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Acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região -


Primeira Turma (Processo Nº 0000574-82.2013.5.06.0193),
12-12-2017

Data da Resolução: 12 de Dezembro de 2017

Emissor: 1º Turma

Nº processo TRT/SP: Acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região - Primeira


Turma (Processo Nº 0000574-82.2013.5.06.0193), 12-12-2017

Id. vLex VLEX-850840239

Link: https://app.vlex.com/#vid/acordao-do-tribunal-regional-850840239

Resumo

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMADO. PAGAMENTO DE AJUDA DE CUSTO. ALUGUEL.


NATUREZA SALARIAL. INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO. O salário "in natura" é toda aquela
parcela, bem ou vantagem fornecida pelo empregador como gratificação pelo trabalho
desenvolvido ou pelo cargo ocupado, como se vê da redação do art. 458 da CLT. E o que
caracteriza o salário utilidade é o benefício ou a utilidade que o empregado recebe ou, ainda, se
usufrui deste "pelo" trabalho e não "para" o trabalho. Comprovado nos autos que o valor pago
ao reclamante a título de ajuda de aluguel não era indispensável à contratação dos serviços do
autor, sendo certo que o pagamento era mensal e "pelo" trabalho, resta patente sua natureza
salarial. Recurso Ordinário patronal improvido quanto ao tema.

Texto

PROC. Nº TRT - (RO) - 0000574-82.2013.5.06.0193.


ÓRGÃO JULGADOR : PRIMEIRA TURMA.
RELATORA : DESEMBARGADORA MARIA DO SOCORRO SILVA EMERENCIANO.
RECORRENTE : CONSÓRCIO CII - CONSÓRCIO IPOJUCA INTERLIGAÇÕES.
RECORRIDO : EDNALDO DA SILVA ANDRADE.
ADVOGADOS : CIRO DE OLIVEIRA VELOSO MAFRA e ALEXANDRE JORGE MARQUES
BORGES.
PROCEDÊNCIA : 3ª VARA DO TRABALHO DE IPOJUCA/PE.

EMENTA:

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RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMADO. PAGAMENTO DE


AJUDA DE CUSTO. ALUGUEL. NATUREZA SALARIAL.
INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO. O salário "in natura" é toda aquela
parcela, bem ou vantagem fornecida pelo empregador como
gratificação pelo trabalho desenvolvido ou pelo cargo ocupado,
como se vê da redação do art. 458 da CLT. E o que caracteriza o
salário utilidade é o benefício ou a utilidade que o empregado
recebe ou, ainda, se usufrui deste "pelo" trabalho e não "para" o
trabalho. Comprovado nos autos que o valor pago ao reclamante a
título de ajuda de aluguel não era indispensável à contratação dos
serviços do autor, sendo certo que o pagamento era mensal e "pelo"
trabalho, resta patente sua natureza salarial. Recurso Ordinário
patronal improvido quanto ao tema.

RELATÓRIO:

Vistos etc.

Trata-se de Recurso Ordinário interposto por CONSÓRCIO CII -


CONSÓRCIO IPOJUCA INTERLIGAÇÕES contra a decisão proferida pelo MM. Juízo da 3ª
Vara do Trabalho de Ipojuca/PE, que julgou PROCEDENTES EM PARTE os pedidos
formulados na Reclamação Trabalhista que lhe foi proposta por EDNALDO DA SILVA
ANDRADE, ora recorrido, nos termos da fundamentação de id 2ef02b7.

Embargos Declaratórios opostos pela reclamada (id f4b95b5),


acolhidos (id 5a0c22f).

No arrazoado de id 9bc6b4d, o recorrente demonstra o seu


inconformismo com a parte da sentença que reconheceu a estabilidade acidentária do autor.
Alega que o recorrido jamais sofreu qualquer tipo de acidente de trabalho, além de não ter
informado que, após a sua demissão, manteve contrato de trabalho com outra empresa, o que
acarretou renúncia tácita do obreiro quanto à suposta estabilidade. Ressalta, também, que o
suposto período estabilitário já teria se encerrado, pois, conforme alegado na própria inicial, o
benefício previdenciário se encerrou em 16/06/2013, o que impossibilita o pleito deferido pelo
douto Magistrado de primeiro grau. Pede a reforma da sentença para que seja julgado
improcedente o pedido de estabilidade acidentária. Prossegue seu arrazoado manifestando
inconformismo com relação ao deferimento da ajuda de custo. Alega que a ajuda de custa paga
ao recorrido não integrava o seu salário e sequer ultrapassava 50% da sua remuneração,
conforme pode ser observado na documentação acostada aos autos, pelo que, conforme o
§ 2º do art. 457 da CLT, o mesmo não se integra ao salário. Requer a reforma da sentença no

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que concerne ao pagamento da ajuda de custo.No tocante ao PLR, diz que tal parcela é
indevida uma vez que o recorrido jamais sofreu qualquer acidente de trabalho, não possuindo
qualquer estabilidade. Acrescenta que, ademais, também não se há de falar no deferimento de
tal verba considerando a ausência de previsão nas CCT'S e Acordo Coletivo, já que o recorrido
não preenchia os requisitos e condições para ter o direito a esse benefício. Requer, ainda, a
reforma da sentença para que seja excluída da condenação a indenização por dano moral. Aduz
que, conforme exposto na peça de bloqueio, a despedida do empregado por justa causa não
configura ato ilícito que respalde a condenação por danos morais. Sustenta que a dispensa foi
praticada no exercício regular do direito (poder disciplinar) e motivado em preceito legal
(artigo 482 da CLT), sem qualquer ilicitude, não se há de falar em danos morais. Argumenta que
o ato da dispensa não acarretou qualquer exposição dos funcionários a situações humilhantes,
bem como o autor não possuía qualquer estabilidade. Pugna, ainda, que, sucessivamente, seja
reduzido o valor arbitrado na sentença à parcela, porquanto considera o mesmo exorbitante. No
tocante aos honorários advocatícios, alega que, ao contrário do fundamento do Juízo "a quo", o
caso presente não se amolda à previsão contida na lei n. 5.584/70, através do artigo 14 e seus
parágrafos, que disciplina a única hipótese de deferimento da verba honorária na Justiça do
Trabalho. Aduz que, não comprovada a situação de pobreza do recorrido, deverá ser reformado
o julgado para excluir do condeno o pagamento de honorários sindicais. Finalmente, insurge-se
contra a sentença no tocante aos juros de mora, alegando, para tanto, que a contagem dos juros
de mora se inicia a partir do ajuizamento da ação, não podendo se estender até a data do
pagamento do crédito ao recorrido (levantamento do alvará), até porque o demandado pode vir a
efetuar o pagamento ao autor, garantindo a execução, num momento muito anterior àquele do
efetivo recebimento do crédito. Pede provimento ao apelo.

As contrarrazões foram apresentadas (id 65424c2).

Não se fez necessária a remessa dos autos ao Ministério Público do


Trabalho, em face do disposto na Resolução Administrativa de n° 05/2005, que alterou o art. 50
do Regimento Interno deste Regional.

É o relatório.

VOTO:

DA ADMISSIBILIDADE:

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Conheço do recurso interposto por observadas as formalidades


legais, bem como das contrarrazões, que regularmente apresentadas.

DO MÉRITO:

Da estabilidade acidentária.

A reclamada manifesta inconformismo com a parte da sentença que


reconheceu a estabilidade acidentária do autor.

Alega que o recorrido jamais sofreu qualquer tipo de acidente de


trabalho, além de não ter informado que, após a sua demissão, manteve contrato de trabalho
com outra empresa, o que acarretou renúncia tácita do obreiro quanto à suposta estabilidade.

Ressalta, também, que o suposto período estabilitário já teria se


encerrado, pois, conforme alegado na própria inicial, o benefício previdenciário se encerrou em
16/06/2013, o que impossibilita o pleito deferido pelo douto Magistrado de primeiro grau.

Pede a reforma da sentença para que seja julgado improcedente o


pedido de estabilidade acidentária.

Na inicial, disse o autor que, no desempenho de suas atividades,


sofreu acidente de trabalho que lhe ocasionou grave lesão no tornozelo direito, inclusive tendo
que se submeter a procedimento cirúrgico. Acrescentou que gozou auxílio-doença acidentário
(código B-91), concedido pelo órgão previdenciário, no período de 04/05/12 a 19/06/12, sendo
dispensado imotivadamente pela ré no dia 16/08/12, não sendo respeitado o período de
estabilidade previsto na lei.

A reclamada, em sua defesa, afirmou que autor não sofreu qualquer


acidente de trabalho e que seu encaminhamento para o INSS foi com o objetivo de obter auxílio-
doença e não auxílio-doença acidentário. Acrescentou que, por outro lado, o INSS, em várias
situações, tem convertido o tipo de auxílio de forma unilateral sem ao menos verificar o nexo de
causalidade entre a doença e as atividades desempenhadas pelo beneficiário. Aduziu que,
mesmo que o autor tivesse sofrido algum acidente, não haveria que se falar em estabilidade,
considerando que o mesmo foi demitido por justa causa, modalidade que permite a dispensa de
qualquer funcionário estável. Finalmente, pontuou que o obreiro deixou de informar que, após a
sua dispensa, manteve contrato de trabalho com outra empresa, o que acarreta renúncia tácita à

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suposta estabilidade.

O Juízo "a quo", acerca do tema, assim se manifestou:

"Da análise dos autos, verifico que o reclamante, de fato, sofreu lesão em seu
tornozelo direito conforme comprova o exame de ressonância magnética acostado
aos autos de ID 272532, realizado em 22/03/2012.

Ao contrário do alegado pela empresa ré, restou demonstrado que, apesar da


negativa da ocorrência de acidente de trabalho, a própria reclamada emitiu a CAT
(comunicação de acidente de trabalho) reconhecendo a ocorrência do sinistro e
encaminhou o reclamante ao INSS. Da mencionada CAT (ID 272523) pode-se
verificar que o acidente de trabalho se deu em 18/11/2011, no estabelecimento da
empregadora tendo como parte do corpo lesionada a articulação do tornozelo do
autor.

Desta feita, não há que se falar em não ocorrência do acidente quando a própria
reclamada emitiu a CAT com todas as informações acerca do ocorrido.

Acrescente-se, ainda, que o reclamante gozou do benefício de auxílio-doença


acidentário (código 91) de 04/05/2012 até 19/06/2012.

Diante do bojo probatório produzido tem-se que o reclamante faz jus à estabilidade
do art. 118 da Lei nº 8.213/1991.

Sublinho, ainda, que o reconhecimento dessa estabilidade não afronta a


Constituição Federal, uma vez que amplia a condição social dos trabalhadores
(art. 7º, caput, da CF/88).

Nesse sentido, é o entendimento do TST expresso na Súmula 378:

SUM-378 ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ACIDENTE DO TRABALHO. ART. 118


D A LEI Nº 8.213/1991. CONSTITUCIONALIDADE. PRESSUPOSTOS (conversão
das Orientações Jurisprudenciais nºs 105 e 230 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ
20, 22 e 25.04.2005

I - É constitucional o artigo 118 da Lei nº 8.213/1991 que assegura o direito à


estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-
doença ao empregado acidentado. (ex-OJ nº 105 da SBDI-1 - inserida em
01.10.1997)

II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a


15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se
constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de
causalidade com a execução do contrato de emprego. (primeira parte - ex-OJ nº
230 da SBDI- 1 - inserida em 20.06.2001)

Como na data deste julgamento já decorreu o prazo da estabilidade provisória,


julgo procedente o pleito sucessivo de indenização compensatória, com
pagamento de todos os salários vencidos referentes ao período de afastamento,
isto é, de 16/08/2012 a 19/06/2013, com repercussões em 13ºs salários, férias
integrais e proporcionais acrescidas do terço constitucional e FGTS + multa de
40%".

Pois bem.

É certo que a estabilidade acidentária (empregado vítima de


acidente de trabalho/portador de doença profissional) é assegurada pela Lei n. 8.213/91, no seu
artigo 118, que assim prevê: "o segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo
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prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a
cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio acidente".

A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho firmou


entendimento no sentido de que constituem pressupostos para o direito à estabilidade prevista
n o art. 118 da Lei nº 8.213/1991 o afastamento do trabalho por prazo superior a 15 dias e a
consequente percepção do auxílio-doença acidentário, conforme item II da Súmula nº 378, in
verbis:

"ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ACIDENTE DO TRABALHO. ART. 118 DA


LEI Nº 8.213/1991. (inserido item III) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e
27.09.2012

I - É constitucional o artigo 118 da Lei nº 8.213/1991, que assegura o direito à


estabilidade provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-
doença ao empregado acidentado. (ex- OJ nº 105 da SBDI-1 - inserida em
01.10.1997)

II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento


superior a 15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário,
salvo se constatada, após a despedida, doença profissional que guarde
relação de causalidade com a execução do contrato de emprego. (primeira
parte - ex -OJ nº 230 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)

III - O empregado submetido a contrato de trabalho por tempo determinado goza da


garantia provisória de emprego decorrente de acidente de trabalho prevista no
art. 118 da Lei nº 8.213/91."

O acidente de trabalho constitui o infortúnio decorrente do exercício


das tarefas laborais, cuja lesão resulta na perda ou redução (permanente ou temporária), da
capacidade laborativa (artigo 19 da Lei nº 8.213/91). Já a doença do trabalho ou profissional,
assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a
determinadas atividades ou em função de condições especiais em que o trabalho é realizado, é
equiparada ao acidente de trabalho, na forma de que trata o art. 20 da Lei nº 8.213/91, e
acomete o trabalhador de forma lenta e gradual, instalando-se aos poucos.

Acerca da matéria, leciona Sebastião Geraldo de Oliveira (in,


"Indenizações por acidente do trabalho ou ocupacional", 2ª ed., São Paulo: LRT, 2006, pg. 44),
que:

"Como adverte Russomano, o acidente e a enfermidade têm conceitos próprios. A


equiparação entre eles se faz apenas no plano jurídico, com efeitos nas
reparações e nos direitos que resultam para o trabalhador nos dois casos.
Enquanto o acidente é um fato que prova lesão, a enfermidade profissional é um
estado patológico mórbido, ou seja, perturbação da saúde do trabalhador. O
acidente caracteriza-se como um fato súbito e externo ao trabalhador, ao passo
que a doença ocupacional normalmente vai se instalando insidiosamente e se
manifesta internamente, com tendência de agravamento.

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(...)

As doenças profissionais são aquelas peculiares a determinada atividade ou


profissão, também chamadas de doenças profissionais típicas, tecnopatias ou
ergopatias. O exercício de determinada profissão pode produzir ou desencadear
certas patologias, sendo que, nessa hipótese, o nexo causal da doença com a
atividade é presumido".

No caso dos autos, nenhuma dúvida sobre os males que afligem o


querelante, conforme se verifica do exame de ressonância magnética acostado aos autos (id
272532, realizado em 22/03/2012).

Por outro lado, não há dúvidas quanto ao acidente de trabalho,


tendo em vista que a própria reclamada emitiu a CAT (comunicação de acidente de trabalho) de
id 272523 - Pág. 1, reconhecendo a sua ocorrência e encaminhando o reclamante ao INSS. Da
leitura da referida CAT, verifica-se que o acidente de trabalho ocorreu em 18/11/2011, no
estabelecimento do réu, tendo ocorrido contusão do tornozelo.

Ademais, o documento de id 272522 - Pág. 1 e 2 comprova que o


demandante gozou auxílio-doença acidentário (cód. 91) até 19/06/2012, requisito legal
essencial para ter assegurado o emprego, ou seja, ser detentor de estabilidade provisória,
sendo certo a meu ver que a ausência de gozo do benefício previdenciário acidentário é
obstáculo ao reconhecimento do direito à estabilidade provisória, nos termos do art. 118 da
Lei nº 8.213/91.

"Data venia" de entendimentos outros, mas assim disposto em lei e


ao Juiz cabe aplicar os dispositivos legais a regerem a espécie posta à sua apreciação e
interpretá-los. Claro que o Magistrado deve pautar suas decisões na proteção ao trabalhador,
mas deve fazê-lo observando os limites traçados pela própria lei.

Verifico, ainda, que a justa causa imputada ao autor foi afastada por
decisão judicial proferida em processo anteriormente ajuizado pelo obreiro (id's 688016 e
ee76bb5), de modo que, sob esse prisma, também restaria reconhecida a estabilidade do
demandante.

No entanto, consta dos autos cópia da CTPS do autor, onde se


verifica que o mesmo firmou novo contrato de trabalho em 18/09/2012, dentro do período
estabilitário, o que, ao meu ver, configura-se renúncia tácita à estabilidade.

E mais. Esta Justiça deve ficar alerta, aos casos de abuso de direito
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e não compactuar com tal procedimento, evitando, assim, os casos em que a intenção do ex
trabalhador é obter poupança, daí porque demora e muito a ajuizar a ação trabalhista.

E, na hipótese vertente, verifico que o autor foi dispensado em


16/08/2012 e somente ajuizou a presente reclamação trabalhista em 15/05/2013, isto é, 9 (nove)
meses depois.

Não é demais chamar atenção para o fato de que, na realidade, ao


dispor sobre a estabilidade no emprego, o que a lei defende não é a paga de indenizações e
sim o emprego. A proteção dada destina-se justamente a assegurar o emprego, proibindo a
despedida sem motivação. Portanto, somente quando desaconselhável, e ou já transcorrido
algum tempo, é que o julgador deixa de determinar a reintegração.

Claro que não se confunde com prescrição, mas se a finalidade é


garantir o emprego, deve, pois, o empregado ajuizar de imediato a reclamatória, buscando a
reintegração, que se desaconselhável, é fato que cabe ao Juiz decidir. Claro, pois, que a lei não
se presta a tal e cabe ao magistrado ficar atento a proceder malicioso, que redunda em abuso de
direito.

Acerca do abuso de direito configurado nos autos, importante citar a


lição de Sílvio de Salvo Venosa (in: Código Civil interpretado, 2010, p.206/207), verbis:

"A compreensão inicial do abuso de direito não se situa, nem deve situar-se, em
textos de direito positivo. A noção é supralegal. Decorre da própria natureza das
coisas e da condição humana. Extrapolar os limites de um direito em prejuízo do
próximo merece reprimenda, em virtude de consistir em violação a princípios de
finalidade da lei e da equidade.

(...)

O fato é que a teoria atingiu a noção de direito subjetivo, delimitando sua atuação.
Entendeu-se que nenhum direito pode ser levado às últimas conseqüências. Nada
mais, nada menos do que a aplicação do velho brocardo summum ius, summa
iniura (justiça perfeita, justiça imperfeita).

(...)

Deve ser afastada qualquer ideia de que exista direito absoluto. No abuso de
direito, pois, sob a máscara de ato legítimo esconde-se uma ilegalidade. Trata-se
de ato jurídico aparentemente lícito, mas que, levado a efeito sem a devida
regularidade, ocasiona resultado tido como ilícito. O exercício de um direito não
pode afastar-se da finalidade para a qual esse direito foi criado.

(...)

Concluímos, portanto, que o titular de prerrogativa jurídica, de direito subjetivo, que


atua de modo que sua conduta contraria a boa-fé, a moral, os bons costumes, os
fins econômicos e sociais da norma, incorre no ato abusivo".

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O Código Civil conceitua o abuso de direito em seu artigo 187:


"Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes".

Com efeito, o ato do reclamante em somente ajuizar a reclamação


trabalhista quando já em vias de se expirar a possibilidade de ser reintegrado ao emprego
(faltando apenas 1 mês), o que fatalmente acarretaria o deferimento, tão-somente, da
indenização respectiva, já que não houve pedido de tutela antecipada, viola os princípios da
boa-fé e da segurança jurídica, não podendo ser albergado e incentivado por este Poder
Judiciário.

Destarte, data vênia do Juízo de primeiro grau, tenho que não se há


de falar em estabilidade no emprego, pelo que dou provimento ao apelo para excluir da
condenação salários vencidos referentes ao período de afastamento, isto é, de 16/08/2012 a
19/06/2013, com repercussões em 13ºs salários, férias integrais e proporcionais acrescidas do
terço constitucional e FGTS + multa de 40%.

Da ajuda de custo.

Prossegue seu arrazoado manifestando inconformismo com relação


ao deferimento da ajuda de custo. Alega que a ajuda de custa paga ao recorrido não integrava o
seu salário e sequer ultrapassava 50% da sua remuneração, conforme pode ser observado na
documentação acostada aos autos, pelo que, conforme o § 2º do art. 457 da CLT, o mesmo não
se integra ao salário.

Requer a reforma da sentença para que seja excluída tal parcela da


condenação.

Na inicial, o autor afirmou que, durante o contrato de trabalho, a


empresa pagava habitualmente uma ajuda de custo no valor mensal de R$ 600,00 (seiscentos
reais), a qual visava ao pagamento do aluguel do imóvel do autor, situado na Rua da Aucácia,
nº 50, Ponte dos Carvalhos, Cabo de Santo Agostinho/PE.

A reclamada, em sua contestação, aduziu que tal benefício,


concedido a partir de novembro de 2011, não integrava o salário do autor, tanto pelo termos das
CCT's constantes dos autos, como pelo teor do § 2º do art. 457 da CLT, já que sequer
ultrapassava 50% da remuneração do obreiro.
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O Juízo "a quo" deferiu tal parcela sob os seguintes fundamentos:

"Ao analisar os contracheques do autor acostados aos autos verifico que o mesmo
recebia mensalmente a quantia fixa de R$ 600,00 (seiscentos reais) a titulo de
ajuda de custo.

O §§1º e 2º do art. 457 da CLT estabelecem que:

§ 1º - Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as


comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos
pagos pelo empregador.

§ 2º - Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim como as diárias para
viagem que não excedam de 50% (cinqüenta por cento) do salário percebido pelo
empregado.

Como afirmado na exordial, não importa a denominação conferida à parcela,


devendo ser analisada sua essência e disciplina legal e/ou normativa.

Na hipótese, é incontroverso que o pagamento se destinava à moradia do


trabalhador.

O reclamante tem endereço no Cabo de Santo Agostinho, ou seja, não era


trabalhador de local distante que veio a Ipojuca a fim de laborar para o réu, ou seja,
o fornecimento de moradia pelo empregador não era condição para a execução do
trabalho.

A lei igualmente não exclui a habitação como salário, ao revés, o art. 458 da CLT a
inclui como prestação in natura.

E embora a contestação invoque o disposto em CCT para afirmar o caráter


indenizatório da verba, as disposições coletivas trazidas aos autos não fazem tal
estipulação.

Por fim, o argumento do réu fundado no patamar de 50% do salário do autor não
tem aplicação ao caso em tela, porquanto se refere apenas ao pagamento de
diárias, quando a hipótese vertente é de suposta ajuda de custo.

Logo, tratando-se de verba paga com habitualidade e não comprovado pela


empresa que seu objetivo era custear ou possibilitar a prestação de serviços,
reconheço a natureza de plus retributivo do trabalho e julgo procedente o pedido de
item 7.7 da petição inicial, a apurar em liquidação".

Pois bem.

O salário "in natura" ou também conhecido salário utilidade, é


normalmente conceituado como sendo toda parcela, bem ou vantagem fornecida pelo
empregador como gratificação pelo trabalho desenvolvido ou pelo cargo ocupado. A
Consolidação das Leis do Trabalho, em seu art. 458, estatui que, além do pagamento em
dinheiro, compreende o salário, para todos os efeitos legais, quaisquer prestação "in natura" que
a empresa, por força do contrato ou por costume, fornecer habitualmente ao empregado.

Nesse contexto, o que caracteriza o salário utilidade é o benefício


ou a utilidade que o empregado recebe ou se usufrui deste "pelo" trabalho e não "para" o

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trabalho. Além do mais, o seu fornecimento exige uma gratuidade: Se a utilidade não fosse
gratuita, o empregado teria que comprá-la, ou despender de numerário para adquiri-la,
demonstrando que há uma vantagem econômica.

Assim, no caso em análise, é incontroverso que a empresa pagava


ao autor, mensalmente, o valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) a título de ajuda de custo de
aluguel. Por outro lado, indiscutível que tal valor não se mostrava indispensável à consecução
dos serviços contratados, uma vez que, como bem registrado na sentença, "o reclamante tem
endereço no Cabo de Santo Agostinho, ou seja, não era trabalhador de local distante que veio a
Ipojuca a fim de laborar para o réu, ou seja, o fornecimento de moradia pelo empregador não era
condição para a execução do trabalho", de modo que se afigura patente sua natureza salarial,
como corretamente entendeu o julgador de primeiro grau.

No mesmo sentido é o entendimento do disposto no item I da


Súmula n.º 367 do C. TST, in verbis:

"UTILIDADES "IN NATURA". HABITAÇÃO. ENERGIA ELÉTRICA. VEÍCULO.


CIGARRO. NÃO INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO (conversão das Orientações
Jurisprudenciais nºs 24, 131 e 246 da SBDI-I) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e
25.04.2005

I - A habitação, a energia elétrica e veículo fornecidos pelo empregador ao


empregado, quando indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza
salarial, ainda que, no caso de veículo, seja ele utilizado pelo empregado também
em atividades particulares. (ex-Ojs da SBDI-I nºs 131 - inserida em 20.04.1998 e
ratificada pelo Tribunal Pleno em 07.12.2000 - e 246 - inserida em 20.06.2001)

(...)".

Pontuo, ainda, que as normas coletivas colacionadas aos autos não


prevêem a natureza indenizatória de tal parcela, como afirma o recorrente.

Finalmente, imperioso registrar que esta E. Turma já seguiu nesta


mesma linha de raciocínio quando do julgamento do RO N. 0001224-49.2015.5.06.0391, no
qual figurei como Relatora, ocorrido em 16/02/2017, bem como do RO N. 0000377-
62.2015.5.06.0192, cuja Relatora foi a Exma. Juíza Convocada Ana Maria Soares Ribeiro de
Barros, ocorrido em 26/01/2017.

Destarte, nego provimento ao recurso, neste aspecto.

Do PLR.

Diz o recorrente que a parcela em epígrafe é indevida, uma vez que


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o recorrido jamais sofreu qualquer acidente de trabalho, não possuindo qualquer estabilidade.

Acrescenta que, ademais, também não se há de falar no


deferimento de tal verba considerando a ausência de previsão nas CCT'S e Acordo Coletivo, já
que o recorrido não preenchia os requisitos e condições para ter o direito a esse benefício.

Pugna pela reforma da sentença para que seja a referida ajuda de


custo seja excluída da condenação.

Na peça intróita, o autor afirmou que não recebeu qualquer valor a


título de PLR - Participação nos Lucros e Resultados, depois da sua demissão, sendo tal
parcela devida no período de sua estabilidade, que de julho/12 até junho/13. Acrescentou que o
pagamento dessa parcela corresponde a cada mês trabalhado em face do ano correspondente,
pagamento este previsto na Cláusula 20ª da CCT 2011/2012, celebrada entre o Sindicato
patronal e o SINTEPAV-PE.

A reclamada, em sua defesa, disse que o autor não faz jus a tal
benefício, seja porque não sofreu qualquer acidente e, portanto, não tem direito à alegada
estabilidade, seja porque o mesmo foi demitido por justa causa, de modo que possível a
dispensa de obreiro mesmo estável e, ainda, em razão da ausência de previsão nas CCT'S e
Acordo Coletivo em anexo, já que o autor não preenche os requisitos e condições necessários
ao recebimento dessa verba.

A sentença deferiu o pedido sob os fundamentos seguintes:

"O reclamante requer o pagamento da PLR referente ao período de julho de 2012 a


junho de 2013, período esse o qual encontrava-se em gozo de estabilidade
acidentaria.

A Constituição Federal estabelece que é direito dos trabalhadores a participação


nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração (art. 7º, inciso XI, da
Constituição Federal), a fim de integrar o capital e o trabalho, bem como incentivar
à produtividade.

A matéria foi regulamentada pela Lei nº 10.101/2000. De acordo com o seu art. 2º,
a sua concessão está condicionada à negociação entre a empresa e seus
empregados, mediante convenção ou acordo coletivo ou instituição de comissão
escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo
sindicato da respectiva categoria.

Tratando-se de norma convencional, cabe à parte que alegar o direito provar-lhe o


teor e a vigência (art. 769 da CLT c/c o art. 337 do CPC).

Da análise dos autos verifico que o reclamante acostou aos autos a CCT e o
Acordo coletivo que regulamentam a PLR. Observo, ainda, que o reclamante
deixou de receber tais títulos visto que se encontrava afastado da reclamada em
virtude de sua demissão. Contudo, como já foi decidido supra, o reclamante,
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virtude de sua demissão. Contudo, como já foi decidido supra, o reclamante,
apesar de ter sido demitido pela reclamada, faz jus a estabilidade provisória, razão
pela qual é devido o pagamento da PLR durante o período estabilitário.

Nessa esteira, julgo procedente o pedido para condenar a reclamada ao pagamento


da PLR no período de julho/2012 a junho/2013".

Como visto quando da análise do tópico anterior, restou afastada a


estabilidade no emprego, de modo que reputada correta a dispensa do autor efetivada em
16/08/2012 e, tendo em vista que o pleito em referência foi postulado com fundamento na
estabilidade a que teria direito o reclamante, por certo que não faz jus à PLR vindicada.

Destarte, dou provimento ao recurso, no particular, para excluir da


condenação o referido título.

Da indenização por danos morais.

A reclamada requer, ainda, a reforma da sentença para que seja


excluída da condenação a indenização por dano moral.

Aduz que, conforme exposto na peça de bloqueio, a despedida do


empregado por justa causa não configura ato ilícito que respalde a condenação por danos
morais.

Sustenta que a dispensa foi praticada no exercício regular do direito


(poder disciplinar) e motivado em preceito legal (artigo 482 da CLT), sem qualquer ilicitude, não
se há de falar em danos morais.

Argumenta que o ato da dispensa não acarretou qualquer


exposição dos funcionários a situações humilhantes, bem como o autor não possuía qualquer
estabilidade.

A indenização em comento foi deferida pelo Juízo "a quo" nos


seguintes termos:

"No caso dos autos, restou comprovado, mediante a juntada da sentença


transitada em julgado do processo, que houve a reversão da demissão do autor por
justa causa. Sendo assim, com base na decisão supra citada, entendo que houve
a pratica de ato ilícito por parte da reclamada ao demitir por justa causa o
reclamante de forma injusta e discriminatória. A reclamada imputou ao mesmo a
prática de ato de indisciplina e insubordinação no movimento grevista sendo que
as provas produzidas nos referidos autos não foram capazes de demonstrar a justa
causa aplicada.

(...)

26 Nov 2020 18:00:54 13/20


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Com essas considerações, com esteio no art. 5°, incisos V e X, da Carta Magna,
e art. 186 do Código Civil, e levando em conta a natureza do dano, suas
circunstâncias e as condições econômicas do ofensor e do ofendido, e tendo em
vista o efeito pedagógico da reparação, acolho o pedido para condenar o reclamado
ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), quantia que reputo adequada à reparação do dano praticado".

Por certo que a honra e a imagem de qualquer pessoa é inviolável


(art. 5º, XI, da CF/88). Esse dispositivo constitucional assume grande relevância no contrato de
trabalho, pois o empregador responde pelos prejuízos/danos que causar ao trabalhador, quando
no exercício do seu poder diretivo, exorbitar os seus limites, incorrer no abuso de direito e
praticar atos ofensivos à dignidade e à honra do seu empregado.

Fixados os limites da litiscontestatio, tem-se que, de acordo com o


art. 927 do CC, todo aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Os arts. 186 e 187 do CC definem o que seriam os atos ilícitos a ensejar a reparação pelo
ofensor: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito" - "Também comete
ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes".

Segundo Caio Mário da Silva Pereira, o dano moral constitui-se:


"ofensa a direitos de natureza extrapatrimonial - ofensas aos direitos integrantes da
personalidade do indivíduo, como também ofensa à honra, ao decoro, à paz interior de cada um,
às crenças íntimas, aos sentimentos afetivos de qualquer espécie, à liberdade, à vida, à
integridade".

No entender de Cláudio Armando C. de Menezes (in Direito


Processual do Trabalho, Editora Ltr., 1ª Edição), o dano moral "é o resultante de ato ilícito que
atinja o patrimônio da pessoa ferindo sua honra, decoro, crenças políticas e religiosas, paz
interior, bom nome e liberdade, originando sofrimento psíquico, físico ou moral propriamente
dito".

Para a configuração do dano moral, não basta saber se existiu a


lesão, exige-se também que se avalie a possível irregularidade da conduta do empregador, se
este contribuiu por ação ou omissão para a ocorrência da lesão. Além do mais, faz-se
necessário valorar, na esfera da vida profissional do empregado, a possível extensão da lesão
para os aspectos subjetivos que orientam a configuração desse dano.

26 Nov 2020 18:00:54 14/20


User-generated version Jean Ramos

Havendo comprovação do dano, a condenação do responsável é


medida que se impõe consoante o contido no inciso X e § 1º do art. 5º da CF/88; preceito de
aplicação imediata prescindindo de regulamentação.

Necessário se faz fique demonstrado, de forma inconteste, que de


tal situação decorrem prejuízos e que estes sem sombra de dúvidas possam ser creditados ao
patrão.

No caso dos autos, a indenização foi postulada em razão da justa


causa aplicada ao autor. Disse o obreiro, na inicial, que "a despedida com fundamento na
participação em greve pune o exercício regular de um direito fundamental do trabalhador, o que
não pode ser admitido, justificando-se a responsabilização do empregador pelos danos morais
decorrentes. Evidente o prejuízo do patrimônio pessoal de quem é vítima de demissão injusta,
pois esta implica constrangimento e humilhação no âmbito do convívio social, bem como
desmoralização junto ao ambiente de trabalho, considerando que, no caso, outros funcionários
também participaram do movimento grevista e não foram demitidos".

Do autor era o encargo de demonstrar o prejuízo alardeado, o dano


à sua imagem, encargo do qual não se desincumbiu de forma devida.

Isso porque, há previsão legal para despedimento por justa causa e


o exercício desse direito, por si só, ainda que venha a ser afastada a falta rescisiva, não é
suficiente para gerar dano. A meu ver, mesmo a justa causa não provada em Juízo não acarreta
dano moral, desde que o empregador não ultrapasse os limites do seu direito potestativo.

No caso dos autos, a justa causa, de fato, foi afastada por decisão
judicial proferida em processo anteriormente ajuizado pelo obreiro (id's 688016 e ee76bb5), no
entanto, não há prova de que houve extrapolamento dos limites, pela reclamada, no
procedimento de dispensa, de modo a acarretar dano à imagem do trabalhador.

Com efeito, é direito do empregador apurar as atitudes estranhas e


irregulares ocorridas no seu estabelecimento e dispensar o autor por justa causa, se for o caso,
ainda que, futuramente, venha tal dispensa ser revertida em Juízo, somente sendo cabível o
deferimento da indenização postulada, como já dito, acaso comprovada a conduta empresarial
excessiva, o que sequer foi alegado na presente hipótese.

Nesse sentido, cito as seguintes ementas:


26 Nov 2020 18:00:54 15/20
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"DISPENSA POR JUSTA CAUSA - IMPROBIDADE - REVERSÃO EM JUÍZO -


DANO MORAL - NÃO CONFIGURAÇÃO - A dispensa por justa causa, por si só,
não tem o condão de gerar o direito à indenização por dano moral, por tratar-
se de direito potestativo do empregador, legalmente assegurado. Não há
dúvidas de que as conseqüências de uma justa causa, mormente a de
improbidade, aplicada sem prova robusta pode ensejar graves prejuízos ao
empregado, entretanto, para configurar a ofensa moral há necessidade de
propagação pelo empregador do ato supostamente praticado pelo
empregado. Somente a prova de que o empregador difundiu a notícia de que
o empregado teria agido de forma ímproba permitiria a presunção do dano
causado a sua honra. Não havendo prova de abuso por parte do empregador
na dispensa por justa causa, é indevida a indenização por dano moral." (TRT
24ª R. - RO 615/2005-005-24-00-0 - Rel. Juiz Ricardo Geraldo Monteiro Zandona -
DOMS 31.08.2006).Grifei.

""RECURSO ORDINÁRIO. JUSTA CAUSA NÃO RECONHECIDA


JUDICIALMENTE. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, COMO
CONSECTÁRIO LÓGICO. NÃO CABIMENTO. Não configura ilicitude, nem, via
de regra, abuso de direito, a dispensa de empregado com base em uma das
hipóteses previstas no art. 482, da CLT, que o empregador entende aplicável
à espécie. Trata-se de exercitar um direito potestativo, que, em conseqüência,
não rende ensejo, por si, à indenização por danos morais, ainda se, em
Juízo, a alegada justa causa não vier a ser reconhecida. In casu, não houve
qualquer excesso na conduta do empregador que tão somente procedeu à
apuração dos fatos (furto), comunicando o ocorrido à autoridade policial que
procedeu ao competente inquérito e, diante da conclusão desta, tomou as
providências formais ao desligamento. Sobreleva consignar que era ônus da
reclamante a prova da conduta lesiva do réu, notadamente a demonstração de atos
que denotassem intenção de manchar a sua imagem, a par do norte imposto pelos
artigos 818, da CLT e 333, I, do CPC, subsidiário. Ônus processual não satisfeito.
Desse modo, inexistindo prova da conduta lesiva do empregador, pressuposto
exigido pelo artigo 186, 187 e 927, do C.C. de 2002, acolhe-se o recurso, sob esse
enfoque, para determinar a exclusão do condeno da indenização por danos morais.
RO 0001642-54.2010.5.06.0102. Órgão Julgador: 3ª Turma, Relator:
Desembargador Valdir Carvalho. Julgado em 06 de fevereiro de 2012". Grifei.

Destarte, data vênia do entendimento esposado na r. sentença, dou


provimento ao recurso patronal, no particular, para excluir da condenação a indenização por
danos morais postulada, restando prejudicada a análise do pedido sucessivo formulado pelo
recorrente.

Dos honorários advocatícios.

No tocante aos honorários advocatícios, alega que, ao contrário do


fundamento do Juízo "a quo", o caso presente não se amolda à previsão contida na
lei n. 5.584/70, através do artigo 14 e seus parágrafos, que disciplina a única hipótese de
deferimento da verba honorária na Justiça do Trabalho.

Aduz que, não comprovada a situação de pobreza do recorrido,


deverá ser reformado o julgado para excluir do condeno o pagamento de honorários sindicais.

26 Nov 2020 18:00:54 16/20


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Compulsando os autos, verifico que, não obstante a declaração de


pobreza de id 272494 não esteja assinada pelo autor, consta declaração do autor, na exordial,
pelo seu patrono, de que não possui condições de demandar em Juízo, sem prejuízo do próprio
sustento ou o de sua família, requerendo os benefícios da justiça gratuita (id 272472 - Pág. 2), o
que foi deferido na sentença (id 2ef02b7 - Pág. 2).

No entanto, não há nos autos qualquer prova de que o advogado


subscritor da petição inicial integre o quadro de Assistência Jurídica do SINTEPAV - PE, uma
vez que a procuração de id ID. 272484 - Pág. 1 outorgada pela referida entidade sindical se
refere a advogado diverso.

Assim, entendo que não restam atendidos os requisitos


preconizados na Súmula nº. 219, I, e V do C. TST, in verbis:

"HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO (alterada a redação do item I e


acrescidos os itens IV a VI na sessão do Tribunal Pleno realizada em
15.03.2016) - Res. 204/2016, DEJT divulgado em 17, 18 e 21.03.2016)

I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários


advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte,
concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria profissional; b)
comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-
se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio
sustento ou da respectiva família. (art.14,§1º, da Lei nº 5.584/1970). (ex-OJ nº 305
da SBDI-I).

II - É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação


rescisória no processo trabalhista.

III - São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical
figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de
emprego.

IV - Na ação rescisória e nas lides que não derivem de relação de emprego, a


responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios da sucumbência
submete-se à disciplina do Código de Processo Civil (arts. 85, 86, 87 e 90).

V - Em caso de assistência judiciária sindical, revogado o art. 11 da Lei nº 1060/50


(CPC de 2015, art. 1072, inc. III), os honorários advocatícios assistenciais são
devidos entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo,
sobre o valor atualizado da causa (CPC de 2015, art. 85, § 2º).

VI - Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, aplicar-se-ão os percentuais


específicos de honorários advocatícios contemplados no Código de Processo Civil.

Assim, dou provimento ao recurso, no particular, para excluir da


condenação os honorários sindicais deferidos em primeira instância.

Dos juros de mora.

26 Nov 2020 18:00:54 17/20


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Finalmente, insurge-se contra a sentença no tocante aos juros de


mora, alegando, para tanto, que a contagem dos juros de mora se inicia a partir do ajuizamento
da ação, não podendo se estender até a data do pagamento do crédito ao recorrido
(levantamento do alvará), até porque o demandado pode vir a efetuar o pagamento ao autor,
garantindo a execução, num momento muito anterior àquele do efetivo recebimento do crédito.

Inicialmente, destaco que, não obstante a presente matéria seja


afeta à execução, a sentença revisanda dela cogitou, quando determinou a observância ao
estabelecido na Súmula 4 deste E. 6º TRT (fl 2ef02b7 - Pág. 8), de modo que enfrento o tema
nesta oportunidade.

No que tange à insurgência empresarial relativamente aos juros de


mora, que em razão do atraso na quitação da dívida, são devidos à razão de 1% a/m, consoante
disposto no artigo 883 da CLT e artigo 39, parágrafo 1º, da Lei 8.177/91, e devem ser aplicados
até a data do efetivo depósito.

Neste sentido, transcrevo posicionamento do Exmo. Juiz


Convocado Dr. Bartolomeu Alves Bezerra, nos autos do AP 00170-2002-013-06-00-8:

"JUROS DE MORA - APURAÇÃO ATÉ O DEPÓSITO DO VALOR INTEGRAL DA


EXECUÇÃO: Sem embargo do profundo respeito devido a quem defende o
contrário, a partir da data de realização do depósito do valor da execução, até o dia
do efetivo pagamento, o devedor fica eximido de pagar juros de mora sobre o valor
depositado. Para decidir diferente, é preciso negar vigência à literal disposição do
artigo 889 da Consolidação das Leis do Trabalho, c/c, artigo 9º, IV, da
Lei nº 6.830/80, de forma a vulnerar, por via oblíqua, o princípio da reserva legal
insculpido no artigo 5º, II, da Constituição Federal; e, o que é pior, violar, aqui sim,
de forma frontal e direta, o inciso LIV do art. 5º da Carta: 'ninguém será privado de
sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal'. Agravo de petição
provido nesse aspecto".

Embora entenda que os juros moratórios na Justiça do Trabalho são


devidos, do ajuizamento da ação até a garantia real da execução, independente da data em que
estejam disponíveis ao autor, curvo-me à maioria desta E. Turma que entende pela
aplicabilidade dos termos da Súmula nº 04 deste E. Tribunal do Trabalho da Sexta Região.

Desse modo, nego provimento ao recurso neste aspecto.

DA CONCLUSÃO:

Diante do exposto, conheço do Recurso Ordinário e das contrações


e, no mérito, dou provimento parcial ao apelo para excluir da condenação salários vencidos

26 Nov 2020 18:00:54 18/20


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referentes ao período de afastamento, isto é, de 16/08/2012 a 19/06/2013, com repercussões em


13ºs salários, férias integrais e proporcionais acrescidas do terço constitucional e FGTS com
multa de 40%, bem como a PLR referente a tal período e, ainda, a indenização por danos morais
e os honorários sindicais. Ao decréscimo, arbitro o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), a teor da
IN 03/93 do C. TST.

ACÓRDÃO:

ACORDAM os Desembargadores da 1ª Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da Sexta Região, por unanimidade, CONHECER do Recurso Ordinário e
das contrações e, no mérito, por maioria, DAR PROVIMENTO PARCIAL ao apelo para excluir
da condenação salários vencidos referentes ao período de afastamento, isto é, de 16/08/2012 a
19/06/2013, com repercussões em 13ºs salários, férias integrais e proporcionais acrescidas do
terço constitucional e FGTS com multa de 40%, bem como a PLR referente a tal período e,
ainda, a indenização por danos morais e os honorários sindicais, vencida, em parte, a Exma.
Desembargadora Valéria Gondim Sampaio (que mantinha a condenação no tocante à
indenização por danos morais e na participação dos lucros e resultados). Ao decréscimo,
arbitra-se o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), a teor da IN 03/93 do C. TST.

Recife (PE), 12 de dezembro 2017.


MARIA DO SOCORRO SILVA EMERENCIANO
Desembargadora Relatora

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

Certifico que, em sessão ordinária hoje realizada, cuja pauta foi


publicada no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho - DEJT de 05.12.2017, sob a presidência
da Exma. Sra. Desembargadora MARIA DO SOCORRO SILVA EMERENCIANO (Relatora),
com a presença do Ministério Público do Trabalho da 6ª Região, representado pelo Exmo. Sr.
Procurador Waldir Bitu e dos Exmos. Srs. Desembargadores Valéria Gondim Sampaio e
Eduardo Pugliesi, resolveu a 1ª Turma do Tribunal, por unanimidade, CONHECER do
Recurso Ordinário e das contrações e, no mérito, por maioria, DAR PROVIMENTO PARCIAL
ao apelo para excluir da condenação salários vencidos referentes ao período de afastamento,
isto é, de 16/08/2012 a 19/06/2013, com repercussões em 13ºs salários, férias integrais e
proporcionais acrescidas do terço constitucional e FGTS com multa de 40%, bem como a PLR
referente a tal período e, ainda, a indenização por danos morais e os honorários sindicais,
vencida, em parte, a Exma. Desembargadora Valéria Gondim Sampaio (que mantinha a

26 Nov 2020 18:00:54 19/20


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condenação no tocante à indenização por danos morais e na participação dos lucros e


resultados). Ao decréscimo, arbitra-se o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), a teor da IN 03/93
do C. TST.

Certifico e dou fé.


Sala de Sessões, 12 de dezembro 2017.
Vera Neuma de Moraes Leite
Secretária da 1ª Turma

26 Nov 2020 18:00:54 20/20

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