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Fundamentos da Perícia Ambiental

Technical Report · July 2008


DOI: 10.13140/RG.2.1.3564.8245

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0 187

1 author:

Georges Kaskantzis
Universidade Federal do Paraná
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PERÍCIA JUDICAL AMBIENTAL

FUNDAMENTOS DA VALORAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

AUTOR: DR. GEORGES KASKANTZIS NETO

4ª EDIÇÃO – JUNHO DE 2008


ii
AGRADECIMENTOS

À minha família que colaborou para o desenvolvimento do projeto, apoiando


dessa maneira a minha trajetória profissional.

À minha esposa Maria Edith que mantém sólida a base da nossa família.

Ao meu pai, Nicolas Georges Kaskantzis, que nunca mediu esforços para me
educar, assegurando dessa forma um futuro promissor.

À minha mãe, Júlia Vasile Kaskantzis que me incutiu a vontade de aprender.

À todos os alunos que respeitam o meu trabalho profissional.

iii
PROLEGÔMENOS

Como alguém pode comprar ou vender as árvores da floresta, a água do rio


e o solo da Terra? Somos nós os donos da brisa do ar e do brilho da água? Como
alguém pode querer estabelecer direito sobre os bens da natureza?

A Terra não pertence ao homem é o homem que pertence a Terra. Os bens


da natureza não estão à venda, estão ligados como o sangue que une a família.

Cada parte da Terra é sagrada. Cada pinha brilhante, cada praia de areia,
cada névoa nas florestas escuras, cada inseto transparente é sagrado na memória
do homem.

A energia que flui pela árvore traz consigo a experiência e a vida. A energia
que flui pela água traz consigo memórias dos homens. Os rios limpos saciam a nossa
sede e alimentam a nossas vidas.

As flores perfumadas, os cervos, o cavalo, a onça pintada e a grande águia


são todos nossos irmãos. Os picos rochosos, as seivas nas campinas, o calor do pônei
e o homem são irmãos da mesma família, chamada Terra.

Agora, não existe mais um lugar tranqüilo nas cidades dos homens. Não há
onde se possa escutar o abrir das folhas na primavera e o canto alegre dos pássaros.

Talvez eu seja um selvagem e não entenda como tudo aconteceu, sem que
eu tenha percebido. A confusão parece servir apenas para insultar os meus ouvidos.

O ar é precioso para o homem, porque todas as coisas compartilham o


mesmo hálito. A fera, a árvore, o homem, todos compartilham a mesma brisa.

O homem parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo há


dias esperando a morte, ele é insensível ao mau cheiro.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o


homem morreria de uma grande solidão do espírito. Pois tudo o que acontece aos
animais, logo acontece ao homem. Todas as coisas estão ligadas pela natureza.

Ensinem aos seus filhos o que os nossos pais não nos ensinaram sobre a
Terra, a verdadeira mãe da nossa natureza. Tudo o que acontece na Terra, acontece
para os filhos dela. Se os homens cospem no chão, cospem em si mesmos.

A Terra é preciosa, danificá-la é desprezar o seu Criador. Onde está o


bosque? Acabou. Onde está a água limpa? Acabou. Sinto que a vida da natureza
está acabando e a sobrevivência dos homens apenas começando.

Texto adaptado do original


“The Irish Press”

iv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Valor nominal dos critérios de avaliação do estado de conservação 17
Figura 1.2 Nível do impacto do acidente nas qualidades ambientais da região 18
afetada
Figura 1.3 Estado de conservação inicial (quadrado) e final (triângulo) da área 19
Figura 4.1 Impacto ambiental em função do tempo, ta = momento antes do 61
impacto, to = momento de ocorrência do impacto, ti = momento do início dos
efeitos do impacto no meio, tf = momento após o impacto e finalização da
ação e tc = momento de interesse considerado
Figura 4.2 Índice do impacto dos grupos de componentes (PC) Físico-Químico, 69
(BE) Ecológico-Biológico, (SC) Sociocultural, (EO) Econômico - Operacional
afetados pela contaminação do solo com óleo derramado no acidente
Figura 4.3 Resultado da simulação da dispersão atmosférica de partículas 71
Figura 4.4 Simulação das populações dos peixes infectados, resistentes e 72
sensíveis à epidemia, originada pelo lançamento de produtos tóxicos.
Figura 4.5 Variação das populações de peixes atingidas em função do tempo 73
Figura 4.6 Imagem de satélite da área atingida pelo óleo derramado 74
Figura 4.7 Área da sombra, vegetação, óleo, solo exposto e das estradas. 76
Figura 4.8 Tratamento e classificação da imagem: (a) original; (b) segmentada; 77
(c) identificação de objeto (óleo); (d) identificação das classes (flora, óleo,
estrada, solo); (e) dados treinamento; (f) imagem classificada.
Figura 4.9 Qualidade ambiental da água em função do O2 dissolvido 79
Figura 4.10 Principais caminhos de exposição dos contaminantes 81
Figura 4.11Técnicas analíticas utilizadas para investigar os contaminantes 81
Figura 4.12 Vista da oficina de impermeabilização de madeiras investigada 86
Figura 4.13 Risco carcinogênico para os receptores individuais 89
Figura 4.14 Índice de perigo para os receptores individuais 90
Figura 4.15 Índice de risco de efeitos não carcinogênicos em função das vias de 91
exposição dos receptores considerados nos cenários estudados. O adulto está
associado à cor verde e a criança, à cor azul das barras mostradas no gráfico
Figura 5.1 Evolução do sistema na presença e ausência do dano com o tempo 93
Figura 6.1. Diagrama do VERA 113
Figura 6.2. Modelos de valoração ambiental 120
Figura 7.3.1 Região da fazenda Alvorada onde ocorreu o dano ambiental 130
Figura 7.3.2 Área desmatada irregularmente 131
Figura 7.3.3 Abertura e corte da mata 131
Figura 7.5.1 Imagem de satélite da região da planta de resina de pinus 138
Figura 7.7.1 Vista aérea da região onde ocorreu o vazamento do petróleo 157
Figura 7.7.2 Imagem das atividades de recuperação do oleoduto 157
Figura 7.8.1 Diagrama do processo HEA de compensação do dano ambiental 165

v
Figura 7.8.2 Nível atual e corrigido dos serviços ambientais afetados pelo dano. 168
Figura 7.8.3 Perda total de serviços ambientais, indicada pela área sob a curva. 168
Figura 7.8.4 Nível dos serviços ganhos com a recuperação das várzeas 169
Figura 7.8.5 Total de serviços ganhos com a recuperação das várzeas 169
Figura 7.8.6 Perda e ganho total de serviços nas várzeas, de 1990 a 2015. 169
Figura 7.8.7 Imagem de satélite da região investigada, obtida em 1999. 173
Figura 7.8.8 Imagem de satélite da região afetada pelo dano, obtida em 2003. 173
Figura 7.8.9 Áreas da vegetação e solo exposto em função do tempo 174
Figura 7.8.10 Situação da vegetação afetada pelo óleo, em 2006. 175
Figura 7.8.11 Nível dos serviços perdidos em função do tempo 176
Figura 7.8.12 Serviços ambientais ganhos com a recuperação da flora 177
Figura 7.8.13 Total dos serviços perdidos (área azul) pela contaminação, e 178
fornecidos (área vermelha) com a recuperação da flora, para compensar o
dano ambiental.
Figura 7.9.1 Poços de monitoramento instalados na área do acidente 179
Figura 7.9.2 Vazão de descarga da solução ácida do tanque durante o acidente 183
Figura 7.9.3 Frente de avanço do ácido no solo, em função da profundidade 184
Figura 7.9.4 Perfil de concentração do ácido, em função da profundidade, (a) 185
7/10/2004; (b) 2/2/2005; (c) 2 e (d) 5 anos após o acidente
Figura 7.9.5 Linhas potenciais do lençol freático ajustadas, a partir do nível da 186
água dos poços de monitoramento, registrado nas campanhas de 2004 e 2005.
Figura 7.9.6 Distribuição de concentração do poluente imobilizado do freático 187
Figura 7.9.7 Pluma de contaminação, 07/10/04. 188
Figura 7.9.8 Pluma 163 dias pós-derrame, 08/03/05. 188
Figura 7.9.9 Pluma de ácido 365 dias pós-derrama 188
Figura 7.9.10 Situação da contaminação 2,7 anos após o vazamento do HCl 188
Figura 7.12.1 Vista geral da igreja histórica afetada pelo terremoto do Peru 204
Figura 7.12.2 Detalhe da igreja afetada pelo terremoto do Peru 204
Figura 7.14.1 Ajuste linear dos dados coletados com as entrevistas 217

vi
LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1. Benefícios sociais fornecidos à sociedade pelo capital natural 07


Tabela 1.2. Classificação do potencial ecológico dos recursos naturais 10
Tabela 1.3 Ponderação de critérios para avaliar o potencial ecológico dos 14
recursos
Tabela 1.4. Valores atribuídos pelos especialistas para qualificar os critérios 14
Tabela 1.5. Critérios ponderados de avaliação do estado de conservação 16
Tabela 1.6 Qualificação nominal e real das qualidades ambientais dos 16
recursos
Tabela 1.7. Nível de impacto do acidente sobre as qualidades ambientais da 18
região
Tabela 2.1. Análise comentada dos parágrafos e incisos do art. 225 da Magna 24
Carta
Tabela 2.2. Competência dos órgãos que tratam das questões ambientais 26
Tabela 2.3 Competência legislativa e político-administrativa na área 26
ambiental
Tabela 4.1 Principais características ou tipologia dos impactos ambientais 63
Tabela 4.2 Principais parâmetros para avaliação da importância do impacto 64
Tabela 4.3 Escala de valor do índice (ES) e da classe de impacto ambiental 65
Tabela 4.4 Critérios de avaliação do impacto n os componentes ambientais 66
Tabela 4.5 Índices do impacto dos componentes ambientais afetados 67
Tabela 4.6 Índice global dos impactos dos componentes ambientais 68
Tabela 4.7 Valores numéricos das populações dos peixes em função do tempo 73
Tabela 4.8 Matriz de Interação: exploração de carvão x qualidade da água 78
Tabela 4.9 Valores de exposição de contaminantes, em função do uso do solo 82
Tabela 4.10 Resultados analíticos das amostras de solo e água da empresa 86
Tabela 4.11 Valores de referência para o solo e água subterrânea, da CETESB. 86
Tabela 4.12 Parâmetros de exposição para adultos residentes na comunidade 87
Tabela 4.13 Parâmetros de exposição para os trabalhadores da empresa 87
Tabela 4.14 Parâmetros de exposição das crianças residentes na comunidade 88
Tabela 4.15 Risco carcinogênico total de exposição para crianças residentes 89
Tabela 4.16 Risco carcinogênico total de exposição para adultos residentes 89
Tabela 4.17. Risco não- carcinogênico de exposição para crianças residentes 90
Tabela 4.18. Risco não-carcinogênico de exposição para adultos residentes 90
Tabela 5.1 Preço e quantidade de insumos requeridos para recuperar o dano 95
Tabela 5.2 Dados para estimativa da perda de benefícios pela redução das 99

vii
matérias-primas e produtos de consumo derivados dos recursos naturais
Tabela 5.3 Nível do estado de conservação dos recursos, com o tempo. 100
Tabela 5.4 Dados para estimativa dos benefícios perdidos em função do nível 101
de alteração do estado de coservação dos recursos, em função do tempo.
Tabela 5.5 Valores para estimativa da perda de proteção e segurança no 102
abastecimento futuro de bens e serviços ambientais, fornecidos pelos
recursos naturais à população
Tabela 5.6 Valores para estimativa dos custos de gestão e manutenção dos 102
serviços para a recuperação dos recursos naturais, em função do tempo.
Tabela 5.7 Valores para estimativa do beneficio perdido, relativo à saúde da 104
população, provocado pela alteração dos recursos naturais.
Tabela 5.8 Valor dos custos de prevenção de enfermidades da população 105
Tabela 5.9 Valor dos custos de controle das pragas e das ações de mitigação 105
Tabela 5.10 Dados para estimativa dos custos da perda dos serviços de 106
espairecimento e desenvolvimento espiritual que desfrutava a população,
devido ao dano do recurso.
Tabela 5.11 Estado de conservação do recurso em função do tempo 107
Tabela 6.1 Métodos diretos e indiretos de valoração ambiental pela VERA 114
Tabela 6.2 Indicadores de dano ambiental, em função do tipo de poluição. 119
Tabela 7.2.1 Peso do critério volume derramado no modelo CETESB 126
Tabela 7.2.2 Fator de ponderação do critério vulnerabilidade da área afetada 127
Tabela 7.2.3 Fator de ponderação para o critério toxicidade do produto 127
Tabela 7.2.4 Fatores de ponderação dos critérios persistência, deletério e 128
mortalidade
Tabela 7.2.5 Valores de ponderação do fator de reincidência do acidente 128
Tabela 7.3.1 Critérios usados para qualificar os agravos do do dano à flora 132
Tabela 7.3.2 Fatores de multiplicação dos índices dos critérios de agravo 132
Tabela 7.4.1 Propriedades físicas dos produtos derivados da cana-de-açúcar 135
Tabela 7.4.2 Emissões de CO2 equivalentes na produção de cana-de-açúcar 137
Tabela 7.5.1 Dados da estação de tratamento fornecidos pela empresa para 143
análise da descarga do efluente no corpo hídrico
TABELA 7.5.2 Valores médios mensais estimados dos parâmetros da unidade 144
de tratamento de efluentes
Tabela 7.5.3 Custo anual e do período de 17 de dezembro a 17 de janeiro da 144
planta de tratamento de efluentes da indústria de PINUS
Tabela 7.5.4 Custo anual de tratamento e unitário da carga evitada do 142
período do dano
Tabela 7.5.5 Custo para evitar o excesso de lançamento de DQO no período 145
do dano
Tabela 7.6.1 Indicadores do estado de conservação do recurso antes do dano 148

viii
Tabela 7.6.2 Indicadores de impacto (alteração) dos recursos naturais 148
Tabela 7.6.3 Critérios para estimar o tempo máximo de recuperação dos 150
recursos
Tabela 7.6.4 Quantidade e preços dos insumos requeridos nos primeiros 151
quatro anos,
Tabela 7.6.5 Quantidade e preços dos insumos requeridos a partir do quinto 151
ano
Tabela 7.6.6 Gastos financeiros com o replantio da vegetação queimada 151
Tabela 7.6.7 Custos das infra-estruturas adicionais de proteção e segurança 152
Tabela 7.6.8 Custos do monitoramento das áreas queimadas 152
Tabela 7.6.9 Componentes dos custos da recuperação do dano ambiental 152
Tabela 7.6.10 Componentes do custo social do dano ambiental 153
Tabela 7.6.11 Resultados da valoração econômica do dano ambiental 154
Tabela 7.7.1 Qualificação dos fatores de agravo da multa do dano ambiental 156
Tabela 7.7.2 Investimentos para obras geotécnicas, evitados pela empresa. 158
Tabela 7.7.3 Correção monetária dos investimentos evitados pela empresa 159
Tabela 7.7.4 Correção dos custos evitados de manutenção e operação 159
Tabela 7.7.5 Custos evitados para a remoção dos escombros, em 2003. 160
Tabela 7.7.6 Custo total para remoção dos escombros, evitado pela empresa. 160
Tabela 7.7.7 Trabalhos utilizados para a transferência de valores, visando a 164
obteção do valor econômico do dano ambiental do acidente.
Tabela 7.7.8. Valor do dano e análise de sensibilidade paramétrica do fator D 161
Tabela 7.7.9 Valor dos fatores de agravo, utilizados para calcular o fator A. 163
Tabela 7.8.1 Parâmetros para estimar o tamanho do hábitat de reposição 166
Tabela 7.8.2 Características do impacto utilizadas no modelo HEA 167
Tabela 7.8.3 Parâmetros do habitat de compensação do dano ambiental 167
Tabela 7.8.4 Service loss at injury area (Serviços perdidos) 170
Tabela 7.8.5 Service gain at the compensatory area (serviços ganhos) 171
Tabela 7.8.6 Parâmetros do modelo HEA utilizados para valoração do dano 172
Tabela 7.8.7 Parâmetros do projeto de remediação do dano ambiental 172
Tabela 7.8.8 Resultados da análise das imagens, em função do tempo. 174
Tabela 7.8.9 Área da vegetação e nível dos serviços, em função do tempo 175
Tabela 7.8.10 Serviços ambientais perdidos pela contaminação da vegetação 176
Tabela 7.8.11 Serviços ambientais restituídos com a recuperação da flora 177
Tabela 7.9.1 Cotas e nível da água dos poços de monitoramento 180
Tabela 7.9.2 pH da água subterrânea dos poços de monitoramento, em 2004 180
Tabela 7.9.3 pH da água subterrânea dos poços de monitoramento, em 2005 180

ix
Tabela 7.9.4 Características do solo da região do vazamento de HCl. 181
Tabela 7.9.5 Concentrações de referência para avaliar a contaminação 181
Tabela 7.9.6 Parâmetros para simular o fluxo do lençol freático, MODFLOW. 182
Tabela 7.9.7 Parâmetros para simular a dispersão do ácido clorídrico, M3DT. 182
Tabela 7.9.8 Balanço de massa do ácido clorídrico derramado no acidente 183
Tabela 7.9.9 Valores do pH da água subterrânea, calculados pelo modelo e 184
registrados nos poços de monitoramento instalados na área do acidente
Tabela 7.9.10 Valor teórico e experimental do nível de água dos poços 185
Tabela 7.9.11 Concentração dos ácidos na água subterrânea calculada pelo 187
modelo MT3D, registrados nos poços de monitoramento e desvio relativo
entre os mesmos.
Tabela 7.11.1 Fator de relação dos danos ambientais diretos (d) e indiretos (i) 198
Tabela 7.12.1 Fatores corretivos do valor cênico do bem cultural 203
Tabela 7.13.1 Grau de alteração em função do tipo de dano, área e nível de 211
proteção do bem lesado, para grandes áreas (acima de 500 ha)
Tabela 7.13.2 Grau de alteração em função do tipo de dano, área e nível de 212
proteção do bem lesado, para pequenas áreas (até 500 ha)
Tabela 7.14.1 Dados coletados dos visitantes pela administração do Parque 217
Tabela 7.15.1 Intervalo das séries de disposição a pagar médias, número de 221
entrevistas e população da praia do Cassino na alta temporada (2001).
Tabela 7.16.1 Ponderação das variáveis intangíveis do modelo de valoração 224
Tabela 7.18.1 Descrição e qualificação dos agravos associados à tipologia do 232
dano e aspectos ambientais estabelecidos no método
Tabela 7.18.2 Índices de qualificação dos agravos para a valoração do dano 231

x
LISTA DE QUADROS
Quadro 1.1 Benefícios e serviços ambientais derivados do capital natural 08
Quadro 1.2 Qualidades intrínsecas dos recursos naturais 09
Quadro 1.3 Indicadores para avaliação do estado de conservação dos 12
recursos naturais
Quadro 1.4 Ações que causam danos ambientais nos recursos naturais 21
Quadro 5.1. Insumos necessários para recuperar os recursos danificados 95
Quadro 7.13.1 Valores para ponderação dos critérios de valoração de dano 213
obre bens culturais
Quadro 7.18.1. Custos financeiros de recuperação da área degradada 244

xi
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS, ii.
PROLEGÔMENOS, iii.
LISTA DE FIGURAS, iv.
LISTA DE TABELAS, vi.
SUMÁRIO, xi.

INTRODUÇÃO

1 RECURSOS NATURAIS
1.1 Classificação dos recursos naturais, 01.
1.2 Benefícios sociais dos recursos naturais, 06.
1.3 Qualidades intrínsecas dos recursos naturais, 06.
1.4 Valoração das qualidades ambientais dos recursos naturais, 10.
1.5 Avaliação do potencial ecológico dos recursos naturais, 10.
1.6 Estado de conservação dos recursos naturais, 11.
1.7 Ações que causam danos nos recursos naturais, 19.

2 DIREITO AMBIENTAL
2.1 Legislação nacional, 22.
2.2 Princípios fundamentais, 22.
2.3 Meio ambiente na constituição federal, 23.
2.4 Política nacional de meio ambiente (PNMA), 25.
2.5 Órgãos e competências legais, 25.
2.6 Esferas de responsabilidade ambiental, 27.
2.7 Outras leis e normas ambientais, 28.
2.8 Ação civil pública, 29.
2.9 Dano ambiental na legislação nacional, 30.
2.10 Conceitos legais sobre dano ambiental, 30.
2.11 Base legal para avaliação do dano ambiental, 31.

3 ASPECTOS TÉCNICOS DA PERÍCIA AMBIENTAL


3.1 Funções do perito e do assistente técnico, 37.
3.2 Etapas da pericia ambiental, 38.
3.2.1 Nomeação do perito e dos assistentes técnicos, 38.
3.2.2 Formação da equipe de perícia ambiental, 38.
3.2.3 Elaboração do plano de perícia ambiental, 39.
3.2.4 Procedimentos para coleta de amostras ambientais, 41.
3.2.5 Análise de quesitos de perícia ambiental, 43.
3.3 Estrutura do laudo de perícia ambiental, 43.
3.4 Estudo de caso, 46.

4 AVALIAÇÃO SISTEMÁTICA DE IMPACTOS AMBIENTAIS


4.1 Definição de impacto ambiental, 61.
4.2 Avaliação do impacto ambiental (AIA), 61.
4.3 Licenciamento ambiental, 62.
4.4 Tipologia dos impactos ambientais, 62.

xii
4.5 Importância e magnitude dos impactos ambientais, 65.
4.6 Método de Pastakia para avaliação dos impactos ambientais, 65.
4.7 Avaliação de impactos ambientais pela modelagem e simulação, 69.
4.8 Outros métodos para avaliação de impactos ambientais, 78.
Avaliação de risco toxicológico à saúde, 80.

5 VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO AMBIENTAL


5.1 Conceitos, 92.
5.2 Delimitação do dano ambiental, 92.
5.3 Componentes de avaliação do dano ambiental, 93.
5.4 Valoração econômica dos aspectos biofísicos do dano ambiental, 94.
5.5 Valoração econômica dos aspectos sociais do dano ambiental, 96.
5.6 Método direto para valoração do custo social – perda de benefícios, 98.
5.6.1 Perda de benefícios pela redução de matéria prima e produtos finais, 98.
5.6.2 Perda de benefícios por alteração do grau de proteção e segurança, 101.
5.6.3 Perda de benefícios pelo dano à saúde da população, 103.
5.6.4 Perda de benefícios pela alteração da paisagem, 105.
5.7 Método indireto do custo social - mudança do estado de conservação, 107.
5.8 Valoração econômica do dano pela perda na produção, 108.
5.9 Valoração econômica do dano ambiental - custo total (CT), 108.
5.10 Conclusões, 109.

6 MÉTODOS DE VALORAÇÃO DO DANO AMBIENTAL


6.1 Introdução, 110.
6.2 Valoração econômica de recursos naturais, 110.
6.3 Conceitos de economia ambiental, 111.
6.4 Valoração econômica do meio ambiente (VERA), 112.
6.5 Valoração de recursos naturais e ambientais NBR 14653 – 6,114.
6.5.1 Métodos diretos, 115.
6.5.1.1 Método da produtividade marginal, 115.
6.5.1.2 Método de mercado de bens substitutivos, 115.
6.5.1.3 Método de preços hedônicos, 113.
6.5.1.4 Método do custo viagem, 116.
6.5.1.5 Métodos de valoração contingente, 117.
6.5.2 Métodos indiretos, 117.
6.5.2.1 Custos de reposição, 117.
6.5.2.2 Custos de realocação, 118.
6.5.2.3 Custos defensivos ou proteção, 118.
6.5.2.4 Custos de controle evitados, 118.
6.5.2.5 Custo de oportunidade de conservação, 118.
6.6 Seleção e aplicação dos métodos de valoração ambiental, 119.
6.7 Indicadores de danos ambientais, 119.
6.8 Valoração econômica do dano à saúde, 121.
6.8.1 Valoração econômica do dano para mortalidade, 122.
6.8.2 Valoração econômica de dano para morbidade, 123.

7 MODELOS PARA A VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO


7.1 Introdução, 124.
7.2 Modelo CETESB – valoração do dano para vazamentos de petróleo, 125.

xiii
7.3 Modelo VERA – valoração dos danos para derrubada de florestas, 130.
7.4 Modelo VERA – valoração do dano para queima da palha de canavial, 134.
7.5 Modelo Custos evitados – valoração do dano da contaminação de corpo hídrico, 138.
7.6 Modelo Custos de recuperação – valoração dos danos para incêndios florestais, 147.
7.7 Modelo OSINERG – valoração do dano para derrame de petróleo, 155.
7.8 Modelo HEA – valoração do dano para perda de serviços ambientais, 165.
7.9 Modelo MOD – valoração do dano - contaminação de solo e água subterrânea, 179.
7.10 Modelo IBAMA – valoração do dano para unidades de conservação, 190.
7.11 Modelo CATE – valoração dos danos para recurso florestal e outros, 197.
7.12 Modelo VGB – valoração dos danos para bens do patrimônio cultural, 201.
7.13 Modelo CONDEPHAAT – valoração do dano para bens de valor cultural, 207.
7.14 Modelo Custo Viagem – valoração do dano para parque natural e recreação, 216.
7.15 Modelo DAP – valoração do dano pela análise contingente (VU + VE), 219.
7.16 Modelo CARDOZO – valoração do dano - componente mensurável e intangível, 222.
7.17 Modelo FAMB – valoração do dano para degradação de fator ecológico, 225.
7.18 Modelo DEPRN – valoração do para bens naturais com valor de exploração, 230.

8 CONCLUSÕES

REFERÊNCIAS, 247.
ANEXO I – PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE AMOSTRAS AMBIENTAIS, 252.
ANEXO II – FICHA PARA REGISTRO DE AMOSTRAGEM AMBIENTAL, 256.
ANEXO III – QUESITOS FORMULADOS NAS PERICIAS AMBIENTAIS, 261.
ANEXO IV – LISTA DA CETESB SOLO E ÁGUA SUBTERRÃNEA E OUTRAS, 266.
CURRICULUM VITAE DO AUTOR

xiv
INTRODUÇÃO

O Curso de Perícia Judicial Ambiental tem despertado o interesse dos profissionais de


todo o país desde a sua criação, em 2004, fato que motivou a elaboração da 4ª versão da
apostila deste Curso. A escassez de informações e o interesse dos profissionais da área
ambiental sobre a valoração econômica do dano ambiental impulsionaram o desenvolvimento
de dois capítulos novos sobre o tema. O conteúdo da apostila foi revisado e ampliado com a
inclusão de novos estudos de caso e recentes modelos de valoração econômica de danos.

A nova versão da apostila inclui um CDROM com programas de computador, legislação


ambiental, artigos citados no texto, formulários e planilhas de perícia. Os oito capítulos desta
apostila apresentam os conhecimentos e os procedimentos básicos necessários para realizar os
trabalhos de perícia ambiental na prática e na teoria.

O primeiro capítulo apresenta a classificação e os aspectos de interesse dos recursos.


São descritas as qualidades intrínsecas, os benefícios sociais e forma de avaliação do potencial
ecológico dos recursos. O estado de conservação dos recursos naturais e sua alteração também
são discutidos. As principais ações que alteram o estado de conservação dos recursos e causam
o dano ambiental são apresentadas no final do capítulo.

O capítulo dois apresenta os princípios do direito ambiental, órgãos ambientais e suas


competências legais, as esferas de responsabilidade legal, as leis e normas. Os conceitos sobre
processos Administrativo, Cível e Criminal, Termo de Ajustamento de Conduta, Inquérito e Ação
Civil Pública também são apresentados. A definição legal do dano e dos termos associados, e a
base legal para a sua valoração são descritas no final.

Os aspectos técnicos da perícia ambiental são descritos no capítulo três. São discutidas
as funções do perito e do assistente técnico, as etapas da perícia ambiental, a elaboração do
plano de perícia, a constituição da equipe de trabalho, a metodologia de coleta de amostras, a
interpretação dos resultados, análise e as respostas de quesitos, elaboração do laudo pericial e
do parecer técnico e um estudo de caso.

No capítulo quatro são apresentadas as técnicas usuais e mais avançadas para avaliar
impactos negativos que causam danos ambientais. As licenças ambientais são discutidas sob o
ponto de vista da perícia ambiental. Em seguida são descritas as tipologias dos impactos e a
metodologia de Pastakia para sua avaliação. O uso da modelagem ambiental e a classificação
de imagens de satélite para avaliar impactos ambientais são demonstrados com casos reais.
No final, constam conceitos sobre avaliação de riscos toxicológicos à saúde e um estudo de
caso sobre o assunto.

Os capítulos cinco, seis e sete apresentam, respectivamente, os conceitos, os métodos e


dezessete modelos para a valoração econômica de danos ambientais. Inicialmente, no capítulo
cinco, são apresentados o conceito, delimitação, componentes de avaliação e a valoração dos
aspectos biofísicos e sociais do dano ambiental. O método direto e o indireto para avaliação do
dano social também são apresentados neste capítulo. A valoração da perda de produção e o
custo total do dano ambiental são apresentados no final do capítulo.

xv
O capítulo seis apresenta conceitos de economia ambiental e a diferença entre os bens
e serviços econômicos e ambientais. Apresenta a Norma NBR 14653–6, proposta pela ABNT
para valoração econômica de recursos naturais e ambientais. Esta Norma estabelece os termos
da expressão VERA (Valoração Econômica de Recursos Naturais) e os métodos para determiná-
lo. Visando o entendimento e aplicação desta Norma, inicialmente, discutimos a relação entre
as preferências individuais pela utilização, preservação ou conservação dos recursos naturais
com os termos da expressão da VERA.

Na seqüência, apresentamos exemplos de aplicação dos métodos indicados na Norma.


Em seguida, apresentamos os indicadores do dano ambiental sugeridos por Schultz e Wicke e
um diagrama para a seleção dos métodos mais adequados para um determinado caso. No final
do capítulo seis estão métodos para a valoração de danos à saúde (morte, enfermidade).

No capítulo sete são apresentados dezessete modelos para a valoração econômica de


danos ambientais para vazamentos de petróleo, para derrubada, incêndio e a contaminação de
florestas, para a contaminação de solos, águas superficial e subterrânea, para a queimada de
palha de cana de açúcar, para dano de patrimônio histórico e cultural, para depósito irregular
de escombros e resíduos industriais, para dano a serviços ambientais biológicos, etc. Os artigos
fonte e as referencias de todos os métodos citados estão gravados no CDROM que acompanha
a apostila. No oitavo capítulo da 4ª versão da apostila do Curso de Perícia Judicial Ambiental
são apresentadas as conclusões, as recomendações e as sugestões para trabalhos futuros.

No momento a procura de profissionais especializados para perícia ambiental é grande


e continua crescendo no país. Nesse sentido, apesar da complexidade e abrangência do tema,
as informações e os métodos para a valoração de danos apresentadas acima descritos são as
modestas contribuições do autor deste trabalho para difundir o conhecimento e para capacitar
recursos humanos na área da perícia ambiental. Nos últimos anos, o Curso de Perícia Judicial
Ambiental capacitou mais de 500 profissionais no país e, dessa forma, está contribuindo com a
sociedade e a natureza. Agradecemos a confiança depositada em nosso trabalho e desejamos
paz, saúde e sucesso a todos os interessados.

Dr. Georges Kaskantzis Neto

xvi
1. RECURSOS NATURAIS

1.1. CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

Os recursos naturais são os componentes ambientais que fornecem algum benefício ao


homem (água, solo, flora, fauna, minerais, etc.). Esses elementos constituem o capital
natural. Em relação ao tempo de vida do homem, os recursos naturais são classificados
como renováveis e não renováveis.

As atividades humanas utilizam os recursos na quantidade e qualidade suficientes para


suprir as necessidades. Para se ter idéia da gama dos recursos existentes, é necessário
classificá-los em grupos. Essa classificação auxilia a sua identificação, assim como a dos
fluxos de matérias-primas, produtos de consumo e serviços ambientais, que fornecem.

Os recursos naturais têm uma série de características que permitem avaliar seu estado
de conservação. Não é pertinente examinar todas as características dos recursos para
fazer a sua valoração, basta escolher as que indicam sua condição antes e depois do
dano. Os critérios de seleção das características que devem ser avaliadas dependem do
impacto e do recurso que foi afetado.

Os recursos naturais são classificados como: a) geológicos; b) hídricos; c) atmosféricos;


d) energéticos; e) biológicos; f) paisagem; g) estéticos. Os sete grupos e respectivos
subgrupos de classificação dos recursos naturais são descritos na seqüência.

A. GEOLÓGICOS

Recursos minerais

Os recursos minerais estão situados no subsolo a grandes profundidades e dificilmente


são afetados. Porém, a exploração inadequada desses recursos causa a sua exaustão, e
os rejeitos do beneficiamento destes recursos provocam contaminações ambientais.

Solo e Subsolo

O solo é o material da capa mais superficial não consolidado da superfície terrestre. É


produto da modificação de material original ao longo do tempo, constituído de capas
diferenciadas ou horizontes, com características físico-químicas e biológicas distintas.
Constituído de partículas e compostos inorgânicos e orgânicos, o solo distribui-se em
camadas ou horizontes. O perfil do solo correspondente ao horizonte C é o subsolo.

B. HÍDRICOS

A água livre do planeta constitui a hidrosfera, estando presente na atmosfera, nos rios
e lagos, nos mares e oceanos, nas geleiras, no subsolo e na atmosfera. Trata-se de um
elemento vital para a sustentação da vida de todos os seres do planeta.

1
Águas superficiais

Em geral, as águas superficiais estão associadas às subterrâneas, portanto, quando são


contaminadas afetam a qualidade dos aqüíferos subterrâneos. As principais finalidades
das águas superficiais são: uso físico para consumo humano, uso direto como matéria-
prima e para limpeza na indústria e atividades agrícolas, uso indireto psicológico, como
elemento estético e natural, e uso ecológico.

Águas subterrâneas

A água subterrânea e aqüífera são recursos naturais importantes. A água subterrânea


é utilizada para o consumo e, atividades industriais e comerciais. Dependendo do uso,
deve atender padrões específicos de qualidade e sanidade. As águas subterrâneas são
sensíveis às alterações externas. As águas confinadas (artesianas) estão protegidas por
base de substrato impermeável. A dinâmica das águas subterrâneas é diretamente
afetada pelos assentamentos urbanos que exercem grande pressão sobre o solo e
aqüíferos. Obras de construção civil, executadas sem estudos hidro geológicos, podem
provocar desastres e perdas econômicas.

Águas marinhas

Trata-se de recurso natural que envolve a maior superfície do planeta e forma a maior
parte da hidrosfera. As águas marinhas têm elevadas concentrações de sais minerais,
cloreto de sódio, cloro, magnésio, sulfatos, cálcio, bromo, iodo e outros. Este recurso é
de grande importância para os ecossistemas marinhos e o homem. Estes ecossistemas
costeiros possuem grande fecundidade e biodiversidade em relação aos terrestres.

C. ATMOSFÉRICOS

Ar

Recurso natural constituído por gases, dentre os quais, o nitrogênio, oxigênio, vapor de
água, óxidos de carbono e nitrogênio, etc. Contém também partículas, cargas elétricas
e microorganismos em suspensão. É a principal fonte de oxigênio do homem e atua na
regulação do clima, conforto térmico e na dispersão de poluentes gasosos.

Clima (micro, macro)

Conjunto de condições meteorológicas presentes em determinada região do planeta,


durante um período relativamente longo de tempo. O clima de uma zona é resultado
de aspectos físicos atmosféricos, tais como: umidade, vento, radiação e temperatura,
durante um determinado período de tempo. Existem diferente tipos de clima,
dependendo da escala, entre eles, podem ser citados os regionais, os microclimas, os
mesoclimas e os macro climas.

2
Vento

Direção, intensidade e velocidade do ar em movimento. Dependendo da velocidade do


vento pode originar tempestades, ciclones e furacões de grande destruição.

D. ENERGÉTICOS

Recursos naturais com potencial de produzir energia. As formas usuais de energia são a
potencial e cinética. Estes recursos estão relacionados ao desenvolvimento humano e,
na maioria dos casos, a degradação do meio ambiente (GOLDEMBERG, 1998).

Energia térmica por combustão

Recurso natural originado por combustão da biomassa (árvores, lenha, carvão, etc.) e
da decomposição natural de dejetos e organismos.

Energia eólica

Energia obtida por aproveitamento do movimento produzido pelo vento. Recurso


natural de baixo custo econômico, mas, viável somente em determinadas regiões.

Energia da maré (e ondas)

Energia obtida por aproveitamento do movimento que produz a água do mar. Esse tipo
de energia é gerado nos locais onde ocorrem marés altas (acima de três metros).

Energia solar

Captação e aproveitamento da energia proveniente do sol.

Energia geotérmica

Energia obtida do interior da terra, em zonas onde o magma quente está relativamente
próximo da superfície. Águas termais (líquida e vapor) confinadas estão, geralmente,
associadas com atividade vulcânica.

Energia hidráulica

Energia produzida por represamento de rios e lagos, transformada em energia elétrica.

Hidrocarbonetos e derivados

Recurso natural esgotável, cuja exploração deve ser cuidadosa, porque pode causar
desastres sérios e danos significativos ao meio ambiente.

3
E. BIOLÓGICOS

E.1 Biodiversidade (segundo a classificação taxonômica)

Vegetal (Flora)

Organismos com clorofila capazes de realizar a fotossíntese, incluindo os vasculares e


não vasculares.

Animal (Fauna)

Organismos heterotróficos formados por células carentes de parede celular. Conjunto


de animais de um país ou região, incluindo os seres invertebrados e vertebrados.

Fungos

Organismos microscópicos carentes de clorofila e parede celular, tipos unicelulares e


pluricelulares. Alimentam-se por absorção; saprófitos sobre matéria em decomposição;
e os parasitas sobre os seres vivos, assim como por simbiose (associados a outros seres
vivos para benefício mútuo).

Organismos unicelulares exceto fungos

Organismos unicelulares. Grupo Monera (organismos sem núcleo diferenciado e sem


membrana nuclear) e Protista (com núcleo diferenciado e com membrana nuclear).

Recursos genéticos

Material capaz de transmitir as características particulares dos indivíduos, herança.

E.2 Ecossistemas (classificação segundo as inter-relações)

Oceânicos

Incluem-se as zonas pesqueiras, as zonas profundas e do oceano aberto.

Zonas úmidas (alagados)

Marinos e litorâneos

Áreas litorâneas expostas às águas oceânicas. Áreas de inundação, recifes, corais,


estuários, deltas, baias, nascentes de rios e outros ecossistemas.

Estuarinos

Hábitats de águas profundas e terras adjacentes sob influência da maré; parcialmente


obstruído ou esporadicamente acessível pelo mar, onde a água é diluída pelas águas
4
doces. Elevada salinidade com abundância de fauna e vegetação típica, representada,
por exemplo, por moluscos e bosques de mangue.

Lacustres / Lénticos

Hábitat aquático, localizado nas depressões topográficas ou represado naturalmente,


lagos e lagoas. Apresenta águas com salinidade, a vegetação é constituída de musgos,
liquens e plantas aquáticas. Apresenta águas estacionárias que não sofrem renovação.

Ribeirinhos / Lóticos

Ambientes aquáticos que periódica ou permanente mantêm água em movimento. São


excluídos ambientes onde predominam árvores, arbustos ou vegetação emergente
persistente.

Palustres / marismas e pântanos

Áreas úmidas onde pode ou não existir vegetação localizada a poucos metros de
profundidade, e os valores de salinidade do meio se mantém abaixo de 0,5 partes por
litro de solução.

Bosques

Ecossistemas vegetais que apresentam espécies de grande e médio porte e várias


outras espécies menores distribuídas aleatoriamente. Contêm grande número e
variedade de espécies animais interdependentes. Caracteriza os bosques a presença de
espécies representativas que formam recurso florestal e o conjunto de plantas de uma
região ou país.

Savanas e Pradarias

Formações gramíneas. Savana: Ecossistema de terras baixas que tem regime climático
estacionário nas épocas de seca e chuva, das zonas tropicais e subtropicais. Região
formada de gramíneas, arbustos lenhosos dispersos ou em grupos.

E.3 ARTIFICIAIS

Barragens

Grandes depósitos artificiais construídos nas regiões de vale, onde existem diques para
represar as águas de um rio ou lagoa para segurança, irrigação ou geração de força.

Plantações florestais

Plantação: terreno onde são cultivadas plantas de uma mesma classe. Plantações
florestais são áreas com árvores de uma espécie plantadas para uma determinada
finalidade.
5
Agrossistema

Área de cultura criada artificialmente pelo homem no meio ambiente para explorar os
recursos do solo, ou seja, para desenvolver plantas ou animais para uso imediato ou na
agroindústria. Áreas onde são manipulados diversos produtos naturais e artificiais para
controle de pragas e para o aproveitamento e o tratamento dos resíduos orgânicos.

F. PAISAGEM

F.1. Vistas panorâmicas

Regiões de beleza cênica. Elementos naturais, sociais e mistos.

F.2 Mosaicos de hábitat

Regiões onde o hábitat não é homogêneo. Existe uma grande diversidade de habitats
entrelaçados que variam em tamanho, forma e distribuição relativa de espécies.

G. ELEMENTOS ESTÉTICOS

Elementos naturais que produzem sensações de percepção de beleza ou admiração. As


sensações são associadas aos sentidos visual, auditivo, olfativo, tátil ou gustativo.

1.2 BENEFÍCIOS SOCIAIS DOS RECURSOS NATURAIS

A sociedade se beneficia direta e indiretamente dos recursos que fornecem diversos


bens e serviços ambientais. Os benefícios são agrupados em sete componentes que
formam o capital natural, quais sejam: (1) matérias-primas; (2) consumo de bens e
serviços ambientais; (3) seguridade; (4) descanso e lazer; (5) desenvolvimento
espiritual; (6) proteção contra desastres naturais; (7) proteção à saúde.

É necessário também incluir os fluxos derivados dos componentes do capital natural,


indicados na Tabela 1.1. A partir do estabelecimento dos fluxos que provêm do capital
natural e classificação dos recursos naturais, é possível estabelecer uma relação para
identificar aportes de cada um dos recursos naturais. Isso facilita a valoração do dano
social devido às alterações causadas pelo homem. O Quadro 1.1 indica estas relações.

Para facilitar o uso dessas informações na valoração do dano social, é necessário


estimar a importância do recurso afetado quanto aos bens e serviços ambientais que
fornece à sociedade. Esta estimativa pode ser obtida, por exemplo, a partir da análise
do seu estado de conservação. A quantidade e qualidade dos fluxos que aportam do
capital natural estão relacionados com o estado de conservação, de forma que, à
medida que melhora o estado de conservação do recurso os fluxos, são maximizados.

6
1.3 QUALIDADES INTRÍNSECAS DOS RECURSOS NATURAIS
Os recursos naturais têm qualidades intrínsecas que determinam seu potencial para
realizar funções ecológicas. No Quadro 1.2 estão indicadas as qualidades intrínsecas
dos recursos naturais. As qualidades também estabelecem o potencial que o recurso
tem para fornecer serviços ambientais à sociedade. As qualidades ou indicadores são:

1) Escala;
2) Elasticidade;
3) Representatividade;
4) Complexidade;
5) Componente chave.

Tabela 1.1 Benefícios sociais fornecidos à sociedade pelo capital natural


Benefícios Sociais Comentário Exemplo
Matérias primas
Transformação de matéria- Madeira, água, ar, solo, rochas,
para os processos
prima em bens e serviços areia, fauna, peixes, bactérias etc.
produtivos
Consumo dos Bens e serviços presentes Respirar, tomar água, fertilizar,
bens e serviços na natureza, aproveitados produzir móveis, papel e celulose,
ambientais pela sociedade. construir, etc.
Genomas disponíveis no ambiente,
Possibilidade e segurança
ecossistemas, para no futuro, usar
Seguridade de abastecimento de bens
na biotecnologia, farmacologia,
para necessidades futuras
medicina e agricultura
Capacidade de o ambiente Beleza da paisagem, ar puro, som
oferecer tranqüilidade, paz, agradável da água e vento, rios e
Lazer e Descanso
recreação, lazer e mares para nadar, observar a vida
inspiração. silvestre, pescar, caçar
Higiene mental por desfrutar a
Crescimento da harmonia natureza, o que contribui para a
Desenvolvimento com a natureza. Fortalecer estabilidade emocional, e criar
espiritual a criatividade e o emocional uma sociedade tolerante,
para o bem-estar social produtiva e motivada para o bem
comum.
A vegetação protege o solo, evita
Condições adequadas para saturação da terra, inundações e
Proteção contra
evitar e reduzir os desastres deslizamentos. Manejo adequado
os desastres
naturais e os riscos da dos bosques resulta em ambientes
naturais
população com menor temperatura e mais
umidade (melhoria do microclima)
Regulação natural das populações
Melhora da qualidade de
Proteção à saúde dos peixes, répteis, mamíferos,
vida, reduzir enfermidades
aves, insetos e roedores e outras
Fonte: (BARRANTES, 2001)
7
Lazer
Sociais

Espiritual
Consumo

desastres
Benefícios

Seguridade

Proteção aos
Matéria-prima

Proteção à saúde
x
x
x
x
Recursos minerais

x
x
Materiais de construção

Fonte: (BARRANTES, 2001)


x
x
x
x
Solo
Geológicos
edafológicos

x
x
x
x
Subsolo

x
x
x
x
x
x
x
Águas superficiais
Água

x
x
x
x
x
Freático
Aqüífero

x
Hídricos

x
x
x
x
x
x
Águas marinhas

x
x
x
x
x
Atmosfera

x
x
x
x
x
Clima

x
x
x
x
x
x

Vento
Atmosféricos

x
x

x Energia calórica por combustão


x

Energia eólica
x
x

Energia da maré motriz


x
x

Energia solar
x
x

Energia geotérmica
Energéticos

x
x
x

Energia hidráulica
x
x
x

Hidrocarbonetos e derivados
x
x
x
x

x Vegetal (Flora)
x
x
x

Animal (Fauna)
x
x
x
Recursos naturais

Fungos
x
x
x

Unicelulares
Biodiversidade

x
x
x

Recursos Genéticos
x
x
x
x
x
x

Oceânicos
x
x
x
x
x
x

Marinos / Litorâneos
x
x
x
x
x
x

Estuarinos
Quadro 1.1 Benefícios e serviços ambientais derivados do capital natural

x
x
x
x
x
x

Lacustres / Lénticos
Biológicos

Alagados

x
x
x
x
x
x

Ribeirinhos / Lóticos
x
x
x
x
x
x

Marismas e pântanos
x
x
x
x
x
x

Bosques e florestas
Ecossistemas

x
x
x
x
x
x

Savanas e pradarias
x
x
x
x
x

Culturas
x
x
x
x

Plantações Florestais
x
x
x
x
Domésticos

Sistemas agrícolas
x
x
x
x

Vistas panorâmicas
x
x
x
x
x

Mosaicos de hábitat
Paisagem

x
x
x
x

Elementos estéticos
8
Quadro 1.2 Qualidades intrínsecas dos recursos naturais (BARRANTES, 2001)
Qualidades Comentário Exemplos
Dimensão. Magnitude do efeito Uma represa afetada com produtos tem um
temporal e espacial do recurso. efeito em escala maior que em área de
Segundo a escala espacial, pode pastagem. A magnitude do efeito da
ser de Macroescala: escalas evaporação da água superficial da lagoa de
Escala
amplas km ou mais; Mesoescala: Itaipu no microclima é maior que o efeito
escalas de alguns ha; sobre a lagoa do Parque Barigui.
Microescala: escalas de poucos
metros quadrados
Taxa que a população afetada Os pólipos coral morrem com pisoteamento; a
Fragilidade ecológica (pouca capacidade

retorna ao equilíbrio depois da capacidade de o coral se recuperar é lenta ou


perturbação. reduzida; é muito frágil. Uma lagoa adapta-se
melhor as mudanças que o coral.
de recuperação)

Indica capacidade intrínseca para As mariposas têm altas taxas de reprodução


Elasticidade nos processos, capacidade de recuperação

assimilar, suportar perturbações tem grande elasticidade.


de agentes exógenos. Uma ave com aparência robusta como
indivíduo pode ser frágil devido sua escassa
Caso particular de Elasticidade população e baixa capacidade de reprodução.
(Renovabilidade) quando o fator Algumas árvores suportam efeitos de fungos,
não tem capacidade de suportar mas, são frágeis pela sua limitada capacidade
mudanças e atinge um estado de recuperação.
irreversível rapidamente.
Capacidade de restabelecer ou Extinção. Recuperação do sapo dourado não é
regressar ao seu estado inicial. mais possível sua extinção é um processo
irreversível. A recuperação das populações de
Elasticidade indica a capacidade crocodilos é possível, existem indivíduos que
Renovabilidade

de recuperação do fator. podem se reproduzir. Ecossistema. Um


bosque secundário tem maior capacidade de
recuperação que o clímax. Hidrologia. Um rio
Processos cíclicos, capacidade de
se renova mais rápido que o crescimento de
reiniciar ciclos.
um bosque primário. Ciclos. Os ciclos
biogeoquímicos dos compostos gasosos têm
Capacidade natural de reposição uma maior capacidade de renovação que dos
do fator afetado sedimentares. O N2 tem um ciclo de maior
capacidade que o fósforo (P)
Componente que representa as O Parque Nacional do Iguaçu é representante
suas características próprias, no do bosque úmido. Araucária é representante
Representatividade
grupo sistema e/ou região em do bosque do planalto paranaense.
determinado momento.
Um bosque tropical tem maior complexidade,
Quantidade de interações em que mais espécies e mais interações do que um
participa e as afeta. bosque temperado. Um bosque natural é mais
Complexidade complexo que uma plantação florestal (#
Variedade de elementos e as espécies, tipo e interações). Uma perturbação
na nascente do rio pode ter maiores efeitos
interações entre os mesmos
sobre a bacia do que na parte baixa da bacia.
Componente de sustentação e Espécie chave do ecossistema: outras espécies
dependência de um ecossistema, têm dependência do componente e
Componente chave
em relação à variedade e outros desaparecem quando ele é muito afetado.
fatores Mariscos em pântanos.

9
1.4. VALORAÇÃO DAS QUALIDADES DOS RECURSOS NATURAIS

Em geral, é possível avaliar o potencial ecológico dos recursos naturais. Geralmente, o


potencial é afetado pela alteração causada pela ação humana e, justamente, esta
alteração do potencial ecológico dos recursos afetados deve ser analisada para
estabelecer a magnitude do dano ambiental. Nesse sentido, utiliza-se um conjunto de
parâmetros e pesos para avaliar o potencial do recurso natural. Isto significa que a
valoração global dos recursos naturais é obtida a partir da avaliação parcial dos
indicadores utilizados no referido processo (BARRANTES, 2001).

Naturalmente para cada situação os parâmetros ou critérios utilizados na valoração do


recurso afetado têm pesos diferentes, porque, têm diferentes níveis de importância
sobre a integridade do recurso em análise. A valoração da importância relativa de cada
parâmetro é realizada por grupos de especialista utilizando, por exemplo, uma escala
de valores. Neste caso, a soma de todos os parâmetros deve ser 100. Usualmente, a
valoração individual da importância de cada parâmetro na valoração global do recurso
é realizada por uma equipe interdisciplinar de especialistas.

Além do potencial ecológico do recurso natural é possível também avaliar o seu estado
de conservação. Tal avaliação é realizada utilizando as características ou qualidade do
recurso. A avaliação do estado de conservação do recurso é geralmente realizada por
especialistas que atribuem valores, escala numérica ponderada, para as características
investigadas. Este processo permite estimar o estado de conservação dos recursos
naturais em seu estado máximo de fornecimento de bens e serviços ambientais, assim
como após uma determinada intervenção negativa ou positiva. Dessa forma é possível
conhecer o estado de conservação do recurso antes e depois do dano ambiental.

1.5. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ECOLÓGICO DOS RECURSOS NATURAIS

Para estimar o potencial ecológico dos recursos naturais, admite-se que existe uma
relação direta entre as qualidades intrínsecas (características) e o potencial ecológico.
Esta hipótese é justificada considerando as funções ecológicas e a capacidade máxima
de os recursos fornecerem bens e serviços ambientais. Em termos matemáticos pode-
se escrever,

Onde:
 = potencial do recurso natural (%);
 = qualidade i do recurso (0 < w < 10);
 = ponderação da qualidade i (%).

Considerando que o potencial ecológico do recurso pode assumir valores de 0 a 100%,


pode-se associar aos valores as classes indicadas na Tabela 1.2.

10
Tabela 1.2 Classificação do potencial ecológico dos recursos naturais
Categoria Faixa (%)
Muito baixo 0 – 20
Baixo 21 – 40
Regular 41 – 60
Alto 61 – 80
Muito Alto 81 – 100

1.6. ESTADO DE CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

O estado de conservação do recurso refere-se ao nível de manutenção dos processos


que é capaz de realizar. Este parâmetro indica a condição do recurso em relação a sua
capacidade de garantir o contínuo funcionamento. Na escala percentual, o 100% indica
que o recurso está no estado máximo de conservação, enquanto 75%, por exemplo,
indica que existe a deterioração de 25% do recurso por eventos passados (BARRANTES,
2001).

Existe uma série de indicadores ou critérios que se deve identificar para poder avaliar o
estado de conservação dos recursos. No Quadro 1.3 estão os indicadores ou critérios
geralmente usados para se avaliar o estado de conservação dos recursos naturais. Para
utilizá-los, em cada caso particular, é feita a seleção prévia dos indicadores específicos
e a sua ponderação. A ponderação de um critério selecionado deve levar em conta a
sua relação com a valoração global do recurso natural analisado.

Para facilitar a ponderação inicial dos critérios, pode-se considerar uma distribuição
uniforme, onde todos os indicadores adotados têm o mesmo peso ou importância no
processo de avaliação do estado de conservação dos recursos ambientais investigados.
Nos casos em que os indicadores não têm pesos iguais, é necessário avaliar a
importância de cada indicador para depois atribuir os pesos.

A estimativa do estado de conservação inicial do recurso, EC inicial, pode ser obtida a


partir da avaliação ponderada de m indicadores, realizada por especialistas, adotando
uma escala adequada de valores. Dessa maneira, pode-se escrever,

Onde:

 = valor atribuído pelo especialista i para o indicador j;


 = valor médio do indicador j;
 n = número de especialista do grupo de avaliação;
 j = 1, 2,..., m indicadores.
11
Quadro 1.3 Indicadores para avaliação do estado de conservação dos recursos naturais
INDICADORES COMENTÁRIO
Identificação das O tipo das espécies dominantes que definem a dinâmica e os tipos
espécies dominantes de espécies que coexistem nos ecossistemas.
Presença de espécies Identificação de espécies que contribuem na determinação das
chave condições dos ecossistemas.
Composição das Lista das espécies presentes. O grupo listado depende do fator
espécies afetado. As espécies seguem padrões que indicam as condições.
Tipo das
Espécie cuja presença descreve o estado de conservação do
espécies
recurso ambiental.
indicadoras
Tamanho de
fragmentos

O grau de fragmentação do ambiente indica sua conservação. Os


ecossistemas com fragmentação têm menor probabilidade de
persistência no tempo e menos capacidade de renovação.
Grau de perturbação

Fragmentação de hábitat

interconexão
Grau de

Uma medida dos fragmentos interconectados possibilita avaliar os


processos de re-colonização e isolamento das espécies.
Tipo e quantidade da
matriz

O entorno dos ambientes determina também o grau de isolamento


das espécies e tipos de ameaça dos ecossistemas.

Muito valiosa, mas, não é indispensável: é informação custosa e


difícil de obter, fornece a melhor descrição da estrutura ecológica
Diversidade
do ecossistema e indica a quantidade de indivíduos por espécie e a
sua abundancia relativa.

Relações ecológicas mais O ecossistema está definido por elementos bióticos e abióticos,
importantes do sistema mas, sua importância está nas relações existentes entre os fatores.
A abundância e distribuição de espécies são variáveis indicativas
Condição da população,
das condições das populações e fornecem a clara indicação do seu
densidade, distribuição
estado de conservação.
Qualidade Qualidades disponíveis no âmbito local e regional.
Quantidade Quantidades disponíveis no âmbito local e regional.
Fonte: (BARRANTES, 2001)

12
Fazendo a ponderação j para o indicador j, a avaliação global do recurso natural será,

Onde:
 = estado de conservação inicial do recurso (%);
 = ponderação atribuída para o indicador j.

Uma vez avaliado o estado de conservação inicial dos recursos, é necessário estimar o
estado de conservação após o dano ambiental. Isto significa que é necessário estimar o
nível das alterações ocorridas nos recursos afetados. Para tanto, os mesmos critérios
escolhidos para avaliar o estado inicial dos recursos são analisados pelos especialistas,
para qualificar o nível da alteração provocada pelo impacto, mediante a atribuição de
valores e pesos de uma escala numérica, como o que é realizado para Avaliar o estado
de conservação inicial do recurso afetado. Em termos matemáticos, temos:

Onde:
 = valor atribuído pelo especialista i para o grau de alteração do indicador j;
 = valor médio do nível de alteração do indicador j;
= Índice de alteração do recurso natural.

O estado de conservação final do recurso, EC final, após o impacto, é determinado a


partir dos valores estimados do estado de conservação inicial do recurso e nível do
impacto. Em geral, o estado de conservação dos recursos naturais não está no valor
máximo e, nesse caso, devemos calcular o nível do impacto real a partir da relação,

EC inicial x 

Assim, o estado de conservação final do recurso afetado pelo impacto é determinado a


partir dos valores do estado inicial de conservação e o nível do impacto real,

EC final = EC inicial * (1 - )

13
EXEMPLO

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ECOLÓGICO E DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO RECURSO

Em setembro de 2001, um derrame de 20.000m3 de vinhaça em um rio causou a morte


de grande quantidade de peixes de uma reserva pesqueira. Na investigação de campo
foi verificado que não houve a morte de aves e animais da fauna terrestre. O acidente
causou danos econômicos e socioambientais nas comunidades vizinhas. Para estimar o
valor econômico do dano ambiental foi necessário avaliar o potencial ecológico e os
estados de conservação inicial e final dos recursos afetados pelo acidente.

ESTIMATIVA DO POTENCIAL ECOLÓGICO DA REGIÃO AFETADA

Para estabelecer o grau de importância ecológica da região afetada foram escolhidos


cinco indicadores (critérios): elasticidade, componente chave, complexidade, escala e
representatividade. Esses critérios foram ponderados e qualificados por um grupo de
especialistas que atribuiu valores, na escala de 0 a 10, para cada critério. Os resultados
obtidos nessa etapa estão apresentados nas Tabelas 1.3 e 1.4.

Tabela 1.3 Ponderação de critérios para avaliar o potencial ecológico dos recursos
Qualidade Ponderação (%)

Elasticidade 26,1

Componente chave 20,9

Complexidade 18,8

Escala 17,2

Representatividade 15,6

Tabela 1.4 Valores atribuídos pelos especialistas para qualificar os critérios


Qualidade Ponderação Qualificação Qualificação Real
(%) Nominal (0 – 10) (Ponderada)
Elasticidade 26,1 7,4 1,94 = (7,4 x 0,261)

Componente chave 20,9 7,8 1,62

Complexidade 18,8 8,4 1,58

Escala 17,2 6,4 1,10

Representatividade 15,6 8,3 1,29

Potencial Ecológico 7,53

14
Os especialistas avaliaram o grau de importância de cada critério, considerando a sua
relação com o potencial ecológico dos recursos afetados, atribuindo valores de 0 a 100
(Tabela 1.3). Na seqüência, atribuíram valores de 0 a 10, para qualificar o estado de
conservação dos critérios analisados.

Os dados da Tabela 1.4 indicam o valor nominal médio das qualidades dos recursos,
determinado a partir dos valores individuais atribuídos pelos especialistas, bem como
o valor real (ponderados) médio das qualidades selecionadas para estimar o potencial
ecológico dos recursos ambientais investigados.

Os resultados indicam que o valor estimado para o potencial ecológico da região foi de
75,3%. Utilizando as categorias de potencial ecológico da Tabela 1.2 pode-se observar
que a região afetada apresenta um alto potencial ecológico. O valor real do potencial
ecológico também pode ser determinado a partir da relação:

= (0,261 x 7,4) + (0,209 x 7,8) + (0,188 x 8,4) + (0,172 x 6,4) + (0,156 x 8,3) = 7,53 (75,3%)

O resultado indica que a região do acidente apresenta alto potencial ecológico, 75% do
máximo, considerando os critérios de avaliação adotados.

ESTIMATIVA DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA REGIÃO

Para avaliar o estado de conservação da região foram estabelecidos oito critérios:

1. Beleza cênica;
2. Biomassa e abundância;
3. Diversidade de espécies;
4. Redes tróficas;
5. Reservas ecológicas e pesqueiras;
6. Qualidade da água superficial;
7. Estado dos mangues;
8. Qualidade dos sedimentos.

A escolha desses critérios foi realizada pelos especialistas, utilizando algumas bases de
informações técnicas e científicas, entrevistas de campo, durante 1 ano. A partir das
informações coletadas, os critérios de avaliação foram ponderados, sendo analisada
sua importância no ecossistema. Em seguida, os especialistas utilizaram uma escala de
de 1 - 10, onde dez significa o estado ótimo de conservação, para qualificar os critérios
para estimar o estado de conservação da região, antes e após o dano. Na Tabela 1.5
estão os critérios e os pesos. A qualificação nominal e real do estado de conservação
dos recursos atingidos pelo acidente está apresentada na Tabela 1.6.

15
Tabela 1.5 Critérios ponderados de avaliação do estado de conservação
Critério Ponderação (%)
Beleza cênica 4,4
Biomassa e abundância 17,4
Diversidade de espécies 13,3
Redes tróficas 13,2
Reservas ecológicas e pesqueiras 17,9
Qualidade da água superficial 17,5
Estado dos mangues 8,1
Qualidade dos sedimentos 8,3
Total 100,0

Tabela 1.6 Qualificação nominal e real das qualidades ambientais dos recursos
Critérios Ponderação Qualificação Qualificação real
(%) nominal (1-10) (ponderada)
Beleza cênica (BC) 4,4 8,0 0,35
Biomassa e abundância (BA) 17,4 7,8 1,35
Diversidade de espécies (DE) 13,3 8,2 1,09
Redes tróficas (RT) 13,2 8,4 1,11
Res. ecológicas e pesqueiras (RS) 17,9 7,9 1,42
Qual. da água superficial (QA) 17,5 7,3 1,27
Estado dos mangues (EM) 8,1 8,5 0,68
Qualidade dos sedimentos (QS) 8,3 6,8 0,56
Estado de Conservação Inicial (j) (Yj) 7,83

Os resultados da Tabela 1.6 foram obtidos a partir da relação:

= (0,044 x 8,0) + (0,174 x 7,8) + (0,133 x 8,2) + (0,132 x 8,4) + (0,179 x 7,9) +
(0,081 x 8,5) + (0,083 x 6,8) = 83 (78,3%)

Os resultados mostraram que o estado de conservação inicial da região era 78,3%. Isto
significa que o estado de conservação não era ótimo, ou seja, antes do dano a região já
estava alterada em torno de 21,7%, em relação ao ponto ótimo. A situação do estado
de conservação inicial da região está ilustrada na Figura 1.1.
16
(BC)
10
8 8,0
(QS) (BA)
6,8 6
7,8
4
2
(EM)
8,5 0 (DE)
8,2

7,3
(QA) 8,4 (RT)

7,9
(RS)

Figura 1.1 Valor nominal dos critérios de avaliação do estado de conservação

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO ACIDENTE

Para avaliar a alteração causada pelo acidente no estado de conservação da região e a


perda de serviços, foram utilizados os mesmos critérios das etapas anteriores. Os
especialistas qualificaram o nível do impacto para cada critério com a escala de 0 a 10,
onde dez representa o impacto máximo e a perda da capacidade de fornecer serviços.

Com os critérios ponderados e valores dos níveis de impacto, obteve-se o índice global
do dano ambiental do acidente. Na Tabela 1.7 estão os dados da qualificação nominal
e ponderada do impacto, obtidos com a relação:

 = (0,044 x 4,7) + (0,174 x 9,0) + (0,133 x 8,5) + (0,132 x 9,0) + (0,179 x 9,0) + (0,175 x
9,2) + (0,081 x 3,5 ) + (0,083 x 6,3) = 8,1 (81,0%)

A partir dos resultados da Tabela 1.7, pode-se afirmar que o nível do impacto negativo
causado pelo acidente foi de 81%. Isto significa que o impacto do evento causou uma
redução quase total dos benefícios. O índice global do impacto pode ser utilizado para
avaliar o dano ambiental total. Na Figura 1.2, pode-se observar a situação e os valores
dos critérios de avaliação do impacto negativo do evento. O gráfico mostra que o nível
de impacto máximo é 10.

Os resultados indicam que os impactos do acidente afetaram menos os Mangues (ES),


a Beleza Cênica (BC) e a Qualidade dos Sedimentos (QS) e, com mais intensidade, a
Qualidade da Água (QA), Biomassa (BA), Reservas (RS) e Diversidade de espécies (DE).

17
Tabela 1.7 Nível de impacto do acidente sobre as qualidades ambientais da região
Critérios Ponderação Qualificação Qualificação real do
(%) nominal do impacto (Ponderada)
impacto (1-10)
Beleza cênica (BC) 4,4 4,7 0,20 = (0,044 x 4,7)
Biomassa e abundância (BA) 17,4 9,0 1,57
Diversidade de espécies (DE) 13,3 8,5 1,13
Redes tróficas (RT) 13,2 9,0 1,19
Res. ecológicas e pesqueiras (RS) 17,9 9,0 1,62
Qual. da água superficial (QA) 17,5 9,2 1,60
Estado dos mangues (EM) 8,1 3,5 0,28
Qualidade dos sedimentos (QS) 8,3 6,3 0,52
Índice global do impacto (j) (NAj) 8,1

(BC)

(QS) 4,2 (BA)

2,5

(EM)
5,5 0,8 0,8 (DE)
0,6 1,2
0,8

(QA) (RT)

(RS)

Figura 1.2 Nível do impacto do acidente nas qualidades ambientais da região afetada

ESTIMATIVA DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA REGIÃO DEPOIS DO ACIDENTE

Considerando que o estado de conservação inicial não era ótimo, o nível de impacto
negativo real deve ser determinado com em função do nível nominal do impacto e do
estado de conservação do recurso antes do acidente, aplicando a relação:

Índice de Impacto Real = EC inicial x 

Índice de Impacto Real = 78,3% x 81,0% = 63,42%

Assim, o índice de impacto real é 63,42%. Considerando que o dano ambiental causado
é igual à diferença do estado de conservação inicial e final da região afetada, deve-se
estimar o valor do estado de conservação final do ambiente, a partir da relação
18
EC final = EC inicial x (1 - )

EC final = 0,783 x (1 – 0,81) = 0,1488

O resultado permite a constatação de que o estado final de conservação final da região


afetada é igual a 14,88%. Isto significa que o acidente provocou uma significativa perda
de serviços ambientais na região decorrentes do despejo de vinhaça no rio. No gráfico
da Figura 1.3 observa-se o estado de conservação inicial e final da região afetada.

(BC)
10

(QS) 8 (BA)
6
4
2
(EM) 0 (DE)

(QA) (RT)

(RS)

Figura 1.3 Estado de conservação inicial (quadrado) e final (triângulo) da área

1.7 AÇÕES QUE CAUSAM DANOS NOS RECURSOS NATURAIS

Ações são intervenções no meio natural. As ações que afetam negativamente o


sistema ambiental, que constam no Quadro 1.4 são descritas por Leopoldo em 1971.
As principais foram agrupadas para facilitar sua identificação e quantificação. Segundo
a referida classificação, as ações que originam dano ambiental nos recursos naturais
são:

(1) Contaminação
Agentes tóxicos ou infecciosos que prejudicam a vida, a saúde e bem-estar do
homem e da biodiversidade. Degradam a qualidade ambiental do ar, da água e
terra, afetam o equilíbrio ecológico, bens particulares e públicos. Ações de
lançamento de substâncias químicas, gases e materiais, ruídos e agentes
biológicos que ultrapassam a capacidade de assimilação do sistema ambiental.
(2) Introdução de organismos exóticos
Introdução de espécies externas ao ecossistema conhecida como contaminação
biológica. Provoca a eliminação das espécies nativas como, por exemplo: a
introdução de peixes com trutas e tilápias tende a eliminar os peixes nativos.
19
(3) Derrubada de florestas

Remoção da vegetação do bosque que causa efeitos negativos no ecossistema.


Ação realizada para extrair madeira, preparar a terra para agricultura, pecuária
e para o desenvolvimento urbano e turístico.

(4) Incêndios e queimadas

Alteração por incêndio controlado ou não do ecossistema. Ações que causam


impactos sobre o solo e fauna silvestre e outros fatores ambientais.

(5) Extração

Ações do homem sobre os recursos naturais (vida silvestre, água, minerais do


solo e subsolo, etc.) e dos produtos derivados dos mesmos. Ações de caça
ilegal, perfurações inadequadas de poços de águas subterrâneas podem
produzir processos de salinização e a contaminação das águas superficiais.

(6) Modificação da paisagem

Alteração da estrutura, composição e aparência do ambiente. Transformação


do território. Ações que provocam impactos no habitat pela transformação da
cobertura vegetal do terreno.

(7) Modificação do regime hídrico

Alteração da hidrologia, do sistema de drenagem e dos fluxos dos rios e canais.


Ações que provocam modificações na dinâmica natural do sistema hidrológico
superficial e subterrâneo por aumento ou redução de variáveis que afetam o
sistema, como por exemplo, umidade e regime de chuvas.

(8) Uso abusivo do solo

Uso inadequado do solo, modificando a dinâmica e reduzindo o seu potencial.


Ações de lixiviação, cultivo excessivo que causam o aumento dos processos
erosivos, vazamento de produtos tóxicos que contaminam, impermeabilizam e
modificam as características do solo.

(9) Construções

Alterações do ambiente natural por introdução de estruturas artificiais para o


desenvolvimento. Construção de condomínios, aeroportos, portos, estradas e
linhas de transmissão de energia.

20
Quadro 1.4 Ações que causam danos ambientais nos recursos naturais (BARRANTES, 2001)
Recursos Naturais
Geológicos Hídricos Atmosféricos Energéticos Biológicos Paisagem
Biodiversidade Ecossistemas

Hidrocarbonetos e derivados
Energia calórica combustão
Úmidos Domésticos

Materiais de construção

Marinhos e Litorâneos
Ações que causam

Plantações florestais
Savanas e pradarias
Recursos Genéticos

Ribeirinhos / Lóticos
Águas subterrâneas

Lacustres / Lénticos

Mosaicos de hábitat
Energia maremotriz

Vistas panorâmicas
Energia geotérmica

Elementos estéticos
danos ambientais Recursos minerais

Agro- ecossistema
Águas superficiais

Energia hidráulica
Águas marinhas

Animal (Fauna)
Vegetal (Flora)
Energia eólica

Energia solar

Unicelulares

Oceânicos

Estuarinos

Pântanos
Bosques
Aqüífero
Subsolo

Fungos
Vento
Clima
Solo

Ar
Contaminação x X x x x x x x x x x x x x x x x x x x x

Introdução de organismos
x x x x x x x x x x x x x
exóticos

Desflorestamento x x x x x x x x x x x x x x x x x x

Queimadas e incêndios x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x

Extrações e perfurações x x x x x x x x x x x x

Modificação da paisagem x x x x x x x x x x x x x x x x

Modificação do regime
x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x
hídrico

Usos abusivos do solo x x x x x x x x x x x x x x x x x x x

Construções x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x

21
2 DIREITO AMBIENTAL

Nesse capítulo, apresentam-se assuntos relacionados ao Direito Ambiental, incluindo a


legislação ambiental brasileira, os órgãos e competências legais, os princípios, as leis e
normas que norteiam a legislação ambiental, inquérito e ação civil pública e questões
da perícia ambiental. Considerando o objetivo desse curso, não se pretende esgotar o
assunto. Objetiva-se apresentar de forma resumida as principais fontes e informações
necessárias para realizar a perícia ambiental.

2.1 LEGISLAÇÃO NACIONAL

Didaticamente, o estudo do Direito é dividido em duas áreas: o público e o privado. O


primeiro trata de uma gama de direitos comuns aos cidadãos, enquanto o segundo
trata dos direitos particulares. No direito privado a propriedade é o principal instituto.
No direito público, é o bem-estar comum (CARVALHO, 1998).

O Direito Ambiental caracteriza-se por pertencer a uma pluralidade de sujeitos não


identificáveis, mas que pode ser exercido a qualquer tempo, considerando que acima
de qualquer interesse está o da sociedade. É o chamado Direito Difuso.

O Direito existe pelo homem e para o homem. Dessa forma, todo o disciplinamento
intentado pelo legislador no âmbito de resguardar os recursos naturais, vivos ou não,
deve ser feito, através da lente da equidade social. Enfim, é preciso saber os diversos
aspectos ou os vários sentidos, em que se fala de Direito Ambiental. Um dos aspectos
é o do meio ambiente, propriamente dito, isto é, os recursos naturais existentes (ar,
água, flora, fauna, etc.).

Outro aspecto é o do ambiente criado pelo homem, isto é, o ambiente eminentemente


humano, como praças, ruas, edifícios, obras, etc. Por último o ambiente do trabalho,
onde aspectos relacionados com a iluminação, ventilação, ruídos, temperatura, dentre
outros, são importantes. Assim, pode-se conceituar Direito Ambiental como:

“Conjunto de princípios, institutos e normas sistematizadas para disciplinar o


comportamento humano, objetivando proteger o meio ambiente”.

2.2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Admitir que existe um Direito Ambiental exige, no mínimo, que se conceituem os


princípios norteadores da aplicação da legislação ambiental.

a) Princípio da Prevenção: Esse é o maior e mais importante ordenamento jurídico


ambiental, considerando que a prevenção é o grande objetivo de todas as normas
ambientais, uma vez que, desequilibrado o ambiente, a reparação é, na maior parte
das vezes, uma tarefa difícil e dispendiosa. Os instrumentos da Política Nacional do
Meio Ambiente estão fundados nesse princípio.

22
b) Princípio da Cooperação: Significa dizer que todos, o Estado e a Sociedade, através
dos seus organismos, devem colaborar para a implementação da legislação ambiental,
pois não é só papel do governo ou das autoridades, mas, de cada um e de todos nós.

c) Princípio da Publicidade e da Participação Popular: Importa afirmar que não se


admitem segredos nas questões ambientais, pois elas afetam a vida de todos. Tudo
deve ser feito, principalmente pelo Poder Público, com a maior transparência possível,
para permitir participação na discussão dos projetos e problemas dos cidadãos.

d) Princípio do Poluidor-pagador: Apesar de ser um princípio lógico, pois quem


estraga deve consertar, infelizmente ainda não é bem aceito, ficando para o Estado a
obrigação de recuperar, para a sociedade, o prejuízo; e para o mau empreendedor,
somente o lucro.

e) Princípio In dúbio pro natura: É uma regra fundamental da legislação ambiental,


que leva para a preponderância do interesse maior da sociedade, em detrimento do
interesse individual e menor do empreendedor ou de um dado projeto.

2.3 MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição de um país é a sua Lei Maior. O Direito Ambiental que integra o Sistema
Jurídico Nacional se apóia na Carta Magna. O Legislador Constituinte de 1988 dedicou
especial atenção ao tema, reservando um capítulo da Constituição, para tratar do meio
ambiente. O Capítulo VI do Título VIII, no art. 225, cuja transcrição é obrigatória, diz:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de


uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as
futuras gerações”

O termo Todos significa que qualquer pessoa é sujeito de direitos relacionados ao


meio ambiente. Na linguagem jurídica o bem de uso comum abrange todos os bens
que não pertencem a ninguém especificamente, entretanto, que possam ser utilizados
por qualquer um, a qualquer tempo, sem qualquer ônus (água, ar, luz solar, etc).

O sentido do termo qualidade de vida é amplo e abrange todos os aspectos da vida


humana, tais como: transporte coletivo, segurança pública, comunicações, hospitais,
lazer, habitação, enfim, tudo que possa conduzir a um nível de bem-estar do cidadão.

A responsabilidade pelo meio ambiente ecologicamente equilibrado não está restrita


ao Poder Público constituído (seja Federal, Estadual ou Municipal). O termo preservar
para gerações futuras está associado ao desenvolvimento sustentável. Na Tabela 2.1
estão apresentados alguns parágrafos e incisos da Constituição de 1988 relacionados
com o meio ambiente.

23
Tabela 2.1 Análise comentada dos parágrafos e incisos do art. 225 da Magna Carta

PARÁGRAFO / INCISO COMENTÁRIO


o
1º / 1º - Preservar e Trata do manejo ecológico, regulado no Decreto n 1.282/94. Procedimento
restaurar processos para conservar os recursos naturais, conservar a estrutura da floresta e
ecológicos funções, manutenção da diversidade biológica e desenvolvimento sócio –
ecológico.
Trata da preservação. 1) A preservação realizada por qualquer uma das três
maneiras possíveis: in situ, preservando-se o ecossistema no qual se
1º / 2º - Preservar encontra seu meio natural; ex situ, preservando-se parte do organismo,
patrimônio genético como sementes, sêmen, outros; e ex situ, preservando-se o organismo
inteiro em ambientes artificiais - em zoológicos, jardim botânico, aquário e
outros. 2) É permitida a manipulação de material genético, desde que dessa
manipulação resulte um aprimoramento na qualidade de vida. A lei que trata
o
do tema é a n 8.974/95.
No inciso terceiro encontramos referência as unidades de conservação tais
1º / 3º - Unidades de como: APA, ARIE, AIET, reserva, parques, dentre outras. Cada uma destas
Conservação unidades tem um regime próprio com limitações de uso, zoneamento,
objetivo e características próprias.
No inciso quarto, a necessidade de elaboração do EIA/RIMA. A lei que
o o
1º / 4º - Elaborar disciplina este inciso é a de n 6.803/80, modificada pela Lei n 6.938/81 e
EIA/RIMA Resolução 001/86 do CONAMA que lhe fixou suas diretrizes gerais. O Estudo
é realizado por equipe multidisciplinar e, apresentado em audiência pública
para aprovação popular via RIMA.
O inciso quinto abrange tanto a poluição do ar (pelas suas mais diversas
1º / 5º - Poluição do formas), quanto a da água (rios e mar principalmente) e do solo (através dos
Meio Físico agrotóxicos e biocidas por exemplo). Existe farta legislação para controlar
emissões, bem como multas, penas, etc.
A educação ambiental está prevista no inciso sexto, deve ter como
1º / 6º - Educação
principais características interdisciplinaridade, tratamento sistêmico,
Ambiental
mudança filosófica de comportamento (atitude), pesquisa e a discussão do
desenvolvimento sustentável em termos econômicos.
A proteção à fauna e à flora, do inciso sétimo, é realizada através de
legislação como: Código de Pesca, da Caça e Florestal, além de dispositivos
1º / 7º - Proteção à
dispersos nos Códigos Civil e Penal, a Lei das Contravenções Penais e ainda
Fauna e Flora
Resoluções e Portarias Administrativas com cunho federal. Em 1998 foi
o
sancionada a Lei n 9.605 que trata dos Crimes Ambientais.
2º- Recursos Minerais O Código de Minas regulamenta o disposto no parágrafo segundo que versa
sobre os recursos minerais.
As pessoas físicas e jurídicas têm responsabilidades civil, penal e
administrativa nas ações lesivas ao meio ambiente, conforme disciplina o
3º - Responsabilidade
parágrafo terceiro. Cabe ressaltar que estamos nos referindo à
Objetiva
responsabilidade objetiva, isto é, não é necessária a prova de dolo ou culpa.
Basta que se prove o dano. A responsabilidade pode ser cumulativa, isto é, o
causador do dano pode receber sanções penal, civil e administrativa.
O parágrafo quarto trata da Floresta Amazônica Brasileira, da Mata
4º- Florestas
Atlântica, da Serra do Mar, do Pantanal Mato–grossense e da Zona Costeira.
5º - Terra Devolutas Trata da indisponibilidade das terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados
para a proteção dos ecossistemas.
6º - Usinas Nucleares Localização definida em lei federal para a sua instalação.

24
2.4 POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (PNMA)

O mais importante diploma legal brasileiro na área ambiental é a Lei no 6.938/81, com
regulamentação no Decreto no 99.274/90. Essa lei materializa a tradução jurídica da
Política Nacional do Meio Ambiente.

O objetivo principal dessa Lei é a preservação, melhoria e recuperação da qualidade


ambiental, e indica os parâmetros do desenvolvimento sócioeconômico, segurança
nacional para a dignidade humana. Os princípios adotados são o equilíbrio ecológico, a
racionalização do uso dos recursos naturais, proteção dos ecossistemas, zoneamento,
incentivos à educação. A responsabilidade civil objetiva no campo do dano ambiental é
estabelecida por essa Lei, que prevê as sanções administrativas aplicáveis pelos órgãos
de controle e fiscalização ambiental locais.

A organização do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) foi traçada nesta Lei,
como os órgãos superiores (Conselho de Governo); os órgãos consultivo e deliberativo
(CONAMA); órgão central (Ministério do Meio Ambiente); órgão executor (IBAMA);
órgãos setoriais (federais); órgãos seccionais (estaduais) e locais (municipais).

Os instrumentos da proteção ambiental também têm origem nessa Lei. Os principais


instrumentos são o Licenciamento Ambiental, o Zoneamento e Estudo de Avaliação de
Impacto Ambiental(EIA/RIMA). Outros instrumentos: o estabelecimento de padrões de
qualidade ambiental através da Câmara Técnica do CONAMA e fiscalizada pelo IBAMA,
o estabelecimento de unidades de conservação (APA), o cadastro técnico de atividades
de defesa e potencialmente poluidores, e sanções tais como: multa, perda ou restrição
de incentivos ou benefícios, suspensão de atividades, entre outras.

2.5 ÓRGÃOS E COMPETÊNCIAS LEGAIS

A Constituição Federal de 1988 alterou as competências ambientais, descentralizando


a competência para legislar sobre o meio ambiente, que antes era concentrada na
União. Conforme o Art. 22 da Carta Magna, a competência privativa da União fica
restrita às matérias sobre águas, energia, navegação fluvial, lacustre e marítima, aérea,
aeroespacial, trânsito, recursos minerais, populações indígenas e atividades nucleares.

Existe também a competência concorrente em matéria ambiental conforme consta no


Art. 24 da Constituição Federal. Dessa forma, o Estado da Federação tem competência
legislativa concorrente com a União para fazer leis ambientais. Cabe salientar que o
princípio da hierarquia das leis deve ser respeitado.

O município também é um ente da Federação e pode legislar em matérias ambientais


de interesse local, podendo ser uma legislação mais restritiva, e suplementando a
federal e a estadual. O Art. 30 da Constituição trata dessa competência municipal para
legislar as matérias ambientais de interesse local. Na Tabela 2.2 está indicada a
competência e atribuição dos órgãos ambientais no país. Na Tabela 2.3 está a
competência legislativa, político-administrativa de cada ente da União em relação às
matérias ambientais.

25
Tabela 2.2 Competência dos órgãos que tratam das questões ambientais
Órgão do poder
Ente da Órgão administrativo
judiciário, polícia civil, Ministério público
federação e ambiental
militar, ambiental
 Ministério do Meio  Justiça Federal Ministério Público
Ambiente (MMA)  Polícia Federal Federal
 SISNAMA (Procuradores.
UNIÃO  CONAMA Matérias: índios,
 IBAMA águas federais e
subterrâneas,
energia nuclear,
praias, parques
nacionais e fauna
 Conselho Estadual de  Justiça Estadual Ministério Público
Meio Ambiente  Polícia Judiciária (Promotores de
 Secretarias de M.A.  Polícia Militar Justiça). Matérias:
ESTADO  Órgãos Ambientais  Polícia Florestal Todas que não são
(CETESB, FEMA) interesse da União

 Conselho Municipal de  Guarda Municipal


Meio Ambiente
MUNICÍPIOS  Secretaria Municipal
de Meio Ambiente

Tabela 2.3 Competência legislativa e político-administrativa na área ambiental


Competência
Ente da Competência Divisão da atribuição
administrativa (atuação
federação legislativa por matéria definida
ambiental)
 PRIMITIVA (União)  COMUM  Caça (animais)
Monopólio: Águas, energia, - Poder de Polícia  Energia nuclear
crimes, recursos minerais, - Multar  Agrotóxicos
questões indígenas - Licenciar  Águas
(Congresso Nacional), - Fiscalizar  Mineração
UNIÃO Art. 22 da Constituição - Embargar  Garimpo
- Interditar  Lixo
 CONCORRENTE  Unidade de
(União + Estados) Art. 23 Constituição Conservação
Estabelece normas gerais. Federal. Incisos III, IV, VI,  Florestas
(Congresso Nacional), VII, XI
 COMUM  Águas internas
 CONCORRENTE - Poder de Polícia  Solo agrícola
ESTADO Assembléia Legislativa - Multar  Erosão
Art. 24 da Constituição - Licenciar  Lixo
- Fiscalizar  Floresta
- Embargar

26
- Interditar
Art. 23 Constituição
 Zoneamento
 SUPLEMENTAR  COMUM Plano Diretor
Interesse local, - Poder de Polícia  Distrito Industrial
Plano Diretor, - Multar  Parcelamento do
MUNICÍPIO (Câmara Municipal), - Licenciar Solo Urbano
Art. 30, II da Constituição - Fiscalizar  Poluição sonora
- Embargar  Edificação
- Interditar  Trânsito
 Lixo
Art. 23 Constituição

2.6 ESFERAS DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

São três esferas independentes de responsabilidade ou responsabilização ambiental:


Administrativa, Civil e Penal.

A primeira sanção que o infrator da legislação ambiental recebe é a administrativa,


aplicada pelos agentes dos órgão ambientais no exercício do poder de polícia, variando
desde uma simples multa, suspensão parcial ou total da atividade lesiva ou demolição
da obra. Nessa esfera de responsabilidade ambiental, o Poder Público age por
iniciativa própria ou mediante denúncia da sociedade.

O poder de polícia visa garantir a segurança e a integridade do meio ambiente, e pode


ser exercida pelas três esferas do governo: federal, estadual e a municipal, através dos
órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA).

O Decreto no 3.179 de 21/09/1999 especificou e sistematizou a infração administrativa


ambiental, classificando-a pelo bem ambiental atingido, além de unificar o referencial
dos valores das multas em Real, que podem ir de R$ 50,00 (cinqüenta reais) a R$
50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais). Cabe lembrar que os valores arrecadados
pelos órgãos ambientais da União em pagamento às multas por infração ambiental são
revertidos ao Fundo Nacional de Meio Ambiente.

A segunda sanção que o infrator da legislação ambiental recebe é a responsabilidade


civil. Nesse campo, a Lei No 6938/81 representou uma grande novidade. É de suma
importância para a eficácia na aplicação da legislação. A responsabilidade é objetiva
ou, em outras palavras, dispensa da culpa para caracterizar a obrigação de indenizar.
Outra lei que se aplica nessa esfera é a Lei da Ação Civil Pública, Lei No 7347/85, bem
como o Art. 8º que trata do Inquérito Civil Público.

A responsabilização penal e administrativa das pessoas física e jurídica que agridem o


meio ambiente pode ser atribuída pela Lei de Crimes Ambientais, Lei No 9.605, de 12
de fevereiro de 1998. A Lei, além de definir crimes ambientais, apresenta alternativas
à pena privativa de liberdade e prevê a não-aplicação da pena, desde que o infrator
recupere o dano, ou, de outra forma, pague seu débito para com a sociedade.

27
Quanto à responsabilidade penal da pessoa jurídica, a Lei de Crimes Ambientais não
exclui a responsabilidade penal das pessoas físicas associadas, que sejam autoras, co-
autoras ou participantes do mesmo fato. O Art. 7º dessa Lei permite ainda substituir as
penas de prisão de até 04 anos por penas alternativas, como a prestação de serviços à
comunidade. Observa-se que os produtos e instrumentos apreendidos com o infrator
podem ser doados, destruídos ou vendidos.

2.7 OUTRAS LEIS E NORMAS AMBIENTAIS

As principais leis e normas relacionadas com as questões ambientais, principalmente


aquelas decorrentes da Política Nacional de Meio Ambiente são:

- FLORA

A Lei no 4.771/65, ou o Código Florestal define dois tipos de florestas de preservação


permanente: a) por força de lei; b) por disposição do Poder Público. Nesse sentido o
Decreto no 1.282/94 traz regras claras com respeito à exploração de florestas, manejo
florestal sustentável, princípios e fundamentos técnicos para o manejo. Confere ao
IBAMA competência para definir as áreas de exploração de madeiras, o corte raso na
Amazônia, projetos sociais, reserva legal (50%) e reposição florestal.

- FAUNA

A Lei no 5.197/67 trata da fauna. Considerando que os animais são patrimônio


nacional, a referida lei proíbe a caça profissional, a venda e comércio de animais. O
Código de Pesca, Decreto – Lei no 221/67, pretende disciplinar cuidados acerca dos
animais aquáticos, pesca, suas modalidades, sanções, cuidados, entre outros.

- AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Em 1985 surgiu, com a Lei no 7.347/85, um dos instrumentos de proteção ambiental


mais eficaz: a Ação Civil Pública, instrumento jurisdicional importante do qual pode o
cidadão fazer uso quando se sentir prejudicado.

- REGRAS RELATIVAS À BIODIVERSIDADE

Em relação à biossegurança e às regras para a manipulação genética, surge em 1995,


para disciplinar o dispositivo constitucional, a Lei no 8.974/95, regulada pelo Decreto
no 1.752/95. Todas as regras e as técnicas de Engenharia Genética para instituições, no
que se refere à manipulação genética e á liberação no meio ambiente de organismos
geneticamente modificados, foram consideradas.

- LEI DE PATENTES

A Lei no 9.279/96 trata da propriedade intelectual, ou lei de patentes. Aplica-se para


produtos, para processos ou modelos de utilidade. Proíbe o patenteamento de animais
ou vegetais, autorizado para os microorganismos transgênicos, se forem cumpridos os
requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial- CRIMES AMBIENTAIS

28
Finalmente, a Lei no 9.605/98 – a lei de crimes ambientais, ressaltou alguns aspectos
importantes: a) o crime ocorre por ação ou omissão; b) a responsabilidade é pessoal
(física) e também jurídica; c) sanções alternativas; d) o funcionário público responde na
medida do dano (co-responsabilidade por omissão). Além de reafirmar outras: a)
sanções; b) agravantes e atenuantes; c) os crimes em espécie; d) o cálculo das multas.

- LEIS E NORMAS TÉCNICAS

Na perícia ambiental é necessário verificar o cumprimento da legislação ambiental e


utilização das normas técnicas. As principais usualmente empregadas são:

a) Água: Decreto no 23.777/34 – indústria açucareira


Lei no 7.661/88 – gerenciamento costeiro
Lei no 7.754/98 – florestas em nascentes de rios
Lei no 9.433/97 – Política Nacional de Recursos Hídricos
Resolução no 357/05 – CONAMA

b) Ar: Decreto – Lei no 1.413/75 – poluição por atividades industriais


Lei no 6.803/80 – zoneamento industrial
Portaria no 231/76
Resolução no 03/90 – CONAMA
Resolução no 06/93 – CONAMA
Resolução no 18/86 – CONAMA

c) Camada de Ozônio: Decreto no 2.679/98


Decreto no 2.699/98

d) Solo: Lei no 5.318/67


Lei no 6.766/79

Internacionalmente, as normas boas práticas para o gerenciamento ambiental no setor


produtivo estão organizadas pela ISO série 14000. O sistema de normatização e de
padronização dos processo de produção visa à proteção ambiental.

2.8 AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Um grande avanço foi o advento da Lei de Ação Civil Pública – Lei No 7.347 de 1985,
que atribui legitimidade ao Ministério Público e às Entidades Civis (ONG’s) para ajuizar
ações contra os infratores da legislação ambiental e dos outros direitos e interesses
chamados difusos e coletivos.

Antes da Lei 7347/85, se uma empresa estivesse, por exemplo, poluindo o ar, somente
os vizinhos-confrontántes poderiam pensar em promover uma ação. Hoje, a sociedade
tem o poder de ação através do Ministério Público ou associação criada para proteger
o meio ambiente.

Essa lei tem objetivo principal disciplinar a Ação Civil Pública de Responsabilidade por
Danos Causados ao Ambiente, ao Consumidor, aos Bens de Direito de Valor Artístico,

29
Estético, Histórico, Turístico e Paisagístico. Inovação que também merece destaque é a
instituição do Inquérito Civil Público, previsto no art. 8º, da Lei 7347/85, que pode ser
instaurado pelo Ministério Público para apuração e investigação de qualquer denúncia
relativa à ofensa a direitos e interesses difusos e coletivos, como a lesão ambiental.

O Inquérito Civil Público é sempre presidido por um Promotor de Justiça. Para tanto,
ele pode requisitar informações e documentos de qualquer entidade pública e privada,
assim como notificar pessoas físicas ou jurídicas para prestarem declarações sobre
fatos de que se tenha conhecimento. O referido instrumento, de natureza inquisitória,
serve como base para o ajuizamento da Ação Civil Pública ou de outras medidas
judiciais cabíveis para a prevenção ou a reparação do dano ambiental.

2.9 DANO AMBIENTAL NA LEGISLAÇÃO NACIONAL

DECRETO Nº 3.179, DE 21 DE SETEMBRO DE 1999


Dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente, e dá outras providências.

Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (ANEXOS)

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades


lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

NBR – 14653 – Parte 6 – Avaliação de Recursos Naturais e Ambientais

2.10 CONCEITOS LEGAIS SOBRE DANO AMBIENTAL

a) Valor

Ação de estimar-se o valor de alguma coisa, determinando-se a sua valia


(valia esta entendida como importância/utilidade).

A avaliação do valor de alguma coisa, refere-se ao valor de troca ou algo que


dele se aproxime, ou possa, até mesmo, ser utilizado em seu lugar (em geral o
valor de mercado).

Valor seria definido como uma expressão da capacidade de um bem ou


serviço de satisfazer necessidades humanas e econômicas.

b) Avaliação Ambiental

O processo de avaliação econômica de danos ambientais (irreversíveis),


como todo e qualquer processo de avaliação econômica deve se apoiar nos
pressupostos básicos do contexto de “mercado” (oferta, demanda e
formação de preços).

30
O procedimento da estimativa do valor de mercado tem como objetivo, por
exemplo, orientar atos de compra e venda, decisões quanto à escolha entre
alternativas, avaliações comparativas, avaliações fiscais, análises de garantias,
estimativas de prejuízos, indenizações e determinação da importância de setor.

c) Avaliação Econômica de Danos Ambientais

O princípio poluidor-pagador (externalidades) não é um princípio de


compensação dos danos causados pela poluição (isto porque, aqui, estão
incluídos todos os custos da proteção ambiental: prevenção, reparação e de
repressão do dano ambiental).

A avaliação econômica dos danos ambientais, a partir dos dispositivos legais,


deve ocorrer, inclusive, no caso da irreparabilidade dos danos ambientais
(danos ambientais irreversíveis)

Os danos ambientais causados a um determinado ecossistema devem ser


submetidos ao processo de avaliação quanto à (ao):

a) aferição do dano - determinação da extensão e gravidade para fins de


apuração da natureza e amplitude dos prejuízos sofridos pelo ecossistema
em decorrência do ato danoso;

b) busca de soluções técnico-científicas visando à reconstituição do


equilíbrio ecológico afetado; e

c) avaliação econômica do dano, discutindo-se os métodos possíveis, assim


como indicando as variáveis ambientais componentes do processo
avaliatório.

2.11 BASE LEGAL PARA AVALIAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

A vertente jurídica que possibilita legalmente a avaliação de danos ambientais


está baseada, principalmente, nos seguintes diplomas:

- Lei No 6.838 de 31/08/ 1981 – Política Nacional de Meio Ambiente;


- Lei No 7.347 de 24 de julho de 1985 – Ação Civil Pública;
- Constituição da República Federativa do Brasil de 1988;
- Constituições Estaduais da República Federativa do Barsil e;
- Lei No 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 – Lei de Crimes Ambientais.

a) Lei No 6.838 de 31 de agosto de 1981 – Lei que dispõe sobre a Política Nacional
de Meio Ambiente;

Art 2º
A PNMA tem por objetivo a preservação e recuperação da qualidade
ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao
31
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança e à
proteção da dignidade humana, atendidos os seguintes princípios:

I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,


considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
...
VII – recuperação de áreas degradadas;
...
Inc I, II e III do Art. 3o

Degradação Ambiental

Alteração adversa das características do meio ambiente (conjunto


de condições, leis, influências de ordem física, química e biológica
que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas).

Poluição Ambiental

Degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que,


direta ou indiretamente;

a) prejudiquem a saúde, a segurança, e o bem-estar da população;


b) afetam desfavoravelmente a biota;
c) afetam condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e;
d) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos
Inc IV do Art. 3º
Poluidor

Pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, responsável,


direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental.

Inc V do Art. 3º
Recursos ambientais

Atmosfera, águas interiores, superficiais e subterrâneas, estuários,


mar territorial, solo, subsolo e elementos da biosfera: fauna e flora.

Inc VII do Art. 4º


Objetivos da Política do Meio Ambiente
Imposição, ao poluidor e predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos ambientais causados e, ao usuário, da contribuição
pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

32
Parágrafo 1o do Art 14º
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao ambiente e a terceiros,
efetuados por suas atividades. O Ministério Público da União e dos
Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e
criminal por danos causados ao meio ambiente.

b) Lei No 7.347 de 24 de julho de 1985 – Ação Civil Pública

Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados


ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico (e qualquer outro nteresse
difuso ou coletivo) e dá outras providências.

Art 3º
A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (recuperação
ambiental)

Art 4º
Ação cautelar
Evitar e prevenir os danos ambientais, bem como aos demais
interesses difusos ou coletivos.

Art. 6º
Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a
iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre
fatos que constituam objeto de ação civil e, indicando-lhe os elementos
de convicção.

Parágrafo 1o, Art. 8º


O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito
civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular,
certidões, informações, exames, perícias, no prazo que assinalar, o qual
não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.

Art. 10º
Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos,
mais multa de ..., a recusa, o retardamento ou a omissão de dados
técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando
requisitados pelo Ministério Público.

Art. 13º
Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado
reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos

33
Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e
representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à
reconstituição dos bens lesados.

Art. 18º
Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem
condenação da associação autora, salvo comprovada má fé, em
honorários de advogado, custas e despesas processuais.

c) Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 -

Capítulo VI - Meio Ambiente - Art 225º

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo às presentes e futuras gerações.

Parágrafo 3o
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

d) Constituição do Estado de São Paulo de 1989 ou de outros Estados

Art 192º
A execução de obras, atividades, processos produtivos e a exploração
de recursos naturais de qualquer espécie, quer pelo setor público, quer
pelo privado, serão admitidas se houver o resguardo do meio ambiente
ecologicamente equilibrado.

Art. 193º
O Estado, mediante lei, criará um sistema de administração da
qualidade ambiental, proteção, controle e desenvolvimento do meio
ambiente e uso adequado dos recursos naturais, para organizar,
coordenar e integrar as ações de órgãos e entidades da administração
pública direta e indireta, assegurada a participação da coletividade, com
o fim de:
...
XIV – promover medidas judiciais e administrativas de
responsabilização dos causadores de poluição ou degradação
ambiental;
...

34
XX – controlar, fiscalizar obras, atividades, processos produtivos
e empreendimentos que, direta ou indiretamente, possam
causar degradação do ambiente, adotando medidas preventivas
ou corretivas e aplicando sanções administrativas pertinentes;
Art 195º
As condutas e atividades lesivas ao ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, com
aplicação de multas diárias e progressivas no caso da continuidade da
infração ou reincidência, incluídas a redução do nível de atividade e a
interdição, independe da obrigação dos infratores de reparação aos
danos causados.

e) Lei No 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 – Lei de Crimes Ambientais

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas


e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

Capítulo II - Da Aplicação da Pena - Art. 6º

Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente


observará:
...
III – a situação econômica do infrator, no caso de multa.
Art. 8º
Penas restritivas de direito:
...
IV – prestação pecuniária
...
Art. 12º
A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou
à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada
pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e
sessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de
eventual reparação civil a que for condenado o infrator.

Art. 15º
São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime:
...
a) para obter vantagem pecuniária;
b) ...
c) afetando ou exposto a perigo, de maneira grave, a saúde
pública ou o meio ambiente;
...

35
Art 17º
A verificação da reparação a que se refere o parágrafo 2o do art. 78 do
Código Penal será feita mediante laudo de reparação do dano
ambiental, e condições a serem impostas pelo juiz deverão relacionar-
se com a proteção do meio ambiente.

Art 19º
A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível,
fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de
fiança e cálculo de multa.

Parágrafo único
A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser
aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.

Capítulo VIII - Disposições Finais –

Art 79º - A
Para o cumprimento do disposto nesta Lei, os órgãos ambientais
integrantes do SISNAMA, responsáveis pela execução de programas e
projetos e pelo controle e fiscalização dos estabelecimentos e das
atividades suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental, ficam
autorizadas a celebrar, com força de título executivo extrajudicial,
termo de compromisso com pessoa física ou jurídica responsáveis por
construção, instalação, ampliação e operação de estabelecimentos e
atividades utilizadoras de recursos naturais, considerados efetiva ou
potencialmente poluidores (vide, também, art. 19 da Lei da ACP).

Parágrafo único

O termo de compromisso a que se refere este artigo destinar-se-á,


exclusivamente, a permitir que pessoas físicas ou jurídicas mencionadas
no caput possam promover as necessárias correções de suas atividades,
para o atendimento das exigências impostas pelas autoridades
ambientais competentes, sendo obrigatório que o respectivo
instrumento disponha de:
...
III – a descrição detalhada de seu objeto, o valor do
investimento previsto e o cronograma físico de execução e de
implantação das obras e serviços exigidos, com metas
trimestrais a serem atingidas;

36
3. ASPECTOS TÉCNICOS DA PERÍCIA AMBIENTAL

3.1 FUNÇÕES DO PERITO E DO ASSISTENTE TÉCNICO

A perícia ambiental tornou-se uma área técnica específica de atuação profissional. Tem
por objetivo esclarecer a existência ou não de ameaça ou dano ambiental. É realizada
por profissional de nível superior com requisitos morais e éticos inerentes ao trabalho.
O perito deve ser capacitado na área ambiental específica a ele designada. Deve estar
apto para esclarecer dúvidas apresentadas nos quesitos, na fase processual específica,
e preencher os requisitos do Código de Processo Civil (art. 145 e §s).

Designado pelo juiz, o perito ambiental atua como auxiliar da Justiça, assessorando o
juiz na formação de seu convencimento. Pessoa da confiança do magistrado, cabendo-
lhe produzir, ao final do trabalho, o laudo pericial. A fundamentação técnica do laudo e
a responsabilidade do perito sobre as informações são tratadas, respectivamente, no
art. 429 e 147 do Código Processual Civil (CPC).

Observe-se que é direito das partes nomearem os assistentes técnicos, profissionais


especializados que forem da sua confiança. Esses profissionais irão orientá-los e assisti-
los nos trabalhos em todas as fases da perícia e, quando necessário, emitirão o parecer
técnico. Diferente dos peritos do juiz, os assistentes técnicos não estão sujeitos a
impedimento ou suspeição. Importante atuação dos assistentes técnicos é, durante os
trabalhos, deixar transparecer os mesmos padrões exigidos na legislação aos peritos
do juízo, capacidade técnica comprovada e compromissos morais e éticos.

No laudo ou parecer técnico, o que importa é a fundamentação técnica, que deve ser
calcada em elementos objetivos, analisados e interpretados por métodos adequados,
que conduzam a conclusões técnicas irrefutáveis. São inúteis considerações de ordem
jurídica, sendo esta tarefa exclusiva dos advogados. Ocorre, porém, que alguns peritos
produzam laudos e pareceres esquecendo sua missão, que é essencialmente técnica.

O que se requer do laudo e um parecer técnico é o aclaramento de questões técnicas,


submetidas à apreciação pericial. Por isso, há de ser objetivo e conclusivo, afirmando
ou negando o que foi indagado nos quesitos, sem omissões ou evasivas e, obviamente,
sem desvios ou falsidades de informações e conclusões apresentadas. Laudos omissos,
facciosos, confusos ou não conclusivos são imprestáveis.

O perito é o profissional de confiança do Juiz e, muitas vezes, os fatos mostram é que


esta confiança é baseada nas atitudes e padrões morais e éticos do indivíduo, deixando
de lado o terceiro fator que equilibra a árdua tarefa, a capacitação técnica.

A moral e a ética são condições inerentes ao exercício da função do perito e, portanto,


dispensam qualquer questionamento. Em relação à capacitação técnica e preparo dos
profissionais, devem-se adotar vários cuidados na condução dos casos, principalmente
atuando como assistentes técnicos em defesa de clientes.

37
Então, como deve atuar um assistente técnico?

1) Deve estar tecnicamente preparado e habilitado na matéria que irá discutir;


2) Deve estudar e conhecer o problema para que tenha suas próprias convicções;
3) Deve auxiliar o advogado na elaboração da inicial, contestação e quesitos;
4) Deve estar junto ao perito para ajudá-lo e convencê-lo de suas convicções;
5) Deve participar se for aceito pelo Perito, na elaboração do laudo;
6) Deve estar à disposição do advogado e perito para dirimir dúvidas, e participar
intensamente da produção da prova pericial;
7) Deve atuar com objetividade, e, quando for solicitado, prestar esclarecimentos
aos advogados e interessados.

Sabe-se que a prova pericial deve ser produzida com atenção, zelo e competência, sob
pena, após ser enviada ao juízo, ver o trabalho perdido e interesses comprometidos,
provocando assim, prejuízo material e a insatisfação do cliente. A assistência técnica
requer competência, interesse, trabalho investigativo, ética, comprometimento com a
causa e, o mais importante: vontade de vencer. Sempre se diz diante da discussão de
matéria técnica: consulte um perito da área.

1.
2.
3.
3.1
3.2 ETAPAS DA PERÍCIA AMBIENTAL

As principais etapas de uma perícia ambiental são a nomeação do perito pelo juiz ou
indicação de assistentes pelas partes, análise inicial do caso, elaboração do orçamento,
petição dos honorários, formação da equipe, elaboração do plano de trabalho, análise
documental, visitas de campo, entrevistas, coleta de amostras, análises de amostras no
laboratório, análise de resultados, respostas aos quesitos, conclusões, recomendações
e a elaboração do laudo pericial.

3.2.1 Nomeação do perito e dos assistentes técnicos

O juiz nomeia o perito através de despacho no processo e, ao mesmo tempo, faculta às


partes para que nomeiem assistentes técnicos e apresentem os quesitos. Fixa o prazo
para a entrega do laudo e solicita ao perito que apresente proposta de honorários. As
partes têm 5 dias para apresentarem os quesitos e nomearem os assistentes técnicos.
O perito é intimado, através de documento próprio, chamado Mandato de Intimação,
cumprido pelo oficial de justiça, ou através do correio, com aviso de recebimento. O
perito tem 5 dias para recusar sua nomeação. No caso da recusa, esta deve ser por
motivo justo. Não recusando a nomeação em 5 dias, é dado como aceito o cargo.

3.2.2 Formação da equipe de pericia ambiental

38
Após o recebimento da intimação da sua nomeação, o perito se dirige ao Foro, mais
precisamente, ao cartório ou secretaria onde corre o processo, fazendo carga em seu
nome para estudá-lo, para apresentar a proposta de honorários.
É recomendado que o perito faça a proposta de honorários após o conhecimento dos
quesitos das partes, para conhecer melhor a extensão do trabalho que será realizado e
calcular o valor dos honorários. A proposta de honorários será feita por uma petição.
Na perícia ambiental é preciso formar equipe multidisciplinar de especialistas. Para
tanto, estuda-se o processo e os quesitos, para estabelecer a equipe dos especialistas,
os materiais, métodos e horas necessárias para fazer a perícia. É importante também
incluir os custos das análises das amostras que serão coletadas. No anexo, encontra-se
uma planilha para elaboração do orçamento inicial das perícias ambientais.

3.2.3 Elaboração do plano de perícia ambiental

O planejamento das atividades é uma das etapas mais importantes da perícia. Deve ser
sistemático e criterioso, para a obtenção de resultados consistentes que sejam aceitos
pela comunidade científica. Os recursos e os prazos para executar a perícia devem ser
estabelecidos de forma adequada, no sentido de atender objetivos estabelecidos no
tempo disponível. Os itens considerados na elaboração do plano de perícia ambiental
são: caso investigado, objetivos, materiais e métodos, planos de amostragem, ensaios
analíticos, equipe, cronograma e orçamento. O plano de amostragem deve considerar
a pesquisa documental, as entrevistas e coleta de amostras no campo.

Na elaboração do plano de trabalho da perícia ambiental são necessárias informações


para responder aos quesitos. Na maioria dos casos, os quesitos são formulados pelas
partes para avaliar os impactos ocorridos nos meios físico, biológico e socioambiental.
Assim, o plano de trabalho da perícia deve incluir uma análise detalhada dos fatores
ambientais afetados. Considerando a complexidade e a quantidade de conhecimentos
requeridos, o plano da perícia deve ser elaborado em três etapas distintas.

Inicialmente, faz-se avaliação dos quesitos de cada área de conhecimento. Em seguida,


agrupa-se os quesitos por área, elaborando-se os planos específicos. Na última etapa,
com os planos específicos, faz-se o plano geral da perícia ambiental. Para cada quesito
analisados deve-se considerar os seguintes aspectos:

1) o tipo de ocorrência e fatores ambientais (meio físico ou biológico) afetados;


2) o tipo e número de amostras que serão coletadas para responder aos quesitos;
3) o tipo e custos dos ensaios analíticos necessário para responder os quesitos;
4) os recursos e equipamentos necessários para executar o trabalho de campo;
5) os procedimentos e metodologia empregada para responder ao quesito;
6) a quantidade de horas necessárias para responder ao quesito.

Como exemplo, será considerado o quesito sobre contaminação de água subterrânea.


É importante observar que, dependendo do caso e quesito analisado, alguns dos itens
supracitados podem ser irrelevantes e, neste caso, devem ser disconsiderados.
39
QUESITO 12: Quais os danos causados pelo acidente às águas subterrâneas?

1 ) Definir o tipo de ocorrência e os fatores ambientais afetados


Contaminação da água subterrânea por óleo derramado na área interna da empresa. O
diagnóstico realizado indicou que foram contaminados o solo e o lençol freático.

2) Definir o tipo e número de amostras que serão coletadas

Serão coletadas amostras de água nos dez poços de monitoramento, instalados para o
diagnóstico, mais especificamente, 4 em torno do local onde ocorreu o derrame, e nos
6 poços instalados na direção do lençol freático. Nos primeiros poços, serão coletadas
amostras do solo para investigar a taxa de infiltração do óleo derramado. Nas amostras
de água serão avaliados os componentes do óleo, pH, temperatura, condutividade e O2
dissolvido, além de outros parâmetros indicadores de qualidade da água subterrânea.

3) Definir o tipo e o custo dos ensaios de laboratório

Parâmetros: BTXE; TPH, HPAs, pH, temperatura, O2 dissolvido, turbidez, condutividade


elétrica, metais pesados e salinidade. Procedimento para a coleta, armazenamento e o
transporte das amostras são:

 Instruções Normativas PT 169; 172 e 174, IAP – DEPAM;


 Instrução Normativa 105.008 – Anexo 3, IAP – DIRAM;
 Norma CETESB 1988 - Amostragem e monitoramento de águas subterrâneas;
 Norma CETESB 060- Construção poços de monitoramento de aquífero freático;
 NBR 13895 /1997 – Construção de poços de monitoramento e amostragem;
 NBR 14623 /2000 – Poço de monitoramento e amostragem;
 NBR 9898 - Prevervação das amostras de água subterrânea;
 Manual áreas contaminadas CETESB, Parte 6420, 6400, ISO 5667/3 DIN/DEV.

Parâmetros e ensaios analiticos que serão realizados no laboratório:

 Ensaios físico-quimicos padronizados: pH, temperatura, condutividade elétrica,


O2 dissolvido, turbidez e salinidade;
 Compostos do óleo: TPH pelos métodos EPA 3510C (ll extr) e EPA 8015B GC –
FID; BTEX pelo método EPA 524.4 P&T GC-MS e HPA pelo método EPA 3510C (ll
extr) e EPA 82700 GC – MS.

Custo aproximado de algumas análises (fonte IAP):

 Hidrocarbonetos Aromáticos Polinucleares: R$ 166,67


 Hidrocarbonetos: R$ 166,67
 BTXE, Cromatografia: R$ 133,54
40
 Óleos e graxas: R$ 47,91

4) Definir os recursos e os equipamentos necessários:

Quais equipamentos e materiais serão necessários dependem do local amostrado e do


tipo de amostra que será coletada. De modo geral, são:

 Recursos Humanos: colaborador, assistente técnico e assistente auxiliar;


 Transporte: veículo e combustível;
 Equipamentos e materiais de apoio: GPS, rádio e celular;
 Materiais para coleta de amostras: baldes descartáveis; béquer de 50 à 2000 mL;
caixa coletora; caixa de isopor 5 a 100L; fita crepe; frascos de vidro com tampa
de teflon; frasco de polipropileno de boca larga; frasco âmbar vidro tampa teflon
de 1000mL; frascos de polietileno/polipropileno de 200 à 5000mL; gelo; lenços;
papel alumínio; pipetas graduadas; pissete; e tesoura.
 Material para a identificação da amostra: caneta; etiqueta; ficha de registro da
amostra; lista de telefones úteis; caixas para o despacho das amostras;
 Equipamentos de segurança: botas; capa de chuva; capacete; luvas; óculos;
 Equipamento de campo: termômetro; condutivímetro; oxímetro, pHmetro e
explosivímetro.

5) Definir os procedimentos e metodologia empregada


As etapas para obter os dados necessários para analisar e responder aos quesitos são:

1ª Etapa: Estabelecer a metodologia de trabalho;


2ª Etapa: Estabelecer o plano de amostragem (número e local dos pontos);
3ª Etapa: Estabelecer o laborátorio credenciado para realizar os ensaios;
3ª Etapa: Coletar as amostras de água subterrânea no pontos selecionados;
4ª Etapa: Realizar as análises de laboratório;
5ª Etapa: Analisar os resultados;
6ª Etapa: Responder ao quesito.

6) A quantidade de horas necessárias para responder ao quesito:

Para condições favoráveis de clima, estima-se que para coletar as trinta amostras de
água serão necessários oito dias de trabalho. Além disso, mais vinte oito dias para
análises de laboratório e quatro dias para avaliar resultados e responder ao quesito.
Portanto, serão necessários 20 dias úteis de trabalho.

3.2.4 Procedimentos para coleta de amostras ambientais

Os procedimentos apresentados são Procedimentos Técnicos PT-0169, 0172 e 0174 do


Sistema de Gestão da Qualidade da DEPAM e, complementares ao Procedimento Geral
41
para Atendimento a Acidentes Ambientais, desenvolvido pela Coordenadoria Estadual
de Acidentes Ambientais (CEAA), órgão vinculado à Diretoria de Controle de Recursos
Ambientais (DIRAM) do Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
- Planejamento da coleta de amostras

A coleta de amostras visa a identificar os impactos negativos originados pela atividade


poluidora ou por acidente ambiental. Assim, sempre que houver impacto negativo no
ambiente, para constatar o dano ambiental, deve-se realizar amostragem preservação,
transporte e análise das amostras no laboratório, registrando com fichas e fotografias
todas as atividades executadas, para serem anexadas no laudo pericial.

Assim, no planejamento da amostragem deve-se considerar o tipo da amostra; local e


data de coleta; quantidade, identificação, acondicionamento e transporte da amostra,
e registro dos trabalhos. Caso exista um procedimento padronizado para amostragem,
ele deve ser seguido e citado no laudo. Considerando que, procedimentos podem ser
contestados em juízo, é importante que um pequeno detalhe, por mais insignificante
que pareça ser, seja considerado. Dada a importância da amostragem, antes do início
dos trabalhos ela deve ser planejada de forma cuidadosa.

- Coleta de amostras ambientais

O preparo dos instrumentos e materiais necessários para fazer amostragens no campo,


tais como sacos, baldes, cordas, pHmetro e proteção individual, deve ser realizado com
antecedência e atenção. Não é recomendado que pessoas, sem o correto treinamento,
manuseiem frascos de caixas de coleta contendo ácido nítrico-sulfúrico, utilizados para
preservação de amostras. Esses compostos ácidos, em contato com a pele ou quando
inalados, causam queimaduras graves e intoxicações. Em sguida, apresenta-se alguns
procedimentos técnicos para amostragem de água, efluentes líquidos, solo e animais.

- Acondicionamento e transporte das amostras

Identificação das caixas e frascos

Para que as amostras possam ser relacionadas aos pontos de coleta é preciso que as
caixas e os frascos sejam identificados com etiquetas adesivas. Nas etiquetas indicam-
se: local (rio, mar); ponto de coleta (montante, jusante); data e hora. Todos os frascos
de amostras coletadas no mesmo ponto são considerados como uma única amostra.
Assim, devem ser afixadas etiquetas iguais na caixa de coleta e nos frascos.

Preenchimento da ficha de coleta

A elaboração e o correto preenchimento das fichas de registro da amostras coletadas é


fundamental, para conduzir atividades de forma organizada no campo, evitando dessa
forma erros comuns, como, por exemplo, a troca dos fracos e pontos de amostragem.
É importante registrar com fotografias os locais e situações atípicas observadas, como,

42
por exemplo, ponto do acidente, produtos, peixes e animais mortos visíveis. No anexo,
está uma ficha de coleta de amostras ambientais para auxiliar nos trabalhos de campo.

Transporte das amostras para o laboratório

A caixa térmica deve ser preenchida com gelo, dentro de sacos plásticos, após a
conclusão da amostragem. Os frascos devem ser bem tampados e arranjá-los de forma
correta no interior da caixa de coleta para não virarem, caso o gelo derreta.

3.2.5 Análise dos quesitos da perícia ambiental

Os quesitos são perguntas que as partes ou o juiz fazem ao perito, para esclarecer os
fatos que constam no processo. Os quesitos formulados estão sujeitos à aprovação do
juiz. Para responder aos quesitos da perícia ambiental utilizam-se dados técnicos das
normas, fotografias, referências bibliográficas, modelos de simulação, questionários e
respostas de entrevistas, visitas de campo, resultados de laboratório, entre outros.

O perito deve responder aos quesitos apresentados pelas partes da lide, elucidando da
melhor forma possível o objeto da perícia, mas não se restringindo ao teor deles para
tornar claros os fatos reclamados nos autos. Observa-se que, se o perito apenas
responder aos quesitos do réu, dependendo da forma com que foram escritos, corre o
risco de tornar o laudo incompleto ou até favorecer indevidamente uma das partes

Os quesitos serão respondidos no laudo, sendo obrigatório responder a todos. O perito


não responderá ao quesito quando o mesmo não for pertinente ao caso em lide ou sua
capacitação profissional. O perito responderá apenas aos quesitos que digam respeito
à perícia. Caso a resposta de um quesito seja a mesma de outro já respondido, utiliza-
se a expressão: prejudica pela resposta ao quesito X. Os quesitos serão respondidos na
ordem em que foram apresentados nos autos.

3.3 Estrutura do laudo da perícia ambiental

O laudo apresenta os resultados e as conclusões da perícia, assim como respostas aos


quesitos formulados pelas partes. Não existe um formato padrão para o laudo, mas
recomenda-se que contenha, no mínimo, as seguintes informações:

 Identificação do processo e solicitante da perícia;


 Identificação das partes envolvidas;
 Descrição do objeto da perícia;
 Apresentação da equipe de trabalho (perito e assistente técnico);
 Relação dos documentos e informações utilizados (fornecidos, leis e normas);
 Metodologia de trabalho adotada;
 Descrição do local da perícia;
 Data, hora e período de tempo das diligências;
 Informações utilizadas para fundamentar as respostas dos quesitos;
43
 Discussão dos resultados obtidos;
 Respostas aos quesitos apresentados;
 Conclusões e Recomendações;
 Identificação, registro profissional, registro geral, assinatura, local e data.
Como a perícia ambiental visa à análise e valoração econômica dos danos ambientais
decorrentes de uma determinada ação sobre o meio ambiente, não se pode deixar de
fazer a criteriosa análise dos fatores abióticos (clima, atmosfera, hidrologia, geologia),
bióticos (microorganismos, flora e fauna) e socioeconômicos (cultura, religião, nível
social, raça). Espera-se que o laudo da perícia inclua os resultados do exame do local, a
discussão dos resultados, as respostas aos quesitos e as conclusões.

A. EXAME DO LOCAL

1. Localização da região: Apresentar mapa localizando a região analisada, em escala


compatível, indicando o local do evento e vizinhança. Utilizar preferencialmente
as coordenadas geográficas em unidades técnicas métricas (UTM – SAD69).

2. Situação legal da área: Verificar se a área é pública ou privada, a qual unidade da


federação pertence e se é área de proteção ambiental. Descrever sucintamente a
que se destina e qual o seu uso atual.

3. Clima: Realizar um levantamento climatológico (índice pluviométrico, freqüência,


direção e intensidade do vento, umidade e temperatura ambientes médias).

4. Recursos hídricos: Inventariar os recursos hídricos superficiais e subterrâneos,


através de mapas indicando os corpos d’água e os mananciais mais importantes.

5. Geologia e morfologia dos solos: Descrever a geologia e relevo local, relacionar os


recursos minerais e indicar a direção de fluxo do lençol freático.

6. Solo: Descrever os solos com considerações sobre a pedologia e a edafologia.

7. Vegetação: Identificar as tipologias vegetais na área. Listar as plantas principais de


interesse ecológico e econômico. Constatar a presença das espécies raras ou
endêmicas.

8. Fauna: Identificar as características das espécies de vertebrados e peixes, dando


ênfase às espécies endêmicas, raras, migratórias e sinérgicas.

9. Ecossistema: Descrever os componentes abióticos e bióticos dos ecossistemas.

10. Áreas de interesse histórico ou cultural: Listar os locais de interesse histórico e


cultural e as jazidas minerais localizadas em torno da área investigada.

11. Área de Preservação: Avaliar se o local está inserido em área protegida por lei
(Parque, Estação Ecológica, Reserva Biológica, etc.).
44
12. Atividades previstas, ocorridas e existentes: Relatar as tecnologias utilizadas nas
fases da implantação e operação do empreendimento.

13. Listar insumos e equipamentos, usualmente, empregados nas atividades.

B. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

15. Uso atual da terra: Constatar o uso atual da terra, dar o percentual utilizado pela
agropecuária.

16. Uso atual da água: Constatar o uso da água, bem como obras de engenharia
(canal, dique, barragem, drenagem). Verificar se ocorrem fontes poluidoras.

17. Avaliação da situação ecológica, Realizar o levantamento das ações antrópicas


anteriores e atuais, bem como relatar a situação da vegetação e fauna nativas.
Com os dados inferir sobre a estabilidade ecológica dos ecossistemas da área.

18. Avaliação socioeconômica: Analisar a situação socioeconômica da área, através


de uma metodologia compatível com a realidade regional.

19. Impactos ecológicos: Listar e analisar os impactos ecológicos, levando em


consideração a saúde pública e a estabilidade dos ecossistemas naturais,
principalmente, aquelas localizadas em áreas protegidas por lei.

20. Perspectivas da evolução ambiental da área: Inferir sobre qual seria a evolução
da área com ou sem o empreendimento.

22. Alternativas tecnológicas e locacionais: Optar por alternativas menos


impactantes para o meio ambiente, em termos tecnológicos e locacionais.

23. Recomendações para minimizar os impactos adversos e incrementar os


benéficos: Listar as recomendações específicas para minimizar os impactos
negativos e incrementar os benéficos;

24. Recomendações para o monitoramento dos impactos ambientais adversos:


Implantar os programas de biomonitoramento da qualidade da água e controle
de erosão, e outros.

25. Apreciação dos quesitos: Como geralmente há quesitos formulados pelo


promotor, juiz ou delegado, neste subitem eles deverão ser claramente
discutidos e esclarecidos.

C. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

45
As conclusões devem ser claras e sucintas. As ocorrências importantes devem também
ser consideradas, para concluir-se sobre o dano e a perspectiva da evolução do estado
de conservação . Nas conclusões também podem ser apresentadas as recomendações
sobre as ações de segurança e de compensação que devem priorizadas e realizadas.

3.4 ESTUDO DE CASO

LAUDO DE PERICIA DO DANO AMBIENTAL DECORRENTE DE UM DEPÓSITO DE LIXO

1. APRESENTAÇÃO

Autor do Laudo: Engenheiro..., CREA..., Partes Envolvidas: Requerentes:..., Requeridas:


Prefeitura Municipal...

2. PRELIMINARES

Descrição sintética sobre o funcionamento de aterros sanitários, apresentando estrutura física


e partes que compõem o aterro, diagrama básico de engenharia, sistemática de operação do
aterro, sistemas de tratamento do “chorume” e dos gases emitidos (metano), sistema de
monitoramento do lençol freático. Estimativa do tempo de vida útil do aterro e sistemática de
encerramento das atividades. Descrição dos impactos negativos e positivos da instalação de
um aterro de resíduos urbanos.

3. PERÍCIA

A perícia se caracteriza como uma vistoria no âmbito do direito legal, nível de precisão normal.

4. CRONOLOGIA DOS FATOS

Em 12/10/1995: Movida ação ordinária de indenização por perda e dano contra o Município...
Área avaliada: 20 ha (hectare), Registro de Imóvel no197722 a 197729, Comarca de...

Exposição de Motivos da Autora: O município de apossou da área de 15000 m2 e 3000 m2 por


desapropriação indireta. O empreendimento frutícola (uva, pêssego, ameixa, etc.) se tornou
inviável, causando prejuízos irreparáveis.

Motivos:

 Proliferação de moscas que se desenvolvem no lixão e atacam os pomares, e abelhas não


melíferas que estragam as uvas, quando prestes a amadurecer;

 Proliferação de odores, moscas e ratos que alteram a qualidade de vida, a fauna e a flora,
no mínimo no entorno de 1000 metros de distância do local em análise;

 O Parecer do Engenheiro Agrônomo..., concluiu que a implantação do pomar será


afetada, acarretando em custo maior devido à proximidade do depósito de lixo, embora
as condições de clima e solo sejam propícias para a atividade. O Parecer desaconselhou
implantação do pomar devido à proximidade do lixão. Parecer técnico e mapa em anexo.
 As despesas para o cultivo da uva, pêssego, etc., dobrou após a instalação do lixão,
tornando antieconômico o seu cultivo.
46
 O lixão contamina a vertente de água que nasce a 50 metros do local e abastece a
propriedade dos Autores há 50 anos, cruzando as terras destes, tornando perigoso o
consumo, mesmo para animais e para uso agrícola.

- Em 01/03/1996: Contestação do Município de...,

 A Prefeitura Municipal alega que parte do lote 12 da área de 90.000 m 2 pertencente ao


Senhor..., foi adquirida pelo Município, visando a implantação da usina de reciclagem de
lixo do município em 06/11/1991.

 Em 1991, começou a instalação da usina de lixo, e segundo a PM de..., o Senhor..., sugeriu


que este aumento fosse feito em um canto de suas terras para não contaminar um riacho
que passa perto de suas terras e evitaria que o lixão ficasse na frente de sua residência.

 A usina foi instalada em 29/12/1992, nas terras dos Requerentes.

 Em 04/07/1994 foi desapropriada pelo Poder Executivo do Município outra área de


10.000 m2 de..., pela necessidade de aumento da usina de lixo.

Em suma, pede-se improcedência da ação quanto à pretendida indenização, tanto quanto se


refere à aludida desapropriação ou a título de perdas e danos, inclusive danos emergentes,
porque, ocorreu na espécie a exclusão das condições da ação. Rebate ainda a assertiva contida
na inicial que o “lixão” contamina a água que nasce no local, tendo em vista que os montes de
lixo estão colocados de tal forma e separados por valos que impedem a passagem de qualquer
detrito ou líquido para os outros imóveis, como pode ser visto no local.

- EM 13/05/1996: Manifestação dos Autores sobre a Contestação

Alega a Autora que a PM..., instalou a usina na propriedade dos autores, sem as cautelas legais
necessárias da desapropriação direta, resultando nas condições descritas na peça inicial. Alega
que na referida usina nunca foi feita reciclagem e a correta compostagem, sendo o lixo
depositado em valas positivas, ou seja, acima do nível da terra, gerando um imenso depósito
de lixo. Alega a desvalorização das terras adjacentes, a que seria inevitável independente em
qualquer propriedade que fosse instalada a usina de lixo. Ratifica o pedido de nomeação de
PERITO, indica o Assistente Técnico da Autora e apresenta os Quesitos.

- EM 01/07/1996: É nomeado pela PM..., o assistente técnico e são formulados os quesitos.

- EM 02/07/1996: São deferidos os quesitos apresentados.

- EM 10/07/1996: São juntados ao processo os quesitos suplementares dos Autores.

- EM 15/01/1998: É requisitado o RIMA, consoante manifestação dos demandantes.

- EM 04/05/1998: A PM..., envia cópia sobre a necessidade ou não de elaboração de RIMA


dando o parecer dispensando a exigibilidade de EIA-RIMA.

5. QUESITOS E RESPOSTAS

47
Da Ré

Quesito 01 – Quais as melhorias que proporcionará a instalação do aterro sanitário, no local


da usina?

Um aterro sanitário bem projetado, conforme apresentado pela técnica ambiental Senhora,...
na....., é uma das possibilidades de destino final para o lixo urbano, embora como descrito
acima nas preliminares, esta técnica está sendo gradualmente abandonada devido ao fato do
aterro ter uma vida útil curta, ser de difícil operação e a resistência da população vizinha.

Quesito 02 – Após a instalação do aterro sanitário, sofrerão os Autores algum tipo de


poluição, em seus imóveis contíguos a usina de lixo?

Um aterro sanitário, por melhor operado que seja sempre causa dano ao meio ambiente.
Logicamente que quando bem operado, o dano é tolerável. Mas o levantamento de pó, certo
odor e poluição sonora são impactos que não podem ser de todo eliminados. Isto significa que
em parte, a qualidade ambiental é diminuída pela redução das amenidades ambientais, isto
ocorre através da redução do bem estar, um dos fatores de dano indireto na avaliação
ambiental e de alguma contaminação esporádica da água do lençol freático. Esta avaliação
somente poderá ser feita após a entrada definitiva em operação e deverá ficar entre 2 a 5% a
queda da qualidade ambiental dos parâmetros acima. Adiciona-se ao dano de pequena monta
acima, os danos ainda remanescentes do impacto intermitente que são os danos continuados,
mesmo após a eliminação do elemento fonte. Este dano ocorre após muitos anos (veja
metodologia CATE).

Quesito 03 – Está sendo feito no local o aterro sanitário?

Até a data da primeira vistoria, em 17/08/2000, praticamente o aterro era um lixão a céu
aberto. Na segunda visita, em 19/12/2000, a situação continuava a mesma. Já na última visita,
em 08/02/2001, a situação era de construção de lagoas de tratamento do “chorume”. As obras
se encontravam concluídas. Existia no local, na data de 08/02/2001, placa indicativa de
financiamento através do..., com contrapartida da Prefeitura.

Quesito 04 – Trará alguma vantagem a coleta seletiva de lixo com relação às alegações do
Autor?

Sim muitas, pois a coleta seletiva serve para reduzir o volume de lixo e diminuir os espaços
onde possam instalar as colônias de bactérias, com isto a carga orgânica responsável pela
formação do “chorume’ e do odor diminui um pouco, pois as bactérias levarão mais tempo
para se multiplicarem. Isto será vantagem no caso de uma camada de argila ser aplicada sobre
a de lixo depositado diariamente. Cabe salientar que este processo diminuirá em muito o risco
de contaminação e redução do bem estar da população. Por outro lado, a matéria orgânica
degradada ocupará o mesmo volume, portanto, se a coleta e tratamento do chorume não
forem feita de forma adequada, como está sendo feita agora, então para a água não trará
nenhum benefício. Saliento que o projeto apresentado à... contempla a coleta e posterior
tratamento do “chorume” em lagoas. A eficiência deste sistema somente será avaliada quando
em operação.

48
Quesito 05 – Para melhor avaliação dos fatos e uma análise mais apurada não seria
necessária, a realização de uma perícia feita por esperto, mais específico do assunto de meio
ambiente?

Este laudo está sendo elaborado dentro do estado da técnica atual de meio ambiente e com
conceitos internacionais, ser ferir os diplomas legais a cerca do assunto no Brasil, ou seja, CF
art. 255, MP 1570-1.
Quesito 06 – Existe próximo ao local qualquer tipo de cultivo agrícola dos Autores? Em caso
positivo quais? E a que distância da sede da Usina de Lixo?

Sim existia próximo ao local da data da vistoria uma plantação de milho de mais ou menos
30.000 m2 e um parreiral de aproximadamente 40.000 m2. O início das plantações estava a
menos de 200 metros da sede da usina de lixo.

Quesito 07 – Explique o senhor perito como se processa a Reciclagem e compostagem de lixo,


método usado pelo município?

A reciclagem é fase inicial do processo de compostagem do lixo e basicamente é a separação


da parte passível de reaproveitamento. Esta fase é importante devido ao fato de que além de
reduzir o volume do lixo enterrado, a reciclagem do lixo reduz a área superficial do lixo e,
portanto, a formação de colônias de bactérias e reduzindo o processo de digestão anaeróbia.
Atrasando o processo, o tempo para o recobrimento com argila pode ser estendido, evitando
muitos inconvenientes. Normalmente, o recobrimento é feito ao fim da jornada de trabalho,
ou seja, num intervalo de 24 horas.

Quesito 08 – Como a usina operando dentro dos projetos de município, causará ao meio
ambiente, inclusive aos Autores algum dano?

Já respondido no quesito 02 acima.

Dos Autores

Quesito 01 – Qual a data que o Município instalou o depósito de lixo nas terras dos Autores?

O depósito de lixo foi instalado em 29 de novembro de 1992; oito anos, três meses e dias.

Quesito 02 – Quando da instalação do referido depósito, o Município possuía o devido


licenciamento ambiental fornecido pela... (órgão competente), Lei 6938 de 31/08/81.

A Resolução CONAMA 05 de 15 de junho de 1988 também regulamenta o licenciamento de


sistemas de limpeza urbana. Na data de instalação do depósito de lixo da Prefeitura não havia
nenhum tipo de licenciamento ambiental e nem formalizado o pedido de Licenciamento
Prévio. O primeiro licenciamento foi de instalação, já que não cabia mais o licenciamento
prévio, pois a degradação já ocorria. A licença de instalação foi emitida em 24 de maio de
1996, com número LI No 0161/96-DL, na área de 6.400 m2 para aterro e 3.000 m2 para pátio de
cura e compostagem.

Quesito 03 – O Município possui Licença de Operação, fornecida pelo...... (órgão


competente)? Em caso positivo, desde que data?

49
Não, o que existiu foi a Licença de Instalação acima referida, emitida em 1996 e, como não
foram tomadas todas as medidas necessárias, inclusive o pedido de Licença de Operação, a
mesma caducou um ano depois. É de salientar que a Usina só pode operar depois de ter o
Licenciamento de Operação, o que não existe. Em 23 de fevereiro de 2000, com a área já
degradada, foi feito um Termo de Compromisso Ambiental (TCA), processo No..., entre a
Prefeitura de... e, a.........., para a implementação de medidas para a recuperação da área
degradada e uso para um Aterro Sanitário. A Prefeitura não cumpriu o prazo acordado e, em
13 de fevereiro de 2001 foi acertado um aditivo, com prazo final em 30 de maio de 2001.
Todos os prazos deverão estar cumpridos conforme o aditivo nesta data.

Quesito 04 – Poderia o perito, informar se a localização da área licenciada conforme LI No


0161/96 – DL corresponde à área dos Autores, mencionada no mapa de fls. 23 ou a área
matriculada sob o número 11453, (fl. 43 dos autos e mapa da fls.45)?

A área licenciada não é definida com clareza na Licença de Instalação da,..., conforme
informação da técnica... Deveria ser definido com clareza no pedido de Licenciamento, o que
não aconteceu. Claro que o pedido de licenciamento inicial foi para as terras da viúva..., e que
as terras dos..., bem como as terras de... e, esposa, compradas posteriormente pela Prefeitura,
não fazem parte da Licença de Instalação pedida, nem do TCA acordado. Portanto, a Prefeitura
em hipótese nenhuma poderia estar lançando lixo nestas áreas.

Quesito 05 – Elabore o mapa localizando as propriedades dos Autores e a localização do


depósito de lixo.

O mapa da figura 23 configura a situação atual, onde parte do depósito de lixo da Prefeitura
avança nas terras de..., e outros tomando uma área de 140 metros por 110 metros, na parte
que faz fronteira com as terras de..., e Esposa, que foram adquiridas pela Prefeitura
posteriormente para expansão do depósito de lixo.

Quesito 06 – O Município obedeceu, corretamente, na seqüência prevista, todos os requisitos


exigidos em lei para a instalação e operação da usina de lixo?

Não. A Prefeitura não seguiu a seqüência que deveria ser.


Pedido de Licença Prévia – LP ( importante indicar a área que realmente será usada);
Pedido de Licença de Instalação – LI (apresentar o projeto que será implantado);
Pedido de Licença de Operação – LO (entrar em operação só com a unidade instalada).

A Prefeitura pediu licenciamento em 1996, como já jogava lixo no local, o licenciamento foi de
instalação. Como não cumpriu o prazo, a Licença de Instalação caducou. Continuou irregular e,
após muitos problemas, inclusive incêndios no local, poluição, reclamações da comunidade, foi
notificada pelo Ministério Público. Chegou novamente a um acordo e assinou um TCA, que por
sua vez também não cumpriu. Novamente, em 13 de fevereiro de 2001, foi dada prorrogação
com prazo final em maio de 2001 para que todas às ações a serem tomadas sejam encerradas.

Quesito 07 – A falta de observância aos registros legais, mencionados na questão anterior


pode causar danos e prejuízos ao meio ambiente e aos proprietários de imóveis contíguos
e/ou próximos da área destinada ao depósito de lixo?

A não observância aos requisitos legais sempre traz danos à natureza, alguns irreversíveis,
principalmente, os serviços ambientais afetados. As áreas contíguas ao lixão são as mais

50
afetadas, pois a pluma de contaminação é mais intensa nas áreas próximas, diminuindo a
medida que nos afastamos da fonte de contaminação. A água é mais afetada em propriedades
de nível inferior a fonte e a contaminação aérea pela direção predominante dos ventos.

Quesito 08 – Quanto tempo seria necessário para a recuperação da área onde está o
depósito de lixo seguindo o procedimento exigido pela... ?

Varia de contaminante para contaminante e de quanto tempo o ambiente vem sendo


degradado. No caso de lixo depositado sem controle, caso do depósito analisado, a
recuperação da água do solo leva mais de 30 anos a partir do momento que o lixo deixa de se
depositado. Se o lixo é depositado em um Aterro Sanitário bem controlado, o impacto
existente é insignificante e, portanto, tolerável.

Quesito 09 – O cultivo de frutíferas foi prejudicado com a proximidade do “aterro sanitário”


às terras dos Autores? Em caso afirmativo, poderia identificar e quantificar o prejuízo?

Todo o tipo de atividade agrícola é prejudicado com o depósito de lixo em sua vizinhança,
principalmente, se o depósito está localizado acima do nível da terra na qual a cultura está
sendo avaliada.

Quesito 10 – Houve maiores gastos no custeio da produção das frutíferas, dada a


proximidade do depósito de lixo? Especifique (devido à incidência de moscas, ratos, odor.

Houve maiores gastos de custeio devido às pragas originadas pelo depósito de lixo, isto está
calculado no item 06.

Quesito 11 – Quais as variedades frutíferas cultivadas pelos Autores nas terras próximas ao
aterro?

Viníferas 4,0 ha, milho 3,0 ha e culturas variadas para consumo próprio.

Quesito 12 – Poderia o perito estimar em quanto a menor foram às colheitas dos Autores,
por força da instalação do aterro, face à eventual presença de insetos ou outras pragas e
moléstias dele oriundas?

O cálculo apresentado no item 06 do laudo foi baseado no custo direto ambiental para os 4 ha
plantados de viníferas e no custo de oportunidade para os demais hectares plantados,
baseado-se no princípio que existe a oportunidade de rendimento no restante das terras com
a cultura que família e a comunidade dos arredores tem maiores conhecimentos. Este custo é
recomendável para desapropriações de áreas florestais e danos ambientais. O proprietário
perde a oportunidade de produzir por externalidades, às quais lhe impõem prejuízos sem lhe
dar nenhum benefício.

Quesito 13 – As áreas dos Autores estão num plano mais alto que as abrangidas pelo
depósito de lixo?

Sim, a água da propriedade dos Autores sofre de contaminação devido ao depósito de lixo
conforme laudo do laboratório..., em anexo.

51
Quesito 14 – Existiria a possibilidade de através da força da gravidade, os detritos e/ou
líquidos (chorume) escorrerem para a propriedade dos Autores? Em caso positivo, qual a
extensão da área atingida?

Conforme literatura, a pluma de um depósito de lixo pode atingir até 1.500 metros de
distância da fonte na direção predominante. Como foi comprovada por análise, a
contaminação atinge inclusive a água corrente da propriedade dos Autores.

Quesito 15 – A que distância está localizada a área dos Autores em relação à edificação
central do depósito de lixo?
Num raio de 1000 metros. Sendo que a edificação central não é o centro de contaminação do
depósito de lixo e sim a área localizada atrás do depósito de lixo, ou seja, as pilhas formadas.

Quesito 16 – Qual a profundidade até o nível de água existente no lençol freático do subsolo?
É passível de contaminação?

A água existente no lençol freático tem profundidade variável dependendo da época. Á água
do lençol freático é passível de contaminação já que é alimentada pela absorção da água da
chuva pelo solo. Como a área do depósito de lixo está acima das terras dos Autores, toda a
lixívia resultante da pilha do depósito é infiltrada pelo solo, contaminando a água do lençol
freático que é o mais sensível à contaminação.

6. CÁLCULOS DO DANO AMBIENTAL

O dano ambiental foi dividido em Dano as Viníferas e Dano à Água. Para efeito de
desvalorização do terreno supõe-se que o dano ambiental calculado inclui as Perdas de
Desvalorização já que a propriedade perde em amenidades e produção. Para efeito de
produção, foi considerada a perda de produção por oportunidade ou Custo de Oportunidade,
pelo fato de não poder fazer.

6.1. METODOLOGIA

O método utilizado para o cálculo dos danos ambientais à produção agrícola foi feito para o
dano à produção vinífera existente e para o custo de oportunidade de produção de viníferas.
Salienta-se que o custo de oportunidade é passível de cálculo neste caso, pois a região é de
aptidão para o cultivo de viníferas.

O valor médio de produção é de 1.698,83 kg/ha, baseado nos dados do município. O valor
encontrado é a divisão de produção média de 43.300.000 kg/ano pela área do município que é
de 254,88 km2.

Para Danos Ambientais à água, o método usado é aproximações semi-quantitativas ou


também chamado de Lista de Verificação Ponderada. Neste método se avalia o Índice de
Qualidade Ambiental (IQA) a partir das amostras coletadas. Os parâmetros do CONAMA serão
usados para o índice de qualidade 100% e da bibliografia para 0%. Estes limites foram usados
como valores limites de interpolação. Com o valor do Dano estimado, é calculado o valor dos
Custos Ambientais Totais Esperados (CATE) para os danos intermitentes e contínuos.

6.2. CÁLCULOS DO DANO AMBIENTAL NA PRODUÇÃO DE VINÍFERAS

52
6.2.1 PLANTAÇÃO EXISTENTE:

 Área plantada: 4,0 ha


 Produtividade média: 1698,83 kg / ano
 Valor de venda: 0,28 R$ / kg (Fonte: Jornal Gazeta Mercantil)

Caso sem o depósito de lixo:

 Custo de produção: 50% do preço de venda = 0,28 x 0,50 = 0,14 R$/kg


 Custo de formação: 50% do custo de produção = 0,14 x 0,50 = 0,07 R$/kg
 Custo de colheita: 33% do custo de produção = 0,14 x 0,33= 0,047 R$/kg
 Lucro bruto: 50% do preço de venda = 0,28 x 0,50 = 0,14 R$/kg

Caso com o depósito de lixo:

 Custo de produção: 50% preço venda + diferença por uso do defensivo agrícola;
 Custo de formação: 0,07 R$/kg x 1,4 (aumento de custo) = 0,098 R$/kg (foi
considerado o aumento de 40% no custo de formação pelo uso de defensivos agrícolas
e mão de obra na aplicação);
 Diferença entre o custo normal de formação e manutenção e o custo de formação e
manutenção após a instalação do aterro de lixo = 0,098 – 0,070 = 0,028 R$/kg.

- Dano previsto na produção de viníferas:

Dano unitário: 0,028 R$ / kg x 1698,83 kg / ha ano = 47,56 R$/ha ano

6.2.2 CUSTO DE OPORTUNIDADE (CO)

CO = 1698,33 kg / ha ano x 0,14 R$ / kg = 237,83 R$ / ha ano


+ Impostos = 23,78 R $ /ha ano
______________________________
Custo de Oportunidade Líquido = 214,05 R$ / ha ano

Não foram consideradas as outras culturas, devido ao fato de ter sido calculado o Custo de
Oportunidade para a área onde não existem viníferas plantadas. Observa-se que o CO e o dano
as viníferas foram calculados baseados em índices de produtividade média por hectare, que
normalmente é abaixo do que uma propriedade produz. Isto se deve ao fato de que, da área
do município, deveria ser descontado a área urbana, estradas, galpões, residências rurais,
florestas, etc. Portanto, o valor é bastante conservativo.

- Dano Direto Total na Produção de Viníferas:

Cd viníferas + CO viníferas = 47,56 R$ / ha ano x 4 ha + 214,67 R$ / ha ano x 16 ha (área


plantada) = 3.624,96 R$ /ano

53
6.3. CÁLCULOS DO DANO AMBIENTAL À ÁGUA

Método de aproximação semi-quantitativo, Lista de Verificação Ponderada. Este método faz a


estimativa da perda da qualidade ambiental do meio afetado utilizando como referencia as
análises de laboratório dos parâmetros mais significativos do meio físico analisado e de valores
de literatura. Objetivo: Calcular o dano a partir do Índice de Qualidade Ambiental (IQ A)

DETERMINAÇÃO DAS UNIDADES DE IMPORTÂNCIA (UPI)

Parâmetro Analisado Fim da Pilha (UPI) Córrego na Propriedade (UPI)


pH 10 4
DBO5 2 4
Matéria Orgânica 2 4
Nitrogênio Amoniacal 2 4
Nitrito + Nitrato 2 4
Arsênio 20 10
Chumbo 15 10
Cromo Total 10 5
Cádmio 3 5
Mercúrio 20 20
Níquel 2 5
Vanádio 2 5
Coliformes Totais - -
Coliformes Fecais 10 20
TOTAL 100 100

DETERMINAÇÃO DO (IQA) 0 a 100%, PARA ÁGUA POTÁVEL

Parâmetro Analisado I Q A = 0% Referência I Q A =100% Referência


pH 10<pH<4 VPM 7 Neutra
DBO5 10 VPM 3 mg/l Classe 1
Matéria Orgânica Ausente VPM Ausente
Nitrogênio Amoniacal 0,08 mg/l VPM 0,02 mg/l GWQ
Nitrito + Nitrato 10,5 mg/l VPM 10 mg/l Classe 1
Arsênio 0,10 mg/l VPM 0,05 mg/l Classe 1
Chumbo 0,10 mg/l VPM 0,03 mg/l Classe 1
Cromo Total 0,05 mg/l VPM 0,04 mg/l GWQ
Cádmio 0,10 mg/l VPM 0,01 mg/l Classe 1
Mercúrio 0,002 mg/l VPM 0,0002 mg/l Classe 1
Níquel 0,05 mg/l VPM 0,025 mg/l Classe 1
Vanádio 0,10 mg/l GWQ 0,1 mg/l Classe 1
Coliformes Totais 1000 CONAMA Ausente
Coliformes Fecais 200 CONAMA Ausente

VPM – Valores máximos permissíveis; GWQ – A Guide to Water Quality – Agência EPA Canadá,
1979; Classe 1 – RESOLUÇÃO CONAMA
54
CÁLCULO DO ÍNDICE DE QUALIDADE PARA ÁGUA POTÁVEL E DESSEDENTAÇÃO ANIMAL

Para Água Potável

Parâmetro Analisado I Q A = 0% I Q A =100% Existente


pH 10<pH<4 7 8,6
DBO5 10 mg/l 3 mg/l 4,0
Nitrogênio Amoniacal 0,08 mg/l 0,02 mg/l 1,1
Nitrito+Nitrato (N2 Total) 10,5 mg/l 10 mg/l 1,1
Arsênio 0,10 mg/l 0,05 mg/l ND*
Chumbo 0,10 mg/l 0,03 mg/l ND
Cromo Total 0,05 mg/l 0,04 mg/l ND
Cádmio 0,10 mg/l 0,01 mg/l ND
Mercúrio 0,002 mg/l 0,0002 mg/l ND
Níquel 0,05 mg/l 0,025 mg/l ND
Vanádio 0,10 mg/l 0,1 mg/l ND
Coliformes Fecais 200 ausente 930
ND* - Não detectado

Para Água de Dessedentação dos Animais

Parâmetro Analisado I Q A = 0% I Q A =100% Existente


pH 10<pH<4 7 8,6
DBO5 10 mg/l 3 mg/l 4,0
Nitrogênio Amoniacal 0,08 mg/l 0,02 mg/l 1,1
Nitrito+Nitrato (N2 Total) 10,5 mg/l 10 mg/l 1,1
Arsênio 0,10 mg/l 0,05 mg/l ND
Chumbo 0,10 mg/l 0,03 mg/l ND
Cromo Total 0,05 mg/l 0,04 mg/l ND
Cádmio 0,10 mg/l 0,01 mg/l ND
Mercúrio 0,002 mg/l 0,0002 mg/l ND
Níquel 0,05 mg/l 0,025 mg/l ND
Vanádio 0,10 mg/l 0,1 mg/l ND
Coliformes Fecais 200 ausente 930

55
- CALCULO DO IMPACTO AMBIENTAL (UIA)

Por definição,

UIA = (UPI) x (I Q A)

Parâmetro Analisado UPI IQA UIA


pH 4 0,71568 2,86272
DBO5 4 0,99840 3,99360
Matéria Orgânica 4 0,00000 0,00000
Nitrogênio Amoniacal 4 1,00000 0,00000
Nitrito + Nitrato (N2 Total) 4 1,00000 4,00000
Arsênio 10 1,00000 10,00000
Chumbo 10 1,00000 10,00000
Cromo Total 5 1,00000 5,00000
Cádmio 5 1,00000 5,00000
Mercúrio 20 1,00000 20,00000
Níquel 2 1,00000 2,000000
Vanádio 3 1,00000 3,000000
Coliformes Fecais 25 0,00000 0,000000
TOTAL 100 65,8563

Os resultados acima indicam que a qualidade da água para potabilidade é de 65,85%, portanto,
o dano para a água é igual a,

DANO à ÁGUA: (1 – 0,6585) = 0,34144, ou seja, 34,141%

- CALCULO DO DANO À ÁGUA POTÁVEL

* No de pessoas que habitam a propriedade: 7


* Consumo de água por pessoa: 200 litros por dia = 0,2 m3 / dia
* Consumo diário: 7 pessoas x 0,2 m3 / dia = 1,4 m3 / dia
* Consumo anual: 1,4 m3 / dia x 365 dias = 511 m3 / ano

Como os índices de Nitrogênio amoniacal e de Coliformes Fecais foram maiores que os valores
máximos permitidos, a água é considerada não potável, embora, o seu índice de qualidade
tenha sido de 65,85%. Portanto, o dano neste caso é total, pois a propriedade não dispõe de
sistema de tratamento da água contaminada.
56
Para a faixa de consumo de 42 m3 / mês, o custo é de R$ 1,77 / m3, conforme a referência da
Companhia de Água, portanto o dano direto a água será de,

Dano Direto a Água Potável = 511 m3/ano x R$ 1,77 / m3 = 902,77 R$ / ano

Cd água potável = 902,77 R$ / ano

- CALCULO DO DANO À ÁGUA DE DESSEDENTAÇÃO E IRRIGAÇÃO

 No de animais: 15 cabeças de gado, 02 cavalos e 50 galinhas


 Quantidade de água: gado=10 a 15L; cavalo=10 a 15L galinha= 0,12 a 1,2L.
 Consumo de água: (15 cabeças x 15L/dia + 2 cavalos x 15L/dia + 50 galinhas x 0,2L/ dia)
= 265L /dia
 Consumo anual: 265L/dia x 365 dias = 96,725 m3 / ano
 Limpeza de curral/potreiro/galinheiro = 100L/dia, mas, no caso não será considerado
como dano, pois a qualidade da água se presta ao serviço de limpeza.
 Consumo de água sujeita ao dano: 96,725 m3 / ano

Dano Direto Água Dessedentação: 96,725 m3 / ano x R$ 1,77/ m3 = 171,20 R$/ ano

Cd água dessedentação = 171,20 R$ / ano

Cd Total da Água = (902,77 + 171,20) R$ / ano = 1.073,97 R$ / ano

6.4. CUSTOS DE DANOS JÁ EXISTENTES

Período considerado: 08 anos

Custo dano direto anual = Cd vinífera + CO viníferas + Cd água potável + Cd água


dessedentação

Custo do dano direto anual = 47,56 R$ / ano x 4 + 214,67 R$ / ano x 16 + 902,77 R$ / ano + 171,
20 R$ / ano = R$ 4.698,93/ano

CUSTO DO DANO DIRETO ANUAL = R$ 4.698,93/ano

Custo do Dano Indireto: Conforme valores apresentados na Tabela 2.4.6 do método CATES,
(Fi/d) = 2 é um índice razoável, considerando a redução do bem estar da população em relação
apenas a custo de dano da água.

CUSTO AMBIENTAL ANUAL

Custo Ambiental Total = Custo do Dano Total as Viníferas + Custo Total Dano Água

Custo Ambiental Total = 3.624,96 R$ / ano + 1.073,93 R$ / ano x 2 = 5.772,82 R$ / ano

Número de anos com degradação na propriedade até o presente = 8 anos (aproximado)

57
DANO AMBIENTAL À PROPRIEDADE ATÉ O MOMENTO

08 anos x 5.700,90 R$ / ano = R$ 47.032,42

6.5. CUSTOS AMBIENTAIS TOTAIS ESPERADOS (CATES)

Os custos totais esperados são divididos em intermitentes e contínuos.

Caso 1. Custos Intermitentes

Supondo que a partir de maio não haverá mais degradação significativa do sitio, ou seja, a
usina irá funcionar dentro dos padrões com impacto tolerável, com taxa de juros 4% ao ano e
n = 25 anos (uma geração) temos,

(Vd  C d  Fi / d )  (1  j ) n
CATE  = (5.772,90 R$ / ano x 2,6658) / 1,6658 = R$ 9.238,44
(1  j ) n  1

Caso 2. Custo Contínuo

Supondo que a partir de maio não entre em operação a usina de lixo, teremos,

(VC  C d  Fi / d )[(1  j ) n  1]
CATE  = (5.772,90 R$ / ano) x 1,6658 / 0,1066 = R$ 90.211,03
j  (1  j ) n

7.0. DANO AMBIENTAL TOTAL

A PM de..., mantém em sua administração uma área degradada pela disposição de lixo durante
oito anos e quatro meses. O dano ambiental é muito maior que o calculado conforme os
quesitos acima. O balanço social não foi calculado e incluído por não ter sido solicitado.

A propriedade avaliada sofreu uma externalidade ambiental, o que significa que alguém tem
um benefício e outro sofre um dano. No caso o benefício foi adquirido pela comunidade e o
dano foi imposto às pessoas que moram no entorno do aterro de lixo. É importante salientar
que este cálculo de dano ambiental foi realizado exclusivamente para a propriedade dos
Autores. O dano foi, portanto tratado tecnicamente de interesse individual homogêneo, e por
isso passível de direito ambiental com a formulação matemática para dano ambiental. Por isto
todas as desvalorizações da propriedade já estão inclusas. Devido a este fato, conclui-se que o
dano ambiental total de origem ambiental causado à propriedade dos Autores é o seguinte:

Caso 1. CATES (intermitente)

Dano Total = Dano Passado + CATES (intermitente)

Dano Total = R$ 47.032,42 + R$ 9.238, 44 = R$ 56.270,86


58
Caso 2. CATES (contínuo)

Dano Total = Dano Passado + CATES (contínuo)

Dano Total = R$ 47.032,42 + R$ 90.211,03 = R$ 137.243,45

8. CONCLUSÃO

O depósito de lixo da Prefeitura..., está trazendo um dano ambiental à área localizada em... Os
benefícios auferidos pela comunidade de..., não foram avaliados, mas sim o dano no caso
existente à propriedade dos autores. A metodologia usada é bastante conservadora, pois foi
calculado o dano ambiental sem considerar a valoração de bens de serviço ambiental
realizados pela flora e fauna local, que indiretamente beneficiam o ecossistema. Portanto,
pode-se com certa segurança afirmar que estes danos seriam os de menor custo. É importante
afirmar que o dano calculado à propriedade dos Autores é parte do dano total e não pode ser
usado como base para outras propriedades vizinhas e de diferentes variáveis ambientais.

59
4. AVALIAÇÃO SISTEMÁTICA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

4.1. DEFINIÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL

O termo Impacto Ambiental é definido como perturbação do ecossistema, proveniente


de uma ação ou omissão humana, qualificada de positiva ou negativa por um grupo
social, no contexto espacial e temporal. Observa-se que o efeito do impacto inclui uma
noção de julgamento, valor positivo (benéfico) ou negativo (prejudicial), portanto é
relativo, porque varia no espaço e tempo. Na Figura 3.1 é apresentada a evolução do
impacto ambiental em função do tempo.

Evolução do Meio Ambiente sem Impacto

Evolução do Meio Ambiente após


ocorrência do Impacto Ambiental

com Impacto

ta to ti tf tc
Figura 4.1 Impacto ambiental em função do tempo, ta = momento antes do impacto, to =
momento de ocorrência do impacto, ti = momento do início dos efeitos do impacto no meio, tf
= momento após o impacto e finalização da ação e tc = momento de interesse considerado.

4.2 AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL (AIA)

O processo de Avaliação do Impacto Ambiental (AIA) é um dos instrumentos da Política


Ambiental, constituído por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde
o início do processo, que projetos, ações e atividades humanas, com potencial de lesar
o ambiente, sejam examinados criteriosamente para identificar e avaliar os impactos
positivos e negativos que serão originados, as alternativas tecnológicas e locacionais, e
ainda para consultar a comunidade, através da audiência pública, sobre as propostas.

Na perícia ambiental as técnicas de avaliação de impactos ambientais são úteis para


identificar, classificar e valorar qualitativa e quantitativamente os impactos negativos
que causam os danos ambientais propriamente ditos.

61
4.3 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Na perícia ambiental o licenciamento ambiental do empreendimento sob análise deve


ser solicitado para verificar a validade, as condicionantes do licenciamento e termos
aditivos. Em diversas ocasiões o empreendimento sofre modificações na estrutura e no
processo. No entanto, o licenciamento das modificações, geralmente, não é solicitado
conforme rege a legislação. Basicamente, existem três tipos de licenças que devem ser
verificadas: Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação.

- LICENÇA PRÉVIA (LP)

É solicitada no início do processo de licenciamento ambiental, na fase de planejamento


do empreendimento, obra ou atividade. Nessa fase o Poder Público exigirá ou não a
elaboração do EIA/RIMA. Os documentos geralmente solicitados são: requerimento do
solicitante, cadastro da atividade com características, cópia das notícias em jornal de
circulação regional e diário oficial, que tornam público o pedido de licenciamento e
cópia do pagamento da taxa. Cabe observar que nada impede que o órgão licenciador
peça mais documentos para subsidiar a tomada de decisão.

- LICENÇA DE INSTALAÇÃO (LI)

Essa licença é solicitada após a licença prévia. Nessa fase são apresentados os planos e
os programas ambientais tais como: Planos de Controle Ambiental, Programas de
Recuperação Ambiental, Projeto das Unidades de Tratamento dos Efluentes Industriais
e os Programas de Gerenciamento de Risco. Os documentos são semelhantes aos
apresentados anteriormente, porém, adequados a essa fase do licenciamento. Após
obtenção dessa licença, o interessado poderá iniciar a implantação da atividade.

- LICENÇA DE OPERAÇÃO (LO)

A LO é solicitada após a obtenção da LP e LI e vem acompanhada da documentação


necessária, que será concedida se todos os procedimentos forem aprovados. Nessa
fase, os sistemas de tratamento dos poluentes do processo são verificados quanto à
eficiência proposta no projeto.

No caso da Perícia Ambiental é obrigatório verificar todas as licenças. Por outro lado, a
análise sistemática do EIA - RIMA permite obter informações importantes para realizar
a perícia e responder aos quesitos. Portanto, caso exista um EIA já desenvolvido para a
empresa ou atividade investigada não se deve deixar de solicitá-lo, ele certamente será
bastante útil. A partir desse ponto, as técnicas utilizadas para avaliação de impactos
ambientais serão descritas e aplicadas para a prática da pericia ambiental.

4.4 TIPOLOGIA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

Os impactos ambientais têm características distintas; as principais estão indicadas na


Tabela 4.1.

62
A caracterização dos impactos ambientais é realizada considerando seus elementos e
suas possibilidades. É importante identificar, classificar, analisar e avaliar os impactos
ambientais negativos decorrentes da lesão ambiental (ITGE, 1998).

Tabela 4.1 Principais características ou tipologia dos impactos ambientais


ELEMENTO DO IMPACTO POSSIBILIDADE
1. DESENCADEAMENTO IMEDIATO, DIFERENCIADO, ESCALONADO
2. FREQÜÊNCIA CONTÍNUA, DESCONTÍNUA, SAZONAL
3. EXTENSÃO PONTUAL, LINEAR, ESPACIAL
4. REVERSIBILIDADE REVERSÍVEL, IRREVERSÍVEL
5. DURAÇÃO 01 ANO, DE 1-10 ANOS, DE 10-50 ANOS
6. MAGNITUDE GRANDE, MÉDIA, PEQUENA
7. IMPORTÂNCIA IMPORTANTE, MODERADA, FRACA, DESPREZÍVEL
8. SENTIDO POSITIVO, NEGATIVO
9. ORIGEM DIRETA, INDIRETA, TERCIÁRIA
10. ACUMULAÇÃO LINEAR, QUADRÁTICA, EXPONENCIAL
11. SINERGIA PRESENTE, AUSENTE
12. DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS SOCIALIZADOS, PRIVATIZADOS

4.5 IMPORTÂNCIA E MAGNITUDE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

Para estabelecer a importância, a magnitude e a significância dos impactos ambientais,


É necessário, inicialmente, fazer o inventário ambiental. Os elementos deste inventário
são as características físicas, químicas, biológicas, socioeconômicas e socioculturais,
necessárias para definir a estrutura e entender o funcionamento do ambiente natural.

Para facilitar o entendimento e estudo do ambiente, em geral, faz-se uma classificação


das características do sistema ambiental, através de uma árvore de níveis hierárquicos.
O sistema é dividido em subsistemas, componentes e fatores ambientais. Nos níveis de
hierarquia estão fauna, flora, solo, água, ar, paisagem e os bens materiais e imateriais
do patrimônio histórico e cultural.

Dependendo da metodologia empregada na avaliação de Impactos, o número de níveis


pode variar. Em geral, tem-se o subsistema físico-natural constituído dos meios inerte,
biológico e paisagístico; o subsistema socioeconômico e sociocultural e, o subsistema
de infra-estrutura.

O meio inerte inclui os fatores ambientais ar, solo, água e processos do meio inerte; o
meio biótico engloba os fatores vegetação, fauna, processos do meio biótico; o meio
perceptual inclui os fatores paisagísticos e singulares. No componente população são
considerados fatores culturais, nível de renda, atividades econômicas da comunidade.
No componente infra-estrutura são consideradas as atividades e elementos urbanos.
63
A partir da classificação do ambiente são analisadas as características dos impactos
ambientais. A importância do impacto é medida qualitativa do mesmo, obtida a partir
do grau de incidência (intensidade) da alteração produzida e caracterização do efeito,
verificada por uma série de atributos preestabelecidos. Os atributos para valoração da
importância do impacto ambiental estão na Tabela 4.2

Tabela 4.2 Parâmetros para avaliação da importância do impacto ambiental


NATUREZA DO IMPACTO (NA) INTENSIDADE (IN)
Impacto benéfico = + 1 Baixa = 1
Impacto prejudicial = -1 Média = 2
EXTENSÃO (EX) Alta = 4
Pontual = 1 Muito Alta = 8
Parcial = 2 Total= 12
Extensa = 4 MOMENTO (MO) (ti – to)
Total = 8 Longo prazo = 1
Crítica = + 4 Médio prazo = 2
PERSISTÊNCIA (PE) Imediato = 4
Fugaz = 1 Crítico = 4
Temporal = 2 REVERSIBILIDADE (RV)
Permanente = 84 Curto prazo = 1
PERIODICIDADE (PR) Médio prazo = 2
Descontínuo = 1 Irreversível = 4
Periódico = 2 ACÚMULO (AC)
Contínuo = 4 Simples = 1
SINERGISMO (SI) Acumulativo = 4
Ausência = 1 RECUPERABILIDADE (MC)
Sinérgico = 2 Imediata (< 1 ano) = 1
Muito Sinérgico = 4 Médio prazo (1- 3 anos) = 2
Longo prazo (3-10 anos) = 4
Permanente = 8

A equação para o cálculo do grau de importância dos Impactos Ambientais, utilizando


os parâmetros da Tabela 4.2, é apresentada abaixo.

I = NA (3IN + 2EX + MO + PE + RV + SI + AC + PR + MC)

O resultado da relação indica qualitativamente a importância do impacto ambiental:

 IRRELEVANTE: 0  I < 25;


 MODERADO: 25 < I < 50;
 SEVERO: 50 < I < 75;
 CRÍTICO: I > 75.
64
A magnitude do impacto ambiental é uma estimativa quantitativa do efeito do mesmo
sobre o fator ambiental afetado, geralmente, determinada a partir de indicadores de
impacto do fator. Observa-se que fator pode ser afetado por mais de um impacto.
Para estimar a magnitude dos impactos são utilizados diversos modelos como, por
exemplo, modelos de difusão de poluentes, de vulnerabilidade, de qualidade
ambiental, entre outros. A técnica mais empregada usa funções de transformação ou
de qualidade para avaliar as alterações dos indicadores dos fatores ambientais
afetados.

4.6 MÉTODO DE PASTAKIA PARA AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

A análise dos impactos ambientais decorrentes de um evento acidental também pode


ser realizada pelo método de Pastakia (PASTAKIA, 1998). Esse método avalia os efeitos
e as alterações dos componentes ambientais causados pelos impactos negativos. Os
componentes ambientais do sistema considerados são: Físico-Químicos; Ecológico-
Biológicos; Social-Culturais e Econômico-Operacionais. Trata-se de um método simples
e direto, usualmente empregado nos estudos de Avaliação Ambiental (EIA/RIMA).

Esse método emprega cinco critérios, divididos em dois grupos, para calcular o índice
de impacto (ES) dos componentes ambientais com uma matriz. O índice ES classifica os
impactos ocorridos nos componentes em escala numérica e alfabética. Os critérios do
primeiro grupo avaliam a importância e a magnitude da condição estabelecida pelo
impacto no componente, em função de benefícios, prejuízos, interesses da população
local e fronteiras (PASTAKIA, 1998).

O segundo grupo de critérios avalia a permanência, reversibilidade e acúmulo dos


efeitos e alterações provocadas pelos impactos nos componentes analisados. A escala
numérica e alfabética do índice de impacto (ES) e a classificação dos impactos estão
indicadas na Tabela 4.3. Os critérios utilizados estão apresentados na Tabela 4.4.

Tabela 4.3 Escala do valor do índice (ES) e da classe do impacto ambiental


Faixa de valor Escala Escala Classe do
(ES) alfabética (ES) numérica (ES) impacto ambiental
108 a 72 E 5 Extremamente positivo
71 a 36 D 4 Significativamente positivo
35 a 19 C 3 Moderadamente positivo
10 a 18 B 2 Pouco positivo
1 to 9 A 1 Muito pouco positivo
0 N 0 Inalterado
-1 a -9 -A -1 Muito pouco negativo
-10 a -18 -B -2 Pouco negativo
-19 a -35 -C -3 Moderadamente negativo
-36 a -71 -D -4 Significativamente negativo
-72 a -108 -E -5 Extremamente negativo
65
Tabela 4.4 Critérios de avaliação do impacto nos componentes ambientais
GRUPOS DE CRITÉRIOS OBSERVAÇÕES

(A1) – IMPORTÂNCIA DA CONDIÇÃO


Representa uma medida da importância da
(0) = sem importância condição estabelecida, em relação às
(1) = importante somente para o local da condição fronteiras geográficas ou interesses da
(2) = importante para vizinhança local da condição população afetada.
(3) = importante para o interesse regional e nacional

(A2) – MAGNITUDE DA MUDANÇA / EFEITO

(+3) = grande benefício positivo


(+2) = significante aumento da condição atual A magnitude é definida com a medida na
(+1) = melhoria da condição atual escala do benefício/prejuízo, impacto ou
(0) = sem mudança da condição mudança da condição inicial
(-1) = mudança negativa da condição atual
(-2) = significativa mudança negativa ou prejuízo
(-3) = grande prejuízo ou mudança

(B1) – PERMANÊNCIA
Define se a condição estabelecida é
(1) = não-aplicável / sem mudança permanente ou temporária no tempo.
(2) = temporária
(3) = permanente

(B2) – REVERSIBILIDADE
Define se a condição estabelecida pode ser
(1) = não-aplicável / sem mudança revertida e indica também o nível de
(2) = reversível controle sobre o efeito da condição
(3) = irreversível estabelecida.

(B3) – ACÚMULO

(1) = não-aplicável / sem mudança Indica se o efeito ocasionará um impacto


(2) = não-acumulativo / individual individual direto, sinérgico e acumulativo
(3) = acumulativo / sinérgico ao longo do tempo.

O cálculo do valordo índice de impacto (ES) é realizado pela expressão:

(ES) = (A1 x A2) + (B1 + B2 + B3)

A1, A2, B1, B2 e B3 - são os valores dos critérios de avaliação do impacto ambiental
atribuído a partir dos dados da Tabela 4.4.

EXEMPLO. O vazamento acidental de óleo no solo afetou os componentes do sistema


ambiental. A partir das visitas de campo, análise documental e resultados analíticos
das amostras de solo, foram identificadas as condições dos componentes afetados e os
efeitos decorrentes. Com os critérios de avaliação foi calculado o índice de impacto de
cada componente. Os índices individuais dos componentes de cada grupo foram
somados, e a soma dos grupos foi comparada para estabelecer os mais afetados. Os
resultados obtidos estão apresentados nas Tabelas 4.5 e 4.6 e Figura 4.2.
66
Tabela 4.5 Índices do impacto dos componentes ambientais afetados
Componentes Físicos e Químicos (PC) = - 174 ES RB A1 A2 B1 B2 B3
SOLO01 Contaminação do solo -24 -C 2 -2 2 2 2
SOLO02 Contaminação das margens do riacho -32 -C 2 -2 3 3 2
SOLO03 Impermeabilização do solo -8 -A 1 -1 3 3 2
SOLO04 Contaminação das margens dos rios -14 -B 2 -1 2 3 2
SOLO05 Alteração da drenagem hídrica do solo -3 -A 1 -1 1 1 1
SOLO06 Alteração da infiltração de água -3 -A 1 -1 1 1 1
SOLO07 Aumento do processo de erosão -3 -A 1 -1 1 1 1
SOLO08 Contaminação da água subterrânea -12 -B 2 -1 2 2 2
SOLO09 Contaminação dos banhados -54 -D 3 -3 2 3 1
SOLO10 Redução da retenção de água do solo -3 -A 1 -1 1 1 1
Componentes Ecológicos e Biológicos (BE) = - 109 ES RB A1 A2 B1 B2 B3
SBIO01 Perda de habitats naturais -14 -B 2 -1 2 2 3
SBIO02 Eliminação de vegetação -32 -C 2 -2 3 3 2
SBIO03 Impacto sobre a fauna terrestre -10 -B 2 -1 2 2 1
SBIO04 Distúrbio da fauna silvestre -10 -B 2 -1 2 2 1
SBIO05 Perda de sítios, abrigo, alimentação, reprodução -14 -B 2 -1 2 2 3
SBIO06 Impacto sobre local dessedentação animal -10 -B 1 -2 1 2 2
SBIO07 Interrupção de corredores ecológicos -12 -B 2 -1 2 2 2
SBIO08 Impacto sobre a cadeia trófica -7 -A 1 -1 2 2 3
Componentes Sociais e Culturais (SC) = - 43 ES RB A1 A2 B1 B2 B3
SSC01 Alteração da paisagem -10 -B 2 -1 1 3 1
SSC02 Impacto sobre uso da água -6 -A 2 -1 1 1 1
SSC03 Impacto sobre uso do solo -3 -A 1 -1 1 1 1
SSC04 Geração de conhecimentos 63 D 3 3 3 1 3
SSC05 Perda de terras agrícolas -6 -A 1 -1 3 1 2
SSC06 Geração de emprego temporário 10 B 2 1 2 1 2
SSC07 Desvalorização dos terrenos ribeirinhos -8 -A 1 -1 3 3 2
SSC08 Atendimento às comunidades 36 D 3 3 1 1 2
Componentes Econômicos e Operacionais (EO) = - 211 ES RB A1 A2 B1 B2 B3
SECM01 Custo do atendimento da emergência -18 -B 3 -2 1 1 1
SECM02 Custo de atendimento do acidente -27 -C 3 -3 1 1 1
SECM03 Custos de recuperação das áreas contaminadas -27 -C 3 -3 1 1 1
SECM04 Pagamento de indenizações -18 -B 3 -2 1 1 1
SECM05 Pagamento de multas -27 -C 3 -3 1 1 1
SECM06 Custo dos processos legais -36 -D 4 -3 1 1 1
SECM07 Custo de recuperação da imagem da empresa -24 -C 4 -2 1 1 1
SECM08 Custos de aquisição, equipamento e instalações -6 -A 2 -1 1 1 1
SECM09 Alteração da rotina de vida local -10 -B 2 -1 2 2 1
SECM10 Impactos visual-olfativos -10 -B 2 -1 2 2 1
SECM11 Aumento do tráfego de veículos -8 -A 2 -1 2 1 1
(ES) = (a1 x a2) x (b1 +b2 +b3) = (2 x -1) x (2 + 1 +1) = - 8 -8 -A A1 A2 B1 B2 B3

67
ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os dados da Tabela 3 indicam que o derrame do óleo no solo originou impactos em


todos os grupos de componentes ambientais. Na Tabela 4.6 estão indicados os índices
de impacto ambiental ES dos componentes ambientais afetados.

Tabela 4.6 Índice global dos impactos dos componentes ambientais


-108 -71 -35 -18 -9 0 1 10 19 36 72
(ES)
-72 -36 -19 -10 -1 0 9 18 35 71 108
Classe -E -D -C -B -A N A B C D E
PC 0 1 2 2 5 0 0 0 0 0 0
BE 0 0 1 6 1 0 0 0 0 0 0
SC 0 0 0 1 4 0 0 1 0 2 0
EO 0 1 4 4 2 0 0 0 0 0 0
Total 0 2 7 13 12 0 0 1 0 2 0

Os resultados indicam que vazamento acidental de óleo no solo causou 37 impactos


nos componentes do sistema ambiental, mas apenas dois foram significativamente
negativos (-D). Apesar do acidente, a experiência adquirida pelos técnicos da empresa
e pelas autoridades com essa ocorrência e informações geradas a partir de trabalhos
realizados pela empresa para recuperar o solo foram significativamente positivos (+D).

Os componentes ambientais mais afetados pela contaminação do solo com óleo, em


ordem decrescente, foram os Econômico-Operacionais (-230); Físico-Químicos (-174),
Ecológico-Biológicos (-109) e os Sócio-Culturais (-43). No grupo de componentes Físico-
Químico a contaminação do banhado foi o mais negativo e relevante, mas pode ser
recuperado. No grupo Ecológico-Biológico o impacto mais relevante foi eliminação da
vegetação, classificado como moderadamente negativo (–C).

No grupo dos componentes Sociais e Culturais não foi constatada a ocorrência de


impacto negativo de relevância. Os resultados indicam que houve apenas alteração da
paisagem devido à instalação das máquinas, sendo o impacto classificado como pouco
negativo (-B).

A partir dos resultados obtidos podemos concluir que os componentes do grupo Físico-
Químicos foram os mais afetados e causaram as maiores alterações dos componentes.
Os dados da Tabela 4.5 indicam que a contaminação do riacho e do banhado foram os
mais relevantes. Os dados da Figura 4.2 indicam que os impactos negativos da
contaminação do solo estão no centro da escala de valores do ES, ou seja, podem ser
considerados como impactos de muito pouco a modernamente negativos.

Com a aplicação desse método foi possível avaliar os impactos ambientais provocados
pelo vazamento de óleo, identificar de forma sistemática os componentes ambientais
mais afetados, determinar os índices de impacto ES, para comparar e determinar os
impactos mais relevantes do acidente investigado.

68
SOLO

12

10

-E -D -C -B -A N A B C D E

PC BE
6 6

5 5

4 4

3 3

2 2

1 1

-E -D -C -B -A N A B C D E -E -D -C -B -A N A B C D E

SC EO
6 6

5 5

4 4

3 3

2 2

1 1

-E -D -C -B -A N A B C D E -E -D -C -B -A N A B C D E

Figura 4.2 Índice de impacto ES dos grupos de componentes (PC) Físico-Químicos, (BE)
Ecológico-Biológicos, (SC) Sócio-Culturais, (EO) Econômico-Operacionais afetados pela
contaminação do solo com óleo derramado no acidente

4.7 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS PELA MODELAGEM E SIMULAÇÃO

Com o avanço da capacidade de processamento dos computadores, a modelagem dos


cenários acidentais está se tornando uma ferramenta de grande valia na investigação
de Impactos Ambientais. Com a modelagem ambiental é possível verificar hipóteses,
simular o transporte e acúmulo de poluentes no ambiente, para estimar-se o nível de
recuperação e o estado de conservação ao longo do tempo. Além disso, a modelagem
com computador possibilita avaliar o efeito dos Impactos Ambientais sobre a dinâmica
dos processos biológicos, como, por exemplo, cadeias tróficas, ciclos reprodutivos de
animais, entre outros.
69
Os “softwares” de última geração, como os Sistemas de Informações Geográficas (SIG)
possibilitam a espacialização das informações ambientais e superposição de mapas
temáticos, cobertura vegetal, geologia, usos do solo, corpos hídricos, etc. Isto significa
que podemos avaliar impactos negativos que ocorrem em diversos fatores ambientais,
simultaneamente e de forma integrada, o que facilita a identificação de efeitos diretos,
secundários e cruzados nos fatores afetados. Os estudos de análise de riscos através
da simulação de modelos fenomenológicos e determinísticos no computador fornecem
resultados que indicam as medidas de segurança para proteger a saúde da população.

EXEMPLO

Uma fábrica de formicidas está localizada a 250m de uma comunidade. O formicida


particulado altamente tóxico é produzido em reator batelada pressurizado. Quando a
pressão atinge o limite máximo, a válvula de alívio do reator libera o produto para
chaminé. Apesar do sistema de segurança atender às especificações, os técnicos do
órgão ambiental estão preocupados com a comunidade e solicitaram à empresa um
estudo de análise de riscos. O objetivo é estimar o valor da concentração do herbicida
na comunidade caso ocorra abertura da válvula do reator por medida de segurança.

MODELAGEM DA EMISSÃO DAS PARTÍCULAS PELA CHAMINÉ

Cálculo da Concentração do Componente Ativo (mg/m3)

2 Q 10
6  xn 2  2 x v   
2
 exp y     
1
C( x y )  H    1  
2 2 n  2   u    1  n   H u  
3.14 D  u  x  D       1  2 
  2   x v  
x0  10 m x1  1500 m

y0  50 m y1  50 m

M  CreateMesh ( C  x0 x1 y0  y1)

RESULTADOS OBTIDOS COM A SIMULAÇÃO DO CENÁRIO ACIDENTAL

Os resultados da simulação indicaram que a emissão do produto pela chaminé iria se


depositar na comunidade com concentração acima da máxima permitida na legislação,
e poderia causar danos à saúde da população da vizinhança. Tal produto deixou de ser
fabricado nessa unidade industrial.
70
RESULTADOS DA MODELAGEM DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS
r C( r) 
1 0 Perfil de Concentração do Composto
52 1.725·10 -13
103 3.757·10 -7
1.8 10
5
154 5.903·10 -6
205 1.357·10 -5

1.6 10
5
256 1.781·10 -5
307 1.893·10 -5
1.836·10 -5 1.4 10
358 5

409 1.708·10 -5
460 1.558·10 -5
1.2 10
5
511 1.409·10 -5 C (mg/Nm3)
562 1.271·10 -5
1 10
5
613 1.147·10 -5
664 1.038·10 -5
8 10
6
715 9.41·10 -6
766 8.561·10 -6
6 10
6
817 7.816·10 -6
868 7.159·10 -6
919 6.58·10 -6
4 10
6

970 6.066·10 -6
1.021·10 3 5.61·10 -6
2 10
6
1.072·10 3 5.203·10 -6
1.123·10 3 4.839·10 -6
1 10
14
1.174·10 3 4.511·10 -6 0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 2500
distância axial (m)

PLUMAS DE MATERIAL PARTICULADO


Taxa de Deposição de Partículas (mg/m2 s) - Cenário 1A - C = 0,01 mg/Nm3

Figura 4.3 Resultado da simulação da dispersão atmosférica de partículas tóxicas

71
EXEMPLO

O lançamento ilegal de agrotóxicos em um ecossistema aquático provocou a morte e


infecção da ictiofauna. O acidente causou o desequilíbrio da população dos peixes.
Algumas semanas depois do evento foram observados peixes com lesões, que
infectaram outros indivíduos da ictiofauna. Os especialistas também observaram no
ecossistema afetado peixes resistentes à contaminação.

Para estimar-se a evolução da epidemia na ictiofauna, causada pela contaminação da


água, foi realizada a simulação da dinâmica do comportamento de três populações de
peixes (contaminados, sensíveis e resistentes a contaminação) como função do tempo
(02 anos). A simulação do modelo foi realizada com o programa STELLA. Na Figura 4.4
está o modelo utilizado; no gráfico da Figura 4.5 estão os resultados das populações de
peixes estudados e na Tabela 4.7 estão os valores numéricos do gráfico da Figura 4.5.

Figura 4.4 Simulação das populações dos peixes infectados, resistentes e sensíveis à
epidemia, originada pelo lançamento de produtos tóxicos

Os resultados obtidos indicam que nos primeiros meses o número de peixes sensíveis
reduz, enquanto, as populações dos peixes contaminados e resistentes aumentam.
Revelam também que, durante um ano, os efeitos do acidente afetam as populações
de peixes (comportamento oscilatório); após esse período espera-se que o
ecossistema retorne ao equilíbrio, mas ainda com a presença de peixes contaminados.
Isto significa que, no mínimo durante este período, a pesca deve ser proibida.

72
Figura 4.5 Número de peixes das populações atingidas pelo acidente

Tabela 4.7 Variação das populações de peixes atingidas, em função do tempo

73
EXEMPLO
Um vazamento de petróleo atingiu o solo e vegetação de uma região industrial. Para
estabelecer a área que foi contaminada pelo petróleo foi empregada uma imagem de
satélite, obtida no dia do acidente. Com um Sistema de Informações Geográficas (SIG),
a imagem foi georeferenciada, identificadas as feições de interesse, e classificada pela
técnica da Máxima Verossimilhança e Segmentação de Objetos. Após a classificação
foram determinadas as dimensões das áreas afetadas pelo acidente.

CLASSIFICAÇÃO DA IMAGEM PELA TÉCNICA DA MÁXIMA VEROSSIMILHANÇA

Figura 4.6 Imagem de satélite da área atingida pelo óleo, derramado

Na Figura 4.6 está indicada a região atingida pelo óleo no acidente. A classificação da
imagem pela Máxima Verossimilhança foi realizada em várias etapas. Inicialmente
foram determinados os componentes principais da imagem para identificar as classes
de interesse (cinco). Em seguida, foi realizada a classificação não-supervisionada para
obter as classes de treinamento.

Com os resultados da etapa anterior foi realizada uma classificação mais refinada da
imagem pela Máxima Verossimilhança. Para melhorar os resultados foram obtidos os
dados de declividade e orientação geográfica do terreno, através do SIG. Na Figuras de
(a) - (f) estão indicados, respectivamente, os componentes principais; a declividade; os
aspectos; as classes, os dados integrados e resultados da classificação da imagem.

74
(a) Componentes Principais (d) Classes identificadas na imagem

(b) Declividade do Terreno (e) Camadas (b), (c) e (d) Integradas

(c) Aspectos do Terreno (f) Resultados da Classificação

75
Os resultados indicam que a soma das áreas de classes identificadas na imagem é igual
a 129.338,90 m2 (13 ha). Deste total, 3,5 ha correspondem à vegetação; 2,2 ha ao
solo, 1,1ha às estradas; 2,9 ha à sombra e 3,3 ha à superfície coberta com óleo. Logo, a
superfície afetada por óleo corresponde, aproximadamente, a 25,4% da área total na
imagem analisada. Na Figura 4.7 estão os resultados obtidos.

Figura 4.7 Área da sombra, vegetação, óleo, solo exposto e das estradas

CLASSIFICAÇÃO PELA TÉCNICA DA SEGEMENTAÇÃO E ANÁLISE ORIENTADA À OBJETOS

A segunda região da imagem de satélite foi classificada pela técnica da segmentação e


análise orientada por objeto. O método fornece um resultado melhor que o anterior,
principalmente, para imagens de alta resolução. A segmentação da imagem é realizada
em multiescalas para hierarquizar os objetos indicados na Figura 4.8.

Após a segmentação, as classes e os objetos da imagem foram definidos. Em seguida,


foram obtidas as amostras de treinamento, técnica do vizinho mais próximo. Os dados
do treinamento foram utilizados com a imagem de satélite para fazer sua classificação
definitiva pela técnica Fuzzy. Neste caso foram adotadas 05 classes para classificar os
objetos. As classes foram solo, flora, óleo, estrada e sombra (classe não classificada).

Os resultados obtidos indicam que a soma das áreas de todos os objetos classificados é
igual a 38,5 ha. Desta área total, 8,4 ha são do solo; 16,8 ha da flora; 9,5 ha da região
com óleo, 2,4 ha das estradas e 1,4 ha superfície da sombra. Neste caso, a área coberta
com óleo representa, aproximadamente, 24,68% da área total dessa região analisada.
As áreas das classes na 1ª e 2ª região, respectivamente, são: solo (17 e 21,28%); flora
(27,1 e 43,64%); óleo (25,4 e 24,68%), estradas (8,5 e 6,23%) e sombra (22,3 e 3,64%).
Assim, na segunda região da imagem existe mais vegetação que na primeira e menos
sombra, mas, para as outras classes das feições analisadas, as áreas são semelhantes.

76
(a) Imagem de satélite (d) Identificação das classes

(b) Resultado da segmentação (e) Dados de treinamento

(c) Identificação dos objetos (óleo) (f) Resultados da classificação

Figura 4.8 Tratamento e classificação da imagem: (a) original; (b) segmentada; (c) identificação
de objeto (óleo); (d) identificação das classes (flora, óleo, estrada, solo); (e) dados treinamento;
(f) imagem classificada

77
4.8 OUTROS MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

As metodologias mais utilizadas para avaliar os impactos ambientais são: Metodologia


Espontânea; Listagens de Verificação; Matrizes de Interação; Redes de Interações;
Metodologias Quantitativas; Modelo de Simulação; Mapas Temáticos de Superposição
e Projeção de Cenários. A escolha da metodologia adequada para cada caso depende
dos recursos técnicos e financeiros disponíveis e atendimento do termo de referência.

MATRIZ DE INTERAÇÃO (Método semi-quantitativo)

A técnica da Matriz de Interação é uma lista bidimensional que faz o cruzamento das
condições e características dos fatores ambientais com as ações prejudiciais. As
interações destes elementos são analisadas pela magnitude e importância. A
magnitude representa a extensão das interações entre características ambientais e
ações prejudiciais. Na Tabela 4.8 está um exemplo da Matriz de Interação.

Adota-se a faixa de valores de [0,5] para magnitude e importância. Atribuí-se o valor


01 à intensidade pequena e 05 à grande. Em cada célula de interação é colocada uma
linha diagonal em cada célula e atribuídos os valores do grau de importância e da
magnitude, respectivamente, acima e abaixo da diagonal. Em seguida, somam-se todos
os valores das linhas e colunas para obter o valor global dos impactos. Os resultados da
Tabela 4.8 indicam que as ações de exploração de carvão afetam a qualidade da água.

Tabela 4.8 Matriz de interação: exploração de carvão versus qualidade da água


Explosão Escavação Extração Pesca Caça TOTAL
Fator/ Ação Poços Dragas
furos terreno madeira comercial comercial (I\M)

Superficial 2\4 2\4 2\2 2\3 1\2 1\4 2\2 12\21

Oceânica 1\2 1\1 1\2 1\2 0\0 5\4 0\0 9\11

Freático 2\1 2\2 5\4 0\0 0\0 0\0 0\0 9 \7

Qualidade 2\1 4\4 1\3 1\2 1\2 5\3 5\3 19\18

Temperatura 0\0 0\0 0\0 0\0 1\3 0\0 0\0 1\3

Reposição 0\0 2\3 3\3 2\3 2\2 0\0 0\0 9\11

Geada 1\1 1\1 0\0 0\0 1\2 0\0 0\0 3\4

TOTAL (I\M) 8\9 12\15 12\14 6\10 6 \ 11 11 \ 11 7\5 62\65

MÉTODO BATELLE

Na avaliação econômica do dano ambiental, um dos principais problemas que existem


é a quantificação do impacto que permita expressar os efeitos provocados por meio de
valores numéricos. Em 1972 foi desenvolvido pelo Instituto Batelle um procedimento
para valorar os efeitos do impacto sobre o ambiente através de unidades mensuráveis.
78
Os impactos são divididos em quatro categorias: ecológicos; contaminação ambiental;
estética e interesse humano. O sistema é dividido em 78 elementos, agrupados em 18
componentes e 4 categorias. O impacto para cada elemento é equivalente ao produto
ponderado do Índice de Qualidade Ambiental (IQA) e Índice de Importância Relativa
(IPR). Esse Índice de Importância Relativa é determinado pelo grupo de especialistas.

O método também emprega uma série de curvas dos elementos para definir a relação
de pertinência entre o valor numérico do elemento a sua qualidade ambiental. Um
ponto crítico da técnica é que nem sempre a escolha dos melhores componentes de
qualidade é óbvia. Outro ponto crítico é a designação da Importância Relativa dos
componentes. Caso não seja adequada para fazer a avaliação, tanto os componentes
biofísicos como os socioeconômicos perdem ênfase.

O primeiro passo é transformar o valor do elemento no valor do índice de qualidade


ambiental, para uniformizá-los em uma escala de 0-1, onde zero significa um índice de
qualidade baixo e 01 um índice de qualidade muito bom. A transformação do Índice de
Qualidade Ambiental é realizada com a função indicada na Figura 4.9.

O segundo passo é atribuir o valor da importância para os 78 elementos através dos


1000 pontos correspondentes. O número de pontos atribuídos para o elemento reflete
a sua importância em relação aos demais. No final, o valor do Índice de Qualidade
Ambiental de cada elemento é multiplicado pelo Índice de Importância Relativa (IPR)
para a obtenção valor do Índice de Impacto Ambiental (IIA). Matematicamente tem-se

(IIA) = (IQA) x (IPR)

EXEMPLO. Após o acidente, a concentração de oxigênio dissolvido na água era igual a


0,4mg/L. A partir da curva de qualidade ambiental do OD, Figura4.9 obtém-se o Índice
de 0,35. O valor multiplicado pelo peso das Unidades de Importância Ambiental (=31),
obtido da Figura L, fornece o valor do Índice de Impacto Ambiental, UAI = 0,35 x 31 =
10,85. Fazendo da mesma forma para todos os elementos ambientais e procedendo a
soma dos índices de impacto calcula-se o valor total dos impactos.

0.8
Calidad Ambiental

0.6

0.4

0.2

0 2 4 6 8 10
Oxigeno Disuelto (mg/l)

Figura 4.9 Função qualidade ambiental da água em função do O2 dissolvido

79
4.9 AVALIAÇÃO DE RISCO TOXICOLÓGICO À SAUDE

Durante a perícia das áreas contaminadas é importante avaliar a existência de riscos


potenciais à saúde da população. Dependendo do caso, ecossistemas, plantações e
outros componentes também devem ser investigados. Além disto, a identificação e a
quantificação dos riscos da área contaminada subsidiarão os planos de remediação e
as medidas corretivas a serem adotadas.

O risco representa a probabilidade da ocorrência de um efeito adverso à saúde devido


à exposição a substâncias tóxicas. A avaliação de risco é a estimativa da exposição da
população a uma determinada substância tóxica e avaliação do efeito adverso à saúde
em decorrência dessa exposição. Os principais fatores que devem ser considerados na
avaliação dos riscos são os contaminantes, os receptores e as vias de exposição.

As metodologias de avaliação de risco são baseadas nos princípios da toxicologia à


saúde humana e nas propriedades físico-químicas e comportamento ambiental dos
contaminantes. Em geral, seguem a desenvolvida pela Agência de Proteção Ambiental
Americana USEPA. Para quantificar o risco deve-se realizar a coleta e avaliação dos
dados; avaliação de toxicidade; avaliação da exposição; caracterização e quantificação
dos riscos e o gerenciamento. Atualmente, existem diversos programas para avaliação
dos riscos à saúde pela exposição de tóxicos como RBCA; C-SOIL; RISK PRO; SADA; etc.

A coleta e avaliação dos dados iniciam na etapa da avaliação preliminar e continuam


durante as etapas da investigação confirmatória e investigação detalhada. Os dados
coletados no campo são analisados no laboratório para identificar os contaminantes e
para estimar a distribuição espacial da concentração. Deve-se estabelecer métodos
analíticos e limites de detecção; avaliar brancos de campo e de laboratório; comparar
os resultados obtidos com valores de “background”; identificar substâncias químicas.

A avaliação de toxicidade define a toxicidade específica para cada composto avaliado,


considerando-se os efeitos adversos à saúde associados à exposição. Na avaliação da
exposição, analisa-se a intensidade, a freqüência, a duração e as vias ou caminhos de
exposição humana, atual ou futura, dos contaminantes. Os valores de exposição para
diferentes usos do solo estão na Tabela 4.9.

Os resultados da avaliação de toxicidade são obtidos do monitoramento e modelagem


do transporte e da atenuação do poluente. Na Figura 4.10 estão indicadas as vias de
exposição do contaminante. Na Figura 4.11 estão indicados alguns métodos analíticos
utilizados para identificar e quantificar os contaminantes.

A interpretação e avaliação dos dados do monitoramento são processos comparativos


que servem para apurar o potencial de risco da área contaminada. Têm-se utilizado os
limites de referência de fontes, como, por exemplo, Valores Orientados da CETESB;
Lista Holandesa; Lista de Berlim.

80
ABSORÇÃO HUMANA

INALAÇÃO INGESTÃO CUTANEA

VIAS DIRETAS
ÁGUA POTÁVEL ALIMENTOS
SOLO

ÁGUA SUBTERRÂNEA VIAS INDIRETAS PLANTAS

Figura 4.10 Principais caminhos de exposição dos contaminantes

processos processos processos processos físico-


eletroquímicos espectrométricos cromatográficos atômicos

Medida do pH Espectrometria Cromatografia Espectrometria


UV e VIS gasosa (CG) massa
Condutividade
Espectrometria Cromatografia Análise raios X
potencial de
Infravermelho (IR) líquida (HPLC)
Redox
Medidas de
Espectrometria de Cromatografia radioatividade
Potenciometria fluorescência
(eletrodos seleti- camada delgada
vos) (CCD)
Espectrometria de
absorção atômica
Polarografia

Figura 4.11 Técnicas analíticas utilizadas para investigar contaminantes

A exposição é o contato de um organismo com o contaminante. Se a exposição ocorrer


ao longo de um período de tempo, a exposição total pode ser dividida pelo período de
interesse para obter a taxa de exposição média por tempo. A taxa de exposição média
é uma função da massa corporal. O ingresso é a quantificação das concentrações do
contaminante que ingressam no receptorexposto pela via de ingresso. A equação
utilizada para o cálculo do ingresso das substâncias no receptor é:

Onde:
 I = ingresso (mg/kg dia);
 C = concentração da substância no meio de contato (mg/L de água);
 CR = taxa de contato (ex: litros/dia);
 EF = freqüência da exposição (dias/ano);
 ED = duração da exposição (anos);
 BW = massa corpórea (kg);
 AT = tempo médio (dias).
81
Tabela 4.9 Valores de exposição de contaminantes, em função do uso do solo
Uso do solo Via de exposição Taxa
Residencial Ingestão de água 2 litros / dia
Comercial Ingestão de água 1 litro / dia
Inalação (exterior) 20m3/dia
Residencial
Inalação (interior) 15m3/dia
Comercial Inalação 20m3/dia
Ingestão de solo (criança) 100mg/dia
Residencial
Ingestão de solo (adulto) 50mg/dia
Comercial Ingestão de solo 50mg//dia

O objetivo da Análise de Toxicidade é a compilação e interpretação das evidências de


ocorrência de efeitos adversos à saúde humana, pela exposição de um receptor a um
contaminante e estimar a relação entre a extensão da exposição e o incremento da
probabilidade de efeitos adversos à saúde.

A análise de toxicidade deve ser realizada através da identificação do perigo


toxicológico e da avaliação de dose-resposta. Assim, devemos coletar informações de
toxicidade das substâncias; identificar os períodos de exposição às substâncias;
determinar as doses de referência e a carcinogenicidade.

A Dose de Referência (RfD) é um parâmetro toxicológico utilizado para avaliar efeitos


não-carcinogênicos resultantes de um evento de exposição. Os tipos de doses de
referência RfD utilizados nas avaliações de risco dependem da via de ingresso
(inalação, ingestão, contato dérmico), dos efeitos críticos e da extensão da exposição
(crônica, subcrônica ou eventos simples).

Para obter as Doses de Referência, inicialmente, deve-se realizar um estudo de doses


críticas, seguido da determinação dos efeitos tóxicos associados às doses selecionadas
e da identificação de níveis de exposição experimentais que representaram a mais alta
concentração para não-ocorrência de efeitos adversos, ou seja, a Dose de Referência.

Nos estudos de doses críticas é necessário obter o valor do Menor Nível Efeito Adverso
Observado (MNEO). O MNEO é determinado nas curvas de Dose-Resposta e indica o
ponto da curva onde ocorre o primeiro efeito adverso a saúde.

A partir do MNEO é determinado o Maior Nível Efeito Adverso não Observado (MNEN).
Dessa forma, a RfD pode ser obtida a partir do MNEO ou MNEN para efeitos tóxicos
críticos considerando a aplicação de Fatores de Incerteza (UF) e Fatores de
Modificação (FM).

Os valores do Fator de Incerteza (UF) geralmente são múltiplos de 10. A aplicação dos
valores de FI está relacionada com:

82
 UF = 10 é utilizado para quantificar variações nas populações consideradas
no estudo, visando à proteção de outras populações mais sensíveis;

 UF = 10 é utilizado quando valores do estudo dose-resposta foram obtidos


em animais e serão extrapolados para os humanos;

 UF = 10 é utilizado quando MNEN foi obtido para condições de exposição


sub crônica e será utilizado para determinação de RfD crônicas;

 UF = 10 é utilizado quando um MNEO é utilizado no lugar de um MNEN.



Para os Fatores de Modificação (FM) podem-se adotar valores na faixa de 0 a 10, para
incluir aspectos que tenham alguma incerteza associada, como por exemplo, que não
tenham sido considerados na quantificação do RfD ou que sejam específicos somente
para um determinado composto químico investigado. Considerando estes parâmetros,
o valor da RfD para efeitos não-carcinogênicos pode ser obtido pela equação

Onde:
 RfD = Dose de ingresso (mg/kg dia) (p/ex: água contaminada);
 MNEM = Maior nível de efeito adverso não observado (mg/kg dia);
 MNEO = Menor nível do efeito observado (mg/kg dia);
 UFI = Fator de incerteza (adimensional);
 FM = Fator de modificação.

A análise toxicológica para os efeitos carcinogênicos é realizada com base no Fator de


Carcinogenicidade (SF) acompanhado do peso da evidência de câncer. A evidência de
câncer pode ser classificada, segundo a EPA, a partir do seguinte sistema:

 Grupo A: Reconhecidamente carcinogênicos á saúde humana;


 Grupo B: Provável cancerígeno para humanos;
 Grupo B1: Evidências suficientes para animais e limitadas para humanos;
 Grupo B2: Evidências suficientes nos animais e inadequadas para humanos;
 Grupo C: Possível cancerígeno para humanos.

83
AVALIAÇÃO DOS RISCOS TOXICOLÓGICOS

Riscos para efeitos não-carcinogênicos

Os efeitos não-carcinogênicos foram avaliados por meio da comparação do nível de


exposição por período de tempo (Dose de Ingresso) com uma Dose de Referência para
um período de exposição similar. Esta comparação é representada pelo Quociente de
Perigo Não-Carcinogênico (HQ).

O HQ assume que existe um nível de exposição (RfD) abaixo do qual, provavelmente,


não ocorrem efeitos adversos à saúde dos organismos expostos à concentração do
composto de interesse para a avaliação do risco. Se o nível de exposição quantificado
para um cenário de exposição excede a RfD, ou seja, a relação do é maior que 1, existe
um perigo de ocorrência de efeitos não-carcinogênicos adversos à saúde humana.

Onde:
 HQ = quociente de perigo não carcinogênico;
 In = dose de ingresso para o cenário de exposição n (mg/kg dia);
 RfDi = dose de referência para a via de ingresso i (mg/kg dia).

Para o caso de mais de um composto químicos tem-se


Onde:
 HI = índice de perigo;
 In = dose de ingresso para o cenário de exposição n (mg/kg dia);
 RfDi = dose de referência para a via de ingresso i (mg/kg dia).

Quando o Índice de Perigo excede a unidade, existe um potencial para ocorrência de


efeitos não-carcinogênicos adversos à saúde. O Índice de perigo deve ser calculado
para cada caminho de exposição do modelo conceitual, considerando-se sempre os
tempos de exposição (crônico, subcrônico, de curta duração). Para cada caminho de
exposição deve ser calculado o Risco Total e o Índice de Perigo, considerando os
pontos e os períodos de exposição e períodos. Se dois caminhos de exposição não
afetam o mesmo receptor, o Risco Total e o Índice de Perigo associados a estes
caminhos não devem ser combinados. Assim, tem-se

Onde:
 HIET = índice de perigo não carcinogênico total;
 HI caminho i = índice de perigo do caminho de exposição do caminho i.
84
Riscos para efeitos carcinogênicos

Para compostos químicos que gerem efeitos carcinogênicos, o risco é estimado a partir
do fator de carcinogenicidade (SF), como um incremento da probabilidade de um
indivíduo desenvolver câncer ao longo do tempo de sua vida, como resultado de um
evento de exposição a um composto químico de interesse que potencialmente gere
câncer. Por se estar tratando com baixas doses de ingresso de contaminantes, pode-se
assumir o SF na porção linear da curva de Dose-Resposta, ou seja, porção da curva
onde é possível assumir uma relação linear para quantificação do Risco Carcinogênico,
como apresentado no Quadro 9600-1.

Risco = In x SF
Onde:
 Risco = risco carcinogênico;
 In = dose de ingresso para o cenário de exposição n (mg/kg dia) e;
 SF = fator de carcinogenicidade (mg/kg dia) -1.

Para o caso de múltiplos compostos tem-se

Onde:
 Risco total = risco carcinogênico total;
 Risco i = risco carcinogênico estimado para o composto i.

O risco carcinogênico total deve ser obtido para cada caminho de exposição descrito
no modelo conceitual da área investigada, considerando todos os compostos químicos
carcinogênicos que potencialmente possam ocorrem no evento de exposição.

O Risco Carcinogênico Total ao qual um determinado indivíduo pode estar exposto,


deve ser calculado pelo somatório de todos os riscos carcinogênicos totais estimados
para cada caminho de exposição. Logo, o Risco Cumulativo Total da Área é a somatória
do risco para cada composto químico, para cada caminho de exposição, e para todos
os meio que ocorrem dentro dos mesmos cenários de exposição, simultaneamente.

EXEMPLO

Na investigação da oficina de impermeabilização de madeira indicada na Figura 4.12,


foram observados benzeno e formaldeído nas 5 amostras de solo e água subterrânea
coletadas. Na Tabela 4.10 estão os resultados analíticos dessas amostras. Na visita da
região foram observados pastos, gado leiteiro, plantações de hortaliças, legumes e soja
nas vizinhanças. A comunidade utiliza água subterrânea para higiene pessoal, irrigação
de hortas e limpeza doméstica. Nas proximidades, também foram observadas crianças
brincando com terra.

85
Figura 4.12 Vista da oficina de impermeabilização de madeiras investigada

LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DE CAMPO

a) Dados coletados na empresa

Tabela 4.10 Resultados analíticos das amostras de solo e água da empresa


Amostra Solo (mg/kg) Água subterrânea (µg/L)
Benzeno Formaldeído Benzeno Formaldeído
P1 0,2343 0,1996 157,97 52,22
P2 0,1884 0,1598 6,82 6,34
P3 0,1094 0,1618 11,62 7,04
P4 10,551 4,3339 2205,57 40,61
P5 0,3086 0,1086 370,03 8,95

b) Valores Orientadores da CETESB

Tabela 4.11 Valores de referência para o solo e água subterrânea, da CETESB


Composto Solo (mg/kg) Água subterrânea (µg/L)
Agrícola Residencial Industrial Intervenção
Benzeno 0,06 0,08 0,15 5,0
Formaldeído 0,15 0,60 1,30 0,18

AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE

c) Receptores
 Crianças da comunidade;
 Adultos da comunidade;
 Trabalhadores da oficina.

d) Vias de exposição
i. Superfície do solo
 Contato com a pele;
 Ingestão de vegetais.

86
ii. Água subterrânea
 Inalação no banho;
 Ingestão de vegetais;
 Contato com a pele.

e) Parâmetros de exposição (referencia da EPA):


 Tabelas 4.12. Adulto residente na comunidade
 Tabela 4.13. Trabalhadores da empresa
 Tabela 4.14. Criança residente na comunidade

Tabela 4.12 Parâmetros de exposição para adultos residentes na comunidade


Máxima Exposição
Parâmetro Unidade
exposição típica
Contato dermal com água de irrigação
Freqüência de exposição dia/ano 150 20
Tempo de exposição h/dia 2,0 0,5
Área total superficial da pela cm2 23000 18400
Fração da área dermal de contato com água fração 0,5 0,1
Ingestão da água de irrigação
Freqüência de exposição dia/ano 150 20
Tempo de exposição h/dia 2,6 0,5
Taxa de ingestão ml/h 50 10
Ingestão de vegetais
Taxa ingestão de vegetais acima do freático g/dia 127 127
Taxa de ingestão de raízes vegetais g/dia 87,5 87,5
Fração de vegetais no solo e água afetados g/g 0,25 0,1

Tabela 4.13 Parâmetros de exposição para os trabalhadores da empresa


Parâmetros Unidades Máxima exposição Exposição típica
Comum para todas as vias
Peso corporal kg 70 70
Expectativa de vida anos 70 70
Período de exposição ano 25 8,0
Freqüência de exposição dia/ano 250 250
Ingestão de água
Taxa de ingestão L/dia 1,0 0,5
Inalação de vapores do solo
Período no ambiente exterior horas/dia 8,0 4,0
Taxa de inalação m3/h 2,5 0,83
Contato dermal com o solo
Freqüência de exposição dias/ano 250 125
Fração da área dermal em contato solo cm2/ cm2 0,57 0,11
Fator de aderência mg/cm2 0,2 0,2
Ingestão de solo
Freqüência de exposição dias/ano 250 125
Taxa de ingestão mg/dia 100 40

87
Tabela 4.14 Parâmetros de exposição das crianças residentes na comunidade
Máxima Exposição
Parâmetros Unidades
exposição típica
Comum para todas as rotas
Peso corporal kg 15 15
Expectativa de vida anos 70 70
Tempo de exposição anos 6,0 6,0
Freqüência de exposição dias/ano 350 350
Contato dermal no banho
Tempo de exposição horas/dia 0,2 0,12
Área superficial dermal cm2 7280 6800
Inalação durante o banho
Tempo de exposição diário no banho horas/dia 0,2 0,12
Taxa de inalação no banho m3/h 0,6 0,6
Volume do banheiro m3 3,0 5,2
Vazão da água do banho L/minuto 10 8,0
o
Temperatura da água do chuveiro C 48 45
Contato dermal com o solo
Freqüência de exposição dias/ano 350 130
Fração da área dermal exposta com o solo cm2/cm2 0,55 0,13
Fator de aderência da pele com o solo mg/cm2 0,2 0,2
Ingestão de solo
Freqüência de exposição dias/ano 350 130
Taxa de ingestão mg/dia 200 90
Bioavaliabilidade no solo fração Específico Específico
Contato dermal com água de irrigação
Freqüência de exposição dias/ano 150 20
Tempo de exposição horas/dia 2,0 0,5
Área total da superfície da pele cm2 7280 6800
Fração da área dermal em contato com a água fração 0,5 0,1
Ingestão da água de irrigação
Freqüência de exposição dias/ano 150 20
Tempo de exposição horas/dia 2,6 0,5
Taxa de ingestão ml/horas 50 10
Ingestão de vegetais
Taxa de ingestão de vegetais acima do solo g/dia 5,8 55,8
Taxa de ingestão de raízes de vegetais g/dia 48,5 48,5
Fração de vegetais acima do solo ou água afetados g/g 0,25 0,1

88
RESULTADOS

1) Risco para efeitos carcinogênicos

Tabela 4.15 Risco carcinogênico total de exposição para crianças residentes


Contato Inalação Inalação
Contato pele Ingestão
pele no vapor no água de Total
água irrigação vegetais
banho banho irrigação
Benzeno 1.5E-03 3.1E-02 2.5E-06 3.6E-04 1.4E-03 3.4E-02
Formaldeído 0.0E+00 6.8E-06 5.3E-10 0.0E+00 0.0E+00 6.8E-06
Total 1.5E-03 3.1E-02 2.5E-06 3.6E-04 1.4E-03 3.4E-02

Tabela 4.16 Risco carcinogênico total de exposição para adultos residentes


Inalação Inalação Contato pele
Contato pele Ingestão
vapor no água de água de Total
no banho vegetais
banho irrigação irrigação
Benzeno 1.3E-03 9.9E-03 8.0E-07 3.1E-05 9.0E-04 1.2E-02
Formaldeído 0.0E+00 2.2E-06 1.7E-10 0.0E+00 0.0E+00 2.2E-06
Total 1.3E-03 9.9E-03 8.0E-07 3.1E-05 9.0E-04 1.2E-02

Figura 4.13 Risco carcinogênico para os receptores individuais

Os resultados acima indicam que para ambos os receptores considerados não existe
risco carcinogênico associado à exposição dos contaminantes presentes nos meios.

89
2) Riscos para efeitos não carcinogênicos

Tabela 4.17 Risco não carcinogênico de exposição para a criança residente


Contato com
Contato com a Inalação Inalação água Ingestão de
água de Total
pele no banho no banho de irrigação vegetais
irrigação
Benzeno 1.5E+02 1.6E+03 1.2E-01 3.6E+01 1.4E+02 1.9E+03
Formaldeído 1.3E-02 0.0E+00 0.0E+00 3.2E-03 3.1E-01 3.3E-01
Total 1.5E+02 1.6E+03 1.2E-01 3.6E+01 1.4E+02 1.9E+03

Tabela 4.18 Risco não carcinogênico de exposição para o adulto residente


Contato com Inalação Contato com
Inalação Ingestão de
a pele no água de água de Total
no banho vegetais
banho irrigação irrigação
Benzeno 8.7E+01 3.3E+02 2.7E-02 2.1E+00 6.0E+01 4.8E+02
Formaldeído 7.7E-03 0.0E+00 0.0E+00 1.8E-04 1.5E-01 1.6E-01
Total 8.7E+01 3.3E+02 2.7E-02 2.1E+00 6.0E+01 4.8E+02

Figura 4.14 Índice de perigo para os receptores individuais

Os resultados indicam que existe risco toxicológico de efeito não-cancerígeno para


ambos os receptores considerados nos cenários estudados. As vias de exposição são o
contato dermal com a água durante o banho, pela inalação de vapores no banho, o
contato dermal com água de irrigação e ingestão de vegetais. Os dados acima indicam
que o perigo é maior para as crianças do que para os adultos residentes. Na Figura
4.15 está indicado o índice de risco em função da via de exposição.

90
Figura 4.15 Índice de risco de efeitos não carcinogênicos em função das vias de
exposição dos receptores considerados nos cenários estudados. O adulto está
associado à cor verde e a criança à cor azul das barras mostradas no gráfico

Os dados do gráfico indicam que o risco de exposição pelo contato da pele com água
durante o banho é o maior de todos para ambos os receptores, seguido pela ingestão
de vegetais e pela inalação de vapores no banho. Para a criança existe também risco
pelo contato da pele com água freática contaminada durante a irrigação de culturas,
que não existe para o indivíduo adulto.

91
5. VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO AMBIENTAL

5.1 CONCEITOS

O ambiente modifica-se continuamente. Essa alteração é influenciada pelas atividades


culturais, econômicas e sociais do homem, e suas conseqüências. Nesse trabalho os
impactos negativos são considerados danos ambientais. O impacto negativo pode ser
insignificante (imperceptível) ou significativo (provoca grandes alterações).

O dano ambiental acontece quando uma determinada ação ou atividade produz uma
alteração desfavorável no meio ou em algum componente. O dano ambiental pode ser
analisado através de quatros aspectos: (1) manifestação; (2) efeitos; (3) causas e (4)
agentes implicados. Estes aspectos ou componentes são empregados como referência
para avaliar as implicações ecológicas e econômicas decorrentes do dano ambiental.

5.2 DELIMITAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

Sabe-se que o meio ambiente apresenta determinadas características. O ambiental


altera-se devido ao dano, de forma que as características sejam diferentes antes e
depois da ocorrência do impacto ambiental. Assim, para avaliar o dano é necessário
avaliar os dois estados, porque o dano representa a diferença entre os mesmos, ou
seja, a situação ecológica antes e depois da intervenção humana que causou o dano.

É importante considerar dois aspectos importantes na delimitação do dano. Primeiro,


as características que devem ser avaliadas são ás diretamente associadas com impacto
atual. Não existe razão para avaliar todas as características do sistema e componentes
ambientais que não foram afetados. Inicialmente, determinam-se os recursos afetados
devido à alteração das características, para, então, valorar a magnitude e a incidência.
Segundo aspecto importante que deve ser considerado é a possibilidade da existência
de um dano ambiental antes da intervenção, e, neste caso, ele não pode ser atribuído
à intervenção preexistente.

A responsabilidade do dano ambiental preexistente não deve ser atribuída ao impacto


em análise. Deve-se analisar apenas características diretamente relacionadas somente
com o dano atual. As características relacionadas com o dano preexistente podem ser
utilizadas para avaliar o estado ambiental antes do dano, mas não devem ser utilizadas
para valorar o dano em análise propriamente dito.

A restauração deve conduzir o sistema ambiental afetado para a condição existente


antes da ocorrência do dano. Do ponto de vista estritamente técnico, determina-se o
grau da alteração do sistema em relação aos processos que ocorriam antes do dano. É
possível também que seja determinado legalmente que a recuperação seja maior que
a condição preexistente, mas, neste caso, trata-se de uma decisão legal e política.

De forma geral, o dano ambiental representa a diferença entre a situação do sistema


antes e depois da intervenção, o que obrigada a conhecer a condição do sistema antes
92
e depois da alteração. A variação da qualidade ambiental do sistema ambiental antes e
depois do dano ocorrer está indicada na Figura 5.1. O gráfico mostra que, após o dano,
a qualidade ambiental do sistema ambiental decresce, mas esse comportamento não
deve ser generalizado, devendo ser consideradas as tipologias do impacto ambiental.

A curva de variação da qualidade ambiental pode ter diversas formas dependendo da


evolução do sistema afetado e das condições do meio ao longo do tempo. Na Figura 5,
o dano ambiental representa a área compreendida entre as curvas f1 e f2, indicando a
evolução da qualidade ambiental, respectivamente, antes e depois da intervenção.

80
f1 = Evolução do Sistema sem o Dano
70

60

QA (%) 50
Dano Ambiental
40

30

20 f2 = Evolução do Sistema com o Dano

10
0 20 40 60 80 100 120 140 160
(tempo)

Figura 5.1 Evolução do ambiente na presença e ausência o dano com o tempo

5.3 COMPONENTES DE AVALIAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

A valoração econômica do dano ambiental deve considerar dois componentes: o dano


biofísico e o dano social. O dano biofísico diz respeito às alterações originadas no meio
ambiente que, causam a deterioração das características dos recursos naturais. O dano
social está relacionado com os prejuízos causados à sociedade pela perda ou redução
dos bens e serviços ambientais fornecidos à sociedade pelos recursos naturais.

Para determinar o dano biofísico é necessário avaliar o tipo de alteração ocasionada e


sua relação com o recurso afetado, considerando as características e composição do
recurso no local e na área de influência do dano. Assim, será necessário identificar o
recurso afetado e fazer sua avaliação antes e depois da ocorrência do dano ambiental.

Para estabelecer o dano social é necessário conhecer os benefícios sociais fornecidos


pelo recurso natural afetado, antes e depois do dano, para, então, fazer a valoração. É
necessário também identificar as atividades necessárias para recuperar o estado inicial
de conservação do recurso alterado pelo dano, além de prever os custos associados.

93
A valoração econômica de danos causados nos recursos naturais engloba a análise das
implicações biofísicas e sociais. As implicações sociais do dano referem-se à perda dos
benefícios que derivam dos recursos afetados e aos custos adicionais que incidem na
população dos efeitos adversos decorrentes de alteração do meio natural, tais como:
tratamentos de saúde, perda de renda, salários, visitação, entre outros. No caso de
atividades extrativas, é necessário também quantificar os valores associados ao preço
e a quantidade dos produtos extraídos na área afetada (BARRANTES, 2001).

5.4 VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS ASPECTOS BIOFÍSICOS DO DANO AMBIENTAL


A restauração do recurso natural é necessária sempre que ocorre um dano ambiental.
Neste caso, para realizar a quantificação econômica associada à restauração, devem-se
identificar os níveis dos fatores presentes no recurso natural antes da alteração. A
recuperação do recurso afetado aos níveis aceitáveis é estabelecida pela magnitude do
dano ocasionado, características do recurso e o tempo de recuperação do mesmo.

Espera-se que após a recuperação o recurso natural forneça novamente os benefícios,


bens e serviços ambientais que contribuem para o bem-estar das pessoas e do meio
ambiente propriamente dito. Para tanto, é preciso determinar a condição inicial e final
do recurso natural afetado, para estabelecer, de maneira justa, a responsabilidade do
causador do dano. A determinação do estado de conservação inicial do recurso natural
é necessária, porque, em alguns casos, o dano já existia.

A recuperação do estado inicial de conservação do recurso natural afetado implica a


execução de uma série de atividades que demandam tempo, materiais e mão-de-obra,
portanto, representam custos financeiros que serão cobertos pelo causador do dano
ambiental. A determinação destes custos é a principal tarefa que deve ser realizada. Os
custos dependem da magnitude do dano provocado, do tempo de recuperação do
recurso natural afetado e do nível de restauração desejado, estabelecido a partir do
conhecimento do estado de conservação do recurso no momento em que foi afetado.

É importante enfatizar que o dano pode afetar mais de um recurso. Isso significa que,
para restaurar todos os recursos naturais alterados, deve-se calcular o custo total pela
soma dos custos individuais. Para realizar esse cálculo é necessário determinar em
unidades físicas a magnitude dos danos, de modo que se possa inferir o valor dos
custos de restauração por unidade de medida.

A estimativa do custo total de recuperação dos recursos depende das características


intrínsecas dos mesmos, porque, determinam o conjunto de atividades que devem ser
realizadas para sua restauração. Quanto maior a complexidade do sistema ambiental
afetado maior é quantidade de elementos que devem ser recuperados.

Cada atividade a serem executada demanda insumos e mão-de-obra. Os preços e as


quantidades de funcionários e insumos a serem utilizados determinam os custos totais
da recuperação do recurso. Essa relação é expressa como,

94
∑∑∑ ( )

Onde:

CR = custo da restauração do recurso natural afetado ($/unid. do fator);


P i = preço do insumo i usado na restauração do recurso j ($/unid. de insumo);
Q t, j, i = quantidade do insumo i para restauração do recurso j (unid. de insumo);
r = taxa de desconto anual (%);
t = tempo (unidade de tempo);
T = tempo total requerido para restaurar o dano ambiental (unid. de tempo);
m = número de insumos necessários para restaurar o recurso i;
n = número de recursos afetados pelo dano.


EXEMPLO Um bosque sem atividades extrativas e um corpo hídrico foram danificados.
Os especialistas concluíram que o tempo necessário para recuperar a água é dois anos
e, para o bosque, três. Para recuperar os recursos naturais afetados serão necessários
insumos e mão-de-obra. Foi adotada uma taxa de desconto anual de 12%. Os preços e
as quantidades dos insumos necessários, em cada ano, estão indicados na Tabela 5.1.

Tabela 5.1 Preço e quantidade de insumos requeridos para recuperar o dano


Recursos afetados (n = 2)
Custos dos insumos
Quantidade de insumos (Q)
Insumo
1º ano 2º ano 3º ano
(m = 2)
Unidade Preço t=0 t=1 t=2
(und.) ($/und.) Bosque Água Bosque Água Bosque Água
j=1 j=2 j=1 j=2 j=1 j=2
Mão de obra i=1 hora 300 1000 400 600 300 250 100
Materiais i=2 und. 1200 600 250 450 200 100 50

Os dados do quadro acima indicam que, para recuperar os recursos naturais afetados
pelo dano, são necessários dois insumos principais: materiais e mão-de-obra. O custo
da mão-de-obra é $300/h e dos materiais $1200/unidade.

No primeiro ano serão necessárias 1400h de mão-de-obra e 850 unidades de materiais


para recuperar a água e o bosque. No 2º ano, 900h de mão-de-obra e 650 unidades de
materiais. No 3º ano serão necessárias 350 horas de mão-de-obra e 150 unidades de
materiais. O tempo de recuperação dos recursos é T=Max {2,3} = 3, o que significa que
o tempo máximo de recuperação dos recursos naturais afetados pelo dano é três anos.

Os insumos necessários para a recuperação são dois, m=2, materiais e a mão-de-obra.


Os recursos naturais afetados pelo dano foram dois, n=2, a água e o bosque. Aplicando
n, m e T na expressão para o cálculo do custo total de recuperação,

95
∑∑∑ ( )

Abrindo os somatórios obtêm-se o custo de recuperação total dos recursos afetados:

CR = (P1 Q011 + P2 Q012 + P1 Q021 + P2 Q022) x (1 + 0,12)0 +


(P1 Q111 + P2 Q112 + P1 Q121 + P2 Q122) x (1 + 0,12)-1 +
(P1 Q111 + P2 Q112 + P1 Q121 + P2 Q122) x (1 + 0,12)-2

CR = [(300 * 1000) + (1200 * 600) + (300 * 400) + (1200 * 250)] (1 + 0,12)0 +


[(300 * 600) + (1200 * 450) + (300 * 300) + (1200 * 200)] (1 + 0,12)-1 +
[(300 * 250) + (1200 * 100) + (300 * 100) + (1200 * 50)] (1 + 0,12)-2

CR = $ 2.604.700 (unidades monetárias)

Deste total, para a recuperação apenas do bosque temos:

 1º ano: [(1000 * 300) + (600 * 1200)] x (1 + 0,12)0 = $ 1.020


 2º ano: [(600 * 300) + (450 * 1200)] x (1,12) -1 = $ 642.857
 3º ano: [(250 * 300) + (100 * 1200)] x (1,12) -2 = $ 155.453

Custo de restauração do bosque = 1200 + 642.857 + 155.452 = $ 1.818.310

Os resultados indicam que os custos para a recuperação dos recursos danificados são
2650h de mão-de-obra e 1650 unidades de materiais ao longo de três anos. Assim, o
custo global de recuperação dos recursos é $2.604.700. Deste total, $786.390 para o
corpo hídrico e $1.818.310 para o bosque.

5.5 VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS ASPECTOS SOCIAIS DO DANO AMBIENTAL

As alterações que o dano ambiental causa no ambiente afetam o meio físico e o social.
O dano social causa a perda de benefícios fornecidos pelos recursos naturais. O capital
natural fornece à sociedade uma série de serviços ambientais, fluxos de matérias e de
energia que garantem e melhoram o bem-estar da população.

Isso justifica plenamente a necessidade de estabelecer uma compensação equivalente


à perda desses benefícios, ocasionada pelo dano ambiental. Para estimar o dano social
é necessário identificar os benefícios que o recurso fornece à sociedade, para, então,
estabelecer relação entre o nível da alteração causado pelo dano ambiental e a perda
dos benefícios sociais.

96
Por exemplo, o corte da mata do bosque afeta a quantidade e qualidade das águas do
ecossistema, altera a paisagem que beneficia a população, deteriora a biodiversidade,
além de outros danos. Além da perda dos benefícios também ocorrem outras
alterações indiretas que prejudicam a saúde da população, as atividades econômicas e
turísticas, entre outras.

Para estimar o valor da compensação é necessário identificar da melhor forma possível


os benefícios sociais afetados pelo dano do recurso natural. Os benefícios podem ser
determinados através da estimativa da quantidade e qualidade de fluxos fornecidos. A
população tem algumas alternativas quando os fluxos e os serviços ambientais que
derivam dos recursos naturais são afetados. As principais são:

 Seguir dispondo dos fluxos do recurso em menor quantidade e qualidade;


 Substituir a oferta dos fluxos afetados por outros bens e serviços
ambientais, em quantidade equivalente à perda dos benefícios sociais;
 Perder a oportunidade de aproveitar fluxos de forma temporária ou
definitiva.

Qualquer das alternativas acima significa a perda do bem-estar social, portanto, devem
ser compensadas da forma mais adequada. O capital natural oferece à sociedade uma
série de valores que podem ser de Uso Atual (direto e indireto) ou de Uso Potencial
(opção ou de existência). Assim, o valor integral do capital natural disponível inclui os
valores de uso atual e de uso potencial.

A estimativa desses valores é complexa para um determinado recurso natural, uma vez
que grande parte dos valores de uso potencial dos recursos ainda é desconhecida e a
maioria dos valores de uso atual dos recursos não tem valor estabelecido no mercado.
Para contornar tais dificuldades é necessário realizar uma estimativa indireta dessas
variáveis, com critérios razoáveis, que permita comparar a condição do recurso natural
com a oferta dos fluxos que ele fornece à sociedade.

A quantidade e qualidade dos fluxos fornecidos pelo recurso natural dependem do seu
estado de conservação. Esse fato permite estabelecer a hipótese da existência de uma
relação entre o estado de conservação e os fluxos fornecidos pelo recurso natural. Esta
relação pode ser utilizada para estimar as conseqüências decorrentes da alteração do
estado de conservação sobre os fluxos do recurso natural que beneficiam a sociedade.

Considerando, que a restauração do recurso natural conduz ao restabelecimento dos


fluxos, pode-se notar que, à medida que melhora sua condição, melhoram a qualidade
e quantidade de fluxos e serviços ambientais por ele fornecidos. Assim, para
estabelecer os custos adequados da compensação deve-se avaliar se o recurso afetado
está em processo de restauração, fornecendo progressivamente os fluxos e os serviços
ambientais, o que significa uma redução dos custos de recuperação.

97
5.6 MÉTODO DIRETO PARA VALORAÇAO DO CUSTO SOCIAL – PERDA DE BENEFÍCIOS

Para determinar o custo do dano social decorrente da alteração dos recursos afetados,
analisam-se quatro grupos de benefícios fornecidos pelos recursos naturais:

a) Matérias primas e produtos finais de consumo;


b) Proteção e seguridade de bens e serviços finais;
c) Proteção à saúde da população;
d) Espairecimento e desenvolvimento espiritual.

5.6.1 PERDA DE BENEFÍCIOS PELA REDUÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA E PRODUTOS FINAIS

Considerando factível que ocorra a perda de benefícios pela redução do fornecimento


de matérias-primas e dos produtos finais de consumo, pode-se determinar essa perda
através das quantidades e dos preços dos bens e serviços ambientais afetados.

Essa análise deve ser realizada em função do tempo necessário para restituir o estado
inicial de conservação dos recursos alterados. É necessário conhecer as informações
sobre preços e quantidades dos produtos. Assim, quando as informações existem, a
Perda dos Benefícios pela Redução das Matérias-Primas e Produtos Finais de Consumo,
(BP1) pode ser estimada a partir da expressão:

∑ ∑ ∑( )( )

Onde:
 PB1 = perda de benefício por redução de matérias-primas e produtos ($);
 = preço da matéria-prima i fornecida pelo recurso j ($/unidade);
 = quantidade de matéria-prima i fornecido pelo recurso j (unidade);
 = preço do produto i fornecido pelo recurso j ($/unidade);
 = quantidade do produto i fornecido pelo recurso j (unidade) e;
 r = taxa de desconto anual (%).

EXEMPLO

Suponha que no exemplo anterior ocorre uma redução da produção dos produtos não
madeiráveis do bosque (palmito, frutas) e dos produtos pesqueiros no corpo hídrico
(peixes e minerais). A partir do levantamento dos dados foram obtidas as informações
sobre quantidades e preços desses bens, indicados na Tabela 5.2.

98
Tabela 5.2 Dados para estimativa da perda de benefícios pela redução das matérias-
primas e produtos finais, derivados dos recursos naturais
Bosque Corpo hídrico
Ano Variável Unidade
Palmito Frutas Peixes Minerais
Preço ($/kg) 200 600 1500 1000
0 Quantidade (kg/ano) 3000 450 300 500
Redução (%) (%) 35 35 40 40
Redução (kg/ano) 1050 157,5 120 200
Preço ($/kg) 200 600 1500 900
01 Quantidade (kg/ano) 3000 450 300 500
Redução (%) (%) 25 25 15 15
Redução (kg/ano) 750 112,5 45 75
Preço ($/kg) 200 600 1500 900
02 Quantidade (kg/ano) 3000 450 300 500
Redução (%) (%) 1,0 1,0 1,0 1,0
Redução (kg/ano) 30 4,5 3,0 5,0

Para m = 2; n = 2, t = 0... 2; T = 3 e r = 0,12, têm-se:

PB1 = (P11 Q011 + P12 Q012 + P21 Q021 + P22 Q022) x (1 + 0,12)0 +
(P11 Q111 + P12 Q112 + P21 Q121 + P22 Q122) x (1 + 0,12)-1 +
(P11 Q111 + P12 Q112 + P21 Q121 + P22 Q122) x (1 + 0,12)-2

PB1 = [(200 * 1050) + (600 * 157,5) + (1500 * 120) + (1000 * 200)] (1 + 0,12)0 +
[(200 * 750) + (600 * 112,5) + (1500 * 45) + (1000 * 75)] (1 + 0,12)-1 +
[(200 * 30) + (600 * 4,5) + (1500 * 3) + (1000 * 5] (1+0,12)-2 = $ 1.020.437

PB1 = $ 1.020.437 (unidades monetárias)

Análise dos resultados

Nesse caso o dano ao bosque e ao corpo hídrico causou a redução da produção das
matérias-primas e dos produtos finais de consumo. Os resultados indicam que o custo
social deste dano, devido à perda desses benefícios, foi $ 1.020.437.

Em alguns casos não é possível fazer uma quantificação direta da perca de fluxos das
matérias-primas e produtos finais derivados dos recursos naturais afetados pelo dano.
Nesses casos, pode-se fazer a estimativa proporcional ao consumo atual de benefícios,
a partir do estado de conservação dos recursos afetados. Dessa forma, a redução anual
de todos os bens (matérias-primas e produtos), pode ser estimada com as expressões

99
para, t = 1, 2..., T j = 1,2..., n i = 1,2..., m

≤α≤ j = 1,2..., n

Onde:

= quantidade atual de produto i que deriva do recurso j (unidade);


= quantidade esperada de produto i derivado do recurso j (unidade);
= mudança do estado de conservação do recurso j no tempo t (%);
= estado de conservação inicial do recurso natural j (%);
= estado de conservação final do recurso natural j (%).

EXEMPLO

Caso não existam os dados indicados na Tabela 5.2, adota-se que a perda de produção
de produtos está relacionada à mudança do estado de conservação do recurso natural,
ao longo do tempo. Isso significa que, à medida que ocorre a recuperação do recurso,
o seu estado de conservação e os fluxos de matérias-primas e produtos aumentam.

Na Tabela 5.3 está o nível do estado de conservação dos recursos afetados ao longo do
tempo. Na Tabela 5.4 está a relação entre perda de produção dos bens fornecidos e o
nível do estado de conservação dos recursos danificados, em função do tempo.

Tabela 5.3 Nível do estado de conservação dos recursos, com o tempo


Nível de alteração (%)
Ano
Bosque Corpo Hídrico
00 30 25
01 10 12
02 1 1

Com os dados da Tabela 5.4 e taxa de desconto de 12%, pode-se estimar o custo social
dos benefícios perdidos, devido à mudança do estado de conservação dos recursos. Os
resultados indicam que esse valor é igual a $ 692.474.

 PB1 = (P11 Q011 + P12 Q012 + P21 Q021 + P22 Q022) (1 + 0,12)0 +
 (P11 Q111 + P12 Q112 + P21 Q121 + P22 Q122) (1 + 0,12)-1 +
 (P11 Q111 + P12 Q112 + P21 Q121 + P22 Q122) (1 + 0,12)-2


100
 PB1 = [(200 * 900) + (600 * 135) + (1500 * 75) + (1000 * 125)] (1+0,12)0 +
 [(200 * 300) + (600 * 45) + (1500 * 36) + (1000 * 60)] (1 + 0,12)-1 +
 [(200 * 30) + (600 * 4,5) + (1500 * 3) + (1000 * 5] (1+0,12)-2 = $ 692.474

Tabela 5.4 Dados para estimativa dos benefícios perdidos em função do nível de
alteração do estado de coservação dos recursos, em função do tempo
Bosque Água
Ano Variável Unidade
Palmito Frutas Peixes Minerais
Preço ($/kg) 200 600 1500 1000
Quantidade (kg/ano) 3000 450 300 500
0
Decréscimo (%) (%) 30% 30% 25% 25%
Decréscimo (kg/ano) 900 135 75 125
Preço ($/kg) 200 600 1500 900
Quantidade (kg/ano) 3000 450 300 500
1
Decréscimo (%) (%) 10% 10% 12% 12%
Decréscimo (kg/ano) 300 45 36 60
Preço ($/kg) 200 600 1500 900
Quantidade (kg/ano) 3000 450 300 500
2
Decréscimo (%) (%) 1% 1% 1% 1%
Decréscimo (kg/ano) 30 4,5 3 5

5.6.2 PERDA DE BENEFÍCIO POR ALTERAÇÃO DO GRAU DE PROTEÇÃO E SEGURANÇA

Os recursos naturais fornecem para a população proteção contra desastres naturais e


a segurança do abastecimento futuro de bens e serviços ambientais. O dano provoca o
aumento da vulnerabilidade da população a desastres naturais que provocam a perda
total ou redução de serviços e bens fornecidos pelos mesmos. Isto representa perda de
benefícios proporcional à alteração do grau de vulnerabilidade.

A estimativa do dano social devido alteração do grau de vulnerabilidade da população,


pode ser obtida considerando dois fatores:

1) Custos necessários para minimizar o risco da população a desastres naturais;

2) Custo de medidas substitutivas necessárias para re-estabelecer o fornecimento


do fluxo de bens e serviços, que deixam de ocorrer pela alteração dos recursos,
ao nível em que se encontravam antes dano.

A expressão matemática correspondente é

∑( ) ∑( )( )

Onde:

101
 = perda de benefício por redução do nível de proteção fornecido pelo
recurso;
 = custo do insumo i usado para estabelecer medidas de proteção
(R$/unidade);
 = custo do insumo i usando para estabelecer medidas substitutivas e
garantir o abastecimento futuro de produtos ($/unidade);
 = quantidade do insumo i requerido para estabelecer medidas de
proteção (unidade);
 = quantidade do insumo i requerido para estabelecer medidas
substitutivas para garantir abastecimento futuro de produtos (unidade);
 = Gastos de gestão e administração no ano t ($/ano);
 = Gastos de manutenção no ano t ($/ano).

Os insumos representam necessidades como mão-de-obra, matérias-primas, materiais,


equipamentos e infra-estrutura. Os gastos de gestão incluem gastos de administração
e de operação da infra-estrutura. Os gastos de manutenção estão associados com as
necessidades dos ativos construídos para suprir os serviços que realizam. Os gastos de
gestão e manutenção existem somente durante o período necessário para recuperar o
recurso natural até atingir o mesmo nível de serviços oferecidos antes da alteração.

EXEMPLO
Suponha que no exemplo anterior ocorra uma alteração do grau de vulnerabilidade da
população a desastres naturais e do nível de segurança no abastecimento futuro de
produtos. A mão-de-obra e materiais necessários para o estabelecimento das medidas
de proteção para o abastecimento futuro de bens e serviços estão na Tabela 5.5.

Tabela 5.5 Valores para estimativa da perda de proteção e segurança no abastecimento futuro
de bens e serviços ambientais, fornecidos pelos recursos naturais à população
Medida para proteção à Medidas substitutivas para garantir
desastres naturais o abastecimento futuro de produtos
Insumo Preço ($/Unid.) Quantidade Preço ($/Un.) Quantidade
Mão-de-obra (h) 1200 15.000 1200 8500
Materiais (unidade) 800 250.000 1400 60.000

Tabela 5.6 Valores para estimativa dos custos de gestão e manutenção dos serviços para a
recuperação dos recursos naturais, em função do tempo
Gestão Manutenção
Ano
Mão-de-obra Materiais Mão-de-obra Materiais
00 1.200.000 350.000 500.000 275.000
01 1.200.000 350.000 500.000 275.000
02 1.200.000 350.000 500.000 275.000

102
Além de insumos, também são necessárias a gestão e manutenção das infra-estruturas
e serviços para a recuperação do recursos naturais, até retornarem ao mesmo nível de
serviços fornecidos, antes do dano. Na Tabela 5.6 estão indicados os valores dos custos
de gestão e manutenção das atividades para recuperação dos recursos. Aplicando os
dados da Tabelas 5.5 e 5.6 na expressão de cálculo do custo social obtém-se

 PB2 = (1200*15000 +1200*8500 + 800*250000 + 1400*60000) +


 (1550000 + 775000) (1+0,12)0 + (1550000 + 775000) (1 + 0,12)-1 +
 (1550000 + 775000) (1+0,12)-2 = $ 61.904.368

O custo social do dano ao bosque e ao corpo hídrico é $ 61.904.368. Deste valor global,
$38.000.000 são para infra-estrutura de proteção aos desastres, $17.650.00 são para
estabelecer medidas substitutivas para garantir o abastecimento futuro dos benefícios;
e $6.254.368 são para gestão e manutenção das ações e atividades para a recuperação
dos recursos.

5.6.3 PERDA DE BENEFÍCIO PELO DANO À SAUDE DA POPULAÇÃO

Os impactos de um evento prejudicial para os recursos naturais podem desencadear


uma série de problemas relacionados com a saúde, como, por exemplo, enfermidade,
pragas e deterioração da infra-estrutura básica destinada a manter os níveis da saúde
em boas condições. Atender a cada um desses aspectos representa incorrer em custos
que podem ser associados com o dano ambiental provocado no ambiente.

Para a estimativa correspondente deste dano é necessário estabelecer as relações de


nexo – causa, de forma que os problemas citados possam ser relacionados com o grau
de alteração do recurso natural afetado. Portanto, estamos tratando com problemas
relacionados à mudança do estado de conservação do recurso natural ().

No caso das enfermidades, os custos associados aos tratamentos de recuperação dos


pacientes que foram afetados e que podem ser afetados devem ser determinados. Isso
significa que é necessário estimar o nível de incidência da doença de toda a população.

Caso a modificação do recurso natural origine aparecimento de pragas, será necessário


combater os vetores e realizar medidas preventivas para proteger a população, como,
exemplo, evacuações, implementos especiais, etc. Se ocorrem danos à infra-estrutura
básica, será necessário estabelecer medidas mitigadoras para suprir serviços afetados
ou ainda substituir os empreendimentos danificados.

Além desses custos é necessário considerar os custos relacionados com a perda de


visitação, de produtividade e dias de serviço perdidos. A expressão matemática pela
qual se consideram esses custos tem a forma

103
∑( )( )

∑ ∑( )( ) ∑

Onde:

= Benefício perdido pelo dano à saúde devido à alteração do recurso natural ($);
= custo de tratamento da enfermidade para o ano t ($/pessoa);
= custo das medidas de prevenção da população no ano t ($/pessoa);
= custo do insumo i para o controle de pragas no tempo t ($/unidade);
= custo do insumo i para a substituição da infra-estrutura afetada ($/unidade);
= custo do produto i para mitigar em t o dano à infra-estrutura básica ($/unidade);
= quantidade de pessoas enfermas p/ alteração do recurso no tempo t (unidade);
= quantidade de pessoas submetidas à prevenção, alteração do recurso no tempo t
(pessoas);
= quantidade de produto i para mitigar efeitos do dano à infra-estrutura (unidade);
= quantidade do insumo i requerido para o controle de pragas no tempo t
($/unidade);
= quantidade de insumo k para estabelecimento da infra-estrutura ($/unidade).

EXEMPLO

As alterações dos recursos naturais do exemplo anterior originaram pragas e doenças


que afetaram as nascentes fornecedoras de serviços e benefícios à saúde das pessoas.
O diagnóstico dos danos ocorridos indicou que existem problemas de saúde na área de
atingida pelo dano, assim como na área de influência externa, que devem persistir por
algum tempo. Na Tabela 5.7 estão indicados os dados coletados no campo.

Tabela 5.7 Valores para estimativa do beneficio perdido, relativoà saúde da


população, provocado pela alteração dos recursos naturais
Custos Enfermos Potencial de enfermidade
Ano
$/pessoa Área direta Área de influência Área direta Área de influência
00 7500 150 15 4000 125
01 7500 45 08 1200 50

Devido ao aparecimento das pragas foi realizada uma campanha de prevenção junto à
população, na área direta e de influência do dano.

104
Na Tabela 5.8 estão os valores de custos da ação preventiva. Foram também realizados
programas para o combate às pragas durante um tempo, assim como ações de
mitigação para a infra-estrutura. Os custos dessas ações estão indicados na Tabela 5.9.

Tabela 5.8 Valor dos custos de prevenção de enfermidades da população

Ano Custo ($) População atendida


00 3500 5000
01 3500 1300

Tabela 5.9 Valor dos custos de controle das pragas e das ações de mitigação
Controle de pragas Mitigação Infra - estrutura
Custo Custo Custo
Quantidade Quantidade Quantidade
($/und.) ($/unid.) ($/unid.)
t=0
Mão-de-obra 1200 250 1200 125 850 600
Materiais 700 500 450 400 550 3000
t=1
Mão-de-obra 1200 100 1200 30 850
Materiais 700 125 450 75 550

O custo social da perda de benefícios relativos à saúde foram obtidos com os dados da
Tabela 5.9 e taxa de desconto de 12%. Os resultados indicam que os gastos associados
à saúde são $65.850.441, dos quais $40.900.446 para tratamentos de enfermidades;
$21.562.500 para às medidas de prevenção; e $ 3.387.544 para programas de controle
das pragas e reposição da infra-estrutura básica. Aplicando os dados das Tabelas 5.8 e
5.9 na equação do cálculo do custo social, relativos a perda de benefícios associados à
saúde da população, obtêm-se

PB3 = (7500*4290+3500*5000) (1 + 0,12)0 + (7500*1303+3500*1300) (1 + 0,12)-1 +

(1200*250+1200*125+700*500+450*400) (1 + 0,12)0 +

(1200*100+1200*30+700*125+450*75) (1 + 0,12)-1 +

(850*600+550*3000) =$ 61.904.368

5.6.4 PERDA DE BENEFÍCIO PELA ALTERAÇÃO DA PAISAGEM

Nos recursos naturais afetados pelo dano, geralmente, ocorre uma modificação da
paisagem que reduz o espairecimento e o desenvolvimento de espírito das pessoas. As
pessoas podem aceitar o convívio com essas alterações, ou seja, perder o bem-estar
por desfrutar do espairecimento e o desenvolvimento do espiritual, que recebiam dos
recursos naturais antes da alteração.

105
As pessoas também podem substituir os serviços afetados pela implantação de outras
áreas próximas de características ecológicas similares, onde se pode obter o bem-estar
pelo espairecimento e o desenvolvimento do espírito.

A segunda opção representa custos adicionais que incorrem sobre a população, como,
exemplo, transporte, alimentação, hospedagem e outros que devem ser considerados.
Para a estimativa desses custos considera-se tanto a população no interior da área de
influência direta como da área de influência indireta. A relação para estimativa deste
custo tem a forma

∑ ( )

Onde:

 = Perda de beneficio por alteração do espairecimento e desenvolvimento


espiritual das pessoas devido à alteração do recurso natural ($);

 = Custo de implantação de área similar vizinhança para suprir os serviços
afetados no instante de tempo t ($/pessoa);

 = População atingida pela perda do bem-estar no tempo t (pessoas).

EXEMPLO

Após a ocorrência de um determinado acidente ambiental, a população manifestou-se


e declarou que foi prejudicada, devido à perda de oportunidade do espairecimento e
desenvolvimento do espírito, decorrente do impacto que alterou os recursos naturais.
Tal alteração irá persistir até a restauração do recurso modificado, mas o número de
pessoas prejudicadas será descrente com o tempo. Na Tabela 5.10 estão indicados os
custos para a implantação de uma área similar à modificada e o número de pessoas
atingidas, em função do tempo.

Tabela 5.10 Dados para estimativa dos custos da perda dos serviços de espairecimento
e desenvolvimento espiritual que desfrutava a população, devido ao dano do recurso
Ano Custo unitário (R$/unidade) População (pessoas)
0 5000 2500
1 5000 1800
2 5000 500

Aplicando os dados da Tabela 5.10 na expressão PB4, com uma taxa anual de desconto
de 12%, pode-se calcular o custo associado à perda dos benefícios pela alteração do
espairecimento e desenvolvimento espiritual da população da vizinhança. O resultado
obtido foi $ 22.528.698.

106
5.7 MÉTODO INDIRETO DO CUSTO SOCIAL-MUDANÇA DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Quando as informações quantitativas sobre os benefícios perdidos não são disponíveis


é necessário utilizar métodos indiretos, como, por exemplo, nível alteração do estado
de conservação e custo total de recuperação do recurso afetado. Esse procedimento é
particularmente útil para áreas onde não existe população na vizinhança.

Nesse caso, a compensação é determinada pela redução dos benefícios que poderiam
resultar do recurso danificado. A quantificação equivalente à compensação social em
virtude do dano provocado pela alteração do recurso pode ser estimada com um fator
() que estabelece uma proporcionalidade entre o valor financeiro da compensação e
os custos de restauração dos recursos afetados pela relação

( )
∑∑∑
( )

CS é a compensação social pelo dano causado com a alteração do recurso natural ($).

No termo 1/(1-), se o valor de  é próximo da unidade, então o dano causado sobre


os fluxos de materiais e serviços ambientais que beneficiam a sociedade é quase total.
Nesse caso, o custo da compensação deve refletir a perda quase total do bem-estar
fornecido à sociedade. Se o valor de  é próximo de zero isto indica que as alterações
foram mínimas e que a redução dos fluxos também. Nesse caso, a compensação social
deverá tender a zero, considerando que os custos de restauração são mínimos.

EXEMPLO

Para exemplificar, será usado o caso do dano ao bosque e à água. O acidente provocou
a mudança de 30% no estado de conservação do bosque e 25% da água. As medidas de
recuperação do bosque e da água restabeleceram os fluxos de benefícios que foram
perdidos e, assim, o grau de alteração dos recursos foi reduzindo ao longo do tempo.
Na Tabela 5.11 estão os dados de recuperação dos recursos em função do tempo.

Tabela 5.11 Estado de conservação dos recursos em função do tempo


Nível da alteração (%)
Anos
Bosque Água
0 30 25
1 10 12
2 1 1

Utilizando a relação do custo social em conjunto com os dados das Tabelas 5.9 e 5.10,
obtém-se o custo social total do dano de $ 3.295.745. Desse montante, $ 2.328.452 é
custo social pelo dano ao bosque, e $ 967.294 é referente à água.
107
CS = {(P1 Q011 + P2 Q012) (1+0,12)0 /(1 - 01)} + {(P1 Q021 + P2 Q022) (1+0,12)0 /(1 - 02)} +
{(P1 Q111 + P2 Q112) (1+0,12)-1 /(1 - 11)} + {(P1 Q121 + P2 Q122)(1+0,12)-1 / (1 - 12)} +
{(P1 Q111 + P2 Q112 ) (1+0,12)-2 /(1 - 21)} + {(P1 Q121 + P2 Q122) (1+0,12)-2 /(1 - 22)}

CS = [(300*1000) + (1200*600)] (1+0,12)0/(1–0,30) + [(300*400) + (1200*250)] (1+0,12)0/


(1–0,25) + [(300*600) + (1250*450)] (1+0,12)-1/(1–0,10) + [(300*300) + (1250*200)]
(1+0,12)-1/(1–0,12) + [(300*250) + (1250*100)] (1+0,12)-2/(1– 0,01) + [(300*100) +
(1250*50)] 1+0,12)-2/(1 – 0,01) = $ 3,295,745

5.8 VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO PELA PERDA NA PRODUÇÃO

No cálculo do custo total do dano ambiental, é necessário incluir os valores financeiros


associados com a perda de produção, como, por exemplo, o de extração. A estimativa
desses valores pode ser obtida através da seguinte relação

Onde:
 = valor de produção total extraída ($);
 = valor unitário do recurso s ($/unidade);
 = quantidade extraída do recurso s (unidades).

Quando não existe preço de mercado para o produto extraído, realizam-se estimativas
indiretas baseadas em bens substitutivos ou nos custos de extração.

EXEMPLO

Se no exemplo anterior, são extraídas árvores na quantidade equivalente a 100m3, que


tem o preço de mercado de $ 450/m3 e oito animais que valem $ 40.000 cada, então, o
valor total dos custos é $365.000. Do total, $45.000 é referente à madeira e $320.000
é referente aos animais.

CE = 450 * 100 + 40000*8 = $ 365.000

5.9 VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO AMBIENTAL – CUSTO TOTAL (CT)

O custo total (CT) do dano é a soma do custo biofísico, dado pelo custo de restauração,
do custo social e valor da perda de produção extraída. Em termos matemáticos têm-se,

Pelo método direto:

108
CT=2.604.700 + 1.020.437 + 65.850.491 + 61.904.368 + 22.528.698 + 365.000 =

CT = $ 154.273.694

Pelo método indireto:

CT = 2.604.700 + 3.295.745

CT = $ 5.900.445

5.10 CONCLUSÕES

Considerando os conceitos e metodologias descritas, na seqüência são apresentadas


algumas conclusões sobre valoração econômica dos danos ambientais:

 O dano ambiental é a alteração desfavorável do sistema ambiental que provoca


uma mudança negativa no estado de conservação dos seus componentes;

 Para quantificar o dano ambiental é necessário conhecer as características do


sistema e fazer a contabilidade do capital natural, assim como dos benefícios e
fluxos fornecidos pelos recursos naturais à população;

 As informações sobre o estado de conservação dos recursos naturais são a base


para estabelecer a magnitude do dano ambiental;

 O custo total associado ao dano ambiental inclui: 1) o custo de recuperação do


recurso natural afetado até alcançar o estado de conservação antes do dano; 2)
o custo social atribuído à redução de benefícios que provem do recurso natural
e; 3) o custo dos produtos extraídos sem a permissão legal;

 O custo de restauração depende das quantidades de insumos, capital e trabalho


requeridas, assim como do tempo estimado para alcançar ou se aproximar dos
níveis em que se encontrava o recurso natural antes do dano;

 O custo social depende da perda de benefícios que se origina com a alteração


do estado de conservação do ambiente, dada a hipótese de que é possível
estabelecer uma relação direta entre o estado de conservação dos recursos e a
qualidade e quantidade dos fluxos que são fornecidos à população;

 Se os benefícios podem ser qualificados e quantificados pode-se estimar o custo


social através do método direto; caso contrário, podem-se relacionar os custos
de restauração com o custo social através do fator de proporcionalidade (),
que é função do estado de conservação dos recursos.

109
6. MÉTODOS DE VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO AMBIENTAL

6.1. INTRODUÇÃO

Neste capítulo são apresentados alguns modelos para valoração econômica dos danos
ambientais disponíveis na literatura. É importante observar que não existe um modelo
general para valorar todos os fatores ambientais. Fato justificável, se considerarmos a
quantidade e a diversidade de elementos que existem no meio ambiente, assim como
a complexidade de suas relações funcionais.

A maioria dos elementos físicos, biológicos do sistema ambiental ainda não tem valor
comercial estabelecido. Isso significa que o estado do conhecimento sobre a valoração
econômica de recursos e danos ambientais precisa avançar através da investigação. Os
modelos apresentados neste capítulo foram obtidos na literatura e são aplicados para
valorar danos ambientais provocados pela contaminação do solo, lençol freático, águas
superficiais, derrubada de vegetação, vazamentos de produtos químicos, queimadas e
incêndios florestais, destruição de patrimônio histórico e cultural, entre outros.

6.2. VALORAÇÃO ECONÔMICA DE RECURSOS NATURAIS (ROBERT CONSTANZA, 1997)

Em 1997, Robert Constanza liderou uma equipe de pesquisadores alemães, brasileiros


e americanos para obter uma estimativa do valor econômico dos recursos naturais do
planeta. Nesse trabalho foram analisados 17 tipos de hábitats terrestres, oceânicos,
florestas, banhados, rios, mangues. Os hábitats pesquisados foram classificados em 16
grandes grupos, biomas, incluindo águas oceânicas costeiras, etc. O valor econômico
médio de um hectare foi estimado a partir de 17 serviços ambientais que derivam do
capital natural. Os parâmetros usados para avaliar os recursos foram: estoque de bens,
fluxos de matéria, produtos e energia. Os serviços ambientais analisados foram:

 regulação da composição química da atmosfera;


 regulação do clima;
 controle da erosão do solo e da retenção dos sedimentos;
 produção de alimentos;
 fornecimento de matérias-primas;
 absorção e reciclagem dos resíduos humanos;
 regulação dos fluxos hídricos;
 armazenamento e retenção de água;
 regulação de distúrbios naturais (proteção às tempestades, inundações, etc.);
 formação do solo;
 ciclos de nutrientes;
 polinização;
 controle biológico das populações de animais;
 refúgio e abrigo de populações;
 recursos genéticos;
 lazer e cultura.
112
O valor econômico global estimado para os recursos e serviços ambientais da biosfera
variou na faixa de 16 a US$54 trilhões/ano, o valor médio foi de US$33 trilhões/ano. O
maior valor estimado para serviços e fluxos que derivam por cada hectare por ano foi
US$14.785, tendo sido atribuído aos banhados e às terras planas inundáveis. O oceano
aberto foi valorado em US$252, e a floresta tropical em US$2.007/ano. Algo em torno
de 63% (US$20,9 trilhões) do valor global dos recursos naturais foi atribuído aos
sistemas marinhos, sendo que a metade deste valor corresponde às áreas costeiras.
Nos sistemas terrestres, as florestas (US$4,7 trilhões) e os banhados (US$4,9 trilhões)
foram considerados os mais valiosos. O valor dos ciclos de nutrientes foi estimado em
US$17 trilhões/ano. Os serviços ambientais no nível máximo foram valorados em
US$54 trilhões/ano.

6.3 CONCEITOS DE ECONOMIA AMBIENTAL

A economia ambiental é uma área recente e não existe absoluta concordância quanto
ao significado dos conceitos e aplicação das metodologias de valoração dos recursos
naturais e dos danos ambientais. Antigamente, o meio ambiente era considerado uma
fonte inesgotável de recursos e um receptáculo de resíduos de inesgotável capacidade.
A ciência econômica seguia a mesma linha, os recursos naturais e a energia estavam
aliados ao trabalho e ao capital para produzir bens e serviços solicitados pelo mercado,
que desapareciam no consumo ou investimento.

Na atualidade os economistas se interessam pelos danos que a poluição causa à saúde,


biodiversidade, recursos naturais, clima etc.. Para se avaliarem esses danos ambientais
é necessário estimar-se as perdas financeiras e, quando possível, as intangíveis. Tendo
isso em mente, deve-se entender a diferença entre os bens e serviços econômicos e os
bens e serviços ambientais.

Os bens econômicos são regulados em grande parte pelo mercado e preço. Em geral, a
oferta e a demanda de bens são equilibradas. No entanto, bens e serviços ambientais
não estão sujeitos às leis de mercado. Até pouco tempo, os bens e serviços ambientais
eram considerados bens livres, ou seja, inexauríveis, portanto, de preço zero.

Pela impossibilidade de estabelecer direito de propriedade sobre os bens ambientais,


ninguém poderia arrogar direito sobre os mesmos, não havendo como cobrar pelo seu
uso. Assim, bens e serviços ambientais eram considerados elementos de preço zero,
ou seja, não eram objetos de transação em mercados econômicos.

De maneira geral, os métodos de valoração econômica ambiental são aplicados para


estabelecer valores que as pessoas atribuem aos bens e serviços ambientais com base
em preferências individuais. A compreensão desse ponto é fundamental para perceber
o que os economistas entendem por “valorar o meio ambiente”.

6.4. VALORAÇÃO ECONÔMICA DO MEIO AMBIENTE (VERA)

Estudos econômicos indicam que o Valor de um bem ou serviço pode ser estabelecido
113
através da preferência individual pelo Uso, Preservação ou Conservação dos mesmos.
Assim, cada indivíduo terá um conjunto de preferências que será utilizado para valorar
economicamente os bens ou serviços, inclusive os ambientais (MOTTA, 1998).

Para identificar os valores, inicialmente, deve-se compreender que o valor econômico


do recurso ambiental é derivado de seus atributos. Em segundo lugar, que esses
atributos podem estar ou não associados a um determinado tipo de utilização, ou seja,
o consumo do recurso ou serviço ambiental se realiza pelo seu Uso e Não-Uso.

Os atributos dos recursos naturais são fluxos de bens (matéria prima, produtos finais)
e serviços que derivam através do seu consumo. Existem outros atributos de consumo
associados à própria existência dos recursos, que não depende do fluxo atual e futuro
de bens e dos serviços apropriados pelo Uso. Assim, o Valor Econômico do Recurso
Ambiental (VERA) é função do Valor de Uso (VU) e do Valor de Não-Uso (VNU).

VERA = VU + VNU

O Valor de Uso do Recurso Natural (VU) pode ser desmembrado em duas parcelas: o
Valor de Uso Direto (VUD) e o Valor de Uso Indireto (VUI). O VUD é o valor atribuído
em função do bem-estar que proporciona por uso direto na atividade de produção ou
no consumo, como, por exemplo, na extração e na visitação, respectivamente.

O Valor de Uso Indireto do Recurso Natural (VUI) é o valor atribuído pelo bem-estar
que ele proporciona através de funções ecossistêmicas, como, por exemplo, proteção
do solo, estabilidade climática, estoque de carbono pela preservação das florestas.

A preferência individual de preservação do recurso natural é atribuída através do Valor


de Opção (VO). Este valor está associado à disposição de conservar o recurso para uso
direto ou indireto, como, por exemplo, o benefício decorrente de fármacos ainda não
descobertos, extraídos de uma floresta nativa de uma região.

O Valor de Existência (VE) ou Valor de Não-Uso (VNU) do recurso natural deriva de


uma posição moral, cultural, ética ou altruísta em relação aos direitos de existência das
espécies ou de preservação de outras riquezas naturais, mesmo que não apresentem
uso atual ou possibilidade de uso futuro, como por exemplo, a preservação de espécies
de regiões remotas. Aplicando as definições citadas na equação do (VERA) obtém-se:

VERA = (VU + VNU) = (VUD+VUI+VO) + VE

Na Figura 6.1 estão bens e serviços ambientais relacionados com a equação do VERA.

114
VERA

Valor de Uso Valor de Não-Uso

Valor Uso Valor Uso Valor de Valor de


Direto Indireto Opção Existência

Madeira Água Subterrânea Proteção das Espécies Espécies em Extinção


Alimentos Vegetais Controle de Inundações Conservação Hábitat Estética
Alimentos Animais Retenção de Sedimentos Proteção Biodiversidade Conservação
Artesanato Retenção de Nutrientes Potencial Farmacêutico Consumo de Vida
Uso de Água Manter Qualidade Água Potencial Turístico
Turismo e Recreação Suporte a Biodiversidade
Produtos Medicinais Produção de O2
Construção Seqüestro CO2
Matérias Primas Beleza Cênica
Investigação Proteção de Bacias
Educação Polinização Figura 6.1 Diagrama do VERA
Reprodução Espécies Reprodução de Espécies
Biomassa
Plantas Aromáticas
Plantas Ornamentais
115
6.5. AVALIAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS E AMBIENTAIS NBR 14653 – Parte 6

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é fórum de normalização no país.


Os Comitês Brasileiros e Organismos de Normalização Setorial da ABNT indicam as
Comissões de Estudo responsáveis pelos Projetos das Normas. Os membros dessas
Comissões são os representantes dos setores envolvidos e interessados, como, por
exemplo, produtores, consumidores, técnicos, universidades e laboratórios.

Sérgio Antão Paiva, que é um membro destas Comissões da ABNT, apresentou em


2006, no 1º Simpósio SOBREA, realizados em Porto Alegre, a norma NBR 14653–6
– Avaliação de Recursos Naturais e Ambientais, que trata de conceitos, métodos e
procedimentos gerais de avaliação de recursos naturais e ambientais. Os objetivos
da norma são avaliação dos recursos minerais; definição de valores econômicos de
recursos naturais; taxonomia dos métodos existentes para a valoração ambiental e
primeiros passos para a normalização. Na norma estão indicados os métodos para
VERA visando à valoração de recursos e serviços ambientais. A relação VERA é

VERA = VUD + VUI + VO + VE

Para determinação da VERA é necessário identificar inicialmente eventuais conflitos de


uso do recurso e definir a situação paradigma da valoração, observadas as disposições
legais aplicáveis. Os métodos utilizados são os diretos e indiretos. No Quadro 6.1 estão
relacionados os métodos que são discutidos a seguir. Na Figura 6.2 está o diagrama de
seleção de métodos de valoração de bens e serviços que derivam do capital natural.

Quadro 6.1 Métodos diretos e indiretos de valoração ambiental pelo VERA


VU
Métodos de Valoração VE
VUD VUI VO
Custos de reposição NA NA
Custos de re-localização NA NA
Métodos
Custos defensivos ou de proteção evitados NA NA
indiretos
Custos de controle evitados NA NA
Custo de oportunidade da conservação NA NA
Produtividade marginal NA NA
Mercado de bens substitutos NA NA
Métodos
Custo de viagem NA NA
diretos
Preços hedônicos NA
Valoração contingente
Nota: NA – não aplicável: o método não capta este tipo de valor

116
Os métodos de valoração são classificados em:

 Métodos diretos: utilizam mercados de bens substitutos e complementares


ou mercados hipotéticos, para medir variações de bem-estar diretamente da
demanda dos indivíduos pela qualidade ambiental;

 Métodos indiretos: valoração dos benefícios ambientais utilizando os custos


evitados, relacionados indiretamente com mudanças na qualidade ambiental,
sem estarem diretamente relacionados á alteração de bem-estar, medida pela
disposição para pagar ou receber dos indivíduos.

6.5.1 MÉTODOS DIRETOS

Admitem a alteração do bem-estar pela variação da disponibilidade de um recurso


ambiental e, assim, procuram identificar as preferências reveladas nas curvas de
demanda (variações do excedente do consumidor), quando o recurso ambiental é
diretamente consumido, ou na perda de receitas líquidas (variações do excedente
do produtor), quando o recurso ambiental é insumo na produção de outro bem ou
serviço. A aplicação desses métodos é complexa e custosa (tempo e dinheiro), pois
requer a ampla disponibilidade de dados (ambientais e econômicos) e o aporte de
modelos estatísticos e econométricos. Os métodos que utilizam mercados de bens
substitutos e complementares aos usos do recurso só medem os valores de uso
direto e indireto.

6.5.1.1 Método da Produtividade Marginal

Identifica o valor do recurso ambiental por sua contribuição como insumo ou fator
de produção para obtenção de um produto. Aplica-se aos casos em que é possível
associar os recursos ambientais à produção dos recursos privados e, geralmente,
assumem a hipótese simplificadora de que variações na oferta pontual de recursos
não alteram preços de mercado agregado. Um exemplo desse caso é a valoração
da alteração da qualidade hídrica de um rio pela redução de produto na atividade
pesqueira ou de outros setores, tais como bebidas, energia, etc.

6.5.1.2 Método de Mercado de Bens Substitutos

É utilizado nos casos em que a variação da produção, embora afetada pelo recurso
ambiental, não oferece preços observáveis de mercado, ou estes são de difícil
mensuração. Nesses casos, os preços de mercado podem ser adotados com base
nos bens substitutos para o produto ou para o recurso natural.

6.5.1.3 Método de Preços Hedônicos

Utiliza preços de mercado de bens, principalmente imóveis, ou custos dos serviços


para estimar o valor das diferenças do nível dos atributos ambientais importantes
na formação desses preços ou custos.

117
Para aplicação no mercado imobiliário fará parte do modelo as suas características
quantificáveis que expressam indiretamente a disposição a pagar ou a receber dos
indivíduos pelo recurso e a sua influência específica na formação do preço do bem
Pi . Estas características podem ser agrupadas em:

 Ri – características estruturais do bem, área construída e padrão construtivo;


 Ai – características ambientais tais como índices de poluição, parques e outras
amenidades urbanas;
 SEi – características socioeconômicas locais representadas por índices, como,
por exemplo, etnia, nível econômico e índices de criminalidade.

A função preço hedônico Pi que relaciona o preço do bem i às suas características,


será expressa por
( )

O preço marginal do bem ou serviço ambiental k, ou seja, a disposição a pagar por


uma unidade adicional da característica ambiental de interesse Ak será obtida
isolando-se os demais atributos do modelo, através da derivada parcial do preço
do bem Pi em relação à variável Ak , ou seja,

( )

No caso de utilização de uma regressão linear múltipla, observa-se a NBR 14653-2,


especialmente, o Anexo A. Esse método agrega os valores de uso direto, indireto e
de opção. Exemplos: identificação da influência da proximidade de praia, parque,
vista panorâmica e áreas degradadas no valor dos imóveis.

6.5.1.4 Método do Custo Viagem

Identifica o valor hedônico de um recurso ambiental através do valor recreacional,


estimado pela curva de demanda da atividade, com base nos custos incorridos
pelos usuários para isita-lo.

As zonas residenciais z são definidas por suas distâncias ao patrimônio natural p.


Para cada zona devem ser obtidas a população e outras variáveis socioeconômicas
SEz , como, renda per capita, distribuição etária, perfil de escolaridade.

A taxa de visitação da zona z ao patrimônio p(Vzp), por exemplo, visitas por cada
mil habitantes, de cada zona até o patrimônio natural pode ser correlacionada
estatisticamente com os dados amostrais do custo médio de viagem da zona CVzp
tarifa de entrada ao patrimônio TEp e outras variáveis socioeconômicas zonais,
através da seguinte expressão:

( )

118
Essa função permite estimar o impacto do custo de viagem na taxa de visitação,
através da derivada parcial em relação a CV, que corresponde à curva de demanda
para cada zona. Assim, a curva de demanda geral pelas atividades recreacionais no
patrimônio natural será estimativa da relação entre o número de visitas esperado
e a disposição a pagar dos indivíduos para o conjunto de zonas. O benefício gerado
pelo patrimônio natural ao visitante é o excedente do consumidor, ou seja, a área
abaixo da curva de demanda geral, líquido do preço cobrado.

O referido método é aplicado para valoração de parques, áreas de lazer, recreação


e de proteção ambiental, e capta de forma agregada os valores de uso direto e
indireto do recurso. Deve ser considerada na aplicação do método a possibilidade
de propósitos múltiplos da viagem.

6. 5.1.5 Método da Valoração Contingente

Este método identifica a disposição a pagar dos indivíduos pelo uso, preservação
ou recuperação do recurso, ou a disposição a receber como compensação pela
perda ou redução da qualidade ambiental do recurso. Os valores que expressam
essa disposição são estimados com base em mercados hipotéticos, simulados por
intermédio de pesquisas de campo, que indagam diretamente o entrevistado
sobre sua verdadeira disposição a pagar ou a receber pelas variações quantitativas
ou qualitativas no recurso ambiental.

A utilização desse método exige cuidado no planejamento, execução da pesquisa e


ajuste de dados com modelos econométricos, sendo o único capaz de determinar
o valor de existência e quantificar o valor de uso direto, indireto e de opção.

6.5.2 MÉTODOS INDIRETOS

Os métodos indiretos, ao invés de estimarem diretamente os valores associados à


disposição a pagar ou a receber do indivíduo, quanto a variações de qualidade ou
quantidade ambiental, utilizam-se de estimativas dos custos associados aos danos.
Portanto, seus valores devem ser entendidos como aproximações da verdadeira
dimensão econômica dos danos e devem ser utilizados quando os métodos diretos
não puderem ser utilizados pela falta de informações ecológicas e/ou econômicas.
Como são baseados nos custos para recuperar a qualidade ambiental, realocar ou
evitar os danos, sua dimensão pode incorporar valores de uso e de não-uso, pois
se assume que o dano seria restaurado ou evitado.

6.5.2.1 Custos de Reposição

O referido método estima os custos econômicos necessários para a restauração da


capacidade produtiva e funções ecossistêmicas do recurso degradado. Estabelece
que as perdas dos bens e serviços ambientais serão corrigidas com a reposição da
qualidade ambiental. Os custos para a restauração do recurso afetado são: gastos
de engenharia; implantação; monitoramento; etc.
119
O valor da perda antes da total recuperação do recurso natural é equivalente ao
custo de reposição multiplicado por uma taxa social de retorno do capital, aplicada
ao longo do tempo da restituição. Exemplos do método são custos de recuperação
da fertilidade dos solos degradados até a recuperação do nível de produtividade
agrícola (custo de reposição); custos para a construção de piscinas públicas para
garantir atividades de recreação balneária quando as praias estão poluídas (custos
de substituição) e custos para a recuperação de uma floresta ou de um manguezal
através de reflorestamento e replantio.

6.5.2.2 Custos de Realocação

É um método semelhante ao custo de reposição utilizado para valoração de danos


ambientais, por meio dos gastos necessários para realocação- o recurso ambiental
degradado, como por exemplo, reposicionamento do local de captação de água de
um sistema de abastecimento devido à poluição de um manancial.

6.5.2.3 Custos Defensivos ou de Proteção Evitados

Trata-se da estimava do valor do recurso ambiental por meio dos gastos evitados
ou a serem evitados com as atividades defensivas, substitutas ou complementares
que podem ser consideradas como uma aproximação monetária das variações de
bem-estar no recurso natural. Exemplo desse caso são gastos com tratamentos de
saúde que seriam evitados como forma de valorar a melhoria da qualidade do ar
ou o custo de aquisição de equipamentos de proteção contra ruídos exteriores.

6.5.2.4 Custos de Controle Evitados

Método utilizado para valorar danos ambientais por meio da estimativa dos gastos
necessários que foram evitados para controlar e minimizar as atividades ofensivas
ao meio ambiente. O método não mede diretamente a perda econômica revelada
pelos indivíduos, pois assume que esses custos seriam uma estimativa mínima da
perda de bem-estar associado ao dano. Alguns exemplos do método são os gastos
para o controle de poluição hídrica (efluentes industriais, domésticos ou agrícolas)
ou atmosférica (de qualquer fonte) não realizados para prevenir o dano ambiental.

6.5.2.5 Custo de Oportunidade da Conservação

O método estima o custo de conservação do recurso natural pela medida do custo de


oportunidade de atividades econômicas restritas, através de ações de proteção
ambiental dos benefícios ecológicos. A análise de custo-benefício é realizada pela
comparação dos valores estimados dos recursos com o custo de oportunidade das
atividades econômicas restritas. A conservação de uma floresta, que poderia ser
inundada pela construção de uma hidroelétrica, representa custo de oportunidade
para a sociedade em termos de produção sacrificada de energia hidroelétrica.

120
6.6 SELEÇÃO E APLICAÇÃO DOS MÉTODOS DE VALORAÇÃO AMBIENTAL

Tarefa difícil para o perito é decidir quais danos devem ser considerados na valoração.
Na verdade, não existe uma estratégia predeterminada para essa tarefa. Inicialmente,
consideram-se os danos de maior magnitude que são facilmente identificados, através
de técnicas de Avaliação de Impactos Ambientais. Em seguida, emprega-se o diagrama
da Figura 6.2 para escolher os métodos mais adequados para a valoração do dano.

6.7 INDICADORES DOS DANOS AMBIENTAIS

Os pesquisadores alemães Schultz e Wicke estudaram os custos econômicos dos danos


ambientais associados com os tipos de poluição e relacionaram os indicadores de dano
apresentados na Tabela 6.2

Tabela 6.2 Indicador de dano ambiental em função do tipo de poluição (DIXON, 1994)
Tipo de Poluição Dano Indicador do Dano
Para a saúde Doenças, faltas, aposentadorias, invalidez, etc.

Custos da Em materiais Custos: manutenção, restauração, limpeza e reposição


poluição
atmosférica Em animais Perda de produção animal, espécies, stress, epidemias

Em agricultura Perda de rendimentos, qualidade, equilíbrio do clima.

Em florestas Risco de avalanche, enchentes, erosão do solo, perda


de qualidade da madeira, etc.
Atividade pesqueira Redução de peixes, da produção, doenças no pescado

Custo da poluição Abastecimento de água Custos de tratamento, captação, saneamento doenças


hídrica
Prejuízos estéticos Redução da demanda, desaparecimento de atividades,

Lazer, repouso Ótica, cheiro, qualidade ambiental da moradia.


Acidificação, Perda de produtividade, da qualidade dos produtos,
Custo da contaminação e prejuízos devido à contaminação de alimentos,
contaminação do substâncias nocivas
solo Contaminação de águas subterrâneas, qualidade
Lixões e Instalações
ambiental da moradia, cheiro, doenças, etc.
abandonadas
Perda de produtividade Redução da capacidade de trabalho, custos pensões e
Custo da poluição pela poluição sonora indenizações, surdez profissional, gastos com proteção
sonora
Desvalorização de imóveis Perda de valor do imóvel, diminuição do valor dos
aluguéis, alteração na ocupação do solo.

121
IMPACTO/DANO AMBIENTAL

Alterações mensuráveis Não Mudanças na Qualidade Ambiental


na Produção?

Sim
Hábitat Qualidade Ar, Água, Solo Recreação

e Água
Custo de Oportunidade Custo de Viagem
Existem preços não Custo de Prevenção
distorcidos de mercado?

Custo de Reposição Valor Contingencial


Efetividade do Custo de
Prevenção

Sim Não
Valor da Propriedade
Ativos Estéticos,
Custos de Realocação Genéticos, Culturais

Utilizar a técnica Valor Contingencial


de mudança de Efeitos na Saúde Morte
produtividade Valor Contingencial

Enfermidade Capital Humano


Empregar as técnicas de
mercados substitutos utilizando
Perda de Receita
preço-sombra para mudança de
produtividade
Figura 6.2 Modelos de Valoração Ambiental (DIXON, 1994)
Custos Médicos 122
6.8 VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS DANOS Á SAÚDE

Os métodos de valoração de danos ambientais, indicados na Tabela 1, também podem


ser utilizados para a valoração monetária dos efeitos negativos que provocam à saúde,
decorrentes da degradação de qualidade do ambiente que originam. Para a estimativa
de custos associados à saúde, o estudo avalia dois focos: a mortalidade e a morbidade.

Busca-se encontrar, para o indivíduo afetado, sua disposição a pagar (DAP) para evitar
o dano ambiental, ou a sua disposição de aceitar (DAA) uma compensação quando o
mesmo já tenha ocorrido. Portanto, deseja-se estimar quanto os indivíduos valoram,
em termos monetários, a redução do risco de mortalidade e da incidência das doenças
(morbidade) associadas com o dano. Os métodos de valoração de danos apresentados
na Tabela 1 também são podem ser classificados em função da produção ou demanda.

- Métodos da Função de Produção


Método da Produtividade Marginal (produção sacrificada);
Métodos de Mercados de Bens Substitutos (gastos defensivos, custos evitados
custos de controle).

- Métodos da Função de Demanda


Métodos de Mercado de Bens Complementares;
Método dos Preços Hedônicos;
Método de Custos de Viagem;
Método de Valoração Contingente.

Dentre os métodos existentes para avaliar monetariamente os efeitos de morbidade e


de mortalidade decorrentes de danos e degradação ambiental, os mais recomendados
para tais avaliações são os de valoração contingente e mercado dos bens substitutos.

O método de valoração contingente busca estimar a disposição a pagar pela redução


da incidência de doenças e do risco de morte pela pesquisa direta aos indivíduos,
requerendo que estes eliciem as suas preferências. Com isto, esse método permite a
estimação de valores mais realísticos da DAP. Entretanto, sua desvantagem está nos
elevados custos para a realização das entrevistas e outros componentes.

Dadas às dificuldades da técnica, um recurso recente recomendado na literatura sobre


avaliação de impactos ambientais é o uso do método da Transferência de Benefícios,
que consiste em adaptar os resultados da DAP, ou outra estimativa, de outros locais
para a região desejada. A técnica da transferência de benefício é a aplicação de valores
monetários de um estudo em particular de valoração para um ambiente de decisão
político alternativo, ou secundário, em outra região geográfica (diferente) de onde o
estudo original foi executado. Podem-se obter-se valores da DAP para países onde não
existem estudos, a partir do uso de estimativas encontradas nos países da Comunidade
Européia e nos EUA, ajustando-as para o caso em particular, mediante a diferença na
renda real per capita entre estes locais e o nosso local de análise.
123
A transferibilidade depende da capacidade de aplicar os dados de diferentes estudos e
estimar os fatores sistemáticos que resultariam nas diferenças entre as estimativas. A
melhor prática é o uso de estimativas de fontes semelhantes, ou com características
aproximadas, àquelas em que o procedimento de transferência está sendo aplicado, e
ajustá-las por diferenças nas variáveis envolvidas, onde isto for possível.

O método da Produtividade Marginal é uma técnica alternativa adequada para estimar


os custos do dano ambiental relacionados à saúde da população. Esse método estima a
produção sacrificada do trabalhador devido ao dano ambiental. Outra forma é analisar
o mercado de bens substitutos, em que se faz uma avaliação dos recursos econômicos
que foram direcionados para mitigar os problemas originados do dano ambiental. Com
essa técnica, estimam-se os gastos incorridos para evitar o dano ambiental, a produção
e/ou renda deixada de ser criada, bem como os gastos feitos diretamente para sanar o
impacto. Na avaliação de custos econômicos relacionados à saúde, separa-se o estudo
em dois focos: mortalidade e morbidade.

6.8.1 VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO PARA MORTALIDADE

A avaliação para uma mudança no risco que ameaça a vida e a saúde é dada pela soma
dos valores que “um indivíduo em risco associa a sua saúde e suas chances de vida,
que os outros indivíduos estariam dispostos a pagar para evitar o risco daquele
indivíduo, e os custos que a sociedade incorre, e que, de outro modo, não incorreria se
aquele indivíduo não sofresse os efeitos do risco em questão”.

Uma vez estimada a disposição a pagar (DAP) por uma mudança no risco de morte em
alguma atividade, pode-se obter o Valor de uma Vida Estatística (VVE) definido por

Estimado o VVE associado a uma atividade com risco de morte para um indivíduo
morador de uma região, pode-se multiplicá-lo por uma variação no risco de vida por
outra atividade e estimar a DAP para evitar mortes por essa outra atividade.

Outra forma de avaliar este mesmo impacto fatal é utilizar a abordagem da Produção
Sacrificada dos Anos de Vida Perdidos. Essa abordagem está baseada na teoria do
capital humano, que, no presente contexto, admite, por hipótese, que o valor de uma
vida para a sociedade equivale ao valor presente da produção futura (VPPF) que seria
gerada pelo indivíduo. Nesse sentido, pode-se aplicar a expressão proposta em estudo
similar por Mendes e Seroa da Motta (1995), escrita como

∑ [( ) ] [( ) ] [( ) ] [ ( ) ]

Onde:

124
 = valor de uma vida estatística;

 = valor presente da produção futura ou da renda futura da pessoa de idade;

 [( ) ]= probabilidade de que a pessoa, com idade i, esteja viva na idade j;

 [( ) ]= probabilidade de que a pessoa, com idade i, esteja no trabalho na idade j

 [( ) ]= probabilidade de que a pessoa, na idade i, esteja empregada na idade j;

 = renda ou a produção esperada da pessoa na idade;

 = taxa média de crescimento da renda per capita;

 = taxa de desconto.

6.8.2 VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO PARA MORBIDADE (ENFERMIDADE)

Os custos de saúde associados, por exemplo, com a poluição atmosférica, podem ser
classificados em quatro categorias:

1) Gastos médicos com tratamento de doenças induzidas pela poluição;


2) Dias de trabalho perdidos resultantes de enfermidade;
3) Gastos para evitar ou prevenir (gastos preventivos) e atividades associadas com
tentativas de mitigar a doença;
4) Desutilidade associada a sintomas e oportunidades de lazer perdidas.

Dadas as dificuldades de estimar as parcelas dos últimos dois itens, pode-se calcular,
por exemplo, os custos de saúde associados à poluição atmosférica somando os gastos
hospitalares totais (por faixa etária e por evento) com o valor dos dias de trabalho
perdidos devido à doença, calculado com base nos salários médios na região.

É importante mencionar que os custos da doença considerada somente os primeiros


dois itens, e representa apenas uma parte do custo total de saúde associado à poluição
atmosférica. Isso significa que a disposição a pagar do indivíduo para evitar a doença é
maior que os gastos incorridos quando ele é acometido pela doença, uma vez que o
indivíduo está disposto a pagar uma quantia positiva para evitar a dor, o mal-estar e
outros incômodos não medidos nos custos da doença.

125
7. MODELOS PARA A VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO

7.1. INTRODUÇÃO

Neste capítulo são apresentados dezoito modelos para valoração econômica de danos
ambientais obtidos pela pesquisa da literatura especializada nacional e internacional,
bancos de dados técnicos, órgãos de fiscalização e controle ambiental, promotorias e
órgãos de justiça, secretarias estaduais e municipais de meio ambiente, bibliotecas,
acervos e arquivo morto público, entre outros.

Os modelos de valoração apresentados são teóricos e empíricos. Os modelos teóricos


foram desenvolvidos por universidades, agências do governo e centro de pesquisa. Os
modelos teóricos foram validados (calibrados) com dados de campo para se obterem
resultados corroborados pela comunidade científica. Observa-se que não existe ainda
um modelo ou método geral para valoração econômica de danos ambientais, ou seja,
que possa ser aplicado para todos os componentes afetados de um sistema ambiental.

Os modelos de valoração de dano empíricos foram desenvolvidos por órgãos de justiça


e de fiscalização ambiental para suprir necessidades específicas e, portanto, devem ser
aplicados com cuidado e conservadora. Recomenda-se usar os modelos empíricos para
casos iguais ou semelhantes aos que foram utilizados para desenvolvê-los.

Os modelos de valoração econômica dos danos ambientais, inicialmente são descritos


teoricamente e, posteriormente são exemplificados com estudos de casos, teóricos e
reais. Os modelos e métodos para a valoração de danos ambientais apresentados são:
custos de recuperação (CR); custos evitados (CE); custo viagem (CV); disposição a pagar
(DAP); modelagem ambiental (MA); transferência de valores (TV), custos oportunidade
(CO); análise equivalente habitacional (HEA); método Romano (MR); método Cardozo
(MC); método CETESB; método CATE; método VG; método IBAMA; método (DEPRN).

Os casos reais e teóricos utilizados para contextualizar os modelos de valoração foram:


vazamentos de petróleo e seus derivados; supressão de florestas nativas; queimada de
palha de canavial; contaminação do solo; água superficial e subterrânea; derrame de
compostos tóxicos; incêndios florestais; perda de serviços ambientais; danos à fauna;
dano ao patrimônio histórico-cultural; dano às reservas naturais e áreas de recreação;
depósito irregular de escombros; danos de unidades de conservação e outros.

É importante observar que, dependendo do caso, podem-se utilizar dois, três ou vários
modelos para valorar o dano. Nestes casos, recomenda-se utilizar todos os modelos e
comparar os resultados. A comparação dos valores econômicos dos danos (resultados)
dos modelos empregado e análise de sensibilidade paramétrica, conforme ilustrado no
exemplo apresentado na seção 7.7, permitem obter a melhor opção.

124
7.2 MODELO CETESB - VALORAÇÃO DO DANO PARA VAZAMENTOS DE PETRÓLEO

MARCELINO, A.; Haddad, E.; Aventurato, H.; Campos, M. V.; Serpa, R. R.; “Proposta de
critério para valoração monetária de danos causados por derrames de petróleo ou de
seus derivados no ambiente marinho”; São Paulo, CETESB; 1992. 22 p.

INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta uma proposta de critérios para a valoração de danos causados
por vazamentos de petróleo e seus derivados no ambiente marinho. Esta proposta foi
elaborada pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, CETESB, do Estado
de São Paulo, atendendo à solicitação do Ministério Público Federal.

A questão ambiental analisada é a poluição ocasionada pelos vazamentos de petróleo e


seus produtos derivados no ambiente marinho, que prejudicam a biota marinha através
de efeitos letais e sub-letal, afetando o comportamento, o crescimento, a reprodução, a
colonização e a distribuição das espécies. Os grupos de organismos considerados são os
bentos, zooplâncton, fitoplâncton, peixes, aves e os vegetais afetados de maneira direta
nos ecossistemas de maior produtividade primária e de importância na cadeia alimentar
marinha, chamados manguezais, considerados extremamente sensíveis e vulneráveis
aos vazamentos de petróleo.

A poluição causada pelos derrames de óleo traz prejuízos decorrentes dos distúrbios
causados às espécies citadas, como perda de biodiversidade, além de prejuízos indiretos
decorrentes da paralisação de atividades pesqueiras e queda da movimentação turística.
Apesar de a indústria do petróleo ser fundamental para o desenvolvimento de qualquer
país, na atual matriz energética mundial, os vazamentos de petróleo causam grandes
prejuízos à população em geral, pelos problemas causados à biodiversidade marinha e,
particularmente, às comunidades pesqueiras que dependem deste ambiente para sua
sobrevivência ou aqueles ligados ao turismo costeiro.

METODOLOGIA

Este modelo do tipo função exponencial relaciona o valor dos danos ambientais com o
cinco aspectos e respectivos graus de importância. Os aspectos considerados relevantes
no derrame de petróleo no ambiente marinho são o volume de óleo derramado, o grau
de vulnerabilidade da área atingida, a toxicidade do produto, a persistência do produto
no meio ambiente e a mortalidade de organismos. O grau de importância é atribuído
aos critérios na forma de um peso, que varia na faixa de 0 a 0,5.

PARÂMETROS DO MODELO

Por conta da complexidade que envolve a quantificação dos danos ambientais causados
pelos derramamentos de petróleo no ambiente marinho, aliada aos inúmeros casos que

125
vêm ocorrendo no litoral de São Paulo, a CETESB desenvolveu uma metodologia própria
para quantificar os danos. A metodologia considera os principais aspectos do acidente
ambiental, enfocando basicamente os aspectos visíveis passíveis de provocar danos, não
contemplando aqueles que requerem maiores estudos ou acompanhamentos para a
constatação do impacto biológico. A proposta foi idealizada para atingir os objetivos de
praticidade e aplicabilidade em curto período de tempo.

Segundo os autores, dentre os modelos investigados, a equação do tipo exponencial foi


a que melhor representou a realidade dos derramamentos de petróleo e seus derivados.
De acordo com a opção de adotar os aspectos visíveis, foram escolhidos cinco aspectos
relevantes, cada um com determinada importância. Para cada critério foi atribuído um
peso, variando na faixa de 0 a 0,5, para indicar a severidade do risco ou do dano gerado.
Os critérios e respectivos pesos são apresentados a seguir.

Volume Derramado (S1)

Esse aspecto está relacionado à capacidade de assimilação do óleo pelo corpo receptor.
A capacidade de assimilação varia de acordo com o local do derrame, estações do ano e
com as condições meteorológicas. Os pesos atribuídos para este item estão baseados no
volume ou quantidade de produto derramada no corpo receptor. Os pesos atribuídos
em função da massa ou volume do produto derramado estão na Tabela 7.21.

Tabela 7.2.1 Peso do critério volume derramado no modelo CETESB


V (m3) ou M (t) Fator de Ponderação
S1  1,0 0,1
1,0  S1  10 0,2
10  S1  50 0,3
50  S1  150 0,4
S1  150 0,5

Grau de Vulnerabilidade da Área Atingida (S2)

O prejuízo ecológico é mais severo se o derrame de óleo ocorrer na costa ou no estuário,


especialmente nas zonas entre marés, onde as áreas são mais vulneráveis e de maior
importância econômica. O grau de vulnerabilidade baseia-se na interação da costa
terrestre com os processos físicos que controlam a deposição e a persistência do óleo.
Os pesos deste item estão em função do tipo de ambiente costeiro ser mais ou menos
vulnerável. Na Tabela 7.2.2 estão os pesos atribuídos para esse critério do modelo.

126
Tabela 7.2.2 Fator de ponderação do critério vulnerabilidade da área afetada
Vulnerabilidade do Ambiente Atingido Fator de Ponderação
Costão rochoso 0,05
Terraço de abrasão 0,10
Praia arenosa de granulometria fina 0,15
Praia arenosa de granulometria grossa 0,20
Baixios compactos expostos pela maré 0.25
Praias mistas de areia e cascalho 0,30
Praia de cascalho 0,35
Costas rochosas abrigadas 0,40
Regiões entre marés 0,45
Marismas e manguezais 0,50

Toxicidade do Produto (S3)

Para avaliar os efeitos dos agentes químicos sobre a biota aquática têm-se realizado os
testes de toxicidade com organismos aquáticos. Através dos testes é possível conhecer a
concentração do produto que causa efeitos adversos na sobrevivência, crescimento e na
reprodução de organismos aquáticos. A atribuição dos pesos para este item segue dois
critérios. O primeiro é baseado na toxicidade aguda da fração hidrossolúvel do petróleo
derramado. O segundo critério está na detecção de toxicidade em organismos teste. Na
Tabela 7.2.3 estão os pesos atribuídos para este critério.

Tabela 7.2.3 Fator de ponderação para o critério toxicidade do produto


Toxicidade aguda (% FAS) Fator de Ponderação
S3  1,0 0,5
1,0  S3  10 0,4
10  S3  20 0,3
20  S3  50 0,2
50  S3  100 0,1

Persistência do Produto no Meio Ambiente (S5)

A persistência do produto é agravante dos danos causados. Em geral, quanto menor for
o valor do peso específico de uma substância, menor será a sua persistência. Neste item,
os produtos derramados são classificados de acordo com as suas propriedades físicas.
Na ausência dessas informações, todos os tipos de petróleo e seus derivados escuros
são considerados persistentes e todos os derivados claros, como não persistentes.

127
Mortalidade de organismos (S6)

A biota marinha pode ser afetada tanto por processos de natureza física (recobrimento,
asfixia), quanto pelos componentes químicos do produto derramado (efeitos tóxicos).
Como são necessários estudos de acompanhamento para a avaliação de efeitos sobre os
organismos plantônicos e bentônicos, para este critério são avaliados os efeitos sobre a
mortalidade de peixes, aves e mamíferos, de fácil observação. Na Tabela 7.2.4 estão os
pesos dos critérios persistência, mortalidade de organismos e para efeitos deletérios.

Tabela 7.2.4 Fatores de ponderação dos critérios persistência, deletério e mortalidade


Somar Fatores de Ponderação
Efeito
Sim Não
S4 = Deletério 0,5 0,0
S5 = Persistência do produto no ambiente 0,5 0,0
S6 = Mortalidade de organismos 0,5 0,0

Fator de Reincidência (K)

Este parâmetro do modelo da CETESB representa a penalidade por causar o mesmo tipo
de acidente mais de uma vez. O fator de ponderação do parâmetro está na Tabela 7.2.5

Tabela 7.2.5 Valores de ponderação do fator de reincidência do acidente


K – Fator de Reincidência Fator de Ponderação
Sem reincidência 01
Primeira ocorrência 02
Segunda ocorrência 04
Terceira Ocorrência 08
Cada ocorrência adiante 32

MODELO DE VALORAÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS

O modelo, equação exponencial, proposto pela CETESB para valorar economicamente o


dano ambiental para penalizar os agentes causadores deste tipo de acidente, ou seja,
derrame óleo ou produto químico tóxico tem a forma:

Valor do Dano (US$) = K * 10 (4,5 + X)


Onde:

X = (S1 + S2 + S3 + S4 + S5 + S6)

128
EXEMPLO

Determine o valor econômico do dano ambiental causado pelo vazamento de petróleo


de 30 m3 de um navio que atingiu costas rochosas abrigadas. Os ensaios de toxicidade
realizados indicam o valor CL50 de 5% da fração hidrossolúvel. O óleo API 30o derramado
não causou a mortalidade de organismos observáveis.

Aplicação dos Critérios do Modelo

 Volume derramado = 30m3 = 0,3 (ponderação S1)


 Vulnerabilidade = costões rochosos abrigados = 0,4 (ponderação S2)
 Toxicidade do produto = CL50 (24h) de 5% da FAS = 0,4 (ponderação S3)
 Persistência = API = 30 = 0,5 (ponderação S5)
 Mortalidade de organismos = 0,0 (ponderação S6)
 Pesos dos critérios: X = 0,3 + 0,4 + 0,4 + 0,5 = 1,6
 Reincidência = 1,0

Valor Econômico do Dano Ambiental

Valor (US$) = 10 (4,5 + x) = 10 (4,5 + 1,6) = 10 6,1 = US$ 1.258.925,40

COMENTÁRIO

Esse método visa a estimar os custos financeiros para compensar os danos ambientais
causados pelos vazamentos de petróleo em ambientes marinhos A valoração total dos
danos não foi realizada, porque foram incluídos critérios para valorar o custo do dano
social. Os pesos adotados para os parâmetros do modelo não apresentam uma base
científica e, provavelmente, foram arbitrados a partir da experiência prática dos autores.

129
7.3 MODELO VERA - VALORAÇÃO DO DANO PARA DERRUBADA DE FLORESTAS

AGOSTINHO CELSO GISI, ANDRÉ BALBINOT, ROBISON FUMAGALLI LIMA


http://claudio.jacoski.googlepages.com/desmatamento.pdf, capturado em 26/4/2008

RESUMO

O trabalho descreve a avaliação econômica do dano ambiental oriundo da degradação


de uma área de Floresta Ombrófila Mista, uma das fitofisionomias que constituem a
Mata Atlântica, pelo Valor Econômico de Recursos Ambientais (VERA), considerando a
perda do estoque de carbono e dos produtos madeiráveis obtidos, e do valor de opção
da comunidade para a preservação de formações florestais similares.

INTRODUÇÃO

A valoração econômica do dano ambiental pode ser utilizada para analisar situações de
conflito relacionadas ao uso e a conservação dos recursos naturais. Pode-se também
valorar os custos e recursos necessários para a recuperação do ambiente, assim como
estimar a disposição a pagar da comunidade para a manutenção da floresta.

DESCRIÇÃO DO DANO

A Floresta de Araucárias contém árvores ameaçadas de extinção, como por exemplo, a


imbuia, a canela, o xaxim e a própria araucária (pinheiro). Infelizmente, este fato não
está impedindo a exploração predatória e criminosa da floresta, como o caso ocorrido
em 2005 na Fazenda Alvorada, localizada no município de Passos Maia, Santa Catarina.
Na Figura 1 está apresentada a imagem de satélite da região. Nessa propriedade que
1076 ha, sendo 17,53ha APA, foram desmatados ilegalmente 93,44 ha de Floresta de
Araucária nativa em estágio de primário. Nas Figuras 2 e 3 está indicado o dano citado.

Figura 7.3.1 Região da Fazenda Alvorada onde ocorreu o dano ambiental

130
Figura 7.3.2 Área desmatada irregularmente Figura 7.3.3 Abertura e corte da mata

MODELO DE VALORAÇÃO DO DANO

O modelo utilizado neste caso foi do Valor Econômico de Recursos Ambientais (VERA).
Para obter a perda do valor de uso indireto da floresta desmatada foram considerados
os estoques de carbono. O valor de uso direto da floresta foi relacionado aos produtos
madeiráveis. O valor de opção da floresta afetada foi a partir da disposição a pagar da
comunidade para conservar a floresta.

VERA = VALOR DE USO DIRETO + VALOR DE USO INDIRETO + VALOR DE OPÇÃO


VERA = VALOR DOS MADEIRÁVEIS + PERDA ESTOQUE DE C + DISPOSIÇÃO A PAGAR

A) PERDA DE ESTOQUE DE CARBONO

A metodologia adotada para calcular a perda do estoque de carbono decorrente da


degradação florestal foi desenvolvida por MOTTA (2006). Segundo o SANQUETTA et.
al. (2004), este tipo de sistema fornece de 60 a 90 t C/ha, tendo sido adotado o valor
médio de 75 t C/ha. Assim têm-se:

 75 t C/ha X 93,44ha = 7.008 t C;


 75 t C /ha X US$ 3,00/ t C = US$225,00/ ha;
 US$225,00 X 93,44ha = US$21.024,00;
 R$2,15: US$1,00 = cambio da época;
 R$ 45.201,60 (Quarenta e cinco mil duzentos e um reais e sessenta centavos).

VALOR DA PERDA DE ESTOQUE DE CARBONO = R$ 45.201,60


VALOR DE USO INDIRETO = R$ 45.201,60

B) PERDA DOS PRODUTOS DE MADEIRA

Para quantificar os produtos madeiráveis foi utilizada a metodologia de ALMEIDA et.


al. (2000). Os critérios e valores empregados para qualificar os agravos estão na Tabela
7.3.1.

131
Tabela 7.3.1 Critérios usados para qualificar os agravos do dano à flora
Critério Índice Subtotal
Localização em relação às áreas protegidas
Totalmente inserido 3,0
Parcialmente inserido 2,0 2,0
Ocorrência de espécies ameaçadas de extinção
Comprovada 3,0 5,0
Suposta 2,0
Favorecimento à erosão
Comprovado 3,0
Fortes indícios 2,0
Suposto 1,0 6,0
Objetivando a comercialização
Atividade principal 2,0 8,0
Atividade secundária 1,0
Morte ou dano à fauna decorrente do dano à flora
Comprovado 3,0
Fortes indícios 2,0
Suposto 1,0 9,0
Alteração nos nichos ecológicos
Comprovada 3,0
Fortes indícios 2,0
Suposta 1,0 10,0
Previsão de re-equilíbrio
Longo prazo 3,0 13,0
Médio prazo 2,0
Curto prazo 1,0
Soma dos índices = 13,0

Tabela 7.3.2 Fatores de multiplicação dos índices dos critérios de agravo


Aspecto do ambiente Intervalo do índice numérico correspondente a qualificação dos agravos
Ar  6,8  13,6  20,4  27,2  34,0
Água  7,2  14,4  21,6  28,8  36,0
Solo-subsolo  7,5  15,0  22,5  30,0  37,5
Fauna  6,4  12,8  19,2  25,6  32,0
Flora  6,6  13,2  19,8  26,4  33,0
Paisagem  8,0  16,0  24,0  32,0  40,0
Fator de multiplicação 1,6 3,2 6,4 12,8 25,6

VALOR DA INDENIZAÇÃO = Fator de multiplicação x Valor de Exploração

Aplicando o valor da soma (=13,0) dos índices dos critérios da Tabela 7.3.1, na Tabela
7.3.2, obtemos o fator (=3,2) que deverá multiplicar o valor de exploração calculado a
seguir, para determinarmos o valor da perda dos produtos madeiráveis.

VALOR DE EXPLORAÇÃO DOS MADEIRÁVEIS

 Volume médio de toras= 490m³/ha V


 Volume médio de lenha = 600 estéreos/ha

 Valor de mercado toras = R$150,00/m3


 Valor de mercado da lenha = R$30,00/estéreos

132
 Valor das toras: 490m³/ha x 93,44 ha x R$ 150,00/m3 = R$ 6.867.840,00
 Valor Exploração 1 = R$ 6.867.840,00 x 3.2 = R$21.977.088,00

 Valor Lenha: 600estéreos/ha x 93,44ha x R$30,00/estéreos = R$1.681.920,00


 Valor Exploração 2 = R$ 1.681.920,00 x 3.2 = 5.382.144,00

VALOR DE EXPLORAÇÃO = 21.977.088,00 + 5.382.144,00 = R$ 27.359.232,00


VALOR DOS MADEIRÁVEIS = R$ 27.359.232,00

C) VALOR DE OPÇÃO (DISPOSIÇÃO A PAGAR)

O valor de opção está associado com a disposição que a população de Passos Maia
teria de contribuir mensalmente para a recuperação e preservação da área degradada.
O resultado da aplicação do questionário revelou que:

 88% dos entrevistados não estão dispostos a contribuir com qualquer valor
para a proteção dos remanescentes da Floresta Ombrófila Mista;
 4% estariam dispostos a contribuir com R$ 1,00 mensal;
 4% estariam dispostos a contribuir com R$ 5,00 mensais e;
 4% estariam dispostos a contribuir com R$ 10,00 mensais.

Considerando que a população do município é igual a 5.727 pessoas, teríamos então a


seguinte contribuição:

 229 pessoas (4%) a R$ 1,00 mensal;


 229 pessoas (4%) a R$ 5,00 mensais;
 229 pessoas (4%) a R$ 10,00 mensais.

Dessa forma teríamos uma arrecadação mensal de R$ 12.828,40 (doze mil oitocentos e
vinte e oito reais). Considerando agora um período igual 30 anos de contribuições,
como necessário e suficiente para assegurar a manutenção da floresta, temos que o
valor da disposição a pagar total é igual a R$ 4.618.224,00 (quatro milhões, seiscentos
e dezoito mil, duzentos e vinte e quatro reais).

VALOR DE OPÇÃO = R$4.618.224,00

D) VALOR DO TOTAL DO DANO (VERA)

VERA = VALOR DE USO DIRETO + VALOR DE USO INDIRETO + VALOR DE OPÇÃO


VERA = 27.359.232,00 + 45.201,60 + 4.618.224,00 = R$ 32.022.657,00

VERA = R$ 32.022.657,00 (trinta e dois milhões vinte e dois mil seiscentos e


cinqüenta e sete reais)

133
7.4 MODELO VERA - VALORAÇÃO DO DANO PARA QUEIMA DA PALHA DE CANAVIAL

Mattos, M., e Mattos, A., “Valoração Econômica do Meio Ambiente – Uma abordagem
Teórica e Prática”, Ed. RIMA, FAPESP, São Carlos, São Paulo, 2004.

INTRODUÇÃO

Segundo os autores, os principais problemas da sociedade moderna são a produção de


alimentos, o meio ambiente e geração de energia. Nesse sentido, a cana-de-açúcar
mostra-se uma matéria-prima ideal, uma vez que a partir dela é possível produzir
energia e alimento sem contaminar o meio ambiente, caso se evite a queimada na pré-
colheita e a transformação dos resíduos em produtos de valor agregado. Segundo o
IBGE, em 2002 esta cultura ocupou uma área de 5.061.531 ha do território nacional.

A quantidade de resíduos da colheita da cana-de-açúcar depende de diversos fatores


como: sistema de colheita; altura do corte dos ponteiros; variedade; idade da cultura;
clima e outros. Poucos estudos foram realizados sobre a quantificação da biomassa
palha (folhas secas, folhas verdes, ponteiras) da cana, que é um dos principais resíduos
do cultivo. Segundo os autores, a possibilidade de esse resíduo ser utilizado como
combustível é real e deve ser aproveitada.

A queima da palha seca da cana de açúcar, sem aproveitamento energético, provoca


diversos impactos negativos sobre o meio ambiente. Os principais impactos negativos
observados são a emissão de material particulado, óxidos de carbono, perda de
visibilidade, aumento da infestação da broca da cana, entre outros.

Na esfera legal a queima da cana são consideradas agressões ao meio ambiente. Desse
modo, os responsáveis por queimadas em suas propriedades devem ser compelidos a
reparar os danos provocados, sendo necessário determinar o valor da indenização
pecuniária pelo dano ambiente. Nesse sentido, uma ação civil pública associada às
queimadas de plantações de cana-de-açúcar deve conter ao menos esse dois pedidos.

CÁLCULO DO VALOR DO DANO AMBIENTAL

O valor econômico total do dano decorrente da queima da palha de uma área de cana-
de-açúcar pode ser estimado a partir da relação

VET = (VUD + VUI + VO) + VE


Onde:
 VET = valor total do dano ambiental;
 VUD = valor de uso direto;
 VUI = valor de uso indireto;
 VO = valor de opção;
 VE = valor de existência.

134
A) CÁLCULO DO VALOR DE USO DIRETO (VUD)

O valor de uso direto é determinado pela soma do valor de uso da palha, ou seja, do
potencial energético, economia de água de irrigação e no uso de herbicidas, economia
de plantio e utilização do bagaço da cana-de-açúcar.

Valor do potencial energético da queima da palha da cana-de-açúcar

Para obter o valor da perda de energia referente à queima da palha, determina-se o


valor monetário da energia equivalente gerada pela queima de álcool, uma vez que o
valor do litro do álcool é conhecido no mercado. Na tabela 7.4.1 estão os conteúdos
caloríficos do produtos da cana-de-açucar.

Tabela 7.4.1 Propriedades físicas dos produtos derivados da cana-de-açúcar


Palha da cana-de-açúcar Álcool (etanol) Bagaço
Poder Calorífico (kcal/kg) 2.285 5.147 1.7900
Quantidade (kg/ha) 9.700 4.056 17.500
Energia Gerada (kcal/ha) 22.166.000 20.877.000 31.325.000

O valor potencial da queima da palha por ha de cana-de-açúcar plantada, expresso em


litros de álcool equivalentes, é igual a

Massa de álcool equivalente = 22.166.000 (kcal/ha) / 5.147 (kcal/kg) = 4.307 (kg/ha),


Volume de álcool equivalente = 4.307 (kg/ha) / 0,78 (kg/litro) = 5.521 (L/ha).

O valor da energia da queima da palha da cana por ha plantado, expresso em litros de


álcool equivalentes, é igual a

Custo da Energia = 5.521 (litros/ha) x preço do litro de álcool (R$ / Litro)

- Custo da água de irrigação

Segundo os produtores, a cana-de-açúcar cortada crua economiza uma irrigação por


safra, 50m3 de água/ha. Considerando o custo da água igual a R$2,40/m3 tem-se:

Custo da Água de Irrigação = 50 m3 x R$2,40 = R$ 120,00/ha

Custo dos herbicidas

Os herbicidas aplicados no cultivo convencional da cana são: DIUROM, AMETRINA,


TEBTIUROM. As quantidades médias utilizadas são 6L/ha de DIUROM e AMETRINA e
3L/ha de TEBTIROM. Assim se tem:

 DIUROM: R$12,50 / litro x 6 litros = R$75,00;


 AMETRINA: R$14,60 / litro x 6 litros = R$87,60;
 TEBTIROM: R$73,00 / litros x 3 litros = R$219,00.
135
Custo dos herbicidas = R$ (75,00 + 87,60 + 219,00) = R$ 381,60/ha

Custo de plantio

A palha residual da colheita mecanizada da cana crua que permanece sobre o terreno
favorece o controle das ervas invasoras e reduz o uso de herbicidas. Portanto, uma
folha a mais, ou seja, uma economia da ordem de R$400,00/ha

Custo do plantio = R$400,00/ha

Custo do bagaço

Segundo os produtores de cana-de-açúcar do país, o bagaço de cana pode ser utilizado


como matéria-prima para a produção de ração animal, compostos químicos (furfurol),
papel, celulose e produção de energia, entre outros. Os dados de produção indicam
que são geradas, aproximadamente 22,5 toneladas de bagaço (30% da produção) por
ha de área de cana-de-açúcar plantada. Atualmente, o valor da tonelada do bagaço é
da ordem de R$30,00/t. Assim, o custo do aproveitamento do bagaço será igual a

Custo do bagaço = 22,5 (toneladas/ha) x Preço do bagaço (R$/tonelada)

Portanto, o valor de uso direto, associado à queima da palha seca da cana-de-açúcar


por ha de área plantada, será a soma das parcelas determinadas acima:

VUD = 5.521 (litros/ha) x preço do litro de álcool (R$/litro) + R$ 120,00/ha +


R$ 381,60/ha + R$400,00/ha +22,5 (toneladas/ha) x preço do bagaço (R$/t)

Considerando o valor de mercado do bagaço igual a R$30,00 e do litro de álcool de


R$1,20/L, obtém-se o valor de uso direto do dano ambiental:

VUD = R$ 8.201,80 / ha

B) CÁLCULO DO VALOR DE USO INDIRETO (VUI)

As externalidades ambientais positivas associadas à produção e o uso do álcool etílico


combustível, sem fazer a queima dos resíduos da produção, são a redução da poluição
do ar, regulação do clima, controle da erosão, redução do uso de água, seqüestro de
carbono e a redução da incidência de doenças respiratórias. Observa-se que diversas
usinas já estão negociando os chamados créditos de carbono através de implantação
de projetos baseados em mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL).

Estudos iniciais indicam que a contribuição da agroindústria canavieira para a redução


das emissões de carbono na atmosfera é significativa. O balanço das emissões líquidas
de CO2 da produção de cana-de-açúcar e utilização de etanol veicular em 1996 é
apresentado na tabela 7.4.2.
136
Tabela 7.4.2 Emissões de CO2 equivalentes na produção de cana-de-açúcar
Emissões 10 6 t de C equivalente / ano
Uso de combustíveis fósseis na agricultura + 1,28
Emissões de metano (queima de cana) + 0,06
Emissões de N2O do solo + 0,24
Substituição de gasolina por álcool - 9,13
Substituição de combustível HC por bagaço - 5,20
Contribuição liquida - 12,74

Os dados da tabela indicam que o balanço líquido das emissões da indústria canavieira
com o uso do etanol é bastante favorável, uma vez que, se pode evitar a emissão de
12,74 x 106 toneladas de carbono por ano, o que representa 46,7x106 t de CO2, ou seja,
aproximadamente, 20% de todas as emissões de combustíveis fósseis no Brasil. O valor
da tonelada de carbono no mercado internacional varia de US$5,00 a 165,00.

Assim, pode-se considerar que o valor do uso indireto está diretamente relacionado
com os 5.521 litros de álcool equivalentes ao potencial energético da queima da palha
seca não efetivada, mais o valor do seqüestro de carbono. Assim, temos

VUI = (5.521 litros de álcool x preço do litro do álcool + valor do seqüestro de C)/ha

VUI = 5.521 x R$1,20 + (não calculado) =R$ 6.360,00/ha

C) VALOR DE OPÇÃO (VO) E EXISTÊNCIA (VE)

O valor de opção e o valor de existência, normalmente, são determinados pela análise


de contingência, ou seja, pela disposição do indivíduo para pagar pela conservação ou
não-uso do recurso. Neste trabalho estas parcelas não foram determinadas. Assim, a
substituição das parcelas determinadas acima, na relação principal do cálculo do valor
total do dano ambiental conduz a

VET = VUD + VUI = R$ 8.201,80/ha + R$ 6.360,00/ha = R$ 14.561,80 / ha

VET = R$ 14.561,80 / ha

D) CONCLUSÃO

O valor monetário do dano ambiental da queima dos resíduos de produção de cana-


de-açúcar, estimado para indenizações em ações civis públicas, é de R$14.561,80/ha
de área plantada de cana-de-açúcar. Apesar das limitações da metodologia, esse valor,
se for bem aplicado, representa um recurso financeiro razoável para recuperar o dano
ambiental. O estudo mostrou que a opção mais adequada seria destinar os resíduos da
produção para gerar energia e utilizar o bagaço como matéria-prima para obter outros
produtos de maior valor agregado.

137
7.5 MODELO CUSTOS EVITADOS - VALORAÇÃO DO DANO PARA CONTAMINAÇÃO DE
CORPO HÍDRICO

ESPINOZA, S., et. al. “Valoración Económica del Daño Ambiental Ocasionado por el
Proyecto Cooperativa de Productores de Leche Dos Pinos”, Coyol de Alajuela,
Expediente Administrativo 0421-98-SETENA”, março, Costa Rica, 2001.

INTRODUÇÃO
A cooperativa de produtores de resina de pinus fica localizada em Coyol de Alajuela, na
Costa Rica, na região da Bacia de Quebrada Siquiares, próxima do rio Alajuela, que é
efluente do rio Grande, nas coordenadas 959'41.29"N e 8415'38.43"W. Na imagem
de satélite da Figura 7.5.1 pode-se observar a região em questão.

Figura 7.5.1 Imagem de satélite da região da planta de resina de pinus

I. ANTECEDENTES

 Mediante a Resolução No 595-98, em 25/09/98, o EIAmbiental foi aprovado;


 A construção foi finalizada em setembro de 2000 e a planta inicio operação;
 No período de novembro a dezembro de 2000 foi encaminhada denúncia da
contaminação ocasionada pela planta de tratamento no rio Siquiares;
 No período de 11 a 12/01/2001 foi realizada a inspeção das instalações;
 Em 30/01/2001, mediante a Resolução 0064-2001 da SETENA, foi solicitado à
cooperativa de produtores de resina de Pinus a Valoração do Dano Ambiental.

II. DANO AMBIENTAL

Em setembro de 2000 foram iniciadas as atividades da planta e, no mês de novembro a


unidade operou em regime contínuo. No inicio da operação da planta foram lançados
no corpo hídrico efluentes contendo 642.014 kg de DQO, acima dos valores legais.

138
O lançamento dessa carga afetou as características físico- químicas do rio por acúmulo
de graxas, sólidos decompostos, espumas e outros contaminantes. Além do mais, foi
observado um aumento dos problemas relacionados com as pragas de dípteros, ente
os quais larvas de mosca e outros insetos.

Os contaminantes provocaram danos nos componentes biológicos e sociais do sistema


ambiental, afetaram a qualidade da água superficial, o bem-estar da população e os
valores de opção e existência dos recursos.

A determinação do dano poderia ser realizada pela comparação da situação inicial das
variáveis afetadas com a situação estabelecida após o impacto, mas, infelizmente, os
dados não estavam disponíveis. Foi acordado então, estimar o valor econômico do
dano ambiental utilizando os custos de tratamento do efluente.

III. CARACTERIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS AMBIENTAIS AFETADAS

a) Impacto social

No Estudo de Impacto Ambiental da planta a pesquisa da percepção social do projeto


foi realizada com entrevistas de opinião da população nas comunidades vizinhas. Na
época foram entrevistadas 40 pessoas da comunidade para avaliar as características
sociais, opinião e percepção dos entevistados sobre a empresa.

Os resultados indicaram que, das 25 mulheres entrevistadas, 20 eram donas de casa e


cinco trabalhavam; e dos 15 homens entrevistados, 2 estavam desempregados. Em
relação aos possíveis efeitos negativos que poderiam ser gerados pela planta, 15% dos
entrevistados manifestaram preocupação em relação às graxas, ruídos, poeira e maus
odores que poderiam surgir. Por outro lado, 90% dos entrevistados perceberam um
benefício com a valorização das propriedades.

Os dados da pesquisa indicaram que, do universo de 40 pessoas entrevistadas, 21,4%


perceberam que o projeto originaria um aumento da oferta de emprego, oferta de
serviços (7,14%) e valorização das propriedades (3,57%), bem como poderia causar
maus odores (82,14%); afetar a fauna (67,86%), paisagem (50%), a saúde (85,7%), as
nascentes (28,57%), bacia hidrográfica (50%) e desvalorizar as propriedades (46,43%).

A partir desta análise pode-se concluir que as principais variáveis afetadas foram à
saúde, a proliferação de pragas e a percepção de maus odores. Com relação aos maus
odores, foi constatado que estes, nos meses da ocorrência do dano eram percebidos
principalmente à noite.

b) Fauna

De acordo com o Estudo de Impacto Ambiental não existe fauna aquática na região de
influência da planta; nessa região também não foi observada a presença de anfíbios,
larvar e insetos aquáticos. Com relação à fauna terrestre existem insetos, aves, ratos e
139
lagartos. No EIA não foi indicada a área analisada, portanto, se pode supor a existência
de fauna nos setores não investigados.

Siquiares é afluente de corpos hídricos que, apesar de apresentarem contaminação,


também foram afetados pelo aumento da carga excessiva de efluentes lançada pela
planta. Segundo funcionários do órgão ambiental, no entorno da região foi observada
a presença de fauna aquática e terrestre. Por outro lado, a uma distância de 200
metros após a estação de tratamento de efluentes da cooperativa foi observado uma
grande quantidade de larvas de dípteros.

c) Flora

De acordo com o Estudo de Impacto Ambiental aprovado pela Secretaria de Meio


Ambiente não foram incluídos dados dessa variável ambiental. No entanto, as plantas
existentes na zona de impacto foram afetadas pelo acúmulo de graxa, obstrução dos
poros, perda da capacidade de fotossíntese, etc.

d) Nascentes e margens do rio Siquiares

De acordo com o EIA não existem nascentes na região de influência da planta. Porém,
de acordo com o SETENA (órgão ambiental), na zona de proteção da bacia hidrográfica
existem cinco nascentes que fornecem água potável para as comunidades vizinhas. As
nascentes podem ter sido contaminadas por infiltrações difusas ou aumento da vazão.

IV. DETERMINAÇÃO DO VALOR ECONÔMICO DO DANO AMBIENTAL

A valoração econômica do dano deve contemplar os custos efetivos para manter os


serviços ambientai. Para a água, é necessário internalizar os gastos com as atividades
de proteção das áreas de captação. Devem também ser incluídos os gastos com os
tratamentos relacionados com a saúde da população causados pelo consumo da água
contaminada, e os custos de tratamento da água contaminada antes e depois do dano.

A água é considerada como um ativo no inventário ambiental quando é utilizado como


matéria-prima no setor produtivo e para consumo doméstico. Porém, é considerado
um ativo fixo quanto às funções que exerce nos ecossistemas; portanto, é necessário
avaliar as possibilidades de restituir suas características físicas, químicas e biológicas
afetadas pelas atividades humanas. Caso existam alterações que afetam suas funções
ecossistemicas ou uso para atividades humanas, tais alterações serão consideradas,
dentro desse contexto, como uma depreciação do recurso natural.

A depreciação da água pode ocorrer pelo esgotamento do recurso quando a extração é


maior que a taxa de recuperação. A depreciação da água também ocorre quando
processos de degradação afetam sua qualidade, devido ao lançamento de produtos
que alteram suas características, por exemplo, da água superficial, como é o nosso
caso. A depreciação pode ser observada com dados de quantidade e qualidade da água

140
anuais. Assim, é importante conhecer a condição inicial e final do recurso (quantidade
e qualidade) para avaliar se houve depreciação, melhoria ou permanência da condição.

No caso de uma empresa com potencial para degradar o recurso, é necessário investir
na infra-estrutura, equipamentos, materiais, mão-de-obra, produtos químicos para
restabelecer a situação original do recurso natural ou no tratamento dos despejos para
não degradar o recurso. A metodologia dos custos evitados se baseia neste princípio.

Para estabelecer a depreciação da água é necessário utilizar indicadores que mostrem


o nível de esgotamento e degradação do recurso associados às atividades econômicas.
Esses indicadores (físicos, químicos e biológicos) fornecem um diagnóstico da situação
do recurso e permitem acompanhar o estado da condição de um corpo hídrico. Para o
nosso caso, temos disponível a Demanda Química de Oxigênio (DQO). Este indicador
mostra a capacidade de o rio absorver a carga de contaminação que recebe através
dos efluentes da planta de pinus.

A rigor, a metodologia adotada não valora o dano ambiental ocasionado, mas valora a
contaminação produzida. Essa metodologia aproxima o valor do dano com os custos
financeiros para realizar ações necessárias para que a fonte do dano não seja originada
(contaminação acima dos valores permitidos). Portanto, é um valor mínimo aplicável.
Nesse sentido, foi acordado entre as partes da lide que o custo social da contaminação
icluisse o custo evitado, o custo do dano e o custo de gestão dos recursos humanos
necessários para realizar essa valoração. Assim, tem-se

VALOR DO DANO = CUSTO DE TRATAMENTO + CUSTO DO DANO + CUSTO DE GESTÃO

e) Equações do modelo de valoração

Conforme citado, o custo de tratamento das águas residuais indica o quanto custaria
para a sociedade evitar a contaminação gerada. Para tanto, é necessário considerar o
nível de contaminação que entra no sistema de tratamento e o nível de contaminação
lançado no corpo hídrico. Além do mais, é necessário obter o custo de tratamento da
diferença entre o que entra e sai. Algebricamente, pode-se escrever

( )
Onde:
 = custo de tratamento da contaminação ($/m3 ou $/kg de carga evitado);
 = custo total para tratar a diferença do que entra e sai do sistema (R$).
 = nível de contaminação que entra no sistema (g/m3 de DQO);
 = nível de contaminação que sai do sistema (g/m3 de DQO);

Se X2 é superior ao valor permitido na legislação, XN, lançado nos efluentes da planta,


então, o custo adicional CA para reduzir a contaminação, que deve ser considerado é

141
( )

Caso não fosse realizado o tratamento, o valor do dano seria calculado considerando
CU. Observa-se que nesse caso não está sendo considerado o dano ocorrido à fauna,
redução do bem-estar da população, perda de biodiversidade, etc. Portanto, o valor do
dano está subestimado. Para aplicar as relações acima foram utilizados os dados
fornecidos pela empresa, com limitação, devido ao tempo requerido para a resposta. A
empresa forneceu os dados da estação de tratamento dos períodos de 20 a 31 de
dezembro, 2 a 21 de janeiro e de 1 a 17 de fevereiro. Os dados estão na Tabela 7.5.1.

Na Tabela 7.5.1 estão os valores médios diários da vazão do efluente, os valores da


concentração DQO do efluente na entrada e saída da planta de tratamento, a carga
enviada para a planta de tratamento, a carga vertida no corpo hídrico, a carga evitada,
a carga DQO máxima legal e a carga vertida em excesso no corpo hídrico, fornecidos
pela empresa, no período de dezembro a fevereiro.

Nesse trabalho carga significa o produto da vazão pela concentração do contaminante


no efluente. Os dados relativos às variáveis citadas que não estavam disponíveis foram
estimados a partir dos valores médios dos dados apresentados e disponibilizados pela
empresa. Justifica-se esse fato considerando, que desde o início do teste de operação,
a planta não atendeu à legislação. Os dados estimados estão na Tabela 7.5.2.

Para obter o valor do Custo Unitário (CU) e Custo Adicional (CA) é necessário calcular o
Custo de Tratamento. Na Tabela 7.5.3 estão o custo do investimento e de operação do
unidade de tratamento do período de 17 de dezembro a 17 de fevereiro. A partir do
custo anual do sistema de tratamento é possível obter os custos para os meses de
operação em que ocorreu o dano. Na Tabela 7.5.4 estão os custos anual e unitários da
unidade de tratamento de efluentes da empresa.

Tabela 7.5.4 Custo anual de tratamento e unitário da carga evitada do período do dano
Item Valores unitários (US$) Custo anual (US$)
Custo Anual --- 296.232,00
Custos dos dois meses --- 49372,00
Custo médio diário --- 823,00
Carga Evitada Média 6.496,62 ---
Custo Unitário (CU) ($/kg) 0,1267 = (823,00/6.496,62)

142
Tabela 7.5.1 Dados da estação de tratamento fornecidos pela empresa para análise da descarga do efluente no corpo hídrico
Vazão DQO entrada DQO saída Carga disposta Carga vertida Carga evitada Carga legal Carga vertida
Mês
(m3/dia) (g/m3) (g/m3) (kg/d) (kg/d) (kg/d) (kg/d) Excesso (kg/d)
Agosto 418,50 --- --- --- --- --- --- ---
Setembro 847,94 --- --- --- --- --- --- ---
Outubro 818,33 --- --- --- --- --- --- ---
Novembro 976,57 --- --- --- --- --- --- ---
Dezembro 597,03 13.346,00 5.889,00 7.967,96 3.515,91 4.452,05 447,77 3.068,14
Janeiro 924,49 13.383,00 4.795,00 12.372,45 4.432,93 7.939,52 693,37 3.739,56
Fevereiro 847,93 7.309,00 1.090,00 6.197,52 924,24 5.273,28 635,95 288,30
Média ponderada 11.595,67 3.916,53 9.727,22 3.230,60 6.496,62 629,96 2.600,24

 Valor legal de lançamento do efluente tratado no corpo hídrico = 750 (mg/L) = 0,75 (kg/m3)
 Carga disposta = 13.346,00 (kg/m3) * 597,03 (m3/d) = 7.967,96 (kg/d)
 Carga vertida = 5,89 (kg/m3) * 597,03 (m3/d) = 3.515,91 (kg/d)
 Carga evitada = 7.967,96 – 3.515,91 = 4.452,05 (kg/d)
 Carga legal = 0,75 (kg/m3) * 597,03 (m3/d) = 447,77 (kg/d)
 Carga vertida em excesso = 3515,91 – 447,77 = 3.068,14 (kg/d)

143
TABELA 7.5.2 Valores médios mensais estimados dos parâmetros da unidade de tratamento de efluentes
Mês Vazão DQO entrada DQO saída Carga disposta Carga vertida Carga evitada Carga legal Carga vertida
3 3 3
(m /dia) (g/m ) (g/m ) (kg/d) (kg/d) (kg/d) (kg/d) excesso (kg/d)
Média 647,00 13.400,00 5.183,00 8.669,80 3.353,40 5.316,40 485,25 2.868,15
Agosto 418,50 8.667,54 3.352,53 3.627,37 1.403,03 2.224,33 313,88 1.089,16
Setembro 847,94 17.561,66 6.792,69 14.891,24 5.759,80 9.131,44 635,96 5.123,84
Outubro 818,33 16.948,41 6.555,49 13.869,39 5.364,56 8.504,84 613,75 4.750,81
Novembro 976,57 20.225,72 7.823,13 19.751,83 7.639,83 12.112,00 732,43 6.907,40

Agosto: DQO entrada = (418,50 /647,00) * 13.400,00 = 8.667,54

Tabela 7.5.3 Custo anual e do período de 17 de dezembro a 17 de janeiro da planta de tratamento de efluentes da indústria de PINUS
Item Custos (US$) Custo (US$) Vida Útil Custo Anual (taxa 10%) US$
1. Aquisição do sistema de tratamento da empresa --- 1.170500,00 10 anos 190.493,00
2. Custo de operação do sistema de tratamento --- 105.688,00 --- 105.688,00
 Reativos (polímero, ácido, soda, etc.) 1.347.003,80 --- --- ---
 Salários + encargos sociais 1.907.466,00 --- --- ---
 Manutenção e reposição 1.104.448,60 --- --- ---
 Análises de laboratório 490.385,60 --- --- ---
 Serviços de consultoria 805.000,00 --- --- ---
3. Obras de infra-estrutura 100.000,00 312,00 40 51,00
Custo Anual Estimado 296.232,00

144
Tabela 7.5.5 Custos para evitar o excesso de lançamento de DQO no período do dano
Carga Vertida Carga Vertida em Custo p/ evitar o Custo p/ evitar
Período
Excesso (kg/d) excesso (kg /mês) excesso ($/d) excesso ($/m)
Agosto 1.089,16 15.248 138,00 1.931,00
Setembro 5.123,84 153.715 649,00 19.470,00
Outubro 4.750,81 142.524 602,00 18.052,00
Novembro 6.907,40 207.222 875,00 26.247,00
Dezembro 3.068,14 92.044 389,00 11.658,00
Janeiro 3.739,56 112.187 474,00 14.210,00
Fevereiro 288,30 4.901 37,00 621,00
Total 727.842 92.189,02

A partir do custo unitário pode-se determinar o valor econômico da carga em excesso


lançada no corpo hídrico, ou seja, acima do valor máximo permitido, no período em
que ocorreu o dano. Na Tabela 7.5.5 estão os resultados desse cálculo. Os resultados
indicam que o valor para evitar o lançamento do excesso de carga é R$ 92.189,02. Esse
custo representa o valor que a empresa deveria disponibilizar para atender a lei.

Conforme estabelecido pelas partes envolvidas, o custo total do dano inclui o custo do
tratamento, o custo do dano propriamente dito mais o custo de gestão. O custo do
dano representa os diversos impactos sobre o sistema ambiental e sobre a população.
Nesse caso, devido ao curto período de tempo disponível para elaborar este laudo, foi
adotado que o custo do dano é diretamente proporcional ao custo de tratamento

Custo Total = Custo do Tratamento +  * Custo do Tratamento + Custo de Gestão

onde,  é a constante de proporcionalidade que relaciona o custo de tratamento com


o custo do dano ambientaç. Para o nosso caso,  = 1. Justifica-se o emprego e o valor
(máximo) adotado do parâmetro pela aplicação do Princípio In Dúbio pro Natura,
porque não existe a certeza da magnitude do dano causados e por ter sido constatada
a ocorrência de diversos impactos negativos que não foram valorados.

Os custos de gestão foram determinados a partir de registros e notas fiscais aportados


pela comunidade e pesquisadores. Assim, o valor total do dano é

VALOR DO DANO = 92.189,00 + 1 x 92.189,00 + 6.307,00 = US$ 190.685,00 (Cento e


noventa mil seiscentos e oitenta e cinco dólares americanos)

V. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Não foi possível obter informações exatas sobre a data de início de operação da planta
de Pinus e unidade de tratamento dos efluentes. Os registros iniciaram em agosto. Foi
suposto que a unidade de tratamento iniciou a operação em 17/08/00 e no dia 17 de
fevereiro emitiu o último relatório, o que representa seis meses de operação. Não
foram registrados dados sobre o tratamento e o lançamento dos efluentes antes de
dezembro. Foi suposto que nesse período a planta teve um comportamento similar ao
145
registrado no período de dezembro a fevereiro, ou seja, lançando efluentes sempre
acima do limite estabelecido pela legislação.

Foram utilizados os custos de tratamento dos efluentes, apresentados pela empresa. A


da taxa de desconto anual foi 10%, usualmente empregado nos países desenvolvidos;
dessa forma, o valore dos custos de operação podem ser comparados com os valores
dos custos de investimento.

Finalmente, para determinar o valor social do dano foi utilizada uma constante de
proporcionalidade seguindo o Princípio In Dúbio pro Natura para assegurar um valor
econômico razoável que compense os danos que não foram incluídos na valoração.

VI. CONCLUSÕES

De acordo com a perícia realizada foi comprovado que houve a contaminação da bacia
Quebrada e rio Siquiares. Essa contaminação originou outros impactos negativos nas
comunidades, odores, pragas e dano à saúde. Houve alteração da qualidade da água, e
os impactos subseqüentes prejidicaram o bem-estar das comunidades. Os resultados
analíticos mostram que os parâmetros analisados estavam acima dos valores máximos
estabelecidos. Isso significa que a contaminação continua. A empresa deve restituir o
estado de consevação dos recursos, e caso a normalidade não seja restabelecida logo,
uma nova valoração deve ser realizada e o custo deve ser internalizados pela empresa.

VII. RECOMENDAÇÕES

Cobrança de US$190.685,00 (cento e noventa mil seiscentos e oitenta e cinco dólares


americanos) do dano segundo estimativa obtida no estudo; pagamento da indenização
efetivado da seguinte forma:

 US$ 6.307,00 (seis mil trezentos e sete dólares) correspondentes ao custo de


gestão sejam destinados para o pagamento da investigação;

 US$ 92.189,00 (noventa e dois mil cento e oitenta e nove dólares) sejam
destinados às comunidades afetadas pelo dano ambiental;

 US$ 92.189,00 (noventa e dois mil cento e oitenta e nove dólares) sejam
destinados ao SETENA (órgão ambiental) para a compra de equipamentos e
materiais, de acordo com a necessidade.

Comunicação às autoridades ambientais, pela empresa, da data na qual o rio e os


contaminantes lançados na águass estejam em conformidade com a lei, para realizar
uma nova valoração do dano;

Ações imediatas, por parte da empresa, perante o Ministério da Saúde para minimizar
os impactos causados pela proliferação de insetos e larvas de moscas nas comunidades
afetadas pelo problema.
146
7.6 MODELO CUSTOS DE RECUPERAÇÃO - VALORAÇÃO DO DANO PARA INCÊNDIOS
FLORESTAIS

VEGA E; Vega M; Barrantes G; (2004); “Valoración del Daño Ambiental em el Refugio


Nacional de Vida Silvestre Caño Negro por el Incendio en el año 2003”, IPS para
ACAHN-RNVSCN-APANAJUCA, Heredia, Costa Rica.

INTRODUÇÃO
O objetivo foi calcular os custos do dano dos incêndios florestais. Os danos causados
pelos incêndios florestais manifestam-se no clima, uso do solo (matéria orgânica,
microorganismos, umidade), fauna, flora, qualidade da água (sedimentos, compostos
dissolvidos e temperatura), bens produzidos e saúde da população.

ESTUDO DE CASO

Incêndios florestais de 906,5ha; 134ha de vagetação de banhado, 462ha de pastos,


290 ha floresta de pasto, 16 ha de vegetação de banhado Yolillales e 10 ha vegetação
similar Marillales. Foram também afetadas pelos incêndios a fauna terrestre e
aquática e as atividades turísticas da região.

VALORAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

Para valorar o dano causado pelos incêndios foi necessário determinar o estado de
conservação inicial da região afetada, estimar o grau da alteração ocorrida no estado
de conservação do ambiente. Foram realizadas as estimativas do estado de
conservação dos recursos afetados e a valoração econômica dos danos ambientais. O
valor total do dano foi determinado através dos custos de recuperação, custo social e
custos de atendimento à emergência. Assim tem-se,

CUSTO TOTAL DO DANO = CUSTO DE RECUPERAÇÃO + CUSTO SOCIAL + CUSTO DE


ATENDIMENTO À EMERGÊNCIA

Avalição do estado de conservação dos recursos afetados

Através de duas etapas principais: estimativa do estado de conservação dos recursos


naturais e determinação do custo de recuperação propriamente dito.

1ª Etapa: Estimativa do estado de conservação do recurso afetado

 Métodos: visitas, informações disponíveis e consultas de especialistas;


 Procedimento: definição de indicadores para avaliar o estado de conservação,
ponderação e a situação do estado de conservação de cada parâmetro;
 Determinação do nível do dano ocorrido: diferença entre os níveis do estado
de conservação dos recursos afetados.

147
Nas tabelas estão os parâmetros adotados para avaliar o estado de conservação dos
recursos naturais antes e depois do dano, os valores de poderação dos parâmetros e
dos estados de conservação dos recursos afetados pelos incêndios.

Tabela 7.6.1 Indicadores do estado de conservação do recurso antes do dano


Critério Ponderação Valoração (1 - 10) Valoração Ponderada (%)
Qualidade da água 14,3 6,5 0,93
Aspecto da água 8,7 6,3 0,54
Flora Yolillales 10,3 6,0 0,62
Flora Marillales 10,2 6,1 0,62
Áreas de pastos 7,1 6,1 0,43
Riqueza biológica 20,6 7,8 1,60
Sítios de valor espiritual 5,5 4,3 0,23
Visitação turística 7,9 6,1 0,49
Mudanças climáticas 5,8 6,3 0,36
Situação socioeconômica 9,7 6,0 0,58
Estado de Conservação 100,0 6,40

Tabela 7.6.2 Indicadores de impacto (alteração) dos recursos naturais


Critério Ponderação Alteração (1-10) Valoração Ponderada (1-10)
Qualidade da água 14,3 6,0 0,86
Aspecto da água 8,7 4,6 0,40
Flora Yolillales 10,3 5,3 0,55
Flora Marillales 10,2 4,6 0,46
Áreas de pastos 7,1 1,1 0,08
Riqueza biológica 20,6 4,8 0,98
Sítios de valor espiritual 5,5 3,8 0,21
Visitação turística 7,9 3,3 0,26
Mudanças climáticas 5,8 3,8 0,22
Situação sócio-econômica 9,7 4,2 0,41
Índice de Alteração 100,0 4,44

Os dados indicam que o estado de conservação das florestas atingidas era 64% do
máximo antes do dano. Isto indica a preexistência de um dano equivalente a 36% não
associado com o dano atual. Os dados indicam que os incêndios causaram a alteração
de 44,4% do estado de conservação dos recursos. Portanto, o estado de conservação
dos recursos atingidos pelo fogo variou 28,42% e o valor final foi 35,58%.

Esses resultados foram obtidos através de consulta à especialistas que atribuíram os


valores e pesos para os critérios de avaliação dos recursos. Inicialmente, a equipe dos
especialistas selecionou os indicadores para avaliação do estado de conservação dos
recursos naturais. Em seguida, os indicadores foram ponderados para determinar o
nível da alteração do estado de conservação provocada pelos incêndios. As relações
utilizadas pelos especialistas estão na seqüência.

148
Ponderação de indicadores de avaliação do estado de conservação do recurso


ui,j = ponderação do indicador j pelo especialista i;


j = ponderação média do indicador j;
nj = número de especialista que participaram da avaliação.

Avaliação dos indicadores de avaliação do estado de conservação do recurso


X i j = valor do indicador j atribuído pelo especialista i;


Yj = valor médio do indicador j;
β= estado de conservação.

Avaliação do nível de alteração do estado de conservação do recurso


ij= valor da alteração do indicador j atribuído pelo especialista i;


NAj = valor médio para o indicador j;
 = índice de impacto negativo (nível do dano).

CUSTOS DE RECUPERAÇÃO DO DANO AMBIENTAL

A valoração econômica do dano total foi obtida somando os custos de restauração do


recurso, o custo social e outros associados. O custo de recuperação considera os
insumos, materiais e mão-de-obra necessários para recuperar o recurso até atingir-se
o nível preexistente do estado de conservação. Na estimativa do custo social do dano
consideram-se os bens e serviços que derivam dos recursos durante o período da sua
recuperação. Os custos de atendimento da emergência também foram considerados.

I. Custos de restauração dos recursos afetados

∑∑∑ ( )

Onde:
149
CR = custo da restauração do recurso natural afetado ($/unidade do fator);
P i = preço do insumo i usado na restauração do recurso j ($/unidade de insumo);
Q t, j, i = quantidade do insumo i para restauração do recurso j (unidade de insumo);
r = taxa de desconto anual (%);
t = tempo (unidade de tempo);
T = tempo máximo para restaurar o dano ambiental (unid. de tempo);
m = número de insumos necessários para restaurar o recurso i;
n = número de recursos afetados pelo dano.

Antes do Dano
Qualidade da água
Após o Dano
6,5
Visitação turística Aspecto da água
6,1 6,3
4,1 2,6
3,4

Sítios de valor espiritual 4,3 2,8 6 Flora Yolillales


2,6
1,64
3,33
5,44 6,1
Riqueza biológica Flora Marillales
7,8 6,1
Áreas de pastos

II. Tempo máximo de recuperação dos recursos afetados

O tempo máximo para a recuperação das florestas foi estimado pelos especialistas
pela análise crítica do período de tempo necessário para restabelecer o nível de cada
fator adotado para avaliar o potencial ecológico e a condição ambiental dos recursos.
A partir dos resultados foi estabelecido o tempo máximo para recuperar o ambiente.
Na Tabela 7.6.3 estão indicados os resultados dessa etapa.

Tabela 7.6.3 Critérios para estimar o tempo máximo de recuperação dos recursos
Critério Tempo de restauração (anos)
Qualidade da água 2,5
Espelho da água 4,0
Vegetação de banhado Yolillal 42,0
Vegetação de Banhado Marillal 46,7
Riqueza biológica 12,1
Sitio de valor espiritual 23,7
Visitação turística 1,7
Situação socioeconômica da população 3,3
Mudança climática 2,7
Tempo máximo de recuperação 46,7

150
O tempo máximo para a recuperação dos recursos estimado foi igual a 46,7 anos. Os
custos da recuperação associados com as medidas para controle e proteção das áreas
queimadas, durante os quatro primeiros anos após o dano, estão na Tabela 7.6.4. Na
Tabela 7.6.5 estão os custos requeridos a partir do quinto até o último ano. Na Tabela
7.6.6 estão os gastos requeridos para a revegetação das áreas queimadas.

Tabela 7.6.4 Quantidade e preço dos insumos requeridos nos primeiros quatro anos
Insumos Unidade Quantidade Preço ($) Vida Útil Custo Anual ($)
Operários Funcionário 9 7.214 --- 64.926
Chefe de setor Funcionário 1 7.386 --- 7.386
Operação --- 10 3.314 --- 33.140
Equipamento Unidade 10 400 5 anos 800
Lanchas Unidade 1 4.000 5 anos 800
Motores Unidade 1 2.938 5 anos 588
Veículos Unidade 1 20.000 7 anos 2.857
Combustíveis Galões/ano 5031 0,60 --- 3.019
Manutenção --- 1 1.347 --- 1.347
Total anual 114.862
Total em 4 anos --- --- ---- --- 364.098

Tabela 7.6.5 Quantidade, preços e insumos requeridos a partir do quinto ano


Insumos Unidade Quantidade Preço ($) Custo Anual ($)
Operário de campo Funcionário 5 7.214 36.070
Chefe de setor Funcionário 1 7.386 7.386
Custos de operação --- 6 3.314 19.884
Equipamento (EPI) Unidade 6 --- 480
Lanchas Unidade --- --- 800
Motores Unidade --- --- 588
Veículos Unidade --- --- 2.857
Combustíveis Galões/ano 5031 0,60 3.019
Custos manutenção --- 1 1.347 1.347
Total anual 71.525
Total em 04 anos --- --- --- 436.526

Tabela 7.6.6 Gastos financeiros com o replantio da vegetação queimada


Insumo Unidade Quantidade Preço Tempo Custo anual
Mão-de-obra Peão 05 7,9 22 869
Sementes Yolillo Saca 15 5,3 -- 79
Sementes Marillal Saca 10 2.300 -- 23.000
Total 23.948
Valor atual --- --- --- --- 23.948

151
Nas Tabelas 7.6.7 e 7.6.8 estão os valores dos custos da infra-estrutura de proteção e
monitoramento das áreas queimadas, respectivamente. O somatório dos custos dos
insumos, mão-de-obra e atividades fornece o custo total de recuperação do dano das
áreas afetadas pelos incêndios, indicado na Tabela 7.6.9.

Tabela 7.6.7 Custos de infra-estruturas adicionais de proteção e segurança


Insumos Unidade Quantidade Preço ($) Custo Anual ($)
Retro-escavadeira Horas 30 37 1.116
Mão-de-obra Operário 2 8,7 35
Guaritas Unidade 3 345 1.034
Bombas Unidade 2 345 690
Mangueiras Unidade 2 920 1.839
Gastos manutenção --- --- --- 80
Total 4.714

Tabela 7.6.8 Custos de monitoramento das áreas queimadas


Insumo Unidade Quantidade Preço Tempo Custo anual
Mão-de-obra Profissional 2 21,8 28 1.220
Materiais Unidade 1 100 28 100
Total 1.320
Valor atual 13.042

Tabela 7.6.9 Componentes dos custos da recuperação do dano ambiental


Componente do Custo de Recuperação Montante ($)
Atividade de proteção e controle na fase intensiva 364.098
Atividade de proteção e controle na fase moderada 436.526
Repovoamento de espécies 23.948
Infra-estrutura preventiva 4.714
Monitoramento das áreas queimadas 13.042
Valor Atual 842.329

Os resultados da Tabela 7.6.9 mostram que o valor total do custo de recuperação dos
danos causados pelos incêndios florestais é $ 842.329,00. Na seqüência, determina-
se o custo social do dano ambiental, pela avaliação das perdas dos bens e serviços
ambientais dos recursos naturais que foram prejudicados.

CUSTO SOCIAL DO DANO AMBIENTAL

Para estimar o custo social do dano é preciso determinar, da melhor forma possível,
os bens e os serviços ambientais que derivam das florestas afetadas. Em geral, os

152
benefícios perdidos são matérias-primas e produtos finais de consumo; proteção e
segurança no abastecimento futuro de bens e serviços; danos à saúde da população,
e perca do espairecimento e desenvolvimento espiritual. As alternativas da sociedade
em relação à redução da oferta ou perda desses benefícios são:

 seguir dispondo dos fluxos do recurso em menor quantidade e qualidade;


 substituir os fluxos afetados por outros equivalentes aos benefícios perdidos;
 perder a oportunidade de aproveitar fluxos de forma temporária ou definitiva.
O custo social pode ser estimado por métodos diretos ou indiretos de valoração. Os
método direto utilizam dados das quantidades e preços dos bens e serviços afetados
pelo dano. O método indireto determina o custo social é determinado por análise do
estado de conservação e custos de recuperação dos recursos prejudicados pelo dano.

Neste estudo de caso foi utilizado o método indireto. A equação para estimar o custo
social do dano pelo método indireto é

( )
∑∑∑
( )

onde  representa o grau de alteração do estado de conservação do recurso natural.

O nível do estado de conservação dos recursos antes do dano, estimado pela equipe
de especialistas foi 64%. Considerando que o nível do impacto foi de 44%, pode-se
estimar que o nível de alteração do estado de conservação dos recursos foi 28,42%.
O nível do estado de conservação dos recursos após o dano ficou 35,84% do máximo.

Atribuindo o valor do estado de conservação final dos recursos à variável α(= 0,2842),
e utilizando esse parâmetro em conjunto com o custo total de recuperação, pode-se
obter o custo social do dano pelo método indireto. Os resultados dessa etapa estão
na Tabela 7.6.10.

Tabela 7.6.10 Componentes do custo social do dano ambiental


Componente Valor
Custo de restauração US$ 842.329,00
Estado de conservação inicial 64%
Índice de alteração (impacto) 44,4%
Mudança do estado de conservação 28,42%
Custo Social (método indireto) US$ 1.176.437,15

153
CUSTO DE ATENDIMENTO DA EMERGÊNCIA (OUTROS)

O custo de atendimento da emergência, obtido dos relatórios e laudos da ocorrência,


foi $ 78.759.

AVALIAÇÃO ECONÔMICA GLOBAL DO DANO AMBIENTAL

A partir dos valors dos custos de recuperação, social e atendimento da emergência,


foi determinado o valor total do dano ambiental decorrente dos impactos negativos,
causados por incêndio dos recursos florestais. Na Tabela 7.6.11 estão indicados os
valores dos custos individuais que compõem o valor global do dano ambiental.

Tabela 7.6.11 Resultados da valoração econômica do dano ambiental


Componentes do custo Valor ($)
Custos de recuperação 842.329,00
Custo social 1.176.437,15
Custos da emergência 78.759
Total 2.097.525,15

CONCLUSÕES

Através da aplicação desta metodologia foi possível estimar de forma técnica o valor
do dano ambiental do incêndio de 907ha de áreas florestais. O valor total do dano foi
estimado considerando três componentes: o custo de restauração, o custo social e o
custo de atendimento à emergência. O custo social foi determinado indiretamente a
partir do nível de alteração do estado de conservação dos recursos. O valor total do
dano foi $2.097.525,15. Deste montante, 40,2% são os custos de recuperação, 56,1%
são relativos ao custo social e 3,7% são custos do atendimento da emergência.

154
7.7 MODELO OSINERG – VALORAÇÃO DO DANO PARA DERRAME DE PETRÓLEO

CORDANO, A. V. OSINERG – Sistema de Sanciones por Daños Ambientales para la


Fiscalizacion de la Industria de Hidrocarburos em el Peru. Trabalho 10, Agosto, 2006

INTRODUÇÃO

Os métodos para a valoração econômica de bens e serviços ambientais são agrupados


em três categorias: Métodos Indiretos ou de Preferências Reveladas; Métodos Diretos
ou de Preferências Diretamente Expressas e Métodos da Transferência de Valores.

O método da Transferência de Valores é aplicado nos caso em que não é possível fazer
um estudo de valoração específico e particular para um caso de interesse. O método
utiliza as informações e resultados de estudos realizados para casos similares ao que se
pretende analisar, a fim de estimar o dano para o contexto específico em lide.

O modelo de valoração econômica de danos ambientais apresentado está baseado na


RESOLUCIÓN DE GERENCIA GENERAL ORGANISMO SUPERVISOR DE LA INVERSIÓN EN
ENERGÍA OSINERG Nº 032-2005-OS/GG, publicada em 26 de fevereiro de 2006, em
Lima no Peru. Esse modelo de multa pode ser aplicado para vazamentos de petróleo e
seus derivados; disposição inadequada de resíduos, derrubada de florestas e para a
desestabilização de taludes ou perda de solos (erosão).

MODELO PARA VAZAMENTO DE PETRÓLEO E DERIVADOS


( )( )( )

Onde:

B = benefício econômico obtido pelo não cumprimento da legislação (custo evitado);


α = percentagem ou fator de ponderação adotado para o cálculo da multa (5%);
D = valor econômico da região afetada, obtido por métodos de valoração específicos;
Fi = fatores de agravo ou atenuantes de multa, para i = 1..., 8.

FATORES DE AGRAVO E ATENUANTES DA MULTA

F1: Antecedentes de atendimento da legislação ambiental (-4; +4);


F2: Resposta à emergência, eficiência do plano de ação para minimizar danos (-4; +4);
F3: Grau de colaboração da empresa com as autoridades (-2; +2);
F4: Motivo do acidente (0; +5);
F5: Capacidade de realizar os gastos evitados (0; +10);
F6: Danos às comunidades (vida, pesca, caça) (0; +5);
F7: Sistema de Gestão Ambiental (-5; 0);
F8: Dano ás reservas naturais (0; +20).

155
Tabela 7.7.1 Qualificação dos fatores de agravo da multa do dano ambiental
F1 - Antecedentes de cumprimento da legislação ambiental Qualificação
O infrator atende as condicionantes do licenciamento atualizadas, as normas e a legislação ambiental -4
O infrator foi autuado pelo não cumprimento legal de outra sanção consciente desta possibilidade 1
O infrator foi autuado pelo não cumprimento legal da mesma sanção consciente desta possibilidade 4
F2 – Resposta no atendimento da emergência
Resposta imediata e completa execução do plano de contingência -4
Resposta tardia e/ou parcial execução do plano de contingência 0
Sem resposta 4
F3- Grau de colaboração da empresa com os órgãos de controle e fiscalização ambiental
Colaboração plena na investigação dos problemas -2
Atitude indiferente, não colabora com a fiscalização 0
Dificulta a fiscalização dos órgão ambientais 2
F4- Motivo de ocorrência do acidente
Apresenta procedimentos internos de trabalho que foram realizados 0
Erro de operação 2
Negligencia ou dolo 5
F5 – Volume de vendas anual da empresa (US$ - dólares americanos, ano 2005)
Até 300.000 0
Mais de 300.000 até 15.000.000 3
Mais de 15.000.00 até 50.000.00 6
Mais de 50.000.000 10
F6 – Danos às comunidades
Nenhuma comunidade foi afetada 0
Uma comunidade foi afetada 3
Mais de uma comunidade foi afetada 5
F7 – Sistema de gestão ambiental
Existe SGA com certificação vigente -5
Não existe SGA 0
F8 – Danos às reservas naturais
As reservas naturais foram afetadas 0
As reservas naturais não foram afetadas 20

EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Em 2003, ocorreu o vazamento de petróleo devido à ruptura do oleoduto na Floresta


de Ucayli, operado pela empresa ALA. Um dos motivos do acidente foi o deslizamento
de material do terreno que deveria ter sido enviado pela ALA para o aterro. Para tanto,
era necessário realizar estudo geotécnico e contratar maquinário e mão de obra para
minimizar o risco de acúmulo do resíduo sobre o óleoduto. Era necessário enviar os
9000m3 de material para local adequado, em vez de depositar sobre 2000m2 de áreas
nas adjacências do oleoduto que rompeu. Nas Figuras 7.7.1 e 7.7.2 estão fotografias
do óleoduto rompido que causou o vazemento do petróleo.

156
Figura 7.7.1 Vista aérea da região onde ocorreu o vazamento do petróleo

Figura 7.7.2 Imagem das atividades de recuperação do óleoduto

157
Como conseqüência do acidente, 113m3 do óleo derramado contaminaram 500m3 de
solo e 7.700m2 de bosque A região também foi atingida pelas ações de atendimento da
emergência, causando a perda de 2000m2 de solo. A empresa destinou 300m3 de terra
para o aterro. Nos corpos hídricos, foi contaminada uma área superficial de 15.000m2
pela depositação de uma película de 0,05m de óleo na água. Foram observados peixes
mortos na água e a contaminação do aqüífero. A empresa indenizou as comunidades
ribeirinhas afetadas pelo acidente com US$ 165.270,00.

CÁLCULO DO DANO (MULTA)


( )( )( )

CÁLCULO DO FATOR B
Para o cálculo do fator B serão utilizados os custos evitados pela empresa infratora que
provocou o dano ambiental, os quais são divididos em dois tipos: a) custos evitados de
investimento para a execução e manutenção de obras geotécnicas; b) custos evitados
associados à remoção dos escombros existentes na região do acidente.

- Custos dos investimentos evitados

Para estimar o valor do benefício “oculto” que a empresa obteve por não ter cumprido
a leislação, foi analisado um cenário hipotético de cumprimento da legislação no qual a
empresa realiza as medidas necessárias para evitar o impacto negativo que ocorreu.
Na Tabela 2 estão os investimentos evitados pela ALA relativos aos custos de operação
e manutenção. Para valor os investimentos no prazo de 10 anos foi utilizada a taxa de
inflação de 2,4%.

Tabela 7.7.2 Investimentos das obras geotécnicas, evitados pela empresa


Custo do investimento US$
Obras de infra-estrutura geotécnica 100.000
Custos de operação e manutenção anual 5.000

Os valores dos investimentos evitados foram corrigidos pela projeção do fluxo de caixa
ao longo de 10 anos (período de tempo utilizado nos estudos de viabilidade econômica
de projetos), considerando dois ciclos. O ciclo inicial de operação do capital e o ciclo de
reposição do ativo. Para tanto, foi adotada uma taxa linear de depreciação, uma taxa
de desconto anual de 10,15% e uma taxa de 30% para o imposto de renda. A relação
empregada para obter o valor presente do montante de investimentos foi

∑( )
( )
Onde:

158
 VAN = valor presente líquido ($);
 FCN t = fluxo de caixa líquido ($);
 n = período (anos);
 r = taxa de desconto anual (%)

Os valores presente dos investimentos evitados pela ALA ao longo do ciclo inicial e de
reposição do ativo, no período de 10 ano cada, estão apresentados na Tabela 7.7.3. A
partir destes valores calcula-se o fator B somando o valor presente dos investimentos,
dos gastos não depreciados e dos custos de operação e manutenção. Os valores dos
custos de operação manuteção corrigidos estão apresentados na Tabela 7.7.4.

Tabela 7.7.3 Correção monetária dos investimentos evitados pela empresa


Ciclo Primário (período de anos) 2003..., 2013...,
Investimento (US$) 100.000
Depreciação (linear)
Imposto de renda (30%)
FCN – Fluxo de caixa líquido (US$) 100.000
VNP Ciclo primário (2003) (US$) 74.169
VNP Ciclo primário (2005) (US$) 90.661

Ciclo Substituição (período de anos) 2014..., 2023.


Investimento 126.765
Depreciação
Imposto de renda (30%)
FCN – Fluxo de caixa líquido (US$) 126.765
VNP - Valor presente líquido (ano 10) 94.021
VNP Ciclo reposição (2005) (US$) 46.563
Benefício oculto investimentos evitados (US$) 453.579

Tabela 7.7.4 Correção dos custos evitados para manutenção e operação


2003 2004 2005
Custos evitados (US$) 5.000 5.000 5.000
Imposto renda (US$) 1.500 1.500 1.500
FCN – Fluxo de caixa líquido (US$) 3.500 3.500 3.500
Valor futuro (2005) (US$) 11.648
Benefício com Custos Evitados (US$) 38.501

Assim, o benefício ilegal derivado dos investimentos evitados é igual a

CUSTOS DOS INVESTIMENTOS EVITADOS = 453.579 + 38.501 = US$ 492.079,00

159
- Custos evitados pela não remoção dos escombros

Para determinar esta parcela do fator B estabelece-se um cenário hipotético supondo


que a empresa infratora cumpra a legislação. Para o cumprimento da legislação seria
necessário contratar uma equipe de quatro pessoas e equipamento a fim de remover
os escombros da área. Precisa-se também, estabelecer o custo do aluguel e transporte
das máquinas, assim como o número de horas de trabalho necessárias para executar o
serviço. Os custos dos combustíveis, infra-estrutura e outros também são incluídos. Na
Tabela 7.7.5 apresenta-se os custos para a remoção dos escombros em 2003.

Tabela 7.7.5 Custos evitados para a remoção dos escombros, em 2003


ITENS Valor (US$)
Pessoal 46.500
Combustíveis 131.344
Máquinas 33.012
Aluguel 37.020
Estudo geotécnico 50.000
Total de benefícios “ocultos” 297.876

Adicionalmente, supondo que a empresa tenha declarado as ganâncias ao imposto de


renda, o fluxo de caixa líquido é a diferença do custo evitado e o valor do imposto de
renda no período considerado para a remoção dos escombros. Com essa informação
pode-se calcular o valor futuro do montante para 2005, utilizando a taxa do custo de
oportunidade do setor para o período de 12/2003 a 12/2005, 24 meses. Os resultados
dessa etapa estão indicados na Tabela 7.7.6.

Tabela 7.7.6 Custo total para remoção dos escombros, evitado pela empresa
Custos evitados (em 2003) US$ 297.876
Imposto de renda (30%) 89.363
FCN - Fluxo de caixa líquido (em 2003) 208.513
Taxa do custo de oportunidade (hipotéca) (%) 10,56
Valor Futuro (2005) US$ 240.575

Os resultados da Tabela 7.7.6 mostram que os custos evitados pela empresa pela não
remoção dos escombros foram U$$ 240.575. Finalmente, pode-se obter o fator B
somando os custos evitados dos investimentos de operação e manutenção e os custos
evitados de remoção dos escombros do acidente:

BENEFÍCIO OCULTO TOTAL = 492.079,00 + 240.575,00 = US$ 732.654,00 = FATOR B

FATOR B = US$ 732.654,00

160
CÁLCULO DO FATOR αD

Os impactos do acidente atingiram o solo e corpos hídricos, e provocaram a perda de


biodiversidade biológica e a deterioração do entorno social das comunidades nativas.
Houve também a remoção excessiva da vegetação, ocasionando a perda de 2000m2 de
solo de floresta amazônica.

O parâmetro D da equação da multa foi determinado pelo método da Transferência de


Valores da Disposição a Pagar (DAP) para a conservação do meio ambiente, a partir de
estudos realizados em áreas com características semelhantes à investigada, como, por
exemplo reservas naturais, parques nacionais, áreas de recreação, banhados, bosques,
zonas costeiras. Na Tabela 7.7.7 estão apresentados os trabalhos fonte utilizados para
esta finalidade.

Para ajustar os valores transferidos desses estudos fonte, deve-se incluir a elasticidade
da DAP com respeito à renda real. A elasticidade mede a redução percentual da DAP,
por um benefício particular, para cada redução percentual na renda real das pessoas.
A hipótese mais usada para o valor da elasticidade é a unidade, mas, a literatura indica
que para países da América Latina e do Caribe a elasticidade é igual a 0,54.

Para transferir os valores dos estudos fonte para o caso analisado utilizá-se a equação

( ) ( )
Onde:

 - valor dos bens e dos serviços ambientais na moeda local para o lugar de
aplicação da transferência dos valores (policy site), no instante de tempo t;

 - valor dos bens e serviços ambientais para o lugar de aplicação (study site),
para o período em que foi realizado o estudo fonte (t=0), na moeda utilizada
para valorar os bens e serviços ambientais;

 - renda per capita ajustada pela paridade do poder de compra para o


policy site, para o período em que foi realizado o estudo fonte (t=0), na moeda
que foi utilizada para valorar os bens e serviços ambientais;

 - renda per capita ajustada pela paridade do poder de compra para o


study site, para o período em que foi realizado o estudo fonte (t=0), na moeda
que se utilizou para valorar os bens e serviços ambientais;

 - índice de preços ao consumidor para o período “t” e na moeda que se


utilizou para valorar os bens e serviços ambientais;

161
 - índice de preços ao consumidor no período em que foi realizado o estudo
fonte (t=0) e na moeda utilizada para valorar os bens e serviços ambientais;

 – taxa de câmbio no período “t” entre a moeda local e que foi utilizada para
valorar os bens e serviços ambientais no estudo fonte;

 e – elasticidade de renda da vida estatística.

Aplicando a técnica da Transferência de Valores para valorar a contaminação da flora,


a perda do uso e não-uso dos recursos pela contaminação da flora, a contaminação do
aqüífero e a compensação das comunidades obtém-se o valor total do dano ambiental.
Na Tabela 7.7.8 estão os resultados da transferência de valores dos estudos fonte e da
análise de sensibilidade dos valor total do dano ambiental para o caso descrito.

Tabela 7.7.8. Valor do dano e análise de sensibilidade paramétrica do fator D


Categoria de Valor (2005) Valor (US$) Intervalo (-10% ; 10%) Intervalo (-56% ; 56%)
Contaminação da Floresta
Valor de Uso (não transferido) 611.101 611.101 611.101 611.101 611.101
Valor Indireto + Valor de Não
313.041 281.737 344.345 137.738 488.344
Uso (transferidos)
Valor do dano/ha 924.142 892.838 955.446 748.839 1.099.445
Meio Ambiente e Meio Social (Contaminação do Aqüífero)
Perda: Uso Indireto e Não Uso 1.651.889 1.486.700 1.817.078 726.831 2.576.947
Compensação de comunidades 165.270 165.270 165.270 165.270 165.270
Estimativa Econômica Total do Dano Ambiental
Valor do Dano 2.410.761 2.214.268 2.607.254 1.310.401 3.511.122

Os resultados da tabela acima indicam que o valor total do dano foi US$ 2.410.761. Na
tabela constam também os resultado da sensibilidade paramétrica para ± 10% e ± 56%
do valor da multa do dano ambiental. Fazendo a comparação do valor médio do dano
(US$ 2.960.942), obtido com os valores dos extremos do intervalo (-10%; +56%), e do
valor da multa (R$2.410.761), obtem-se o desvio médio de 19%. Adotando um valor de
5% para α, seguindo a metodologia proposta pela OSINERG, obtém-se o valor do fator
(αD) da equação da multa igual a R$ 120.538.

FATOR αD = R$ 120.538,00

CÁLCULO DO FATOR A

De acordo com a Resolução No 032-2005-OS/GG, que regulamentada essa proposta de


cobrança de multa da OSINERG, o fator A pode variar o valor da multa de -10 a 56% do
valor máximo. O fator A é determinado a partir dos fatores de agravantes e atuantes,
que refletem o comportamento e o histórico ambiental do infrator frente à legislação e
órgãos de controle e fiscalização ambiental. Na Tabela 9 estão os fatores do caso.

162
[ ( )] ( )

Tabela 7.7.9 Valor dos fatores de agravo,utilizados para calcular o fator A


Fator Significado Valor
F1 Antecedente descumprimento legislação 1
F2 Resposta à emergência 0
F3 Nível de colaboração com autoridades -2
F4 Tipo de acidente 2
F5 Capacidade de arcar com custos evitados 6
F6 Comunidades afetadas 5
F7 Sistema de gestão Ambiental 0
F8 Danos às reservas naturais 0
Fator A 1,12

CÁLCULO DO VALOR DA MULTA

Substituindo os valores dos fatores B, D, α e A na equaçao da multa para a cobrança da


infração e dano ambiental obtém-se

 FATOR B = US$ 732.654;


 FATOR D = US$ 2.410. 761;
 FATOR (αD) = US$ 120.538;
 FATOR A = 1,12.


( )( )( )

( )

VALOR ECONÔMICO TOTAL DO DANO AMBIENTAL = US$ 995.575,00

163
Tabela 7.7.7 Trabalhos utilizados para a transferência de valores, visando a obtenção do valor econômico do dano ambiental do acidente
2
Ajuste PBI-PPP 3 4
US$ US$ US$ US$ VAN (5%) Soles
Tipo de valor Bem ou serviço ambiental Técnica de valoração do estudo fonte 1 (Brasil-Peru) US$
(1990) (1996) (2003) (2005) US$ (2005)
(1990)
Produção de madeira
Produtividade Marginal (Custos de Mercado) -- -- -- 9.369,0 10.024,8 104.053,9 343.939,6
comercial
Produção madeira não
Valor de Uso Produtividade Marginal (Custos de Mercado) -- -- -- 5.308,5 5.680,1 58.957,7 194.878,7
comercial
Direto
Valor da produção agrícola Produtividade Marginal (Custos de Mercado) -- -- -- 1.697,0 1.815,8 18.847,3 62.297,8

Exploração da fauna Produtividade Marginal (Custos de Mercado) -- -- -- 272,0 291,0 3.020,9 9.985,3
Regulação hídrica Produtividade Marginal (Custos de Mercado) 61,0 -- 45,3 63,9 68,4 710,0 2.346,9

Controle de erosão e bacias Bens Substitutos - Custos Evitados 3,0 -- 2,2 3,1 3,4 34,9 115,4

Controle de incêndios Produtividade Marginal (Custos de Mercado) 6,0 -- 4,5 6,3 6,7 69,8 230,8
Valor de Uso Regulação de nutrientes Bens Substitutos – Custos Evitados 3.480,0 -- 2.586,7 3.647,2 3.902,5 40.506,7 133.890,9
Indireto
Valor da biodiversidade
Calibração de Modelo de Competência com
(plantas medicinais para a -- 363,0 -- 424,7 454,4 4.716,9 15.591,3
Produtos da Indústria Farmacêutica
indústria farmacêutica)
Valoração Contingente e Produtividade
Fixação de carbono 3.080 -- -- 4.342,8 4.646,8 48.232,2 159.426,6
Marginal (Benchmark Internacional)
Valoração Contingente e Produtividade
Valor de Opção Proteção da biodiversidade 31,0 -- 23,0 32,5 34,8 360,8 1.192,7
Marginal (Benchmark Internacional
Valor Existência Preservação ambiental Valoração Contingente 6,4 -- 4,8 6,7 7,2 74,5 246,2
VAN / ha (e = 0,54) (ano, 2005) 924.142
1 – ano; 2 – ajuste cambial da moeda; 3 – valor do dano ambiental (VAN); 4 – moeda peruana (soles)

164
7.8 MODELO HEA - VALORAÇÃO DO DANO PARA PERDA DE SERVIÇOS AMBIENTAIS

NOAA, National Oceanic and Atmospheric Administration EUA, “Habitat Equivalency


Analysis: An Overview. Damage Assessment and Restoration Program, Silver Spring.

INTRODUÇÃO

Análise do Equivalente Habitacional (HEA) é uma metodologia usada para determinar o


tamanho da recuperação requerida para compensar serviços ambientais equivalentes
às perdas dos mesmos na área atingida. Essa técnica é recomendada para compensar a
perda de serviços ambientais que derivam dos componentes bióticos do sistema.

A compensação é realizada pela recuperação do hábitat afetado e implantação de um


projeto de compensação, como, por exemplo, o desenvolvimento de uma área similar
para fornecer os serviços ambientais equivalentes às perdas que ocorrem ao longo do
tempo. Esse processo é realizado em três fases. Na primeira fase, faz-se uma avaliação
do componente alterado. Na segunda, faz-se a quantificação do impacto, a seleção das
alternativas de compensação e elaboração dos planos de recuperação da área afetada.
Na última fase, faz-se a recuperação da área, implantação do projeto de compensação
e monitoramento para acompanhar a evolução dos serviços ambientais com o tempo.

Na Figura 7.8.1 estão ilustrados os serviços perdidos pelo hábitat afetado e fornecidos
pelo compensatório. Essa técnica utiliza taxa de desconto anual, em geral de 3%, para
corrigir o valor dos serviços ao longo do tempo. Caso a área de compensação continue
fornecendo serviços por muito tempo (100 anos) em relação ao tempo de recuperação
(15 anos), seu tamanho será menor que o habitat afetado pelo dano ambiental.

Serviços (%)

sítio da perda = sítio do ganho

tamanho da área
de compensação

Área 1 Área 2
serviços perdidos serviços fornecidos

tempo
t0 t1 t2 t3
(impacto) (início recuperação) (área recuperada) (serviço máximo)

Figura 7.8.1 Diagrama do processo HEA de compensação do dano ambiental

As hipóteses estabelecidas no modelo são: a) taxa de recuperação linear; b) serviço


fornecido pela área compensatória igual da área afetada; c) métrica única para avaliar
os serviços perdidos e fornecidos; d) constância no tempo da linha base dos serviços.

165
I. PARÂMETROS DO MODELO HEA

A determinação do tamanho da área compensatória é realizada com a equação,

[∑ ( ) ]
[∑ ( ) ]

Tabela 7.8.1 Parâmetros para estimar o tamanho do hábitat de reposição

Variáveis de Entrada
Vj Valor por área-tempo dos serviços fornecidos pelo hábitat afetado
Vp Valor por área-tempo dos serviços fornecidos pelo hábitat de reposição
x jt Nível dos serviços fornecidos pelo hábitat afetado no final do tempo t
bj Linha base do nível do serviço (pré-dano)/unidade área do hábitat afetado
p
x t Nível dos serviços fornecidos pelo hábitat de reposição no final do tempo t
p
b Nível inicial dos serviços / unidade de área do hábitat de reposição
ρt Fator desconto, ρ t = 1 / (1 + r) t - C, e r é a taxa de desconto no tempo
J Número de unidades de área afetadas pelo dano
P Tamanho do projeto de compensação (reposição)
Variáveis de Tempo

t=0 Tempo em que ocorreu o dano

t=B Tempo em que os serviços foram recuperados até a linha base

t=C Tempo inicial para calcular a compensação do dano

t=I Tempo em que o hábitat de reposição inicia o fornecimento dos serviços

t=M Tempo em que o hábitat de reposição atinge o máximo dos serviços

t=L Tempo em que o hábitat de reposição pára de fornecer os serviços

Quantidades Calculadas

(b j - x j t) Extensão do dano no tempo t

(x p t - b p) Incremento dos serviços fornecidos pelo hábitat de compensação


% dos serviços perdidos / unidade de área do hábitat afetado, em relação à
(b j - x j t) / b j
linha base do nível dos serviços do hábitat afetado
% dos serviços ganhos / unidade de área do hábitat de reposição, em relação
(x p t - b p) / b j
à linha base do nível dos serviços do hábitat afetado

A equação HEA estabelece que o tamanho do projeto de compensação deve ser igual à
razão dos serviços perdidos (numerador) e fornecidos (denominador), por unidade de
área-tempo do hábitat de compensação, multiplicada pelo valor relativo dos serviços
166
fornecidos por unidade de área do hábitat afetado e de compensação, multiplicado
pelo número de unidades de área do hábitat afetado, caso o tamanho das áreas dos
hábitats seja diferente. Os parâmetros da equação HEA estão decritos na Tabela 7.8.1.

EXEMPLO
O vazamento de óleo diesel de um acidente contaminou 100 acres de várzeas. O óleo
derramado causou a redução de 50% dos serviços ambientaisfornecidos pelas várzeas.
Os especialistas estimam que o tempo para a recuperação das várzeas seja cinco anos,
considerando taxa linear ao longo do tempo. Nas Tabelas 7.8.2 e 7.8.3 estão indicados
os dados do impacto e os parâmetros do projeto de compensação, respectivamente.

Tabela 7.8.2 Caracterísitcas do impacto utilizadas no modelo HEA


PARÂMETROS DO DANO AMBIENTAL
Tipo de hábitat Banhado
Ano do impacto 1999
Número de acres afetados 100
Nível dos serviços após o impacto 50%
Nível dos serviços após a recuperação 100%
Tempo de recuperação 5 anos
Forma da função de recuperação Linear
Taxa de desconto anual 3%

Tabela 7.8.3 Parâmetros do hábitat de compensação do dano ambiental


PARÂMETROS DO PROJETO DE COMPENSAÇÃO DO DANO
Tipo de hábitat Banhado
Nível inicial de serviços (no mesmo site) 50%
Ano de implantação do projeto de remediação 2009
Ano do início de fornecimento dos serviços 2010
Ano do máximo de fornecimento dos serviços 2014
Nível máximo dos serviços fornecidos 100%
Forma da função de recuperação Linear
Expectativa de tempo dos serviços fornecidos Perpétua
Razão (Vj/Vp) 1:1
Valor para executar o projeto (US$) 3000/acre

Os dados indicam que o acidente ocorrido em 1999 reduziu os serviços ambientais das
várzeas em 50%. Os especialistas estimam que o tempo de recuperação das várzeas é
cinco anos e, o custo é US$3000/acre. O projeto de recuperação das váreas iniciou em
2009, e, o fornecimento dos serviços iniciou em 2010, atingindo o máximo em 2014.

167
Assim, de 1990 a 2009 (19 anos) o hábitat impactado com óleo fornecerá apenas 50%
dos serviços. A partir de 2010, os serviços fornecidos aumentam progressivamente até
atingir o máximo em 2014. Os resultados numéricos estão nas Tabelas 7.8.4 e 7.8.5.

Aplicando os dados da Tabela 7.8.2 no modelo, determina-se que o número efetivo de


acres afetados pelo óleo foi 785,16 acres. Esse valor representa os serviços perdidos
nas várzeas contaminadas, no período de 1990 até 20014, corrigidos com uma taxa de
desconto de 3% ao ano. Na Figura 7.8.2 está indicado o nível dos serviços ambientais
no período. A área abaixo da curva do gráfico da Figura 7.8.3 representa a perda total
dos serviços ambientais no período de 1990 a 2014.

120

100 Perda corrigida


Serviços ambientais (%)

Perda bruta
80

60

40

20

0
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020
Ano

Figura 7.8.2 Nível atual e corrigido dos serviços ambientais afetados pelo dano

60

50
Serviços ambientais (%)

40

30

20

10

0
1990 1995 2000 2005 2010 2015
Ano

Figura 7.8.3 Perda total de serviços ambientais, representado pela área sob a curva

168
Os resultados indicam que, desde a época do acidente até a recuperação do hábitat, os
100 acres de várzeas deixaram de fornecer serviços ambientais equivalentes a 785,16
acres. Os dados indicam também que durante a recuperação serão fornecidos serviços
ambientais equivalentes a 931,50 acres de várzea. Nas Figuras 7.8.4 a 7.8.6 estão os
níveis dos serviços ganhos e perdidos no período de recuperação do hábitat alterado.

60

50 Ganho bruto
Nível dos Serviços (%)

40 Ganho corrigido

30

20

10

0 Ano
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020

Figura 7.8.4 Nível dos serviços ganhos com a recuperação das várzeas

30

25
Nível dos Serviços (%)

20

15

10

0
1990 1995 2000 2005 2010 2015
Ano
Figura 7.8.5 Total de serviços ganhos com a recuperação das várzeas

60

50 Perda de
Serviços Ambientais (%)

Serviços
40

30

20

10

0
1990 1995 2000 2005 2010 2015
Ano
Figura 7.8.6 Perda e ganho total de serviços ambientais nas várzeas, de 1990 a 2015
169
RESULTADOS NUMÉRICOS DO MODELO

HABITAT EQUIVALENCY ANALYSIS:


Site name: OLEO DIESEL FERROVIÁRIO
Date: 08/03/2008 19:12:55
Datafile: C:\Program Files\Visual_HEA25\OLEO.hea
Area units: acre
Time units: year
Claim year: 1990
Number of affected area units: 100
Pre-injury service level (%): 100,00%
Pre-restoration service level (%): 50,00%
Value ratio injured/restored: 1,00
Discount rate per time unit (%): 3,00

Tabela 7.8.4 Service loss at injury area (serviços perdidos)


-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Year %Services Lost Raw Discount Discounted
Beginning End Mean SAYs lost factor SAYs lost
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
1990 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 1,000 50,000
1991 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,971 48,544
1992 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,943 47,130
1993 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,915 45,757
1994 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,888 44,424
1995 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,863 43,130
1996 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,837 41,874
1997 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,813 40,655
1998 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,789 39,470
1999 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,766 38,321
2000 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,744 37,205
2001 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,722 36,121
2002 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,701 35,069
2003 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,681 34,048
2004 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,661 33,056
2005 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,642 32,093
2006 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,623 31,158
2007 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,605 30,251
2008 50,00% 50,00% 50,00% 50,000 0,587 29,370
2009 50,00% 35,00% 42,50% 42,500 0,570 24,237
2010 35,00% 20,00% 27,50% 27,500 0,554 15,226
2011 20,00% 5,00% 12,50% 12,500 0,538 6,719
2012 5,00% 0,00% 2,50% 2,500 0,522 1,305
2013 0,00% 0,00% 0,00% 0,000 0,507 0,000
2014 0,00% 0,00% 0,00% 0,000 0,492 0,000
2015 0,00% 0,00% 0,00% 0,000 0,478 0,000
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Total discounted SAYs lost: 785,163

170
Tabela 7.8.5 Service gain at the compensatory area (serviços ganhos)
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Year %Services Gained Raw Discount Discounted
Beginning End Mean SAYs gained factor SAYs gained
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
1990 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 1,000 0,000
1991 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,971 0,000
1992 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,943 0,000
1993 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,915 0,000
1994 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,888 0,000
1995 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,863 0,000
1996 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,837 0,000
1997 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,813 0,000
1998 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,789 0,000
1999 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,766 0,000
2000 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,744 0,000
2001 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,722 0,000
2002 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,701 0,000
2003 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,681 0,000
2004 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,661 0,000
2005 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,642 0,000
2006 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,623 0,000
2007 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,605 0,000
2008 50,00% 50,00% 0,00% 0,000 0,587 0,000
2009 50,00% 65,00% 7,50% 7,500 0,570 4,277
2010 65,00% 80,00% 22,50% 22,500 0,554 12,458
2011 80,00% 95,00% 37,50% 37,500 0,538 20,158
2012 95,00% 100,00% 47,50% 47,500 0,522 24,790
2013 100,00% 100,00% 50,00% 50,000 0,507 25,335
2014 100,00% 100,00% 50,00% 50,000 0,492 24,597
2015 100,00% 100,00% 50,00% 50,000 0,478 23,880
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Total discounted SAYs gained = 931,50;
Discounted SAYs gained per unit area = 9,32;
Replacement habitat size (acre): 1 x 785,63/ 9,315 = 84,290.

Os resultados indicam que durante o período necessário para recupar o dano (14 anos)
os serviços perdidos nas várzeas contaminadas com óleo são equivalentes aos serviços
fornecidos por 785,16 acres de várzeas descontaminadas e, nesse período o projeto de
recuperação fornecerá com taxa constante 9,32 acre-ano de serviços. Assim, após a
recuperação, terão sido fornecidos o equivalente a 931,50 acres de serviços, portanto
o projeto de compensação do dano que deve ser implatado é 84,29 acres de várzeas.

VALOR ECONÔMICO DO DANO AMBIENTAL


O valor do dano está associado aos custos de recuperação das várzeas e implantação
do projeto de compensação. Os especialistas estabeleceram US$3.000/acre para essas
ações. Os serviços ambientais perdidos equivalentes foram 869,453 acres (785,163 +
84,29) de várzea, portanto o valor do dano é US$ 2.608.359,00.

171
Os resultados obtidos pelo HEA são razoáveis na maioria dos casos, mas ainda existem
alguns pontos críticos no modelo, como, por exemplo o estabelecimento do tempo e a
forma constante da taxa de recuperação do dano.

Na maioria dos casos, a variação dos serviços ambientais e o tempo de recuperação do


impacto, são estabelecidos a partir da literatura ou por estimativas de especialistas,
mas existem casos no quais as hipóteses não ocorrem. Para contornar essas
dificuldades e melhorar a qualidade dos resultados, pode-se utilizar imagens de
satélite obtidas em diferentes datas, no sentido de estabelecer a variação do nível dos
serviços ambientais em função do tempo. O exemplo a seguir mostra essa proposta.

EXEMPLO. Um vazamento de óleo atingiu a flora e solo de uma floresta. O acidente


ocorreu em 2000, e sete anos depois foi solicitada a valoração econômica do dano. A
flora afetada foi avaliada com sete imagens de satélite e um sistema de informações
geográficas. As imagens foram analisadas e as feições flora e solo foram classificadas e
quantificadas. O nívelo dos serviços ambientais foi relacionado à variação da área de
solo exposto e de cobertura vegetal em função do tempo. Em seguida, a técnica HEA
foi aplicada para determinar o dano efetivo e o tamanho da área de compensação. Nas
Tabelas 7.8.6 e 7.8.7 estão apresentados os parâmetros do modelo HEA e do projeto
de compensação.

Tabela 7.8.6 Parâmetros do modelo HEA utilizados para avaliação do dano


PARÂMETROS DO DANO AMBIENTAL
Tipo de hábitat Floresta
Ano do impacto ambiental 2000
Área afetada pelo impacto 2380 m2
Nível dos serviços após o impacto 67,70%
Nível dos serviços após a recuperação 90,0%
Tempo de recuperação do dano 10 anos
Forma da função de recuperação Linear
Taxa de desconto anual 3%

Tabela 7.8.7 Parâmetros do projeto de remediação do dano ambiental


PARÂMETROS DO PROJETO DE COMPENSAÇÃO DO DANO
Tipo de hábitat Floresta
Nível inicial de serviços (no mesmo site) 100%
Ano de implantação do projeto de remediação 2002
Ano do início de fornecimento de serviços 2004
Ano do máximo fornecimento de serviços 2010
Nível máximo dos serviços fornecidos 90%
Forma da função de recuperação Linear
Expectativa de tempo dos serviços fornecidos Perpétua
Razão (Vj/Vp) 1:1
2
Valor para a remediação (R$/m ) 50,00

172
ESTABELECIMENTO DO NÍVEL DOS SERVIÇOS AMBIENTAIS

O nível dos serviços ambientais na floresta foi diretamente relacionado à variação da


área de cobertura vegetal e solo exposto determinadas por computador nas imagens
de satélite obtidas em 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2006. As imagens foram
georreferenciadas e os histogramas equalizados para sua classificação e comparação.

As áreas da cobertura vegetal e do solo exposto das imagem foram determinadas pela
classificação supervisionada; não-supervisionada e segmentação com análise orientada
por objetos. Nesse exemplo, apresenta-se apenas os dados da classificação manual das
imagens. Nas Figuras 7.8.7, 7.8.8 e 7.8.10 estão indicadas as áreas ocupadas pela flora
em 1999 (antes do acidente), 2003 e 2006, respectivamente.

No polígono amarelo mostrado na Figura 7.8.7 foram determinadas as áreas ocupadas


pela vegetação e solo exposto em função do tempo. A área do polígono menor, dentro
do maior, corresponde à área de solo que existia antes do dano. A área da vegetação
da imagem de 1999 foi adotada como referência, e associada ao nível máximo dos
serviços ambientais (100%) fornecidos pela vegetação, antes do dano.

Figura 7.8.7 Imagem de satélite da região investigada, obtida em 1999

Figura 7.8.8 Imagem de satélite da região afetada pelo dano, obtida em 2003
173
2500
2368,00

1850,99 2004,98 2084,87


2000

1920,47
1603,14 1774,60
1500
Área (m2)

Área Flora
Área Solo
1000
766,86
449,53
500
595,40 519,01 365,02 285,13
2,00
0
1998 2000 2002 2004 2006 2008
Ano
Figura 7.8.9 Áreas de vegetação e solo exposto em função do tempo

Tabela 7.8.8 Resultados da análise das imagens, em função do tempo


Ano Área da vegetação (m2) Serviços (%) Perda (%)
1999 2638,00 100,00 0,00
2000 1603,14 67,70 32,30
2001 595,40 25,10 74,90
2002 519,01 21,90 78,08
2003 449,53 18,98 81,02
2004 365,02 15,40 84,60
2006 2084,87 88,04 11,96

A classificação das imagens forneceu os resultados da Figura 7.8.9 e Tabela 7.8.8. Os


resultados indicam que após o acidente houve uma redução contínua da vegetação até
2004. Os resultados indicam também que a partir do ano de 2004 houve um aumento
da vegetação até 2006, conforme indica a Figura 7.8.10.

Considerando factível relacionar a variação da área de cobertura vegetal ao nível dos


serviços ambientais, verifica-se que a máxima redução dos serviços ocorreu em 2004
(84,60%). A partir desse ano, a vegetação aumento continuamente até 2006 (88,04%).
Na Tabela 7.8.9 estão apresentadas as áreas da cobertura vegetal e o nível dos serviços
ambientais em função do tempo.

Os resultados indicam que a perda máxima de flora foi 84,60%, conseqüentemente, o


nível mínimo dos serviços ambientais foi 15,4%, quatro anos após o acidente, em 2004.
A partir desse ano, o nível dos serviços aumentou e atingiu 88,04%, em 2006.
174
Figura 7.8.10 Situação da vegetação afetada pelo óleo, em 2006

Tabela 7.8.9 Áreas da vegetação e nível dos serviços, em função do tempo


Área da flora Relação Serviços Serviços Área do solo
Ano 2
(m ) área x serviços (%) pedidos (%) (m2)
1999 2368,00 100,00 100,00 0,00 2,00
2000 1603,14 67,70 67,70 32,30 766,86
2001 595,40 25,10 25,10 74,90 1774,60
2002 519,01 21,90 21,90 78,08 1850,99
2003 449,53 18,98 18,98 81,02 1920,47
2004 365,02 15,40 15,41 84,60 2004,98
2006 2084,87 88,04 88,04 11,96 285,13

ANÁLISE DO EQUIVALENTE HABITACIONAL (HEA)

Os dados das Tabelas 7.8.2, 7.8.3 e 7.8.9 foram aplicados na equação do modelo HEA
para determinar o tamanho da área de compensação equivalente a perda dos serviços
ambientais que deixaram de ser fornecidos pela floresta afetada, durante o período de
recuperação, de 2000 a 2010. A partir dessa área equivalente, foi calculado o valor
econômico do dano ambiental do acidente.

Na Tabela 7 e 08 estão indicados os resultados do HEA, respectivamente, perda dos


serviços ambientais derivados da flora afetada corrigida, pela taxa de desconto de 3%,
e ganho dos serviços ambientais proveniente da recuperação da área contaminada, ao
longo de um período de 10 anos, após acidental ocorrido em 200.

Os dados das tabelas estão apresentados nos gráficos da Figuras 11, 12 e 13. Na Figura
13, estão indicadas as áreas correspondentes à perda e ao ganho dos serviços
ambientais, associadas ao impacto e a remediação do dano, em função do tempo.
175
RESULTADOS DO MODELO HEA

Tabela 7.8.10 Serviços ambientais perdidos pela contaminação da vegetação


Serviços perdidos (%) Perda Fator de Perda
Ano
Inicio Final Médio bruta desconto descontada
2000 32,00 75,00 53,50 1267,95 1,00 1267,95
2001 75,00 78,00 76,50 1813,05 0,97 1760,24
2002 78,00 81,00 79,50 1884,15 0,94 1775,99
2003 81,00 85,00 83,00 1967,10 0,92 1800,18
2004 85,00 48,50 66,75 1581,98 0,89 1405,56
2005 48,50 12,00 30,25 716,93 0,86 618,43
2006 12,00 11,50 11,75 278,48 0,84 233,22
2007 11,50 11,00 11,25 266,63 0,81 216,79
2008 11,00 10,50 10,75 254,78 0,79 201,12
2009 10,50 10,00 10,25 242,93 0,77 186,18
2010 10,00 10,00 10,00 237,00 0,74 176,35
2
Perda definitiva de serviços ambientais (m ) 5.878,343
2
Perda total descontada de serviços ambientais (m ) 15.520,356

90%

80%
Perda de Serviços
70%

60%
Serviços Ambientais

50%

40%

30%

20%

10%

0%
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
Ano

Figura 7.8.11 Nível dos serviços perdidos em função do tempo

176
Tabela 7.8.11 Serviços ambientais restituidos pela recuperação da flora
Serviços ganhos (%) Ganho Fator de Ganho
Ano
Início Final Média Bruto Desconto Corrigido
2000 68,00 25,00 -3,50 -82,95 1,00 -82,95
2001 25,00 22,00 -26,50 -628,05 0,97 -609,76
2002 22,00 19,00 -29,50 -699,15 0,94 -659,02
2003 19,00 15,00 -33,00 -782,10 0,92 -715,73
2004 15,00 51,50 -16,75 -396,98 0,89 -352,71
2005 51,50 88,00 19,75 468,08 0,86 403,77
2006 88,00 88,50 38,25 906,53 0,84 759,20
2007 88,50 89,00 38,75 918,38 0,81 746,72
2008 89,00 89,50 39,25 930,23 0,79 734,33
2009 89,50 90,00 39,75 942,08 0,77 722,02
2010 90,00 90,00 40,00 948,00 0,74 705,40
Ganho total de serviços ambientais 1651,28
Ganho de serviços corrigidos / unidade de área 0,697
2
Tamanho da área de compensação (m ) = 1,00 x 15.520,356 / 0,697 22.275,63

50%

40% Ganho de Serviços

30%

20%
Serviços Ambientais

10%

0%

-10%

-20%

-30%

-40%
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Ano

Figura 7.8.12 Serviços ambientais ganhos com a recuperação da flora

Os resultados, apresentados nas Tabelas 7.8.10 e 7.8.11 e nas Figuras 7.8.11 a 7.8.12,
indicam que o acidente afetou 2380m2 da floresta e causou danos na flora, solo e nos
serviços ambientais fornecidos pelo recurso natural.

177
100%

80%
Perda de
Serviços
60%
Serviços Ambientais

40%

20%

0%
2000 2002 2004 2006 2008 2010

-20%

-40%

Figura 7.8.13 Total dos serviços perdidos (área azul) pela contaminação, e fornecidos
(área vermelha) pela recuperação da flora, para compensar o dano ambiental

Os resultados obtidos indicam que, durante quatro anos após o acidente, ocorreu uma
perda de 84,60% da flora e, conseqüentemente, redução do fornecimento dos serviços
ambientais. Esse resultado foi obtido por análise e classificação das sete imagens de
satélite de alta resolução utilizadas no trabalho.

Os resultados da técnica HEA indicam que, os serviços ambientais perdidos durante o


tempo necessário para recuperar o dano (10 anos) é equivante a 15.521m2 de várzea.
Para compensar o dano, além de recuperar a vegetação contaminada, é necessário
implantar uma outra área de 22.272 m2 de banhado. Assim, o tamanho da área total
equivalente a perda dos serviços ambientais devido ao acidente é 37.793 m2.

VALOR ECONÔMICO DO DANO AMBIENTAL

O valor de R$50,00 estabelecido para ações de recuperação da flora e implantação da


área de compesanção é apenas preliminar. Foi estimado, a partir do valor comercial do
m2 do terreno industrial na área do acidente. Esse valor deve ser determinado a partir
dos custo de engenharia para os trabalhos de recuperação da flora (insumos e mão-de-
obra) e para aquisição da nova área. Assim, adotando esse valor de R$50,00/m2 para
executar as atividades de recuperação das várzeas contaminadas e a implantação do
projeto de compensação, obtem-se o valor econômico total do dano ambiental

VALOR TOTAL DO DANO AMBIENTAL = 37.793 m2 x R$ 50,00 /m2 = R$ 1.896.650,00

178
7.9 MODELO MOD - VALORAÇÃO DO DANO PARA CONTAMINAÇÃO DO SOLO E ÁGUA
SUBTERRÂNEA

Kaskantzis, G.“Avaliação dos impactos ambientais decorrentes do vazamento acidental


de ácido clorídrico”, XVII COBEQ- Congresso Brasileiro de Engenharia Química, 14 de
setembro de 2008, Recife, Brasil.

INTRODUÇÃO

Neste trabalho foi realizada a valoração do vazamento de ácido clorídrico através da


modelagem ambiental dos fenômenos físicos e químicos que aconteceram no cenário.
O ácido contaminou o solo e a água subterrânea e, para quantificar e valorar os danos,
foram simulados o escoamento transiente do ácido clorídrico do tanque, infiltração no
solo e sua dispersão no lençol freático.

DESCRIÇÃO DO ACIDENTE

Na região do acidente existem diversas atividades industriais, comerciais, residências,


áreas verdes, solo exposto e corpos hídricos. É uma região densamente povoada e a
circulação de veículos e pessoas é intensa. A partir da análise documental foi verificado
que no dia 27 de setembro de 2004, ocorreu um vazamento de 14m3 de HCl durante a
transferência do ácido do caminhão-tanque para o tanque de armazenamento. Para
conter o HCl, a equipe de emergência lançou 2.000kg de cal na bacia de contenção do
tanque e nas canaletas de drenagem de água pluvial.

O diagnóstico da contaminação foi realizado pela amostragem do solo e água, em nove


poços de sondagem, medindo o pH e nível do freático. Na Figura 7.9.1 estão os poços
instalados na área do acidente. Na Tabela 7.9.1 estão indicados a cota e nível da água
dos poços de monitoramento. Nas Tabelas 7.9.2 e 7.9.3 estão os valores do pH da água
subterrânea após o acidente. Na Tabela 7.9.4 estão as características do solo da região
do acidente, determinadas no laboratório.

Figura 7.9.1 Detalhe dos poços de monitoramento instalados na área do acidente


179
Tabela 7.9.1 Cota e nível da água dos poços de monitoramento
Poço Cota (m) Nível da H2O (m)
PM01 839,20 6,42
PM02 838,24 12,87
PM03 838,99 9,74
PM04 839,17 7,98
PM05 839,07 9,17
PM06 838,91 8,58
PM07 838,92 9,27
PM08 838,89 8,91
PM09 839,12 8,79

Tabela 7.9.2 pH da água subterrânea dos poços de monitoramento, em 2004


Dia da medida do pH da água subterrânea
Poço
30/09 4/10 5/10 7/10 18/10
PM 01 5,74 5,75 5,77 5,64 5,68
PM 02 5,58 4,94 4,95 4,96 5,02
PM 03 5,61 4,81 4,79 4,73 5,12
PM 04 4,92 4,44 3,52 4,42 5,04
PM 05 5,85 5,71 440 4,75 5,00
PM 06 5,22 5,35 5,23 4,83 4,98
PM 07 5,32 4,91 5,09 4,63 4,98
PM 08 5,37 4,62 3,73 4,12 4,74
PM 09 4,13 3,75 3,91 4,19 4,30

Tabela 7.9.3 pH da água subterrânea dos poços de monitoramento, em 2005


Dia da medida do pH da água subterrânea
Poço
02/02 17/02 08/03 23/03
PM01 6,13 6,13 6,09 6,19
PM02 5,33 5,50 5,25 5,38
PM03 5,08 5,07 5,03 5,11
PM04 4,27 4,21 4,03 4,35
PM05 5,23 5,25 5,00 5,21
PM06 5,15 5,46 5,18 5,20
PM07 5,21 4,96 4,95 5,04
PM08 4,27 4,37 4,46 4,52
PM 09 4,85 4,43 4,25 4,63

180
METODOLOGIA

A metodologia utilizada incluiu a análise de documentos, modelagem do vazamento do


tanque, da infiltração no solo e dispersão do poluente no freático. Inicialmente, foram
definidas área de influência e domínio da análise do evento. Nessa etapa foi realizado
um balanço de massa para estimar as quantidades de ácido derramadas do tanque, no
solo e na rede pluvial. As características do solo da região apresentadas na Tabela 7.9.4
foram aplcadas na equação do modelo para simular a infiltração do ácido no solo.

Tabela 7.9.4 Características do solo da região do vazamento de HCl


Propriedade característica do solo Valor
Teor de argila (%) 28,5
Teor de silte (%) 13,7
Teor de areia (%) 57,7
Teor água na saturação S (%) 41,8
Teor de água inicial i (%) 26,0
Capacidade de campo (%) 27,8
3
Densidade (g/cm ) 1,39

Em seguida, os valores do nível de água dos poços de monitoramento foram aplicados


no modelo MODFLOW, para estimar a condutividade hidráulica e direção do fluxo do
lençol freático. Os valores do pH da água observados nos poços foram convertidos em
valores de concentração de ácido clorídrico aquoso e utilizados no modelo MT3D, para
ajustar o valor da dispersão do escoamento e calibrar o modelo.

As concentrações de referência do ácido adotadas para analisar a contaminação foram


da Portaria 518 do Ministério da Saúde, Resolução CONAMA 357, e as letais para biota
indicadas na Tabela 7.9.5. Os parâmetros dos modelos empregados para determinar o
fluxo lençol freático e simular a dispersão do poluente estão nas Tabelas 7.9.6 e 7.9.7,
respectivamente.

Tabela 7.9.5 Concentrações de referência para avaliar a contaminação


Referência C HCl (mg/L)
Solução de HCl com pH 6 0,04
Cloro livre na água 5,0
Cloro residual livre na água 2,0
Tóxica para invertebrados 0,56
Tóxica para as algas 0,80
Fitotoxicidade 1,0

A modelagem e simulação da infiltração do ácido no solo foi realizando empregando


as equações (1), (5) e (6), que fornecem o perfil de concentração do HCl em função do
espaço e do tempo.
181
Tabela 7.9.6 Parâmetros para simular o fluxo do lençol freático, MODFLOW
Parâmetro de entrada do modelo Valor
2
Dimensão do domínio (m ) 62.500
Condutividade hidráulica K inicial (m/s) 2,2x10 -6
Recarga do freático inicial (m3/s) 2,37x10 -9
Profundidade do freático (m) 9,6
Período de tempo analisado (s) 9,47x107
Parâmetro ajustados pelo modelo
Condutividade hidráulica K ajustada (m/s) 2,19x10-4
Recarga do freático ajustada (m3/s) 3,31x10-11

Tabela 7.9.7 Parâmetros para simular a dispersão do ácido clorídrico, M3DT


Parâmetro Valor
Dimensão do domínio (m) 800 x 1150
Tempo de infiltração (h) 24,0
Período de simulação (anos) 3,0
D Modificada do soluto (m2/s) * 1,27 x 10 - 8
Fator de retardo R do soluto * 0,95
3
Fator de distribuição k (m /kg) 1,2 x 10 - 4
Dispersão longitudinal  (m) 10,0
Concentração inicial HCl (g/l) 384,12
Gradiente hidráulico (%) 1,80
Tipo do aqüífero Não confinado
Perfil do solo Argilo-arenoso

EQUAÇÕES DO MODELO UTILIZADO PARA SIMULAR A INFILTRAÇÃO DO ÁCIDO NO SOLO

C C  2C C
 v D 2 R (1)
t z z t

DFick
D (2)
R

 solo  k
R  1 (3)

C(0,t) = Co (4)

C
, t   0 (5)
t

C0 z  vt zv z  vt
C ( z, t )  (erf ( )  exp( )erfc ( )) (6)
2 (4Dt ) 0,5 D (4Dt ) 0,5

182
RESULTADOS

Balanço de Massa

A partir da modelagem do escoamento transiente e balanço de massa, estima-se que o


tempo de vazamento do ácido do tanque foi 3640s. Nesse período, foram derramados
16.296kg de solução aquosa ácida contendo 5.377,68kg de HCl. A massa da solução
que infiltrou no solo foi 8.818,42kg, contendo cerca de 2.778kg de ácido clorídrico. Na
Figura 7.9. 1 e Tabela 7.9.10 estão registrados esses resultados.

Curva de Esvaziamento do Tanque de HCl

2.50
Nivel do Tanque (m)

2.00

1.50

1.00

0.50

0.00
0 1000 2000 3000 4000
Tempo (s)

Figura 7.9.2 Vazão de descarga da solução ácida do tanque durante o acidente

Tabela 7.9.8 Balanço de massa do ácido clorídrico derramado no acidente


Contaminante Massa (kg)
HCl derramado no solo 5.377,68
HCl neutralizado com cal 2.599,60
HCl infiltrado no solo 2.778,08
Solução de HCl derramada 16.296,0
Solução de HCl neutralizada 7.877,58
Solução de HCl infiltrada 8.418,42

Infiltração do contaminante no solo

Os resultados apresentados na Tabela 7.9.9 e Figura 7.9.2 foram obtidos pela aplicação
dos parâmetros das Tabelas 7.9.4 e 7.9.7 na Equação (6). O desvio médio entre o valor
calculado do pH da água e observado nos poços, nos dias 5 e 7/10 é, respectivamente,
igual a 17,7 e 16,2%. Na Figura 7.9.2, perfil do ácido infiltrado, observa-se o retardo no
avanço da concentração inicial (384mg/L), ao longo da profundidade do solo. Na Figura
7.9.3 estão ilustrados os perfis de concentração do produto derramado, em função do
tempo e direção vertical, a partir da superfície do terreno.
183
Tabela 7.9.9 Valores do pH da água subterrânea, calculados pelo modelo e registrados
nos poços de monitoramento instalados na área do acidente
Dia 05/10/04 Dia 07/10/04
PM z (m)
pH exp pH cal pH exp pH cal
01 6,42 5,77 3,63 5,64 3,26
04 7,98 3,52 4,42 4,42 3,87
06 8,58 5,23 4,78 4,83 4,13
09 8,79 3,91 4,90 4,19 4,23
08 8,91 3,73 4,97 4,12 4,29
05 9,17 4,40 5,12 4,75 4,42
07 9,27 5,09 5,20 4,63 4,46
03 9,74 5,07 5,52 4,73 4,71
02 12,87 5,50 ---- 4,96 6,61

0 100 200 300 (mg/L)

z (m)

Figura 7.9.3 Frente de avanço do ácido no solo, em função da profundidade

Contaminação do Lençol Freático

Na Tabela 10 estão os desvios entre os valores do nível da água do freático observados


e calculados pelo MODFLOW. Os valores experimentais e calculados do nível da água
ajustam-se satisfatoriamente, indicando que as condutividades hidráulicas foram bem
estimadas pelo modelo. A direção do escoamento do freático e as linhas piezométricas
estão na Figura 7.9.5. Na Figura 7.9.4 estão ilustrados perfis de concentração do ácido
em função da direção vertical do solo e do tempo decorrido após o acidente.

184
c)
a

M M

d
b )

M M

Figura 7.9.4 Perfil de concentração do ácido em função da profundidade, (a) 7/10/2004; (b)
2/2/2005; (c) 2 e (d) 5 anos após o acidente

Tabela 7.9.10 Valor teórico e experimental do nível da água dos poços


Nível da água (m) Desvio (%)
Poço Observado Calculado
PM 01 832,78 832,15 0,08
PM 02 825,37 827,06 0,21
PM 03 829,25 828,39 0,10
PM 04 831,19 830,39 0,10
PM 05 829,90 829,32 0,07
PM 06 830,33 830,10 0,03
PM 07 829,65 828,68 0,12
PM 08 829,98 829,46 0,06
PM 09 831,21 830,20 0,12

185
Figura 7.9.5 Linhas potenciais do lençol freático ajustadas, a partir do nível da água dos
poços de monitoramento, registrado nas campanhas de 2004 e 2005

Os dados experimentais do pH da água dos poços foram convertidos em concentração


de ácido clorídrico aquoso e, com auxílio do modelo M3DT foram obtidos os valores da
dispersão longitudinal () e fator de distribuição (k) do soluto. Em seguida, a dispersão
do ácido foi simulada para um período de três anos após o acidente. Assim, foi possível
comparar o valor de concentração calculado pelo modelo com o experimental, bem
como estimar o tempo de permanência da pluma de contaminação no lençol freático.

Os resultados obtidos indicam que, dos 127 pontos experimentais de concentração do


ácido, aproximadamente, 108 pontos calculados pelo M3DT ajustaram-se de forma
satisfatória. O desvio médio entre o valor real e teórico da concentração do poluente
nos poços foi 18,93%. Os dados também indicam que, provavelmente, a concentração
do acido imobilizado na água subterrânea está na faixa de 1,0 x 10 - 6 a 3,35 x 10–5mg/L.
Os desvios da concentração experimental e teórica estão registrados na Tabela 7.9.11.

Nas Figuras 7.9.5 a 7.9.7 estão ilustradas as plumas da contaminação na água em datas
diferentes. As concentrações de referência do ácido estão representadas pelas cores. A
situação, dois anos pós-derrame dos compostos adsorvidos na fase imobilizada está na
Figura 7.9.4. A inspeção da Figuras 7.9. 5 indica que dias após o derrame, em 07/10/04,
a concentração do ácido na água subterrânea estava acima dos valores de referência.
Os dados da Figura 6 indicam que em 08/03/05, 163 dias pós-derrame, a concentração
do poluente na água estava menor, mas continuava acima dos valores de referência.

Na Figura 7.9.7 está apresentada a pluma contaminação após 365 dias do acidente. Os
dados indicam que nesse período a concentração, provavelmente, era igual ou menor
que 0,04mg/L e, a pluma ocupava 335célula x 10 x 10m = 33500m2, que multiplicada
pela profundidade do freático fornece o volume de água contaminada de 328.300m3.

186
Tabela 7.9.11 Concentração dos ácidos na água subterrânea calculados pelo modelo
MT3D, registrados nos poços de monitoramento e desvio relativo entre os mesmos
C HCl Cal C HCl Exp Desvio
Poço
(mg/L) (mg/L) (%)
PM 01 0,03024 0,02594 -16,58
PM 02 0,16574 0,17200 3,64
PM 03 0,36790 0,30580 -20,31
PM 04 1,38051 1,33800 -3,18
PM 05 0,27876 0,28100 0,80
PM 06 0,24024 0,23440 -2,49
PM 07 0,39126 0,36340 -7,67
PM 08 1,19253 1,16400 -2,45
PM 09 0,13914 0,13300 -4,62

Figura 7.9.6 Distribuição da concentração do poluente imobilizado do freático

Na parte superior da Figura 7 observa-se um rio que, provavelmente, está conectado


com o freático. Considerando que a contaminação deixa de existir quando a pluma do
poluente estiver diluída no rio, podemos estimar que tempo de permanência do
poluente no lençol freático será de 2,7anos.

CONCLUSÕES DA MODELAGEM

Os resultados da análise dos impactos ambientais do derrame acidental da solução de


ácido clorídrico a 33% (p/p) permitem concluir que 328.300m3 de água subterrânea foi
afetada e que o tempo para a recuperação o dano é teoricamente igual a 2,7 anos.
187
Figura 7.9.7 Pluma de contaminação, 07/10/04 Figura 7.9.8 Pluma 163 dias pós-derrame, 08/03/05 Figura 7.9.9 Pluma de ácido 365 dias pós-derrame

C = 0,04 mg/L (pH 6);


C = 0,56 mg/L (tóxico invertebrados;
C = 0,80 mg/L (tóxico para algas);
C = 1,00 mg/L (fitotoxicidade);
C = 2,00 mg/L (Cl2 residual livre);
C = 5,00 mg/L (limite Cl2 livre);
C = 10,0 mg/L.

Figura 7.9.10 Situação da contaminação 2,7


anos após o vazamento do HCl

188
VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO AMBIENTAL

A valoração econômica do dano à água subterrânea foi realizada pelo modelo CATEs,
descrito nesta obra. O valor adotado para a água foi R$2,00/m3. Observa-se que esse
valor correponde ao preço médio de um metro cúbico de água tratada, fornecida pelas
maioria das companhias de tratamento e abastecimento de água do país.

A partir do volume de água contaminada e do preço do metro cúbico estabelecidos, foi


determinado o Custo Total Ambiental (CATEs) do dano. Nesse cálculo adotadou-se taxa
de desconto anual de 3% e horizonte de ocorrência dos efeitos ambientais de 25anos.
Substituindo os dados obtidos, na equação do modelo, Cd= 335.000m3 x R$2,00/m3 =
R$ 670.000,00, tém-se

( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( )

CATES = R$ 1.072.000,00 (um milhão e setenta e dois mil reais)

O valor dos danos irreversíveis (DAI) ocorridos em dois anos, após o acidente são:

DAI = CATE [ ( 1 + j ) t – 1 ] = 1.072.000,00 [ ( 1 + 0,04)2 – 1 ] = R$ 87.475,20

DAI = R$87.475,00 (oitenta sete mil quatrocentos e setenta e cinco reais)

Assim, o valor total do dano ambiental da contaminação da água subterrânea do lençol


freático decorrente do vazamento acidental de HCl é igual a:

Valor do Dano = CATES + DAI = 1.072.000,00 + 87.475,20 = R$ 1.159.475,20

Valor do Dano Ambiental = R$1.159.475,20 (um milhão cento e cinquoenta e nove


mil quatrocentos e setenta e cinco reais e vinte centavos)

189
7.10 MODELO IBAMA – VALORAÇÃO DO DANO PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

PEIXOTO, S. L., WILLMERSDORF, O. G., “Modelo de Valoração Econômica dos Impactos


Ambientais em Unidades de Conservação”, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Renováveis - IBAMA, setembro, Brasília, Brasil, 2002.

I. INTRODUÇÃO

O Parecer Técnico do DIREC/IBAMA/2003 apresenta uma metodologia para a valoração


econômica de impacto ambiental em Unidade de Conservação (UCs). Esta metodologia
foi desenvolvida pela equipe de técnicos do IBAMA coordenada pelo Dr. Peter H. May
para avaliar o grau dos impactos com conversão direta para compensação ambiental de
empreendimentos pontuais de comunicação e telecomunicação, radiodifusão e outras
atividades afins, preexistentes em unidades de conservação.

II. OBJETIVO DA PROPOSTA

O objetivo é estabelecer os parâmetros para as compensações ambientais decorrentes


dos impactos ambientais causados pelos empreendimentos de comunicação localizados
nas unidades de conservação, salvaguardando-se, porém, a importância e a necessidade
de realizar novos estudos que venham aprimorar ou propor novos métodos, tendo em
vista a complexidade e as variadas abordagens existentes obre o assunto.

III. IMPACTOS AMBIENTAIS DE EMPREENDIMENTOS DE COMUNICAÇÃO

Os impactos ambientais de empreendimentos de comunicação localizados nas Unidades


de Conservação (UCs) possuem magnitudes diferenciadas de acordo com a extensão das
instalações, dos procedimentos locais de manutenção, da infra-estrutura e dos
equipamentos existentes, da pressão das atividades antrópicas envolvidas, dentre
outros aspectos. Os relevantes considerados na proposta do IBAMA são: desmatamento,
poluição, alteração do meio biótico e da paisagem, os incêndios e a perda de visitação.

Dentre os impactos verificados pela ação do desmatamento de vertentes e das áreas de


baixada, no âmbito de uma bacia hidrográfica, citam-se: erosão laminar; deslizamentos;
perda de solos; aumento dos nutrientes nos corpos aquáticos; assoreamento dos rios;
inundações na época chuvosa; redução de volume d´água nas nascentes, rios e lagos na
estiagem; desestabilização da relação solo/água/biota; degradação dos ecossistemas.

As mudanças ambientais e os impactos no meio biótico advindos de processos de uso e


ocupação do solo por empreendimentos de comunicação, podem ocasionar a alteração
da biota, incluindo-se o desaparecimento de espécies e a inversão do padrão original de
representatividade, favorecendo o aumento de espécies adaptadas à sobrevivência em
áreas degradadas.

190
Nas áreas e locais onde há equipamentos dos serviços de telecomunicação, radiodifusão
e atividades afins, constata-se poluição sonora provocada pelos geradores de energia
elétrica, veículos, mão-de-obra operacional e de manutenção dos equipamentos.

No caso das áreas onde são encontradas cisternas também ocorre poluição hídrica por
esgotos não tratados observados nas instalações. Além da poluição hídrica, há também
poluição causada pela deposição de resíduos sólidos do lixo gerado pelos funcionários
dos empreendimentos, podendo, inclusive, contaminar lençóis freáticos e corpos d’água
próximos aos locais das instalações.

A presença dos serviços de comunicação nas unidades de conservação pode aumentar a


incidência dos incêndios pela redução da umidade nas cercanias da instalação; redução
da evapotranspiração e aumento da temperatura; probabilidade de incidência de fontes
de ignição pelo pessoal de operação e manutenção, como fósforos, isqueiros, fogueiras,
produtos inflamáveis, veículos; entre outros, devido à liberdade de acesso.

Quando os empreendimentos de comunicação se encontram nas áreas que possibilitam


a visão panorâmica, ocorre a perda da área de uso público para os visitantes/usuários,
resultando em perda de arrecadação financeira de ingressos, tendo em vista que estes
recursos poderiam ser aplicados nos programas de proteção, manejo e uso das UCs.

IV. PROPOSTA METODOLÓGICA

O modelo, inicialmente, estabelece o valor total dos impactos ambientais causados pelo
empreendimento pela seguinte relação:

VT= (P1 + P2+ P3+ P4 +P5) / R

Onde:
 VT: Valor total do dano;
 P1: Impacto de perda de área;
 P2: Impacto sobre perda de visitação;
 P3: Impacto sobre perda de produção de bens;
 P4: Impacto sobre recursos hídricos;
 P5: Impacto sobre perda de serviços ambientais;
 R: taxa de desconto oficial.

A taxa de desconto a ser aplicada, será definida pela Taxa de Juros de Longo Prazo–TJLP
estabelecida pelo Tesouro Nacional. Por exemplo, uma porcentagem de 12% que será
convertida para 0,12. A divisão por R faz com que o somatório dos valores atribuídos ao
impacto ambiental, calculados em termos anuais, seja expresso como a totalidade do
valor dos impactos associados à permanência do dano a longo prazo.

191
A partir do valor total (VT) obtém-se o percentual da compensação, definido pelo art. 36
da Lei 9985/2000, sobre o custo de implantação do empreendimento (CEMP). O valor da
compensação ambiental (VCEMP) é expresso pela seguinte equação:

( ) ( )
sendo que VCOMP ≥ 0,5.

DETERMINAÇÃO DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO

Todas as parcelas desse modelo se baseiam na área de influência do empreendimento.


Considera-se aqui que a mesma não se restringe à área edificada, tendo em vista que os
impactos extrapolam a área física onde se localizam as instalações.

A equação abaixo determina o cálculo da área de influência do empreendimento (AEMP),


definida a partir da análise das diversas áreas edificadas onde se localizam as instalações.
Verificou-se que, em geral, a forma geométrica mais comum é o quadrado. Desse modo,
assumindo o quadrado como forma geral (AE) da área edificada, incorpora-se aos lados
do quadrado a faixa de influência do impacto (F). Trata-se de um modelo matemático
generalizável para estimar a área aproximada de qualquer figura geométrica.

O valor de F deve ser estabelecido através de vistoria técnica do local, identificando-se a


distância do ponto máximo de influência do empreendimento a partir da área edificada,
em direção à área florestada. A equação mostrada abaixo fornecerá diretamente a nova
área do empreendimento acrescida da faixa de influência do impacto gerado.

( )

Onde:
 AEMP = área de influência do empreendimento;
 F = faixa de influência do impacto, a partir da cerca edificada;
 A E = área edificada.

CÁLCULO DO IMPACTO DE PERDA DE ÁREA (P1)

A supressão da biota da área edificada pelo empreendimento pressupõe a eliminação


da flora e fauna do ecossistema atingido. A biota eliminada não pode ser reposta no
local do empreendimento, somente podendo ser compensada em área equivalente. O
valor dessa parcela está associado à área impedida para fins de conservação (área de
influência do empreendimento) e ao custo para substituí-la por uma outra área de igual
tamanho, fora da unidade de conservação, para realização das atividades relacionadas.

Considerando que o propósito é compensar uma perda do ecossistema provocada pelo


empreendimento, a recriação de outra área, mais próxima possível da original perdida,

192
com solo, clima, fauna e flora semelhantes, é adequada. Para tanto, multiplica-se o valor
da área de influência do empreendimento pelo valor venal da área do entorno, que
pode ser obtido dos cadastros de ITR ou IPTU, conforme a área do entorno seja rural ou
urbana, respectivamente. O valor de fato da área do entorno que possa ser adquirida
para esse propósito é o valor de mercado.

Assim, o valor dessa parcela é o produto da área do empreendimento (AEMP) pelo valor
venal médio das propriedades do entorno da unidade de conservação (Vv), praticado no
período da compensação. O valor da parcela é dado pela equação:

Onde:
 AEMP = área de influência do empreendimento;
 Vv = valor venal médio dos terrenos do entorno.

CÁLCULO DO IMPACTO SOBRE PERDA DE VISITAÇÃO (P2)

Seja pela beleza cênica ou possibilidade de contato direto com a natureza, as unidades
de conservação que permitem o uso público são bastante freqüentadas pela população.
Em virtude dessa característica, algumas UCs auferem recursos financeiros através da
cobrança de ingressos para visitação, o que em alguns casos se constitui em significativa
parcela do orçamento da unidade.

Havendo empreendimentos de comunicação na área de uso público de uma unidade de


conservação, o espaço torna-se indisponível à visitação, por questões de segurança.
Além disso, a presença de instalações causa impacto na paisagem, reduzindo o interesse
do público em visitar as áreas em questão. Assim, quando o empreendimento estiver
localizado fora da área de uso público da UC, considera-se que não haverá impacto
sobre a visitação. Desse modo, essa parcela não será incluída no cálculo, pois terá valor
nulo. O cálculo dessa parcela é realizado com a seguinte equação:

( )
Onde:
 AEMP = área de influência do empreendimento;
 AUP = área de uso público da UC, de acordo com seu Plano de Manejo;
 VI = valor do ingresso para visitação da área;
 VM = visitação média anual com base nos últimos cinco anos.

CÁLCULO DO IMPACTO SOBRE PERDA DE PRODUÇÃO DE BENS (P3)

Nas categorias das unidade de conservação de Floresta Nacional, Reserva Extrativista,


Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva de Fauna são permitidas a produção

193
e comercialização de bens naturais (Lei 9985/2000), como madeira, pescado e essências
vegetais, constituindo-se um percentual importante da receita dessas unidades.

A presença dos empreendimentos de comunicação em áreas destinadas à produção dos


referidos bens implica a redução da possível produtividade. Quando o empreendimento
estiver localizado fora da área de produção de bens, considera-se que não acarretará
impacto sobre sua produção e comercialização. Desse modo, a parcela não será incluída
no cálculo, pois terá valor nulo.

Para calcular essa parcela, utilizam-se os valores dos produtos potenciais que podem ser
obtidos na UC (ex: potencial de produção madeireira sob manejo sustentável), quando
houver informações sobre as quantidades e preços destes bens, utiliza-se a equação:

( )
Onde:
 AEMP = área de influência do empreendimento;
 Ap = área de produção de bens, segundo o plano de manejo da UC;
 Pp = potencial produtivo estimado dos bens na UC.

No caso da não existência das informações, pode-se utilizar o somatório da receita anual
obtida com todos os bens produzidos e comercializados na UC, tendo em vista que a
presença do empreendimento pode afetar indiscriminadamente o potencial produtivo
dos bens que são obtidos na área de produção da unidade. Assume-se, dessa forma, o
princípio da precaução extraído do art. 225 da Constituição e da Lei da Política Nacional
do Meio Ambiente (Lei 6.983/1981). Nesses casos utiliza-se a equação:

( ) ∑( )

Onde:
 qi = quantidade produzida do bem i;
 pi = preço de venda do bem i;
 n = quantidade de bens produzidos /comercializados, nos últimos cinco anos;
 i = 1..., n (n = número de bens produzidos).

CÁLCULO DO IMPACTO SOBRE RECURSOS HÍDRICOS (P4)

Um dos serviços ambientais prestados por unidades de conservação e recursos naturais


associados é o suprimento de água de boa qualidade, regulada em volume estável e
previsível para consumo. Em alguns estados, notadamente, no Paraná, estabeleceu-se o
princípio da compensação municipal pelo ICMS Ecológico; tanto pelas UC presentes no
seu território, bem como pelos mananciais que são os alicerces para o abastecimento de
água de municípios vizinhos.

194
A valoração desses serviços prestados pelas UCs depende de informações sobre área da
bacia hidrográfica afetada pelo empreendimento; preço cobrado para abastecimento e
vazão d´água captada; se não houver captação de água na UC considerada, essa parcela
assume valor nulo. O cálculo desta parcela se dá através da seguinte relação:

( )
Onde:
 AEMP = área de influência do empreendimento;
 AB = área da bacia hidrográfica impactada dentro da UC;
 P = preço do metro cúbico da água cobrado para abastecimento;
 V = vazão anual da água captada para abastecimento.

CÁLCULO DE IMPACTOS SOBRE A PERDA DE SERVIÇOS AMBIENTAIS (P5)

Os ecossistemas, além dos componentes ambientais (animais, plantas, etc.), possuem


funções de reciclagem de nutrientes, fluxo energético entre níveis tróficos etc. No caso
de essas funções apresentarem um valor identificável para a sociedade, são consideras
serviços ambientais.

Alguns desses serviços são facilmente reconhecidos pela população, como o suprimento
de água das florestas e a regulação térmica fornecidas pelas áreas verdes nos ambientes
urbanos. No entanto, inúmeros outros serviços prestados pelos ecossistemas fogem à
percepção imediata, mas são importantes para a sociedade, como, por exemplo, refúgio
de hábitat para espécies migratórias, base de cadeias tróficas em ecossistemas abertos,
sumidouro de carbono em ecossistemas florestais, etc.

Existem vários trabalhos de valoração ambiental, os quais atribuem valores econômicos


para os serviços ambientais. Em tese, nenhum desses trabalhos tem condição de valorar
integralmente os serviços prestados por um ecossistema, uma vez que a quantidade de
ecossistemas é grande. É necessário, portanto, identificar e valorar os serviços mais
importantes e ressaltar que o resultado final obtido (a soma dos valores dos serviços
ambientais) é apenas uma parcela do valor econômico real prestado pelos ecossistemas.

Nessas situações, devem-se somar os valores dos serviços ambientais considerados, que
constituirão o valor do fator VE (valor anual dos serviços ambientais). Este fator deve ser
multiplicado pela área de influência do empreendimento (AEMP), resultando no valor da
parcela.O valor dessa parcela do impacto total é determinada com a relação:

Onde:
 VE = valor anual dos serviços ambientais da UC;
 AEMP = área de influência do empreendimento.

195
7.11 MODELO CATES- VALORAÇÃO DE DANO PARA RECURSO FLORESTAL E OUTROS

RIBAS, L. C. “Metodologia para Valoração de Danos Ambientais-Caso Florestal”, Revisão


da Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção
do título de Doutor em Engenharia, São Paulo, 1996;

INTRODUÇÃO

O modelo foi desenvolvido Dr. Luiz César Ribas, em 1996, para o sistema florestal. Trata-
se de um método simples e direto para valoraração de danos ambientais irreversíveis. O
método Custos Ambientais Totais Esperados (CATE) representa uma renda perpétua que
a sociedade estaria disposta a receber na forma de indenização (pecuniária ou não) pela
ocorrência de determinada degradação ambiental. A referida metodologia considera a
possibilidade de existência de duas situações:

1. Custos Ambientais Totais Esperados / Dano Ambiental Intermitente (CATE I);


2. Custos Ambientais Totais Esperados / Dano Ambiental Contínuo (CATE II).

O conceito utilizado no modelo é o mesmo empregado no sistema financeiro, como, por


exemplo, quando se considera a dívida do montante principal e o juro, principalmente o
caso do período da inadimplência, ou seja, a cada período de atraso do pagamento das
prestações acrescem-se os juros correspondentes ao mesmo período.

Naturalmente, os aspectos da multa diária e outros são desconsiderados para os danos


ambientais irreversíveis. A vantagem desse modelo é que, quanto maior o tempo de
implantação do projeto de recuperação do meio afetado maior será o valor pecumiário
do dano irreversível. Esse aspecto induz ações imediatas de recuperar o dano ambiental.

O modelo CATE estabelece o valor presente dos custos ambientais esperados para um
determinado tipo de dano ambiental intermitente ou contínuo, para, então, determinar
o valor econômico dano ambiental irreversível.

DANO AMBIENTAL INTERMITENTE (CATE I)

O modelo CATE I calcula o valor econômico do dano ambiental do tipo intermitente, ou


seja, não contínuado e que não apresenta riscos. Os danos ambientais intermitentes são
originados dos danos iniciais, e representam ações prejudicial não repetitiva, única, não
periódica. Analiticamente tem-se:

(Vd  Cd  Fi / d )  (1  j ) n
CATE I 
(1  j ) n  1

196
DANO AMBIENTAL CONTÍNUO (CATE II)

O modelo CATE II é aplicado para valoração econômica dos danos ambientais contínuos.
Os danos contínuos são ações prejudiciais que degradam o ambiente de forma periódica
(repetitiva) apresentando riscos ambientais contínuos. Por exemplo, a emissão diária de
poluente atmosférica no meio ambiente. Analiticamente tem-se:

(VC  Cd  Fi / d )[(1  j ) n  1]
CATE II 
j  (1  j ) n

Onde:

 CATE I/II = Valor presente dos custos ambientais esperados para determinado
dano ambiental intermitente ou contínuo, a partir dos fluxos de caixa produzidos
por uma série infinita de vidas úteis de n anos ou, de outra forma, valor presente
dos custos ambientais totais esperados de um determinado processo ambiental
degradativo, em unidade monetária por unidade de área;

 Cd = Custos ambientais (valor presente) para a reparação dos danos ambientais


diretos, para efeito da consideração dos valores ambientais diretos, em unidade
monetária por unidade de área;

 Vc = Valor comercial da área, em termos de uma série periódica anual, benefício


direto a ser auferido por motivo econômico, em unidade monetária por unidade
de área;

 F i/d = Fator de conversão de custos ambientais diretos em custos indiretos, para


efeito de consideração dos valores ambientais indiretos, conforme depreendido
de RIBAS (1996), em uma escala de 1 à 9;

 j = Taxa de juros (% ao ano);

 n = Período de rotação, horizonte de ocorrência dos efeitos ambientais no tempo


(normalmente uma geração = 25 anos).

197
O fator Fi/d relaciona os custos ambientais diretos e indiretos de determinado processo
de degradação ambiental (consideração dos valores ambientais diretos e indiretos). Esse
fator relaciona os danos diretos e os danos indiretos decorrentes de uma ação negativa,
utilizando os valores de correspondência apresentados na Tabela 7.11.1.

Tabela 7.11.1 Fator de relação dos danos ambientais diretos (d) e indiretos (i)
FATOR (F i/d) Significado
1 relação de predominância inexistente de i sobre d
3 pequena predominância de i sobre d
5 significativa predominância de i sobre d
7 predominância forte de i sobre d
9 predominância absoluta de i sobre d
2,4,6,8 valores intermediários

A irreversibilidade do dano ambiental origina-se durante o período de tempo decorrido


entre o estabelecimento do cenário do dano ambiental e implementação de medidas de
recuperação, compensação, correção, prevenção, controle e indenização do mesmo. Os
danos ambientais irreversíveis ocorrem até o momento em que as medidas mitigadoras
são estabelecidas de forma satisfatória. Portanto,

 os danos ambientais irreversíveis dependem do período de tempo decorrido


entre evento danoso e a implantação das medidas ambientais preconizadas;

 as medidas preconizadas estão relacionadas aos modelos CATE I ou CATE II,


genericamente, CATE.

DANO AMBIENTAL IRREVERSÍVEL (DAI)

DAI  CATE  [(1  j )t  1]

onde:

 DAI = danos ambientais irreversíveis (R$ / ano);


 t = tempo decorrido entre o evento danoso e o inicio da remediação (tempo);
 j = taxa de juros ao ano (%);
 CATE = CATE I ou CATE II (R$).

198
EXEMPLO

ÁREA CONTAMINADA PELO DEPÓSITO IRREGULAR DE ENTULHOS

 alteração antrópica de uma área de 10.000 m2;


 depósito de 60.000 m3 de entulho (60%), terra e outros materiais diversos (30%);
 altura do entulho de 1,20 m (processo em contínua evolução histórica);
 alteração antrópica pela deposição ilegal de entulhos nas várzea do Tietê;
 existência de fonte poluidora das águas (infiltração sem controle de fossas sépticas);
 lixão a céu aberto (ao invés de empresa de transbordo de entulho com triagem e
separação de metais, plásticos, madeiras, borrachas, etc.);
 queima de resíduos a céu aberto (período noturno);
 Impactos ambientais diversos (infiltração de chorume e outros líquidos poluentes;
 contaminação do solo e do lençol freático; emissão de gases e materiais particulados;
 inconvenientes ao bem-estar público);
 alteração do terreno (riscos de erosão e escorregamento de massa) e;
 contaminação do solo e das águas superficiais / subterrâneas;

VALORAÇÃO ECONÔMICA DO DANO AMBIENTAL

A. Cálculo dos Custos Totais Ambientais Esperados (CATE)

 Área = 50.000 m2;


 Altura do material depositado = 1,2 metros;
 Volume do material depositado = 60.000 metros cúbico;

Estimativa dos custos para a remoção dos resíduos da área do terreno:

 Custo da coleta do entulho (locação de caçambas estacionárias) = R$ 15,71 / m3


(Revista Construção n. 2775, 04.2001);

 Estimativa do custo de remoção do material da área do terreno para outra área


aprovada pela CETESB (preço da mão-de-obra, exclusive taxa de aterro sanitário)
= R$ 35,00 / m3.

Vc = [60.000 x (R$ 35,00 + R$ 15,71)] = 60.000 m3 x R$ 50,71 / m3 = 3.042.600,00

Vc = R$ 3.042.600,00

199
Cd = A x R$ = 5 hectares (50.000 m2) x R$ 10.695,30 / hectare = R$ 53.476,50
(Custos Ambientais para reparação dos danos). O valor R$ 10.695,30 incluí mão-
de-obra, equipamentos e produtos utilizados para recuperar o dano.

Cd = 53.476,50

F i/d = 9 (fator imputado em face dos atributos ambientais existentes na área,


bem como, situação da não restauração de um quadro mínimo de “estabilidade”
ambiental da área, optou-se pela determinação da gravidade máxima)

Para j = 6 % a.a. e n =25 anos tem-se,

(Vc  Cd  Fi / d )  (1  j )n (3.042.600,00  53.476,50  9)  (1,06)25


CATE  
(1  j ) n  1 (1,06) 25  1

Custos Totais Ambientais Esperados (CATE) = R$ 4.594.370,55

B. Cálculo dos Danos Ambientais Irreversíveis (DAÍ)

Considerando o período de 11 meses (0,92 partes do ano) como referência do


início do quadro de degradação ambiental tem-se que

DAI = CATE [(1 + j) - 1] t

DAI = R$ 4.594.370,55 x [ 1,06 - 1 ] 0,92

DAI = R$ 253.013,34 (duzentos e cinqüenta e três mil, trezentos e setenta reais e


cinqüenta e cinco centavos)

C. Valor Econômico do Dano Ambiental

O quadro de degradação estabelecido na área do terreno, segundo a caracterização


dos impactos e desconformidades administrativas e legais, em face das atividades
modificadoras do meio ambiente local, reporta-se ao montante de R$253.013,34;
referente aos danos ambientais irreversíveis que devem ser somado ao montante
dos custos ambientais totais esperados de R$ 4.594.370,55. Portanto, o valor total
do dano ambiental é igual a

VALOR DO DANO AMBIETAL = 253.013,34 + 4.549.370,55 = R$ 4.802.383,89

200
7.12. MODELO VGB - VALORAÇÃO DO DANO PARA BENS DO PATRIMÔNIO CULTURAL

INTRODUÇÃO

Por muitos anos, o conceito de patrimônio cultural no Brasil era associado apenas ao
patrimônio material, edificações e objetos. Na atualidade, este conceito está associado
à noção de continuidade da trajetória de um povo representada pelo aporte material e
imaterial da cultura. Assim, pode-se escrever:

PATRIMÔNIO CULTURAL = BENS MATERIAIS + BENS IMATERIAIS

O Art. 216, do Capítulo III da Constituição Federal de 1988, define Patrimônio Cultural
Brasileiro como bens de natureza material e não materiais, individuais ou em conjunto,
que são portadores de referência à identidade, à ação e à memória de diferentes
grupos formadores da nossa sociedade nos quais se incluem:

– As formas de expressão;
– Os modos de criar, fazer e viver;
– As criações científicas, artísticas e tecnológicas;
– As obras, objetos, documentos, edificações e os espaços destinados às
manifestações artísticas e culturais;
– Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico;
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

DEFINIÇÕES

A) PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Conjunto de bens móveis e imóveis de determinada cidade, estado ou nação,


cuja conservação é de interesse público por questões históricas locais.

PATRINÔNIO ARQUEOLÓGICO

O patrimônio arqueológico compreende a parte do patrimônio cultural material


para a qual os métodos da arqueologia fornecem conhecimentos básicos. Nele,
estão incluídos os vestígios da existência humana, como as estruturas e artigos
de todos os tipos, localizados na superfície, no subsolo ou sob as águas, assim
como todos os materiais associados aos mesmos.

B) PATRIMÔNIO ARTÍSTICO

Conjunto de bens culturais de uma sociedade que inclui o legado, a memória


histórica e identidade cultural da nação, como, por exemplo, obras de grandes
artistas, pintores, músicos, escritores, poesias e outras manifestações anônimas
que apresentam significados sociais.

201
C) PATRIMÔNIO PAISAGÍSTICO

Conjunto de bens imóveis naturais ou transformados com contornos estéticos,


culturais ou paisagísticos representativos da interação dos valores ambientais,
sociais e culturais de uma determinada sociedade.

MODELO DE VALORAÇÃO

O método apresentado considera os atributos que exercem influência na formação do


valor. Ele também pode ser utilizado para estimar o valor econômico das indenizações
das desapropriações de imóveis conforme citado por Josimar R de Almeida (ALMEIDA,
R. J, “Pericia Ambiental Judicial e Securitária”, Ed. THEX, RJ, 2006). O modelo considera
dois aspectos: o valor inicial e o valor de singularidade.

O valor inicial representa o valor da terra ou da edificação construída afetada que está
diretamente associada ao patrimônio cultural, desconsiderando a sua singularidade. O
valor cênico ou de singularidade do bem é atribuído a partir dos atributos de raridade,
atratividade e fatores externos e internos, associados ao patrimônio cultural material
de interesse popular. Assim, pode-se escrever:

VG = VI + VC (1)
Onde:

 VG = valor global;
 VI = valor inicial (somente material);
 VC = valor cênico (de singularidade).

CÁLCULO DO VALOR INICIAL (VI)

O valor inicial é determinado a partir dos valores de mercado da área ou edificação do


patrimônio material afetada, ou seja,

VI = VU x A (TERRA / EDIFICAÇÃO) (2)


Onde:

 VI = valor inicial do bem;


 VU = valor unitário da terra /edificação;
 A (TERRA /EDIFICAÇÃO) = área de terra /edificação afetada pelo dano.

Para monumentos históricos pode ser adotado o custo da mão-de-obra especializada e


dos materiais necessários para a restauração do bem material danificado, ou seja,

VI = VREPARAÇÃO DO BEM (2a)

202
CÁLCULO DO VALOR CÊNICO (VC)

Para o valor cênico, inicialmente se estabelece um coeficiente de raridade do bem e da


sua atratividade em relação à população:

VC = VI x RA x FC (3)
onde:

 VI = valor inicial;
 RA = coeficiente de raridade / atratividade do bem;
 FC = fator corretivo.

O coeficiente RA indica os níveis de representatividade municipal, estadual e nacional.


Para expressar o grau de raridade e atratividade e a sua influência sobre a população
foram atribuídos os pesos 3/6 para o nível municipal; 2/6 para o estadual e 1/6 para o
nacional. Assim se tem

Nível de Raridade (RA):


 Comum = 1;
 Raro = 2;
 Exclusivo = 3.

RA = (3x RAMUNICIPAL + 2 x RAESTADUAL x RANACIONAL) / 6 (4)

O fator corretivo FC é obtido a partir dos fatores externos e internos associados com o
patrimônio material, considerando de quatro variáveis principais: Acessibilidade (AC);
Reputação turística (RT); Facilidade de uso (FU) e Visual Paisagístico (VP), que,
dependendo do caso, recebem os pesos apresentados na Tabela 7.12.1.

Tabela 7.12.1 Fatores corretivos do valor cênico do bem cultural


FATORES CORRETIVOS
EXTERNOS INTERNOS
ACESSIBILIDADADE (AC) FACILIDADE DE USO (FU)
0,00 Muito difícil 0,00 Muito difícil
0,25 Difícil 0,25 Difícil
0,50 Razoável 0,50 Razoável
0,75 Boa 0,75 Boa
1,00 Excelente 1,00 Excelente
REPUTAÇÃO TURÍSITICA (RT) VISUAL PAISAGÍSTICO (VP)
0,00 Nenhuma 0,00 Fraco
0,25 Pouca 0,25 Regular
0,50 Razoável 0,50 Interessante
0,75 Boa 0,70 Muito Interessante
1,00 Muita 1,00 Magnífico

203
A inclusão dos fatores corretivos na equação do valor cênico fornece:

FC = [(AC + 2 x RT) / 3 + (FU + 2 x VP) / 3] / 2 (5)

1.1. CÁLCULO DO VALOR GLOBAL (VG)

A partir das relações apresentadas para o cálculo do valor inicial e do valor cênico do
bem, considerando os atributos de raridade, atratividade e fatores corretivos indicadas
pelas equações (2) a (5), obtém-se a expressão geral (6) para estimar o valor do dano.

VG = (VU x ATERRA / EDIFICAÇÃO) + {(VU x A TERRA / EDIFICAÇÃO) x (3x RAMUNCIPAL + 2x


RAESTADUAL x RANACIONAL)/6) x [(AC + 2 x RT) / 3 + (FU + 2 x VP)/ 3] /2} (6)

EXEMPLO

Os desastres naturais causam danos ao patrimônio histórico e cultural de um país. O


terremoto ocorrido em 15 de agosto de 2007 no Peru atingiu sítios históricos, reservas
naturais e patrimônios históricos. Na Figuras 1 e 2 estão fotografias do dano causado a
uma antiga igreja localizada na região de SAN VICENT de CANETE.

Figura 7.12.1 Vista geral da igreja histórica afetada pelo terremoto do Peru

Figura 7.12.2 Detalhe da igreja afetada pelo terremoto do Peru

204
CÁLCULO DO DANO

A) Cálculo do valor inicial (VI)

Durante o diagnóstico da igreja atingida pelo dano, os especialistas concluíram


que as fundações não foram afetadas, mas a cúpula e imagens sofreram danos
mais significativos. Os custos estimados para a restauração da edificação e das
imagens foi U$ 25.000,00, incluindo os materiais e a mão-de-obra. Portanto,

VI = V REPARAÇÃO = U$ 25.000,00

B) Cálculo do valor cênico (VC):

VC = VI x RA x FC

Cálculo de RA

Para calcular o fator de raridade foram utilizados os dados obtidos da pesquisa


realizada junto à população local e as informações do Ministério da Cultura. Os
resultados indicam que RA MUNICIPAL = RA ESTADUAL = RA NACIONAL = 2. Assim,

RA = (3x RAMUNICIPAL + 2 x RAESTADUAL x RANACIONAL) / 6


RA = (3x2) + (2x2) + (2x1) = 12/6 = 2,0
RA = 2,0

Cálculo de FC:

FC = [(AC + 2 x RT) / 3 + (FU + 2 x VP) / 3] / 2

A partir dos pesos dos fatores externos e internos da Tabela 7.12.1 obteve-se:

Fatores Externos: AC (acessibilidade) = 0,75 (boa)


RT (reputação turística) = 0,75 (boa)

Fatores Internos: FU (facilidade de uso) = 0,75 (boa)


VP (visual paisagístico) = 0,5 (interessante)

FC = [(0,75 + 2 x 0,75) / 3 + (0,75 + 2 x 0,5) / 3] / 2


FC = [(2,3 / 3) + ( 1,75 / 3)] = [0,8 + 0,6] = 1,4
FC = 1,4

- Cálculo de VC

VC = 25.000, 00 x 2,0 x 1,4 = 70.000,00

VC = US$ 70.000,00

205
C) Cálculo do Valor Global (VG)

VG = VI + VC = 25.000,00 + 70.000,00

VG = US$ 95.000,00 (noventa e cinco mil dólares americanos)

CONCLUSÕES

A partir dos resultados desse modelo de valoração pôde-se concluir que o terremoto
causou um dano de US$ 95.000 ao patrimônio histórico da comunidade. Deste total,
US$ 25.000 são referentes aos danos materiais, e US$ 70.000 são relativos ao valor
cênico do bem afetado pelo terremoto.

206
7.13 MODELO CONDEPHAAT - VALORAÇÃO DO DANO PARA BENS DE VALOR CULTURAL
(ARQUITETÔNICOS E NATURAIS)

CONDEPHAAT, OS 3-94, “Critérios para Valoração Monetária de Danos Causados a Bens de


Valor Cultura”, Diário Oficial do Estado de São Paulo; Seção I, SP, 104 (232), 15 dezembro de
1994.

INTRODUÇÃO

Esse método estabelece que o dano é proporcional à degradação do bem de valor cultural.
Para efeito de aplicação da metodologia, apresenta a definição do bem de valor cultural e suas
tipologias. A valoração econômica do dano aos bens de valor cultural é realizada considerando
os seguintes critérios:

A) QUANTO À CARACTERIZAÇÃO DO BEM

I. TIPO DE PROTEÇÃO

Refere-se ao tipo de proteção administrativa sob o qual o bem se encontra tutelado ou poderá
se encontrar, após o reconhecimento do seu valor cultural.

a) Tombado: quando a decisão administrativa sobre o tombamento já foi tomada pelo


CONDEPHAAT, reconhecendo, portanto, suas características e valores significativos.

b) Em Processo de Tombamento: quando os estudos destinados a embasar o parecer e


decisão do CONDEPHAAT ainda se encontram em trâmite.

c) Protegido pela Lei de Uso e Ocupação do Solo: situação em que o bem, embora não
necessariamente tombado, está enquadrado, do ponto de vista administrativo, em
legislação de uso e ocupação do solo, conferindo-lhe determinadas restrições.

d) Integrante de Área Envoltória de Bem Tombado: situação em que o bem está


localizado na vizinhança de outro bem Tombado, área esta denominada envoltória. A
legislação confere restrições aos bens inclusos nessa área, sendo necessário que as
intervenções que se deseja fazer nessa área sejam submetidas à aprovação do órgão
responsável.

e) Inventariado, Cadastrado, Passível de Preservação: refere-se ao bem que, embora


não sendo objeto da tutela administrativa, possui valor estético-formal, cognitivo,
turístico ou paisagístico comprovados. É, portanto, passível de preservação, vez que
periciado em juízo ou reconhecido por inventário, cadastros ou pareceres técnicos.

207
II. GRAU DE ORIGINALIDADE

Esse critério refere-se às características dos bens de valor cultural e a freqüência com que elas
podem ser verificadas, considerando-se o universo dos demais bens, protegidos ou não por
instrumentos de preservação reconhecidos. Este conceito aplica-se somente aos bens naturais
tombados e respectivas áreas envoltórias.

Quanto aos bens arquitetônicos, é extremamente difícil avaliar-se o grau de originalidade


deles decorrente, quando o dano acontecer em área situada na justaposição de tutelas
distintas. Havendo futuro reconhecimento de áreas de relevante interesse ecológico, interesse
turístico, assim como santuários no interior de áreas naturais tombadas, ainda que não
disponham de plano de manejo, ser-lhe- á atribuído o grau de originalidade “único” para
efeito desse critério. Os critérios de avaliação do bem de valor cultural, quanto ao grau de
originalidade são:

a) Único: atribuído para áreas naturais que, em seu plano de manejo ou plano sistemático
de tombamento, são definidas como de restrição máxima quanto ao uso ou ocupação.

b) Raro: atribuído para áreas naturais que, ainda não têm plano de manejo ou sistemático
de tombamento, ou, possuindo-os, não são neles definidas como de restrição máxima
no que diz respeito ao seu uso e ocupação.

c) Recorrente: atribuído par as áreas situadas em zonas envoltórias de áreas naturais


tombadas.

III. GRAU DE CONSERVAÇÃO

Somente será aplicado às áreas naturais tombadas, estando excluídos os bens arquitetônicos.
Refere-se ao estado de conservação em que a área se encontrava antes da ocorrência do dano
ocasionado, considerando os critérios de degradação e de recomposição da área afetada.

a) Bom: atribuído às áreas não alteradas ou em estágio avançado de recomposição.

b) Regular: atribuído para as áreas parcialmente alteradas ou em estágio médio de


recomposição.

c) Precário: atribuído às áreas muito alteradas ou em estágio inicial de recomposição.

B – QUANTO AO DANO CAUSADO AO BEM

208
IV. GRAU DE ALTERAÇÃO

Esse item configura a gravidade da ação cometida sobre o bem. Em função das características
individuais dos bens arquitetônicos e áreas naturais, é necessário analisá-los individualmente.
Para os bens arquitetônicos, adota-se como referência o conjunto das características avaliadas
no processo de tombamento.

Para bens naturais, grau da alteração Tabelas 7.13.1 e 7.13.2, conforme a extensão da área.
Para fins de aplicação da Tabela 7.13.1, entende-se por “grandes áreas” extensões acima de
500ha, revestidas por vegetação natural ou destinadas à sua recuperação. Na aplicação da
Tabela 7.13.2, entende-se por “pequenas áreas” as extensões de até 500ha revestidas por
vegetação expressiva, usualmente econtradas em zonas urbanas.

a) Severo: para bens arquitetônicos - demolição integral do bem.

b) Grande: para bens arquitetônicos - alteração da área ocupada, construída ou da


volumetria.

c) Médio: para bens arquitetônicos - alteração de esquadrias externas (portas e janelas)


no que se refere aos materiais e vãos; alteração da cobertura quanto aos materiais ou
à forma; alteração dos espaços internos pela construção e/ou supressão de elementos
divisórios fixos.

d) Pequeno: para bens arquitetônicos - alteração das folhas das portas internas sem
alteração de vãos correspondentes; alteração de materiais de revestimento interno
ou externo (piso, paredes, forros, etc.); alteração do aspecto cromático dos diversos
elementos que compõem a construção

Observa-se que, para áreas naturais atribuição desse critério deve ser realizada utilizando as
Tabelas 7.13.1 e 7.13.2.

V. CAUSA DO DANO

Nesse item, identifica-se o motivo do dano, pelo efeito e características. Se comprovado que o
dano aconteceu devido a causas fortuitas ou de força maior, ação indenizatória não é cabível,
dada a inexistência da culpa e a inevitabilidade do evento.

Na hipótese de não ser possível identificar o causador do dano, entende-se que caberá ao
proprietário, público ou privado, ou até mesmo à administração da tutela, arcar com os
encargos da reparação. Cada caso deverá ser analisado individualmente, para que se julgue
possível e conveniente a reparação.

a) Por ação – caracteriza-se por ato ou atitude dolosa ou culposa, que provoque, direta
ou indiretamente, a lesão do bem.

209
b) Por omissão – caracteriza-se por ato ou atitude não praticadas, acarretando dano ao
bem, quer por ausência de comunicação do proprietário, poder público ou da empresa
privado à administração, quer pela ausência de ação dos órgãos responsáveis.

VI. POTENCIAL DE RECUPERAÇÃO

Refere-se à possibilidade técnica de recuperar o bem, de forma a resgatar as características


que determinaram a sua preservação. A possibilidade técnica da recuperação não implica
necessariamente a decisão, por meios administrativos ou judiciais, de sua recuperação. Para
aplicação desse critério, avaliam-se os bens arquitetônicos e as áreas naturais separadamente.

Para bens arquitetônicos, adota-se como referencial para avaliação da recuperação o conjunto
de características determinado pelo tipo de proteção; para áreas naturais, é possível contar
com a ação regeneradora do tempo, como elemento de avaliação desse critério.

a) Nulo: para bens arquitetônicos, quando inexistir a possibilidade de recuperação do bem


lesado. Para áreas naturais, quando a recuperação do bem lesado requisitar um dano a
outro bem, ou, quando a unidade considerada tenha perdido as condições mínimas de
sustentação de espécies ali ocorrentes, principalmente espécies ameaçadas de extinção.

b) Parcial: atribui-se apenas às áreas naturais, quando for possível a recuperação dos
elementos afetados, por processos naturais, induzidos, ou por ambos.

c) Integral: para bens arquitetônicos, quando a recuperação do bem for possível de forma
total. Pressupõe-se o domínio completo do conhecimento sobre como restituir o refazer
a parte afetada, tanto em termos técnicos quanto no tocante a materiais empregados.
Para áreas naturais, quando a recuperação do bem for possível em um grau muito
próximo à situação anterior ao dano, pelos próprios processos naturais.

VII. EFEITOS ADVERSOS DECORRENTES

Esse item refere-se ao registro dos reflexos negativos nas atividades e processo considerados,
decorrentes da lesão. A pontuação pode ser cumulativa, computando-se, no mínimo, o valor
atribuído ao subitem “e”, pois sempre estará presente o prejuízo à pesquisa.

a) Alteração da atividade de lazer: redução ou impedimento do exercício coletivo ou


individual das atividades de lazer relativas ao esporte, turismo e recreação.

b) Alteração de atividade econômica: perda ou redução das atividades econômicas


relacionadas ao bem lesado, nelas inclusas, dentre outras, a rede hoteleira e a prestação
de serviços turísticos.

210
c) Alteração de atividades culturais: perda, limitação ou impedimento das atividades de
cultura, tais como museologia, exposições, apresentações públicas, hábitos e costumes
de comunidades e etnias.

d) Alteração de processos naturais: prejuízos para as cadeias tróficas, biodiversidade e


equilíbrio ecossistêmico.
e) Prejuízo para a pesquisa (atual e futura): efeitos negativos às atividades de pesquisa e
conhecimentos, individual ou coletivamente adquiridos no processo educativo básico,
acadêmico, profissionalizante ou tão somente informativo.

Tabela 7.13.1 Grau de alteração em função do tipo de dano, área e nível de proteção do bem
lesado, para grandes áreas (acima de 500 ha)
Tipo de Areolares Pontuais Lineares Difusos ecológicos ou
dano - área (1) (2) (3) ecossistêmicos (4)
Nível de
> 1 ha 1 a 0,1ha < 1000m2 Estreitos Largos Ocasional Sistemático
proteção
P1 S G M G S G S
P2 G M P M G M G

Tipo de dano

(1) Areolares: derrubada expressiva de glebas para implantação de roça, pasto, obtenção
de lenha, construções, cortes, aterros e represamentos;
(2) Pontuais: abertura de pequenas parcelas de área para as mesmas finalidades do
areolar;
(3) Lineares-largos: construção de rodovias, ferrovias, dutos, sistemas de transmissão,
etc.; Lineares-estreitos: abertura de pequena trilha, vias simples, assoreamento de
canais, etc.;
(4) Difusos: prejudiciais para a cadeia trófica, biodiversidade e para o equilíbrio do
ecossistema:
a. Ocasionais: quando ocorridos de forma eventual;
b. Sistemáticos: quando ocorridos de forma planejada e contínua.

Nível de proteção
 P1: proteção integral;
 P2: proteção parcial.

Grau de alteração
 S: severo;
 G: grande;
 M: médio;
 P: pequeno.

211
Tabela 7.13.2 Grau de alteração em função do tipo de dano, área e nível de proteção do bem
lesado, para pequenas áreas (até 500 ha)
Tipo de Areolares Pontuais Lineares Difusos – ambientais
dano - área (1) (2) (3) (4)
Nível de
>1000m2 10 - 1000m2 < 10m2 Estreitos Largos Ocasional Sistemático
proteção
P1 S G M G S G S
P2 G M P M G M G

Tipo de Dano

(1) Areolares: derrubada expressiva de vegetação para realização de cortes, aterros,


represamentos e construções que impliquem no aumento da área impermeabilizada;

(2) Pontuais: abertura de pequenas parcelas de área para as mesmas finalidades do


areolar, implantação de pequenas construções e instalações de mobiliário urbano;

(3) Lineares – largos: construção de caminhos, calçadas, alamedas, dutos, sistemas de


drenagem, linhas de transmissão, etc.; Lineares – estreitos: abertura de pequena trilha,
vias simples, assoreamento de canais, etc.;

(4) Difusos: prejudiciais para as condições ambientais urbanas:


a. Ocasionais: quando ocorrido de forma eventual
b. Sistemático: quando ocorrido de forma planejada e contínua

Nível de Proteção

 P1: proteção integral


 P2: proteção parcial

Grau de Alteração

 S: severo
 G: grande
 M: médio
 P: pequeno

O enquadramento da situação verificada em cada um dos critérios estabelecidos corresponde


a uma pontuação atribuída a partir dos valores apresentados no Quadro 7.13.1.

212
Quadro 7.13.1 Valores para ponderação dos critérios de valoração de dano sobre bens culturais
ASPECTO PONTOS OBSERVAÇÕES
A – QUANTO A CARACTERIZAÇÃO DO BEM
I – TIPO DE PROTEÇÃO
a) Tombado 1,0
b) Em processo de tombamento 0,8
c) Através da lei de uso e ocupação solo 0,6
d) Integrante de área envoltório de bem 0,4
e) Inventariado/ cadastrado/ passível 0,2
II – GRAU DE ORIGINALIDADE Válido apenas para áreas naturais e
a) Único 0,8 tombadas e respectivas áreas
b) Raro 0,6 envoltórias
c) Recorrente 0,4
III – GRAU DE CONSERVAÇÃO Válido apenas para áreas naturais e
a) Bom 0,8 tombadas e espectivas áreas
b) Regular 0,4 envoltórias
c) Precário 0,2
B – QUANTO AO DANO CAUSADO AO BEM
IV – GRAU DE ALTERAÇÃO
a) Severo 2,0
b) Grande 1,5
c) Médio 1,0
d) Pequeno 0,5
V – CAUSA DO DANO
a) Por ação 1,0
b) Por omissão 0,5
VI – POTENCIAL DE RECUPERAÇÃO
a) Nulo 1,0
b) Parcial 0,6
c) Integral 0,2
VII – EFEITOS ADVERSOS DECORRENTES Atribuição pode ser cumulativa, caso
a) Alteração de atividade de lazer 0,5 os danos ocasionados repercutam
b) Alteração de atividade econômica 0,5 em mais de um dos itens
c) Alteração de atividade cultural 0,5 considerados
d) Alteração de processo natural 0,5
e) Prejuízos para pesquisa 0,5

Uma vez obtida a pontuação alcançada pela situação verificada, a mesma será aplicada na
expressão matemática apresentada abaixo, que definirá o valor monetário do dano causado.

( )
( )
onde:

213
 R = coeficiente de reincidência (¼ para o primeiro evento; ½ para a primeira
reincidência; 1 para segunda reincidência; 2 para terceira reincidência, progressão
geométrica de razão 2);

 V = valor monetário a ser adotado conforme as seguintes situações:

a) Para bens imóveis arquitetônicos rurais, igual ao custo local de uma construção
com as mesmas características técnicas e arquitetônicas da que foi danificada, a
ser apurado na fase pericial no curso da ação;

b) Para bens arquitetônicos urbanos, igual ao valor venal do imóvel, conforme


estabelecido anualmente pela administração municipal, corrigido mensalmente
pela variação UFIR, ou, por outro índice oficial, equivalente que venha substituí-la;

c) Para bens imóveis naturais rurais, igual ao valor de mercado da área, a ser apurado
na fase pericial no curso da ação;

d) Para bens imóveis naturais urbanos, igual ao valor venal do imóvel, como o item b.

 P = total de pontos obtidos pela aplicação do quadro 7.13.1.

Nos casos onde esse índice não for apurado, o valor da área será calculado a partir do valor do
metro quadrado do setor fiscal onde localiza-se o bem, conforme estabelecido anualmente
pela administração municipal, por planta genérica de valores ou instrumento semelhante.
Assim como no item b, esse valor deverá ser corrigido mensalmente

EXEMPLO
Contaminação de 10ha de uma área natural localizada em região urbana-industrial. Houve a
contaminação do solo, flora, água superficial e subterrânea, fauna terrestre e aquática. A
região envoltória, apesar de descaracterizada em relação ao estado original, é constituída por
um mosaico de paisagens onde existem banhados, florestas e corpo hídrico de boa qualidade.
A região, conforme a lei de uso do solo, apesar de antropizada, presta serviços ambientais
para a fauna local. O valor comercial da área que foi contaminada com produto tóxico, obtido
por pesquisa do mercado imobiliário, é igual a R$50,00/m2.

VALORAÇÃO DO DANO

A) Quanto as caracteríticas do bem afetado

I – Tipo de proteção: inventariado/ cadastrado/ passível de preservação (e);


II – Grau de originalidade: recorrente (c);
III – Grau de conservação: regular (b).

214
B) Quanto ao dano causado

IV – Grau de alteração: severo (a);


V – Causa do dano: por omissão (b);
VI – Potencial de recuperação: parcial (b);
VII – Efeitos adeversos decorrentes: (d + e).

C) Atribuição da pontuação

Aspectos de qualificação do dano Pontos


A – Quanto a caracterização do bem
I – Tipo de proteção
e) Inventariado/ cadastrado/ passível 0,2
II – Grau de originalidade
c) Recorrente 0,4
III – Grau de conservação
b) Regular 0,4
B – Quanto ao dano causado ao bem
IV – Grau de alteração
b) Grande 1,5
V – Causa do dano
b) Por omissão 0,5
VI – Potencial de recuperação
b) Parcial 0,6
VII – Efeitos adversos decorrentes
d) Alteração de processo natural 0,5
e) Prejuízos para pesquisa 0,5
Total (P) 4,60

( )
( )

R = 1,0 (segunda reincidência)

V = 100.000m2 x R$ 50,00 / m2 = R$ 5.000.000,00

(P + 1,4)/5 = (4,60 +1,40)/5 = 1,2

I = 1 x 5.000.000,00 x 10 1,2 = 5.000.000,00 x 15,85 = R$79.244.659,62

VALOR DO DANO = R$ 79.244.659,62

215
7.14 MODELO CUSTO VIAGEM - VALORAÇÃO DO DANO PARA PARQUES NATURAIS E
ÁREAS RECREAÇÃO

DIXON, J. A., et. al., “Analisis Economico de Impactos Ambientales”, 2ª Ed., Banco
Asiático de Desarrollo e Banco Mundial, Costa Rica, 1994

INTRODUÇÃO

Dentre os métodos indiretos existentes para a valoração de amenidades ambientais, o


Método do Custo Viagem (MCV) é um dos mais utilizados. A idéia do método é que os
gastos efetuados pelas pessoas para se deslocarem a um determinado local, geralmente
para lazer e para recreação, podem ser adotados como uma aproximação dos benefícios
proporcionados pela área de recreação.

Nesse método, utiliza-se o comportamento do consumidor em mercados relacionados


para valorar os bens ambientais que não têm valor de mercado explícito. Os gastos de
consumo incluem as despesas da viagem e preparativos (equipamentos, alimentação,
etc.), os bilhetes de entrada e as despesas realizadas no próprio local visitado.

Os problemas do MCV são: a) escolha da variável dependente para fazer a regressão; b)


viagens com múltiplos propósitos; c) identificação se o indivíduo é residente ou turista
eventual; d) cálculo do custo da distância; e) valorar o tempo; f) problemas estatísticos.

A aplicação do método geralmente está restrita à valoração de características peculiares


dos locais. O método é aplicado pelas agências governamentais americanas e tem sido
utilizado no Grã-Bretanha para valorar áreas de recreação e atividades ao ar livre, como
pescarias, caçadas, passeios de barco e visitas a florestas.

O método baseia-se na utilzação de questionários respondidos pelas pessoas existentes


na área de recreação, para coletar informações sobre os custos da viagem, determinar a
taxa de visitação e as características socioeconômicas dos entrevistados. Com base nos
dados coletados, estima-se a curva de demanda e o valor do excedente do consumidor.
Este último representa uma estimativa do valor econômico do local analisado.

EXEMPLO

Um parque natural recebe anualmente visitantes de cinco diferentes regiões. Para cada
região foi determinada a população, o número de visitantes (NV) e os custos da viagem
para visitar o parque (CV), sendo utilizandos formulários de perguntas. Os dados
coletados na área estudada estão apresentados na Tabela 7.14.1. Na Figura 7.14.1 está
apresentada a curva de demanda ajustada por regressão linear das variáveis número de
visitantes em função do custo da viagem ao parque valorado.

216
APLICAÇÃO DO MÉTODO

Os passos para estimativa do valor-de-uso do Parque pelo método do Custo Viagem são
os seguintes:

a) Ajuste da Curva de Demanda a partir dos Dados de NV e CV;


b) Determinação do valor máximo de CV;
c) Cálculo do Valor de Uso e Valor de Uso Ponderado;
d) Valoração do parque

Tabela 7.14.1 Dados coletados dos visitantes pela administração do Parque


Visitantes Visitas /1000 Custo Valor de Valor de Uso
Região População
(N) hab. (NV) Viagem (CV) Uso ($) Ponderado ($)
1 2.000.000 15.000 7,5 10 93,75 703,125
2 8.000.000 48.000 6,0 15 60,5 363,00
3 2.500.000 11.250 4,5 20 33,75 151,88
4 15.000.000 45.000 3,0 25 15,00 45,00
5 22.600.000 34.000 1,5 30 3,75 5,63
TOTAL 153.250 22,5 206,75 1.268,63

Curva de Demanda
35

30
1,5; 30
25
3,0; 25
20
4,5; 20
15
6,0; 15
10
7,5; 10
5

0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0

Figura 7.14.1 Ajuste linear dos dados coletados com as entrevistas

217
RESULTADOS

a) Ajuste da Curva Inversa de Demanda (modelo linear);


b) CV Máximo = 35 (pelo gráfico);
c) Cálculo do Valor de Uso e Valor de Uso Ponderado do Parque;
d) Valor Uso Ponderado = Valor de Uso x NV.

∑∫ ( ) ∑( )

Os resultados obtidos indicam que o valor-de-uso é R$56,38/visitante (=1.268,63/22,5),


no período. Tomando como base o número de visitantes no período considerado, o
valor do parque é R$8.640.235,00 (=15.3250 visitantes x R$56,38/visitante). Na verdade
esse valor corresponde apenas ao valor-de-uso do parque, que deverá ser somado aos
valores de opção e de existência do recurso natural avaliado.

218
7.15 MODELO DAP - VALORAÇÃO DO DANO POR ANÁLISE CONTIGENTE (VU + VE)

INTRODUÇÃO
Em alguns casos de valoração de recursos ambientais, os mercados de bens e serviços
ambientais não existem, não estão bem desenvolvidos e tampouco existem mercados
alternativos, que resulta na impossibilidade de valorar os efeitos de projeto ou impacto.
Uma alternativa viável nesses casos é usar os métodos de valoração contingentes (MVC).

A idéia básica dos MVC é que as pessoas têm diferentes graus de preferência ou gosto
pelos bens ou serviços, e isso se manifesta quando vão ao mercado e pagam quantias
específicas por eles; isto é, ao adquiri-los, expressam sua disposição a pagar (DAP) por
esses bens ou serviços. A estimativa do valor econômico a partir de funções de utilidade
também pode ser realizado pelo conceito da disposição a receber compensação (DAC).

MODELO DE DISPOSIÇÃO A PAGAR (DAP)


Primeiro: o modelo confronta a pessoa com uma situação de ameaça da perda do bem,
forçando-a a decidir por uma determinada alternativa (opção de contingência); segundo:
a opção é tratada como uma possibilidade de ocorrência; terceiro: depende da pessoa e
do número de indivíduos consultados.

Basicamente, o modelo determina o quanto as pessoas estariam dispostas a pagar para


não deixar de usufruir do recurso. O somatório do valor indicado por todos os indivíduos
consultados, no local de interesse, fornece um valor monetário para o recurso analisado,
contruindo uma função de demanda do recurso investigado.

MODELO DE DISPOSIÇÃO A RECEBER (DAR)


É semelhante ao anterior, porém inverte, de certa forma, a proposta do modelo anterior,
buscando descobrir quanto as pessoas exigiriam receber em troca da perda de um bem.
Em outras palavras, por quanto uma população “venderia” aquele recurso natural.

A operacionalização do MVC acontece pela aplicação de questionários cuidadosamente


elaborados para obter das pessoas os valores da DAP ou de receber compensação (DAR).
Existem diferentes formas de fazer isso, que resultam em diversas variantes: a) técnica
perguntas abertas (“open-ended”); b) técnica “bidding game”; c) modelo de referendo;
d) modelo referendo repetição (“follow-up”); e) contingente classificatório (“ranking”).

Os resultados dos questionários são obtidos e, posteriormente, analisados com modelos


econométricos, visando valores médios dos lances da DAP ou DAR. O MVC são aplicados
para: a) recursos de propriedade comum ou bens cuja excludibilidade do consumo não
pode ser realizada, tais como a qualidade do ar ou da água; b) recursos de amenidades,
como os que apresentam características paisagisticas culturais, ecológicas, históricas ou
singularidade; c) situações onde os preços de mercado estejam ausentes.

219
EXEMPLO DE ESTIMATIVA DO VALOR DE OPÇÃO DA PRAIA DO CASSINO

FINCO, M. V. A., “Instrumentos econômicos como ferramenta de valoração ambiental.


Caso de estudo: Praia do Cassino, Rio Grande/RS, Brasil”. Rio Grande: FURG, 2002, 94p.

INTRODUÇÃO

Segundo citado por Seroa da Motta, a estimativa do valor de opção (DAPT) de uma área
de recreação na forma aberta de pesquisa de opinião, pode ser obtida multiplicando-se
a disposição a pagar média (DAPMi) dos entrevistados pela população presente no local,
no período da pesquisa. A proporção é baseada na percentagem dos entrevistados que
se mostram dispostos a pagar um valor dentro do intervalo i correspondente a DAPMi.
Com base nesse conceito, a relação funcional empregada no estudo para obter o valor
de opção da Praia do Cassino foi

∑ ( ) ( )

Onde:

 DAPM = disposição a pagar média;


 ni = número de entrevistados dispostos a pagar;
 N = número total de pessoas entrevistadas;
 y = número de intervalos relativos às respostas quanto a DAP;
 i = um dos intervalos relativos às respostas quanto ao DAP;
 X = número de habitantes estimados na área no período da pesquisa.

RESULTADOS

Dos 234 questionários obtidos, 173 apresentaram resposta positiva quanto à disposição
a pagar pela preservação-conservação de bens e serviços gerados na praia do Cassino, e
61 apresentaram resposta negativa, isto é, não se dispuseram a pagar pela preservação
da amenidade ambiental, conforme mostra a Tabela 7.15.1.

Com os dados da referida tabela, e, mantendo-se os usuários que não se dispuseram a


pagar pela preservação da praia do Cassino (26%) de toda a população considerada no
cálculo da DAPT; o valor de opção da praia do Cassino obtido foi R$711.282,05, por mês,
no agregado. Observa-se, que o valor de opção encontrado para a amenidade ambiental
pode estar de certa forma relacionado ao valor de uso do recurso, já que o questionário
foi aplicado para os indivíduos que efetivamente usufruíram o recurso natural.

220
Tabela 7.15.1 Intervalo das séries de disposição a pagar média, número de entrevistas e
população da praia do Cassino na alta temporada (2001)
*
Intervalo (R$/mês) Média (DAP/ni) Pessoas (ni) % (ni/N) População Total

(1) 0,00 0,00 61 26


(2) 0,01 – 5,00 4,2 73 31,2
(3) 5,01 – 25,00 8,8 81 34,6
(4) 25,01 – 50,00 30,3 16 6,9
(5) 50,01 – 100,00 53,4 3 1,3
TOTAL 234 100 100.000
* população total que reside na Praia do Cassino durante a alta temporada, dados da Secretaria Municipal
de Habitação e Desenvolvimento – SMHAD (2001)

COMENTÁRIO

É importante observar que os métodos diretos de valoração econômica de bens naturais,


como, o modelo contingente descrito, se revestem de maior complexidade e rigor para
ajustar os dados coletados ao modelo econométricos. Nesse sentido, recomenda-se que
antes da aplicação desses modelos, estudar na literatura específica, os procedimentos e
metodologias adequadas para sua utilização.

221
7.16 MODELO CARDOZO - VALORAÇÃO DO DANO PARA COMPONENTE VALORÁVEL E
INTANGÍVEL

CARDOSO, A., R., A., “A Degradação ambiental e seus valores econômicos associados”,
Editor Sérgio Antonio Fabris, Porto Alegre, Brasil, 2003.

INTRODUÇÃO

Cardoso refere que o valor econômico de um dano ambiental pode ser obtido com duas
parcelas. A primeira, diz respeito às variáveis quantificáveis do dano ambiental (q). A
segunda, está relacionada às variáveis intangíveis (i) do dano ambiental.

As variáveis do modelo são todas aquelas que têm valor econômico mensurável, como,
por exemplo, os investimentos não realizados para a prevenção dos danos, os custo das
licenças ambientais e outras. As variáveis intangíveis são todas aquelas sem valor de
mercado estabelecido, como, por exemplo, o custo da morte de microorganismos, como
fungos e bactérias.

As variáveis intangíveis (i) são ponderadas com escala numérica de valores, no intervalo
de zero a quatro, em função da intensidade e tempo de duração dos impactos. Os pesos
dessa variável do modelo são:

a) Impacto de curto prazo (dias)

 Sem impacto = 0;
 Baixo impacto = 1;
 Médio impacto = 2;
 Alto impacto = 3.

b) Impacto de médio e longo prazo (meses, anos) = 4

A partir dos conceitos estabelecidos, pode-se estimar o Valor Econômico de Referência


do Dano Ambiental (VERD) através da equação:

α α
VERD  q  i
n1
n
n1
n

onde:
 VERD = valor econômico de referência do dano ambeintal;
  qn = somatório das variáveis economicamente quantificáveis;
  in = somatório das variáveis intangíveis ponderadas na escala de 0 a 4;
 n = número de variáveis consideradas na valoração, variando de 1......

222
Para estabelecer as variáveis intangíveis, o sistema ambiental é divido em componentes
físicos, bióticos e respectivas subclassess. As classes e as subclasses adotadas no modelo
de Cardoso são:

 Físico: incluí atmosfera, água, solo e sedimentos;


 Biótico: incluí reino monera, protista, fungi; animal; plantas; antôpico.

As subclasses adotadas no modelo de Cardozo são:

 Reino Monera: bactérias e cianobactérias;


 Reino Protista: protozoários (ameba, paramécio);
 Reino Fungi: musgos e liquens;
 Reino Animal: vertebrados (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos) e
invertebrados (planárias, besouros, minhocas, lesmas, caramujos, centopeias,
aranhas e ácaros) e;
 Reino das Plantas: vegetais superiores, intermediários (samambais) e inferiores
(algas verdes, vermelhas e pardas).

O valor econômico de referência do dano ambiental é estimado pela avaliação poderada


do impacto sobre as classes e subclasses dos componentes atingidos, multiplicando-se
os somatórios das variáveis quantificáveis e intangíveis.

EXEMPLO. Corte ilegal de mata nativa de preservação para extrair 56 m3 de madeira.

A. Variáveis economicamente quantificáveis

I. Multa da infração:
 Aplicada pelo órgão florestal pelo corte de 56m3 de lenha (R$10,00/m3);
 Valor da multa administraiva: q1 = 56m3 x R$10,00/m3 = R$560,00.

II. Custo da perícia solicitada pela justiça:


 Diárias: q2 = R$50,00;
 Combustível: q3 = R$30,00;
 5 horas técnicas: q4 = R$ 50,00.

III. Perda de receita financeira


 Perda de receita - taxa de autorizacão para o corte da madeira(R$50,00)
 Taxa de autorização: q5 = R$50,00

IV. Custo de elaboração do EIA/RIMA não realizado


 Estudo de impacto ambiental: q6 = R$5.000,00

223
Substituindo os valores das variáveis quantificáveis na equação VERD tem-se:

 qn = q1 + q2 + q3 + q4 + q5 = R$ 5.740,00 (cinco mil setecentos e quarenta reais)

B. Variáveis Intangíveis

Para avaliação das variáveis intangíveis utiliza-se a matriz apresentada na Tabela 7.16.1

Tabela 7.16.1 Ponderação das variáveis intangíveis do modelo de valoração


Componentes ambientais Tempo de permanência do impacto
Medio
Curto
Classes Subclasse N Longo
Sem (0) Baixo (1) Médio (2) Alto (3) (4)
Ar i1 1
Físico Água i2 1
Solo i3 4
Bactérias i4 1
Biótico Protozoários i5 1
Cogumelos i6
Invertebrado i7 1
Animal
Vertebrado i8 1
Arbóreo i9 4
Plantas Arbustivo i 10 4
Herbáceo i 11 4
Social i 12
Paisagem i 13 4
Antrôpico
Econômico i 14
Bem-estar i 15
Subtotal = 15 0 6 0 0 20
Total = 26

RESULTADO

Os dados da tabela indicam que foram identificadas 15 variáveis intangíveis, mas apenas
11 foram consideradas no cálculo do dano ambiental; 6 de baixo impacto e 5 de impacto
mais significativo. Assim, o valor do somatório das variáveis intangíveis é 26. A partir dos
resultados obtidos, obtém-se estimativa do valor econômico do dano ambiental

 
VERD   q n   in = R$ 5.740,00 x 26 = R$ 149.240,00
n 1 n 1

224
7.17 MODELO FAMB - VALORAÇÃO DO DANO PARA DEGRAÇÃO DE FATOR ECOLÓGICO

ROMANÓ, E., N., L., “Avaliação Monetária do Meio Ambiente”, Caderno do Ministério
Público Paraná, Curitiba, Paraná, v.2, n.5, p. 143 – 147, junho, 1999.

INTRODUÇÃO

Elma Romanó considera que a degradação do meio ambiente é a alteração adversa das
características sistema, e que a sua valoração é bastante complexa. Ela refere que, para
se avaliar os danos ambientais, deve-se considerar as variáveis impactadas para restituir
o estado original dos elementos ambientais que foram alterados pelo dano.

Segundo Elma, devem-se inicialmente determinar apenas os custos para se recuperar os


fatores ambientais sem incluir sua importância ecológica. Por exemplo, na avaliação do
dano devido à supressão de área florestal, deve-se considerar as etapas necessária para
a recomposição da região desmatada, incluíndo o solo, adubação, tratos culturais, mão-
de-obra para o plantio das mudas, aluguel das máquinas e combustíveis. O lucro obtido
com a madeira retirada também deve ser considerado na valoração do dano ambiental.

A determinação contábil das atividades necessárias para recomposição da área afetada


indica os recursos fianceiros necessários para a implantação de uma nova área florestal.
Deve-se, ainda lembrar que a nova área florestal levará no mínimo 30 para se recompor,
portanto, aos custos da recomposição devem-se associar outras variáveis ecológicas,
tais como o nível da degradação, desmate procedido de fogo, destoca, e outras.

Romanó refere que o preço da natureza é um conceito abstrato, mas de alguma forma
deve ser incluido na valoração do dano ambiental. Para tanto, no modelo proposto pela
autora, associa o “valor da natureza” ao parâmetro “Fator Ambiental’, que por definição
é igual ao valor dos custos de recuperação do dano.

Assim, no modelo de valoração proposto por Romanó, o valor econômico total do dano
ambiental é duas vezes o valor dos custos de recuperação do meio afetado, incluíndo o
valor do “Fator Ambiental”. Assim, a equação do modelo proposto tem a forma:

AV = (X + Y + Z + .....N) + FA
onde:
 AV = avaliação do dano ambiental (em unidades monetárias);
 (X, Y, Z, ...., n) = somatório dos custos das n atividades de recuperação do dano;
 FA = Fator Ambiental (valor de FA = valor dos custos de recuperação do dano).

Assim tem-se
AV = (X + Y + Z + ... + n) + (X + Y + Z + ... + n) * 100%

225
Na perícia ambiental requerida nas ações judiciais deve-se considerar eminentemente a
avaliação econômica de forma objetiva. O Fator Ambiental visa inclusão da relevância
ecológica do dano ambiental sobre a natureza.

ESTUDO DE CASO

I. Nome do proprietário: XXXXX;


II. Local de ocorrência do dano ambiental: Pitanga PR;
III. Histórico: XXXXX;
a. Autuações recebidas pelo proprietário: XXXX;
b. Auto de Infraçãonº 000000 – data: dd/mm/aaaa;
c. Enquadramento: queima de uma área de 6ha de mata de reserva
florestal

IV. Especificação do dano ambiental:


a. Constado pelo órgão ambiental do Estado do Paraná, o uso do fogo para
limpeza de 6 ha de mata nativa de reserva florestal.

V. Reparação do dano ambiental:

A reparação do dano ambiental deve restitui uma área de 6ha, conforme


autuação efetuada pelo órgão ambiental, através do isolamento da área com
cerca, plantio de mudas de essências nativas, adubação, condução das mesmas
até a fase adulta com os devidos tratos culturais e combate a insetos (não foi
objeto de análise dentro dos custos de recuperação)

VI. Memória de cálculo

a. Cálculo da área: 6 ha

b. Isolamento da área com cerca

1 ha ------ 10.000 m2
6 ha ------- x x = 60.000 m2 (área quadrada)

(60.000)1/2 = 244,94 m
244,94 m x 4 = 979,79 m de cerca.

c. Quantidade de arame farpado: Cerca com 5 fios.

226
5 x 979,79m = 4.898,95 m de arame farpado.
1 rolo ------ 500 m
X ------ 4.898,95 m x = 9,79 = l0 rolos.

d. Custo do arame farpado:

Custo de 1 rolo = R$ 40,00


10 rolos x 40,00 = R$ 400,00

e. Quantidade de palanques:

1 palanque a cada 2,00 m.


n° de palanques: 979,79/2 = 489,89 = 490 palanques.

f. Custo dos palanques:

1 palanque = R$ 1,61
1,61 reais x 490 = R$ 788,90

g. Quantidade e custo dos grampos para cerca:

Custo dos grampos: R$ 1,90/ kg de grampos


2 kg x R$ 1,90 = R$ 3,80

h. Custo de mão-de-obra para construção da cerca:

10 empregados fazem 200 buracos / dia

200 buracos ------1 dia


490 buracos ------ x x = 2,4 dias

1 diarista cobra R$ 20,00 / dia


R$ 20,00 x 10 empregados = R$ 200,00 / dia x 2,4 dias
Total = R$ 480,00

i. Quantidade de mudas necessárias:

1 muda a cada 4 m2 (espaçamento 2m x 2 m)


1 muda ----- 4 m2
y ----- 10.000 m2 y = 2.500 mudas / ha

2.500 mudas ----------1 ha


z ---------6 ha z = 15.000 mudas

227
j. Custo da mudas:
15.000 mudas x R$ 0,25 = R$ 3.750,00

k. Custo do coveamento das mudas (preparo e coveamento):

1 diarista faz 42 covas / dia durante 8hs de trabalho

42 covas ------------1 dia


15.000 covas -------y y = 350 dias

1 mês ----------- 42 covas x 20 (dias) = 840 covas / mês.

10 diaristas = 8.400 covas / mês.


15.000 / 8.400 = 2 meses para a confecção das covas.

Custo diarista = R$ 20,00 / dia x 20 dias = 400,00 / mês


10 diaristas x R$ 400,00 = R$ 4.000,00

l. Custo do preparo das covas e plantio das mudas:

1 diarista ------------ 100 mudas / dia


10 diaristas --------- y y = 1.000 mudas

1.000 mudas ------- 1 dia


15.000 mudas ------ x x = 15 dias

Custo de R$ 20,00 x 10 = 200,00 x 15 dias = R$ 3.000,00

m. Custo tratos culturais:

10 diaristas--------1 mês para realizar os tratos culturais

R$ 20,00/ dia x 10 diaristas = 200,00 x 20 / dias = 4.000,00 x 4 anos (até


que a muda esteja desenvolvida). = R$ 16.000,00

VII. Totalização dos Custos

a. Isolamento da área com cerca: (X)

X = 400,00 (custo do arame) + 788,90 (custo dos palanques) + 3,80 (custo


dos grampos) + 480,00 (mão-de-obra)
X= R$ 1.672,70

228
b. Plantio das mudas: (Y)

Y = 3.750,00 (custo das mudas) + 4.000,00(custo coveamento) + 3.000,00


(mão-de-obra)

Y= R$ 10.750,00

c. Tratos culturais: (Z)

Z = R$ 16.000,00 (mão-de-obra)

Valor Total = 1.672,70 + 10.750,00 + 16.000,00 = Total (X,Y,Z) = R$ 28.422,70

VIII. Avaliação ambiental

AV= (R$ 28.422,70)+ FA (fator ambiental)

AV =(R$28.422,70) + 100%

AV = R$ 28.422,70 + R$ 28.422,70 = R$ 56.843,40

IX. Conclusão

Nesse orçamento podem ser incluídos os custos de combate às formigas, adubação e a


madeira queimada no local. Assim, a parcela do valor subjetivo do dano é determinada,
considerando dessa forma a relevância do dano sobre a natureza. Conforme a autora, a
valoração econômica do dano ambiental realizado dessa forma não produz divergências
entre as partes. Na avaliação econômica do dano, pode-se também utilizar o preço do
hectare da região quando os valores de mercado não forem disponíveis. Nesse caso,
utiliza-se a mesma equação, mas, ao invés das variáveis X, Y, Z, faz-se o seguinte calculo:

AV= Área afetada (hectares) x (preço / hectare) – (valor de mercado) + FA (100%)


AV = 6 ha x R$ 4.500,00 + FA
FA = 6 ha x R$ 4.500,00
AV = 27.000,00 x 2
AV = R$ 54.000,00

229
1

7
7.1
7.2
7.3
7.4
7.5
7.6
7.7
7.8
7.9
7.10
7.11
7.12
7.13
7.14

230
7.15
7.16
7.17
7.18 MODELO DEPRN - VALORAÇÃO DO DANO PARA BENS NATURAIS COM
VALOR DE EXPLORAÇÃO

GALLI, F. “Valoração de Danos Ambientais – Subsídio para Ação Civil”, Série Divulgação e
Informação, 193, Companhia Energética de São Paulo, CESP, São Paulo, 1996.

I. INTRODUÇÃO

Este método de valoração foi desenvolvido pelo Departamento Estadual de Proteção de


Recursos Naturais (DEPRN), da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo,
com objetivo de atender a duas premissas básicas: elaborar um método de aplicação
prática, e que possa ser utilizado nas condições brasileiras.

II. METODOLOGIA

A método proposto é simples e de fácil de aplicação. O modelo de valoração econômica


do dano ambiental inclui o custo de recuperação do impacto, o valor de exploração dos
bens afetados e um conjunto de critérios, utilizados para qualificar os agravos do dano.

Os critérios de avaliação do dano são apresentados em duas tabelas. Na primeira tabela,


divide-se o meio ambiente em seis componentes: ar; água; solo e subsolo; fauna; flora e
paisagem. Para cada componente, considera-se dois tipos de dano e, para cada tipo de
dano, são aplicados os critérios de qualificação dos agravos associados aos danos.

Na vistoria de campo, inicalmente, indentificam-se os aspectos ambientais afetados, e a


tipologia do dano, para cada um deles. Em seguida, qualificam-se os agravos utilizando
critérios preestabelecidos. A tipologia do dano e os critérios de qualificação dos agravos
são determinados para cada um dos aspectos identificados na vistoria. Na Tabela 7.18.1
estão apresentados os apectos ambientais considerados, tipologia do dano e os critérios
de qualificação dos agravos.

Dessa forma, após a indentificação e qualificação do dano, o perito ambiental avaliador


obterá, para cada aspecto, o índice de qualificação dos agravos correspondente ao dano
ambiental em análise Na sequência, os índices de agravo obtidos na etapa anterior são
multiplicados pelos fatores apresentados na Tabela 7.18.2. Em seguida, faz-se a soma de
todos os fatores para se obter o fator de multiplicação. Finalmente, faz-se o produto do
fator de multiplicação e custo de recuperação/exploração, para estimativa de valor do
dano ambiental. A equação utilizada para esse cálculo tem a forma:

231
INDENIZAÇÃO =  (Fator de multiplicação) x Valor de Exploração

O valor de exploração é o preço de mercado dos bens apropriados ou lesados, objeto da


ação civil, como, por exemplo, o valor de mercado da tora ou lenha provenientes de um
desmatamento irregular, ou, ainda, o valor da areia proveniente de exploração irregular.
Para os bens que não têm valor de mercado estabelecido (p/ex: atmosfera; ecossistema
aquático, etc.), pode-se utilizar o custo de recuperação do recurso lesado, valorando o
dano ambienta através da equação:

INDENIZAÇÃO =  (Fator de multiplicação) x Valor de Recuperação

Nesse caso, o perito deverá estudar e indicar a técnica mais adequada de recuperação,
(controle de poluição atmosférica, recuperação de área desmatada, terraplanagem, etc.)
e, a partir dessa recomendação, estimar os custos financeiros de recuperação do dano.

Em determinadas situações, a valoração do dano, com o método do valor de exploração


ou recuperação torna-se difícil ou praticamente impossível. Um exemplo deste caso, é a
valoração do falecimento de animal, cuja espécie esteja ameaçada de extinção, ou lesão
de patrimonio público tombado.

Tabela 7.18.2 Indices de qualificação dos agravos para a valoração do dano

Aspectos ambientais Intervalo do índice de qualificação dos agravos

Ar  6,8  13,6  20,4  27,2  34,0

Água  7,2  14,4  21,6  28,8  36,0

Solo-subsolo  7,5  15,0  22,5  30,0  37,5

Fauna  6,4  12,8  19,2  25,6  32,0

Flora  6,6  13,2  19,8  26,4  33,0

Paisagem  8,0  16,0  24,0  32,0  40,0

Fator de multiplicação 1,6 3,2 6,4 12,8 25,6

232
Tabela 7.18.1 Descrição e qualificação dos agravos associados à tipologia do dano e aspectos ambientais estabelecidos no modelo
ASPECTO TIPO DE DANO DESCRIÇÃO E QUALIFICAÇÃO DOS AGRAVOS

Impacto causado pela


Dano ao
emissão de gases,
Toxicidade da Proximidade de Comprometimento do Morte ou dano à Morte ou dano patrimonio ou
partículas, agentes Áreas protegidas
emissão centros urbanos aquífero fauna à flora monumento
biológico, energia
natural
ATMOSFERA Impacto na dinâmica
Morte ou Morte ou Alteração da Previsão de
atmosférica ( x 1,5)
dano à fauna dano à flora qualidade do ar reequilíbrio
Impacto causado por Dano ao
Comprometi-
compostos químicos, Toxicidade da Dano ao solo e/ou Morte ou Morte ou dano patrimônio ou
mento do Áreas protegidas
físicos, biológico, energia emissão subsolo dano à fauna à flora monumento
aquífero
natural
Impacto na hidrodinâmica
Morte ou Morte ou Alteração da classe Alteração da vazão / Previsão de
ÁGUA ( x 1,5)
dano à fauna dano à flora do corpo hídrico volume de água reequilíbrio
Impacto causado por Dano ao
Comprometi-
agentes químicos, físicos, Toxicidade da Assoreamento de Morte ou Morte ou dano patrimônio ou Objetivando
mento do Áreas protegidas
biológicos e energia emissão corpo hídrico dano à fauna à flora monumento comercializa-ção
aquífero
natural
SOLO / Impacto na dinâmica Alteração na
Morte ou Morte ou Previsão de
SUBSOLO solo e/ou subsolo ( x 1,5) capacidade de uso da Dano ao relevo
dano à fauna dano à flora reequilíbrio
terra
Espécies
Áreas Objetivando
Dano aos indivíduos ameaçadas de Espécies endêmicas Fêmeas
protegidas comercialização
extinção
Impacto na dinâmica da
FAUNA Importancia Morte ou Alteração dos nichos Previsão de
comunidade ( x 1,5)
relativa dano à flora ecológicos reequilíbrio
Espécies Dano ao patrimonio Objetivando
Áreas Favorecimento da
Dano aos indivíduos ameaçadas de Espécies endemica ou monumento comercializa-
protegidas erosão
extinção Natural ção
Impacto na dinâmica da
FLORA Morte ou Importancia Alteração dos nichos Previsão de
comunidade ( x 1,5)
dano à fauna relativa ecológicos reequilíbrio
Áreas e/ou Dano ao
Proximidade de Comprometimen to Comprometi-mento Morte ou dano Morte ou dano
Dano à paisagem municípios Reversão do dano patrimônio
centros urbanos do aquífero do solo - subsolo à fauna à flora
protegidos monumento nat.
Dano ao patrimonio
PAISAGEM cultural, histórico, Proximidade de Reversão do Comprometimento do Comprometimen to Morte ou Morte ou
turistico, arquit., artístico centros urbanos dano aquífero do solo / subsolo dano à fauna dano à flora
( x 1,5)

233
III . CRITÉRIOS DE QUALIFICAÇÃO DOS AGRAVOS

1) AR
Os agravos descritos na linha Impacto na dinâmica atmoférica da Tabela 1, têm os seus
valores multiplicados por 1,5.

 Toxicidade da emissão (baseada na literatura)


 Comprovada = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposta = 1

 Proximidade de centros urbanos


 Centro urbano (com população  60.000 hab, distante até 10km = 2
 Centro urbano (com população  60.000 hab, distante até 25km = 1

 Localização em relação à área protegida (unidades de conservação)


 Dentro da área = 2
 Sob influência = 1

 Comprometimento do aqüífero, decorrente do dano ao ar


 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Morte ou dano à fauna, decorrente do dano ao ar


 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Morte ou dano à flora, decorrente do dano ao ar


 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Dano ao patrimônio cultural histórico, artístico, arqueológico e turístico e/ou a


monumentos naturais, decorrente do dano ao ar

 Comprovado = 2
 Suposto = 1

234
 Alteração da qualidade do ar
 Estado de emergencia = 3
 Estado de alerta = 2
 Estado de atenção ou péssimo = 1

 Previsão de reequilíbrio (quando não é possível a previsão a curto prazo, utilizar


o critério de custo de recuperação ou custo dos equipamentos preventivos, na
seguinte ordem: baixo custo = 1; médio custo = 2; alto custo = 3).

 Curto prazo = 1
 Médio prazo = 2
 Longo prazo = 3

2) ÁGUA

Os agravos descritos na linha de impacto na hidrodinâmica (alteração do fluxo e/ou


vazão) da Tabela 1, têm seus valores multiplicados por 1,5.

 Toxicidade da emissão (baseada na literatura)


 Comprovada = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposta = 1

 Comprometimento do aqüífero
 Comprovado = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposto = 1

 Localização em relação às áreas protegidas (unidades de conservação)


 Dentro = 3
 Na mesma bacia hidrográfica a montante = 2
 Na mesma bacia hidrográfica a jusante = 1

 Dano ao solo e/ou subsolo, decorrente do dano à água


 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Morte ou dano à fauna, decorrente do dano à água


 Comprovado = 2
 Suposto = 1

235
 Morte ou dano à flora, decorrente do dano à água
 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Dano ao patrimônio cultural histórico, artístico, arqueológico e turístico e/ou a


monumentos naturais, decorrente do dano à água

 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Alteração da classe do corpo hídrico (baseado na Resolução do CONAMA)

 Comprovado = 3

 Alteração na vazão / volume de água


 Significativa = 2
 Não significativa = 1

 Previsão de reequilíbrio na condição natural (quando não é possível a previsão a


curto prazo, utilizar o critério de custo de recuperação ou custo dos
equipamentos preventivos, na seguinte ordem: baixo custo = 1; médio custo = 2;
alto custo = 3)

 Curto prazo = 1
 Médio prazo = 2
 Longo prazo = 3

3) SOLO E SUBSOLO

 Toxicidade da emissão (baseada na literatura)


 Comprovada = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposta = 1

 Comprometimento do aqüífero, decorrente do dano ao solo/subsolo


 Comprovado = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposto = 1

 Localização em relação às áreas protegidas

236
 Totalmente inserido = 2
 Parcialmente inserido = 1

 Assoreamento de corpos hídricos


 Grande intensidade = 3
 Média intensidade = 2
 Pequena intensidade = 1

 Morte ou dano à fauna, decorrente do dano ao solo/subsolo


 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Morte ou dano à flora, decorrente do dano ao solo/subsolo

 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Dano ao patrimônio cultural histórico, artístico, arqueológico e turístico e/ou a


monumentos naturais, decorrente do dano ao solo/subsolo

 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Objetivando a comercialização
 Atividade principal ou secundária = 1

 Alteração na capacidade de uso da terra


 Em mais de uma classe (p/ex: classe 1 para 3) = 3
 Em uma classe = 2
 Na mesma classe de uso (subclasses) = 1

 Danos ao relevo (alteração da declividade, desmoronamento, etc.)

 Ocorrido = 3
 Grande risco = 2
 Pequeno risco = 1

 Previsão de reequilíbrio na condição natural (caso não haja possibilidade de


previsão do prazo, utilizar os critérios de custo de recuperação na seguinte

237
ordem: baixo custo (menor que o da exploração) = 1; médio custo (equivalente
ao da exploração) = 2; alto custo (maior que da recuperação) = 3

 Curto prazo = 1
 Médio prazo = 2
 Longo prazo = 3

4) FAUNA

Os agravos descritos na linha de impactos na dinâmica da comunidade da Tabela 1, têm


seus valores multiplicados por 1,5.

 Localização em relação às áreas protegidas


 Dentro = 3
 No raio de ação do animal = 2

 Ocorrência de espécies ameaçadas de extinção (Baseada na Portaria do IBAMA


No 1522 de 19/12/89)

 Comprovada = 3
 Suposta = 2

 Ocorrência de espécies endêmicas


 Comprovada = 2
 Suposto = 1

 Ocorrência de fêmeas
 Prenhas ou ovadas = 3
 Comprovada = 2
 Suposto = 1

 Objetivando comercialização

 Atividade principal = 3
 Atividade secundária = 2

 Importância relativa
 Espécie que não de reproduz em cativeiro = 3
 Espécie que se reproduz em cativeiro = 2
 Espécie criada comercialmente = 1

238
 Morte ou dano à flora, decorrente do dano à fauna

 Comprovado = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposto = 1

 Alteração nos nichos ecológicos


 Comprovada = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposto = 1

 Previsão de reequilíbrio (natural, caso não haja possibilidade de previsão de


prazo, utilizar como critério: outras espécies = 1; espécies endêmicas = 2;
espécies ameaçadas = 3)

 Longo prazo = 3
 Médio prazo = 2
 Curto prazo = 1

5) FLORA

Os agravos descritos na linha impacto na dinâmica da comunidade da Tabela 1, têm


seus valores multiplicados por 1,5. Para maciços maiores que 0,1ha, deve-se analisar
os danos aos indivíduos e a comunidade.

 Localização em relação às áreas protegidas

 Totalmente inserido = 3
 Parcialmente inserido = 2

 Ocorrências de espécies ameaçadas de extinção (Portaria IBAMA No 1522 de


19/12/89)

 Comprovada = 3
 Suposta = 2

 Ocorrência de espécies endêmicas (baseado em literatura)


 Real ocorrência = 3
 Suposta ocorrência = 2

239
 Favorecimento à erosão

 Comprovada = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposta = 1

 Dano ao patrimônio cultural histórico, artístico, arqueológico e turístico e/ou a


monumentos naturais, decorrente do dano à flora

 Comprovado = 2
 Suposto = 1

 Objetivando a comercialização
 Atividade principal = 2
 Atividade secundária = 1

 Morte ou dano à fauna, decorrente do dano à flora


 Comprovada = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposto = 1

 Importância relativa. Possibilidade de ocorrência na região de parcela similar


qualitativamente e quantitativamente à área degradada (estudar paisagem)

 Área 30 vezes maior que a área degradada = 3


 Área entre 10 e 30 vezes a área degradada = 2
 Área até 10 vezes maior a área degradada = 3

 Alteração nos nichos ecológicos

 Comprovada = 3
 Fortes indícios = 2
 Suposto = 1

 Previsão de reequilíbrio (caso não seja possível a previsão de prazo, analisar o


estágio de regeneração: inicial = 1; médio = 2; avançado = 3)

 Longo prazo = 3
 Médio prazo = 2
 Curto prazo = 1

240
6) PAISAGEM
Os agravos descritos na alínea dano ao patrimônio cultural, histórico, artístico e turistico
(legalmente constituído, tombado pelo CONDEPHAAT ou SPHAN), da Tabela 1 têm seus
valores multiplicados por 1,5.

 Localização em relação à área ou município protegidos (unidade de conservação)


 Dentro = 3

 Proximidade de centros urbanos


 Centro urbano com população  a 60.000 hab, distante até 10km = 3
 Centro urbano com população  a 60.000 hab, distante até 25km = 2
 Centro urbano com população  a 60.000 hab, distante até 50km = 1

 Reversão do dano
 Alto custo = 3
 Médio custo = 2
 Baixo custo = 1

 Comprometimento do aquífero (estudar o aspecto água)


 Diretamente relacionado = 2
 Não diretamente relacionado = 1

 Comprometimento do solo / subsolo (estudar o aspecto solo/subsolo)


 Diretamente relacionado = 2
 Não diretamente relacionado = 1

 Morte ou dano à fauna (estudar o aspecto fauna)


 Diretamente relacionado = 2
 Não diretamente relacionado = 1

 Morte ou dano à flora (estudar o aspecto flora)


 Diretamente relacionado = 2
 Não diretamente relacionado = 1

 Dano ao patrimônio cultural, histórico, artístico, arqueológico e turístico, e/ou


cultural
 Tombado pelo CONDEPHAAT = 2
 Não tombado = 1

241
IV. ESTUDO DE CASO

A curadoria de meio ambiente de São José dos Campos moveu a ação civil pública por
dano ambiental contra uma empresa de empreendimentos imobiliários, que desmatou
25ha de mata Atlântica remanescente, para a implantação de um loteamento, com área
superior a 100ha, sem licença ambiental.

Durante a vistoria da área, o assitente técnico da Promotoria avaliou a importância da


vegetação destruída, caracterizada após análise de restos vegetais e remanescentes
contíguos, como mata secundária, de porte arbóreo, com altura média em torno de
10m, e sub-bosque (estrato arbustivo e herbáceo) denso.

Constatou, ainda, que os restos de vegetação seriam queimados e enterrados no local. A


terraplanagem realizada em 10ha deixou a área suceptível à erosão, por assoreamento
do riacho que corta o loteamento. A valoração do dano foi realizada pelo assistente
técnico, utizando a metodologia do DEPRN, conforme apresentado a seguir.

I. CÁLCULO DO FATOR DE MULTIPLICAÇÃO

a) Água: Impacto na hidrodinâmica (x 1,5)

 Morte ou dano à fauna


- suposto ................................................. 1 x 1,5 = 1,5

 Morte ou dano à flora


- suposto ................................................. 1 x 1,5 = 1,5

 Alteração da vazão / volume de água


- significativa........................................... 2 x 1,5 = 3,0

 Previsão de reequilíbrio
- longo prazo ........................................... 3 x 1,5 = 4,5

Índice numérico = 1,5 + 1,5 + 3,0 + 4,5 = 10,5


Fator de multiplicação (Tabela 2) = 3,2

b) Solo e subsolo: Impacto na dinâmica do complexo solo e subsolo (x 1,5)

 Morte ou dano à fauna


- suposto ................................................... 1 x 1,5 = 1,5

 Morte ou dano à flora


- suposto ....................................................1 x 1,5 = 1,5

242
 Alteração da capacidade de uso da terra
- na mesma classe de uso .......................... 1 x 1,5 = 1,5

 Dano ao relevo
- grande risco ............................................. 2 x 1,5 = 3,0

 Previsão de reequilíbrio
- longo prazo .............................................. 3 x 1,5 = 4,5

Índice numérico = 1,5 + 1,5 + 1,5 + 3,0 + 4,5 = 12,0


Fator de multiplicação (Tabela 2) = 3,2

c) Fauna: Impacto na dinâmica da comunidade (x 1,5)

 Alteração dos nichos ecológicos


- comprovada ............................................. 3 x 1,5 = 4,5

 Previsão de reequilíbrio
- longo prazo .............................................. 3 x 1,5 = 4,5

Índice numérico = 4,5 + 4,5 = 9,0


Fator de multiplicação (Tabela 2) = 3,2

d) Flora: Impacto na dinâmica da comunidade (x 1,5)

 Morte ou dano à flora


- fortes indícios ............................................. 2 x 1,5 = 3,0

 Importância relativa
- área até 10 x maior que a degradada .......... 1 x 1,5 = 1,5

 Alteração dos nichos ecológicos


- comprovada ................................................ 3 x 1,5 = 4,5

 Previsão de reequilíbrio
- longo prazo ................................................. 3 x 1,5 = 4,5

Índice numérico = 3,0 + 1,5 + 4,5 + 4,5 = 13,5


Fator de multiplicação (Tabela 2) = 6,4

e) Paisagem: Dano a Paisagem

 Localização em áreas protegidas


- dentro ....................................................................... 3,0

243
 Proximidade de centro urbano
- centro urbano (sup. 60.000 hab.)
distante até 10km ..................................................... 3,0

 Reversão do dano
- alto custo .................................................................. 3,0

 Comprometimento do aquífero
- diretamente relacionado ........................................... 2,0

 Comprometimento do complexo solo – subsolo


- diretamente relacionado ....................................... 2,0

 Morte ou dano à flora


- diretamente relacionado ....................................... 2,0

Índice numérico = 3,0 + 3,0 + 3,0 + 2,0 + 2,0 + 2,0 + 2,0 = 17,0
Fator de multiplicação (Tabela 2) = 6,4

 (Fator de multiplicação) = 3,2 + 3,2 + 3,2 + 6,4 + 6,4 = 22,4

II. CÁLCULO DO VALOR DE RECUPERAÇÃO

Para a determinação dos custos de recuperação da área degradada foram considerados


os serviços de reafeiçoamento e preparo do terreno, na área correpondente a 10ha,
onde foi realizada terraplanagem e, a recomposição da área desmatada de 25ha.

O reafeiçoamento do terreno, além de possibilitar o controle da drenagem e a redução


da erosão do solo, facilita a mecanização das demais operações de preparo do solo e
plantio. Incluí-se nesta operação a contrução de terraços, que evita a formação de
enxurrada, facilita a infiltração da água no solo e o desenvolvimento das mudas.

Para a recomposição vegetal da área deve-se ter como objetivo a recosntrução da


estrutura e a composição original da vegetação anterior, resguardando a diversidade
das espécies e representatividade genética das populações.

Tratando-se, entretanto, de área que sofreu profundas modificações, principalmente,


em função da terraplanagem, a formação da floresta com as mesmas caracteeríticas da
original é praticamente impossível. A estimativa dos custos da recomposição vegetal,
correspondente as etapas de implantação e manuntenção da vegetação para a sua
consolidação é indicada no Quadro 7.18.1.

244
III. VALOR DE RECUPERAÇÃO E CÁLCULO DO DANO

A partir do custo de recuperação, indicado no Quadro 7.18.1, de R$ 60.391,70 (secenta


mil trezentos e noventa e um reais e setenta centavos), pode-se calcular o valor do
dano ambiental para a indenização. Aplicando a relação abaixo tem-se

INDENIZAÇÃO =  (Fator de multiplicação) x Valor de Recuperação


INDENIZAÇÃO = 22,4 x R$ 60.391,70 = R$ 1.352.774,08
VALOR DO DANO AMBIENTAL = R$ 1.352.774,08

Quadro 7.18.1. Custos financeiros de recuperação da área degradada


Custo Custo/ha Área Subtotal
Operação Equipamentos Unidade
unitário (R$) (R$) (ha) (R$)
1. Reafeiçoamento
- Terraceamento D6 16h/ha 105,00 1.680,00 10 16.800,00
-Manut. Terraços D6 2h/ha 105,00 210,00 10 2.100,00
2. Preparo do Solo
- Subsolagem D6 4h/ha 50,00 200,00 10 2.000,00
- Calagem Trator agrícola 3h/ha 16,00 48,00 10 480,00
- Gradagem leve Trat. agr.+ grade 3h/ha 16,00 48,00 10 480,00
3. Recomposição Florestal
- Combate à formiga 30ho.h/ha 1,40 42,00 15 630,00
- Marcação de covas 10ho.h/ha 1,40 14,00 15 210,00
- Coveamento 150ho.h/ha 1,40 210,00 15 3.150,00
- Adubação 15ho.h/ha 1,40 21,00 15 315,00
- Distribuição mudas 25ho.h/ha 1,40 35,00 15 525,00
- Transporte material Trator + carreta 3h/ha 16,00 48,00 15 720,00
- Plantio 75ho.h/ha 1,40 105,00 15 1575,00
- Replantio 30ho.h/ha 1,40 42,00 15 630,00
- Roçada roçadeira 2h/ha 16,00 32,00 15 480,00
- Capina na linha 100ho.h/ha 1,40 140,00 15 2.100,00
- Adubação cobertura 15ho.h/ha 1,40 21,00 15 315,00
4. Insumos
- Calcáreo 3t/ha 65,00 10 650,00
- Fertilizante 450kg/ha 0,51 220,50 15 3.442,50
- Formicida 12kg/ha 1,20 14,40 15 216,00
- Mudas 2.222/ha 0,64 1.422,00 15 21.342,00
- Mudas (replantio) 222/ha 064 142,08 15 2.131,20
TOTAL (R$) 60.391,70
ho . h / ha : homem / hora / hectare

IV. CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que o valor do dano é R$ 1.352.774,08.

245
CAPÍTULO 8 CONCLUSÕES

O objetivo do trabalho foi apresentar os conhecimentos básicos da perícia ambiental.


No primeiro capítulo foram discutidas a classificação, as características e os benefícios
que derivam dos recursos naturais. As sistemáticas para avaliar o potencial ecológico e
o estado de conservação dos recursos naturais também foram apresentadas. A partir
dos conceitos apresentados pode-se concluir que os recursos naturais são importantes
para o homem, e que o dano ambiental altera seu estado de conservação reduzindo os
benefícios fornecidos pelo capital natural.

Com base nas idéias veiculadas no segundo capítulo, pode-se concluir que no direito
ambiental o interesse social está acima do individual. É possível inferir que o principio
da prevenção é o mais importante ordenamento jurídico, e quando uma pessoa física
ou jurídica prejudica o ambiente deve ser responsabilizada nas esferas administrativa,
civil e penal. Conclui-se que as leis de crimes ambientais e de responsabilidade objetiva
foram avanços significativos da legislação ambiental no país.

No terceiro capítulo foram apresentados os aspectos técnicos da perícia ambiental e as


funções do perito e do assistente técnico de perícia. A partir das informações, chega-se
a conclusão que o perito é pessoa de confiança do juiz, e os assistentes técnicos devem
ajudar o perito para obter a prova, responder aos quesitos e para elaborar o laudo. Na
perícia não se admite falsidade de informações e, portanto, os padrões morais e éticos
dos peritos e assistentes devem estar acima de qualquer questionamento. O laudo e o
parecer técnico devem ser claros e conclusivos, devem apresentar as provas periciais,
as respostas aos quesitos solicitados, a perspectiva de evolução da situação avaliada,
as conclusões e as recomendações necessárias para auxiliar a decisão da justiça.

No quarto capítulo foram discutidas a definição de impacto e dano ambiental. Assim,


chega-se a conclusão que impacto negativo significa dano ambiental. Além disso, foi
possível concluir que o dano ambiental tem tipologia e pode ser avaliado, com técnicas
específicas, de forma qualitativa e quantitativa. A partir das informações descritas, foi
possível perceber que antes de valorar os danos é necessário identificar e classificar os
impactos, considerando importância e magnitude, principalmente àqueles que trazem
riscos potenciais à saúde da população.

O quinto capitulo apresentou o conceito, a delimitação e os componentes de avaliação


do dano ambiental. A partir das informações, conclui-se que a valoração econômica do
dano ambiental compreende aspectos biofísicos e sociais. Os aspectos biofísicos estão
associados aos custos dos materiais e mão-de-obra necessários para a recuperação do
estado de conservação dos recursos alterados pelo dano, enquanto os aspectos sociais
representam às perdas dos benefícios fornecidos pelos mesmos. A partir dos exemplos
apresentados, infere-se que o valor econômico do dano social é, na maioria dos casos,
maior que o biofísico. Conclui-se que o valor econômico total do dano ambiental é a
soma do dano biofísico e social.

A equação e os métodos estabelecidos pela NBR14653-6 da ABNT para a valoração de


recursos naturais e abientais no país foram descritos no sexto capítulo. Sobre a norma,
foi possível concluir que os serviços de valoração dos recursos naturais e ambientais
devem ser realizados pelo perito com a equação VERA.

245
Apesar da equação VERA ser a expressão mais utilizada para a valoraração de recursos
ambientais, os métodos para determiná-la, para certos casos de perícia ambiental, não
são viáveis, considerando os recursos financeiros e tempo disponíveis para executar a
perícia. Pode-se concluir que a relação VERA proposta pela ABNT para a valoração de
recursos, provavelmente, será a metodologia mais utilizada nas perícias ambientais,
mas, dependendo do caso, outros modelo poderão ser aplicados para esta finalidade.

Os métodos e modelos de valoração econômica de danos ambientais apresentados no


sexto capítulo foram obtidos pelo autor pela pesquisa da literatura técnica nacional e
internacional, nos órgãos e intitutos de fiscalização e controle ambiental, centros de
apoio às promotorias de justiça, acervos públicos, etc. A partir desse trabalho pode-se
afirmar que não foi encontrado um método ou modelo generalizado para a valoração
econômica dos danos ambientais. Isto significa que, a valoração econômica dos danos
ambientais é uma área recente e novas propostas precisam ser desenvolvidas.

A dificuldade para se elaborar um modelo ou metodologia generalizada está associada


à quantidade e a diversidade de elementos presentes no sistema ambiental. Além do
mais, a falta de conhecimento sobre os complexos processos e funções ecossistémicas
também dificulta o desenvolvimento de método universal para a valoração dos danos
ambientais. Assim, chega-se a conclusão final de que a valoração econômica dos danos
ambientais é um desafio para os técnicos e pesquisadores da área ambiental, e aquele
que conseguir vencê-lo, certamente, deixará o nome registrado na história.

246
ANEXOS

251
ANEXO I – PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE AMOSTRAS AMBIENTAIS

AMOSTRAGEM DE ÁGUA SUPERFICIAL

Sempre que o efluente ou produtos derramados em um acidente atingirem um corpo hídrico,


seja córrego, rio, lago ou reservatório, é necessário coletar amostras da água. Para que se
possa determinar e quantificar o impacto do contaminante no corpo hídrico é importante que
se colete amostras no local de incorporação do contaminante no corpo hídrico, à montante do
local do acidente, para caracterizar a qualidade da água antes dela receber a influência do
produto e a jusante do local do vazamento para caracterizar o impacto.

Além dos 3 pontos de coleta obrigatória, recomenda-se também coletar amostras em outros
trechos do corpo hídrico afetado. Os parâmetros analisados são: pH, oxigênio dissolvido (OD),
condutividade e a temperatura do meio e da amostra. Para acidentes com óleo, não se pode
medir o pH e OD, o produto danifica o equipamento. A medição da temperatura é obrigatória.

Instruções para Coleta das Amostras de Água Superficial

Realizar a coleta da amostra com balde descartável previamente enxaguado duas vezes com a
água do próprio corpo hídrico que será investigado. Caso o acesso ao corpo hídrico seja difícil,
utilizar uma corda na alça do recipiente (balde). Coletar a amostra a 20 cm de profundidade,
imergindo balde ou frasco em contra- corrente ou provocando o efeito movendo lentamente o
frasco em contracorrente. Uniformizar o conteúdo com agitação e encher os frascos.

Utilizar um recipiente novo (balde) para cada amostra para evitar a contaminação da amostra
seguinte com os resíduos da anterior. No final da coleta, furar os recipientes antes de
encaminhá-los para descarte. Na falta de baldes descartáveis, coletar a amostra com o próprio
frasco. Nunca deixar os recipientes contaminados intactos ou perto da população, para não
serem utilizados no transporte e consumo de água.

Preservação das Amostras de Água Superficial

Para que as características das amostras não sofram alterações é necessário preservá-las de
forma adequada. Isto é feito com adição de reagentes químicos (o reagente depende do
parâmetro que se quer preservar para análise) e refrigeração (conservando amostras em gelo).

AMOSTRAGEM DE EFLUENTES LÍQUIDOS

De acordo com as normas, todos os efluentes de uma atividade devem ser lançados num só
ponto do corpo receptor. Antes da coleta, deve ser verificado o atendimento dessa condição,
isto é, se não há pontos de lançamento clandestinos. Todos os pontos de lançamento
(clandestinos ou não) devem ser amostrados e devidamente identificados nos frascos e fichas.
Para avaliação das características do efluente final a amostra deve ser coletada pouco antes de
atingir o corpo receptor. Se for necessária a determinação do impacto do efluente sobre o
corpo receptor, coletar outras duas amostras, uma a montante do lançamento e outra a
jusante.

252
AMOSTRAGEM DO SOLO

O reconhecimento do solo contaminado por produtos líquidos é feito pela alteração da cor ou
presença de odor. Cuidado para não se intoxicar. Os produtos sólidos são evidentes. Os locais,
profundidade e a quantidade de amostras são variáveis.

Profundidade de Amostragem

A profundidade para a coleta da amostra depende do uso do solo. As profundidades indicadas


abaixo são as recomendadas quando a contaminação é superficial. No caso de suspeita de
contaminação abaixo de 1,0m do nível do solo ou contaminação da água subterrânea a coleta
deve ser realizada por técnicos especializados.

Quantidade de Amostras

O número de amostras depende do tamanho da área contaminada. Nas áreas muito extensas
faz-se necessária a realização de um plano de amostragem. Para se determinar do número de
amostras, o procedimento mínimo é o seguinte:

 Estimar ou medir a área a ser amostrada;


 Montar uma malha regular de amostragem na área contaminada,
 Subdividir a área contaminada em quadrados, chamados de subáreas;
 A proporção de divisão é 1m2 para cada 10 m2 de área contaminada;
 Realizar uma coleta de amostra no centro aproximado do quadrado;

Nos casos de contaminação linear, coletar uma amostra a cada 5 metros.

Amostragem de Solo Testemunha

Coletar amostra de solo testemunha antes da coleta do solo contaminado. O solo testemunha
deve apresentar as mesmas características, como cor e textura, do solo contaminado. Dar
preferência a solos não cultivados, sem ação antrôpica, distante de qualquer influência de
estradas ou de uso de agrotóxicos. O material para coleta de solo testemunha deve ser
utilizado somente para esta finalidade e a coleta da amostra testemunha deve ser realizada na
mesma profundidade das demais.

AMOSTRAGENS DE ANIMAIS

Verificar sempre se há mortandade de animais (peixes, aves, anfíbios, pequenos mamíferos ou


animais de grande porte) que possa ter ocorrido como conseqüência do acidente ou
lançamento. Se a constatação for positiva, anotar na ficha de coleta as espécies de animais e
quantidades estimadas. Em seguida, planejar a coleta de amostras representativas.

Instruções para Coleta de Aves

No caso de acidentes com óleo deve-se evitar a limpeza dos indivíduos, pois esta medida pode
acarretar problemas para as aves. Estas devem ser envolvidas em panos ou mesmo em jornal
(que é um excelente isolante térmico) e encaminhadas imediatamente em caixas de papelão,
ou outra forma disponível de transporte, para o hospital veterinário conveniado para o

253
atendimento em acidentes ambientais ou centro de reabilitação preparado para receber
animais nestes casos.

Os indivíduos mortos devem ser coletados, envolvidos em sacos plásticos e jornais e


condicionados em recipientes de isopor com gelo. Informações como o local da coleta, data e
nome do coletor, entre outras, devem ser anotadas e colocadas junto ao material e,
posteriormente encaminhados ao órgão competente. É interessante que seja descrita a forma
como foram encontrados os espécimes. A quantidade tanto de indivíduos quanto de espécies
é um elemento básico para a elaboração do parecer e laudo técnico.

Devem ser observadas as aves vivas que estejam freqüentando o local do acidente e
adjacências, os aspectos do seu comportamento e aquelas que se encontram manchadas com
óleo ou outro produto. O porte, tamanho aproximado, coloração, forma e tamanho do bico,
enfim, características que possam ser usadas para uma possível distinção da espécie ou grupo
taxonômico também devem ser registradas.

Instruções para Coleta de Anfíbios

Raramente são encontrados em acidentes ambientais, porém se observados mortos ou


moribundos devem ser coletados e transportados em vidros com álcool a 40%. Anotar as cores
de cada espécie coletada antes da fixação.

Instruções para Coleta de Invertebrados

Os invertebrados que devem ser coletados são os anelídeos (minhocas), insetos (besouro,
mosquito, louva-a-deus), crustáceos (siri, caranguejo), moluscos (ostra, mexilhão, berbigão),
nematódeos (vermes do solo). Eles podem ser acondicionados em vidros, separados em sacos
plásticos e colocados todos em um mesmo frasco.

Os frascos devem ser devidamente identificados com local de coleta, data e nome do coletor
para serem posteriormente encaminhados para o órgão competente. É interessante que seja
descrita a forma como foram encontrados os espécimes.

Instruções para Coleta de Animais de Grande Porte

Nos casos de acidentes ambientais, inclusive aqueles com óleo, é raro encontrar mamíferos de
médio e grande porte mortos ou moribundos. Porém, se encontrados, devem ser colocados
em sacos plásticos (sacos de 100L de lixo que servem para este propósito), envolvidos em
jornal e acondicionados em caixas de isopor compatíveis com o seu tamanho.

Em seguida devem ser encaminhados ao laboratório já contatado e autorizado para proceder


às análises relativas à necropsia. Eventualmente podem ser encontrados vestígios de animais
que tiveram contato com óleo, nas margens de corpos hídricos e outros substratos, os quais
deverão ser descritos e encaminhados para avaliação.

Instruções para Coleta de Peixes

Coletar os peixes ainda vivos ou moribundos, nunca os mortos, devido à rápida decomposição
das suas vísceras, adotando os seguintes procedimentos:

254
 Coletar, no mínimo, três exemplares por espécie em cada ponto amostrado;
 Sacrificar o peixe com um corte no dorso para destruição do centro nervoso e abri-los
ventralmente da papila anal até a mandíbula, tendo o cuidado de não danificar órgãos
internos, que serão levados para histologia;
 Para acidentes com pesticidas colocar os peixes em frascos de vidro de boca larga,
envoltos em papel alumínio e saco plástico;
 Nos demais casos, colocá-los diretamente em saco plástico;
 Colocar os peixes em frasco de vidro com boca larga, em formol a 10%; na falta de
formol, preservar os peixes com gelo que deve estar acondicionado em sacos plásticos
e colocado em uma caixa de isopor.

AMOSTRAS DE MATERIAL BIOLÓGICO

O tipo de frasco, volume mínimo de amostra, acondicionamento para transporte e prazo para
análise de amostras de materiais biológicos segue o Procedimento Técnico 01-PT-0174-DEA. A
preservação, somente aplicável só para exame ictiopatológico, é feita com formol 10%.

255
ANEXO II – FICHA PARA REGISTRO DE AMOSTRAGEM AMBIENTAL

FICHA DE CAMPO DE PERICIA AMBIENTAL

DADOS GERAIS

Perito:

Data (dd/mm/ano): Dia


Horário: Tarde
Noite

Município: Estado:

Localização: Coordenada GPS: Coordenada UTM :

LAT: graus min X: _____________ (m)

LOG: graus min Y : _____________ (m)

ALTITUDE: metros

CONDIÇÕES AMBIENTAIS DO LOCAL

Tipo de Área:

industrial rural residencial comercial estrada


florestal mineração fluvial marítima APA
banhado várzea Outra: _____________

Temperatura Local: Clima: Ensolarado Nublado Neblina

Umidade Local: ________ (%) Chuvoso Vento Calmo

Correnteza: Calma Agitada Enchente Vazante Sizígia Quadratura

TIPO DE AMOSTRA COLETADA

Tipo de Amostra Coletada:

Água Superficial Sedimentos Ictiofauna Microfauna Flora


Água Subterrânea Atmosférica Mastofauna Insetos Algas
Solo / Subsolo Avifauna Hepertofauna Sangue Urina
Zooplancton Fitoplancton Resíduo Cabelo/pelos Bentos
Outra: ___

256
LOCAL DE COLETA DE AMOSTRA OU MEDIDA DE CAMPO

Anote o local de coleta de amostra com (X) na figura:

REGISTRO GERAL DA COLETA DA AMOSTRA

Responsável pela coleta: Hora:

GPS UTM Profundidade


Ponto de Coleta:

Subárea _____ LAT:__ graus_ min X: ________ (m) ________(m)

Banhado _____ LOG:__ graus__ min Y: ________ (m) ________ (m)

Rio _________ Altitude: _____ (m) ________ (m)

Quantidade de Amostras Coletadas: Coletada Amostra Contraprova:

número de amostras coletadas: Sim Não

volume da amostra (litros): Desconhecido

massa da amostra (gramas): Tipo de Amostragem:

numero de medidas realizadas: Simples Composta

257
Descrição do Procedimento de Coleta e/ou de Medida Realizada no Campo:

REGISTRO FOTOGRÁFICO DA COLETA DE AMOSTRAS

No Descrição das Fotos

01

02

03

04

05

EQUIPAMENTOS E MATERIAS DE COLETA DA AMOSTRA

dcrever e identificar os equipamentos e materiais utilizados para a coleta da amostra ou


medidas realizadas no campo (temperatura, pH, oxigênio dissolvido, concentração, nível,
etc.).

Identificação (Fotos No):

Equipamentos

Materiais

258
IDENTIFICAÇÃO E CONDICIONAMENTO DAS AMOSTRAS COLETADAS

(Anotar como foram armazenadas e identificadas as amostras coletadas)

1) Identificação da Amostra:

Amostra etiquetada Sim Não Código da Etiqueta:

2) Identificação da Amostra Contra Prova:

Amostra etiquetada Sim Não Código da Etiqueta: _________

3) Técnica de Conservação da Amostra:

Adição química Congelamento Resfriamento Nenhuma

4) Recipiente de Acondicionamento da Amostra:

Caixa térmica gelo Rec. polipropileno Recipiente Vidro


Caixa papelão Saco plástico Bandeja Metálica
Outros (especificar)
Registro do Procedimento (Foto No):
Recipiente

Conservante

OBSERVAÇÕES SOBRE AS AMOSTRAS E PROCEDIMENTOS DE COLETADAS

1) Cor da amostra: preto acinzentado Foto No:

2) Integridade da amostra: aspecto pastoso integra Foto No:

3) Presença de Odor: (qualificar)

4) Foi feita a limpeza dos equipamentos e recipientes de coleta: Sim Não

5) Produto químico utilizado na limpeza dos equipamentos:

Comentários adicionais:

259
CONCLUSÕES

Informações Complementares e Conclusões:

RESPONSÁVEL PELAS INFORMAÇÕES

Nome:

Instituição:

Área: Setor: Cargo:

Endereço:

Telefone: Celular:

e-mail:

Curitiba ____/_____/_____

Assinatura: ________________________________________________________

Preparado por: Dr. Georges Kaskantzis Neto Data: Folha


06/06/04

260
ANEXO III – QUESITOS FORMULADOS NAS PERICIAS AMBIENTAIS

1. Caracterize as áreas onde se encontram os depósitos da empresa, descrevendo


detalhadamente as características topográficas, morfológicas e geológicas
destas áreas. Apresente mapa plani-altimétrico, foto aérea de 1980 e outra
recente, locando estas áreas.

2. Qual a data de instalação da empresa no seu município local? E a data do


primeiro licenciamento da mesma?

3. O que são consideradas áreas de preservação permanente e reservas


ecológicas, na atual legislação?

4. Apresente mapa de drenagem locando as áreas de preservação permanente,


nascentes, cursos d’água e ecossistema ripário próximos às áreas da empresa.

5. Os aterros e depósitos atingiram áreas consideradas de preservação


permanente? Quais, e em que extensão?

6. Qual a situação da área de várzea dos rios próximos a empresa? Estas áreas
estão alteradas?

7. Que áreas da empresa estão em região considerada de manancial?

8. Quais resíduos era armazenados nos depósitos e aterros da empresa? Qual a


composição dos produtos armazenados e os enterrados? Qual a solubilidade
em água dos mesmos? Como de degradam na água? Quais as reações químicas
do mesmo em contato com os ácidos fúlvicos e húmicos da matéria orgânica?
Quais as possíveis reações químicas dos mesmos em contato com as águas dos
rios adjacentes aos depósitos?

9. Os compostos encontrados nos produtos armazenados nos depósitos da


empresa são agentes carcinogênicos e/ou mutagênicos? Quais os riscos a
população? E em que prazo?

10. Quais as reações que podem ocorrer com os metais pesados em contato com
os ácidos húmicos e fúlvicos da matéria orgânica, bem como com os minerais
que compõe o solo? E na presença de ambiente como a área de várzea, o que
poderá acontecer?

11. Quais os danos causados a fauna? Relacionar todas as espécies da fauna


(residentes fixos, residentes não fixos, visitantes, etc.) associadas aos
ecossistemas diretamente e indiretamente afetados. Existiam espécies de
animais que são considerados ameaçados de extinção próximos as áreas da
empresa?
261
12. Realizar análises da ictiofauna, herpetofauna, avifauna e mastofauna na área
dos rios adjacentes às áreas da empresa.

13. Com relação à pesca, existem pessoas que utilizam a pesca artesanal nas
regiões afetadas pela poluição? Existe um pesque-pague vizinho a uma das
áreas?

14. O que acontece com o metabolismo dos peixes, quando entram em contato
com produtos químicos (borras de tinta, borras galvânicas, solventes e
orgânicos) como os armazenados nas áreas da empresa? Existe metodologia de
análise para peixes, para saber se os mesmos podem estar contaminados por
estes produtos? Como esta contaminação atinge a população que consome
este peixe?

15. Quais os danos causados a flora? Relacionar todas a espécies da flora típicas
dos ecossistemas direta e indiretamente impactados.

16. Qualificar os danos em relação à flora e fauna.

17. Qual a direção do fluxo de poluição na água subterrânea e quais os riscos de


contaminação de poços ou cacimbas de abastecimento, de nascentes e das
águas dos rios? Quais os danos causados as águas subterrâneas? Justifique.

18. Quais os danos causados a população que vive no município local da empresa?

19. Existiam nas áreas do deposito diques de contenção para possíveis


vazamentos? Para onde iam os produtos que vazavam? Seria necessária a
existência de algum tipo de proteção? Caso afirmativo, que tipo?

20. Os aterros possuíam projetos e foram elaborados segundo as normas da


ABNT?

21. Existem nas áreas da empresa poços de monitoramento instalados para a


verificação da qualidade das águas subterrâneas?

22. Existia na empresa sistema de controle de poluição hídrica, como estações de


tratamento de efluentes?

23. Valorar os danos causados ao meio ambiente, em valores matemáticos.

24. Quais os danos à saúde humanos, causados por intoxicação por produtos
como: borras, solventes, resinas, borras galvânicas, e outros que estavam
armazenados no local?

262
25. Houve casos de doença, intoxicações ou óbito de funcionários da empresa ou
vizinhos das áreas da empresa? Há registros de atendimento medico nos
postos de saúde localizados próximos a estas áreas?

26. Quais os resultados das análises físico-químicas, conforme art.21 da resolução


CONAMA 20 de 1986 e análises ecotoxicológicas das águas dos rios próximos a
empresa, a montante e a jusante da área da empresa? Incluindo compostos
orgânicos e metais pesados?

27. Os parâmetros analisados encontram-se dentro dos padrões da Resolução 20


do CONAMA de 1986?

28. Quais os efeitos do acúmulo de compostos no solo contidos na borra galvânica,


solventes, compostos orgânicos ou outro que se encontrava nas áreas?

29. O que acontece com a micro-fauna do solo?

30. O que pode acontecer com espécies vegetais na presença de um longo período
de exposição e contato com os produtos estocados nos locais? Pode alterar o
metabolismo das mesmas?

31. Existe metodologia de análise de vegetais para saber se os mesmo podem estar
contaminados pelos produtos químicos, se existe estas análises foram
efetuadas?

32. Qual a vazão que atinge os rios próximos à empresa na época de maior cheia?

33. Existem comunidades a jusante das áreas da empresa que se abastecem de


água para suas atividades, comerciais, particulares, agrícolas?

34. Existe rede de água da SABEPAR, nas propriedades existentes a jusante das
áreas da empresa?

35. Onde estão localizados os pontos de coleta da água de abastecimento publico


próximos a estas áreas?

36. Proceder a coleta de amostra de sedimentos dos rios, seguindo-se análise sob
os seguintes parâmetros: metais pesados e outros componentes dos produtos
armazenados na empresa. Em anexo, deverá ser apresentada, comparação com
art.21 da Resolução do CONAMA no 20 de 1986.

37. Relacionar todos os possíveis riscos, conseqüências, lesões, males ou impactos


negativos, diretos e/ou indiretos aos meios; físico, biológico e antrópico,
notadamente a saúde e incolumidade pública, decorrente da eventual presença
de quaisquer resíduos provenientes da empresa na água tratada, servida a
população.
263
38. Qual o valor da terra nua nas áreas próximas a empresa?

39. É possível a reparação dos danos causados ao meio ambiente, ou seja,


restauração da situação primitiva, total ou parcial? Porque, modo e em que
prazo? Qual o custo para tal?

40. Além dos danos causados ao meio ambiente, há outras conseqüências danosas,
como por exemplo: risco aos moradores locais com inundações sazonais,
vizinhos as áreas da empresa?

41. Qual a localização e extensão da área atingida pelo evento, objeto da perícia?
(elaborar croquis ou mapa).

42. Na eventual hipótese de restar tecnicamente impossível a recuperação parcial


ou total das áreas degradadas, ofertar estimativa de valoração monetária dos
danos causados – direta e ou indiretamente – ao meio físico, biológico e/ou
antrôpica.

43. Qual o tempo necessário para o restabelecimento/re-colonização completa da


fauna impactada?

44. Qual o tempo necessário para o restabelecimento/reconstituição integral da


vegetação típica impactada? Esclarecer sobre se a recuperação depende ou
não, e em quais condutas e atividades, da intervenção humana.

45. Descriminar os danos considerados irreversíveis causados ao meio ambiente


(físico, biológico, antrôpica).

46. Descriminar todos e quaisquer gasto e despesa efetivada até o momento à


partir da ocorrência dos fatos inicialmente descritos, seja no sentido de
contenção/prevenção, seja para correção, seja também para recuperação do
meio ambiente degradado (meios físicos, biológicos, antrópicos) tanto por
parte de pessoas físicas ou jurídicas, de direito privado ou publico (inclusive
transporte, combustível, tempo de serviço e horas extras, material, avaliações,
perícias, fotografias, espécies, obras, serviços, manutenção, honorários
profissionais, etc.), totalizando-as ao final.

47. Que medidas preventivas deveriam ser ter sido implantadas para evitar os
vazamentos e derramamentos de produtos armazenados nos depósitos da
empresa e os danos ambientais?

48. Quanto tempo pode permanecer no solo a “contaminação” nos sedimentos, e


na água?

49. Juntar as análises de água da companhia de águas do começo do ano até a data
da perícia onde são realizadas ao longo do trecho atingido.
264
50. Qual a destinação final que foi dada ao material (resíduo) contaminado,
retirado das áreas?

51. A descontaminação das áreas da empresa é possível?

52. Quais os impactos ambientais decorrentes da lavagem por água das barrancas
do rio contaminadas pelos químicos oriundos do aterro?

53. O que acontece com o metabolismo da vegetação de pequeno porte com os


efeitos da dispersão destes poluentes?

54. Qual o lucro que a empresa obteve durante o seu funcionamento?

55. Quantos funcionários trabalharam na empresa? Houve afastamento por


doença ou acidente? Houve reclamações trabalhistas?

56. Houve lavratura de autos de infração pelos órgãos ambientais, estadual,


municipal e federal? Caso positivo anexar as respectivas cópias. Houve
recurso(s) administrativo(s) em relação aos autos de infração lavrados?
Quando? Qual a decisão final a respeito de cada recurso interposto? Caso
positivo, relacionar caso a caso assim como juntar cópia dos recursos/razoes,
contradita, laudo e decisão final do órgão julgador.

57. Além do dano ambiental, houve algum dano paisagístico?

58. Realizar estudos geofísicos, com profissional habilitado no local a fim de


evidenciar pluma de contaminação em toda a extensão das áreas de aterro de
resíduos.

59. Apresentar quaisquer outras considerações que porventura julguem


necessárias ou convenientes.

265
ANEXO IV – LISTAS DA CETESB SOLO E ÁGUA SUBTERRÃNEA E OUTRAS REFERÊNCIAS

CETESB – COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL


DECISÃO DE DIRETORIA Nº 195-2005-E, de 23 de novembro de 2005

Dispõe sobre a aprovação dos Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado de São
Paulo – 2005, em substituição aos Valores Orientadores de 2001, e dá outras providências.

A Diretoria Plena da CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, à vista do que


consta do Processo nº E-532-2005, considerando a manifestação do Departamento Jurídico, contida na
Folha de Despacho PJ nº 1799-2005, juntada às fls. 026, bem como o Relatório à Diretoria nº 060-2005E,
que acolhe, DECIDE:
0
Artigo 1 – Aprovar os Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo –
2005, constantes do Anexo Único que integra esta Decisão de Diretoria, em substituição à Tabela de
Valores Orientadores aprovada pela Decisão de Diretoria nº 014-01-E, de 26 de julho de 2001, e
publicada no Diário Oficial do Estado, Empresarial, de 26 de outubro de 2001, continuando em vigor o
Relatório “Estabelecimento de Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado de São
Paulo”, também aprovado pela Decisão de Diretoria nº 014-01-E.

Parágrafo Único – Os Valores Orientadores aprovados por este artigo deverão ser revisados em até 4
(quatro) anos, ou a qualquer tempo, e submetidos à deliberação da Diretoria Plena da CETESB.
0
Artigo 2 – No prazo de 6 (seis) meses, contado da publicação desta Decisão de Diretoria, as áreas
técnicas competentes deverão submeter à Deliberação da Diretoria proposta de Norma Técnica CETESB,
dispondo sobre a atualização do Relatório “Estabelecimento de Valores Orientadores para Solos e Águas
Subterrâneas no Estado de São Paulo”, de que trata a Decisão de Diretoria nº 014-01-E.
0
Artigo 3 – Os Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas -2005 deverão ser adotados, no
que couber, em todas as regras pertinentes da CETESB e nas Normas Técnicas, já editadas ou a serem
publicadas, especialmente as Normas Técnicas P 4.230 (agosto de 1999) e P 4.233 (setembro de 1999)
com alterações posteriores, que dispõem, respectivamente, sobre a “Aplicação de Lodos de Sistemas de
Tratamento Biológico em Áreas Agrícolas – Critérios para Projeto e Operação” e “Lodos de Curtumes –
Critérios para o Uso em Áreas Agrícolas e Procedimentos para Apresentação de Projetos”, que utilizem
Valores Orientadores para a fixação de limite de concentração de substâncias no solo ou nas águas
subterrâneas por elas estabelecido

Artigo 4º – As áreas contaminadas somente serão reclassificadas nos casos em que todos os Valores de
Intervenção (VI) das substâncias responsáveis pela contaminação tenham sofrido alteração.

Artigo 5º – A Diretoria de Controle de Poluição Ambiental, no prazo de 160 (cento e sessenta) dias,
contado da publicação desta Decisão de Diretoria, deverá fixar procedimento técnico-administrativo
adequando as suas ações de controle aos novos Valores de Intervenção (VI).

Artigo 6º – Esta Decisão de Diretoria entra em vigor na data de sua publicação, surtindo seus efeitos na
seguinte conformidade:
I – a partir de 1º de junho de 2006 – aplicação dos Valores de Intervenção (VI) para as substâncias que,
em relação aos publicados em 2001, tenham sofrido alteração para valores mais restritivos;

II – a partir da publicação desta Decisão – aplicação dos Valores de Intervenção (VI) para as substâncias
que, em relação aos publicados em 2001, tenham mantidos os valores anteriores ou que tenham sofrido
alteração para valores menos restritivos, bem como dos Valores de Intervenção para as novas
substâncias relacionadas no Anexo Único que integra esta Decisão de Diretoria.

266
ANEXO ÚNICO

a que se refere o artigo 1º da Decisão de Diretoria Nº 195-2005-E,


de 23 de novembro de 2005

VALORES ORIENTADORES PARA SOLOS E ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO ESTADO DE SÃO PAULO

Os Valores Orientadores são definidos e têm a sua utilização como segue:

Valor de Referência de Qualidade - VRQ é a concentração de determinada substância no solo


ou na água subterrânea, que define um solo como limpo ou a qualidade natural da água
subterrânea, e é determinado com base em interpretação estatística de análises físico-
químicas de amostras de diversos tipos de solos e amostras de águas subterrâneas de diversos
aqüíferos do Estado de São Paulo. Deve ser utilizado como referência nas ações de prevenção
da poluição do solo e das águas subterrâneas e de controle de áreas contaminadas.

Valor de Prevenção - VP é a concentração de determinada substância, acima da qual podem


ocorrer alterações prejudiciais à qualidade do solo e da água subterrânea. Este valor indica a
qualidade de um solo capaz de sustentar as suas funções primárias, protegendo-se os
receptores ecológicos e a qualidade das águas subterrâneas. Foi determinado para o solo com
base em ensaios com receptores ecológicos. Deve ser utilizado para disciplinar a introdução de
substâncias no solo e, quando ultrapassado, a continuidade da atividade será submetida a
nova avaliação, devendo os responsáveis legais pela introdução das cargas poluentes proceder
o monitoramento dos impactos decorrentes.

Valor de Intervenção - VI é a concentração de determinada substância no solo ou na água


subterrânea acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou indiretos, à saúde humana
considerado um cenário de exposição genérico. Para o solo, foi calculado utilizando-se
procedimento de avaliação de risco à saúde humana para cenários de exposição Agrícola-Área
de Proteção Máxima – APMax, Residencial e Industrial. Para a água subterrânea, considerou-se
como valores de intervenção as concentrações que causam risco à saúde humana listadas na
Portaria 518, de 26 de março de 2004, do Ministério da Saúde MS, complementada com os
padrões de potabilidade do Guia da Organização Mundial de Saúde OMS de 2004, ou
calculados segundo adaptação da metodologia da OMS utilizada na derivação destes padrões.
Em caso de alteração dos padrões da Portaria 518 do MS, os valores de intervenção para águas
subterrâneas serão conseqüentemente alterados. A área será classificada como Área
Contaminada sob Investigação quando houver constatação da presença de contaminantes no
solo ou na água subterrânea em concentrações acima dos Valores de Intervenção, indicando a
necessidade de ações para resguardar os receptores de risco.

267
VALORES ORIENTADORES PARA SOLO E ÁGUA SUBTERRÂNEA NO ESTADO DE SÃO PAULO
(1)
Solo (mg . kg-1 de peso seco) Água (µg.L-1)

Substância CAS Nº Referência Prevenção Intervenção Intervenção


de qualidade Agrícola Industrial Residencial
AP max
inorgânicos
Alumínio 7429-90-5 - - - - - 200
Antimônio 7440-36-0 <0,5 2 5 10 25 5
Arsênio 7440-38-2 3,5 15 35 55 150 10
Bário 7440-39-3 75 150 300 500 750 700
Boro 7440-42-8 - - - - - 500
Cádmio 7440-48-4 <0,5 1,3 3 8 20 5
Chumbo 7440-43-9 17 72 180 300 900 10
Cobalto 7439-92-1 13 25 35 65 90 5
Cobre 7440-50-8 35 60 200 400 600 2.000
Cromo 7440-47-3 40 75 150 300 400 50
Ferro 7439-89-6 - - - - - 300
Manganês 7439-96-5 - - - - - 400
Mercúrio 7439-97-6 0,05 0,5 12 36 70 1
Molibdênio 7439-98-7 <4 30 50 100 120 70
Níquel 7440-02-0 13 30 70 100 130 20
Nitrato (como N) 797-55-08 - - - - - 10.000
Prata 7440-22-4 0,25 2 25 50 100 50
Selênio 7782-49-2 0,25 5 - - - 10
Vanádio 7440-62-2 275 - - - - -
Zinco 7440-66-6 60 300 450 1000 2000 5.000
Hidrocarbonetos aromáticos voláteis
Benzeno 71-43-2 na 0,03 0,06 0,08 0,15 5
Estireno 100-42-5 na 0,2 15 35 80 20
Etilbenzeno 100-41-4 na 6,2 35 40 95 300
Tolueno 108-88-3 na 0,14 30 30 75 700
268
Xilenos 1330-20-7 na
Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (2) 0,13 25 30 70 500
Antraceno 120-12-7 na 0,039 - - - -
Benzo(a)antraceno 56-55-3 na 0,025 9 20 65 1,75
Benzo(k)fluoranteno 207-06-9 na 0,38 - - - -
Benzo(g,h,i)perileno 191-24-2 na 0,57 - - - -
Benzo(a)pireno 50-32-8 na 0,052 0,4 1,5 3,5 0,7
Criseno 218-01-9 na 8,1 - - - -
Dibenzo(a,h)antraceno 53-70-3 na 0,08 0,15 0,6 1,3 0,18
Fenantreno 85-01-8 na 3,3 15 40 95 140
Indeno(1,2,3-c,d)pireno 193-39-5 na 0,031 2 25 130 0,17
Naftaleno 91-20-3 na 0,12 30 60 90 140
Benzenos clorados (2)
Clorobenzeno (Mono) 108-90-7 na 0,41 40 45 120 700
1,2-Diclorobenzeno 95-50-1 na 0,73 150 200 400 1.000
1,3-Diclorobenzeno 541-73-1 na 0,39 - - - -
1,4-Diclorobenzeno 106-46-7 na 0,39 50 70 150 300
1,2,3-Triclorobenzeno 87-61-6 na 0,01 5 15 35 (a)
1,2,4-Triclorobenzeno 120-82-1 na 0,011 7 20 40 (a)
1,3,5-Triclorobenzeno 108-70-3 na 0,5 - - - (a)
1,2,3,4-Tetraclorobenzeno 634-66-2 na 0,16 - - - -
1,2,3,5-Tetraclorobenzeno 634-90-2 na 0,0065 - - - -
Etanos clorados
1,1-Dicloroetano 75-34-2 na - 8,5 20 25 280
1,2-Dicloroetano 107-06-2 na 0,075 0,15 0,25 0,50 10
1,1,1-Tricloroetano 71-55-6 na - 11 11 25 280
Etenos clorados
Cloreto de vinila 75-01-4 na 0,003 0,005 0,003 0,008 5

269
Estabelecimento de valores orientadores para solo e águas subterrâneas no Estado de São Paulo. CETESB. 2001; 2) Canadian Soil Quality Guidelines for the Protection of Environmental and
Human Health – Summary Tables, Update 2002; 3) padrões de potabilidade P0- 518/2004-MS; 4) Lista Holandesa de valores de qualidade do solo e água subterrânea – Valores de Intervenção.
Valor de Intervenção da Lista Valor de Intervenção da CETESB para Valores Orientadores do IAP para Portaria Federal n
Meio Parâmetro
Holandesa áreas agrícolas áreas agrícolas 518/2004
THP 5000 mg/kg ----- -----
(1)
Benzeno 1 mg/kg 0,6 mg/kg 0,6 mg/kg -----
(1)
Tolueno 130 mg/kg 30 mg/kg 30 mg/kg -----
(2)
Solo Etilbenzeno 50 mg/kg ----- 0,1 mg/kg -----
(1)
Xilenos 25 mg/kg 3 mg/kg 3 mg/kg -----
Naftaleno ----- 15 mg/kg ----- -----
HPA ----- 40 mg/kg ----- -----
THP 600 µg/L ----- ----- -----
(3)
benzeno 30 µg/L 5 µg/L 5 µg/L -----
(3)
tolueno 150 µg/L 170 µg/L 170 µg/L -----
(3)
xilenos 1000 µg/L 300 µg/L 300 µg/L -----
(3)
Etilbenzeno ----- ----- 70 µg/L
(3)
naftaleno 70 µg/L 100 µg/L 300 µg/L -----
(4)
antraceno 5 µg/L ----- 5 µg/L -----
Água (4)
fenantreno 5 µg/L ----- 5 µg/L -----
Subterrânea (4)
fluoranteno 1 µg/L ----- 1 µg/L -----
(4)
benzo(a)antraceno 0,5 µg/L ----- 0,5 µg/L -----
(4)
criseno 0,2 µg/L ----- 0,05 µg/L -----
(4)
benzo(a)pireno 0,05 µg/L ----- 0,05 µg/L -----
(4)
benzo(ghi)perileno 0,05 µg/L ----- 0,05 µg/L -----
(4)
benzo(k)fluoranteno 0,05 µg/L ----- 0,05 µg/L -----
(4)
indeno(1,2,3-cd)pireno 0,05 µg/L ----- 0,05 µg/L -----
Lista Holandesa: Ministry of Housing, Spatial Planning and Environment (VROM) 2000. Circularvalores almejados e de intervenção para a remediação do solo. DBO/1999226863. VROM,
Holanda. HPA: antraceno + benzo(a)antraceno + benzo(k)fluoranteno + benzo(a)pireno + criseno + fenantreno + fluoranteno + indeno(1,2,3-cd)pireno + naftaleno + benzo(ghi)perileno.
CETESB: CETESB, 2001 Relatório de Estabelecimento de Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo. CETESB, São Paulo.
CONAMA: Resolução CONAMA n° 20, de 18 de junho de 1986. Estabelece a classificação das águas superficiais no país. Ministério do Meio Ambiente e Amazônia Legal, BR
Portaria n° 518: Portaria Ministerial de 25 de março de 2004. Estabelece procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e
padrão de potabilidade, e dá outras providências: Ministério da Saúde, Brasil. [Revoga a Portaria n° 1469/2000]
IAP – Instituto Ambiental do Paraná: (01) – Relatório de estabelecimento de valores orientadores para solos e águas subterrâneas no estado de São Paulo. CETESB. 2001; (02) – Canadian Soil
Quality Guidelines for the Protection of Envirunmental and Human Health – Summary Tables, Update 2002; (3) padrões de potabilidade Segundo a Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde;
(4) Lista Holandesa de valores de Qualidade do Solo e de Água Subterrânea – valores de Intervenção.

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