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Passo Fundo
2020
Passo Fundo
2020
CIP – Catalogação na Publicação
CDU: 711.4(816.5)
________________________________________________
PROF. DR. HENRIQUE KUJAWA (PPGARQ – IMED) – Presidente
________________________________________________
PROFª. DRª. CALIANE C. OLIVEIRA DE ALMEIDA (PPGARQ – IMED) – Membro
________________________________________________
PROF. DR. AUGUSTO CRISTIANO PRATA ESTECA (FAU/UnB) – Membro
________________________________________________
PROFª. DRª. SUZANN FLÁVIA CORDEIRO DE LIMA (FAU/UFAL) - Membro
A todos aqueles que acreditam na ressocialização do
homem, aos que lutam por mudanças no sistema
prisional, aos profissionais envolvidos neste sistema,
em todas as suas esferas e todos aqueles que
colaboram e contribuíram com esta pesquisa.
Aos meus amigos e colegas de mestrado.
Em especial, a minha mãe, companheira de pesquisa
e maior incentivadora, ao meu pai, irmão, cunhada e
a pequena Luiza, meus maiores exemplos e fontes de
amor e carinho.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Luiz Augusto Mello Fiqueiró e Marcia Regina Santin Figueiró, pelos
valores a mim ensinados, pelo apoio e incentivo a realização desta pesquisa, pela
confiança em mim depositada e pelo amor e carinho demonstrados em todos os
momentos de minha vida. Vocês são meus exemplos e meus heróis.
Ao meu irmão Vinícius Santin Figueiró e cunhada Cristiane Soldá pelo amor e carinho.
E, por fim, um agradecimento especial aos meus afilhados, Zaion Medeiros e Luiza
Soldá Figueiró por serem minhas inspirações em busca de um mundo mais justo e
humano. Bebês, vocês me motivam a ser melhor a cada dia, enchem meu coração de
amor e luz.
RESUMO
This research is part of the theme of prison architecture, having as object of study the
relationship between the prison spaces of the Presidio of Passo Fundo/RS and the
APAC Santa Luzia/MG. The Brazilian Penitentiary System has been highlighted in
public debates and in government policies, normally understood as a solution to the
problems of violence and non-compliance with legal rules. However, reality expresses
the complex context of crisis in which the country's prison system is found, originated
by multiple factors. Among them, inadequate facilities, overcrowding, the performance
of criminal factions added to the growing difficulty faced by the State in exercising its
function of rehabilitation of the inmates. That way, and physical structures, studying
the ways in which these differences interfere in the behavior and the re-socialization
of prisoners, which may clarify the current prison scenario in the country. The
methodology used to carry out the study occurred, mainly, by means of survey and
bibliographic review pertinent to the theme, followed by documentary research to
survey data and field research to recognize the object of study. The analyzes
concluded that there is a disparity of approximately 40% between the programs of need
of the two institutions, and the level of APAC's superiority in the assessment of its
infrastructure, compared to the traditional system, from the perspective of the
recoveries, reflects in the low criminal recurrence rates of the methodology.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18
INTRODUÇÃO
1 O conceito “desmonte”, utilizado para referir-se às instituições penitenciárias também pode ser
entendido como insucesso.
19
Barros (2003, p.4) salienta que é preciso “definir uma nova arquitetura para as
prisões que harmonize a necessidade da custódia e da segurança, com o
indispensável tratamento penal, voltado para a reintegração das pessoas presas”.
Nesse sentido vale frisar que no Brasil, há uma carência de pesquisas no campo da
Arquitetura Penal3. O planejamento arquitetônico dos espaços prisionais e a maneira
pela qual os indivíduos se correlacionam com o mesmo é de suma importância, visto
que as inter-relações entre o ambiente e as pessoas refletem no ânimo afetivo, na
natureza das comunicações sociais planejadas e obtidas, e no status das pessoas
envolvidas (CAVALCANTE; ELALI, 2011).
A identificação com o local e a possibilidade de se apropriar do espaço refletem
nas ligações afetivas entre pessoa-ambiente e nas relações de poder sobre o mesmo.
Se estas relações possuem aspectos positivos, a apropriação pode se reverberar por
meio de atitudes de respeito para com o espaço, no entanto, em relações negativas
que envolvem sentimentos de segregação e alienação, a apropriação do ambiente
ocorre de maneira hostil, com vandalismos e invasões, comumente presenciado em
estabelecimentos penais (POL, 1996).
Da necessidade de mudança, adveio, em 1972, um modelo prisional singular
denominado APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, que
acredita e investe na recuperação dos apenados, motivando o retorno deste ao
convívio social, presumindo que este indivíduo deve regressar a sociedade sentindo-
se útil e recuperado para agir como um cidadão de bem (ANDRADE, 2014).
Um dos mais importantes aspectos deste modelo é o cuidado, o
pertencimento e a apropriação dos espaços pelos internos, sendo uma fração
essencial para a convivência respeitosa com os demais e para uma plena
recuperação, valorizando as experiências e transformações que aquele ambiente
promove (CAMPOS, 2005).
3 O termo “Arquitetura Penal” utilizado na presente pesquisa faz referência aos estabelecimentos
destinados ao cumprimento da pena, após julgamento. No decorrer desta dissertação se utiliza o termo
“Arquitetura Prisional” como forma de sinônimo à primeira expressão citada, porém sabe-se que seu
significado pode ser mais amplo por remeter a todo e qualquer tipo de “prisão”, sendo este o local
destinado para a detenção de indivíduos já sentenciados ou apenas de caráter provisório.
21
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4Os decretos n° 6.049 de 2007 e o 7.627 de 2011 também foram analisados por fazerem parte da LEP.
5Estes Levantamentos foram publicados nos meses de junho e dezembro de 2014, dezembro de 2015
e junho de 2016.
28
6 As plantas detalhadas do presídio não foram disponibilizadas para a pesquisa por motivos de
segurança do sistema prisional. Desta forma, trabalhou-se com croquis feitos pela autora para a
explicação do projeto tornando-se obrigatório o uso de esquemas gráficos para a análise arquitetônica
dos projetos.
29
7Para esta pesquisa serão computados apenas os dados retirados da complementação do questionário
do ano 2019.
30
Visitas in loco
8Seguindo as diretrizes do Comitê de Ética em Pesquisa as fotografias não terão presença de pessoas
ou dimensões que possam comprometer o sistema de segurança prisional.
33
Entrevistas
10 Devido ao grau de segurança dos estabelecimentos penais, os projetos arquitetônicos não foram
fornecidos para a autora. Desta forma, durante as visitas in loco foram realizados croquis para a
setorização dos estabelecimentos, auxiliando as análises arquitetônicas.
37
SETORES
Formato/ dimensão/ relação
proximidade, iluminação e
ventilação.
PROGRAMA
NECESSIDADES
Destaques, fragilidades,
relação dos espaços.
MOBILIÁRIO E FLUXO
MATERIAIS
Fonte: ALMEIDA, 2018 adaptado pela autora.
11O autor baseou-se em outros referenciais para a criação desta categorização sendo eles: GIL (1967),
JORGE (2000), JOHNSTON (2000), CHING (2001), LIMA (2005), VAZ (2005), VIANA (2009), ESTECA
(2010), SUN (2014).
38
Após a coleta dos dados dos formulários aplicados aos apenados, tanto no
PRPF quando na APAC Santa Luzia, as informações são analisadas a partir da
técnica de modelagem matemática de Regressão Linear. Está técnica fundamenta-se
na coleta de dados reais, convertidos em uma solução analítica de caráter
quantitativa, a fim de facilitar a investigação de situações em um ambiente real
(BASSANEZI, 2004; MONTGOMERY; PECK; VINING, 2012).
A análise de regressão embasa-se na realização de uma análise estatística
objetivando a verificação da existência, ou não, de relação funcional entre uma
variável dependente (Y) com uma ou mais variáveis independentes (X). Em síntese,
consiste na obtenção de uma equação linear que buscar explicar a variação de Y
(variável dependente) pela variação dos níveis de X (variáveis independentes)
(BASSANEZI, 2004; PATERNELLI, 2004; MONTGOMERY; PECK; VINING, 2012),
estas variáveis serão demonstradas no Capítulo 4 para uma melhor compreensão dos
resultados obtidos. A equação a seguir exemplifica o cálculo de Regressão que se
utiliza na tabulação dos formulários aplicados com os detentos do PRPF e com os
recuperandos da APAC Santa Luzia.
39
𝑌 = 𝛽0 + ∑ 𝛽0 ∗ 𝑋i
𝑖=1
Onde:
Y é a variável dependente;
0, a constante;
i, o coeficiente de regressão;
Xi, as variáveis independentes
Para as regressões, a constante 0 foi considerada 0
14 O Estado Moderno Liberal é marcado pela Constituição Francesa de 1787, onde o a punição tornou-
se um mecanismo de proteção social, no qual o estado legisla, processa e aplica a pena – “O direito
de punir deslocou-se da vingança do soberano à defesa da sociedade” (FOUCAULT, 1987, p. 76).
15 A Penalogia e a Criminologia desta reforma foram influenciadas pelo Iluminismo e Renascimento,
sendo implantada no Período Humanitário do Direito Penal que possuia um caráter antro-centrista,
liberal-individualista e utilitarista (ESTECA, 2010, p. 25).
16 Esta casa de correção baseava-se na disciplina e no trabalho como meio recuperador do indivíduo
(VIANA, 2009). Bridewell também possuía a função de hospital e oferecia atendimento aos detentos do
local, contando com médicos, cirurgiões e enfermeiros para estes cuidados (SUN, 2014).
17 Cada pavimento possui um altar e salas para convívio entre os detentos (VIANA, 2009, p. 121).
42
Figura 3 – Planta baixa térreo e primeiro pavimento Prisão Malefizhaus, de 1627, localizada na
Alemanha.
Figura 4 - Planta baixa e fachada da Casa de Correção de São Miguel, de 1704, localizada em Roma.
O segundo grande reformista foi Jeremy Bentham, filósofo inglês, que propôs
uma grande reforma nos estabelecimentos penais com a aplicação de métodos
científicos, teóricos e econômicos. Em 1787, Bentham lança o sistema Panóptico –
que vê tudo - (Figura 8), que configurava uma penitenciária modelo, inicialmente
utilizado nos EUA nos anos de 1800 (ALGARRA, 2002).
Figura 9 - Ruinas da prisão modelo cubana seguidora dos preceitos do modelo Panóptico.
Figura 12), localizada em Cherry Hill, projetada por John Haviland e finalizada
em 1829, foi um símbolo para a arquitetura pensilvânica nos Estados Unidos,
adotando a geometria radial, para se tornar um protótipo de planta radial. A
penitenciária possuía capacidade para 250 detentos e era composta por sete vértices,
inspirados na Casa de Força de Gante. No centro do complexo havia uma torre de
vigilância e próximo a cada cela existia um pequeno pátio para a prática de esportes
e exercícios (ALGARRA, 2002; SUN, 2014).
Figura 12 - Planta baixa e perspectiva da Penitenciária Eastern State, 1829, em Cherry Hill, EUA.
Figura 13), finalizada em 1825 nos EUA, no estado de Nova York, foi a pioneira
na combinação de pavilhões retangulares com celas internas. Esta tipologia
arquitetônica de penitenciária se propagou no século XIX e no início do século XX
tornando-se modelo nos Estados Unidos (ESTECA, 2010). Entre os anos de 1879 e
1935, das 26 penitenciárias construídas, 21 delas seguiam o padrão da Penitenciária
de Auburn (ORLAND, 1978). O sistema Auburniano torna-se uma alternativa
economicamente mais vantajosa por possuir celas coletivas, possibilitando acomodar
um número maior de detentos em um espaço reduzido (VIANA, 2009).
galerias. As celas de uso coletivo abrem para um amplo pátio central, porém a falta
de aberturas nos alojamentos causa graves problemas de ventilação nos ambientes
(JOHNSTON, 2000; SUN, 2014).
No final do século XIX, em 1898, na França, é lançado um padrão arquitetônico
inspirado nos princípios do Positivismo20. Essa nova penitenciária, chamada de
Fresnes (Figura 14), projetada por Francisco Enrique Poussin, é implantada nos
Estados Unidos na Penitenciária Federal de Lewisburg, Pensilvânia, projetada pelo
arquiteto Alfredo Hopkins e ocupada no ano de 1932 (ESTECA, 2010). O projeto fica
conhecido formalmente como espinha de peixe, formado por blocos paralelos,
permitindo uma melhor ventilação e iluminação natural, e ligados por um corredor
perpendicular. Os espaços formados entre os blocos foram utilizados para pátios de
sol e práticas de exercícios, além disto, cada bloco possui locais de trabalho e salas
de atendimento médico (JOHNSTON, 2000).
Figura 15 - Imagens da primeira geração de penitenciárias do século XX. À esquerda, planta baixa
esquemática. À direita, fotografia da galeria de celas da Penitenciária de Auburn.
Figura 18 - Foto da Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto/MG, atual Museu da Inconfidência.
21No período Colonial as leis e a justiça provinham do Rei de Portugal. As penas se resumiam em
castigos físicos e em público e o cárcere somente confinava o indivíduo até seu julgamento ou
execução da pena (ESTECA, 2010).
55
22 A Casa de Correção do Rio de Janeiro buscava o ideal de modernidade e progresso por meio da
disciplina e do trabalho, buscando recuperar o indivíduo (VIANA, 2009).
57
23A Penitenciária do Estado de São Paulo adota o modelo celular com regime progressivo, o qual
acredita na recuperação por meio da reflexão, do trabalho e da disciplina (VIANA, 2009).
58
A Penitenciária Compacta do Estado de São Paulo (Figura 24) possui 768 vagas
(ESTECA, 2010).
24 Na APAC os detentos são chamados de recuperando como uma forma de diferenciação do sistema
tradicional. Ademais a metodologia acredita na recuperação efetiva do indivíduo.
63
25 O código Penal de 1940 foi criado pelo decreto-lei n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940, durante o
governo de Getúlio Vargas. O código ainda é vigente, porém passou por alterações.
26 O Código de Processo Penal foi criado pelo decreto-lei n° 3.689 de 3 de outubro de 1941. O código
27Esta lei (Lei n° 7.210/1984) foi criada por meio de um tratado da ONU sobre Execução Penal, o qual
definia as condições na qual o sentenciado cumpriria a pena (JULIÃO, 2009).
71
Sendo assim, a LEP objetiva não somente o cuidado com o sujeito passivel de
execução penal, mas também objetiva a defesa de toda sociedade. Esta lei também
assegura condições e direitos para uma reinserção social do indivíduo, reconhecendo
e assegurando o direito à vida; à integridade física e moral; direito à assistência
judiciária; à saúde, à educação; ao trabalho; à assistência religiosa; entre outras
apresentadas no Art. 11 da Lei n° 7.21028(BRASIL, 1984).
Conforme Art. 40 da Lei de Execução Penal, os detentos têm direito à
integridade física e moral, sendo condenados ou estando em regime provisório. O Art.
41 determina direitos aos presos, sendo eles: alimentação e vestuário; atribuição de
trabalho e sua remuneração; direito à previdência Social; assistência material, à
saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; entrevistas pessoais e reservadas com
advogados; visitas íntimas; chamamento nominal, entre outros direitos que preservem
a dignidade humana (BRASIL, 1984).
Conforme os Artigos 12 e 13 da assistência material, o estabelecimento deve
fornecer alimentação; vestuário e instalações higiênicas; bem como dispor de
instalações e serviços que atendam às necessidades pessoais dos presos, além de
locais destinados à venda de produtos permitidos e não fornecidos pela Administração
(BRASIL, 1984).
A assistência à saúde do apenado deve ser de cunho preventivo e curativo,
oferecendo atendimento médico, farmacêutico e odontológico. Quando o
estabelecimento não possuir instrumentos para realizar esse atendimento no local, o
detento deve ser locomovido até ele, mediante autorização da direção. A assistência
educacional abrange a instrução escolar e a formação profissional do detento, sendo
obrigatório o ensino de 1° grau, com assimilação no sistema escolar da Unidade
Federativa (BRASIL, 1984), e, segundo dispõe a Lei nº 13.163, de 2015, o ensino
médio ou supletivo deverá ser implantado nos presídios.
O amparo social possui como objetivo a assistência ao detento, preparando-o
para o retorno à sociedade e tem como tarefa conhecer os resultados dos diagnósticos
e exames, descrever ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades
enfrentadas pelo detento, acompanhar o resultado das permissões de saídas,
proporcionar a recreação, orientar a família do preso, facilitar o retorno do apenado à
28No Art. 3° da Lei de Execução Penal, assegura-se ao condenado “todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela lei”, não havendo “qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou
política”.
72
29 Estas diretrizes se formalizaram a partir de documentos criados pelo CNPCP, ganhando destaque
as Diretrizes Básicas da Política Criminal e Penitenciária, determinada pela Resolução n° 5 de 19 de
julho de 1999 (ESTECA, 2010).
73
mais importância no cenário jurídico e penal, além de possui as Regras Mínimas para
o Tratamento de Reclusos, demonstrando que o Brasil é signatário de tratados
internacionais que garantes os direitos humanos dos apenados.
As legislações possuem uma diversidade de conteúdo e são amparadas por
órgãos como o Departamento Penitenciário Nacional e o Conselho Nacional de
Política Penitenciária.
Estabelecimento penal
Central de penas
Colônia agrícola
Cadeia pública
criminológica
Penitenciária
observação
alternativas
atenção ao
Serviço de
e medidas
albergado
Centro de
judiciário
paciente
Casa do
Módulo
Guarda Externa
Agente Penitenciário/Monitor
Administração
Recepção/revista
Centro observação/
triagem/ inclusão
Tratamento Penal
Vivência coletiva
Vivência individual
Serviços
Saúde
Educativo
Polivalente
Creche
Berçário
Visita íntima
Esportes
LEGENDA
Existência Obrigatória Existência Facultativa Não é necessário
FONTE: CNPCP, 2011.
76
Esta resolução também especifica espaços para banhos de sol, tanto coletivos
quanto individuais; refeitórios; cozinhas; lavanderias; locais de encontro com
familiares, encontros religiosos, encontros com a sociedade e atendimentos em
grupos. Também prevê sala de espera para visitantes; locais para atendimento
jurídico e social; sala de barbearia; áreas cobertas para dias de chuva; salas de aula,
de informática; biblioteca; dentre outras que formam o programa completo para um
estabelecimento penal e seus detentos.
Em suma, as Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal se caracterizam como
um importante instrumento para balizar a produção destes espaços, determinando
programas básicos a serem atendidos por estas edificações. Cabe destacar que no
ano de 2017, o CNPCP edita e flexibiliza as antigas Diretrizes Básicas, também
chamadas de Resolução n° 09/2011, gerando a nova Resolução n° 6 de 07 de
dezembro de 2017. Esta atualização na resolução gerou influências negativas nos
padrões de projetos arquitetônicos e na qualidade dos espaços destinados a custódia
dos apenados brasileiros (DAUFEMBACK; LIMA; MELO; SANTOS; DUARTE;
GIVISIEZ, 2018).
O grande impacto gerado na Resolução n° 06/2017 foi a flexibilização das
dimensões dos espaços anteriormente estipulados na Resolução n° 09/2011. Vale
destacar que as dimensões de um espaço são calculadas a partir do número de
apenados e da demanda do local, do uso, do tempo, das atividades que serão
desenvolvidas, fluxo do estabelecimento, dentre outras especificações que são de
suma importância para a delimitação do tamanho de cada módulo do estabelecimento
e a possibilidade de que cada Unidade Federativa estipule estas dimensões pode
ocasionar até mesmo a inexistência ou o subdimensionamento de módulos
importantes para o cumprimento da pena (DAUFEMBACK; LIMA; MELO; SANTOS;
DUARTE; GIVISIEZ, 2018).
As flexibilizações permitidas nesta nova resolução30 representam um
retrocesso não somente com a política penal do país, mas também com normativas
de cunho internacional como as Regra Nelson Mandela e Manuais produzidos pelo
30Para mais informações sobre a Resolução n° 06/2017 consultar material elaborado por Daufemback;
Lima; Melo; Santos; Duarte e Givisiez (2018) que demonstra uma nota técnica analisando as alterações
com relação à Resolução n° 09/2011, mostrando-se de suma importância para o entendimento do
assunto.
77
UNOPS (Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos)31, CICV e COMJIB,
além de recomendações da Corte Interamericana. Desta forma o Brasil encontra-se
na contramão de condutas exemplares na área dos Direitos Humanos e evidenciado
perante o cenário internacional (DAUFEMBACK; LIMA; MELO; SANTOS; DUARTE;
GIVISIEZ, 2018).
Anteriormente, apresentou-se a evolução da legislação e das políticas
penitenciárias no país, salientando as leis de maior representatividade e seus
objetivos, voltadas para os detentos e para a arquitetura penal. A seguir se estudará
as relações entre indivíduo e o ambiente no qual se insere.
31A UNOPS atua a fim de garantir infraestruturas adequadas, resilientes e sustentáveis, possibilitando
o bem-estar do usuário e o uso eficiente e transparente dos recursos públicos (DAUFEMBACK; LIMA;
MELO; SANTOS; DUARTE; GIVISIEZ, 2018).
78
imobiliza o ser nos seus modos de ser e fazer, não conseguindo desvencilhar-se da
primeira relação estabelecida com o espaço: o indivíduo se apropria do espaço e o
espaço se apropria do indivíduo.
Outra teoria que explica as influências entre indivíduo e ambiente chama-se
behavior settings. Formulada por Roger Barker, behavior settings compreendem
unidade ecocomportamentais que caracterizam padrões de comportamento que
ocorrem em tempo e espaços determinados. O conceito de behavior settings
demonstra a relação de interdependência entre o comportamento e o ambiente, além
do mais, relaciona a dinâmica e o indivíduo que se comporta e o ambiente no qual isto
acontece. O behavior settings não pode ser visto apenas como uma porção do espaço
no entorno, mas sim um conjunto de interações dentro de um lugar (PINHEIRO, 2011).
Outra definição pode ser apresentada ao termo:
32A presente pesquisa abordou alguns conceitos relacionados à Psicologia Ambiental, ressaltando que
a APO não faz parte do escopo deste trabalho. Para mais informações sobre o tema consultar:
PREISER; RABINOWITZ; WHITE, 1988; VILLA; ORNSTEIN, 2016; ONO; ORNSTEIN; VILLA;
FRANÇA, 2018.
83
33Nesta pesquisa foram abordadas algumas teorias sobre a criminalidade, cabe ressaltar que existem
distintas vertentes sobre a temática, sendo uma delas a Criminologia Crítica. Para Baratta (2002), e
sob as perspectivas da criminologia crítica: A criminalidade não é mais uma qualidade ontológica de
determinados comportamentos e de determinados indivíduos, mas se revela, principalmente, como um
status atribuído a determinados indivíduos, mediante uma dupla seleção: em primeiro lugar, a seleção
dos bens protegidos penalmente, e dos comportamentos ofensivos destes bens, descritos nos tipos
penais; em segundo lugar, a seleção dos indivíduos estigmatizados entre todos os indivíduos que
realizam infrações a normas penalmente sancionadas. A criminalidade é – segundo uma interessante
perspectiva já indicada nas páginas anteriores – um ‘bem negativo’, distribuído desigualmente
conforme a hierarquia dos interesses fixada no sistema socioeconômico e conforme a desigualdade
social entre os indivíduos [...] o direito penal tende a privilegiar os interesses das classes dominantes,
e a imunizar do processo de criminalização comportamentos socialmente danosos típicos dos
indivíduos a elas pertencentes, e ligados funcionalmente à existência da acumulação capitalista, e
84
tende a dirigir o processo de criminalização, principalmente, para formas de desvio típicas das classes
subalternas (BARATTA, p. 161-165, 2002).
85
34 Este sistema é atualizado por gestores estaduais dos estabelecimentos penais de todo o país
(DEPEN, 2014).
35 Esperava-se que ao longo do desenvolvimento da pesquisa houvesse a publicação do último
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias com a atualização dos dados, porém já em fase
de conclusão da pesquisa ainda não houve tal ação por parte do DEPEN.
86
2016 ocorreu devido a iniciação da coleta de dados ter ocorrido durante o período de
Trabalho de Conclusão de Curso da pesquisadora36.
A seguir serão apresentadas análises da população carcerária brasileira em um
panorama mundial, nacional fazendo-se comparações entre estados e por fim será
exposto dados obtidos do Presídio Regional de Passo Fundo e da APAC Santa Luzia,
entre os anos de 2014, 2016 e uma última atualização do ano de 201937, tornando a
pesquisa mais próxima da realidade penal dos estabelecimentos.
A crise carcerária no Brasil vem intensificando-se com o passar dos anos tanto
no âmbito nacional quanto no internacional. Em 2014, o país ocupava a quarta
colocação no ranking dos 10 países com maior população prisional do mundo, com
622.202 detentos, ficando atrás de países como Estados Unidos, China e Rússia,
como demonstrado na
Figura 29. Neste mesmo ano o país já chegava a uma média de mais de 300 detentos
para cada 100 mil habitantes, sendo que a média mundial chegava a 144 presos para
100 mil habitantes, conforme dados do International Centre for Prison Studies (ICPS)
(INFOPEN, 2014b).
36 Os dados coletados em etapa de Trabalho de Conclusão de Curso foram utilizados por já estarem
compilados, necessitando apenas novas análises devido à complexidade da pesquisa de dissertação
comparada ao trabalho final de Graduação.
37 Optou-se por analisar os dados do ano de 2019 pois neste período foram realizadas as visitas in loco
nos estabelecimentos, bem como a coleta de informações sobre número de detentos e outras
informações divulgadas a seguir.
87
Figura 29 – Ranking dos 10 países com maior população prisional no ano de 2014.
Fonte: dados INFOPEN, 2014b; BANCO MUNDIAL, 2019; adaptado pela autora.
Ainda conforme a
88
Figura 30 – Ranking dos 10 países com maior população prisional no ano de 2015.
Fonte: dados INFOPEN, 2017a; BANCO MUNDIAL, 2019; adaptado pela autora.
Figura 31 - Evolução da taxa de aprisionamento nos 4 países com maior população carcerária do
mundo no período entre 1995 e 2015 para um grupo de 100 mil habitantes.
90
Figura 32 – Ranking dos 10 países com maior população prisional na América do Sul no ano de 2018.
38 Não foi realizada a análise da quantidade de detentos a cada grupo de 100.000 habitantes pois não
foram encontrados dados referentes à população total dos países em questão em fontes confiáveis.
39 Disponível em http://www.prisonstudies.org/world-prison-brief-data, acessado em novembro de 2018,
Figura 33 - Evolução da população carcerária brasileira entre 1990 e 2016 a cada grupo de 100 mil
habitantes.
40 Não foram encontrados os índices populacionais dos países da América do Sul no site do Banco
Mundial referentes ao ano de 2018, desta forma optou-se por apresentar apenas o dado oficial referente
a população brasileira deste ano.
41 Esta população prisional é composta pela soma de detentos no sistema prisional estadual e nas
42Segundo a resolução 09/2011 elaborada pelo CNPCP, entende-se como vaga a área destinada para
a acomodação da pessoa presa (cela), podendo ser uma área coletiva ou individual, com metros
quadrados mínimos a fim de prever espaço para a cama, higienização pessoal e circulação.
93
Figura 34 – Comparação de dados do Sistema Penitenciário Brasileiro dos anos de 2014 e 2016.
estados brasileiros com maior população carcerária, de acordo com a Figura 36. No
mesmo ano, o estado gaúcho já contabilizava um déficit de 6.838 vagas em todo o
estado e possuía uma taxa de 250 detentos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Ainda com relação a Figura 36, o estado de Minas Gerais possuía 61.392 detentos no
ano de 2014, sendo o 2° estado com maior população carcerária do Brasil, tendo um
déficit de 24.707 vagas e possuindo uma taxa 29043 detentos para um grupo de 100
mil habitantes (INFOPEN, 2014b).
Figura 36 - Ranking nacional dos estados brasileiros com maior população carcerária no ano de
2014.
43Conforme os dados apresentados pelo IBGE e pelo Infopen, o Estado de Minas Gerais possui 296
detentos para cada 100.000 habitantes.
96
Figura 37 - Ranking nacional dos estados brasileiros com maior população carcerária no ano de
2016.
Os dados atuais referente ao ano de 2018 e 2019 dos estados do Rio Grande
do Sul e de Minas Gerais foram obtidos pela Superintendência dos Serviços
Penitenciários – SUSEPE RS e pelo Tribunal de Justiça do estado de Minas Gerais,
já que não há atualizações do levantamento do Infopen. O Quadro 5 demonstra a
evolução da população carcerária dos estados es estudo entre os anos de 2014, 2016,
2018 e 2019.
Quadro 5 – População Carcerária dos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
POPULAÇÃO CARCERÁRIA MG E RS
ANO 2014 2016 2018 2019
UNIDADE FEDERATIVA
Ainda conforme o quadro anterior, nota-se que o estado do Rio Grande do Sul
teve aumentos significativos em sua população carcerária se comparada ao estado
de Minas Gerais, porém no ano de 2018 não foi encontrado em fontes oficiais dados
correspondentes ao número de apenados mineiros, desta forma optou-se por
apresentar apenas o ano de 2019. Mesmo com a falta desta informação o aumento
da população carcerária no estado de Minas Gerais foi inferior se somarmos os
13,70% aos 10,47% acumulados entre o ano de 2018.
O tópico a seguir irá apresentar o perfil sociodemográfico dos detentos de cada
estado em estudo, apresentando informações sobre etnia, faixa etária, estado civil e
escolaridade.
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO
NACIONAL MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL
Raça/cor ou etnia 67% negros 67% negros 67% brancos
31% 18 a 24 anos 31% 18 a 24 anos 23% 18 a 24 anos
Faixa etária
25% 25 a 29 anos 24% 25 a 29 anos 23% 25 a 29 anos
2014
Em uma análise sobre o ano de 2014 e sobre a tabela anterior, nota-se uma
semelhança no perfil da população gaúcha e mineira com o perfil dos detentos
brasileiros, havendo predomínio de jovens de 18 a 24 anos no sistema, indivíduos
solteiros e com o Ensino Fundamental incompleto. A única diferença significativa se
encontra na raça/cor destas populações, no Brasil havia o predomínio de detentos
44 Para a análise do perfil sociodemográfico foram elencadas quatro categorias de análise, tendo em
vista a disponibilidade dos dados em âmbito nacional e estadual, já que buscou-se as mesmas
categorias e seus dados nos estabelecimentos penais em estudo. Desta forma não foi analisado a
situação econômica e se os detentos possuíam ou não emprego antes de serem presos, tendo em vista
que nos presídios em estudo estes dados não são coletados.
99
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO
NACIONAL MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL
Raça/cor ou etnia 63% negros 71% negros 68% brancos
30% 18 a 24 anos 32% 18 a 24 anos 25% 18 a 24 anos
Faixa etária
25% 25 a 29 anos 25% 25 a 29 anos 22% 25 a 29 anos
2016
45Não há a divulgação do perfil dos detentos do estado de Minas Gerais no ano de 2018.
46 Por não haver uma publicação mais recente do Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (última publicação referente ao ano de 2016), é apresentado dados obtidos por meio de
bancos de dados da SUSEPE.
101
jurídico-penal é imprescindível que haja uma condenação por um crime que não
convenha mais nenhum tipo de recurso. Porém os estudos já realizados no país não
abordam uma conceituação jurídica, estes aplicaram cálculos para reincidência no
âmbito penitenciário (SAPORI; SANTOS; MAAS, 2017).
Em estudos realizados visando o aprofundamento e a reflexão sobre a
conceituação de reincidência, Julião (2009) classifica e subdivide do termo em quatro
situações:
1 – Reincidência Genérica: classifica-se por ser a forma mais popular e
ampla do conceito, sem preocupar-se com princípios técnicos, metodológicos e
teóricos, sem sequer considerar o ato de condenação. Essa terminologia especifica à
prática de um novo crime, independente da condenação (JULIÃO, 2009).
2 – Reincidência Legal: caracteriza a prática de um novo crime, porém
levando em consideração a condenação judicial e as determinações técnico-jurídicas
especificadas na legislação penal brasileira (JULIÃO, 2009).
3 – Reincidência Penitenciária: quando o apenado, sem levar em
consideração o crime anteriormente cometido, após sua liberação, retorna ao
estabelecimento penal por receber nova condenação, para cumprimento de pena ou
medida de segurança (JULIÃO, 2009).
4 – Reincidência Criminal: classifica-se pelo sujeito, já condenado por um
ato criminal, receber uma segunda sentença devido à um novo crime cometido,
independente de prisão. É importante destacar a diferença entre reincidência e
antecedentes criminais, uma vez que o indivíduo pode ter antecedentes sem,
necessariamente, ser reincidente (JULIÃO, 2009).
Os escassos estudos nacionais sobre a reincidência criminal ainda corroboram
para uma repercussão de dados muito amplos, pouco úteis para o planejamento de
políticas criminais e que não se restringem aos presos condenados e as
temporalidades determinadas em legislação. Um dado muito divulgado pela imprensa
e por gestores públicos determina uma taxa de 70% de reincidência no país.
Entretanto ainda na década 1980 já haviam estudos produzidos para apresentar
dados precisos a fim de desmistificar essas informações (IPEA, 2015).
Uma pesquisa realizada no Brasil, com autoria de Adorno e Bordini (1989),
acompanhou durante os anos de 1974 e 1985 todos os sentenciados liberados das
penitenciárias do estado de São Paulo a fim de se conhecer a magnitude real da
reincidência no país e conhecer o perfil destes reincidentes. Ao final do estudo
102
47 O índice de retorno ao sistema prisional do estado foi publicado no dia 03 de setembro de 2018, no
site da SUSEPE.
105
48 O IDHM da cidade de Passo Fundo no ano de 2010 era de 0,776, sendo considerado um IDH Alto
(IDHM entre 0,700 e 0,799). No ranking o maior IDHM era 0,862 de São Caetano do Sul, conforme
divulgado no site Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2020).
49 No ano de 1968 foi outorgado pela Lei nº 5.745, de 28 de dezembro de 1968, a Susepe é criada e
substitui o extinto Departamentos dos Institutos Penais do Estado do Rio Grande do Sul.
50 A busca pela ressocialização dos detentos no Estado do Rio Grande do Sul é vista como pioneira
elaborado dentro das penitenciárias deixa de ser visto como uma forma de punição e
passa a garantir os direitos de todo apenado (SUSEPE, 2019).
A rede prisional atendida e administrada pela Susepe abrange unidades com
classificações de: albergues, penitenciárias, presídios, colônias penais e institutos
penais, acolhendo presos dos regimes fechado, semiaberto e aberto (SUSEPE, 2019).
Ademais, fazem parte das divisões e encargos da Susepe, os serviços realizados pela
Escola Penitenciária, Departamento de Saúde, Departamento Educacional e
Atendimento Social, Departamento de Engenharia Prisional, dentre outros.
Acerca da elaboração de novos estabelecimentos prisionais, tem-se o
Departamento de Engenharia Prisional responsável pela realização de estudos de
programas de necessidades de novos projetos, execução de obras de adaptações,
conservações e reformas dos espaços penais do Estado do Rio Grande do Sul. Dessa
forma, o Presídio Regional de Passo Fundo/RS tem como responsáveis projetuais e
de execução da obra a Superintendência dos Serviços Penitenciários, mais
especificamente o Departamento de Engenharia Prisional.
Para a obtenção de informações acerca do histórico do Presídio Regional de
Passo Fundo, buscou-se dados e documentos em pesquisas internas no acervo da
Superintendência dos Serviços Penitenciários em Porto Alegre/RS, além de buscas
no Arquivo Histórico de Passo Fundo em exemplares de jornais da cidade (O Nacional
e Diário da Manhã) durante a década de 1970.
Em meados da década de 1930, a cidade de Passo Fundo ganhou o seu
segundo presídio municipal. Sua construção ocorreu ao lado da Estação de
Bombeiros da cidade, tendo capacidade para 45 detentos, alojados em 11 celas. Com
o decorrer do tempo e com o aumento no número de aprisionados no “cadeião civil”,
como era popularmente conhecido o presídio municipal, tornou-se necessária a
criação de um estabelecimento penal com maior número de vagas, projetado para o
cumprimento de uma pena mais humanizada (O NOVO, 1977, p. 9), como era
retratado nos jornais locais:
Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base nas informações obtidas em jornais.
ressocialização dos apenados. As celas, antes vistas como moradias dos detentos,
passaram a ser vistas apenas como um local de repouso, tendo em vista que durante
o dia os presos deveriam estar em oficinas laborais em busca da sua ressocialização
(SUSEPE, 2019).
O programa de necessidades do novo Presídio Municipal da cidade era
composto pelos setores administrativo, de serviço, celas, albergue, oficinas, pátios de
segurança e jardins e hortas. O setor de celas foi projetado para atender 124 detentos,
com possibilidades de ampliação para 172 vagas51, transformando uma área de
oficinas em celas, vindo a se tornar um Presídio Regional por caracterizar-se como
um polo regional. A disposição volumétrica dos setores se deu de maneira compacta,
em busca de economia em áreas de circulação, adotando-se o sistema conhecido
como “poste telegráfico”, já utilizado na época em estabelecimentos de um só
pavimento (SUSEPE, 2019). A Figura 40 apresenta esquematicamente o zoneamento
das edificações no lote de implantação.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.
51A ampliação da casa prisional foi prevista pela equipe do DEP, não sendo realizada apenas por
questões financeiras da época.
111
declividade para as ruas Adrianópolis e Martins Fontes e uma ampla visão para a
cidade entre as ruas Ana Neri e Carmem Miranda, parte escolhida para a implantação
das edificações, buscando proporcionar uma vista panorâmica da cidade (SUSEPE,
2019).
Após a aprovação dos projetos técnicos e abertura de editais e licitações para
a escolha de empreiteiras para a execução da obra, no segundo semestre de 1974 já
haviam os primeiros registros documentais sobre a assinatura de contratos para o
início da construção do novo presídio do município. Com previsão para conclusão das
obras em 1976, o novo Presídio de Passo Fundo (Figura 41) encontrava-se em fase
de finalização em 04 de janeiro de 1977, faltando a realização do plantio de gramas,
calçadas e alguns portões externos, reboco na sala de recepção, cerâmicas já se
encontravam soltas, pinturas e limpeza final da obra (O NOVO, 1977, p. 9):
52
Esta reportagem foi divulgada no jornal Diário da Manhã, porém no outro meio de comunicação do
município, o jornal O Nacional, a divulgação da inauguração se deu no dia 15 de outubro de 1977.
113
“Sem dúvida, tem muito mais apelo a construção de uma escola, a abertura
de uma estrada, a inauguração de um hospital, do que a construção de um
presídio. Mas, apesar das pressões das necessidades sócias, repito, não se
descurou o Governador Sinval Guazzelli, do drama do apenado – consciente
de ser este o mais despojado dos homens – e aos poucos vai o Estado
substituindo as velhas e inadequadas prisões por estabelecimentos que
ofereçam as condições materiais para a recuperação do reeducando”
(PRESÍDIO, 1977, p. 11).
“Ao preso não mais se impõe a solitária com alimentação reduzida a pão e
água. A promiscuidade dos detentos é de ser evitada; a seleção entre os
criminosos deve ser efetuada; o isolamento temporário é exigido, mas a sua
condição de ser humano não pode ser olvidada” (PRESÍDIO, 1977, p. 11).
53A reportagem de inauguração do Presídio de Passo Fundo foi angariada no jornal O nacional pois
nos exemplares do jornal Diário da Manhã, existentes no Arquivo Histórico de Passo Fundo, faltavam
os dias 03 até 08 de novembro de 1977.
114
Figura 43 – Equipe de segurança que realizou o transporte dos detentos até o novo Presídio
Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.
116
Figura 48 - Diagrama de zoneamento do Presídio de Passo Fundo com nova galeria de celas regime
fechado, 2004.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.
Figura 49 - Diagrama de zoneamento do Presídio Regional de Passo Fundo com nova galeria de
celas do Instituto Penal, 2010.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.
Figura 50 - Diagrama de zoneamento do Presídio Regional de Passo Fundo com o bloco da UBS,
2016.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019, com base em levantamentos de dados realizado na SUSEPE,
2019.
Localizado no Bairro São Luiz Gonzaga, com acesso para a Rua Ana Neri, o
Presídio Regional de Passo Fundo está implantado de fronte a uma via coletora,
conforme Figura 51, caracterizada por coletar e distribuir o trânsito vindo de vias de
rápidas ou arteriais (Av. Brasil), permitindo o trânsito dentro das regiões da cidade.
Ademais, quando não houver sinalizações, a velocidade máxima permitida é de 40
km/h, conforme Código de Trânsito Brasileiro.
120
Figura 52 – Mapa Transporte Coletivo entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS.
54Utilizou-se esta data pois foi encontrada (ANEXO D) uma imagem da implantação do Presídio no ano
de 1984. Esta imagem foi angariada no Instituto Histórico de Passo Fundo e foi o primeiro registro
fotográfico encontrado da região após a inauguração do Presídio. Desta forma, achou-se relevante
fazer um comparativo do adensamento da região com o passar dos anos.
125
Figura 55 - Mapa Nolli entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS, ano de 1984.
55Muitas famílias de apenados se instalam nos arredores do Presídio, facilitando o contato com seus
parentes em dias de visita e atividades que permitam o acesso de familiares.
126
Figura 56 - Mapa Nolli entorno próximo Presídio Regional de Passo Fundo/RS, ano de 2020.
Figura 57 – Padrão construtivo e estado de conservação de edificações do bairro São Luiz Gonzaga.
Figura 58 - Padrão construtivo e estado de conservação de edificações da rua Ana Neri, bairro São
Luiz Gonzaga.
diminuir, devido a altura dos muros e ao baixo pé-direito das edificações intra-muros.
Isto pode ocorrer com a ventilação de celas e outros setores próximos aos
fechamentos, além da possibilidade de sombreamento devido a estes 8 metros de
concreto necessários para a segurança do local.
Ainda em estudo a Figura 61, observa-se a presença de vegetações rasteiras
apenas na parte do Instituto Penal, local dos apenados do regime semiaberto
diferentemente do regime fechado, onde as normas não permitem acesso a qualquer
tipo de material diferente do concreto a fim de evitar fugas e rebeliões.
A volumetria das edificações presentes no Presídio Regional de Passo Fundo
e no Instituto Penal possuem a predominância de formas laminares na direção
horizontal, caracterizando seus aspectos formais, remetendo a estabilidade e ao
equilíbrio da forma por apresentar agrupamento de retas em sua composição. Por
fatores de segurança e de sigilo de dados, a SUSEPE não disponibilizou o projeto
arquitetônico para análise e estudo. Entretanto, montou-se, de maneira esquemática,
croquis do projeto para as análises. Ademais, os registros fotográficos da volumetria
total se impossibilitaram devido a proximidade das edificações ao muro de divisa,
desta maneira optou-se apenas por analiar esquemas em 3D montados a partir da
implantação do Presídio.
A Figura 62 demonstra esquemas gráficos para uma melhor visualização das
formas lineares e da horizontalidade das edificações.
56 As demais edificações não foram analisadas por não serem pertinentes ao estudo.
133
57 Não será apresentado áreas dos setores por questões de segurança e devido ao fato de que as
plantas foram montadas de maneira esquemáticas a partir de visitas feitas in loco, não estando
corretamente igual ao projeto.
134
Figura 65 – Esquema gráfico celas regime fechado Presídio Regional de Passo Fundo/RS.
AUMENTO %
Aumento de 10,91% Aumento de 10,57%
Fonte: SUSEPE, 2014 e 2016; PRPF, 2019 adaptado pela autora.
Luzia (FACSAL). É uma cidade voltada para o turismo religioso. No centro histórico
seu patrimônio é preservado em museus instalados em antigos casarões (CMSL,
2019; PMSL, 2019).
O município de Santa Luzia ainda conta com um Presídio Municipal, localizado
no centro da cidade e bem ao lado de uma escola pública, distando mais de 12km da
APAC Santa Luzia. A Figura 69 demonstra a distância entre a unidade APAC e o
Presídio de Santa Luzia, superlotado e com sua infraestrutura já frágil e debilitada 59.
Figura 69 – Mapa de localização do Presídio Municipal de Santa Luzia e sua distância até a APAC.
60Estes dados foram obtidos em entrevista ao arquiteto, onde o mesmo relatou que através de uma
audiência pública passou a fazer parte do grupo técnico que desenvolveria o projeto da APAC.
144
colocando em prática novas formas de planejar o espaço penal. A sete diretrizes são:
inserção; relação com a comunidade; segurança; progressão; visão; vazios; e
individualidade e podem ser melhores descritos no Quadro 11.
63 Devido a distância destas edificações da via, não sabe-se o gabarito das mesmas, tornando-se
inviável a análise das alturas.
150
64
Não foram disponibilizadas as medidas do lote de implantação do terreno, apenas a área total do
mesmo.
151
assim se fará uma análise da Taxa de Ocupação e da área total construída sem a
utilização de enquadramentos em zonas, de maneira mais demonstrativa.
Ainda em relação aos acessos, nota-se apenas uma entrada de veículos pela
Estrada Alto das Maravilhas, transitando por um corredor de serviço dentro da unidade
APAC. O fechamento das divisas é por meio de muros de aproximadamente 8 metros
de altura, de concreto armado, além de telas superiores a esta metragem como forma
de dificultar o arremesso de objetos para dentro do APAC.
Diferentemente dos demais presídios, atenta-se para a presença de
vegetações, tanto na praça de acesso quanto nos pátios dos regimes fechado e
semiaberto, aproximando o apenado do contato com a natureza e possibilitando
experiências que antes não eram permitidas no sistema tradicional.
A volumetria das edificações que compõem a APAC Santa Luzia possui a
predominância de formas laminares na direção horizontal, caracterizando seus
aspectos formais, remetendo a estabilidade e ao equilíbrio da forma por apresentar
agrupamento de retas em sua composição. Por se tratar de um estabelecimento penal
e por fatores de segurança e de sigilo de dados, a equipe técnica do MAB Arquitetura
não disponibilizou o projeto arquitetônico para análise e estudo. Entretanto, montou-
se, de maneira esquemática, croquis do projeto para as análises. Ademais, irá se
utilizar de registros fotográficos para a complementação da análise.
A Figura 79 demonstra esquemas gráficos para uma melhor visualização das
formas lineares e da horizontalidade das edificações.
153
projetual, por não apresentar um eixo “fixo” e por serem várias volumetrias na
implantação.
Santa Luzia classificam-se como uma variação de poste telegráfico, não possuindo
celas nas outras extremidades dos corredores, e os alojamentos do regime
semiaberto classificam-se como modulares por estarem dispostos igualmente no lote.
Em suma, nota-se que as formas adotadas para as edificações da APAC
possuem grande relação com a função exercida pela volumetria, uma vez que a
circulação central nas celas do regime fechado possibilitam a criação de aberturas em
duas diferentes fachadas dos blocos, ampliando o contato dos recuperando com os
pátios existentes entre as celas. Além disto, os módulos de alojamentos do regime
semiaberto também exploram os espaços onde foram alocados sem necessitar de
circulações para se chegar até cada dormitório, pois a porta de cada alojamento já
está voltada para o grande pátio do regime semiaberto.
O programa de necessidades geral da APAC Santa Luzia divide-se em seis
setores, como demonstrado na Figura 82, e será descrito brevemente por questões
de segurança65. O setor administrativo da APAC, o setor de serviço e o pavilhão para
familiares alocado na praça de acesso não serão considerados na análise da planta
baixa, sendo apresentado apenas registros fotograficos do pavilhão para familiares
em outro tópico deste capítulo.
65 Não será apresentado áreas dos setores por questões de segurança e devido ao fato de que as
plantas foram montadas de maneira esquemáticas a partir de visitas feitas in loco, não estando
corretamente igual ao projeto.
156
AUMENTO %
Aumento de 6,98% Diminuição de 10,05%
Fonte: APAC, 2019 adaptado pela autora.
162
Mesmo dentro do sistema prisional convencional, mesmo que ele tenha essa
consciência, de repente, opa... eu fiz uma merda da minha vida e eu cometi
um crime, eu fiz mal, eu estou arrependido... lá ele não vai ter condições para
167
que ele faça essa reflexão e para que ele retome o caminho, porque lá ele vai
ter que fazer acordos, ele vai ter que aliar, ele vai ter que fazer pactos de
silêncio, ele vai ter que testemunhar coisas pra se manter vivo e se omitir, ou
seja lá vai tirando dele aquele despertar da consciência que houve inicial da
mudança de vida da consciência pra dizer: olha eu fiz algo errado? É mas
aqui dentro também demanda fazer coisas muito piores (Entrevistado 6)
O projeto da unidade APAC, por ser mais atual, e por ter recebido auxilio
econômico federal e estadual, enquadrou-se em normativas federais e estaduais67,
desta forma nota-se um melhor dimensionamento das celas se comparadas as do
Presídio de Passo Fundo. Também nota-se a individualidade presente nas celas, onde
cada recuperando possui seu espaço próprio, com seus armários, sua cama e
banheiros adequados e higiênicos.
Mas por quais motivos as instalações, e a realidade de uma APAC se difere
tanto de um presídio do sistema tradicional, como é o caso do Presídio Regional de
Passo Fundo? “Isso pra mim é um termômetro, se a APAC ta fazendo um bom
trabalho e se ta surtindo efeito isso vem como consequência [...] se ele (o
recuperando) não limpa por dentro, ele começa a sujar por fora” (Entrevistado 6).
Ademais a metodologia não submete o recuperando aos extremos de vivência
coletiva que muitos estabelecimentos penais sujeitam. Novamente aborda-se as
adequações do projeto das celas destes locais, na APAC não é diferente. O projeto é
adequado e na APAC Santa Luzia o uso destes espaços também se faz de maneira
correta, onde as celas não ultrapassam o número total de camas, cada recuperando
tem o seu colchão, o seu armário e os banheiros foram projetados como qualquer
residência, com louças e não latrinas como o sistema tradicional utiliza, devolvendo a
dignidade deste recuperando até em seus momentos de higiene.
A Figura 95 exibe outros registros fotográficos de celas do regime fechado, com
foco na qualidade e higiene dos banheiros.
necessidades fictício, buscando saber a opinião e as vontades dos apenados em cumprimento de pena
em uma casa prisional anterior as normativas arquitetônicas.
70 O programa JASP é gratuito e possui o objetivo de analisar estatisticamente dados a fim de se criar
gráficos.
174
IDP= ∑ (∑APD*P-value)
I=11
k = número de observações
I = número de variáveis independentes
IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes no PRPF
APD = aspectos das infraestruturas71
P-Value = valor-P de significância da análise de regressão linear
IDP = ((CE=111*0.230) + (BW = 106*0.075) + (PT = 114*0.298) + (RF = 49*0.208) + (SO = 68*0.572)
+ (SA = 158*0.019) + (UBS = 129*0.341) + (RF = 108*0.538) + (LR = 137*0.592) + (SS = 141*0.909) +
(SJ = 124*0.183)) = IDP = 454,56.
DPTC = (454,56/2.145)*100
DPTC= 0,2119*100
DPTC= 21,19%
71 Este valor consiste no somatório de todas as respostas dadas pelos 65 apenados para a determinada
infraestrutura.
72 Este valor consiste na somatória de todas as respostas das variáveis independentes, considerando
73 Nesta etapa foi utilizado a regressão linear pois tratava-se de infraestruturas inexistentes e algumas
existentes, mas em pouca quantidade ou qualidade.
74 O PRPF não possui celas individuais pois já está superlotado e suas celas com capacidade para 4
75Setembro/2019.
76Foi informado o valor 4 para as respostas nulas pois o programa não estava computando valores
baixos, com poucos questionários aplicados.
181
Quadro 18 - Coeficiente de desempenho das infraestruturas existentes na APAC Santa Luzia – MG.
IDP= ∑ (∑APD*P-value)
I=25
k = número de observações
I = número de variáveis independentes
IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes na APAC
APD = aspectos das infraestruturas77
P-Value = valor-P de significância da análise de regressão linear
IDP = ((SV=45*0.599) + (RF = 46*0.566) + (SF = 46*0.525) + (RI = 51*0.504) + (PT = 54*0.554) + (SG
= 46*0.377) + (SB = 43*0.374) + (AC = 45*0.697) + (CE = 44*0.494) + (BI = 42*0.610) + (SA=44*0.523)
+ (SO = 45*0.492) + (IN = 48*0.714) + (AS = 47*0.483) + (PM = 45*0.610) + (CI = 48*0.237) + (BC =
56*0.607) + (QE = 44*0.226) + (SR = 44*0.375) + (LA = 44*0.340) + (VI = 43*0.484) + (AC=37*0.703)
+ (SJ = 40*0.323) + (CM = 45*0.381) + (RT = 45*0)) = IDP = 516,35.
77 Este valor consiste no somatório de todas as respostas dadas pelos 65 apenados para a determinada
infraestrutura.
183
DPTC = (516,35/1.125)*100
DPTC= 0,4589*100
DPTC= 45,89%
78Este valor consiste na somatória de todas as respostas das variáveis independentes, considerando
o valor 3 como resposta.
184
Quadro 20 - Coeficiente de desempenho das infraestruturas existentes na APAC Santa Luzia – MG.
IDP= ∑ (∑APD*P-value)
I=10
k = número de observações
I = número de variáveis independentes
IDP= avaliação de desempenho das infraestruturas existentes na APAC
APD = aspectos das infraestruturas79
P-Value = valor-P de significância da análise de regressão linear
IDP = ((RF = 46*0.482) + (CE = 44*0.893) + (SA=44*0.490) + (SO = 45*0.805) + (AS = 47*0.439) + (PM
= 45*0.961) + (SR = 44*0.493) + (SJ = 40*0.748) + (CM = 45*0.755) + (RT = 45*0.567)) = IDP = 294,20.
79 Este valor consiste no somatório de todas as respostas dadas pelos 65 apenados para a determinada
infraestrutura.
185
DPTC = (294,20/450)*100
DPTC= 0,6537*100
DPTC= 65,37%
80Este valor consiste na somatória de todas as respostas das variáveis independentes, considerando
o valor 3 como resposta.
186
sistema em que se está projetando, neste caso funcionários e detentos. Após a análise
dos formulários aplicados com os detentos do Presídio Regional de Passo Fundo/RS
e da APAC Santa Luzia/MG chegou-se em níveis de desempenho das infraestruturas
existentes em ambos os estabelecimentos, sob a ótica do apenado. Nesta etapa da
pesquisa será apresentado os resultados conquistados a partir de entrevistas com
gestores e técnicos dos dois distintos sistemas.
Para uma melhor explicação das respostas dos entrevistados, subdividiu-se as
perguntas estruturadas e apresentadas no APÊNDICE C em 3 variáveis, sendo estas:
- Variável infraestrutura: aborda as respostas obtidas para as questões de número 1;
2; 3; 9; 10; 12 e 14.
- Variável trabalho/educação: aborda as respostas obtidas para as questões de
número 5; 6 e 7.
- Variável ressocialização e relação homem e ambiente: aborda as respostas obtidas
para as questões de número 8; 11; 13; 15; 16; 17 e 18.
Cabe destacar que a pergunta de número 4 não foi utilizada por não apresentar
resultados pertinentes ao estudo. A seguir inicia-se a explanação das conversas com
gestores e técnicos relacionados ao Presídio Regional de Passo Fundo/RS.
A construção da Unidade Básica de Saúde por volta de 2016 pra 2017 com a
inauguração, os depósitos de alimentação e almoxarifado e o alojamento da
Brigada Militar na área externa intramuros ainda. A reestruturação do pátio
de visita, refeita a rede de esgoto e concretado o pátio onde as mulheres tem
o banho de sol e implantado grama em uma outra partezinha (Entrevistado
1).
A APAC começou a passar por este processo de reformas pra visitas dos
governadores, que vieram o governador de Minas, os governadores do Sul e
do Sudeste e ai daí pra cá já começaram muitas mudanças, tipo assim de
melhorias mesmo, de pintar, estamos com um projeto agora pra fazer reforma
geral mesmo pra mexer na padaria, pra mexer nas oficinas lá embaixo, então
assim, daí pra cá teve a visita do Ministro da Justiça também (Entrevistado
6).
Mas Passo Fundo... pelo contexto da arquitetura hoje, hoje ele é uma
estrutura bastante comprometida assim... a gente não diz que ele é um grau
de risco crítico, mas que ele é um grau de risco médio assim né... do ponto
de vista da estrutura. Mas por conta destas melhorias que vão fazendo ao
longo dos anos, vão arrumando algumas coisas né [...] alias, a 4° Região é a
pior região do estado, que é a região de Passo Fundo, é lamentável, mas
essa a situação deles hoje (Entrevistado 4).
Esta mesma análise pode ser feita na unidade APAC Santa Luzia “As celas do
fechado são ótimas, eu vejo como ambientes muito bons, bons mesmo. Do semiaberto
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precisa de reforma, não tá bom. Do semiaberto trabalho externo pra mim tá precário,
ali já chegou no limite” (Entrevistado 6). E a unidade não enfrenta problemas de
superlotação como o Presídio Regional pois parte de princípios metodológicos:
A APAC ela oferece além da estrutura que tem alojamento pra todos com
dignidade, saneamento nem se fala, a parte jurídica, odontológica, a parte
pedagoga que nós temos escola que inclusive nessa parte nós temos até
faculdade e o convívio dele com o mundo externo vai se colocando a partir
de que nós também recebemos muitas visitas e que ele no convívio com
outras pessoas eles começam a ter vontade de se tornarem pessoas
melhores também [...] A diferença já começa com pelo tratamento do nome e
que no sistema comum eles tem um número o nome dele de batismo não é
mais importante [...] e a APAC a primeira coisa que resgara pra ele virar um
cidadão é o nome de batismo (Entrevistado 5).
E nesta estrutura de mais de 7.000m² construídos “Tem espaço pra tudo que
você quiser, tudo que a gente quiser desenvolver a gente vai ter espaço, tem espaço,
foi pensado em espaço pra tudo” (Entrevistado 6). Projetualmente, possui
características espaciais únicas e dificilmente vistas em projetos penais no Brasil:
Há uma transformação da pessoa né, dos seus conceitos enfim, daquilo que
se espera, das suas percepções; das suas expectativas; acabam criando
expectativas; o comportamento acaba se tornando um pouco mais “normal”
do que o restante da população; o linguajar acaba mudando; a conduta; a
forma de se comportar [...] esse contato faz com que também a pessoa já se
predisponha a ter perspectivas de saída [...] Se a pessoa ta ociosa tem tempo
pra pensar nas situações enfim até de caráter criminoso (Entrevistado 1).
Não diferindo das oficinas laborais, a educação, direito garantido pelo Art. 41
da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984), também deve ser ofertada como forma de
transformação individual e social, dando ao detendo a oportunidade de uma
alfabetização e formação no ambiente penal:
Na prática nós temos 30, 40 pessoas né mas estão matriculados mais de 100,
110 dos quase 800 [...] cerca de 60, 70 pessoas levam o material para estudar
nas celas e só vem fazer a prova no último dia. Então teria uma procura muito
maior só que não tem a possibilidade por que não tem os espaços
(Entrevistado 1).
Agora quanto ao estudo, eu acho que é a parte mais fantástica que nós temos
aqui, porque quando ele chega, normalmente ele fala: “não quero fazer nada”,
ou então tem vergonha de dizer... Nós já tivemos aqui pessoas que tinham
vergonha de dizer que não sabiam assinar o nome e que saíram daqui
alfabetizados (Entrevistado 5).
Nós não temos como pensar que a ressocialização está sendo feita pelo
estado, aquele que não delinquiu é por mérito próprio por que por parte do
estado nada está sendo feito e os espaços em nenhum momento, em
nenhuma circunstância tem colaborado para a ressocialização pelo contrário
ele tem colaborado pra loucura, pra psicoses e outros tipos de situações
mentais oriundas dos transtornos causados pelo cárcere (Entrevistado 1).
Eu acho que a questão da arquitetura é o que que ela permite e o que que
ela não permite, então eu acho que ela influencia [...] o espaço prisional ele
influencia eu acho que ele permite coisas e nega outras né e até a questão
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O luxo é não ter rebelião, o luxo é não ter tanta reincidência... isso é que é o
luxo... o espaço colabora, mas não é só o espaço [...] mas pra nós sai muito
mais barato porque cada rebelião eles quebram o prédio inteiro... tem que
reformar tudo, e na APAC não, e olha que a APAC já passou por momentos
tensos (Entrevistado 7).
“A gente sabe que membros de facções alugam casas próximas. Eles estão
recrutando crianças para fazer os arremessos e elas são pegas, presas então
tem semanas que sobe droga no telhado que chegam próximo aos 10kg, fora
os arremessos de cachaça né... mas hoje eu te garanto 100% que o presídio
tá numa área inviável... até pelo risco que a população corre” (Entrevistado
3).
temos que ter um equilíbrio, atos de controle, mas ao mesmo tempo atos de
apoio também” (Entrevistado 1).
Eu acho que a gente tem que ter espaços, seja de escolas, seja de igrejas,
seja de presídios que cumpra com a sua finalidade [...] qual que é o presídio
ideal... é o presídio que cumpra com a sua finalidade. Qual que é a finalidade
de um presídio? É punir e recuperar, é punir o cidadão pelo crime que ele
cometeu e fazer com que esse cidadão não volte a cometer outros delitos
(Entrevistado 6).
Nós não temos como pensar que a Eu acho que a questão da arquitetura é o
ressocialização está sendo feita pelo que que ela permite e o que que ela não
RELAÇÃO HOMEM X AMBIENTE estado, aquele que não delinquiu é por permite, então eu acho que ela influencia
RESSOCIALIZAÇÃO E
mérito próprio por que por parte do estado [...] o espaço prisional ele influencia eu
nada está sendo feito e os espaços em acho que ele permite coisas e nega outras
nenhum momento, em nenhuma né e até a questão da subversão, da
circunstância tem colaborado para a resistência, da destruição, essas regras
ressocialização pelo contrário ele tem elas podem gerar várias reações
colaborado pra loucura, pra psicoses e (Entrevistado 7)
outros tipos de situações mentais
oriundas dos transtornos causados pelo
cárcere (Entrevistado 1)
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo dentro do sistema prisional convencional, mesmo que ele tenha essa
consciência, de repente, opa... eu fiz uma merda da minha vida e eu cometi
um crime, eu fiz mal, eu estou arrependido... lá ele não vai ter condições para
que ele faça essa reflexão e para que ele retome o caminho, porque lá ele vai
ter que fazer acordos, ele vai ter que aliar, ele vai ter que fazer pactos de
silêncio, ele vai ter que testemunhar coisas pra se manter vivo e se omitir, ou
seja lá vai tirando dele aquele despertar da consciência que houve inicial da
mudança de vida da consciência pra dizer: olha eu fiz algo errado? É mas
aqui dentro também demanda fazer coisas muito piores (Entrevistado 6).
Dificuldades de pesquisa
REFERÊNCIAS
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2019. 1 arquivo M4A (53 min.).
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do Amarante, Fabiano de Jesus Lima da Silva, Paulo Emiliano Piá de Andrade. Belo
Horizonte, MG: Cemig, 2010.
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1998.
DUTRA, Márcio. [ago. 2019]. Entrevistador: Gabriele Santin Figueiró. Passo Fundo,
2019. 1 arquivo M4A (37 min.).
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O NOVO Presídio de Passo Fundo está concluído, bonito mas sem utilidade. Diário
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VILLAÇA, F. Reflexões sobre as cidades brasileiras. São Paulo, SP: Studio Nobel,
2012.
APÊNDICES
Caso a APAC não tenha alguma infraestrutura listada anteriormente, liste a que você gostaria que
tivesse:
ANEXOS