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INCUBADORAS EMPRESARIAIS: UMA POLÍTICA COM FORMATO

GERENCIALISTA OU BUROCRÁTICO?
Geralda Cristina de Freitas Ramalheiro

INTRODUÇÃO

A resseção econômica dos anos 70 e 80 e as grandes transformações estruturais


ocorridas na economia mundial na virada dos anos 80 para os anos 90 geraram, como
uma das suas consequências mais perversas, a onda do desemprego estrutural. Para
enfrentar os efeitos sociais e econômicos desagregadores, o Estado se viu diante do
desafio de investir em políticas e instrumentos capazes de fortalecer as micro e
pequenas empresas, que representam os elos mais frágeis da estrutura produtiva e
grandes responsáveis pela geração de novos postos de trabalho. Entre esses
instrumentos despontaram as incubadoras de empresas.
As incubadoras de empresas são historicamente reconhecidas como instrumentos
de dois tipos de políticas públicas: uma, de apoio à inovação, por meio do incentivo à
criação de novos empreendimentos de base tecnológica (VEDOFELHO;
FIGUEIREDO, 2005); outra, de apoio a ao desenvolvimento local, estimulando o
empreendedorismo e fortalecendo micro e pequenos empreendimentos já existentes
(FONSECA, 2010).
Elas são consideradas, no Brasil, instrumentos de política pública, uma vez que a
grande maioria das unidades em operação no país foram implantadas com recursos
públicos e são mantidas por estes. Além disso, grande parte delas é administrada por
instituições públicas, estatais ou não. Estimativas da Associação Nacional de Entidades
Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC, 2003) apontam que, em
média, cerca de 30% dos custos operacionais de incubadoras no país são cobertos com
recursos próprios gerados pelas incubadoras, restando os demais 70% custeados pelo
poder público.
Segundo Stainsack (2003) as primeiras incubadoras foram criadas na década de
50 nos Estados Unidos. Com o movimento histórico o conceito foi se estruturando e
ganhando contornos característicos, sendo que a estrutura apresentada atualmente foi
configurada nas décadas de 70 e 80. Este contorno foi concebido através da parceria
entre governos locais, universidades e instituições financeiras (STAINSACK, 2003).

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As incubadoras se estruturam no contexto da formação de um novo modelo de
Estado, o Estado Gerencial. Sendo assim, o objetivo deste texto é apresentar a relação
entre o modelo gerencial e o movimento de incubadoras, evidenciando as consequências
do gerencialismo para a definição do formato interinstitucional dos programas de
incubação e indicando as virtudes e fragilidades dos modelos gerencialista de incubação
contrapondo os mesmos pontos do formato alternativo, o sistema de incubação
burocratizado.
A metodologia utilizada para alcançar o objetivo hora relatado foi a observação
participante (durante o período de 2009 à agosto de 2014) uma série de incubadoras
foram visitadas a fim de se realizar pesquisas destinadas ao reconhecimento das
melhores práticas realizadas em cada programa. Os dados sistematizados e apresentados
neste artigo foram retirados dos diários de campo destas atividades de campo. No mais
utilizou-se análise documental, principalmente dos convênios e editais aos quais as
incubadoras tiveram acesso e buscas em sites, jornais e artigos periódicos da área. A
realização da pesquisa encontrou dificuldades referentes à literatura, inexistem trabalhos
que analisem o movimento de incubadoras sob a ótica gerencialista e burocrática,
poucos estudos analisam o movimento de incubadoras paulistas (foram encontrados 3:
FONSECA, 2010; MALARA, 2006; e RIBERO, 2011). Como conseqüência as seções
de discussão de resultado (2 e 3) são inéditas e portanto frutos de pesquisa de campo.
O texto está estruturado em cinco seções, esta primeira introdutória e que buscou
situar o leitor no objeto em análise. A segunda seção que faz uma caracterização do
movimento de incubadoras, apontando a evolução do modelo e as possíveis virtudes dos
programas hora implantados. A seção seguinte, que objetiva fornecer uma visão geral
do arranjo interinstitucional adotado pelas incubadoras paulistas. A quarta seção que
apresenta as características do estado - e da reforma - gerencial e realiza uma breve
discussão em torno da influência destes novos pressupostos no movimento de
incubadoras, salienta-se que esta análise tem como referência as características do
movimento de implantação paulista. Por fim, a última seção aponta as considerações
finais e indica pesquisas futuras.

1 INCUBADORAS: CONCEITO E VIRTUDES

O conceito de "incubadora" é frequentemente utilizado como uma denominação


geral para as organizações que constituem ou criam um ambiente de apoio que é

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propício para a criação e o desenvolvimento de novas empresas (BERGEK;
NORRMAN, 2008). Os formuladores de políticas em níveis nacionais e locais
visualizam nestas instituições uma ferramenta para promover a dinamização econômica,
a inovação e a sustentabilidade (FONSECA, 2010).
A emergência das incubadoras de empresas - com a configuração atual - data da
segunda metade dos anos 70, tendo como países pioneiros os Estados Unidos e a França
(STAINSACK, 2003). Na sua origem, a ideia de incubadora esteve associada ao
propósito de estimular o surgimento de negócios resultantes de projetos tecnológicos
desenvolvidos no interior de centros de pesquisa, universitários ou não. O conceito
criado, então, foi o de incubadoras tecnológicas voltadas para apoiar o nascimento e o
fortalecimento das chamadas empresas de base tecnológica, “cujos produtos, processos
ou serviços são gerados a partir de resultados de pesquisas aplicadas, nos quais a
tecnologia representa alto valor agregado” (MINISTÉRIO, 2004, p. 7). A iniciativa para
a montagem dessas incubadoras foi, predominantemente, de universidades e institutos
de pesquisa, que constituíram berço e abrigo institucional das unidades criadas
(FONSECA, 2000).
O êxito inicial alcançado pelas incubadoras tecnológicas fez com que a ideia de
incubação passasse a ser vista como uma possibilidade capaz de proteger, estimular e
fortalecer os pequenos negócios em quaisquer ramos da atividade econômica. Resultado
disso é que o conceito inicial passou a receber uma grande variedade de denominações,
distintas da original.
As duas categorias que primeiramente prosperaram foram a das incubadoras
tradicionais, que, de acordo com definição do Ministério da Ciência e Tecnologia,
seriam aquelas que “abrigam empresas ligadas aos setores tradicionais da economia, as
quais detém tecnologia largamente difundida e queiram agregar valor aos seus produtos,
processos ou serviços(...)” (MINISTÉRIO, 1998, p. 7). A segunda categoria seria a das
incubadoras mistas, que abrigam tanto as empresas de base tecnológica como as
tradicionais. Mais recentemente novas categorias passaram a ser criadas, em 2003 a
Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos e Tecnologias
Avançadas [ANPROTEC](ASSOCIAÇÃO, 2003, p. 9) mencionava a existência de
incubadoras agroindustriais, culturais, de artes, de cooperativas (ou de empreendimentos
populares), sociais, de serviços e outras.
Independente da categoria tipológica, os programas de incubação apresentam
virtudes em diversos âmbitos, no plano econômico propiciam o fortalecimento da

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competitividade das empresas apoiadas, o aumento da arrecadação tributária gerada e a
dinamização das economias locais; na esfera social contribuem para a melhoria da
qualidade de vida da sociedade como um todo, isso porque estimulam a geração de
postos de trabalho e renda; no âmbito político, sistematizam parcerias para conduzir as
atividades de incubação e fortalecer o espírito associativista e articulam a comunidade
para a criação de aparato legal que fortaleça os micro e pequenos empreendimentos; em
termos culturais, percebe-se que as incubadoras são estruturas organizacionais que, nos
seus mais diversos formatos e, independente de suas origens, acabam se enraizando e
criando vínculos estreitos com as comunidades locais nas quais se instalam; é possível
também, admitir o potencial da geração de benefícios ambientais, caso atuem pela
minimização das dificuldades enfrentadas pelas empresas abrigadas na adoção de
práticas de gestão ambiental; (FONSECA, 2010); por fim, estas organizações podem ser
usadas como injeções de vitamina para regiões "cansadas" e, como estimuladores de
contração ou analgésicos no nascimento de spin-offs universitárias (BERGEK;
NORRMAN, 2008).
Para alcançar efetividade de suas características e alcançar a plenitude das
virtudes listadas acima, as incubadoras ofertam serviços capazes de fortalecer os
empreendimentos assistidos, minimizando as taxas de mortalidade e ampliando as taxas
de sucesso. Um dos serviços ofertados são os espaços físicos, tanto individuais quanto
compartilhados, que proporcionam economia de escala e redução de custos. Estes
espaços geralmente são constituídos por recepção, serviços de escritório, salas de
reuniões, salas de conferências, estacionamento, laboratórios, equipamentos de pesquisa
e instalações para produção. Outro serviço disponibilizado são atividades que aceleram
a curva de aprendizado e proporcionam , capacitação gerencial para as empresas
assistidas, geralmente em formatos de coaching e treinamento. Por fim, ofertam
também, acesso às redes tecnológicas, profissionais e financeiros que são capazes de
facilitar o acesso aos recursos externos, ao conhecimento e a legitimidade das atividades
executadas pelos incubados (BRUNEEL et al., 2012).
Estes serviços foram sendo agregados pelas incubadoras, conforme as
organizações foram evoluindo. Delimita-se que a oferta do espaço físico caracterizou as
incubadoras da primeira geração, os serviços de capacitação caracterizaram as
incubadoras da segunda geração e os acessos às redes caracterizaram as incubadoras de
terceira geração (BERGEK; NORRMAN, 2008; BRUNEEL et al., 2012).

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O movimento brasileiro de incubadoras, já incorporou as 3 gerações, algumas
organizações pertencem a primeira geração - é o caso por exemplo do CEDIN de São
Carlos/SP; outras à segunda geração - é o caso da incubadora de Araraquara/SP;e raras
unidades organizacionais pertencem à terceira geração - é o caso do CIETEC/SP.
A próxima seção apresentará uma caracterização do movimento paulista de
incubadoras, evidenciando o arranjo interinstitucional das organizações implantadas.
Infere-se que o contexto apresentado possa ser semelhante aos demais estados nacionais
e que, portanto, as análises e reflexões apontadas possam ser replicadas, com as devidas
adaptações, nos demais movimentos.

2 MOVIMENTO PAULISTA DE INCUBADORAS

“A questão das incubadoras de empresas passa a ser incorporada na agenda de


política no Brasil a partir de meados da década de 1980 e, mais fortemente, a partir dos
anos 1990” (VEDOFELHO; FIGUEIREDO, 2005, p.xx).
A análise empírica do movimento de incubadoras paulistas permitiu identificar a
implantação de dois modelos: um formatado segundo as diretrizes do estado burocrático
e outro formatado segundo as diretrizes do estado gerencial. Os dois modelos foram
desenhados concomitantemente, porém um ganhou mais força e foi replicado em um
número maior de caos; o outro foi uma saída aos momentos de crise. Esta seção busca
apresentar este curso histórico. Inicialmente identificará as características dos arranjos
horas citados, depois mostrará a alternância relatada.
O modelo burocrático propôs a criação das incubadoras dentro da estrutura
estatal. Tinha como postulado que a criação, o financiamento e a gestão (ou seja, a
execução) dos programas de incubação deveriam ser efetivados pela administração
direta ou indireta. Este modelo foi o que guiou a elaboração dos primeiros projetos de
incubação do Brasil. A extinta Companhia de Promoção de Pesquisa Científica e
Tecnológica- [PROMOCET]1, em 1984 através do programa “Tecnologia Nacional para
empreendedores” propôs a criação de 5 incubadoras no estado de São Paulo, em áreas
até então consideradas como pólos tecnológicos - Campinas, São Carlos, Piracicaba,
São José dos Campos e São Paulo. O objetivo deste projeto era fomentar o Sistema
Estadual de Ciência e Tecnologia (TOFK et al, 1985). Dos cinco projetos apresentados

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Uma empresa pública vinculada à Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado de
São Paulo

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apenas um foi viabilizado e em 1986 criou-se o Centro das Industriais Nascentes de São
Carlos – CEDIN.
Este programa em seu formato inicial apresentava o seguinte arranjo
interinstitucional: as instalações físicas, construídas em área do estado com recursos da
Secretária de Estado da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia; e a gestão,
executada por uma empresa governamental, no caso a PROMOCET.
O modelo gerencial propôs a criação das incubadoras a partir de uma estrutura
descentralizada, via fundações e associação civil sem fins lucrativos. Ele defende que a
criação das incubadoras deva ser oriunda de parcerias entre a sociedade civil organizada
e a administração pública direta e/ou indireta, prevê o repasse de recursos públicos
financeiros e a cobrança de taxas por uso, por fim, delimita que a gestão deva ser
executada pelo terceiro setor. Estas características deram ao modelo maior dinamização,
fato que contribuiu para que ele fosse o responsável pela criação da primeira incubadora
do Brasil. Em 1984, por uma iniciativa do iniciativa dos professores do departamento da
física da Universidade de São Paulo [USP], da prefeitura municipal de São Carlos e do
Ministério da Ciência e Tecnologia foi concebido o Centro Incubador de Empresas
Tecnológicas [CINET], programa este executado pela Fundação Parqtec e financiado
pelo CNPQ e prefeitura local.

2.1 Caracterização dos cenários em que as incubadoras foram implantadas

O modelo gerencial foi o responsável pela implantação da maioria das


incubadoras paulistas. Como apontou Fonseca (2002), esta implantação foi constituída
por arranjos interinstitucionais, parcerias entre o poder público, agências de fomento,
entidades civis, classistas ou não, e instituições de ensino e pesquisa.
Um parceiro fundamental nas implantações foi o Serviço Brasileiro de apoio às
Micro e pequenas Empresas do estado de São Paulo [SEBRAE-SP]. Segundo Fonseca
(2000) o apoio do SEBRAE-SP era estratégico para o êxito da implantação do
movimento, tal entidade se posicionou como principal articulador e financiador dos
programas hora executados. Através de editais de seleção pública, específico para
Incubadora de Empresas, o SEBRAE-SP disponibilizava recursos financeiros e
econômicos para serem aplicados no funcionamento da estrutura -gerenciamento- e para
ações de apoio técnico administrativo para as empresas assistidas - ações de

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consultorias, treinamentos, acesso ao mercado, comunicação, entre outras (RIBEIRO,
2011).
O convênio que viabilizava o funcionamento das incubadoras, geralmente,
contava com o contrato de participação de uma entidade pública, o SEBRAE-SP e uma
entidade jurídica reconhecida no município (sindicato, associação, fundação, entre
outras) que deveria desempenhar o papel de gestão do projeto na localidade (RIBERO,
2011). Este convênio era celebrado pelas partes por prazo determinado, com igual
aporte de recursos, de acordo com um cronograma de execução econômico e financeiro,
com comprometimento e responsabilização pelo aporte dos recursos e aplicação destes
submetida à prestação de contas e auditoria interna (RIBEIRO, 2011).
No movimento paulista, outra entidade que ganhou destaque na implantação das
incubadoras, foi a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo [FIESP]. Esta
instituição atuou por 10 anos (1997-2007) como entidade gestora dos convênios
assinados pelo SEBRAE-SP (RIBEIRO, 2011). Esta atuação estava contemplada no
programa denominada pela instituição como Rede FIESP de Incubadoras, que tinha
como objetivo disseminar a cultura empreendedora no Brasil, principalmente pelo
fortalecimento das incubadoras mistas e tradicionais (MALARA, 2006).
Ressalta-se que a atuação da FIESP na gestão e gerenciamento dos programas
tradicionais era considerada como referência para os demais gestores, sendo certificada
pela ANPROTEC através da atribuição às unidades de Rio Claro (2001), Limeira
(2002) e Botucatu (2005) do prêmio de melhor incubadora do setor tradicional
(MALARA, 2006).
A FIESP interrompeu as atividades junto às incubadoras em 2007 logo após,
uma reavaliação dos projetos que a instituição iria apoiar e dos parceiros que seriam
fortalecidos. Quando delegou o convênio, a entidade era gestora de 33 incubadoras no
Estado de São Paulo, que representava cerca de 50% das existentes (MALARA 2006;
RIBERO, 2011). A decisão de abandonar os programas de incubação surpreendeu as
instituições locais, visto que os convênios assinados não previam esse rompimento, eles
tinham duração de 10 anos e poderiam ser prorrogado por mais dez anos.
Salienta-se que para acessar os editais de financiamento do SEBRAE-SP, as
incubadoras deveriam apresentar uma entidade gestora. Com o encerramento da Rede
FIESP de incubadoras, muitos municípios encontraram dificuldades para substituir a
gestora, foi o caso, por exemplo, das incubadoras de Dois Córregos, Bariri e Assis, de
modo que gestão ficou verticalizada dentro das prefeituras, como consequência (nestes

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casos) houve uma alternância para o modelo burocrático de incubação. Outros
municípios adotaram como gestoras as associações comerciais/industriais, este foi o
caso, por exemplo, de Limeira, Garça e Osasco. Em outros municípios a gestão ficou
por conta de organizações não governamentais com atuação regional, a título de
exemplificação cita-se o caso da Fundação Parqtec que assumiu os programas de
incubação de Leme, Botucatu e Rio Claro e do Instituto Inova que assumiu os
programas de incubação de Araraquara e São Carlos (CEDIN). Em outros contextos, a
gestão ficou por conta de organizações não governamentais com atuação local, este foi o
caso, por exemplo, das incubadoras de Botucatu (a tradicional) e Bebedouro.
Além da FIESP, as instituições de ensino desempenharam importante papel na
implantação das incubadoras paulistas (FONSECA, 2000; RIBEIRO, 2011). Muitas
incubadoras foram idealizadas por este tipo de instituição, foi o caso, por exemplo, da
Universidade Estadual Paulista [UNESP] que participou da criação das incubadoras de
Botucatu (Tecnológica), Sorocaba (Tecnológica), Bauru (Tecnológica), Rio Claro
(Tecnológica) e Jaboticabal (Agroindustrial); da Universidade Estadual de Campinas
[UNICAMP] que participou ativamente da criação das incubadoras de Campinas
(Softex e Incamp), Mogi das Cruzes e Limeira (a incubadora tecnológica);e da
Universidade de São Paulo [USP] que participou da criação do CIETEC (São Paulo) e
da Esalqtec (Piracicaba). Instituições particulares de ensino também participaram deste
processo, como exemplo cita-se o caso do Mackenzie, do Centro Universitário
Eurípides de Marília [UNIVEM], da Universidade do Oeste Paulista [UNOESTE], da
Universidade do Vale do Paraíba [UNIVAP] e da Fundação Casimiro Montenegro Filho
[FCMF]. O último destaque vai para a Escola Técnica de Fernandópolis [ ETEC] que
criou a INCUBATEC, primeira incubadora advinda das escolas técnicas. Enfatiza-se
que a atuação da UNESP na proposição das incubadoras não foi bem sucedida, das 5
unidades criadas, apenas a de Botucatu permanece em atividade.
Além da criação das incubadoras, a UNESP e a UNICAMP participaram
também dos estudos de viabilidade dos primeiros programas paulista. Um projeto
concebido no início de 1996 tinha dois objetivos, identificar localidades em potencial
para abrigar incubadoras e propor arranjos e modelos de gestão (FONSECA, 2000).
Dado todas as contribuições hora relatadas, o movimento paulista de
incubadoras cresceu à taxas surpreendentes (ANPROTEC, 2003; ANPROTEC, 2005),
em 2009 contabilizaram-se a existência de 80 incubadoras e atuação (RIBEIRO, 2009),
destas, 65 se beneficiavam dos editais de financiamento do SEBRAE-SP.

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A partir de 2010 este cenário mudou, pois SEBRAE-SP foi obrigado a romper
vários convênios, inclusive com incubadoras, por ordem da Justiça do Trabalho. A
instituição foi condenada pela Justiça do Trabalho por não ter uma relação trabalhista
formal com alguns consultores que prestavam serviços de treinamento e consultoria em
diversos projetos, incluindo o de incubadoras. Por isso, cursos e outros serviços foram
cancelados para evitar multas. Observou-se também, que o edital para celebração dos
convênios entre SEBRAE-SP e gestores de incubadoras foram reformulados e o repasse
para pagamento das despesas com consultores, gerentes e atividades semelhantes foram
cortadas. Esta alteração refletiu diretamente nas contas das incubadoras. Muitas não
conseguiram manter os salários de gerentes. O novo edital do SEBRAE propõe 20
milhões de reais para apoiar as incubadoras, só 20% do que havia sido destinado entre
2009 e 2010.
Como resultado algumas incubadoras fecharam e outras se tornaram condomínio
de empresas. Salienta-se que as dificuldades enfrentadas pelas incubadoras eram
inevitáveis já que a parceria foi desfeita sem que as mesmas tivessem tempo de se
adaptar. Observou-se a mortalidade de 21% das incubadoras existentes no estado (17
unidades). Notou-se também, que algumas organizações não governamentais de
impacto regional, ficaram mais propensas à abandonarem a gestão, foi precisamente o
caso do Instituto Inova e da Fundação Parqtec, já por outro lado, outras instituições do
mesmo formato foram criadas (exemplo da Rede Paulista de inovação - RPI) e/ou
tiveram sua atuação ampliada (exemplo da Agência de Desenvolvimento Econômico do
Grande ABC).
Outra constatação refere-se ao fato de que muitas prefeituras foram obrigadas a
assumir a gestão dos programas existentes, foi o caso por exemplo das incubadoras
situadas em Araraquara, Araras, Campinas, Franca, Itapira, Jundiaí, Lençóis Paulista,
Matão, Novo Horizonte, Osasco, Penápolis, Santo André, Santos, São Carlos, São José
do Rio Preto, Tupã e Assis. Delimita-se que em muitos casos, as prefeituras não
estavam preparadas financeiramente e nem capacitadas em termos de colaboradores
para assumir as atividades necessárias a gestão.
Também ficou evidenciado pela pesquisa foi que as incubadoras tecnológicas
sofreram menores influencias negativas das alterações e redirecionamentos do SEBRAE
e da FIESP, visto que tiveram acesso à outras linhas de financiamento disponibilizados
pelo CNPq e pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia.

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Por fim, o último resultado da pesquisa diz respeito a identificação do número de
incubadoras em operação atualmente. O levantamento junto à sites, jornais, revistas e
publicação da área, identificou 62 incubadoras em operação, destas 10% são geridas por
associações comerciais/industriais; 20% por instituições de ensino e pesquisa; 23% por
organizações não governamentais de impacto local; 16% por organizações não
governamentais de impacto regional; 29% por prefeituras; e 2% por outros tipos de
organizações. Constata-se que 49% são geridas pelas organizações civis.
A próxima seção vai relacionar as informações apresentadas até o momento,
com as características da reforma gerencial. Seu objetivo será traçar um paralelo
evidenciando fragilidades e virtudes do modelo de incubação gerencial e exporá
também a fragilidade em potencial das recorrências ao modelo burocrático em
momentos de crise.

3 CONSTRIBUIÇÕES DA REFORMA GERENCIAL PARA A FORMATAÇÃO


DO MOVIMENTO DE INCUBADORAS: ALUSÕES AO CASO DE SÃO PAULO

CONCLUSÃO

Como demonstrado na seção anterior, as incubadoras são mecanismos de


políticas públicas que receberam forte influencia do modelo gerencial. Ficou evidente
que os formatos adotados na implantação, principalmente a gestão por meio do terceiro
setor e o contrato de gestão hora entre o SEBRAE e as gestoras, hora entre as
prefeituras municipais e as entidades gestoras - derivaram do novo modelo de estado. A
necessidade de pautar a gestão das incubadoras nos resultados auferidos é outra
derivação bem como o aprimoramento constante desta gestão.
Pode ser observado também, que o movimento paulista de incubadoras, nos
últimos anos apresenta taxas elevadas de mortalidade, este resultado pode ser uma
consequência do estado gerencial. isso porque o modelo não foi implantado em sua
plenitude no Brasil, as administrações municipais principalmente não estavam
preparadas para as mudanças hora propostas. Este quadro se agrava quando constata-se
que outras instituições tiveram a iniciativa para criação das incubadoras, e as prefeituras
se viram obrigadas a gerenciar um programa ser dotação orçamentárias e sem a devida
preparação.

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Percebeu-se, portanto, que há uma lacuna na literatura em torno da relação entre
o gerencialismo e o movimento de incubadoras, poucos estudos evidenciam as
características da gestão, e não foi encontrado publicações em torno do impacto do
SEBRAE na sobrevivência, ou não, das incubadoras paulistas e a caracterização do
movimento paulista de incubadoras não é sistematizado, o que se encontra são estudos
de caso, apresentados isoladamente e que não possibilitam uma visão panorâmica do
movimento. Estas são possíveis linhas para pesquisas futuras e que devem ser
trabalhadas a fim de propiciar melhorias nos arranjos interinstitucionais dos programas
implantados e a serem implantados.

REFERÊNCIAS

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