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Monitoramento Óptico para Determinação da Demanda Bioquímica

de O2 e nível Dissolvido:
Aplicações em Aquicultura, Piscicultura e em Tratamentos de Efluentes

S. Celaschi
CTI Renato Archer
sergio.celaschi@cti.gov.br
Fevereiro, 2021

Resumo:
Este projeto é composto dos 4 subprojetos com seus objetivos específicos:

I. Pesquisar e desenvolver um instrumento sensor de O 2 dissolvido (OD) em


H2O pelo método óptico de supressão da fluorescência induzida pela
presença de O2. Desenvolver sua interface eletrônica microprocessada com
monitor integrado e interface de dados;

II. Pesquisar e desenvolver um filme fino de SolGel contendo o elemento ativo


fluorescente. Selecionar o elemento ativo entre os complexos de metais de
transição (Ru(II), Os(II), Ir (III), entre outros) , as metalo-porfirinas (Ex.
Pt(II), Pd(II), Rh(II), etc.), ou ainda os Fulerenos (C60 e C70); Desenvolver
o SolGel para ancorar o complexo ativo preselecionado

III. Realizar ensaios experimentais empregando uma sonda luminescente


comercial (já adquirida) para a determinação da Demanda Bioquímica de
Oxigênio - DBO5. Comprovar quantitativamente a eficácia do método óptico
de supressão da fluorescência induzida pela presença de OD comparada ao
método de Winkler. Desenvolver um aparato experimental para possibilitar
medidas ópticas de DBO5 para as aplicações selecionadas de modo a
viabilizar uma PoC em IoT.

IV. Desenvolver uma aplicação de IoT em nuvem com o servidor DOJOT para
uma PoC de monitoramento da Demanda Bioquímica de Oxigênio.

Subprojeto III.

Contexto: A importância do oxigênio dissolvido em Água


Um sistema de água corrente produz e consome oxigênio. Ganha oxigênio da atmosfera
e das plantas como resultado da fotossíntese. A respiração por animais aquáticos, decomposição
da matéria orgânica e várias reações químicas consomem oxigênio. As águas residuais das
estações de tratamento de esgoto geralmente contêm materiais orgânicos que são decompostos
por micro-organismos, que usam oxigênio neste processo. O oxigênio é medido em sua forma
dissolvida como oxigênio dissolvido (DO). Se mais oxigênio é consumido do que o produzido,
os níveis de oxigênio dissolvido diminuem e alguns animais sensíveis podem se afastar,
enfraquecer ou morrer.

Os níveis de OD flutuam sazonalmente e por um período de 24 horas. Eles variam com


a temperatura e a altitude da água. A água fria retém mais oxigênio que a água quente e retém
menos oxigênio em altitudes mais altas. Descargas térmicas, como a água usada para resfriar

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máquinas em uma fábrica ou usina, aumentam a temperatura da água e diminuem seu conteúdo
de oxigênio. Os animais aquáticos são mais vulneráveis a níveis mais baixos de OD no início da
manhã, nos dias quentes de verão, quando os fluxos são baixos, as temperaturas da água são
altas e as plantas aquáticas não produzem oxigênio desde o pôr do sol.

O OD é medido em miligramas por litro (mg/L) ou "porcentagem de saturação". Por


cento de saturação é a quantidade de oxigênio em um litro de água em relação à quantidade total
de oxigênio que a água pode reter nessa temperatura. O oxigênio dissolvido pode ser medido
usando alguma variação do método Winkler ou usando um medidor e sonda. O método Winkler
envolve encher completamente um frasco de amostra com água (não deve restar ar para
influenciar o teste). O oxigênio dissolvido é então fixado usando uma série de reagentes que
formam um composto ácido que é titulado. A titulação envolve a adição gota a gota de um
reagente que neutraliza o composto ácido e causa uma alteração na cor da solução. O ponto em
que a cor muda é o "ponto final" e é equivalente à quantidade de oxigênio dissolvido na
amostra. A amostra é geralmente fixada e titulada no campo no local da coleta. É possível, no
entanto, preparar a amostra em campo e entregá-la em um laboratório para titulação.

O que é demanda bioquímica de oxigênio e qual sua importância


A demanda bioquímica de oxigênio, ou DBO, mede a quantidade de oxigênio produzida
e consumida por plantas aquáticas e aquela consumida pelos micro-organismos na
decomposição da matéria orgânica presente na água corrente. O DBO também mede a oxidação
química da matéria inorgânica (isto é, a extração de oxigênio da água via reação química). O
teste químico padrão, usado para medir a quantidade de oxigênio consumida por esses
organismos durante um período de tempo especificado (geralmente 5 dias a 20 ° C), é o DBO 5
[REF] . A taxa de consumo de oxigênio em um fluxo é afetada por várias variáveis: pressão
atmosférica, temperatura, pH, presença de certos tipos de micro-organismos e os tipos de
materiais orgânico e inorgânico na água.

A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é uma maneira de medir a poluição


orgânica na água, observando a taxa na qual os microrganismos na água consomem oxigênio
dissolvido quando metabolizam os poluentes orgânicos. A medição de DBO exige a coleta de
duas amostras em cada local. Uma amostra é testada imediatamente quanto ao oxigênio
dissolvido e a segunda é incubada no escuro a 20 ° C por 5 dias (DBO 5) e depois testada quanto
à quantidade de oxigênio dissolvido restante. A diferença nos níveis de oxigênio entre o
primeiro teste e o segundo teste, em miligramas por litro (mg/L), é a quantidade de DBO. Isso
representa a quantidade de oxigênio consumida pelos micro-organismos para decompor a
matéria orgânica presente no frasco de amostra durante o período de incubação. Por causa da
incubação de 5 dias, os testes devem ser realizados em laboratório.

A DBO afeta diretamente a quantidade de oxigênio dissolvido em rios e córregos.


Quanto maior a DBO, mais rapidamente o oxigênio é esgotado no fluxo. Isso significa que
menos oxigênio está disponível para formas mais altas de vida aquática. As consequências da
alta DBO são as mesmas do baixo oxigênio dissolvido: os organismos aquáticos ficam
estressados, sufocam e morrem.

As fontes de DBO incluem folhas e detritos lenhosos; plantas e animais mortos; estrume
animal; efluentes de fábricas de papel e celulose, plantas de tratamento de águas residuais,
confinamentos e plantas de processamento de alimentos; sistemas sépticos com falha; e
escoamento urbano de águas pluviais.

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A luminescência como ferramenta de detecção de oxigênio dissolvido e
verificação da qualidade de água

A técnica de medição do OD utilizando a supressão da fluourescencia foi incorporada a


norma D888-05 do “Standard Test Methods for Dissolved Oxygen in Water” em janeiro de
2006, segundo a Sociedade Americana para Testes e Materiais (AMERICAN SOCIETY FOR
TESTING AND MATERIALS, 2007). Espera-se que esse método seja incorporado no “Standard
Methods for the Examination of Water and Wastewater” nas suas próximas edições.

Os avanços da eletrônica, dos dispositivos ópticos e das técnicas de processamento de


sinal contribuíram com o desenvolvimento dos sensores de oxigênio baseados na luminescência.
As vantagens destes sensores são basicamente: não haver nenhum consumo de oxigênio no
processo; não exigir nenhum eletrodo de referência; serem insensíveis a taxas de fluxo ou
velocidade da amostra; imunidade ao campo elétrico exterior e apresentarem precisão similar ao
método de Winkler. Quase todos os sensores ópticos de oxigênio baseiam-se na utilização de
moléculas que contenham elementos fluorescentes como os complexos cíclicos de Rutênio cuja
intensidade e tempo de vida de fluorescência são dependentes da concentração de oxigênio no
meio em análise. Este é um processo foto-físico que não envolve qualquer reação química, ou
seja, não há consumo do analito durante a análise (o oxigênio não é consumido).

A escolha do composto químico fluorescente - fluoróforo desempenha um papel crucial


no sucesso da aplicação. Os fluoróforos mais utilizados em esquemas ópticos de medição de
oxigênio são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), os complexos de metais de
transição (Ru(II), Os(II), Ir (III), entre outros) , as metalo-porfirinas (Ex. Pt(II), Pd(II), Rh(II),
etc.), e ainda os Fulerenos (C60 e C70). Os complexos de polipiridil ligados ao Rutênio, na
forma [Ru(L)3]2+, em que L representa o ligante polipiridil, são os mais comuns em medição de
oxigênio dissolvido.

Tempo de vida da fluorescência

Uma das técnicas mais comuns utilizadas para a determinação do tempo de vida da
fluorescência é o método de modulação de fase. Na modulação de fase, o elemento é excitado
por um feixe de luz preferencialmente modulado senoidalmente, em uma frequência 𝜔 = 2𝜋𝑓,
onde 𝑓 é a frequência. A emissão fluorescente do fluoróforo é forçada a responder a este sinal
de excitação, e desta forma a amplitude do sinal de excitação é modulada na mesma frequência.
Devido ao tempo de vida do fluoróforo no estado excitado, a emissão fica deslocada em fase por
um ângulo 𝜃 em sinal ao sinal de excitação. O tempo de vida pode ser calculado através da
medição do deslocamento de fase [𝑡𝑎𝑛(𝜃) = 𝜔𝜏].

O sensor consiste de um par de LEDs (azul e vermelho) e um fotodetector de silício. A


capa sensora contém um fluoróforo (platina), o qual é excitado pelo LED azul. O fluoróforo é
protegido pelo ambiente externo com uma camada de isolante de poliestireno, evitando a
interferência de fontes externas de luz quando a capa sensora esta acoplada à sonda. O circuito
de medição para este sensor está baseado no tempo de vida da luminescência, determinado
através de uma diferença de fase entre a modulação senoidal do LED azul e a luminescência
detectada pelo fotodiodo. Os emissores LED emitindo no azul e no vermelho são chaveados
alternadamente entre ciclos de medida, permitindo que o emissor vermelho forneça uma
referência interna para o caminho ótico e o sinal eletrônico. Esta referencia fornece a
estabilidade da medida corrigindo para mudanças na temperatura ou por tempo induzido na
medida de fase.

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Figura. Os emissores LED azul e vermelho são chaveados alternadamente entre ciclos
de medida, permitindo que o LED vermelho forneça uma referência interna para o caminho.
ótico e sinal eletrônico. Esta referencia fornece a estabilidade da medida corrigindo para
mudanças na temperatura ou por tempo induzido na medida de fase.

Comparação do Método Químico Padrão ao Método Óptico de Supressão da


Fluorescência

Trata-se da detecção do O2 dissolvido (OD) em H2O pelo método óptico de supressão da


fluorescência de um complexo ativo ancorado em SolGel com a finalidade de monitorar a
qualidade de água para aplicações em aquicultura, piscicultura e em tratamento de efluentes.
Um recente trabalho de pesquisa realizado em 2016 por M. R. Pereira apresenta uma
comparação dos resultados obtidos para a validação da exatidão entre os métodos - normatizado
químico de Winkler, e o método óptico. Esses resultados estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Resultados obtidos para o estudo da comparação entre o método normalizado


químico de Winkler e o método óptico.

Esse estudo demonstra que a análise de DBO 5 através do uso de sonda luminescente, de
medição direta de oxigênio dissolvido é equivalente ao método Winkler e possui inúmeras
vantagens. O uso deste método óptico utiliza um volume muito menor de amostras, trás uma
redução no tempo de análise, eliminação dos resíduos gerados, além de eliminar a necessidade
de coletar duas vias de amostras (para ensaio imediato no laboratório e para incubação por 5
dias).

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Referencias
https://www.ysi.com/prosolo-odo. Instrumento já adquirido.

C.M. MCDONAGH, A.M. SHIELDS, A.K. MCEVOY, B.D. MACCRAITH AND J.F.
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https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/153237/001014373.pdf?sequence=1. Acesso
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