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transformação do sistema
de saúde do Brasil de um
modelo iminentemente
ligado à saúde do
trabalhador para um
modelo universal?
1.1 INTRODUÇÃO
O Brasil é um país de dimensões continentais, com amplas
desigualdades regionais e sociais, e, ao longo da sua história, sofreu
grandes transformações políticas, econômicas, demográficas e
sociais. A Saúde nunca ocupou um lugar central na política brasilei-
ra, tanto na resolução dos problemas de saúde da população quanto
na destinação de recursos ao setor. A evolução histórica das políticas
de saúde está diretamente relacionada com a evolução política e
socioeconômica da sociedade brasileira.
Entende-se como sistema de saúde o “conjunto de relações
políticas, econômicas e institucionais responsáveis pela condução
dos processos referentes à saúde de uma dada população que se
concretizam em organizações, regras e serviços que visam alcançar
resultados condizentes com a concepção de saúde prevalecente na
sociedade”. Dentro desse contexto, as políticas de saúde podem ser
entendidas como o conjunto de decisões e compromissos definidos
pelo Estado para orientar o desenvolvimento de ações e estratégias
voltadas à melhoria da saúde.
A situação de saúde no Brasil é resultado de uma história que foi se
construindo, principalmente, em torno da questão da saúde do
trabalhador. A assistência médica no país traz, ainda hoje, forte
presença de uma herança previdenciária, que se caracteriza por
clientelismo, ineficiência, burocracia e não universalidade. Para ser
possível analisar a realidade de saúde atual, é necessário co-nhecer
os determinantes históricos envolvidos nesse processo.
1.2 BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE NO
BRASIL
1.2.1 De 1500 a 1889
Durante o período colonial (1500-1822), o Brasil não dispunha de
nenhum modelo de atenção à saúde da população. Alguns poucos
eram assistidos pelos doutores trazidos de Portugal, enquanto aos
nativos restavam os recursos naturais (plantas e ervas) e os
conhecimentos empíricos (curandeiros). A vinda da Família Real ao
Brasil (1808) criou a necessidade de organizar uma estrutura
sanitária mínima, de forma a dar suporte ao poder que se instalava
na cidade do Rio de Janeiro.
A história do Brasil Imperial tem início com a Proclamação da
Independência, em 1822, e termina com a Proclamação da República,
em 1889. Durante esse período, as ações de saúde limitavam-se ao
controle sanitário mínimo, delegado às Juntas Municipais, e ao
controle de navios e saúde dos portos. Devido à organização política,
unitária e centralizada, não havia eficiência na transmissão e
execução a distância das determinações emanadas dos comandos
centrais.
As necessidades da Corte forçaram a criação das duas primeiras
escolas de Medicina do país: o Colégio Médico-Cirúrgico, no Real
Hospital Militar da Cidade de Salvador, e a Escola de Cirurgia do Rio
de Janeiro, únicas medidas governamentais até a República.
1.2.2 De 1889 a 1920
A falta de um modelo sanitário ocasionou um quadro de saúde
caótico, caracterizado pela presença de diversas doenças, como
varíola, malária, febre amarela e, posteriormente, peste. Tal cenário
gerou consequências para a saúde coletiva, mas também para o
comércio exterior, pois os navios estrangeiros não queriam atracar
no porto do Rio de Janeiro. A saúde emergiu como efetiva prioridade
do governo no começo do século XX, com as ações de saúde
concentradas no eixo agrário-exportador e administrativo (Rio de
Janeiro e São Paulo).
Na década de 1900, Oswaldo Cruz foi nomeado Diretor Geral de
Saúde Pública (cujas principais ações estão sumarizadas na tabela 1)
e propôs erradicar a epidemia da febre amarela por meio de um
modelo de intervenção de desinfecção, conhecido como campa-
nhista, em que o uso da força e autoridade pelos “guardas-
sanitários” era considerado o instrumento preferencial de ação. Em
1904, Oswaldo Cruz instituiu, por meio de Lei Federal, a vacinação
antivaríola obrigatória em todo o território nacional, o que agra-vou
a onda de insatisfação social causada pela intervenção campanhista
e levou a um grande movimento de revolta, conhecido como a
Revolta da Vacina.
O modelo campanhista tornou-se hegemônico como proposta de
intervenção na área da saúde coletiva, visto que foi eficiente no
controle das doenças epidêmicas, conseguindo erradicar a febre
amarela na cidade do Rio de Janeiro. As políticas sanitárias eram
desenvolvidas para a erradicação das doenças portuárias e ligadas
diretamente à economia agroexportadora; dessa forma, Oswaldo
Cruz obteve o apoio do governo para as ações de controle da febre
amarela, peste bubônica e varíola, porém não conseguiu sensibi-
lizar a classe política quanto à necessidade de maior intervenção
estatal na tuberculose.
Em 1908, o Instituto Soroterápico Federal foi rebatizado como
Instituto Oswaldo Cruz, e com a morte de Oswaldo Cruz, em 1917,
Carlos Chagas assumiu sua direção.
Em 1916, a Fundação Rockefeller chegou ao Brasil, e, em 1923,
estabeleceu convênio com o governo brasileiro para cooperação
médico-sanitária e programas de erradicação de endemias, tendo
como foco principal a febre amarela e, em seguida, a malária. Em
1937, foi inaugurado o Laboratório do Serviço Especial de Profilaxia
da Febre Amarela pela Fundação Rockefeller, dentro do Instituto
Oswaldo Cruz, e a vacina contra a febre amarela foi utilizada pela
primeira vez no Brasil. Desde então, a vacina é produzida pela
Fundação Oswaldo Cruz, atualmente responsável por 80% da
produção mundial desse imunizante.
Quadro 1.1 - Ações de saúde incorporadas na organização da Diretoria Geral de Saúde
Pública
#IMPORTANTE
Com a descentralização, ocorreu transferência
maior de responsabilidade aos municípios na
gestão da saúde da população.
Dentre os serviços privados, devem ter preferência os não lucrativos
(hospitais filantrópicos e Santas Casas), conforme determina a
Constituição. Assim, cada gestor deve planejar primeiramente o
setor público e, na sequência, complementar a rede assistencial com
o setor privado, com os mesmos conceitos de regionalização,
hierarquização e universalização.
#IMPORTANTE
Atualmente, no SUS, o predomínio do
financiamento é feito pelo setor público,
entretanto o predomínio da prestação de
serviços é feito pelo setor privado.
2.1.4 Gestão
Trata-se das entidades encarregadas de fazerem com que o SUS seja
implantado e funcione adequadamente dentro das doutrinas e da
lógica organizacional e seja operacionalizado dentro dos princípios.
Há gestores nas 3 esferas, conforme o Quadro 2.1.
Quadro 2.1 - Gestores do Sistema Único de Saúde
A estrutura gestora do SUS é composta por vários tomadores de
decisão, no âmbito do Estado e da Sociedade Civil. Envolve nas três
esferas federativas, além dos órgãos executivos mencionados
anteriormente, os conselhos de saúde (conselhos municipais,
estaduais e nacional) e os comitês intergestores (comitê intergestor
tripartite, no âmbito nacional, comitês intergestores bipartite, no
âmbito dos estados, e comitês intergestores regionais, no âmbito das
regiões de saúde). Com isso, pode-se afirmar que o SUS estabelece
uma gestão compartilhada e participativa.
2.1.5 Financiamento
O investimento e o custeio do SUS são feitos com recursos das 3
esferas de governo. Os recursos financeiros do SUS estão em uma
conta especial, ou seja, um fundo único para os gastos em saúde
chamado Fundo Nacional de Saúde, cujo montante provém
principalmente da Seguridade Social e de outros recursos da União,
constantes da Lei de Diretrizes Orçamentárias, aprovada anualmente
pelo Congresso Nacional.
Dentre os recursos federais destinados ao custeio da Seguridade
Social e, portanto, para a saúde, destacam-se, além dos recursos
ordinários, as chamadas Contribuições Sociais, sendo as principais a
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e
a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Outros recursos
incluem 45% do DPVAT e outras receitas e créditos. A Tabela 2.1
mostra o percentual das fontes de financiamento do Ministério da
Saúde entre 1996 e 2015.
Tabela 2.1 - Percentual das fontes de Financiamento do Ministério da Saúde
Fonte: Sistema de saúde no Brasil: organização e financiamento, 2016.
4. Prevenção e proteção:
a) Ações de prevenção e proteção:
Vigilância epidemiológica;
Vigilância sanitária;
Vacinações;
Saneamento básico;
Exames médicos e odontológicos periódicos.
5. Cura:
a) Ações de recuperação:
Atendimento médico (ambulatorial e Urgência e Emergência);
Atendimento odontológico;
Diagnóstico e tratamento oportunos;
Acidentes e danos de qualquer natureza;
Limitação da invalidez;
Reabilitação.
2. Responsabilidades:
a) Promoção de condições e incentivo ao poder municipal para
assumir a gestão da atenção à saúde dos seus munícipes na
perspectiva da atenção integral;
b) Promoção da harmonização, integração e modernização dos
sistemas municipais;
c) Regionalização e organização do sistema de referência e
contrarreferência;
d) Responsabilização pela gestão dos serviços de média/alta
complexidade dos municípios em gestão básica.
1 O número de ACS por equipe deverá ser definido de acordo com base populacional,
critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos, de acordo com definição local.
Em áreas de grande dispersão territorial, áreas de risco e vulnerabilidade social,
recomenda-se a cobertura de 100% da população com número máximo de 750 pessoas
por ACS.
5.1 INTRODUÇÃO
Ainda no início do século XX, a Medicina era exercida de forma muito
independente e com direcionamentos terapêuticos diversos. Além da
medicina ortodoxa, havia práticas médicas como o fisiomedicalismo
ou botanomedicalismo, precursores da fitoterapia e da homeopatia,
por exemplo. Não havia um controle de abertura de escolas médicas,
tampouco necessidade de conexão com as universidades ou uma
padronização científica da prática clínica.
Assim, em 1910, foi publicado pelo médico estadunidense Abraham
Flexner o estudo chamado Medical Education in the United States
and Canada – A Report to the Carnegie Foundation for the
Advancement of Teaching, que ficou conhecido como Relatório
Flexner. Esse relatório revolucionou a educação médica, pois
reorganizou e regulamentou o ensino médico nos Estados Unidos e
serviu de base para estruturar as faculdades de Medicina no mundo
inteiro. Suas principais características são a definição da estrutura
do curso em 4 anos, a vinculação das escolas médicas às
universidades, a ênfase na pesquisa biológica como forma de superar
a era empírica do ensino, o controle do exercício profissional pela
profissão organizada e a prática da Medicina centrada na doença e
no ambiente hospitalar. Construiu-se um modelo fragmentado (com
divisão entre ciclos básicos e ciclos clínicos), cuja abordagem de
ensino trazia à lembrança o antigo modelo de Descartes do dualismo
corpo e mente, em que se acreditava que era possível compreender a
biologia do ser humano apenas por suas partes orgânicas, separadas
das emoções.
Entretanto, essa revolução desencadeou um processo de exclusão de
todas as propostas de atenção em saúde que não estivessem dentro
dos seus parâmetros, desconsiderando outros fatores que interferem
na qualidade do trabalho dos médicos para a sociedade, como o
estudo da Medicina de Família e Comunidade (MFC), a compreensão
das necessidades sociais das pessoas e a resolução das doenças mais
prevalentes de uma população fora do ambiente hospitalar.
Em função disso é que, a partir da década de 1960, em todo o mundo,
esse modelo vem sendo contestado. Nesse ínterim, surge o
movimento da MFC como forma de resistência à ênfase dedicada ao
modelo flexneriano, enfatizando a preocupação com as demandas
dos pacientes nas comunidades e seus enfrentamentos psicossociais
em relação às suas doenças.
A formação da Organização Mundial de Médicos de Família e
Comunidade (World Organization of National Colleges, Academies
and Academic Associations of General Practice – WONCA) em 1972 e
a formação do Grupo de Leeuwenhorst, durante a II Conference in
the Teaching of General Practice (Holanda, 1974), podem ser
considerados marcos importantes para o fortalecimento da Medicina
de Família e Comunidade no mundo.
No Brasil, a formação em Medicina de Família e Comunidade teve
início em 1976, quando foram criados 3 programas de Residência
Médica (Rio de Janeiro, Vitória de Santo Antão e Porto Alegre), que
tinham como propósito formar especialistas em MFC no campo da
Atenção Primária à Saúde (APS). Hoje a MFC é uma especialidade
médica reconhecida pelo MEC/AMB, com vagas de Residência
Médica espalhadas por todo o país. Com a Lei 12.871/2013, foi
instituído o Conselho Nacional de Educação (CNE), que, por sua vez,
discutiu e aprovou as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os
cursos de Medicina no Brasil. Estas orientam que a formação médica
seja dirigida fundamentalmente às reais necessidades de saúde da
população e do sistema brasileiro, com ênfase para atuação no
médico na APS, além de que, no mínimo, 30% do internato aconteça
na APS e nos serviços de urgência. Essas medidas levaram a um
maior contato do estudante com a especialidade de MFC.
Em todo esse contexto histórico, a MFC tem contribuído para a
reestruturação científica da própria Medicina, pois seus princípios e
práticas são centrados na clínica para a pessoa (e não apenas para a
doença), na relação médico-paciente e na interlocução com o
indivíduo, sua família e sua comunidade.
A MFC é definida como a especialidade médica que presta assistência
à saúde de forma continuada, integral e abrangente para pessoas,
suas famílias e a comunidade; integra ciências biológicas, clínicas e
comportamentais; abrange todas as idades, ambos os sexos, cada
sistema orgânico e cada doença; trabalha com sinais, sintomas e
problemas de saúde; e proporciona o contato das pessoas com o
médico mesmo antes que exista uma situação de doença ou depois
que esta se resolva. Também tem, como característica especial, o
acesso do médico de família e comunidade ao domicílio das pessoas
(Lopes, 2012).
5.2 PRINCÍPIOS
Os princípios fundamentais da formação e atuação do médico de
família são:
a) O MFC é um clínico qualificado (competência em método clínico
centrado na pessoa e medicina baseada em evidências);
b) A atuação do MFC é influenciada pela comunidade (condições de
saúde mais frequentes variam conforme a localização geográfica,
devendo, cada MFC, conhecer mais sobre o que é mais prevalente em
seu território; além disso, aspectos ambientais, de trabalho e culturais
também influenciam no cuidado);
c) O MFC é recurso de uma população definida (para conseguir dar
acesso o MFC deve ter sob seus cuidados uma população da qual
possa “dar conta”. Não existe consenso quanto ao número ideal, pois
estrutura etária e condições sociais, por exemplo, influenciam; mas
estima-se que em torno de 1800 a 2200 pessoas para um médico de
40 horas de atendimento semanal);
d) A relação médico-pessoa é fundamental para o desempenho do
MFC.
5.4.2 Genograma
O genograma é um instrumento de avaliação do paciente e de sua
família. Também chamado de árvore familiar, foi usado no passado
por Gregor Mendel para explicar a transmissão genética das
doenças, por meio das linhas de transmissão entre as gerações.
O genograma proporciona uma visão de um quadro trigeracional de
uma família e de seu movimento por meio do ciclo de vida, ajudando
o médico (e também a família) a analisar o contexto presente e as
transformações familiares longitudinalmente. O genograma pode
ser interpretado tanto na forma horizontal, olhando a situação-
problema por meio do contexto familiar, quanto na forma vertical,
ou seja, das gerações, tentando desvendar padrões que se repetem ao
longo do tempo que possam explicar a origem de alguns problemas.
No genograma são representados os diferentes membros da família,
padrão de relacionamento e principais morbidades. Ainda se podem
adicionar dados como ocupação, hábitos, grau de escolaridade, entre
outros. O genograma deve:
a) Utilizar simbologia-padrão, utilizando símbolos e siglas (Quadros 5.3
e 5.4);
b) Representar pelo menos 3 gerações (Figura 5.3);
c) Iniciar com a representação do casal e seus filhos;
d) Indicar o ciclo vital da família;
e) Representar as relações familiares;
f) Indicar os fatores estressores, como doenças e condições;
g) Obedecer à cronologia de idade – dos mais velhos para os mais
novos (da esquerda para a direita).
5.4.3 Ecomapa
O ecomapa é um desenho complementar ao genograma na
compreensão da composição e estrutura de relações intrafamiliares
e, principalmente, com o meio que cerca a família. Isso é realizado ao
colocar todos os pontos de suporte da família: trabalho, igreja,
amigos, grupos comunitários, vizinhos etc. Assim como no
genograma, linhas demarcam os tipos de relação entre a família e os
grupos destacados.
Figura 5.4 - Exemplo de esquematização de um ecomapa
Fonte: elaborado pelos autores.
5.4.4 F.I.R.O.
F.I.R.O. (Fundamental Interpersonal Relations Orientations) é a sigla
para “Orientações Fundamentais nas Relações Interpessoais”,
ferramenta que procura avaliar sentimentos de membros da família
nas relações do cotidiano. Pode ser usada em situações em que as
interações na família possam ser categorizadas nas dimensões de
inclusão (dinâmica de relações), controle (exercício do poder na
família) e intimidade (união entre membros para compartilhar
sentimentos). Essa ferramenta é útil quando, por qualquer motivo,
há mudança de papéis na família. Por exemplo: quando o chefe da
família perde seu emprego e passa a ser sustentado pela esposa. Essa
proposta de modelo é bastante difundida no Brasil, principalmente
por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF), mas ainda não temos
nenhum estudo de validação no Brasil.
5.4.5 P.R.A.C.T.I.C.E.
O modelo P.R.A.C.T.I.C.E. auxilia o médico na estruturação do seu
atendimento às famílias e na avaliação do funcionamento delas,
facilitando a coleta de informações e o entendimento do problema,
de ordem clínica, comportamental ou relacional. Deve ser aplicado
em reuniões familiares, e o profissional deve ter a clareza de que só
uma entrevista familiar geralmente será insuficiente para construir
com a família soluções para a resolução do problema apresentado.
Quadro 5.5 - Estrutura do P.R.A.C.T.I.C.E.
5.4.6 A.P.G.A.R. familiar
Reflete a satisfação de cada membro da família (estado funcional
familiar), representado pela sigla A.P.G.A.R., que significa:
Adaptation (adaptação), Partnership (participação), Growth
(crescimento), A ection (afeição) e Resolve (resolução). Cinco
perguntas são realizadas e pontuadas, para posterior análise:
a) Estou satisfeito com a atenção que recebo da minha família quando
algo está me incomodando?
b) Estou satisfeito com a maneira com que minha família discute as
questões de interesse comum e compartilha comigo a resolução dos
problemas?
c) Sinto que minha família aceita meus desejos de iniciar novas
atividades ou de realizar mudanças no meu estilo de vida?
d) Estou satisfeito com a maneira como minha família expressa afeição
e reage em relação aos meus sentimentos de raiva, tristeza e amor?
e) Estou satisfeito com a maneira como eu e minha família passamos o
tempo juntos? Interpretação: para cada pergunta: quase sempre - 2
pontos; às vezes - 1 ponto; raramente - zero.
6.1 HISTÓRICO
O desenvolvimento do sistema suplementar brasileiro teve origem
no surgimento das instituições previdenciárias do último século
(institutos de aposentadoria e pensão) durante a conformação mais
consistente de um sistema de saúde no Brasil. Essas instituições
previdenciárias eram representadas pelas diferentes categorias
profissionais de trabalhadores urbanos que, para a organização da
oferta de saúde, compravam a prestação de serviços médicos
ambulatoriais ou de hospitais. Nesse mesmo período, surgiram as
caixas de assistência, dirigidas a funcionários de determinadas
empresas e cujos benefícios ocorriam por meio de empréstimos ou
reembolsos pela utilização de serviços de saúde.
Com a instalação de empresas estatais e multinacionais na década de
1950, surgiram os sistemas assistenciais patronais, prestadores
diretos de cuidados médicos aos funcionários. Na década de 1960,
houve a unificação dos institutos e caixas de assistência, que
originou o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social),
aumentando significativamente a cobertura de beneficiários e
configurando uma rede de serviços julgada insuficiente por usuários
das categorias profissionais de maior poder aquisitivo.
Esse fato levou à ampliação do credenciamento de prestadores de
serviços privados, principalmente por meio do financiamento de
grupos médicos (que, gradativamente, se transformaram em
empresas médicas), e à organização da rede de serviços próprios e
credenciados em 2 subsistemas, um voltado aos trabalhadores
urbanos, e outro, aos trabalhadores rurais. Tal ampliação gerou
conflitos entre a categoria médica, configurando-se uma disputa por
um grupo que pretendia preservar a prática liberal da Medicina e por
outro que considerava mais importante adaptar a prática médica às
necessidades do mercado que se constituía. Assim, surgiam as
cooperativas médicas (que atendiam a demanda nos consultórios de
cada profissional) e as medicinas de grupo (responsáveis pelo
atendimento hospitalar).
Conformava-se, portanto, um sistema de saúde com intensa relação
público-privada, cuja assistência médica tinha o apoio da rede do
INPS com unidades próprias e credenciadas, além de contratos
coletivos de serviços credenciados de empresas e cooperativas
médicas e empresas com planos próprios (as autogestões). Em geral,
a cobertura prestada era igual para todos os empregados, sem
diferenciação por nível hierárquico nas categorias profissionais, até
começar a haver a segmentação dos planos, criada por uma lógica de
benefício e mérito (quem paga valor mais alto tem direito a um leque
maior de serviços).
Com o advento do Sistema Único de Saúde (SUS), previsto na
Constituição de 1988, ocorreu a definição da participação livre à
iniciativa privada, de forma complementar, na execução de serviços
de saúde no Brasil. No entanto, esse setor somente foi
regulamentado 10 anos depois, em 1998.
#IMPORTANTE
O sistema de saúde brasileiro é híbrido, isto é,
composto por serviços públicos garantidos por
legislação pelo Estado e um sistema privado
que o complementa, chamado saúde
suplementar.
1. Vantagens:
a) Há flexibilidade da empresa em definir a representação do plano,
com a possibilidade de atuar diretamente sobre o sistema, corrigindo
eventuais desvios e lançando alternativas que beneficiem a empresa e
o funcionário;
b) Maior facilidade de comunicação entre o beneficiário e os gestores
do plano, que podem ser empresas privadas, autarquias, sindicatos
etc.
#IMPORTANTE
Dependendo da época em que o plano de saúde
foi contratado, pode ser considerado antigo,
novo ou adaptado, tendo como referência a
plena vigência da Lei 9.656/98, em 02.01.1999.
Figura 6.7 - Índices de reajuste aplicados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
Figura 6.8 - Evolução dos índices dos planos de saúde (individual) da Agência Nacional de
Saúde Suplementar em relação à inflação (IPCA) acumulados entre 2006 e 2016
6.6.4 Fiscalização e efetividade da regulação
A ANS dispõe de mecanismos diversos de fiscalização. Entre eles,
merecem destaque:
a) Canais de atendimento da ANS: por meio deles os beneficiários de
planos de saúde podem acessar a ANS para esclarecimento de
dúvidas e registo de reclamações ou denúncias sobre os serviços das
operadoras. A ANS disponibiliza a central de relacionamento formada
pelo Disque ANS, pela Central de Atendimento por meio de formulário
eletrônico (disponível no portal da ANS na internet), pelos núcleos de
atendimento presenciais (disponíveis em 11 estados) e pela central de
atendimento especializado para deficientes auditivos. Denúncias ou
reclamações registradas nos canais de atendimento podem gerar
notificações para as operadoras com intermédio da ANS. A partir de
fevereiro de 2012, observou-se tendência de aumento no índice de
reclamações, demonstrando o crescimento da procura pela ANS. A
Figura 6.9 apresenta o perfil de reclamações dirigidas à ANS.
7.3.2 Infraestrutura
A Lei do PMM delimitou um prazo de 5 anos, a partir da data de sua
publicação, para “dotar as Unidades Básicas de Saúde com qualidade
de equipamentos e infraestrutura, a serem definidas nos planos
plurianuais” (Brasil, 2013). No entanto, vale ressaltar que, no
momento de promulgação da Lei, já havia um Programa dirigido à
qualificação da infraestrutura dos serviços de saúde, o Programa
Requalifica UBS.
Tal iniciativa já vinha apresentando resultados efetivos na melhoria
da infraestrutura e modernização das Unidades Básicas de Saúde
(UBSs). Em 2013, no lançamento do PMM, o Requalifica UBS
apresentou uma nova etapa de adesão a todos os seus componentes
(Construção, Reforma e Ampliação), e novas propostas foram
autorizadas e tiveram recursos alocados para iniciar sua execução. O
PMM possibilitou que o número de reformas e ampliações saltasse
de aproximadamente 9.800 para 15.300 UBSs reformadas/ampliadas
e o de construções, de 2.400 para 7.900 UBSs. Além disso, as UBSs
Fluviais atingiram o número de 45 novas unidades, em comparação
às 28 unidades criadas antes da instituição do PMM (Brasil, 2015).
Esses números correspondem a um total de mais de R$5 bilhões
investidos no financiamento de obras em quase 5.000 municípios
brasileiros, das quais aproximadamente 46% (em torno de 10.500
obras) foram concluídas em 2 anos de Programa. A esse eixo também
estão associadas iniciativas como a informatização das UBSs com o
Plano Nacional de Banda Larga e a implantação do novo SISAB e a
estratégia e-SUS AB (Brasil, 2015). Todos esses esforços visam
garantir a estrutura necessária para que os profissionais atendam a
população com o máximo de qualidade e motivação, de forma a
possibilitar o enfrentamento do problema da alta rotatividade de
médicos nas equipes de ESF.
Os elementos que sustentam o eixo de Infraestrutura são:
a) “Inadequadas condições de trabalho”, identificado como um dos
fatores que condicionam o desenvolvimento da AB;
b) “Infraestrutura inadequada das UBSs”, identificado como um dos
fatores que condicionam o desenvolvimento da AB;
c) Má distribuição de médicos pelo território nacional, especialmente
em áreas de maior vulnerabilidade;
d) Alta rotatividade de médicos nas equipes de ESF, prejudicando, em
última instância, a resolubilidade da AB;
e) Efeito sinérgico a outras medidas governamentais (Requalifica UBS,
SISAB, e-SUS AB etc.).
7.3.3 Educação
Esse eixo corresponde a um conjunto de medidas estruturantes de
médio e longo prazo que visam intervir na formação médica e
solucionar o problema da insuficiência de médicos nos serviços de
saúde brasileiros. O PMM determina a expansão de vagas de
graduação em Medicina e a universalização da Residência Médica.
Além disso, propõe uma formação baseada em novas diretrizes,
instrumentos e metodologias, de forma a diplomar profissionais
mais capacitados para a AB (Brasil, 2013). É por meio dessa expansão
planejada que o governo almeja superar a proporção de 1,8
médico/1.000 habitantes, atingindo, até 2026, a mesma marca do
Reino Unido, de 2,7 médicos/1.000 habitantes (Brasil, 2015).
Os eixos do PMM são Provimento Emergencial,
Infraestrutura e Educação.
7.4 FUNCIONAMENTO
Como apresentado até aqui, o PMM visa enfrentar a falta de médicos
no Brasil de forma permanente e estrutural, por meio da melhoria da
infraestrutura e das condições de trabalho, bem como do
aprimoramento da formação médica. Paralelamente, o Programa
trabalha para preencher as lacunas emergenciais de demanda por
médicos da população brasileira, por meio do PMMB e seu
recrutamento de profissionais, brasileiros ou estrangeiros, para
atuar nas regiões prioritárias do SUS.
Essas regiões são definidas em função de um conjunto de critérios
inicialmente definidos com base no que estabelece a Portaria
interministerial 1.377, de 13 de junho de 2011, como áreas de difícil
acesso, de difícil provimento de médicos ou que tenham populações
em situação de maior vulnerabilidade. Delimitadas as áreas com
maior necessidade e vulnerabilidade, abre-se um edital para que os
municípios possam aderir voluntariamente, mediante a assinatura
de um termo de compromisso com ações e responsabilidades de
curto e médio prazos. Esse termo responsabiliza os municípios de
garantir condições específicas, como o funcionamento das Unidades
Básicas de Saúde, a inserção do médico para atuação em uma equipe
de ESF, benefícios (moradia, alimentação e deslocamento) aos
médicos selecionados, a gestão dos sistemas de informação
previstos etc. (Brasil, 2015).
Assinado o termo de compromisso, os municípios solicitam as vagas
de acordo com o número máximo definido pelo Programa em função
da demanda populacional, rede de saúde disponível e quantidade de
equipes/serviços para receber o profissional. Todo esse processo de
adesão é realizado exclusivamente pela internet, e, ao seu fim, são
conhecidos o número total de vagas solicitadas e a distribuição delas
(Brasil, 2015).
O próximo passo consistiu na abertura de um edital para o
recrutamento dos médicos. Nessa etapa, podem se inscrever médicos
brasileiros ou estrangeiros com registro no Brasil conferido por um
Conselho Regional de Medicina e médicos brasileiros ou estrangeiros
formados no exterior e sem registro no país. No entanto, o Programa
estabelece uma ordenação para a escolha de vaga. Só é vedada a
inscrição de profissionais, brasileiros ou estrangeiros, que se
formaram ou atuam em países com proporção de médicos por
habitantes menor do que a do Brasil, de forma a cumprir a regra de
equidade e solidariedade internacional, que busca atrair médicos
somente de países que têm mais profissionais por habitantes do que
o país solicitante (Brasil, 2015).
A ordenação para escolha de vagas entre os diferentes perfis de
médicos que podem se inscrever no programa fica assim definida
(Brasil, 2013, 2015):
1. Primeiro grupo de prioridade: médicos, brasileiros ou
estrangeiros, formados no Brasil ou fora do país, mas com diploma
revalidado e registro junto ao Conselho de Classe;
2. Segundo grupo de prioridade: médicos brasileiros formados no
exterior, mas sem diploma revalidado e sem inscrição no Conselho de
Classe;
3. Terceiro grupo de prioridade: médicos estrangeiros formados no
exterior, mas sem diploma revalidado e sem inscrição no Conselho de
Classe;
4. Quarto grupo de prioridade: médicos cooperados.
8.4.1 Físicos
Quadro 8.2 - Exemplos de agentes físicos que podem oferecer risco à saúde dos
trabalhadores expostos
8.4.2 Químicos
1. Poeiras: partículas sólidas produzidas mecanicamente por ruptura
de partículas maiores;
2. Fumos: partículas sólidas produzidas por condensação de vapores
metálicos;
3. Névoas: partículas líquidas produzidas mecanicamente, por
exemplo, em processo spray;
4. Neblinas: partículas líquidas produzidas por condensações de
vapores;
5. Gases: dispersões de moléculas no ar, misturadas completamente
com este;
6. Vapores: são, também, dispersões de moléculas no ar que, ao
contrário dos gases, podem condensar-se para formar líquidos ou
sólidos em condições normais de temperatura e pressão.
Toda vez que nos deparamos com uma questão
de riscos ocupacionais de natureza química
devemos lembrar que químicos se referem a
partículas e/ou moléculas de dispersão como
fatores de risco ocupacional.
Quadro 8.3 - Exemplos de agentes químicos e outros contaminantes atmosféricos que
podem oferecer risco à saúde dos trabalhadores expostos
Fonte: Ministério da Saúde/representação da OPAS (Manual de Procedimentos para os
Serviços de Saúde).
8.4.3 Biológicos
Quadro 8.4 - Exemplos de agentes biológicos que podem oferecer risco à saúde dos
trabalhadores e as respectivas situações de exposição
8.4.4 Ergonômicos
a) Esforço físico e intenso;
b) Levantamento e transporte manual de peso;
c) Exigência de postura inadequada;
d) Controle rígido de produtividade;
e) Imposição de ritmos excessivos;
f) Trabalho em turno e noturno;
g) Jornadas de trabalho prolongadas;
h) Monotonia e repetitividade;
i) Outras situações causadoras de estresse físico e/ou psíquico.
8.5.3 Profilaxia
Logo após o acidente deverá se proceder à descontaminação do sítio
exposto, limpando a ferida com água e sabão ou irrigando as
membranas mucosas com água limpa.
1. Acidente leve: solicitar sorologias de HIV e hepatites virais do
profissional acidentado e sorologia de HIV do paciente-fonte. Não
prescrever antirretroviral. Encaminhar à Coordenadoria de DST/AIDS
para acompanhamento;
2. Acidente moderado: comunicar a enfermeira para proceder à
notificação do caso. Solicitar sorologias de HIV e hepatites virais do
acidentado e sorologia de HIV do paciente-fonte. Prescrever: AZT
(zidovudina), 100mg, 2cps, VO, a cada 12 horas; e Epivir®
(lamivudina), 150mg, 1cp, VO, a cada 12 horas;
3. Acidente grave: seguir as recomendações do acidente moderado e
prescrever: AZT (zidovudina), 100mg, 2cps, VO, a cada 12 horas;
Epivir® (lamivudina), 150mg, 1cp, VO, a cada 12 horas; Viracept®
(nelfinavir), 250mg, 3cps, VO, a cada 8 horas.
É importante ressaltar que a CAT deve ser emitida para todo acidente
ou doença relacionados ao trabalho, ainda que não haja afastamento
ou incapacidade.
Dos itens que mais são cobrados nas provas, no
que se refere ao preenchimento da doença que
levará ao afastamento do trabalho, podemos
citar o agente causador, a situação geradora do
acidente e se houve afastamento.
8.6 DOENÇAS DO TRABALHO E
PROFISSIONAIS
A doença profissional é aquela produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante
da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e
Emprego e pela Previdência Social. Exemplos: saturnismo
(intoxicação provocada pelo chumbo) e silicose (sílica).
Já a doença do trabalho é aquela adquirida ou desencadeada em
função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com
ele se relacione diretamente (também constante da relação
supracitada). Exemplo: disacusia (surdez) em trabalho realizado em
local extremamente ruidoso.
O Quadro 8.6 resume e exemplifica os grupos das doenças
relacionadas com o trabalho, de acordo com a classificação proposta
por Schilling (1984).
Quadro 8.6 - Classificação das doenças segundo sua relação com o trabalho
Fonte: Ministério da Saúde, 2011.
8.6.2 Silicose
A mais antiga, mais grave e mais prevalente das doenças pulmonares
relacionadas à inalação de poeiras minerais é a silicose. As
pneumoconioses são definidas pela OIT como “doenças pulmonares
causadas pelo acúmulo de poeira nos pulmões e reação tissular à
presença dessas poeiras”. E, por não ser passível de tratamento e
totalmente irreversível, pode cursar com graves transtornos à saúde
do trabalhador.
É vasta a relação das atividades de risco: mineração subterrânea e de
superfície; corte de pedras, britagem, moagem, lapidação,
cerâmicas, fundições que utilizam areia no processo, vidro industrial
de abrasivos, marmorarias, corte e polimento de granito,
cosméticos, protéticos, cavadores de poços; artistas plásticos e
jateadores de areia. Dentre as principais atividades, com respectivos
registros de prevalência de silicose, podemos citar indústria
cerâmica (3,9%), atividades em pedreiras (3 a 16%), jateamento de
areia na indústria naval (23,6%) e perfuração de poços no Nordeste
(17%).
Boa parte dos casos só será diagnosticada anos depois de o
trabalhador estar afastado da exposição, já que a silicose é, em geral,
uma doença de desenvolvimento lento, com progressão
independentemente do término da exposição, praticamente
assintomática na fase inicial.
Os sintomas característicos e predominantes começam a aparecer
com a progressão da doença:
1. Fase inicial: dispneia de esforço, astenia, tosse e/ou expectoração
constantes e dor torácica à inspiração profunda e aos esforços;
2. Fase avançada: insuficiência respiratória grave, dor torácica
progressiva, dispneia aos mínimos esforços e até em repouso,
comprometimento cardíaco, astenia grave e até cor pulmonale crônico.
8.6.3 Asbestose
O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de asbesto,
principalmente na fabricação de produtos de cimento-amianto;
materiais de fricção, como pastilhas de freio; materiais de vedação,
piso e produtos têxteis, como mantas e tecidos resistentes ao fogo.
Clinicamente a doença é inicialmente assintomática. Com a
progressão surgem dispneia aos esforços, estertores crepitantes nas
bases, baqueteamento digital, alterações funcionais e opacidades
irregulares em bases pulmonares (à radiologia).
Considerada uma doença eminentemente ocupacional, a asbestose é
a pneumoconiose associada ao asbesto ou amianto. A doença, de
caráter progressivo e irreversível, pode se manifestar alguns anos
depois de cessada a exposição, com período de latência superior a 10
anos. Clinicamente, caracteriza-se por dispneia de esforço,
estertores crepitantes nas bases pulmonares, baqueteamento digital,
alterações funcionais e pequenas opacidades irregulares na
radiografia de tórax.
É a partir da história ocupacional, do exame físico e das alterações
radiológicas que o diagnóstico é realizado. A radiografia de tórax,
assim como a sua leitura, deverá ser feita de acordo com o
preconizado pela OIT.
8.6.3.1 Procedimento
8.6.6.5 Cromo
8.7 BENEFÍCIOS
8.7.1 Previdência Social
Os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social são os
segurados e os dependentes. Os primeiros são as pessoas físicas:
empregado pela CLT, empregado doméstico e contribuinte
individual (atividade agropecuária ou pesqueira, mineradora,
religioso, sócio-empresário e autônomo). Os benefícios do Regime
Geral de Previdência Social para o segurado são:
a) Aposentadoria por invalidez;
b) Aposentadoria por idade;
c) Aposentadoria por tempo de serviço;
e) Aposentadoria especial;
f) Auxílio-doença;
g) Salário-família;
h) Salário-maternidade;
i) Auxílio-acidente.
a) Serviço social;
b) Reabilitação profissional.
10.1 INTRODUÇÃO
A Medicina Legal compreende o ramo da Medicina que utiliza
conhecimentos das Ciências Médicas para atender às demandas da
Justiça, ou seja, realiza as perícias necessárias para a elucidação de
um fato relevante para o Direito.
A Tanatologia Forense é o ramo da Medicina Legal que, partindo do
exame do local, oferece informação acerca das circunstâncias da
morte e, atendendo aos dados do exame de necrópsia, procura
estabelecer a identificação do cadáver, o mecanismo da morte, a
causa da morte e o diagnóstico diferencial médico-legal (acidente,
suicídio, homicídio ou morte de causa natural).
10.2 LESÕES CORPÓREAS
As lesões corpóreas têm o significado jurídico de configurar, no dolo
(o autor tem a intenção de provocar lesão) ou na culpa (o autor não
tem a vontade de lesar, mas por imprudência, imperícia ou
negligência a lesão ocorre na vítima) um crime contra a pessoa.
As lesões corpóreas dolosas, consideradas quanto à quantidade e à
qualidade do dano, classificam-se em leves, graves e gravíssimas. O
crime de lesão corpórea está previsto no Art. 129 do Código Penal
(CP).
As lesões corpóreas podem ser leves (pouca
repercussão clínica), graves (incapacidade
temporária) e gravíssimas (incapacidade
permanente).
10.2.1 Leves
São representadas por danos de pouca repercussão orgânica ou por
perdas superficiais, de fácil recuperação individual.
10.2.2 Graves
São exemplos de lesões graves aquelas que produzem:
a) Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias;
b) Perigo de vida;
c) Debilidade permanente de membro, sentido ou função;
d) Aceleração de parto.
10.2.3 Gravíssimas
São exemplos de lesões gravíssimas aquelas que resultam em:
a) Incapacidade permanente para o trabalho;
b) Enfermidade incurável;
c) Perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
d) Deformidade permanente;
e) Aborto.
10.3 TRAUMATOLOGIA MÉDICO-LEGAL
10.3.1 Conceito
A Traumatologia médico-legal trata das lesões corporais sob o ponto
de vista jurídico e das energias causadoras do dano. Estuda as lesões
e estados patológicos, imediatos ou tardios, produzidos por
violência sobre o corpo humano, incluindo aspectos do diagnóstico,
do prognóstico e das suas implicações legais e socioeconômicas.
1. Energias causadoras de dano:
a) Energias de ordem mecânica;
b) Energias de ordem física;
c) Energias de ordem química;
d) Energias de ordem físico-química;
e) Energias de ordem bioquímica;
f) Energias de ordem biodinâmica;
g) Energias de ordem mista.
2. Edema ou tumefação:
a) Inchaço e elevação;
b) Palidez da pele na área do impacto;
c) Surgimento depois de 1 a 3 minutos;
d) Tríplice reação de Lewis (rubor, tumor e calor);
e) Coleção de líquido transudato;
f) Ausência de extravasamento de sangue e de lesão de vasos
sanguíneos.
3. Escoriação:
a) Arrancamento da camada superior da pele (epiderme) por ação
tangencial da força (atrito) com exposição da derme;
b) No processo de cicatrização, há a formação de crosta.
4. Equimose:
a) Ruptura de vasos sanguíneos (capilares, vênulas e arteríolas),
com extravasamento de sangue e infiltração nos tecidos;
b) Coloração avermelhada no início;
c) Pele íntegra (sem solução de continuidade);
d) Forma e tamanho:
Petéquia (forma de ponto ou “cabeça de alfinete”);
Sugilação (pequenos grãos formados pela confluência de
numerosas lesões puntiformes). Exemplo: “chupão”;
Víbices (forma de estrias). Exemplo: cassetete;
Sufusão (hemorragia mais extensa).
e) Mecanismo de lesão: compressão, tração ou sucção;
f) Podem surgir de imediato ou mais tardiamente;
g) Espectro equimótico de Legrand Du Saulle:
Depende das dimensões e da localização das equimoses e
de fatores intrínsecos da vítima;
Em média, as equimoses desaparecem em 15 a 20 dias.
5. Hematoma:
a) Ruptura de um número maior de vasos (mais calibrosos) que
forma uma coleção de sangue afastando os tecidos vizinhos e
ocupa espaço próprio (neocavidade);
b) Ausência de infiltração do sangue nas malhas do tecido.
Localização:
a) Superficial (subungueal, subperiostal);
b) Órgãos e tecidos (fígado, baço, músculo e encéfalo);
c) Regiões anatômicas (mediastino, retroperitônio, espaços
extradural e subdural do crânio, cervical).
6. Ferida contusa:
a) Compressão da pele entre 2 superfícies rígidas;
b) Lesão da pele com bordas irregulares (solução de
continuidade), escoriadas e equimosadas;
c) Fundo e vertente irregulares;
d) Presença de pontes de tecido íntegro ligando as vertentes;
e) Pouco sangrante;
f) Integridade de vasos, nervos e tendões no fundo da lesão;
g) Ângulos obtusos e irregulares.
7. Fraturas
a) Solução de continuidade óssea;
b) Classificação: fechada ou aberta (exposta); completa ou
incompleta; cominutiva ou simples; diafisária ou epifisária;
c) Cicatrização que produz “calo ósseo”.
8. Luxações
a) Deslocamento permanente das superfícies articulares de 2
ossos com ruptura da cápsula articular e de ligamentos;
b) Pode ser completa ou incompleta (subluxação);
c) Comum em homens e nos membros superiores (articulação
escapuloumeral).
9. Entorses
a) Estiramento da cápsula de uma articulação, com ou sem rotura
ligamentar;
b) Dor intensa, impotência funcional, edema, rubor, equimose,
hematomas e derrame articular.
d) Ferida cortocontusa
e) Ferida perfurocontusa
As zonas são formadas pelos resíduos que saem pela boca do cano da
arma e atingem o alvo, dividindo-se em:
1. Zona de queimadura ou chamuscamento: queimadura causada
pelos gases em combustão. Atinge pele, pelos e roupas;
2. Zona de esfumaçamento: resíduos da combustão (fuligem)
depositados na pele ou na roupa, de cor acinzentada ou escura;
3. Zona de tatuagem: grãos de pólvora incombusta que atingem o
alvo; na pele, penetram na derme. Podem ficar na roupa.
Figura 10.16 - Feridas perfurocontusas por disparo encostado no corpo (câmara de mina
de Hoffmann)
2. Disparo (tiro) a curta distância
f) Ferida perfuroincisa
O frio também age de forma local e difusa. Sua ação local se chama
geladura e classifica-se em 4 graus:
1. Primeiro grau: palidez ou eritema e aspecto anserino da pele;
2. Segundo grau: bolhas dolorosas com conteúdo hemorrágico;
3. Terceiro grau: necrose de tecidos moles;
4. Quarto grau: gangrena ou desarticulação.
10.3.3.2 Elétrica
Figura 10.20 - Lesão elétrica (marca elétrica de Jellinek) na face plantar do hálux direito
10.3.4 Energia vulnerante físico-química (asfixias)
A palavra “asfixia” vem do grego a (falta) + sphyzo (palpitar) e
significa “falta de pulso”. É a síndrome caracterizada pela supressão
da respiração e pela cessação das trocas gasosas por causa patológica
(natural ou interna) ou violenta (externa). A fisiopatologia decorre
de ↓O2 e ↑CO2. Os sinais gerais de asfixias são:
1. Externos: manchas de hipóstase mais escuras e precoces, cianose
e petéquias na pele e nas mucosas;
2. Internos: petéquias viscerais (manchas de Tardieu), aspecto do
sangue escuro e fluido, congestão polivisceral e distensão e edema
dos pulmões.
10.3.4.2 Soterramento
10.3.4.3 Confinamento
10.3.4.6 Enforcamento
10.3.4.7 Estrangulamento
10.3.4.8 Esganadura
10.4 ABORTO
A Organização Mundial da Saúde define abortamento como a
interrupção da gestação antes de 20 a 22 semanas ou feto com peso
inferior a 500 g. Para o Direito, aborto é a interrupção da gestação,
com a morte do produto conceptual, haja ou não expulsão, qualquer
que seja o seu estado evolutivo, desde a concepção até o parto;
assim, a legislação, ao contrário da Medicina, não define tempo
limite para a ocorrência de aborto, aceitando a denominação desde a
concepção até o termo. No Código Penal Brasileiro, o aborto
provocado é considerado crime, exceto nas situações abordadas a
seguir.
10.4.1 Aborto praticado por médico (Art. 128)
a) Se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto
terapêutico – necessário).
b) Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante
(aborto sentimental – piedoso ou moral).
10.7 CREMAÇÃO
A cremação consiste na incineração do cadáver. Necessita haver
manifestação prévia ou interesse da saúde pública. A DO deve ter
sido firmada por 2 médicos ou por 1 médico-legista, no caso de
morte violenta, depois de autorizada pela autoridade judiciária.
Qual a importância do
conhecimento das
condições de morte e do
preenchimento adequado
da declaração de óbito?
O conhecimento da Medicina Legal, especialmente da
análise dos eventos relacionados à morte, assim como a
evolução clínica dos problemas relacionados a ela, é
importante não só para a avaliação médica, mas também
judicial. O conhecimento básico das resoluções que
fundamentam aborto, morte encefálica e o preenchimento
da declaração de óbito são importantes para a prática
médica, pois é inevitável, em algum momento, a sua
utilização.
# FALA AÍ
Como preencher o atestado de óbito no caso de morte natural?
Morte natural é aquela morte cuja causa básica foi uma doença ou
um estado mórbido. Ela se diferencia das mortes por causas
externas, que são mortes acidentais. Nos casos de mortes naturais,
deve-se evitar colocar expressões imprecisas como "parada
cardiorrespiratória" ou "falência múltipla de órgãos", pois são
considerados modos de morrer, e não causas básicas do óbito.
Portanto, o médico que for preencher a declaração de óbito deve
tentar ao máximo estabelecer a causa de óbito, inclusive com
anamnese com familiares caso necessário. Se, mesmo assim, não se
conseguir chegar a uma conclusão definitiva, o médico poderá
colocar na declaração que a morte foi por causa desconhecida.
# FALA AÍ
Como fica o preenchimento do atestado de óbito em casos
constatados de morte cerebral?
De acordo com a Resolução 2.173/2017 do CFM, os médicos que
determinaram o diagnóstico de morte encefálica ou os médicos
assistentes ou seus substitutos deverão preencher a declaração de
óbito definindo como data e hora aquela correspondente ao
momento da conclusão do último procedimento para determinação
de morte encefálica. Nos casos de morte por causas externas, a
declaração de óbito será de responsabilidade do médico legista, que
deverá receber o relatório de encaminhamento médico e uma cópia
do termo de declaração de morte encefálica (artigo 9º).
Qual a importância de
existir um ramo da ética
dedicado à medicina e de
que forma ela é
normatizada na profissão
médica?
11.1 INTRODUÇÃO
A Ética estuda o comportamento moral dos homens dentro de uma
sociedade, isto é, estuda uma forma específica de comportamento
humano. Baseia-se nos atos humanos voluntários e conscientes e
que podem envolver outros indivíduos, grupos sociais e até mesmo
toda a sociedade. Embora estejam profundamente relacionados, os
termos “ética” e “moral” não devem ser confundidos, mas
entendidos como complementares.
“Ética”, do grego ethos, significa “modo de ser”, “caráter”; e
“moral”, do latim mos, significa “costume”, “conjunto de normas
adquiridas pelo homem”. Portanto, esses termos se referem a duas
qualidades especificamente humanas: o “modo de ser” ou o
“caráter” de cada um, sobre o qual se assentam os “costumes” ou as
“normas adquiridas”, plasmando o comportamento moral do
homem.
A Ética Médica é responsável pelo estudo do comportamento moral
dos médicos durante o exercício profissional, ou seja, enquanto
estão em atividade médica. A Deontologia Médica, por sua vez, é
responsável pelos estudos dos deveres dos médicos, enquanto a
Diceologia estuda os direitos dos médicos. Essas duas vertentes
estão ordenadas no Código de Ética Médica (CEM): os Princípios
Fundamentais, os Direitos dos Médicos e os capítulos relativos às
vedações a eles.
A Bioética, termo criado pelo oncologista e biólogo americano Van
Rensselaer Potter em seu livro “Bioethics: bridge to the future”, é o
estudo sistemático da conduta humana na área das Ciências da Vida
e dos Cuidados da Saúde, na medida em que essa conduta é
examinada à luz dos valores e dos princípios morais. Esse conceito é
o atualmente empregado e foi lançado pela Encyclopedia of Bioethics
em 1978. Como campo emerso da Ética Médica, a Bioética é fruto da
evolução do saber e de concepções novas geradas pelas realidades
atuais da Medicina, da Biologia, da Sociologia e da Filosofia e tem
como princípios fundamentais a autonomia, beneficência e não
maleficência (Quadro 11.1).
Quadro 11.1 - Princípios da Bioética