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Para o presente trabalho, será analisada a obra “química oculta” (1919), de autoria de Annie
Besant e Charles Leadbeater. Besant e Leadbeater são membros da sociedade teosófica
internacional e propõem um método de análise da estrutura atômica dos elementos químicos
conhecidos à época a partir do uso da clarividência. Iniciados nas ciências ocultas, os
teosofistas se dizem capazes de adentrar na estrutura atômica dos materiais, usando a
meditação. Descrevem, na obra, as estruturas que observam, sugerindo uma síntese entre
teoria atômica, crescente no período, e a etérea. Tal modelo de explicação mantinha, em seu
núcleo, a crença, bastante presente no período, na existência de um elemento primordial que
seria a base de todos os elementos conhecidos. William Crookes postulava a existência do
prótilo, enquanto os teosofistas o chamavam de anu.
As pesquisas realizadas por Besant e Leadbeater exerceram influência à época, sendo citadas
por químicos influentes do período, como soddy. Besant e Leadbeater chegam a sugerir, a
partir de suas observações, que elementos químicos semelhantes poderiam conter estruturas
distintas, fato proposto pela química somente cerca de 4 anos mais tarde, com a descoberta
dos isótopos, amplamente investigados por soddy, que teve acesso aos trabalhos dos
teosofistas. Mais recentemente, Stephen Phillips, num artigo intitulado “extrasensory
perception of subatomic particles” (1995), rediscutiu os dados dos teosofistas, sugerindo que,
o que haviam observado não eram átomos, mas quarks e subquarks, mostrando-se
incrivelmente consistentes com os dados da mecânica quântica e da física de altas energias,
naturalmente desconhecidas no período de publicação da obra.
O presente episódio é bastante esclarecedor por dar evidências interessantes de quão ricos e
complexos podem ser os processos de negociação conceitual dentro de uma comunidade
científica em períodos de incerteza teórica. Não se trata, evidentemente, de validar as
observações sobre existência de éteres ou de fenômenos extrassensoriais como metodologias
alternativas à investigação científica, mas de mostrar que mecanismos internos e externos à
atividade científica, respectivamente, influenciam e exercem influência na reorganização do
corpus científico.