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FACULDADE MERIDIONAL – IMED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO


MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

GABRIELE SANTIN FIGUEIRÓ

ARQUITETURA E RESSOCIALIZAÇÃO PENAL: análise do Presídio


de Passo Fundo/RS e da APAC Santa Luzia/MG

Passo Fundo
2020

FONTE IMAGEM: RIVG, 2018


Gabriele Santin Figueiró

ARQUITETURA E RESSOCIALIZAÇÃO PENAL: análise do Presídio


de Passo Fundo/RS e da APAC Santa Luzia/MG

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Faculdade Meridional IMED, na área de concentração
Projeto de Arquitetura e Urbanismo e na linha de
pesquisa Morfologia, usos e apropriações das
edificações e dos espaços construídos, como
requisito para a obtenção do grau de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo, sob orientação do Professor
Dr. Henrique Aniceto Kujawa e coorientação da
Professora Dra. Caliane Christie Oliveira de Almeida.

Passo Fundo
2020
CIP – Catalogação na Publicação

F475a FIGUEIRÓ, Gabriele Santin


Arquitetura e ressocialização penal: análise do Presídio de Passo
Fundo/RS e da APAC Santa Luzia/MG / Gabriele Santin Figueiró. – 2020.
225 f., il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade


IMED, Passo Fundo, 2020.
Orientador: Prof. Dr. Henrique Aniceto Kujawa.
Coorientador: Prof.ª Dr.ª Caliane Christie Oliveira de Almeida.

1. Arquitetura prisional. 2. Sistema Penitenciário – Brasil. 3.


Ressocialização penal. I. KUJAWA, Henrique Aniceto, orientador. II.
ALMEIDA, Caliane Christie Oliveira de, coorientadora. III. Título.

CDU: 711.4(816.5)

Catalogação: Bibliotecária Angela Saadi Machado - CRB 10/1857


Autor/a: GABRIELE SANTIN FIGUEIRÓ

Título: ARQUITETURA E RESSOCIALIZAÇÃO PENAL: análise do Presídio de Passo


Fundo/RS e da APAC Santa Luzia/MG.

Dissertação apresentada ao Programa


de Pós-Graduação Stricto Sensu –
Mestrado em Arquitetura - da IMED,
como requisito para a obtenção do grau
de Mestre em Arquitetura.

Passo Fundo, RS, 10 de março de 2020.

________________________________________________
PROF. DR. HENRIQUE KUJAWA (PPGARQ – IMED) – Presidente

________________________________________________
PROFª. DRª. CALIANE C. OLIVEIRA DE ALMEIDA (PPGARQ – IMED) – Membro

________________________________________________
PROF. DR. AUGUSTO CRISTIANO PRATA ESTECA (FAU/UnB) – Membro

________________________________________________
PROFª. DRª. SUZANN FLÁVIA CORDEIRO DE LIMA (FAU/UFAL) - Membro
A todos aqueles que acreditam na ressocialização do
homem, aos que lutam por mudanças no sistema
prisional, aos profissionais envolvidos neste sistema,
em todas as suas esferas e todos aqueles que
colaboram e contribuíram com esta pesquisa.
Aos meus amigos e colegas de mestrado.
Em especial, a minha mãe, companheira de pesquisa
e maior incentivadora, ao meu pai, irmão, cunhada e
a pequena Luiza, meus maiores exemplos e fontes de
amor e carinho.
AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS),


pelo apoio financeiro.

Aos meus pais, Luiz Augusto Mello Fiqueiró e Marcia Regina Santin Figueiró, pelos
valores a mim ensinados, pelo apoio e incentivo a realização desta pesquisa, pela
confiança em mim depositada e pelo amor e carinho demonstrados em todos os
momentos de minha vida. Vocês são meus exemplos e meus heróis.

Ao meu irmão Vinícius Santin Figueiró e cunhada Cristiane Soldá pelo amor e carinho.

Ao meu Professor orientador Dr. Henrique Kujawa pela paciência, competência,


dedicação e suporte na elaboração desta pesquisa.

À minha Coorientadora Dra. Caliane Almeida pelo incentivo, carinho e competência a


mim dedicados desde a graduação.

Às equipes do Presídio Regional de Passo Fundo/RS e da APAC Santa Luzia/MG


pelo acolhimento durante a pesquisa e especialmente aos recuperandos da APAC por
dividirem experiências enriquecedoras, além de contribuírem com a realização da
pesquisa.

Ao presidente do Conselho da Comunidade do Sistema Penitenciário de Passo


Fundo, Vinícius Francisco Toazza, e ao Delegado adjunto do Instituto Penal, Kleber
Medeiros, pela disposição no auxílio a pesquisa e por todo conhecimento
compartilhado.

Às minhas amigas Daiza Medeiros e Luísa de Oliveira, pelas trocas significativas de


conhecimento e pelos momentos de carinho e cumplicidade.

Aos colegas do PPGARQ-IMED pelos momentos de diversão, conhecimento e


cumplicidade.

E, por fim, um agradecimento especial aos meus afilhados, Zaion Medeiros e Luiza
Soldá Figueiró por serem minhas inspirações em busca de um mundo mais justo e
humano. Bebês, vocês me motivam a ser melhor a cada dia, enchem meu coração de
amor e luz.
RESUMO

A presente pesquisa se insere na temática da arquitetura prisional, tendo como objeto


de estudo a relação entre os espaços penitenciários do Presídio de Passo Fundo/RS
e da APAC Santa Luzia/MG. O Sistema Penitenciário brasileiro vem recebendo
destaque em debates públicos e em políticas governamentais, normalmente
entendido como solução para os problemas de violência e descumprimento das
normas legais. Entretanto, a realidade expressa o complexo contexto de crise no qual
se encontra o Sistema Penitenciário do país, originado por múltiplos fatores. Dentre
eles, as instalações inadequadas, as superlotações, a atuação de facções criminosas
somados à crescente dificuldade enfrentada pelo Estado em exercer sua função de
reabilitação dos apenados. Deste modo, a pesquisa busca analisar os projetos do
Presídio Regional de Passo Fundo/RS e da APAC de Santa Luzia/MG, e suas políticas
e estruturas físicas, estudando de quais formas estas diferenças interferem no
comportamento e a ressocialização dos apenados, podendo esclarecer o atual cenário
penitenciário do país. A metodologia utilizada para a realização do estudo ocorreu,
principalmente, por meio de levantamento e revisão bibliográfica pertinentes ao tema,
seguido de pesquisa documentais para levantamento de dados e pesquisa em campo
para reconhecimento do objeto de estudo. As análises concluíram que há uma
disparidade de aproximadamente 40% entre os programas de necessidade das duas
instituições, sendo que o nível de superioridade da APAC na avaliação de sua
infraestrutura, se comparado com o sistema tradicional, sob a ótica dos recuperandos,
reflete nos baixos índices de reincidência criminal da metodologia.

Palavras-chave: Arquitetura Penal; Modelo APAC; Sistema Penitenciário.


ABSTRACT

This research is part of the theme of prison architecture, having as object of study the
relationship between the prison spaces of the Presidio of Passo Fundo/RS and the
APAC Santa Luzia/MG. The Brazilian Penitentiary System has been highlighted in
public debates and in government policies, normally understood as a solution to the
problems of violence and non-compliance with legal rules. However, reality expresses
the complex context of crisis in which the country's prison system is found, originated
by multiple factors. Among them, inadequate facilities, overcrowding, the performance
of criminal factions added to the growing difficulty faced by the State in exercising its
function of rehabilitation of the inmates. That way, and physical structures, studying
the ways in which these differences interfere in the behavior and the re-socialization
of prisoners, which may clarify the current prison scenario in the country. The
methodology used to carry out the study occurred, mainly, by means of survey and
bibliographic review pertinent to the theme, followed by documentary research to
survey data and field research to recognize the object of study. The analyzes
concluded that there is a disparity of approximately 40% between the programs of need
of the two institutions, and the level of APAC's superiority in the assessment of its
infrastructure, compared to the traditional system, from the perspective of the
recoveries, reflects in the low criminal recurrence rates of the methodology.

Keywords: Criminal Architecture; APAC model; Penitentiary system.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Organograma dos procedimentos metodológicos da pesquisa. ............... 25


Figura 2 – Organograma da seleção de autores para a Análise Arquitetônica. ........ 36
Figura 3 – Planta baixa térreo e primeiro pavimento Prisão Malefizhaus, de 1627,
localizada na Alemanha. ........................................................................................... 42
Figura 4 - Planta baixa e fachada da Casa de Correção de São Miguel, de 1704,
localizada em Roma. ................................................................................................. 42
Figura 5 – Planta baixa Newgate, de 1769, Inglaterra. ............................................. 43
Figura 6 – Planta baixa Casa de Correção de Milão, 1775. ...................................... 44
Figura 7 - Planta baixa e fachada da Casa de Força em Gante, 1775, Bélgica. ....... 44
Figura 8 - Planta baixa e cortes esquemáticos do modelo Panóptico de Jeremy
Bentham. ................................................................................................................... 46
Figura 9 - Ruinas da prisão modelo cubana seguidora dos preceitos do modelo
Panóptico. ................................................................................................................. 47
Figura 10 - Planta baixa e fachada da Penitenciária Walnut Street, 1790, Filadélfia.
.................................................................................................................................. 47
Figura 11 - Planta baixa da Penitenciária Western State, Pensilvânia, 1826. ........... 48
Figura 12 - Planta baixa e perspectiva da Penitenciária Eastern State, 1829, em
Cherry Hill, EUA. ....................................................................................................... 49
Figura 13 - Planta baixa da Penitenciária de Auburn,1825, em Nova York, EUA. .... 50
Figura 14 - Imagem da Penitenciária de Fresnes,1898, França............................... 51
Figura 15 - Imagens da primeira geração de penitenciárias do século XX. À
esquerda, planta baixa esquemática. À direita, fotografia da galeria de celas da
Penitenciária de Auburn. ........................................................................................... 51
Figura 16 - Esquema espacial da segunda geração de penitenciárias nos EUA. .... 52
Figura 17 - Esquema espacial da terceira geração de penitenciárias nos EUA. ...... 53
Figura 18 - Foto da Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto/MG, atual Museu da
Inconfidência. ............................................................................................................ 54
Figura 19 - Á esquerda, foto da Casa de Câmara e Cadeia de Mariana/MG. À direita,
planta esquemática de situação da casa de Câmara e Cadeia da cidade de Mariana.
.................................................................................................................................. 54
Figura 20 - Projeto da Casa de Correção do Rio de Janeiro, 1834. ......................... 56
Figura 21 - Foto aérea da Penitenciária de São Paulo de 1921. ............................... 57
Figura 22 - Foto aérea da Casa de Detenção de São Paulo. ................................... 57
Figura 23 - Penitenciária de Presidente Venceslau/SP - Modelo Espinha de Peixe. 58
Figura 24 - Penitenciária Compacta do Estado de São Paulo. ................................. 59
Figura 25 - Penitenciária Lemos Brito - PLB, Salvador/BA. ...................................... 59
Figura 26 - Entrada dos regimes fechado APAC Santa Luzia/MG. ........................... 61
Figura 27 - Os 12 elementos que compõem a metodologia APAC. .......................... 64
Figura 28 – Capacidade Geral dos Estabelecimentos Penais................................... 73
Figura 29 – Ranking dos 10 países com maior população prisional no ano de 2014.
.................................................................................................................................. 86
Figura 30 – Ranking dos 10 países com maior população prisional no ano de 2015.
.................................................................................................................................. 87
Figura 31 - Evolução da taxa de aprisionamento nos 4 países com maior população
carcerária do mundo no período entre 1995 e 2015 para um grupo de 100 mil
habitantes. ................................................................................................................. 88
Figura 32 – Ranking dos 10 países com maior população prisional na América do
Sul no ano de 2018. .................................................................................................. 89
Figura 33 - Evolução da população carcerária brasileira entre 1990 e 2016 a cada
grupo de 100 mil habitantes. ..................................................................................... 90
Figura 34 – Comparação de dados do Sistema Penitenciário Brasileiro dos anos de
2014 e 2016. ............................................................................................................. 91
Figura 35 – População Carcerária Brasileira - dados reais e estimativos. ............... 92
Figura 36 - Ranking nacional dos estados brasileiros com maior população
carcerária no ano de 2014. ....................................................................................... 93
Figura 37 - Ranking nacional dos estados brasileiros com maior população
carcerária no ano de 2016. ....................................................................................... 94
Figura 38 – Pesquisas brasileiras realizadas sobre a reincidência no país. ........... 101
Figura 39 – Localização do Antigo e do novo Presídio Municipal de Passo Fundo/RS.
................................................................................................................................ 107
Figura 40 – Diagrama de zoneamento do Presídio Municipal de Passo Fundo/RS,
1972. ....................................................................................................................... 108
Figura 41 – Fotografia do novo Presídio de Passo Fundo, 1977. ........................... 109
Figura 42 – Imagem interna de cela do novo Presídio de Passo Fundo, 1977. ...... 110
Figura 43 – Equipe de segurança que realizou o transporte dos detentos até o novo
Presídio ................................................................................................................... 112
Figura 44 – Fotografia do novo Presídio de Passo Fundo, 1977. ........................... 112
Figura 45 – Início das demolições do antigo Presídio de Passo Fundo. ................. 113
Figura 46 – Diagrama de zoneamento do Presídio de Passo Fundo com o novo
anexo Albergue, 1998. ............................................................................................ 113
Figura 47 – Nova galeria do Presídio Regional de Passo Fundo, inaugurada em
2004. ....................................................................................................................... 114
Figura 48 - Diagrama de zoneamento do Presídio de Passo Fundo com nova galeria
de celas regime fechado, 2004. .............................................................................. 115
Figura 49 - Diagrama de zoneamento do Presídio Regional de Passo Fundo com
nova galeria de celas do Instituto Penal, 2010. ....................................................... 115
Figura 50 - Diagrama de zoneamento do Presídio Regional de Passo Fundo com o
bloco da UBS, 2016. ............................................................................................... 116
Figura 51 – Mapa Viário entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS. 118
Figura 52 – Mapa Transporte Coletivo entorno próximo Presídio Regional de Passo
Fundo/RS. ............................................................................................................... 120
Figura 53 - Mapa de Usos entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS.
................................................................................................................................ 121
Figura 54 - Mapa de Gabaritos entorno próximo Presídio Regional de Passo
Fundo/RS. ............................................................................................................... 122
Figura 55 - Mapa Nolli entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS, ano
de 1984. .................................................................................................................. 123
Figura 56 - Mapa Nolli entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS, ano
de 2020. .................................................................................................................. 124
Figura 57 – Padrão construtivo e estado de conservação de edificações do bairro
São Luiz Gonzaga. .................................................................................................. 125
Figura 58 - Padrão construtivo e estado de conservação de edificações da rua Ana
Neri, bairro São Luiz Gonzaga. .............................................................................. 125
Figura 59 – Implantação Presídio Regional de Passo Fundo/RS............................ 126
Figura 60 – Taxa de Ocupação e Coeficiente de Aproveitamento área de
implantação Presídio Regional. ............................................................................... 127
Figura 61 – Analise volumétrica Presídio Regional de Passo Fundo/RS. ............... 128
Figura 62 – Esquema gráfico análise volumétrica Presídio Regional de Passo
Fundo/RS. ............................................................................................................... 129
Figura 63 – Análise volumétrica explosão da forma Presídio Regional de Passo
Fundo/RS. ............................................................................................................... 130
Figura 64 – Setorização esquemática planta baixa Presídio Regional de Passo
Fundo/RS. ............................................................................................................... 132
Figura 65 – Esquema gráfico celas regime fechado Presídio Regional de Passo
Fundo/RS. ............................................................................................................... 133
Figura 66 – Eixos organizadores planta baixa Presídio Regional de Passo Fundo/RS.
................................................................................................................................ 134
Figura 67 – Análise climática planta baixa Presídio Regional de Passo Fundo/RS.
................................................................................................................................ 135
Figura 68 – Análise fachada Presídio Regional de Passo Fundo/RS. ..................... 136
Figura 69 – Mapa de localização do Presídio Municipal de Santa Luzia e sua
distância até a APAC. ............................................................................................. 140
Figura 70 – Obras APAC Santa Luzia pavilhão de acesso. .................................... 143
Figura 71 - Obras APAC Santa Luzia corredores de segurança. ............................ 144
Figura 72 - Obras APAC Santa Luzia capela regime fechado. ............................... 144
Figura 73 - Obras APAC Santa Luzia celas do regime fechado. ............................. 145
Figura 74 – Estrada Alto das Maravilhas/MG. ......................................................... 146
Figura 75 – Mapa de localização APAC Santa Luzia/MG. ...................................... 146
Figura 76 – Mapa de análise urbana APAC Santa Luzia/MG, ano de 2013. ........... 147
Figura 77 – Implantação APAC Santa Luzia/MG. ................................................... 148
Figura 78 – Análise volumétrica APAC Santa Luzia/MG. ........................................ 150
Figura 79 - Esquema gráfico análise volumétrica APAC Santa Luzia/MG. ............. 151
Figura 80 - Análise volumétrica explosão da forma APAC Santa Luzia/MG. .......... 151
Figura 81 – Análise eixos organizadores APAC Santa Luzia/MG. .......................... 152
Figura 82 – Implantação esquemática APAC Santa Luzia/MG. .............................. 153
Figura 83 - Setorização esquemática planta baixa APAC Santa Luzia/MG. ........... 154
Figura 84 - Esquema gráfico celas APAC Santa Luzia/MG. ................................... 155
Figura 85 - Eixos organizadores planta baixa APAC Santa Luzia/MG. ................... 156
Figura 86 - Análise climática planta baixa APAC Santa Luzia/MG. ......................... 157
Figura 87 - Análise fachada APAC Santa Luzia/MG. .............................................. 158
Figura 88 – Elementos de destaque fachada APAC Santa Luzia/MG. .................... 158
Figura 89 – Pátio de sol 1 Presídio Regional de Passo Fundo/RS. ........................ 162
Figura 90 - Pátio de sol 2 Presídio Regional de Passo Fundo/RS. ......................... 163
Figura 91 – Pátio regime fechado APAC Santa Luzia/MG. ..................................... 163
Figura 92 – Pátio central regime fechado APAC Santa Luzia/MG. ......................... 164
Figura 93 – Cela regime fechado Presídio Regional de Passo Fundo/RS. ............. 165
Figura 94 – Cela regime fechado APAC Santa Luzia/MG. ...................................... 167
Figura 95 – Cela regime fechado APAC Santa Luzia/MG. ...................................... 168
Figura 96 – Classificação das respostas no formulário do preso. ........................... 171
Figura 97 - Classificação das respostas no formulário do preso para infraestruturas
inexistentes. ............................................................................................................ 174
Figura 98 – Gráfico de escolha dos detentos as infraestruturas inexistentes no
PRPF. ...................................................................................................................... 175
Figura 99 – Gráfico 2 de escolha dos detentos as infraestruturas inexistentes no
PRPF. ...................................................................................................................... 177
Figura 100 - Classificação das respostas no formulário do recuperando. ............... 179
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Matriz para análise arquitetônica realizada em visita in loco. ................. 31


Quadro 2 – Análise arquitetônica volumétrica, planta baixa e fachadas. .................. 36
Quadro 3 – Tipologias Arquitetônicas – Metodologia Silva Filho............................... 38
Quadro 4 – Programa de Necessidades Geral por Estabelecimento penal. ............. 74
Quadro 5 – População Carcerária dos estados de Minas Gerais e Rio Grande do
Sul. ............................................................................................................................ 95
Quadro 6 – Perfil sociodemográfico da população nacional, mineira e gaúcha no ano
de 2014. .................................................................................................................... 96
Quadro 7 - Perfil sociodemográfico da população nacional, mineira e gaúcha no ano
de 2016. .................................................................................................................... 97
Quadro 8 – Ficha Técnica Presídio Regional de Passo Fundo/RS ......................... 117
Quadro 9 – Classificação volumétrica do Presídio e Instituto Penal de Passo
Fundo/RS. ............................................................................................................... 131
Quadro 10 – Evolução da população carcerária Presídio Regional de Passo
Fundo/RS. ............................................................................................................... 137
Quadro 11 – Diretrizes projetuais APAC Santa Luzia/MG ...................................... 142
Quadro 12- Índices urbanísticos APAC Santa Luzia/MG. ....................................... 149
Quadro 13 - Classificação volumétrica da APAC Santa Luzia/MG. ......................... 152
Quadro 14 - Evolução da população carcerária APAC Santa Luzia/MG. ................ 159
Quadro 15 – Regressão linear avaliação do Presídio Regional de Passo Fundo. .. 172
Quadro 16 – Coeficiente de desempenho das infraestruturas existentes no Presídio
Regional de Passo Fundo – RS. ............................................................................. 172
Quadro 17 - Regressão linear avaliação da APAC Santa Luzia.............................. 179
Quadro 18 - Coeficiente de desempenho das infraestruturas existentes na APAC
Santa Luzia – MG.................................................................................................... 179
Quadro 19 - Regressão linear avaliação 2 da APAC Santa Luzia. .......................... 181
Quadro 20 - Coeficiente de desempenho das infraestruturas existentes na APAC
Santa Luzia – MG.................................................................................................... 182
Quadro 21 – Resumo das variáveis analisadas em entrevistas com gestores........ 195
LISTA DE ABREVIATURAS

APAC Associação de Proteção e Assistência aos Condenados


CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CNPCP Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
DEPEN Departamento Penitenciário Nacional
FAPERGS Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
Grande do Sul
FBAC Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICPS International Centre for Prison Studies
IDH índice de Desenvolvimento Humano
INFOPEN Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada
IPPF Instituto Prisional de Passo Fundo
LEP Lei de Execução Penal
MJ Ministério da Justiça
ONU Organizações das Nações Unidas
PC Penitenciária Compacta
PRPF Presídio Regional de Passo Fundo
SUSEPE Superintendência dos Serviços Penitenciários
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 24

CAPÍTULO 1. ARQUITETURA PENAL: HISTÓRICO E PRINCIPAIS CONCEITOS


.................................................................................................................................. 40

1.1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA PENAL NO MUNDO .................. 40

1.2. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA ARQUITETURA PENAL NO BRASIL ... 53

1.2.1. A Associação de Proteção de Assistência aos Condenados - APAC .......... 60

1.2.2. Legislações e Políticas Penitenciárias Brasileiras ................................. 68

1.3 O INDIVÍDUO E SUA FUNÇÃO SOCIAL ............................................................ 76

1.3.1. A mútua relação entre indivíduo e ambiente ........................................... 77

1.3.2. A influência ambiental no comportamento criminal ............................... 81

1.4. POPULAÇÃO PRISIONAL BRASILEIRA: CARACTERÍSTICAS E EVOLUÇÃO84

1.4.1. Brasil no panorama mundial ..................................................................... 85

1.4.2. Panorama Nacional .................................................................................... 89

1.4.2.1 Análises Estaduais............................................................................... 93

1.4.2.2. Perfil dos detentos .............................................................................. 96

1.4.3. Reincidência criminal: conceituação, índices e contribuição no


agravamento da crise carcerária brasileira ....................................................... 98

CAPÍTULO 2. ANÁLISE ARQUITETÔNICA........................................................... 103

2.1 PRESÍDIO REGIONAL DE PASSO FUNDO/RS ............................................... 103

2.1.1. Análise Técnico-Construtiva ................................................................... 105

2.1.2. Análise Urbana ......................................................................................... 117

2.1.3. Análise Arquitetônica .............................................................................. 126

2.1.4. Análise da População Prisional .............................................................. 136

2.2. APAC SANTA LUZIA/MG ................................................................................. 138


2.2.1. Análise Técnico-Construtiva ................................................................... 141

2.2.2. Análise Urbana ......................................................................................... 145

2.2.3. Análise Arquitetônica .............................................................................. 148

2.2.4. Análise do número de Recuperandos APAC Santa Luzia/MG ............. 159

2.3. ANÁLISE COMPARATIVA: PRESÍDIO REGIONAL DE PASSO FUNDO E APAC


SANTA LUZIA ......................................................................................................... 160

2.3.1. Conclusões analíticas sobre a Análise Urbana ..................................... 160

2.3.2. Conclusões Analíticas sobre ocupação e apropriação dos espaços


construídos ........................................................................................................ 161

CAPÍTULO 3. PERCEPÇÃO DOS INDIVÍDUOS AGENTES DO SISTEMA


CARCERÁRIO ........................................................................................................ 170

3.1. PERCEPÇÕES DOS INDIVÍDUOS AGENTES: UMA ANÁLISE DA


INFRAESTRUTURA SOB A ÓTICA DOS DETENTOS DE PASSO FUNDO .......... 170

3.2. PERCEPÇÕES DOS INDIVÍDUOS AGENTES: UMA ANÁLISE DA


INFRAESTRUTURA SOB A ÓTICA DOS RECUPERANDOS DE SANTA LUZIA .. 178

3.3. PERCEPÇÕES DOS INDIVÍDUOS AGENTES: UMA ANÁLISE DO CENÁRIO


PENAL SOB A ÓTICA DE TÉCNICOS E GESTORES ........................................... 184

3.3.1. Percepções e relatos dos indivíduos agentes....................................... 185

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 197

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 201

APÊNDICES ........................................................................................................ 214

ANEXOS .............................................................................................................. 219


18

INTRODUÇÃO

Em diferentes grupos sociais é necessário que se determinem códigos culturais


delimitados por valores morais, que se instituem a partir da convivência das pessoas
em defesa dos direitos da segurança coletiva definindo as condutas aceitáveis ou não.
Punições para as condutas ilícitas são estabelecidas para que estes códigos se façam
valer. Atualmente, as punições aplicadas aos crimes cometidos vão desde multas,
prestação de serviços sociais, isolamento até a morte do indivíduo. Nas unidades
penais brasileiras o isolamento é a pena máxima aplicada aos crimes considerados
mais graves (VIANA, 2009). Porém, o país passa pelo agravamento da crise
penitenciária, impossibilitando muitas vezes, a disposição de vagas em
estabelecimento destinados à pena privativa de liberdade.
O Sistema Penitenciário brasileiro vem recebendo destaque em debates
públicos e em políticas governamentais, normalmente sendo entendido como solução
para os problemas de violência e descumprimento das normas legais (ESTECA,
2010). A rotina em estabelecimentos prisionais no país é comumente marcada por
violência e por segmentações de poder por meio de facções, resultado, em grande
medida, de um ambiente inadequado e superlotado, carregado de estigmas sociais e
assolado constantemente por doenças e mortes. Tal cenário também caracteriza os
desmontes1 das instituições penitenciárias e dos próprios presídios brasileiros
(FERREIRA, 2016).
A problemática dos estabelecimentos prisionais no Brasil é retratada,
sobretudo, pela superlotação, presença de drogas, armamento e o fácil controle da
criminalidade pelos detentos, resultando em uma real deterioração das edificações e
do sistema, produzindo comportamentos humanos hostis, evidenciados por fugas,
rebeliões e motins em resposta à degradante realidade que se repete em todo o país.
Nestes estabelecimentos encontram-se, ainda, grandes obstáculos para o progresso
e a eficácia do sistema penal, por exemplo a falta de assistência jurídica, aliada à
impunidade, à precária infraestrutura dos estabelecimentos, aos altos índices de
reincidência e à falta de conscientização populacional, tonando duvidosa a efetiva

1 O conceito “desmonte”, utilizado para referir-se às instituições penitenciárias também pode ser
entendido como insucesso.
19

recuperação dos detentos (DULLIUS; HARTMANN, 2016). Ao saírem dos


estabelecimentos penais os detentos são instigados à prática de crimes por fatores
de natureza econômica, privação de oportunidades, desigualdade social e
marginalização (BEATO, 1998).
A organização de detentos nos presídios de vários estados, criando facções e
instituindo o crime organizado para unir o sistema prisional e as comunidades
oportunizam o aparecimento de novas formas de criminalidade, caracterizando-se
como mais um empecilho para a recuperação dos apenados que assumem
compromissos com estas facções durante e após a detenção (AZEVEDO; CIPRIANI,
2015).
O agravamento da crise penitenciária no Brasil evidencia-se nos dados
referentes ao crescimento da população carcerária e nos índices de reincidência
criminal, sendo exemplos concretos das dificuldades referidas acima. Relativo à
população carcerária, no ano de 1990, contabilizava-se cerca de 90 mil detentos em
todo o território nacional e, depois de passadas duas décadas, esse número
praticamente octuplicou, chegando a marca de 726,712 mil detentos no ano de 2016.
Este montante representa um aumento de 707% da população encarcerada em
relação a década de 1990 no país (INFOPEN, 2017b).
No ano de 2016 o Brasil já contava com um déficit de mais de 358 mil vagas e
destes 726.712 detentos, 89% dos estão em unidades superlotadas e, destas
unidades, 78% possuem mais presos que sua capacidade permite atender. No tocante
estadual, no ano de 2016 o estado de Minas Gerais era o 2° estado com maior
população carcerária do país, com mais de 68 mil detentos, e o Rio Grande do Sul
ocupava a 7° colocação com mais de 33 mil detentos (INFOPEN, 2017b).
Frente a esta pequena demonstração dos índices do sistema penal brasileiro,
observa-se que a configuração atual desses espaços prisionais, seus projetos e as
leis de amparo aos detentos estão dissociados da realidade carcerária, apesar da Lei
de Execução Penal2 brasileira ser considerada uma das mais avançadas leis
penitenciárias da América Latina, fato que demonstra o abismo vivido pelo sistema
carcerário ampliado pela existência da legislação e o seu descumprimento em
estabelecimentos penais (JESUS, 2012). Segundo Rolim (2005, p.4):

2 LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.


20

Nossos presídios são caixotes de cimento e ferro, construídos sempre às


pressas e sem qualquer consideração pelos desafios de uma execução penal
que se pretenda, de fato “ressocializadora” (ou “socializadora”).

Barros (2003, p.4) salienta que é preciso “definir uma nova arquitetura para as
prisões que harmonize a necessidade da custódia e da segurança, com o
indispensável tratamento penal, voltado para a reintegração das pessoas presas”.
Nesse sentido vale frisar que no Brasil, há uma carência de pesquisas no campo da
Arquitetura Penal3. O planejamento arquitetônico dos espaços prisionais e a maneira
pela qual os indivíduos se correlacionam com o mesmo é de suma importância, visto
que as inter-relações entre o ambiente e as pessoas refletem no ânimo afetivo, na
natureza das comunicações sociais planejadas e obtidas, e no status das pessoas
envolvidas (CAVALCANTE; ELALI, 2011).
A identificação com o local e a possibilidade de se apropriar do espaço refletem
nas ligações afetivas entre pessoa-ambiente e nas relações de poder sobre o mesmo.
Se estas relações possuem aspectos positivos, a apropriação pode se reverberar por
meio de atitudes de respeito para com o espaço, no entanto, em relações negativas
que envolvem sentimentos de segregação e alienação, a apropriação do ambiente
ocorre de maneira hostil, com vandalismos e invasões, comumente presenciado em
estabelecimentos penais (POL, 1996).
Da necessidade de mudança, adveio, em 1972, um modelo prisional singular
denominado APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, que
acredita e investe na recuperação dos apenados, motivando o retorno deste ao
convívio social, presumindo que este indivíduo deve regressar a sociedade sentindo-
se útil e recuperado para agir como um cidadão de bem (ANDRADE, 2014).
Um dos mais importantes aspectos deste modelo é o cuidado, o
pertencimento e a apropriação dos espaços pelos internos, sendo uma fração
essencial para a convivência respeitosa com os demais e para uma plena
recuperação, valorizando as experiências e transformações que aquele ambiente
promove (CAMPOS, 2005).

3 O termo “Arquitetura Penal” utilizado na presente pesquisa faz referência aos estabelecimentos
destinados ao cumprimento da pena, após julgamento. No decorrer desta dissertação se utiliza o termo
“Arquitetura Prisional” como forma de sinônimo à primeira expressão citada, porém sabe-se que seu
significado pode ser mais amplo por remeter a todo e qualquer tipo de “prisão”, sendo este o local
destinado para a detenção de indivíduos já sentenciados ou apenas de caráter provisório.
21

Frente a este contexto, entende-se fundamental analisar comparativamente o


Sistema Penitenciário tradicional com as unidades APAC com o intento de se chegar
as potencialidades e fragilidades de cada sistema, tanto em âmbito legislativo quanto
arquitetônico. Cabe destacar a carência de estudos sobre as diretrizes construtivas e
sobre a arquitetura penal do sistema carcerário tradicional e das unidades APAC, além
das relações entre estes espaços e o indivíduo. Devido a estes aspectos, justifica-se
o interesse pela temática e pela escolha do objeto de estudo.
A presente pesquisa se insere na temática da arquitetura prisional, tendo como
objeto de estudo a relação entre processos de formação e transformação dos espaços
penitenciários do Presídio de Passo Fundo/RS e da APAC Santa Luzia – MG,
vinculando-se à área de concentração Projeto em Arquitetura e Urbanismo por utilizar
como objeto de análise os projetos arquitetônicos penitenciários de Passo Fundo e
Santa Luzia.
Desta forma, o objetivo geral desta dissertação é analisar os projetos do
Presídio Regional de Passo Fundo/RS e da APAC de Santa Luzia/MG, e suas
políticas. Especificadamente objetiva-se:
a) Compreender o processo de consolidação dos modelos penitenciários e os
conceitos jurídicos, arquitetônicos e sociais no âmbito nacional e
internacional;
b) Analisar a legislação relacionada à atuação, à gestão e aos espaços dos
empreendimentos penitenciários objetos de estudo desta dissertação;
c) Analisar a implantação dos equipamentos penitenciários nas cidades de
Passo Fundo e de Santa Luzia, em suas dimensões arquitetônicas e
relacionadas à inserção urbana;
d) Identificar a eficácia da estrutura das penitenciárias a partir da percepção
dos usuários e profissionais atuantes.
Desta maneira, esta dissertação contribui para o debate sobre o tema ao
analisar em diferentes esferas (social, jurídica, percepções psicológicas e
arquitetônica), dois sistemas penitenciários distintos apontando as fragilidades e
potencialidades de cada objeto.
Sucintamente, o estudo do Presídio de Passo Fundo, juntamente com a APAC
Santa Luzia – MG, se justifica pelo fim comparativo entre o sistema penitenciário
tradicional e a metodologia aplicada nas unidades APACS, as quais apresentam
resultados positivos na ressocialização de seus recuperandos e baixos índices de
22

reincidência criminal. A preferência no estudo do município de Santa Luzia se deve a


duas justificativas. A primeira se deve ao fato de Minas Gerais ser a unidade federativa
com maior número de instituições APAC em funcionamento no país. A segunda
justificativa, e de maior relevância, é pelo fato da cidade de Santa Luzia ter recebido
em 2006 o primeiro projeto arquitetônico no país criado exclusivamente para abrigar
uma APAC. O projeto foi elaborado pela equipe de arquitetos do escritório MAB
Arquitetura, localizado em Belo Horizonte/MG, formado por Flávio Agostini e Frederico
Bernis (CAMPOS, 2005).
Esta pesquisa também contribui para a área da Arquitetura Penal ao
correlacionar princípios básicos arquitetônicos à conceitos da psicologia ambiental,
bem como o entendimento de que o espaço construído encontra-se em constante
construção e de que o indivíduo que o utiliza é o responsável por estas mudanças.
Esta dissertação vincula-se à Linha de Pesquisa de “Morfologia, usos e
apropriações das edificações e espaços construídos” do Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo da IMED, devido às análises do processo de transformação dos espaços
prisionais, de Passo Fundo e Santa Luzia, fazendo uso do projeto arquitetônico e
urbanístico como objeto de estudo da realidade do sistema penal.
A dissertação está estrutura em quatro capítulos. O CAPÍTULO 1.
ARQUITETURA PENAL: HISTÓRICO E PRINCIPAIS CONCEITOS apresenta um
embasamento bibliográfico e conceitual referente aos temas de maior relevância para
a compreensão da temática penal. O primeiro e o segundo tópico deste capítulo
trazem a revisão histórica da origem e desenvolvimento da Arquitetura Penal,
abordando o contexto mundial e nacional, salientando a origem da Metodologia APAC
e as legislações e políticas penitenciárias brasileiras. O terceiro tópico do capítulo
apresenta os principais conceitos referentes a relação entre indivíduo e ambiente. Por
fim o quarto tópico do primeiro capítulo traz a evolução da população carcerária
brasileira, um panorama mundial, o perfil dos detentos em âmbito nacional, estadual
e municipal e os índices de reincidência criminal no pais.
No decorrer do CAPÍTULO 2. ANÁLISE ARQUITETÔNICA, realizou-se a
análise projetual detalhada do modelo penitenciário comum, representado pelo
Presídio Regional de Passo Fundo, e de uma unidade APAC, aqui representada pela
APAC Santa Luzia. Recordou-se aspectos históricos de suas formações, analisando
arquitetonicamente suas transformações ao longo do tempo e relacionando estas
23

análises com diretrizes e legislações vigentes no país, chegando em potencialidades


e fragilidades de ambos os sistemas.
As análises feitas no CAPÍTULO 3. O IMPACTO DOS MODELOS
ARQUITETÔNICOS NOS INDIVÍDUOS AGENTES, verificaram de quais maneiras a
arquitetura penal impacta nas ações dos indivíduos envolvidos neste meio e quais as
percepções que os gestores possuem destes espaços, utilizando-se de entrevistas
realizadas em visitas in loco, além da descrição dos dados coletados juntamente com
o Conselho da Comunidade do Sistema Penitenciário de Passo Fundo.
Por fim, a dissertação concluiu-se com as CONSIDERAÇÕES FINAIS,
apresentando a sistematização de todos os resultados obtidos durante a realização
da pesquisa, bem como a retomada dos objetivos descritos anteriormente e a
validação de concepções feitas durante o trabalho.
24

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os estudos, levantamentos de dados e sistematizações de dados realizados


nesta dissertação, de maneira geral, foram verificadas a partir de quatro variáveis: a
ideal; a real; a ideal e real e das percepções. A primeira variável utilizou-se da teoria,
das legislações, normativas e teorias acerca da temática, caracterizando a esfera do
ideal. O cenário do modelo penitenciário no âmbito federal, estadual e municipal,
demonstrou o plano real deste sistema com seus modelos arquitetônicos e legislações
e metodologias colocadas em práticas. A variável dos modelos ideais reproduzidos
internacionalmente e nacionalmente fizeram uma análise das esferas ideais e reais
da temática. Por fim a variável das percepções foram analisadas a partir das
entrevistas obtidas com os usuários (equipes técnicas e detentos).
Para isso, a pesquisa se utilizou de dados primários, como questionários
aplicados à recuperandos da APAC; entrevistas com as equipes técnicas do PRPF e
da APAC Santa Luzia; dados levantados no Arquivo Histórico de Passo Fundo a
jornais regionais e notícias sobre o Presídio do município; plantas e projetos técnicos
dos estabelecimentos penais; documentos históricos do PRPF angariados
diretamente no Departamento de Engenharia Prisional da SUSEPE; além de utilizar-
se de dados secundários.
Como dados secundários analisou-se legislações específicas sobre a temática;
normas arquitetônicas delimitadas pelo Ministério da Justiça; dados fornecidos em
relatórios do Departamento Nacional Penitenciário (DEPEN) e da Superintendência
dos Serviços Penitenciários (SUSEPE/RS); informações bibliográficas sobre a APAC;
e dados referentes ao formulário de entrevista dos presos, no arquivo do Conselho da
Comunidade do Sistema Penitenciário de Passo Fundo.
A dissertação é de natureza qualitativa e quantitativa. Qualitativa por considerar
a existência e um vínculo inseparável entre o mundo real e a subjetividade do sujeito,
não podendo ser interpretados por meio de números (SILVA; MENEZES, 2005). E
quantitativa por explorar variáveis, já determinadas, mensurando-as e expressando-
as numericamente analisando seus resultados com o uso de estatísticas
(APPOLINÁRIO, 2004, p.155). Neste caso se utilizou da metodologia de regressão
linear, além de tabelas e gráficos, para mensurar opiniões e preferências estimando o
potencial dos objetos de estudo demonstrando a importância dos dados coletados.
25

A pesquisa caracteriza-se como empírica-analítica, baseada na análise de


experiências e observações para se chegar a novas conclusões, de caráter
comparativo. Segundo Fachin (2001), pesquisas comparativas respaldam-se pela
investigação de fatos para explicá-los conforme suas diferenças e semelhanças.
Quanto às etapas, a pesquisa se organiza em 8 etapas associadas aos
objetivos pautados. Para se atingir os objetivos desta dissertação foram elegidos
diferentes métodos, que podem ser observados na Figura 1 de maneira sintética.

Figura 1 – Organograma dos procedimentos metodológicos da pesquisa.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A seguir, a descrição e detalhamento das 8 etapas de pesquisa, realizadas


nesta dissertação, com a explicação do método, das técnicas e ferramentas utilizadas
para a execução das mesmas.
26

Etapa 01: Pesquisa Bibliográfica Geral

A etapa de pesquisa bibliográfica geral foi realizada como forma de contextualização


da temática desejando compreender o atual cenário penitenciário do país e o
agravamento de sua crise, assim como para auxiliar no entendimento dos projetos
penitenciários.
Para o desenvolvimento desta etapa foram exploradas palavras-chave como
evolução penal, arquitetura penitenciária, reincidência criminal e relação indivíduo e
ambiente. Estes levantamentos e revisões proporcionaram uma melhor compreensão
dos conceitos que embasam a temática, bem como um panorama geral dos estudos
já realizados nesta área. Nesta perspectiva, foram utilizadas buscas em acervos
digitais, artigos publicados em periódicos no sistema Qualis CAPES, buscas em
bancos de dissertações e teses realizadas em Programas de Pós-Graduação Stricto
Sensu com relevância nacional e internacional, além de pesquisas em livros.
Autores como Beccaria (1764), Foucault (1987), Miotto (1992), Leal (2001),
Garbelini (2005), Julião (2009), Viana (2009) e Esteca (2010), foram fundamentais
para a contextualização da evolução penal e o direito-poder de punição do Estado.
Para a contextualização da arquitetura penal, foram consultados autores como
Foucault (1987), Ornstein (1989), Miotto (1992), Agostini (2002), Algarra (2002), Lima
(2004), Garbelini (2005), Julião (2009), Viana (2009), Esteca (2010), dentre outros,
que contribuíram para o entendimento da origem da arquitetura penal e os principais
modelos consolidados na área.
A abordagem da reincidência criminal, seus significados e conceitos, foi melhor
interpretada a partir de estudos de Foucault (1987), Julião (2009), Bitencourt (2012) e
Sapori, Santos e Maas (2017). Os princípios relacionados à relação entre o indivíduo
e o ambiente foram explorados em produções de Farias Junior (2001), Fernandes e
Fernandes (2002), Azevedo (2004), Lima (2004), Verdugo (2005), Araujo (2007), Elali
e Medeiros (2011), Cavalcante e Elias (2011), Pinheiro (2011), dentre outros autores
abordados nesta dissertação.

Etapa 02: Pesquisa Bibliográfica Específica

A etapa de pesquisa bibliográfica específica foi desenvolvida com o objetivo de


aprofundar o conhecimento acerca da metodologia APAC, especificando dados sobre
27

sua fundação, seus objetivos e princípios, além de índices referentes a reincidência


destas instituições e sua aplicabilidade em âmbito nacional e internacional. Para isso
foram utilizados estudos de autores como Oliveira (2008), Ferreira e Ottoboni (2016),
Andrade (2014), Faria (2011), D’Agostini e Reckziegel (2016), dados retirados da
Cartilha APAC: Programa Novos Rumos, produzida no ano de 2011 pelo Ministério da
Justiça de Minas Gerais e informações obtidas em meio digital no portal da
Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC).

Etapa 03: Pesquisa Documental Geral

Com a finalidade de potencializar os estudos elaborados nesta dissertação, foi


realizado um levantamento documental referente à legislação de cunho penitenciário,
que garantem os direitos e a dignidade dos apenados, como é o caso da Lei n° 7.210,
de 11 de julho de 1984 – Lei de Execução Penal4, angariada em meio digital,
diretamente de fontes do governo federal. Além da LEP, foi utilizada como instrumento
de análise as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos
(2016), fornecida pelo Conselho Nacional de Justiça em meio digital, bem como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para a coleta de dados oficiais que detalhassem a evolução da população
carcerária brasileira, sua relação com a população prisional mundial e os índices de
cada unidade federativa, foi utilizado dados fornecidos pelo Levantamento Nacional
de Informações Penitenciárias (INFOPEN)5, com caráter federal, de responsabilidade
do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e do Ministério da Justiça e
Segurança Pública, disponibilizado em meio digital no site do DEPEN. A análise de
informações oficiais referentes à reincidência criminal no Brasil ocorreu por via de um
relatório de pesquisa, disponível em fonte digital, elaborado pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), realizado em 2015.
A análise arquitetônica será baseada principalemnte nas Diretrizes Básicas
para Arquitetura Penal, normativa disponível em meio digital e produzida, no ano de
2011, pelo Ministério da Justiça e pelo Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária.

4Os decretos n° 6.049 de 2007 e o 7.627 de 2011 também foram analisados por fazerem parte da LEP.
5Estes Levantamentos foram publicados nos meses de junho e dezembro de 2014, dezembro de 2015
e junho de 2016.
28

O levantamento documental teve suma importância na contextualização desta


dissertação por apresentar informações de cunho federal que regem a temática
penitenciária, além de apresentar dados concretos da evolução populacional
carcerária no país e as dificuldades enfrentadas pelas políticas penitenciárias e pela
sociedade devido ao déficit de vagas e a precariedade dos estabelecimentos
prisionais.

Etapa 04: Pesquisa Documental Específica

Nesta etapa foram coletados relatórios específicos sobre a evolução da


população carcerária da cidade de Passo Fundo, sobretudo números relacionados ao
Presídio Regional de Passo Fundo, produzidos pela SUSEPE e divulgados em meio
digital. Também foram obtidas informações gerais sobre a cidade de Passo Fundo,
referente ao seu desenvolvimento econômico, educacional e da saúde, no site da
Prefeitura Municipal. O levantamento sobre o atual número populacional do município,
dentre outros aspectos, foi realizado na base de dados online do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatísticas (IBGE).
No tocante arquitetônico foram obtidas informações projetuais6 do Presídio
Regional de Passo Fundo diretamente no Departamento de Engenharia Prisional da
SUSEPE. Na coleta de dados obteve-se parte de sua história de construção, fundação
e de suas reformas. Porém, registros fotográficos e documentais da edificação foram
realizados em acervos do Arquivo Histórico Regional de Passo Fundo em jornais
locais do ano de 1977, iniciando as buscas no mês de janeiro de 1977 até o mês de
dezembro do referido ano. Também foram feitas pesquisas no acervo de jornais da
cidade do ano de 2004 (dezembro) e 2005 (janeiro), buscando informações sobre
ampliações realizadas no Presídio Regional de Passo Fundo.
Os registros em jornais como “O Nacional” e “Diário da Manhã” serviram para
elucidar os fatos históricos de inauguração, algumas reformas, além de apresentar
fotos históricas do Presídio Regional de Passo Fundo.
Ainda com relação às análises ao presídio Regional de Passo Fundo, foram
utilizados dados obtidos por meio de questionários aplicados pelo Conselho da

6 As plantas detalhadas do presídio não foram disponibilizadas para a pesquisa por motivos de
segurança do sistema prisional. Desta forma, trabalhou-se com croquis feitos pela autora para a
explicação do projeto tornando-se obrigatório o uso de esquemas gráficos para a análise arquitetônica
dos projetos.
29

Comunidade do Sistema Penitenciário de Passo Fundo e a complementação criada


pela autora para esta documentação. Estes questionários (ANEXO A) já estruturados
pelo Conselho são aplicados desde o ano de 20147, com o objetivo de fiscalizar a
estrutura do estabelecimento, bem como os serviços oferecidos aos apenados
(assistência à saúde, alimentação, assistência educacional, religiosa e jurídica),
durante o seu cumprimento de pena.
A complementação do questionário do preso (APÊNDICE A) criada durante o
desenvolvimento desta pesquisa explora, mais detalhadamente, as percepções dos
apenados sobre a estrutura física do estabelecimento penal, as impressões obtidas
na permanência nos espaços que compõem o presídio, além de concepções
relacionadas à integração com a sociedade por meio dos ambientes físicos do local.
A elaboração desta complementação ocorreu juntamente com o Conselho da
Comunidade, sendo ajustados os detalhes para facilitar a sua aplicação, que ocorreu
entre os meses de maio e junho de 2019. Foram coletados 65 formulários entre
apenados do regime fechado e do regime semiaberto, sendo de total posse do
Conselho da Comunidade todos os materiais obtidos em aplicação dos formulários, e
utilizados nesta pesquisa apenas os dados coletados nas aplicações.
A coleta de dados obedeceu a amostragem utilizada pelo Conselho da
Comunidade onde os formulários são aplicados semestralmente pelos membros do
Conselho e se utilizam de uma amostragem específica de detentos do regime
fechado: são selecionados, no mínimo, um detento por cela e dois detentos em
galerias que abrigam mais de 30 apenados no mesmo espaço. Cabe ressaltar que
deste questionário apresentado não serão utilizados dados específicos da
identificação dos presos, tendo em vista que estas informações são sigilosas e não
são relevantes para a presente pesquisa. O Conselho da Comunidade também
disponibilizou para este estudo todos os registros fotográficos realizados do Presídio
Regional de Passo Fundo durante visita.
A contextualização da cidade de Santa Luzia, localizada no estado de Minas
Gerais, ocorreu por meio de dados encontrados no Plano Diretor do município e no
banco de dados do IBGE (número de habitantes), sendo ambos obtidos em formato
digital. Relativo aos dados arquitetônicos, plantas e memoriais da unidade APAC
Santa Luzia, contatou-se o arquiteto responsável pela obra para a obtenção destas

7Para esta pesquisa serão computados apenas os dados retirados da complementação do questionário
do ano 2019.
30

documentações, trabalhou-se com registros fotográficos e croquis construídos pela


autora, pois as plantas e os projetos técnicos não podem ser repassados para
terceiros por questões de segurança.

Etapa 05: Pesquisa em Campo

A etapa de pesquisa em campo se relaciona com os objetivos específicos de


analisar a implantação dos equipamentos penitenciários nas cidades de Passo Fundo
e de Santa Luzia, em suas dimensões arquitetônicas e relacionadas à inserção urbana
e identificar a eficácia da estrutura das penitenciárias a partir da percepção dos
técnicos e profissionais atuantes. Além disto, esta etapa contribui no estudo
comparativo entre as instituições, favorecendo o relato das fragilidades e
potencialidades ou das similaridades e distanciamentos entre os modelos. Para isso,
esta etapa de pesquisa se subdivide em duas partes:

Visitas in loco

As visitas in loco foram registradas, primeiramente, com um gravador (diário de


bordo digital) que possibilitou a averbação das informações de maneira dinâmica e
rápida para que, na sequência, os áudios fossem transcritos em registros manuais.
Todas as visitas in loco foram orientadas por uma matriz (Erro! Fonte de referência
não encontrada.) criada previamente, com base na metodologia de Almeida (2018)
e em sua Ficha de Análise Arquitetônica e Urbanística de Edificações (ANEXO B),
elaborada com base nos processos imobiliários das CAPS/IAPs (2012). Esta matriz,
no formato de checklist, foi adaptada com o objetivo de guiar as visitas técnicas e
auxiliar no roteiro de observação, criando passos básicos a serem seguidos nas
análises arquitetônicas e ambientais.
31

Quadro 1 – Matriz para análise arquitetônica realizada em visita in loco.

MATRIZ PARA ANÁLISE ARQUITETÔNICA – Visita in loco


 Presídio Regional de Passo Fundo/RS  APAC Santa Luzia/MG
 Data de Projeto.
 Data de início e término da obra.
 Equipe de Arquitetos e/ou Engenheiros.
Análise Técnico-Construtiva

 Referências formais e funcionais do projeto.


 Materiais empregados
 Relatar objetivo dos sistemas.
 Relatar as filosofias dos sistemas.
 Quais os profissionais envolvidos no funcionamento destes sistemas?
 Quantos profissionais trabalham nestas unidades?
 Quantos detentos/recuperandos possuem estas unidades?
 Qual o número de vaga ofertadas em cada um destes sistemas?
 Qual o órgão gerenciador?
 Qual os índices de reincidência?
 Os indivíduos apresentam mudanças em seus comportamentos?
 Quais as atividades/dinâmicas ofertadas nestas unidades?
 Elementos de relação entre a construção e o terreno.
 Elementos de relação entre o terreno e a rua.
 Elementos de relação entre a rua e o bairro.
 Elementos de relação entre a edificação e o bairro.
 Elementos de relação entre a edificação e a cidade.
 Descrever o movimento viário da região.
Análise Urbana

 Há a presença de transporte público no entorno próximo a edificação?


 Descrever a infraestrutura urbana do bairro.
 Relatar estado de conservação das edificações vizinhas e o padrão
construtivo das mesmas.
 Relatar o estado de conservação da edificação em estudo.
 Como ocorre a acessibilidade ao local?
 Descrever a presença de serviços no entorno próximo a edificação.
 A edificação cumpre com a sua função?
 Relate as percepções sobre conforto visual, térmico, luminoso, acústico.
 Há contraste entre os materiais utilizados nas edificações?
 O local de implantação é adequado para este uso?
32

 Elementos de relação entre FORMA e FUNÇÃO.


 Como ocorre a implantação da edificação?
 Relatar a conformidade ou não das diretrizes propostas em Plano Diretor
(recuos, permeabilidade, TO, CA).
 Descrever o programa de necessidades da edificação e se o mesmo atende
as Diretrizes Básicas para a Arquitetura Penal.
 Descrever a setorização do estabelecimento e a relação entre eles.
 Descrição manual do fluxograma e organograma.
Análise Arquitetônica

 Quais os ambientes com maior fluxo?


 Analisar o dimensionamento dos espaços, seus usos e o número de pessoas
que o utiliza.
 Descrição dos mobiliários identificados durante a visita, sua adequação ao
espaço e ao uso.
 Identificação dos materiais empregados.
 Análise das fachadas, materiais empregados, presença de aberturas,
utilização de cores, etc.
 Descrição de métodos para conforto térmico, visual, luminoso e ergonômico
dos ambientes.
 Há a presença de vegetação?
 Analisar os espaços de convivência e sua organização espacial.
 Identificação de hierarquia de acessos e a configuração dos mesmos.
 Qual a percepção geral dos espaços?
 Houve a preocupação de humanizar os espaços?

Fonte: ALMEIDA, 2018, adaptado pela autora.

Durante as visitas, também foram realizados registros fotográficos 8 dos


espaços, assim como croquis que permitiram um melhor entendimento do objeto de
estudo.
No mês de janeiro de 2019 foi realizada a primeira visita técnica para o
conhecimento dos recuperandos, equipe administrativa e funcionários, além de
reconhecimento da área do local e levantamentos fotográficos. Em setembro de 2019
ocorreu a segunda visita técnica com o intuito de coletar os dados finais da pesquisa
como números da população penal da APAC e o perfil sociodemográfico da unidade
e a aplicação de questionários similares aos aplicados no Presídio de Passo Fundo.
Os questionários (APÊNDICE B) foram respondidos por 15 recuperandos e visou a
análise da percepção dos mesmos sobre os espaços e as relações entre indivíduo e
ambiente. Destaca-se a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (ANEXO C) na
realização desta aplicação de questionários, sem qualquer tipo de identificação de
detentos.

8Seguindo as diretrizes do Comitê de Ética em Pesquisa as fotografias não terão presença de pessoas
ou dimensões que possam comprometer o sistema de segurança prisional.
33

Entrevistas

Durante a realização das visitas para reconhecimento do objeto de estudo,


foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas, as quais possibilitaram uma maior
flexibilidade na realização de novas perguntas, geralmente abertas, permitindo
analisar uma diferente perspectiva do tema em estudo (LAKATOS; MARCONI, 2003).
Estas entrevistas foram realizadas com o objetivo de identificar os diferentes agentes
que compõem o sistema prisional e como estes compreendem a arquitetura destes
estabelecimentos.
Aplicou-se a entrevista (APÊNDICE C) com os seguintes participantes:
Presídio Regional de Passo Fundo: 2 membros da administração do presídio, 1
membro do Conselho da Comunidade local, Engenheiro SUSEPE.

APAC Santa Luzia: 1 membro da administração e representante da Fraternidade


Brasileira de Assistência aos Condenados (órgão fiscalizador da metodologia APAC),
1 membro do Conselho da Comunidade local, Arquiteto responsável pelo projeto.
Na APAC Santa Luzia o representante administrativo nomeado “interventor”
estava em período provisório na unidade resolvendo impasses administrativos
deixados por gestões anteriores. É importante apresentar esta informação, pois, na
primeira visita à unidade (janeiro/2019) a mesma possuia uma equipe diretiva e, na
segunda ocasião (setembro/2019), estava sob os cuidados do interventor nomeado
pela FBAC. A APAC enfrentava uma grave crise financeira devido a problemas
administrativos, agravados com o passar dos anos, e estava alimentando seus
recuperandos com doações de outras APACS mineiras.
A entrevista com o interventor foi realizada do mesmo modo e por ser um
conhecedor e fiscalizador da metodologia, o membro administrativo em questão soube
responder às perguntas sobre a unidade, suas fragilidades e potencialidades. O
resultado das entrevistas será apresentado no Capítulo 3.

Etapa 06: Análise Arquitetônica

A etapa de análise arquitetônica baseou-se na matriz apresentada como guia


das visitas in loco, utilizando-se, principalmente, dos dados coletados durante a
34

pesquisa em campo, além de documentos referentes às informações projetuais


angariados junto dos órgãos responsáveis. A matriz para análise arquitetônica
realizada em visita in loco (Quadro 1) foi elaborada baseando-se na metodologia de
análise de projeto criada pela Professora Dra. Caliane Almeida em sua tese de
doutorado, intitulada “Habitação social no Nordeste: a atuação das CAPs e dos IAPs
(1930-1964)”, publicada no ano de 2012, complementada, com autores como Baker
(1998) e Ching (1998), Clark e Pause (1996) e Unwin (1997), para a aplicação na
disciplina, do Programa de Pós-Graduação de Arquitetura e Urbanismo da IMED, “O
projeto como objeto de estudo”. A metodologia utilizada sofreu algumas alterações
devido ao objeto de estudo e a temática na qual se insere. Esta metodologia analisa
quatro macros dimensões do método, sendo elas a contextualização do projeto; a
análise técnico-construtiva; a urbana e a arquitetônica.
A contextualização tem o objetivo de localizar de forma temporal, o momento
econômico, cultural, social, tecnológico e político no qual os projetos foram criados. A
análise técnico-construtiva possui relação direta com a contextualização e tem como
objetivo demonstrar a trajetória acadêmica do responsável técnico pelo projeto, além
de estudar as referências formais e funcionais do projeto e os materiais utilizados. A
dimensão urbana aborda as relações entre construção, o terreno, a rua, o bairro e a
cidade, realizando análises referente à infraestrutura do bairro, seu padrão
construtivo, entre outros especificados na matriz. Por fim a dimensão arquitetônica
analisa exclusivamente a edificação e sua implantação, o seu programa, setores,
fluxos, usos, dentre outros de suma importância para o estudo da morfologia do
projeto arquitetônico (ALMEIDA, 2018).
Como citado, foi utilizado os métodos desenvolvidos por Baker (1998),
estabelecendo relações entre as formas utilizadas por Le Corbusier. Estes métodos
exploram os aspectos da forma (lineares ou centroides); a dinâmica da forma (as
impressões com relação à forma); os arranjos arquitetônicos e como se organizam os
volumes e as plantas (sistemas lineares, nucleares, radiais, axial ou híbridos). Francis
Ching (1998) com sua obra “Arquitetura: forma, espaço e ordem” explora as análises
arquitetônicas evidenciando os princípios ordenadores dos espaços a partir dos
elementos primários (ponto, reta, plano e volume); da forma (formato, tamanho, cor e
textura, posição, orientação inércia visual, etc.); do espaço e sua relação com a forma;
da organização (centralizada, linear, radial, aglomerada, em malha); da circulação; da
proporção e escala; e dos princípios ordenadores (eixo, simetria, hierarquia, ritmo,
35

referência, transformação, reverberação e repetição) (BELTRAMIN, 20159; CHING,


1998).
O método de Almeida (2018), se utilizou de elementos de pesquisa dos autores
Clark e Pause (1996), que estudam a estrutura; a luz natural; a concentração; planta
corte e elevação; circulação e área útil; unidade e o todo; repetitivo e único; simetria e
equilíbrio; geometria; adição e subtração e hierarquia (BELTRAMIN, 2015). Os
elementos estudados e analisados pelo Arquiteto Simon Unwin, como exemplo os
elementos principais (terreno, espaço acima, gravidade, luz, tempo); os básicos (área
definida do solo, área elevada e rebaixada, marco, foco, barreira, cobertura, coluna,
caminho, abertura, ponte, clausura, célula) e os modificadores (luz, cor, temperatura,
ventilação, som, odor, textura e tato, escala, tempo), também foram incorporados ao
método em questão (UNWIN, 1997; BELTRAMIN, 2015).
A Figura 2 demonstra, sinteticamente, os autores que foram utilizados para a
realização da análise arquitetônica dos objetos de estudo apresentados no capítulo 2.

9 A pesquisa realizada por Beltramin (2015) é utilizada como suporte ao método.


36

Figura 2 – Organograma da seleção de autores para a Análise Arquitetônica.

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

As análises foram feitas na volumetria, nas plantas10 ou esquemas que as


representem e nas fachadas das edificações e seguiram os elementos descritos no
Quadro 2 conforme Almeida (2018).

Quadro 2 – Análise arquitetônica volumétrica, planta baixa e fachadas.

VOLUME PLANTA BAIXA FACHADA


ASPECTOS DA FORMA FORMATO DA PLANTA FORMATO DA FACHADA
Estabilidade, peso, Geral/agrupamento de Geral/agrupamento de
horizontalidade x verticalidade, elementos; adição/ subtração; elementos; adição/ subtração;
cheios x vazios. dimensões. dimensões.
EXPRESSÃO DE LINHAS EXPRESSÃO DE LINHAS EXPRESSÃO DE LINHAS
Agrupamentos de linhas, Agrupamentos de linhas, Agrupamentos de linhas,
ângulos. ângulos. ângulos.

10 Devido ao grau de segurança dos estabelecimentos penais, os projetos arquitetônicos não foram
fornecidos para a autora. Desta forma, durante as visitas in loco foram realizados croquis para a
setorização dos estabelecimentos, auxiliando as análises arquitetônicas.
37

SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO ESPAÇOS E AMBIENTES ELEMENTOS


DE VOLUMES Base, corpo e coroamento
Centroide, linear, escalonado,
axial, híbrido.
EIXOS AMBIENTES ELEMENTOS
Reais ou imaginários,
organização dos volumes.
SIMETRIA SIMETRIA SIMETRIA
A partir de eixos reais ou A partir de eixos reais ou A partir de eixos reais ou
imaginários. imaginários. imaginários.
ORGANIZAÇÕES IMPORTÂNCIA DA FACHADA
Escala, proporção, sistema de
ordem.
SISTEMAS FORMA X FUNÇÃO
Estruturais, delimitação, Circulação vertical; relação
circulação, contexto, etc. entre moradias; eixos
organizadores do espaço;
unidades da planta (Quantas
são? Em que formato?); plantas
separadamente (Há eixos?
Qual o tamanho da planta?
Setores, forma da planta e
espaços, relação entre
setores).

SETORES
Formato/ dimensão/ relação
proximidade, iluminação e
ventilação.
PROGRAMA
NECESSIDADES
Destaques, fragilidades,
relação dos espaços.
MOBILIÁRIO E FLUXO
MATERIAIS
Fonte: ALMEIDA, 2018 adaptado pela autora.

Por fim, aplicou-se a categorização dos estabelecimentos penais utilizada por


Ari Tomaz da Silva Filho11 em sua Dissertação “Projeto de arquitetura: estudo do
sistema penitenciário brasileiro público e de cogestão (público e organização sem fins
lucrativos)”. Esta categorização (Quadro 3) usou modelos arquitetônicos históricos e
divide-se em: modelo linear; modelo cruciforme; modelo quadrado oco; modelo
Auburn; modelo poste telegráfico e modelo modular.

11O autor baseou-se em outros referenciais para a criação desta categorização sendo eles: GIL (1967),
JORGE (2000), JOHNSTON (2000), CHING (2001), LIMA (2005), VAZ (2005), VIANA (2009), ESTECA
(2010), SUN (2014).
38

Quadro 3 – Tipologias Arquitetônicas – Metodologia Silva Filho.


TIPOLOGIA CROQUI TIPOLOGIA CROQUI
Modelo Linear Modelo Auburn

Modelo Cruciforme Modelo Poste Telegráfico

Modelo Quadrado Oco Modelo Modular

Fonte: SILVA FILHO, 2017 adaptado pela autora.

Etapa 07: Modelagem Matemática de Regressão Linear

Após a coleta dos dados dos formulários aplicados aos apenados, tanto no
PRPF quando na APAC Santa Luzia, as informações são analisadas a partir da
técnica de modelagem matemática de Regressão Linear. Está técnica fundamenta-se
na coleta de dados reais, convertidos em uma solução analítica de caráter
quantitativa, a fim de facilitar a investigação de situações em um ambiente real
(BASSANEZI, 2004; MONTGOMERY; PECK; VINING, 2012).
A análise de regressão embasa-se na realização de uma análise estatística
objetivando a verificação da existência, ou não, de relação funcional entre uma
variável dependente (Y) com uma ou mais variáveis independentes (X). Em síntese,
consiste na obtenção de uma equação linear que buscar explicar a variação de Y
(variável dependente) pela variação dos níveis de X (variáveis independentes)
(BASSANEZI, 2004; PATERNELLI, 2004; MONTGOMERY; PECK; VINING, 2012),
estas variáveis serão demonstradas no Capítulo 4 para uma melhor compreensão dos
resultados obtidos. A equação a seguir exemplifica o cálculo de Regressão que se
utiliza na tabulação dos formulários aplicados com os detentos do PRPF e com os
recuperandos da APAC Santa Luzia.
39

Equação 1: Cálculo de Regressão Linear.


𝑛

𝑌 = 𝛽0 + ∑ 𝛽0 ∗ 𝑋i
𝑖=1

Onde:
Y é a variável dependente;
 0, a constante;
 i, o coeficiente de regressão;
Xi, as variáveis independentes
Para as regressões, a constante  0 foi considerada 0

Os resultados alcançados nestas análises são demonstrados em gráficos e


tabelas, e possibilitam a análise de variância, alcançada através do cálculo de
regressão linear no programa JASP, retratando o nível de confiabilidade da pesquisa,
além do desempenho dos estabelecimentos penais em estudo.

Etapa 08: Sistematização parcial e final dos dados

A análise dos dados coletados nas etapas de pesquisa mencionadas


anteriormente (pesquisa bibliográfica geral e específica, pesquisa documental geral e
específica, pesquisa em campo - visita in loco e entrevistas – e análise arquitetônica)
ocorrerem em duas etapas. A primeira, análise parcial dos dados, foi desenvolvida no
momento de qualificação da pesquisa, sendo apresentado dados coletados em
primeira visita à unidade APAC Santa Luzia/MG. Para a sistematização final foram
revisados todos os dados de pesquisa bibliográfica geral e específica, documental e
específica, acrescentando considerações feitas em qualificação. Além disto, foram
sistematizados todos os dados angariados em pesquisa em campo (Capítulo 3) e as
análises arquitetônicas (Capítulo 2) a fim de se cumprir o objetivo geral da pesquisa.
Analisando os projetos do Presídio Regional de Passo Fundo/RS e da APAC
Santa Luzia/MG, e suas políticas e identificando a eficácia da estrutura das
penitenciárias a partir da percepção dos técnicos e profissionais atuantes, buscou-se
chegar as potencialidades e fragilidades de cada objeto, compreendendo de quais
formas estas diferenças interferem no comportamento dos apenados e na sua
ressocialização.
40

CAPÍTULO 1. ARQUITETURA PENAL: HISTÓRICO E PRINCIPAIS CONCEITOS

O presente capítulo tem por objetivo apresentar informações que possibilitem


a contextualização e a compreensão das diferentes vertentes que embasam o
agravamento da crise penitenciária no Brasil, tendo como base a reconstrução
histórica da Arquitetura Penal; as relações e influências entre indivíduo e ambiente; a
evolução da população prisional brasileira e a reincidência criminal no país. Este
capítulo atende a dois objetivos específicos da dissertação (compreender o processo
de consolidação dos modelos penitenciários e os conceitos jurídicos, arquitetônicos e
sociais no âmbito nacional e internacional e analisar a legislação relacionada à
atuação, à gestão e aos espaços dos empreendimentos penitenciários objetos de
estudo desta dissertação) mediante levantamento e revisão bibliográfica.

1.1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA PENAL NO MUNDO

O filósofo francês Michael Foucault demonstra, em seu livro Vigiar e Punir


(1975)12, que desde a Idade Média, instituições judiciais viam o sofrimento como forma
de pena e correção. Estas instituições aplicavam castigos corporais em busca da dor
ou até mesmo da morte dos apenados, portanto a privação de liberdade não se
constituía numa forma de pena mas sim como um meio de garantir que os detentos
não fugissem, esperando para serem julgados em calabouços, fortalezas ou torres,
onde ocorria o cumprimento da pena13.
Durantes os séculos XVI e XVII com a crise no sistema feudal; com o
empobrecimento da Europa; com as guerras religiosas e a destruição das cidades,
multiplica-se, a pobreza e a criminalidade, tendo um número tão grande de presos que
se tornava impossível utilizar-se de antigas penas, como por exemplo a pena de morte
(VIANA, 2009, p. 88).
O direito-poder de punição dos Estados se constitui na criação de mecanismos
que estabeleçam o regramento do comportamento humano, também conhecido como
as leis, e estabelecem as penas para o não cumprimento de legislações. Deste

12A primeira publicação da obra no Brasil ocorreu apenas no ano de 1987.


13Na antiguidade os espaços destinados a custódia não apresentavam uma arquitetura própria e,
muitas vezes, utilizavam edificações abandonadas e até antigos poços de água – os quais eram
conhecidos como “a fossa dos condenados” (VIANA, 2009, p. 77).
41

conjunto de leis e penas nasce o sistema jurídico-penal (BECCARIA, 1764; ESTECA,


2010). O modelo jurídico-penal surgido na Europa, no século XVIII, juntamente com a
formação do Estado Moderno Liberal14, ganha importância no estudo da arquitetura
penitenciária por representar a reconfiguração do direito-poder de punição do período
medieval devido às transformações econômicas e políticas que vinham ocorrendo
desde o século XV (ESTECA, 2010).
O sistema de justiça baseado em castigos corpóreos se transforma em um
sistema social onde ocorre a humanização dos castigos, ficando conhecida como
Reforma Jurídico-Penal15, a qual previa o encarceramento do infrator em um local
próprio – a prisão – por um determinado período de tempo. Sendo assim, a privação
de liberdade, agora conhecida como pena, visava a recuperação do indivíduo e sua
inserção social, prevenindo novos delitos (ESTECA, 2010).
Neste contexto, ainda sem a criação da Arquitetura Penal, o modelo prisional
aderido foi a penitência eclesiástica que se fundamentava na reclusão do indivíduo
para que este reconhecesse seus pecados estando disposto a não mais cometê-los.
Estas penitenciárias eram postas em prática em mosteiros e conventos da Igreja
Católica, vistas como lugares de retiro espiritual (MIOTTO, 1992, p. 25).
Semelhantes as penitenciárias eclesiásticas, são criadas as prisões voltadas à
disciplina do indivíduo, recebendo o nome de Casas de Correção, que se destacam
pelas representantes em Bridewell16, Inglaterra, no ano de 1552, e Rasphuis,
Amsterdam, de 1596 (VIANA, 2009). Na Alemanha, em 1627, é construído a prisão
Malefizhaus, local administrado pela Igreja e destinado a condenação de pecadores e
“bruxos” (JOHNSTON, 2000, p. 35). O projeto (Figura 3) possui dois pavimentos17,
sendo o primeiro dotado de alojamentos coletivos e salas para guardas. O segundo
pavimento possui celas individuais e um amplo corredor central. As celas e
alojamentos dispõem de sistema de aquecimento e janelas voltadas ao exterior
(JOHNSTON, 2000; VIANA, 2009).

14 O Estado Moderno Liberal é marcado pela Constituição Francesa de 1787, onde o a punição tornou-
se um mecanismo de proteção social, no qual o estado legisla, processa e aplica a pena – “O direito
de punir deslocou-se da vingança do soberano à defesa da sociedade” (FOUCAULT, 1987, p. 76).
15 A Penalogia e a Criminologia desta reforma foram influenciadas pelo Iluminismo e Renascimento,

sendo implantada no Período Humanitário do Direito Penal que possuia um caráter antro-centrista,
liberal-individualista e utilitarista (ESTECA, 2010, p. 25).
16 Esta casa de correção baseava-se na disciplina e no trabalho como meio recuperador do indivíduo

(VIANA, 2009). Bridewell também possuía a função de hospital e oferecia atendimento aos detentos do
local, contando com médicos, cirurgiões e enfermeiros para estes cuidados (SUN, 2014).
17 Cada pavimento possui um altar e salas para convívio entre os detentos (VIANA, 2009, p. 121).
42

Figura 3 – Planta baixa térreo e primeiro pavimento Prisão Malefizhaus, de 1627, localizada na
Alemanha.

Fonte: JOHNSTON, 2000, p. 36 adaptada pela autora.

Construída em Roma, em 1704, a Casa de Correção San Michele (São Miguel)


foi elaborada sob determinação do Papa Clemente XI e é a adaptação de um antigo
hospício. Essa prisão (Figura 4), tinha a função de abrigar delinquentes em regime
misto, sendo trabalho durante o dia e isolamento e silêncio absoluto durante a noite
(VIANA, 2009, p, 92). As celas dispostas em dois sentidos, eram separadas por um
corredor central e possuíam latrinas, colchões, luz e ventilação natural, além de áreas
de trabalho comum (VIANA, 2009; ESTECA, 2010; SUN, 2014).

Figura 4 - Planta baixa e fachada da Casa de Correção de São Miguel, de 1704, localizada em Roma.

Fonte: VIANA, 2009, p. 92 adaptado pela autora.


43

Seguindo um novo projeto elaborado em 1769 por George Dance, a prisão de


Newgate (Figura 5), Inglaterra, caracteriza-se por ser uma das primeiras prisões
aderindo o modelo cruciforme. Seu projeto é formado a partir de um bloco central,
onde ocorre o acesso, e três alas ao redor de pátios centrais. Newgate possui
alojamentos coletivos, cinco celas individuais e salas para castigos corporais, em alas
masculinas (JOHNSTON, 2000, p. 34).

Figura 5 – Planta baixa Newgate, de 1769, Inglaterra.

Fonte: JOHNSTON, 2000, p. 34 adaptado pela autora.

Projetada por Francesco Croce, a Casa de Correção de Milão, datada de 1775,


apresentava um projeto em maior escala alojando mulheres e menores. O projeto,
conforme
44

Figura 6 demonstra a adoção da planta em “T” ou planta cruciforme, adotando


as mesmas estratégias de conforto da Casa de Correção de San Michele, celas com
latrinas, ventilação e iluminação natural (JOHNSTON, 2000).

Figura 6 – Planta baixa Casa de Correção de Milão, 1775.

Fonte: VIANA, 2009, p. 93.

Outro modelo de estabelecimento prisional, durante o século XVIII foras as


Casas de Força. Caracterizavam-se pela falta de higiene ou princípios morais,
construídos, em sua grande maioria, no subterrâneo, comprovando as condições
insalubres que geravam e propagavam doenças que poderiam causar o óbito dos
detentos ali instalados. As Casas de Força, ganharam representantes em Londres,
em Amsterdam e na Bélgica (ESTECA, 2010). A Casa de Força em Gante (Figura 7),
localizada na Bélgica, projetada pelos arquitetos Malfaison e Kluchman e concluída
entre 1772 e 1775, se caracterizava pela utilização do modelo radial, o qual teve
influências em projetos de penitenciárias a partir daquele momento (ALGARRA,
2002).
45

Figura 7 - Planta baixa e fachada da Casa de Força em Gante, 1775, Bélgica.

Fonte: ESTECA, 2010, p. 35 adaptado pela autora.

A Casa de Força consistia em um edifício octogonal, com um espaço de


vigilância no centro da edificação, do qual partiam oito vértices que compunham a
forma octangular. Destes espaços originados pelos vértices, foram criadas quatro
plantas de celas individuais e a novidade do projeto estava na classificação dos
apenados por idade e sexo, com separações físicas nas galerias e nos pátios
formados entre elas (ALGARRA, 2002). Porém a criação de vértices gerou uma má
incidência de raios solares em áreas comuns, como pátios, e principalmente nas
celas, auxiliando na propagação de doenças.
Acerca do sistema prisional da Inglaterra e a sua realidade, John Howard,
considerado o primeiro reformista das prisões inglesas, em sua obra intitulada The
States of Prisons in England and Wales18 (1777), sugeriu algumas reformas para a
nova realidade de presídios. Uma dessas mudanças era o desenvolvimento de
espaços destinados para a pena privada de liberdade (ALGARRA, 2002; ESTECA,
2010).

Do ponto de vista arquitetônico, a principal contribuição de Howard é a sua


defesa do modelo de cárcere celular. Suas demandas de higiene e segurança
se converteram nas duas diretrizes motivadoras da arquitetura penitenciária
do final do século XVIII e princípios do XIX (ALGARRA, 2002, p. 10).

O segundo grande reformista foi Jeremy Bentham, filósofo inglês, que propôs
uma grande reforma nos estabelecimentos penais com a aplicação de métodos
científicos, teóricos e econômicos. Em 1787, Bentham lança o sistema Panóptico –

18Esta obra relatava o resultado de 17 anos de observações de instituições penais em diferentes


países, atestando, também, o péssimo estado de conservação e a ineficácia das instituições (VIANA,
2009).
46

que vê tudo - (Figura 8), que configurava uma penitenciária modelo, inicialmente
utilizado nos EUA nos anos de 1800 (ALGARRA, 2002).

Figura 8 - Planta baixa e cortes esquemáticos do modelo Panóptico de Jeremy Bentham.

Fonte: ALGARRA, 2002, p. 12.

O modelo Panóptico, apresentado na Figura 8, se caracterizava por edifícios


em forma de anel, nos quais, no centro, se localizava a torre, onde os vigilantes
obtinham total visão das celas e do pátio central. As celas estavam localizadas no anel
da construção e possuíam duas aberturas, uma voltada para o exterior do edifício e
outra para o pátio (FOUCAULT, 1987). Para Bentham, o princípio desses projetos
eram o monitoramento dos detentos sem que eles soubessem quem os estava
observando e a que hora estava sendo realizada essa vigilância (AGOSTINI, 2002;
SUN 2014).
As celas alojavam de três a quatro detentos, já que para Bentham as relações
sociais contribuíam para a ressocialização do indivíduo e a solidão conduz a loucura
(ALGARRA, 2002). O modelo Panóptico traduz o sistema da arquitetura penal que
47

não se utiliza de grades ou correntes para promover e gerar a disciplina e a ordem


dos presos (FOUCAULT, 1987). Conforme Algarra (2002), apesar de nunca ter sido
construído na Inglaterra, o modelo Panóptico19 foi amplamente disseminado em outros
lugares do mundo, como por exemplo Edinburgh Bridgewelly (1794), Virginia State
(1790), Female Prison em Lancaster Castle (1821), Joliet (1926) e Ilha de Pinos em
Cuba (1932), conhecida também como Ilha da Juventude (Figura 9).

Figura 9 - Ruinas da prisão modelo cubana seguidora dos preceitos do modelo Panóptico.

Fonte: GUERRERO, 2016.

Após o surgimento do sistema Panóptico, manifestam-se, nos Estados Unidos,


outros modelos destinados ao cumprimento de penas. Inicialmente o modelo de maior
relevância foi o pensilvânico, que buscava como propósito a construção de um edifício
para o arrependimento e para a mudança do apenado. A primeira construção que se
utilizava do modelo pensilvânico foi a de Walnut Street (Figura 10), localizado na
Filadélfia, EUA. Esta penitenciária, de 1790, se caracterizava por ser uma edificação
de pequeno porte e com celas individuais (ALGARRA, 2002).

Figura 10 - Planta baixa e fachada da Penitenciária Walnut Street, 1790, Filadélfia.

19 Apesar de amplamente utilizado, o modelo Panóptico apresentava algumas falhas como a


inflexibilidade em sua ampliação devido a sua forma (VIANA, 2009).
48

Fonte: ESTECA, 2010, p. 37 adaptado pela autora.

No ano de 1826, em Harrisburgo, capital da Pensilvânia – EUA, foi construído


a Penitenciária Western State (Figura 11) inspirada no modelo Panóptico. Porém se
diferenciava do modelo proposto por Bentham por possuir paredes muito grossas e
janelas muito pequenas, não permitindo a passagem da luz como forma de vigilância
permanente, proposto no modelo Panóptico (ALGARRA, 2002).

Figura 11 - Planta baixa da Penitenciária Western State, Pensilvânia, 1826.

Fonte: ALGARRA, 2002, p. 18 adaptado pela autora.

A Penitenciária Estadual do Oriente da Filadélfia, também conhecida como


Eastern State (
49

Figura 12), localizada em Cherry Hill, projetada por John Haviland e finalizada
em 1829, foi um símbolo para a arquitetura pensilvânica nos Estados Unidos,
adotando a geometria radial, para se tornar um protótipo de planta radial. A
penitenciária possuía capacidade para 250 detentos e era composta por sete vértices,
inspirados na Casa de Força de Gante. No centro do complexo havia uma torre de
vigilância e próximo a cada cela existia um pequeno pátio para a prática de esportes
e exercícios (ALGARRA, 2002; SUN, 2014).

Figura 12 - Planta baixa e perspectiva da Penitenciária Eastern State, 1829, em Cherry Hill, EUA.

Fonte: ESTECA, 2010, p. 38 adaptada pela autora.

A entrada da Penitenciária Eastern State ocorria em um edifício de dois


pavimentos, onde se localizavam a guarda e a equipe administrativa do
estabelecimento. As portas das celas eram feitas de grades de ferro, possibilitando a
ventilação e a iluminação das celas, sendo estas dotadas de uma pequena claraboia
(VIANA, 2009). Apesar do reconhecimento dado ao modelo Panóptico e a
Penitenciária Eastern State, suas construções apresentavam problemas técnicos e
50

operacionais. O modelo Panóptico era muito pequeno e a Penitenciária Eastern State


possuía a central de vigilância muito distante das celas, além de sujeitar os pavilhões
a uma má orientação solar (ESTECA, 2010).
A Penitenciária de Auburn (

Figura 13), finalizada em 1825 nos EUA, no estado de Nova York, foi a pioneira
na combinação de pavilhões retangulares com celas internas. Esta tipologia
arquitetônica de penitenciária se propagou no século XIX e no início do século XX
tornando-se modelo nos Estados Unidos (ESTECA, 2010). Entre os anos de 1879 e
1935, das 26 penitenciárias construídas, 21 delas seguiam o padrão da Penitenciária
de Auburn (ORLAND, 1978). O sistema Auburniano torna-se uma alternativa
economicamente mais vantajosa por possuir celas coletivas, possibilitando acomodar
um número maior de detentos em um espaço reduzido (VIANA, 2009).

Figura 13 - Planta baixa da Penitenciária de Auburn,1825, em Nova York, EUA.

Fonte: VIANA, 2009, p. 144.

A Penitenciária de Auburn, construída por Wiliam Brittim, organiza-se


espacialmente em formato de “U”, justapondo as fileiras de celas no centro das
51

galerias. As celas de uso coletivo abrem para um amplo pátio central, porém a falta
de aberturas nos alojamentos causa graves problemas de ventilação nos ambientes
(JOHNSTON, 2000; SUN, 2014).
No final do século XIX, em 1898, na França, é lançado um padrão arquitetônico
inspirado nos princípios do Positivismo20. Essa nova penitenciária, chamada de
Fresnes (Figura 14), projetada por Francisco Enrique Poussin, é implantada nos
Estados Unidos na Penitenciária Federal de Lewisburg, Pensilvânia, projetada pelo
arquiteto Alfredo Hopkins e ocupada no ano de 1932 (ESTECA, 2010). O projeto fica
conhecido formalmente como espinha de peixe, formado por blocos paralelos,
permitindo uma melhor ventilação e iluminação natural, e ligados por um corredor
perpendicular. Os espaços formados entre os blocos foram utilizados para pátios de
sol e práticas de exercícios, além disto, cada bloco possui locais de trabalho e salas
de atendimento médico (JOHNSTON, 2000).

Figura 14 - Imagem da Penitenciária de Fresnes,1898, França.

Fonte: ESTECA, 2010, p. 39 adaptado pela autora.

Na América Latina, o modelo da Penitenciária Eastern State foi amplamente


utilizado, todavia era frequentemente confundido com o modelo Panóptico, além de
ser reproduzido a partir de projetos europeus (ESTECA, 2010). Segundo Miotto

20O Positivismo se fundamentava no evolucionismo e entendia que os estudos científicos e biológicos


determinavam as verdades (VIANA, 2009). A influência do positivismo na arquitetura baseou-se no
racionalismo do projeto, um projeto simples, com circulações bem definidas ligando todos os prédios,
além de prédios geometricamente comuns.
52

(1992), no século XIX, as penitenciárias de segurança máxima eram maioria nos


países latino-americanos.
Na arquitetura penitenciária criada até meados do século XX, os modelos
Filadélfico e Auburniano entraram para a primeira geração de penitenciárias com uma
arquitetura linear e caracterizada pela vigilância indireta (ORSNTEIN, 1989). Nestas
penitenciárias a área de vigilância se localizava fora do espaço de convívio dos
detentos (Figura 15), fato que possibilitava o monitoramento dos corredores
(ESTECA, 2010).

Figura 15 - Imagens da primeira geração de penitenciárias do século XX. À esquerda, planta baixa
esquemática. À direita, fotografia da galeria de celas da Penitenciária de Auburn.

Fonte: ESTECA, 2010, p. 42 adaptada pela autora.

Em 1960, teve início a segunda geração de estabelecimentos destinados ao


cumprimento de penas nos Estados Unidos (ORNSTEIN, 1989). Essa nova fase se
caracterizava pelo uso de pavilhões ou módulos de vivência independentes entre si
que acabavam sendo ligados por meio de corredores. As celas possuíam mobília,
iluminação e eram providas de ventilação natural, além de estarem localizadas em
dois níveis, ficando ao redor de um espaço destinado às atividades coletivas. A
capacidade dessas unidades também foi modificada, passando a atender até 500
detentos. As atividades comuns às unidades eram realizadas em módulos centrais e
estas áreas eram monitoradas por um posto centralizado de vigilância, fechado com
vidros blindados (ESTECA, 2010).

Figura 16 - Esquema espacial da segunda geração de penitenciárias nos EUA.


53

Fonte: ESTECA, 2010 adaptado pela autora.

A segunda geração da arquitetura penal (Figura 16) visava a reforma nas


condições de habitabilidade e relações sociais dentro do presídio. Entretanto, esse
modelo foi utilizado devido ao controle severo e direto da organização sobre os
detentos. Nessa fase, os agentes ficavam afastados dos presos, os quais eram
classificados e distribuídos dentro do próprio estabelecimento, divididos conforme o
grau de ameaça (ORNSTEIN, 1989; WENER, 1993). Atualmente, a arquitetura da
segunda geração de instituições penais e suas variações são as mais utilizadas no
sistema penal norte-americano (ESTECA, 2010).
Apesar de ser o modelo mais utilizado, as penitenciárias da segunda geração
apresentavam dois problemas no esquema de vigilância. O primeiro deles era pela
caracterização do funcionário como agente de segurança e o segundo era a divisão
de poder pela delimitação física entre detentos e funcionários (ESTECA, 2010). Para
Wener (1993), o espaço onde os detentos permaneciam eram raramente
frequentados pelos funcionários da penitenciária.
Na década de 1970 houve um avanço no modelo penitenciário dos Estado
Unidos, sendo conhecido como terceira geração (Figura 17), apresentando a inovação
de localizar o posto de vigilância centralizado no espaço coletivo, sem nenhuma
separação física (ORNSTEIN, 1989).

Figura 17 - Esquema espacial da terceira geração de penitenciárias nos EUA.


54

Fonte: ESTECA, 2010 adaptado pela autora

A vigilância direta em penitenciárias, inibe a depredação e a violência na


realidade prisional, aumenta a segurança e o contato entre funcionários e detentos
(WENER, 1993). Entretanto, a nova geração teve baixa representatividade diante das
penitenciárias da primeira geração nos Estados Unidos devido ao custo operacional
do modelo (FAIRWEATHER; MCCONVILLE, 2000).

1.2. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA ARQUITETURA PENAL NO BRASIL

No período colonial21 brasileiro, a configuração do centro cívico das cidades,


simbolizando a autonomia era composta ocorria por pequenas praças, com a
presença de uma Igreja, uma Casa de Câmara e Cadeia, as quais administravam a
cidade, e um Pelourinho à frente. A Casa de Câmara e Cadeia (Figura 18)
representavam o órgão centralizador de poder que administrava a cidade e cuidava
das funções judiciárias e penitenciárias da mesma, estando, estrategicamente,
próximo da Igreja para fortalecer sua importância (VIANA, 2009).

Figura 18 - Foto da Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto/MG, atual Museu da Inconfidência.

21No período Colonial as leis e a justiça provinham do Rei de Portugal. As penas se resumiam em
castigos físicos e em público e o cárcere somente confinava o indivíduo até seu julgamento ou
execução da pena (ESTECA, 2010).
55

Fonte: VIANA, 2009, p. 172.

O pelourinho, considerado um marco obrigatório na praça central, representava


a justiça, pois eram nestes espaços que aplicavam-se aos sentenciados, execuções
à vista do povo (CARVALHO FILHO, 2004).
Na metade do século XVI, os estabelecimentos penais no país ainda ocorriam
em casa de Câmara e Cadeia, ou como eram chamadas, Cadeiras Públicas (Figura
19). Estas edificações abrigavam em seu primeiro pavimento a cadeia, sendo um
espaço de grande área e com janelas altas e com grades, sem qualquer separação
dos detentos. O segundo pavimento abrigava a Câmara da cidade (VIANA, 2009).

Figura 19 - Á esquerda, foto da Casa de Câmara e Cadeia de Mariana/MG. À direita, planta


esquemática de situação da casa de Câmara e Cadeia da cidade de Mariana.

Fonte: VIANA, 2009, p. 175.

No Brasil, os primeiros traços de arquitetura prisional ocorreram entre os


séculos XVIII e XIX. Nesse período, não houve a execução de edificações destinadas
ao cumprimento de penas com a utilização da arquitetura especializada nas regras
56

prisionais, somente a utilização de edifícios já construídos, como por exemplo Aljube,


localizado no Rio de Janeiro (ESTECA, 2010).
Em 1808, com a vinda da família real para o Brasil, o país iniciou uma
modificação buscando a independência legal e uma consequente modernização no
modelo penitenciário e de punição, deixando de ser o “presídio de degradados”
determinado pelo Reino de Portugal (ESTECA, 2010). Essa autonomia política do
Brasil proporcionou a inserção das teorias e padrões da Reforma Jurídico-Penal,
utilizando os modelos norte-americanos e franceses, produzindo debates e gerando
conteúdos relacionados ao crime, ao criminoso e às penas, também se abordando as
técnicas e a arquitetura penitenciária (MIOTTO, 1992).
A criação do Código Criminal do Império, em 1830, gerou a construção dos
primeiros projetos com foco na arquitetura penal segundo os princípios da Reforma
Jurídico-Penal (GARBELINI, 2005). Em 1834 é criado por Manoel de Oliveira, o
projeto da Casa de Correção do Rio de Janeiro22 (Figura 20), sendo o primeiro projeto
da América Latina que apresenta princípios baseados em modelos ingleses, alemães
e franceses. Sua construção utilizou-se da radialidade do modelo Panóptico,
abrigando 200 celas em cada um dos quatro pavimentos, totalizando 800 celas e
tendo no seu centro a torre de vigilância (VIANA, 2009).

Figura 20 - Projeto da Casa de Correção do Rio de Janeiro, 1834.

22 A Casa de Correção do Rio de Janeiro buscava o ideal de modernidade e progresso por meio da
disciplina e do trabalho, buscando recuperar o indivíduo (VIANA, 2009).
57

Fonte: VIANA, 2009, p. 180.

Em 1890, com a proclamação da República, foi implementado o Código


Republicano, que se baseava no positivismo, aderindo ao sistema progressivo e
diversificando as penas restritivas de liberdade, divididas em prisão, reclusão, prisão
com formas de trabalho e voltadas à disciplina do indivíduo, sendo praticadas em
estabelecimentos penais, como cadeias, colônias agrícolas e industriais. Esse código
modificou os métodos utilizados nas construções de prisões, trocando a Auburniana
pela Filadélfica. Esse código teve como marco principal a penitenciária do estado de
São Paulo23 (Figura 21), de 1921, considerada como um instituto de regeneração visto
como modelo em toda a América, a Penitenciária Estadual em Porto Alegre, de 1959,
e a Penitenciária Agroindustrial do Estado de Goiás, de 1959 (ESTECA, 2010).

Figura 21 - Foto aérea da Penitenciária de São Paulo de 1921.

23A Penitenciária do Estado de São Paulo adota o modelo celular com regime progressivo, o qual
acredita na recuperação por meio da reflexão, do trabalho e da disciplina (VIANA, 2009).
58

Fonte: VIANA, 2009, p. 183.

No ano de 1956, no dia 11 de setembro, é inaugurada a Casa de Detenção de


São Paulo (Figura 22) – também chamada de Carandiru – com o objetivo de sanar o
déficit de vagas do sistema carcerário do estado. Projetado para abrigar 3500
detentos, os prédios da penitenciária foram construídos na linguagem Art Déco, com
grandes dimensões, com a organização pavilhonar, tendo simetria em sua
composição, acesos centralizados e predomínio de cheios sobre vazios em sua
volumetria. Sua planta quadrada possuí um pátio interno e um corredor central com
celas espelhadas (VIANA, 2009).

Figura 22 - Foto aérea da Casa de Detenção de São Paulo.

Fonte: VIANA, 2009, p. 189.


59

Na década de 1970, a Política Penitenciária Nacional criou normas e regras


para a arquitetura penal no país, estipulando os princípios da arquitetura para edifícios
prisionais levando em consideração que, antes desta política, cada Estado possuía
normas e práticas próprias. O favoritismo na utilização da arquitetura modular foi
expresso nas Recomendações Básicas para uma Programação Penitenciária, em
1976, já que esse modelo facilitava a construção de edificações em módulos e
preservava a segurança sem um encarceramento ultrajante (BRASIL, 1976). Contudo,
o método de construção pavilhonar, apesar de definido como arquitetura padrão para
presídios nacionais, não se tornou unânime nas construções espalhadas pelo território
brasileiro (ESTECA, 2010).
As penitenciárias também utilizavam os modelos de construção intitulados de
“espinha de peixe” ou “poste telegráfico” (Figura 23), que caracterizavam a existência
de um corredor central que acessava todas as celas dos presídios e todos os módulos
que compunham o projeto. Esses modelos foram penalizados em razão de que
favoreciam rebeliões e o tráfego de detentos por todos os módulos da unidade (LIMA,
2005).

Figura 23 - Penitenciária de Presidente Venceslau/SP - Modelo Espinha de Peixe.

Fonte: RIBEIRO, 2016, p. 27.

No estado de São Paulo, na década de 2000, prevaleceram as edificações


construídas com base nos projetos de penitenciárias denominadas de Penitenciárias
Compactas (PC). Esse modelo utilizava o padrão de construção paralelo, até hoje
muito difundido no sistema paulista de presídios. O projeto é caracterizado por ser de
segurança máxima, possuindo celas coletivas de até doze detentos e celas individuais
com segurança interna, e externa, feita a partir de muralhas e torres de controle.
60

A Penitenciária Compacta do Estado de São Paulo (Figura 24) possui 768 vagas
(ESTECA, 2010).

Figura 24 - Penitenciária Compacta do Estado de São Paulo.

Fonte: ESTECA, 2010, p. 53.

Em 1994, as regras técnicas que definiam os padrões arquitetônicos de


projetos para estabelecimentos penais foram revisadas e se criou as Diretrizes para
Elaboração de Projetos e Construção de Unidades Penais no Brasil (BRASIL, 1995).
No ano de 2005, a liberdade criativa para criação do partido arquitetônico é mantida
por meio das Diretrizes Básicas para a Construção, Ampliação e Reforma de
Estabelecimentos Penais (BRASIL, 2006).
Independentemente da presença de diversos modelos de construções, a
arquitetura prisional brasileira se caracteriza por dois padrões usuais, o paralelo e o
pavilhonar (Figura 25). Este último se caracteriza pela distribuição de celas e espaços
coletivos no entorno de um pátio central e descoberto, sendo o modelo mais visto no
país (AGOSTINI, 2002).

Figura 25 - Penitenciária Lemos Brito - PLB, Salvador/BA.

Fonte: ESTECA, 2010, p. 55.


61

Os modelos penitenciários brasileiros foram apresentados anteriormente


contextualizando a história da arquitetura penal no país, porém é de suma importância
relatar a criação da metodologia APAC, reconhecida em âmbito nacional e
internacional, que se utiliza de princípios e métodos visando a humanização da pena.
A história da APAC é demonstrada no tópico a seguir.

1.2.1. A Associação de Proteção de Assistência aos Condenados - APAC

Criado em 18 de novembro de 1972, na cidade de São José dos Campos (SP),


pelo advogado e jornalista Mário Ottoboni, auxiliado por um grupo de voluntários
cristãos, o modelo nomeado como APAC mostrou uma nova alternativa para a
diminuição da prática de violência com os indivíduos em cumprimento de pena em
nosso país (FARIA, 2011; D’AGOSTINI; ANDRADE, 2014; RECKZIEGEL, 2016). Esta
metodologia nasce no presídio Humaitá com a finalidade de evangelizar e fornecer
apoio moral aos detentos e possuía como significado da sigla: Amando o Próximo
Amarás a Cristo (FBAC, 2013).
Em 1974, a Pastoral Penitenciária constatou que as dificuldades e dilemas
enfrentados no dia a dia do presídio somente poderiam ser enfrentadas por uma
entidade organizada juridicamente, assim sendo, foi formada a APAC (Associação de
Proteção e Assistência aos Condenados), sem fins lucrativos e com o objetivo de
contribuir com o judiciário na execução penal, recuperando o detento, protegendo a
sociedade e promovendo a justiça restaurativa. Esta entidade ampara o trabalho
realizado pela APAC (Amando o Próximo, Amarás a Cristo), apesar de serem
distintas, além da Pastoral Penitenciária e outras Igrejas Cristãs, respeitando as
crenças individuais, de acordo com as normas dos direitos humanos (FBAC, 2013).
A APAC conforma-se como uma entidade civil de direitos privados, possuindo
personalidade jurídica e patrimônio próprios, sem fins lucrativos. Ademais, é uma
instituição autônoma nos âmbitos administrativos, financeiros e jurídicos, amparada
pela Constituição Federal para atuação em presídios, possuindo um estatuto
respaldado na Lei de Execução Penal e no Código Civil (FERREIRA, 2016).
As entidades são filiadas à Fraternidade Brasileira de Assistência aos
Condenados - FBAC, órgão que coordena e fiscaliza as APACs, tendo a função de
assistir, orientar e manter a ordem das unidades nacionais e internacionais. Além
disso, tem a função de fiscalizar, orientar e zelar pela aplicação correta da metodologia
62

e proporcionar treinamentos e cursos para seus funcionários, voluntários,


recuperandos24 e autoridades a fim de aprimorar as unidades existentes e auxiliar na
expansão e implementação de novas APACs (FBAC, 2013).
O principal objetivo desta instituição, é a promoção da humanização de
ambientes prisionais sem desmerecer o caráter punitivo do cumprimento de pena,
buscando uma diminuição na reincidência criminal, oferecendo alternativas para a
recuperação e reintegração dos apenados na sociedade. Um dos princípios da
atuação da APAC é a aplicação de disciplina, baseando-se no respeito, na ordem, no
envolvimento das famílias de detentos e no trabalho, sendo os próprios recuperandos
os corresponsáveis por sua recuperação (FERREIRA, 2016), além de possuir a
filosofia de “Matar o criminoso e salvar o homem”, conforme demonstrado na Figura
26 (FBAC, 2013).

Figura 26 - Entrada dos regimes fechado APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Acervo pessoal, 2019.

No ano de 1986, a APAC filiou-se ao Prison Fellowship International (PFI),


órgão entidade pertencente à ONU para assuntos penitenciários. Mediante esta

24 Na APAC os detentos são chamados de recuperando como uma forma de diferenciação do sistema
tradicional. Ademais a metodologia acredita na recuperação efetiva do indivíduo.
63

filiação, a metodologia APAC passou a ser apresentada em âmbito mundial em


congressos e seminários (FERREIRA, 2016).
Para a conquista dos objetivos e da filosofia, as APACS aplicam um método
terapêutico penal constituído de 12 elementos, sendo estes elencados a seguir:

1 - Participação da comunidade: estabelecer vínculos entre a população local e os


recuperandos desde o primeiro momento, buscando um envolvimento no dia a dia da
instituição, contribuindo na aquisição de novos voluntários e parceiros, além de
oportunidades aos egressos (OLIVEIRA, 2008).

2 - Recuperando ajudando o recuperando: tem como objetivo despertar o


sentimento de solidariedade, responsabilidade e fraternidade, demonstrando a
importância de se conviver com os demais.
- Representante de Cela: responsável pelas relações harmoniosas, pela
organização e higienização pessoal da cela e pelo treinamento de líderes, já que a
representação é dividida entre os recuperandos (OTTOBONI, 2004).
- Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS): recuperando auxiliar da
administração, contribuindo na disciplina, na organização, segurança, na realização
de celebrações/festas, realização de reformas e limpezas, distribuição de tarefas,
busca por solução de problemas, entre outras tarefas (OTTOBONI, 2004).

3 - Trabalho: têm o propósito de recuperar os valores, despertando a criatividade e


as potencialidades auxiliando diretamente na capacitação profissional dos
recuperandos.
- Regime Fechado: trabalho em laborterapias (oficinas de artesanato) como
uma forma de descobrir valores pessoais, melhorar sua autoimagem, exercitar a
paciência e a tolerância com os demais (OLIVEIRA, 2008).
- Regime Semiaberto: oferta de cursos profissionalizantes como forma de
preparação de mão-de-obra especializada (OLIVEIRA, 2008).
- Regime Aberto: oferecer ao recuperando uma profissão e uma vaga de
emprego definida, fora da unidade APAC (OTTOBONI, 2004).

4 - Religião: a espiritualidade e a importância de se fazer a experiência com Deus


busca despertar nos indivíduos, por meio de um trabalho ecumênico, o sentimento de
que o humano também é um ser espiritual e Deus é o amigo e companheiro que jamais
64

abandona (OLIVEIRA, 2008). Cabe destacar a importância atribuída ao trabalho


religioso dentro da APAC, sendo este um dos principais elementos empregados na
busca pela ressocialização do recuperando. As orações são realizadas nos atos
socializadores, antes do café da manhã, antes do almoço e jantar, além de fazer-se
presente na maioria das músicas praticadas e escutadas nas APACS.

5 - Assistência jurídica: o método APAC, recomenda a assistência jurídica somente


aos condenados, prestando assistência aos recuperandos pobres (OTTOBONI,
2004).

6 - Assistência à saúde: disponibilizar atendimento médico, psicológico e


odontológico de maneira eficiente e humana, colocando a saúde do recuperando em
primeiro lugar, afastando aflições e preocupações (OLIVEIRA, 2008).

7 - Valorização humana: a figura humana deve ser posta em primeiro lugar,


reformulando a autoimagem do recuperando, conhecendo sua história, chamando-o
pelo seu nome e o auxiliando a modificar quem será no futuro (OLIVEIRA, 2008).

8 - Família: marginalizada, sofre constantemente com a falta de estrutura dos


estabelecimentos e por isso além de receber uma atenção especial na APAC, deve
estar presente durante todo o estágio da vida prisional, recendo e fornecendo auxílio
(OLIVEIRA, 2008).

9 - O voluntário e o curso de formação: a capacitação dos voluntários é de


fundamental importância, além do conhecimento aprofundado da metodologia e da
psicologia empregada para o bom desempenho dos agentes atuantes nestas
instituições (OLIVEIRA, 2008).

10 - Centro de Reintegração Social – CRS: Este estabelecimento oferece ao


recuperando a oportunidade de permanecer próximo aos seus familiares e amigos,
favorecendo a ressocialização, respeitando legislações e os direitos do condenado
(OTTOBONI, 2004).

11 - Mérito: as conquistas, cursos realizados, bom comportamento, elogios, tal como


as faltas e sansões disciplinares, devem estar nos prontuários individuais para que
auxiliem nos pedidos de benefícios jurídicos. Não se trata apenas de condutas durante
o cumprimento da pena, mas do atestado que o recuperando recebe durante este
65

período, o qual demonstra o desempenho em distintas atividades dentro do


estabelecimento (OTTOBONI, 2004).

12 - Jornada de libertação com Cristo: período de quatro dias onde o recuperando


passa por momentos de reflexão e encontro consigo mesmo, assistindo a palestras
espirituais para que, ao final, haja um encontro pessoal e com o seu superior
(OLIVEIRA, 2008).
A Figura 27 sistematiza os 12 elementos que compões os princípios da
Metodologia APAC.

Figura 27 - Os 12 elementos que compõem a metodologia APAC.

Fonte: ARLEY, 2018.

Atualmente o território nacional conta com 55 unidades de APAC distribuídas


pelo país, tendo uma maior concentração no estado de Minas Gerais, com 39
instituições em funcionamento. O Estado do Rio Grande do Sul possui 1 unidadade
APAC em funcionamento na cidade de Porto Alegre (FBAC, 2019a). Mundialmente
reconhecidas, as APACs já foram implantadas em países africanos (Nigéria, Senegal,
Uganda e Zimbábue), europeus (Alemanha, Bielorrússia, Bulgária, Itália, Letônia,
Lituânia, Portugal e Ucrânia), asiáticos (Quirguistão, Paquistão e Rússia), países
americanos (Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Estados Unidos, Equador,
66

México, Peru e Uruguai) e países da Oceania (Austrália e Nova Zelândia) (FBAC,


2019b).

Principais diferenças do Método APAC

Originada das experiências e vivências no sistema penitenciário tradicional, a


metodologia APAC fundamenta-se em diretrizes provindas de deficiências do sistema
público, tendo como principais exemplos: a determinação da capacidade populacional
e a não aceitação da superlotação das unidades APAC; a não permissão de presos
provisórios; exigência de respeito com demais recuperandos e funcionários além da
obediência de seus elementos base (educação, trabalho, religião, etc); ambientes
próprios para o cumprimento da pena; dentre outros. Porém, uma das grandes
diferenças da metodologia APAC e do sistema penitenciário tradicional esbarra-se na
escolha do indivíduo em ir para estabelecimentos que se utilizem desta metodologia.
A “seleção” dos recuperandos que possuem perfil para estar ou não em uma
APAC delimita uma das principais diferenças entre os sistemas, tendo em vista que
para ingressar em uma unidade APAC o indivíduo deve passar por uma classificação
feita por uma Comissão Técnica (chefes de serviço da unidade, 1 psiquiatra, 1
psicólogo e 1 assistente social), conforme expresso no art. 5° da Lei de Execução
Penal (BRASIL, 1984), além de seguir os seguintes passos, determinados pela FBAC:
1° - O preso já deve ter sido condenado pela Justiça, tendo situação jurídica
definida (FERREIRA, 2016).
2° - A família do futuro recuperando deve manter residência na comarca onde
se localiza a APAC (FERREIRA, 2016).
3° - O infrator deve declarar por escrito sua vontade de cumprir sua pena em
uma unidade APAC, afirmando o compromisso com todas as normas da metodologia
(FERREIRA, 2016).
4° - Devem possuir preferência no surgimento de vagas em unidades APAC,
os condenados há mais tempo - critério de antiguidade (FERREIRA, 2016).

Cabe ressaltar que compete ao Poder Judiciário a determinação, cumprindo


critérios estabelecidos pelo Juiz de Execução da Comarca, quais os apenados podem
ser transferidos a uma APAC, seguindo também os passos anteriormente citados
(FERREIRA, 2016).
67

Após a aprovação e translado até a APAC, o recuperando é acolhido na


unidade por membros da equipe técnica e de segurança, sendo direcionado ao regime
em que cumprirá sua pena, recebendo as instruções sobre os regulamentos da
metodologia pelo membro do CSS do regime em questão. Os principais regulamentos
da metodologia incluem: frequentar aulas em nível de alfabetização, ensino
fundamental ou médio; prestar obediência e respeito com plantonistas, funcionários e
voluntários; manter rigorosamente a higiene pessoal (barba e cabelos cortados);
vestir-se de maneira adequado; obrigatoriedade no uso de crachás para
reconhecimento do recuperando; manter a limpeza da unidade e das celas; respeitar
o horário de silêncio; proibido a utilização de drogas/bebidas alcoólicas que causem
dependência, bem como aparelhos celulares e qualquer outro que possibilite acesso
à internet; ser humilde; respeitar seus familiares; praticar boas leituras; trabalhar
quando não estiver estudando; dentre outras (FERREIRA, 2016).
Além destes regulamentos, o recuperando também recebe instruções sobre o
regulamento de celas onde cada indivíduo possui seu espaço com cama e armário,
devendo sempre manter a ordem. Diferentemente do sistema tradicional, na APAC as
celas são vistoriadas diariamente e a organização de cada apenado resulta ou não
em faltas com pontuações diferenciadas que podem penaliza-lo ao final de cada mês.
As faltas podem ser leves, médias ou graves e as penalidades vão desde advertências
verbais, repreensão escrita, suspensão de regalias ou direitos até isolamento e
transferência para o sistema penitenciário tradicional (FERREIRA, 2016). Cabe
ressaltar que as faltas são aplicadas para todos os tipos de comportamentos que
desviam os princípios da APAC.
Estes regulamentos e as penalidades aplicadas em caso de descumprimento
dos mesmos servem como ferramenta de controle e de disciplina dos recuperandos
visando a sua recuperação e futuro regresso à sociedade, uma vez que dentro das
APACS não se utilizam armas pelos plantonistas e o nível de segurança estrutural das
edificações não é considerado alto já que as chaves de uma APAC ficam sob domínio
de um recuperando. Neste caso, justifica-se a “seleção” de apenados para o
cumprimento de pena em uma unidade que se utilize da metodologia APAC, já que o
grau de segurança e aparatos que dificultem fugas ou rebeliões são menores. Porém,
é com esta metodologia que os recuperandos são desafiados a seguirem as normas
e os regulamentos, devendo ser por vontade e esforço próprio sua permanência
nestes locais.
68

Em suma, a metodologia APAC é destinada ao apenado que quer se recuperar,


que deseja sair da violência, da criminalidade e da insalubridade dos
estabelecimentos penitenciários tradicionais passando a seguir novas regras onde o
trabalho, a religião, a educação, o respeito e a valorização do ser humano são pilares
essenciais para o seu êxito. Contudo, o fato de estar em um local sem o uso de armas
por equipes de segurança, com a posse de chaves por próprios recuperandos e
estruturas arquitetônicas sem demasiados níveis de segurança como os utilizados em
penitenciárias comuns, não descaracteriza as APACS de presídios para cumprimento
de penas.
As unidades que aplicam a metodologia APAC, possuem baixa segurança
projetual, se comparadas aos critérios da arquitetura penitenciária tradicional, que
será abordado no tópico a seguir. Esta baixa segurança nas instalações se deve aos
12 elementos explicados anteriormente, fazendo com os recuperandos se apropriem
dos espaços de maneira diferenciada, cuidando da infraestrutura e partindo dos
princípios de que eles estão em um sistema diferenciado em busca da sua
ressocialização.
Nas APACS não há relatos de tuneis criados por recuperandos, ou talvez,
explosão de paredes, corte de grades. A metodologia trabalha com a confiança, com
o recuperando cuidando do recuperando e com o respeito, desta forma as edificações
não necessitam ter uma estrutura de um estabelecimento de segurança máxima, já
que a metodologia acredita no recuperando e entrega as chaves da entrada da APAC
a ele. Desta forma se trabalha o psicológico, o emocional e principalmente o lado
humano, para que o indivíduo não queira fugir da APAC. Cabe ressaltar que há sim
segurança nos prédios das APACS mas não de maneira tão rígida quanto
estabelecimentos de segurança máxima ou média e tudo isto se deve a maneira como
as edificações são apropriadas.
As Associações de Proteção e Assistência aos Condenados são mecanismos
que visam a humanização da pena sem abdicar de seu caráter punitivo, porém
colocando em prática princípios expostos na Lei de Execução Penal e garantindo os
direitos dos apenados para poder, assim, exigir seus deveres.
69

1.2.2. Legislações e Políticas Penitenciárias Brasileiras

No século XX, estudiosos positivistas se empenharam na realização de estudos


que visavam melhores condições de prisões e de tratamento penitenciário (MIOTTO,
1992). No âmbito brasileiro, o Direito Penitenciário fundamenta-se nas regras,
convenções e tratados dentro de reconhecimentos internacionais dos direitos
humanos que o Governo do país tem homologado (ESTECA, 2017). Porém, antes
mesmo da Declaração Universal dos Direitos Humanos o Brasil já apresentava seus
primeiros esboços de legislações penais, como é o caso do Projeto de Código
Penitenciário de 1937 (ESTECA, 2010).
No ano de 1940, formulou-se o Código Penal25, descrevendo o que é um crime
e os tipos de penalidades para cada grau de delito. Este código estabelece três tipos
de pena: a pena privativa de liberdade, a restritiva de direitos e a pena de multa. Um
ano após, em 1941, foi criado o Código de Processo Penal26, com o objetivo de indicar
os atos que a Justiça deve atender sobre a ocorrência de crimes, investigações
policiais e julgamento (BRASIL, 1940; BRASIL, 1941; ESTECA, 2010; JULIÃO, 2009).
Em um panorama mundial, no ano de 1948, com a Declaração dos Direitos
Humanos, inova-se a gramática dos direitos concebidos ao homem por introduzir a
concepção contemporânea destes direitos, marcada pela indivisibilidade e
universalidade. Universalidade por clamar pela ampliação universal destes direitos,
crendo que a condição de sujeito é um requisito para a detenção de direitos,
considerando o sujeito digno, moral e único. Indivisibilidade por conjugar o catálogo
dos direitos políticos e civis ao catálogo dos direitos sociais, culturais e econômicos.
Esta declaração combina discursos liberais e sociais da cidadania, aliando o valor da
liberdade ao da igualdade (PIOVESAN, 2005).
Com esta criação, entende-se que todos os sujeitos possuem a mesma
dignidade, tendo esta como uma qualidade igualitária e intrínseca. Quaisquer atitudes
afrontosas perante o outro, desrespeitando sua integridade física e moral,
representam condições de inferioridade, ferindo a dignidade do ser humano
(BERTONCINI; MARCONDES, 2013).

25 O código Penal de 1940 foi criado pelo decreto-lei n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940, durante o
governo de Getúlio Vargas. O código ainda é vigente, porém passou por alterações.
26 O Código de Processo Penal foi criado pelo decreto-lei n° 3.689 de 3 de outubro de 1941. O código

passou por alterações e ainda é vigente no país.


70

No ano de 1955, em Genebra, no Primeiro Congresso das Nações Unidas


sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes são aprovadas pelo
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, as Regras Mínimas para o
Tratamento de Reclusos, com o objetivo de estabelecer os princípios e regras de uma
boa organização penitenciária e as práticas relativas ao tratamento de reclusos (ONU,
1955).
Estas Regras internacionais foram publicadas no Brasil no ano de 1994, pelo
CNPCP, atendendo às determinações das Organizações das Nações Unidas para a
norma já publicada no ano de 1955 (ESTECA, 2017). Estas regras estabelecem em
seu 1° artigo o cumprimento à Declaração Universal dos Direitos Humanos onde os
apenados devem ser tratados com respeito, não sendo submetido a tortura,
tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, devendo ser protegido destes atos
(BRASIL, 2016).
Em 1970, o Governo Federal novamente se dedicou a uma Política
Penitenciária Nacional relativa a realidade e a reforma penitenciária, onde o detento
era visto como pessoa com direitos, deveres e responsabilidades, objetivando a
humanização da pena e do próprio indivíduo, sem deixá-los impunes (MIOTTO, 1992).
O Poder Executivo cria em 1975 e 1980, respectivamente, o Departamento
Penitenciário Nacional (Depen), órgão responsável pelo controle da aplicação de
normativas de execução penal e fiscalização de estabelecimentos penais; e o
Conselho Nacional de Política Penitenciária (CNPCP), órgão criado para a elaboração
de diretrizes para a prevenção de crimes, planos nacionais de desenvolvimento
penitenciário, oportunizar avaliações do sistema penal brasileiro, designar regras
sobre a arquitetura penal e fiscalizar estes estabelecimentos (BRASIL, 1984;
ESTECA, 2010).
O ano de 1984 foi marcado pela promulgação da Lei de Execução Penal –
LEP27, vista como um marco no Direito Penitenciário brasileiro (GARBELINI, 2005). A
LEP caracteriza-se como a ferramenta jurídica que possui domínio sob o detento, sob
os órgãos responsáveis pela execução penal, os estabelecimentos e os
procedimentos em cada pena ou medida. Segundo o Art. 1°: “a execução penal tem
por objetivo efetivar as disposições de sentença e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado” (BRASIL, 1984).

27Esta lei (Lei n° 7.210/1984) foi criada por meio de um tratado da ONU sobre Execução Penal, o qual
definia as condições na qual o sentenciado cumpriria a pena (JULIÃO, 2009).
71

Sendo assim, a LEP objetiva não somente o cuidado com o sujeito passivel de
execução penal, mas também objetiva a defesa de toda sociedade. Esta lei também
assegura condições e direitos para uma reinserção social do indivíduo, reconhecendo
e assegurando o direito à vida; à integridade física e moral; direito à assistência
judiciária; à saúde, à educação; ao trabalho; à assistência religiosa; entre outras
apresentadas no Art. 11 da Lei n° 7.21028(BRASIL, 1984).
Conforme Art. 40 da Lei de Execução Penal, os detentos têm direito à
integridade física e moral, sendo condenados ou estando em regime provisório. O Art.
41 determina direitos aos presos, sendo eles: alimentação e vestuário; atribuição de
trabalho e sua remuneração; direito à previdência Social; assistência material, à
saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; entrevistas pessoais e reservadas com
advogados; visitas íntimas; chamamento nominal, entre outros direitos que preservem
a dignidade humana (BRASIL, 1984).
Conforme os Artigos 12 e 13 da assistência material, o estabelecimento deve
fornecer alimentação; vestuário e instalações higiênicas; bem como dispor de
instalações e serviços que atendam às necessidades pessoais dos presos, além de
locais destinados à venda de produtos permitidos e não fornecidos pela Administração
(BRASIL, 1984).
A assistência à saúde do apenado deve ser de cunho preventivo e curativo,
oferecendo atendimento médico, farmacêutico e odontológico. Quando o
estabelecimento não possuir instrumentos para realizar esse atendimento no local, o
detento deve ser locomovido até ele, mediante autorização da direção. A assistência
educacional abrange a instrução escolar e a formação profissional do detento, sendo
obrigatório o ensino de 1° grau, com assimilação no sistema escolar da Unidade
Federativa (BRASIL, 1984), e, segundo dispõe a Lei nº 13.163, de 2015, o ensino
médio ou supletivo deverá ser implantado nos presídios.
O amparo social possui como objetivo a assistência ao detento, preparando-o
para o retorno à sociedade e tem como tarefa conhecer os resultados dos diagnósticos
e exames, descrever ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades
enfrentadas pelo detento, acompanhar o resultado das permissões de saídas,
proporcionar a recreação, orientar a família do preso, facilitar o retorno do apenado à

28No Art. 3° da Lei de Execução Penal, assegura-se ao condenado “todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela lei”, não havendo “qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou
política”.
72

sociedade, proporcionando orientações na fase final do cumprimento de pena e


promover a obtenção de documentos. A assistência religiosa irá assegurar a criação
de ambientes apropriados para cultos nos estabelecimentos penais e irá permitir aos
detentos a atuação em serviços organizados no estabelecimento e permitirá a posse
de livros religiosos (BRASIL, 1984).
O suporte jurídico será disponibilizado aos apenados que não possuem
recursos financeiros para a contratação de advogados e se dará através da
Defensoria Pública. Todos os estabelecimentos devem possuir espaços adequados e
destinados ao atendimento judicial. Além do suporte jurídico, os detentos possuem o
direito de receber visitas de familiares e amigos, de maneira regular e sob vigilância
(BRASIL, 1984).
Conforme disposto no Art. 39 da Lei de Execução Penal, são deveres dos
condenados o comportamento e o cumprimento fiel da pena, a obediência e o respeito
com os servidores, o respeito com os demais condenados, a execução de trabalhos,
tarefas e ordens recebidas, comportamento oposto a movimentos de fuga ou
corrupção da ordem, indenização à vítima e ao Estado das despesas vindas de sua
manutenção, conservação e cuidado dos objetos de uso pessoal e higiene pessoal e
primor pela limpeza da cela (BRASIL, 1984).
No mesmo viés e promulgada em 1988, a Constituição Federal Brasileira
apresentou recursos para a garantia dos direitos dos presos, consolidando a
regulamentação da execução penal no país (BRASIL, 1988). No ano de 1990, a
Política Penitenciária Nacional direcionou-se a um plano de renovação do Sistema
Penal29, reforma que tinha como metas a construção de unidades penais para
expandir vagas; a oferta de trabalho; uma melhoria na assistência médica,
educacional e jurídica; a preparação dos profissionais penitenciários; informatização
do sistema; e a aplicação de penas alternativas. Desta maneira, entre os anos de 1990
e 2000 consolidou-se a Política Penitenciária Nacional, com seus princípios e normas
voltados para a administração e execução das metas penitenciárias (ESTECA, 2010).
Em síntese, o Brasil possui um rico histórico de legislações penitenciárias além
de possuir uma das mais avançadas Leis de Execuções Penais (LEP), a qual visa a
garantia dos direitos e deveres dos apenados em território nacional, sendo a lei de

29 Estas diretrizes se formalizaram a partir de documentos criados pelo CNPCP, ganhando destaque
as Diretrizes Básicas da Política Criminal e Penitenciária, determinada pela Resolução n° 5 de 19 de
julho de 1999 (ESTECA, 2010).
73

mais importância no cenário jurídico e penal, além de possui as Regras Mínimas para
o Tratamento de Reclusos, demonstrando que o Brasil é signatário de tratados
internacionais que garantes os direitos humanos dos apenados.
As legislações possuem uma diversidade de conteúdo e são amparadas por
órgãos como o Departamento Penitenciário Nacional e o Conselho Nacional de
Política Penitenciária.

Regras para a arquitetura penal

No ano de 1976, um grupo formado no Ministério da Justiça, elaborou o primeiro


documento legal com padrões técnicos para a Arquitetura Penal no Brasil, sendo
conhecido como Recomendações Básicas para uma Programação Penitenciária
(ESTECA, 2010).
Em 1987, em resposta à LEP, foi lançada as Orientações para Elaboração de
Projetos e Construção de Unidades Penais no Brasil, as quais salientavam, de
maneira mais detalhada, o planejamento penitenciário, mantendo as diretrizes gerais
criadas em 1976. Anos mais tarde, em 1994, as Orientações foram editadas e
tornaram-se as Diretrizes para Elaboração de Projetos e Construção de Unidades
Penais no Brasil, já sob a defesa do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária. Em 2005, houve uma edição destas Diretrizes transformando-se nas
Diretrizes Básicas para a Construção, Ampliação e Reforma de Estabelecimentos
Penais e, em 2011, foi apresentada a última edição para as Diretrizes Básicas para
Arquitetura Penal, estando até hoje em vigor (ESTECA, 2017; CNPCP, 2011).
Esta atualização aperfeiçoou o dimensionamento da proporcionalidade de uso
destes espaços, inserindo conceitos de permeabilidade do solo, acessibilidade,
conforto bioclimático e impactos ambientais. Ademais, as diretrizes apresentam
normas para a produção e apresentação de novos projetos, ampliações e reformas
de estabelecimentos penitenciários; conceitos e classificações acerca dos espaços
penais; tipologias arquitetônicas, programas para estes estabelecimentos e o
dimensionamento de espaços; critérios para elaboração de orçamentos e
conceituação de projetos arquitetônicos (CNPCP, 2011).
A resolução para partidos arquitetônicos defende a estimulação da criatividade
na hora da criação de projetos de estabelecimentos prisionais, porém incentivam
projetos que facilitem a administração da edificação e sua manutenção e uso,
74

influenciando no comportamento dos seus usuários. Os ambientes devem ser


confortáveis e permitir o grau de segurança necessário ao estabelecimento. Observa-
se, ainda, a pretensão de garantia de bem-estar para os presos com a sugestão de
áreas verdes, como forma de humanização do espaço sem esquecer os aspectos de
segurança necessários para os ambientes. Ao longo de todas as disposições, verifica-
se inúmeras especificações sobre o uso de materiais dentro dos estabelecimentos
penitenciários, visando a segurança da pessoa presa e evitando a depredação da
edificação, como é o caso de porcelanatos, torneiras e chuveiros de metais, vidros,
dentre outros (CNPCP, 2011).
Dentre inúmeras recomendações estipuladas na Resolução encontra-se
padrões de lotação de estabelecimentos penais, conforme seu grau de segurança, e
o programa de necessidade básico para cada estabelecimento. A Figura 28 estima a
capacidade de lotação de estabelecimentos penitenciários por seu grau de segurança.

Figura 28 – Capacidade Geral dos Estabelecimentos Penais.

Estabelecimento Penal Capacidade Máxima


Penitenciária Segurança Máxima 300
Penitenciária Segurança Média 800
Colônia Agrícola, Industrial ou similar 1.000
Casa do Albergado ou similar 120
Centro de Observação Criminológica 300
Cadeia Pública 800
FONTE: CNPCP, 2011.

Estipula-se ainda que em qualquer dos estabelecimentos penais, independente


do seu grau de segurança, o módulo de celas não ultrapasse a lotação de 200
detentos. Cadeias públicas e penitenciárias devem prever no mínimo 2% de sua
capacidade total, de celas individuais para a separação de detentos em caso de
necessidade de separação de pessoas presas, além de celas adaptadas (mínimo uma
por módulo) aos parâmetros de acessibilidade presentes na NBR 9050 (CNPCP,
2011).
A diferença primordial entre os estabelecimentos penais encontra-se na
categoria de detentos que os ocuparão, provocando a particularização de projetos e
programas de necessidades conforme seu grau de segurança. Em síntese, os
75

estabelecimentos penais devem prever atividades administrativas; religiosas;


educativas; esportivas e de lazer; laborais; de visitas aos detentos; atendimento
médico, psicológico, jurídico e de serviços sociais; entre outros (CNPCP, 2011). O
Quadro 4 apresenta uma síntese do programa de necessidades geral conforme tipo
de estabelecimento penal.

Quadro 4 – Programa de Necessidades Geral por Estabelecimento penal.

Estabelecimento penal

Central de penas
Colônia agrícola

Cadeia pública

criminológica
Penitenciária

observação

alternativas
atenção ao
Serviço de

e medidas
albergado
Centro de

judiciário
paciente
Casa do
Módulo
Guarda Externa

Agente Penitenciário/Monitor

Administração

Recepção/revista

Centro observação/
triagem/ inclusão
Tratamento Penal

Vivência coletiva

Vivência individual

Serviços

Saúde

Tratamento para dependentes


químicos
Oficina de trabalho

Educativo

Polivalente

Creche

Berçário

Visita íntima

Esportes

LEGENDA
Existência Obrigatória Existência Facultativa Não é necessário
FONTE: CNPCP, 2011.
76

Esta resolução também especifica espaços para banhos de sol, tanto coletivos
quanto individuais; refeitórios; cozinhas; lavanderias; locais de encontro com
familiares, encontros religiosos, encontros com a sociedade e atendimentos em
grupos. Também prevê sala de espera para visitantes; locais para atendimento
jurídico e social; sala de barbearia; áreas cobertas para dias de chuva; salas de aula,
de informática; biblioteca; dentre outras que formam o programa completo para um
estabelecimento penal e seus detentos.
Em suma, as Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal se caracterizam como
um importante instrumento para balizar a produção destes espaços, determinando
programas básicos a serem atendidos por estas edificações. Cabe destacar que no
ano de 2017, o CNPCP edita e flexibiliza as antigas Diretrizes Básicas, também
chamadas de Resolução n° 09/2011, gerando a nova Resolução n° 6 de 07 de
dezembro de 2017. Esta atualização na resolução gerou influências negativas nos
padrões de projetos arquitetônicos e na qualidade dos espaços destinados a custódia
dos apenados brasileiros (DAUFEMBACK; LIMA; MELO; SANTOS; DUARTE;
GIVISIEZ, 2018).
O grande impacto gerado na Resolução n° 06/2017 foi a flexibilização das
dimensões dos espaços anteriormente estipulados na Resolução n° 09/2011. Vale
destacar que as dimensões de um espaço são calculadas a partir do número de
apenados e da demanda do local, do uso, do tempo, das atividades que serão
desenvolvidas, fluxo do estabelecimento, dentre outras especificações que são de
suma importância para a delimitação do tamanho de cada módulo do estabelecimento
e a possibilidade de que cada Unidade Federativa estipule estas dimensões pode
ocasionar até mesmo a inexistência ou o subdimensionamento de módulos
importantes para o cumprimento da pena (DAUFEMBACK; LIMA; MELO; SANTOS;
DUARTE; GIVISIEZ, 2018).
As flexibilizações permitidas nesta nova resolução30 representam um
retrocesso não somente com a política penal do país, mas também com normativas
de cunho internacional como as Regra Nelson Mandela e Manuais produzidos pelo

30Para mais informações sobre a Resolução n° 06/2017 consultar material elaborado por Daufemback;
Lima; Melo; Santos; Duarte e Givisiez (2018) que demonstra uma nota técnica analisando as alterações
com relação à Resolução n° 09/2011, mostrando-se de suma importância para o entendimento do
assunto.
77

UNOPS (Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos)31, CICV e COMJIB,
além de recomendações da Corte Interamericana. Desta forma o Brasil encontra-se
na contramão de condutas exemplares na área dos Direitos Humanos e evidenciado
perante o cenário internacional (DAUFEMBACK; LIMA; MELO; SANTOS; DUARTE;
GIVISIEZ, 2018).
Anteriormente, apresentou-se a evolução da legislação e das políticas
penitenciárias no país, salientando as leis de maior representatividade e seus
objetivos, voltadas para os detentos e para a arquitetura penal. A seguir se estudará
as relações entre indivíduo e o ambiente no qual se insere.

1.3 O INDIVÍDUO E SUA FUNÇÃO SOCIAL

O surgimento da sociedade ocasionou a criação de regras, sociais e de


convivência, as quais passam por evoluções seguindo padrões culturais e
circunstanciais acompanhando as transformações sociais (AZEVEDO, 2004).
A sociedade compreende-se como uma agregação de indivíduos que
desempenham um papel social e que são regidos pelas mesmas leis, formando assim
um grupo social que convive sob regras que visam o controle coletivo. Porém, a
sociedade abrange distintos grupos sociais, em constante agrupamento ou
fragmentação, com diferentes interesses e em defesa de um objetivo comum, com
necessidades sociais e individuais distintas, constatando que o indivíduo pode não
exercer uma função em determinado grupo, mas pode desempenhar um importante
papel social em outro agrupamento (LIMA, 2005).
Para compreendermos a finalidade social do ambiente penal, é necessário,
primeiramente, entender o indivíduo que nele se abriga, devido as interferências
recíprocas entre o homem e o ambiente. Ainda que, visto como único, o homem não
vive sozinho e possui a necessidade de compartilhar sua existência com o meio social,
mesmo que isto implique na junção ou oposição a outros grupos e seres, movido por
suas necessidades, mas sempre em busca do bem comum (LIMA, 2005).

31A UNOPS atua a fim de garantir infraestruturas adequadas, resilientes e sustentáveis, possibilitando
o bem-estar do usuário e o uso eficiente e transparente dos recursos públicos (DAUFEMBACK; LIMA;
MELO; SANTOS; DUARTE; GIVISIEZ, 2018).
78

Em situações do não cumprimento do papel social ou violação de regras, o


indivíduo compromete sua permanência no convívio social, devendo compreender as
consequências de suas ações sendo restringido de liberdade e, em consequência,
perdendo sua individualidade e suas características privadas, definidas pela nova
esfera social na qual foi inserido. Sendo desintegrado do convívio em liberdade, este
indivíduo deve reaprender os princípios e regras sociais, salientando a individualidade
e não mais a coletividade (LIMA, 2005). Uma vez encarcerado, este indivíduo objetiva
reinvindicações em favor de si próprio e contra aqueles que o excluíram. Deste modo,
o detento “passa de um reconhecimento de sua função como membro de uma
sociedade ao assumido posto de selvagem, encarregado de sua própria sobrevivência
e não mais a sobrevivência da coletividade” (LIMA, 2005, p. 62).
A partir da perspectiva da pena privativa de liberdade e os espaços para qual o
indivíduo é destinado, o próximo tópico aborda a relação entre o homem e o ambiente,
trazendo teorias que abordam o apego ou a abnegação com o espaço no qual é
inserido.

1.3.1. A mútua relação entre indivíduo e ambiente

Sabe-se que todas as ações humanas ocorrem em um determinado espaço,


por consequência se estabelece a influência entre homem e ambiente, representando
a existência humana como espacial, racional, funcional e simbólica, introduzindo as
necessidades, perspectivas e objetivos humanos (LIMA, 2005). O ambiente
psicológico do ser humano pode ser interpretado como o produto da sua própria
criação, agindo sobre ele e recebendo, reciprocamente, influências do seu produto,
desta forma, modificar e controlar o ambiente significa modificar a sí próprio e moldar
o futuro (ITTELSON et al., 2005).
Podemos considerar que, o espaço construído, mas não necessariamente
edificado, é construído pelo homem e para o homem, e é nestes espaços que contém
as mais elementares expectativas, tornando-se produtora de significados e sentidos.
Neste sentido, a arquitetura idealiza-se como uma tentativa de imposição de
movimento do sujeito que habita o espaço e ordenando racionalmente seus usos.
Porém, sabe-se que dentro destes estabelecimentos estrutura-se uma sociedade
autônoma com leis e funções próprias, demonstrando que o sujeito que se abriga no
ambiente penal também é autônomo e está em incessante desenvolvimento,
79

modificando o espaço e seus atributos arquitetônicos, apesar de significar um sistema


repressor do cárcere (LIMA, 2009).
As atividades desenvolvidas pelo homem nos mais diversificados espaços que
o cercam, qualifica suas intenções, reforçando um processo particular de gostos e
valores, criando lugares significativos que podem ser interpretados como a
especialização do desejo humano. Embora o estabelecimento penitenciário não
represente a moradia permanente de seus residentes, este espaço se torna local de
moradia temporária, devendo ser planejado para permitir que o indivíduo alcance a
sua ressocialização e volte a conviver em sociedade, sendo provido de ambientes que
funcionem para a atividade a que se destina (LIMA, 2005).
A relação entre indivíduo e ambiente e as influências que este pode exercer
sobre o ser humano caracteriza o principal objeto de estudo da Psicologia Ambiental,
a qual, aprofunda os estudos e análises nos modos pelos quais os aspectos físico e
social do ambiente intervém no comportamento do indivíduo e como este
comportamento pode afetar o seu entorno. A influência mútua entre indivíduo e
ambiente revela que, a todo momento, o espaço afeta a maneira como percebemos,
agimos e sentimos a fatores físicos e normativos, e que, por sua vez, estas
percepções e sentimentos afetam o ambiente em seus componentes sócio-físicos
(VERDUGO, 2005).
Um conceito utilizado na Psicologia Ambiental é o de place attachment ou
apego ao lugar, associando as palavras attachment, “vínculo ou ligação” e place ou
“lugar”, caracterizando o ambiente no qual os indivíduos estão ligados emocional e
culturalmente como uma referência à relação afetiva (LOW; ALTMAN, 1992). Segundo
Giuliani (2004), esta área estuda as relações entre o físico-espacial e as
características simbólicas/afetivas referentes ao relacionamento entre pessoa-
ambiente, abordando informações sociais, físicas e psicológicas (emoções,
comportamentos, ações, crenças) pertinentes ao lugar.
Segundo Hidalgo e Hernandes (2001), o espaço físico caracteriza-se como um
elemento de atração, encorajamento ou inibição de movimentos, interferindo no
comportamento dos indivíduos. Esta relação pode produzir produtividade e bem-estar
as pessoas, ou também frustração e estresse, colaborando na definição de
competições ou colaborações entre os envolvidos (TWIGGER-ROSS; UZZELL, 1996;
ELALI; MEDEIROS, 2011; FELIPPE; KUHNEN, 2012).
80

O conteúdo simbólico sociocultural e individual atuam como agentes no


relacionamento entre pessoa-ambiente, influenciando a maneira na qual cada
indivíduo ou grupo compreende e age perante as diferentes situações apresentadas
(ELALI; MEDEIROS, 2011). Conforme Hummon (1992), as interações dinâmicas entre
o envolvimento social do cotidiano e as características do ambiente, auxiliam na
determinação da identidade pessoal e comunitária. A partir do momento em que o
indivíduo se compreende como parte de um grupo e de um lugar específico, cria-se o
sentimento de comunidade.
A teoria Place Attachment se concretiza no momento em que um contato
particular é acompanhado de um significado, considerando o “passado interacional”
fazendo referência as vivências ou memórias do ambiente e o “potencial interacional”
caracterizado pelas expectativas das experiências futuras (MILLIGAN, 1998; ELALI;
MEDEIROS, 2011; FELIPPE; KUHNEN, 2012).
O apego ao espaço é composto por três parâmetros: a identidade, referindo-se
a quem a pessoa é no mundo; interdependência, sendo o modo como a pessoa se
incorpora com o espaço; e contingente geográfico, o espaço físico habitado pelo
indivíduo (seu “mundo”) (RUBINSTEIN; PARMELLE, 1992; ELALI; MEDEIROS,
2011).
Outro conceito de grande valia para a relação entre arquitetura penal e
psicologia ambiental chama-se apropriação. A apropriação caracteriza-se por ser um
processo psicossocial central na relação do homem com seu entorno, por meio do
qual o indivíduo projeta-se no espaço, transformando-o em um prolongamento de sua
pessoa, criando um lugar seu. Esta apropriação significa exercer domínio sobre
espaços e objetos mesmo não tendo sua posse legal (CAVALCANTE; ELIAS, 2011).
Para Pol (1996) o processo de apropriação estrutura-se e se complementa a partir de
dois elementos: a apropriação por ação/transformação e a apropriação por
identificação simbólica. A primeira, em sua totalidade, vem antes e consiste em
comportamentos explícitos que se caracterizam pela demarcação de espaços até a
ocupação territorial elaborada e complexa. Esta apropriação pode se dar a partir de
atitudes de reivindicação, delimitação e defesa diante de ameaças.
A apropriação por identificação compreende processos simbólicos, afetivos,
cognitivos e interativos que transformam o espaço em um lugar com significados para
o indivíduo ou grupo social (CAVALCANTE, ELIAS, 2011). Segundo Vilela Petit
(1976), a apropriação dos espaços pelo indivíduo cresce com o tempo, ou também,
81

imobiliza o ser nos seus modos de ser e fazer, não conseguindo desvencilhar-se da
primeira relação estabelecida com o espaço: o indivíduo se apropria do espaço e o
espaço se apropria do indivíduo.
Outra teoria que explica as influências entre indivíduo e ambiente chama-se
behavior settings. Formulada por Roger Barker, behavior settings compreendem
unidade ecocomportamentais que caracterizam padrões de comportamento que
ocorrem em tempo e espaços determinados. O conceito de behavior settings
demonstra a relação de interdependência entre o comportamento e o ambiente, além
do mais, relaciona a dinâmica e o indivíduo que se comporta e o ambiente no qual isto
acontece. O behavior settings não pode ser visto apenas como uma porção do espaço
no entorno, mas sim um conjunto de interações dentro de um lugar (PINHEIRO, 2011).
Outra definição pode ser apresentada ao termo:

Um behavior setting é um sistema limitado, autorregulado e ordenado,


constituído de componentes humanos e não humanos substituíveis que
interagem de modo sincronizado para executar uma sequência de eventos,
denominado programa do setting (WICKER, 1979, p. 12).

Os seres humanos, são de natureza, seres espaciais e estão constantemente


envolvidos em transações espaciais por influência biológica, cultural ou ambas. A
inter-relação de indivíduo no espaço reflete no ânimo afetivo, status das pessoas e a
natureza das interações sociais, caracterizando o que entende-se como
comportamento socioespacial humano. O nosso relacionamento com o mundo à
nossa volta tem por condicionante o domínio e a identificação do espaço e de suas
relações (PINHEIRO; ELALI, 2011).
Espaço Pessoal caracteriza-se como uma zona imediatamente circundante e
emocionalmente carregada em torno de cada indivíduo, podendo ser descrita como
uma bolha de sabão ou uma aura, que ajuda a regular o espaçamento entre as
pessoas e realizar as interações entre indivíduos (SOMMER, 1973; PINHEIRO;
ELALI, 2011).
Proxêmica, para Edward Hall (1977), são os espaços que circundam as
pessoas e podem ser classificados em fixos (edifícios), semifixos (mobiliários) e
informais (distância entre indivíduos em encontros formais). A partir desta distância o
autor definiu quatro tipos de distanciamentos que envolvem as relações humanas:
íntimo, pessoal, social e público (PINHEIRO; ELALI, 2011).
82

Territorialidade diz respeito ao sentimento de posse de um determinado


espaço. Também se relaciona ao tempo de ocupação de um local, exigindo a
exclusividade no seu uso, adotando comportamentos de defesa orientando o
comportamento de outros indivíduos que se movimentem pela área. Aglomeração são
situações em que uma pessoa nota que a sua necessidade de espaço ultrapassa a
quantidade de espaços disponíveis. Privacidade é um recurso para que o indivíduo
reflita sobre sua interação com os demais indivíduos (PINHEIRO; ELALI, 2011).
Os preceitos da Psicologia Ambiental32 apresentados anteriormente relatam a
importância do planejamento dos espaços visando uma melhor influência do ambiente
no indivíduo e vice-versa. Deste modo, cada uso do espaço lhe confere um novo
sentido, presente no cotidiano dos indivíduos que se utilizam do ambiente.
A arquitetura surge como uma grande ferramenta para se criar ambientes que
explorem as melhores relações entre os lugares e entre os seres que o habitam.
Mesmo em estabelecimentos penais, os espaços encontram-se sempre em
construção na medida em que são utilizados pelos detentos (LIMA, 2009). Partindo
destes usos e modificações, busca-se a ressocialização do detento e a possível
ruptura dos ciclos de violência e reincidência a partir do aperfeiçoamento de práticas
projetuais visando melhores relações deste indivíduo já marginalizado, com um
ambiente rodeado de estigmas sociais.
O próximo tópico abordará a influência ambiental no comportamento criminal e
violento do indivíduo.

1.3.2. A influência ambiental no comportamento criminal

O comportamento criminal pode ser influenciado pela socialização do indivíduo


no ambiente familiar, na vizinhança, nas escolas, nas amizades, no local de trabalho
e em todos os outros meios que exercem o papel de socialização e operam como
fonte para o desvio delitivo social, através de seus padrões, de suas normas e
mentalidade (HASSEMER, 2005).

32A presente pesquisa abordou alguns conceitos relacionados à Psicologia Ambiental, ressaltando que
a APO não faz parte do escopo deste trabalho. Para mais informações sobre o tema consultar:
PREISER; RABINOWITZ; WHITE, 1988; VILLA; ORNSTEIN, 2016; ONO; ORNSTEIN; VILLA;
FRANÇA, 2018.
83

O ato de cometer um delito não é efeito específico de alguma patologia


presente no indivíduo, essa infração é, normalmente, decorrência de múltiplos fatores
sociais, físicos e individuais (KÄFER, 2011). O homem é entendido como um produto
das demandas evolucionárias do seu tempo e a maneira como se comporta perante
a sociedade, depende das ações e condutas necessárias para a sua sobrevivência
(ITTELSON et al., 2005).
Alguns pensadores gregos já haviam elaborado teses sobre a criminalidade,
como é o caso de Alcmeonde Cretona (século VI a C.), que buscava correlação entre
o cérebro humano e a criminalidade, se dedicando às análises biopsíquicas dos
criminosos. Hipócrates (460-355 a. C.) relata o vício como um resultado da loucura
humana, tendo o crime como produto dessa mesma loucura, criando o princípio da
irresponsabilidade do homem insano. Platão (427-347 a. C.), em sua obra “A
República”, destaca a economia como fator produtor de crimes, baseando-se na
ambição, na ganância e na cobiça. Também defendia que más influências seriam
capazes de transformar um indivíduo em criminoso e que onde houvesse pobreza,
haveria malandragem, trapaça e maldade (FERNANDES; FERNANDES, 2002).
Aristóteles (384-322 a. C.) percebeu fatores econômicos em crimes cometidos
em virtude da miséria e se opunha as desigualdades na distribuição de renda,
almejando justiça na partilha econômica (FERNANDES; FERNANDES, 2002).
Fundador da Criminologia, precursor da Antropologia Criminal e representante
do positivismo criminológico, Cesare Lombroso defendia que os indivíduos já nasciam
com características específicas para a prática de crimes, sendo estas características
reveladas pela aparência física (VIEIRA, 1997). Em sua obra, lançada em 1876,
L’uomo Delinquente, Lombroso33 classifica o criminoso como sendo nato, louco, por
paixão ou por ocasião (FARIAS JÚNIOR, 2001).

33Nesta pesquisa foram abordadas algumas teorias sobre a criminalidade, cabe ressaltar que existem
distintas vertentes sobre a temática, sendo uma delas a Criminologia Crítica. Para Baratta (2002), e
sob as perspectivas da criminologia crítica: A criminalidade não é mais uma qualidade ontológica de
determinados comportamentos e de determinados indivíduos, mas se revela, principalmente, como um
status atribuído a determinados indivíduos, mediante uma dupla seleção: em primeiro lugar, a seleção
dos bens protegidos penalmente, e dos comportamentos ofensivos destes bens, descritos nos tipos
penais; em segundo lugar, a seleção dos indivíduos estigmatizados entre todos os indivíduos que
realizam infrações a normas penalmente sancionadas. A criminalidade é – segundo uma interessante
perspectiva já indicada nas páginas anteriores – um ‘bem negativo’, distribuído desigualmente
conforme a hierarquia dos interesses fixada no sistema socioeconômico e conforme a desigualdade
social entre os indivíduos [...] o direito penal tende a privilegiar os interesses das classes dominantes,
e a imunizar do processo de criminalização comportamentos socialmente danosos típicos dos
indivíduos a elas pertencentes, e ligados funcionalmente à existência da acumulação capitalista, e
84

Discípulo de Cesare Lombroso, Enrico Ferri acreditava que a criminalidade era


influenciada por fatores físico-ambientais (THOMPSON, 1998). Fatores biológicos ou
próprios dos indivíduos, físicos (clima, estações do ano, condições meteorológicas) e
sociais (densidade populacional, religião, cultura, economia, política, legislações,
organizações civis e penais) caracterizavam o trinômio causal dos delitos (FARIAS
JÚNIOR, 2001).
Além de argumentos vindos de grandes pensadores, houve a constituição de
áreas do conhecimento que ocupam-se dos fatores que influenciam a prática de
crimes, como é o caso da sociologia criminal, que tem como finalidade discutir o modo
pelo qual as condições do meio social influenciam na maneira de agir do indivíduo,
que é levado a praticar delitos. Os fatores sociais de maior repercussão na prática de
delitos, segundo Fernandes e Fernandes (2002) são: pobreza, fatores econômicos,
fome e desnutrição, cultura, educação, moradia, relações com o ambiente, relações
familiares, desemprego, urbanização e política (FERNANDES; FERNANDES, 2002).
Outra teoria inovadora no que concerne à explicação da criminalidade surgiu
na década de 1960 e recebe a nomenclatura de teoria criminológica do Labelling
Approach, que tem por significado rotulação social ou etiquetagem, e busca
questionar as condições da criminalidade e não mais as suas causas (ARAUJO,
2007). Essa teoria analisa a relação da sociedade perante os atos criminais cometidos
por um indivíduo, desde a estipulação de penas a consequente repressão e rotulação
a esse delinquente; além de fatores que provocam o afastamento e a diferenciação
do resto da sociedade acarretando problemas psicológicos ao envolvido (CASTRO,
1983; ARAUJO, 2007).
Apesar de haver diferentes autores que abordam as possíveis causas da
criminalidade, não pode-se afirmar um único fator que influencia o homem a cometer
um delito, como afirma Enrico Ferri, a criminalidade era influenciada por fatores físico-
ambientais (necessidades biológicas, físicas e sociais), não apresentando apenas
uma causa, mas sim um conjunto de influenciadores do crime (FERNANDES;
FERNANDES, 2002).
Tendo como base a criminalidade cometida por alguns indivíduos, esta
pesquisa busca compreender de quais maneiras o ambiente pode influenciar as ações
humanas dentro dos estabelecimentos penais, e como estes espaços auxiliam a

tende a dirigir o processo de criminalização, principalmente, para formas de desvio típicas das classes
subalternas (BARATTA, p. 161-165, 2002).
85

ressocialização dos detentos. Além disto, buscar-se-á conhecer as percepções que


os detentos e recuperandos tem dos espaços em que vivem, baseando-se em
conceitos da psicologia ambiental para explicar as relações positivas ou negativas
destas vivências.

1.4. POPULAÇÃO PRISIONAL BRASILEIRA: CARACTERÍSTICAS E EVOLUÇÃO

Criado no ano de 2004 com o objetivo de sintetizar dados sobre os


estabelecimentos penais e a população prisional, o Infopen34 é o principal sistema de
informações estatísticas do sistema penitenciário brasileiro. Antes da criação deste
sistema, as informações a respeito dos estabelecimentos penais do país eram
escassas, além de serem divulgadas com irregularidade e, não abrangiam todas as
questões do universo penal. Em 2014 foram executadas alterações metodológicas no
instrumento de coleta das informações, visando aprimorar as análises do sistema
prisional, possibilitando a criação de políticas públicas mais adequadas à realidade
penal (INFOPEN, 2014a).
Dos anos 2000 até 2013, o Departamento Penitenciário Nacional elaborava
apenas relatórios anuais do sistema penal brasileiro. Em 2014 foi publicado o primeiro
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, analisando detalhadamente a
população prisional brasileira e sua evolução, o panorama mundial do sistema
penitenciário, taxas de aprisionamento, número de vagas e seus déficits, além do perfil
social de detentos (INFOPEN, 2014a). Nos anos seguintes, 2015 e 2016, houve a
publicação de levantamentos analisando os dados referentes aos anos vigentes,
demonstrando uma evolução dos índices com relação ao primeiro estudo divulgado.
O último levantamento divulgado refere-se ao ano de 201635 e para esta
pesquisa foram utilizados dados complementares e de outras fontes, neste caso
Ministério da Justiça e Segurança Pública – Ouvidoria Nacional de Serviços Penais,
para a atualização completa dos anos seguintes, de 2017 até 2019. Vale ressaltar que
a escolha de analisar comparativamente os dados estaduais e dos estabelecimentos
penais, objetos de estudo desta dissertação, a partir do ano de 2014, seguindo para

34 Este sistema é atualizado por gestores estaduais dos estabelecimentos penais de todo o país
(DEPEN, 2014).
35 Esperava-se que ao longo do desenvolvimento da pesquisa houvesse a publicação do último

Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias com a atualização dos dados, porém já em fase
de conclusão da pesquisa ainda não houve tal ação por parte do DEPEN.
86

2016 ocorreu devido a iniciação da coleta de dados ter ocorrido durante o período de
Trabalho de Conclusão de Curso da pesquisadora36.
A seguir serão apresentadas análises da população carcerária brasileira em um
panorama mundial, nacional fazendo-se comparações entre estados e por fim será
exposto dados obtidos do Presídio Regional de Passo Fundo e da APAC Santa Luzia,
entre os anos de 2014, 2016 e uma última atualização do ano de 201937, tornando a
pesquisa mais próxima da realidade penal dos estabelecimentos.

1.4.1. Brasil no panorama mundial

A crise carcerária no Brasil vem intensificando-se com o passar dos anos tanto
no âmbito nacional quanto no internacional. Em 2014, o país ocupava a quarta
colocação no ranking dos 10 países com maior população prisional do mundo, com
622.202 detentos, ficando atrás de países como Estados Unidos, China e Rússia,
como demonstrado na

Figura 29. Neste mesmo ano o país já chegava a uma média de mais de 300 detentos
para cada 100 mil habitantes, sendo que a média mundial chegava a 144 presos para
100 mil habitantes, conforme dados do International Centre for Prison Studies (ICPS)
(INFOPEN, 2014b).

36 Os dados coletados em etapa de Trabalho de Conclusão de Curso foram utilizados por já estarem
compilados, necessitando apenas novas análises devido à complexidade da pesquisa de dissertação
comparada ao trabalho final de Graduação.
37 Optou-se por analisar os dados do ano de 2019 pois neste período foram realizadas as visitas in loco

nos estabelecimentos, bem como a coleta de informações sobre número de detentos e outras
informações divulgadas a seguir.
87

Figura 29 – Ranking dos 10 países com maior população prisional no ano de 2014.

Fonte: dados INFOPEN, 2014b; BANCO MUNDIAL, 2019; adaptado pela autora.

Ainda conforme a
88

Figura 29, nota-se a disparidade com a relação à população total brasileira se


comparada a população da Índia, país com mais de 1 bilhão de habitantes mas que
mesmo assim encontra-se atrás do Brasil em números absolutos da população
carcerária. Uma análise importante a ser feita refere-se ao número de detentos para
cada grupo de 100.000 habitantes.
A informação repassada pelo Infopen descreve que o Brasil possui mais
detentos para casa 100.000 habitantes que toda a média mundial. Porém, a análise
aos 10 países com maior população carcerária do mundo demonstra que há países
com um índice bem maior que o Brasil, como é o caso dos EUA, Rússia e Tailândia,
países que estão, também, acima da média mundial. Ademais, a China possui a
segunda maior população carcerária do mundo, mas apresenta somente 121 detentos
para cada grupo de 100.000 habitantes, podendo ficar em outro lugar do ranking caso
a classificação da população penal fosse por grupos habitacionais e não pela
população total. O mesmo ocorre com a Índia, 5° país com mais detentos do mundo,
mas com somente 32 apenados para cada grupo de 100 mil pessoas.
Em 2015 o Brasil havia assumido, pela primeira vez, o terceiro lugar no ranking
mundial de encarceramento (Figura 30) com 698.618 mil detentos, ultrapassando a
Rússia (646.085) e ficando atrás apenas dos Estados Unidos (2.145.100) e China
(1.649.804). Em comparação aos anos de 2014 e 2015, verifica-se que EUA, China e
Rússia sofrem uma pequena redução na população total encarcerada, condições que
favorecem o novo posicionamento brasileiro no ranking mundial. Outra comparação a
ser feita é com a população carcerária da Índia, país que possui mais de 1,3 milhões
de habitantes (seis vezes a população do Brasil), no entanto, possui 200 mil detentos
a menos que o Brasil (INFOPEN, 2014b).
89

Figura 30 – Ranking dos 10 países com maior população prisional no ano de 2015.

Fonte: dados INFOPEN, 2017a; BANCO MUNDIAL, 2019; adaptado pela autora.

Além do aumento do número total da população carcerária brasileira, nota-se


também o aumento no número de detentos para grupo de 100 mil habitantes,
passando de 304 para 312 apenados no ano de 2015. Diferentemente de 2014, a
Indonésia teve um aumento em seu número total de detentos no país, ultrapassando
a Turquia, apesar de seus apenas 78 detentos por 100 mil habitantes.
Ainda com relação ao ano de 2015, o Infopen divulgou dados onde o Brasil
apresentava uma taxa de aprisionamento de 342 detentos para um grupo de 100 mil
habitantes, sendo o único país entre os Estados Unidos, a China e a Rússia em que
este a população total carcerária apresentou crescimento nos últimos 5 anos de
análise (INFOPEN, 2017a), conforme apresentado na Figura 31. Apesar de haver
discordância nos dados coletados no site do Banco Mundial sobre a população total
do Brasil no ano de 2015 e nos dados finais do Infopen, optou-se por apresenta-los
da mesma forma, como meio de comparação entre duas diferentes fontes e
resultados.

Figura 31 - Evolução da taxa de aprisionamento nos 4 países com maior população carcerária do
mundo no período entre 1995 e 2015 para um grupo de 100 mil habitantes.
90

Fonte: INFOPEN, 2017a, p. 10.

Além de um estudo sobre o panorama mundial, faz-se necessário uma análise


comparativa dos 10 países com maior população prisional na América do Sul38, como
é apresentado na Figura 32, tendo como base dados obtidos pelo World Prison Brief39.
Dos países da América do Sul, sabe-se que o Brasil é o maior em extensões territoriais
e em população e no ano de 2018 já contava com 208.494.900 habitantes (IBGE,
2019), sendo a Colômbia o segundo maior país com mais de 48 milhões de habitantes
(INDEXMUNDI, 2019).

Figura 32 – Ranking dos 10 países com maior população prisional na América do Sul no ano de 2018.

38 Não foi realizada a análise da quantidade de detentos a cada grupo de 100.000 habitantes pois não
foram encontrados dados referentes à população total dos países em questão em fontes confiáveis.
39 Disponível em http://www.prisonstudies.org/world-prison-brief-data, acessado em novembro de 2018,

com dados de 2016 até 2018.


91

Fonte: WORD PRISON BRIEF, 2018 adaptado pela autora.

Conforme informações apresentadas na Figura 32, o Brasil possui a maior


população prisional da América do Sul40, cinco vezes maior que o da Colômbia,
segunda colocada no ranking total e segundo país com maior população da América
do Sul . Em síntese, o aumento da população carcerária brasileira vai na contramão
de países não somente desenvolvidos, mas também de países subdesenvolvidos, a
exemplo da Colômbia, Peru e Argentina.

1.4.2. Panorama Nacional

Em junho de 2016, conforme atualização do Levantamento Nacional de


Informações Penitenciárias, o Brasil alcançava a marca histórica de 726.712 pessoas
privadas de liberdade41 no país, representando um aumento de 707% em relação ao
número de detentos registrados na década de 90, apresentado na Figura 33
(INFOPEN, 2017b).

Figura 33 - Evolução da população carcerária brasileira entre 1990 e 2016 a cada grupo de 100 mil
habitantes.

40 Não foram encontrados os índices populacionais dos países da América do Sul no site do Banco
Mundial referentes ao ano de 2018, desta forma optou-se por apresentar apenas o dado oficial referente
a população brasileira deste ano.
41 Esta população prisional é composta pela soma de detentos no sistema prisional estadual e nas

delegacias, além daqueles custodiados em Presídios Federais.


92

Fonte: INFOPEN, 2017b, p. 9.

Conforme a figura anterior, nota-se a constante crescente no total de detentos


no país desde o ano de 1990 até 2016, não havendo nenhum intervalo de tempo onde
este número tenha sofrido alguma redução. Podemos averiguar alguns períodos em
que o aumento ocorreu de modo ínfimo com relação aos demais anos em estudo,
como é o caso do ano de 1993 onde havia 126,2 mil detentos no país, chegando a
marca de 129,2 mil no ano de 1994, representando um crescimento de 2,37%. No ano
2000 o território brasileiro contava com 232,8 mil detentos passando para 233,9 mil
no ano de 2001, significando um aumento de apenas 0,47% no número total de
pessoas privadas de liberdade no país. Se compararmos os dados do ano 2001 com
seu ano seguinte, 2002, chegamos a um aumento de aproximadamente 2,30% com
uma população de 239,3 mil apenados.
Este baixo crescimento na população carcerária no país durante os anos de
1990 a 2002 pode ter relação com a renovação do Sistema Penal brasileiro, que
visava a construção de novas unidade penais, garantindo mais vagas; melhoria na
assistência educacional, médica e jurídica; oferta de trabalho e a aplicação de penas
alternativas (ESTECA, 2010).
Em análise comparativa da população carcerária brasileira do ano de 2014 e
2016 (Figura 34), a população prisional brasileira teve um aumento de
aproximadamente 16%, passando de 622.202 detentos em 2014 para 726.712 em
2016, ultrapassando, pela primeira vez, a marca de mais de 700 mil apenados no país.
Porém, apesar do aumento significativo no total de indivíduos no sistema carcerário
brasileiro, o país ainda enfrentou uma redução no número de vagas 42 em

42Segundo a resolução 09/2011 elaborada pelo CNPCP, entende-se como vaga a área destinada para
a acomodação da pessoa presa (cela), podendo ser uma área coletiva ou individual, com metros
quadrados mínimos a fim de prever espaço para a cama, higienização pessoal e circulação.
93

estabelecimentos penais, aproximadamente 1%, conforme demonstrado na Figura 34,


fatores que, apesar da baixa porcentagem na redução das vagas, expandem as
dificuldades enfrentadas pelo sistema como a superlotação, estruturas precárias e
insalubres, além de rebeliões, fugas e mortes.

Figura 34 – Comparação de dados do Sistema Penitenciário Brasileiro dos anos de 2014 e 2016.

Fonte: dados INFOPEN, 2014b e 2017b, manipulados pela autora.

Ainda abordando o cenário nacional durante os anos de 2014 e 2016 e o


número de vagas disponíveis no país, os estabelecimentos penais defrontavam-se
com um aumento de 43% no déficit de vagas, passando de 250.318 vagas no primeiro
ano de análise, para 358.663 no ano de 2016. Outra taxa que sofreu um grande
acréscimo em seus números foi a taxa de aprisionamento, a qual calcula o total de
detentos para cada grupo de 100 mil habitantes. No ano de 2014 haviam 306 detentos
para cada 100 mil habitantes, passando para 356 apenados no ano de 2016.
Apesar destas análises constarem dados completos como os apresentados
anteriormente, o Infopen não divulgou nenhuma atualização destas informações para
os anos em sequência. Desta forma foram angariados dados referentes à população
prisional brasileira para os anos de 2017, 2018 e 2019 em relatório elaborado pelo
94

Ministério da Justiça e Segurança Pública. Cabe ressaltar que os números


apresentados neste relatório para o ano de 2016 não estão em concordância com os
apresentados pelo Infopen, mas para os anos seguintes servirão para uma estimativa
populacional tendo em vista a falta dos levantamentos oficiais do DEPEN.
A Figura 35 demonstra o crescimento da população carcerária brasileira
fazendo uma estimativa para os anos de 2020 até 2025, tendo como base um
percentual de aumento anual de 8,30% (MJ, 2019).

Figura 35 – População Carcerária Brasileira - dados reais e estimativos.

POPULAÇÃO CARCERÁRIA BRASILEIRA – DADOS MINISTÉRIO DA JUSTIÇA


ANO 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
TOTAL 717.729 777.301 841.816 911.687 987.357 1.069.308 1.158.060 1.254.179 1.358.276
AUMENTO + 8,30% + 8,30% + 8,30% + 8,30% + 8,30% + 8,30% + 8,30% + 8,30%
Fonte: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2019 elaborado pela autora.

Conforme mencionado anteriormente, nota-se a diferença entre os dados


referentes ao ano de 2016 informados pelo Infopen e pelo Ministério da Justiça, onde
o primeiro passa o número de 726.712 detentos e o segundo 717.729 encarcerados.
Porém todos os dados coletados são de suma importância tendo em vista a falta de
atualizações do levantamento fornecido pelo DEPEN. A Figura 35 também estima o
crescimento da população carcerária no Brasil alertando os altos índices para os anos
de 2021 e 2022 onde os números ultrapassam a marca de 1 milhão de detentos em
todo o país.
Estes estudos tornam-se importantes pois auxiliam medidas voltadas para a
redução do número de apenados em nosso país, além de corroborarem no
planejamento de novas vagas no sistema penal, que já possui grandes déficits
ocasionando problemas de superlotação, insalubridade, doenças entre outros.

1.4.2.1 Análises Estaduais

No ano de 2014, o estado do Rio Grande do Sul possuía 28.059 detentos


(aproximadamente 4,5% do número total nacional) e ocupava o 4° lugar no ranking de
95

estados brasileiros com maior população carcerária, de acordo com a Figura 36. No
mesmo ano, o estado gaúcho já contabilizava um déficit de 6.838 vagas em todo o
estado e possuía uma taxa de 250 detentos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Ainda com relação a Figura 36, o estado de Minas Gerais possuía 61.392 detentos no
ano de 2014, sendo o 2° estado com maior população carcerária do Brasil, tendo um
déficit de 24.707 vagas e possuindo uma taxa 29043 detentos para um grupo de 100
mil habitantes (INFOPEN, 2014b).

Figura 36 - Ranking nacional dos estados brasileiros com maior população carcerária no ano de
2014.

Fonte: dados INFOPEN, 2014b; IBGE, 2019 manipulados pela autora.

E novamente pode-se averiguar a disparidade nas proporções dos dados


quando a análise parte da população total para a população carcerária para cada
grupo de 100 mil habitantes. O estado com o maior número de apenados para cada
grupo de 100.000 pessoas é o 8° colocado no ranking nacional de população
carcerária, expondo a realidade penal sob outras óticas de análise.
O estado do Rio de Janeiro, apesar de estar à frente do Rio Grande do Sul no
número total de detentos, totaliza 5 detentos a menos no grupo para cada 100 mil
habitantes.
Em 2016 houve um aumento nos índices relacionados à população carcerária
do estado do Rio Grande do Sul. Porém o estado gaúcho passou a ocupar o 7° lugar
no ranking dos estados com maior número de detentos (Figura 37), isso se deve ao

43Conforme os dados apresentados pelo IBGE e pelo Infopen, o Estado de Minas Gerais possui 296
detentos para cada 100.000 habitantes.
96

fato de outras unidades federativas terem aumentado significativamente sua


contribuição no total nacional. No ano de 2016 o Rio Grande do Sul possuía 33.868
detentos, sofrendo um aumento de 20,4% desde o ano de 2014. Ainda neste período,
o déficit de vagas havia alcançado a marca de 12.226 em todo o estado (aumento de
78%) e atingido uma taxa de aprisionamento de 300 detentos para cada grupo de 100
mil habitantes (INFOPEN, 2017b).
O estado de Minas Gerais, no ano de 2016, continuou no 2° lugar de estados
com maior população carcerária do país (Figura 37), com 68.354 detentos (aumento
de 11,3% com relação ao ano de 2014), déficit de 31.798 vagas em todo o estado
(aumento de 28,7%) e uma taxa de 325 detentos para cada grupo de 100 mil
habitantes (INFOPEN, 2017b).

Figura 37 - Ranking nacional dos estados brasileiros com maior população carcerária no ano de
2016.

Fonte: dados INPOPEN, 2017b manipulados pela autora.

Os dois estados, objetos de estudo, tiveram um aumento no número de


detentos para cada grupo de 100 mil habitantes durante um intervalo de 2 anos,
demonstrando que nestas proporções o número de habitantes (100 mil) não teve
aumento, mas os apenados dentro deste grupo sim, resultando em mais
encarceramentos em um país onde os índices de superlotação são altícimos. Esta
breve demonstração retrata a importância do estudos da evolução da população
carcerária brasileira sob outras perspectivas além do contingente total, sempre
lembrando que a cada ano que passa mais e mais cidadão saem do grupo dos 100
mil habitantes para se tornarem o grupo dos encarcerados.
97

Os dados atuais referente ao ano de 2018 e 2019 dos estados do Rio Grande
do Sul e de Minas Gerais foram obtidos pela Superintendência dos Serviços
Penitenciários – SUSEPE RS e pelo Tribunal de Justiça do estado de Minas Gerais,
já que não há atualizações do levantamento do Infopen. O Quadro 5 demonstra a
evolução da população carcerária dos estados es estudo entre os anos de 2014, 2016,
2018 e 2019.

Quadro 5 – População Carcerária dos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

POPULAÇÃO CARCERÁRIA MG E RS
ANO 2014 2016 2018 2019
UNIDADE FEDERATIVA

61.392 68.354 Não encontrado 74.274


Minas Gerais
Aumento de 11,34% Aumento de 8,66%
28.125 33.868 38.510 42.542

Rio Grande do Sul

Aumento de 20,41% 13,70% Aumento de 10,47%


Fonte: INFOPEN, 2014b; INPOPEN, 2017b; SUSEPE, 2018; TJMG, 2019; SUSEPE, 2019.

Ainda conforme o quadro anterior, nota-se que o estado do Rio Grande do Sul
teve aumentos significativos em sua população carcerária se comparada ao estado
de Minas Gerais, porém no ano de 2018 não foi encontrado em fontes oficiais dados
correspondentes ao número de apenados mineiros, desta forma optou-se por
apresentar apenas o ano de 2019. Mesmo com a falta desta informação o aumento
da população carcerária no estado de Minas Gerais foi inferior se somarmos os
13,70% aos 10,47% acumulados entre o ano de 2018.
O tópico a seguir irá apresentar o perfil sociodemográfico dos detentos de cada
estado em estudo, apresentando informações sobre etnia, faixa etária, estado civil e
escolaridade.

1.4.2.2. Perfil dos detentos


98

No ano de 2014 o perfil sociodemográfico44 da população carcerária brasileira,


caracterizava-se, em âmbito nacional, por ser, em sua maioria, composta por negros
(67%), jovens entre 18 e 24 anos (31%), além de 57% desta população ser solteira e
possuírem como escolaridade o Ensino Fundamental incompleto (53%), como é
exposto no Quadro 6 (INFOPEN, 2014a).
Na esfera estadual, no ano de 2014, os detentos do Rio Grande do Sul eram
maioria brancos (67%), jovens de 18 a 24 anos (23%) e jovens de 25 a 29 anos (23%),
sendo, sua grande maioria, solteiros (55,6%) e 61% com o Ensino Fundamental
incompleto (INFOPEN, 2014a), também demonstrado no Quadro 6.
No mesmo ano, a população carcerária do estado de Minas Gerais (Quadro 6)
era composta por negros (67%), a maioria da população era de jovens de 18 a 24
anos (31%) e com o ensino fundamental incompleto (54%). Os índices referentes ao
estado civil desta população não foram divulgados no levantamento realizado em
dezembro de 2014 (INFOPEN, 2014a).

Quadro 6 – Perfil sociodemográfico da população nacional, mineira e gaúcha no ano de 2014.

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO
NACIONAL MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL
Raça/cor ou etnia 67% negros 67% negros 67% brancos
31% 18 a 24 anos 31% 18 a 24 anos 23% 18 a 24 anos
Faixa etária
25% 25 a 29 anos 24% 25 a 29 anos 23% 25 a 29 anos
2014

Estado civil 57% solteiro Não divulgado 55,6% solteiro


53% Ensino 54% Ensino 61% Ensino
Escolaridade Fundamental Fundamental Fundamental
incompleto incompleto incompleto
Fonte: INFOPEN, 2014a adaptado pela autora.

Em uma análise sobre o ano de 2014 e sobre a tabela anterior, nota-se uma
semelhança no perfil da população gaúcha e mineira com o perfil dos detentos
brasileiros, havendo predomínio de jovens de 18 a 24 anos no sistema, indivíduos
solteiros e com o Ensino Fundamental incompleto. A única diferença significativa se
encontra na raça/cor destas populações, no Brasil havia o predomínio de detentos

44 Para a análise do perfil sociodemográfico foram elencadas quatro categorias de análise, tendo em
vista a disponibilidade dos dados em âmbito nacional e estadual, já que buscou-se as mesmas
categorias e seus dados nos estabelecimentos penais em estudo. Desta forma não foi analisado a
situação econômica e se os detentos possuíam ou não emprego antes de serem presos, tendo em vista
que nos presídios em estudo estes dados não são coletados.
99

negros, já no estado do Rio Grande do Sul existia a mesma porcentagem (67%),


porém de detentos brancos. A população carcerária do estado de Minas Gerais
manteve a predominância de negros e não apresentou dados sobre o estado civil.
Dois anos depois, já em 2016, conforme Quadro 7, o contingente da população
prisional brasileira era formado pelo predomínio de detentos negros (53%), jovens de
18 a 24 anos (30%), solteiros (60%) e com o Ensino Fundamental incompleto, perfil
sociodemográfico similar ao encontrado no ano de 2014 (INFOPEN, 2017b).
A população carcerária do estado do Rio Grande do Sul era formada por uma
maioria de brancos (68%), jovens de 18 a 24 anos (25%), solteiros (60%) e com o
Ensino Fundamental incompleto. A população carcerária do estado de Minas Gerais
era composta, predominantemente, por negros (71%), jovens de 18 a 24 anos (32%),
solteiros (84%) e com o ensino fundamental incompleto (57%) (INFOPEN, 2017b).

Quadro 7 - Perfil sociodemográfico da população nacional, mineira e gaúcha no ano de 2016.

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO
NACIONAL MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL
Raça/cor ou etnia 63% negros 71% negros 68% brancos
30% 18 a 24 anos 32% 18 a 24 anos 25% 18 a 24 anos
Faixa etária
25% 25 a 29 anos 25% 25 a 29 anos 22% 25 a 29 anos
2016

Estado civil 60% solteiro 84% solteiro 60% solteiro


51% Ensino 57% Ensino 56% Ensino
Escolaridade Fundamental Fundamental Fundamental
incompleto incompleto incompleto
Fonte: INFOPEN, 2017b adaptado pela autora.

O perfil dos apenados, no ano de 2016, seguiu o mesmo padrão encontrado na


análise de 2014, tanto na esfera nacional quanto na estadual, tendo o predomínio de
jovens entre 18 e 24 anos, solteiros e com o Ensino Fundamental incompleto. No ano
de 2016 houve uma semelhança entre os detentos brasileiros e os gaúchos,
permanecendo a distinção na raça/cor entre o perfil geral e estadual destes indivíduos.
Pela falta de informações sobre o perfil da população carcerária nacional e
mineira será apresentado apenas os dados obtidos na SUSEPE sobre os detentos
gaúchos. Vale destacar que a base de dados da SUSEPE atualiza semestralmente
seus dados sobre a população carcerária, mantendo um rígido controle e
monitoramento de suas informações e estatísticas, fato que não ocorreu ao acessar o
site do Departamento Penitenciário de Minas Gerais.
100

O perfil dos detentos do estado do Rio Grande do Sul em 03 de setembro de


201845 era, predominantemente, de brancos (66%), solteiros (60%), com o Ensino
Fundamental incompleto (61%) e, diferentemente dos dados anteriormente
divulgados, a faixa etária predominante é de homens de 35 a 45 anos (25%), seguidos
de jovens entre 18 e 24 anos (23%) (SUSEPE, 2018)46. No ano de 2019 havia o
predomínio de brancos (65,74%), homens de 35 a 45 anos (26,46%), seguidos de
jovens de 25 a 29 anos (21,16%), com Ensino Fundamental incompleto (60,79%) e
solteiros (61,16%) (SUSEPE, 2019).
A falta de dados dificulta a análise comparativa de perfis sociodemográficos e
demonstra algumas fragilidades em coletas e divulgações de informações no sistema
penitenciário tradicional brasileiro, muitas vezes impossibilitando pesquisas científicas
e ações voltadas à melhoria da situação do sistema.

1.4.3. Reincidência criminal: conceituação, índices e contribuição no


agravamento da crise carcerária brasileira

Os poucos estudos que abordam as taxas de reincidência criminal do pais


utilizam-se de diferentes significados sobre o tema para a coleta de dados e o
desenvolvimento da pesquisa, partindo de conceitos sociológicos ou jurídicos.
Na tentativa de compreender a principal conceituação da reincidência recorre-
se aos preceitos básicos da sociologia, permitindo uma análise evolutiva do processo
reflexivo sobre o detento em vista dos atores ligados ao sistema prisional (FOCAULT,
1987).
Para a Sociologia, um indivíduo reincidente é aquele que egressa do sistema
prisional e volta a cometer um novo delito após o cumprimento da pena pelo crime
anteriormente cometido. No Brasil, a interpretação de reincidência criminal sucede-se
por seu caráter jurídico, constando no artigo 63 do Código Penal, com a seguinte
definição: “Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado
por crime anterior”. Consequentemente, para uma configuração de reincidência

45Não há a divulgação do perfil dos detentos do estado de Minas Gerais no ano de 2018.
46 Por não haver uma publicação mais recente do Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (última publicação referente ao ano de 2016), é apresentado dados obtidos por meio de
bancos de dados da SUSEPE.
101

jurídico-penal é imprescindível que haja uma condenação por um crime que não
convenha mais nenhum tipo de recurso. Porém os estudos já realizados no país não
abordam uma conceituação jurídica, estes aplicaram cálculos para reincidência no
âmbito penitenciário (SAPORI; SANTOS; MAAS, 2017).
Em estudos realizados visando o aprofundamento e a reflexão sobre a
conceituação de reincidência, Julião (2009) classifica e subdivide do termo em quatro
situações:
1 – Reincidência Genérica: classifica-se por ser a forma mais popular e
ampla do conceito, sem preocupar-se com princípios técnicos, metodológicos e
teóricos, sem sequer considerar o ato de condenação. Essa terminologia especifica à
prática de um novo crime, independente da condenação (JULIÃO, 2009).
2 – Reincidência Legal: caracteriza a prática de um novo crime, porém
levando em consideração a condenação judicial e as determinações técnico-jurídicas
especificadas na legislação penal brasileira (JULIÃO, 2009).
3 – Reincidência Penitenciária: quando o apenado, sem levar em
consideração o crime anteriormente cometido, após sua liberação, retorna ao
estabelecimento penal por receber nova condenação, para cumprimento de pena ou
medida de segurança (JULIÃO, 2009).
4 – Reincidência Criminal: classifica-se pelo sujeito, já condenado por um
ato criminal, receber uma segunda sentença devido à um novo crime cometido,
independente de prisão. É importante destacar a diferença entre reincidência e
antecedentes criminais, uma vez que o indivíduo pode ter antecedentes sem,
necessariamente, ser reincidente (JULIÃO, 2009).
Os escassos estudos nacionais sobre a reincidência criminal ainda corroboram
para uma repercussão de dados muito amplos, pouco úteis para o planejamento de
políticas criminais e que não se restringem aos presos condenados e as
temporalidades determinadas em legislação. Um dado muito divulgado pela imprensa
e por gestores públicos determina uma taxa de 70% de reincidência no país.
Entretanto ainda na década 1980 já haviam estudos produzidos para apresentar
dados precisos a fim de desmistificar essas informações (IPEA, 2015).
Uma pesquisa realizada no Brasil, com autoria de Adorno e Bordini (1989),
acompanhou durante os anos de 1974 e 1985 todos os sentenciados liberados das
penitenciárias do estado de São Paulo a fim de se conhecer a magnitude real da
reincidência no país e conhecer o perfil destes reincidentes. Ao final do estudo
102

chegou-se a uma taxa de 46,03% de reincidentes penitenciários, sendo estes aqueles


indivíduos que já haviam cumprido sua pena e foram recolhidos outra vez para casas
prisionais (IPEA, 2015, SAPORI; SANTOS; MAAS, 2017).
No ano de 1988, Lemgruber realizou uma pesquisa junto ao Departamento do
Sistema Penal (Desipe) no estado do Rio de Janeiro e analisou apenas 5% dos
apenados do sistema prisional do estado (8.269 homens e 251 mulheres) com o
objetivo de se obter dados referente a reincidência e ao perfil destes indivíduos.
Mediante entrevistas e técnicas quantitativas de análises, a taxa final de reincidência
totalizou 30,7% (sendo 31,3% para homens e 26% paras as mulheres) (IPEA, 2015;
SAPORI; SANTOS; MAAS, 2017).
Sob outra ótica de análise, os autores Adorno e Bordini (1991) utilizaram-se do
conceito jurídico para reincidência criminal definido no Código Penal Brasileiro. O
estudo considerou apenas os detentos já condenados pela justiça criminal de São
Paulo, revelando uma taxa de 29,34% de reincidentes no estado (IPEA, 2015).
No ano de 1994, o Censo Penitenciário Nacional apontou uma taxa de
reincidência de 34,4%. Em 2001, Túlio Kahn realizou uma pesquisa para o estado de
São Paulo e constata uma taxa de reincidência penal de 50% em 1994; 45,2% em
1995 e 47% em 1996 (IPEA, 2015).
Em 2001, o Ministério da Justiça, por meio do Depen apresentou que a taxa de
reincidência em 01 de janeiro de 1998 era de 70%, com metas de redução para 50%
até o ano de 2003. Todavia este índice de 70% torna-se de difícil apuração por incluir
os presos provisórios, que não necessariamente são condenados. Em análise a figura
4 referente aos estudos realizados no país, nota-se uma grande variação dos índices
de reincidência devido aos diferentes conceitos utilizado como base para pesquisa
(IPEA, 2015).
No ano de 2015, divulgou-se um relatório de pesquisa sobre reincidência
criminal no Brasil, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA),
com o objetivo de demonstrar os índices de reincidência no país, por meio da coleta
de dados em cinco estados brasileiros: Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Alagoas
e Pernambuco. Neste estudo se optou pela utilização do conceito de reincidência legal
que, segundo legislação brasileira, significa a condenação por novo crime no período
de até cinco anos até o fim da pena anterior. Esta definição se atém ao fato de que
nenhum indivíduo pode ser considerado culpado por algum delito até que haja um
103

processo criminal, um julgamento e a sentença devidamente comprovada (SAPORI;


SANTOS; MAAS, 2017).
Após o desenvolvimento das pesquisas, entre os 817 processos estudados
para se chegar a uma taxa de reincidência, se constatou 199 casos de reincidentes
no sistema penitenciário, se alcançando uma taxa de reincidência de 24,4%. Além
desta taxa, a pesquisa permitiu analisar o perfil dos indivíduos reincidentes. A faixa
etária predominante deste grupo de apenados foi de 18 a 24 anos, sendo 42,1% de
todos os casos estudados (44,6% de não reincidentes e 34,7% de reincidentes) (IPEA,
2015).
Em estudo, a maioria dos detentos reincidentes são brancos enquanto os não
reincidentes, tem sua maioria de negros ou pardos. Com relação ao sexo, há
predominância de homens, que possuem baixa escolaridade e, em sua maioria,
possuem algum tipo de ocupação laboral (IPEA, 2015).

Figura 38 – Pesquisas brasileiras realizadas sobre a reincidência no país.

Autor Conceito de reincidência utilizado na pesquisa Taxa de reincidência


Sérgio Adorno; Reincidência criminal – mais de um crime, condenação
São Paulo: 29,34%.
Eliana Bordini em dois deles, independentemente dos cinco anos.

Sérgio Adorno; Reincidência penitenciária – reingresso no sistema


São Paulo: 46,30%.
Eliana Bordini penitenciário para cumprir pena ou medida de segurança.

Reincidência penitenciária – reingresso no sistema


Julita Lemgruber Rio de Janeiro: 30,70%.
penitenciário para cumprir pena ou medida de segurança.
São Paulo: 50% em 1994;
Reincidência penal – nova condenação, mas não
Túlio Kahn 45,2% em 1995; 47% em
necessariamente para cumprimento de pena de prisão.
1996.
Reincidência penitenciária – considerando presos Brasil: 70%; e Minas Gerais,
Depen condenados e provisórios com passagem anterior no Alagoas, Pernambuco e Rio
sistema prisional. de Janeiro: 55,15%.
Inst. de Pesquisa Paraná, Minas Gerais, Rio
Reincidência legal - condenação por novo crime no
Econômica e de Janeiro, Alagoas e
período de até cinco anos até o fim da pena anterior
Aplicada - IPEA Pernambuco: 24,4%.
FONTE: IPEA, 2015 adaptado pela autora.

A Figura 38 demonstra, sinteticamente, os estudos sobre reincidência


realizados no Brasil, e apresenta o conceito de reincidência utilizado nas pesquisas e
seus autores.
104

Em termos de reinserção social, as APACs possuem resultados bem inferiores


se comparados aos 70% de reincidência criminal do sistema prisional tradicional. No
ano de 2014, as unidades que utilizavam o Método APAC possuíam taxas de
reincidência entre 8% e 15%, demonstrando uma promissora melhora no cenário
penitenciário, sendo recomendada a expansão desta metodologia durante mutirões
carcerários realizados pelo Conselho Nacional de Justiça em todo o país
(VASCONCELLOS, 2014). Porém, o CNJ não especifica qual metodologia e conceito
foi utilizado para se chegar a este dado, não tornando clara a efetiva relação entre os
índices das APACs e as taxas fornecidas pelo DEPEN. Mesmo assim, os índices de
ressocialização da metodologia APAC são mais efetivos que o sistema tradicional de
cumprimento de pena.
No estado do Rio Grande do Sul, a SUSEPE divulga o total de 71,4% como
índice de retorno ao sistema prisional do RS47 (SUSEPE, 2018). Porém, não realiza a
descrição detalhada da metodologia e dos conceitos utilizados para se chegar a este
número.
Indiferentemente do conceito e dos índices encontrados, as altas taxas de
reincidência demonstram, historicamente, o insucesso e as dificuldades enfrentadas
pelos estabelecimentos penais e pela pena privativa de liberdade, uma vez que
durante a reclusão, os apenados deveriam ser submetidos a métodos
ressocializadores (BITENCOURT, 2007).

47 O índice de retorno ao sistema prisional do estado foi publicado no dia 03 de setembro de 2018, no
site da SUSEPE.
105

CAPÍTULO 2. ANÁLISE ARQUITETÔNICA

Este capítulo tem como principal objetivo a realização de uma análise


arquitetônica e a inserção urbana entre o modelo penitenciário tradicional,
representado pelo Presídio Regional de Passo Fundo, e a metodologia APAC,
aplicada na unidade APAC Santa Luzia. Este estudo recorda as diretrizes
arquitetônicas e jurídicas obtidas por meio do levantamento documental geral, para a
análise da aplicação destas legislações nos estabelecimentos penais em estudo. O
capítulo atende o objetivo específico de analisar a implantação dos equipamentos
penitenciários nas cidades de Passo Fundo e de Santa Luzia, em suas dimensões
arquitetônicas e relacionadas à inserção urbana, mediante a utilização de dados
coletados em levantamento documental e pesquisa em campo (visita in loco).

2.1 PRESÍDIO REGIONAL DE PASSO FUNDO/RS

Na instância estadual, uma breve contextualização demonstra que no Rio


Grande do Sul durante a década de 1930, ocorreram importantes mudanças políticas
causando significativos impactos econômicos dando início à integrações de maior
relevância com o mercado interno nacional. As articulações estaduais com a
economia do pais não sofreram grandes alterações até a década de 1950, e o
crescimento da economia baseou-se na exportação agroindustrial e agropecuária
tanto para o mercado nacional quanto para o regional (SCHMIDT; HERRLEIN, 2002).
Ainda na década de 1950, determinou os limites estruturais econômicos do
estado e como consequência a crise estadual. O período marcou-se pela reabertura
do comércio mundial e a consequente modernização do setor industrial brasileiro, fato
que não ocorreu em âmbito estadual. Ademais, o plano de desenvolvimento de
Juscelino Kubitschek (1955-59), concentrava investimentos públicos e privados na
região sudeste do país, ocasionando alta na inflação e alterações cambiais nas
produções do estado do RS. Somente na década de 1960 a economia gaúcha voltou
a retomar seu crescimento com o surgimento de setores produtivos e atores sociais,
bem como a articulação com os antigos setores produtivos (TAVARES, 1998; MELLO,
1982).
106

Em 1968, a economia brasileira volta a crescer e com ela a economia do estado


do Rio Grande do Sul passa a desempenhar a função de fornecedora de novas divisas
para a ampliação da economia do Brasil. Surgem assim, as lavouras de soja, o
arrendamento de terras ao latifúndio e a utilização de mão de obra vinda da lavoura
colonial, fazendo necessária a presença de novos atores sociais, os produtores
cooperativos e os assalariados rurais. Na região norte do estado, as décadas de 1960
e 1970 caracterizaram-se pela expansão de lavouras de soja e trigo. Em algumas
cidades o crescimento industrial estava diretamente ligado ao setor primário, com o
processamento de produtos agropecuários, produção de insumos e implementos
agrícolas (SCHMIDT; HERRLEIN, 2002).
O planalto gaúcho impulsionou a expansão de lavouras mecanizadas, por
dispor de condições atrativas de capital: qualidades ecológicas, capacidade de
agentes econômicos resultando na construção de novas ligações de rodovias, além
do surgimento de cooperativas no estado (SCHMIDT; HERRLEIN, 2002).
Localizada no Planalto Médio Gaúcho, no norte do Rio Grande do Sul, a cidade
de Passo Fundo desempenha um papel importante na rede urbana gaúcha, ofertando
serviços de educação superior e principalmente de saúde, caracterizando-se como
um centro regional. Ainda que as atividades terciárias estimulem a economia local, o
agronegócio representa o carro-chefe da economia da região, movimentando a
industrialização do município com a implantação de empresas nacionais e
multinacionais do ramo agrícola (BERNARDES, 2018).
Passo Fundo, na década de 1960 já significava um complexo agroindustrial na
região por aliar a produção de soja à locação de indústrias de insumos e máquinas
agrícolas na cidade. Na década seguinte, o município evidencia-se com a produção e
a exportação da soja do trigo. A partir de 1970 houve o crescimento das indústrias de
óleos, bem como a capitalização dos setores rurais (BEUX, 2003). A exemplo disto,
em 1974 instala-se em Passo Fundo a primeira unidade da Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para o desenvolvimento genético de sementes,
estimulando o setor metalomecânico e aprimorando maquinários agrícolas
(SOBARZO, 2010).
A década de 1970 para a urbanização da cidade de Passo Fundo foi de grande
importância, pois, intensificou o adensamento e a valorização imobiliária do centro da
cidade com a verticalização dos imóveis da área central. Esta mudança no cenário
107

central do município traduziu um ideário de modernização e progresso, exemplificados


pela construção de grandes edifícios de apartamentos agora em áreas centrais e
nobres da cidade (FERRETTO, 2012).
Atualmente, a cidade de Passo Fundo é considerada a maior cidade do norte
do estado, possuindo uma área de aproximadamente 783,421 km² e abrigando
203.275 habitantes, conforme dados do IBGE do ano de 2019 (IBGE, 2019). Passo
Fundo ocupa a 168° posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH)48 entre 5.570 municípios brasileiros, apresentando melhorias nas condições
econômicas, na expectativa de vida e nas oportunidades educativas. A base
econômica do município se concentra, fundamentalmente, na agropecuária, no
comércio e nos serviços. É polo de referência na área da saúde, reunindo hospitais e
centros médicos atualizados, ambulatórios de atendimento básico e especializado,
clínicas, consultórios médicos e odontológicos, laboratórios e farmácias (PASSO
FUNDO, 2017).

2.1.1. Análise Técnico-Construtiva

O sistema penitenciário do estado do Rio Grande do Sul, desde o ano de


196849, é administrado pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe),
órgão do Governo estadual vinculado à Secretaria de Segurança Pública. Este órgão
público é responsável pelo planejamento e pela execução das políticas penitenciárias
do estado, bem como a Lei de Execução Penal (LEP), de caráter federal, em busca
da ressocialização dos apenados (SUSEPE, 2019).
A Superintendência dos Serviços Penitenciários surgiu da fragmentação
administrativa das prisões da Polícia Civil, após o movimento nacional de
penitenciaristas, criminalistas e apoiadores da humanização da execução das penas,
que buscavam a ressocialização dos detentos50. A partir desse movimento, o trabalho

48 O IDHM da cidade de Passo Fundo no ano de 2010 era de 0,776, sendo considerado um IDH Alto
(IDHM entre 0,700 e 0,799). No ranking o maior IDHM era 0,862 de São Caetano do Sul, conforme
divulgado no site Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2020).
49 No ano de 1968 foi outorgado pela Lei nº 5.745, de 28 de dezembro de 1968, a Susepe é criada e

substitui o extinto Departamentos dos Institutos Penais do Estado do Rio Grande do Sul.
50 A busca pela ressocialização dos detentos no Estado do Rio Grande do Sul é vista como pioneira

em todo o Brasil (SUSEPE, 2019).


108

elaborado dentro das penitenciárias deixa de ser visto como uma forma de punição e
passa a garantir os direitos de todo apenado (SUSEPE, 2019).
A rede prisional atendida e administrada pela Susepe abrange unidades com
classificações de: albergues, penitenciárias, presídios, colônias penais e institutos
penais, acolhendo presos dos regimes fechado, semiaberto e aberto (SUSEPE, 2019).
Ademais, fazem parte das divisões e encargos da Susepe, os serviços realizados pela
Escola Penitenciária, Departamento de Saúde, Departamento Educacional e
Atendimento Social, Departamento de Engenharia Prisional, dentre outros.
Acerca da elaboração de novos estabelecimentos prisionais, tem-se o
Departamento de Engenharia Prisional responsável pela realização de estudos de
programas de necessidades de novos projetos, execução de obras de adaptações,
conservações e reformas dos espaços penais do Estado do Rio Grande do Sul. Dessa
forma, o Presídio Regional de Passo Fundo/RS tem como responsáveis projetuais e
de execução da obra a Superintendência dos Serviços Penitenciários, mais
especificamente o Departamento de Engenharia Prisional.
Para a obtenção de informações acerca do histórico do Presídio Regional de
Passo Fundo, buscou-se dados e documentos em pesquisas internas no acervo da
Superintendência dos Serviços Penitenciários em Porto Alegre/RS, além de buscas
no Arquivo Histórico de Passo Fundo em exemplares de jornais da cidade (O Nacional
e Diário da Manhã) durante a década de 1970.
Em meados da década de 1930, a cidade de Passo Fundo ganhou o seu
segundo presídio municipal. Sua construção ocorreu ao lado da Estação de
Bombeiros da cidade, tendo capacidade para 45 detentos, alojados em 11 celas. Com
o decorrer do tempo e com o aumento no número de aprisionados no “cadeião civil”,
como era popularmente conhecido o presídio municipal, tornou-se necessária a
criação de um estabelecimento penal com maior número de vagas, projetado para o
cumprimento de uma pena mais humanizada (O NOVO, 1977, p. 9), como era
retratado nos jornais locais:

O Presídio Velho, apresenta atualmente uma superlotação carcerária. As


celas segundo informou-nos o administrador Ermio Molina, estão com uma
média de 10 a 15 detentos, sendo que a capacidade é no máximo para cinco
apenados (O NOVO, 1977, p. 9).

No dia 21 de setembro de 1971, com a superlotação do presídio da cidade, a


Prefeitura Município de Passo Fundo realiza a doação de um lote para a construção
109

do novo Presídio Municipal. Em 10 de maio de 1972, por meio do Decreto Estadual


N° 21.720, ocorre a autorização, do Poder Executivo, para receber em doação um
imóvel na cidade de Passo Fundo destinado para fins prisionais. Este lote localizado
no Bairro São Luiz Gonzaga, na Rua Ana Neri, n° 498, na quadra de número 20 do
setor 18 do Município de Passo Fundo, possuindo uma área de 10.200m². A Figura
39 apresenta o mapa de localização do antigo presídio do Município e do novo projeto
prisional para a cidade.

Figura 39 – Localização do Antigo e do novo Presídio Municipal de Passo Fundo/RS.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base nas informações obtidas em jornais.

Após a efetivação da doação de lote, iniciou-se a etapa de elaboração dos


projetos técnicos do estabelecimento prisional de Passo Fundo. No dia 16 de agosto
de 1972, o responsável pelo Departamento de Engenharia Prisional da Susepe, o
Engenheiro Otto Corrêa Rotunno, encaminhou os projetos arquitetônicos,
hidrossanitários, elétrico, estruturais, bem como as especificações e memoriais
técnicos, ao coordenador da unidade de serviços especiais para aprovação,
descriminando, em ofício, que o projeto em questão seria padrão para outros
municípios, tais como: Santo Ângelo, Bagé, Rio Grande, Santa Cruz do Sul e Santa
Maria (SUSEPE, 2019).
O Presídio de Passo Fundo já apresentava alterações em sua funcionalidade,
visando uma maior sensibilidade psicossomática de seus espaços. Neste projeto
aplicou-se novas noções, para a época, de humanização dos espaços em busca da
110

ressocialização dos apenados. As celas, antes vistas como moradias dos detentos,
passaram a ser vistas apenas como um local de repouso, tendo em vista que durante
o dia os presos deveriam estar em oficinas laborais em busca da sua ressocialização
(SUSEPE, 2019).
O programa de necessidades do novo Presídio Municipal da cidade era
composto pelos setores administrativo, de serviço, celas, albergue, oficinas, pátios de
segurança e jardins e hortas. O setor de celas foi projetado para atender 124 detentos,
com possibilidades de ampliação para 172 vagas51, transformando uma área de
oficinas em celas, vindo a se tornar um Presídio Regional por caracterizar-se como
um polo regional. A disposição volumétrica dos setores se deu de maneira compacta,
em busca de economia em áreas de circulação, adotando-se o sistema conhecido
como “poste telegráfico”, já utilizado na época em estabelecimentos de um só
pavimento (SUSEPE, 2019). A Figura 40 apresenta esquematicamente o zoneamento
das edificações no lote de implantação.

Figura 40 – Diagrama de zoneamento do Presídio Municipal de Passo Fundo/RS, 1972.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.

Projetado para ser um estabelecimento compacto, o Presídio de Passo Fundo


não ocupava toda a área do lote a ele destinado. A edificação possuía 1.700m² de
área total construída, conforme demonstrado anteriormente na Figura 40, e
posicionava-se no quadrante sul da gleba. O terreno possuí uma acentuada

51A ampliação da casa prisional foi prevista pela equipe do DEP, não sendo realizada apenas por
questões financeiras da época.
111

declividade para as ruas Adrianópolis e Martins Fontes e uma ampla visão para a
cidade entre as ruas Ana Neri e Carmem Miranda, parte escolhida para a implantação
das edificações, buscando proporcionar uma vista panorâmica da cidade (SUSEPE,
2019).
Após a aprovação dos projetos técnicos e abertura de editais e licitações para
a escolha de empreiteiras para a execução da obra, no segundo semestre de 1974 já
haviam os primeiros registros documentais sobre a assinatura de contratos para o
início da construção do novo presídio do município. Com previsão para conclusão das
obras em 1976, o novo Presídio de Passo Fundo (Figura 41) encontrava-se em fase
de finalização em 04 de janeiro de 1977, faltando a realização do plantio de gramas,
calçadas e alguns portões externos, reboco na sala de recepção, cerâmicas já se
encontravam soltas, pinturas e limpeza final da obra (O NOVO, 1977, p. 9):

Figura 41 – Fotografia do novo Presídio de Passo Fundo, 1977.

Fonte: O NOVO, 1977, p. 9.

A reportagem divulgada no Jornal Diário da Manhã, de 4 de janeiro de 1977,


intitulada “O novo Presídio de Passo Fundo está concluído, bonito, mas sem utilidade”,
apresentou a situação vivida por presos do antigo Presídio Municipal da cidade, o qual
já enfrentava a superlotação, a falta de higiene e fugas constantes.

Não existem as mínimas condições de higiene no Presídio Velho, apesar de


todo o esforço da administração, que usa sabão e creolina para a lavagem
das celas. Existe grande resistência por parte dos apenados que esperam o
momento de serem transferidos para o Novo Presídios. As fugas que ocorrem
seguidamente, devem-se a pouca segurança do Presídio já por demais
“remendado” (O NOVO, 1977, p. 9).

Ademais, o Novo Presídio, em fase de acabamentos, já possuía água e luz em


todo o presídio, guaritas centrais e as de acesso à edificação, além de celas com
quatro camas cada, dotadas de água, luz e sanitários (O NOVO, 1977, p. 9). A Figura
112

42 apresenta internamente as celas do Presídio Municipal de Passo Fundo vista como


modernas para a época.

Figura 42 – Imagem interna de cela do novo Presídio de Passo Fundo, 1977.

Fonte: O NOVO, 1977, p. 9.

Após a vinculação da reportagem em meios de comunicação e impressa,


esperava-se a rapidez na finalização da “obra do século” (modo como era chamado o
novo Presídio Municipal pelos passo-fundenses), porém por mais de nove meses não
se tinha notícias de quando o novo estabelecimento penal seria inaugurado. No dia
26 de outubro de 197752, transmitiu-se a informação de que no dia 04 de novembro
daquele ano, às 14 horas, o novo Presídio Municipal seria inaugurado, na presença
de autoridades municipais e estaduais (ESTÁ, 1977, p. 9).

A remoção dos detentos do “velho cadeião” deverá ocorrer imediatamente


após um ou dois dias da inauguração, em ônibus especial da SUSEPE. O
novo presídio regional tem a capacidade para 135 apenados e além dos 60
de nossa cidade, deverão vir 40 de outros municípios da Região (ESTÁ, 1977,
p. 9).

Conforme previsto, os atos inaugurais tiveram início às 14 horas do dia 04 de


novembro de 1977, com o prestígio de Secretários da Justiça e do Interior,
Desenvolvimento Regional e Obras Públicas, Juiz do Fórum de Passo Fundo, o
Prefeito da cidade, deputados e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil,

52
Esta reportagem foi divulgada no jornal Diário da Manhã, porém no outro meio de comunicação do
município, o jornal O Nacional, a divulgação da inauguração se deu no dia 15 de outubro de 1977.
113

professores, líderes empresariais, políticos e figuras de destaque da sociedade passo-


fundense (ALTAS, 1977, p. 12)53.
Em discurso, o Secretário da Justiça Romeu Ramos retratou o cenário social
do estado, bem como as alterações no sistema penitenciário estadual:

“Sem dúvida, tem muito mais apelo a construção de uma escola, a abertura
de uma estrada, a inauguração de um hospital, do que a construção de um
presídio. Mas, apesar das pressões das necessidades sócias, repito, não se
descurou o Governador Sinval Guazzelli, do drama do apenado – consciente
de ser este o mais despojado dos homens – e aos poucos vai o Estado
substituindo as velhas e inadequadas prisões por estabelecimentos que
ofereçam as condições materiais para a recuperação do reeducando”
(PRESÍDIO, 1977, p. 11).

Sobre a construção do novo Presídio de Passo Fundo, Ramos citou sua


tranquilidade e satisfação com as obras:

“Apesar da insatisfação natural dos que têm pressa, a obra revolucionária


pode ser olhada com satisfação e tranquilidade pelos que dela participaram.
Não temos porque nos arrepender. O conjunto é harmônico e foi realizado
com a preocupação pelos mais fracos economicamente e deles, sem dúvida,
foi o benefício maior, pelas oportunidades criadas, pela elevação de seu nível
cultural e material. Deve ela apresentar falhas, mas o que importa é o todo,
não o detalhe, sempre passível de crítica” (PRESÍDIO, 1977, p. 11).

Amplamente divulgado como uma obra moderna para a época, o projeto do


Presídio de Passo Fundo também trouxe às autoridades judiciais, novas percepções
sobre o cumprimento de pena. Em discurso inaugural, o Juiz de Direito do Fórum de
Passo Fundo, Dr. Idênio Ribeiro de Carvalho, expos suas convicções referentes aos
estabelecimentos penais e os indivíduos que ali cumprem pena.

“Ao preso não mais se impõe a solitária com alimentação reduzida a pão e
água. A promiscuidade dos detentos é de ser evitada; a seleção entre os
criminosos deve ser efetuada; o isolamento temporário é exigido, mas a sua
condição de ser humano não pode ser olvidada” (PRESÍDIO, 1977, p. 11).

Posteriormente no dia 05 de novembro, o novo estabelecimento prisional da


cidade já recolhia 89 detentos, sendo 69 presos do antigo “cadeião” e 20 procedentes
de Porto Alegre para cumprimento de pena na região. Para o transporte, realizado
entre às 13 e 15 horas do dia em questão, disponibilizou-se um ônibus da SUSEPE
para o translado (Figura 43), até mesmo dos detentos vindo de Porto Alegre, com

53A reportagem de inauguração do Presídio de Passo Fundo foi angariada no jornal O nacional pois
nos exemplares do jornal Diário da Manhã, existentes no Arquivo Histórico de Passo Fundo, faltavam
os dias 03 até 08 de novembro de 1977.
114

reforços de segurança realizados pela Policia Militar e Agentes Penitenciários (89


DETENTOS, 1977, p. 12; EQUIPE, 1977, p. 8).

Figura 43 – Equipe de segurança que realizou o transporte dos detentos até o novo Presídio

Fonte: EQUIPE, 1977, p. 8.

A partir deste marco, encontrava-se em pleno funcionamento o novo Presídio


de Passo Fundo, com um saldo de vagas, antes inexistente no antigo “cadeião”. A
Figura 44 apresenta outra fotografia da época retratando a nova obra do presídio.
Salienta-se que, as poucas imagens referentes ao estabelecimento eram utilizadas
em várias reportagens sobre a obra e inauguração, em ambos os meios de notícia da
cidade.

Figura 44 – Fotografia do novo Presídio de Passo Fundo, 1977.

Fonte: ESTÁ, 1977, p. 9.

No final do mês de novembro, no dia 23, iniciou-se, a demolição do antigo


Presídio Municipal sendo iniciada pelo Prefeito da época, Dr. Firmino Duro. A área de
implantação da antiga cadeia da cidade foi doada à Estação de Bombeiros, em regime
de comodato, para a criação de uma pista de instrução aos soldados, além de um
115

parque esportivo (INICIADA, 1977, p. 8). A Figura 45 retrata o início da demolição do


velho presídio, área pertencente ao Corpo de Bombeiros de Passo Fundo até os dias
atuais.

Figura 45 – Início das demolições do antigo Presídio de Passo Fundo.

Fonte: INICIADA, 1977, p. 8.

Passando-se mais de vinte anos, em dezembro 1998, houve a inauguração do


Albergue, anexo ao Presídio Regional de Passo Fundo, destinado aos apenados em
regime semiaberto, com 40 vagas. A construção do Albergue ocorreu na área do lote
onde antes não possuía qualquer utilização por parte do Presídio Regional de Passo
Fundo, tendo frente para a Rua Ana Neri, conforme demonstrado na Figura 46.
As informações obtidas sobre a construção e inauguração do Albergue se deram em
dois momentos, o primeiro em coleta de dados no Departamento Penitenciário da
SUSEPE apenas em análises documentais, e o segundo em conversas com o
Administrador do Instituto Penal.

Figura 46 – Diagrama de zoneamento do Presídio de Passo Fundo com o novo anexo


Albergue, 1998.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.
116

Dando sequência a construção de anexos no Presídio do município, no dia 17


de dezembro de 2004 foi inaugurada a nova galeria do Presídio Regional de Passo
Fundo, com a criação de 80 vagas em 348 m² construídos para o regime fechado do
estabelecimento, indo de 146 para 228 vagas. De acordo com a reportagem, estas
novas vagas apenas amenizaram a superlotação já enfrentada pelo presídio naqueles
dias, porém não resolveria o problema por completo (NOVA, 2004, p. 15). A Figura 47
demonstra o corredor da galeria composta por 20 celas com capacidade para 4
detentos cada (GALERIAS, 2005, p. 11).

Figura 47 – Nova galeria do Presídio Regional de Passo Fundo, inaugurada em 2004.

Fonte: NOVA, 2004, p. 15.

A Figura 48 monstra a implantação da nova galeria de celas inaugurada em


2004. Vale destacar que a galeria antigamente utilizada para oficinas também
transformou-se em uma galeria de celas tendo em vista a superlotação do Presídio,
sendo utilizada para estes fins até os dias atuais, porém não possui as divisões dos
alojamentos, sendo apenas um pavilhão com instalações sanitárias.
117

Figura 48 - Diagrama de zoneamento do Presídio de Passo Fundo com nova galeria de celas regime
fechado, 2004.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.

No ano de 2010 uma nova ampliação no Albergue, também conhecido como


Instituto Penal de Passo Fundo - IPPF, foi concluída, entregando 100 novas vagas
para os apenados do regime semiaberto (MEDEIROS, 2019; SUSEPE, 2019). Para
uma melhor ilustração a Figura 49 representa um diagrama de zoneamento da área
em utilização pelo Presídio Regional e pelo Instituto Penal.

Figura 49 - Diagrama de zoneamento do Presídio Regional de Passo Fundo com nova galeria de
celas do Instituto Penal, 2010.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.

Por fim, no ano de 2016, em 14 de outubro, inaugurou-se a Unidade Básica de


Saúde no Presídio Regional de Passo Fundo por meio de uma parceria entre o
Conselho da Comunidade, a Vara de Execução Criminal, o Ministério Público a 4ª
118

Delegacia Penitenciária Regional e a administração do estabelecimento prisional. A


obra possui aproximadamente 128m² e conta com cinco salas destinadas para o
atendimento médico e odontológico dos apenados (MORAES, 2016). A Figura 50
apresenta a localização da UBS em relação ao Presídio Regional e ao Instituto Penal
de Passo Fundo. Cabe destacar que o volume pertencente ao setor de serviço que
encontra-se atrás da UBS é, atualmente, um depósito de materiais, e que não será
pertinente as análises arquitetônicas do estudo em questão.

Figura 50 - Diagrama de zoneamento do Presídio Regional de Passo Fundo com o bloco da UBS,
2016.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.

Após a criação da Unidade Básica de Saúde, no ano de 2016, outras obras


foram realizadas no presídio e no albergue, desde reparos em celas pelas tentativas
de fugas; criação de salas de aulas no albergue, novas salas para monitoramento e
para o setor administrativo do Instituto Penal; novas salas de aula para o Presídio
Regional; cobertura no portão de acesso para a proteção de visitantes em dias de
chuva; canalização de esgoto no albergue; dentre outros reparos que não serão
citados na pesquisa por não possuírem relevância na análise arquitetônica.
A seguir inicia-se a etapa de análise urbana do Presídio Regional de Passo
Fundo e do Instituto Penal.
119

2.1.2. Análise Urbana

A implantação do Presídio Regional de Passo Fundo, até se chegar na atual


volumetria e área construída, passou por uma série de obras e criações de novas
edificações, demonstrado anteriormente no item 2.1.2. Para tanto, foi criado um
quadro para um melhor entendimento da ficha técnica do Presídio Regional do
município, abordando tópicos como equipe técnica responsável pelo projeto, ano do
projeto, ano de início e término da oba, área do terreno e área total construída, além
de uma breve demonstração das ampliações realizadas no estabelecimento penal. Os
dados são apresentados no Quadro 8.

Quadro 8 – Ficha Técnica Presídio Regional de Passo Fundo/RS

FICHA TÉCNICA PRESÍDIO REGIONAL DE PASSO FUNDO/RS


EQUIPE TÉCNICA/ARQUITETO: Departamento de Engenharia Prisional da SUSEPE
ANO DO PROJETO: 1972 ÁREA DO LOTE: 10.200m²
ÍNICIO DA OBRA: 1974
TÉRMINO DA OBRA: 1977
AMPLIAÇÕES:
1998 – ALBERGUE COM CAPACIDADE PARA 48 APENADOS NO REGIME SEMIABERTO
2004 – GALERIA COM CAPACIDADE PARA 80 APENADOS DO REGIME FECHADO
2010 – NOVA GALERIA DO ALBERGUE COM CAPACIDADE PARA 102 DETENTOS
2016 - UBS
ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA: 4.185,64m²
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Localizado no Bairro São Luiz Gonzaga, com acesso para a Rua Ana Neri, o
Presídio Regional de Passo Fundo está implantado de fronte a uma via coletora,
conforme Figura 51, caracterizada por coletar e distribuir o trânsito vindo de vias de
rápidas ou arteriais (Av. Brasil), permitindo o trânsito dentro das regiões da cidade.
Ademais, quando não houver sinalizações, a velocidade máxima permitida é de 40
km/h, conforme Código de Trânsito Brasileiro.
120

Figura 51 – Mapa Viário entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: PMPF, 2019 adaptado pela autora.

A Rua Ana Neri possui baixo fluxo de veículos e, atualmente, apresenta,


barreiras em sua faixa de rolamento, dificultando o translado de qualquer tipo de
veículo em alta velocidade em frente ao presídio. Esta medida foi tomada após uma
fuga em massa ocorrida no mês de janeiro do ano de 2019, quando uma caminhonete
em alta velocidade derrubou o portão de acesso de viaturas do presídio resultando na
fuga de 17 apenados do regime fechado. Além disto, o estacionamento na área foi
proibido, sendo permitido apenas embarque e desembarque, além da permanência
de viaturas oficiais.
Ainda conforme a Figura 51, nota-se a presença de outras duas vias coletoras,
a Rua Araxá e Av. Giavarina, com baixo/médio fluxo de veículos, pavimentação
asfáltica, assim como a Rua Ana Neri, com uma boa sinalização viária. Para mais, as
vias coletoras já mencionadas caracterizam-se por possuir aproximadamente 10
metros de largura. As demais vias são locais, de baixo/médio fluxo e pode-se notar
nesta área da cidade, a quantia de bloqueios viários em meio a vazios urbanos, que
agora tornaram-se áreas para moradia. Além do mais, em alguns pontos destas vias
locais faltam sinalizações viárias, inclusive sinalizando as ruas sem saída. Em resumo,
as vias locais possuem em média de 6 a 7 metros de largura, porém em alguns pontos
121

apresentam alargamentos ou estreitamentos em suas faixas de rolamento, não tendo


medidas exatas em sua totalidade.
O estado de conservação das vias em análise varia dependendo do fluxo de
veículos que recebe, tendo vias com sua manta asfáltica em bom estado de
conservação e vias com asfalto já degradado e em más condições devido à grande
demanda de veículos leves e pesados, como exemplo os ônibus que circulam no
bairro. Quanto aos passeios públicos pode-se notar diferentes medidas e estados de
conservação, havendo passeios de 2 metros até 3,50 metros e em alguns casos os
passeios ainda não foram delimitados por se tratarem de terrenos baldios. A diferença
entre os passeios também se aplica ao estado de conservação das mesmas, havendo
calçamentos bons e regulares até calçadas irregulares e incompletas.
Com relação ao transporte público, o entorno próximo ao presídio é atendido
por cinco linhas de duas empresas distintas, facilitando o acesso de visitantes,
familiares, funcionários e moradores do bairro. A Figura 52 demonstra todas as
paradas de ônibus presente em um raio de 500 metros do Presídio Regional de Passo
Fundo. Neste entorno há a circulação das linhas Morada do Sol – São Luiz, da
empresa Codepas; BR 285 – São Luiz, São Luiz – Santa Maria II, São Luiz – Zacchia
e a linha Zacchia – São Luiz (via Bairro Industrial) da empresa Coleurb (PMPF, 2019).
122

Figura 52 – Mapa Transporte Coletivo entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: PMPF, 2019 adaptado pela autora.

O entorno do Presídio Regional caracteriza-se, sobretudo, pelo uso residencial,


conforme apresentado na Figura 53, sendo o quinto bairro da cidade com maior
índices populacionais, contando com 10.757 moradores em uma área de 5,65km²,
tendo uma densidade de 1903,89 hab/km² (IBGE, 2010; FERRETTO,2012). Nota-se
a presença pontual de alguns estabelecimentos comerciais na região, sendo
mercados, bares, fruteiras e comércios locais, alguns mistos com moradias. Na
quadra em frente ao Presídio encontra-se a Unidade Básica de Saúde do Bairro São
Luiz Gonzaga, permitindo o acesso à saúde aos moradores do bairro. Em análise
contatou-se também a presença de seis edificações reservadas para uso ecumênico,
chamando atenção pela grande representatividade religiosa no bairro.
123

Figura 53 - Mapa de Usos entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

O raio de análise não permitiu a localização de uma escola presente nas


proximidades do Presídio, mas conforme dados da Prefeitura de Passo Fundo o bairro
conta com três instituições de ensino, sendo deficiente em equipamentos culturais
para a população e equipamentos de atenção social.
O bairro também possui rede de distribuição de energia elétrica, abastecimento
de água por meio da empresa Corsan e coleta de lixo realizada pela empresa
Codepas. No local de implantação do Residencial, não há rede pública de coleta de
esgoto, fazendo-se necessário instalações individuais para a depuração de resíduos
sanitários.
As edificações presentes no raio em estudo são em sua maioria de 1
pavimento, contendo pontualmente construções de dois pavimentos, como pode ser
averiguado na Figura 54. O gabarito das construções e seus padrões contrutivos
podem ser explicados, em alguns casos, pela renda média dos habitantes do bairro
São Luiz, tendo um ganho de R$1.500,00 mensais, classificando-os como população
de baixa renda (FERRETTO, 2012).
124

Figura 54 - Mapa de Gabaritos entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

A análise das camadas de baixa renda tornam-se fundamentais para o


entendimento do processo de adensamento urbano do entorno próximo ao Presídio
Regional e para isso se analisa, primeiramente, a ocupação no raio de 500 metros do
estabelecimento penal no ano de 198454. A Figura 55 já demonstra a presença de
edificações vizinhas ao Presídio após sete anos de sua implantação, constatando que
o meio urbano se instala nos arredores de um equipamento, mesmo este sendo
carregado de estigmas sociais e julgamentos. Além disto o bairro São Luiz Gonzaga
teve o seu adesamento populacional caracterizado pela presença de famílias de baixa
renda, sem condições de permanecerem em áreas mais centrais da cidade. A
localização no meio urbano tem um preço, os lotes periféricos com pouca
infraestrutura, não possuem a mesma valorização que terrenos em áreas centrais,
onde o grau de monopolio é muito maior (VILLAÇA, 2012).

54Utilizou-se esta data pois foi encontrada (ANEXO D) uma imagem da implantação do Presídio no ano
de 1984. Esta imagem foi angariada no Instituto Histórico de Passo Fundo e foi o primeiro registro
fotográfico encontrado da região após a inauguração do Presídio. Desta forma, achou-se relevante
fazer um comparativo do adensamento da região com o passar dos anos.
125

Figura 55 - Mapa Nolli entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS, ano de 1984.

Fonte: IHPF, 2019 adaptado pela autora.

Ainda sobre a Figura 55 e que poderá ser melhor comparado na


Figura 56, nota-se que houve o alargamento viário com o passar dos anos, bem como
a melhor delimitação de algumas quadras que em 1984 ainda não haviam sido
demarcadas. A
Figura 56 representa o adensamento urbano nos dias atuais no entorno do Presídio,
ressaltando a ideia de que mesmo com a presença de um estabelecimento penal a
tendência é a de crescimento urbano, com melhorias nas infraestruturas e vinda de
mais moradores55 com o passar do tempo. O bairro São Luiz Gonzaga ainda possui
grandes vazios urbanos e a tendência com a especulação imobiliária, o valor de
imóveis na cidade, a renda de famílias e o aumento considerável no número de
apenados no Presídio Regional é o crescente adensamento urbano do bairro.

55Muitas famílias de apenados se instalam nos arredores do Presídio, facilitando o contato com seus
parentes em dias de visita e atividades que permitam o acesso de familiares.
126

Figura 56 - Mapa Nolli entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS, ano de 2020.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

Os gabaritos encontrados no bairro e no entorno do estabelecimento penal,


além da posição das quadras em geral, garantem um conforto luminoso pois
possibilita uma boa incidência de raios solares durante manhã e tarde, e conforto
térmico por permitir a passagem de ventos vindos do quadrante nordeste durante todo
o ano, também facilitando os ventos da direção sudeste que facilitam o avanço das
frentes frias para o norte.
As edificações da região, em sua grande maioria, são construidas em alvenaria
convencional, de um pavimento e encontram-se em bom/razoável estado de
conservação, com edificações construídas recentemente. O bairro também possui
uma quantia significativa de casas em madeira, algumas em bom estado e outras
demonstrando a realidade economica das familias que ali habitam. A Figura 57
exemplifica algumas edificações do bairro, seus padrões construtivos e seus estados
de conservação.
127

Figura 57 – Padrão construtivo e estado de conservação de edificações do bairro São Luiz Gonzaga.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

Estas mesmas características citadas anteriomente aplicam-se na rua Ana


Neri, onde as edificações estão em bom estado de conservação, sendo tanto de
alvenaria quando de madeira. A Figura 58 exemplifica algumas edificações da rua Ana
Neri, seus padrões construtivos e seus estados de conservação.

Figura 58 - Padrão construtivo e estado de conservação de edificações da rua Ana Neri, bairro São
Luiz Gonzaga.

Fonte: Acervo da autora, 2019.


128

2.1.3. Análise Arquitetônica

Conforme já apresentado anteriormente, o Presídio Regional de Passo Fundo


localiza-se na Rua Ana Neri, n° 498, bairro São Luiz Gonzaga, na cidade de Passo
Fundo. O terreno utilizado para a construção do estabelecimento penal ocupa todo o
quarteirão possui uma área de 10.200m², um formato retangular e com orientação
para norte, conforme Figura 59.

Figura 59 – Implantação Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: SUSEPE, 2019 adaptado pela autora.

Como demonstrado na Figura 59, o terreno confronta-se ao Norte com a rua


Martins Fontes, onde mede 60 metros; ao Sul com a rua Carmem Miranda, onde mede
60 metros; ao Leste com a rua Adrianópolis, medindo 170 metros; e a Oeste com a
rua Ana Neri medindo 170 metros. Para a metragem total deste terreno, conforme
zoneamento do Plano Diretor de Passo Fundo, demostrado na Figura 60, por estar
localizado na Zona de Ocupação Extensiva – ZE é permitido uma Taxa de Ocupação
129

de 60% da área total do terreno e um Coeficiente de Aproveitamento de 1,2, além de


recuos frontais de 4 metros e recuos laterais e de fundos obedecendo o cálculo N =
H/2,8 e R = N x 0,15 + 2, onde H = altura total da edificação contada a partir da soleira
de entrada até a laje de forro do último pavimento e 2,8 = pé-direito de referência
(constante), conforme Plano Diretor.
Porém cabe ressaltar que a construção do Presídio ocorreu antes da
implantação de legislações em âmbito municipal, como o plano diretor e seus índices.
Estas taxas serão calculadas como forma de análise seguindo a metodologia de
estudo.

Figura 60 – Taxa de Ocupação e Coeficiente de Aproveitamento área de implantação Presídio


Regional.

Fonte: PMPF, 2019 adaptado pela autora.

Apesar da distância entre a criação do Presídio e a do Plano Diretor da cidade,


a análise demonstrou a conformidade do projeto com os índices urbanísticos da
cidade. Ademais, os recuos frontais e laterais obedecem as normas, possuindo mais
de 4 metros, tanto frontal quanto laterais, por atender a exigencias de segurança para
a vigia da casa prisional. Somente uma das fachadas do Albergue fica de encontro
130

com o muro de fechamento do Instituto Penal, não apresentando qualquer recuo ou


abertura para esta extremidade.
Os principais acessos de pedestre ao Presísio e ao Albergue ocorrem na rua
Ana Neri, como apresentado na Figura 61. Os acessos de viaturas e veículos de
funcionários acontecem em duas vias diferentes, no Presídio Regional o acesso é
através de portões localizados na rua Ana Neri e no Instituto Penal o acesso localiza-
se na rua Adrianópolis. O fechamento do terreno ocorre a partir de muros de
aproximadamente 8m de altura e telas superiores a esta metragem como dificultador
para o arremesso de objetos para dentro do presídio. A Figura 61 apresenta uma
imagem do muro de fechamento do estabelecimento penal reatratando as visuais de
edificações visinhas ao Presídio.

Figura 61 – Analise volumétrica Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

Cabe destacar que a falta de manutenção e a presença do concreto bruto do


muro de fechamento do presídio ocasiona a sensação de peso desta edificação,
causando um desconforto visual ao entorno. Além da impressão de peso da
edificação, os muros que cercam toda a quadra reforçam a ideia de horizontalidade
das edificações presente no seu interior. O conforto luminoso das edificações em
estudo podem ser afetadas em períodos de inverno, onde a incidência de raios solares
131

diminuir, devido a altura dos muros e ao baixo pé-direito das edificações intra-muros.
Isto pode ocorrer com a ventilação de celas e outros setores próximos aos
fechamentos, além da possibilidade de sombreamento devido a estes 8 metros de
concreto necessários para a segurança do local.
Ainda em estudo a Figura 61, observa-se a presença de vegetações rasteiras
apenas na parte do Instituto Penal, local dos apenados do regime semiaberto
diferentemente do regime fechado, onde as normas não permitem acesso a qualquer
tipo de material diferente do concreto a fim de evitar fugas e rebeliões.
A volumetria das edificações presentes no Presídio Regional de Passo Fundo
e no Instituto Penal possuem a predominância de formas laminares na direção
horizontal, caracterizando seus aspectos formais, remetendo a estabilidade e ao
equilíbrio da forma por apresentar agrupamento de retas em sua composição. Por
fatores de segurança e de sigilo de dados, a SUSEPE não disponibilizou o projeto
arquitetônico para análise e estudo. Entretanto, montou-se, de maneira esquemática,
croquis do projeto para as análises. Ademais, os registros fotográficos da volumetria
total se impossibilitaram devido a proximidade das edificações ao muro de divisa,
desta maneira optou-se apenas por analiar esquemas em 3D montados a partir da
implantação do Presídio.
A Figura 62 demonstra esquemas gráficos para uma melhor visualização das
formas lineares e da horizontalidade das edificações.

Figura 62 – Esquema gráfico análise volumétrica Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Por meio da técnica de explosão da forma, apresentado na Figura 63, a


volumetria do Presídio Regional caracteriza-se pela presença de formas regulares
132

retangulares lineares, que formam um sistema nuclear – organizado a partir de um


núcleo, neste caso o pátio – por agrupamento de formas, delimitando a adição de
volumes para a criação de uma volumetria final. Após a adição, conforme a figura
abaixo, ainda podemos identificar uma simetria unilateral na volumetria final do
Presídio Regional, já que em um dos sentidos encontramos as mesmas porções dos
volumes.

Figura 63 – Análise volumétrica explosão da forma Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A análise na implantação permite chegar a conclusão de que a disposição dos


diferentes volumes no lote não obedeceu um eixo organizador, talvez por terem datas
diferentes de construção e equipes técnicas e projetuais diferentes. A partir destas
análises também é possivel a classificação das edificações conforme metodologia de
Silva Filho. O Quadro 9 apresenta a classificação esquemática dos volumes do
Presídio e do Albergue56.

56 As demais edificações não foram analisadas por não serem pertinentes ao estudo.
133

Quadro 9 – Classificação volumétrica do Presídio e Instituto Penal de Passo Fundo/RS.

ESTABELECIMENTO CLASSIFICAÇÃO CROQUI CAPACIDADE


Presídio Regional de Poste Telegráfico 307 vagas
Passo Fundo

Instituto Penal de Linear 140 vagas


Passo Fundo

Fonte: SILVA FILHO, 2017 adaptado pela autora.

O Presídio Regional classifica-se como uma variação de poste telegráfico, já


tendo recebido esta classificação no ano de 1972 pela equipe de projetistas e o
Instituto Penal classifica-se como linear por ter dois módulos lineares conectados e
interligados, com acesso ao pátio de sol.
Baseado nas considerações anteriores, nota-se que as formas adotadas para
as edificações do presídio e do albergue possuem uma grande relação com a função
exercida pela volumetria, uma vez que a circulação central dos módulos torna possivel
uma melhor distribuição dos ambientes e da celas, ampliando as possibilidades de
se criar aberturas nas fachadas das laterais internas de cada bloco.
O programa de necessidades do Presídio Regional de Passo Fundo - PRPF e
do Instituto Penal de Passo Fundo - IPPF dividem-se em quatro setores, como
demonstrado na Figura 64, e será descrito brevemente57. O setor administrativo do
PRPF possui sala de revista de visitantes, sala da diretoria, sala de agentes
penitenciários bem como alojamentos, sala para acolhimento de profissionais da área
jurídica, psicólogos e técnicos de outras áreas. O diferencial do setor administrativo
do IPPF compreende em salas criadas para o atendimento do Conselho da
Comunidade dentro do instituto, as demais áreas se repem em menores proporções.

57 Não será apresentado áreas dos setores por questões de segurança e devido ao fato de que as
plantas foram montadas de maneira esquemáticas a partir de visitas feitas in loco, não estando
corretamente igual ao projeto.
134

Figura 64 – Setorização esquemática planta baixa Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O setor de serviço compreende a cozinha do PRPF, que prepara toda a


alimentação dos apenados do regime fechado e também do semiaberto. No IPPF há
uma cozinha para atendimento do setor administrativo. O setor educacional
compreende salas de aula, sala dos professores e uma biblioteca. As celas do regime
fechado possuem capacidade para 4 apenadados, possuindo quatro camas, uma
mesa em concreto para as refeições, chuveiro, uma latrina em 12m² de área. A cela
feminina não obedece estas medidas, bem como o pavilhão que encontra-se paralelo
ao setor de serviço (cozinha) e celas, que abriga vários detentos em um único espaço,
sem divisão celular como as demais.
A Figura 65 expõem, de modo esquemático e sem escala, a organização
espacial de boa parte das celas do regime fechado do Presídio Regional já que os
alojamentos do albergue são para mais de quatro apenados e não houve a
oportunidade de visitação para o reconhecimento espacial. Cabe ressaltar que o
presídio possui capacidade para 307 detentos mas abriga mais de 700 homens e mais
de 30 mulheres. Desta forma as celas planejadas para 4 pessoas estão com
aproximadamente 15 presos, sobrecarregando todas as infraestruturas do local.
135

Figura 65 – Esquema gráfico celas regime fechado Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Em linhas gerais a planta do presídio e do albergue é composta pelo


agrupamento de elementos regulares retangulares lineares, possuindo dimensões
diferentes entre si. Estes volumes se organizam a partir de um único eixo organizador
dentro da unidade, neste caso as circulações, fato que impossibilita a simetria a partir
deste eixo. As circulações centrais permitem a criação de ambientes em ambos os
lados dos corredores, facilitando a segurança dos ambientes. Estas circulações
também apresentam tamanhos consideraveis tendo em vista o translado de detentos
juntos a equipes de segurança, bem como a abertura de portas para o lado de fora do
corredor. A Figura 66 representa os eixos organizadores da planta baixa no Presídio
Regional e no Instituto Penal, conforme comentado anteriormente.
136

Figura 66 – Eixos organizadores planta baixa Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Conforme disposição do Norte na planta, pode-se analisar a iluminação e


ventilação da planta, feita de modo esquemático e demonstrado na Figura 67, onde
nota-se que a disposição das alas de celas no entorno dos pátios permitiu a locação
de aberturas para as áreas abertas, facilitando a ventilação e iluminação dos
alojamentos, porém a superlotação destas celas transforma os espaços insalubres.
Houve a preocupação de não locar qualquer cela para a orientação sul, criando
ali a circulação do módulo, resolvendo problemas causados por umidade, frio e pouca
insolação neste quadrante. As celas com aberturas para o quadrante leste acabam
recebendo a melhor insolação, a da manhã, necessária ao ambiente para uma
higienização natural, contraria a da tarde que aquece demasiadamente o local nos
períodos de verão. Na imagem, nota-se aberturas, tanto de celas, quanto do setor
administrativo e de serviço ao quadrante leste, e de celas, setor administrativo,
educacional e de serviço ao quadrante oeste.
No Instituto Penal foram colocadas janelas de celas para o quadrante sul e para
o norte, porém o quadrante norte torna-se solução de insolação nos períodos de
inverno rigorosos no sul do país.
137

Figura 67 – Análise climática planta baixa Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Os ventos vindos do Sudeste acessam as celas com aberturas para a rua


Adrianópolis e os vindos do quadrante nordeste entram pelas celas e pelo setor
administrativo do Instituto Penalde. Cabe ressaltar que os ventos encontram o
obstáculo do muro de divisa que possui uma altura bem maior que as edificações
internas do presídio.
Por fim a análise dos materiais que compõem o estabelecimento penal, em
resumo são concreto armado, lajes maciças e armadas, grades de proteção dentro e
fora do presídio e das celas e coberturas de fibrocimento.
As fachadas das edificações que compõem o presídio são formadas pela
adição e agrupamento de volumes, como citado na análise volumétrica, possuindo
também um agrupamento de linhas, formando a edificação. Para a análise das
fachadas optou-se por buscar um dos registros históricos do presídio onde o muro não
impossibilitava a visibilidade da edificação. Neste tópico, será apresentado os
principais elementos que compõem a base, o corpo e o coroamento da edificação, de
maneira breve e sintética tendo em vista as poucas imagens de fachadas da
edificação e a relação desta análise com o objetivo geral deste trabalho.
138

Figura 68 – Análise fachada Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: ESTÁ, 1977, p. 9.

Na Figura 68 pode-se observar que a base da edificação já é marcada pela


presença de basalto aplicado na parede externa, tendo uma hierarquia de cor neste
volume, revelando a importância através da diferente tonalidade e localidade com
relação ao todo. O corpo da edificação remete a horizontalidade, apresentando uma
repetição de aberturas, com tamanhos semelhantes, tendo no centro um volume de
destaque demarcando o acesso principal do presídio. O coroamento é destacado pela
platibanda e pelo uso de grades, até hoje desta forma.
As janelas tanto destas fachadas, quanto das fachadas voltadas aos pátios
internos apresentam peitoril elevado tendo em vista que detentos não podem ter
acesso visual ao nível do observador. Por este motivo foi adotado o mesmo peitoril
para todas as janelas do presídio.
Com isto a análise arquitetonica do Presídio Regional finaliza-se, apresentando
vários empecilhos de análises devido a questões de segurança, porém de modo
esquemático optou-se por demonstrar os espaços e a realidade arquitetônica do
estabelecimento penal em estudo. O próximo tópico analisará a popualção carcerária
do PRPF e seu perfil sociodemográfico.

2.1.4. Análise da População Prisional

Os dados a seguir apresentados partem do ano de 2014, ano em que foi


divulgado o primeiro relatório do INFOPEN, seguindo para o ano de 2016 e por fim
apresentando dados de 2019. Além do mais os dados de 2014 e 2016 foram utilizados
139

durante Trabalho de Conclusão de Curso, também sobre a temática penitenciária com


foco no Presídio Regional de Passo Fundo. Desta mandeira achou-se importante
analisar a evolução dos dados angariados anteriormente.
No ano de 2014, O Presídio Regional de Passo Fundo possui um total de 600
presos. Ocorre, no entanto, que essa instituição prisional conta com 307 vagas, e, no
ano base de estudo, possuía 293 detentos a mais do que a sua capacidade total
(SUSEPE, 2014).
Do ano de 2014 para 2016, a população carcerária de Passo Fundo aumentou
de 600 detentos para 662, significando um aumento de 10,33% em apenas dois anos.
Esse crescimento anual de 5,16%, no entanto, não foi acompanhado por um
acréscimo no número de vagas, contabilizando, assim, no ano de 2016, um déficit de
mais de 355 vagas (SUSEPE, 2016).
Passando-se três anos, ao final de 2019 o PRPF já contava com 732 detentos
em suas instalações projetadas para atender apenas 307 apenados, apresentando
um crescimento de 10,57% em seu número absoluto de detentos desde o ano de 2016
e um déficit de vagas de mais de 425 lugares (PRPF, 2019). O Quadro 10 apresenta
um resumo da evolução da população carcerária do PRPF em números absolutos.

Quadro 10 – Evolução da população carcerária Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

POPULAÇÃO CARCERÁRIO PRESÍDIO REGIONAL DE PASSO FUNDO/RS


ANO 2014 2016 2019
N° DETENTOS 600 662 732

AUMENTO %
Aumento de 10,91% Aumento de 10,57%
Fonte: SUSEPE, 2014 e 2016; PRPF, 2019 adaptado pela autora.

A partir destes números e dos dados obtidos em nível nacional e estadual,


torna-se importante apresentar o perfil sociodemográfico destes apenados,
objetivando entender melhor as respostas que serão interpretadas no Capítulo 4. Para
manter o mesmo padrão nacional e estadual, será analisado a raça/cor ou etnia, faixa
etária, estado civil e escolaridade.
No ano de 2014, dos 600 apenados em cumprimento de pena no Presídio
Regional, 58,66% eram da cor branca; 27,33% eram jovens de 18 a 24 anos seguidos
140

de 24,33% de jovens de 25 a 29 anos; 53% solteira e 63,33% da população total


possuía o Ensino Fundamental incompleto (SUSEPE, 2014).
No ano de 2016, dos 662 apenados no Presídio Regional, 62,99% eram da cor
branca; 24,77% eram jovens de 18 a 24 anos seguidos de 23,56% de jovens de 25 a
29 anos; 58,61% solteira e 61,48% da população total possuía o Ensino Fundamental
incompleto (SUSEPE, 2016). Nota-se que dos anos de 2014 para 2016 não houve
alterações no perfil sociodemográfico da população, somente em seus índices
variando para mais ou para menos.
Três anos depois, em 2019, dos 732 detentos do Presídio Regional de Passo
Fundo, 64,34% era da cor branca; 24,31% com 35 a 45 anos de idade seguidos de
23,90% de jovens de 25 a 29 anos; 58,46% de solteiros e 60,10% da população total
possuía o Ensino Fundamental incompleto (PRPF, 2019). Pela primeira vez houve
alteração na faixa etária predominante dos detentos do Presídio Regional, não sendo
mais os jovens de 18 a 24 anos e passando a ser pessoas de 35 a 45 anos de idade.
Com estes dados finaliza-se a análise do Presídio Regional de Passo Fundo,
ressaltando a superlotação do estabelecimento penal, que possui uma estrutura
antiga e com poucas manutenções ao longo dos anos, não suportando o constante
aumento populacional carcerário que vem enfrentando atualmente. O tópico a seguir
analisará a APAC Santa Luzia como feito com o estabelecimento penal anterior.

2.2. APAC SANTA LUZIA/MG

A administração pública do Estado de Minas Gerais inicia em 2002 um


processo de mudanças como alternativa para superar a situação deficitária que se
apresentava nos serviços públicos e de infraestrutura, advindos de governos
anteriores (QUEIROZ, 2009).
Em busca de eficiência e eficácia o governo mineiro implementou o programa
Choque de Gestão (CG) responsável pela junção de ações que focavam no ajuste
fiscal e na promoção de uma gestão voltada para resultados e desenvolvimento
(QUEIROZ, 2009).
Posto em prática durante o governo de Aécio Neves o programa foi dividido em
duas fases. A primeira ocorreu durante os anos de 2003 a 2006 buscando inicialmente
minimizar as despesas para nos anos posteriores aumentar a receita e, com o controle
141

das contas públicas, aumentar os investimentos. A segunda geração ocorrida nos


anos 2007 a 2010 buscou uma administração priorizando a qualidade dos gastos
públicos principalmente na área social (QUEIROZ, 2009).
A história de criação da APAC Santa Luzia permeia este cenário de mudanças
sociais e políticas no Estado mineiro, tendo sua implanção viabilizada com verbas
federais, estaduais e municpais. Em 2002 projetos federais priorizavam a construção
de oito “cadeiões”58 no estado de Minas Gerais, sendo que houve a trasnferência de
verba de um desses projetos para a construção da referida APAC (AGOSTINI, 2019).
A criação da APAC Santa Luzia passou por diversas etapas envolvendo
estudos e discussões com diversos representantes, sendo que o único município da
região metropolitana de Belo Horizonte que demonstrou interesse em implementar a
metodologia foi a cidade de Santa Luzia, que doou o terreno onde atualmente está
implantada a unidade APAC.
Destaca-se o bom momento econômico vivenciado pelo Estado de Minas
Gerais no período de criação da APAC,comprovado pela amplitude do
empreendimento e pelo auxilio economico oportunizado na realização da obra.
No tocante municipal, Santa Luzia, pertencente à Região Metropolitana e
distante 18 Km de Belo Horizonte, é a decima terceira cidade mais populosa do estado
de Minas Gerais e o quarto polo industrial da Grande Belo Horizonte, localizando-se
perto dos aeroportos de Confins e da Pampulha (CMSL, 2019; PMSL, 2019).
Com uma área de 233,759 Km², Santa Luzia subdivide-se em Sede e no distrito
de São Benedito. A partir de 1950 apresentou um crescimento industrial e
populacional intensificado ainda mais com a construção do FRIMISA, maior frigorifico
da América Latina, inaugurado por Juscelino Kubitschek, iniciando seu funcionamento
em 1959 (CMSL, 2019; PMSL, 2019).
No início dos anos cinquenta o Governo Estadual criou o Distrito Industrial de
Santa Luzia, buscando fortalecer Belo Horizonte. Apenas em 1973 foi organizado
internamente. É formado por quatro glebas com empresas de pequeno, médio e
grande porte. Há também industrias em outros locais do município de Santa Luzia não
pertencentes a esses Distritos Industriais (CMSL, 2019; PMSL, 2019).
O setor educacional conta com instituições do nível básico ao superior sendo,
entre outras, o Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) e a Universidade de Santa

58 Modo de referir-se a Penitenciárias.


142

Luzia (FACSAL). É uma cidade voltada para o turismo religioso. No centro histórico
seu patrimônio é preservado em museus instalados em antigos casarões (CMSL,
2019; PMSL, 2019).
O município de Santa Luzia ainda conta com um Presídio Municipal, localizado
no centro da cidade e bem ao lado de uma escola pública, distando mais de 12km da
APAC Santa Luzia. A Figura 69 demonstra a distância entre a unidade APAC e o
Presídio de Santa Luzia, superlotado e com sua infraestrutura já frágil e debilitada 59.

Figura 69 – Mapa de localização do Presídio Municipal de Santa Luzia e sua distância até a APAC.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

Atualmente, abriga 219.134 habitantes, conforme dados do IBGE do ano de


2019 (IBGE, 2020) e ocupa a 2722° colocação no ranking do IDH entre todos os
municípios brasileiros, conforme dados do IBGE referente à 2018, apresentando uma
representativa base econômica industrial, porém com um baixo desenvolvimento das
atividades comerciais e de prestação de serviços (SANTA LUZIA, 2006). A cidade se
caracteriza pelo seu expressivo valor cultural e histórico devido à existência e
preservação do seu conjunto arquitetônico barroco, potencializador turístico da região
(SANTA LUZIA, 2006).

59 Dados obtidos durante entrevistas com gestores da APAC Santa Luzia.


143

2.2.1. Análise Técnico-Construtiva

Caracterizada por ser a primeira unidade APAC com projeto arquitetônico


elaborado exclusivamente para este uso, a APAC Santa Luzia foi projetada pelo
escritório MAB Arquitetura, composto pelos arquitetos Flávio Agostini e Frederico
Bernis, para atender 200 recuperandos, sendo: 120 em regime fechado; 60 em regime
semiaberto; e 20 em trabalho externo.
Flávio Mourão Agostini possui formação em Arquitetura e Urbanismo pelo
Unicentro Izabela Hendrix, especialização em Arquitetura Contemporânea: projeto e
crítica pelo Instituto de Educação Continuada PUC Minas e mestrado em Arquitetura
e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais onde apresentou a
dissertação intitulada “O Edifício inimigo: a arquitetura de estabelecimentos penais no
Brasil” (LATTES, 2019a), onde a partir de seu desenvolvimento passou a fazer parte
do grupo de arquitetos que criaria o projeto da APAC Santa Luzia 60.
Frederico Bernis é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade
Federal de Minas Gerais, possui especialização em Arquitetura de Interiores pelo
Instituto de Educação Continuada da Pucminas, Mestrado em Arquitetura pela
Universidade Federal de Minas Gerais e atualmente é doutorando em Sociologia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (LATTES, 2019b).
Datado de 2002, um dos principais diferencias deste projeto é o seu
desenvolvimento a partir de um modelo arquitetônico preconizado para atingir os
objetivos de gestão propostos pela APAC. Destaca-se que, partindo do princípio da
múltipla influencia entre o indivíduo e o ambiente, o modelo arquitetônico pode
contribuir para o comportamento dos internos bem como para sua condição de
ressocialização (CAMPOS, 2005).
Salientada a relação e a importância do ambiente no humano, o projeto
arquitetônico concebe uma maior abertura para novas experiências do ambiente penal
e sua gestão, possibilitando a recuperação dos presos por meio da humanização da
pena, sem dispensar a segurança e o controle da instituição (CAMPOS, 2005).
Para este projeto, os arquitetos seguiram sete diferentes diretrizes para a
elaboração do mesmo, observando os princípios metodológicos das APACS e

60Estes dados foram obtidos em entrevista ao arquiteto, onde o mesmo relatou que através de uma
audiência pública passou a fazer parte do grupo técnico que desenvolveria o projeto da APAC.
144

colocando em prática novas formas de planejar o espaço penal. A sete diretrizes são:
inserção; relação com a comunidade; segurança; progressão; visão; vazios; e
individualidade e podem ser melhores descritos no Quadro 11.

Quadro 11 – Diretrizes projetuais APAC Santa Luzia/MG

Modelo atual APAC Santa


espaços Característica
Luzia
prisionais
INSERÇÃO: o projeto da APAC se insere na malha
urbana, diferente do modelo atual onde os espaços
prisionais ficam distantes do centro da cidade.
RELAÇÃO COM A COMUNIDADE: o projeto
preocupou-se com a integração comunidade-instituição,
criando uma praça pública para uso de recuperandos,
familiares e comunidade local.
SEGURANÇA: diferente dos sistemas empregados em
estabelecimentos penais, a APAC permite uma relação
de proximidade entre os recuperandos e os agentes
penitenciários, onde estes dividem os mesmos espaços
que os recuperandos, criando uma relação de respeito
e diálogo.
PROGRESSÃO: conforme a progressão de penas e de
comportamentos, os recuperandos saem de celas do
regime fechado e passam para unidades habitacionais
com maior liberdade e participação no funcionamento
da APAC.
VISÃO: oposto aos presídios, o projeto da APAC
buscou criar terraços para gerar visuais ao entorno e a
paisagem do local, demonstrando a preocupação da
relação indivíduo-ambiente e o bem estar do
recuperando.
VAZIOS: o projeto cria diferentes vazios entre as
edificações, permitindo distintos usos a estes espaços e
permitindo que vários grupos possam utilizar áreas
abertas ao mesmo tempo.
INDIVIDUALIDADE: a criação de alojamento que
possibilitem a privacidade e individualidade sem
comprometer a segurança da unidade, remodelam os
espaços conhecidos como celas, modificando a relação
do indivíduo com o ambiente e consequentemente
melhorando a relação entre indivíduos.
Fonte: CAMPOS, 2005 adaptado pela autora.
145

O projeto arquitetônico da APAC Santa Luzia, em linhas gerais, foi


desenvolvido a partir de volumetrias simples, considerando que, apesar de ser uma
metodologia diferenciada, ainda se tratava de um presídio, e desta maneira não
deveria fugir dos padrões estipulados pelo governo federal, estadual, além das regras
da FBAC61.
O projeto, executado em uma gleba de 40.000m² pertencente a Prefeitura
Municipal de Santa Luzia, em comodato com o Governo de Estado de Minas Gerais,
teve início em 2002 e inauguração em 25/05/2006, completando mais de 13 anos de
funcionamento. A unidade só passou a receber os recuperandos no mês de junho de
2006, quando foram finalizadas as instalações das câmeras de segurança e as cercas
elétricas na instituição. Os recuperandos foram chegando na unidade divididos por
etapas. Primeiro aqueles condenados que cometeram crimes no município de Santa
Luzia e posteriormente os que são naturais da cidade, mas estavam em cumprimento
de pena em outros locais do estaco (LOPES, 2006).
A seguir serão apresentadas algumas imagens da etapa de obra62 da APAC
Santa Luzia, angariadas na dissertação de Mestrado do Arquiteto e Urbanista Oscar
de Vianna Vaz, intitulada “A Pedra e a Lei”, apresentada em 2005. A Figura 70
demonstra a etapa de construção do pavilhão de acesso destinado aos familiares dos
recuperandos da APAC.

Figura 70 – Obras APAC Santa Luzia pavilhão de acesso.

Fonte: VAZ, 2005, p. 204.

61Estas informações foram obtidas em entrevista com o arquiteto Flávio Agostini.


62Não foram encontradas mais informações a respeito da etapa de execução do projeto, desta forma
optou-se por apresentar as imagens do autor em questão a fim de elucidar o processo de construção
da unidade.
146

A Figura 71 demonstra a altura dos muros de divisa da unidade APAC Santa


Luzia com os vizinhos, além de apresentar o corredor de segurança utilizado para o
monitoramento das edificações do regime fechado.

Figura 71 - Obras APAC Santa Luzia corredores de segurança.

Fonte: VAZ, 2005, p. 208.

A Figura 72 retrata a etapa de construção da capela do regime fechado e a sua


relação com a topografia do local.

Figura 72 - Obras APAC Santa Luzia capela regime fechado.

Fonte: VAZ, 2005, p. 210.


147

A seguir, a Figura 73 destaca a relação das edificações onde encontram-se


as celas do regime fechado da APAC, com o relevo do local. Ademais, destaca-se a
vista que os recuperandos possuem para a região do entorno.

Figura 73 - Obras APAC Santa Luzia celas do regime fechado.

Fonte: VAZ, 2005, p. 210.

O próximo tópico fará uma análise urbana do entorno da APAC.

2.2.2. Análise Urbana

Localizada na Estrada do Alto das Maravilhas, no município de Santa Luzia,


região metropolitana de Belo Horizonte/MG, a APAC Santa Luzia, apesar de distar
apenas 3km do centro da cidade, ainda encontra-se afastada de boa parte das
infraestruturas ofertadas em meio urbano.
O acesso veicular à unidade ocorre a partir da Estrada Alto das Maravilhas,
como mencionado anteriormente, com configurações de uma via local, com dupla
faixa de rolamento, sem qualquer tipo de tratamento asfáltico ou sinalização. Esta via
é muito utilizada tanto por veículos pesados, quanto leves, que necessitam de uma
via de rápida passagem. A estrada em questão constitui-se também como uma das
ligações entre a Rodovia MG-010 ao bairro Frimisa (8 km) da cidade de Santa Luzia.
Durante o trajeto até a instituição penal, notou-se a completa ausência de pedestres
devido à falta de passeios públicos e/ou de edificações que margeiam a estrada.
.
148

Figura 74 – Estrada Alto das Maravilhas/MG.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

A Figura 74 demonstra a Estrada Alto das Maravilhas e seu estado de


conservação, possuindo calçada apenas em frente a unidade APAC. Cabe ressaltar
que haviam planos de asfaltamento da via desde a inauguração da unidade, porém
passaram-se 13 anos e a única parte que recebeu tratamento asfáltico foi área em
frente a Subestação de Energia Vespasiano II, conforme localização demonstrada na
Figura 75.

Figura 75 – Mapa de localização APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

A área em que se localiza a APAC possui rede de distribuição de energia


elétrica e rede pública de abastecimento de água realizado pela empresa COPASA,
fazendo-se necessário apenas instalações individuais para a depuração de resíduos
149

sanitários. A região não conta com linhas de transporte coletivo, dificultando o


translado de familiares e voluntários em dias de visita.
Ainda conforme a Figura 75, observa-se também, a ausência de edificações
vizinhas à APAC, localizando-se em uma região caracterizada, mais detalhadamente,
pela presença de grandes massas vegetativas, pequenos sítios e ranchos63. A região,
apesar de pouco edificada, ainda pertence à área urbana da cidade de Santa Luzia.
Assim como analisado no Presídio Regional de Passo Fundo, buscou-se criar
um mapa que permitisse uma comparação entre a urbanização do entorno nos dias
atuais e a sete anos após a inauguração do estabelecimento penal. Neste caso optou-
se por fazer um mapa em maior escala para comparar o crescimento urbano em
direção a APAC, considerando sua distância da cidade. A Figura 76 demonstra o
entorno da APAC no ano de 2013.

Figura 76 – Mapa de análise urbana APAC Santa Luzia/MG, ano de 2013.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

A comparação entre o ano de 2013 e 2020 nos comprova que há um


crescimento urbano em direção aos equipamentos penais, ainda que de modo ínfimo.
No caso da APAC Santa Luzia houve a instalação de novas residências no seu
entorno próximo, além da implantação de um conjunto habitacional próximo à
Subestação Vespasiano II. Também constatou-se um aumento do perímetro urbano

63 Devido a distância destas edificações da via, não sabe-se o gabarito das mesmas, tornando-se
inviável a análise das alturas.
150

do município de Santa Luzia, rememorando o debate do preço do solo e da


implantação de moradias em locais sem uma adequada infraestrutura.

2.2.3. Análise Arquitetônica

Conforme já apresentado anteriormente, a APAC Santa Luzia localiza-se na


Estrada Alto das Maravilhas, n° 3.111, bairro Frimisa, na cidade de Santa Luzia/MG.
O terreno utilizado para a construção do estabelecimento penal ocupa uma área de
40.000m²64, possui um formato irregular e com orientação para norte, conforme Figura
77.

Figura 77 – Implantação APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

O entorno imediato a APAC é marcada pela presença de grandes massas


vegetativas e apenas uma via de acesso. Em análise ao Plano Diretor do município
de Santa Luzia não houve o entendimento do zoneamento da cidade, uma vez que os
anexos necessários para esta análise não encontravam-se juntos do Plano. Sendo

64
Não foram disponibilizadas as medidas do lote de implantação do terreno, apenas a área total do
mesmo.
151

assim se fará uma análise da Taxa de Ocupação e da área total construída sem a
utilização de enquadramentos em zonas, de maneira mais demonstrativa.

Quadro 12- Índices urbanísticos APAC Santa Luzia/MG.

ÍNDICES URBANÍSTICOS APAC SANTA LUZIA/MG


ÁREA TOTAL LOTE= 40.000m²
ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA= 7.235,40m²
TO= 6.944,87m² (17,36%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O Quadro 12 demonstrou que mesmo sem a exatidão da taxa de ocupação da


área de implantação da APAC, o índice obtido é bem inferior ao encontrado no
Presídio Regional de Passo Fundo, por exemplo. Isso se deve a grande área do lote
e aos espaços destinados a produção (hortas), jardins, quadras poliesportivas, praças,
além de ser edificações com áreas pequenas, se comparadas com o todo, e de
apenas um pavimento. Além de um baixo TO, o coeficiente de aproveitamento do
projeto, possivelmente, também resultaria em índices bem abaixo do encontrado em
Passo Fundo.
É perceptível, também, a adoção de grandes recuos frontais e laterais, onde se
criaram corredores de segurança para a vigia dos espaços. O recuo frontal das
edificações ocorre em maior metragem na praça de acesso, criada para o acolhimento
dos familiares, voluntários e comunidade. O acesso de pedestres se dá por meio da
praça anteriormente citada e localiza-se ao lado da rampa de acessibilidade melhor
demonstrada na Figura 78.
152

Figura 78 – Análise volumétrica APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Google Maps, 2019 adaptado pela autora.

Ainda em relação aos acessos, nota-se apenas uma entrada de veículos pela
Estrada Alto das Maravilhas, transitando por um corredor de serviço dentro da unidade
APAC. O fechamento das divisas é por meio de muros de aproximadamente 8 metros
de altura, de concreto armado, além de telas superiores a esta metragem como forma
de dificultar o arremesso de objetos para dentro do APAC.
Diferentemente dos demais presídios, atenta-se para a presença de
vegetações, tanto na praça de acesso quanto nos pátios dos regimes fechado e
semiaberto, aproximando o apenado do contato com a natureza e possibilitando
experiências que antes não eram permitidas no sistema tradicional.
A volumetria das edificações que compõem a APAC Santa Luzia possui a
predominância de formas laminares na direção horizontal, caracterizando seus
aspectos formais, remetendo a estabilidade e ao equilíbrio da forma por apresentar
agrupamento de retas em sua composição. Por se tratar de um estabelecimento penal
e por fatores de segurança e de sigilo de dados, a equipe técnica do MAB Arquitetura
não disponibilizou o projeto arquitetônico para análise e estudo. Entretanto, montou-
se, de maneira esquemática, croquis do projeto para as análises. Ademais, irá se
utilizar de registros fotográficos para a complementação da análise.
A Figura 79 demonstra esquemas gráficos para uma melhor visualização das
formas lineares e da horizontalidade das edificações.
153

Figura 79 - Esquema gráfico análise volumétrica APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Por meio da técnica de explosão da forma, apresentado na Figura 80, a


volumetria da APAC Santa Luzia caracteriza-se pela presença de formas regulares
retangulares lineares, que formam um sistema nuclear – organizado a partir de um
núcleo, neste caso os pátios e a grande praça – por agrupamento de formas,
delimitando a adição de volumes para a criação de uma volumetria final. Neste caso
não encontrou-se nenhum eixo simétrico nas volumetrias.

Figura 80 - Análise volumétrica explosão da forma APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A análise na implantação (Figura 81) permite-se chegar à conclusão de que a


disposição dos diferentes volumes no lote tenha seguido alguns eixos organizadores,
mas aparentemente, não tenham sido estes o princípio da criação da volumetria
154

projetual, por não apresentar um eixo “fixo” e por serem várias volumetrias na
implantação.

Figura 81 – Análise eixos organizadores APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A partir destas análises também é possível a classificação das edificações


conforme metodologia de Silva Filho. O Quadro 13 apresenta a classificação
esquemática dos volumes da APAC Santa Luzia.

Quadro 13 - Classificação volumétrica da APAC Santa Luzia/MG.

SETOR CLASSIFICAÇÃO CROQUI CAPACIDADE


Celas regime Modular 80 vagas
semiaberto

Celas regime fechado Variação Modelo Poste 120 vagas


Telegráfico

Fonte: SILVA FILHO, 2017 adaptado pela autora.

A classificação foi realizada apenas nos módulos de celas, tendo em vista a


sua importância no estudo e a configuração linear dos demais blocos, não se fazendo
necessária a classificação de outras áreas. As celas do regime fechado da APAC
155

Santa Luzia classificam-se como uma variação de poste telegráfico, não possuindo
celas nas outras extremidades dos corredores, e os alojamentos do regime
semiaberto classificam-se como modulares por estarem dispostos igualmente no lote.
Em suma, nota-se que as formas adotadas para as edificações da APAC
possuem grande relação com a função exercida pela volumetria, uma vez que a
circulação central nas celas do regime fechado possibilitam a criação de aberturas em
duas diferentes fachadas dos blocos, ampliando o contato dos recuperando com os
pátios existentes entre as celas. Além disto, os módulos de alojamentos do regime
semiaberto também exploram os espaços onde foram alocados sem necessitar de
circulações para se chegar até cada dormitório, pois a porta de cada alojamento já
está voltada para o grande pátio do regime semiaberto.
O programa de necessidades geral da APAC Santa Luzia divide-se em seis
setores, como demonstrado na Figura 82, e será descrito brevemente por questões
de segurança65. O setor administrativo da APAC, o setor de serviço e o pavilhão para
familiares alocado na praça de acesso não serão considerados na análise da planta
baixa, sendo apresentado apenas registros fotograficos do pavilhão para familiares
em outro tópico deste capítulo.

Figura 82 – Implantação esquemática APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

65 Não será apresentado áreas dos setores por questões de segurança e devido ao fato de que as
plantas foram montadas de maneira esquemáticas a partir de visitas feitas in loco, não estando
corretamente igual ao projeto.
156

Mais detalhadamente, o regime fechado, localizado na ala direita da


implantação, conta com os setores de escola e laborterapias, com salas de aulas;
biblioteca; salas de pintura; marcenaria; auditório; setor de saúde com consultório
odontológico e enfermaria; administrativo do regime, com salas para o CSS e para a
secretaria, bem como o mercado dos própriodos recuperandos e almoxarifados; celas
que atendem até 120 recuperandos, salas de TV em cada módulo de celas; a capela
e o refeitório.
O regime semiaberto conta com o setor de escola e laborterapias, com salas
de aula, salas de pintura e marcenaria, salas para cultos ecumênicos; e os módulos
de celas, projetados para atender até 80 recuperandos. Neste regime ainda há uma
grande horta e grandes áreas para práticas de esporte assim como no regime fechado.
A Figura 83 esquematiza os setores em planta baixa.

Figura 83 - Setorização esquemática planta baixa APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Todas as celas possuem a mesma formatação e capacidade, cada uma com 5


camas, cada recuperando com seu armário para organização de seus pertences, uma
bancada de concreto, um chuveiro, um vaso sanitário e uma pia. Vale destacar que a
unidade ainda possui celas adaptadas para pessoas com deficiência, tanto em regime
fechado quanto em regime semiaberto.
157

Figura 84 - Esquema gráfico celas APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

De modo geral a planta baixa da APAC Santa Luzia é composta pelo


agrupamento de elementos regulares retangulares lineares, possuindo dimensões
diferentes entre si. Estes volumes se organizam a partir eixos organizadores dentro
da unidade, neste caso as circulações, fato que impossibilita a simetria a partir deste
eixo. As circulações como eixos organizadores permitem uma melhor distribuição e
organização dos fluxos, pois para acessar alguns pontos da unidade deve-se passar
por portões de segurança. O fato de localizar as portas de salas de laborterapias
diretamente para o pátio dinamiza os fluxos entre uma oficina e outra. As circulações
internas apresentam tamanhos consideráveis tendo em vista o translado dos
recuperandos juntos a equipes de segurança, se necessários. A Figura 85 representa
os eixos organizadores da planta baixa na APAC Santa Luzia, conforme comentado
anteriormente.
158

Figura 85 - Eixos organizadores planta baixa APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A localização do Norte na planta nos permite analisar a iluminação e ventilação


da ambientes, feita de modo esquemático e demonstrado na Figura 86, onde notou-
se que a disposição dos módulos de celas próximo de pátios permitiu a locação de
aberturas para as áreas externas, facilitando a ventilação e iluminação natural dos
alojamentos,
Houve a preocupação de não locar qualquer cela para a orientação sul, criando
ali a circulação do módulo, resolvendo problemas causados por umidade, frio e pouca
insolação neste quadrante. A grande maioria das celas possuem aberturas para o
quadrante leste recebendo a insolação da manhã, necessária ao ambiente para uma
higienização natural, contraria à da tarde que aquece demasiadamente o local nos
períodos de verão. Na imagem, nota-se aberturas de celas, salas administrativas,
laborais e de saúde do regime fechado voltadas ao quadrante leste, e aberturas de
celas e salas de laborterapia para o quadrante oeste.
159

Figura 86 - Análise climática planta baixa APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Conforme Atlas Eólico do estado de Minas Gerais, elaborado pelo CEMIG


(2010) há a predominância dos ventos Nordeste e Sudeste na cidade de Santa Luzia,
desta forma os ventos do nordeste acessam a edificação pelos pátios e pelas janelas
das celas, já que algumas faces das edificações não possuem abertura para o
quadrante nordeste. Os ventos vindos do sudeste acessam as celas do regime
fechado através das circulações que as interligam com os demais setores da unidade.
Por fim a análise dos materiais que compõem o estabelecimento penal, em
resumo são concreto armado, lajes maciças e armadas, lajes nervuradas em
ambientes com vãos de maior comprimento, grades de proteção nos regimes fechado
e semiaberto e em suas celas e coberturas de fibrocimento.
As fachadas das edificações que compõem a APAC são formadas pela adição
e agrupamento de volumes, como citado na análise volumétrica, possuindo também
um agrupamento de linhas, formando a edificação. Para a análise das fachadas optou-
se por apresentar os registros fotográficos realizados em visitas in loco a unidade.
Neste tópico, será apresentado os principais elementos que compõem a base, o corpo
e o coroamento da edificação, de maneira breve e sintética tendo a relação desta
análise com o objetivo geral deste trabalho.
160

Figura 87 - Análise fachada APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

A Figura 87 demonstra uma breve análise na fachada principal da APAC Santa


Luzia, onde a base da edificação é demarcada pela diferenciação de cores com o
restante do prédio, além de ter recebido a pintura de um grafite bem ao lado da porta
de acesso. Outro elemento de destaque na fachada é a grande rampa circular que se
caracteriza como um elemento hierárquico na fachada. A Figura 88 apresenta os dois
elementos descritos anteriormente.

Figura 88 – Elementos de destaque fachada APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

O corpo da edificação remete a horizontalidade apesar de possuir dois


pavimentos, apresentando uma repetição de aberturas (gradil), com tamanhos
diferenciados, entre os cobogós. O coroamento é destacado pelas treliças aparentes.
Não somente na fachada principal, mas em todas as outras, a equipe técnica buscou
trabalhar com as diferentes visuais e com a exploração de aberturas, para singularizar
as experiências vividas na APAC, fazendo com que o recuperando valorize todas as
diretrizes pensadas e executadas para o seu acolhimento durante o cumprimento de
161

pena. O próximo tópico irá analisar a evolução do número de recuperandos na unidade


APAC e os seus perfis sociodemográficos.

2.2.4. Análise do número de Recuperandos APAC Santa Luzia/MG

Como forma de análise comparativa, buscou-se junto ao encarregado


administrativo da APAC Santa Luzia, os dados referentes ao número de recuperandos
presente na unidade nos anos de 2014, 2016 e 2019, seguindo os mesmos critérios
utilizados nas análises feitas no Presídio Regional de Passo Fundo – RS. Quanto ao
perfil sociodemográfico dos recuperandos, durante os anos de 2014 e 2016 não eram
recolhidos os dados necessários para esta pesquisa e, no ano de 2019 somente os
dados referentes a escolaridade e a faixa etária foram tabulados. Apesar de
incompletos, todas as informações angariadas serão expostas neste trabalho,
demonstrando a fragilidade do sistema na coleta e no armazenamento de dados
quantitativos de recuperandos.
No ano de 2014 a APAC Santa Luzia possuía 158 recuperandos em sua
unidade, com vaga para até 200 apenados. Dois anos depois este número subiu para
169 recuperandos, significando um aumento de 6,98% em dois anos. Três anos após,
o número havia caído para 152 apenados em cumprimento de pena na unidade APAC
no ano de 2019, significando uma diminuição de 10,05% no número total de
recuperandos (APAC, 2019).
Cabe ressaltar que a metodologia APAC não permite o funcionamento de suas
unidades com mais de 200 recuperandos, desta forma o número de detentos é baixo
se comparado ao Presídio Regional de Passo Fundo – RS, mas só é desta forma por
princípios metodológicos.
O Quadro 14 demonstra a evolução citada anteriormente, de maneira sintética.

Quadro 14 - Evolução da população carcerária APAC Santa Luzia/MG.

POPULAÇÃO CARCERÁRIO APAC SANTA LUZIA/MG


ANO 2014 2016 2019
N° DETENTOS 158 169 152

AUMENTO %
Aumento de 6,98% Diminuição de 10,05%
Fonte: APAC, 2019 adaptado pela autora.
162

Quanto ao perfil sociodemográfico dos recuperandos presentes na APAC no


ano de 2019, 59,86% possuíam de 30 a 40 anos e 57,89% possuíam o Ensino Médio
completo (APAC, 2019) diferentemente do Presídio Regional de Passo Fundo, onde
no mesmo ano a maioria dos detentos possuíam o Ensino Fundamental incompleto
(60,10%) e possuíam entre 25 e 45 anos (48,21%) (APAC, 2019).
Nota-se a grande diferença no nível de ensino dos apenados, podendo ser
explicado devido ao diferencial da metodologia APAC no apoio ao ensino dos
recuperandos. Durante o cumprimento de pena o recuperando é estimulado a finalizar
seus estudos até completar o Ensino Fundamental, sendo optativo cursar o Ensino
Médio e ainda fazer uma Faculdade a distância.
Com estas análises finaliza-se o estudo sobre a APAC Santa Luzia, destacando
a diferença entre o sistema tradicional e a metodologia, além de um projeto
arquitetônico dentro de normas e criado pensando na humanização dos espaços e
nas relações de influência entre homem e ambiente. O tópico a seguir demonstrará
registros fotográficos dos dois estabelecimentos penais, analisando
comparativamente suas estruturas e seu estados de conservação.

2.3. ANÁLISE COMPARATIVA: PRESÍDIO REGIONAL DE PASSO FUNDO E APAC


SANTA LUZIA

Após a descrição projetual detalhada dos dois estabelecimentos objetos de


estudo desta dissertação, será feito uma análise comparativa entre todos os aspectos
estudados nos tópicos anteriores, a fim de se chegar na classificação do grau de
importância de cada infraestrutura na obtenção da reabilitação e ressocialização dos
apenados, considerando os resultados encontrados em um presídio do sistema
tradicional e uma unidade APAC.

2.3.1. Conclusões analíticas sobre a Análise Urbana

Localizados em diferentes estados brasileiros, os objetos de estudo possuem


distintos contextos históricos e de criação, sendo um deles um estabelecimento penal
característico do sistema tradicional (PRPF) e outro um novo modelo de interpretação
da pena e dos espaços penais denominado APAC. As diferenças metodológicas
existem e não podem ser comparadas, muito menos querer aplicar a metodologia de
163

uma APAC em um presídio do sistema tradicional. Mas e projetualmente há


diferenças?
O primeiro ponto a se analisar na parte de projeto é a esfera urbana. Temos
duas localizações e duas realidades distintas. O Presídio Regional de Passo Fundo
localiza-se no meio da malha urbana, apesar de ter sito construído em um bairro
afastado do centro da cidade na década de 1970, em um bairro predominantemente
residencial e urbano. Mas o fato de estar na área urbana da cidade não significa que
ele encontra-se integrado com o bairro.
O Presídio de Passo Fundo, aos olhos de seus vizinhos não passa de uma
grande quadra murada, sem cor, sem qualquer proposta de aproximação do
estabelecimento com a comunidade, sem visuais e sem integração por ter sido
projetado sem considerar os impactos que poderia ocasionar aos seus arredores.
Na APAC Santa Luzia, apesar de pouca urbanização no seu entorno, houve a
preocupação de se criar uma praça para acolhimento aos visitantes, aos familiares, e
a comunidade no geral. O projeto para ser integrado deve ser pensado para acolher
todos os usuários e vizinhos do entorno, independente da época em que foi feito,
tendo em vista que o meio urbano se expande, como ocorreu com o entorno do PRPF,
antes pouco urbanizado e hoje um bairro com uma grande quantidade de moradores.
O mesmo vem ocorrendo com a APAC Santa Luzia, localizada na área urbana
do município e já passando por um tímido processo de urbanização do seu entorno.
A tendência da cidade é a sua evolução nos arredores destes equipamentos que
devem ser planejados para a integração com o seu entorno a fim de se minimizar os
impactos sociais, urbanos e arquitetônicos com a cidade e seus moradores.

2.3.2. Conclusões Analíticas sobre ocupação e apropriação dos espaços


construídos

A arquitetura prisional está inserida em um ambiente sócio-político, mas acima


de tudo, humano e deve ser entendida como uma conexão entre os dois significados
(HOHNEN et al., 2012). As penitenciárias podem ser entendidas como o contexto
social e espacial no qual a pena privativa de liberdade e a punição ocorrem, devendo
ser, ao mesmo tempo, um ambiente capaz de ressocializar o indivíduo, a partir de
aspectos sociológicos e psicológicos (FIKFAK et al., 2015). Além destas
164

características citadas anteriormente, é de fundamental importância avaliar a


qualidade do ambiente no qual o apenado passa a maior parte do seu tempo, a fim de
analisar as condições estruturais, arquitetônicas e sociais na qual ele se insere,
considerando as relações ambientais no comportamento humano. A partir destas
premissas serão avaliados alguns registros fotográficos do Presídio Regional de
Passo Fundo e da APAC Santa Luzia, elucidando e avaliando espaços do pátio e das
celas. A escolha destes dois espaços se justifica pelo fato de que os
detentos/recuperando ficam nestes espaços grande parte do seu tempo.
A primeira área a ser apresentada será o pátio, local onde os apenados passam
o tempo do banho de sol diário e recebem a visita de seus familiares. O Presídio
Regional de Passo Fundo – RS possui dois pátios para o regime fechado, um deles
com área coberta para atividades em dias de chuva ou proteção para dias de muito
sol. A Figura 89 demonstra os registros fotográficos do pátio 1 e suas condições
estruturais.

Figura 89 – Pátio de sol 1 Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: CCSP, 2019.

A partir da Figura 89 é possível avaliar a precariedade da cobertura do Presídio


Regional e a falta de manutenção externa nas edificações. Neste pátio é possível
encontrar um espaço com vegetação rasteira, uma alternativa para melhorar a
ambiência do espaço, tão degradado e marginalizado. A Figura 90 apresenta o pátio
2, ainda mais degradado e sem condições higiênicas para receber familiares e
crianças em dias de visita.
165

Figura 90 - Pátio de sol 2 Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: CCSP, 2019.

Diferente do demonstrado no PRPF, a APAC Santa Luzia/MG trabalha


diferentemente as relações entre homem e ambiente. A metodologia acredita que os
espaços devem ser humanizados, sem perder as características de um presídio,
porém o uso de cores, a presença de vegetações, a higiene dos espaços e o respeito
e cuidado com os lugares, favorecem no processo de ressocialização do apenado.
Fikfak et. al. (2015) reforça esta ideia dizendo que a aparência de uma prisão
deve fornecer duas mensagens: a primeira é de que os indivíduos ali presentes estão
em cumprimento de pena, e a segunda é que estes mesmos indivíduos merecem uma
segunda chance. A Figura 91 demonstra o pátio do regime fechado da APAC Santa
Luzia.

Figura 91 – Pátio regime fechado APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Acervo da autora, 2019.


166

A imagem anterior rememora os conceitos da Psicologia Ambiental


denominados “apego” ao espaço e “apropriação”, onde cada recuperando cuida e
transforma o espaço como se fosse seu (CAVALCANTE; ELIAS, 2011; ELALI;
MEDEIROS, 2011), valorizando as oportunidades que o sistema tradicional não
ofertava. A Figura 92 demonstra outras visuais do pátio central do regime fechado da
APAC Santa Luzia – MG.

Figura 92 – Pátio central regime fechado APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

Ainda conforme as imagens anteriormente apresentadas, é perceptível o


tratamento espacial diferenciado entre uma instituição e outra. A APAC explora as
massas vegetativas em seus pátios, a “relação entre interior e exterior, a diversidade
de pátios, a questão da vista, a possibilidade de diversos usos” (Entrevistado 7), ela
oferece espaços mais amplos e para um menor contingente populacional que o
Presídio de Passo Fundo, onde dois pequenos pátios sem a integração existente na
APAC, devem suprir a demanda de mais de 700 detentos. O prédio da APAC Santa
Luzia, diferencia-se pelo fato de que “Ele é um prédio que permite uma riqueza de
apropriações que uma penitenciária comum por exemplo pátio central não permite [...]
a APAC tem um ambiente mais leve, mais aberto, tudo isso é muito bom
né...”(Entrevistado 7).
E são estas descrições projetuais, aliadas ao uso destes espaços que implicam
e são fundamentais no processo restaurativo do apenado, onde o indivíduo pode
sentir-se estimulado ou desestimulado a tomar a consciência de seu erro.

Mesmo dentro do sistema prisional convencional, mesmo que ele tenha essa
consciência, de repente, opa... eu fiz uma merda da minha vida e eu cometi
um crime, eu fiz mal, eu estou arrependido... lá ele não vai ter condições para
167

que ele faça essa reflexão e para que ele retome o caminho, porque lá ele vai
ter que fazer acordos, ele vai ter que aliar, ele vai ter que fazer pactos de
silêncio, ele vai ter que testemunhar coisas pra se manter vivo e se omitir, ou
seja lá vai tirando dele aquele despertar da consciência que houve inicial da
mudança de vida da consciência pra dizer: olha eu fiz algo errado? É mas
aqui dentro também demanda fazer coisas muito piores (Entrevistado 6)

E as vivencias dentro de um presídio do sistema tradicional controlam


plenamente o modo como os espaços são utilizados por estes detentos. Por exemplo,
as celas, “O preso passa dentro da cela em torno de 22 horas... 21 mais
especificamente por que eles têm um horário de banho de sol” (Entrevistado 3), e a
grande questão que gira em torno disto é: há alguma condição de um indivíduo que
passa 21 horas do seu dia ocioso, dentro de uma cela nas condições que são
retratadas na Figura 93, se ressocializar?

Figura 93 – Cela regime fechado Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Fonte: CCSP, 2020.

Estas celas, projetadas para 4 detentos, já abrigam cerca de 15 apenados, e a


estrutura com mais de 40 anos, não acompanhou o aumento populacional e nem a
criação de normativas na área da Arquitetura Penal, encontrando-se obsoletas e
completamente degradadas. O projeto das celas do Presídio Regional de Passo
Fundo não apresenta problemas, pois via de regra 4 apenados possuem camas e
banheiro dentro da cela, mas e como este espaço vem sendo utilizado? O problema
central está na quantidade de pessoas dentro dos espaços, e é esta quantidade que
reflete no modo com os detentos vão agir com o ambiente projetado.
A cela, ou alojamento, consiste no espaço penitenciário básico e impacta
constantemente no processo de ressocialização dos indivíduos, uma vez que a
168

organização espacial, a capacidade, os mobiliários e equipamentos e as condições


de salubridade, influenciam nas atitudes do homem (FIKFAK et. al., 2015).
Segundo estas premissas, as celas do Presídio Regional tornam-se espaços
que auxiliam cada vez mais no aumento do crime, da violência e da reincidência
considerando o número de apenados em um único espaço, o tempo de permanência
nestas celas sem a produção laboral ou estudo e a falta de higiene e salubridade no
ambiente como um todo. Um ambiente com tais características influencia
negativamente no comportamento deste apenado, fazendo com que o mesmo não se
aproprie dos espaços e não cuide daquilo que não lhe traz nenhum vínculo afetivo.
Durante as 21 horas de ociosidade dentro destes 12m², os, em média, 10/15
homens em cumprimento de pena transformam o lugar conforme suas necessidades,
o local para dormir é por rodízios pois não há espaço para 10/15 colchões no chão e
há também o sorteio do detento que ficará próximo a latrina (imagem 2 da Figura 93).
Alguns detentos colocam suas finas espumas que são utilizadas como colchões,
embaixo do beliche de concreto, vagando espaços no corredor da cela para mais
“colchões”.
A alimentação também se passa dentro das celas, muitos cozinham ali mesmo,
utilizando resistências e “gatos”66 no sistema elétrico para o improviso de pequenos
fogões em suas cozinhas improvisadas. Se a análise for um pouco mais afundo e nos
questionarmos sobre como ocorre a higienização pessoal destes 15 homens dentro
da mesma cela com somente uma latrina (em muitos casos já entupida) e um chuveiro
entenderíamos os diferentes tipos de vandalismos que são feitos na infraestrutura das
celas. Buracos são cavados para a passagem de drogas a outras celas; fiações
elétricas são deterioradas para ligar ventiladores pois o calor e o cheiro destes
espaços são intoleráveis; infiltrações já são comuns devido ao tempo e a falta de
manutenção; a proliferação de doenças e bactérias pela falta de higiene; dentre muitos
outros fatores que são entendidos como pontos negativos no processo de
ressocialização destes apenados.
E o cenário caótico estende-se também para as famílias, esposas, mães, filhos
destes detentos. “A visita íntima ocorre na cela né então como todos os presos estão
no pátio tem um horário predestinado já, uma hora, pra cada casal, então a esposa
vem e eles vão para uma cela” (Entrevistado 1). E todas as narrativas sobre o Presídio

66 Ligações feitas na rede elétrica das celas, aumentando as fiações.


169

Regional de Passo Fundo resultam em somente um dado: “Analisando desde 2011 a


hoje 2019, 80% dos presos voltam” (Entrevistado 3).
Em outra ótica de análise e de realidade, tem-se a APAC, onde o mesmo apego
e apropriação encontrado nos espaços de uso comum podem ser visualizados nas
celas de cada recuperando e em seus espaços de uso pessoas. A metodologia prega
pela organização e higiene das celas, devendo ser o recuperando o responsável por
seus pertences e pela limpeza das celas conforme escala. Os armários com as roupas
e artigos pessoas dos recuperandos passam por vistoria diariamente, sendo passível
de faltas leves ou médias aquele apenado que não manter seus itens dentro do padrão
de organização. As camas devem sempre estar organizadas, os banheiros limpos e
as roupas dobradas. A Figura 94 corrobora com as informações anteriormente
mencionadas.

Figura 94 – Cela regime fechado APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

O projeto da unidade APAC, por ser mais atual, e por ter recebido auxilio
econômico federal e estadual, enquadrou-se em normativas federais e estaduais67,
desta forma nota-se um melhor dimensionamento das celas se comparadas as do
Presídio de Passo Fundo. Também nota-se a individualidade presente nas celas, onde

67 Conforme depoimento do entrevistado 7, a APAC enquadrou-se em regras federais, seguindo


algumas regras da Resolução 9/2011 (Diretrizes Básicas para a Arquitetura Penal), bem como normas
do Estado de Minas Gerais para a construção de estabelecimentos Penais, além de normativas da
própria metodologia APAC.
170

cada recuperando possui seu espaço próprio, com seus armários, sua cama e
banheiros adequados e higiênicos.
Mas por quais motivos as instalações, e a realidade de uma APAC se difere
tanto de um presídio do sistema tradicional, como é o caso do Presídio Regional de
Passo Fundo? “Isso pra mim é um termômetro, se a APAC ta fazendo um bom
trabalho e se ta surtindo efeito isso vem como consequência [...] se ele (o
recuperando) não limpa por dentro, ele começa a sujar por fora” (Entrevistado 6).
Ademais a metodologia não submete o recuperando aos extremos de vivência
coletiva que muitos estabelecimentos penais sujeitam. Novamente aborda-se as
adequações do projeto das celas destes locais, na APAC não é diferente. O projeto é
adequado e na APAC Santa Luzia o uso destes espaços também se faz de maneira
correta, onde as celas não ultrapassam o número total de camas, cada recuperando
tem o seu colchão, o seu armário e os banheiros foram projetados como qualquer
residência, com louças e não latrinas como o sistema tradicional utiliza, devolvendo a
dignidade deste recuperando até em seus momentos de higiene.
A Figura 95 exibe outros registros fotográficos de celas do regime fechado, com
foco na qualidade e higiene dos banheiros.

Figura 95 – Cela regime fechado APAC Santa Luzia/MG.

Fonte: Acervo da autora, 2019.

A análise da qualidade dos ambientes permitiu a conclusão de que um bom


projeto arquitetônico permite uma maior integração dos apenados com as
funcionalidades e programa de necessidades do sistema, auxiliando a recuperação e
171

a ressocialização destes apenados, como demonstrado na APAC Santa Luzia. “Um


ambiente fétido, sem nenhuma higiene, rato você dividir espaço com rato e barata não
tem condição de você né... ser qualificado e nem tão pouco reintegra socialmente uma
pessoa” (Entrevistado 5).
O próximo capítulo irá apresentar os resultados obtidos em formulários
aplicados com apenados do Presídio Regional de Passo Fundo/RS e da APAC Santa
Luzia/MG acerca da infraestrutura dos estabelecimentos, bem como a opinião de
profissionais envolvidos no sistema penal.
172

CAPÍTULO 3. PERCEPÇÃO DOS INDIVÍDUOS AGENTES DO SISTEMA


CARCERÁRIO

O terceiro capítulo tem como objetivo analisar as maneiras que a arquitetura


penal impacta nas ações dos indivíduos envolvidos neste meio e quais as percepções
que os gestores possuem destes espaços. Para esta análise será retomada as
entrevistas realizadas com agentes especificados na metodologia de pesquisa, além
da descrição dos dados coletados juntamente com o Conselho da Comunidade do
Sistema Penitenciário de Passo Fundo e os formulários aplicados com os
recuperandos da APAC, que demonstram a realidade e os impactos sofridos pelo
sistema no qual estão inseridos.
Este capítulo sintetiza três objetivos específicos (analisar a legislação
relacionada à atuação, à gestão e aos espaços dos empreendimentos penitenciários
objetos de estudo desta dissertação; analisar a implantação dos equipamentos
penitenciários nas cidades de Passo Fundo e de Santa Luzia, em suas dimensões
arquitetônicas e relacionadas à inserção urbana; identificar a eficácia da estrutura das
penitenciárias a partir da percepção dos usuários e profissionais atuantes ) por meio
de entrevistas e coleta de dados que evidenciam a realidade do sistema penal, sob a
ótica de seus agentes.

3.1. PERCEPÇÕES DOS INDIVÍDUOS AGENTES: UMA ANÁLISE DA


INFRAESTRUTURA SOB A ÓTICA DOS DETENTOS DE PASSO FUNDO

O adendo ao formulário de entrevista ao preso, aplicado pelo Conselho da


Comunidade durantes os meses de maio e junho de 2019, resultaram no recolhimento
de 65 fichas amostrais com a classificação dos detentos sobre a infraestrutura
existente no Presídio Regional e no Instituto Penal, bem como a opinião dos apenados
sobre infraestruturas que deveriam ou não serem implantadas nestes
estabelecimentos. Para os espaços existentes, questionou-se a qualidade dos
mesmos solicitando a avaliação entre péssimo, regular ou bom68. Já as infraestruturas

68 Para esta classificação adotou-se as recomendações do Conselho da Comunidade, tendo em vista


que foi apresentado um primeiro questionário onde o detento deveria dar uma nota de 0 a 5 para as
mesmas infraestruturas elencadas no questionário aplicado. Porém, pelos anos de experiência e pelo
fato de não se poder fazer presente na aplicação destes questionários, o Conselho solicitou uma escala
173

inexistentes no presídio, solicitou-se ao detento que respondesse sim ou não para o


programa de necessidades criado baseando-se nas Diretrizes Básicas para a
Arquitetura Penal69.
No período de aplicação dos formulários, o Presídio Regional contava com 763
detentos, sendo entrevistada uma amostragem de aproximadamente 8,50% do total
de presos. A tabulação dos dados ocorreu da seguinte maneira: a resposta péssima
foi classificada como 1; a regular como 2; a bom como 3; e as respostas em branco
como 0. A Figura 96 apresenta a classificação das respostas atribuídas pelos detentos
do PRPF.

Figura 96 – Classificação das respostas no formulário do preso.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Cabe destacar a importância de avaliar as respostas nulas, tendo em vista o


receio dos apenados sofrerem repreensão de colegas por suas respostas. Estas
informações foram aplicadas no programa Excel e posteriormente trabalhadas no
programa JASP70, estabelecendo os cálculos de regressão conforme demonstrado a
seguir.
A Análise de Variância (Quadro 15), obtida através da estatística de Regressão
Linear, resultou no P-Value = 1.11670e-11 com valor de R² 0.77, que segundo Bardin
(2012) representa um nível de confiabilidade capaz de retratar a realidade de
desempenho do Presídio Regional de Passo Fundo/RS com 77% de exatidão.

de análise mais abrangente levando em consideração o nível de entendimento e escolaridade de muitos


detentos que responderiam as perguntas.
69 Foi seguido o padrão solicitado pelo MJ para os estabelecimentos penais criando um programa de

necessidades fictício, buscando saber a opinião e as vontades dos apenados em cumprimento de pena
em uma casa prisional anterior as normativas arquitetônicas.
70 O programa JASP é gratuito e possui o objetivo de analisar estatisticamente dados a fim de se criar

gráficos.
174

Quadro 15 – Regressão linear avaliação do Presídio Regional de Passo Fundo.

R R² R² RMSE R² F df1 df2 p Resíduos


ajustado modificado modificado
0.882 0.778 0.733 19.586 0.778 16.966 11 53 1.10675e- 936.650
13
Fonte: Dados coletados e tabulados pela autora, 2019.

A análise dos resultados considerou o intervalo de confiabilidade do cálculo de


Regressão Linear entre a variável dependente (presídio) com as demais perguntas
que foram consideradas como variáveis independentes, apresentadas no Quadro 16.
Esta fórmula gerou o valor “p” para cada uma destas variáveis, considerando o
coeficiente de confiabilidade de 95% (PRUNZEL et al., 2016).

Quadro 16 – Coeficiente de desempenho das infraestruturas existentes no Presídio Regional de


Passo Fundo – RS.

Variáveis independentes Valor - P 95%


Celas (CE) 0.230 4.222
Banheiros (BW) 0.075 15.721
Pátio de Sol (PT) 0.298 12.586
Refeitório (RF) 0.208 13.123
Salas de Oficinas (SO) 0.572 4.356
Salas de Aula (SA) 0.019 13.160
Unidade Básica de Saúde (UBS) 0.341 2.833
Locais de encontros com familiares/revista de 0.538 9.614
familiares (RF)
Locais de encontros Religiosos (LR) 0.592 4.508
Salas para Atendimento Social (SS) 0.909 7.467
Salas para Atendimento Jurídico (SJ) 0.183 12.075
Fonte: Dados coletados e tabulados pela autora, 2019.

A partir disto, foi possível elaborar a equação dos indicadores do nível de


eficiência das infraestruturas existentes no Presídio Regional de Passo Fundo/RS
(Equação 2). Esta equação consiste no somatório dos indicadores e variáveis
independentes multiplicados ao P-value contido na estatística de Regressão Linear
de cada uma das variáveis independentes, para mensurar quantitativamente as
condições das infraestruturas do presídio, resultando na avaliação de desempenho
IDP = 454,56. A seguir é apresentada a equação e a resolução da mesma com os
valores obtidos em análise.
175

Equação 2: Modelagem matemática de avaliação do PRPF.


k=65

IDP= ∑ (∑APD*P-value)
I=11
k = número de observações
I = número de variáveis independentes
IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes no PRPF
APD = aspectos das infraestruturas71
P-Value = valor-P de significância da análise de regressão linear

IDP = ((CE=111*0.230) + (BW = 106*0.075) + (PT = 114*0.298) + (RF = 49*0.208) + (SO = 68*0.572)
+ (SA = 158*0.019) + (UBS = 129*0.341) + (RF = 108*0.538) + (LR = 137*0.592) + (SS = 141*0.909) +
(SJ = 124*0.183)) = IDP = 454,56.

Com o resultado do IDP o próximo passo foi a sua aplicação na Equação 3, a


qual busca apresentar quantitativamente o percentual de desempenho das
infraestruturas existentes no Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

Equação 3: Percentual de desempenho do PRPF.


NDP
DPTC= *100
𝐼𝐷𝑃

DPTC = Desempenho das infraestruturas existentes no PRPF


IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes no PRPF
NDP = nível de desempenho potencial

Para a realização da Equação 3, gerou-se o percentual de desempenho do IDP,


que considerou o nível de desempenho máximo das infraestruturas (3) e estimou-se
o NDP (Nível de Desemprenho Potencial) de 2.14572 (100%).

DPTC = (454,56/2.145)*100
DPTC= 0,2119*100
DPTC= 21,19%

Com o desempenho de apenas 21,19% em todos os seus mais de 4.000m², o


Presídio Regional de Passo Fundo juntamente com o Instituto Penal de Passo Fundo,
enfrentam em níveis regionais o desmonte do sistema penitenciário tradicional,
reconhecido pelos altos índices de reincidência criminal, estruturas antigas e
depredadas, superlotação, fugas em massa, violência, entre outros fatores comuns a

71 Este valor consiste no somatório de todas as respostas dadas pelos 65 apenados para a determinada
infraestrutura.
72 Este valor consiste na somatória de todas as respostas das variáveis independentes, considerando

o valor 3 como resposta.


176

estes cenários. O baixo desempenho se principalmente à deve à falta de manutenção,


sendo este presídio uma edificação com mais de 40 anos, já obsoleta
tecnologicamente e funcionalmente se comparada com novas penitenciárias
estaduais e já bastante desgastadas estruturalmente, pela ação de depredação dos
detentos que ali permanecem.
A arquitetura penal desempenha um importante papel, refletindo mudanças
sociais em relação à criminalidade e à punição (JOHNSON, 2013), permitindo um bom
relacionamento entre funcionários, apenados e sociedade, oportunizando o
cumprimento de pena de forma digna (FAIRWEATHER; MCCONVILLE, 2000).
Porém, em um estabelecimento onde o desempenho de suas infraestruturas
apresenta um índice inferior a 25% seus efeitos não tendem a ser positivos e seus
prognósticos alarmantes.
Este nível de desempenho da edificação do Presídio Regional poderia ter
apresentado um índice inferior, se fossem acrescentadas as variáveis independentes
de todos os espaços que possuem na APAC Santa Luzia. Desta maneira, os detentos
avaliariam com a pior classificação ou deixariam as respostas em branco, fazendo
com que os níveis caíssem pela metade do apresentado, uma vez que o programa de
necessidades da APAC possui o dobro de espaços que o Presídio Regional de Passo
Fundo. Sem contar que os espaços semelhantes já são antigos, com problemas de
uso e, em sua grande maioria, deteriorados e superlotados.
A segunda parte do formulário de entrevista ao preso, sucedeu-se da seguinte
maneira: o apenado deveria responder se gostaria ou não que houvessem tais
infraestruturas no presídio, marcando sim ou não nas alternativas. A Figura 97
apresenta a classificação das respostas para as infraestruturas inexistentes ou
existentes em pouca quantidade.

Figura 97 - Classificação das respostas no formulário do preso para infraestruturas inexistentes.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


177

As alternativas que não obtiveram respostas também foram consideradas na


tabulação dos dados, podendo representar os detentos que estavam em dúvida com
suas respostas ou não responderam por medo de retaliação. Após a tabulação dos
dados, foram gerados gráficos no programa Excel73 facilitando a visualização das
respostas dos 65 apenados. Para a criação dos gráficos, foram divididas as
infraestruturas em grupos de 10, favorecendo uma análise mais detalhada dos itens
em estudo.
Para a elaboração do programa de necessidades dos formulários, foi
consultado o caderno de diretrizes para a Arquitetura Penal elaborado pelo Ministério
da Justiça, seguindo o programa base para uma penitenciária de segurança média. A
Figura 98 demonstra os primeiros 10 resultados obtidos na aplicação da segunda
etapa do formulário.

Figura 98 – Gráfico de escolha dos detentos as infraestruturas inexistentes no PRPF.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Em estudo ao primeiro gráfico apresentado, nos revela as dez primeiras


escolhas dos 65 apenados que participaram desta pesquisa. Um dos pontos que mais
chama atenção é a similaridade no número de detentos que acreditam ser necessário
um pátio para banhos de sol individual e aqueles que acham isto desnecessário. Cabe
lembrar que as normas do CNPCP exigem em penitenciárias de regime fechado, celas
coletivas e individuais, sendo necessário pátio de sol individual para estes apenados74.

73 Nesta etapa foi utilizado a regressão linear pois tratava-se de infraestruturas inexistentes e algumas
existentes, mas em pouca quantidade ou qualidade.
74 O PRPF não possui celas individuais pois já está superlotado e suas celas com capacidade para 4

detentos abrigam 10/15 pessoas.


178

Estes pátios também poderiam servir para detentos em estado de enfermidade,


possibilitando um tempo fora das celas, o que muitas vezes acaba não acontecendo
no caso do PRPF, por não poderem estar em contato com os demais.
De modo geral, o programa criado para melhorar a qualidade dos espaços
destinados aos familiares é bem-conceituado do ponto de vista dos detentos, já que a
base familiar é valorizada pelo encarcerado. A partir das respostas dos formulários,
alguns presos sentiram-se a vontade para relatar o descaso com suas esposas, filhos,
mães e afirmam o desejo de um tratamento mais digno aos familiares e uma
remodelação na infraestrutura precária para o recebimento dos mesmos.
A remodelação de celas também foi pauta no questionário, sendo que a maioria
gostaria que o presídio disponibilizasse celas adequadas para o número de apenados,
com banheiros e camas próprias para a população encarcerada. Novamente, destaca-
se a importância do projeto e do dimensionamento das celas de um presídio, sendo
estes ambientes grandes influenciadores na ressocialização e nas atitudes do homem
(FIKFAK et. al., 2015). Quatro respondentes garantiram que as celas nas quais
estavam, não possuíam grandes problemas e por isso optavam pela resposta não.
As maiores partes das escolhas de “sim” ficaram para as infraestruturas de
ensino, como a biblioteca e as salas de aula/oficina, atestando a aceitação por parte
dos apenados das oficinas laborais e educativas. Segundo Lemos, Mazzilli e Klering
(1998, p. 5), a educação e o trabalho prisional transformam-se em uma medida contra
os “desvios da imaginação”, desenvolvendo relações de poder e de ajustamento a um
aparelho de produção.
A seguir será apresentado, na Figura 99, os próximos 10 itens avaliados pelos
detentos do Presídio Regional de Passo Fundo.
179

Figura 99 – Gráfico 2 de escolha dos detentos as infraestruturas inexistentes no PRPF.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Conforme análise da figura anterior, os itens de maior representatividade


segundo a escolha dos detentos foram as salas para práticas religiosas, sala de
informática e quadra de esportes. Atualmente, o presídio conta com uma quadra
localizada no pátio de sol, onde também ocorrem as visitas e os encontros religiosos
ocorrem na mesma sala onde as professoras ministram as aulas da escola penal. Por
este motivo optou-se por colocar no programa estes espaços para explorar as
preferências dos apenados nas variáveis religiosas e esportivas.
As práticas religiosas são bem aceitas pelos detentos e há muito respeito dos
mesmos com os ministrantes dos cultos ecumênicos. Isso explica a quantidade de
votos “sim” para as salas projetadas para este fim. Na variável esportiva, notou-se
uma quantidade expressiva de votos “não” para a academia ao ar livre, retratando a
preferência por jogos em grupo à atividades individuais, como se sucedeu nos votos
para as celas individuais. As celas individuais, idem aos os pátios de sol individuais,
fazem parte das exigências das diretrizes para a Arquitetura e auxiliam na reclusão
de presos e em casos específicos presos enfermos.
Das infraestruturas com os votos “sim” ou “não” mais próximos encontrou-se o
berçário e creche, opção para penitenciárias femininas, mas que podem ser
implementadas como forma de auxiliar mães em dias de visita com crianças. Neste
mesmo item, um número considerável de detentos optou pelo voto nulo.
Em resumo, estes questionários e respectivas análises, beneficiam o processo
de criação projetual dos espaços penais, tendo vista que a consulta ao principal
usuário pode resultar em uma redução de custos, em uma adaptação do programa de
necessidades e posteriormente um melhor uso dos espaços, refletindo na
180

administração dos estabelecimentos, nos índices de reincidência criminal e no


cuidado e pertencimento com o ambiente.

3.2. PERCEPÇÕES DOS INDIVÍDUOS AGENTES: UMA ANÁLISE DA


INFRAESTRUTURA SOB A ÓTICA DOS RECUPERANDOS DE SANTA LUZIA

O formulário de entrevista aos recuperandos, aplicado aos apenados da


unidade APAC Santa Luzia durante visita técnica no mês de setembro de 2019
resultou no recolhimento de 15 fichas amostrais com a classificação dos recuperandos
sobre a infraestrutura existente na unidade APAC. Como já havia sido feita uma visita
em janeiro de 2019, já conhecia-se o programa de necessidades do local, sendo este
bem mais completo que o do Presídio Regional de Passo Fundo. Além disto, o
programa que formula a APAC Santa Luzia segue diretrizes federais do Ministério da
Justiça, diretrizes estaduais e normas exigidas pela metodologia e pelo órgão
fiscalizador FBAC. Por tais fatores justifica-se a aplicação de um formulário
diferenciado do aplicado no Presídio Regional, onde o programa é reduzido e muitas
normativas não são aplicadas.
No período75 de aplicação dos formulários, a APAC contava com 172
recuperandos, então calculou-se a quantidade de formulários necessários para se
obter uma porcentagem similar à obtida no Presídio Regional de Passo Fundo
(8,50%). Com 15 formulários aplicados se obteve 8,72% de opiniões do total de
recuperandos do estabelecimento penal, equiparando-se com o Presídio Regional.
Primeiramente, solicitou-se aos recuperandos a identificação de quais
infraestruturas existiam ou não no regime atual de cumprimento de pena. Esta
identificação ocorreu com a demarcação de sim ou não nas opções apresentadas.
Para as infraestruturas existentes a demarcação de sim direcionava o recuperando
para a próxima fase do formulário. Na segunda fase o recuperando deveria classificar
(Figura 100) a infraestrutura em péssima (1); regular (2) ou bom (3). Caso não
houvesse alguma infraestrutura na unidade a classificação seria nula (4)76.

75Setembro/2019.
76Foi informado o valor 4 para as respostas nulas pois o programa não estava computando valores
baixos, com poucos questionários aplicados.
181

Figura 100 - Classificação das respostas no formulário do recuperando.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A Análise de Variância (Quadro 17), obtida através da estatística de Regressão


Linear, resultou no P-Value = 1.11670e-11 com valor de R² 0.87, representando um
nível de confiabilidade capaz de retratar a realidade de desempenho da APAC Santa
Luzia/MG com 87% de exatidão.
Quadro 17 - Regressão linear avaliação da APAC Santa Luzia.

R R² R² RMSE R² F df1 df2 p Resíduos


ajustado modificado modificado
0.935 0.871 0.529 19.586 0.778 16.966 12 3 1.11670e- 291.733
11
Fonte: Dados coletados e tabulados pela autora, 2019.

A análise dos resultados considerou o intervalo de confiabilidade do cálculo de


Regressão Linear entre a variável dependente (APAC) com as demais perguntas que
foram consideradas como variáveis independentes, apresentadas no Quadro 18.

Quadro 18 - Coeficiente de desempenho das infraestruturas existentes na APAC Santa Luzia – MG.

Variáveis independentes Valor - P 95%


Sala de espera para visitantes (SV) 0.599 463.527
Locais de encontros com familiares/revista de 0.566 310.959
familiares (RF)
Sala de atendimento familiar (SF) 0.525 264.700
Espaço para recreação infantil (RI) 0.504 669.543
Pátios de Sol individuais (PT) 0.554 48.151
Salas de atendimento em grupo (SG) 0.377 342.849
Sala de barbearia (SB) 0.374 54.062
Área coberta (AC) 0.697 47.069
Celas com camas e banheiros próprios (CE) 0.494 19.241
Biblioteca (BI) 0.610 205.408
Salas de Aula (SA) 0.523 363.552
Salas de Oficinas/laborterapias (SO) 0.492 383.118
182

Sala de informática (IN) 0.714 481.539


Sala de encontro com a sociedade/ atendimento 0.483 18.149
social (AS)
Pátio de sol maior (PM) 0.610 14.478
Celas individuais (CI) 0.237 14.190
Berçário e creche (BC) 0.607 16.272
Quadra de esportes (QE) 0.226 11.113
Salas para práticas religiosas (SR) 0.375 19.690
Lavanderia (LA) 0.340 7.020
Salas para visita íntima (VI) 0.484 21.405
Academia ao ar livre/ coberta (AC) 0.703 28.339
Salas para Atendimento Jurídico (SJ) 0.323 13.631
Consultório Médico (CM) 0.381 11.763
Refeitório (RT) 0 0
Fonte: Dados coletados e tabulados pela autora, 2019.

A partir disto, foi possível elaborar a equação dos indicadores do nível de


funcionalidade das infraestruturas existentes na APAC Santa Luzia/MG (Equação 2).
A seguir mostra-se a equação e a resolução da mesma com os valores obtidos em
análise.

Equação 2: Modelagem matemática de avaliação da APAC.


k=15

IDP= ∑ (∑APD*P-value)
I=25
k = número de observações
I = número de variáveis independentes
IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes na APAC
APD = aspectos das infraestruturas77
P-Value = valor-P de significância da análise de regressão linear

IDP = ((SV=45*0.599) + (RF = 46*0.566) + (SF = 46*0.525) + (RI = 51*0.504) + (PT = 54*0.554) + (SG
= 46*0.377) + (SB = 43*0.374) + (AC = 45*0.697) + (CE = 44*0.494) + (BI = 42*0.610) + (SA=44*0.523)
+ (SO = 45*0.492) + (IN = 48*0.714) + (AS = 47*0.483) + (PM = 45*0.610) + (CI = 48*0.237) + (BC =
56*0.607) + (QE = 44*0.226) + (SR = 44*0.375) + (LA = 44*0.340) + (VI = 43*0.484) + (AC=37*0.703)
+ (SJ = 40*0.323) + (CM = 45*0.381) + (RT = 45*0)) = IDP = 516,35.

77 Este valor consiste no somatório de todas as respostas dadas pelos 65 apenados para a determinada
infraestrutura.
183

Com o resultado do IDP o próximo passo é a sua aplicação na Equação 3, a


qual busca apresentar quantitativamente o percentual de desempenho das
infraestruturas existentes na APAC Santa Luzia – MG.

Equação 3: Percentual de desempenho da APAC.


NDP
DPTC= *100
𝐼𝐷𝑃

DPTC = Desempenho das infraestruturas existentes na APAC


IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes na APAC
NDP = nível de desempenho potencial

Para a realização da Equação 3, gerou-se o percentual de desempenho do IDP,


que considerou o nível de desempenho máximo das infraestruturas (3) e estimou-se
o NDP (Nível de Desemprenho Potencial) de 1.12578 (100%).

DPTC = (516,35/1.125)*100
DPTC= 0,4589*100
DPTC= 45,89%

Como mencionado no tópico anterior, os programas possuem grande variância


em sua diversidade de espaços. O nível de desempenho da APC Santa Luzia é maior
que o do Presídio Regional por apresentar mais variáveis independentes e para uma
análise comparativa, optou-se por selecionar as mesmas variáveis da APAC, também
presentes no Presídio, para aí então chegar-se em um nível de desempenho de dois
programas iguais.
Os passos foram seguidos igualmente os descritos na análise do Presídio
Regional e na primeira análise da APAC. A Análise de Variância (Quadro 19), obtida
através da estatística de Regressão Linear com o ajuste nas variáveis independentes,
resultou no P-Value = 1.11670e-11 com valor de R² 0.86, representando um nível de
confiabilidade capaz de retratar a realidade de desempenho da APAC Santa Luzia/MG
com 86% de exatidão, para o programa semelhante ao do Presídio Regional.
Quadro 19 - Regressão linear avaliação 2 da APAC Santa Luzia.

R R² R² RMSE R² F df1 df2 p Resíduos


ajustado modificado modificado
0.928 0.862 0.414 19.586 0.778 16.966 10 5 1.11670e- 170,54
11
Fonte: Dados coletados e tabulados pela autora, 2019.

78Este valor consiste na somatória de todas as respostas das variáveis independentes, considerando
o valor 3 como resposta.
184

A análise dos resultados considerou as variáveis similares a do Presídio


Regional de Passo Fundo e os novos valores, apresentados no Quadro 20.

Quadro 20 - Coeficiente de desempenho das infraestruturas existentes na APAC Santa Luzia – MG.

Variáveis independentes Valor - P 95%


Locais de encontros com familiares/revista de 0.482 35,803
familiares (RF)
Celas com camas e banheiros próprios (CE) 0.893 23.772
Salas de Aula (SA) 0.490 21.583
Salas de Oficinas/laborterapias (SO) 0.805 19.617
Sala de encontro com a sociedade/ atendimento 0.439 20.550
social (AS)
Pátio de sol maior (PM) 0.961 11.995
Salas para práticas religiosas (SR) 0.493 12.578
Salas para Atendimento Jurídico (SJ) 0.748 12.672
Consultório Médico (CM) 0.755 8.023
Refeitório (RT) 0.567 33,880
Fonte: Dados coletados e tabulados pela autora, 2019.

A partir disto, foi possível elaborar a equação dos indicadores do nível de


funcionalidade das infraestruturas existentes na APAC Santa Luzia/MG relaciona com
a infraestrutura do Presídio de Passo Fundo (Equação 2). A seguir mostra-se a
equação e a resolução da mesma com os valores obtidos em análise.

Equação 2: Modelagem matemática de avaliação da APAC.


k=15

IDP= ∑ (∑APD*P-value)
I=10
k = número de observações
I = número de variáveis independentes
IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes na APAC
APD = aspectos das infraestruturas79
P-Value = valor-P de significância da análise de regressão linear

IDP = ((RF = 46*0.482) + (CE = 44*0.893) + (SA=44*0.490) + (SO = 45*0.805) + (AS = 47*0.439) + (PM
= 45*0.961) + (SR = 44*0.493) + (SJ = 40*0.748) + (CM = 45*0.755) + (RT = 45*0.567)) = IDP = 294,20.

79 Este valor consiste no somatório de todas as respostas dadas pelos 65 apenados para a determinada
infraestrutura.
185

Com o resultado do IDP o próximo passo é a sua aplicação na Equação 3, a


qual busca apresentar quantitativamente o percentual de desempenho das
infraestruturas existentes na APAC Santa Luzia/MG.

Equação 3: Percentual de desempenho da APAC.


NDP
DPTC= *100
𝐼𝐷𝑃

DPTC = Desempenho das infraestruturas existentes na APAC


IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes na APAC
NDP = nível de desempenho potencial

Para a realização da Equação 3, gerou-se o percentual de desempenho do IDP,


que considerou o nível de desempenho máximo das infraestruturas (3) e estimou-se
o NDP (Nível de Desemprenho Potencial) de 45080 (100%).

DPTC = (294,20/450)*100
DPTC= 0,6537*100
DPTC= 65,37%

A obtenção dos dois níveis de desempenho, a partir do mesmo programa de


necessidades, demonstra o desempenho da infraestrutura da unidade APAC Santa
Luzia, com seus mais de 65% de eficiência. Este alto índice, se comprado ao Presídio
Regional, explica-se pela aplicação de uma metodologia diferenciada, preconizando
princípios de humanização da pena sem o abandono do caráter punitivo.
A estrutura física da unidade é consideravelmente nova comparando-a ao
PRPF, não permitindo mais que 200 recuperandos no local, garantindo um adequado
uso dos espaços, com salubridade, higiene, relações entre o indivíduo e a natureza e
o respeito com os espaços em si. Estas positivas relações entre o recuperando o
ambiente refletem na eficiência dos espaços e da metodologia, com altos índices de
ressocialização.
O Presídio Regional de Passo Fundo/RS, está superlotado, com estruturas
deterioradas pelo tempo de uso e pelas poucas reformas, enfrenta fugas em massa,
problemas administrativos, reincidência criminal, dentre outros, resultando assim em
um índice inferior a 25%. Ademais, os usos dos espaços penais do Presídio Regional
não condizem mais com o projeto inicial do estabelecimento, descaracterizando o

80Este valor consiste na somatória de todas as respostas das variáveis independentes, considerando
o valor 3 como resposta.
186

objetivo principal do presídio e resultando em uma baixa eficiência de sua


infraestrutura.
Além do mais, a opinião do usuário sobre os espaços, ou seja, quais os
entendimentos do apenado sobre os espaços no qual ele se insere, não foram levadas
em consideração na etapa projetual e de uso e ocupação. Sendo assim, como ele
participa da modificação e da criação destes espaços?
Ressaltando tal ideia, o estudo The Creative Prison, realizado em 2006,
debateu sobre as problemáticas do excedente populacional, mas, sobretudo,
destacou a importância de se ter o contato com os usuários do sistema penitenciário
a fim de se chegar as inconformidades vistas pelo agente do sistema (ESTECA, 2017).
Neste estudo, realizou-se a consulta de detentos e funcionários buscando uma maior
eficiência dos projetos arquitetônicos, identificando as principais questões
relacionadas com o espaço construído e as adversidades para solucionar estes
problemas (ESTECA, 2017). Segundo o estudo:

O pessoal das prisões sabem como o desenho e a organização do espaço


ajudam ou dificultam suas tarefas diárias”, enquanto “são os prisioneiros que
estão melhor localizados, como consumidores e usuários, para comentar
estas questões [o perfil, organização e tom dos edifícios prisionais em relação
a psicologia dos condenados] (RIDEOUT, 2006, p. 5).

Ademais, a arquitetura é entendida como um indicativo do funcionamento de


um estabelecimento penal, em termos de relações entre o homem e o arranjo
arquitetural, como também um fator atenuante das condições psicossociais das
pessoas (ESTECA, 2017). Desta forma, destaca-se a importância destas análises
para o início de debates sobre a humanização de espaços penais onde a opinião do
detento seja levada em conta, visando o desempenho potencial futuro das edificações
e do sucesso das relações entre indivíduo e ambiente resultando em índices cada vez
maiores de ressocialização.

3.3. PERCEPÇÕES DOS INDIVÍDUOS AGENTES: UMA ANÁLISE DO CENÁRIO


PENAL SOB A ÓTICA DE TÉCNICOS E GESTORES

A grande diferença de projetos arquitetônicos e o seu sucesso ou (in)sucesso


durante a etapa de uso e apropriação da obra, também ressaltado no estudo The
Creative Prison, é a preocupação em consultar os principais envolvidos/agentes do
187

sistema em que se está projetando, neste caso funcionários e detentos. Após a análise
dos formulários aplicados com os detentos do Presídio Regional de Passo Fundo/RS
e da APAC Santa Luzia/MG chegou-se em níveis de desempenho das infraestruturas
existentes em ambos os estabelecimentos, sob a ótica do apenado. Nesta etapa da
pesquisa será apresentado os resultados conquistados a partir de entrevistas com
gestores e técnicos dos dois distintos sistemas.
Para uma melhor explicação das respostas dos entrevistados, subdividiu-se as
perguntas estruturadas e apresentadas no APÊNDICE C em 3 variáveis, sendo estas:
- Variável infraestrutura: aborda as respostas obtidas para as questões de número 1;
2; 3; 9; 10; 12 e 14.
- Variável trabalho/educação: aborda as respostas obtidas para as questões de
número 5; 6 e 7.
- Variável ressocialização e relação homem e ambiente: aborda as respostas obtidas
para as questões de número 8; 11; 13; 15; 16; 17 e 18.
Cabe destacar que a pergunta de número 4 não foi utilizada por não apresentar
resultados pertinentes ao estudo. A seguir inicia-se a explanação das conversas com
gestores e técnicos relacionados ao Presídio Regional de Passo Fundo/RS.

3.3.1. Percepções e relatos dos indivíduos agentes

Construída em meados da década de 1970, a casa prisional do município de


Passo Fundo/RS, insere-se em um contexto histórico onde seu projeto arquitetônico
“Tinha toda uma concepção e não tinha uma legislação muito precisa, assim... Fazia
meio que dentro daquilo que a gente tinha como conhecimento da época e da
necessidade da ampliação” (Entrevistado 4).
Em contrapartida ao contexto apresentado no Presídio de Passo Fundo, o
projeto da APAC Santa Luzia, do ano de 2002, estava inserido em âmbito federal,
estadual e municipal e “É o resultado de uma negociação sabe, com muitas partes,
inclusive espacialmente falando porque essa APAC ela foge muito da regra de espaço
prisional em Minas, então foi muito negociado” (Entrevistado 7).
O processo de criação do projeto envolveu muitas discussões entre as partes
envolvidas, ordenando todas as normativas projetuais a fim de se chegar a um único
consenso:
188

O pessoal do Ministério da Justiça, na época, foi extremamente flexível foi até


surpreendente, eles estavam muito abertos sabe, para experimentação. A
dificuldade maior foi aqui no Estado por que o DEOP (Departamento de Obras
Públicas de Minas Gerais) tinha o departamento de projetistas de prisões e
já tinha uma prática longa né, e as regras e caderno de detalhamento, então
assim... já tinha uma cultura mais especifica dentro do DEOP e isso a gente
teve que discutir bastante (Entrevistado 7).

O grande espaço temporal entre ambos os projetos, evidenciam as mudanças


ocorridas em termos de legislações para a arquitetura penal e demonstram também
os diferentes modos de projetar, aprimorados conforme o passar do tempo, tendo
maiores exigências para o espaço prisional e exigindo mais do profissional projetista.
Por estes mais de 40 anos, a estrutura do Presídio Regional de Passo Fundo/RS
recebeu a implantação de novos anexos, além da reforma de áreas já existentes,
destacando:

A construção da Unidade Básica de Saúde por volta de 2016 pra 2017 com a
inauguração, os depósitos de alimentação e almoxarifado e o alojamento da
Brigada Militar na área externa intramuros ainda. A reestruturação do pátio
de visita, refeita a rede de esgoto e concretado o pátio onde as mulheres tem
o banho de sol e implantado grama em uma outra partezinha (Entrevistado
1).

Ademais, foram realizadas melhorias e ampliações também no Instituto Penal


de Passo Fundo, destacando-se construções no subsolo do novo pavilhão construído
em 2010, como por exemplo “Foi construído no subsolo do pavilhão, 3 salas de aula,
3 outras salas que estão sendo usadas, uma para uma fábrica de vassouras, a outra
para um depósito e a terceira então está sendo reformulada para uma cozinha geral”
(Entrevistado 1). E, da mesma forma que as manutenções ocorrem em uma edificação
de 42 anos, devem ocorrer em uma com 13 anos, a fim de manter a qualidade de seus
espaços. A unidade APAC Santa Luzia, em 2019, passou por uma grande
manutenção em suas instalações, conforme depoimento abaixo:

A APAC começou a passar por este processo de reformas pra visitas dos
governadores, que vieram o governador de Minas, os governadores do Sul e
do Sudeste e ai daí pra cá já começaram muitas mudanças, tipo assim de
melhorias mesmo, de pintar, estamos com um projeto agora pra fazer reforma
geral mesmo pra mexer na padaria, pra mexer nas oficinas lá embaixo, então
assim, daí pra cá teve a visita do Ministro da Justiça também (Entrevistado
6).

Estas reformas, manutenções e criação de novos espaços para os apenados


são de fundamental importância para a conservação dos espaços e da qualidade dos
189

projetos, mantendo os ambientes com características capazes de ressocializar, com


aspectos psicológicos, sociológicos, arquitetônicos e higiênicos (FIKFAK et al., 2015).
Contrariando essas colocações e as melhorias já feitas em suas estruturas, o
Presídio de Passo Fundo/RS encara problemas de superlotação e, principalmente,
problemas de comprometimento da infraestrutura já muito antiga, testemunhados a
partir do depoimento do Entrevistado 4:

Mas Passo Fundo... pelo contexto da arquitetura hoje, hoje ele é uma
estrutura bastante comprometida assim... a gente não diz que ele é um grau
de risco crítico, mas que ele é um grau de risco médio assim né... do ponto
de vista da estrutura. Mas por conta destas melhorias que vão fazendo ao
longo dos anos, vão arrumando algumas coisas né [...] alias, a 4° Região é a
pior região do estado, que é a região de Passo Fundo, é lamentável, mas
essa a situação deles hoje (Entrevistado 4).

Os relatos demonstrados anteriormente, repetiram-se com outros


entrevistados, quando o questionamento voltava-se para a infraestrutura atual do
presídio: “Nesse tempo que eu tô aqui é.… como que eu posso dizer... basicamente
é enxugar gelo” (Entrevistado 3). Relata-se, também, problemas hidráulicos, elétricos,
“Há infiltração, há pouco espaço, há enfim toda uma questão hidráulica e elétrica
comprometida, a parte hidráulica não sustenta hoje a capacidade que se tem [...] a
parte elétrica da mesma forma” (Entrevistado 1).
E quando o questionamento é feito sobre a infraestrutura das celas e
alojamentos, entendidos por Fikfak et. al., (2015), como sendo os espaços de maior
importância e impacto no processo de ressocialização do apenado, influenciando o
comportamento humano, os relatos sobre estes ambientes do Presídio de Passo
Fundo expõem a precariedade e os problemas no uso destes lugares, onde “O preso
passa dentro da cela em torno de 22 horas... 21 mais especificamente por que eles
têm um horário de banho de sol que a gente diz” (Entrevistado 3).
A seguir o principal relado sobre as celas do PRPF:

Além do número exorbitante do aumento da população carcerária tem


realmente o espaço físico né, hoje a gente tem celas que seriam pra 4 no
máximo 5 presos, tem de 15, tem celas com 20 presos, então seria realmente
o espaço físico [...] Existem algumas celas assim que tem um número menor
de presos devido ao planejamento de segurança né... que são aquelas celas
que dão pro muro, que possibilita fuga... mas também não diminui muito né,
são 10/12 presos [...] Nas celas existem buracos, túneis foram abertos então
a questão física tá bem degradante mesmo (Entrevistado 3).

Esta mesma análise pode ser feita na unidade APAC Santa Luzia “As celas do
fechado são ótimas, eu vejo como ambientes muito bons, bons mesmo. Do semiaberto
190

precisa de reforma, não tá bom. Do semiaberto trabalho externo pra mim tá precário,
ali já chegou no limite” (Entrevistado 6). E a unidade não enfrenta problemas de
superlotação como o Presídio Regional pois parte de princípios metodológicos:

A APAC ela oferece além da estrutura que tem alojamento pra todos com
dignidade, saneamento nem se fala, a parte jurídica, odontológica, a parte
pedagoga que nós temos escola que inclusive nessa parte nós temos até
faculdade e o convívio dele com o mundo externo vai se colocando a partir
de que nós também recebemos muitas visitas e que ele no convívio com
outras pessoas eles começam a ter vontade de se tornarem pessoas
melhores também [...] A diferença já começa com pelo tratamento do nome e
que no sistema comum eles tem um número o nome dele de batismo não é
mais importante [...] e a APAC a primeira coisa que resgara pra ele virar um
cidadão é o nome de batismo (Entrevistado 5).

E nesta estrutura de mais de 7.000m² construídos “Tem espaço pra tudo que
você quiser, tudo que a gente quiser desenvolver a gente vai ter espaço, tem espaço,
foi pensado em espaço pra tudo” (Entrevistado 6). Projetualmente, possui
características espaciais únicas e dificilmente vistas em projetos penais no Brasil:

A relação entre interior e exterior, a diversidade de pátios, a questão da vista,


a possibilidade de diversos usos [...] ele é um prédio que permite uma riqueza
de apropriações que uma penitenciária comum por exemplo pátio central não
permite [...] a APAC tem um ambiente mais leve, mais aberto, tudo isso é
muito bom né... (Entrevistado 7).

Entretendo, estas particularidades não demonstram total exatidão em seu


processo de criação, por exemplo, “Esse projeto tem muita compartimentação em um
certo sentido, tem muita sala e hoje eu acho que é possível pensar em coisas mais
integradas sabe... poderia até ser menor e com espaços até mais difusos”
(Entrevistado 7). Outra dificuldade enfrentada na unidade devido a proporção dos
espaços retrata-se a seguir:

A deficiência da APAC em ocupar estes espaços, estão por exemplo, como


eu tava te falando, a APAC é deficiente com equipe e a APAC Santa Luzia
não pode requerer uma equipe diferente por que nós temos um prédio
diferente [..] pra segurança o espaço não favorece, tendo em vista não o
espaço em si, é a minha capacidade de locomoção, de ocupação, de estar
presente em todos os espaços com a equipe de funcionários que eu tenho, e
depois a dificuldade de parcerias (Entrevistado 6).

Metodologicamente, a APAC ainda diferencia-se do sistema tradicional por


fatores como:

Ele (detento) chega na APAC e ele se torna ou ele é convidado a se tornar


protagonista da sua execução e a primeira coisa que acontece com ele
191

quando chega na APAC é a tomada de consciência, a APAC trabalha com a


terapia da realidade o próprio nome já diz Associação de Proteção e
Assistência aos Condenados, nós partimos do princípio que aqui não tem
inocente [...] Ele chega na APAC, ele tem que romper com o crime, porque
na APAC ele vai ter que segurar a chave, na APAC ele vai ter que fazer parte
do conselho, na APAC ele vai ter que romper com o código de conduta que
existe do X9 [...] Então a metodologia APAC, e a gente fala isso com muita
segurança, a gente quer ser uma alternativa, e tem sido uma alternativa para
o sistema prisional. Acho que nós estamos ainda longe de ser uma solução
(Entrevistado 6).

Um dos pontos, e grande diferencial da metodologia, é a disciplina que os


recuperandos devem ter diariamente “Aqui é obrigatório levantar cedo, participar da
oração da manhã e ir para a laborterapia e nós temo um quadro né, um quadro
disciplinar e alí é a avaliado todos os recuperandos que aqui se encontram”
(Entrevistado 5).
As laborterapias surgem com o intuito de “Despertar o sentimento de trabalho,
o sentimento de produzir algo bom, de produzir algo bonito” (Entrevistado 6), além de
ser um dos princípios básicos da metodologia APAC. “Aqui na APAC nós temos mais
a parte de trabalhos manuais, onde eles fazem cadeiras, as espreguiçadeiras,
quadros, relógios, pintura... pintura aqui é muito forte eles têm uma coisa com pintura
que eu não sabia que eles tinham tanta vocação” (Entrevistado 5).
O Presídio Regional de Passo Fundo, mais precisamente o Instituto Penal,
conta com oficina de produção de vassouras de garrafas PET, feitas pelos apenados
do regime semiaberto, os quais também produzem sabão de glicerina e auxiliam na
construção de novas edificações na casa prisional. “Muitos (detentos do regime
semiaberto), embora não tenham perfil, querem vir para a equipe dos trabalhadores.
Outros tantos preferem a ociosidade mesmo” (Entrevistado 2).
O trabalho no decorrer do cumprimento da pena é entendido como uma
ferramenta contra os “desvios da imaginação” durante o tempo ocioso (LEMOS;
MAZZILLI; KLERING, 1998, p. 5) e é bem aceito por detentos “Inclusive tem lista de
espera” (Entrevistado 1). A atividade laboral proporciona ao indivíduo:

Primeiro, ocupação do tempo. Deve ser cruel uma pessoa aguardar o


cumprimento de pena em um tempo totalmente ocioso. Segundo porquê de
certa forma proporciona uma profissionalização né. Terceiro a questão da
remissão, o preso a cada três dias trabalhado diminui um da pena [...] fazer
com que o preso identifique no trabalho algo positivo, que isso melhore
também a autoestima, pra saber que ele tem capacidade de produzir alguma
coisa (Entrevistado 2).

Ademais, as oficinas laborais transforam o indivíduo:


192

Há uma transformação da pessoa né, dos seus conceitos enfim, daquilo que
se espera, das suas percepções; das suas expectativas; acabam criando
expectativas; o comportamento acaba se tornando um pouco mais “normal”
do que o restante da população; o linguajar acaba mudando; a conduta; a
forma de se comportar [...] esse contato faz com que também a pessoa já se
predisponha a ter perspectivas de saída [...] Se a pessoa ta ociosa tem tempo
pra pensar nas situações enfim até de caráter criminoso (Entrevistado 1).

Na aplicação da metodologia APAC, as laborterapias também causam


mudanças no comportamento do recuperando:

A primeira questão que eu acho que é perceptível, pra mim, é a sensibilidade,


a pessoa que se desperta pra qualquer trabalho, seja artístico, seja uma
produção laborterápica mesmo de um pequeno artesanato, a sensibilidade
dele muda, quando a sensibilidade dele muda isso muda a maneira dele
relacionar com o colega, a maneira dele relacionar com a família, a maneira
de relacionar com o próprio Deus entendeu [...] quando a metodologia ta
fazendo efeito nele ele passa a ser mais ponderado (Entrevistado 6).

Não diferindo das oficinas laborais, a educação, direito garantido pelo Art. 41
da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984), também deve ser ofertada como forma de
transformação individual e social, dando ao detendo a oportunidade de uma
alfabetização e formação no ambiente penal:

Na prática nós temos 30, 40 pessoas né mas estão matriculados mais de 100,
110 dos quase 800 [...] cerca de 60, 70 pessoas levam o material para estudar
nas celas e só vem fazer a prova no último dia. Então teria uma procura muito
maior só que não tem a possibilidade por que não tem os espaços
(Entrevistado 1).

O relato anterior refere-se ao Presídio Regional de Passo Fundo e levanta uma


das principais questões do sistema tradicional: como ressocializar um indivíduo no
sistema tradicional se falta espaço? Há 110 detentos inscritos na escola do Presídio
e o espaço físico só permite que 40 frequentem as aulas, como os demais vão se
alfabetizar sem o acesso aos professores? O estudo tem um resultado efetivo se
realizado dentro de uma cela com 15 pessoas?
O grande dilema do Presídio Regional é a forma como os espaços são
utilizados, a forma como os espaços foram sendo apropriados pelos indivíduos e a
acomodação de um estado que não busca a ampliação destas infraestruturas, não
busca a criação de mais salas de aulas para estes 70 homens que querem estudar e
se deparam com a falta de espaço nas salas de aula do estabelecimento penal.
Em contrapartida, a metodologia APAC exige que todos os seus recuperandos
estudem “Ele não pode ficar ocioso, ele não tem querer aqui. Ele já vem ele tem que
193

estudar, é obrigatório até o fundamental (Entrevistado 5), e os resultados podem ser


observados no depoimento a seguir:

Agora quanto ao estudo, eu acho que é a parte mais fantástica que nós temos
aqui, porque quando ele chega, normalmente ele fala: “não quero fazer nada”,
ou então tem vergonha de dizer... Nós já tivemos aqui pessoas que tinham
vergonha de dizer que não sabiam assinar o nome e que saíram daqui
alfabetizados (Entrevistado 5).

Isto ocorre, pois, os espaços em uma APAC comportam a demanda do local,


unidades para até 200 recuperandos não recebem o 201° apenado. A metodologia
compreende que o ambiente atua constantemente no modo como percebemos,
sentimos e agimos aos fatores físicos e normativos (VERDUGO, 2005). Ou seja, o
ambiente influencia nas relações e no comportamento humano “Se você vive
violência, você só vai apresentar o comportamento de violência, se você vive
criminalidade você vai apresentar comportamento criminoso” (Entrevistado 2). Desta
maneira:

“O espaço onde estas pessoas estão inseridas é o que transforma o perfil do


preso, então dependendo do tipo de unidade e dependendo do tipo de
concepção que tu dá, de forma de ocupação ou a forma como tu faz a
mobilidade dentro da unidade, onde tu faz toda a movimentação... isso tem
um impacto direto na relação e nos índices de criminalidade que tu tem lá
fora” (Entrevistado 4).

A opinião de gestores que participam do sistema tradicional sobre a


ressocialização dentro dos estabelecimentos penais pode ser identificada a seguir:

Nós não temos como pensar que a ressocialização está sendo feita pelo
estado, aquele que não delinquiu é por mérito próprio por que por parte do
estado nada está sendo feito e os espaços em nenhum momento, em
nenhuma circunstância tem colaborado para a ressocialização pelo contrário
ele tem colaborado pra loucura, pra psicoses e outros tipos de situações
mentais oriundas dos transtornos causados pelo cárcere (Entrevistado 1).

A busca pela ressocialização abrange inúmeros fatores, um deles muito citado


nas entrevistas foi a qualidade dos projetos arquitetônicos de estabelecimentos
prisionais. Neste sentido, a arquitetura penal cumpre com um papel fundamental,
retratando mudanças sociais e oportunizando o cumprimento da pena de maneira
digna (FAIRWEATHER; MCCONVILLE, 2000; JOHNSON, 2013).

Eu acho que a questão da arquitetura é o que que ela permite e o que que
ela não permite, então eu acho que ela influencia [...] o espaço prisional ele
influencia eu acho que ele permite coisas e nega outras né e até a questão
194

da subversão, da resistência, da destruição, essas regras elas podem gerar


várias reações [...] eu acredito na questão da arquitetura mais fraca, que ela
abra mais possibilidades pros recuperandos de apropriação [...] isso
pressupõem então mais ações deles nos espaços, é uma relação mais ativa
com o espaço e não o espaço que quer só controlar (Entrevistado 7).

Essa dinâmica entre os espaços e os recuperandos da APAC Santa Luzia, a


qualidade com relação ao projeto da unidade se comparado com o sistema tradicional
ainda gera discussões sociais acerca do assunto, “Se os presos tem um espaço bom
ta errado, a verdade é essa, as pessoas pensam assim [...] é a mentalidade punitiva,
é a mentalidade de vingança, mentalidade violenta né, do estado, de uma parcela da
própria população” (Entrevistado 7).
E muitas vezes a APAC é entendida como um “hotel 5 estrelas” cheia de luxo:

O luxo é não ter rebelião, o luxo é não ter tanta reincidência... isso é que é o
luxo... o espaço colabora, mas não é só o espaço [...] mas pra nós sai muito
mais barato porque cada rebelião eles quebram o prédio inteiro... tem que
reformar tudo, e na APAC não, e olha que a APAC já passou por momentos
tensos (Entrevistado 7).

Outro ponto de fundamental importância e que gera grande debate projetual e


social, envolvem a localização destes equipamentos urbanos.

“A gente sabe que membros de facções alugam casas próximas. Eles estão
recrutando crianças para fazer os arremessos e elas são pegas, presas então
tem semanas que sobe droga no telhado que chegam próximo aos 10kg, fora
os arremessos de cachaça né... mas hoje eu te garanto 100% que o presídio
tá numa área inviável... até pelo risco que a população corre” (Entrevistado
3).

E contrariamente a este depoimento tivemos o seguinte relato:

Eu acredito que tendo um aporte de segurança, independe aonde ele esteja.


Tu querer retira-los (os presos) da visão do resto da população é um erro,
que normalmente é cometido, e as pessoas não percebem que na verdade
eles são da sociedade. Todo preso entra fica uma temporada lá dentro, mas
ele sai [...] até um amigo falecido já sempre dizia assim “hoje o preso está
contido, amanhã ele está contigo [...] Longe ou perto ele está junto conosco
[...] Quanto mais afastado menos se vê, quanto menos se vê menos se lembra
por isso que também é uma das áreas menos investida, menos realizado
obras, modificações, investimentos” (Entrevistado 1).

O local de implantação é capaz de delinear impactos socais no ambiente


externo, influenciando a ressocialização dos usuários. Locais mais isolados dos
centros urbanos e próximos de áreas naturais, apresentam um efeito terapêutico
produzido pela paisagem. Porém, a acessibilidade, proximidade com meios de
195

transportes públicos, com aparelhos urbanos e com a população permitem menores


distâncias a serem percorridas pelos visitantes e uma melhor ligação com o meio
urbano, mas traz à tona as divergências sobre os sentimentos e pensamentos da
comunidade (JEWKES; MORAN, 2014).
Na perspectiva APAC, o depoimento do Entrevistado 7 levanta uma das
questões mais importantes no debate da localização de presídios, a urbanização das
cidades.

Eu defendo aproximar, assim aproximar com a lógica da APAC [...] a gente


tem um processo de urbanização extensiva então pra começar... já nem
existe mais o que que não é urbano né? Quer dizer você tem áreas mais ricas
e mais pobres, áreas mais adensadas e menos adensadas, mas é tudo
urbano né, começa por ai [...] Primeiro que a prisão ela tende a ser urbana
porque os crimes são urbanos (Entrevistado 7).

A análise urbana dos estabelecimentos penais demonstrou que apesar da


implantação destes equipamentos longe do meio urbano, a tendência é a urbanização
no entorno de presídios. Afastá-los significa a criação de áreas de baixa renda, ou
seja, áreas urbanas onde o preço do lote diferencia-se do centro da cidade, como
explicado por Villaça (2012). Ademais, exclusão em demasia desfavorece os
processos de ressocialização do encarcerado, que é um indivíduo da sociedade.
Os debates acerca da ressocialização e da possibilidade de ressocializar o
apenado dentro destes estabelecimentos prisionais, partindo das perspectivas de
usos adequados dos espaços prisionais, resultaram nas principais argumentações
descritas a seguir:

”Eu acredito que ressocialização só é possível na medida em que o apenado,


por mais dura e cruel que seja a pena, mas ele se sentir ser humano e
acolhido naquele ambiente, que aquele ambiente foi preparado pra que ele
se melhore pra que ele também encontre possibilidades de melhoria de
ressignificação da própria vida, de busca por se tornar melhor e que estes
espaços foram acolhedor e que as pessoas foram menos hostis, eu acredito
que a ressocialização neste sentido é possível” (Entrevistado 2).

“Para ressocializar um preso hoje, claro além da questão da escola aqui


dentro do presídio, a questão religiosa que isso contribui muito, muito mesmo
né, mas seria necessário a questão do trabalho prisional, industrias dentro da
casa prisional [...] É desumano ter uma cela com 15/20 presos onde eles
precisam se revezar até pra dormir... eu considero desumano” (Entrevistado
3).

“Isso é possível quando a gente humaniza a pessoa, quando a gente trata


ela com dignidade, quando a gente trata ela bem, quando consegue dar as
condições necessárias para o sujeito, respeita ele pelo nome, oferece
espaços corretos né de escola enfim de profissionalização [...] É importante
termos educação, trabalho, respeito as pessoas lá dentro e disciplina, nós
196

temos que ter um equilíbrio, atos de controle, mas ao mesmo tempo atos de
apoio também” (Entrevistado 1).

Na perspectiva de visualização de presídios ideias e se há realmente um


modelo a se seguir, em Passo Fundo colheu-se as seguintes opiniões:

“O presídio modelo ideal ele deve ser projetado pensando em todos os


espaços, celas onde que tenha um número suficiente de camas né eu acho
que uma convivência de 4 pra 8 pessoas no máximo por cela, eu acredito que
tem que ter dignidade então tem que ter o sanitário de louça, tem que ter o
chuveiro com água quente. Tem que ter a cobrança da higiene [...] espaços
onde seja proporcionado atividades laborais, atividades educacionais,
auditórios para ser realizado palestras, cursos, oficinas [...] pátio de sol
coberto com grades que evita arremessos, entrada de drogas, armas,
celulares né... mas além de tudo isso ter o aspecto humano né [...] É
fundamental que o espaço tenha de certo modo a metragem necessária, no
sentido de buscar a ressocialização se esses espaços não tem o mínimo não
tem como esperar que ele vai ter o mínimo também de retorno né, de voltar
pra uma introspecção e depois se sair melhor de dentro da casa prisional.”
(Entrevistado 1).

“Pavilhões de trabalho, acho que focar muito nesta questão do trabalho, da


ocupação, espaços ecumênicos para a prática da espiritualidade acho que é
muito importante, a questão de que mesmo sendo regime semiaberto fossem
alojamentos menores, com espaço adequado para as refeições [...] Celas
com limitação no número de pessoas, que fosse realmente cumprida a
limitação do número de apenados [...] Pátios de sol mais amplos, celas mais
arejadas... É impossível a pessoa viver bem sem ar, sem um ambiente
arejado, sem uma ventilação adequada [...] O preso ta preso, mas deveria ser
permitido ele olhar pro céu, ele olhar pra fora” (Entrevistado 2).

Em outra perspectiva, atuantes da metodologia APAC classificaram um


presídio ideal como:

Eu acho que a gente tem que ter espaços, seja de escolas, seja de igrejas,
seja de presídios que cumpra com a sua finalidade [...] qual que é o presídio
ideal... é o presídio que cumpra com a sua finalidade. Qual que é a finalidade
de um presídio? É punir e recuperar, é punir o cidadão pelo crime que ele
cometeu e fazer com que esse cidadão não volte a cometer outros delitos
(Entrevistado 6).

Eu defendo uma arquitetura fraca, exatamente que permita modificação e


apropriação por parte dos recuperandos. Os ideias de modelos prisionais
sempre foram o contrário disso né, é a arquitetura controlando as pessoas
né, eu acho que a gente tem que ter uma dinâmica de tratamento penal como
a APAC é e que permitam uma arquitetura fraca [...] na base de confiança,
de comprometimento, de participação (Entrevistado 7).

Outros depoimentos poderiam ser apresentados como forma de elucidação de


perspectivas para o sistema penal, opiniões com prós e contras o sistema tradicional,
da mesma maneira para a metodologia APAC. Porém, o foco do debate permeia por
sobre a temática do uso dos espaços penais de maneira adequada, além da
197

humanização de ambientes penais em busca da ressocialização do indivíduo. “Se


você coloca 1000 pessoas em uma prisão, você obviamente não está pensando em
tratamento penal adequado né” (Entrevistado 7).
Novamente destaca-se a importância de consultar as concepções da equipe
técnica dos estabelecimentos penais, em busca da identificação de questões
projetuais e as possíveis resoluções para tais problemas, do ponto de vista dos
agentes que vivenciam diariamente as particularidades e as dificuldades do sistema
(RIDEOUT, 2006; ESTECA, 2017). O Quadro 21 apresenta uma síntese das
entrevistas apresentada no tópico anterior.

Quadro 21 – Resumo das variáveis analisadas em entrevistas com gestores.

VARIÁVEL Presídio Regional de Passo Fundo APAC Santa Luzia


Reformas e anexos: UBS; depósitos de Reformas: pintura; projeto para reforma
alimentação e almoxarifado; alojamento geral; reforma padaria; reforma nas
da Brigada Militar; reestruturação do pátio oficinas.
INFRAESTRUTURA

de visita, rede de esgoto; concretado Celas: fechado são ótimas; semiaberto


pátio de sol mulheres. precisa de reforma; semiaberto trabalho
IPPF: 3 salas de aula, 1 sala fábrica de externo está precário.
vassouras, 1 depósito; 1 cozinha geral. Problemas: deficiência em ocupar
Celas: superlotadas; com buracos; espaços; compartimentação de espaços.
Problemas: infiltração; pouco espaço; Qualidades: relação interior x exterior;
hidráulica e elétrica. diversidade de pátios; a vista; diversos
usos; espaços arejados;
Poucos tem acesso, somente 40 assistem Laborterapias para todos.
EDUCAÇÃO
TRABALHO

as aulas, mas 110 matriculados, os Educação para todos.


demais estudam em celas por não ter
salas de aula.
Não tem oficinas para todos.
198

Nós não temos como pensar que a Eu acho que a questão da arquitetura é o
ressocialização está sendo feita pelo que que ela permite e o que que ela não
RELAÇÃO HOMEM X AMBIENTE estado, aquele que não delinquiu é por permite, então eu acho que ela influencia
RESSOCIALIZAÇÃO E

mérito próprio por que por parte do estado [...] o espaço prisional ele influencia eu
nada está sendo feito e os espaços em acho que ele permite coisas e nega outras
nenhum momento, em nenhuma né e até a questão da subversão, da
circunstância tem colaborado para a resistência, da destruição, essas regras
ressocialização pelo contrário ele tem elas podem gerar várias reações
colaborado pra loucura, pra psicoses e (Entrevistado 7)
outros tipos de situações mentais
oriundas dos transtornos causados pelo
cárcere (Entrevistado 1)
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O Quadro 21, de maneira resumida, demonstrou um panorama atual das duas


instituições conforme as visões dos gestores destes estabelecimentos. O Presídio
Regional, vem enfrentando problemas de ordem estruturais e ocupacionais, tendo
como problemáticas a falta de espaço para as atividades laborais e educacionais, a
falta de celas adequadas a todos os apenados em cumprimentos de pena na unidade,
instalações elétricas e hidráulicas já comprometidas pelo tempo e pelo mau uso pelos
detentos, dentre outras dificuldades apresentadas ao longo da pesquisa. Estes fatores
impactam negativamente nas relações entre o indivíduo e o ambiente, afetando na
ressocialização dos detentos e no uso e apropriação dos espaços construídos.
A APAC Santa Luzia também possui alguns pequenos problemas de ordem
estruturais, demonstrando que todos os estabelecimentos penais, apesar de sua
eficiência, também passam por dificuldades, mas buscam a resolução destas
problemáticas com a ajuda dos recuperandos, sempre em busca da humanização dos
espaços e da efetivação da metodologia. A diferença principal dos sistemas está no
tratamento dado ao detento e no modo como é entendido e como é apropriado os
espaços que compõem os programas penais em questão.
Os estudos e pesquisa acerca das problemáticas que envolvem a arquitetura
penal, devem tornar-se cada vez mais comuns visando a melhoria do cenário prisional
brasileiro, com o auxílio de todas as áreas de atuação a fim de qualificar cada vez
mais os projetos penais.
199

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realidade carcerária brasileira apresenta um sistema em crise e vários são os


fatores que favorecem este cenário. A superlotação; a falta de investimentos em novos
estabelecimentos; a violência; a presença e domínio de facções dentro e fora de
presídios; massacres; a demora do Poder Judiciário na realização de julgamentos;
altos índices de reincidência criminal; estruturas antigas e degradadas; caracterizam
algumas das causas do agravamento da crise penitenciária brasileira.
O problema da crise penitenciária foi abordado no paradigma arquitetônico, a
fim de se chegar as principais diferenças entre o sistema tradicional de cumprimento
de pena, representado pelo Presídio Regional de Passo Fundo/RS, e a metodologia
APAC, aqui estudado a unidade APAC Santa Luzia/MG.
Na análise arquitetônica foram apontados elementos comparativos entre os
estabelecimentos para analisar as relações entre o indivíduo encarcerado e o
ambiente por ele ocupado, considerando as mudanças comportamentais ocasionadas
pela estruturação do programa de necessidades do estabelecimento penal até a
ocupação destes espaços pelos apenados.
Projetualmente é visível o contraste dos dois programas estudados durante a
dissertação. A diferenciação do programa de necessidades entre os dois
estabelecimentos inicia pelo período em que foram criados. O Presídio Regional de
Passo Fundo atendeu as necessidades de sua época e a APAC Santa Luzia seguiu
com mais rigidez as normas de âmbito federal e estadual na sua construção, além dos
princípios básicos da metodologia exigidos pela FBAC.
Ambas as volumetrias apresentam simplicidade em sua composição formal,
estando inseridas em contextos urbanos diferenciados, de acordo com as
características das cidades da qual fazem parte. A análise urbana permitiu concluir
que a cidade tende a se desenvolver no entorno próximo às edificações penais, apesar
de serem espaços carregados de estigmas sociais. No entanto, a localização de
espaços penais no meio urbano não significa a sua integração com o entorno,
podendo representar hiatos no meio social.
Tomando conhecimento da organização espacial interna dos estabelecimentos
prisionais foi possível iniciar os estudos acerca dos setores de estudo, trabalho,
200

vivência coletiva e do setor das celas, principal componente arquitetônico do programa


penal por ser o local onde os detentos mais permanecem durante seus dias de
detenção.
A produção arquitetônica dos espaços penais que compõem o Presídio
Regional de Passo Fundo não pode ser entendida como um equívoco projetual, sendo
que para a época de criação o programa atendia a demanda local e representava a
“obra do século” para os moradores de Passo Fundo e região. Além do mais, o projeto
já contava com princípios da humanização dos espaços penais, preocupando-se com
a oferta de oficinas laborais aos apenados, celas adequadas para o número de
detentos da região, circulações amplas, dentre outras características.
A problemática central enfrentada no Presídio Regional de Passo Fundo, e em
muitos outros do país, defronta-se com a maneira na qual os espaços são utilizados,
descaracterizando o projeto original e deixando de preocupar-se com a qualidade dos
ambientes e com as influências mútuas entre o apenado e o espaço prisional. Sendo
assim as celas projetadas para quatro detentos e que agora já abriga quinze não é
mais capaz de ofertar, ou de se dizer, que ainda visa a humanização da pena.
O mesmo processo ocorre em espaços de uso comum, ou em ambientes
destinados a oficinas laborais, que pelo aumento considerável no número de
apenados agora transformou-se em um alojamento para 100 homens com apenas um
chuveiro e um vaso sanitário, descaracterizando o projeto original e o objetivo de um
estabelecimento penal prevê o cumprimento da pena e a reintegração social do
indivíduo. Destaca-se novamente o depoimento do entrevistado 6, que retrata a
dificuldade do sistema tradicional em ressocializar o apenado.

Mesmo dentro do sistema prisional convencional, mesmo que ele tenha essa
consciência, de repente, opa... eu fiz uma merda da minha vida e eu cometi
um crime, eu fiz mal, eu estou arrependido... lá ele não vai ter condições para
que ele faça essa reflexão e para que ele retome o caminho, porque lá ele vai
ter que fazer acordos, ele vai ter que aliar, ele vai ter que fazer pactos de
silêncio, ele vai ter que testemunhar coisas pra se manter vivo e se omitir, ou
seja lá vai tirando dele aquele despertar da consciência que houve inicial da
mudança de vida da consciência pra dizer: olha eu fiz algo errado? É mas
aqui dentro também demanda fazer coisas muito piores (Entrevistado 6).

Ainda que em menor proporção, as APACS vêm utilizando sua metodologia


voltada à ressocialização efetiva do recuperando e os resultados apresentados
revelam a contribuição positiva destas instituições para os índices de reincidência,
sendo um modelo para os demais estabelecimentos penais por favorecer a
201

humanização da pena e o regresso do indivíduo à sociedade. Tanto as APACS quanto


os presídios tradicionais são destinados ao cumprimento de pena conforme a Lei de
Execução Penal, sendo que nas APACS a LEP é praticada pois envolve os apenados
em atividades que evitem a ociosidade, comum no sistema tradicional.
Seus espaços, conforme análise realizada nesta pesquisa, contribuem para a
criação de uma rotina, onde os recuperandos passam o dia nas laborterapias,
estimulando a criatividade pessoal, além de frequentarem aula durante a parte da
noite. O fundamental é a existência de espaços para o acolhimento de todos os
recuperandos, salas de laborterapias voltadas para um grande pátio central com a
presença de massas vegetativas, explorando as relações entre interior e exterior e
salas de aula planejadas para este uso. Estas características não se alteram, pois, a
metodologia não permite que o número de apenados ultrapasse o total de vagas
estipuladas pelo criador do método.
As celas da APAC Santa Luzia, também contribuem positivamente na
ressocialização dos recuperandos, tendo em vista a adequação destes espaços e a
humanização dos mesmos se comparados as celas de uma penitenciária do sistema
tradicional. Na APAC não há a necessidade de acordos ou rotações para dormirem
em colchões ou usarem o banheiro, o projeto foi elaborado pensando na
individualidade dos recuperandos, diferenciando-se da realidade do sistema
tradicional. A metodologia exige a higiene das celas e dos espaços num todo,
oferecendo uma infraestrutura diferenciada da tradicional, mas cobrando a limpeza e
o cuidado com os espaços.
Em suma, o programa da APAC Santa Luzia favorece a ressocialização
efetivas dos recuperandos por aliarem as relações entre indivíduo e ambiente, a
humanização da pena e os princípios da metodologia, comprovada pelos baixos
índices de reincidência que variam de 10 a 15% enquanto que no sistema tradicional
este valor sobe para 70%, conforme dados apresentados ao longo da pesquisa. Além
do mais, destaca-se a vontade do apenado em estar verdadeiramente na APAC,
deixando para trás o criminoso e iniciando uma nova caminhada em busca de sua
ressocialização, ajudando o outro a conseguir a libertação do mundo do crime. A
presença e cobrança da família é também importante no sucesso da metodologia pois
a base familiar impede o retorno do indivíduo para o sistema tradicional.
A aplicação de formulários com os detentos do Presídio Regional de Passo
Fundo, com os recuperandos da APAC Santa Luzia e com os gestores e técnicos de
202

ambos os estabelecimentos possibilitou chegar ao nível de eficiência das edificações


penitenciárias, apresentando uma disparidade de mais de 40% entre os programas
de necessidade das duas instituições. A APAC Santa Luzia obteve um nível de
superioridade na avaliação de sua infraestrutura, sob a ótica dos recuperandos,
refletindo também nos baixos índices de reincidência criminal da metodologia.
Certamente é relevante a opinião do agente usuário na resolução de problemas
projetuais e estruturais já que são estes os principais conhecedores das
potencialidades e fragilidades dos programas.
Por fim, destaca-se a relevância na análise comparativa entre o sistema
penitenciário tradicional e a metodologia APAC por demonstrar que há a necessidade
de profissionais da área da arquitetura e urbanismo, se envolverem e pensarem na
humanização dos espaços mesmo em presídios tradicionais, buscando melhores
relações entre os apenados e o ambiente no qual se insere, agindo de maneira
positiva na busca pela ressocialização deste indivíduo resultando no cuidado com os
espaços e melhores apropriações e ocupações espaciais.

Dificuldades de pesquisa

Durante a pesquisa foram encontradas dificuldades para o acesso a dados de


projetos técnicos das duas unidades, justificadas pelos fatores de segurança que as
situações dos estabelecimentos exigem.

Sugestões de Pesquisa Futuras

A partir da análise do nível de desempenho das infraestruturas da APAC,


sugere-se estudos futuros que correlacionem estes espaços a programas
penitenciários internacionais, onde a arquitetura penal e as metodologias de
tratamento penal se assemelham à aplicada nas Associações de Proteção e
Assistência aos Condenados, buscando avaliar o seu enquadramento em padrões
internacionais.
203

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216

APÊNDICES

APÊNDICE A – ADENDO AO QUESTIONÁRIO A SER APLICADO AOS DETENTOS


PELO CONSELHO DA COMUNIDADE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DE PASSO
FUNDO.
FORMULÁRIO DE ENTREVISTA DO (A) PRESO (A)
COM RELAÇÃO AOS ITENS ABAIXO, IDENTIFIQUE O QUE ESTÁ PÉSSIMO, REGULAR OU BOM
NO ESTABELECIMENTO PRISIONAL.
INFRAESTRUTURA EXISTENTE PÉSSIMO REGULAR BOM
1. Celas
2. Banheiros
3. Pátio de sol
4. Refeitório
5. Salas de oficinas
6. Salas de aula
7. UBS
8. Locais de encontro com familiares
9. Locais de encontros religiosos
10. Salas para atendimento social
11. Salas para atendimento jurídico
Justificar infraestruturas péssimas:

COM RELAÇÃO AS PERGUNTAS ABAIXO, ASSINALE SIM PARA AS ATIVIDADES OU ESPAÇOS


QUE VOCÊ GOSTARIA QUE O PRESÍDIO OFERECESSE E NÃO PARA AS QUE NÃO GOSTARIA.
INFRAESTRUTURA
1. Sala de espera para visitantes SIM NÃO
2. Sala de atendimento familiar SIM NÃO
3. Espaço para recreação infantil SIM NÃO
4. Pátios de sol individuais SIM NÃO
5. Salas de atendimento em grupo SIM NÃO
6. Sala de barbearia SIM NÃO
7. Área coberta SIM NÃO
8. Celas com camas e banheiros SIM NÃO
adequados
9. Biblioteca SIM NÃO
10. Salas de aula SIM NÃO
11. Sala de informática SIM NÃO
12. Sala de encontro com a sociedade SIM NÃO
13. Pátio de sol maior SIM NÃO
14. Celas individuais SIM NÃO
15. Berçário e creche SIM NÃO
16. Quadra poliesportiva SIM NÃO
217

17. Salas para práticas religiosas SIM NÃO


18. Lavanderia SIM NÃO
19. Salas para visita íntima SIM NÃO
20. Academia ao ar livre SIM NÃO
218

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO A SER APLICADO AOS RECUPERANDOS DA


APAC SANTA LUZIA.
FORMULÁRIO DE ENTREVISTA AO RECUPERANDO
COM RELAÇÃO AOS ITENS ABAIXO, ASSINALE NÃO PARA AS INFRAESTRUTURAS
INEXISTENTES NA APAC E SIM PARA AS EXISTENTES. NOS ITENS EXISTENTES IDENTIFIQUE
O QUE ESTA PÉSSIMO, REGULAR OU BOM NA UNIDADE APAC SANTA LUZIA.
INFRAESTRUTURA EXISTENTE NÃO SIM PÉSSIMO REGULAR BOM
1. Sala de espera para visitantes
2. Locais de encontro com familiares/
revista de familiares
3. Sala de atendimento familiar
4. Espaço para recreação infantil
5. Pátios de sol individuais
6. Salas de atendimento em grupo
7. Sala de barbearia
8. Área coberta
9. Celas com camas e banheiros
(próprios para o número de pessoas)
10. Biblioteca
11. Salas de aula
12. Salas de oficinas/ laborterapias
13. Sala de informática
14. Sala de encontro com a sociedade
15. Pátio de sol maior
16. Celas individuais
17. Berçário e creche
18. Quadra poliesportiva
19. Salas para práticas religiosas
20. Lavanderia
21. Salas para visita íntima
22. Academia ao ar livre/ coberta
23. Salas para atendimento jurídico
24. Consultório Médico
25. Refeitório
Justificar infraestruturas péssimas:

Caso a APAC não tenha alguma infraestrutura listada anteriormente, liste a que você gostaria que
tivesse:

Liste as infraestruturas que a APAC oferece e não foram listadas anteriormente:


219

APÊNDICE C – PERGUNTAS ESTRUTURADAS PARA A ENTREVISTA COM


EQUIPES TÉCNICAS DO PRESÍDIO REGIONAL DE PASSO FUNDO E APAC
SANTA LUZIA

1. Durante seu tempo de atuação no seu cargo, quais as principais melhorias


foram realizadas no estabelecimento penal?
2. Quais dificuldades vocês enfrentam no estabelecimento penal?
3. Com relação a infraestrutura do estabelecimento penal, quais os principais
pontos positivos e negativos?
4. Em quais setores o estabelecimento penal se organiza?
5. As oficinas ofertadas são bem aceitas pelos detentos?
6. Quais as principais mudanças notadas nos indivíduos que participam destas
oficinas?
7. Em sua opinião, qual a importância de se ofertar oficinas laborais e
educacionais dentro do presídio?
8. As famílias participam de atividades internas?
9. Em relação a infraestrutura:
 Há espaços de recreação infantil para receber crianças em dias de
visitas?
 Como se configura os ambientes destinados as famílias, como exemplo
salas de espera, salas para encontros, etc?
 A cozinha e refeitório comportam a demanda do estabelecimento penal?
 Quais as condições gerais das celas?
10. Os espaços para os agentes penitenciários e funcionários em geral comportam
a demanda local?
11. Na sua opinião, como se conformaria um presídio modelo ideal?
12. Quais os espaços mais utilizados pelos detentos?
13. Os espaços que compõem o programa de necessidades do estabelecimento
são capazes de ressocializar o indivíduo? Eles estão dentro das Diretrizes
Básicas para Arquitetura Penal?
14. A localização do estabelecimento no meio urbano é adequada na sua
percepção?
15. Qual a relação dos indivíduos com o ambiente? (Relação de cuidado,
depredação)
220

16. Você acredita que um ambiente pode influenciar no comportamento humano?


Por que?
17. Quais as características que um ambiente deve possuir para ressocializar um
apenado?
18. Você acredita na humanização da pena e na ressocialização? Por que?
221

ANEXOS

ANEXO A – FORMULÁRIO DE ENTREVISTA DO PRESO FORMULADO E


APLICADO PELO CONSELHO DA COMUNIDADE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO
DE PASSO FUNDO
222
223

ANEXO B – FICHA DE ANÁLISE ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA DE


EDIFICAÇÕES
224
225
226
227

ANEXO C – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO PROJETO


DE PESQUISA
228

ANEXO D – IMAGEM AÉREA DO BAIRRO SÃO LUIZ GONZAGA BO ANO DE 1984,


ANGARIADA NO INSTITUTO HISTÓTICO DE PASSO FUNDO

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