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DIREITO ADMINISTRATIVO

CURSO PREPARATÓRIO EXITUS

Aula 07
ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS

Sumário
PROCESSO DISCIPLINAR .............................................................................................................................................. 1
DEVER DE APURAÇÃO PELA AUTORIDADE COMPETENTE ................................................................................. 2
SINDICÂNCIA .................................................................................................................................................................. 3
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR SOB O RITO SUMÁRIO ................................................................. 6

PROCESSO DISCIPLINAR

• É o meio pelo qual a Administração Pública busca apurar a ocorrência de irregularidades para a
aplicação de penalidades, após o regular desenvolvimento do referido processo, na exata
medida que a Administração Pública possui prerrogativas para a busca da realização do
interesse público, sendo que dentre essas prerrogativas pode-se visualizar o poder disciplinar.

• Segundo a Controladoria Geral da União: “o processo disciplinar lato sensu é o instrumento


de que dispõe a Administração para apurar a responsabilidade do servidor por infração
praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo
que ocupa”1.

• Finalidade: o processo disciplinar tem como finalidade e escopo apurar possíveis práticas de
infrações disciplinares praticadas por servidores públicos no âmbito dos seus respectivos cargos
públicos.

• Penalidades: só podem ser aplicadas se precedidas de regular processo disciplinar, no a qual


deve ser assegurado o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório aquele servidor

1
Controladoria Geral da União. Manual de Processo Administrativo Disciplinar. Brasília: 2016. p.20. Disponível em
<http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/atividade-disciplinar/arquivos/manual-pad.pdf> Acessado em 13 de out. 2017.
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que responde o procedimento (art. 5º, incisos LIV e LV da Constituição da República


Federativa do Brasil).

DEVER DE APURAÇÃO PELA AUTORIDADE COMPETENTE

• O administrador público tem não só o poder conferido pela administração, mas, também, o
dever de agir a fim de se buscar o interesse de toda a coletividade, na exata medida que o
agente público não é o dono desse poder, o qual, por sua vez, pertence e deve expressar os
interesses da sociedade.

• Socorrendo-se, novamente, das lições de José dos Santos Carvalho Filho:

Quando um poder jurídico é conferido a alguém, pode ele ser exercitado ou


não, já que se trata de mera faculdade de agir. Essa a regra geral. Seu
funcionamento está na circunstância de que o exercício ou não do poder
acarreta reflexos na esfera jurídica do próprio titular. O mesmo não se passa
no âmbito do direito público. Os poderes administrativos são outorgados aos
agentes do Poder Público para lhes permitir atuação voltada aos interesses
da coletividade. Sendo assim, deles emanam duas ordens de consequência:
1ª) são eles irrenunciáveis; e 2ª) devem ser obrigatoriamente exercidos
pelos titulares [...] as prerrogativas públicas, ao mesmo tempo que
constituem poderes para o administrador público, impõem-lhe o seu
exercício e lhe vedam a inércia, porque o reflexo desta atinge, em última
instância a coletividade2.

• O Administrador Público não poderá ser furtar de exercer o poder que lhe é conferido pela lei,
sendo que justamente por isso, a Lei n. 8.112/90, prevê em seu artigo 143, o seguinte:
“Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a
promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo
disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.”.

2
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24a ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2011.
p. 42.
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• Obrigatoriedade de instauração do processo disciplinar: sempre deve ser instaurado quando


a autoridade competente tiver ciência da prática de alguma infração disciplinar praticada por
servidor público.

• Denúncias: o artigo 144 da Lei n. 8.112/90 dispõe o seguinte a respeito de denúncias sobre
irregularidades:

Art. 144. As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apuração, desde


que contenham a identificação e o endereço do denunciante e sejam
formuladas por escrito, confirmada a autenticidade.
Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar evidente infração
disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada, por falta de objeto.

o Posicionamento do STJ e do STF a respeito das denúncias: O Supremo Tribunal


Federal (RE 29.198/DF3) e o Superior Tribunal de Justiça (RMS 44298/DF4) possuem
entendimento que a denúncia anônima pode dar ensejo a instauração de processo
administrativo, desde que haja uma apuração prévia por parte da Administração Pública.

o Assim sendo, pode-se concluir que a autoridade competente, mesmo recebendo


denúncia anônima deve, preliminarmente, em decorrência do poder-dever de autotutela
da Administração Pública instaurar procedimento preliminar de apuração (sindicância) e
havendo indício de conduta transgressora deverá determina a instauração de processo
disciplinar.

SINDICÂNCIA

• Segundo Celso Antonio Bandeira de Mello, a sindicância:

É o procedimento investigativo, com prazo de conclusão não excedente de 30 dias


(prorrogáveis pela autoridade superior por igual período), ao cabo do qual, se a
conclusão não for pelo arquivamento do processo ou pela aplicação de penalidade de
advertência ou suspensão até 30 dias, assegurada ampla defesa, será instaurado
processo disciplinar, o qual é obrigatório sempre que o ilícito praticado ensejar
3
Brasil. Supremo Tribunal Federal. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança 29.198. Ministro Relatora: Carmem
Lúcia. Segunda Turma. Diário de Justiça: 28 nov. 2012
4
Brasil. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança – RMS 44298/PR. Ministro
Relator: Mauro Campbell Marques. Segunda Turma. Diário de Justiça Eletrônico: 24 nov. 2014.
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sanção mais grave (art. 145 e 146). Se ao cabo da sindicância, seu relatório concluir
que a infração configura ilícito penal, além de ser instaurado processo administrativo
disciplinar, a autoridade competente remeterá cópia dos autos ao Ministério Público
(artigo 154, parágrafo único)5.

• A Lei n. 8.112/90, prevê a instauração da sindicância para apurar faltas disciplinares de


natureza menos gravosa, ou seja, faltas cometidas por servidores públicos de menor potencial
ofensivo.

• A disposição legal, no Estatuto dos Servidores Públicos Federais, está posta no artigo 145, o
qual discorre o seguinte:

Art. 145. Da sindicância poderá resultar:


I - arquivamento do processo;
II - aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30
(trinta) dias;
III - instauração de processo disciplinar.

• Ausência de Provas: se não forem encontradas provas do cometimento de ilícitos


administrativos a sindicância será arquivada.

• Comprovação de ilícito cometido por servidor público: após ser concedido, ao servidor
público, pleno direito de defesa, por meio desse procedimento disciplinar (sindicância) poderá
ser apenado com advertência e com suspensão de até 30 (trinta) dias.

• Espécies de Sindicância de acordo com a Jurisprudência: (i) preparatória (investigativa),


quando colher provas e servir de base para futuro processo administrativo disciplinar e; (ii)
acusatória (contraditória), a qual poderá acarretar em aplicação de penalidade ao servidor
público de até 30 (trinta) dias de suspensão, assegurando-lhe, é claro, o exercício da ampla
defesa e ao contraditório.

• Fases da Sindicância: No que diz respeito às fases da sindicância acusatória é importante


ressaltar, que a Lei 8.112/90 não discorre explicitamente quais seriam essas fase. Assim, o

5
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo, 15.ª ed., São Paulo, Malheiros, 2002, p.
296.
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entendimento dos estudiosos a respeito do tema é que, no que lhe couber, a sindicância
acusatória seguirá as mesmas fases do processo administrativo disciplinar.

o Posicionamento da CGU quanto as fases da sindicância acusatória:

A doutrina e a jurisprudência resolveram o problema não solucionado pela Lei nº


8.112/90, ao dividirem a sindicância em duas: investigativa e contraditória. Tratar-
se-á apenas das fases da sindicância acusatória, pois a investigativa, por não
possuir caráter punitivo, nem observar os princípios basilares do contraditório e da
ampla defesa, não tem rito próprio definido. O processo de sindicância acusatória
se inicia com a publicação da portaria de instauração pela autoridade responsável.
Na portaria devem constar os nomes dos sindicantes, o prazo para conclusão dos
trabalhos e o número do processo que contém os fatos a serem apurados. Deve-se
abster de indicar expressamente quais são os fatos sob apuração, bem como o nome
dos investigados, a fim de se evitar limitação inadequada ao escopo apuratório e
garantir o respeito à imagem dos acusados. Após, inicia-se a fase instrutória do
processo, sendo conduzida pela comissão, a qual deverá de imediato notificar o
sindicado, em obediência aos princípios do contraditório e da ampla defesa [...]
Em seguida, a comissão deverá buscar provas (materiais ou testemunhais) para a
elucidação dos fatos, tendo em vista o princípio da verdade material e em respeito
ao art. 155 da Lei nº 8.112/90, segundo o qual, na fase do inquérito, a comissão
promoverá a tomada de depoimentos, acareações, investigações e diligências
cabíveis, objetivando a coleta de provas, recorrendo quando necessário, a técnicos
e peritos, de modo a permitir a completa elucidação dos fatos. Atente-se para o fato
de que as comissões deverão registrar suas deliberações em ata, assim como
realizar as comunicações processuais observando as mesmas exigências dispostas
no processo disciplinar. A fase instrutória se encerra com a entrega do termo de
indiciação ao sindicado ou com o relatório final da comissão sugerindo o
arquivamento do feito. No primeiro caso, se o processo tiver apenas um indiciado,
o prazo será de dez dias para apresentação de defesa escrita. Sendo dois ou mais
indiciados, o prazo será comum de 20 dias. Essa etapa foi tratada pela Lei nº
8.112/90 nos arts. 165 e 166. Assim, após a apresentação da defesa escrita, inicia-
se nova fase, com a elaboração do relatório final, o qual deverá ser minucioso,
conter as peças principais dos autos e mencionar as provas nas quais a comissão se
baseou para formar sua convicção. [...] A última etapa, de acordo com o art. 167 da
citada lei, é a do julgamento do processo, na qual a autoridade terá o prazo de 20
(vinte) dias, contado do recebimento dos autos, para proferir decisão final sobre o
feito. Para exarar essa decisão, a autoridade levará em conta todos os elementos
contidos no processo, o enquadramento dos fatos, a tipificação do ilícito, as provas
testemunhais e documentais, entre outras, a defesa e o relatório. [...]
É importante destacar que o julgamento da sindicância proferido pela autoridade
competente poderá sofrer revisão, conforme consta no art. 182 da Lei nº 8.112/90.
Ademais, dessa revisão não poderá resultar agravamento da pena, segundo dispõe o
parágrafo único do citado artigo (princípio da ne reformatio in pejus).6

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• Número de Integrantes da Comissão Sindicante: no que tange ao número de integrantes da


comissão sindicante, em decorrência do silêncio da Lei n. 8.112/90, a questão tornou-se
controvertida, e muito se discute se a comissão deveria ser composta por 03 (três) servidores
estáveis ou se poderia ser composta por número menor de servidores estáveis.

o Posicionamento da Controladoria Geral da União: a CGU se manifestou no sentido


de que poderá haver comissão com 02 (dois) servidores estáveis no âmbito de comissão
acusatória. Confira-se o entendimento da CGU:

A interpretação sistêmica do art. 149 da Lei nº 8112/90 poder levar, a princípio, à


conclusão de que a comissão de sindicância acusatória ou punitiva seja composta
por três membros estáveis. Entretanto, pode-se analisar o citado artigo de maneira
contrária, sendo que apenas o processo administrativo disciplinar deva
necessariamente ser conduzido por três integrantes. De fato, tendo em vista a praxe
administrativa e a escassez de servidores para comporem comissões de sindicância
e de processo administrativo disciplinar, admitem-se comissões de sindicância
compostas por apenas dois integrantes. A propósito, o art. 12, § 2º, da Portaria
CGU nº 335/06 sana definitivamente a questão. Com efeito, referido dispositivo
estabelece que, no caso de sindicância acusatória ou punitiva, a comissão deva ser
composta por dois ou mais servidores estáveis. Deve ser ressaltado, por fim, a regra
da hierarquia funcional. Segundo ela, o presidente do colegiado deverá ter nível de
escolaridade igual ou superior ao do servidor sindicado7.

• Prazo da Sindicância: O prazo para conclusão da sindicância não excederá 30 (trinta) dias,
podendo ser prorrogado por igual período, a critério da autoridade superior; conforme artigo
145 da Lei n. 8.112/90.

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR SOB O RITO SUMÁRIO

• O processo administrativo sob o rito sumário é utilizado para apuração dos seguintes ilícitos
administrativos: inassiduidade habitual; abandono de cargo e acumulação ilegal de cargos.

o A inassiduidade habitual: é conceituada pela Lei n. 8.112/90 como a ausência


injustificada do servidor público, interpoladamente, por 60 (sessenta) dias no período
de 12 (doze) meses.
6
Controladoria Geral da União. Manual de Processo Administrativo Disciplinar. Brasília: 2016. pp. 61 e 62. Disponível
em <http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/atividade-disciplinar/arquivos/manual-pad.pdf> Acessado em 13 de out. 2017.
7
Controladoria Geral da União. Manual de Processo Administrativo Disciplinar. Brasília: 2016. pp. 62 e 63. Disponível
em <http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/atividade-disciplinar/arquivos/manual-pad.pdf> Acessado em 13 de out. 2017.
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o O abandono de cargo: por sua vez, ocorre quando o servidor público faltar
injustificadamente e de forma intencional ao serviço por mais de 30 (trinta) dias
consecutivamente.

o A acumulação ilegal de cargos: ocorre quando o servidor simultaneamente acumula


dois cargos sem a respectiva permissão constitucional, tendo em vista que a regra em
nosso ordenamento jurídico é a impossibilidade de acumulação de cargos, empregos
e funções públicas.

 Atenção: No que diz respeito a acumulação ilegal de cargos a lei


dispôs que, após a notificação do servidor público, até o último dia de
prazo para apresentação de defesa por um dos cargos, será
configurada a sua boa-fé, sendo certo que nessa hipótese será
automaticamente exonerado do outro cargo.

• O procedimento do PAD sob o rito sumário se dará da seguinte maneira:

o A instauração: se dará com a publicação do ato que constituir a comissão que será
composta de 02 (dois) servidores estáveis, sendo que no mesmo ato deve se indicar a
materialidade e a autoria da transgressão objeto da apuração.

o A instrução: será sumária com a respectiva indiciação, apresentação de defesa e o


relatório da comissão.

o No termo de indiciação: serão transcritas as seguinte informações: nome do


servidor, matrícula e a materialidade.

 Prazo para a confecção do termo: é de até 03 (três) dias após a


publicação do ato que constituiu a comissão.

o Citação do servidor para apresentar defesa: poderá ser pessoal; ou, por
intermédio de sua chefia imediata.

 Prazo para a apresentação de defesa: será de até 05 (cinco) dias.

o Indiciado em lugar incerto e não sabido: será citado por edital, publicado
no Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação na localidade do
último domicílio conhecido.
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 Prazo para apresentar defesa: 15 (quinze) dias.

o A decretação de revelia: será realizada por escrito nos autos do processo


administrativo, somente poderá ser reconhecida quando o servidor indiciado
for regularmente citado e não apresentar defesa no prazo legal. No entanto, é
de suma importância registar, que em homenagem ao princípio da ampla
defesa, o servidor declarado revel não ficará sem defesa.

o Relatório Conclusivo: Após a apresentação da defesa, a comissão elaborará


relatório conclusivo e nele deverá necessariamente conter o seguinte o: (i)
pronunciamento quanto inocência do fato ou à responsabilidade do servidor;
(ii) resumo das peças principais dos autos; (iii) opinião a respeito da conduta
ilícita do servidor. Após, se remeterá os autos para autoridade competente
para o julgamento.

• Prazo para o julgamento: a lei dispôs que o julgamento ocorrerá no prazo de 05 (cinco) dias,
contados do recebimento do processo pela autoridade julgadora.

• O prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar sob o rito sumário: será de
até 30 (trinta) dias, contados da data da publicação do ato que constituiu a comissão, podendo
por necessidade dos trabalhos ser prorrogado por mais 15 (quinze) dias.

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