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Ao meu cachorro Popoto que, por querer passear exatamente nas mesmas horas que eu
decidia estudar, me ensinou que é sempre bom caminhar no bosque antes de iniciar uma
atividade. Agradeço também pelo companheirismo, amor, risadas e por aliviar qualquer
estresse só com o olhar. Por último, por ser o meu despertador todo dia de manhã. Por
mais que na hora não pareça bom, você me faz aproveitar mais os dias.
especiais. Por sempre torcer por mim e me inspirar a melhorar a cada dia. Obrigada por
pelas risadas.
À Fernanda Salgado, pela orientação neste trabalho e por tudo que me ensinou até
agora. Obrigada pela paciência, cuidado, disponibilidade, palavras de apoio e por ser
obrigada pelas horas de estudo em grupo sempre muito proveitosas, pelas risadas,
Fernanda P. Pozzobon
i
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
1.1 Objetivo ..................................................................................................................... 3
2 REVISÃO TEÓRICA...................................................................................................... 4
2.1 Estruturas de concreto armado ................................................................................... 8
2.2 Uso do concreto armado na construção civil ........................................................... 13
3 PATOLOGIA NO CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL.................................. 15
3.1 Vida útil e desempenho de uma edificação .............................................................. 15
3.2 Conceito de Sintoma ................................................................................................ 17
3.3 Origem das Patologias ............................................................................................. 17
3.4 Conceito de causas endógenas, exógenas e naturais ................................................ 18
4 PRINCIPAIS PATOLOGIAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ................... 22
4.1 Fissuras e trincas ...................................................................................................... 22
4.2 Corrosão das armaduras ........................................................................................... 28
4.3 Carbonatação............................................................................................................ 32
4.4 Flechas excessivas ................................................................................................... 34
4.5 Esmagamento do Concreto ...................................................................................... 36
4.6 Nicho de Concretagem ............................................................................................. 37
5 ESTUDOS DE CASOS .................................................................................................. 40
5.1 Estudo de caso 1 – Deterioração estrutural em um estádio de futebol no Rio de
Janeiro........................................ .......................................................................................... 40
5.2 Estudo de caso 2 – Relato e Análise do Colapso total de um edifício em concreto
armado. ................................................................................................................................ 44
5.3 Estudo de caso 3 – Falta de Projeto e de Supervisão Técnica Causa Queda de um
Prédio em Volta Redonda, RJ. ............................................................................................. 47
6 CONCLUSAO ................................................................................................................ 51
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 52
ii
Lista de Figuras
Figura 2.1 – Seção em escala da grande pirâmide de Quéops, Egito. (Fonte:
Figura 2.2 - Tijolos de argila secando ao sol. (Fonte: BENEVOLO, 2007, p.30). .... 6
Figura 2.4 – Dois edifícios de aço: Leiter Building, em Chicago, de 1885, à esquerda e
p.617). ............................................................................................................... 8
Figura 2.5 – Diversas ideias de Joseph Monier para o uso do concreto armado. (Fonte:
Figura 2.8 – Diferentes geometrias das barras de aço utilizadas. (Fonte: Notas de aula,
Figura 2.9 – Comportamento de uma viga de concreto, sujeita à flexão simples, com
Figura 3.1 – Vida útil de projeto mínima. (Fonte: MEREB, 1999, p.9). ................... 16
Figura 3.2 – Origem das manifestações patológicas. (Fonte: HELENE, 2003, p.22). 18
iii
Figura 4.2 – Fissuração em viga submetida a flexocompressão. (Fonte: SOUZA, 2003,
p.58). ................................................................................................................. 23
Figura 4.3 – Fissuração por torção (à esquerda) e por puncionamento da laje (à direita).
Figura 4.8 – Carbonatação agravada por fissura pré-existente. (Fonte: SOUZA, 2003,
p.76). ........................................................................................................................... 32
iv
Figura 4.14 – Exemplo de nicho de concretagem. (Fonte:
Figura 5.2 – Planta do esquema de recuperação dos tirantes. (Fonte: CUNHA et al,
v
1 INTRODUÇÃO
(CUNHA et al., 1996). Essas características também devem estar de acordo com as
Não é uma tarefa fácil atingir esses objetivos simultaneamente. Por isso, desde o
prazos e economizando materiais, trouxe como tendência natural o aumento dos vãos
das estruturas, deixando-as cada vez mais esbeltas (o que, na construção civil, significa
que às vezes significa a busca de materiais com menor qualidade), com prazos mais
curtos e com demandas estruturais cada vez maiores. Não é surpresa então que muitas
e normas.
A melhor maneira de identificar se uma estrutura está ou não dentro dos padrões de
desempenho, é através do estudo das patologias que ela possa apresentar. Uma análise
cuidadosa dos sintomas e suas origens é essencial para manter a integridade de uma
estrutura com algum grau de deterioração. Por isso, conhecer os principais sintomas e
1
suas origens, é uma habilidade vantajosa para engenheiros, tanto para o reconhecimento
objetivos das construtoras, dado que o custo para a resolução de um problema torna-se
O foco nas principais patologias que afetam as estruturas de concreto armado, deve-
madeira, mas que não têm suas respectivas patologias descritas nesse trabalho, com
Com isso, o Capítulo 2 realiza uma breve revisão teórica sobre o concreto armado,
atual. Também define conceitos importantes que acercam as patologias das construções
armado.
2
O Capitulo 4 descreve as principais patologias do concreto armado encontradas na
Por último, o Capitulo 5 reúne três estudos de caso que tem como objetivo ilustrar
1.1 Objetivo
Este trabalho tem como objetivo apresentar e analisar as patologias mais comuns
patologias como vida útil, desempenho e o processo de exame patológico. Por fim,
3
2 REVISÃO TEÓRICA
dos homens:
data em 2,5 milhões de anos atrás. Porém, ambos os autores concordam que,
significativo.
b) A partir do ano 10 mil a.C., o Homo Sapiens (agora, a única espécie humana
complexos.
4
Dessa maneira, com agricultores que mantinham uma população em crescimento
simples, de poucos andares, as construções mais complexas não faziam parte da cidade
comum; eram espaços separados e sagrados, destinados aos deuses ou com outras
tiveram seu uso disseminado no séc. XIX, as obras, até então, empregavam os mesmos
5
materiais desde os antigos impérios: madeira, tijolos fabricados de pedra ou argila,
palha e argamassas.
exemplo, é utilizada nas cidades do Oriente até os dias atuais. Essa técnica, chamada
Ferro, o seu uso inicial era basicamente limitado a fabricação de armas e utensílios
domésticos. Após a revolução industrial, no séc. XVIII, além dos materiais já citados
do material foi substituída pela industrial, o que aumentou sua escala de produção.
Como exemplo notável, o “Palácio de Cristal”, em Londres, foi construído por volta de
6
1850 e consistia num edifício de 33 m de altura e 92 mil m2, construído de ferro fundido
1
Fonte: Site Encyclopedia Britannica. 2018. Disponível em https://www.britannica.com/topic/Crystal-
Palace-building-London. Acesso em: 13 abril 2018.
2
Fonte: Site do Programa de Educação Tutorial. 2013. Disponível em
https://blogdopetcivil.com/2013/07/31/a-historia-do-concreto-armado/. Acesso em: 14 mar 2018.
7
Figura 2.4 – Dois edifícios de aço: Leiter Building, em Chicago, de 1885, à esquerda
e o Woolworth Building de Nova Iorque, de 1910, à direita.
(Fonte: BENEVOLO, 2007, p.617)
construção civil relativos ao concreto armado, tornando-os cada vez mais seguros,
patologias que comprometem a vida útil da edificação, bem como sua causa e origem,
A utilização de pedras e tijolos de argila já era conhecida por volta de 3000 a.C. Na
Grécia, em 800 a.C., o uso de argamassas já era bastante difundido. Já em 300 a.C., o
8
Império Romano começou a utilizar o concreto, que, à época, consistia em uma mistura
concreto foram esquecidos nos séculos seguintes. Após o declínio do Império Romano,
no séc. IV, a Europa passou por um processo de ruralização. Na época da Idade Média
Joseph-Louis Lambot: um barco. Apesar de sua invenção não ter lhe atribuído muita
atenção de um jardineiro chamado Joseph Monier, que viu ali uma alternativa para seus
cálculos, ele chegou a construir reservatórios de água, pontes, passarelas e até vigas
Figura 2.5 – Diversas ideias de Joseph Monier para o uso do concreto armado.
(Fonte: Site Provance Beyond 4)
3
Fonte: Site O Mundo do Cimento. 2008. Disponível em <http://cimento.org/concreto/>. Acesso em:
08 mar 2018.
4
Fonte: Site Provence Beyond. 2014. Disponível em <http://www.beyond.fr/people/monier-joseph-
photo-gallery.html?p=3 - 14/03>. Acesso em 14 mar 2018.
9
Suas patentes foram então compradas pelo engenheiro alemão Gustav Adolf Wayss,
estrutural depende da aderência entre concreto e armadura, e nos quais não se aplicam
Propriedades do Concreto
(cimento) e água, sendo possível a eventual adição de outros materiais para alterar suas
diretamente dos materiais utilizados nessa mistura, da proporção entre eles (que
depende das condições em que esse concreto será utilizado) e da maneira como esses
empregado na mistura não for hidratado por algum descuido, o concreto terá sua
resistência afetada.
5
Fonte: Site Programa de Educação Tutorial.2013. Disponível em
https://blogdopetcivil.com/2013/07/31/a-historia-do-concreto-armado/. Acesso em: 14 mar 2018.
10
Assim, seu peso específico, resistência à abrasão, permeabilidade, retração,
como a mistura foi feita e das condições de cura. Entretanto, uma característica em
comum entre todos os concretos (salvo exceções aditivadas) é sua baixa resistência a
tração e grande resistência a compressão (ibidem), como pode ser visto nas Figuras 2.7
e 2.8 abaixo.
11
Propriedades do Aço
O aço é uma liga metálica formada essencialmente por ferro e carbono, contendo
dilatação equivalente ao do concreto (em torno de 10−5 °𝐶 −1) e que apresenta valores
aços específicos para armaduras devem obedecer à ABNT NBR 7480 (CARDOSO,
2016).
podem ser classificadas de acordo com sua geometria superficial (lisas, nervuradas ou
entalhadas – conforme Figura 2.9) e de acordo com sua resistência ao escoamento (𝑓𝑦𝑘 ).
no interior de uma matriz de concreto. O aço tem a função de “suprir” a baixa resistência
armado (notas de aula Daniel): quanto mais eficiente for a aderência aço-concreto, mais
Dessa forma, é intuitivo posicionar as barras de aço nas regiões mais sujeitas a
esforços de tração, como exemplifica a Figura 2.10. Nesse cenário, o concreto resiste
12
bem na parte comprimida. Na parte tracionada, assim que a tensão de tração atuante
ultrapassa o valor suportado pelo concreto, o aço começa a atuar, impedindo que a viga
Figura 2.9 – Comportamento de uma viga de concreto, sujeita à flexão simples, com
armadura onde se concentram as tensões de tração.
(Fonte: Notas de aula, Daniel Cardoso, 2016, PUC-Rio)
utilização mínima de armadura, podemos concluir que o consumo de aço para essas
acompanham tal tecnologia, etc. Por isso, para entender porque o uso do concreto é tão
13
a) Resistência à maioria dos tipos de solicitações (quando realizada uma boa
estruturas;
a madeira.
recuperação.
6
Fonte: Site Sindicato Nacional da Indústria do Cimento. 2013. Disponível em
http://snic.org.br/numeros-relatorio-anual.php. Acesso em 13 Abril 2018.
14
3 PATOLOGIA NO CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
década de 70, acompanhado de termos que também fazem um paralelo com a medicina
situações, identificar a(s) patologia(s) consiste em apenas uma das fases do conjunto de
desempenho de uma edificação, para que, caso ocorra a não conformidade dos mesmos,
as estruturas de concreto armado devem ser projetadas e construídas de modo que, sob
A norma define vida útil de uma edificação como o período de tempo durante o qual
15
funcionais, sem que seja necessária a realização de manutenção e reparos extras, não
O conceito de vida útil pode ser usado para a estrutura como um todo ou apenas
para algumas de suas partes. Por exemplo, as instalações elétricas e sanitárias de uma
edificação podem (e geralmente têm) uma vida útil menor do que os elementos
estruturais da mesma. Alguns exemplos de vida útil de projeto mínimas para alguns
devendo apresentar danos que comprometam em parte ou totalmente o uso para o qual
foi projetada”.
16
3.2 Conceito de Sintoma
defeitos, lesões e danos que podem ser visualizados na edificação. Podem ser descritos
2003).
Um mesmo sintoma pode ter causas diferentes, assim como uma mesma causa pode
(segundo sintoma).
A facilidade com que esses termos se confundem é o que torna necessária sua
edificação pode ser dividido em cinco grandes etapas: planejamento, projeto, fabricação
de materiais e componentes, execução e uso, sendo essa última etapa a mais longa,
maior incidência na fase de uso, às vezes muitos anos depois da conclusão do projeto.
17
Por isso, um diagnóstico adequado deve indicar em que etapa do processo construtivo
A Figura 3.2 a seguir quantifica a origem dos problemas patológicos com relação
do custo total do empreendimento, a fase de projeto origina uma grande parcela desses
problemas, que são, em geral, mais graves e difíceis de corrigir do que as falhas devido
origem que, por sua vez, permite identificar um responsável pela falha. Por exemplo, a
sobrecarga (causa) pode gerar uma fissura em viga por ação do momento fletor
(sintoma), mas pode ter sua origem tanto no projeto (erro de cálculo) quanto no uso da
18
pretende-se corrigir a falha encontrada. Assim, identificar os agentes causadores é o
que torna possível providenciar as medidas de correção corretas para aquele sintoma.
cinco grandes grupos. Por sua vez, as manifestações patológicas também são agrupadas
condições de serviço serão muito mais duráveis, efetivas, fáceis de se executar e mais
baratas. A demonstração dessa afirmação é chamada “lei de Sitter”, que mostra que os
custos de uma correção crescem seguindo uma progressão geométrica de razão 5 com
19
Figura 3.3 – Lei de Sitter.
(Fonte: HELENE, 2003, p.23)
naturais. De acordo com Grandiski (2011), as causas exógenas são aquelas com origem
fora da obra e/ou projeto ou provocadas por fatores produzidos por terceiros. Pode-se
b) Escavações de vizinhos;
em construção ao lado;
a) Falhas de projeto;
20
b) Falhas de gerenciamento ou execução (desobediência as normas técnicas,
desqualificada)
Por fim, as causas naturais são aquelas com origem na natureza, muitas vezes
21
4 PRINCIPAIS PATOLOGIAS DAS ESTRUTURAS DE
CONCRETO
Embora represente uma patologia, por mais branda que seja, nem sempre as fissuras
e trincas são caracterizadas como uma deficiência estrutural. Isso dependerá da sua
até 0,5 mm e, quando ultrapassam esse valor, passam a ser denominadas trincas. Essa
concreto armado fissurará por natureza enquanto “trabalha”, sempre que o esforço de
tração for maior que a resistência a tração do concreto. Tal fato não representa um
perigo iminente, dado que em estruturas de concreto armado o aço tem a função de
importante instrumento de análise das possíveis causas. Essa análise, pode ser feita
longo do tempo, da sua extensão e profundidade. Logo, o primeiro passo desse processo
22
abertura no tempo: uma fissura ativa, ou viva, aumenta de tamanho, enquanto uma
Assim, a seguir, serão analisadas as principais causas e efeitos por trás do fenômeno
de fissuração.
As causas estruturais que tem influência direta na formação de fissuras podem ser
várias, cada uma com uma configuração própria de fissuração em função do tipo de
23
Figura 4.3 – Fissuração por torção (à esquerda) e por puncionamento da laje (à
direita).
(Fonte: SOUZA, 2003, p.60)
acima, não estão em conformidade com o desempenho em serviço exigido pela norma
edificação.
dessa causa ser muito comum, podem existir outras. Mudanças no uso da estrutura,
de controle tecnológico, entre outras, podem ser agentes causadores de fissuras devido
reações químicas que irão originar o concreto endurecido. É exatamente durante esse
24
A retração plástica ocorre quando a evaporação da água presente na superfície
paralelas entre si e formam ângulos de 45° com os cantos (SOUZA, 1998, p. 61).
Concretos com alto fator água/cimento, expostos a ambientes secos, são os que
(GAIOFATTO, 2005).
natural da massa, resultante da ação da força da gravidade. Sempre que este movimento
25
Essas fissuras têm a características de se formarem na direção das armaduras,
(já endurecida) que é contrariado pela existência de restrições por obstáculos internos
Os elementos estruturais que mais são afetados por esse fenômeno são os de
grande dimensão e/ou volume de concreto. Nesses casos, é importante cuidar para que
a mistura não tenha mais água do que o necessário e que o processo de cura seja
26
realizado adequadamente. Esse cuidado deve ser tomado principalmente quando as
peças estão sujeitas a altas temperaturas, baixos teores de umidade do ar, incidência
direta de ventos e radiação solar (SOUZA, 1998, p.64). A Figura 4.6 representa as
perda de volume do concreto que ocorre durante a hidratação do cimento nos primeiros
Recalques diferenciais, por exemplo, merecem atenção especial pois eles são
responsáveis por gerar fissuras decorrentes de esforços não previstos na estrutura. Eles
através de um estudo minucioso do solo, além das tensões e deformações a que ele pode
27
devido a dilatação ou contração térmica sofrida pelo concreto e geram fissuras quando
com Souza, a prevenção contra este tipo de fissuração deve ser feita através da
detalhamento das armaduras de peças que possuam inércias muito diferentes, pela
correta disposição de juntas de dilatação e ainda pela consideração das cores das
no uso da estrutura (que, por sua vez, pode gerar fissuras decorrentes de cargas
excessivas na estrutura).
envolve, atuando como uma peça única. Entretanto, sabe-se que o concreto é um
material poroso e sujeito a fissuração, que se traduzem como caminhos para os agentes
concreto, uma proteção extra contra agentes externos é conferida às armaduras por
reações químicas que ocorrem durante a cura do concreto. Essa proteção surge na forma
28
pela elevada alcalinidade da solução aquosa existente no concreto (pH entre 12 e 14),
resultado do excesso da água de amassamento que reage com os sais minerais presentes
no cimento. Ou seja, as barras estarão protegidas por essa película se estiverem imersas
passivante existente ao redor de toda a superfície exterior das barras. De acordo com
Souza (1998, p.67), esse desgaste da camada protetora pode ocorrer através de alguns
mecanismos:
armaduras de aço;
CO2 (carbonatação).
barra de aço. Desta forma, instala-se um efeito de pilha, onde a corrosão ocorre pela
29
geração de uma corrente elétrica com sentido do anodo para o catodo (através da água)
direção ao seu interior, com constante troca de seção de aço resistente por ferrugem. A
7
Fonte: Site do Clube do Concreto. 2015. Disponível em <
http://www.clubedoconcreto.com.br/2015/02/a-deterioracao-da-carbonatacao-do.html>. Acesso em
15 Jun 2018.
30
a) Perda de aderência entre o aço e o concreto, alterando a resposta da peça
volumétrica das barras de aço durante o processo de corrosão. Tal fato ocorre
corrosão, que para ocupar o seu espaço, exerce uma força de até 15 Mpa sobre
o concreto;
Nesse caso, o processo tende a se agravar cada vez mais, uma vez que as fissuras
que agentes agressores não atinjam a armadura. Na prática, essas medidas equivalem a
Assim, de acordo com o que foi visto em relação ao processo de corrosão, conclui-
se que este está impossibilitado de ocorrer em concretos secos (a falta de água não
possibilita a criação dos cátions ferro) e nem em concretos saturados (pois nesse caso
falta oxigênio). As peças mais sujeitas a corrosão são aquelas que estão eventualmente
expostas a água.
31
4.3 Carbonatação
carbônico ou CO2 ) presente na atmosfera penetra nos poros do concreto e reage com o
(ibidem). Quanto maior a concentração de CO2 , menor será o pH e mais espessa será a
camada de concreto carbonatada, que também pode ter seu desenvolvimento acelerado
aprofunda até atingir a armadura, é capaz de quebrar o filme óxido que a protege e
dissolvido em uma película úmida com o álcali em solução. O pH referido como “do
concreto” é o pH da fase líquida em equilíbrio com a massa sólida. Assim, para que
32
possa se dissolver (Blog Manifestações Patológicas8). Na Figura 4.9, tem-se um
equação 4.1.
indicador de pH, a fenolftaleína (𝐶20 𝐻14 𝑂4 ). Essa substância permanece incolor para
8
Fonte: Blog Manifestações Patológicas. 2013. Disponível em
http://manifestacoespatologicas.blogspot.com/2013/05/carbonatacao-do-concreto.html. Acesso em
15 jun 2018.
9
Fonte: Blog Manifestações Patológicas. 2013. Disponível em
http://manifestacoespatologicas.blogspot.com/2013/05/carbonatacao-do-concreto.html. Acesso em
15 jun 2018
33
Figura 4.10 – Esquema de ação da carbonatação.
(Fonte: Site do Blog Manifestações Patológicas10)
limites de valores para deformações na estrutura, de modo que estas não sejam
10
Fonte: Blog Manifestações Patológicas. 2013. Disponível em
http://manifestacoespatologicas.blogspot.com/2013/05/carbonatacao-do-concreto.html. Acesso em
15 jun 2018
11
Fonte: Site do Portal Itambé. 2009. Disponível em <
http://www.cimentoitambe.com.br/carbonatacao-do-concreto/>. Acesso em 15 jun 2018
34
aceitabilidade sensorial, efeitos em elementos não estruturais e efeitos em elementos
estruturais.
efeito visual desagradável por quem utiliza a estrutura. Os efeitos em elementos não
Como visto anteriormente, o concreto armado pode fissurar enquanto resiste aos
A norma NBR 6118 oferece recursos para o cálculo das flechas imediatas e das
Entretanto, as deformações iniciais tendem a ser maiores quanto mais acelerado for o
35
Esse sintoma do concreto armado afeta principalmente as alvenarias, ilustrado na
esbeltez das estruturas tem contribuído com a formação de flechas excessivas e outras
patologias:
compressão, porém fragilidade sob tração. Quando em flexão, rompe por fissuração a
partir das zonas tracionadas. Quando se avalia o concreto armado sob as mesmas
fica sujeito a sofrer danos por esmagamento, ou seja, a ruptura em sua zona comprimida
porém, se a taxa de armadura na peça for muito elevada, o concreto começa a sofrer
danos excessivos por compressão (ibidem). Em outras palavras: quanto mais elevada a
12
Fonte: Site do Portal da Arquitetura, Engenharia e Construção. Disponível em
<https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/patologias-da-alvenaria-como-evitar_11988_10_0>.
Acesso em: 11 jun 2018.
36
mais esforços atingem as áreas comprimidas do elemento, às vezes ultrapassando a
sujeito à flexão, o elemento se rompe por flexão antes que tenha “tempo” de sofrer
Esta patologia também é caracterizada por ter sua origem facilmente identificável:
13
Fonte: Site da revista téchne. 2006. Disponível em http://techne17.pini.com.br/engenharia-
civil/109/artigo287074-1.aspx. Acesso em 15 jun 2018.
37
ocorre uma redução da área resistente (diferente da dimensionada) e vazios que
Em alguns casos, porém mais raros, a patologia pode ser gerada pelo
Téchne15).
A vibração incorreta do concreto pode gerar vazios tanto quando ela é ineficiente
14
Fonte: Site do Portal Itambé. 2009. Disponível em <
http://www.cimentoitambe.com.br/carbonatacao-do-concreto/>. Acesso em 15 jun 2018
15
Fonte: Site da revista téchne. 2006. Disponível em http://techne17.pini.com.br/engenharia-
civil/109/artigo287074-1.aspx. Acesso em 15 jun 2018.
38
tendem a chegar na base do elemento estrutural antes da argamassa (pela ação da
Uma vez que essas patologias são identificadas, devem ser cuidadosamente
original.
39
5 ESTUDOS DE CASOS
com Cunha et al. (1996), uma das formas de minimizar o número de acidentes na
cuidados podem gerar danos muito custosos às estruturas. O segundo tem como
Por fim, o terceiro caso aborda como o processo errado de execução da estrutura e a
classificação utilizada na Figura 3.2, tem-se três exemplos para três etapas distintas do
ciclo de vida de uma edificação: uso, execução e projeto. Essas três etapas, juntas,
concreto armado.
é inexistente para a maioria das obras públicas de grande porte como pontes, viadutos,
canais, galpões e edifícios. No setor privado, a situação não é muito diferente, pois o
40
setor carece de uma fiscalização efetiva por parte das autoridades municipais (CUNHA
acidente aconteceu, mas, na época da intervenção, que tinha como objetivo recuperar a
estrutura, o risco de uma situação grave ocorrer era muito alto (ibidem).
Uma vistoria efetuada no local indicou que as áreas mais deterioradas eram as lajes
da marquise e suas respectivas vigas de suporte. As faces externas das colunas e tirantes
41
Anteriormente, outras vistorias foram realizadas, todas apontando que a estrutura
1996, p.196).
das barras das vigas (o concreto não resistiria sozinho). A opção adotada então foi o
b) Substituição das barras com perda de seção por novas, soldadas às barras
areia e água;
deteriorado, limpeza das barras com jatos de areia e água, seguidos de aplicação de
concreto projetado.
foi aplicado nas colunas da estrutura. Em algumas a perda de seção resistente do aço
pela corrosão chegou a 50% da seção original (CUNHA et al, 1996, p.198).
42
Nos tirantes, por terem todas as suas barras de armadura submetidas a tensões de
poderia levar ao colapso da estrutura. Assim, optou-se por não substituir as barras
Esse caso, mostra que mesmo uma estrutura bem projetada e construída está sujeita
a forte deterioração se não passar por uma manutenção constante, chegando ao ponto
43
5.2 Estudo de caso 2 – Relato e Análise do Colapso total de um edifício em
concreto armado
O seguinte caso apresenta um relato resumido e uma análise das principais causas
fase final de construção, o que levou 40 operários ao óbito (CUNHA et al, 1998, p.198).
formação de fissuras e trincas, que se estenderam por alguns poucos dias. Medições em
busca de recalques verticais foram realizadas sem sucesso e as causas das falhas
equipamento. Essa análise foi realizada através de modelos numéricos, com o intuito
As cargas nos pilares no nível das cintas dos blocos de fundação estão ilustradas na
Figura 5.3. De acordo com os autores, para cada pilar, tem-se as cargas calculadas
44
Percebe-se que alguns dos pilares tem seus valores de carga permanente superior às
adotados (1,3) para a capacidade de carga de ponta das estacas eram consideravelmente
menores que o valor igual a 2 recomendado pela NBR 6122 e que não houve
preocupação em posicionar as estacas de forma que os perfis tivessem sua maior inércia
carga devido as cargas atuantes no momento do colapso (CUNHA et al, 1998, p.69).
segurança (1,12) inferior ao exigido pela norma (1,4), para o cálculo da resistência de
45
e o grupo de cinco estacas metálicas (ibidem). Essa instabilidade levou ao mecanismo
Como resumo das conclusões obtidas a partir dos estudos realizados na edificação, as
térreo, para impedir deslocamentos horizontais dos pilares e dos blocos de fundação
46
flambagem para cargas de serviço inferiores à carga resistente exigida pela norma NBR
d) A concepção estrutural básica, que gerou momentos resultantes não balanceados nos
resultados obtidos através de cálculo mais refinado indicaram que alguns pilares
Depois do ocorrido, uma comissão foi instituída para tentar analisar as causas do
alguma forma com a construção, em menor ou maior grau. O autor constata que a
postura dos envolvidos seguia a rotina esperada para obras de pequeno porte,
47
geralmente menos preocupada em seguir normas, se ater ao projeto ou se preocupar
b) Depoimento do responsável pela construção: “Não sabia que a obra estava sendo
executada”;
estrutura para executar, nunca tive orientação técnica com relação ao concreto ou
vivência profissional, acho que a queda da obra pode ser atribuída ao mau
falha. Assim, considerou-se plausível que a ruptura realmente tenha iniciado nos pilares
centrais, já que estes são geralmente solicitados por cargas maiores que os pilares das
Outro fator que apontou a negligência durante o processo construtivo foi a grande
quantidade de falhas encontradas nos escombros do desabamento, tais como: vigas com
48
baixa resistência e falta de espaçadores para garantir o cobrimento da armadura.
dados sobre o traço do concreto. Logo, é plausível afirmar que a obra não atendeu a
nenhum critério de supervisão técnica que eliminasse da estrutura o seu risco de colapso
(ibidem).
Apesar desse caso representar uma situação extrema, em que nenhum critério de
segurança durante a execução foi seguido, essa é a realidade de uma enorme parte das
obras de pequeno e médio porte no Brasil. Uma pesquisa realizada pelo Instituto
16
Fonte: Site do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.. 2015. Disponível em
http://www.caubr.gov.br/pesquisa2015/como-o-brasileiro-constroi/. Acesso em: 11 jun 2018.
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Figura 5.5 – Dados relativos a maneira que o brasileiro contrata profissionais da
construção.
(Fonte: Site do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil17)
17
Fonte: Site do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.. 2015. Disponível em
http://www.caubr.gov.br/pesquisa2015/como-o-brasileiro-constroi/. Acesso em: 11 jun 2018.
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6 CONCLUSAO
Este trabalho teve como objetivo apresentar e analisar as principais manifestações
patológicas que afetam as estruturas de concreto armado, assim como as suas principais
engenharia civil: química dos materiais, interação física e química entre os diferentes
das normas técnicas que regem os projetos de engenharia e conhecimento dos processos
construtivos.
maneira de evitá-los.
Os estudos de caso apresentados são exemplos de erros que não devem ser
A Figura 3.2 demonstrou que a origem das manifestações patológicas pode estar
presente em qualquer uma das fases do ciclo de vida de uma edificação. Isso significa
que cada fase pode ser otimizada com o objetivo de minimizar a ocorrência de
patologias. Tal fato ilustra que diversas melhorias ainda podem ser realizadas nos
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENEVOLO, L.; História da cidade. 4𝑎 edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 2007.
GIONGO, J. S.; Concreto armado: propriedades dos materiais. São Carlos: Escola de
Engenharia de São Carlos – USP. 2007.
CARDOSO, D.; Notas de aula sobre concreto armado. Rio de Janeiro: PUC-Rio.
2016
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