Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Monografia-Rodrigo-Final - Desenho Urbano e Segurança
Monografia-Rodrigo-Final - Desenho Urbano e Segurança
CURITIBA
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
ORIENTADORA:
Profª. Letícia Nerone Gadens
CURITIBA
2017
Termo de Aprovação
Orientadora:
_______________________________________________________________
Examinadora:
_______________________________________________________________
Examinadora:
_______________________________________________________________
Monografia defendida e aprovada em:
Curitiba, ____ de _____________ de 2017
À Miku.
Agradecimentos:
Aos amigos do curso, pelo privilégio de
sua amizade e convivência.
The following essay chooses as central theme the relationship between safety and
criminality with urban design, approached initially through the theorical conceptualizing
of safety and violence and Urban Planning and Design as methods of organizing the
urban space, and the cross junction between these concepts, aiming to identify the
morphological elements of urban space with the capacity to influence the criminal
activity positively or negatively, positioning the several theories and schools of Urban
Planning proposing solutions to the problem, in order to build a matrix to aid the
synthesis of their policies. This work also brings forth an analysis of three cases that
employed Urban Design tools dedicated to security and a study of Curitiba’s situation
with an analysis of its spatial, demographical and socioeconomic data, the spatial
occurrence of its crime activity and the place the themes of security occupy in Curitiba’s
Urban Planning. These findings subsidized the choice for intervention area and
proposition of preliminary project directives.
Keywords: Urban Planning. Urban Design. Security. Criminality. Violence. Safe Space.
Curitiba.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 94
1 INTRODUÇÃO
2 CONCEITUAÇÃO TEÓRICA
1
Na física aristotélica, a noção de causalidade é adotada para explicar ocorrências e se desdobra em
quatro tipos de causas: materiais (aquilo que compõe o fenômeno, por exemplo os tijolos de uma casa),
formais (a configuração que esses materiais adquirem, como a disposição dos tijolos para criar
paredes), eficientes (a ação que permitiu que o fenômeno existisse, no caso o trabalho do construtor)
e finais (a finalidade do fenômeno, como a função de abrigar da casa). No reino da natureza as causas
são encontradas em abundância: a brisa sopra para polinizar as plantas, a chuva cai para fertilizar os
campos, e as plantas frutificam para alimentar os animais. No caso do homem, este também possui
uma causa final, mas a distinção que o separa do resto dos animais é a maneira como essa finalidade
se apresenta: o telos de um homem somente se manifesta moralmente, isto é, a partir da investigação
de como este homem deve se comportar perante a si à sociedade, reflexão ausente do comportamento
dos demais animais. A proposta política de Aristóteles é a cidade que forma bons cidadãos, negando
por antecipação proposições jurídicas da organização política de um Estado, para quem este deve
apenas prover uma estrutura neutra de direitos (SANDEL, 2014, p. 233-255).
17
2
Na psicologia freudiana, pulsão é definida como o resultado do excesso de carga erótica, atuando
comumente no sentido da sua própria satisfação. Uma de suas formas mais conhecidas é o desejo,
embora as pulsões também possam agir na direção oposta da satisfação do desejo, quando o princípio
de realidade, por exemplo, determina como prioridade a manutenção da identidade ou integridade física
do indivíduo. (KEHL, 2009)
19
A adoção desta tecnologia pelo Estado operou a mudança de atitude deste com
relação à aplicação de penas e manutenção da segurança, que pode ser remetida à
estória que Freud nos propôs: inicialmente, a aplicação das penas na história dava-se
de maneira pública, através do emprego da tortura, dor e suplício em praça aberta,
levada a cabo por um carrasco que representava a figura do Rei, com a finalidade de
demonstrar seu poder diante da audiência do espetáculo da punição. Tais espetáculos
deram lugar à sobriedade na aplicação das leis: elas não mais acontecem na esfera
pública, ao contrário, são aplicadas sobretudo com base no princípio da exclusão, do
encarceramento, cujo sistema prisional é o maior exemplo contemporâneo
(FOUCAULT, 1999). Surge a ideia de uma economia da punição: o castigo físico, a
dor e a humilhação pública dão lugar à privação de direitos e liberdade. Empregar a
sentença deixa de ser uma glorificação da força e passa a ser uma obrigação que o
Estado tolera e se impõe a um grande custo (FOUCAULT, 2008). Também o objeto
da punição se desloca: o corpo castigado pela violência é substituído pela alma, com
castigos que lhe afetem o intelecto, a vontade, os sentimentos (FOUCAULT, 1999). A
passagem do exercício da violência física, como forma de controle dos
comportamentos, à retirada dos direitos individuais, espelha a morte do pai primordial
e sua substituição pelo tabu em Freud: os recursos e técnicas utilizados para manter
tal controle serão outros, a agir no íntimo dos indivíduos. O poder exercido pela força
é substituído pelo poder disciplinar (FOUCAULT, 2008).
Foucault (1999) dará a esse processo o nome de docilização dos corpos: o
sistema estatal organizará esforços de forma a evitar o confronto violento por meio da
criação de instituições cujo objetivo é a disciplina e vigilância, como escolas, hospitais
e a polícia. O poder disciplinar surge com o objetivo de normalizar o funcionamento
dos corpos, classificá-los e diferenciá-los. O segredo operado pelo Estado, para
extinção da força física como elemento primário da manutenção da coesão social, foi
o de transformação dos corpos em reprodutores naturais das regras vigentes,
internalizadas através do convívio com as instituições disseminadoras de sua
ideologia, ao mesmo tempo em que essa ideologia é oculta e naturalizada.
22
isolamento espacial, por via do pertencimento a grupos sociais está ligada à esfera
econômica. Favelas são o resultado de decisões políticas que, intencionais ou não,
dificultam o acesso de parcela da população à cidade formal, resultando em
ocupações ilegais, caracterizadas pela ausência do próprio Estado responsável por
essas decisões, ausência manifestada concretamente pela falta de serviços públicos
e investimentos. Observamos assim, o círculo vicioso que retroalimenta a segregação
da favela: por recorrer à violência como forma de possibilitar uma atividade econômica
viável, a favela afasta a cidade formal e a presença do Estado como prestador
serviços. De sua parte o Estado, ao tratar a população da favela como mero grupo a
ser vigiado e repreendido, negando-lhe o acesso a serviços públicos, empurra essa
população às atividades ilegais. Do outro lado, as comunidades com maior renda e
poder aquisitivo tendem a habitar aquilo que Caldeira (2011) denomina como
“enclaves fortificados”, caracterizados por empreendimentos qualificados a partir de
uma lógica e uma estética da segurança, ou seja, de um conjunto de práticas
orientadas no sentido de proteger a moradia privada do seu entorno, e de tecnologias
de controle de acesso e isolamento da malha urbana. É o caso dos condomínios
fechados de alta renda, com seus muros, suas guaritas, seus sistemas de circuito
interno de TV. Tais espaços também são partícipes do mesmo círculo vicioso, na
medida em que o afastamento progressivo do espaço urbano para o interior de
enclaves, pelas populações ricas, e a negação ao direito de acesso à cidade formal,
pela população mais pobre, incitam um conflito cujas interações violentas induzem à
intensificação das mesmas causas que provocam essa exclusão. Em resposta à
escalada da violência, as classes economicamente dominantes empregam cada vez
mais mecanismos de fortificação de seus enclaves, enquanto as classes de menor
renda convivem numa situação cada vez mais precária e insegura, cuja falta de
perspectivas de melhoria na qualidade de vida e acesso a atividades econômicas no
mercado formal de trabalho torna cada vez mais atrativa a opção pela criminalidade.
3
Mesmo o primeiro registro de leis escritas da humanidade, o Código de Hammurabi encontrado na
Mesopotâmia e datado de 1754 a.C., já se tratava de um código quase estritamente penal, ou seja,
uma listagem de crimes e suas respectivas penas.
28
4
A Teoria Clássica da criminologia também tem suas origens, além das fontes já citadas, na corrente
filosófica utilitarista britânica, cujo ponto central de sua teoria moral é a maximização do prazer para o
maior número possível de pessoas (SANDEL, 2014). De fato, Jeremy Bentham, um dos maiores nomes
da escola clássica da criminologia é também um dos mais conhecidos filósofos utilitaristas.
29
5
Complementaridade funcional é outro conceito adaptado da biologia para a Teoria Geral dos Sistemas.
A ideia básica é que um sistema, (por exemplo o sistema digestivo) é composto de partes distintas,
mas operando em função de um objetivo comum. Assim, para realizar a digestão e prover a energia
que um organismo necessita para realizar suas demais operações vitais, o sistema digestivo receberá
os inputs (a matéria não digerida), o processará de acordo com suas operações internas e devolverá
os outputs na forma de nutrientes absorvíveis para o metabolismo celular (LUHMANN, 2008).
30
Vietnam e o movimento pelos direitos civis dos negros, ao longo das décadas de 1960
e 1970.
Neste ponto a Escola de Chicago começou a demonstrar seu caráter
multidisciplinar, na medida em que incorporou a linguística à sociologia, por meio do
entendimento de que a interação do sujeito com o meio resulta de um intercâmbio de
símbolos e valores. A teoria do interacionismo simbólico é assim, uma teoria da
significação que, segundo Bergalli e Ramírez (2015), apresenta como características
o fato de que os indivíduos buscarão as coisas no mundo de acordo com o significado
que lhe correspondem; que tais significados são o resultado das interações sociais
dos indivíduos e que esses significados também serão decodificados por meio de um
processo interpretativo utilizado pelos indivíduos.
Para a análise do fenômeno do crime, a Escola de Chicago introduziu então
uma abordagem multifatorial, que leva em consideração tanto aspectos individuais
quanto sociais (BERGALLI, RAMIREZ, 2015). Um dos programas propostos é a noção
de ecologia social, isto é, a consideração de que a cidade sobrevive por meio de um
equilíbrio ecológico, resultado da concorrência pela distribuição do trabalho e capital
(BERGALLI, RAMIREZ, 2015). A criminalidade, segundo essa análise, depreende da
incapacidade da cidade de manter esse equilíbrio sócio ecológico, quando os laços
de solidariedade que mantém grupos sociais unidos enfraquecem e as relações entre
os membros tornam-se progressivamente mais impessoais e superficiais. Esta
perspectiva da causa do crime é um dos pontos de partida das investigações que
estudam a relação entre criminalidade e espaço urbano.
periferias as comunidades que não conseguem arcar com o custo da terra nas áreas
centrais, gerando uma disparidade social no território da cidade e uma
homogeneidade interna (CORRÊA, 1995).
Conforme já exposto na seção anterior, parte das razões que motivam a
transformação do espaço urbano dizem respeito à segurança. Seja nas cidades-
estados gregas ou nos burgos da Idade Média, a figura do muro como delimitação do
território e garantia de proteção de seus habitantes permanece a mesma. A
intensificação da ocupação das cidades faz surgir um corpo de leis, tecnologias e
profissionais visando organizar e guiar o crescimento urbano. Embora várias
experiências da antiguidade como a Cidade-Estado grega e o Império Romano
tenham dado um importante passo na direção do planejamento do espaço urbano,
sobretudo na questão do abastecimento e saneamento (como é o caso dos aquedutos
e sistemas de esgoto romanos), é com a revolução industrial que vemos a figura do
urbanista surgir enquanto tecnocrata, isto é, profissional chancelado
institucionalmente como habilitado para definir as regras da ocupação urbana
(LEFEBVRE, 2001).
O intenso processo de urbanização decorrente do período industrial, acabou
por gerar consequências espaciais tais como a compartimentalização e a segregação
segundo classes sociais. O adensamento crítico das regiões ocupadas pelas camadas
mais pobres e a acumulação de problemas de higiene e criminalidade dessas áreas,
bem como a degradação ambiental são as preocupações que motivaram este corpo
de profissionais, liderados Ebenezer Howard, a conceber a proposta da garden city
(CHOAY, 2013). Essa proposta fundamenta-se no retorno à natureza, onde a cidade
seria circundada por um cinturão verde que proveria o sustento alimentar de sua
população, a qual deveria ser controlada, considerando que as garden-cities são
concebidas para abrigar um número ideal de habitantes, sendo agressivamente
contrária ao adensamento populacional (CHOAY, 2013).
A dificuldade de aplicação das propostas deste movimento, que exigia grandes
quantias de financiamento para a obtenção de extensões de terra, acarretou em sua
rejeição nos meios profissionais. Assim, a concepção da cidade modernista surgiu
como resposta alternativa (CHOAY, 2013). Tendo como principais proponentes Walter
Gropius, Mies van der Rohe e Le Corbusier, o modernismo abarcava uma série de
propostas de desenho que incluíam desde o projeto de utilidades domésticas até à
proposição de modelos de cidade, alicerçadas em uma ideologia de exaltação da
33
[...] deu início à poderosas e destrutivas ideias: Ele concebeu que a única
forma de lidar com as funções da cidade é separar e desagregar do todo
certos tipos de usos, e dispô-los em relativo confinamento. Ele focou na
habitação como problema central, a partir do qual as outras funções eram
subsidiárias (...) Em particular, ele ignorou a intrincada, multifacetada vida
cultural de uma metrópole. (JACOBS, 2001, p. 25-26)
a) Residências unifamiliares;
b) Residências plurifamiliares de baixa verticalidade (edifícios de até três
pavimentos, chamados walk-ups, por dispensar elevadores) e;
c) Residências plurifamiliares de alta verticalidade (high-rises ou arranha-céus,
edifícios onde o tráfego vertical por elevadores é imprescindível).
Além disso, a renda das famílias também afeta a probabilidade de serem vítimas
de crimes, estando as famílias de baixa renda muito mais vulneráveis do que aquelas
de renda mediana, principalmente quando seus núcleos familiares incluem apenas um
adulto por habitação (NEWMAN, 1996).
Quando Newman (1996) cita o número de unidades de habitação social por projeto
como uma variável na probabilidade de ocorrência de crimes, o argumento que o autor
segue é o sentimento de isolamento e estigmatização percebidos por seus habitantes,
principalmente quando os projetos são voltados apenas à parcela mais carente da
população, sem a diversidade de públicos que Jacobs (2011) também defende. Essa
estigmatização torna-se apatia, que se traduz em negligência e abandono,
primeiramente por parte dos habitantes, e em seguida dos órgãos que administram e
vigiam o espaço. Tais sentimentos de isolamento e estigmatização são
39
potencializados em grandes projetos com grau limitado de acessos. Assim, ainda que
um projeto se destine a abrigar apenas habitantes de baixa renda, a apatia que corrói
o convívio e a segurança pode ser combatida, limitando não apenas seu tamanho,
mas aumentando a quantidade de acessos, reduzindo, assim, o número de habitantes
responsáveis por eles, o que facilita a criação de laços de pertencimento e
responsabilidade (NEWMAN, 1996)
Em termos de aplicações concretas do conceito de espaço defensável, Newman
(1996) apresenta primeiramente uma solução que denomina mini vizinhanças, obtidas
por meio de medidas com o objetivo de alterar a aparência e função das comunidades,
limitar o tráfego de veículos e a característica das vias locais, para que propiciem
espaços onde a comunidade possa se reconhecer e interagir. A transformação da
maioria das vias locais em cul-de-sacs e a disponibilização de apenas uma entrada
de veículos controlada por um portão, por exemplo, teriam um efeito positivo sobre a
ocorrência de atividades associadas ao crime, como tráfico de drogas e prostituição,
quando limitam as rotas de fuga e tornam o acesso da polícia mais rápido.
Assim, Newman (1996) lista alguns princípios que devem ser usados na criação
de mini vizinhanças:
Logo, quando o homem ocupa o espaço, povoando-o com sua cultura e suas
necessidades, ele gera configurações, cujo aprendizado não necessariamente passa
por um esforço consciente de articulação das partes constituintes (HILLIER, 2011).
Por exemplo, identificamos uma determinada disposição de pontos no espaço como
a letra L sem que tenhamos que considerar, definir e categorizar individualmente cada
ponto. Essa capacidade de ordenar e conferir sentido a elementos em relação
espacial de proximidade e distância ganha na sintaxe espacial o termo “regularidade
não-discursiva”. Trata-se de uma construção mental cujos aspectos configuracionais
não se apresentam de forma discursiva, ou seja, apreensível através de recursos de
43
a partir dos resultados qual a média de contatos visuais que transeuntes terão entre
si. Logo, se considerarmos uma situação de um bairro onde a frequência de encontros
é pequena, com as ruas excessivamente segmentadas, e um estreito campo de visão,
observamos uma mudança de comportamento com relação a vias que oferecem
sensação de segurança pela frequência dos encontros, que ocorrem, nesse caso, de
forma súbita, sem que o pedestre tenha oportunidade de avaliar a situação (HILLIER,
1999). Assim, como nas propostas de Oscar Newman já citadas no capítulo 2.2.2,
Hillier (1999) apresenta o caso do número e distribuição dos acessos aos edifícios
como fator influente na segurança. No entanto, ao contrário de Newman (1996), Hillier
centra sua proposta na economia de movimento, negando a construção de mini
vizinhanças por considerar a presença de indivíduos estrangeiros tão necessária
quanto a de habitantes. A vigilância passa a ser não apenas responsabilidade dos
olhos dos ocupantes das habitações, mas um processo dinâmico em que forasteiros
mantém vigilância natural do espaço enquanto habitantes vigiam forasteiros. A
proposta de Hillier (1999) fundamenta-se na questão de como desenhar um espaço
cuja economia de movimento maximize os encontros e limite a segmentação.
3.1 BIJLMERMEER
Gráfico 1 - Crimes registrados e taxas de solução de crimes na Holanda (período de 1950 – 2007)
Uma das primeiras decisões tomadas logo após o incidente com o Boeing, foi
a unificação de todas as habitações sob a tutela de uma nova associação de imóveis
chamada Nieuw Amsterdam, que absorveu os prejuízos de todas as inúmeras
imobiliárias que administravam os blocos de edifícios. Esta associação foi doravante
a centralizadora de todas as medidas de revitalização do distrito.
A primeira fase das medidas para melhorar a qualidade de vida e reduzir a
criminalidade constituiu-se de abordagens fundamentadas nas recomendações do
CPTED6, que buscaram atenuar os efeitos da grande escala dos edifícios, prevendo
ações pontuais que objetivaram aumentar a presença e o controle dos habitantes
sobre o espaço. As medidas incluíam:
Embora as primeiras mudanças tenham surtido algum efeito, elas não foram
suficientes para lidar com a complexa dinâmica dos problemas que afetavam a área,
como o tráfico de drogas, cujas atividades foram expulsas do centro de Amsterdã, o
aumento dos índices de desemprego e os cortes nos gastos sociais. Essa gama de
problemas foi suficiente para desequilibrar os efeitos positivos que o emprego da
CPTED propiciou.
6
CPTED, ou Crime Prevention Through Environmental Design, é a denominação norte-americana das
teorias de Espaço Defensável, já abordadas no subcapítulo 2.2.2.
53
Em uma das áreas onde funcionava um shopping center, foi anexado um novo
complexo de entretenimento, com um conjunto de salas de cinema, dois auditórios de
música e um estádio de futebol, o Amsterdã Arena (Figura 10).
3.2 SLUSEHOLMEN
causou grande comoção na mídia em julho de 2013) e críticas por conta do aumento
no número de homicídios, resultado de confrontos com traficantes, que avançou, na
área da Baixada Fluminense, de 1.381, em 2012, para 1.968 em 2014 e 1.507 em
2015 (INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2015).
Nesse sentido, o Programa Favela Bairro foi escolhido como correlato em
função dos resultados obtidos com relação à redução do número de homicídios, após
sua implantação, embora não tenha sido um projeto proposto exclusivamente para a
redução da criminalidade. Conforme lembra Bondaruk (2015), as propostas
urbanísticas brasileiras que surgiram, entre 1970 e 2000, não acompanharam as
discussões de espaço seguro desenvolvidas internacionalmente, com a primeira obra
brasileira sobre arquitetura defensável publicada somente em 2006.
que incluía um café e uma escola de música, projetado pela Bauhaus7. No entanto, o
projeto foi descontinuado por problemas de financiamento, e o próprio edifício acabou
entrando em situação de abandono, conforme demonstra a Figura 20.
Figura 20 - Fotografias do edifício projetado pela Bauhaus em 2004 (esquerda) e 2013 (direita)
7
Staatliches Bauhaus, mais conhecida simplesmente por Bauhaus, trata-se de uma escola fundada
em 1919 em Weimar na Alemanha por Walter Gropius, cujas contribuições mais conhecidas foram o
emprego de uma metodologia de ensino que unificou a Arquitetura com as diversas artes plásticas e o
emprego de um novo tipo de design que previa a fabricação em massa, a funcionalidade e a
racionalidade, as raízes do movimento cultural que mais tarde se disseminou como modernismo
(GALANI, 2015).
71
Curitiba é a maior cidade da região Sul do país e a oitava maior cidade brasileira
em número de habitantes, apresentando população de 1.751.907 habitantes (IBGE,
2010), estimada em 1.890.000 para o ano de 2016 (IBGE, 2017). Fundada
oficialmente em 29 de março 1693, Curitiba era inicialmente um povoado cuja
economia orbitava em torno do comércio com as caravanas de gado e tropas de
mulas, situada no caminho de uma rota comercial importante entre o interior do estado
de São Paulo e o sul do país.
O Plano Agache, elaborado em 1940, deu início à tradição do planejamento
urbano na cidade. Este plano foi comissionado em 1941 e apresentado à Câmara
Municipal em 1943. Até então todas as ações promovidas pelo estado com relação à
urbanização eram realizadas de forma pontual, sem uma visão que direcionasse o
planejamento da cidade como um todo. Medidas adotadas por Saturnino de Brito e
Cândido de Abreu entre outros limitavam-se a dispor sobre abertura e fechamento de
vias, espaçamento e testadas e características das construções (CARMO, 2011).
O Plano Agache trazia em si as discussões urbanísticas europeias da época, como o
positivismo, o discurso higienista e o modernismo funcionalista, tendo como fonte de
inspiração a intervenção do Barão de Haussmann em Paris entre outras. O traçado
urbano de Curitiba foi sendo moldado nos padrões modernistas, como a abertura de
grandes vias, a construção da imagem da monumentalidade, a preservação das áreas
verdes e a proposição de um zoneamento funcionalista (STROHER, 2014).
Embora as propostas que se seguiram tenham em parte substituídas algumas
de suas orientações originais (como a substituição da expansão urbana concêntrica e
74
radial por outra concentrada ao longo dos eixos estruturais), o discurso modernista
continuou a ser empregado nas décadas seguintes. A abertura de vias como a Av.
Cândido de Abreu e a criação do Centro Cívico, espaço destinado a concentrar as
funções administrativas do poder público, são heranças do Plano Agache que
perduram no tecido urbano (CARMO, 2011). Entre as décadas de 1950 e 1960, o
poder público do Paraná e de Curitiba conceberam uma série de mudanças com o
objetivo de continuar o processo planejamento urbano na capital, em consonância
com outros programas desenvolvidos nas outras capitais brasileiras, sob o pretexto
da modernização idealizado pelo governo federal à época. Estes esforços motivaram
a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), em
1965 (CARMO, 2015).
Ainda segundo Carmo (2015), o Paraná, até a década de 1970, possuía a
maior parte de sua população residindo nas áreas rurais, apenas revertendo essa
tendência na década seguinte, quando a população urbana finalmente tornou-se
majoritária. Foi ao longo da década de 1970 que Curitiba experimentou um grande
crescimento populacional, passando a abrigar 13,6% do contingente populacional total
do Paraná, em 1980, contra 8,9%, em 1970 (IBGE, 2017). Essa rápida expansão e, a
conurbação consequente, motivaram a definição em lei dos limites de seu território e
de sua região metropolitana, por meio da Lei Complementar Federal 14/1973.
Foi nesse contexto, do discurso da modernização e do planejamento
tecnocrático, ideologia dos governos militares da década de 1970, que Curitiba foi
eleita como cidade modelo, reproduzindo premissas do Movimento Moderno:
com o índice de desenvolvimento social, mais altos na região central, conforme figura
24.
Figura 24 - Mapa de sobreposição do índice de desenvolvimento social sobre o índice da taxa crimes
contra o patrimônio, classificados em três categorias (alto, médio e baixo)
O perfil etário mostra uma população de idade economicamente ativa, com poucos
jovens abaixo de 14 anos e idosos acima de 65. Este perfil ajuda a explicar a baixa
densidade domiciliar (1,60 habitantes/domicílio) se comparada com o total de Curitiba
(2,76 habitantes/domicílio) (IPPUC, 2015b). Esta população se distribui
majoritariamente em apartamentos, que representam 96,27% do estoque de
habitações do bairro (16.999 unidades), demonstrando sua vocação para
verticalização (IPPUC, 2015b).
Economicamente, o Centro tem como atividades principais a oferta de comércio
e de serviços, dado coerente com sua transformação em bairro turístico. A renda
média por domicílio no bairro é alta, com 53,58% dos domicílios recebendo 3 ou mais
salários mínimos, considerando que, em Curitiba, apenas 26,61% dos domicílios
encontram-se na mesma faixa de renda (IPPUC, 2015).
na cidade, de acordo com o que nos relatou o Tenente da Polícia Militar Rodrigo Perin
de Lima.
Por fim, encontramos, conforme figura 25 focos de ocorrências de roubos,
furtos e latrocínios na área. Embora a localização exata não seja precisa, em função
da forma como os dados foram disponibilizados por parte da SESP, podemos estimar
os pontos de risco, analisando as características específicas do espaço, na etapa
seguinte de elaboração do projeto de intervenção.
5. DIRETRIZES DE PROJETO
Jacobs (2011). Integração diz respeito ao conjunto de ações cujo objetivo é a conexão,
seja de grupos sociais, do espaço público com o espaço privado e, propriamente, do
recorte espacial de intervenção com a cidade, no sentido de evitar a segregação
espacial e econômica de usos e grupos sociais.
Organizando estes três elementos, elaboramos então uma matriz de análise
para a definição das ações a serem executadas no recorte espacial de intervenção
projetual.
Vigilância Criação de locais onde atividades possam ser exercidas durante todo o dia,
utilizando certos usos como recreação, hotéis, e outros tipos de comércio e
serviços
Vigilância Iluminar as vias adequadamente para evitar pontos inseguros durante o período
noturno
Controle Definição de traçados de vias e lotes que limitem as opções de rotas de fuga
(retirada de becos e vielas e facilitem a chegada da força policial (abertura de vias
estreitas)
Integração Promoção de áreas de uso misto, que agreguem funções ao invés de segregá-
Vigilância las, estendendo o período de atividade e aumentando o fluxo de pessoas
Vigilância Situar pontos de ônibus em locais de alto fluxo, dada sua vulnerabilidade como
Controle ponto de ataque por parte de criminosos
Integração Eliminação dos espaços murados e integração dos lotes ao espaço público,
Controle evitando desenhos voltados para seu interior, mas que ao mesmo tempo
indiquem barreiras claras entre o espaço público e privado (criação de áreas de
buffer e transição como jardins, pátios, etc)
Integração Definição clara do propósito dos espaços públicos e de sua escala, para que
Controle atendam bem a população em termos de faixa etária, atividades desenvolvidas,
etc.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7 REFERÊNCIAS
FERRARI, M. S. G.; FRASER, D. Design Strategies for Urban Waterfronts: the case
of Sluseholmen in Copenhagen’s Southern Habor. In: Waterfront Regeneration. New
York: Routledge, 2012.
FERREIRA, A. Favelas no Rio de Janeiro: Nascimento, Expensão, Remoção e, Agora,
Exclusão Através de Muros. In: Revista Bibliográfica de Geografia Y Ciencias
Sociales. Barcelona, Universidad de Barcelona, 2009.
GRAEBER, D. Debt: The First 5000 Years. New York: Melville House Publishing,
2011.
JACOBS, J. The Death and Life of Great American Cities. Nova York: Modern
Library, 2011.
BIRD. It has been proven, less inequality means less crime. 2014. Disponível em:
<http://www.worldbank.org/en/news/feature/2014/09/03/latinoamerica-menos-
desigualdad-se-reduce-el-crimen> Acesso em: 19 jun. 2017
CASSIDY, M. From plywood to plastic: how Phoenix plans to fight blight. 2015.
Disponível em:
<http://www.azcentral.com/story/news/local/phoenix/2015/04/02/phoenix-fights-blight-
plastic-windows/70826784/> Acesso em: 19 jun. 2017