o compartilhamento de valores humanos elevados
entre as pessoas, com o sentimento genuíno de servir os outros, com
os outros.

2. Compartilhamento de Valores Humanos Elevados


Valores humanos elevados constituem o segundo princípio de
inteligência colaborativa, pois dizem respeito à maneira como as pessoas
conduzem sua vida, ao que é importante para o objetivo de cada ser
humano.
Sempre têm uma conotação positiva, pois são as virtudes que
valorizamos. E as virtudes são a essência e a força que nos impulsionam
para a vida. Virtude, etimologicamente, é uma disposição firme e
constante para praticar o bem. É agir no sentido da excelência moral,
da excelência humana.

122
Inteligência Colaborativa

Os valores orientam e norteiam nosso comportamento e nossas


decisões a cada instante, ao longo da vida. Agir estritamente baseado em
valores elevados possibilita nossa evolução pessoal, no relacionamento
com outras pessoas e em nossa espiritualidade.
Mesquita76 (2003, p. 21) expõe que “valores humanos consistem
no conjunto de qualidades que nos distinguem como seres humanos,
independentemente de credo, raça, condição social ou religião”.
Segundo Martinelli77 (2003), valores humanos são:

os princípios que fundamentam a consciência


humana. Eles estão presentes em todas as religiões
e filosofias, independentemente de raça, sexo ou
cultura. São inerentes à condição humana. Os valores
humanos dignificam a conduta humana, ampliam a
capacidade do ser como consciência luminosa, e têm
no pensamento e nos sentimentos sua manifestação
palpável e aferível (Martinelli, 2003, p. 17).

Valores humanos elevados, enfim, unificam e libertam as pessoas


do individualismo e do egocentrismo, e possibilitam servir e colaborar
de forma intencional, plena e consciente para o benefício de todos.
A coerência de nossas ações decorre da prática constante dos
valores que as sustentam. E tudo fica bem mais simples quando
agimos assim, com rigor. Exige cultivar hábitos bons, com frequência
e constância na forma de sentir, pensar, agir e comportar-se de modo
positivo.
Se há deterioração nos relacionamentos e na forma de agir dos
seres humanos, isso decorre da desestabilização dos valores e desnorteia,
desorienta as pessoas no cotidiano de sua jornada da vida.
Cada vez mais as pessoas focalizam valores materiais pautados no
consumir, ter mais e naquilo que é externo, aparente, que se dissipam
no ar e deixam de ter qualquer importância quando perdemos nosso
corpo material, cujo prazo de validade é pequeno.

76 MESQUITA, Maria Fernanda Nogueira. Valores Humanos na Educação: uma nova


prática na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Gente, 2003.
77 MARTINELLI, Marilu. Conversando sobre Educação em Valores Humanos. 3. ed.
São Paulo: Peirópolis, 2003.

123
Sávio Marcos Garbin

Nesse sentido, sucesso nada mais é que um palco efêmero,


temporário, para ostentar aparências. Da mesma forma, buscar ser
importante significa agir focado no outro. Parafraseando Antonio
Fernandes Deléo, ser importante é importar-se com o fato de que o
outro se importe conosco. Nada mais ilusório, pois só a mudança de um
local, cidade ou país, pode fazer com que deixemos de ser importantes.
Em essência, precisamos ser bem-sucedidos no aprendizado para
a vida, com sólidos valores humanos que sustentem nossa evolução.
Somos pessoas que têm luz própria, para iluminar a trajetória neste
Planeta.
Tendo como pressuposto o cultivo de valores humanos nobres
e elevados como um dos princípios da inteligência colaborativa,
procurarei enfatizar aqueles considerados fundamentais para uma
consciência expandida que facilite a colaboração, que sustentem um
diálogo consciente e estimulem uma reflexão sobre a nossa conduta para
agir colaborativamente, objetivando a harmonia pessoal e do todo.

Diagrama 3 – Valores Humanos e Inteligência Colaborativa, Garbin

124
Inteligência Colaborativa

2.1 Integridade

O primeiro valor, a ser cultivado para estimular a colaboração,


é a integridade. Integridade, segundo Houaiss e Villar78 (2001), diz
respeito ao caráter, às qualidades de uma pessoa íntegra e honesta, e
que age corretamente, com retidão e inteireza, cujos atos e atitudes
são irrepreensíveis.
Se a integridade diz respeito à completude, à inteireza de caráter,
uma pessoa é íntegra quando conjuga outras virtudes em sua conduta
no dia-a-dia.
Agir com integridade também tem o significado de desinteresse,
o que significa dizer que uma pessoa íntegra age de forma desapegada
e limpa, mesmo porque só assim consegue integrar virtudes e
demonstrar completude como ser humano.
No trabalho, quando, por exemplo, entrevisto um candidato a
uma vaga disponível, o primeiro item que procuro avaliar é a sua
integridade, pois, se pairar qualquer dúvida sobre ela, outros valores
ou competências poderão estar afetados.
A competência, a motivação e a criatividade de uma pessoa
poderão ser perigosas, sem se sustentarem na integridade, e exigirão
constante atenção e acompanhamento, no sentido de minimizar
eventuais riscos, pois isso geraria dúvidas quanto a uma convivência
harmoniosa com as outras pessoas.
Uma pessoa íntegra cultiva e pratica a verdade sempre, pois
sabe que a base da conquista da integridade é a verdade. Se mentir,
desvanece tal base e fica difícil reconquistá-la.
É sincera, verdadeira entre o que sente e fala, sem perder a
cordialidade, a gentileza, sabedora de que, agindo assim, demonstra
respeito e cuidado com o outro.
Age com transparência, sem transigir naquilo que pode
desestabilizá-la interiormente, nos valores que a orientam. Integridade
envolve coragem de sempre trilhar com convicção o caminho de fazer
o bem, de fazer o que é moralmente correto.

78 HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Por-


tuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

125
Sávio Marcos Garbin

Uma pessoa íntegra assume compromissos, e, desde então,


honra o prometido. Sabe que cumprir promessas é fundamental para
assegurar sua integridade. Pondera muito, antes de prometer algo, pois
compreende que uma promessa feita, por mais simples que seja, gera
mais do que expectativa e compromisso: cria uma pendência que, se
não honrada, afetará sua credibilidade. Promessa cumprida ratifica a
retidão de alguém confiável, e assegura uma coerência nas ações.
Agir com integridade, portanto, é fazer somente, e tão-somente,
o que e do modo como gostaria que fizessem a você, com correção,
compromisso, zelo e sinceridade. É agir com coragem, temperança e
constante vigília do coração e da mente, para que as ações sejam sempre
virtuosas, centradas na prática do bem. É fundamental para contribuir
com a própria evolução e das outras pessoas, no agir colaborativo.

2.2 Honestidade

Numa adaptação de Kirpalani e Panjabi79 (2005, p. 17), honesto é


aquele que fala o que sente e pensa, e faz aquilo que diz, com respeito
e cuidado.
Uma pessoa honesta respeita seus deveres como cidadã e procura
assegurar seus direitos, ao tempo em que respeita os direitos dos
outros seres que vivem em comunidade. Ter consciência dos direitos
e deveres desenvolve o respeito à legalidade e o senso de justiça para
um comportamento com correção.
Uma pessoa honesta respeita a vida, a paz, indo além da não-
violência, pois respeita o direito fundamental da vida a todos os
seres.
Tem a honestidade de sempre buscar agir intencionalmente para
a excelência em tudo o que for feito, por mais simples que seja. Faz
da melhor maneira, com aquilo que estiver disponível e a lisura da
melhor das intenções.
Essa virtude sempre está acompanhada da verdade e da
autenticidade, ao contrário de quem mente, que é desonesto com os

79 KIRPALANI, Kayanti; PANJABI, Mohini. Vivendo Valores: um manual. São Paulo:


Organização Brahma Kumaris Lighthouse, 2005.

126
Inteligência Colaborativa

outros e consigo mesmo. Uma pessoa honesta age sem contradição, com
coerência, com responsabilidade e em harmonia consigo mesma.
Honestidade caminha junto com integridade, no sentido da
probidade, do agir sem que ninguém coloque em dúvida a dignidade e
a honradez, da pessoa correta e cuidadosa no respeito aos seus valores
e sentimentos.
Decência e honradez também são atributos de quem age com
honestidade, e acentuam o sentido de grandeza, grandeza da dignidade,
dignidade pela consciência do próprio valor como ser humano, de
distinção e de amor-próprio.
Uma pessoa honesta está sempre atenta e, quando erra, admite
seu erro e pede desculpas.
Honestidade é decidir e agir com imparcialidade, observando
tudo de uma questão, ser justo, indo além do que estiver expresso em
regulamentação, e considerar a intenção mais nobre subjacente nas
ações e decisões.
É agir colaborativamente e pautado em valores elevados, consciente
da interdependência de todos os seres do Planeta e da necessidade da
parcimônia em tudo o que fazemos, para contribuir com o todo a que
estamos interligados.

2.3 Humildade

Humilde tem origem no latim humilis, no sentido de consciência


das próprias limitações, de agir sem altivez, no nível da terra. Remete
ao latim humus, de “terra fértil”, como expõe Cortella80 (2008). Húmus
significa a camada de terra vegetal que fornece nutrição, fertilidade às
plantas. Em síntese, uma pessoa humilde age sem se considerar melhor
ou mais importante que as outras pessoas, o que possibilita revigorar-se
interiormente, de forma contínua, com serenidade.
Entender a necessidade de agir conscientemente, de modo
colaborativo com as pessoas e com o todo, ajuda a compreender
que aqui estamos para servir com humildade. Somente uma pessoa
humilde consegue olhar o outro em sua plenitude, com igualdade, e

80 CORTELLA, Mario Sergio. Conferência Internacional Ethos. São Paulo: Instituto Ethos,
2008.

127
Sávio Marcos Garbin

amar de verdade, pois se dedica inteiramente, com boa e verdadeira


intenção.
Essa virtude permite enxergar as vicissitudes da vida como
aprendizado. Vemos as coisas e tratamos as pessoas com desprendimento,
percebendo o que de positivo elas têm e podem fazer.
Agir com humildade é ter a sabedoria de que é preciso se preparar
para fazer, aprender e reaprender. Uma pessoa que julga saber das coisas
deixa de se preparar, enquanto uma pessoa humilde reconhece os seus
pontos a desenvolver e dispõe-se, de modo consistente, a evoluir para
melhorar como ser humano, com estima elevada.
Ser humilde é ter a clareza de que a humildade é o oposto do
orgulho, que ofusca a visão e o coração, e alimenta sentimentos
negativos que evoluem da simples admiração para a arrogância, levando
a pessoa a se considerar superior às demais e dificultar a interação.
É ser despojado, desprender-se do “eu”, do “mim”, característicos
do egocentrismo que cada vez mais assola as pessoas, numa corrida ao
individualismo, ao consumismo e ao materialismo.
Quando em seu pensamento houver “eu” ou “mim” procure sempre
substituir ampliadamente por “nós todos”, pois o “nós” também pode
ser egoístico, no sentido dos mais próximos. Já pensar em “nós todos”
estimula a humildade de quem está buscando agir com desprendimento,
de modo colaborativo para o bem comum.
É preciso compreender que cada pessoa está num estágio de
crescimento, num ciclo de aprendizado, da mesma forma que na
natureza uma árvore tem um ciclo de crescimento, um ciclo de
renovação, como as estações do ano, quando o tronco e os galhos se
fortalecem no decorrer dos anos, e as folhas, flores e frutos se renovam
a cada ciclo.
A cada ano que passa, há um novo círculo no tronco de cada
árvore. O conjunto de círculos no tronco reflete a idade dela. Uma
árvore acumula um círculo a cada ano; jamais pode passar de um para
30 anos, da mesma forma que o ser humano também não pode passar
dos 15 para 30 anos.
Segundo a medicina oriental, o ser humano tem quatro grandes
ciclos na vida: o primeiro, até os 16 anos, que corresponde à primavera;
o segundo dos 17 aos 32 anos, que corresponde ao verão; o de 33 aos

128
Inteligência Colaborativa

48 anos, que corresponde ao outono, e o último ciclo, dos 49 aos 64


anos, que corresponde ao inverno. Muitas pessoas, quando estão na
fase do outono, querem agir como se estivessem na primavera da vida,
focalizadas excessivamente no corpo, na matéria. Na verdade, é o
momento de se preparar para o inverno, a bela fase do compartilhamento
da sabedoria acumulada ao longo da vida.
Temos conosco, geneticamente, uma série de informações desde
o nascimento, e acumulamos outras no decorrer de nossas vidas. Por
isso, cada momento é muito importante para aprender e evoluir como
seres especiais que somos.
Concentrar-se no agora evidencia gratidão e humildade de ver
isso como um verdadeiro presente, uma dádiva, uma oportunidade de
agir com bom humor, alegremente, com serenidade, palavras suaves,
precisas, caminhar comedido, sorriso ameno estampado no rosto, e
gentileza a cada instante, para evoluir junto com as outras pessoas.
A humildade de aprender com o silêncio, de aprender a silenciar
e esvaziar a mente de negatividade, ouvindo o que está no coração,
possibilita refletir melhor para uma ação mais positiva, com uma visão
ampliada.
Em parceria com a simplicidade, nos faz ver as coisas como elas
realmente são e agir com naturalidade, espontaneidade, suavidade,
sinceridade, e bondade no coração.
Exercitamos a humildade quando falamos sem ênfase em nós
mesmos, com o cuidado de “ouvir” a percepção do outro e de agradecer
com amor no coração e quando deixamos de falar negativamente em
relação ao outro, como se a iniciativa só coubesse a outra pessoa. “Ah!
Ela poderia ter me ligado, não lhe custaria nada. Era algo tão simples...”
Caso pense dessa forma, reflita que você também poderia ter ligado,
ao invés de simplesmente aguardar a ligação...
Humildade ocorre sem a subserviência que nos faça sentir desiguais
como seres humanos. Somos, ao mesmo tempo, iguais e únicos. Iguais,
pois temos as mesmas necessidades fisiológicas, a mesma capacidade
de sentir, pensar e agir. E únicos, pois cada um tem uma jornada para
aprender e se desenvolver, em convivência – vivendo com as pessoas
– de forma harmônica, para servir os outros, com os outros e com o
todo.

129
Sávio Marcos Garbin

2.4 Respeito

Ferrucci81 (2004) cita que a palavra respeito vem do latim spec,


olhar com atenção, dar atenção.

Trata-se de uma virtude que traz um universo de


possibilidades, pois nunca olhamos para as pessoas
de modo neutro, porque sempre transformamos o
que vemos e, ao vermos as coisas, damos vida a elas.
Nossa atenção gera energia, enquanto que nossa falta
de atenção a dissipa (Ferrucci, 2004, p. 130).

Olhe para a pessoa enquanto ela fala com você, dê-lhe atenção,
demonstre consideração e inteireza para que, realmente, o diálogo seja
facilitado numa base de respeito.
Habitualmente, num processo de comunicação busca-se avaliar
os interesses subjacentes no lugar das posições mostradas. Mais que o
interesse demonstrado, para haver uma interação efetiva, é fundamental
que a intenção por trás do que estiver sendo dito seja positiva para as
partes e o todo. Isso significa a inexistência de agendas ocultas para
uma ou outra parte, ou seja, existe uma agenda única, transparente e
verdadeira para todos.
Para respeitar os outros, é preciso respeitar-se, agindo sempre com
a intenção genuína de servir, de ajudar e colaborar.
Agir de modo colaborativo exige dar atenção à singularidade,
dar atenção às outras pessoas, à individualidade e singularidade delas,
respeitando a diversidade e as diferenças, com prudência no modo de
ver e perceber a realidade e o mundo.
Podemos tornar o dia-a-dia melhor, se praticarmos as ações mais
simples com respeito, que nos deixem mais contentes e as outras pessoas
também, além de irradiar energia positiva para maior harmonia no
Planeta.
Fazer as coisas com respeito, por mais simples que sejam, denota
educação e irradia vibração positiva. Alguns exemplos:

81 FERRUCCI, Piero. A Arte da Gentileza: as pessoas mais gentis são as mais felizes e
bem-sucedidas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

130
Inteligência Colaborativa

1 - Bom Dia, Excelente Dia, de coração.

Cumprimentar as pessoas de coração significa que você realmente as


percebe, as vê e, com o coração sorrindo, deseja compartilhar um novo dia
que se inicia. Bom dia? Ir além do bom, muitas vezes automaticamente, e
desejar um excelente, um maravilhoso, um ótimo, um fantástico dia. Sair
do convencional, do piloto automático e dar atenção para que haja muita
vibração e energia positiva naquele dia. Um excelente dia registrado na
mente.

2 - Sempre faça às outras pessoas “o que” e do modo “como” gostaria


que fosse feito a você.

Agir sempre atento e cuidadoso com a outra pessoa. Se você gosta


que lhe desejem um bom, um excelente dia, também faça isso. De que
maneira? Com carinho, com um sorriso no rosto, olhando a pessoa, para
que ela se sinta percebida, com atenção. Faça de muitas maneiras, da forma
que você gostaria que fizessem com você.
Colocar-se no lugar da outra pessoa, ao realizar as coisas mais simples,
significa agir de modo consciente e respeitoso para uma harmonia no
relacionamento.

3 - Cultive palavras e atitudes agradáveis e respeitosas no dia-a-dia.

Agir com cortesia e amabilidade ao perguntar ou solicitar algo a


quem quer que seja, dizendo “por favor”, “por gentileza”, com tom de voz
equilibrado, demonstra respeito no relacionamento com o outro e facilita
uma interação colaborativa.
Para interromper outra pessoa e solicitar sua atenção e confirmação
diga “com licença”. É muito diferente de alguém que diz “com licença” e
avança, ocupando espaço sem essa confirmação.
Habitue-se a agradecer, dizendo “muito grato”, “muito agradecido”.
Quando for de coração, a satisfação será mútua. “Muito obrigado” pode
lembrar o “cumprimento de uma obrigação”, como explica Cortella82
(2008). Portanto, se dito com sentimento, vai além de algo automático e
pode até passar o significado de um abraço. Como o agradecimento está

82 CORTELLA, Mario Sergio, 2008

131
Sávio Marcos Garbin

acompanhado de voluntariedade, de espontaneidade e de gratidão pela


oportunidade do fazer e de se fazer presente, que tal dizer “muito grato
(a)” ou “muito agradecido (a)” a outra pessoa?
Aja com palavras positivas, incentivadoras e verdadeiras. Sempre
há algo positivo para falar para outra pessoa. Por isso, é importante
habituar-se naquilo que de positivo pode ser comentado com sinceridade
sobre outra pessoa.
Procure estar atento para cultivar palavras e atitudes respeitosas
e gentis, a começar pelas situações cotidianas, com as pessoas mais
próximas. Palavras e gestos agradáveis e educados criam uma sintonia
de coração com coração, aproximam e dão uma sensação mútua de
bem-estar, facilitando o relacionamento colaborativo.

4 - Respeite as coisas de outras pessoas, com o mesmo cuidado


que tem pelas suas.

Ninguém gosta que mexam naquilo que é seu. Da mesma forma,


o que é de outra pessoa é estritamente dela. Se algo não lhe pertence,
ou se estiver no local, no espaço de outra pessoa, só faça uso com sua
autorização expressa, tendo parcimônia, zelo e pontualidade, sem
esbanjamento ou desperdício. Demonstra correção, retidão e, além
de respeito, evidencia responsabilidade, e transmite confiança.

5 - Quando estiver na casa de outra pessoa ou em local público,


mantenha limpo esse ambiente, como se estivesse em sua casa.

Ao gerar lixo, guarde-o com você, caso não exista lixeira disponível,
para depois jogá-lo corretamente em local adequado, próprio para lixo.
Por exemplo, quando estiver num carro, arrume um saquinho e guarde
o lixo no próprio carro, para colocá-lo em uma lixeira num posto de
gasolina ou na lixeira de sua residência. Cada um é responsável por
seus atos.
Algo tão simples! Jogar o lixo no lixo, em local apropriado, quer
dizer que as pessoas têm direito a espaços limpos. Jamais jogue lixo no
chão, nas ruas ou em estradas. Alguém terá de limpar por você, ou o

132
Inteligência Colaborativa

lixo estará entupindo bueiros, prejudicando o ambiente em que você


também vive.
Já imaginou se todos cuidarem para que as ruas estejam limpas
nas cidades? Deixaria de haver a necessidade de pessoas somente para
limpá-las e elas poderiam trabalhar para embelezá-las, para deixá-las
mais bonitas, plantando árvores, cuidando de jardins e cultivando
flores. Essas pessoas estariam talvez se sentindo mais úteis, mais felizes,
contribuindo de forma mais calorosa para o bem-estar das demais
pessoas da comunidade. Por consequência, elas irradiariam vibração
mais positiva para a cidade e todo o Planeta.
Mais ainda, com o ser humano gerando milhões de toneladas de
lixo anualmente, precisamos reavaliar o que realmente é lixo, como
podemos reduzi-lo, reutilizá-lo, reciclá-lo, como podemos evitar o
desperdício. Como também podemos preciclar, dando preferência a
produtos que evitem agressão ao ambiente, como explica Dias83 (2005).
Significa colaborar num sentido mais amplo e respeitoso, dando atenção
ao ambiente em que vivemos e no qual queremos que nós e as futuras
gerações vivamos bem.

6 - Faça o melhor a cada instante, pois tudo o que precisa ser feito
merece ser bem feito.

Como já dizia minha querida esposa, é fundamental agir dessa


forma. Quando assim agimos, cada ação, por mais simples, ao ser feita
da melhor maneira possível naquele instante, com aquilo que tivermos
ao nosso alcance, expande nossa consciência para uma harmonia
pessoal. Irradia vibração e energia positivas para as outras pessoas,
os outros seres do planeta Terra e do Universo, numa forma muito
especial de colaborar.
Significa agir com excelência nas pequenas atividades do dia-a-dia.
Por mais simples que seja uma tarefa, pergunte-se: estou fazendo da
melhor maneira, com os recursos de que disponho? Se estiver fazendo
da melhor maneira, com o coração alegre, grato pela oportunidade de

83 DIAS, Genebaldo Freire. 40 Contribuições Pessoais para a Sustentabilidade. São


Paulo: Gaia, 2005.

133
Sávio Marcos Garbin

fazer, mais facilmente poderá trilhar o caminho da evolução como pessoa


e ser humano, e irrigará fluxos positivos de energia que alimentarão
positivamente a consciência ou, em última instância, o próprio espírito.

7 - Respeite o direito dos outros.

Como cidadãos, todos nós temos direitos e deveres. Temos o direito


mais elementar à vida, o direito de saber dos nossos direitos e o dever,
a obrigação de respeitar o direito dos outros. Respeitar, por exemplo, o
seu lugar e o dos outros, nas filas. Respeite o direito de todos terem suas
coisas organizadas e limpas. Respeite as pessoas mais velhas. Respeite
os pais. Respeite os filhos. Respeite o tempo das pessoas. Respeite a
ética, consciente dos limites daquilo que pode fazer. Respeite a natureza
que nos dá o ar, a água e o alimento para uma vida em equilíbrio e
saudável com as pessoas.
Respeitar: dar atenção a si mesmo e aos outros, com carinho,
integridade, honestidade, bondade e desprendimento no coração.

2.5 Transparência

Transparência significa fazer as coisas aberta e verdadeiramente,


às claras, sem subterfúgios. Pode ser considerada parte das virtudes
honestidade e integridade, porém, relevada sua importância para o
agir colaborativo, a aprecio como um valor que merece ser destacado.
Algumas perguntas para saber se há transparência, por exemplo,
numa organização, numa comunidade, são:
- O que faremos poderá ser contado a todos os envolvidos na
organização, na comunidade? Se não puder ser dito, no limite, jamais
pode ser feito em nome da transparência.
- O que se faz e o que se pretende fazer são contados de forma
proativa e voluntária, ou somente em decorrência de impactos negativos
ou compulsoriamente, por exigências legais?
Da mesma forma, em casa: só se faz o que pode ser contado a todos
da família. Aquilo que se pretende fazer também deve ser contado a
todos da família, mesmo porque algo feito por um membro da família
acaba por afetar a todos, negativa ou positivamente.
134
Inteligência Colaborativa

Ações transparentes praticadas ao longo do tempo estimulam a


sinceridade. Sinceridade, com gentileza, denota respeito e consideração
com as pessoas, e assegura a integridade nas relações.
Num mundo em que a sustentabilidade da vida precisa ser
premente na agenda das pessoas, é descabido falar em níveis de
translucidez e transparência.
Mais do que a informação, a intenção, o propósito mais íntimo
é deixado claro aos participantes? Isso é transparência genuína. Para
colaborar, agir colaborativamente, é preciso ter a consciência mais
elevada de que nossas ações são acompanhadas da intenção verdadeira
de servir, contribuir de forma positiva com as pessoas, com o todo.
Questões ligadas ao poder, portanto intimamente ligadas ao ego,
dificultam, muitas vezes, a transparência. A hierarquia criada para
“facilitar” a gestão nas organizações, ou para diferenciar classes sociais,
em outra perspectiva, pode dificultar a transparência, por diferenciar as
pessoas umas das outras, quando dá um sentido de maior importância
a alguns que, na essência, inexiste, pois todos somos seres humanos.
Transparência, portanto, diz respeito a agir com clareza e
sinceridade, e ratifica os limites impostos pela ética que considere a
todos, facilitando, sobremaneira, a colaboração.

2.6 Paciência

Existimos e, para viver, vivemos com outros seres humanos. Essa


convivência pacífica e harmoniosa exige paciência.
A paciência é a virtude de manter um controle emocional
equilibrado, sem perder a calma, ao longo do tempo, segundo a
Wikipedia. Do mesmo modo, Ryan84 (2006, p. 14-16), ao enfatizar a
importância da paciência, menciona que ela proporciona o autocontrole
e a capacidade da pessoa parar e melhor usufruir o momento presente.
É uma característica humana que pode ser fortalecida.
Corremos tanto, muitas vezes, para ganhar alguns segundos, alguns
minutos nas situações cotidianas, e gastamos bem mais tempo para nos
recuperarmos da energia despendida com os sentimentos negativos,

84 Ryan, M. J. O Poder da Paciência. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

135
Sávio Marcos Garbin

externados até asperamente e mais tempo ainda verificando a forma


oportuna de se desculpar com a outra pessoa.
A virtude da paciência nos estabiliza emocionalmente e propicia
a condição para melhor refletirmos sobre colaborar e contribuir com
o desenvolvimento do outro, sem ser afetado pela decisão deste fazer
suas escolhas e utilizar o seu tempo da maneira que considerar mais
conveniente.
Ser paciente significa estar focalizado em si próprio, num
apaziguamento interno, que traz serenidade e perseverança. A ação
do outro é só dele e, diante disso, mantemos o autocontrole, sem nos
sentirmos afetados.
A paciência permite-nos melhor ouvir e perceber o outro, paciência
de segundos ou minutos para respeitar-se e respeitar, dando atenção a
si mesmo e aos outros.
Como valor importante para o desenvolvimento da inteligência
colaborativa, abrange a tolerância e a prudência. A tolerância é o
reconhecimento de que as outras pessoas têm o direito de manifestar
suas diferenças de conduta e de opinião. Ser tolerante é compreender
e admitir que as outras pessoas podem sentir, pensar e agir de
modo peculiar. Quem é tolerante age com respeito, em busca de
entendimento.
Tolerar não significa agir com indiferença ou fazer concessões,
transigindo naquilo que conhecemos e entendemos ser correto, ser
justo. É ter a tranquilidade de saber esperar, sem confundir espera
com lentidão.
Se apressarmos o leito do rio, podemos afetar suas margens e a
própria perenidade, exigindo ações posteriores de maior impacto para
sanar danos. Por que, então, muitas vezes, apressamos o leito do rio
nas atitudes do dia-a-dia?
Grande parte do tempo que gastamos decorre daquilo que fica na
nossa consciência, proveniente de sentimentos, pensamentos e atitudes
do que fazemos no dia-a-dia com as pessoas mais próximas. Se nossa
conduta se originou de impaciência e de intolerância na interação com
as outras pessoas, isso permanece conosco, e pode ser potencializado
nas interações seguintes.

136
Inteligência Colaborativa

Para cultivar a paciência e a tolerância, portanto, é fundamental


eliminar medos e evitar que o desconhecimento nos deixe mais distantes
uns dos outros.
Já a paciência, junto com a prudência, mostra que precisamos
ter ponderação, que ajamos comedidamente, ao decidirmos aquilo
que faremos, observando os possíveis impactos presentes e futuros de
nossas ações. A prudência evita que se aja açodadamente, por mera
conveniência, apenas considerando o tempo presente, com foco restrito
e sem uma visão sistêmica do todo.
Cultivar a paciência exige harmonia interna para uma vida de
gratidão e alegria, de modo que nossa leveza no pensar e no agir também
se reflita na leveza e na maneira de agir das outras pessoas.

2.7 Gentileza

Essa virtude pressupõe ser gentil, ser carinhoso, atencioso e


afetuoso com as outras pessoas.
Alguém com consciência mais elevada sabe que ser gentil faz
bem para si, independentemente da manifestação do outro. Ser gentil,
esperando a gentileza, é uma forma egocêntrica de se relacionar, pois,
ao agir assim, o foco ainda continua no eu. Na gentileza verdadeira,
o foco sempre está na outra pessoa, sem dissimulação e sem esperar
nada em troca.
Para colaborar, a gentileza é fundamental, pois emana a energia
positiva que nos ilumina e sintoniza espiritualmente.
Você já pensou de que modo poderíamos evoluir sozinhos, ser
gentis, ser amorosos, ser carinhosos sozinhos?
Se ficarmos em volta de uma fogueira ou bem próximos de
outras pessoas, essa proximidade nos aquece. Já a gentileza aproxima
uma pessoa da outra porque as aquece interiormente, e sempre vem
acompanhada de delicadeza, bom humor e de alegria, fala e gestos
agradáveis e verdadeiros.
A gentileza com espontaneidade e suavidade de olhar e tratar a
todos de maneira ainda melhor do que aquela com que gostaríamos
de ser tratados facilita sobremaneira a convivência num mundo de
colaboração.
137
Sávio Marcos Garbin

2.8 Benignidade

A benignidade diz respeito ao propósito, à intenção de fazer o


bem aos outros. É fundamental para facilitar a ação colaborativa e
possibilitar uma vida pacífica com maior limpidez no pensamento, sem
os turvamentos do ego, e incrível sensação de leveza.
A benignidade está intimamente ligada à bondade de uma pessoa
que pratica o bem. Bondade significa, no sentido mais sublime, agir
com o coração em prol do bem-estar das pessoas e de todos os seres
que habitam este Planeta.
A benignidade e a bondade nos remetem à generosidade, que
envolve nobreza de sentimentos e ações para compartilhar de modo
espontâneo, sincero e, com determinação, contribuir com o outro,
ajudá-lo.
Levam-nos também à solidariedade, que além de significar
responsabilidade mútua e recíproca, possibilita compreender que
podemos conviver de forma sólida, consistente e fraternal com as
outras pessoas, se houver prontidão de apoiar verdadeiramente a quem
necessita, de ajudar uns aos outros.
Acostumamo-nos a competir, o que só divide, e só alguns ficam
momentaneamente satisfeitos, enquanto, ao colaborarmos, nutrindo
a bondade, a generosidade e a solidariedade, compreendemos que as
pessoas podem ficar mais contentes e em sintonia umas com as outras.
Assim, a benignidade é basilar para o entendimento de que, ao
colaborar, ao partilhar com as pessoas, com intenções verdadeiramente
nobres e sublimes para viver e praticar o bem desapegadamente, a
pessoa intensifica uma luz clara e brilhante que abre um sorriso no
coração.

2.9 Gratidão

Grato vem do latim gratus, agradecido, aprazível, suave e agradável.


Estudos mostram que as pessoas conscientemente gratas vivem em
harmonia, adoecem menos e têm atitudes mais positivas e alegres.
Agir com gratidão é fazer somente, e tão-somente, aquilo que agrada
ao coração, porque gratidão contém amor.

138
Inteligência Colaborativa

Uma experiência do professor Masaru Emoto 85 (2006), ao


fotografar cristais da água, por meio de seu congelamento e da
utilização de câmeras de alta precisão e velocidade, mostra que a água
reage a palavras e sons. E o cristal mais belo, mais perfeito e rico em
detalhes, foi fotografado com as palavras gratidão e amor. Quando
o cristal foi fotografado apenas com a palavra gratidão, ficou bem
parecido com o cristal obtido das palavras gratidão e amor, o que já
não ocorreu somente com a palavra amor, porque quem pensa e age
com gratidão, tem amor.
Por isso, é importante entendermos que tudo que tem vida reage
aos nossos sentimentos, pensamentos e atitudes. A água, por exemplo,
é vital a todos os seres. Somos 90% água ao nascermos, 70% água na
infância, 60% na fase adulta e 50% água na velhice.
Nutrir sentimento profundo de gratidão proporciona sensação
de bem-estar, aproveitamos de forma mais prazerosa o tempo de que
dispomos, reconhecemos a importância dos outros e ficamos mais
abertos para agir colaborativamente. Quantas pessoas nós tocamos
ao longo de nossas vidas, ajudando-as a sorrir e a crescer como seres
humanos? Quantas pessoas nos ajudaram e quantas nos auxiliam
hoje, contribuindo para nossa evolução? Quantas vezes paramos e
agradecemos por tudo isso, pela oportunidade de viver, sorrir e dormir
ao lado de quem amamos? Quanto para agradecer e nós muitas vezes
economizamos, mesmo desconhecendo o momento, o dia seguinte,
em que talvez já nem mais estejamos aqui...

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

A gratidão é uma virtude que nos propicia um caminho para


a evolução, e se baseia em intenção clara e desprendida, ligada à
abundância, como uma manifestação individual e interna para a
plenitude da vida.

85 EMOTO, Masaru. Mensagens Ocultas na Água. São Paulo: Cultrix, 2006.

139
Sávio Marcos Garbin

Um exemplo da natureza para a abundância: uma laranjeira não


escolhe para quem irão as laranjas. Faz o melhor de si, independentemente
de quem irá saboreá-las. Centra-se na escolha pela abundância e no
fazer despretensioso, com gratidão intrínseca pela vida.
Quantas vezes comemos uma fruta somente como alimento,
esquecendo de saboreá-la, esquecendo de agradecer a tantas pessoas que
dela cuidaram, desde a semeadura, o plantio, a colheita até o momento
em que ela possa chegar às nossas mãos, intacta, tenra e cheia de vida?
E, às vezes, ainda, jogamos um pedaço fora, desperdiçando parte da
água e da energia utilizada em todo o processo de produção, transporte
e acondicionamento.
Gratidão de poder fazer o melhor com o que está disponível,
dedicando-se de coração. Isso é excelência no pleno sentido da palavra,
desde o simples ato de varrer o chão, fazer um café. Excelência é fazer
o melhor possível com aquilo de que dispomos, com gratidão, energia
e vibração mais positivas.
É preciso sentir gratidão por estar vivo e servir, gratidão por poder
aprender com os outros, o que nos faz transbordar de alegria e ilumina
a alma.
Esse sentimento nos faz sair da paralisia da indiferença que
se transforma em patologia, sem que percebamos, nitidamente, a
importância do agradecimento genuíno, de coração, acompanhado de
doses crescentes de participação positiva em comunidade. Quantas vezes
conversamos com nossos vizinhos? Como cultivamos e agradecemos as
amizades no ambiente de trabalho e fora dele, na comunidade?
Paremos um instante, diversos momentos, ao longo do tempo, e
agradeçamos pelo que somos e pela oportunidade que recebemos de
nascer neste Planeta chamado Terra.
Todos nós temos o mesmo tempo de vinte e quatro horas por
dia, para ajudar, servir e evoluir como seres nascidos neste Planeta.
Somos únicos e, por isso, podemos contribuir de modo diferente e nos
complementar com muita energia positiva e gratidão.
Quando decidi que este livro seria lançado e que seu conteúdo
também estivesse disponível pela Internet, para todas as pessoas terem
oportunidade de acesso, foi incrível a velocidade com que muitos fatos
ocorreram, de modo que eu obtivesse várias informações e fizesse
inúmeras conexões que aceleraram a sua concretização.
140
Inteligência Colaborativa

O sentimento e o pensamento de gratidão, de abundância, com


desapego, por poder compartilhar com as pessoas algo para mim muito
importante, fizeram com que toda a minha energia, minha vibração
estivessem concentradas para concluir e divulgar seu conteúdo.
Se os leitores vão lê-lo no formato de livro ou de um arquivo pela
Internet, deixa de ser importante. Quem puder adquiri-lo o fará, com
a certeza de que se buscou neutralizar o carbono na sua edição, e todos
poderão ter acesso livremente pela Internet a grande parte do texto,
para leitura.
Agradecer com habitualidade facilita o entendimento do significado
da colaboração genuína, focada no bem comum, para agir com a
melhor das intenções e contribuir com incondicionalidade, desapego
e desprendimento de esperar algo em troca.
A gratidão é uma virtude que nos dá um grande caminho para a paz.
E a paz é a quietude de um coração sereno, de quem está em harmonia,
para colaborar com os outros e servi-los, em benefício do todo.

2.10 Responsabilidade

Responsabilidade significa responder pelas consequências


dos próprios atos. A responsabilidade aumenta à medida que são
expandidos os limites da consciência, a exemplo do entendimento
sobre a importância da colaboração em todos os momentos da vida.
Exige que nos desenvolvamos evoluindo nas atitudes, nos hábitos, no
modo como aproveitamos o nosso tempo para nos aprimorar como
seres humanos.
A conduta sempre vem acompanhada de uma intenção, que só a
própria pessoa realmente sabe qual é. Essa intenção fica registrada na
consciência e é isso que remanesce e a acompanhará em sua trajetória.
Ela responderá positiva ou negativamente pela intenção, forma de
agir e se relacionar.
A oportunidade de fazer algo sempre vem acompanhada da
responsabilidade, com suas consequências pelo que fazemos ou
não, na família e perante todas as pessoas que podemos influenciar
e ajudar em pequenas ou grandes comunidades para contribuir em
sua evolução.

141
Sávio Marcos Garbin

O senso de responsabilidade num mundo de colaboração


e harmonia aumenta a confiabilidade, faz a pessoa cumprir os
compromissos assumidos. Ela tem alegria contagiante e age positiva e
intensamente com excelência. Compartilha suas ideias e trabalha para
o bem comum, inspirando e transpirando disposição e vontade, sem
esperar pela ação do outro.
O ser humano é o único no Planeta capaz de agir para influenciar
deliberadamente o seu ambiente e quem nele vive. Isso implica
responsabilidade consigo mesmo e com todos, indistintamente. Assim,
responsabilizar-se também pode significar agir com seriedade, no
sentido de estar atento a si mesmo e ao todo, para realizar algo com
cuidado, evitando prejudicar outros seres hoje ou no futuro.
Uma pessoa responsável é correta, honesta, humilde e simples, e
considera como seus os interesses e o bem-estar dos outros. Por mais
singelo que seja o que faça, faça da melhor forma, e busque soluções
sustentáveis que melhorem sua vida e a de todos da comunidade e do
Planeta.

2.11 Coragem

Coragem é proveniente do latim animus, daquilo que vem da alma,


do espírito, da intenção, do caráter, do coração. Houaiss e Villar86
(2001) citam que, etimologicamente, coragem, originada do francês
courage, significa disposição nobre do coração, qualidade espiritual de
bravura e tenacidade. Portanto, se estivermos nutrindo outras virtudes,
a coragem, como valor, nos dá forte ânimo para uma ação centrada no
bem-estar dos outros.

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

A coragem como valor implica atitude positiva para fazer ou deixar


de fazer algo, dizer sim ou não de acordo com as convicções pessoais,
suportadas em outros valores elevados.

86 HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles, 2001.

142
Inteligência Colaborativa

Significa colaborar com a harmonia do todo, tendo a intenção de


fazer algo e realmente realizar com firmeza. Há pessoas que, no dia-
a-dia, fazem um movimento e ficam onde estão. Procuram se mostrar
como se quisessem fazer algo, quando, na realidade, estão sem a
determinação para uma ação efetiva. Mais que confiança, falta-lhes
coragem.
Como um valor importante para a Inteligência Colaborativa,
ressalta a vontade e a determinação para uma ação centrada na
colaboração, a perseverança, a constância naquilo em que acredita, em
prol do bem-estar dos outros, com gentileza e atenção.
Implica superar o medo, dar um primeiro passo sem ter todas as
informações, acreditando na intuição para agir, sempre com retidão.
A coragem do agir agora colaborativamente, sem hesitar ou
postergar, evita a conveniência do foco em si mesmo, e nos leva a
indagar permanentemente o que podemos fazer agora para colaborar
com os outros e com o Planeta, por meio de nossas ações cotidianas e
de que maneira podemos agir, determinada e inclusivamente, para o
bem comum num Planeta em que todos podem estar mais próximos.

2.12 Simplicidade

Simplicidade é a capacidade de viver com o que é essencial,


sem pompa, luxo ou ostentação, com frugalidade e comedimento,
moderação na alimentação e em tudo o que consumimos.
Num Planeta exaurido, e em que as pessoas precisam reaprender a
consumir e a viver, a simplicidade é uma virtude, um valor sobejamente
apreciado.
Simplicidade de novos hábitos nos leva, em cada gesto, em cada
atitude, a agir pensando elevadamente em nós e em todas as pessoas
do Planeta. Cada pequeno gesto, realizado estritamente naquilo que é
fundamental e essencial para a vida, dá uma sensação de que é possível,
sim, colaborar para que o futuro da humanidade seja mais harmônico
e menos desigual.
É ter a visão da prosperidade como aquilo que nos é necessário e
suficiente. Mais do que o necessário e suficiente, na lógica do pensar
colaborativo para a sustentabilidade da vida, é desperdício.
143
Sávio Marcos Garbin

Para Mesquita87 (2003, p. 55), a simplicidade “é a capacidade de ver


a essência das coisas e vivenciá-las”.
Está ancorada na modéstia, quando nos despojamos de vaidades
que só alimentam o nosso ego, gerando complicações de toda ordem.
Ratifica o que outros valores têm de positivo. Uma pessoa pode dizer a
verdade, porém sem simplicidade ela pode se tornar complicada e até
arrogante. Ser verdadeiro com simplicidade é natural do ser humano,
simples assim.
É aliada da humildade. Uma pessoa pode ter a humildade de buscar
aprender aquilo que desconhece, porém precisa da simplicidade para
agir descomplicadamente na busca desse aprendizado. A simplicidade
dá o suporte e complementa o que falta à humildade.
Junto com a naturalidade, nos faz viver de modo simples, e dignifica
a própria vida.
Assim, alguns valores humanos foram aqui retratados para estimular
a reflexão: integridade, honestidade, humildade, respeito, transparência,
paciência, gentileza, benignidade, gratidão, responsabilidade, coragem
e simplicidade. Eles estão interligados com outro valor fundamental:
a paz. Para agir com o intuito de colaborar com o outro, criando uma
sintonia profunda, há necessidade de que estejamos em paz. E ela ocorre
na quietude de um coração tranquilo e em harmonia. Uma pequena
estória, exposta a seguir, mostra que a paz existe independentemente
das tribulações externas.

Retrato da Paz
Era uma vez um rei que ofereceu um grande prêmio ao artista que pudesse
pintar o melhor retrato da paz. Muitos artistas tentaram. O rei olhou todos os
quadros. Depois de muita deliberação, ele foi até os dois últimos. Ele teve que
escolher entre eles.
Uma foto era de um lago calmo. O lago era um espelho perfeito para
as montanhas pacíficas que se erguiam em torno dele. Em cima, fofas nuvens
brancas flutuando no céu azul. Todos os que viram esta foto disseram que era o
retrato perfeito da paz.

87 MESQUITA, Maria Fernanda Nogueira, 2003

144
Inteligência Colaborativa

A segunda foto também tinha montanhas. Estas montanhas eram escarpadas


e estavam desprotegidas. Acima, um céu cinza, com chuva caindo e o piscar de
um relâmpago. Do lado da montanha, a queda de uma cachoeira espumante.
Isso em nada parece ser um lugar tranquilo. Mas, quando o rei observou mais
atentamente, ele viu que havia um arbusto crescendo na rocha. Dentro do mato,
uma mãe pássaro havia construído seu ninho. Lá, em meio ao grande volume
de água, a mãe pássaro estava sentada em seu ninho. Ela era o retrato perfeito
da paz.
O rei escolheu a segunda, ”porque”, explicou ele, “a paz não é apenas
um lugar onde inexiste barulho, problemas ou trabalho duro. A paz ocorre, no
meio das coisas como elas são, quando há calma em seu coração. Esse é o real
significado para a paz”. (Autor desconhecido)

Assim, elevar a consciência ao cultivar valores, sentimentos e


pensamentos positivos é, portanto, fundamental para que possamos
discernir aquilo que realmente é importante. Pergunte a alguém que
esteve à beira da morte e perceba, em sua resposta, que o que realmente
importa não são as coisas materiais, pois a pessoa nada vai levar, ao
morrer. Lembro-me do que disse Roberto Shinyashiki, em uma palestra
que assisti faz um bom tempo, em Brasília: o que realmente importa
são as coisas do coração, os grandes sonhos e o que se deixou de fazer
com a família.
Conversar, praticar e vivenciar valores humanos elevados em todas
as fases da vida, em casa, na escola, no trabalho ou nos momentos de
convívio social e de lazer, dá o pleno entendimento de que estamos aqui
na Terra para aprender a servir os outros, com os outros, colaborando
e contribuindo para a nossa evolução como seres humanos.
Quantas vezes investimos nosso tempo para conversar sobre
valores humanos, reforçando a prática do exemplo em casa com os
filhos? Lembrando sempre que uma das responsabilidades dos pais, a
principal, são os valores, as virtudes transmitidas aos filhos. Quantas
vezes fazemos isso, também de modo determinado, na escola ou no
trabalho? Quantas formas possíveis de vivenciar e fazer isso? Investir
tempo nas mais diversas circunstâncias e ocasiões para abordar os
valores humanos elevados é lembrar-se sempre de que os valores são

145
Sávio Marcos Garbin

basilares e que tudo o mais decorre disso. É importante começar a


fazer deles um hábito e, com o passar do tempo, internalizamos, nos
acostumamos e esse hábito fará parte do nosso cotidiano.
Agir assim contribui para aumentar a autoconfiança e a confiança
de que podemos, sim, avançar rumo a mundo mais colaborativo.

3. Construção de Confiança Mútua


Para que uma pessoa colabore com outra, ou com outras pessoas,
é imprescindível haver confiança.
Desse modo, confiar significa acreditar na capacidade, na
competência do outro em fazer algo e que aquilo a ser feito ocorrerá
com comportamento esperável, correto, baseado em valores humanos
elevados.
Sonnenberg88 (2000, p. 175) chama a atenção de que “a confiança
precisa ser construída com dedicação, alimentada vigorosamente e
reforçada de forma constante; ela se estabelece aos poucos, com o
tempo, por meio de experiências bem-sucedidas”.
Ele concebe a construção de relações de confiança, comparando-a
com o ato de acrescentar várias camadas a um cilindro central, uma
de cada vez, de forma que cada uma se funda com a anterior, antes
que outra camada seja acrescentada.
Numa adaptação de sua abordagem, a construção da confiança
para a inteligência colaborativa começa pelo anel maior, que é
constituído das características sobre as quais repousa a confiança. São
atributos como valores humanos elevados, primados pela integridade
e honestidade que também referenciam a probidade, e acrescidos da
competência, da segurança e da força da convicção transmitidas a
outra pessoa.
Quando essas atitudes são repetidas com frequência, a relação
fica mais forte e pode chegar ao segundo anel, denominado coerência,
coerência pela uniformidade, harmonia e congruência no modo de
proceder, de se comportar positivamente.

88 SONNENBERG, Frank K. Administração Consciente – como melhorar o desempe-


nho empresarial com integridade e confiança. São Paulo: Cultrix, 2000.

146
Inteligência Colaborativa

Diagrama 4 Inteligência Colaborativa e Confiança, Garbin


adaptado de Sonnenberg (2000)

Como ressalta Sonnenberg, inicialmente a confiança precisa ser


assimilada, pois ainda não faz parte da crença, e os relacionamentos
precisam resistir ao teste do tempo. Para isso são necessários padrões
e procedimentos uniformes, que sejam regulares e coerentes. Por isso
é importante a coerência para alcançar a credibilidade nos atos.
Quando a coerência é estabelecida e ligada aos atributos básicos,
ela passa a fazer parte da história da pessoa ou da organização. Há um
sentido de que somos mais capazes de prever o que elas farão no futuro.
Alcançamos a credibilidade e, junto com ela, temos a previsibilidade nos
relacionamentos. Torna-se desnecessário questionar as promessas feitas
ou nos preocuparmos com elas, pois há confiabilidade, simplesmente
acreditamos na pessoa e nos sentimos bem.
Cultivar a confiança no sentido de estimular a inteligência
colaborativa precisa estar sustentado em atitudes e palavras cuidadosas
continuadamente, entendendo e respeitando a individualidade, a
singularidade e autonomia do outro, com muito cuidado e gentileza.

147
Sávio Marcos Garbin

A confiança é construída com base no respeito às experiências e


aos conhecimentos das pessoas, em ambientes de mútuo aprendizado
e compartilhamento.
Significa estimular a autoconfiança e a autoestima, para que cada
pessoa possa avançar e trilhar, com respeito e dignidade, a sua trajetória
de evolução.
De modo geral, quanto maiores os níveis de confiança e de cola-
boração entre as pessoas, mais elevado é o nível de reciprocidade.
Essa reciprocidade deve estar distante do favorecimento, dos
favores pessoais, próprios da mesquinhez egoística que procura
causar dependência e tolher a liberdade de escolha e autonomia,
muitas vezes sob formas dissimuladas de manipulação, que induzem
à paralisia e ao torpor, à letargia, fazendo acreditar que existe a
vontade de ajudar, que existe a solução, e que dará o que alguém
precisa.
Cada pessoa, e somente ela, sabe de sua vida e é responsável
por ela. Tem o direito à liberdade de escolher, de decidir qual o seu
caminho, sem induções deliberadas que tolham sua capacidade de
discernimento e de escolha com a plena visão do todo.
A construção da confiança implica agir com reciprocidade,
como dádiva, numa alusão a Marcel Mauss, com a generosidade de
dar ou fazer algo a alguém, espontaneamente, sem expectativa de
retribuição, nos limites da ética, numa conduta que nos aproxima
das pessoas e nos faz perceber que estamos todos interligados.
Isso diz respeito a termos reciprocidade com o todo, o que significa
dispensar tratamento igual às pessoas, sem distinção, sem manipulação,
de modo desinteressado, sem espera de algo em troca, agradecendo
simplesmente pela oportunidade de fazer algo de bom, de ajudar, de
retribuir, de contribuir para a harmonia do Universo e saber que, em
um momento de necessidade alguém nos ajudará, não forçosamente
quem ajudamos, pode ser outra pessoa. Da mesma forma, haverá a
oportunidade de retribuir por algo recebido, e isso pode ser para quem
nos ajudou, para outra pessoa ou para outras.
Evita, com isso, um distanciamento nas relações, por não se
solicitar ajuda a alguém pelo receio de criar pendência, com cobrança
futura, e de alguém, ao ajudar, cobrar pelo auxílio concedido. O agir
148
Inteligência Colaborativa

recíproco ocorre com desprendimento, emana energia positiva que


se propaga e retorna a nós quando necessário.
Reciprocidade com o todo, portanto, implica confiar em si mesmo
e na harmonia do Universo, é exercitar a autoconfiança e a confiança
no sentido mais transcendente e nobre, sem a mesquinhez de trocas e
favores que tolhem a plena autonomia, a liberdade das pessoas para
evoluir como seres humanos, com excelência e dignidade.
A construção de confiança inclui:
- valores humanos elevados, primados pela integridade e
honestidade, competência, segurança e força da convicção
pessoal;
- coerência nos atos, na intenção e nos comportamentos
positivos;
- credibilidade e previsibilidade nos atos;
- reciprocidade com o todo;
Além da comunicação baseada em diálogo e de ações baseadas
em valores humanos elevados, que comportamentos positivos podem
contribuir para elevar os níveis de confiança entre as pessoas?

3.1 Autenticidade cordial

Se a inteligência colaborativa exige diálogo consciente e construtivo,


e comportamento positivo baseado em valores nobres, construir confiança
com esses pressupostos evita, nas organizações, o surgimento daquilo que
Solomon e Flores89 (2002, p. 19) chamam de hipocrisia cordial. Ou a forte
tendência de as pessoas, por medo ou suposta lealdade, fingirem que existe
confiança onde nenhuma há: mostram-se educadas em nome da harmonia,
quando, na verdade, o que impera pode ser o cinismo e a desconfiança.
Considero que o fundamental é agir com autenticidade cordial, o
que vem a ser mais do que simplesmente praticar a verdade em todas as
situações. Significa ser sincero, verdadeiro entre o que se sente, pensa,
diz e faz, tendo cuidado e respeito com o outro, agindo com gentileza
e bondade no coração.

89 SOLOMON, Robert C; FLORES, Fernando. Construa Confiança: nos negócios, na


política e na vida. Rio de Janeiro: Record, 2002.

149
Sávio Marcos Garbin

A intenção que acompanha tal comportamento é a de contribuir


com a outra pessoa, sem tentar prevalecer ou levar vantagem. É de
benefício mútuo, e envolve ação com energia e vibração positivas.

3.2 Ação pelo exemplo

Quando se comenta sobre coerência, agir pelo exemplo é


fundamental. Parafraseando o apresentado em palestra por Claus
Moeller, as pessoas vão além de olhar para o seu rosto quando você diz
algo, elas olham para o seu movimento, no sentido de poder constatar
se há coerência entre o que você diz e o que você pratica. Verificam se
há coerência no comportamento.
Em branco para Internet
Você já parou para pensar na imensa
responsabilidade dos líderes, numa família, numa organização ou num
país, e em como sua coerência de conduta poderá refletir sobre o que
a maioria das pessoas terá como modelo e fará no decorrer do tempo?
Os líderes têm grande oportunidade, acompanhada de sua irmã
gêmea, a responsabilidade, de contribuir para a evolução da consciência
de todos que eles podem afetar, direta ou indiretamente. Cada um,
individualmente, é que sabe com qual intenção pratica algo, com qual
sentimento ou pensamento o faz, e que também, individualmente,
responderá por isso.
E a ação baseada no exemplo é genuína quando estimulada
pelo coração e vem do âmago da pessoa, com a mais sublime das
intenções.

3.3 Lealdade

Lealdade guarda direta relação com a confiança, pois somos leais


com aqueles em quem confiamos, e confiamos porque há uma sintonia
nos valores que nos orientam para uma ação conjunta.
No estrito significado da palavra, leal advém de legal, ou agir
segundo a lei. Assim, somos fiéis ao que optamos por apoiar, com

150
Inteligência Colaborativa

a responsabilidade de cumprir os compromissos assumidos, sempre


respeitando as leis e os valores que sustentem nossa honra e dignidade.
Caso ajamos para fazer algo que vá de encontro às nossas convicções
mais íntimas, seremos diretamente afetados na integridade, por isso
lealdade jamais poderá ser confundida com obediência.
Lealdade é aprender a dizer não, quando assim for necessário, e
explicar o porquê dessa decisão, num diálogo construtivo, para que
sempre sejam feitas as coisas certas.
Algumas ações reforçam a lealdade, a exemplo de:
- dar crédito a quem de direito por determinada ação, e
- quando, ao falar de uma pessoa ausente, proceder como se ela
ali estivesse.
Atitudes como essas, ao longo do tempo, contribuem para aumentar
a confiança entre as pessoas.

3.4 Intenção positiva e verdadeira

Quando se diz algo e a intenção, a intencionalidade acompanha,


há plena sintonia entre as palavras, os sentimentos e o pensamento.
A vibração e a energia transparecem, e isso é percebido pelo outro.
Amplia-se a confiança pela transparência na intenção, sem
nenhuma dissimulação, sempre com base na verdade.
Mesmo que o outro não perceba a verdadeira intenção, ao fazer
algo, a própria pessoa sabe e isso fica registrado em sua consciência. Se
for diferente das palavras proferidas, já existe mentira sendo estimulada
nos sentimentos e no pensamento.
Portanto, nutrir-se de intenções positivas proporciona uma
capacidade de realização mais valorativa e humana, maior estabilidade
emocional e harmonia interior.

3.5 Autoconfiança estimulada

Agir com comportamentos positivos, inclusivos e afetuosos facilita


o relacionamento, além de evitar medos desnecessários, que abalam a
segurança nas ações e reduzem a autoconfiança.

151
Sávio Marcos Garbin

Schutz

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152
Inteligência Colaborativa

Em branco para Internet.


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Assim, mesmo quando houver necessidade de oferecer um


feedback negativo, fale algo de positivo sobre a pessoa avaliada diante
da situação abordada.
Se essas dimensões forem bem trabalhadas já na infância, mais
autoconfiança e autodomínio a pessoa terá na fase adulta. Por isso,
há de se ter cuidado com a inclusão, com o equilíbrio nos controles,
muito afeto e abertura nos relacionamentos para que as pessoas
tenham mais autoconfiança, o que facilita e potencializa a existência
de círculos virtuosos de confiança.

3.6 Amizade

Num novo mundo de colaboração, os relacionamentos que, numa


organização, normalmente obedeciam à hierarquia, precisam ser cada
vez mais horizontais e laterais.
Conversar com quem faz algo, quem realiza determinado trabalho,
e sentir a vibração e o prazer em compartilhar é fantástico. Tal sensação
153
Sávio Marcos Garbin

só é possível nos relacionamentos com outras pessoas se houver alguém


em quem confiar e alguém que confie em nós.
Além da competência das pessoas, valorizar o modo como elas
se relacionam entre si, interagem e se entendem, com consideração e
afeição, amplia a confiança e o sentimento de poder contar umas com
as outras.
Assim, cultivar amizade nos leva a refletir que, muitas vezes, ao
longo da vida nos concentramos em aprender a ser competentes naquilo
que fazemos e no que almejamos fazer, principalmente no aspecto
profissional. No entanto, só é possível evoluir se, no relacionamento com
as outras pessoas, nos balizarmos naquilo que é realmente importante
para o coração, em todas as circunstâncias da vida.
Por isso, ser competente e profissional, mesmo sendo relevante,
precisa estar acompanhado de ser leal, legal e amigo. Independentemente
da dinâmica humana, talvez dizer “Você é competente, é profissional”
seja tudo o que se possa falar, pois é dessa maneira que a pessoa se
porta e age, com certa economia nos relacionamentos.
A beleza da vida, para ser plena, pressupõe doar por inteiro, todo
o tempo, fazendo aquilo de que gostamos, com as pessoas de quem
gostamos, pois ela é muito curta para ser vivida de outra forma.
Ao nos doarmos por inteiro, sem segunda intenção, a energia e a
vibração irradiam, propiciando uma leveza que retorna por meio de
energia e vibração também positivas.
Se atuarmos com as pessoas de quem gostamos de estar junto
no ambiente de trabalho e expressarmos que acreditamos nelas
genuinamente, isso nos leva a um processo de interação que dá uma
sensação mútua de maior bem-estar.
É preciso ter em mente a busca do equilíbrio, pois, se houver
concentração nos relacionamentos, em detrimento da competência,
pode ocorrer a formação das “panelinhas”. Assim, um equilíbrio entre
competência e a existência de vínculos de amizade fortalece a confiança
entre as pessoas.
Amigo é alguém que conhecemos profundamente e aceitamos,
com as virtudes e os defeitos, de tal modo que, numa conversa com
outra pessoa, somos capazes de afirmar e defender com firmeza algo
dito em desacordo com esse conhecimento.

154
Inteligência Colaborativa

Ter um amigo é ter alguém conhecedor de nossas virtudes e de


nossos limites, que confia em nós, com quem podemos compartilhar
nossas dúvidas, nossas inquietações, nossas alegrias e receber orientação
e celebrar. E o “único modo de ter um amigo é ser um amigo”, como
dizia Ralph Waldo Emerson.
Amizade gera confiança e a confiança amplia os círculos de
amizade, num ciclo contínuo, virtuoso e vital, resplendoroso como a
própria vida.

3.7 Cumprimento de promessas

Uma pessoa que promete algo gera um compromisso. Se honrado


o compromisso, aumentam a credibilidade e a confiança. Assim, pense
bem antes de prometer. Só prometa se puder cumprir, por mais simples
que seja o que for prometido. Caso surja um fato relevante que impeça
o cumprimento da promessa, converse antes de terminar o prazo
acordado para, em conjunto, encontrar alternativas de encaminhamento
e solução. E, ao cumprir a promessa feita, dê conhecimento de seu
cumprimento.
Cumprir promessas é “o jeito mais rápido de construir confiança
em qualquer relacionamento. É o equilíbrio perfeito entre o caráter e
a competência”, enfatiza Covey90 (2008, p. 220 e 221).
Evite prometer algo, se não puder cumprir. Uma pessoa que
descumpre promessas tem sua credibilidade afetada. De outra forma,
quem promete e deixa de cumprir, habitua-se a mentir, o que também
afeta sua integridade e faz perder a credibilidade e a confiança.

3.8 Disciplina positiva

Num mundo em que se acentuam a competição e, ao mesmo


tempo, a busca de identidade individual, reaprender a ser colaborativo
e mais cônscios de nossas responsabilidades como protagonistas de
ações colaborativas exige muita disciplina positiva.

90 COVEY, Stephen M. R. O Poder da Confiança: o elemento que faz toda a diferença.


Rio de Janeiro: Elsevier; São Paulo: Franklin Covey, 2008.

155
Sávio Marcos Garbin

A palavra disciplina tem em sua raiz duas origens, dois significados.


Uma delas é oriunda de discípulo, aprendiz, o que evidencia a
necessidade de orientação para o aprendizado. A outra remete à ordem
necessária para a instrução, para o aprendizado e sua prática.
No sentido de ordem, a disciplina define limites e facilita a
sociabilidade e as regras de convivência das pessoas.
Nelsen91 (2007, p. 21 e 28), ao apresentar a disciplina positiva,
enfatiza a necessidade de equilíbrio entre gentileza e firmeza. Cita que
o excesso de gentileza sem firmeza pode se transformar em liberdade
demais, e a firmeza excessiva pode se converter em severidade
exagerada, conforme detalhado a seguir.

ABORDAGENS DE INTERAÇÃO
RIGIDEZ PERMISSIVIDADE DISCIPLINA POSITIVA
(Controle Excessivo) (Sem Limites) (Firmeza com Gentileza,
Dignidade e Respeito)
Ordem sem liberdade Liberdade sem ordem Liberdade com ordem
Sem escolhas Escolhas ilimitadas Escolhas limitadas
“Você faz porque eu “Você pode fazer tudo “Você pode escolher den-
mando”. o que quiser”. tro de limites que demons-
trem respeito por tudo”.
As regras e a punição Inexistem regras Há decisão em conjunto
pela violação são infor- sobre as regras para benefí-
madas cio mútuo
Quadro 9 Abordagens de Interação, Nelsen (2007)

Tais pressupostos podem ser expandidos para as mais diversas


situações, em casa, nas organizações ou em sistemas de governo. Por
exemplo, um regime de governo permissivo, de desrespeito à ordem
representada pelas leis, é anárquico; um regime rígido, sem liberdade
para as pessoas, é totalitário; e um regime democrático é pautado pela
liberdade com ordem.
Assim, a disciplina positiva, em que o equilíbrio entre gentileza e
firmeza prevalece, com um clima de dignidade e respeito mútuo, pode
fomentar a confiança e reduzir o foco no egocentrismo e nas ações
baseadas apenas na própria pessoa.

91 NELSEN, Jane. Disciplina Positiva. São Paulo: Cultrix, 2007.

156
Inteligência Colaborativa

Se a disciplina positiva pode fomentar a confiança, a confiança,


junto com a ética, é a base da disciplina. E a disciplina, como
aprendizado ético, numa adaptação de Tiba92 (2006, p. 15), contribui
para que uma pessoa saiba o que precisa ser feito em todos os momentos,
independentemente da presença de outros: ela sabe se conduzir sempre
por valores e princípios elevados.

4. Ética da Cidadania Planetária


Ao sair de um evento em que se falou inclusive sobre ética,
havia uma mesa cheia de caixinhas com singela lembrança para os
participantes, sem qualquer etiqueta indicativa do nome das pessoas
e sem ninguém para entregá-las ou controlar a quantidade a ser
retirada individualmente. Cada participante do evento pegou uma,
consciente de que só podia pegar aquela, pois se pegasse mais, faltaria
para alguém.
Uma situação como essa, em que uma pessoa tem a liberdade de
escolha, sem ser tolhida ou cerceada por alguém ou algo, a exemplo
de uma câmera de segurança, permite uma reflexão moral.
Moral envolve a conduta da pessoa, o que ela faz em qualquer
momento da vida e que pode afetá-la, a outras pessoas ou a grupos de
pessoas, e que vai desde uma pequena comunidade até uma nação ou
o próprio Planeta.
Segundo Barros Filho93 (2008), há, porém, o pressuposto de que a
pessoa aja de um modo, tendo a opção de fazer de outra forma, e que
tenha liberdade e voluntariedade para decidir. Essa liberdade de decidir
conscientemente sempre vem acompanhada de responsabilidade, uma
responsabilidade moral. Responsabilidade moral é a responsabilidade
que assumimos por agir de um jeito, podendo agir de outro.
De acordo com o Houaiss94 (2004), entre várias conotações,
moral significa o que denota bons costumes, boa conduta, segundo os

92 TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. Novos paradigmas. São Paulo: Integra-
re, 2006.
93 BARROS FILHO, Clovis de. Aula de Ética no Curso de Gestão Estratégica da Susten-
tabilidade. São Paulo: Uniethos, abril de 2008.
94 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles, 2001.

157
Sávio Marcos Garbin

preceitos socialmente estabelecidos pela sociedade ou por determinado


grupo social.
Moral, portanto, tem abrangência local, pois uma conduta pode
ser aceita num lugar e não ser aceita em outro, considerando inclusive
o seu caráter histórico e cultural. É importante a existência de normas
e regras de comportamento adotadas em determinada sociedade.
Já a ética compreende princípios universais, presentes em qualquer
realidade social e que orientam o comportamento humano. Está
presente no que é essencial para os seres humanos e baliza inclusive
as normas de conduta compreendidas numa reflexão moral.
Agir com respeito, cuidado e dignidade em relação a todos os
seres vivos, e com excelência em todas as situações, faz parte da
universalidade da ética.
Cada ser humano nasceu com a possibilidade da livre escolha. Em
todo momento tomamos decisões, escolhemos entre alternativas, como
no exemplo do simples ato de pegar uma caixinha de lembrança entre
várias à disposição.
Quando se decide fazer algo, pode até haver influência de outras
pessoas. No entanto, uma escolha ou qualquer decisão sempre é de
intencionalidade e responsabilidade exclusivamente pessoais, e pode
afetar a si mesmo e a mais pessoas positivamente, afetar a convivência
das pessoas no local em que se vive e até no Planeta como um todo, pela
energia propagada juntamente com a intenção e a própria ação.
Uma pessoa que procura expandir a inteligência para a colaboração
age em todas as situações considerando o impacto de suas ações em
relação ao todo, sem resvalar em utilidade, benefícios para si ou para
as pessoas mais próximas. Quando age buscando vantagens para si ou
para grupos próximos, há uma palavra – depende – que orienta a pessoa.
Ações baseadas num “depende” (depende da situação, da circunstância,
do momento) remetem à conveniência e podem levar a alguns caminhos
tortuosos que exacerbam o apego pessoal, o egoísmo e o materialismo.
Kohlberg95 (2002), em suas pesquisas, indicou que a educação ética
se dá por meio de interações práticas com o meio no qual uma pessoa

95 KOHLBERG, Lawrence apud MÜLLER, Nestor Reinoldo. Rumo a uma Ética da


Diversidade. In: Agostinho, Marcia Esteves; Bauer, Ruben; Predebon, José
(Org.). Convivencialidade: a expressão da vida nas empresas. São Paulo: Atlas, 2002.

158
Inteligência Colaborativa

vive. Ele distinguiu seis estágios nesse processo, que corroboram o


grau de consciência e maturidade de uma pessoa no que diz respeito
à compreensão do que seja ética:

1. Orientação por prêmio ou castigo. Característica das


crianças até mais ou menos cinco, seis anos. Agimos
segundo as normas que são dadas, [....] para evitar a
punição ou conquistar um afeto. Agimos por medo, por
temor ao mais forte, de quem dependemos.
2. Orientação pela troca de vantagens. Dos seis,
sete anos [....] até o início da adolescência, sendo
ingenuamente egoístas, agimos em proveito próprio,
atendendo a nossas necessidades e desejos pessoais.
Controlamos nosso comportamento para conseguir
uma recompensa esperada, agindo egocentricamente.
A reciprocidade é imediata e pragmática.
3. Orientação do grupo. Desenvolvemos uma identificação
com as pessoas de um grupo e agimos para conquistar
e manter sua apreciação, [....] com as regras do jogo
estabelecidas pelo grupo e expectativa dos parceiros.
Somos fiéis aos estereótipos da maioria, adaptando-nos
para evitar desaprovações. É o estágio típico do horizonte
familiar ou corporativo, que tem suas leis internas
próprias.
4. Orientação pela ordem social. Há uma dedicação à
sustentação dos valores convencionais de todo o corpo
social percebido, ou seja, das instituições que garantem
o bem comum. O respeito à autoridade e às leis torna-
se o critério central. Cresce a consciência dos deveres
pessoais e das implicações sociais de nossos atos.
5. Orientação pelo acordo social. O critério para a
ação correta tende a ser definido por direitos e deveres
aceitos por toda a sociedade. Mais do que a lei, vale
o bem comum e os contratos que valorizam o que é
bom para nós e ao mesmo tempo para todos. [....] A
utilidade pessoal combinada com o contrato das partes
envolvidas torna-se o critério mais forte.
6. Orientação por princípios universais. Quando a
consciência alcança um horizonte muito amplo, o
correto e o justo definem-se por uma decisão pessoal,
com base em critérios universais, que deveriam valer
para todos os seres humanos, pensados e assumidos
159
Sávio Marcos Garbin

livremente. Esses são princípios abstratos mas


racionalmente consistentes e aceitos em quase todas as
culturas humanas, como a Regra de Ouro (‘não faças
aos outros o que não queres que te façam’) que aparece
em quase todas as culturas humanas. (Kohlberg apud
Müller, 2002, p. 165-166).

O estudo mostra que podemos tomar decisões com um nível de


consciência pouco elevado, baseado estritamente no egocentrismo,
em ganhos pessoais, no materialismo indutor de competição, como
nos primeiros estágios citados. Num nível intermediário, as normas de
conduta de determinado grupo social norteiam e limitam as ações.
Já os dois últimos estágios denotam plena autonomia, em que a ação
se baseia em valores e princípios, independentemente da autoridade,
da existência de normas, ou de pessoas ou grupos.
Como é possível que, desde pequenos, quando há muita pureza no
coração, possamos agir com ênfase em princípios universais? Existem
várias abordagens sobre ética e todas, em essência, dizem respeito aos
limites com os quais agimos e com qual nível de consciência o fazemos.
Com quais limites nós agimos, nós convivemos? É um limite
egoísta, em que pensamos tão-somente em nós mesmos? É um limite
ainda egoísta, em que pensamos em nós mesmos e nas pessoas próximas,
ou o limite é ampliado, quando pensamos e agimos considerando “nós
todos” como parte de um todo maior?
Elevando a consciência ética, toda vez que formos decidir sobre
algo, precisamos perguntar: O que vou fazer é bom para mim, minha
família, minha cidade, meu estado, meu País, para o Planeta e todas
as pessoas que nele vivem? E o que irei fazer será bom no presente e
também no futuro para todos? Só com a afirmativa completa, então
podemos fazer o almejado. Desta maneira estaremos nos comportando
como cidadãos planetários, compromissados com a sustentabilidade,
atuando de modo ético no local em que vivemos e focalizando o Planeta
em sua plenitude.
Pensar e agir assim faz com que evoluamos para a colaboração no
nível mais elevado, o da sustentabilidade da vida. Compreendemos que
um ato verdadeiramente ético amplia os limites de nossa responsabilidade
para com as gerações futuras, a harmonia do todo, o bem comum.

160
Inteligência Colaborativa

Um cidadão planetário atua com a visão estendida, de modo


determinado e equilibrado. Muito mais do que o desprendimento em
relação ao lugar, além da mobilidade, ele considera a sustentabilidade
da vida, a equidade e a justiça como orientadores de sua ação.
Agir eticamente, neste estágio, com a consciência mais elevada,
significa que nossa comunicação se dá num patamar refinado de diálogo,
e que os valores que nos orientam são nobres e facilitam a construção
de confiança.
Respeitamos o todo, quando compreendemos e atuamos para
manter a sustentabilidade em várias perspectivas ou dimensões,
além daquela meramente econômico-financeira. E, nessas dimen-
sões, estão tanto a sustentabilidade social, cuja ênfase é a justiça
social e a qualidade de vida das pessoas, quanto a sustentabilidade
ambiental, em que são considerados os impactos das atividades hu-
manas e o que é feito para minorar significativamente os níveis de
deterioração do Planeta, ao tempo em que se amplia sua capacidade
de regeneração.
É preciso sair do agir com estreiteza de limites, tendo a natureza
apenas como valor instrumental, para extrair o que dela precisamos,
somente em atendimento às nossas necessidades, para um compor-
tamento bioético, considerando os direitos e interesses conferidos a
todos os seres vivos, como valor intrínseco da natureza. São limites
para nossas decisões presentes em um planeta chamado cotidiano que
fazem a diferença para cada um, individualmente, e a todos da comu-
nidade do planeta Terra.
A ética, na dimensão social da sustentabilidade, considera a pes-
soa como cidadã ciente e consciente para o pleno exercício de seus
direitos e responsabilidades na vida em sociedade. E nesse exercício,
as pessoas elevam seu nível de consciência para uma participação ati-
va na comunidade, contribuindo para a construção conjunta de uma
sociedade mais harmônica e justa.
Neste sentido, Toro e Werneck96 (2007, p. 13) chamam a atenção
sobre a importância da mobilização social para construir a democracia

96 TORO A. Jose Bernardo; WERNECK, Nísia Maria Duarte. Mobilização Social – um


modo de construir a democracia e a participação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

161
Sávio Marcos Garbin

e a participação. “Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca


de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também
compartilhados.”
Reforçam que essa busca de um propósito comum cria um ho-
rizonte ético, e um país o explicita por meio da Constituição. Nossa
Constituição, já em seu primeiro artigo, exprime a escolha pela
democracia, tendo, como fundamentos, a soberania, a cidadania,
a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da
livre iniciativa, e o pluralismo político. Ao considerar a cidadania e
a dignidade da pessoa humana, a Constituição incorpora princípios
da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, do mesmo
modo que um grande número de países.
Enfatizam Toro e Werneck (2007, p. 19) que toda ordem social é
construída, e quando a ordem social se produz na própria sociedade,
temos a democracia. Portanto, na democracia, as leis são criadas, direta
ou indiretamente, pelos mesmos que vão cumpri-las e protegê-las.
Com isso, é fundamental uma articulação social equilibrada e
respeitosa com as instituições, para o alcance de aspirações centradas
no bem-estar de todos.
Vale ressaltar a relevância da democracia para uma pessoa, como
cidadã, exercer seu direito à livre escolha, próprio da condição hu-
mana, direito à liberdade, como condição intrínseca do ser humano,
e liberdade em equilíbrio com a ordem social produzida pela própria
sociedade.
É importante que as pessoas ajam como cidadãs protagonistas da
vida em comunidade, sem deixar simplesmente para os outros resolve-
rem o que as afeta. Portanto, somos também responsáveis pela omissão,
por deixarmos de fazer algo.
A democracia é fundamental para a ética da cidadania planetária,
pois pressupõe e favorece que a pessoa aja como cidadã. Dificulta
sobremaneira que lhe seja tolhida a liberdade intrínseca à sua natureza
e condição humana de evoluir como ser, a exemplo do que ocorre
em outros regimes, como o totalitário, em que se tem a servidão,
com grande dependência daqueles que estão no poder, por parte dos
cidadãos.

162
Inteligência Colaborativa

A democracia, segundo Morin97:

[....] é mais do que um regime político; é a regeneração


contínua de uma cadeia complexa e retroativa:
os cidadãos produzem a democracia, que produz
cidadãos.
A democracia comporta ao mesmo tempo a
autolimitação do poder do Estado pela separação dos
poderes, a garantia dos direitos individuais e a proteção
da vida privada (Morin, 2002, p. 107).

Nesse sentido, todos nós somos líderes, pois, de alguma forma,


podemos influenciar pessoas ao nosso redor. Temos em nossa existência
a oportunidade cidadã e cívica de participar positivamente da vida
em comunidade, agindo, colaborando e contribuindo para a melhoria
do funcionamento dos poderes, para fortalecê-los e evitar qualquer
tentativa de manipulação.
Se simplesmente “tocarmos” a vida, deixando para os outros
as decisões que nos afetam, participando somente das eleições,
podemos correr o risco de ser profundamente atingidos na essência
da liberdade como seres humanos, na liberdade que nos é intrínseca
e, consequentemente, afetados na evolução espiritual.
O Brasil tem um sistema de democracia em que o poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou o exerce
diretamente. Esses representantes são importantes para articular a
convergência dos interesses da coletividade. No entanto, essa articulação
fica mais esmerada e corre menor risco de colidir com os interesses
coletivos, se os cidadãos, desde pequenos, forem preparados e se
desenvolverem para uma participação ativa da vida em sociedade.
A participação ativa é importante para avivar continuamente
a essência da democracia, e evitar que o poder seja usado para o
domínio dos outros e os sentimentos negativos predominem. Podemos
exemplificar em várias instâncias: governantes ou gestores que procuram
obter ou sustentar determinada posição ou cargo, sem limites baseados
em valores nobres.

97 MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 6ª ed. São Paulo:
Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.

163
Sávio Marcos Garbin

Eles agem com visão extremamente materialista e podem retardar,


naqueles que são por ela influenciados, o despertar da consciência para
um ponto mais elevado de harmonia, com base em conduta positiva e
virtuosa, o que é fundamental num mundo de colaboração.
Quanto maior for o nível de participação das pessoas na vida em
sociedade, as decisões e as ações passam a ser mais colaborativas, e as
relações, por conseguinte, mais harmônicas, sobretudo se acompanhadas
de equilíbrio, visão sistêmica, ponderação, busca de compreensão
mútua, respeito, verdade, ética, valores humanos nobres e o propósito
genuíno de contribuir para a construção coletiva do bem comum.
Participar corresponde a uma escolha. Poder escolher é um ato
de liberdade, liberdade para desenvolver-se mediante atuação ativa na
vida em comunidade, como co-responsáveis efetivos para a construção
de um mundo em que todos possam viver e conviver melhor.
Urge intensificar a educação para a cidadania e a participação ativa
em comunidade desde a infância e, para isso, é preciso tornar disponíveis
informações amplas e em rede, de modo que as pessoas possam refletir
e extrair conclusões próprias para participar mais conscientemente da
vida em comunidade. Esse processo é extremamente facilitado pelos
meios de comunicação e redes sociais formadas no ambiente Web.
Educar para a cidadania faz com que as pessoas aprendam a
argumentar, respeitando a opinião dos outros; que se desenvolvam
para colaborar com cuidado, respeito, compreensão, entusiasmo e
responsabilidade; que avancemos para compreender melhor uns
aos outros, como seres humanos que somos. Mesmo com identidade
própria, temos também uma identidade cultural, social e histórica que
nos une, e que pode fazer grande diferença para salvar a espécie humana
da iminência de um colapso planetário.
Com isso, é importante ressaltar o Relatório para a UNESCO da
Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, concluído
em 1996, e conhecido por Relatório Jacques Delors98 (2001). O citado
relatório (p. 89-99) explicita os quatro pilares da educação neste século:
aprender a conhecer (saber); aprender a fazer (saber fazer); aprender

98 EDUCAÇÃO: um tesouro a descobrir. 6. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC:
UNESCO, 2001. “Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Edu-
cação para o Século XXI”

164
Inteligência Colaborativa

a viver juntos; aprender a viver com os outros (saber viver juntos); e


aprender a ser (saber ser).
Aprender a conhecer implica aprender a aprender, como parte de
uma educação ao longo da vida, em equilíbrio com uma cultura geral
e conhecimentos específicos.
Aprender a fazer vai além da aquisição de competências para
qualificação profissional, no sentido de adquirir competências para o
trabalho coletivo, em equipe.
Aprender a viver juntos desenvolve a compreensão do outro, a
percepção das interdependências e o respeito aos valores do pluralismo,
da compreensão mútua e da paz.
Aprender a ser significa a pessoa desenvolver melhor sua
personalidade e agir com maior capacidade de autonomia, discernimento
e responsabilidade pessoal.
Nossa Constituição baseia-se na Declaração dos Direitos Humanos
de 1948, que orienta muitas nações, depois das consequências
vivenciadas no pós-guerra. Quantos de nós lemos e estudamos a
Constituição? Em casa com os filhos, no trabalho, na escola? Quanto
tempo é dedicado a isso?
Quanto tempo é dedicado à participação ativa na comunidade,
em conselhos, desde escolares, de classe, comunitários, em associações
e outras formas de participação?
Como participar de modo equilibrado, desenvolvendo habilidade
de articulação, mediante comunicação baseada em diálogo, em valores
nobres, para uma ética da cidadania planetária?
Por meio da ética da consciência expandida para a sustentabilidade
da vida no Planeta; do cidadão planetário, que tem acesso às informações
e pode se comunicar com o mundo instantaneamente, participando e
agindo localmente para soluções em rede com outras pessoas.
A ética para a sustentabilidade da vida é oposta ao egocentrismo
e ao materialismo, que decorre de foco em si próprio e baseia-se
estritamente na aparência.
Uma sociedade materialista dá importância ao preço das coisas.
Se refletirmos sobre o que é realmente importante, tudo o que tem
valor não tem preço e é imaterial. Faz parte da nossa essência como
ser humano.

165
Sávio Marcos Garbin

Naquilo que é essencial, que é fundamental em nossa jornada de


vida, há a lei da abundância: quando mais se dá, sem segunda intenção,
mais se tem. Quanto mais se dá carinho, mais se tem. Quanto mais
se dá gentileza, mais se tem. Quanto mais se dá amor, mais se tem.
Quanto mais se dá respeito, mais se tem...
Precisamos, com isso, evoluir para a ética da compreensão mútua,
da coexistência pacífica, do conviver servindo, considerando o bem
comum, o bem-estar de todos, agindo com excelência e fazendo
sempre o máximo que pudermos em todas as situações. Evoluir
também para as pessoas acordarem e concordarem antecipadamente,
e agirem sustentadas em valores elevados, para o bem de todos,
sempre.
Isso quer dizer ética em que a colaboração se sobreponha à
competição já na intenção, pois o que fica registrado na consciência
é a intencionalidade ao agir, ao fazer algo.
É a ética do equilíbrio, como cita Boff99 (2003, p. 7), ao ressaltar
“a necessidade de equilíbrio entre a razão e o sentimento para um
autodesenvolvimento regrado. Se a razão reprime o sentimento,
prevalece a ética utilitária e, se o sentimento dispensa a razão, vigora
uma ética pautada no puro prazer”.
Esse processo de evolução exige agir eticamente, com base em
princípios universais que orientem todas as pessoas no Planeta, a
exemplo do contido na Carta da Terra (www.cartadaterrabrasil.org),
elaborada a partir de sugestões de 100.000 habitantes de 46 países,
e adotada pela ONU no ano 2000. A Carta da Terra nos orienta a
agir com um sentido de responsabilidade universal, a cuidar da vida
em sua plenitude e de todas as formas, de modo mais significativo,
sensato e belo.
As quatro dimensões e os 16 princípios da Carta da Terra são
mencionados a seguir, e sugiro que todo o detalhamento seja obtido
por meio do endereço informado anteriormente:

99 BOFF, Leonardo. A Ética e a Formação de Valores na Sociedade. Palestra proferida em


12 de junho de 2003, na Conferência Nacional 2003 – Empresas e Responsabilidade
Social, promovida pelo Instituto Ethos, em São Paulo.

166
Inteligência Colaborativa

I Respeitar e cuidar da comunidade de vida


1. Respeitar a Terra e a vida em toda a sua diversidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão
e amor.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas,
participativas, sustentáveis e pacíficas.
4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais
e futuras gerações.

II Integridade ecológica
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos
da Terra, com especial atenção à diversidade biológica e aos
processos naturais que sustentam a vida.
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de
proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado,
assumir uma postura de precaução.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que
protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos
humanos e o bem-estar comunitário.
8. Avançar no estudo da sustentabilidade ecológica e promover
o intercâmbio aberto e a aplicação ampla do conhecimento
adquirido.

III Justiça social e econômica


9. Erradicar a pobreza, como um imperativo ético, social e
ambiental.
10. Garantir que as atividades e instituições econômicas, em todos
os níveis, promovam o desenvolvimento humano de forma
equitativa e sustentável.
11. Afirmar a igualdade e a equidade dos gêneros como pré-
requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar
o acesso universal à educação, à assistência de saúde e às
oportunidades econômicas.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a
um ambiente natural e social capaz de assegurar a dignidade

167
Sávio Marcos Garbin

humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, com especial


atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

IV Democracia, não-violência e paz


13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis,
e prover transparência e responsabilização no exercício
do governo, participação inclusiva na tomada de decisões
e acesso à justiça.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da
vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessários para
um modo de vida sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
16. Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz.

Adotar os princípios da Carta da Terra conduz a uma ética centrada


na vida, em que alcancemos um padrão mínimo de comportamento
que seja humanitário e que toda a vida vá além da nossa própria, num
compromisso com o bem-estar de toda a espécie humana, em harmonia
com todos os seres vivos.
O caminho para a ética da cidadania planetária é fundamental para o
desenvolvimento da inteligência colaborativa, de modo que repensemos
o saber fazer, o saber viver juntos e o saber ser, para a sustentabilidade
da vida e nossa inteireza como seres especiais que somos.

5. Sustentabilidade da Vida

Imagine alguém que mantenha um ritmo intenso de atividades e


esteja em torno de 25% acima de sua capacidade física. Como suportar
tal ritmo? É o que está ocorrendo com o planeta Terra, já nestes níveis,
acima do limite de sua capacidade de regeneração.
Esse limite acentua as desigualdades no relacionamento e
na vida das pessoas, as desagregações humanas e um modelo
de desenvolvimento baseado em expansionismo e crescimento
econômico. Esse limite reforça uma percepção distorcida do que seja
progresso.

168
Inteligência Colaborativa

Meadows, Randers e Meadows100 (2007, p. 5) revisaram um


trabalho realizado há 30 anos para o Clube de Roma sobre os limites
de crescimento para o planeta Terra e, apesar de todo o alerta feito à
época, concluíram que a situação, ao invés de melhorar, se agravou,
e estamos na iminência de um colapso. Os principais fatores que
evidenciam tal análise são:
- crescimento da população, mesmo com a queda nas taxas de
natalidade;
- produção industrial crescendo mais rapidamente do que a
população, resultando em aumento na média do padrão material
de vida;
- crescimento exponencial da concentração de dióxido de carbono
na atmosfera.
Junte-se a isso, entre outras questões, o aumento no consumo de
energia e na produção de alimentos. Concordo com o pensamento dos
autores de que “exponencial” é a palavra que define esse conjunto de
fatores e que leva a uma reflexão: crescimento exponencial são impactos
multiplicados pelos impactos acumulados em períodos anteriores. Como
exemplo, quando se fala em redução dos níveis de desmatamento, a área
desmatada continua a crescer sobre a área acumulada de desmatamento
anterior. Por isso, a questão a ser formulada deve ser outra, ou seja,
em que momento se objetiva atingir níveis de regeneração diante da
situação atual das florestas?
Por isso é importante a premência de pensar e agir com
sustentabilidade. A sustentabilidade, em termos econômicos,
segundo Brandão e Santos101 (2007, p. 14), significa viver da “renda”
proporcionada pelo Planeta, e não do seu “capital”, o capital natural. Já
o capital natural é “responsável pela provisão dos serviços ambientais,
isto é, os benefícios que os seres humanos obtêm da natureza produzidos
por interações nos ecossistemas, tais como produção de oxigênio,
sequestro de carbono, formação dos solos, provisão de água, madeira

100 MEADOWS, Donella; RANDERS, Jorgen; MEADOWS, Dennis. Limites do Cresci-


mento: a atualização de 30 anos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007.
101 BRANDÃO, Carlos Eduardo Lessa; SANTOS, Homero Luís (Coord.). Guia de Sus-
tentabilidade para as Empresas. Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. São
Paulo, SP: IBGC, 2007(Série Cadernos de Governança Corporativa, 4).

169
Sávio Marcos Garbin

e fibras, regulação do clima, valores estéticos, espirituais e de lazer”.


Alguns deles são fundamentais para os seres humanos.
Tem-se com isso uma equação bem simples: o Planeta é finito,
tem um limite e uma capacidade de suporte superados, e há taxas de
crescimento exponencial em vários fatores que estão correlacionados.
Urge, portanto, uma capacidade de reação e de ação resoluta das
pessoas que, somente de modo colaborativo, podem reverter tal
quadro.
Mais de 20 anos decorreram quando, em 1987, foi publicado
o Relatório Brundtland, que cunhou o termo desenvolvimento
sustentável como aquele que satisfaz às necessidades do presente, sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as
próprias necessidades.
Uma definição que ultrapassou o pensar econômico e ambiental,
pois satisfazer necessidades inclui obrigatoriamente a melhoria da
qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. Sustentabilidade passou
a ser, com isso, um objetivo, um resultado a ser alcançado por todos,
mediante novas práticas, novas tecnologias e um novo padrão de
comportamento humano.
A sustentabilidade diz respeito ao futuro da humanidade e ao
modo pelo qual o ser humano co-existe, co-evolui e age de modo
interdependente e integrado com os demais seres vivos, entre os quais
o próprio Planeta.
Neste sentido, mais do que ligar sustentabilidade a uma busca de
desenvolvimento sustentável, compartilho o proposto por Fernandez102
(2005). Almejamos, sim, uma vida que seja sustentável.
É a sustentabilidade da vida em toda a sua plenitude o que
objetivamos. Dessa forma, podemos elevar nossa consciência para
um pensamento transcendente, ligado à própria evolução da nossa
espiritualidade, como seres humanos que somos. Compreendermos que
todos nós, juntos, somos fundamentais para jamais nos acostumarmos
a esperar ou deixar que os outros resolvam questões que nos afetam,
nesta caminhada rumo à sustentabilidade da vida.

102 FERNANDEZ, Fernando. Aprendendo a Lição de Chaco Canyon: do “Desenvolvi-


mento Sustentável” a uma Vida Sustentável. São Paulo: Instituto Ethos, Reflexão no 15,
agosto 2005.

170
Inteligência Colaborativa

A sustentabilidade ganhou notoriedade nas organizações, mediante


conceitos de cidadania empresarial e de gestão socioambiental
responsável, focada em três pilares concebidos e disseminados por
John Elkington103 (2001): econômico, social e ambiental. Elkington
(2001, p. 20) entende a sustentabilidade como “um princípio que
assegura que nossas ações de hoje não limitarão a gama de opções
econômicas, sociais e ambientais disponíveis para as futuras gerações”.
Enfatiza que um desenvolvimento que seja sustentável envolve a busca
simultânea da prosperidade econômica, da qualidade ambiental e da
justiça social.
Ao comentar sobre sustentabilidade, Sachs104 (2002) também
chama a atenção para outras dimensões, além da social, ambiental
e econômica: a sustentabilidade cultural, a sustentabilidade política,
uma distribuição equilibrada de assentamentos e atividades e a
sustentabilidade internacional para manter a paz.
Considerando que uma organização pode deixar de existir por
deficiência financeira, adotar o pilar econômico-financeiro no lugar do
econômico talvez possa ser mais adequado, concebendo os resultados
como decorrência daquilo que se procura fazer nos pilares social e
ambiental, para minimizar desequilíbrios futuros.
Enfim, a sustentabilidade pode ganhar um efeito bola-de-neve
para a transformação coletiva, com uma participação mais ativa das
pessoas e organizações no fomento ao melhor da natureza humana.
Na condição de princípio para a inteligência colaborativa, a
sustentabilidade da vida ressalta a Terra, na concepção de Lovelock105
(2006, p. 153), como um sistema, um organismo vivo que está sujeito
a doenças e danos. Parafraseando-o em seu exemplo do planeta Terra,
como um paciente fazendo um check-up, em alguma clínica cósmica,
com um médico planetário imaginário: aparentemente em bom estado
de saúde, porém com alguns sinais físicos incomuns detectados de
análise mais acurada de alguns exames, como suspeita de febre, haja
vista o CO2 atmosférico e o metano estarem acima da taxa normal.
Além disso, danos cutâneos evidentes, com alto nível de esfoliação,

103 ELKINGTON, John, 2001.


104 SACHS, Ignacy, 2002.
105 LOVELOCK, James. Gaia: cura para um planeta doente. São Paulo: Cultrix, 2006.

171
Sávio Marcos Garbin

pois sua superfície de terra firme apresenta várias manchas ou áreas


de terras nuas; existência de certos produtos químicos anormais no ar,
que sugerem a presença abundante de uma espécie social altamente
organizada que lida com uma indústria química avançada, conhecida
também por humanos.
Essa espécie é formada por “humanos enquanto organismos
causadores de desequilíbrios, como microorganismos patogênicos que
crescem significativamente em número, causam danos e incapacitam
pelo que fazem, como uma doença”.
Complementa Lovelock (2006, p. 153) que, da mesma forma que
numa doença humana, só existem quatro resultados possíveis: destruição
dos organismos patogênicos invasores, pelas defesas do organismo
hospedeiro; infecção crônica, pela duração e intensidade de atritos;
destruição do hospedeiro, seguida da destruição do organismo invasor,
ou a simbiose, uma parceria duradoura baseada no benefício mútuo.
Este exemplo permite enfatizar que só se constata uma única saída
para todos os seres que habitam o planeta Terra, baseada em benefício
mútuo, o que exige colaboração maciça, passível de ocorrer com pessoas
em rede e inteligência colaborativa.
Há uma situação de emergência, comprovada por inúmeros
estudos que ressaltam o aumento progressivo na temperatura média
da Terra, decorrente do efeito estufa, e que tem causas antropogênicas
dominantes, ou seja, provenientes do desenvolvimento da espécie
humana. Mais ainda, os custos de assumir uma ação imediata são muito
inferiores aos danos a serem evitados.
A civilização atual está num momento de inflexão e novos olhares,
novas perspectivas e percepções são necessários. Refletirmos e agirmos
em conjunto possibilitará alcançar a sustentabilidade em sua plena
acepção, a sustentabilidade da vida.
Nesta perspectiva, refletir e agir para a sustentabilidade da vida exige
que os resultados, a serem alcançados por uma pessoa ou uma organização,
estejam em harmonia e respeito às pessoas e à natureza. Exige, ainda, que
seja avaliado nos custos presentes aquilo que agrega valor sustentável,
comparativamente aos custos futuros de uma decisão tomada.
De outra forma, torna-se difícil falar em sustentabilidade. E tanto
no que se refere às pessoas e às organizações, a sustentabilidade da vida

172
Inteligência Colaborativa

faz com que tenhamos uma atitude de interação com todos e o todo,
baseada em transparência, cuja essência é a sinceridade, em todas as
situações. Essa transparência precisa estar acompanhada do cuidado
de prestar e dar atenção num sentido amplo, o que significa agir com
zelo e prudência, mediante ponderação para decidir o que será feito,
observando os possíveis impactos presentes e futuros, para um equilíbrio
harmonioso em nossas ações.
A interação virtuosa, a transparência e o cuidado são extremamente
facilitados com a colaboração, que vem junto com a intencionalidade
genuína de contribuir para a evolução das outras pessoas e do Planeta
em que vivemos.
Ao agir de modo articulado e equilibrado nas três dimensões
(econômico-financeira, ambiental e social), com interação cuidadosa,
transparente e colaborativa, a responsabilidade ocorrerá de maneira
mais elevada. E as consequências serão positivas para quem realiza e
para o todo. De outro modo, cada qual responderá pela oportunidade
que teve de fazer algo que deixou de ser feito.

Diagrama 5 Sustentabilidade da Vida, Garbin

173
Sávio Marcos Garbin

Sustentabilidade da vida significa que deixemos de agir como


interventores e passemos a colaboradores da natureza, plenamente
interconectados. Somente unidos, se rapidamente assim fizermos,
poderemos minorar a gravidade da situação da humanidade e do
Planeta, com nossa consciência em nível elevado para a colaboração.
Num contexto de transversalidade e transdisciplinaridade nas
ciências, quando se comenta sobre ecologia, as atitudes egoísticas
e descuidadas aceleram uma competição predatória e podem ser
o caminho mais curto para resultados aparentes e imediatos que,
colocados numa linha do tempo, são insustentáveis.

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

Há inúmeras ocorrências e impactos crescentes divulgados


diariamente na mídia, relacionados com deterioração do ambiente
natural (água, solo e ar), emissão de gases do efeito estufa, estiagens
prolongadas, maior incidência de chuva ácida, mudanças climáticas
com o aquecimento do Planeta, o desmatamento desmedido etc.
Vale chamar a atenção para o fato de que deixaram de ser
impactos futuros, ou para as gerações futuras. São mudanças climáticas
mais abruptas que atingem a todos, indistintamente, já hoje, agora.
Assim, se compreendermos o Planeta como um ser enfermo, inexiste
qualquer lugar seguro para todos os demais seres que nele habitam.
O que será da vida humana com temperaturas mais elevadas?
Como será viver no cotidiano com temperaturas no limite suportável
pelo ser humano? Como ficará a produção de alimentos? Como a
população da Terra conseguirá se alimentar e responder a epidemias
solapadoras, de origem até então desconhecidas?
Como será lidar com a contaminação e a falta da água? Muitas
pessoas se esquecem de que o corpo de um adulto é constituído de
60% de água.

174
Inteligência Colaborativa

Assim, só há um caminho possível para evitar um desastre


iminente: o da colaboração, em que todas as pessoas possam se
irmanar, com o melhor de seus valores e as intenções mais nobres,
com desprendimento de interesses egocêntricos, com a máxima
energia positiva para aprender e reaprender a viver e conviver
de modo justo, harmônico e ecologicamente correto. Precisamos
revivificar o Planeta pela regeneração de atitudes, da conduta.
Agir rápida e urgentemente para recuperar os danos já causados,
e, ao mesmo tempo, atuar para fortalecê-lo, visando construir um
futuro sustentável. Cultivar hábitos ecologicamente conscientes
cotidianamente, em comunidades autossustentáveis. Capra106 (2006,
p. 13) explicita a definição para comunidade sustentável, do Centro de
Eco-Alfabetização da Califórnia (www.ecoliteracy.org), como aquela
capaz de satisfazer as suas necessidades e aspirações, sem diminuir
as chances das gerações futuras.
São vários os caminhos para a implementação e sedimentação de
comunidades sustentáveis, o que exige aprender com a própria natureza,
reconhecendo-a como um grande ecossistema, uma grande rede, na
qual todos os humanos estão interconectados.
Na singeleza da sabedoria da natureza, tomemos o exemplo da
água, que nos renova e dá vida. Ela sempre segue o caminho mais fácil,
que muitas vezes confundimos como o mais curto.
Vejamos um exemplo citado por Otsu107 (2006, p. 36-37). O rio
Tietê nasce em Salesópolis, na Serra do Mar, a 22 quilômetros do
litoral paulista. Porém, desemboca no oceano, em Mar Del Plata, entre
o Uruguai e a Argentina, cerca de quatro mil quilômetros depois de
desaguar no rio Paraná, e cinco mil e cem quilômetros, desde a nascente.
Por que desaguar tão longe, se poderia chegar ao mar em pequena
distância? Porque a água vai pelo caminho mais fácil.
A simplicidade do exemplo da água leva a indagar quantas vezes
agimos rapidamente sobre os efeitos, os resultados imediatos, sem uma
análise mais acurada das causas, preferindo um caminho mais curto para
a tomada de decisões, mesmo que isso represente danos consideráveis

106 CAPRA, Fritjof in STONE, Michael K.; BARLOW, Zenobia. Alfabetização Ecológica:
a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006.
107 OTSU, Roberto. A Sabedoria da Natureza. São Paulo: Agora, 2006.

175
Sávio Marcos Garbin

para as pessoas, para a comunidade e para o todo em futuro, às vezes,


muito próximo.
O caminho mais curto pode gerar a necessidade de inúmeras ações
que reduzam os impactos dessa escolha, da mesma forma que pode
trazer sequelas, com recuperação mais difícil.
Toda vez que aceleramos demais os ciclos naturais, precisamos
adotar uma série de ações para tentar reduzir os impactos decorrentes
dessa aceleração. E isso ocorre em todas as esferas da vida, desde
praticar esportes de modo exagerado, além dos limites do corpo, o
que exige resguardo para um processo de recuperação, até ações de
reengenharia e revisão acentuada de processos nas instituições, com
grandes impactos imediatos sobre as pessoas e a própria organização,
com medidas intensas exigidas, no médio prazo, para minorar os
desequilíbrios causados.
Orr108 (2006), nesse sentido, enfatiza que o desequilíbrio dos
ecossistemas reflete um desequilíbrio anterior da mente, mostrando,
no caso da crise ecológica, antes de tudo uma crise de educação:

Toda educação é ambiental, pois o nível de inclusão


ou exclusão que ensinamos aos jovens, de que somos
parte integral ou separada do mundo atual, faz grande
diferença para uma percepção de mundo e a maneira
como podemos nos relacionar para torná-lo melhor
(Orr, 2006, p. 11).

Assim, a diferença entre a ecologia rasa e a profunda é que, na


rasa, o ser humano utiliza e consome os recursos naturais ao custo da
extração, sem se preocupar com a sua reposição e sem se considerar
parte intrínseca do todo. Na ecologia profunda, o ser humano se
considera parte da natureza e procura sua sustentabilidade por meio
de formas mais simples de viver, de consumir com frugalidade, de
fazer mais com menos, de eliminar desperdícios e repor e preservar
o ambiente. Nesta, o ser humano busca melhorar a sua vida e a de
todos no planeta Terra, por meio de mudança de hábitos e atitudes

108 ORR, David W. in STONE, Michael K.; BARLOW, Zenobia. Alfabetização Ecológica:
a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006.

176
Inteligência Colaborativa

mais saudáveis num planeta, num mundo particular chamado


cotidiano.
Em tempo recente, reutilizávamos os materiais até em casa.
Reutilizávamos as roupas do irmão, o sapato que ainda estava bom.
Hoje há a cultura do consumismo e do descarte. Muitos materiais
que vão para o lixo poderiam ser reutilizados ou doados, por ainda
estarem bons para uso. Não podemos considerar a despensa de nossa
casa um lixão que se estenda para os lixões nem ter em nossa mente
o próprio Planeta como um lixo. Se assim procedermos, estaremos
vivendo no dia-a-dia com lixo nas atitudes automáticas e egoísticas do
consumo e da satisfação imediatos.
É no dia-a-dia que as pessoas podem despertar e contribuir para um
mundo em harmonia, desde o simples ato de consumir com parcimônia
e produzir menos lixo, de jogar o lixo em local apropriado, avaliando
bem o que realmente é lixo (há muito lixo nutritivo desperdiçado),
de economizar e cuidar da energia e da água, de evitar desperdício
de todo o tipo, de plantar e cuidar de árvores, entre outras formas de
fazer acontecer.
Uma catástrofe, um colapso coletivo poderá ser evitado se mudarmos
nossa forma de perceber e apreciar o mundo, com virtuosidade na
forma de agir, de nos relacionar e de suprir as necessidades essenciais
para a vida.
Todo conhecimento e tecnologia estão disponíveis, e podemos mudar
o curso do Planeta, utilizando recursos renováveis, com a renovação de
nossa mente, de nosso coração, de nossos sentimentos e pensamentos.
Nesse sentido, para o desenvolvimento da inteligência colaborativa,
é importante que nos aprofundemos no entendimento de que é
necessário ampliar rapidamente nossos conhecimentos sobre um novo
padrão de comportamento.
O egocentrismo, que leva a um individualismo centrado em
ambição e ganância, e a busca exacerbada de competitividade
baseada na competição predatória, constituem talvez dois dos maiores
problemas a serem encarados sem tergiversações, para que os seres
humanos possam evoluir de modo efetivo.
Uma organização se faz presente no mercado e precisa ser
competitiva, porém de outra forma, de sugadora da natureza,

177
Sávio Marcos Garbin

para empresa que objetive servir melhor às pessoas. As pessoas


devem servir pessoas de modo ético, justo, com equilíbrio nas três
dimensões da sustentabilidade. Se, num passado até recente, havia
uma cadeia de valor nas organizações com foco voltado para dentro
e com grande ênfase no processo para se fazer chegar aos clientes, o
momento atual exige um olhar para uma cadeia de valor ampliada:
que considere desde o parceiro fornecedor de matéria-prima de seu
parceiro fornecedor até o pós-consumo, com o descarte adequado da
embalagem pelo seu cliente.
É necessária uma nova maneira de interagir, em que haja respeito
às diferenças e aos direitos humanos em todas as relações de trabalho,
entre as organizações e seus parceiros, desde os pequenos fornecedores
aos cidadãos colaboradores, muitas vezes também cidadãos clientes,
e a todos estes.
A responsabilidade é ampliada e exige até um repensar sobre
o próprio conceito de produto. Como forma de assegurar um ciclo
fechado e realimentado, produtos manufaturados passarão a ser serviço,
por meio de contratos de locação, de leasing ou de pagamento de valor
adicional na compra que garante a sua substituição por um novo, num
prazo determinado. Assegura-se, assim, uma contínua interação e
relacionamento com o cidadão cliente, por meio do reprocessamento e
geração de um novo produto. Outra possibilidade, já emergente, refere-
se a produtos vendidos individualmente que poderão ter a alternativa
de serviço compartilhado, com o bem à disposição da coletividade,
mediante o pagamento de taxa de uso para consumo individual.
Maximiza-se a utilização, minimizando o consumo de energia e o
impacto ambiental, de produtos hoje adquiridos individualmente e
muitas vezes pouco utilizados durante o dia, a semana ou até o mês, a
exemplo de alguns tipos de veículo.
Já existem países com inúmeros estímulos governamentais para
ampliar a consciência sobre o cuidado individual com a geração de
lixo, a exemplo da taxa de descarte para determinados produtos,
cujo valor de substituição os torna até proibitivos. Forma-se com isso
uma rede de parcerias entre indústria e revendedores para reciclar
o produto antigo e oferecer o novo para o cidadão consumidor. Em
outros casos de bens de consumo, o fornecedor de determinada

178
Inteligência Colaborativa

matéria-prima se responsabiliza pelo pós-consumo dos cidadãos


clientes de sua organização cliente.
No escopo da gestão estratégica da sustentabilidade dentro das
organizações, ganha significativa importância a gestão da interação, do
engajamento de todas as partes interessadas e partícipes no processo.
Constata-se também a adoção de uma série de mecanismos
indutores no sentido de dotar o mercado de certificações, selos e índices
socioambientais e de sustentabilidade. Cria-se, com isso, um novo
patamar de gestão, que se torna básico nas fronteiras organizacionais,
à semelhança do que foram os programas de qualidade na década
de 90, de gestão de processos e, mais recentemente, os de gestão do
conhecimento.
Esse processo poderá ser acelerado se as relações humanas
evoluírem para um novo patamar de apaziguamento, de pacificação,
de inclusão, de articulação que dê um vislumbre coletivo de um mundo
mais harmônico baseado na colaboração maciça entre as pessoas.
Afinal, organizações são feitas por pessoas, que podem ter muito
mais harmonia se buscarem, no propósito, na essência, a harmonia da
vida de outras pessoas e de todos os seres vivos do Planeta.
Nesse contexto de rompimento de fronteiras, o progresso das
pessoas e das nações, medido materialmente, também passa a ser
questionado por outras formas de avaliar o bem-estar de todos.
Por que Produto Interno Bruto (PIB), se há a possibilidade de se
pensar em Felicidade Interna Bruta, como no Butão? Como conciliar
o Produto Interno Bruto com o Índice de Desenvolvimento Humano
(Educação, Longevidade e Renda) e ir além, de forma abrangente, para
a sustentabilidade?
Após realizar estudo sobre ferramentas disponíveis aos gestores para
otimizarem seus sistemas de gestão para a sustentabilidade, Anne Louette109
(2009) organizou o Compêndio de Indicadores de Sustentabilidade de
Nações, disponível em www.compendiodesustentabilidade.com.br.
Pôde mostrar, mediante acurada pesquisa, iniciativas de vários lugares
do mundo, para oferecer aos governantes indicadores sistêmicos e

109 LOUETTE, Anne (Org.). Indicadores de Nações: uma contribuição ao diálogo da


sustentabilidade: gestão do conhecimento. São Paulo: WHH – Willis Harman House,
2009. Vários Colaboradores.

179
Sávio Marcos Garbin

sustentáveis de desenvolvimento, instrumentos mais abrangentes


e inclusivos para fazer frente às significativas mudanças que estão
ocorrendo no Planeta.
São indicadores que vão além do conceito de medir produto e
riquezas, numa perspectiva estritamente econômica. Evoluem de um
modelo baseado no passado, que reforçava nas pessoas uma indução
para ações predadoras entre si e com a natureza, para considerar o
bem-estar, a melhoria da qualidade de vida e a sustentabilidade, como
novos referenciais a serem almejados e buscados numa ambiência de
cooperação e colaboração.

5.1 Alfabetização ecológica é basilar na educação para a


sustentabilidade

Neste novo mundo de colaboração, a alfabetização ecológica é


imprescindível, como base na educação para a sustentabilidade, para
relevar e melhor clarificar a nossa responsabilidade na interação com
a natureza como ser vivo, e para que todos saibam das consequências,
no longo prazo, das ações cotidianas, e possam agir para corrigi-las
radicalmente, já agora, no tempo presente.
Educação diz respeito a exteriorizar harmonicamente as
potencialidades que uma pessoa traz dentro de si, contribuir com o seu
desenvolvimento integral (físico, intelectual, psicológico, afetivo, social,
ético e espiritual) e, assim, evoluir como ser humano. Já alfabetizar
abrange noções, conhecimentos mínimos e básicos para que a pessoa
possa estabelecer conexões e obter significados, sentir, pensar e agir
com a consciência expandida sobre determinado assunto.
Alfabetizar ecologicamente significa internalizar conhecimentos
básicos sobre ecologia, o que facilita a construção de uma visão sistêmica
sobre a sustentabilidade da vida, e dá maior velocidade a um processo
de educação para a sustentabilidade. Oferece embasamento para que
a pessoa possa se desenvolver com valores elevados, facilitado pelo
saber e saber fazer inclusivo, por meio de aprendizagem vivenciada
de como funcionam as interconexões na natureza.
Dado o momento em que vivemos, é fundamental que a
alfabetização ecológica também seja estendida em larga escala aos
180
Inteligência Colaborativa

adultos. Para isso, a inserção curricular deve abranger os cursos


universitários e universidades corporativas, além da disseminação
em organizações, sindicatos, instituições governamentais, meios de
comunicação e em todas as redes colaborativas existentes e naquelas
que puderem ser formadas nas comunidades.
Uma pessoa ecologicamente alfabetizada, segundo Orr110 (2006,
p. 11), tem conhecimentos básicos de ecologia, ecologia humana,
sustentabilidade e dos meios necessários para a solução adequada
dos problemas.
Neste sentido, Capra 111 (2006, p. 51-57), detalhando o
apresentado em estudos anteriores, explica os princípios de ecologia
utilizados pelo Centro de Eco-Alfabetização da Califórnia, como
conceitos básicos, nos quais a natureza sustenta a vida: redes em que
todos os membros de uma comunidade ecológica estão interligados;
sistemas aninhados em redes dentro de redes; interdependência dos
seres vivos mediante cooperação e colaboração de todos; a força da
diversidade que facilita a proteção e recuperação de um ecossistema,
pela possibilidade de conexões e diferentes abordagens para um
mesmo problema; os ciclos contínuos de troca de energia e recursos
em que a matéria está sempre se reciclando sem a geração de detritos;
os fluxos contínuos de energia e recursos para sustentar todos os
organismos, enquanto sistemas abertos; o desenvolvimento mediante
aprendizagem em que os seres vivos e o ambiente se adaptam mútua
e evolutivamente de forma criativa; e equilíbrio dinâmico em que
uma comunidade ecológica possa estar sempre se regulando e se
auto-organizado, até um limite de tolerância, diante das alterações
dos ciclos ecológicos.

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

110 ORR, David, 2006.


111 CAPRA, Fritjof, 2006.

181
Sávio Marcos Garbin

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

Lovelock112 (2006, p. 157) explica que as árvores evapotranspiram


enormes volumes de água de suas folhas. Além do frescor de um clima
mais ameno, o vapor desprendido se condensa, formando as nuvens. A
chuva cai, as árvores crescem, e suas raízes mantêm coeso o solo raso
e a camada humífera das folhas, onde os nutrientes são rapidamente
reciclados por bactérias.
No ciclo da água, portanto, as árvores são muito importantes. Ao
eliminá-las, o ciclo que provoca a chuva é afetado. Com isso, o solo
também começa a morrer, pois os ecossistemas bacterianos que o
sustentam ficarão expostos a condições severas e à erosão. A terra ficará
coberta de vegetação rasteira e poderá se tornar um deserto.
Sempre é bom lembrar que o ser humano tem um corpo frágil e,
para viver, depende essencialmente da água. Temos abundância de água
no Planeta. Entretanto, apenas 2,59% da água disponível são potáveis e,
deles somente 7% são acessíveis aos seres humanos. E os seres humanos,
em grande parte olhando apenas para si mesmos, além de alterarem
seu ciclo, poluem-na e permitem que ela seja contaminada.
Uma reflexão: a Terra é um organismo vivo que estava em
perfeito equilíbrio quando os seres humanos começaram a habitá-la.

112 LOVELOCK, James, 2006.

182
Inteligência Colaborativa

Se bilhões de pessoas até agora exploraram e continuam a explorá-la


sem o cuidado com sua regeneração, já é insuficiente cuidarmos dela
a partir de agora. Além de cuidar, é fundamental recuperar os estragos
causados, o que significa dizer que, além de evitar desmatamentos, é
preciso que, urgentemente, todos plantem árvores, recuperem áreas
degradadas e ocupem adequadamente os espaços vazios. E ainda
que sejam cultivadas muitas árvores nativas de cada região, e muitas
árvores frutíferas que também forneçam alimento, além de propiciar
ambientes de convivência mais agradáveis para os seres que habitam
nas comunidades em todo o país.
Alguns exemplos: as margens das rodovias, muitas vezes cheias
de gramado, podem ficar mais bonitas, aprazíveis e com maior
frescor se providas de árvores; evitar ambientes construídos cada
vez mais adensados e impermeabilizados que, asseguradamente,
concentram mais calor, e dar preferência às construções sustentáveis,
as ecoconstruções, que consumam menos energia e materiais e tenham
árvores plantadas.
Existe o argumento de que serão necessárias grandes áreas e espaço
para isso. Ou agimos de modo determinado, concomitantemente com
novas formas de produzir com menos e consumir alimentos de modo
mais consciente e responsável, e com menor nível de desperdícios,
ou feneceremos, atônitos e boquiabertos, envoltos na mesquinhez
egocêntrica baseada no imediatismo e no individualismo.

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

Já a Ecologia Humana, segundo a Wikipédia, é um ramo da ciência


que estuda as relações do ser humano com o ambiente natural. Se

183
Sávio Marcos Garbin

todos nós temos necessidades materiais para viver, a forma como as


suprimos faz grande diferença para amenizar sobremaneira os impactos
no ambiente natural ou acelerar sua degradação.
Todas as pessoas, sem distinção, têm os mesmos 1.440 minutos
diários para se dedicar a servir e ajudar os outros, reavaliando a forma
de consumir e de reduzir desperdícios, cuidando melhor do Planeta,
no dia-a-dia, em casa, no trabalho e na comunidade.
Dessa forma, a alfabetização ecológica é vital para uma nova
maneira de agir que precisa ser adotada em nossas interações com a
natureza, com as pessoas e com todos os seres vivos.

5.2 Neutralização de carbono, com a consciência elevada

Inúmeras iniciativas estão ocorrendo em todo o País e no mundo,


em busca da neutralização da emissão de gases de efeito estufa (em
particular, o dióxido de carbono) por pessoas, organizações e governos,
mediante o plantio de árvores.
Em decorrência dos níveis de produção de dióxido de carbono
(CO2) emitidos pelo consumo humano, é plantada determinada
quantidade de árvores, como forma de neutralizar o impacto ambiental.
Trata-se de uma medida compensatória benéfica, do ponto de vista
ambiental, que gera sensibilização e propicia, em princípio, um
movimento das pessoas para maior consciência sobre a questão, além
de minorar os estragos já causados.
Suscita, no entanto, alguns questionamentos:
- Se grande parte das pessoas neutralizar carbono, sem reduzir os
níveis de consumo, o espaço no Planeta será insuficiente para o
plantio de árvores. Ou seja, o fato de neutralizar carbono, por si
só, jamais eximirá uma pessoa ou uma organização de reavaliar
os seus níveis individuais de consumo.
- As organizações que avaliam e mensuram a quantidade de
árvores que precisa ser plantada diante do nível da produção de
CO2 são, muitas vezes, as mesmas que plantam e concedem um
selo ambiental. Essa é uma situação que o próprio mercado busca
equacionar mediante a aferição por terceiros independentes, que

184
Inteligência Colaborativa

assegurem a efetividade do plantio e a existência das árvores


alguns anos depois.
- O crescimento das árvores é, de certa forma, lento para suprir
as necessidades imediatas de neutralização de carbono, o que
nos leva a adotar uma atitude defensiva e paralisante. Cada um
pode e deve fazer sempre o máximo que estiver ao seu alcance
para contribuir com a sustentabilidade da vida. Agir assim irradia
energia positiva para um fazer colaborativo.
Neutralizar carbono, portanto, é importante juntamente com as
medidas que cada um adote para evoluir na conduta pessoal, com
avaliação e redução da pegada ecológica, sem que isso se transforme
numa busca de neutralização de impactos na consciência, para um agir
desregrado.

5.3 Pegada ecológica mais consciente

A expressão pegada ecológica foi criada por William Rees e


Mathis Wackernagel, e desenvolvida com base na premissa de que a
área do Planeta é finita, e que cada ser vivo precisa de um mínimo de
espaço de terra fértil para sobreviver, conforme o impacto que causa
com o seu nível de consumo e modo de vida.
A pegada ecológica considera a área de terra necessária para
prover os recursos (grãos, pastagens, madeira, peixes e áreas urbanas)
e absorver as emissões (dióxido de carbono) da sociedade global.
Trata-se de uma metodologia que converte os hábitos de consumo em
hectares de terra fértil necessários para suportá-los, considerando na
estimativa do cálculo a capacidade de regeneração, a biodiversidade
e os ecossistemas de cada região.
Ao calcularmos nossa pegada ecológica, sabemos, por exemplo,
quantos planetas Terra seriam necessários, se todas as pessoas tivessem
o nosso modo de vida, o nosso nível de consumo.
É possível avaliar o impacto adicional propiciado pela pegada
ecológica de cada ser humano, comparando-a com o cálculo médio
para cada habitante da Terra. Com isso, eleva-se a consciência para
o consumo consciente e um agir de modo mais efetivo e salutar no

185
Sávio Marcos Garbin

dia-a-dia, no sentido de minorar os danos causados à sustentabilidade


do próprio ser humano no Planeta.
O cálculo da pegada ecológica está disponível no site www.
myfootprint.org, e sua redução precisa ocorrer de modo integrado
com outras ações que possam atenuar e dissipar os impactos que
causamos a nós mesmos e a todos os seres vivos, entre eles o Planeta
que nos acolhe.
Mesmo com novas tecnologias, alterações nos padrões de
comportamento e nos hábitos de compra dos consumidores, maior
consciência sobre questões ambientais, em algumas regiões, a
produção alimentícia, energética e industrial cresceu a taxas muito
superiores às do crescimento populacional. Verificou-se, nas últimas
três décadas, uma pegada humana crescente jamais vista na história.
Isso evidencia que os esforços têm sido ineficazes para antecipar e
lidar com os limites ecológicos, como expressam Meadows, Randers
e Meadows113, (2007).
Algumas questões podem ser levantadas: as pessoas de todas as
regiões do mundo buscam um padrão de consumo semelhante ao dos
consumidores dos Estados Unidos da América, que consomem hoje o
equivalente a aproximadamente 1/3 do que é produzido no Planeta, e
têm apenas 1/25 da população mundial. Se há significativa parcela da
população mundial abaixo da linha da pobreza, fica difícil consolidar
a equação de consumo satisfatória a todos, sem que seja revista uma
forma de conduta mais colaborativa e responsável, mesmo porque,
um nível de consumo semelhante ao dos norte-americanos, por parte
dos outros habitantes do Planeta, exigiria atualmente, no mínimo,
o equivalente a três planetas iguais à Terra para garantir alimentos,
água, energia, e produtos e serviços básicos para todos.
Assim, a grande questão é: Como reduzir as desigualdades,
elevando adequadamente a capacidade de alimentar as pessoas nos
países mais pobres e, ao mesmo tempo, reduzir os níveis inadequados
de consumo das populações com padrão de qualidade de vida mais
elevado e retornar à capacidade de regeneração do Planeta em nível
que não comprometa esta e as próximas gerações?

113 MEADOWS, Donella; RANDERS, Jorgen; MEADOWS, Dennis, 2007.

186
Inteligência Colaborativa

A resposta vem do que cada um pode fazer, sem ficar apontando


para o outro, para os outros e, enquanto isso, deixar de agir. É preciso
ser um protagonista em rede para contribuir na solução, de modo
afirmativo, o que pode ser um bom começo, mesmo porque o Brasil
tem regiões nas duas situações, com diferenças de nível de consumo
numa mesma região.

5.4 Consumo consciente, responsável e comércio justo

Constata-se que a adoção de padrões de produção e consumo mais


responsáveis e éticos é vital para a sustentabilidade da vida no Planeta,
portanto isso precisa ser realizado e amplamente disseminado em todos
os países, independentemente de seu estágio de desenvolvimento.
No que se refere ao consumo, uma palavra começa a ganhar
expressividade e relevância: frugalidade, o que, segundo Houaiss114
(2001), significa moderação alimentar, simplicidade, temperança,
sobriedade de costumes, de hábitos etc. Ou seja, devemos compreender
que todas, sim, todas as nossas ações podem ser realizadas com maior
nível de consciência, para um consumo mais parcimonioso, mais
comprometido e consciente de nossa responsabilidade diante de um
todo chamado planeta Terra.
Devemos compreender ainda o consumo como um processo,
além de um mero gesto ou ato de comprar algo, um processo em que
o consumidor consciente aja e tenha uma atitude individual para a
sustentabilidade. Pergunte-se, entre outras questões: Para que comprar?
De quem comprar? Como e quando comprar? Como usar sem
desperdício? Para que descartar? Como descartar adequadamente?
É preciso saber diferenciar a necessidade de consumir do
consumismo. Às vezes, passamos a vida numa busca desenfreada
do ter e ter mais, ultrapassando as linhas do consumo necessário,
para o consumismo. Consumismo, em essência, é consumir produtos
em demasia, viver com o propósito de ter mais para consumir mais,
num círculo vicioso que nos distancia de nossa essência como seres
humanos.

114 HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles, 2001.

187
Sávio Marcos Garbin

Com foco no consumo consciente, houve o aprimoramento das


relações dos consumidores, como adquirentes de bens e serviços,
inicialmente, no sentido de aperfeiçoar as normas de segurança,
garantindo que os consumidores fossem adequadamente informados e
ouvidos, que tivessem respaldo em seus questionamentos, preservando
seus interesses e direitos, e possibilitando maior racionalidade em
suas escolhas.
No Brasil, o Código do Consumidor, criado pela Lei 8.078, em
1990, já está bem disseminado. Inúmeras entidades também contribuem
para auxiliar os consumidores no conhecimento e cumprimento de
seus direitos, a exemplo das Procuradorias de Defesa do Consumidor
(PROCON), do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(IDEC) www.idec.org.br e da Associação Brasileira de Defesa do
Consumidor (Pro-Teste) www.proteste.org.br. Na esfera governamental
em nível federal, um exemplo é o Portal do Consumidor, ligado ao
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (www.
portaldoconsumidor.gov.br).
Mais recentemente, surgiram no País iniciativas com o objetivo
de tornar os consumidores mais conscientes dos impactos e das con-
sequências de consumir, e de disseminar a importância do consumo
consciente e responsável para a sustentabilidade. O Instituto Akatu
(www.akatu.org.br), entidade criada em 2001, é um exemplo disso,
com várias publicações e estudos sobre o tema. Chama a atenção
em seu site na Internet para alguns dados: – uma família de classe
média joga fora, em média, 500 gramas de alimentos por dia. Em
20 anos, essa perda equivale a 3.600 quilos. Essa quantidade desper-
diçada seria suficiente para fornecer um quilo de alimento diário a
uma criança até 10 anos de idade, ou, ainda, oferecer três refeições
diárias para uma cidade de 7 mil habitantes, durante um dia. Se 1
milhão de famílias reduzir pela metade a quantidade de alimentos
que joga no lixo, 90 mil toneladas de comida serão economizadas a
cada ano, suficientes para alimentar 260 mil pessoas nesse período.
O Instituto Akatu enfatiza que a única saída é todos adotarmos
padrões de produção e de consumo sustentáveis. Para os países
ricos, isso significa, por exemplo, procurar fontes de energia menos
poluidoras, diminuir a produção de lixo e reciclar o máximo possível,

188
Inteligência Colaborativa

além de repensar sobre quais produtos e bens são realmente necessários


para alcançar o bem-estar. Aos países em desenvolvimento cabe o
desafio de não repetir o modelo predatório e buscar alternativas para
gerar riquezas sem destruir florestas ou contaminar fontes de água.
O consumo consciente pode ser entendido como aquele em que
o consumidor adota um comportamento mais responsável, ao escolher
e adquirir produtos elaborados e produzidos segundo princípios que
orientem a sustentabilidade em seus três pilares: social, ambiental e
econômico-financeiro.
O consumidor, no papel de cidadão, tem a opção de escolher
o produto e a empresa de quem vai comprar. Ele é um consumidor
responsável, que considera os três R e um P (reduzir, reutilizar, reciclar
e preciclar) em suas compras:

3Re1P
Reduzir Consumir somente o necessário, evitar des-
perdício, substituir produtos pelos que con-
sumam menos energia.
Reutilizar Descartar somente aquilo que não puder ser
usado novamente.
Reciclar Reaproveitar materiais beneficiados como ma-
téria-prima para a geração de novo produto.
Preciclar Avaliar os impactos ambientais da embalagem e
de um produto ou serviço antes de sua compra,
para diminuir a produção de resíduos.
Quadro 10 - 3R e 1 P
O consumidor é consciente quando adquire produtos ecológicos
originados, por exemplo, da agricultura orgânica, da permacultura,
e também produtos oriundos de comércio justo e ético.
A permacultura foi criada na década de 1970 pelos australianos
Bill Mollison e David Holmgren. A expressão que inicialmente dizia
respeito à agricultura permanente foi estendida para significar cultura
permanente. Segundo a Wikipedia, a sustentabilidade ecológica, ideia
inicial, ampliou-se para a sustentabilidade dos assentamentos huma-
nos. Trata-se de um método holístico para planejar, atualizar e manter
sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) am-
bientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis.

189
Sávio Marcos Garbin

O movimento de comércio justo, ou fair trade, surgiu na década


de 1960, na Europa, e foi intensificado a partir da década de 1990 de
modo mais estruturado e organizado em todo o mundo, por meio de
inúmeras iniciativas de organizações e associações de organizações
que buscam harmonizar os padrões mundiais de rotulagem e
certificação utilizados.
No comércio justo os consumidores são estimulados a adquirir
produtos provenientes de grupos organizados de produtores,
cientes de que há uma busca de preço justo, cuja produção é
feita em condições dignas de trabalho, ambientalmente corretas
e remuneração sustentável aos produtores, acompanhada de um
prêmio de comércio justo que vai para um fundo comum, usado, de
forma democrática, para melhorar as condições sociais, econômicas
e ambientais dos trabalhadores e produtores.
São várias as entidades no Brasil, a exemplo do Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) www.
sebrae.com.br, organizações não governamentais, cooperativas e
associações que, por meio dos arranjos produtivos locais, fomentam
o comércio solidário e justo no País.
O consumo consciente e o comércio justo exemplificam
categoricamente a dimensão de um mercado ético, em que os
negócios são revitalizados junto com o progresso social, o respeito
ambiental e o desenvolvimento humano.
O mercado ético tem soluções que se disseminam, a exemplo
da rede desenvolvida por Henzel Henderson, disponível em www.
ethicalmarkets.com, e que também funciona no Brasil - www.
mercadoetico.com.br, para difundir informações, estudos, práticas
exemplares e reflexões que estimulem e inspirem as pessoas na
construção de sociedades mais justas, equânimes e ambientalmente
equilibradas.
É um mercado potencializado com a participação das
organizações de todos os portes, com acionistas ativistas, cidadãos
consumidores e produtores mais conscientes, mecanismos de
regulação e de indução, num caminho sem volta, cujos passos podem
ser acelerados colaborativamente.

190
Inteligência Colaborativa

5.5 Internalização da importância das externalidades

Consumidores conscientes e organizações socioambientais


responsáveis, num mercado ético, exigem nova forma de agir com as
consequências sociais e ambientais.
Surge, então, com muita ênfase, a abordagem sobre as
externalidades.
Nascimento, Lemos e Mello115 (2008, p. 65), citando sua origem
em estudo do economista inglês Arthur Cecil Pigou, explicam que “as
externalidades ocorrem quando as atividades de um agente econômico
provocam perdas ao bem-estar de outros agentes e essas perdas não
são compensadas pelo sistema de preço”.
No que se refere ao ambiente natural, jamais pode ser um bem
livre e público, passível de ser utilizado ao custo da extração, que afeta
o bem-estar das outras pessoas e acarreta ônus.
No individualismo de gerar riquezas pessoais e satisfazer níveis
crescentes de consumo, normalmente fica para o outro lidar com
determinado problema por nós gerado. As empresas produzem e vendem
produtos que dão origem ao lixo e que são adquiridos por pessoas que
deixam para outras resolverem o impacto do lixo gerado.
Se todos deixarem para todos a solução de um problema do qual
são parte integrante e responsáveis, a que ponto vão chegar? A um
perecimento coletivo, por ações individuais egoísticas, em cujo estado
cada ser humano quer um pedaço imediato e maior do bolo chamado
planeta Terra.
As organizações começam a sentir a intensificação da cobrança
quanto à responsabilidade por todas as atividades da cadeia de valor de
seu negócio, o que implica a necessidade de gestão da interação e do
engajamento de todos os parceiros. Isso as leva a pensar e agir de modo
diferente, com um novo modelo de funcionamento e de relacionamento
integrativo e transparente conosco e com todos.
Para que as consequências advindas das externalidades sejam
consideradas em plenitude, todos nós, no cotidiano, precisamos

115 NASCIMENTO, Luis Felipe; LEMOS, Ângela Denise da Cunha; MELLO, Ma-
ria Celina Abreu de. Gestão Socioambiental Estratégica. Porto Alegre: Bookman,
2008, p. 65.

191
Sávio Marcos Garbin

internalizá-las, agindo de modo diferente, construtivo e positivo no que


se refere à nossa interação com a natureza e as outras pessoas, segundo
um modelo que possibilite uma evolução do todo.
É necessário adotar novos padrões para agir e viver, que possibilitem
internalizar as externalidades, a exemplo do capitalismo natural.

5.6 Capitalismo natural

Consideradas as premissas das novas ondas de mudança, Hawken,


Lovins e Lovins116 (2000) propõem um modelo que chamam de
capitalismo natural. Nele o ecossistema é considerado com um ativo de
excepcional valor, e a natureza é considerada como capital, um ativo
insubstituível. No capitalismo natural, soluções não mecanicistas são
implantadas com base em equações que incluem a natureza pelo valor
de reposição, e não de extração.
Eles afirmam que, no começo da revolução industrial, a “mão-de-
obra” era muito explorada e relativamente escassa, ao passo que os
estoques globais de capital natural eram abundantes e inexplorados.
Hoje, porém, a situação se inverteu. “Após dois séculos de aumento
da produtividade do trabalho, da liquidação dos recursos naturais ao
custo de sua extração, não no valor de sua substituição, e de exploração
dos sistemas vivos como se fossem gratuitos, infinitos e em perpétua
renovação, as pessoas é que passaram a ser abundantes, enquanto a
natureza tornou-se assustadoramente escassa.”
Avaliam que, se o Planeta onde vivemos não cresce, urge adotar
um novo sistema industrial alicerçado em mentalidade e escala de
valores muito diferentes do capitalismo convencional.
Pressupõem, por exemplo, que o meio ambiente não seja um fator
de produção sem importância, e sim um invólucro que contém, abastece e
sustenta o conjunto da economia, que o progresso econômico futuro tem
melhores condições de ocorrer nos sistemas de produção e distribuição
nos quais todas as formas de capital sejam plenamente valorizadas,
inclusive o humano, o industrial, o financeiro e o natural.

116 HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS, L. Hunter. Capitalismo Natural. Crian-
do a Próxima Revolução Industrial. São Paulo: Cultrix, 2000.

192
Inteligência Colaborativa

Apresentam quatro estratégias centrais e interdependentes do


capitalismo natural, como meios de habilitar os países, as organizações
e as comunidades em geral a valorizar todas as formas de capital, numa
visão diferenciada e ampliada de participação e de colaboração.
A primeira e principal estratégia é a produtividade radical.
Aumentar a produtividade dos recursos diz respeito a obter de um
produto ou processo a mesma quantidade de utilidade ou trabalho,
empregando menos material e energia. Possibilita avançar rapidamente
do design da aparência dos produtos para um eco-design que altere a
essência e propicie melhor qualidade e sustentabilidade para a vida
das pessoas e do Planeta.
A segunda estratégia é a do biomimetismo, criada para reduzir o
uso de material e eliminar a própria ideia de desperdício, a começar
pelo redesenho dos sistemas industriais em linhas biológicas que
modifiquem a natureza dos processos industriais e materiais.
Possibilita a reciclagem constante do material em ciclos fechados
contínuos, a exemplo dos parques industriais de emissão zero de
poluentes.
Biomimética, explica Benyus117 (2003), deriva do grego bios,
que significa vida, e mimesis, imitação. Considerando a natureza um
modelo, a Biomimética é uma nova ciência que estuda os modelos da
natureza e depois os imita ou inspira-se neles, ou em seus processos,
para resolver os problemas humanos, mesmo porque, na natureza
inexiste a geração de lixo: tudo é reciclado e reaproveitado.
Há grande espaço para evoluir nas organizações, da produção
limpa, em que inicialmente eram substituídos os insumos mais
perigosos, avança-se para uma produção mais limpa, baseada
em ecoeficiência, eco-design e logística reversa. Um sistema é
ecoeficiente quando há geração de produtos e serviços com maior
valor agregado, menor consumo de recursos e menor incidência de
resíduos e geração de poluição. O eco-design, segundo a Wikipedia,
tem como objetivo principal projetar lugares, produtos e serviços
que, de alguma forma, reduzam o uso de recursos não renováveis

117 BENYUS, Janine M. Biomimética, Inovação Inspirada pela Natureza. São Paulo: Cul-
trix, 2003.

193
Sávio Marcos Garbin

ou minimizem o impacto ambiental. Já a logística reversa baseia-se


no princípio de que quem produz é responsável pelo destino final
dos produtos gerados, de modo que se reduza o impacto que eles
causam. Com isso, é feita uma avaliação do processo calcada no
ponto de consumo.
Já a terceira estratégia do capitalismo natural trata de uma
alteração fundamental na relação entre produtor e consumidor, de uma
transformação da economia de bens e aquisições em uma economia de
serviço e fluxo, na qual o produto é um meio, não um fim. Abandonando
a ênfase na propriedade, ela focaliza soluções, e os consumidores obtêm
serviços tomando os bens emprestados ou alugando-os, em vez de
comprá-los dos fabricantes, que continuariam responsáveis pelo produto,
aumentando a sua durabilidade, as condições de aperfeiçoamento e o
próprio conceito de ciclo de vida de produto.
A quarta estratégia proposta é o investimento no capital natural,
numa grande busca, em nível mundial, de reverter a destruição do
Planeta, mediante reinvestimentos na sustentação, na restauração e
na expansão dos estoques de capital natural.
O capitalismo natural leva, portanto, as organizações e as pessoas
a reavaliar, de modo estruturado, a sustentabilidade, principalmente
no que se refere aos pilares ambiental e econômico-financeiro, como
exigência dos parceiros do negócio, dos consumidores e dos próprios
acionistas controladores.
Contribui para repensarmos na sustentabilidade da vida, com
alteração significativa no nosso modo de pensar e agir ambientalmente
responsável.

5.7 Respeito aos direitos, às diferenças e à diversidade, para


redução de desigualdades entre os seres humanos

Agir para a sustentabilidade da vida de modo ambientalmente


responsável leva também a refletir sobre uma vida socialmente
responsável, em que as desigualdades decorrentes da pobreza e da
transgressão dos direitos humanos, que solapam a própria dignidade
humana, sejam suprimidas em prol da paz.

194
Inteligência Colaborativa

Rayo 118 (2004, p. 16-17), parafraseando Spinoza em seu


Tratado Político, explicita que a paz, numa concepção positiva,
implica a construção da justiça nas relações entre as sociedades e o
reconhecimento da igualdade em dignidade de todos os povos e todas
as culturas. Também é sinônimo de respeito aos direitos humanos e às
liberdades fundamentais, da livre determinação dos povos, do bem-
estar, e do desenvolvimento humano e econômico-social.
De outra forma, quando inexiste paz, ela já inexiste no espírito
humano, portanto, na essência do ser. O que nos afeta agora
continuará a nos afetar sempre.
A construção de justiça só pode ocorrer com respeito aos direitos
humanos, aqueles considerados fundamentais à pessoa humana para
suprir as necessidades essenciais ao seu bem-estar e desenvolvimento,
desde o direito à vida, ao direito a outras necessidades também
essenciais, como o direito à segurança física, à igualdade perante
a lei, à alimentação, à saúde, à moradia, ao trabalho, à educação,
à paz, entre outros, o direito à liberdade de opinião, expressão e
informação, o direito à dignidade, à respeitabilidade, o direito à
cidadania que, junto com os direitos cívicos, podem ser exercidos
ao longo da vida.
Numa busca de maior compreensão entre as pessoas neste novo
mundo de colaboração, evidencia-se a necessidade de respeito às
diferenças. Ao nascermos temos diferenças inerentes, tais como raça,
cor e gênero. A desigualdade surge quando uma diferença é tomada
como um critério de diferenciação social, como afirma Barbosa119
(2008). Cabe ressaltar, portanto, que a desigualdade existe quando,
socialmente, há priorização ou subordinação em decorrência de
diferenças, o que é descabido já pelo princípio de que, mesmo com
algumas diferenças, somos iguais como seres humanos.
Nascemos com a diversidade interna no modo de perceber
algo e de interagir. Temos dinâmicas diferentes de funcionamento

118 RAYO, José Tuvilla. Educação em Direitos Humanos: rumo a uma perspectiva global.
Porto Alegre: Artmed, 2004, pp. 16-17.
119 BARBOSA, Lívia. Mesa-Redonda Unidade e Diversidade nas Organizações e na So-
ciedade Brasileira. Revista da ESPM, São Paulo, volume 15, ano 14, edição n. 3, p. 49,
maio/junho 2008.

195
Sávio Marcos Garbin

humano que, conhecidas, possibilitam uma comunicação e um


relacionamento mais harmoniosos. Da mesma forma, há diversidade
no ambiente externo às pessoas que pode afetá-las em seu modo
de interagir, como a origem social, étnica ou nacional, a religião, a
orientação sexual ou o idioma. E se refletirmos que cada pessoa é
responsável por sua vida, já cabe evitar todo tipo de discriminação
e preconceito.
Quando há discriminação, há julgamento. Ao julgarmos,
tecemos comparações, e ao compararmos, competimos, criando a
possibilidade de antagonismo. Talvez o que cause grande impacto
nas pessoas seja a exacerbação dos direitos, sem que os deveres e as
responsabilidades também estejam presentes. Cada pessoa precisa
ter os direitos fundamentais respeitados, ao mesmo tempo em que
respeite os direitos das outras e contribua para servir e ajudar na
evolução da consciência de todos.
Para isso, considerar a diversidade e incorporá-la, com
vistas à inclusão dos mais desfavorecidos, com estímulos às suas
potencialidades, passou a fazer parte da agenda de governos, de
empresas e das pessoas.
Juntamente com organizações, diversas entidades vêm atuando
para conscientizar a todos da importância de agir com responsabilidade
socioempresarial, entre as quais o Instituto Ethos (www.ethos.org.br).
Com o objetivo de dotar as empresas de um instrumento estruturado de
acompanhamento e monitoramento de suas práticas de responsabilidade
socioempresarial, essa instituição dissemina no País os Indicadores
Ethos de Responsabilidade Social. Define a responsabilidade
socioempresarial como uma forma de gestão pautada pela relação
ética e transparente da empresa com todos os públicos com que ela
se relaciona e também pelo estabelecimento de metas empresariais
compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações
futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais.
Assim, a responsabilidade socioempresarial é uma forma que se
difunde para incorporar a diversidade e o respeito às diferenças no
cotidiano empresarial. Releva a importância das organizações além
196
Inteligência Colaborativa

da busca de lucro, como co-responsáveis na agenda social, e uma


conduta ética e transparente na interação com todos os participantes
de seu negócio.
Como agir de modo compromissado com o futuro das crianças,
evitando, de modo direto ou indireto, o trabalho infantil, e possibilitar-
lhes as condições necessárias e adequadas para um desenvolvimento
integral por meio de educação de boa qualidade?
São inúmeras as possibilidades de que as organizações dispõem,
de acordo com o seu ramo de atuação. Como utilizar todos os espaços
para ajudar a informar as pessoas sobre a importância do respeito
aos seres humanos? Os exemplos vão desde aqueles existentes na
organização aos milhões de veículos de transporte nas estradas, que
podem ter mensagens, às milhares de caixas de autoatendimento,
às mídias eletrônicas etc.
Nos meios de comunicação, nas escolas, nas universidades, de
que maneira conceber e disseminar a educação em direitos humanos
como algo essencial para a cultura centrada na sustentabilidade?
Como contribuir de modo proativo para potencializar os talentos dos
portadores de necessidades especiais? Como agir articuladamente
para contribuir na evolução dos parceiros, em relação aos direitos
humanos, indo além de meramente excluí-los do cadastro da
organização, quando eventualmente estiverem em desacordo com
preceitos de boas práticas aceitas pela sociedade?
A sustentabilidade da vida nos impele a sair da nossa zona
de conforto para refletir e compreender que somos responsáveis
e podemos contribuir decisivamente para um mundo mais ético,
harmônico e justo, a começar por nossas ações no dia-a-dia, um
mundo em que a vida, a nossa, a das outras pessoas e a de todos
os seres vivos, seja cuidada agora e sempre com muito carinho e
respeito.
Nesse sentido, a Inteligência Colaborativa precisa estimular o
sentir, o pensar e o agir de modo positivo para a convivência pacífica
entre as pessoas, originada na paz interior, num desenvolvimento da
espiritualidade.

197
Sávio Marcos Garbin

6. Desenvolvimento da Espiritualidade
Quando se fala em espiritualidade, ela muitas vezes pode vir
associada à religião. É fundamental diferenciar espiritualidade de
religião, pois espiritualidade tem a ver conosco individualmente, com
a nossa evolução por meio dos valores que alimentam a alma, e de
nossas escolhas, quando decidimos e fazemos ou deixamos de fazer
algo, em cada momento, ao longo da vida.
Espiritualidade etimologicamente significa imaterialidade.
Espiritualidade, portanto, diz respeito à pessoa desenvolver-se naquilo
que é essencial para seu bem-estar interior.

Espiritualidade é de responsabilidade individual

Independentemente da experiência de cada um com uma religião,


todos nós somos seres espirituais e humanos. Sentimos, pensamos, nos
expressamos e agimos. Evoluir na espiritualidade, portanto, diz respeito
ao modo como e com que virtudes nós fazemos isso.
Renesch120 (2002, p. 98) procura diferenciar espiritualidade de
religião.

[...] espiritualidade não encerra nenhum conteúdo ou


dogma específico. Ela viabiliza uma relação direta
com o Divino por meio da experiência individual. Já
a religião baseia-se em formas ou conceitos específicos
nos quais se encontra a espiritualidade. Encerra
crenças, regras, estruturas e, muitas vezes, tradições.
Ela assume várias formas, geralmente baseadas nos
ensinamentos de um ser iluminado, como um profeta
ou alguém que se acredita ter uma relação muito
especial com Deus.

As religiões foram desenvolvidas e disseminadas pelos homens.


Hoje já são milhares no mundo e aumentam todo dia. Depreende-se
do exposto que é preciso cuidado com a dependência de determinada

120 RENESCH, John E. A Conquista de um Mundo Melhor – Uma Questão de Escolha


Consciente. São Paulo: Cultrix, 2002.

198
Inteligência Colaborativa

religião, sem despertar para o fato de que somos individualmente


responsáveis pelo desenvolvimento de nossa espiritualidade.
Nossa jornada de vida é feita de escolhas. Tomamos decisões
diariamente e decidir implica escolher entre opções e a opção
escolhida sempre é acompanhada da responsabilidade de responder
individualmente pelas consequências de nossa decisão, de nossa
escolha.
O que somos, em essência? Para que existimos e qual o sentido
de nossa vida? Essas são algumas questões que dizem respeito à nossa
espiritualidade. Independentemente da religião, nossa vida continua
após o aprendizado nesta jornada. De outro modo, se acreditássemos
que tudo finda quando perecermos, nem poderíamos falar em
espiritualidade. Portanto, somos seres espirituais aprendizes, em busca
de evolução. Somos seres relacionais que podem evoluir por intermédio
da interação virtuosa e colaborativa com as outras pessoas.
- Se hoje fosse o último dia de minha vida, gostaria de fazer o
quê?
- O que, quando eu faço, recebe o máximo de mim, com toda a
energia mais sublime de meu ser, sem sentir o tempo passar?
Essas perguntas nos estimulam a refletir sobre o que nos é essencial,
portanto contribuem decisivamente para o desenvolvimento de nossa
espiritualidade. Dizem respeito àquilo que realmente nos move, nos dá
sentido e propósito para servir incondicionalmente com o que temos
de melhor, para viver a vida em plenitude. E isso depende única e
exclusivamente de cada um.
Quanto tempo nós dedicamos para refletir sobre isso? Quando
conversamos sobre isso com os filhos?
Como agimos em relação às pessoas próximas e como podemos
agir com disciplina para discernir o que realmente é importante para
o nosso bem-estar em harmonia com o bem-estar das outras pessoas
e do todo?
Desenvolver-se na espiritualidade com a prática do bem implica
refletir que precisamos sentir leveza no peito, clareza na mente e termos
uma conduta perseverante e positiva para essa prática. Isso significa
evitar ser nutrido por qualquer tipo de negatividade, na intenção ou na
ação, que possa nos desarmonizar e desequilibrar interiormente.

199
Sávio Marcos Garbin

Muitas vezes nos habituamos a ver notícias com abordagens


negativas, a falar negativamente e a agir com indiferença e frieza com
as pessoas. Eu gostava muito de ler jornal antes de sair de casa. Até
recentemente, se a manchete da primeira página era negativa, já não
a lia e, às vezes, nem o próprio jornal. Quando lia, tinha o cuidado de
verificar um caderno com texto positivo no título, para poder guardá-
lo sobre os demais. Noutras situações, já nem permitia que o jornal
ficasse em casa, pois estaria autorizando a entrada e permanência de
abordagens negativas que influenciariam a mim e a minha família e,
sem perceber, nos habituaríamos a isso. É interessante constatar que tal
leitura deixou de ser importante, e posso aproveitar melhor o tempo
para estudos ou outras atividades. Fundamental aqui é ressaltar que
fazemos escolhas nas mais singelas atividades do cotidiano, e que essas
escolhas nos afetam e também as pessoas a nós ligadas diretamente.
Assim, fazer algo de modo repetitivo e com constância
caracteriza um hábito, o que exige especial atenção naquilo que é feito
costumeiramente. Habituar-se a algo negativo ou positivo é alimentar
o espírito, a alma, negativa ou positivamente.
Certa vez havia um texto bem interessante numa revista e eu
tencionava lê-lo. No entanto, a capa da revista, uma boa revista, era
bastante infeliz e muito negativa, tanto na chamada como na imagem.
Resolutamente, rasguei a capa para ficar com o conteúdo daquilo que
considerava importante. Quando comecei a ficar mais atento, deixei
de assinar revista pela mudança de conteúdo, com linha editorial mais
negativa. O que procuro chamar a atenção é para o fato de estarmos
diariamente vigilantes naquilo com que, sem perceber, permitimos
nutrir nosso coração, nosso espírito, nossa mente e os das pessoas
próximas, da família.
Como exemplo entre inúmeros, os veículos de mídia e as
organizações de entretenimento também têm grande responsabilidade
pelas mensagens jornalísticas ou publicitárias que divulgam, ou pelos
tipos de produtos e serviços que oferecem, e pela oportunidade de
poderem chegar até grande número de pessoas e as estimular para
agir positiva e colaborativamente no dia-a-dia.
Afinal, se já há muita competição e egocentrismo, que tolhem a
evolução da espiritualidade das pessoas, numa busca harmônica do

200
Inteligência Colaborativa

bem comum, agir com ênfase negativa na comunicação só amplia


um círculo vicioso. Quem faz ou permite fazer dessa maneira precisa
compreender a oportunidade que temos, acompanhada de sua irmã
gêmea, a responsabilidade, de contribuir para uma reflexão focada
na ação mais positiva e no bem-estar de todos.
Nosso tempo é muito precioso, pois desconhecemos o instante
seguinte. Por isso, todo o tempo de que dispomos precisa ser utilizado
para a prática do bem e, assim, colaborarmos com a sustentabilidade da
vida nas pequenas ações cotidianas, que potencializam a multiplicação
de ações positivas e irradiam vibrações também positivas.
Quantas formas nós temos para colaborar com as pessoas naquilo
que está ao nosso alcance, lembrando que, além do contato direto,
grande parte das pessoas de todo o Planeta pode ser alcançada por
meio da Web, com as inúmeras redes sociais formadas e infinitas,
acessíveis e criativas possibilidades de se expressar, compartilhar e
contribuir...
Para um mundo colaborativo, precisamos evoluir com abordagens
valorativas e positivas, diariamente. Muito cuidado com as palavras
que ficam registradas na mente de quem as transmite para outras
pessoas e na mente de quem as recebe. As palavras são acompanhadas
de energia, que irradiam e retornam sob a forma de vibração e energia.
Portanto, precisamos investir o nosso tempo naquilo que realmente é
positivo, útil, importante e benéfico para todos, em casa, no trabalho
e nas atividades da comunidade.

Aja com excelência, alegria e a melhor das intenções, sempre

Certa vez li uma frase simples e direta num discurso de Steve Jobs,
que o havia marcado e também me causou grande impacto: “Se você
viver cada dia como se fosse o último, um dia você estará certo”. Como
desconhecemos qual será este dia, vivamos o agora com o máximo que
possa ser feito de modo positivo aos seres vivos, em todas as situações,
para elevar a consciência e nutrir o coração somente daquilo que
pode nos auxiliar a evoluir espiritualmente, o que significa viver com
excelência como ser humano.

201
Sávio Marcos Garbin

Escolhemos alguém para nos visitar, para participar de um jantar


conosco, para ir ao cinema, escolhemos o filme e o horário da sessão. É
vital que esse cuidado esteja sempre presente em todos os momentos da
vida, em tudo o que fizermos.
Investimos tempo para trabalhar, satisfazer necessidades e consumir.
Trabalhamos mais e mais turnos para ter mais. Dormimos menos para ter
mais. Alteramos até o horário dos filhos, fazendo-os dormir mais tarde,
numa busca de tempo para estar juntos. Esse empenho maior pelo “ter”
afeta sobremaneira o equilíbrio do “ser” na busca de evolução para a
excelência humana.
Precisamos nos lembrar de que somos seres humanos e não “teres”
humanos e compreender que evoluímos quando procuramos fazer o bem
e servir desinteressadamente os outros seres, com a intenção genuína de
colaborar e de contribuir.
Que estejamos atentos para viver com alegria, que nos faz sorrir, nos
aviva e revigora diariamente. A alegria tonifica o coração e nos sintoniza
nos valores elevados. Como exemplo, ninguém consegue agradecer ou ser
gentil realmente, sem alegria. Ela é fundamental em todas as situações. Por
isso, é essencial refletir que, muitas vezes, se gasta mais e mais para deixar
bela a aparência dos dentes e se economiza para sorrir. Cultiva-se uma boa
aparência do corpo e se economiza na alegria e no carinho. É importante
lembrar que alegres nos harmonizamos interiormente e podemos melhor
discernir o que é realmente valioso em nossa jornada de vida.
Agir com excelência também envolve coragem e destemor no
enfrentamento dos medos e culpas por nós mesmos criados; ânimo e
ousadia para tomar as decisões com honradez, retidão e dignidade; saber
dizer um “sim” ou um “não”, com gentileza; ter firmeza espiritual para
ouvir a “voz” do coração e cuidar para jamais enfraquecê-lo naquilo que
lhe é importante.
Pense por um instante em algo de bom que tenha feito, sem interesse
próprio, para ajudar uma ou mais pessoas, com o melhor propósito.
Pode ter sido ontem, há um mês ou há vários anos, e traz ainda uma
sensação gostosa, uma leveza no peito que ilumina o coração. Agir assim,
com constância, com a intenção mais sublime, nos mobiliza naquilo
que é realmente fundamental para uma vida harmoniosa, pacífica e em
plenitude.
202
Inteligência Colaborativa

Saia do piloto automático no dia-a-dia para evoluir como ser

É possível acreditar que, ao fazer tudo “certinho” na vida, sem


incomodar as demais pessoas, já é o bastante para nossa evolução como
seres humanos. Muitas vezes o agir “certinho” pode ser apenas uma
ação no piloto automático, realizando as mesmas coisas e do mesmo
modo, dia após dia, voltado para si mesmo, até desatentamente, o
que pode significar uma passagem pela vida, como se não tivéssemos
passado, pois somente agir no piloto automático impossibilita nossa
evolução espiritual.
Às vezes fazemos tudo da mesma maneira, nos mesmos horários, e
até nos surpreendemos, por exemplo, com buracos que foram tapados
na rua ou avenida que costumeiramente utilizamos.
A indiferença, junto com a “normalidade”, é “doença” extremamente
prejudicial ao corpo e à alma. A indiferença do contato automático e sem
vida, a indiferença ao que acontece a nossa volta, na comunidade, na
cidade, no País, no Planeta, como se fôssemos seres que pudessem viver
isolados por muros, blindagens, cercas elétricas e capacidade de prover
nossas necessidades, enfim a indiferença como um estado de dormência
faz a diferença para nossa saúde espiritual, mental e corporal.
Acostumamo-nos à normalidade, a uma rotina de indiferença, que
faz fenecer a vida em seu sentido mais amplo e generoso, o de crescimento
espiritual.
Que tal aguçar a curiosidade nas pequenas coisas do dia-a-dia, para
que a luz da vivacidade possa clarear a mente e iluminar mais forte o
coração?
Que tal acentuar hábitos positivos e começar fazendo somente aquilo
que, por exemplo, possa ser compartilhado ou feito junto com os filhos e
a família? Que tal possibilitar que a família tenha momentos juntos para
ouvir um ao outro, ”conversar” com o coração?
Precisamos também dar especial atenção à intuição, àquela voz
interior que nos auxilia e pode ser mais forte e nítida, sem ruídos
ou interferências negativas, se estivermos em harmonia, serenos,
em equilíbrio conosco; e se deixarmos de dar exagerada atenção às
sensações provenientes dos sentidos, que nos colocam em contato com
aquilo que é aparente e externo ao nosso corpo.

203
Sávio Marcos Garbin

Viver em harmonia agora, com o propósito de colaborar e


servir

Certa vez ouvi um exemplo: imagine um barco numa tempestade.


Não é a tempestade que vira o barco, é apenas uma onda, a mais
próxima. Portanto, contribuir para a melhoria do mundo naquilo que
está próximo de nós é a onda, nosso cotidiano, de um planeta chamado
cotidiano.
Comece com a “onda” mais próxima, na família. Habitualmente,
somos afetados por aquilo que fazemos, pela maneira como nos
relacionamos com as pessoas mais próximas na família, no cotidiano.
Adotar, portanto, atitudes acompanhadas somente de boas intenções
permitem irradiar vibração e energia positivas que, ampliadas por uma
transformação pessoal, podem ajudar a transformar positivamente o
Planeta e contribuir de modo decisivo para a sustentabilidade da vida,
em todas as suas dimensões.
É importante ter uma mente desprendida, liberada de falsos
paradigmas que nos foram transmitidos ao longo do tempo e que nos
conduziram, como civilização, a este momento de reavaliação para
mudança de comportamento. A mente desprendida deixa de se nutrir
com sentimentos que reforçam a competição e que, gradualmente,
se tornam mais danosos pela ambição, até um ponto de exacerbação
conhecido como ganância.
Com atitudes positivas e proativas, a prosperidade é movida pela
gratidão, e compreendemos nossa importância como seres, sem precisar
nos comparar uns aos outros e competir. Agimos para colaborar em
prol de uma vida e um mundo mais harmônico.
Colaborar genuinamente com as outras pessoas significa que
nos liberamos do egoísmo que nos limita e nos impele à competição.
É o desprendimento do que nos tolhe, sair dos limites impostos por
referenciais de ganhar mais e mais para nós: tudo isso impede o nosso
viver em plenitude. Quando geramos comparações, criamos referenciais
que nos limitam de alguma maneira. Nutrimos uma sensação de que
nos falta algo, e às vezes passamos toda a vida numa busca insensata
para suprir essa falta. Desequilibramos nossa energia vital com vibrações
negativas geradas por nós mesmos, desenvolvemos doenças e temos
afetadas nossas relações e interações com as pessoas.
204
Inteligência Colaborativa

A escassez estimula um pensamento também centrado na escassez


e, aí, competimos por mais e mais, até um ponto em que a escassez
pode se tornar, de fato, realidade. Já a prosperidade, num mundo de
colaboração, diz respeito a ter aquilo que é necessário, suficiente e
essencial para uma vida regrada, com um pensar e agir colaborativos.
Para colaborar precisamos estar atentos à reavaliação das várias
formas que aprendemos ao longo da vida para competir. Na escola
somos historicamente classificados por notas que distinguem uns alunos
dos outros. Nas organizações ainda existem sistemas de avaliação, em
que embora todos atinjam índices esperados, apenas algumas pessoas
têm isso refletido no reconhecimento e na remuneração...
Podemos esquecer detalhes de algo que ocorreu conosco há muito
tempo, independentemente da nossa dinâmica de funcionamento.
Porém, quando nos lembramos, é porque foi importante para o
coração. Fixamos algo na mente por repetição ou emoção. No entanto,
guardamos em nossa consciência aquilo que fica registrado no coração.
Isso significa dizer que a verdadeira vitalidade vai além de se fazer
ginástica cerebral, buscar formas para a longevidade do cérebro e adotar
uma série de medidas para o fortalecimento do corpo.
Precisamos nos despojar de uma visão egocêntrica e de hábitos
ligados ao acumular, ao consumir desenfreado, ao querer mais e mais
para alimentar vaidades ou criar novas e ilusórias necessidades que,
em muitas situações, apenas tomam de nós tempo e energia. Essa
visão aumenta o risco de nos envolver com as questões materiais e a
de vivermos em função disso.
Precisamos mudar e, com propósito e perseverança, agradecer mais
por aquilo que temos, ao invés de reclamar daquilo que não temos.
Quem reclama, logo estará acusando...
Assim, desenvolver a espiritualidade é desenvolver-se na prática
de valores, agindo sempre com propósitos elevados e a intenção mais
sublime.
É lembrar que, ao nascermos, não o fazemos sozinhos. Ninguém
pode surgir de repente e dizer: Cheguei! Precisamos do apoio, da ajuda,
do amor e do carinho de outras pessoas para aprender e amadurecer
como seres humanos. Nascer, portanto, já nos dá um sentido para a vida,
de que só podemos evoluir espiritualmente cooperando, colaborando
e servindo as outras pessoas.
205
Sávio Marcos Garbin

Já, ao morrer, podemos estar sozinhos. Como estão a nossa


interação e o nosso relacionamento com os outros seres vivos? Se há
foco no eu, no individualismo e na competição predatória, caminhamos
para cessar a evolução na espiritualidade. Somos interligados e tudo o
que causamos gera um efeito que nos atinge, direta ou indiretamente.
Se atraímos as vibrações e a energia que emitimos, precisamos estar
atentos para apenas emitirmos vibrações positivas com desprendimento,
que deem maior tranquilidade a nossa caminhada.
Por isso, viver com o propósito de servir traz à tona a necessidade
de agir com inteligência colaborativa, mediante um processo mais
refinado de comunicação, baseado em diálogo, valores humanos
elevados, construção genuína de confiança sempre, em tudo o que é
feito, com ética da cidadania planetária para a sustentabilidade da vida
e o desenvolvimento da espiritualidade, em nosso cotidiano, como seres
humanos especiais e únicos que somos.
Ainda dentro desse propósito, cabe-nos desenvolver a espiritualidade
como seres que evoluem no relacionamento com as outras pessoas,
agindo diariamente de forma determinada para a excelência humana
e também desenvolver a espiritualidade para realizar todo o nosso
potencial como seres humanos. Continuemos a evoluir, a servir e a
colaborar, contribuindo conscientemente com a evolução das pessoas,
em plena conexão com o todo.

206
PARTE 3

Fatores que contribuem para uma Cultura


de Colaboração e o desenvolvimento
da Inteligência Colaborativa
Em branco para Internet.
Página disponível na versão impressa.

209
Sávio Marcos Garbin

Em branco para Internet.


Página disponível na versão impressa.

210
Inteligência Colaborativa

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

Com base nas referências bibliográficas e no que se pôde


depreender ao longo do livro, serão apresentados, a seguir, os principais
fatores que podem contribuir para o florescimento da colaboração entre
as pessoas e estimular o desenvolvimento da Inteligência Colaborativa:
- histórico e cultura de colaboração na comunidade;
- design do ambiente (físico e virtual);
- design de gestão;
- liderança colaborativa;
- comunicação aberta, frequente e em tempo real;
- compartilhamento de visão, propósito, princípios e objetivos;
- métricas compartilhadas que ressaltem a evolução do todo;
- inovação colaborativa e redes colaborativas de inovação e
- capital colaborativo.

1. Histórico e cultura de colaboração na comunidade

São muito vastas as abordagens sobre cultura. Ao simplificá-la,


podemos incorrer em equívocos.

Em branco para Internet.


Trecho disponível na versão impressa.

Neste sentido, a cultura existe pela habitualidade em fazer algo,


de modo que haja a interiorização dos valores, das convicções, das
crenças, e que isso se reflita naturalmente no comportamento das
pessoas.

211
Sávio Marcos Garbin

Como cuidar do que é público como se fosse seu, sem deixar


somente para o outro solucionar algo do qual você é parte integrante?
Como cuidar do que é seu em harmonia com o que é público?
Quando as pessoas agem naturalmente e têm habitualidade em ações
colaborativas, elas criam referenciais profundos que facilitam essa
interiorização, a interação, o relacionamento, a recepção e a própria
inserção de novas pessoas na comunidade.
O comportamento e a maneira pelos quais as pessoas se manifestam
por seus sentidos constituem a parte visível, e refletem o modo como
elas interagem com o ambiente. É a parte visível, uma pequena parcela
do que é a cultura de uma comunidade. Os valores, as crenças, os
pensamentos e as convicções traduzem outros aspectos, não muito
aparentes de determinada cultura.
Isso é reforçado ao longo do tempo pela constância nas práticas
colaborativas e nos valores elevados, e por ações educacionais que
estimulem a elevação do nível de consciência para a colaboração. Assim,
uma cultura de colaboração que estimule a Inteligência Colaborativa é
evidenciada, inicialmente, pela maneira como as pessoas se comportam
e utilizam os sentidos positiva e educadamente, pela linguagem e
gestos apreciativos e respeitosos, pelo modo positivo de interagir e
compartilhar experiências.

2. Design do ambiente (físico e virtual)


É um design em que as pessoas tenham espaços e possam interagir
e compartilhar ideias e informações no dia-a-dia, no trabalho e na vida
em comunidade.
Ele precisa reforçar uma mensagem de colaboração e de inovação,
evitando a falta de conexão entre o compromisso de abertura para
facilitar a comunicação e o compartilhamento de ideias, e os ambientes
existentes para isso. Há, por exemplo, mecanismos de facilitação da
interação espontânea dos colaboradores, das pessoas na comunidade?
Há mecanismos para tornar disponíveis as informações e estimular a
colaboração em tempo real? As pessoas têm liberdade para compartilhar
ideias e buscar soluções, lateral e independentemente de anuência
prévia de gestores diretos?
212
Inteligência Colaborativa

Os fatores higiênicos estão superados? Como já dizia Frederick


Herzberg, os fatores higiênicos referem-se às condições físicas e
ambientais de trabalho, à remuneração, ao clima organizacional, entre
outros. São muito restritos quanto a estimular as pessoas. Se adequados,
apenas evitam a insatisfação, e é o ponto zero para estimulá-las
com atividades que lhes dêem significado e sejam desafiantes para
contribuir no seu desenvolvimento e no da comunidade de que elas
participam.
Há espaços para que as pessoas possam conversar, se olhar de
frente e trocar ideias? Além dos espaços, há criação de oportunidades
para o compartilhamento de ideias e de práticas? Inexistem espaços
que diferenciem grupos de pessoas?
Um design adequado do ambiente também assegura um
padrão harmônico a todas as pessoas, observados os princípios de
sustentabilidade ambiental, como forma de reforçar a importância de
interconexão com o todo.

3. Design de gestão

O design de gestão precisa estimular a colaboração, a criação


participativa e uma visão integrada do todo por todos, com muita
transparência. Deve ser um design de gestão com mecanismos
indutores de participação, de compartilhamento de projetos e práticas
inovadoras e de formação de redes colaborativas, para uma evolução
consistente da organização, da comunidade em seu conjunto. Deve
estimular a curiosidade e a ousadia, com alegria e respeito, para um
fazer acontecer colaborativo, com olhar no futuro.
É necessária uma visão, um sonho construído coletivamente,
balizado por propósito e princípios que estimulem um fazer acontecer
para a sustentabilidade. Cabe aos dirigentes ser facilitadores desse
processo, estar com eles engajados, comprometidos e sempre agir
como exemplo no cotidiano, cientes de que as pessoas colaboram
quando podem trocar e compartilhar ideias e sonhos, o que significa,
na construção, que todos precisam estar num mesmo nível de
comunicação.

213
Sávio Marcos Garbin

O design de gestão centrado na colaboração estimula um


planejamento participativo, um fazer acontecer colaborativo, com
limites e regras claramente definidos, um acompanhamento (follow-up)
amplamente disseminado das soluções para as questões priorizadas
coletivamente, e as informações amplamente difundidas.
Uma sutileza: as lideranças precisam estar por inteiro em toda
a atividade considerada essencial para o pleno entendimento e
comprometimento das pessoas. Como exemplo, podemos citar a
participação plena, efetiva, todo o tempo, dos dirigentes nos eventos
estratégicos em que representantes também estratégicos ligados ao fazer
acontecer estejam presentes. Se o evento é importante, reverenciam tal
importância agindo dessa forma.
Na evolução do design de gestão, é imprescindível conhecer o
estágio de desenvolvimento dos gestores e dos colaboradores para
um alinhamento conjunto. Mecanismos de participação de todos os
colaboradores na gestão podem ser incentivados, com os gestores
preparados previamente para atuar como facilitadores da mudança,
interconectados para uma colaboração mais abrangente e sintonizada
com o todo.
É importante um design de gestão que contemple a transparência, o
compartilhamento de informações e a conduta ética como primordiais
para uma efetiva gestão estratégica da interação com todas as partes
interessadas, pilotada pelos líderes, e um processo focalizado na
evolução do relacionamento com cada um desses parceiros.
Nesse design de gestão, a informação deve estar acessível a todos,
de modo que cada pessoa, individualmente, possa propor soluções
como um sonho, um grande sonho a ser alcançado, mediante ações
construídas coletiva e colaborativamente.
A coerência entre o que se fala e o que se pratica é fundamental,
com a valorização da continuidade pelo que se obteve de positivo
até o momento, dos colaboradores atuais e passados da comunidade,
da organização. Lembrar que ações tomadas no passado podem ter
ocorrido diante de um contexto e de uma capacidade organizacional
existentes à época evita a perda de referenciais históricos e afasta uma
cultura baseada em descontinuidade, com busca de marcas pessoais de

214
Inteligência Colaborativa

gestão, o que distancia as pessoas ao invés de aproximá-las para uma


colaboração duradoura.
Um exemplo que retrata bem a situação e serve para diversas
circunstâncias da vida, pois todos nós somos seres vivos, e as
pessoas é que tornam uma organização viva em suas várias fases de
desenvolvimento, é o de que um bebê tem um tipo de alimentação até
que se desenvolva e possa comer feijoada, e muitas vezes só se enfatiza
o momento da feijoada, esquecendo todas as circunstâncias e as fases
anteriores de preparação.
Além disso, vale ressaltar que cada colaborador tem a própria
rede de conexões na comunidade, e esta rede interage com outras
redes que contribuem para referenciar uma percepção mais ou menos
agregativa da própria organização. É um cidadão-colaborador-cliente
em grande parte das organizações, ou um cidadão-colaborador-usuário
nas comunidades, de modo geral.
O design de gestão prima por criatividade, gestão do conhecimento
e inovação colaborativa, em que é possível inovar de modo participativo
mediante redes colaborativas internas e externas, com velocidade de
implantação das soluções construídas participativamente. Para isso,
as pessoas precisam se sentir bem e atuar com confiança e alegria. As
redes colaborativas existem além da hierarquia, são transversais, o que
imprime imensa agilidade e velocidade à construção e à implementação
de soluções inovadoras compartilhadas.
Esse design valoriza e reconhece a competência e a capacidade das
pessoas para a ação colaborativa. Estimula a participação e o empenho
de todos os envolvidos, todas as partes interessadas na comunidade.
Além disso, promove o desenvolvimento de competências para
um fazer acontecer colaborativo, com informações e mensuração,
inclusive de risco, amplamente disseminadas sobre os impactos para
a sustentabilidade, nas três dimensões: econômico-financeira, social e
ambiental.
O design de gestão pede leveza na estrutura, racionalidade e
integração nos processos, além de clareza das interconexões de “quem
faz o que”, para favorecer a atuação de quem estiver em contato direto
com o cidadão cliente. Adicione-se a isso um design tecnológico ágil,
para construção de soluções por quem está na ponta, próximo do

215
Sávio Marcos Garbin

cidadão cliente, com mecanismos virtuais de colaboração acessíveis a


todos os participantes da comunidade.
Enfim, o design de gestão deve primar pela construção e
fortalecimento da confiança entre as pessoas e por uma gestão
estratégica colaborativa rumo à excelência para a sustentabilidade.

4. Liderança colaborativa

Uma liderança emerge como essencial neste novo mundo de


colaboração: a liderança colaborativa.
Quando se fala em liderança, a palavra-chave é influência, pois um
líder influencia de modo consciente, direta ou indiretamente, as pessoas
por sua conduta. Assim, um líder colaborativo atua conscientemente para
estimular a colaboração e a Inteligência Colaborativa, desenvolvendo
a capacidade para praticar e disseminar os seus princípios, ciente de
que é um ser que aqui está para evoluir, e só pode evoluir por meio de
relacionamentos mais harmoniosos com outros seres humanos.
O líder colaborativo procura evoluir na espiritualidade, contri-
buindo para a evolução na espiritualidade das pessoas, com grande
ênfase em valores elevados compartilhados, que as mobilize para
aspirações e propósitos também elevados, em prol do bem comum.
Procura elevar o nível de sua consciência e contribui para a expansão
dos limites da consciência das pessoas, reforçando a importância da
evolução do ser, em vez de simplesmente o acúmulo do ter.
É uma pessoa com senso de responsabilidade pública para o
desenvolvimento harmonioso da comunidade, simultaneamente ao
desenvolvimento e florescimento das potencialidades de todas as pessoas
direta ou indiretamente ligadas, estimulando-as para a colaboração, a
inovação colaborativa e o fortalecimento do capital colaborativo. Para
tanto, como líder procura desapegar-se de sentimentos e pensamentos
egoístas, colocando-se num mesmo patamar para o relacionamento
com comunicação baseada em diálogo.
O líder colaborativo estimula a linguagem apreciativa e posi-
tiva, sempre verdadeira, e procura desenvolver capacidades para
relacionamentos colaborativos.

216
Inteligência Colaborativa

Facilita a reflexão para ações positivas, no presente e no futuro,


com foco em propostas e soluções que agreguem valor sustentável
para a comunidade e o todo.
Conduz a uma comunicação aberta, de amplo compartilhamento
de informações e conexões entre os membros da comunidade para
clareza nas ações e nas mudanças, benéficas a todos. Busca também
se comunicar diretamente com quem vivencia a realidade da
comunidade em que atua. Para isso, evolui no aprendizado com o
silêncio, para ouvir mais e ponderar com a intuição apurada.
Esse líder estimula o desenvolvimento de uma visão com
estratégias colaborativas que possibilitem alcançar essa visão. Para
isso, incentiva a participação colaborativa das pessoas mediante
explicação clara do contexto para a situação existente na comunidade.
Facilita a definição compartilhada de propósito que as motive e as
mobilize, gerando comprometimento e dando significado à visão a
ser desenvolvida. Concomitantemente, estimula um desenvolvimento
pessoal alinhado ao desenvolvimento sustentável da organização ou
comunidade, em plena harmonia com o todo, contribuindo para a
construção das competências necessárias.
Objetivando o alcance da visão e das estratégias, é muito
importante um plano que possa ser elaborado, executado e
acompanhado coletivamente, um plano realista que traduza
um sonho priorizado participativamente para ser alcançado em
conjunto, por todos, e que releve a importância e a urgência do agir
colaborativamente, naquilo que de melhor as pessoas possam oferecer.
Conjugado a reforços positivos, capazes de gerar mais energia
positiva e celebrações entre todos, nas etapas alcançadas, possibilita
vislumbrar a viabilização do sonho construído coletivamente. Para
isso, um líder colaborativo precisa estar atento à gestão da execução
e às situações que podem acomodar ou levar as pessoas a agirem
tensionadas, numa busca de equilíbrio para fazer acontecer de modo
colaborativo.
O líder colaborativo procura compreender o comportamento e
as atitudes das pessoas, consciente das diferenças de suas dinâmicas
de personalidade. Tem especial atenção aos diferentes estágios, em
termos de motivação e competência, para adequar sua forma de agir.
217
Sávio Marcos Garbin

Segundo Machado121 (2001), um líder é mais diretivo quando prioriza a


tarefa, deixa claro o que e o modo como fazer, com precisão e cuidado,
se há baixa motivação e baixo nível de competência da pessoa diante de
uma atividade. Quando há alta motivação e baixo nível de competência,
procura agir fortemente como coach, com prioridade à tarefa e à relação,
dispensando orientação e acompanhamento necessários à superação das
dificuldades e melhor utilização dos pontos fortes. Em outra perspectiva,
dá grande ênfase à relação e estimula a participação da outra pessoa,
buscando encorajá-la, para que sejam feitas propostas, quando há alta
competência e baixo nível de motivação. Por fim, adota uma atitude
delegativa, quando há alta motivação e alto nível de competência por
parte de uma pessoa diante de uma atividade.
Um líder colaborativo facilita e articula redes de redes, interna e
externamente, para fomentar o que de melhor a comunidade faz e pode
fazer.
Um líder colaborativo está sempre atento para viabilizar diálogos
contínuos, estruturados e para manter ambiente físico e virtual que
estimule o compartilhamento de informações, a participação, a
interlocução, a conversação entre as pessoas, incluindo aí os parceiros,
as partes interessadas.
Procura construir e fortalecer permanentemente a confiança entre
todas as pessoas direta ou indiretamente ligadas à comunidade, com
elevado compromisso ético e credibilidade para mobilização e empenho
duradouros.
Vai além da busca por ser competente e profissional, do preparar-se
para o que fazer (conhecimento), do modo como fazer (habilidade) e da
experiência de como fazer com a prática, ao longo do tempo. Dedica-
se também, de modo intenso, à grande busca da competência em ser
humano, sua e das pessoas que influencia direta ou indiretamente.
Neste sentido, ganha contorno mais amplo a busca de equilíbrio
com o bem-estar interior, com valores humanos elevados, abertura
ao aprendizado e harmonia com a busca de excelência em tudo o que
ele faz. Excelência no modo como fazer da melhor maneira possível,
com o que tiver disponível, para servir, contribuir com a intenção e o

121 MACHADO, Mario Lúcio, 2001.

218
Inteligência Colaborativa

sentimento mais elevado e desapegado, e serenidade em cada situação,


cada momento. Com isso, procura envolver, compromissar e engajar as
pessoas, para também agirem colaborativamente na busca da excelência
em tudo o que fizerem.
O líder colaborativo age com muita vibração, equilíbrio emocional,
determinação e entusiasmo para facilitar que as pessoas evoluam na
capacidade de se relacionar e interagir positivamente.
Além disso, colabora de modo autêntico, transparente, sincero e
respeitoso com todas as pessoas de determinada comunidade e com
todos que com ela interagem.
Por ser referencial de exemplo a todos que possa influenciar, tem
clara a responsabilidade pela naturalidade de uma conduta simples,
íntegra e correta no sentir, pensar e agir, para a evolução da conduta
das pessoas. Objetiva sempre o alcance de resultados superiores para
a sustentabilidade, além do curto prazo dos números financeiros.
Um líder colaborativo dá o que tem de mais significativo em seu
coração, atento para que isso ocorra sempre. Afinal, só podemos dar
aquilo que temos. É difícil alguém dizer: Empreste-me um pouco do seu
carinho, da sua gentileza, para eu dar a outra pessoa. Para dar aquilo que
de melhor tem, ele concilia a competência técnica com a competência
em ser humano, naquilo que faz bem para si e todas as outras pessoas,
como ser humano em convivência com outros seres humanos e com
todos os seres vivos. Age sempre com a intenção mais sublime de servir
os outros, com os outros, movido por valores elevados.
Guillory122 (2002, p. 83) enfatiza que “uma premissa básica para
servir é estar incondicionalmente comprometido com o crescimento,
o sucesso e o bem-estar dos outros”. Esse compromisso nasce,
quando há compreensão da nossa ligação natural com aqueles a
quem servimos.
A liderança colaborativa é consciente para agir do modo como é
a natureza, centrada na sustentabilidade da vida. Chatterjee123 (2001,
p.170) explica que “tudo na natureza está consciente do fato de que,
no bem-estar do todo, está o bem-estar de cada um”. Na natureza há

122 GUILLORY, William. A Empresa Viva: espiritualidade no local de trabalho. São Pau-
lo: Cultrix, 2002.
123 CHATTERJEE, Debashis. Liderança Consciente. São Paulo: Cultrix, 2001.

219
Sávio Marcos Garbin

uma busca consciente em reabastecer e compartilhar todas as coisas


de que se tenha utilizado: como a nuvem que retorna para a Terra a
água que obteve do mar.
Assim, um líder colaborativo é ciente de que tem uma oportunidade
para o desenvolvimento e a evolução pessoal, que estão acompanhados
de responsabilidade. Essa responsabilidade é efetivamente para
contribuir na evolução da consciência, da espiritualidade das pessoas
diretamente ligadas a ele, como seres que também estão aqui na Terra
para evoluir e viver harmonicamente uma vida digna.

5. Comunicação aberta, frequente e em tempo real


Num mundo de redes interconectadas em tempo real, os
relacionamentos e as interações fluem sem os filtros da hierarquia,
exigindo dos gestores um novo papel de articuladores do conhecimento
e de relacionamentos colaborativos.
As pessoas que se iniciam nas organizações já estão habituadas às
redes sociais na Internet. São de uma geração conectada em celular e
Internet. Por isso, a receptividade e o compartilhamento de informações
são facilitados mediante estruturas mais horizontais e menos
fragmentadas, num processo multidirecional de comunicação.
Estimula-se a comunicação horizontal, interativa, positiva e em
rede. Assegura-se que as informações cheguem sem filtros a todos os
colaboradores, que eles possam participar, interagir e acompanhar
aquilo que propõem.
Todos devem ter informações suficientes, do passado e do
presente, de modo que melhor construam uma visão futura daquilo
com que podem contribuir de modo participativo.
A comunicação deve ser equilibrada na forma e no conteúdo,
com o cuidado de evitar uma profusão de informações que leve
as pessoas a pensar que quanto mais se comunicam, menos se
comunicam. Deve focalizar-se, portanto, nas informações necessárias
a cada uma das partes interessadas, no que é fundamental para uma
mobilização alinhada à busca do sonho construído coletivamente.
Além disso, é importante criar espaços para que as pessoas se
conheçam, expressem seus talentos, exponham questões pessoais e
até divulguem notícias pessoais.

220
Inteligência Colaborativa

Lembrar que as pessoas podem participar quando têm informações


precisas e de fácil entendimento, e isso vale para organizações, cidades
e outros tipos de comunidade, enseja buscar e viabilizar caminhos
para estimular e valorizar uma comunicação transparente, apreciativa,
valorativa e positiva, comunicação com foco nas soluções e respeitosa,
sempre.

6. Compartilhamento de visão, propósito, princípios


e objetivos
As pessoas participam e colaboram naquilo que podem criar,
já dizia em palestra Margareth Wheatley. É preciso estimular
a participação por algo que tenha significado especial para as
pessoas, numa visão construída coletivamente, e em que exista uma
perspectiva de prazo, com etapas a serem alcançadas e celebradas,
comemoradas por todos. É fundamental celebrar coletivamente os
objetivos alcançados coletivamente.
Um projeto colaborativo é mais do que aquele em que as pessoas
participam de sua realização. É um projeto em que elas participam
de sua concepção, alinhando propósitos, sonhos, valores e crenças
para a sua realização.
As pessoas têm que se identificar com uma intenção clara de
onde querem chegar e um objetivo que as leve a se mobilizar para
um fazer acontecer conjunto. O ser humano vivencia e interage com
o mundo de forma ativa, transforma o ambiente e é modificado pelo
ambiente social. Uma comunidade em si não se transforma, quem
se transforma são as pessoas que nela atuam.
Dessa forma, um projeto mobilizador necessita estar focado no
futuro, para estimular continuamente as pessoas. Deve ter pontos
de referência e sintonia para evidenciar os marcos de alcance dos
resultados propostos e impulsionar o efeito bola-de-neve da percepção
de que é possível fazer acontecer conjuntamente soluções com que
todos ganhem, incluindo o planeta Terra e o próprio Universo.
Detalha um sonho compartilhado, a ser viabilizado e alcançado
conjuntamente.
Isso vale para um projeto de país, balizado pela própria
Constituição e concebido de forma participativa com representantes

221
Sávio Marcos Garbin

da própria sociedade, e também para projetos de um bairro, de


uma cidade e de organizações. Esses projetos estimulam as pessoas
a ser protagonistas na formulação e na ação, mediante questões
instigadoras, aparentemente difíceis. Como realizar grandes
sonhos com a participação de todos da comunidade e com aquilo
que já existe na própria comunidade? Como viabilizar soluções
para a comunidade que transcendam as gestões e que possam ser
monitoradas pela população?
Por meio de interconexões para o bem-estar de todos, com
princípios nobres, regras claras e respeito à legalidade, sempre.
Espaços e áreas comuns de compartilhamento de conhecimento
definidos e acessíveis a todos da comunidade são outra proposta.
Quando as pessoas sabem o que ocorre, têm informações abrangentes
e recebem estímulos positivos para participação, há intencionalidade
em harmonia com a conduta, portanto, colaboração verdadeira para
contribuir com o coração. Há um senso de comunidade estimulado,
em que as pessoas mostram maior nível de pertencimento e de
participação voluntária e solidária.

7. Métricas compartilhadas que ressaltem a evolução


do todo

Construir coletivamente um balanced scorecard para mensurar a


estratégia delineada com foco na inovação para sustentabilidade e
gerir a execução a partir dele possibilita visão e acompanhamento
sistêmicos da evolução da comunidade, naquilo que é essencial para o
alcance de resultados sustentáveis, numa ambiência de colaboração.
E isso acontece principalmente se existirem visões consolidadas,
capazes de possibilitar a avaliação global, o reconhecimento positivo
e coletivo pelos resultados alcançados, e o compartilhamento de
práticas para o desenvolvimento equilibrado do todo, em detrimento
de visões individuais que estimulem a competição.
No lugar de uma profusão de métricas e itens de acompanhamento,
é importante definir itens relevantes e essenciais para mensuração
do alcance da estratégia, que possibilitem atribuir prioridade ao

222
Inteligência Colaborativa

monitoramento focalizado e contribuir de modo substancial no


processo de avaliação e de tomada de decisão das partes interessadas
na organização ou comunidade.
O balanced scorecard, desenvolvido por Kaplan e Norton 124
(1997), vem evoluindo e possibilita um alinhamento das métricas à
estratégia, mediante a definição de indicadores integrados em várias
dimensões: financeira, do cliente, do processo, da aprendizagem e
do conhecimento e da inovação (incorporada posteriormente).
Mais recentemente, também já pode ser constatada nas
organizações a dimensão socioambiental, como parte de uma
evolução para o balanced scorecard da sustentabilidade. Há variações,
a exemplo da utilização de indicadores socioambientais em cada
uma das perspectivas originais do balanced scorecard.
O importante é que o conjunto de indicadores avance de uma
mensuração e avaliação centradas inicialmente em ecoeficiência,
afeta aos processos, para estimular soluções sustentáveis,
considerando os impactos econômicos, conjugados com os sociais
e ambientais, numa abordagem de inovação colaborativa para
a sustentabilidade, de forma abrangente e integrada, em toda a
organização ou comunidade.
Possibilita mais transparência e velocidade na implementação
de ações referentes à sustentabilidade, além de oferecer maior
tempestividade para o processo de tomada de decisão de todas as
partes interessadas.
Neste contexto, torna-se importante definir métricas focadas no
desenvolvimento colaborativo de soluções inovadoras sustentáveis
e na participação crescente de pessoas em projetos inovadores.
As métricas precisam estar visíveis e disponíveis a todos e,
ainda assim, é importante que sejam divulgadas frequentemente, de
modo que os resultados alcançados estimulem as pessoas a buscar
novos patamares.
Uma métrica às vezes negligenciada, e extremamente importante
para a gestão da execução, é a que se refere à qualidade e efetividade

124 KAPLAN, Robert S; NORTON, David P. A Estratégia em Ação – Balanced Score-


card. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

223
Sávio Marcos Garbin

do planejamento, efetividade que pode ser avaliada considerando-se


a evolução das ações realizadas, comparativamente às planejadas,
ao longo de período determinado ou de vários períodos.
Existe gestão efetiva quando há mensuração e se obtém aquilo
que é monitorado e acompanhado por todos. As métricas precisam
detalhar claramente para as pessoas os objetivos, os resultados
esperados, definidos em conjunto, e estimular um alinhamento das
atividades a uma gestão inovadora para a sustentabilidade, em todas
as suas dimensões.

8. Inovação colaborativa e redes colaborativas de


inovação

Inovação, no novo contexto da sustentabilidade, significa imple-


mentar uma ideia que seja adotada pelos cidadãos clientes, para agregar
valor sustentável e obter um resultado superior almejado por todas as
partes envolvidas. Difere da criatividade, cujo processo objetiva a geração
de novas ideias para algo existente ou para algo também novo.
A definição de inovação apresentada vai ao encontro do proposto
pelo Fórum de Inovação125 (www.inovforum.org.br), que compreende
sempre a soma de três palavras: ideia, implementação e resultados.
Como proposta, e objetivando intensificar ações por parte das
pessoas naquilo que é essencial à sustentabilidade da vida, talvez a
inovação neste século precise incluir um quarto componente em sua
definição: sustentabilidade na agregação de valor e na geração de
resultado. É preciso inovar colaborativamente para que se tenha um
presente e um futuro que contribuam para o bem-estar de todos, em
harmonia com o todo.
A inovação, segundo Hammel e Breen126 (2007), pode ocorrer de
várias formas: operacional, em produtos ou serviços; inovação estratégica
em modelos de negócios; e inovação em gestão.

125 Fórum de Inovação é uma associação entre a FGV-EAESP e organizações de sucesso


no Brasil, interessadas em desenvolver, juntas, a compreensão e a prática da capacidade
de inovar.
126 HAMMEL, Gary; BREEN, Bill. O Futuro da Administração. Rio de Janeiro: Cam-
pus, 2007.

224
Inteligência Colaborativa

No que se refere principalmente à inovação operacional, ou a


produtos e serviços, particularmente dou especial atenção ao que
denomino inovação contínua. É a inovação que busca a otimização
de processos ou tecnológica, para fazer algo novo, com constância, de
modo que se transforme em hábito por parte das pessoas. A cada mês
ou período relativamente curto tem-se algo novo, proposto e implantado
junto com toda a equipe ou comunidade, e as pessoas habituam-se a
buscar otimizações de médio impacto e a fazer acontecer algo inovador.
Difere da melhoria contínua, pois a palavra melhor pode passar uma
percepção desestimulante. Por exemplo: 0,01% de alguma coisa é um
número melhor que zero, porém, isto pode gerar efetiva mobilização?
Considerar inconvenientes ocultos (aquilo que nos incomoda e
fazemos habitualmente por entender que só pode ser daquela maneira),
como proposto por Whiteley127 (1996, p. 85), já é o que ocorre com
grande frequência nos processos de inovação.
Desenvolver redes colaborativas de inovação por meio de protótipos
também acelera o processo de inovação com base no conhecimento, na
participação e na colaboração das pessoas, principalmente por estarmos
num mundo interconectado. Schrage128 (2001, p. 44) enfatiza que
“modelos inovadores inspiram um comportamento inovador”, e que o
valor da criação de protótipos origina-se do modo pelo qual as pessoas
se comportam em relação aos protótipos.
Desta forma, ao mesmo tempo em que gerar ideias ficou mais fácil
com o nível de informações disponíveis em tempo real, a implementação
de uma ideia pode ser mais ou menos colaborativa, dependendo do
modelo de gestão da inovação adotado. Neste sentido, a existência de
um protótipo inovador é que gera equipe inovadora e incentiva uma
experimentação e implementação participativas.
A inovação com base em protótipo possibilita evoluir para um
modelo de gestão que estimule a ação, naquilo que Christensen129 (2003)

127 WHITELEY. Richard C. Crescimento Orientado para o Cliente: cinco estratégias


comprovadas para criar vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1996.
128 SCHRAGE, Michael. Jogando para Valer: como as empresas utilizam simulações para
inovar. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
129 CHRISTENSEN. Clayton M. O Crescimento pela Inovação: como crescer de forma
sustentada e reinventar o sucesso. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003..

225
Sávio Marcos Garbin

denominou inovação disruptiva ou de ruptura. A inovação disruptiva não


procura oferecer melhores produtos aos clientes de hoje, nos mercados
existentes. Ela rompe e redefine os modelos então vigentes, liderados
pelas empresas tradicionais, e baseados em inovação denominada
sustentadora e incremental, que objetivam aprimorar o que já existe.
A inovação de ruptura vai ao encontro de um novo mundo em
que a sustentabilidade da vida se faz imprescindível, com equações que
precisam ser formuladas, para reduzir desigualdades em harmonia com
o meio ambiente, a exemplo de produtos mais simples, que utilizem
menor quantidade de material e de energia, e tenham preços mais baixos;
produtos que também se transformem em serviços compartilhados;
serviços gratuitos ou com menor custo de intermediação para o cidadão
cliente; tecnologias limpas e inclusivas etc.
Neste sentido, a inovação de ruptura nos leva a refletir sobre a
inovação radical, que altera premissas divergentes do pensamento até
então existente. Essas inovações vêm ocorrendo em profusão, como é
o caso de empresas que desenvolvem produtos ou serviços para atender
e incluir um grande conjunto de pessoas que se encontram na base da
pirâmide social, inovações inclusivas com melhor qualidade, menor
custo e preço para atender a maior contingente de pessoas.
Como uma dessas inovações, tem-se a estratégica, com origem na
formulação de questões que levem as pessoas a buscar soluções radicais,
coletivamente, para a obtenção de valor sustentável que considere o
bem comum, em espaços até então inexplorados. Se a palavra radical
significa ir à raiz, à origem, uma inovação radical precisa nos levar a
pensar de modo sistêmico e diferente do que já existe, e em benefício
do todo. Pensar diferente, por meio de questões instigadoras que
estimulem um fazer acontecer participativo e colaborativo, naquilo
que seja essencial à sustentabilidade da vida.
Outro exemplo é a inovação em tecnologias limpas, com
produtividade radical, menor impacto ambiental e menor custo de
manutenção. E que tal também pensar em soluções integradas, realizadas
em parceria entre organizações e governo, no sentido de facilitar a vida
das pessoas de menor nível de renda e contribuir para que elas possam
participar mais efetivamente, como cidadãs, das questões que afetam a
sustentabilidade da vida no Planeta?

226
Inteligência Colaborativa

Um exemplo de solução integrada e capaz de gerar círculo


virtuoso no setor de construção civil sustentável é o financiamento
para construção da casa própria, com materiais que causem baixo
impacto ambiental e tenham certificação de origem, conjugadamente ao
plantio de árvores frutíferas no empreendimento, com o financiamento
de equipamentos que consumam menos água e propiciem menor
gasto de energia elétrica limpa. Isso possibilita ganhos para facilitar
o desenvolvimento da pessoa como cidadã, a partir do momento em
que passa a cuidar do meio ambiente, além de diminuir as contas e
propiciar uma vida com mais dignidade.
Inovação colaborativa, no sentido de elevar o nível de consciência
para facilitar a interconexão com o todo, significa implementar uma
ideia, seja de gestão, seja produto ou serviço, considerando a participação
de pessoas ou redes de pessoas, interna e externamente ao ambiente
da comunidade. E essa ideia implementada repercute positivamente
no todo, melhorando a qualidade de vida, com redução de impactos
sociais e ambientais na comunidade e no Planeta.
Se a inovação em gestão também merecerá especial destaque neste
século, como mostram Hamel e Breen (2007), tal processo se acelerará,
na minha avaliação, quando se propalarem uma cultura de colaboração
e a Inteligência Colaborativa.
Num novo mundo colaborativo ampliam-se as possibilidades de
inovação colaborativa. Redes de redes de cidadãos colaboradores,
cidadãos clientes e entidades setoriais são formadas, tudo isso
demonstra que as inovações e as ecoinovações radicais são cada vez
mais colaborativas, verdadeiras redes de inovação.

Em branco para Internet.


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227
Sávio Marcos Garbin

Em branco para Internet.


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Essas redes colaborativas podem ser concebidas e construídas em


vários eixos de sustentação, que transcendam a hierarquia e as pessoas
em rede possam estabelecer prioridades na implantação de soluções
inovadoras.
Como exemplo, tem-se uma rede em que os projetos priorizados
em conjunto com os gestores podem ter estímulos de participação e
ser acompanhados por todos, em suas várias etapas.
Num segundo eixo, estão soluções inovadoras em outras
organizações ou comunidades, passíveis de ser conhecidas em maior
profundidade por quem estiver mais próximo, por indicação de
participante ou participantes da rede. Mediante avaliação junto com
a própria rede, têm início uma parceria e o desenvolvimento de um
protótipo que pode ser estendido a toda a comunidade.
Já num terceiro eixo, toda proposta de implantação de solução
inovadora por algum integrante da rede é apresentada e incluída na
rede, podendo também ser priorizada pela própria rede, quanto ao
desenvolvimento e execução.
Uma rede colaborativa de inovações transcende a gestão da
execução para soluções definidas ou propostas hierarquicamente.
Acelera a geração e a implementação de soluções inovadoras em larga
escala, com construção e participação coletiva. Possibilita viabilizar algo
objetivando um futuro mais harmônico, com amplo comprometimento,
na perspectiva de todos da comunidade.

Em branco para Internet.


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228
Inteligência Colaborativa

Em branco para Internet.


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No setor financeiro, por exemplo, existem redes colaborativas


que surgem e são formadas para a redução do custo de intermediação
financeira e para a geração de resultado sustentável na ponta do
negócio. São novos modelos, em que pessoas podem participar do
desenvolvimento de comunidades que se ajudam diretamente, de
pessoas que podem emprestar diretamente a outra pessoa, ou conjunto
de pessoas, no ambiente do próprio país, quando permitido legalmente,
ou avaliando e optando por negócio em desenvolvimento por pessoa
de qualquer parte do mundo. Maximiza-se o ganho coletivo, com o
uso do novo modelo de intermediação, facilitado pela possibilidade da
rápida formação de redes colaborativas na Internet.
A inovação colaborativa é social, com estímulos à participação
coletiva em torno de objetivos comuns, para priorização das neces-
sidades e construção também participativa das soluções.
Em se tratando de inovação colaborativa com origem em práticas
disponíveis publicamente, sem considerar as bases de patentes, em que
se pode conhecer detalhes do que existe patenteado, já são vários os
exemplos de organizações ou conjunto de organizações que tornam
disponíveis para a sociedade as soluções inovadoras concebidas,
inclusive como forma de participar de redes colaborativas externas,
que lhe são importantes. Há um número crescente de organizações que
doa patentes que não têm a ver com o foco essencial de seu negócio, e
também patentes de ecotecnologia, deixando-as no domínio público.
São inovações tecnológicas que, direta ou indiretamente, beneficiam
o meio ambiente, como, por exemplo, a iniciativa do World Business
Council for Sustainable Development130 (2008).

130 WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT. The


eco-patents commons. EUA: Janeiro de 2008. Disponível em http://www.wbcsd.org
Acesso em 10/05/2008.

229
Sávio Marcos Garbin

Esse modelo pode ser adotado num município, estado ou país,


em que órgãos de governo e organizações se unem para estimular a
inovação, com a participação de diversas frentes, desde a criação de
mecanismos indutores de estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento
em setores da fronteira tecnológica e do conhecimento, à existência de
ambientes que propiciem o desenvolvimento de novas organizações
nesta fronteira, por meio do estímulo à formação de incubadoras,
parques tecnológicos, centros de pesquisa ou tecnópolis, que também
atuam em redes neste novo mundo colaborativo.
As redes colaborativas se intensificam pela informalidade, até
estimulada, de modo que as pessoas possam participar voluntariamente,
se conectarem a um interesse maior, ao da própria comunidade em
que convivem diretamente, numa perspectiva de comunidade maior,
a do planeta Terra.
A inovação colaborativa é capaz de acelerar a colaboração em larga
escala entre as pessoas, entre redes de pessoas, e entre redes de redes
de pessoas, com a compreensão de novos contextos que emergem e
são fundamentais para a sustentabilidade da vida.

9.

Em branco para Internet.


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230
Inteligência Colaborativa

Em branco para Internet.


Página disponível na versão impressa.

231
Considerações em continuidade...
Sim, considerações em continuidade, pois da mesma maneira que
nos desenvolvemos, este livro está em processo de construção, por meio
da leitura e de contribuições para o aprimoramento de seu conteúdo.
Sou de uma geração formada e balizada pelo modelo mental baseado
em competição, que rapidamente precisa internalizar os princípios da
Inteligência Colaborativa, para contribuir com o desenvolvimento de
uma cultura baseada em colaboração. Essa cultura possibilitará um olhar,
pensar e agir diferentes em tudo o que costumeiramente fazemos, para
maior harmonia pessoal e do todo, de um planeta vivo chamado Terra.
É preciso agir do mesmo modo que a vida flui no corpo humano,
em que todos os órgãos cumprem sua função, se desenvolvem e se
regeneram sem querer sobressair a outro órgão. Simplesmente agem
colaborativamente para que haja interação e funcionamento harmônico
de todos e do todo.
E, para isso, é necessário interação, transparência, cuidado e
colaboração, palavras-chave para este novo momento em que a
sustentabilidade da vida se faz tão presente. Essa nova cultura pede
interagirmos de modo transparente conosco, com as pessoas mais
próximas e com o Planeta em que vivemos. Requer interação transparente
e transparência na intenção, para aumentar nossa clareza no fazer, de
tal modo que possibilite uma evolução da consciência, uma evolução
espiritual, uma evolução naquilo que é importante para um coração
mais belo e sereno.
Nossa civilização se encontra num momento delicado e emergente
de mudança de rota e de direção, em que todos estamos ao volante e
dependemos de nós mesmos para um reposicionamento de jornada,
como uma grande oportunidade de nos dirimir e evoluir como seres

233
Sávio Marcos Garbin

espirituais, reavivar nossa alma com a beleza da vida em sua plenitude,


iluminando nosso caminho e, com luz irradiante, contribuir para
iluminar o mundo ao nosso redor, agir no cotidiano como cidadãos
planetários, um todo interconectado que evolui e contribui, local e
positivamente, para a preservação do planeta Terra...
Da beleza das rosas, das orquídeas... Da beleza dos tomates, das
berinjelas...
Da beleza de um girassol, de um campo de girassóis...
Da beleza da singularidade, da diversidade, da harmonia individual
com o todo...
Da beleza da vida, da luz singela e forte que ilumina os horizontes
e que aquece o coração...
Da beleza de cada pessoa, que nasceu para servir, amar e viver
intensamente cada momento e, respeitosamente, compartilhar aquilo
que tem de melhor, para benefícios mútuos e do todo.
Isso traz a esperança de que um novo mundo é possível, com vidas
mais construtivas, sem o piloto automático de um dia-a-dia igual, dia
após dia, com intensidade no fazer desapegado, para serenidade, alegria
e leveza nos sentimentos e pensamentos.
E, nesse contexto, é que entra a Inteligência Colaborativa, que
equilibra a razão com sentimentos afetuosos, para agirmos de modo
mais consciente, pois tudo o que fazemos nos afeta, afeta os mais
próximos e afeta o todo em que vivemos já, agora, neste momento. E
podemos, sim, transformar o Planeta em um ser vivo em harmonia, a
começar com uma transformação pessoal, em busca de ser sublimes
interiormente.
Como começar? Comece aos poucos, consigo mesmo, com a
família, com as pessoas de quem mais gosta, com as pessoas de seu
convívio. A luz brilhante que irradiará no coração aos poucos aumentará
e brilhará e continuará irradiando...
Nesta jornada, Você é importante! Nós somos importantes! Todos
nós somos muito importantes, juntos!

Muito grato pelo carinho da leitura.

234
Sementes de Reflexão:

Os líderes que instigam mudanças são geralmente como jardineiros


prostrados diante de suas plantas, implorando-lhes: “Cresçam! Tentem
com mais afinco! Vocês podem!”
Primeiramente, nenhum jardineiro tenta convencer uma planta a
“desejar” crescer: se a semente não tiver o potencial de crescimento,
ninguém poderá fazer nada para mudar a situação.
Em segundo lugar, ela nos sugere que os líderes deveriam focalizar,
com carinho e cuidado, principalmente os processos limitantes que
poderão retardar ou impedir a mudança.
Acima de tudo, um jardineiro precisa compreender os fatores que
podem restringir o crescimento de uma planta e dispensar especial
atenção a estes fatores.

Adaptado de Peter Senge in A Dança das Mudanças.

O que quer que se faça em empresas é feito por pessoas. A


maturidade e a felicidade dessas pessoas dão o tom e determinam as
capacidades ou limitações da empresa.

Peter Senge in Liderança Consciente, de Debashis Chatterjee.

Eu dormia e sonhava que a vida era alegria. Despertei e vi que a


vida era serviço. Servi e aprendi que o serviço era alegria.

Rabindranath Tagore

235
Harmonia - agir com vivacidade
no coração

Fiquei eufórico quando recebi um convite da Diretora da


Biblioteca Demonstrativa de Brasília, para dar uma palestra a um
grupo de senhoras que se reunia semanalmente. Tratava-se de um
público bem diferente do habitual.
Preparei a palestra com o maior carinho, levei equipamento
de projeção e caixas de som. Pouco antes de iniciá-la, “queimei”
as caixas de som ao ligá-las na voltagem errada, e logo no início
o projetor deixou de funcionar. Pensei comigo mesmo: Se fiz tudo
com muito cuidado, dedicação e carinho, a forma de agir precisa
ser outra, e a contribuição que posso dar é conversar, compartilhar
com as senhoras o material que preparei. Assim fiz, e elas, atentas,
participavam bastante.
No fim da palestra, agradeci a oportunidade e pedi desculpas
pelos problemas nos equipamentos, ao que uma senhora me disse de
forma bastante carinhosa:
“Assim foi bem melhor, teve mais vivacidade na sua fala”.
Vivacidade. Qualidade do que tem vida, força, leveza, entusiasmo
e expressividade.
Prepararam um lanche e fizeram questão de que eu participasse,
em um ambiente de muita gentileza e atenção.
Em silêncio comigo mesmo, agradeci aos equipamentos sem
funcionar, pois recebi um presente, a oportunidade de aprender mais
sobre a importância de vivenciar intensamente o agora, com a nossa
melhor energia, com a nossa melhor vibração...
237
Sávio Marcos Garbin

Viver intensamente o agora, com a nossa melhor energia e vibração,


talvez se faça acompanhar daquilo que chamamos de harmonia.
Aprendi com minha querida esposa que harmonia é quando se
procura fazer as coisas com pureza no coração, querendo colaborar,
ajudar verdadeira e genuinamente, sem expectativa de qualquer retorno,
e tudo de positivo acontece no momento adequado.

238
Eu acredito...

Num mundo em que todos possam cuidar de todos, como partes


interligadas e interconectadas de um todo maior.
Que a beleza e pureza dos nossos sentimentos e pensamentos podem
melhorar nossas atitudes, palavras e a nossa conduta.
Na suavidade, na sensibilidade e na singeleza do fazer e do ser para
um Planeta mais saudável e harmônico.
Na gentileza e no afeto, na importância do afagar positivamente, que
faz elevar a autoestima.
Na linguagem apreciativa e no reconhecimento positivo, que
valorizam as pessoas e estimulam a confiança.
No planeta chamado cotidiano, para começar, aprender, recomeçar
e reaprender a evoluir como pessoa.
Na importância da família, nosso recanto de geração e regeneração
de pura energia positiva.
Na interação transparente, cuidadosa e colaborativa com todos, para
a sustentabilidade da vida.
No cultivo e compartilhamento de valores elevados, que permitem
aproximar, incluir e aprender com carinho, acendendo nossa luzinha no
peito, chamada sabedoria.
Na excelência do buscar e do fazer, da melhor forma possível, com
o máximo de nossa capacidade, com a intenção mais sublime, a cada
instante, com aquilo que temos de melhor e com o coração cheio de
virtudes.
Numa revolução chamada colaboração, que aquece e energiza a alma
para conseguirmos um Planeta em harmonia e mais justo para todos.

239
Sávio Marcos Garbin

No desenvolvimento de uma Inteligência Colaborativa, para


evoluirmos como seres humanos mais conscientes de nossas
responsabilidades para servir os outros, com os outros, em sintonia
com o todo.
Eu acredito!

Comentários e sugestões serão muito bem recebidos


e podem ser encaminhados ao endereço:
www.inteligenciacolaborativa.com.br

240
Sobre o Autor

Formado em administração de empresas pela UNIVEM de


Marília - SP; mestre em Administração de Empresas pela PUC de São
Paulo; especialista em Gestão Empresarial pela Universidade Santana
de São Paulo; diplomado em estudos aprofundados em Informação
Científica e Técnica pela Universidade de Marselha; MBA em Gestão
Estratégica de Marketing pela ESPM, e com curso de Gestão Estratégica
da Sustentabilidade pela Uniethos, de São Paulo.
Lecionou como professor universitário em cursos de graduação e
pós-graduação de Administração de Empresas.
Trabalha na Caixa Econômica Federal há 30 anos, onde vem
exercendo diversas funções executivas.
Coordenou vários projetos na empresa, entre os quais a participação
e obtenção da faixa prata do Prêmio Nacional de Gestão Pública –
PQGF, ciclo 2006, pela Superintendência Nacional de FGTS.
Membro do Comitê Conceitual do Programa Nacional de Gestão
Pública/Prêmio Nacional de Gestão Pública (ciclo de 2008/2009).
Tem proferido palestras sobre gestão colaborativa, inovação,
sustentabilidade e Inteligência Colaborativa.
Participa do Instituto Fusart – educação e inovação para um mundo
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254
Carbon Free

Houve a medição das emissões de


carbono geradas pela energia e materiais
utilizados na produção e na distribuição,
e dos resíduos gerados na sua edição.
A quantificação e o plantio das
árvores resultantes foram realizados pela
Organização Iniciativa Verde, sem fins
lucrativos, sediada em São Paulo – SP.
O papel utilizado é o pólen, da Suzano
Papel e Celulose, com certificação FSC
- Forest Stewardship Council pelo manejo
florestal, em respeito ao meio ambiente
e aos aspectos sociais.

Inteligência Colabora-
tiva foi composto em tipolo-
gia Berthold Baskerville, corpo
11,5 pt., impresso em papel
pólen 80g nas oficinas da
thesaurus editora de brasília.
Acabou de ser impresso em julho
de 2011.

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