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MURILO NUNES DE AZEVEDO

VARIAÇÕES EM TORNO
DE

TEMAS TEOSÓFICOS

Coletânea de Conferências

Editorial Teosófica
Rio de Janeiro
1955

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AO DR. BHAGAVAN DAS DEDICO
ESTE LIVRO COMO PREITO DE
SINCERA HOMENAGEM POR ME
HAVER APONTADO O CAMINHO
QUE CONDUZ AO REAL

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VARIAÇÕES EM TORNO DE TEMAS TEOSÓFICOS
“Os arquivos do Passado"

“Mundos e mundos estão rolando sempre


Do nascimento à dissolução,
Como bolhas em um rio formadas,
Cintilantes, dissolvendo-se e nascendo novamente.”

Shelley

Quando estudamos na Teosofia a questão dos arquivos do passado, onde são


indelevelmente registrados os eventos ocorridos no Cosmos desde a sua origem,
muitos de nós instintivamente sacodem a cabeça não compreendendo, ou mesmo
rejeitando, sem maiores cogitações, tal hipótese como ilógica. A dúvida ainda mais se
avoluma, tendendo para um franco ceticismo quando se lê que é possível a predição do
futuro com toda a segurança.
Será crível que daqui a milhares de anos ainda ressoem as palavras que neste
instante profiro? E que seja dado a um hipotético observador o "dom" de reconstituir o
que se passa hoje nesta sala onde nos encontramos momentaneamente reunidos? Sim.
É possível, arrisco-me a responder, apesar do absurdo aparente desta lacônica
afirmativa.
Para abordar a questão, é necessário pôr de lado todos os hábitos mentais, todas
as fórmulas pré-estudadas que revoluteiam em nossa mente e nos levam,
instintivamente, "a priori", ao julgamento do que é lógico, ou ilógico, do que nos
parece um bem ou um mal. Essa condição é fundamental. Uma vez atingida. estaremos
aptos a analisar a questão dos arquivos do passado com toda a isenção de ânimo. O
problema reduz-se à comprovação da logicidade da nossa hipótese, Vejamos em
primeiro lugar o que é a palavra; a seguir o que são os seres humanos e todas as demais
coisas em função das quais traçamos os nossos quadros de referência, e finalmente o
modo pelo qual se traduzem as relações espaço-temporais do homem com o meio que
o cerca.
A palavra é uma perturbação vibratória da atmosfera, originada pelas oscilações das
nossas cordas vocais tangidas pelo ar que conscientemente expelimos.
A intensidade e a forma pela qual o ar é impulsionado, combinadas com a situação
particular da boca, da laringe, etc., permitem criar perturbações vibratórias com
características definidas.
Cada palavra é o símbolo de uma ideia que se pode relacionar a um objeto concreto
ou abstrato. Ao vermos um objeto concreto, imediatamente, em virtude do
condicionamento do meio em que nascemos, vem-nos à memória a palavra-rótulo
identificadora. Por exemplo, isto que estou indicando representa uma realidade que dentro
do nosso idioma se expressa pelo vocábulo “cadeira”. Para um indivíduo nascido e criado
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em outras regiões, portanto não identificado com os sons encadeados com que
normalmente o pronunciamos ou mentalmente o formulamos, ao nos depararmos com
este objeto, esta mesma realidade será designada pelas palavras Chair, Stuhl. Chaise, etc. O
mesmo mecanismo ocorre em relação a concepções e estados abstratos. Bonheur,
Happiness, Glucklickeit ou Felicidade, são palavras que exprimem um mesmo estado
intimo peculiar a cada ser humano. Da mesma forma a Realidade Última, “em que
vivemos, nos movemos e temos o ser”, como dizia S. Paulo, será Deus. Dieu, God, Got,
Brahman e assim sucessivamente. Meditando um pouco sobre este ponto veremos que a
realidade, isto é o objeto, em sua essência mais íntima, é uno indivisível e indiferenciável.
Os diversos rótulos são aspectos simbolizantes dessa realidade. e não a realidde em si
mesma considerada. Encontramos em Chuaug-Tsé, filósofo chinês que foi o grande
divulgador das ideias de Lao-Tseu, vastíssimos trechos em que o perigo do aferramento às
palavras e à futilidade da linguagem é constantemente ressaltada. A ideia de futilidade da
linguagem está intimamente ligada à teoria do conhecimento dessa realidade. Encontra-se
no livro do Tao, comentado pelo mencionado filósofo, a seguinte citação: "Aquele que
verdadeiramente sabe não fala. Aquele que não tem conhecimeto, fala. Portanto o
realmente Sábio prega a doutrina sem palavras".
Seja-me licito continuar citando frases desse pensador em palavras simples e
aparentemente paradoxais, mas que conseguiu como poucos aproximar-se da realidade das
coisas. No capítulo 56 dos comentários ao livro do Tao depara-se esta pérola de profunda
filosofia que vos apresento a seguir: "Quando as pessoas pensam que conhecem a verdade
elas pensam em livros. Livros são somente palavras, e as palavras naturalmente têm um
valor. Mas o valor das palavras reside no significado por detrás delas. Este significado exige
esforço para colher alguma coisa; mas essa coisa não pode realmente ser expressa por
palavras. Por causa do valor que o mundo dá às palavras é que os livros são preservados.
Mas eu não lhes dou valor, porque o que eles valem, não é o real valor dos livros. O que o
olho pode ver são formas e cores. O que o ouvido pode ouvir são nomes e sons... Aliás os
homens pensam que pelas formas e cores, nomes e sons conseguem penetrar até à
verdade da realidade. Desde que formas, nomes, cores e sons não nos podem auxiliar a
atingir a verdade da realidade, aquele que sabe não fala, e aquele que não sabe fala".
Inúmeros exemplos da relatividade das palavras e da sua inutilidade para exprimir
conceitos que estão muito acima desta nossa existência corriqueira no plano físico, podem
ser encontrados em muitos Filósofos, sábios e místicos da humanidade. Basta relembrar o
episódio mencionado na Bíblia (S. João 1/8/37/38) em que Pilatos, inquirindo a Jesus.
pergunta-lhe:
37 - Disse-lhe pois Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu
para isso nasci e para isso vim ao mundo a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele
que é da Verdade ouve a minha voz.
38 - Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade ? E dizendo isto voltou a ir ter com os Judeus e
disse-lhes: Não acho nele crime algum.
Nenhuma palavra melhor poderia responder a Pilatos do que o silêncio do divino
Mestre, demonstrando irretorquivelmente que a verdade é silêncio, e que qualquer jogo
de palavras por mais belas que sejam não consegue exprimir o que é a Verdade, pois a
Verdade só pode ser ouvida no mais profundo silêncio, silêncio não só de sons mas também
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como sinônimo de calma, paz interna, domínio dos sentidos e da mente. E se não temos
palavras, por maior sensibilidade poética que possuamos, para representar o sentimento
interno que experimentamos por um filho, um amigo, um por de sol ou mesmo uma flor,
como alimentarmos a pretensão de descrever a Verdade absoluta?
O verdadeiro artista é um insatisfeito; ele sabe que o mais belo fruto do seu intelecto,
seja um poema, uma sinfonia ou um quadro, é um arremedo enormemente distante
daquilo que ele sentiu mas não teve, vamos dizer, forças para captar.
Há um outro episódio sugestivo relatado por Wu-Cheng-em, fato passado com o
Senhor Buda.
Certo dia, durante as suas constantes peregrinações pela Índia, levando a todos a
atmosfera propícia que o rodeava, foi-lhe introduzida uma delegação de sábios
chineses ansiosa de se pôr em contacto com ele para ter conhecimento da doutrina
que estava sendo difundida, a fim de transportá-la para a China e divulgá-la. Após
ouvirem os ensinamentos sobre as quatro nobres verdades e o caminho óctuplo que
conduz à libertação do indivíduo e todas as demais instruções, chegou a ocasião do
retorno. Desapontados por não terem recebido nenhuma instrução por escrito,
reclamaram-na a dois discípulos de Buda: Ananda e Kasyapa. Receberam então uma
série de rolos completamente em branco. Quando os sábios chineses verificavam que
neles nada havia escrito ficaram indignados e solicitaram ser levados à presença de
Buda a fim de lhe relatarem o ocorrido. Este os recebeu calmamente e sorrindo lhes
disse: - Não há necessidade de gritar. De fato esses rolos em branco são as verdadeiras
Escrituras. Agora já vejo que a gente da China é demasiadamente simples e ignorante
para acreditar nisso, de modo que não há outro remédio senão dar-lhes outros
exemplares com alguma coisa escrita...
O Budismo está cheio de passagens que mostram a relatividade das palavras,
Existe uma outra que diz: "O que sabe por ensinamento do Buda, não é o ensinamento
do Buda". E este outro que encerra em sua singeleza um oceano de sabedoria: “A
Verdade realmente não foi nunca predicada pelo Buda, pois cada um deve descobri-la
em si mesmo".
Poderiam os multiplicar citações idênticas em seu espírito, procedentes de fontes
as mais diversas. Mas isto levaria a nos afastarmos em demasia do nosso assunto.
Os sons originados pela vibração de minhas cordas vocais propagam-se em todos
os sentidos acarretando a sensibilização dos objetos contra os quais se chocam. No
caso da audição a ressonância produzida pelo impacto periódico das oscilações do ar de
encontro às membranas auditivas, é transmitida por uma cadeia de minúsculos ossos
até um micro-oceano contido no labirinto. A tempestade se forma perturbando o
líquido tranquilo e agitando os filamentos do nervo auditivo que nele estão
mergulhados. Os sinais são eletricamente transmitidos aos centros cerebrais, onde
complicadíssimo processo ocorre até que surge a sensação do som, e a percepção das
realidades que pretendo, por esse encadeamento sonoro, exprimir. O processo é
quase instantâneo. A medida que as ondas se afastam do objeto que as emite, vão
gradualmente se amortecendo, de modo que, a uma pessoa que se encontre neste
instante numa sala contígua, estas palavras ou passam desapercebidas, somando-se ao
nível contínuo dos ruídos do ambiente, ou poderão parecer-lhe débil murmúrio
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arrancado pelo vento que passa entre as folhas.
Neste momento exato, em todo mundo seres humanos proferem palavras as mais
dispares ou percebem, como vocês receptivamente as ondas sonoras produzidas no
meio em que se encontram. Fatos diversos ocorrem simultaneamente. Tombam
árvores fendidas pelo raio no seio das florestas. Gotas de orvalho choradas por lírios
produzem mansos arrepios concêntricos no seio de tranquilos lagos. Tamborila a chuva
de encontro à terra sequiosa. Os homens riem, choram, rezam e blasfemam, mas a
infinita precisão de fatos se engolfa no passado; após viverem a fugacidade de um
momento, perduram indefinidamente em uma região em que o tempo humano perde
a validez. Essa região com que a consciência de alguns seres pode ser sintonizada é o
Akasha. Aí estão os arquivos do passado. Lá tudo existe em um eterno presente, A
Realidade despida de todas as ilusões que a ocultam, brilha imutável, eternamente,
em sua essência mais sutil, completamente liberta das noções humanas de presente,
passado e futuro.
Mas como pode isso ocorrer? Onde se encontra essa região? São dúvidas
instintivas que assaltam a mente de qualquer um, especialmente a dos ocidentais cujos
hábitos mentais foram forjados tendo como norma a fria lógica científica. Parece à
primeira vista muito ousada a afirmativa de que passado e futuro não existem. Todos
nós recordamos eventos que ocorreram antes de aqui chegarmos, bem como uma série
de outros relativos à nossa infância e juventude. Para nós esse conjunto de fatos
rememoráveis pertence a uma classe que convencionalmente designamos como
passado. Quanto ao Futuro, é a região prenhe de fatos em potencial que esta a nossa
frente, no tempo, e que à medida que a Terra avança em sua peregrinação em torno do
Sol vivem o instante fugidio incorporando-se a um passado que nos parece irreversível.
Para melhor compreensão do mecanismo do processo temporal e seu
desenvolvimento, analisemos a grande Unidade cósmica em que todas as coisas existem.
Olhemos ao redor, para cima, e principalmente, através dos estágios da concentração,
meditação e contemplação, para dentro de nós mesmos. Tudo é movimento, do macro até
ao microcosmos. A imobilidade aparente das coisas é ilusória. Contemplemos o
firmamento. Miríades de pontos luminosos ferem a nossa sensibilidade. Alguns móveis,
outros aparentem fixos, pelo fato de a distância de milhões de anos-luz lhes anular a
velocidade quando os contemplamos deste humilde planeta dentro da exígua duração
da nossa vida. Coloquemos uma gota d’água sob a ocular de um microscópio, e logo
observaremos uma incalculável flora e fauna movimentando-se sem cessar, nessa gota
que para eles é o seu universo. Aí nascem, reproduzem-se, morrem e se desagregam em
um constante torvelinho. Com o ar ocorre o mesmo fato. É constante a dança de poeiras e
microrganismos produzida pelas moléculas em constante agitação. Com as moléculas e
átomos, quando os consideramos como um sistema isolado, o movimento esta sempre
presente. Da mesma forma esta mesa, aquelas cadeiras, nós mesmos, em suma,
qualquer objeto é constituído de moléculas e átomos que se agrupam ordenadamente em
sistemas de ordem crescente em complexidade e em constante movimentação. Lembro-me
das palavras de um sábio que, definindo magistralmente a natureza, disse: "A natureza é
uma contínua vibração, um contínuo crescimento, ligado pela cadeia da causalidade".
Vemos nesta simples frase, representada em suas linhas mais gerais. a ideia da grande
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Unidade que tudo abrange - e que é para o sábio, natureza e pra o místico, Deus, ou seja
o movimento continuo través da eternidade, a evolução da vida e a grade lei do Karma que
encadeia e dirige toda a manifestação.
Observemos um "sólido" qualquer. Por exemplo, um espelho cuja superfície lisa e
polida reflita os objetos que estão dentro de seu campo. A superfície, tão uniforme, torna-
se irregular, sulcada de reentrâncias e protuberâncias, se a observarmos com uma
grande ampliação. Se fosse possível conseguir ampliações cada vez mais precisas, o nosso
espelho esvanecer-se-ia aos poucos, só restando da sua aparente solides um conjunto
imenso de partículas subatômicas deslocando-se com velocidades incalculáveis a enormes
distâncias uma das outras.
A interação dessas partículas produz uma concentração energética espaço-temporal
ou campo que, sensibilizando os nossos sentidos, nos dá a impressão de um objeto
concreto identificado pela palavra espelho. Identicamente estas cadeiras, este edifício que
nos abriga, enfim todas as entidades, são campos de energia. Em resumo, matéria é ilusão.
Lembro o versículo 16 do Cap. 2 do poema hindu Bhagavad Gīta, uma das obras de mais
profunda sabedoria; jamais escritas pelo homem, que diz:
"O irreal é uma ilusão; o real nunca cessa de existir. Aqueles que veem a essência das
coisas compreendem a verdade desses dois pontos".
A ilusória solidez e impenetrabilidade da matéria é função do seu grau de concentração
energética, ou melhor da sua densificação. A natureza é energia. É Pakriti, conforme a
filosofia Sankia. Atrás dessa fremente energia repousa a base imutável que reflete todo
esse frêmito. Essa raiz é chamada pelos hindus Purusha, A energia ou Prakriti é
considerada pela ciência sob dois aspectos: energia cinética e energia potencial.
Procuraremos mostrar que esses dois aspectos não têm validez quando consideramos a
Energia em sua realidade mais profunda. A física ensina que Energia é a capacidade que
possuem os corpos de produzir trabalho. Sendo o trabalho definido como o produto da
forca aplicada pela distancia percorrida pela ação dessa força. Quando um corpo está em
movimento diz-se que está produzindo um trabalho e que possui energia cinética. O
trabalho produzido é a resultante dessa energia cinética. Quando o objeto esta em
repouso possui somente energia potencial conforme a situação particular em que se
encontra. Como exemplo pode-se citar o caso de um relógio. A corda desse relógio possui
energia potencial ou armazenada que irá transformar-se em energia cinética ao
movimentar os ponteiros. Como outro exemplo podemos lembrar o caso de um corpo em
repouso situado em uma prateleira a certa altura do solo. Esse corpo possui energia
potencial proporcional ao produto do peso do corpo pela altura em que se encontra. Como
porém já vimos anteriormente, de passagem, que o repouso não existe a não ser em
relação a sistemas que se desloquem na mesma direção e sentido, cada corpo possui além
da energia potencial em relação ao seu sistema de referência uma energia cinética em
relação a outro sistema do qual não faça parte. Suponhamos novamente o nosso sólido
colocado em uma prateleira. Esse corpo terá como já vimos uma energia potencial em
relação à Terra que é o seu sistema de referência. A sua energia cinética é nula em relação
à Terra, pois a supomos em repouso. Sabemos porém que a Terra se desloca em torno
do Sol, portanto conclui-se que o nosso objeto, como todos os outros que
considerarmos em repouso, possui energia cinética em relação ao Sol considerado
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como novo sistema de referência. Deduz-se então que, nos corpos em repouso, a
energia cinética é nula, variando porém de O ao infinito em relação a outros sistemas,
à medida que a velocidade relativa entre os dois sistemas considerados, - o que
contém o corpo e o outro em relação ao qual o consideramos, - varia de O a C., sendo
C a velocidade da luz que é de 300.000 km/seg. Em física a fórmula da energia cinética
é 1/2 mv², em que M é a massa do corpo e V a velocidade. Vemos portanto que à
medida que e velocidade V aumenta tendendo para C. a massa tende para o infinito.
No seio do Universo em que tudo é movimento. a resultante da infinita integração de
todos esses movimentos. é O.
Como vemos. nada existe ele novo sob o Sol. O conceito metafísico de Purusha,
raiz imóvel de tudo que se move, expendido pelos filósofos hindus da escola Sankia há
quase dois milênios, está agora cientificamente provado.
Já no século 17 o filósofo Benedito Spinoza, na sua obra monumental “A natureza
é origem da mente", dizia com um rasgo de profunda intuição:
"Todo os corpos naturais podem e devem ser considerados pelo mesmo modo
que consideramos, em exemplo anterior, o sangue; pois todos os corpos rodeados
por outros, são mutuamente determinados para existir e operar segundo relações
fixas e definidas, enquanto que a relação entre movimento e repouso na soma total deles,
isto é, em todo o Universo, permanece imutável".
Mais recentemente, entre inúmeras outras citações, escolhemos uma do maior
filósofo vivo hindu que exerce atualmente a vice-presidência do seu país, professor S.
Radhakrishnam, que em uma de suas obras diz:
"As mudanças. são alternativas ou acidentes de uma substância permanente;
enquanto o Todo é imutável, as mutações são aspectos relativos desse Todo".
Vejamos, para aclarar esse conceito fundamental, um exemplo. Focalizemos
ligeiramente o ponto de vista da ciência ortodoxa e o da Teosofia em relação ao vasto
Todo chamado Universo. Para a Teosofia o Universo é constituído pela integração de
diversos planos contínuos e interpenetrantes, variando de intensidade desde O até ao
infinito. Esses planos, em número de sete, tem cada um seus limites fixados por
valores de densidade da "matéria" que os constitui. Para a Ciência não há subdivisões.
Em última análise, tudo é físico, não havendo fronteiras reconhecidas entre o mundo
físico e suprafísico. Dentro desse grande Todo Universal, constituídos pela matéria
peculiar a cada um desses planos, embebidos nela, existem sistemas diversos. Quero
aclarar que emprego aqui a palavra “sistema” no sentido de campo energético
espaço-temporal, existindo isoladamente. Qualquer objeto ou ser, isoladamente
considerado, é um sistema, constituindo, como já ventilamos, a resultante da soma de
um enorme número de sistemas de ordem inferior. Cada objeto tem, conforme seu
tipo, raízes mais ou menos profundas em planos; de menor densidade. Imaginemos
um corpo qualquer. Um cubo de madeira por exemplo. Esse cubo, imóvel à nossa
Frente, constitui um sistema dentro do plano físico. Aparentemente isolado, é
entretanto, um universo em miniatura formado por bilhões de moléculas vibrantes.
Cada molécula. admitida isoladamente, é um sistema de segunda ordem em
imobilidade. Analisando uma molécula vemos que a mesma é estruturada em
sistemas de terceira ordem: os átomos. Aplicando-se o mesmo raciocínio,
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chegaremos, passando por sistemas de quarta, quinta e sexta ordem, até um sistema
de ordem N. Sempre universos dentro de universos. O Universo de ordem mais
elevada ou sistema, resultante da integração e interpenetração de todos esses
sistemas frementes de movimento, é o cubo placidamente imóvel posto à nossa
contemplação. Nós, observadores externos, somos o Purusha em que se reflete esse
cubo energético de Prakriti.

Uma outra imagem, desta vez geométrica, servirá para melhor fixação da ideia
de repouso absoluto num Cosmos transbordante de movimento.
É fato conhecido que podemos representar velocidades por vetores. A resultante
desses vetores é obtida pelo método do paralelogramo. Ex:

No caso de um grande número de vetores a resultante será a soma das


resultantes parciais 2 a 2:

Até aqui consideramos vetores no mesmo plano, ou seja, vetores complanares.


No caso do espaço tridimensional o método é o mesmo. O nosso cubo seria em um
instante determinado:

Transportando-se todos os vetores para um único centro veríamos que a


resultante dessa infinita soma seria nula quando consideramos o cubo como um
sistema isolado, ou melhor como um universo.

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Colocando-nos como observadores internamente ao sistema, como se fizessemos
parte dele, o movimento é incessante, ao passo que, externamente, o cubo nos
parece perfeitamente determinado em seu repouso. Aí estão os dois aspectos, a
qualidade emanada da unidade: Purusha-Prakriti, Movimento-Repouso, Energia-
Matéria, Bem-Mal, Luz-Sombra, dependendo unicamente do ponto de vista em que se
coloca o observador. A lei suprema no universo é a da unidade, de onde todas as
outras emanam como corolários. Essa Unidade, - Brahman, é simultaneamente
Purusha e Prakriti para os hindus. Os filósofos chineses Taoístas chamam Tao à Grande
Unidade; e aos seus dois aspectos yang e yin. Lao-Tse assim se expressava a respeito:
"A origem do universo é um problema que desafia a mente e a linguagem do
homem. Tentarei contar-vos aproximadamente como ela ocorreu. O grande yin esta
majestosamente silencioso e o grande yang impressionantemente ativo. Um
imponente silêncio vem do céu, uma notável atividade provém da Terra. Quando os
dois se encontram e fundem, todas as coisas são formadas. Alguns podem ver a
junção, mas não veem as formas. O crescimento alterna-se com a decadência, a
plenitude com a exaustão, as trevas com a luz. A cada dia que passa as coisas mudam,
e em cada mês são transformadas. Vedes o que está ocorrendo diariamente e
observais que a mudança é imperceptível. A vida provém de uma origem, e a morte
nada mais é do que o retorno a ela. Assim, ao começo, segue-se o fim em um contínuo
ciclo infindável. Portanto, sem o Tao, qual seria o princípio gerador que uniria o
Todo?"
Daí decorre que o aspecto dual nasce da contemplação da unidade. A eterna raiz
comum a todas as coisas e que as congrega ao grande Todo, jaz sob a enganosa
diversidade da natureza. A separação é irreal, aparente, pois não há no Cosmos
sistemas estanques. Tudo é inter-relacionado de um modo perfeito. A imagem de uma
grande e frondosa árvore com múltiplas raízes mergulhadas em todas as direções no
seio da mãe terra, com o tronco único do qual nascem vários ramos que sustentam as
mais delicadas folhas, dá uma ideia aproximada do Universo. A mais humilde folha,
isoladamente observada, constitui um sistema separado. Esse sistema isolado faz
parte de um outro de ordem superior (o galho) que por sua vez junto com todos os
outros galhos provém de um tronco único profundamente enraizado. Como vemos, na
árvore como no Cosmos, a integração progressiva de sistemas se verifica. Da folha
chega-se à majestosa árvore; com o elétron edifica-se o Universo.
A relação do homem para o Todo foi magistralmente fixada por Spinosa no trecho
que se segue:
"Imaginemos, com vossa permissão, um pequeno verme vivendo no sangue, mas
apto a distinguir pela visão as partículas desse sangue, a linfa, etc., e a raciocinar sobre
a maneira pela qual cada partícula ao encontrar outra partícula, a repele ou lhe
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comunica uma parte do seu próprio movimento. Este pequeno verme viveria no
sangue da mesma forma que nós vivemos nesta parte do Universo. e consideraria cada
partícula sanguínea não como uma parte, mas como um todo".
Acabamos de analisar o que somos, e o que são os objetos que nos rodeiam;
passemos, portanto, a cogitar do modo pelo qual se relacionam no espaço a no tempo
esses objetos e pessoas.
Como já referimos, cada objeto animado ou inanimado é um campo energético
espaço-temporal. A ação desses campos verifica-se em torno deles e em todos os
sentidos de forma análoga ao magnetismo em relação a um ímã, ou à atração
gravitacional de um corpo celeste. Cada objeto possui, portanto, dentro de certas
características, um campo similar ao da gravidade. Temos a considerar que todo objeto,
além da sua tônica que é a constante gravitacional, emite uma série de vibrações
produzidas pelas modificações do seu campo, e que estão constantemente ocorrendo,
quer por causas internas quer por ações externas. Essas vibrações ou radiações são
perturbações periódicas no espaço e no tempo caracterizadas por:

1) Comprimento de onda;
2) Frequência;
3) Velocidade de propagação;
4) Intensidade.

Comprimento de onda é, por definição, a distância que medeia entre dois pontos
simétricos. A ciência vem estudando e classificando as radiações de acordo com os
respectivos comprimentos de onda, agrupando-os num conjunto denominado espectro
eletromagnético. O espectro é dividido em zonas congnominadas respectivamente
Raios cósmicos, Raios X, Raios Gama. Raios Ultravioleta, Raios Luminosos, Raios
Infravermelhos e ondas hertzianas. Acima dessas, toda a série enorme de vibrações
verificadas em planos suprafísicos, como sejam: o pensamento, e as emoções, são
ignoradas.
A frequência, que é o número de variações na unidade de tempo, está
intimamente ligada à velocidade de propagação. Essa velocidade é função das
características do meio em que a radiação se manifesta. Para a ciência, a velocidade de
propagação das radiações eletromagnéticas no vácuo é admitida como sendo igual à
velocidade da luz, isto é, 300.000 km/seg. Essa constante é a pedra sobre a qual se
apoia todo o imponente edifício da física moderna. Velocidades superiores à da luz são
impossíveis, sob pena de desmoronar-se toda a física Einsteiniana de modo análogo à
física Newtoniana quando apareceu em cena a teoria da relatividade. Estamos nos
aproximando do dia em que serão reconhecidas radiações com velocidades superiores
à da luz. Nessa ocasião, os horizontes do conhecimento humano serão iluminados por
uma nova física de caráter, podemos dizer, cósmico. Essa nova física não invalidará a
física de Einstein, da mesma forma que esta última não invalidou a de Newton. Cada
uma dessas físicas terá validez dentro de certos limites, acima dos quais serão aplicados
os princípios e métodos da física de ordem superior.
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Falta-nos abordar, ligeiramente, o que seja Intensidade de uma vibração.
Intensidade ou "altura" é função da maior ou menor "ação" com que foi produzida essa
vibração e também, dos característicos do receptor que a sintoniza. Aproximemo-nos
de um piano e levemente calquemos uma tecla: o efeito dessa ação será a produção de
um som de baixa intensidade. Se gradualmente aumentarmos a força de percussão da
tecla, o som irá, paralelamente, aumentando de intensidade. Imaginemos que
continuamos no nosso hipotético piano a percutir a mesma nota cada vez com mais
força. O som aumentará progressivamente, causando ao nosso ouvido sensações cada
vez mais fortes. Quando o número de decibéis, - que é unidade física de intensidade
sonora, - atingir um determinado valor, a sensação sonora tornar-se-á dolorosa. O
tímpano do aparelho auditivo atinge nesse momento o máximo de vibrações que a sua
constituição morfológica lhe permite para responder às ondas que com ele se chocam.
É o ponto critico da audição. Após esse limite, a onda sonora de intensidade crescente,
irá tornando-se aos poucos num leve zumbido até atingir a inaudibilidade. Essa zona de
silêncio para nós, poderá constituir para um animal um som de intensidade fortíssima.
Resumindo. o comprimento de onda é a qualidade da radiação. Conforme esse
comprimento uma radiação será som, onda de rádio, etc. Fato a relembrar é que a
radiação não perde a sua qualidade quando a intensidade aumenta,
O homem, é um campo energético, espaço-temporal, que emite e recebe
vibrações. A emissão é feita através de palavras, emoções, e pensamentos. A recepção
pode ser consciente ou inconsciente. A recepção consciente verifica-se dentro da
estreita faixa dos chamados cinco sentidos; e a inconsciente através de todos os seus
veículos sutis sem interferência da percepção sensorial. Acima ou abaixo dessas
limitadas zonas sensoriais, o homem é cego, surdo-mudo, sem olfato, sem tato, da
mesma forma que um aparelho receptor de rádio de ondas longas permanece
insensível às vibrações emitidas pelas estações rádio difusoras de ondas curtas.
Examinemos agora o mecanismo dos fatos ocorrentes na natureza. Suponhamos
um "evento". Seja ele, uma palavra, um som, um gesto, um pensamento ou qualquer
outra manifestação. Qualquer evento ao "ocorrer" produz perturbações vibratórias no
meio em que primitivamente se originou. Essas vibrações propagam-se ao meio que as
produziu e, simultaneamente, "aprofundam-se" propagado-se em planos mais sutis.
Suponhamos uma nota sonora: à medida que a mesma se afasta em sua propagação no
plano físico, amortecendo-se gradativamente até se tornar inaudível, essa mesma nota está
se aprofundando e fazendo-se sentir no plano astral, constituído de matéria muito mais
sutil que o físico. Nesse novo plano a vibração propaga-se com maior facilidade, sendo
portanto a sua duração, consequente a um menor amortecimento, muito superior à do
plano físico. A manifestação continua em planos mais rarefeitos que o astral. O mecanismo
é sempre o mesmo: propagação, aprofundamento, e duração cada vez maiores, à medida
que o coeficiente de amortecimento diminui. Vemos que em um plano infinitamente sutil a
duração será infinitamente longa. Esquematicamente podemos representar o processo da
seguinte forma:

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Convém frisar que a velocidade com que uma vibração se "aprofunda" é quase
instantânea, e relembrar que todos os planos da natureza não estão superpostos, e sim
interpenetrados, daí as aspas que usamos na palavra "aprofundar".
A todos os outros eventos, quer sejam sons ideais, anseios, ou corpos, - que como já
vimos nada mais são do que formas vibratórias, ou concentrações energéticas, - o mesmo
raciocínio poderá ser aplicado. Qualquer "evento” tem raízes profundas que escapam à
percepção humana. São essas raízes que perduram indelevelmente durante os períodos de
manifestação cósmica. Um outro esquema servirá para melhor fixarmos as ideias.
Imaginemos uma região montanhosa em que existam desde picos os mais altos até às mais
humildes elevações, e que um súbito dilúvio, inundando planícies e vales, só deixasse à luz
do solos mais elevados picos das serras. Um observador que presenciasse, perplexo, o
cataclisma, postado em uma das elevações, verificaria que aquela vasta região constituindo
primitivamente um só todo, havia mudado de aspecto, apresentando apenas uma série de
ilhas dispersas no seio da massa líquida. Essa a situação do homem: sentimo-nos como
ilhas. completamente isolados dos nossos semelhantes, desconhecendo que abaixo da linha
das águas todos somos um no grande todo que é a base, a raiz da manifestação.

Nesta base é que se acham registrados os anais, ou arquivos do passado. A eles têm
acesso somente os seres que podem "ver" e interpretar essas raízes perenes,
reconstituindo, desse modo, o passado.
Vejamos para terminar a maneira pela qual se processam as relações espaço-
temporais do homem com as entidades que o cercam, a fim de formularmos uma teoria
sobre o processo pelo qual o homem tem acesso a esses anais.
Já vimos que cada entidade é um conjunto energético com características próprias ao
sistema do qual faz parte. Uma entidade, isoladamente considerada, é um Universo
resultante da soma de um número infinito de universos de ordem inferior. É pois infinito o
número de universos dentro do Universo. Nesta sala existe, neste instante, um número
incalculável deles. Eu, vocês, todos esses objetos visíveis, bem como os invisíveis aos
nossos sentidos, aqui se encontram momentaneamente reunidos. E cada um deles,
isoladamente, é e resultado da integração de electrons, átomos e moléculas aglutinando-se
em torno de um centro polarizador. Esse centro polanizador é uma espécie de baricentro
14
energético. Além desses, muitos outros nomes têm sido dados a essa essência divina da
alma: ápice, base, centelha, fogo, luz interna. Não importa o nome; o que importa é termos
consciência da existência desse fogo aglutinador que existe no âmago de todas as coisas.
As entidades quer sejam homens, animais ou vegetais, movimentam-se e vivem em
função dos quadros de referência que lhes são peculiares. Para os homens esses quadros
de referência são de quatro dimensões. Três espaciais: comprimento, largura e altura,
(x, y, z) e uma temporal: o tempo (t). Além dessas dimensões externas existem
"dimensões internas" que se vão revelando à medida que o indivíduo evolui, tornando-
o sensível a regiões muito acima do plano físico. Os "sentidos", nesses planos, são
completamente diferentes daqueles de que comumente somos dotados. A "visão
interna" proporciona concepções radicalmente afastadas das que provêm dos nossos
órgãos sensoriais. Homem verdadeiramente consciente é então aquele que passa a
viver em regiões de muito maior número de dimensões.
Em uma das "slokas" do Bhagavad-Gita as palavras do Divino-Instrutor (Krishna) ao
seu discípulo Arjuna, são as seguintes:
"O que é obscuro para o comum dos mortais, é claro para o Mestre; e o que é claro
para o homem comum, não passa de espessa treva para o Mestre".
A maioria da humanidade, especialmente os ocidentais, vivem cegos às belezas
desses espaços interiores, apegados que estão ao utilitarismo da vida atual de fundo
eminentemente objetivo e entorpecedor. Esse dinamismo, a luta pela existência, é o
maior entrave à descoberta do portal onde tem início a senda que nos conduz ao "reino
dos céus" que todos inconscientemente possuímos dentro de nós mesmos. Os outros
obstáculos mascaradores são os que Francis Bacon chamou de Ídolos. Esses ídolos ele
os classificou em quatro espécies a saber: Ídolos de tribo, gerados pela corrupção da
inteligência que com a sua mania de generalizar pretende explicar a natureza em
termos de atividade humana. Ídolos de caverna, os preconceitos individuais, e de
educação que terminam enredando o homem, quase o sufocando, mantendo-o cativo
como se preso estivesse em uma caverna. Ídolos de praça pública, os impedimentos
por nós mesmos criados pelo exagerado valor que damos às palavras. Por fim Bacon
cita os ídolos do Teatro, que no meu entender são os de pior espécie. Esses ídolos são
os argumentos das autoridades. Bacon cita como principais tiranos a Aristóteles que ele
chama "o pior dos sofistas"; e Platão "esse teólogo entusiasta, e poeta cheio de
ênfase". Esses ídolos são, em resumo, os tabus e fórmulas pré-estabelecidas que
amedrontam e acorrentam o homem, impedindo-o ou dificultando-o de descobrir por
si próprio o caminho da libertação. Caminho tão curto na aparência: O Portal, como a
meta, estão dentro de nós próprios. Mas que abismos insondáveis se nos afigura
conter essa região interna quando timidamente ensaiamos os primeiros passos
vacilantes em direção ao âmago do nosso próprio ser! Nessa ocasião voltamos a ser
novamente crianças. Recém-nascidos um mundo espiritual, temos que nos submeter
ao aprendizado que diz: “Quando o discípulo está pronto o Mestre aprece”; pois nessa
ocasião o Mestre, o Instrutor Divino, o Cristo, manifesta-se no mais íntimo do nosso
ser, como uma Presença, ou uma voz – como dizia Sócrates, - saturando-nos
inteiramente, amparando-nos, dirigindo·nos em nossa peregrinação. Temos então
conhecimento de que tal presença sempre existiu mas, oculta pelas nossas limitações,
15
te esse momento a ignorávamos.
O professor Melo e Souza em uma de suas obras cita um exemplo que serve para
demonstrar a situação de incapacidade de apreensão em que o homem se encontra
antes de chegar a ocasião do seu nascimento espiritual
Supunhamos que em uma linha reta vivam seres conscientes. Para eles o seu
universo seria uni-dimensional. Poderiam movimentar-se livremente num ou noutro
sentido compreendendo perfeitamente esse estado de coisas. Um círculo, ou outra
figura geométrica plana, parecer-lhes-ia inconcebível. Analogamente aos "planianos", -
seres hipotéticos que habitariam no plano, só conhecendo duas dimensões, - uma
apenas, seria aberração. O mesmo acontece à maior parte da nossa humanidade que
vive dentro de três dimensões espaciais e uma temporal, completamente cega para
essas regiões que tem dentro de si mesma e onde terá de mergulhar para atingir os
arquivos do passado.
Poderíamos continuar a tecer variações em torno do nosso tema, mas de que
serviria? Vêm-nos novamente à memória os conceitos de Lao-Tseu, Chuang-Tse, e
Buda, sobre a futilidade das palavras. Lembro o silêncio de Cristo à pergunta de Pilatos,
recusando-se a definir o indefinível. Prefiro, portanto terminar, contando-vos uma
passagem citada por Radakrishnam em um dos seus livros. Certo dia perguntaram a um
yogi em profunda meditação qual a natureza de Deus. O tempo passava e o mesmo
continuava imperturbável. Insistiram diversas vezes na pergunta até que o santo
homem, quebrando o seu mutismo respondeu: "Como posso eu definir o Absoluto, se
ele é Silêncio"? e após essa breve interrupção, continuou sua meditação mais imóvel do
que nunca.
O mesmo posso dizer-vos. Não adianta ao homem papaguear, pois a verdadeira
realidade é inexpressável por palavras. Não temos em nossa linguagem elementos
para descrevê-la. É um fato que cada um deve sentir na quietude do seu próprio
coração. É SILÊNCIO.
Para que falar mais então?

o HOMEM PERANTE O UNIVERSO

16
O HOMEM PERANTE O UNIVERSO

“Mas o homem, o orgulhoso homem,


Investido de fugaz e pequena autoridade
(Ignorantíssimo no que se julga mais seguro,
Sua cristalina essência), como furioso mono
Tão fantásticas estripulias representa perante
O céu que os anjos choram.”
Shakespeare

Calquemos a ponta aguçada do lápis da nossa imaginação sobre um plano


virginalmente vazio em suas infinitas dimensões. Sobre ele apliquemos uma das pontas de
um imaginário compasso cuja abertura seja de 5,7 X 10²⁴ km, traçando com infinita
velocidade uma circunferência de raio igual a essa distância. Imaginemos agora a rotação
desse círculo em torno de um dos seus diâmetros engendrando uma esfera infinitamente
grande. Frisemos porém, que, devido à distância entre as pontas do hipotético compasso
aumentar 300 km , em cada segundo decorrido, consideramos o processo desde o
momento da marcação do ponto até a geração da esfera, como instantâneo. Essa esfera
resultante de raio inicial igual a 5,7 X 10²⁴ km, em expansão à razão de 300 km por segundo,
e que um raio de luz com a velocidade de 300.000 km por sego demoraria 6 trilhões de anos
a percorrer, é o UNIVERSO. É o incomensurável cenário em que se desenrola a Involução e
Evolução das formas. É o imenso pulmão que em seu ciclo respiratório de 4,3 X 10⁹ anos
produz e absorve todas as coisas. A expiração equivale à expansão, à criação, ao Dia de
Brahma; e a inspiração à retração, dissolução ou Noite de Brahma.
Qual será a posição dentro desse Todo majestoso, daquelas minúsculas partículas
conscientes chamadas HOMENS, e que, em suas veleidades julgam-se, cada um, o ator
insuperável para o qual esse palco foi construído? Pesquisemos, tentando encontrar esses
seres de tão imensa pretensão dentro do Universo.
Munamo-nos de um telescópio ainda não inventado pelos homens, pois o seu
melhor aparelho não alcança nem 1% do Universo, e comecemos o nosso titânico
trabalho. Imaginemos que somos observadores completamente desumanizados.
localizados em um ponto qualquer dessa esfera. O que veremos então? Sob o campo
da hipotética ocular notar-se-iam, recortadas contra um fundo escuro, manchas de
diversas formas e brilho. Essas manchas em número de 500 trilhões são as chamadas
nebulosas, galáxias ou universos-ilha. Aonde estará porém essa nebulosa chamada
Via·Látea que contém o sistema solar do qual faz parte o planeta Terra, em que
moram os seres que buscamos? Trabalho infinitamente árduo essa seleção prévia!
Teremos que recorrer a imaginários telescópios ainda mais potentes, a fim de
analisar a cada uma dessas ilhas dispersas no seio da nossa esfera, a uma distância
média entre si de 1.5 milhões de anos-luz, com uma precisão que permita constatar a
natureza dos elementos constitutivos das formas esféricas, elipsoidais, espirais, des-
17
sas manchas anteriormente reveladas pela nossa objetiva. É o momento de
começarmos, pois temos que verificar 500 trilhões de nebulosas até descobrirmos a
tão buscada Via láctea. Observemos, amigos. Aí! a visão agora é muito mais nítida.
Distinguem-se claramente algumas daquelas manchas que aparentavam ser
homogêneas, e são, na realidade, formadas por bilhões de corpos luminosos
distanciados uns dos outros vários anos-luz. Chamemos de estrelas a esses corpos.
Vejamos quantas estrelas compõem a nebulosa em estudo. Contemo-las. Uma, duas,
três..., mil duzentas e duas..., 1 milhão..., 1 bilhão, e. por fim, 40 bilhões
aproximadamente! Mas, ó desanimo, infelizmente esta nebulosa não é a Via láctea,
Continuemos a busca.
Examinemos aquela mancha. Aquela outra. Mais aquela, o mesmo processo
sempre repetindo. Esta agora que examinamos, é exatamente a trilhonésima
nebulosa enquadrada em nosso telescópio. À medida que os dados colhidos a seu
respeito se amontoam, a nossa alegria aumenta. Vejamos:

Forma: lenticular.
Diâmetro: 100.000 anos-luz.
Espessura aproximada: 5000 à 10000 anos-luz.
N° de estrelas: 50 bilhões.

Não há mais dúvida. É ela enfim! Mas e agora? Como encontrar dentre os seus 50
bilhões de estrelas, uma que se chama Sol em torno da qual gravitam 10 partículas
infinitesimais? E ainda mais, como identificarmos uma das menores partículas.
chamada Terra, sobre a qual poderemos encontrar esses seres infinitesimais de 20a
ordem; essa espécie tão insensata que tem a coragem de se intitular, - imaginem o
que, e explodam em uma cósmica gargalhada que atingindo a todas as nebulosas. e
estrelas as faça entrar em ressonância. - "OS REIS DA CRIAÇÃO"...
Precisamos agora de telescópio ainda mais acurado para encontrar o Sol dentro
de 50 bilhões de estrelas. Oh luta infinda até depararmos com uma que,
aparentemente, é aquela que buscamos. Meçamo-la com todo o cuidado. Se por
acaso não for esta, o que fazer? Uma decepção a mais ou a menos não fará diferença!
Anotemos os dados colhidos:

Diâmetro: 1.400.000 km.


Massa: 2 X 10²⁷ ton.
Volume: 1,4 X 10²⁵ m. c.
Temperatura superficial: 6000 C°
Temperatura interna: 20 milhões C°
Idade: 2 bilhões de anos.

Observemos porém que essa estrela não é fixa, girando em torno de uma outra
chamada Sagitário que por sua vez também se move. A duração da sua translação é
de 200 milhões de anos, sendo de 30.000 anos luz o raio de sua órbita.
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Finalmente! É indubitável que essa estrela que examinamos é o Sol. Agora é só
descobrir dentre os seus planetas a Terra, e pronto: o grande voo imaginário estará
terminado. Mas ó azar dos azares, nada vemos! Aonde é que eles estarão?
Subitamente notamos que em nosso desespero tinham os esquecido de ajustar
devidamente o aparelho. Remediando o esquecimento, focalizamo-lo rapidamente.
Agora, finalmente, distinguem-se claramente 10 minúsculas partículas a girar em
redor do Sol. Analisemos esta que teimosamente foge da centragem em nosso
retículo. Será a Terra? Compilemos cuidadosamente os seus elementos:

Diâmetro: equatorial: 12,756 km


Peso: 5,9 X 10²⁴ kg ,
Volume: 1,1 trilhões de kil, 3
Densidade: 5.5
Temperatura superficial média: 20 C°
Distância ao Sol: 149,450.000 km.
Duração do seu ano: 365 dias, 5 h, 48 min e 46 seg.
Duração do dia sideral: 23 h 56 min. 4 seg.
Idade - 1,8 bilhões de anos.
Não há mais sombra de dúvida, Aleluia! Aleluia!

É esse cisco, finalmente, o fim da nossa peregrinação. Dominemos entretanto a


nossa alegria, a fim de podermos examiná-la com serenidade, Para romper a atmosfera
que castamente a protege dificultando a visão de sua orografia, temos que lançar mão
de novos instrumentos com precisão suficiente até para observar detalhadamente o
famoso "homo sapiens” em seu habitat. Aproximemo-nos amigos num lento "close
up", à medida que cuidadosamente vamos ajustando os controles de aproximação.
Nesse instante começam-se a notar as massas azuladas de águas rasas e tranquilas
que lhe recobrem 3/4 partes da superfície. Constata-se que existem 1,5 bilhões de kil,
3 de água, atingindo a profundidade máxima de 13500 m, e em média 4,25 km.
Aquelas regiões mais escuras contrastando com o azul das águas são os continentes
que ocupam um volume de 100 milhões de kil. 3, acusando o seu ponto mais alto 8840
m, e a sua elevação média 750 m, Repentinamente prendem-nos a atenção pequenas
manchas claras que podem ser vistas através de uma nuvem de escura fumaça
vagamente fosforescente. O que serão essas manchas? Com a curiosidade aguçada,
vamos nos chegando cada vez mais para perto. Mais. Um pouco mais ainda. Até que
por fim essas manchas se nos revelam como cidade. Locais onde os seres humanos se
congregam atingindo índices demográficos de até 10.000 habitantes por km². Aquelas
nuvens são de fumaça, resultante da queima de madeiras, carvão e petróleo que eles
arrancam ao arranhar a superfície do planeta em que vivem. E aquela fosforescência é
a resultante dos reflexos da iluminação elétrica no seio do manto fuliginoso que
recobre as cidades. São provenientes das lâmpadas que eles usam para dissipar a
escuridão que tanto temem. Nessa neblina luminosa notam-se luzes coloridas,
intermitentes, assumindo formas bizarras em seu incessante pisca-pisca. Originam-se
19
de lâmpadas em painéis de anúncios de cinemas, teatros, marcas de cigarro, bebidas.
etc., elementos de que essa pobre humanidade lança mão no seu afã de esquecer a
inexorável marcha do tempo evitar pensar na natureza da Realidade Última, e nos
mistérios que estão para além desse pequeno espaço onde se movem.
Interessante. A Terra é uma só. Tão acanhada em suas dimensões; mas como os
homens a dividiram! Os seus 125 milhões de km estão distribuídos em cerca de 80
países, tendo cada um orientação diferente, agrupando-se os homens que nasceram
dentro de hipotéticos limites por eles inventados e que têm como única base garatujas
gravadas em pedaços de papel, em torno de pedaços de pano que cultuam e adoram
fanatizados sob o nome de bandeiras. E para justificar as eclosões dos mais baixos
instintos, em nome desses farrapos e sob a sua sombra, destroem-se mutuamente,
após serem hipnotizados coletivamente por aqueles que se intitulam líderes e têm a
força irracional a apoiá-los no que julgam a santa cruzada contra o mal. E sob a ação
estupefaciente de palavras, de músicas marciais, de hinos, abençoados pelos seus
sacerdotes e abrigados à sombra de trapos multicoloridos, verdes, vermelhos, azuis,
etc, com listas, estrelas ou raios, avançam em hordas ao sagrado dever da mútua
destruição. E quando as paixões saciadas se cansam, podem constatar os resultados.
Em confronto com a dor, a loucura e a morte para a maioria, verificam que os
benefícios conseguidos a tão alto preço resultaram em lucros para uma dúzia de
privilegiados, na baixa do índice demográfico e na adubação dos campos com os seus
restos sangrentos, e ainda maiores restrições... É interessante a meditação sobre os
frios números das estatísticas referentes às duas últimas guerras que tomaram 12 anos
de um período de 30. Nesses dois choques foram mobilizados cerca de 140 milhões de
homens de todo o mundo, sendo mortos 20 milhões, feridos 40 e, prisioneiros ou
perdidos 15, o que índica que 75 milhões de seres sofreram em sua carne os resultados
da loucura coletiva. Nesses dados não estão incluídas as baixas da população civil
resultantes dos bombardeios indiscriminados. Somente a cidade de Londres suportou
durante 11 meses, de Setembro de 1940 a Julho de 1941, de 45.000 a 50.000 bombas
pesando 7500 toneladas. Durante esse período 10.000 pessoas foram mortas e 17.000
feridas. Imagine-se, se fosse possível uma estatística geral das baixas na população, a
que fantásticos número chegaríamos! A despesa total com as duas guerras foi orçada,
aproximadamente, em 1 trilhão e trezentos bilhões de dólares.
Infelizmente os homens têm memória fraca, e enquanto se agrupam em torno de
Nações Unidas, Ligas de Nações, etc, as convulsões locais já se manifestam em guerras
frias, revoluções e guerras localizadas, até que repentinamente surja nova hecatombe
neste ciclo sem fim que caracteriza a história da humanidade.
Curioso o rebanho humano!
Seria uma experiência interessantíssima colher alguns espécimes e examiná-los
física e psiquicamente para verificar a possibilidade de se chegar a alguma conclusão
que esclareça tanta arrogância.
Capturemos à revelia este, indivíduo, por exemplo, que vai tão apressado pela rua
pensando sabe-se lá em que.
Esperneando. Debantendo-se. Imprecando. Ameaçando. Acovardando-se. Pedindo
auxílio a deuses e demônios de estranhos nomes, coloquemos sob observação esse 1º
20
espécime.
Bloco e papel a postos, iniciemos-lhe a análise. Abramos uma ficha especial. Cor:
branca. Altura: 1.70 m. Peso: 74kg. Temperatura: 36,5 C. Idade: 70 anos. Como? Só 70
anos? Renovemos a pergunta. A resposta retifica o 1º dado, e esclarece que 70 anos é
considerada uma idade EXCEPCIONAL considerando que a vida média dos seres
humanos é atualmente de 60 anos. O confronto desses 60 anos, com as idades
cósmicas e os anos lua do Universo, mostra como é falho de expressão esse período de
tempo. Perguntemos agora em que local da Terra ele nasceu. A resposta, em voz
esganiçada, foi rápida e enfática. - "Nasci no maior país da Terra, aquele que pela sua
cultura e civilização sem par, terá necessariamente que dominar todo o mundo". O seu
nome é... (Registramos de propósito estes pontinhos, omitindo deliberadamente um
nome, pois esta palavra como tantas outras com que a humanidade tenta rotular
regiões do seu planeta, não têm o menor interesse para a nossa digressão).
- “Quem é esse Deus que adoras, em cujo nome tanto nos ameaças"? Inquirimos.
Nova resposta, novos pontinhos, novo rótulo, com que os homens pretendem intitular
AQUILO que está muito acima da sua compreensão. Ficamos também esclarecidos de
que os dois bilhões de indivíduos que constituem a raça humana, cultuam a REALIDADE
ULTIMA em diversos sistemas éticos e filosóficos chamados Religiões. Entretanto cada
Religião tem uma infinidade de seitas, só se distinguindo muitas vezes umas das outras
por sutilezas metafísicas devidas à diferença de interpretação das palavras dos textos
que a tradição considera ditados diretamente pela Divindade.
Fato curioso. Cada um dos crentes que se apegam a determinado sistema, em
99%, julga-se no caminho certo e considera todos os outros que não compartilham sua
crença irremediavelmente em erro.
Tanta ignorância revolta, e nos traz dúvidas sobre se convém continuar o inquérito
ou, em definitivo, silenciar o nosso espécime triturando-o em um almofariz para dosar
a composição química do seu corpo que, levando em conta a empáfia do dono, talvez
seja constituído de elementos desconhecidos extremamente valiosos. Preferimos
continuar a conversa, pois talvez algum proveito mais possamos ainda colher.
Anotamos que a nossa "amostra" é, em seu meio, conceituado político e educador,
considerado mestre na educação e confecção de leis para milhares de indivíduos da sua
espécie. São entidades dessa estirpe que, condicionadas desde a nascença pelos tabus
do ambiente, propiciam aos seus companheiros novos sentimentos a respeito desses
sagrados tabus. Tagarelando, tagarelando sempre, vão ditando suas leis e
ensinamentos a respeito da Pátria, de Deus, da Família, dos Costumes, do Direito, e não
sei quantas coisas mais, pois a lista das "gaiolinhas douradas" com que teimosamente
tentam prender a mente dos seus irmãos é infinita. Quão ridículas são essas gaiolas da
ilusão! Quão sem ressonância os nomes puramente humanos e portanto ultra-
relativos, com que tentam obscurecer a luz que a todos irmana, principalmente a seres
como nós que observam a Terra e seus vermes a trilhões de kilometros de distancia!
Joguemos fora essa amostra da humanidade que há pouco, enquanto fazíamos
esta últimas considerações, deu um estrebucho sob a nossa ocular, e parou de
movimentar-se. Toda aquela empáfia, pretensão, ódio, ardor, subitamente se
paralisaram, restando e nitidamente recortado sobre o fundo iluminado, um
21
aglomerado de matéria em decomposição. Desapareceu a vida orgânica. Cessou a
ligação sintonizada entre essa forma que momentos antes era toda ação, com a
radiação cósmica da Vida. E o que resta é uma fermentação pululante e desordenada
de pequenas vidas dispersas, em seu afã de se multiplicarem. A vida está presente
mesmo na morte... Sentimo-nos confrangidos por este pobre indivíduo que entrou
completamente cego, em uma outra fase de manifestação dessa lei suprema que é a
Evolução.
Deixemos porém de lado as lamentações e peguemos cuidadosamente, a fim de
que se não desfaça, no vaso que durante 70 anos foi o corpo físico de um homem, e
examinemo-lo quimicamente. O resultado final brilha decepcionantemente na mudez
da ficha.

Peso: 73,7621 kg Enxofre - 175 gr


Oxigênio-40 kg Sódio - 150 gr
Carbono-20 kg Potássio - 100 gr
Hidrogênio-7 kg Flúor - 75 gr
Azoto-3 kg Magnésio - 3 gr
Cálcio-2 kg Alumínio - 1 gr
Fósforo- 1 Kg Lodo - 1 decigr.
Cloro-200 gr Arsênico - 2 milésimos de gr.

Registra-se ainda em traços a presença de Cobre, Chumbo, zinco, Bromo, Tântalo,


Lítio, Cério, Vanádio, Molibdênio, e Rádio.
Esses valores provam irrefutavelmente que os elementos que constituem a
carcaça humana, são os mesmos que se encontram difundidos em todo o Universo, e
que para ele não houve qualquer proteção da parte daquele que formou o Homem.
Limpemos cuidadosamente o nosso laboratório destes resíduos, colocando-os de lado
em contado mais direto com a mãe Terra que os concebeu.
Observemos outros indivíduos. Outros mais e registremos os seus anseios e ideais.
A tônica é sempre a mesma, tal como um cósmico raveliano bolero eternamente
repetido. Escutemo-lo: Preconceitos, hábitos, costumes, religião, pátria; pátria, religião,
costumes, hábitos, preconceitos, etc, etc. Monótono. Infindável. Cansativamente
remoído desenvolve-se o cantochão. Ora mais agudo, ora mais grave mas sempre,
sempre variações sobre um mesmo motivo.
Subitamente, com o clarão de um relâmpago e um estrondo apocalíptico
deparamos um exemplar entre 100.000, a que revelada está a consciência cósmica, Oh
alegria! Doce alegria! Nem tudo está perdido...
Indivíduos dessa natureza, sofrem terrivelmente com a incompreensão terrena.
São ridicularizados com toda a sorte de ápodos. Mortos. Crucificados pelo amor infinito
que devotam à humanidade. Perante eles apresenta-se o dilema. Ou se submetem às
formas aceitas, tendo para isso de curvar a espinha e permanecer mudos, renunciando
aquilo que têm de mais sagrado, ou então lutar até serem apanhados pelas
engrenagens desse Moloch insaciável que é a intolerância humana, onde serão
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torturados até sucumbirem, perdoando, até ao último momento, àqueles que
lamentavelmente não querem ou não podem compreendê-los.
Esses mártires da coação física e espiritual são simbolicamente os lírios florescentes
no lodo, e com todo o amor disseminando as suas sementes nesse próprio pântano que
os conspurca. As sementes são os embriões, que contra a vontade da maioria em sua
estagnação, hão de propagar as novas formas evolutivas. Podem apedrejá-los, rir-se
deles, pois nada conseguirão na vã tentativa de deterem a Evolução que personifica a
própria força do Logos infundindo-se, em seu supremo sacrifício, no seio da matéria
inerte.
E o que pregam esses incompreendidos? A Verdade mais simples, cristalina,
evidente que pode haver, e por essa razão paradoxalmente a de mais difícil
compreensão. E qual é essa verdade mágica? Ei-la:
"HÁ UMA UNIDADE ENGLOBANDO TODA A DIVERSIDADE".
Este o axioma fundamental o com qual poderemos construir o Universo. Haverá
coisa mais simples em sua singeleza? Como porém, é difícil atingir a consciência de que
somos uma pequena parte da Unidade, e sentir essa doce sensação de que estamos
indissoluvelmente ligados ao Todo!
Analisemos essa palavra fundamental: UNIDADE. Vejamos como poderá ser
sentida e demonstrada.
Unidade, Deus, Aquilo, Brahman, Força Primordial, Jeová, Alah, Tau Energia, são
apenas rótulos humanos pregados à Realidade Última que age nesse Todo universal
que é o seu corpo. O nome não importa, e sim a compreensão de que essa Coisa sem
nome em quem vivemos e nos embebemos, que nos dá vida e nos irmana, quer sejamos
homens, animais, vegetais, estrelas ou nebulosas,
E como pode ser demonstrada? De várias formas: ou pela iluminação interna por
aqueles que alcançaram a madureza mental necessária, - e é este o caminho preferido
dos místicos e dos santos; - ou pelo raciocínio científico, raciocínio matemático,
valendo-se das mais aguçadas ferramentas ao alcance da mente humana e, mesmo,
inventando novas. Assim, um ser humano chamado Albert Einstein consegui levantar o
véu e fazer surgir a luz para todos que quiserem ver. A sua Teoria do Campo Unificado,
que é o pináculo da ciência, revelou a existência de uma Forma, Campo, Realidade (outra
vez o nome não interessa), que abrange em seu âmbito todos os fenômenos
conhecidos*.
*Palestra proferida antes de 1955.

23
A ARTE MODERNA À LUZ DA TEOSOFIA

Cumpro agora uma promessa feita a vários irmãos por ocasião do último
congresso de Teosofia realizado em Belo Horizonte e, simultaneamente, pago também
uma dívida a mim mesmo ao abordar este tema. Sei que o caminho a trilhar é áspero e
controvertido, sobre ele rugindo ao máximo a tempestade das paixões humanas. Mas
que importa, se a iluminá-lo levo o seguinte pensamento de Gautama Buda:
"Não aceites aquilo que é irrazoável, mas não te descartes de nada que te pareça
irrazoável sem o devido exame".
No brilho e profundeza dessas palavras, no seu sentido esotérico, encontrar-se-á
a resposta ao enigma que a tantos atormenta.
Ao iniciar o percurso deste tema vou ouvindo frases soltas como estas:
- Olhem que coisa pavorosa! Como as figuras estão deformadas! Como é possível
fugir-se do real e da beleza de maneira tão espantosa, tão sádica, até cristalizá-los
nessas figuras sem nexo!
Ou então com todo o dogmatismo:
- A arte moderna é a negação da beleza. É o fruto de espíritos mórbidos e
decadentes, que tentam por meio do inédito, pelo desejo de brilhar e ganhar dinheiro,
oportunidade de dar vazão às suas mentes malformadas, nada mais conseguindo do
que produzir aleijões que são verdadeiras aberrações doentias!
Aos poucos o alarido cresce de tal forma, que não percebemos mais frases
completas; entretanto ainda podemos registrar expressões desconexas:
Loucos. Snobes. Pedantes. Cabotinos. Artes negras. Magia negra. Representações
astrais, etc, etc.
Pouco depois o clamor é tão grande, que mesmo se pudéssemos compreender as
frases, para repeti-las, teríamos trabalho equivalente ao de copiar um dicionário
completo.
Mas como em tudo na vida, existe uma parte que intransigentemente as defende,
mesmo que para tal tenham que demolir todo o existente. Não citaremos argumentos
de defesa ou ataque, pois meus amigos, no decurso desta despretensiosa conversa, não
nos move a finalidade de defender ou atacar o que quer que seja, - é bom frisar, - nosso
único objetivo é harmonizar, mostrando que a Verdade pode ser encontrada em qualquer
dos campos.
Shakespeare sentiu bem essa presença do bem no seio do mal aparente, ao fazer um
dos personagens da sua obra, Henrique V dizer:

"Existe sempre alguma bondade nas coisas más.


Quisera que os homens, ao observá-las, sentissem o seu destilar".

Nós, teósofos, filiados que somos a um movimento cujo ideal supremo é a


fraternidade, e por sobre o qual brilha a estrela chamada Tolerância, devemos ter uma

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compreensão global, afastada de todas as paixões pessoais, abrangendo e purificando
todos os aspectos, a fim de conseguirmos a mais difícil das compreensões. - a de
sentirmos a unidade na diversidade. Caso contrário, apesar de nos intitularmos tais, não
seremos realmente teósofos. Sei que nada é mais difícil do que compreender e aceitar
tudo, mesmo o que a nosso ver pareça estar contra os princípios que adotamos; mas,
amigos, é a única forma de, mediante esses aspectos paradoxalmente diversos, formar a
maravilhosa síntese do Uno, que está acima de todas as paixões e controvérsias.
Mais uma vez eu vos lembro a máxima de Sócrates:
"Só sei uma coisa: é que, realmente, nada sei". Dela fazendo tema de meditação
tornar-se-á singularmente confortadora e calmante dos nossos exaltados sentimentos.
Vemos, por essa razão, que ninguém tem o direito de rejeitar o quer que seja pelo simples
motivo da não compreender. Se em última analise nada sei, como poderei repelir o que não
sei ou não alcanço? Esta a nossa resposta às interrogativas mentais neste particular.
Lembramo-nos de que qualquer manifestação, aparentemente boa ou má, de acordo com
este quadro de referência, tem uma realidade intrínseca que muitas vezes supera o nosso
alcance, intimamente relacionado que está com as matérias cerebrais mais densas.
Recordemo-nos de que os instrumentos musicais têm limites para a vibração que os
sensibiliza, e não podem ultrapassá-los em virtude da sua própria natureza constitutiva.
Convém notar que ao falar em vibrações, estou extrapolando para atingir a qualquer tipo
de radiação, inclusive as dos planos em que a matéria é menos densa. Entre estas
agrupamos as emoções, os desejos, os pensamentos concretos e abstratos e a intuição.
Sabemos que os sentidos, em outros planos além do físico, são completamente diferentes,
sendo logicamente condicionados ao tipo de matéria cujas vibrações os fazem entrar em
ressonância. Logo, em um deles, um fato ou coisa tem uma realidade com "r" minúsculo
completamente diferente do que nos parece o real no plano físico. A Realidade (com R
maiúsculo) total, é a soma dessas infinitas realidades parciais a que costumamos nos
aferrar, considerando-as como totais, aí se originando a causa de todas as disputas. Por
essa razão, para termos o conhecimento global do que "é", não podemos em absoluto fixar-
nos em um ponto de vista estreitamente pessoal ou unilateral, função apenas da nossa
consciência, ponto de vista coado e matizado por essa lente deformadora que é nossa
mente. Lembremo-nos de que a validade das leis físicas é muito mais ampla do que
geralmente se admite.
Passemos a um exemplo esclarecedor: As leis da ética sobre a reflexão, refração e
polarização são também aplicáveis a mundos de matérias infinitamente menos densas do
que a física. Aquilo que nos parece mau, antiestético, dissonante ou irracional.
correspondente a qualquer dos inumeráveis aspectos relativos que por pura convenção
consideramos negativos, em virtude única e exclusivamente do "condicionamento" ao qual
fomos submetidos desde o berço pela ação coercitiva do meio, é a imagem formada na
mente após as deformações produzidas pelas refrações, reflexões e polarizações, oriundas
das matérias astral, mental e búdica que constituem o nosso envoltório limitador. Um
exemplo de ordem física permitirá melhor compreensão do que se passa. A maioria das
pessoa, se observarem distraidamente o céu, - pequeno em verdade é o número daquelas
que se preocupam realmente em cogitações distanciadas da "terra a terra", - julgam que a
posição real de uma estrela é efetivamente aquela em que a estão vendo; entretanto
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sabemos que em virtude das modificações introduzidas pela atmosfera e pela atração de
grandes massas no percurso dos raios que unem o ponto luminoso situado na abóbada
celeste ao olho do observador, a posição real da estrela é muito diferente da que temos
como certa. A trajetória dos raios luminosos em absoluto não segue a reta nessas
distâncias, e sim linhas de "menor resistência" se me permitem dizê-lo. Qual será, portanto,
a realidade: a aparente reta dos raios luminosos que aos olhos nos fornece a errônea
impressão da posição da estrela, ou a curva que é, efetivamente, a trajetória real?
Prossigamos a nossa digressão a respeito do real Peçamos auxílio à matemática e à
geometria para orientação do nosso raciocínio. Vivemos em um espaço tridimensional; não
temos a menor dificuldade em compreender o que seja altura, largura e profundidade.
Facilmente poderemos memorizar um cubo ou uma esfera, pois temos conhecimento
imediato desses sólidos. Entretanto, sabemos que existe o espaço de quatro dimensões.
Não é um fato evidente e provado matematicamente? Os nossos planos astral, mental etc.
nada mais são do que espaços com número de dimensões superior a três. Nessas regiões
existem formas vibratórias as mais diversas, tão reais quanto os nossos cubos e esferas.
Não temos o direito de negar aquilo que está matematicamente provado. O hipercubo, um
dos sólidos de quatro dimensões, é tão real quanto o nosso humilde cubo de 3 dimensões.
Passemos a examinar agora as bases em que se apoia a geometria da nossa vida comum.
A geometria euclidiana baseia-se numa série de postulados entre os quais citamos:
1) De um ponto a outro só se pode traçar uma reta.
2) Dada uma reta é sempre possível prolongá-la em um sentido ou no outro.
3) De um ponto dado com um raio qualquer podemos descrever um círculo,
4) Todos os ângulos retos são iguais.
Não são afirmativas essas diretas, claras e intuitivas?
Pois, tais postulados, aparentemente tão límpidos e fundamentais, tão ('reais", podem
ser refutado, rebatido e logicamente provar-se a sua não validade. As geometrias de
Bernhard Riemann e Nicolau Lobatchevski são duas entre as muitas que provam
logicamente a não validade dos tão simples e "reais" postulados euclidianos.
Vejamos por exemplo o seguinte enunciado de Euclides:
1) Dada uma reta R e um ponto P, do ponto P só pode tirar-se uma reta que não
encontre a reta R. É a paralela a essa reta.
A geometria baseada nos postulados de Lobatchevski anula esse 1º enunciado
euclidiano provando:
2) Do ponto P pode-se tirar uma infinidade de retas que não encontrem a reta R.
Ao passo que a geometria de Riemann prova logicamente a falsidade das geometrias
Euclidiana e Lobatchevskiana comprovando matematicamente e logicamente que:
3) Do ponto P não se pode traçar nenhuma reta que não encontre R em algum ponto.
Em que ficamos?
Afinal, qual a geometria verdadeira - deveis estar perguntando? A resposta que vos
posso dar, é dada por Poincaré e citada em um dos livros do matemático brasileiro Prof.
Mello e Souza:
"Esta pergunta logicamente não tem razão de existir. É como perguntássemos qual o
verdadeiro, se o centímetro ou a polegada; se os graus Reaumur ou os de Celsius, ou
Farenheit: ou se as coordenadas polares ou as cartesianas... Logicamente as geometrias são
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apenas quadros formais. Elas podem ou não oferecer aos fenômenos do mundo físico sem
que por isso diminua a coerência a lógica e a legitimidade delas no corpo de ciência da
matemática pura.
A maior ou menor adequação ao fenômeno servirá ao físico ou ao geômetra prático
como critério de escolha.
Já vimos que Einstein escolheu em casos determinados a geometria de Riemann para a
interpretação de fenômenos de física matemática".
Como vedes os fatos mais intuitivos e aceitos como reais são relativos. Portanto, com
que direito rejeitarmos qualquer manifestação artística somente pelo único fato de não
concebermos como reais o que aqueles sons ou formas querem expressar? Porque são
irracionais, porque fogem à natureza, porque não têm beleza - será certamente a refutação.
Amigos, a racionalidade e a beleza, quando observadas isolada e profundamente, são
valores relativos. Quereis a prova? Sereis capazes de ler e achar beleza em um tratado de
matemática transcendente, ou de encontrar beleza e vibração num poema em sânscrito?
Não. Logicamente não. E porque? Porque não temos o necessário conhecimento da
matemática ou dessa língua. Entretanto a beleza neles existe e poderá ser percebida por
aqueles que tiverem o cabedal necessário para tanto. Ouço já a pergunta pairando no ar: -
A arte, em suas manifestações, deve estar ao alcance de todos, ser intuitiva como a beleza
de uma rosa ou o sorriso de uma criança. Concordo plenamente; justa mente essa
acessibilidade que nos arrebata e nos faz sentir as mais puras emoções, quando vemos ou
ouvimos qualquer criação artística. Entretanto volto mais uma vez ao assunto: qual o
direito que nos assiste de não admitir as criações daqueles que estão muito abaixo ou
muito acima de nós na escala evolutiva? Talvez as formas abstratas e os ásperos tons
musicais que repudiamos superem a nossa compreensão.
Quero apresentar um pequeno exemplo para esclarecer como o mesmo fato ou coisa
pode ter infinitas representações, dependendo apenas do ponto de vista em que o
consideramos: Suponhamos para melhor representação mental, um sólido geométrico dos
mais conhecidos: o cone. Observais agora, nas figuras que se seguem, seis dos infinitos
aspectos sob os quais podemos representá-lo:

Os de nº (1 e 2) são os mais comumente encontrados, e sugerem ao observador a


ideia imediata de um sólido. Sob esses aspectos o ponto de vista de quem os observa está
situado lateralmente, abaixo do plano da base no de nº 1 e acima no de nº 2. No (3)
encontra-se sob a base, oferecendo a impressão de um círculo. No aspecto (4) o
observador acha-se sobre o vértice, daí a representação visual de um círculo com um ponto
exatamente no centro. O (5) fornece-nos a visão de um triângulo em virtude da posição
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lateral do observador. O (6) fornece a fórmula matemática que possibilita a qualquer
pessoa memorizar um cone sem precisar vê-lo. Além desses podemos desenhar uma série
de outros, sólidos considerando o ponto de vista colocado externa ou internamente.
Agora eu vos pergunto: qual o aspecto mais verdadeiro, considerando-se que todos
eles representam o mesmo objeto, com a diferença apenas do ponto do qual o olhamos? O
resultado da soma de todos os aspectos isolados, eis a resposta.
Porque então essa veleidade de pretendermos bitolar o senso estético do outros pelo
padrão estreito do nosso ponto de vista? Tanto o que nos parece certo, como o que nos
parece errado em relação a qualquer filtro, tem o mesmo valor para a apreensão da
verdade intrínseca nele contida a qual, realmente, é a resultante dessa amálgama de
diversos pontos de vista. Para chegar a isto é necessário colocarmo-nos o mais alto
possível, a fim ele neutralizarmos ao máximo os efeitos do condicionamento a que fomos
submetidos desde o nascimento. E então, com a mente aberta, procuremos a compreensão
global do fato que estivermos considerando.
A fim de reforçar mais o conceito da relatividade dos padrões estéticos, contar-vos-ei
um pequeno episódio verídico, lido não me lembro aonde, e ocorrido em Paris por ocasião
da visita de um alto mandatário da Indochina. Esse personagem, cujo nome rebarbativo já
perdi nas trevas da memória, homem culto e respeitado, foi recebido com todas as honras
devidas ao seu alto posto, de acordo com as regras convencionais do figurino da diplomacia
ocidental. Entre os vários itens do programa, de recepção constava um concerto de
orquestra sinfônica na Opera de Paris. Após a execução orquestral, as personalidades do
governo francês que o acompanhavam, pressurosamente desejaram conhecer a opinião do
culto e poderoso hóspede. A pergunta foi formulada através do intérprete, e – oh! espanto
dos espantos! - traduzida a resposta, ouviram atônitos que S. Excia. gostara
tremendamente do número que estavam executando ao ingressar no teatro. Pois esse
número era, justamente, a resultante das dissonâncias produzidas pela prévia afinação da
orquestra!
Cabe agora uma pergunta : Seremos realmente superiores a esse oriental admirador
de música tão exótica? E serão os povos orientais, de civilizações e culturas milenárias
como os chineses e hindus, inferiores a nós somente pelo fato de não atingirem o senso
artístico de uma página de Bach ou de Beethoven, ao passo que se embevecem ao ouvir
uma música bárbara que, para nós, é uma algaravia de sons? Prefiro deixar a pergunta no
ar. Sem resposta. Se vos disser com todas as minhas forças que não, e vós que sim, quem
poderá dizer de que lado está a razão?
Fato idêntico ocorre com o balé. Enquanto o balé ocidental vive especialmente da
movimentação e colorido através dos revoluteios e passos difíceis, para acompanhar,
visualizando, podemos dizer a música, o balé oriental baseia-se principalmente no
simbolismo dos gestos das mãos, face e olhos, pouco ou quase nada se deslocando. O
bailarino no palco.
Poderemos, pelo único fato de serem completamente contra os nossos métodos
clássicos, considerá-lo inferior ao ocidental? Ou, com a mente aberta e livre de
preconceitos buscaremos aprofundar seu encantador simbolismo, e perceber a
mensagem que ele nos transmite?
Em relação a todas as outras artes sejam elas a escultura, a poesia, ou a
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arquitetura, em todas as suas manifestações rotuladas por nós como orientais,
ocidentais ou clássicas e modernas, o mesmo fato se repete. Já ouvi certa vez de uma
pessoa, - aliás amigo muito culto e que sinceramente admiro, - dizer com toda a
franqueza:
"A distinção que faço entre a arte moderna e a clássica, é tão instintiva quanto a
admiração que sinto pela frescura e a beleza de uma rosa. e o gesto automático de
levar a mão ao nariz quando passo por perto de um monturo (lixão).” Delicioso
pensamento sem dúvida. Examinemo-lo porém com atenção. Reflitamos, caro amigo, o
que seria das rosas se neste mundo não existissem fertilizantes? Não haverá mais
mérito portanto em reconhecer no estrume a potencial e pujante força da qual novas
rosas surgirão? E qual o destino da tua efêmera rosa, senão o de desfolhar-se,
apodrecer e transformar-se naquilo que lhe deu a vida?
Continuando a abordar o problema com a visão mais ampla possível, passemos a
analisar uma lei física que estende sua validade a todos os planos: a da inércia. O seu
enunciado, aplicado à mecânica, é:
"Todo corpo em repouso ou em movimento tende a conservar esse estado.”
A inércia. portanto, obriga um corpo em repouso a permanecer imóvel. Para ser
vencida é necessário que se submeta o corpo a uma força externa que rompa a sua
imobilidade. O mesmo acontece aos corpos em movimento, quando o amortecido de
seu deslocamento se consegue através de forças, parasitárias e atritos. Com a mente
humana o mesmo se verifica. É muito mais fácil aferrarmo-nos às soluções em vigor,
embuçadas sob a enganosa forma de padrões, dogmas e religiões, do que levarmos o
pensamento à crítica e ao trabalho em busca de novas soluções. Convenhamos que é
muito mais simples ser conduzido do que conduzir... Essa a razão de todo o esforço
despendido por Krishnamurti. Para modificar esse estado de coisas, romper essa
tendência à estagnação cômoda que irresistivelmente atrai a humanidade é que
precisamos de espicaça-Ia duramente. O essencial para podermos construir com real
proveito, é duvidar e criticar sempre, mesmo os fatos mais comuns e comumente
aceitos. Lembremo-nos de que se não fosse a circunstância de existir em todas as
épocas um pequeno número de descontentes, a física de Aristóteles, a medicina de
Hipócrates e Galeno, e o sistema solar de Ptolomeu, ainda hoje seriam aceitos sem
contestação. Mas por favor, eu vos peço, não critiqueis ou negueis com a finalidade
única de solidificar as vossas situações já estabelecidas. os vossos padrões, tendo como
fim último a defesa do atraente e confortável comodismo individual. É este o caso
daquele cidadão tão preguiçoso e egoísta que morando próximo de uma região aonde
se feria sangrenta luta entre irmãos, ansiava e pedia a Deus que fizesse o silêncio, para
melhor poder gozar sua soneca... Este pequeno episódio pode vos parecer caricatural e
sem significado; entretanto, nesta vida, quantos e quantos não sobrepõem sua
comodidade ao sofrimento alheio? Com as nações ocorre fato idêntico, e por muito
tempo assim será, até alcançarmos a época em que aos indivíduos seja revelado o real
significado das palavras: compreensão global. E esse estado poderá um dia ser
atingido? Cabe-nos o direito de duvidar da nossa própria afirmação, sinceramente vê-lo
afirmo.
Será bom frisar mais uma vez que meu intuito, nesta palestra, não é atacar ou
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defender o que quer ou a quem quer que seja e sim harmonizar, procurando mostrar
que a verdade pode ser alcançada em qualquer terreno em que nos encontremos; pois
os aspectos convencionais, as contra partes existentes como o bem e o mal, em última
análise, resumem-se em dois aspectos: positivo e negativo. Ambos são indispensáveis
e complementares à constituição da Unidade, que paira acima deles, e é a resultante da
soma dos dois. A Unidade não é positiva nem negativa; isto é, não é boa nem má. Ela
"é". O principal engano de todos os sistemas religiosos e atitudes padrões abraçadas
pela humanidade, é a tendência a conceber um estado ideal supremo em que somente os
aspectos positivos vigorem. Vã tentativa... Mesmo que fosse possível alcançar tal estágio,
haveria sempre uma gradação de valores no nosso julgamento. Suponhamos que só haja o
bem num estágio hipotético de bem-aventurança. Nele sempre existirão intrinsecamente
coisas ou situações infinitamente melhores umas do que as outras por sua própria
natureza, Pois esses bens de ordem inferior seriam os aspectos por cuja obtenção hoje
tanto nos batemos; nesse estado de bem-aventurança, os pretensos males, seriam
infinitamente melhores do que o melhor dos nossos "bens" atuais.
Recordemos que para os contrastes sempre haverá sombras e gradações de luz, a fim
de chegarmos à noção da realidade de qualquer coisa. Até no Nirvana, que a maioria
admite como estado de aniquilação completa dos valores, existem contrastes... Quem
melhor nos poderia esclarecer do que o próprio Gautama Buda? Ouçamo-lo através das
páginas do Lankavatara Sutra :
"O Nirvana selecionado pelos filósofos realmente nada contém. Alguns deles
imaginam que o Nirvana se encontra onde o sistema mental não mais trabalha, dada a
cessação dos elementos da personalidade e o seu mundo; ou atingiu a máxima indiferença
pelos objetos do mundo e sua impermanência. Alguns imaginam que o Nirvana é um
estado em que não há soma do passado e presente que é igual a uma lâmpada que se
extingue, a um germe queimado, ou a um fogo que se apaga por haver chegado ao
término de toda a substância, o que é explicado pelos filósofos como a não efetividade da
distinção. Mas isto não é o Nirvana, porque o Nirvana não consiste no aniquilamento e no
vácuo".
Voltemos, porém, a retomar a questão da relatividade das facetas da Realidade, que
dentro das nossas limitações humanas chamamos bem e mal. Recordo-me de magnífico e
profundíssimo conceito de H. P. Blavatsky contido em sua obra A Doutrina Secreta:
"O demônio é Deus inverso.” Ou melhor concluiremos: Deus, Poder Primário Energia
Criadora, Causa primordial, Jeová - sejam quais forem os humanos títulos com que
pretensiosamente rotulemos a Unidade Global, - está muito acima dos conceitos
convencionais a que nos aferramos na ânsia de compreendermos o Inconoscível.
Tenhamos a suficiente coragem e humildade de reconhecer que somos um “substrato de
cisco” no Imenso Cosmos!
Sinto que à mente de alguns de vós surgirá a seguinte pergunta: - Será que o nosso
irmão Murilo nos quer mostrar que o mal e a sombra são necessários? Ou quem sabe se o
nosso amigo estará dominado pelo espírito das trevas?
Não amigos. Pelo menos, quando me propus a dissertar sobre este tema acho que
estava perfeitamente cônscio de todas as dúvidas e críticas possíveis de suscitar, assim
como das profundezas que teria que sondar para me aproximar das causas últimas. Quanto
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à questão da necessidade dos valores negativos, recordemo-nos de que tudo na natureza,
para evoluir, tem que passar por fases de dor e sofrimento. A dor e o sofrimento são
universais e estão acima de todos os valores humanos. São os atritos necessários, o fogo
purificador a que fatalmente somos submetidos. A dor causa-nos um medo instintivo que
nos faz apegar a situações e fórmulas com que ilusoriamente nos acenam como possíveis
meios de evitá-la. Haverá algo na vida que se consiga sem dor e esforço? A própria e
sublime maternidade não constituirá uma verdadeira advertência preliminar? O caminho
do Ocultismo é também o caminho da dor. Ouçamos a opinião de Van der Leeuw autor do
magnífico livro "Le feu createur", nos períodos iniciais da sua obra "Gods in exile":
"A senda do ocultismo é também chamada a senda do sofrimento.
Não há razão que me impeça de denominá-la senda da alegria em vez de sofrimento.
Um dado fato pode significar dor e sofrimento para a nossa natureza inferior, e uma
encantadora alegria para o nosso Ego superior. Depende apenas da atitude com que o
recebemos, para que a experiência se torne triste ou alegre.”
Ouçamos agora os conceitos do magnífico filósofo Sir Richard Burton:
"Bem e mal são caprichos da vontade humana. Chamo um bem ao que me faz feliz; ao
que me maltrata e fere eu prontamente intitulo mal".
Não vedes portanto, não sentis como eu sinto, que o bem e o mal como qualquer
outro binômio, em sua íntima realidade está infinitamente acima das nossas convenções?
Para terminar esta enumeração de conceitos, lerei trechos de dois filósofos que foram
e serão, pelo brilho de suas ideias, respeitados e aplaudidos por todos que com eles têm
contado.
Diz Espinoza :
"As raízes dos maiores erros em filosofia jazem na projeção dos nossos propósitos e
critérios e preferências humanas sobre o universo objetivo. Daí o problema do "mal".
Lutamos para conciliar os males da vida com a bondade de Deus, esquecidos da lição
ensinada por Jó, de que Deus está além do nosso bem e do nosso mal. Bem e mal são
termos relativos aos fins e predileção humanos, frequentemente individuais e nenhuma
validez têm em um universo em que o indivíduo é efêmero e no qual um Deus Agente ainda
escreve nas águas a história da raça.”
Continuando a citação de Espinoza em sua obra a Ética (parte IV) deparamos com o
seguinte:
"Portanto sempre que algo na natureza nos parece um mal, é por termos um
conhecimento parcial das coisas e ignorarmos a ordem e a coerência da natureza como um
Todo e porque queremos que tudo seja disposto de acordo com os ditames da nossa
própria razão; mas o que a nossa razão concebe como um mal não se relaciona com a
ordem e lei da natureza, mas apenas com as leis da nossa própria natureza tomadas
separadamente... Quanto aos termos bom e mau, nada indicam de positivo quando
considerados em si mesmos... Porque uma coisa pude ser boa, má ou indiferente... A
música por exemplo pode ser boa para os melancólicos, má para os arrojados e indiferente
para os mortos...”
E daquele que pela coragem de suas convicções teve o destemor de em plena idade
média levantar a cabeça e arrostar com o brilho de suas ideias a negra atmosfera que o
sufocava, e se chamou em vida Giordano Bruno; que pela sua atitude franca e
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desassombrada foi vestido com uma camisa pintada com diabos vermelhos e, de pés
descalços e, mãos amarradas ao peito foi queimado vivo pela Santa Inquisição, no dia 16 de
Fevereiro do ano da graça de 1600, lerei este pequeno trecho:
"O que chamo Mal, é um Bem que não posso entender; ou, por outras palavras, o Mal
é uma simples relatividade. Individualmente, nada é perfeito na natureza, pois tudo se
encontra em estado de Evolução. Coletivamente. sim, o TODO é perfeito, e para aquele que
tem sempre em conta o TODO e não apenas as partes o Mal não existe".
Justamente essa afirmação final é que novamente frisarei: Coletivamente o TODO é
perfeito e, para aquele que tem sempre em conta o TODO e não apenas as partes, não
existe o Mal. Nestas simples palavras encontra-se a grande e maravilhosa síntese a ser
aprendida pelo teósofos, a saber:
Esse sentir que o TODO é perfeito, e que bem e mal são relatividades das nossas
limitações!
Essa sensação de beleza que intuitivamente podemos perceber em todas as coisas,
numa flor como num espinho!
Essa tolerância completa, essa aceitação da VIDA tal qual ela “é”!
A compreensão de que a ARTE (com A), destila de todas as coisas, de nós somente
dependendo a percepção!
Essa despersonalização, que permite ao indivíduo aceitar, admitir TUDO.
completamente liberto das algemas das convenções!
O direito de pensar livremente divorciado das peias da ilusão!
O vibrar com o amplo frêmito de VIDA que a todos envolve! Essa extraordinária
sensação de PAZ que nos faz emudecer, ao atingirmos regiões em que nossos símbolos
nada podem exprimir, sentindo-nos como se nos obrigassem a executar uma miniatura de
sutilíssima delicadeza com uma grosseira brocha de pedreiro; ou então como um pianista
transbordante de inspiração forçado a expressá-la com um humilde pianinho de brinquedo!
Esse estado é descrito por Edwin Arnold em seu livro maravilhoso "A luz da Asia" nas
palavras proferidas pelo Senhor Buda:

"OH, AMITAYA! NÃO MEÇAS POR PALAVRAS O IMENSURÁ VEL, NEM MERGULHES A
CORDA DO TEU PENSAMENTO NO INSONDÁVEL. O QUE PERGUNTA ERRA. O QUE
CONTESTA ERRA. NÃO DIGAS NADA.”

32
A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO SOBRE A PERSONALIDADE

Quando me propus a escrever sobre este tema veio-me à mente um conceito


expendido por Sócrates, e que é a base sobre a qual está edificada toda a sua filosofia:
"Só sei verdadeiramente uma coisa; é que nada sei". A plena compreensão dessa
verdade, é essencial ao homem que deseja tornar-se iluminado por um conhecimento
mais amplo. Velado e, por essa razão, aparentemente paradoxal, evidencia-se o
mesmo conceito nos Evangelhos expresso pelas palavras do Cristo quando indica os
"humildes e os pobres de espírito" como aqueles que encontrarão o "Reino dos Céus".
Justamente norteado pelo real significado das palavras do Mestre, tentarei
abordar este tema.
Adotemos a regra socrática de "não concluir antes de definir", que nos levará
irresistivelmente, em primeiro lugar, a responder as várias incógnitas do nosso
problema que são:

1º) O que é o pensamento?


2º) O que é o homem?
3º) O que é a personalidade humana?

Somente após estas definições poderemos analisar a influência do pensamento


sobre a personalidade. Não será entretanto, possível conseguir-se resultado digno de
confiança, a menos de estabelecermos uma premissa inicial. A premissa será nossa
base, e axioma sobre o qual o nosso raciocínio se apoiará, é:
"Qualquer "fato" ou "coisa" aparentemente isolada constitui peça fundamental
de um "TODO" de ordem infinitamente superior, que engloba harmoniosamente o
conjunto de eventos os mais dispares".
Para melhor concebermos esse TODO supremo, comparemo-lo, em tosca
aproximação, ao mais complexo engenho mecânico inventado pelo cérebro humano. Os
milhares de pessoas que, devidamente entrosadas, constituem o conjunto que é a nossa
hipotética máquina, têm as mais heterogêneas atribuições, com atuações as mais diversas e
paradoxais quando observadas isoladamente. E como pelo exame de uma peça retirada de
uma máquina que de conhecemos, é impossível prever sua função quando nela entrosada,
é impraticável definir qualquer fato a não ser partindo-se do pressuposto de uma totalidade
da qual ele seja parte integrante.
É este o caso dos fenômenos que representamos pelas palavras: pensamento.
personalidade e homem. Em seu sentido comum, geralmente, originam sensações de
ordem egoisticamente pessoal. É com caráter restrito que a maioria da espécie humana as
compreende, ao passo que, em sentido geral, essas palavras são na verdade fatos reais de
ordem infinitamente superior.
Em noventa e nove por cento dos casos os homens julgam-se peças isoladas,
33
privilegiadas, centrais, em torno das quais tudo deverá gravitar, desapercebidos de que
esse egocentrismo é ilusório, e que as suas ações e reações mais não são que a resultante
da soma de uma infinidade de Forças que desconhecem.
A ideia desse TODO supremo, dessa "totalidade açambarcadora", tem sido objeto de
especulações dos maiores filósofos em todas as épocas. Nada melhor para fixar o nosso
ponto de vista reforçando a citada premissa, do que recorrer, entre uma infinidade de
textos, aos de dois filósofos em quem essa filosofia eterna, a sabedoria divina é perfeita
mente identificável.
Em Plotino, filósofo neoplatônico, lemos:
- "Cada ser contém em si mesmo todo o mundo inteligível. Desse modo o Todo está
em todas as partes. Cada um é o Todo e o Todo é cada um. O homem, em seu estágio
atual, cessou de ser o Todo. Mas quando deixa de ser o individuo eleva-se de novo e
penetra no mundo inteiro.” -
No sábio Chuang-Tsé encontramos essa verdade expressa do seguinte modo:
"Não perguntes se o princípio está nisto ou naquilo, pois está em todos os seres Por
essa razão lhe aplicamos os epítetos de supremo, universal, total. Ele ordenou que todas as
coisas fossem limitadas, porém. Ele é ilimitado, infinito. Com referência à manifestação o
Princípio origina a sucessão de suas fases, mas não é essa sucessão. Ele é o autor das
causas e efeitos, mas não é nem causa nem efeito. É o autor dos nascimentos, mortes e
mudanças de estado, mas nada disto Ele é. Tudo d’Ele depende. Está em todas as coisas
mas não é idêntico aos seres pois não é limitado nem diferenciado.”
Esse Princípio de que nos fala Chuang-Tsé que está em tudo e em todos e que, na sua
infinita natureza, é onisciente, onipotente e onipresente, é Deus,
Seu conhecimento pode ser alcançado por vários caminhos, ALDOUS HUXLEY, em sua
obra "Filosofia Perene", indica três dentre eles:
O 1º é começar olhando-se para dentro, para o eu pessoal e mediante um processo
introspectivo morrer para esse eu pessoal que é a personalidade. A medida que esse eu
temporal, complexo de vontade, paixões e sentimentos vai sendo desfocalizado, o homem
gradativamente se ilumina com a esplendorosa luz que provém do reino interno de Deus que
é o seu Eu superior e imortal.
O 2º caminho é aquele em que o homem se despersonaliza procurando englobar os
"eus"de diferentes indivíduos, sentindo a unidade de Deus que a todos eles une
indissoluvelmente.
O 3º processo é conseguido por intermédio de esforços internos e externos até, como
dizia Willian Law, "sentir Deus na parte mais funda e central da alma".
Para mim, além dos métodos citados, existe um 4º método: o científico. Esse foi
seguido pelo maior matemático da nossa época: Albert Einstein. No ano de 1949 formulou
ele a sua teoria do campo unificado que veio coroar todo o pensamento científico atual.
Essa teoria que pode ser considerada como a cúpula do edifício da humana ciência exata,
nada mais é do que a comprovação de um poder primário de ordem energética, do qual
todos os fenômenos como a luz, o som, o calor, a eletricidade, o magnetismo e a gravidade
são casos particulares, ou por outras palavras, diferenciações. Portanto Deus, Energia ou
seja qual for o nome que os homens lhe queira dar, está em todas as coisas. É a lei das leis.
É a Lei primária.
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Em Spinoza encontramos este conceito maravilhosamente exposto nas
seguinte palavras:
"Pela ajuda de Deus, quero dizer, pela fixa e imutável ordem da natureza ou na
cadeia dos acontecimentos naturais, as leis universais e os decretos eternos de Deus
são uma e a mesma coisa. Todo o existente decorre da infinita natureza de Deus
pela mesma lei de necessidade e do mesmo modo que a natureza de um triângulo
se caracteriza e por toda eternidade decorrerá do fato da soma dos seus três
ângulos ser igual a 180°. O que as leis do círculo são para todos os círculos, é Deus
para o mundo".
O sentido dessas leis, imutáveis em sua universalidade, na maioria ainda fora
no controle da fria ciência exata humana, é que levaram o genial Pitágoras a
asseverar que todas as coisas são números e fez Platão exclamar: "Deus
geometriza!".
A lei suprema, primária, de caráter energético para uns, manifestação da
vontade divina para outros, que a tudo engloba, e que a humanidade pelo
conhecimento dito científico consegue observar através os seus rudimentares
órgãos dos sentido, é a da Evolução.
Podemos sentir mais profundamente a sua ação, observando as coisas terrenas
e as da amplidão do espaço, com os "olhos do espírito", constatando que na" várias
fazes de criação ou dissolução das estrelas, no crescimento de uma humilde planta,
ou na aparente rigidez de um mineral, ela está presente e constantemente agindo.
Alcançamos, nesse instante, a compreensão da unidade na aparente diversidade
que nos cerca. Ouvimos, a partir desse momento, a inefável "música das esferas"
proclamada pelo grande Pitágoras, reflexo da proporcionalidade e harmonia que em
tudo existe, e se pode comprovar pelo estudo aprofundado de qualquer fato.
Existe na língua portuguesa um trecho literário do polifacetado escritor que em
vida se chamou Eça de Queiroz em que esse sentimento da unidade na diversidade
está poeticamente expresso. Abramos um pequeno parêntese para ouvi-lo através
das páginas de "A cidade e as serras":
- "Que importa que aquele astro se chame Sirius ou Aldebaran ?
Que importa a eles que um de nós fosse Jacinto, e o outro Zé? Eles tão imensos,
nós tão pequeninos, somos a obra da mesma vontade. E todos, Uranos ou Lorenas
de Noronha e Sande, constituímos modos diversos de um Ser único, e as nossas
diversidades esparsas somam na mesma compacta Unidade. Moléculas do mesmo
Todo, governadas pela mesma lei, rodando para o mesmo fim... Do astro ao
homem, do homem à flor do trevo, da flor do trevo ao mar sonoro - tudo é o mesmo
Corpo, onde circula como um sangue o mesmo Deus. E nenhum frêmito de vida, por
menor, passa numa fibra desse sublime corpo, que se não repercuta em todos, ate
os mais humildes, até os que parecem inertes e invitais: Quando um Sol que não
avisto e nunca avistarei, morre de inanição nas profundidades, esse esguio galho de
limoeiro, embaixo na horta sente um secreto arrepio de morte".
A identificação com o Todo, a unidade na diversidade pode ser conseguida por
vários caminhos como já foi indicado. O 4º caminho que é o da ciência, pode ser
alcançado por vários modos. A física atômica e a astronomia são dois deles. No 1º, é
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desvendado aos céticos o mundo encantador do infinitamente pequeno; no 2º, o
infinitamente grande. Observando-se a evolução da ciência através dos tempos,
vemos que o conhecimento cientifico, qual uma esfera em expansão aumenta
proporcionalmente ao crescimento do seu diâmetro os limites do mundo conhecido,
e tende irresistivelmente a aproximar-nos da compreensão global já sentida pelos
maiores filósofos e místicos da humanidade.
O conceito newtoniano da matéria foi uma etapa, assim como, entre tantas, as
ideias de Euclides, Galileu, Ptolomeu e Copérnico, já o tinham sido. Tal conceito,
apesar de não perder a sua aplicação dentro de determinadas condições é
generalizado surgindo depois o da matéria como concentração de energia. Para
Newton a massa é uma característica imutável da matéria; em Einstein surge o
enunciado comprovando que a massa é função da velocidade do corpo. A
concentração da energia é que caracteriza o seu estado. Quando essa concentração
energética atinge a determinado “quanto” podemos perceber, através dos órgãos
dos sentidos, as características externas do corpo. O estado deste é então dito
sólido, líquido, gasoso, etc.
Desde o Urânio elemento químico em que essa concentração atinge o máximo
simbolizada pelo seu peso atômico igual a 238, até o Hidrogênio, de concentração
atualmente admitida como mínimo, cujo peso atômico é igual a 1 ela varia
gradativamente entre esses dois limites englobando os 92 elementos conhecidos. É
interessantíssimo o estudo da "densificação progressiva" da matéria verificável pela análise
espectrográfica das estrelas e nebulosas. A observação indica que, na sua origem, uma
estrela é constituída exclusivamente de Hidrogênio, sendo a temperatura local do espaço
em que se concentra essa massa da ordem de 6 milhões de graus centígrados, e a
densidade 1000 vezes menor que a do ar. A medida que os milhões de anos decorrem, essa
massa primitiva vai se esfriando gradualmente, e além do hidrogênio que tem peso atômico
igual à unidade, vai se formando o Hélio, elemento cujo peso atômico é 2. E assim,
gradualmente, pela concentração energética, ou densificação da energia, os outros
elementos vão nascendo. O nosso Sol, um dos 40 bilhões que constituem a nebulosa da via
láctea, possui já revelados por procedimentos espectrográficos 66 elementos. É portanto
uma estrela em fase de decadência, e constitui um exemplo da ação dessa lei primária que
é a Evolução. A química e a física atômicas chegaram até ao âmago do átomo.
decompondo-o em suas pedras fundamentais. Essas "pedrinhas" são as partículas
subatômicas conhecidas hoje pelo nome de elétrons, prótons nêutrons, etc, admitidos
como ponto inicial de todas as coisas. As pesquisas, entretanto, continuam, aumentando
cada vez mais a esfera do conhecimento humano no sentido de averiguar as causas e leis
que entrosam harmoniosamente essas subpartículas que consubstanciam esse microcosmo
que é o átomo. O teosofista, isto é, aquele que estuda a Sabedoria Divina, sabe que
existem, fugindo ao controle do cientista dos nossos dias, matérias mais e mais rarefeitas. E
que o infinito conjunto que constitui o TODO pode ser considerado como a interpenetração
de 7 planos denominados, respectivamente, por ordem de densidade decrescente: físico,
astral, mental, intuicional, até chegar ao último, o átmico que a todos unifica em sua
excelsa amplitude. É a divina base que a todos contém. Em cada um desses planos admite-
se um estado subatômico, do mesmo modo que no plano físico podemos, através dos
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estados sólido, líquido e gasoso, alcançar o átomo do elemento físico e por fim penetrar
em sua última constituição que são as partículas subatômicas Nesses outros planos existem
estados diferenciados que poderão, por sua vez, ser equiparados, dentro dos limites de
densidade do plano em questão, ao sólido, líquido, gasoso, etc. Portanto os chamados
elétrons, prótons e outras partículas subatômicas do átomo físico, constituem a matéria
mais densa do plano astral e estão para esse plano como o sólido mais denso está para o
físico e assim por diante.
Em cada um dos planos a matéria possui suas vibrações características. A ciência já
estudou o chamado "espectro eletromagnético" que engloba as radiações, desde as que
possuem um comprimento de onda de 30 km, correspondente ao limite máximo das ondas
das estações de rádio, até aquelas cujo comprimento é do 10¹² cm (registradas nos raios
cósmicos). Esse espectro a ciência dividiu em 7 zonas que intitulou respectivamente: Ondas
hertzianas, Raios infravermelhos, Raios de luz visível. Raios Ultravioleta, Raios X, e Raios
cósmicos. Entretanto pode-se admitir como certa a existência de vibrações acima de 30 km.
de comprimento, até o infinito, e de 10¹² cm, até 0. Logo o pensamento pode ser admitido
como uma forma de energia de natureza diversa, verificando-se nele uma escala gradativa
de modo idêntico à das radiações já conhecidas. Daí sabermos que os pensamentos ditos
baixos, que refletem todo o sórdido mundo das paixões e dos vícios mais animais, são
vibrações de maior comprimento de onda verificadas dentro dos limites do plano astral; ao
passo que os pensamentos altruístas como o amor desinteressado e os sentimentos
estéticos abstratos, pertencem ao âmbito do plano mental possuindo, portanto,
comprimentos de onda muito menores do que as anteriores. A ciência dita exata, ainda
tateia desorientada nesses domínios, mas os fatos irrefutáveis, testemunhados por
observadores idôneos e com o devido controle, em telepatia, clarividência e tantos outros
fenômenos metapsíquicos, constituem o caminho que irremissivelmente nos conduzirá ao
reconhecimento científico de tais fatos.
O pensamento é, portanto, uma forma de energia com características peculiares, que
determinam sua "cor" e forma de modo análogo às de qualquer outra radiação. Portanto,
ondas cerebrais são passíveis de registro e medida. O aparelho usado para tal mister é o
electroencefalograma, e vários estudos já foram realizados por Berger, Gibbs e Lackawsky
debaixo de condições as mais diversas a que submeteram os pacientes.
Infelizmente não podemos agora nos estender mais sobre os métodos científicos que
estão sendo empregados, mas julgo que o que foi dito define perfeitamente o que é o
pensamento e qual a sua relação com o TODO.
Passemos agora a responder à 2ª incógnita: O que é o homem?
Já anteriormente falamos sobre a lei que inclui todas as outras, a lei primária que se
manifesta no sentido do aperfeiçoamento das formas e que é da Evolução. Essa entidade
intitulada HOMEM é nada mais que um degrau dessa infinita escada, evolutiva
representando uma de suas etapas, do mesmo modo que o mineral, o vegetal e o animal
são etapas pelas quais ele já passou. Sabemos que existem 7 "reinos" sendo 3 elementares,
e mais o mineral, o vegetal, o animal e o humano. Os reinos elementares são 3 etapas da
Vida em sua descida a matéria (Involução), e podem ser assimilados ao ramo descendente
de uma parábola que atingindo a um mínimo no ponto correspondente ao reino mineral,
ascende novamente cruzando na subida (Evolução) os reinos vegetal, animal e humano. Em
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cada um desses reinos os elementos que os constituem estão também em contínua
evolução para dentro dele atingirem a perfeição do chamado "arquétipo". Existem portanto
7 arquétipos. Imaginemos agora cada reino como uma esfera de centro 0. A evolução de
um indivíduo a ele pertencente procede da periferia para o centro no sentido radial. O
tempo necessário para efetuar esse percurso é variável e depende do indivíduo,
constituindo o que se chama o "Dharma". Alcançado, por fim, o centro -'que é o arquétipo –
o, o indivíduo em sua inexoravel marcha evolutiva atinge o ponto mais afastado situado
sobre a superfície de uma outra esfera que corresponde ao reino imediatamente superior,
onde novamente o objetivo colimado continuará a ser perseguido no sentido radial.
Quando a forma procedente do reino animal alcança a etapa humana, revela-se nele a
centelha divina que é o espírito imortal. Ao passo que o corpo físico e os outros corpos
constituídos de matéria de maior densidade se desagregam e incorporam novamente ao
TODO, o espírito do homem que nada mais é do que concentração de Brahma ou seja o
período de manifestação do Universo. As recentes determinações científicas efetuadas por
SHAPLEY estimam a duração, desse período em 5 bilhões de anos! O espírito durante esse
penedo renasce em corpos densos periodicamente, vivendo - ou melhor - permanecendo
manifestado no plano físico durante um tempo que hoje em dia é, em média, de 60 anos,
findos os quais, liberto de suas ligações com a matéria mais densa, purifica-se, isto é, atinge
outros estágios em planos onde a densidade é infinitamente menor do que a do físico.
Nesse estado permanecerá cada vez mais tempo entre duas reencarnações periódicas,
diminuindo progressivamente o tempo de permanência na matéria mais densa. Já fixamos
portanto o homem no seu aspecto mais geral como entidade em relação ao TODO, do qual
é uma das mais pequenas peças. Analisemos agora o caso particularíssimo do homem como
entidade complexa, psicossomática que é o caráter que lhe atribui a Psicologia clássica. O
corpo chamado físico pode-se, para mais fácil raciocínio, imaginar como um instrumento
musical. De acordo com as característica e o modo como estão agregadas as partes que
compõe esse instrumento, teremos homens mais ou menos intelectualmente dotados, de
modo análogo a um violino que apesar de um aspecto externo magnífico, pode ser o
produto de um desses milhares de Batbits fabricados em série sem a necessária escolha do
material e sem aplicação da melhor técnica para a sua confecção. Coloque-se nas mãos de
um grande artista um desses instrumentos da pior qualidade e, por mais que ele se
esforce, por fazê-lo em harmonia vibrar com o que mentalmente tenta executar, o
resultado ficará muito distante do que poderia conseguir se a qualidade do instrumento
permitisse. Estados idênticos todos nós já experimentamos. Quantas vezes na quietude do
lar ou mesmo entre o burburinho da vida que nos afoga, temos aquela sensação do pássaro
engaiolado pelas limitações físicas do nosso cérebro? E que felicidade quando, encontrando
uma espécie de brecha fugidia podemos, ainda que instantaneamente, haurir a
compreensão clara do que, normalmente, seria ininteligível para nós.
É indispensável, antes de expressar o que é a personalidade, dizer algumas palavras
sobre uma das facetas da lei geral da Evolução, a Lei de Causa e Efeito. Essa lei, definida
quando aplicada no plano físico, como "a cada ação corresponde uma reação de igual
intensidade e de sentido contrário", é aplicável a todos os planos hipar-físicos. Com toda
singeleza está generalizada nestas palavras bíblicas: "colherás o que semeaste". É uma lei
de infalível atuação podendo, entretanto, cada um, modificar seu efeito dentro de certos
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limites, do mesmo modo que o homem pode, mediante certo" procedimentos, também
resultantes da ação da mesma lei, aplicar uma fonte de energia a fins úteis em vez de
maléficos. Uma dívida, ou melhor, a resultante de uma ação, obrigatoriamente terá que ser
paga, isto é, produzirá uma reação. Os modos de pagamento são entretanto infinitos. A
resultante da aplicação dessa lei, entretanto, jamais falha, e é sempre justa no sentido em
que Platão definia a justiça ou seja o de "termos de fazer o que nos compete".
O homem ao reencarnar traz em si os efeitos em potencial de muitas causas passadas.
É o que a ciência denomina tendências e atavismos. O efeito dessas causas passadas não
é obrigatoriamente imediato, da mesma forma que se plantarmos uma semente que é
"causa", somente após determinado lapso de tempo a mesma germinará, nova planta
surgindo como "efeito" do ato anterior. O tempo de germinação é proporcional à
espécie plantada e às condições do ambiente. Com o homem, fato semelhante ocorre; a
má ação de hoje é a semente do mal que, plantada, no amanhã, nesta ou em outra
encarnação, fatalmente desabrochará Caso o indivíduo lhe forneça condições
especificas para tanto.
A personalidade humana é, portanto, função de causas passadas. A palavra
personalidade provém de pessoa, que em latim corresponde a duas palavras "per" e
"sona". Essas palavras latinas significam "Aquilo através do qual vem o som". Persona é
a mascara que os atores usavam nas representações da Roma antiga. A personalidade é
o veículo temporário inferior em suas transmigrações pelo plano físico.
A personalidade do indivíduo, em seu caráter transitório, é constituída
principalmente de matérias dos planos astral e mental cujo tempo de agregação é
muito maior que o da matéria que constitui o corpo físico. Compreende-se
perfeitamente o lapso maior de agregação dessas matérias menos densas ao
observarmos que o elemento químico Urânio é aquele no qual a densificação atingiu o
auge e por isso mesmo. espontaneamente, se decompõe, ao passo que o Hidrogênio, o
elemento que primeiro é formado no plano físico tem uma duração enorme.
Este conjunto transitório de veículos que é a personalidade, permanece agregado
por muito mais tempo do que o corpo físico denso, dissolvendo-se por fim, e indo seus
átomos e partículas subatômicas de matéria astral e mental integrar-se novamente no
TODO. Nada se perde, como sabemos na Natureza. Assim, as ações praticadas e todas
as experiências humanas, efetuadas no plano físico, ficam indelevelmente assinaladas
no seu Eu superior e constituirão as sementes a se desenvolverem em uma nova
densificação. O Eu superior do homem, é a "chispa eterna", o "substratum" de todas as
existências, e constitui um centro polarizador da mesma maneira pela qual, em
determinados pontos do espaço, se verifica a concentração de energia que constitui as
estrelas.
Revela-se-nos agora o significado oculto da regra hermética "em cima como em
baixo", pela identidade entre o macro e o microcosmo. Podemos portanto concluir que
a influência do pensamento sobre a personalidade humana é relativa e condicionada a
uma série de causas, como tudo mais que nos cerca.
Quando nasce uma criança, tal evento é resultante de uma série de outros
envolvendo o Karma da criança, dos pais, da família, da pátria e, excepcionalmente, da
própria Terra.
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A medida que a criança se desenvolve fisicamente sua personalidade vai sendo
formada e essa formação condicione-se a duas ordens de fatores: fatores de ordem
atual e fatores de ordem pretérita. Entre os primeiros, isto é, os de ordem atual,
encontramos o meio físico e o espiritual. Ninguém desconhece a influência que o meio
físico exerce sobre a formação da personalidade. Basta recordar e confrontar o
habitante do deserto, nômade por natureza, introvertido de temperamento, e aquele
que nasceu em zona temperada em que os recursos e os panoramas são variadíssimos,
gerando no indivíduo a predisposição à extroversão. Da mesma Forma que o físico, o
ambiente espiritual é importantíssimo. Avulta aí a responsabilidade dos pais e
educadores, pois os seus pensamentos são irresistivelmente absorvidos pela criança
que com eles vai construindo seu Eu pessoal. Com o desenvolvimento simultâneo do
cérebro, surgirá na criança o conhecimento das vibrações pertencentes à matéria dos
planos astral e mental. Quanto ao fator de ordem passada ou kármico, foi esse
justamente que lhe permitiu o nascimento nesse ambiente determinado, a fim de
propiciar elementos para que as causas em potencial se manifestem em efeitos
correspondentes. Ao atingir a idade adulta estará formada a personalidade ou Eu
pessoal do indivíduo, produto resultante de todos os fatores mencionados. Ela
representa o papel de uma máscara ou lente através da qual o som ou luz eterna se
filtram e chegam à consciência física.
A personalidade, entretanto, não é coisa rígida, inflexível, em sua natureza.
Depende do próprio indivíduo, dentro de determinados limites, modificar esse veículo,
por um processo purificador.
Esse processo pode ser o estudo, o sofrimento ou inúmeros outros fatores
dependentes de cada situação particular.
Surge agora fatalmente uma pergunta. O que é o caráter e qual a sua relação com
a personalidade?
Tentarei uma resposta em poucas palavras, recorrendo mais uma vez à analogia.
"Personalidade" é a lente, manto ou "nuvem de ignorância", - palavras tão ao agrado
dos místicos medievais, - através do qual a "luz eterna" se manifesta. Noutras palavras, é o
meio interceptor que as radiações de um comprimento de onda infinitamente pequeno
provenientes dos planos superiores, têm que transpor obrigatoriamente, da mesma forma
que a luz para agir no nosso órgão visual tem que propagar-se pela atmosfera. A ação
dessas radiações no cérebro produzem sensações que são as ideias. A luz perpétua
proveniente do centro irradiador que é o Eu superior, é matizada e absorvida em parte pela
qualidade desses materiais mais densos que constituem a personalidade ou Eu pessoal.
Essa absorção e matizamento originam-se do caráter. Um exemplo melhor esclarecerá:
Suponhamos uma lente de quartzo. Essa lente é, analogicamente, a personalidade humana.
O que determina a cor e transparência dela, é a contextura do material de que é feita.
Podemos ter uma lente de cor carregada mas perfeitamente hialina, ao passo que uma de
cor clara pode ser quase opaca. Isso explica a existência de pessoas com caráter péssimo,
mas de personalidade brilhante e vice-versa. Os modos habituais de pensar e agir do
homem como por exemplo: a avareza, o desprendimento, o egoísmo, a bondade,
constituem as cores superpostas que, como resultante, darão a cor final dominante no
caráter do indivíduo.
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Pode porém o homem, pelo autoconhecimento, afastar a "nuvem da ignorância"
modificando a cor e transparência da sua personalidade, sentindo-se por fim
verdadeiramente consciente do seu verdadeiro Eu. Nesse momento como diz
KRISHNAMURTI:
"Produz-se aquela percepção do que "é", aquele sentimento que nos libertará e livrará
a todos nós do pecado e do sofrer. É o conhecê-lo exatamente - e não o traduzi-lo, explicá-
lo e pô-lo de lado - é o conhecê-lo exatamente, o percebê-lo livremente, que traz a
liberdade. E é só pela liberdade que se dá a conhecer a Verdade".

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MEUS AMIGOS

Em duas palestras anteriores procurei evidenciar a identidade existente entre os


conceitos científicos e teosóficos das radiações e do Universo. Tratando-se de um tema de
facetas fascinantes pretendo acrescentar mais algumas considerações a respeito, alinhando
uma série de textos das mais variadas origens e épocas, e confrontando-as com os
resultados obtidos através do moderno método científico, a fim de ressaltar-lhes a
identidade fundamental.
Reflitamos preliminarmente sobre a insignificância, no imenso cômputo universal,
dessa partícula infinitesimal denominada HOMEM.
Esse estágio prévio de preparação é indispensável para que o indivíduo, reconhecendo
sua devida posição, possa sentir o problema ou fenômeno em sua intrínseca realidade. Há
de vos parecer estranho que inicie um trabalho expositivo com estas considerações;
entretanto julgo que somente sentindo a nossa fragilidade no mais Íntimo do ser,
conseguiremos, por um processo gradual de anulação, tender para o Infinito! Desse modo,
a nós que somos um minúsculo grão de pó integrado a um imenso Cosmos, após nos
despojarmos de todo sentimento de orgulho e baixas paixões, que como "nuvem da
ignorância" mencionada pelo místico medieval, absorve a pura luz da verdade, impedindo
que a percebamos em sua infinita beleza, é que nos será permitida a ventura da
compreensão das maravilhosas leis que tudo regem. O artistas, os cientistas, os filósofos e
místicos, conhecem essa espécie de identificação essencial que os capacita a apreender e
expressar determinada manifestação.
Recordo-me de um trecho de uma obra do escritor Van Loon, em que o arrogante
orgulho desse punhado de mamíferos que se julgam os reis da criação, é despedaçado sem
piedade. Segundo ele, baseando-se em precárias estatísticas, existem sobre a face da terra
dois bilhões de indivíduos do reino humano. Considerando-se a dimensão média desses
espécimes como sendo de 1.75 m. de altura por 50 cm de largura e 25 cm de espessura,
toda a Humanidade poderia ser contida em uma caixa de 750 m em cada direção.
Imaginemos que por um procedimento qualquer extraterreno, ou talvez por ação dos
próprios animais tão duramente castigados há milênios, esse caixote fosse depositado.
equilibrando-se instavelmente, sobre os escarpados bordos do Grand canyon do
Arizona, e que qualquer cãozinho "vira lata" representando o papel de vingador dos
seus irmãos, com um leve golpe de focinho fosse o precipitador do acontecimento.
Passado o alarido, pragas, gritos de dor e o ruído da queda estrepitosa, voltaria a reinar
a paz, o esquecimento e o silêncio sobre a face da Terra, sem que os hipotéticos
astrônomos de um planeta vizinho notassem qualquer modificação no aspecto do
nosso túmulo... Talvez a luxuriante vegetação que se desenvolveria produzida pela
intensa adubação, provocasse entre eles várias teorias controversas. Ou quem sabe?
Talvez ninguém notasse a nossa falta...
Sou tentado a apresentar-vos os versos que servem ele fecho ao magnífico poema
hindu intitulado "O Cântico da Criação", contido nos Vedas, em que essa eterna dúvida

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é claramente expressa:

"Quem verdadeiramente sabe?


Quem poderá declarar de onde nasceu e de onde proveio a sua criação?
Quem sabe aonde primitivamente chegou a ser?
Ele, a origem, primária que formou a tudo e todos,
Cujos olhos controlam o mundo do mais alto dos céus
Ele verdadeiramente o saberá, ou - quem o poderá afirmar?
Talvez também o não saiba...”

Continuo a refletir sobre -, esta enfatuada humanidade que pode ser contida em
um cubo de 750 m de aresta e que pulula enjaulada na superfície de um planeta de
6.378 m; de raio, que gravita como os seus irmãos em torno de uma estrela 100 vezes
maior denominada Sol: O próprio magnificente Sol que é o centro vivificante do nosso
sistema, já é uma estrela em fase de decadência, pertencente a um sistema de ordem
superior denominado Galáxia da Via Láctea, sendo uma dentre os 40 bilhões de estrelas
que a compõe. A imensamente grande Via láctea quase se aniquila quando pensamos
nos últimos resultados das pesquisas efetuadas pelo observatório de Mount Palomar,
demonstrando que existem no Universo 500 trilhões de Galáxias semelhantes à Via
láctea, distanciadas umas das outras em média, 1.5 milhões de anos-luz! Todas essas
Galáxias acham-se contidas em uma inconcebível super esfera em expansão, de
diâmetro equivalente à distância que um raio de luz que se desloca no espaço com a
inconcebível velocidade de 300 mil quilômetros por segundo, percorreria se viajasse
sem parar durante 6 trilhões de anos.
Julgo que a meditação sobre esses dados e o fatal confronto com as nossas
limitações constituem a melhor lição de humildade que nos seja dado a aprender.
O que é o Homem afinal? Quando nos julgamos através dos órgãos dos sentidos, o
fantasioso véu da nossa concepção faz-nos crer que somos concretos e perfeitamente
caracterizados no tempo e no espaço. Entretanto, nós, como tudo que nos cerca neste
imenso Cosmos, nada mais somos do que formas especiais de radiação. A matéria é
uma ilusão! Platão no século 3 a. C. já afirmava esse conceito quando dizia:
"As aparências são ilusórias; as Ideias, isto é, nossas abstrações baseadas nas
aparências de que nos recordamos, é que são verdadeiras.”
No Surungama Sutra, livro que expõe os fundamentos filosóficos do Budismo,
encontra-se um trecho em que o grande instrutor da humanidade, Siddharta Gautama,
que viveu no século 6 a. C., explica aos seus discípulos a verdadeira natureza da mente.
São suas as seguintes palavras:
"Ananda e todos vós meus discípulos! Sempre vos ensinei que todo o fenômeno e
seu desenvolvimento são uma simples manifestação da mente. Todas as causas e
efeitos, desde os imensos universos até ao pó finíssimo, apenas visível com a luz do Sol,
só chegam à existência aparente, devido à mente de distinção. Se examinarmos a
origem de qualquer coisa no Universo, achamos que não é mais do que a manifestação
de alguma essência original. Até nas tenras folhas das árvores, ou em qualquer coisa
que se examine cuidadosamente, se verifica que ali existe alguma essência em estado
43
primitivo. Tão pouco o imenso espaço é um "nada". Como é possível então que a
formosa mente pura, tranquila e iluminada pela origem de todas as concepções, não
tenha a Essência em si mesma?”
O Taoismo que é talvez a mais antiga religião chinesa, explica em sua forma
científica que um primeiro princípio, único, primariamente concentrado e inativo,
denominado "TAO", engendrou o céu, a terra e o ar, que constituem a Santíssima
Trindade, de onde provém todos os seres. O TAO habita em tudo, não pensa e sim é
pensado, não quer, mas é a lei. Todo ser dele emanado contém uma alma participante
do princípio universal.
Deparamos na Bíblia a reafirmação dessa verdade, na primeira epístola de São
Paulo aos Coríntios no capítulo 8, versículo 6 que diz:
"Todavia para nós há um só Deus, o Pai que é de tudo, para quem nós vivemos; e
um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas e nós por Ele".
Na Índia, o conceito expedido por São Paulo, Buda, Lao-Tsé, e Platão, transcritos
anteriormente, é encontrado em um antiquíssimo texto sânscrito que se chama
Chandogya Upanishad: nele se encontra a belíssima parábola dialogada que reproduzo
a seguir:
"Quando Svetaketú tinha doze anos, foi encaminhado a um mestre com o qual
estudou até completar vinte e quatro, Depois de aprender todos os Vedas, regressou
ao lar cheio de presunção e críticas, crente de que possuía uma educação completa,
Seu pai perguntou-lhe então:
- Svetaketú meu filho, tu que está tão cheio de ciência e críticas terás o
conhecimento pelo qual ouvimos o inaudível, vemos o que não se pode perceber, e
sabemos o que não se pede saber?
- Qual é esse conhecimento? Perguntou Svetaketú.
Seu pai respondeu: É o conhecimento que uma vez adquirido, nos permite tudo
saber. E que quando contemplamos um torrão de argila. Faz-nos sentir que tudo é feito
de argila, pois a diferença é só no nome, meu filho.
Mas sem dúvida os meus veneráveis mestres ignoram esse conhecimento, pois se
o possuíssem me o teriam comunicado, revelai-me-o, pois, meu pai.
- Assim seja, disse o pai. Traz-me um fruto da árvore do nyagroda.
- Aqui está, pai.
- Parte-o
- Está partido pai.
- Que vês, aí?
- Umas pequeníssimas sementes.
- Parte uma.
- Já a parti
- Que vês agora?
- Nada.
Pois meu filho, nessa essência sutil que não podes aí perceber, mas que existe,
está o ser da enorme árvore do nyagroda. Nessa sutil essência tudo que existe tem o
seu EU. ISSO é o verdadeiro, ISSO, é o eu, e tu meu querido filho, és ISSO também..."
44
Nesse maravilhoso diálogo escrito séculos antes de Cristo, como em todos os
outros já citados, prenunciam-se em toda pujança fatos que somente no século atual a
ciência conseguiu comprovar.
Para a ciência exata é a ENERGIA essa essência sutil que tudo interpenetra: para
nós, teosofistas, ela representa DEUS com os seus atributos de onipotência onisciência
e onipresença. Entretanto Essência sutil. Energia ou Deus, qualquer que seja o nome.
que se lhe dê, são denominações humanas. Na realidade esse fator que se transforma
incessantemente não pode ter nenhuma representação mental quanto à sua origem e
fim. As sábias palavras de Krishna a Arjuna encontradas no Bhagavad Gita iluminam
perfeitamente esse ponto,
"Aquele que me conhece sem nascimento e sem princípio, como o Supremo
Senhor do Universo, é o que entre os mortais estará livre de todos os erros e faltas."
Deus ou energia manifesta-se em vários estados que a ciência denominou
mecânicos, térmicos, luminosos, elétricos, magnéticos, químicos, gravitacionais ou
radiantes, que são fundamentalmente a mesma coisa. Coube a Albert Einstein a glória
de poder formular em Dezembro de 1949 a nova teoria do campo unificado, uma
generalização da teoria da gravitação, de sua autoria, conseguindo abarcar, por
intermédio de quatro equações matemáticas, todos os estados da manifestação divina
acima mencionados, em um só todo.
A matéria física que era dogmaticamente considerada como uma substância
extensa e impenetrável capaz de receber toda espécie de formas, às quais as inflexíveis
leis de Newton eram aplicadas, passou a ser considerada como resultando de uma
concentração de energia. Sendo a matéria energia concentrada, que através de nossos
órgãos sensoriais produz representações mentais de rigidez, delimitação espacial e
temporal, decorre, na realidade, de regiões do espaço onde a concentração de energia
atingiu, por um procedimento desconhecido, um grau determinado que permite,
através de radiações características emitidas, a sensibilização dos nossos órgãos.
Encontramos no filósofo chinês Su-Tungpo que viveu no século X da nossa era,
um pequeno conto em que está perfeitamente demonstrado o papel ilusório dos
nossos sentidos no julgamento da verdade. Preferimos, para não perder-lhe o sabor,
transcrevê-lo inteiramente:
"Era uma vez um cego de nascença que nunca tinha visto o Sol e que costumava
pedir aos que o podiam ver, que lhe dissessem como é que o mesmo era. Alguém lhe
disse: O Sol tem a forma de uma bandeia de latão. O cego bateu na bandeia e ouviu-a
ressoar e mais tarde ao ouvir um sino ao longe pensou que era o Sol que estivesse
tocando. Aí uma outra pessoa penalizada com a sua confusão informou-o: A luz do Sol
é como uma vela. O pobre homem pegou então em uma vela. ficando com a impressão
de que o Sol tivesse aquela forma. Tempos depois ao tocar em uma chave imaginou
que estivesse pegando no Sol. Ora o Sol é diferente dos sinos e das chaves. mas o cego
não pode perceber a diferença porque nunca o vira. A verdade ainda é mais difícil de
perceber do que o Sol, e quando alguém não sabe o que é a verdade, fica exatamente
como o pobre cego de nascença. Mesmo que alguém se esforce ao máximo para
explicar com exemplos e analogias, não o elucidará mais do que no caso da vela e da
bandeja de latão. Porque, aquilo que se diz da bandeja se deduz quanto ao sino, e o
45
que se diz sobre uma vela, imagina-se na chave. E assim cada vez mais se distancia uma
pessoa da verdade, porque aqueles que falam sobre ela quase sempre lhe dão um
nome de acordo com aquilo que ela lhes pareça ser, ou então sem a estarem vendo
imaginam que ela seja desta ou daquela maneira. E tudo são enganos, cometidos pelas
pessoas no esforço para compreender a Verdade."
Continuemos porém a nossa explanação sobre a Energia. Já tive oportunidade de
falar a respeito das perturbações ondulatórias ou radiações, características da
manifestação energética. Essas perturbações são identificadas pelo comprimento de
onda e velocidade de propagação e participando do conhecimento científico as que se
compreendem entre os cumprimentos de onda de 10-1² em. (raios cósmicos) e 30 km
(ondas hertzianas). Em qualquer instante da nossa vida, estamos rodeados e
transpassados por ondas as mais diversas que exercem variadíssimas influências sobre
o organismo humano. Antes de lhes estudarmos mais detalhadamente a ação, convém
refletir sobre o que somos em última análise. A matéria física que constitui o nosso
corpo denso é formada de um número inconcebível de células dos tipos mais diversos.
Essas células são o resultado da aglomeração dos átomos de diferentes elementos
químicos em proporções determinadas. Esses átomos são por sua vez edificados por
partículas menores denominadas cientificamente elétrons, pósitrons, prótons.
nêutrons, mesons, que são realmente a pedra fundamental de todas as coisas. As
partículas subatômicas estão dotadas de massa e possuem cargas elétricas de sinal
positivo ou negativo, exceto o nêutron cuja carga é nula, sendo considerado entretanto
como a resultante da conjugação de duas partículas de sinais contrários. Chega a
Ciência atual à comprovação do que já no século II a. C. o filósofo chinês Huainan-tsé que
foi um dos intérpretes de Lao-tsé, ensinava: que da Causa Primeira (Tao) originaram-se
o princípio YIN que é Feminino e positivo, e o princípio YANG masculino e negativo,
provindo de sua interação todos os seres e coisas.
Os elementos químicos, desde o Hidrogênio até ao Urânio vão se diferenciando à
medida que aumenta o número de elétrons que gravitam em torno do núcleo central
atômico. Sendo a matéria física uma concentração energética ou divina, será
fatalmente sede de fenômenos oscilatórios. A pedrinha fundamental dos seres que
chamamos vivos, é a célula orgânica que pode perfeitamente ser assimilada, como
veremos a seguir, a um microscópico circuito oscilante, que sob a ação de radiações de
comprimento de onda determinados, entra em ressonância produzindo o conjunto de
oscilações que conhecemos como VIDA.
A moderna Ciência, por intermédio de pesquisadores como D'Arsonval, Beresdka,
Boutaric, Lakhcwiscky entre outros, vem se dedicando a estudos que prenunciam a
solução parcial do enigma. Após demoradas especulações e experiências de laboratório
já se pode afirmar que o núcleo desse sacrário que é a célula viva, é comparável à
micro-bobina de self, em virtude da sua constituição revelar que o mesmo é formado
por um filamento tubular, enrolado em espiral que se acha flutuando no interior do
protoplasma. Internamente esse tubo é cheio de uma substância orgânica altamente
condutora de eletricidade, ao passo que as suas paredes são de um composto isolante
denominado colesterina. A analogia é flagrante se compararmos esse microtubo com
uma dessas bobinas utilizadas nos domínios da eletrotécnica que se formam enrolando-
46
se um fio isolado em várias espiras. Utilizando-se uma dessas bobinas, e submetendo-a
a um campo magnético variável, verifica-se que entre os terminais do enrolamento
aparece uma força electromotriz alternada, que dependerá entre outros fatores, do
comprimento da bobina, diâmetro do fio, período de variação do campo, etc. Sobre
esse princípio está baseada toda a técnica dos modernos geradores, motores, e
transformadores, que vieram causar uma verdadeira revolução na vida da humanidade.
Com o microcircuito oscilante que possuem as células vivas, o mesmo fato se
processa. Estando as mesmas sob a ação de um campo magnético terrestre conjugado
a uma série infinita de radiações, a variação desse campo induzirá na microbobina a
emissão de ondas de enorme frequência:
Experiências interessantíssimas vêm sendo efetuadas por M. Nodon comprovando
a radioatividade de vários organismos. Inicialmente, demonstrou que os insetos vivos
apresentam uma radioatividade equivalente de 3 a 15 vezes a do Urânio de mesma
massa. A seguir executou medições em plantas e animais mortos, chegando a
resultados que atestam ser o teor emissivo praticamente nulo, donde se conclui que a
radioatividade é um fenômeno característico da vida.
Quanto aos resultados obtidos na observação do Homem, o mais interessante é
dar a palavra ao próprio cientista, que afirma no seu trabalho "As radiações
ultrapenetrantes e o fenômeno da vida":
"Resulta de fatos precedentemente expostos que as células vitais do corpo
humano emitem elétrons provenientes de uma verdadeira radioatividade, sendo que a
sua intensidade parece muito mais considerável do que a emitida por insetos e
plantas."
Delineia-se portanto sob a fria luz da Ciência, a teosófica Senda que cada ser
inexoravelmente percorre à medida que o sopro vital o anima cada vez mais
intensamente em sua escalada para a perfeição!
Para a Teosofia são em número de sete os reinos da natureza que se escalonam,
harmoniosamente, desde os três primeiros que denominamos elementares até atingir
os reinos mineral, vegetal, animal e por fim o humano. Dentro de cada reino sentimos
que os elementos que o constituem desenvolvem-se continuamente imantados por um
ideal que é a força que os faz atingir o tipo de máxima perfeição nesse setor.
Geometrizaremos esses conceitos a fim de melhor podermos expressar o evolutivo.
Imaginemos que cada reino da natureza é um circulo de centro 0. A evolução de cada
indivíduo processar-se-á da periferia onde estão localizados os mais atrasados, para o
centro 0 que simboliza o arquétipo ou ponto em que a máxima perfeição é alcançada,
segundo uma trajetória radial em um tempo que depende única e exclusivamente do
próprio indivíduo. Essa trajetória é o que denominamos Senda, Caminho, Dever, ou
então, de um modo mais amplo, pela palavra DHARMA. Logo que o arquétipo é
atingido, o indivíduo em sua incessante peregrinação, integra-se no reino
imediatamente superior, indo ocupar a circunferência de um outro reino onde o
processo se repetirá, até que, alcançando o arquétipo animal, possa ingressar na esfera
humana, onde então obterá o prêmio dos seus esforços ao se transmutar em "Homem
perfeito”.

47
EVOLUÇÃO DOS REINOS DA NATUREZA

No estágio em que estamos, o corpo físico é um dos veículos em que se processa o


trabalho aprimorador. Formado em seu conjunto por células de distintos tipos que
constituem os vários órgãos e tecidos, sendo cada uma delas um microscópico
circuito oscilante, o todo aparentemente heterogêneo é o maravilhoso instrumento
captador das vibrações cósmicas que permite a manifestação dessa música divina
chamada VIDA! O que consideramos como doença, é a perturbação de parte desse
conjunto, causando-nos as desagradáveis sensações de dor e mau estar causado
pelas perturbações oscilatórias dissonantes surgidas da modificação do regime
vibratório celular. A morte física sobrevém quando essas alterações são de molde a
impedir a ressonância com as harmonias celestiais que a tudo envolvem! O
instrumente emudece, morrendo fisicamente o homem, que imediatamente
renascerá sob forma mais elevada, aproveitando as experiências desse breve
interregno terrestre como cabedal que lhe servirá de propulsão em busca do ideal
supremo!
Termino citando o grande filósofo chinês Chuang-Tsé que viveu
aproximadamente no século II A. C. e que representa para a religião Taoista de Lao-
Tsé o mesmo papel desempenhado por São Paulo em relação ao Cristianismo. Ele
define o arquétipo do homem com as seguintes palavras:
"O homem perfeito é um ser espiritual. Ainda que o oceano subitamente se
inflamasse, ele não sentiria calor. Ainda que o grande rio se transformasse em gelo,
não sentiria frio. Ainda que as montanhas repentinamente se despedaçassem ao
embate dos raios, e as grandes profundidades e seus monstros aflorassem à face da
Terra, não tremeria de medo. Isto porque sabe que galgará as nuvens do céu tendo
o Sol e a Lua à sua frente, quando passar além do domínio da existência humana.”
A vida e a morte não poderão ter mais vitória sobre Ele.

48
EVOLUÇÃO
"ESTUDO COMPARATIVO DOS CONCEITOS TEOSÓFICO E CIENTÍFICO
SOBRE O UNIVERSO"

MEUS AMIGOS

O meu objetivo de hoje é iniciar através uma serie de pequenas palestras, se


para tanto me chegar o engenho e arte..., um estudo em que procurarei comparar
os conceitos científico e teosófico de Evolução. Trata-se de um tema fascinante que,
para ser completamente esquadrinhado, requereria uma obra de grandes
proporções, constantemente atualizada, à medida que a ciência humana fosse
comprovando a Divina Sabedoria; procurarei sintetizar ao máximo de modo a
conseguir o meu desígnio .
Mais uma vez quero agradecer-vos pela bondosa condescendência com que me
ouvis, e que tem sido para mim grande estímulo a nortear minhas pesquisas.
Evolução, para a ciência exata, é a força que provoca na Natureza
transformações de crescente complexidade resultantes da conjugação de leis
químicas, físicas e matemáticas. Essa ciência que observa, mede e experimenta.
tenta apreender essa lei suprema através das poucas verdades particulares do seu
conhecimento, e em ousadas extrapolações chegar à Verdade Absoluta; nada mais
conseguindo porém do que conclusões relativas.
Para o teosofista, Evolução é a lei inflexível do aperfeiçoamento concomitante
da matéria e do Espírito na direção de Deus. Essa meta divina de todo ser é um
Absoluto, inefável nos termos do pensamento discursivo que, porém, em certas
circunstâncias, pode ser diretamente experimentado e sentido pelo homem.
Magnífica e sintética, sob todos os aspectos, é a definição encontrada no livro "A
grande síntese" de Pietro Ubaldi:
"Evolução é a libertação de limites que encerram, de ligamentos que constringem, é
portanto ascensão, progresso e conquista".
Após as definições preliminares, iniciemos a nossa árdua caminhada no sentido
da racionalização dos conceitos teosóficos sobre Evolução, sempre apoiados ao
frágil bordão da ciência exata, que de pouco nos valerá se não tivermos a nos animar
um desejo ardente de atingirmos a meta inatingível.
Reflitamos preliminarmente quão minúsculos somos em relação ao Universo, e
quão ousada é a nossa ânsia de desvendar o mistério das nossas existências, e como
é irresistível essa força que nos impele, quer queiramos quer não, na senda do
progresso.
Ao contemplarmos o firmamento em uma noite límpida e tranquila, sentimo-nos
imbuídos de uma doce sensação de insignificância. Esse mar de luzes, universo de
mundos em que os nossos olhares se perdem; esse "mar eterno" em que nada mais
49
somos do que vírus, habitantes de um grão de areia, uma partícula infinitesimal do
supremo Todo, faz-nos sentir a existência de uma altíssima força inteligente
universal. Segundo a ciência a proporção da distância existente entre o Universo e o
Homem, é a mesma que a este separa do átomo, Portanto o Homem ocupa uma
posição intermédia relativamente ao macrocosmo e ao microcosmo. Divaguemos um
pouco, imaginando a possibilidade de um ser dotado de característicos humanos
habitando em um elétrons que gravite em torno do núcleo central de um átomo de
modo similar ao da nossa terra gravitando em redor do Sol; imaginemos ainda que
esse átomo seja um dos bilhões que constituem o nosso corpo. Esse ser hipotético ao
contemplar o seu "firmamento", que nada mais seria do que o conjunto dos outros
átomos a distâncias para ele, enorme", teria a mesma sensação de grandeza e
integração no Todo, que nós temos quando da nossa pequenina Terra alcançamos o
olhar para o Universo!
Através das manifestações do pensamento dos grandes gênios que fulguram
iluminando com sua inteligência a época em que vivem, é dada à Humanidade,
paulatinamente a compreensão da Verdade. Quem melhor do que Goethe poderia
sintetizar em rutilantes versos o papel que cada um de nós, quais pequenos acordes,
desempenhamos nessa infinita Sinfonia que se chama Manifestação de Deus!
Em sua obra, Fausto, encontramos os versos que a seguir vos apresento em
tradução livre:

“Na maré da vida e na corrente dos fatos


flutuo acima e abaixo, agitando-me aqui e além!
Nascimento e morte.
Em um mar eterno de tecido cambiante
Uma via vou tecendo no sibilante tear do tempo
produzindo uma roupagem Viva para a Eternidade."

Secundo Huxley, a questão das questões para a humanidade, o problema que jaz
no fundo de todos os demais, e é mais profundamente interessante que nenhum
outro, é o de chegar à certeza do lugar que o homem ocupa na Natureza e das suas
verdadeiras relações com o universo das coisas.
Através dos tempos a concepção do Universo sofreu radicais transformações.
Para Thales a Terra era um disco plano e circular que flutuava no oceano. Ao passo
que Anaximandro afirmava: “a Terra é plana e centro do Universo; e o Sol é um
orifício da abobada celeste por onde vemos o fogo dos deuses". Enquanto que
Anaximenes, com convicção, sustentava que a superfície da Terra era plana, e as
estrelas eram alfinetes dourados incrustados no cristal do céu. Entretanto, nessas
épocas remotas, já Pitágoras ensinava aos seus discípulos que a Terra era esférica, e
girava em torno do Sol; e Aristarco de Samos no ano de 250 a. C. chegou a calcular de
maneira aproximada a distância a que se encontrava do Sol. Outros pensadores
gregos, entre os quais Filolau, Hiketas, Demócrito, estavam já no rastro das grandes
verdades universais, que somente foram enunciadas ao mundo em 1543 por Nicolau
Copérnico. Eram entretanto demasiado avançadas para a época em que viveram,
50
sendo ridicularizados os seus ensinamentos pela maioria da Humanidade que ainda
não se encontrava suficientemente desenvolvida para compreendê-los. A todos os
anteriores à Copérnico, como aos que o sucederam coube o papel doloroso de
pioneiros que à custa de esforço e sacrifício, romperam a selva da ignorância
preparando o caminho, por onde passariam os que hoje, continuando o
desbravamento, lutam por alargar os horizontes da humanidade!
Um dos maiores pesquisadores atuais, dessa primeira linha, é o astrônomo
americano Edwin Huble, do observatório de Mount Wilson. Para ele o Universo é
uma gigantesca esfera finita, com um diâmetro de aproximadamente 6 trilhões de
anos luz. Um raio de luz que se propaga com a fantástica velocidade de 300.000
km por segundo demoraria 6 trilhões de anos para percorrer o diâmetro do nosso
Universo! O número que represento essa distância em quilômetros é 5,7 seguido de uma
procissão de 24 zeros! Segundo a mesma autoridade, o número provável de nebulosa
iguais à nossa Via Láctea da qual o nosso sistema é parte integrante, existentes nessa
super- esfera, é de 500 bilhões. Ao fazer essa afirmação baseia-se em que o alcance do
telescópio de 2,54 m de diâmetro de lente, instalado no observatório de Mount Wilson,
atinge provavelmente somente 1% do Universo completo. Além disso calcula que a
distância media entre os 500 trilhões de nebulosas é de 1 milhão e meio de anos luz; e
que cada nebulosa contém a energia necessária para formar a matéria de bilhões de
estrelas, sendo entretanto a densidade média da matéria no espaço inconcebivelmente
pequena, da ordem de 10-30 gr. por cm3.
Em proporção toda a matéria contida no Universo pode ser comparada a um grão de
areia ocupando um volume equivalente ao da nossa Terra! O mais potente vácuo obtido
por nossos moderníssimos aparelhos é densísimo comparado com o vazio do Universo!
Estudando o deslocamento das raias dos espectros das nebulosas. Huble admite que
a esfera-Universo encontra-se em expansão com uma velocidade de 300 km por segundo.
Uma tosca imagem pode ser obtida imaginando-se um balão de borracha sobre o qual
estejam marcados vários pontos. A medida que começamos a enchê-lo, produz-se a
distensão provocando o aumento da distância entre esses pontos. Somente acontece que,
no caso do nosso Universo, o nosso balão teria 6 trilhões de anos luz de diâmetro e o
"Divino Sopro" o expande com uma velocidade de 300 quilômetros em cada segundo!
Reflitamos por instante sobre o quanto de razão assistia ao antigo salmista bíblico,
quando empolgado pelo espetáculo glorioso do firmamento afirmava:
"Quando considero os Teu Céus, obra de Tuas mãos, e contemplo a Lua e as estreias
que criaste, e cuja ordem estabeleceste, penso no que é o Homem para que Tu te
preocupes com ele; e o que são os filhos dos Homens para que mereçam as tuas
atenções".
Verifiquemos agora a maravilhosa identidade existente entre os conceitos científicos
moderníssimos, resumidamente mencionados anteriormente, com os contidos no
proêmio da obra de Blavatsky “A Doutrina Secreta" escrita no ano de 1888, em que a
autora interpreta as pré-históricas estâncias do Livro de Dzyan. Transcreveremos a seguir
alguns trechos para melhor apreciarmos esse fato:
..."Quem vos escreve estas linhas tem sob as vistas um manuscrito arcaico, uma
51
coleção de folhas de palma refratárias à ação da água, do fogo, e do ar, por um
procedimento específico desconhecido. Há na 1ª. página um disco de perfeita brancura.
destacando-se sobre um fundo de um negro intenso. Na página seguinte aparece o
mesmo disco, mas com um ponto no centro. O simbolismo dessa representação contida
na primeira página, - sabe-o, quem se dedica a esses estudos, - representa o Cosmos na
eternidade antes de despertar, a energia ainda em repouso, a emanação do mundo em
sistemas anteriores. O ponto no interior do disco até então imaculado. Espaço e
Eternidade em repouso, indica, a aurora da diferenciação. É o ponto no Ovo do Mundo, o
gérmen interno de onde se desenvolverá o Universo, o Todo, o Cosmos infinito e
periódico: gérmen que é latente ou ativo, periodicamente, em turnos. O circulo único é a
Unidade Divina de onde tudo procede e para onde tudo volve; sua circunferência, símbolo
forçosamente limitado em virtude da limitação de mente humana, indica a Presença
abstrata, sempre incompreensível, e o seu plano, a Alma Universal, sendo as duas Uma"...
Como poderios ver, o conceito científico de um Universo esférico e o teosófico do
círculo (que nada mais é do que a projeção de uma esfera em um plano), são
perfeitamente idênticos: em ambos se verifica a delimitação de uma região no espaço
onde a Unidade Divina se manifestará.
Segundo a ciência, esse universo-embrião teria, inicialmente, um diâmetro de
somente 10 milhões de quilômetros, o que seria pouco mais que 8 vezes a distância atual
da Terra ao Sol. Nessa esfera encontrava-se condensada, ao máximo, toda a energia
dispersa hoje no nosso Universo de 6 trilhões de anos-luz de diâmetro! Segundo cálculos
matemáticos, os cientistas dão como sendo de 1,8 x 10⁹ o tempo decorrido entre a esfera
inicial e o estado atual da esfera em expansão. Entretanto determinações recentes
realizadas por Shapley para a idade do Universo, apresentam como resultado o
número 5 x 10⁹ anos.
No volume 1º de A Doutrina Secreta, pag. 83 e 84, encontramos a 1ª Estância
de Dzyan que diz o seguinte:
"1 - O eterno Pai, (o espaço), envolto em suas sempre invisíveis vestiduras,
havia dormido uma vez mais durante sete eternidades".
Nos seus comentários, a autora explica que as sete eternidades significam evos
ou períodos de tempo, e correspondem à duração de uma "grande idade" ou
Mahakalpa, ou 100 anos de Brahma perfazendo um total de 311 trilhões de anos.
Cada ano de Brahma compõe-se de 360 dias e igual número de noite de Brahma,
sendo cada dia de Brahma composto de 4,3 x 10⁹ dos nossos anos, e esse tempo é o
equivalente ao intervalo decorrido entre o estado inicial do Universo quando a
expiração ,da "Essência Desconhecida" inicia a sua dilatação, e o estado atual desse
círculo em expansão.
É simplesmente maravilhosa a identidade entre o número 5 x 109 anos
calculado pelos céticos cientistas modernos, e o número 4,3 x 10⁹ anos contido nos
arcaicos textos sagrados! O que vem provar que o nosso intelecto progride seguindo
a trilha inflexível da Evolução, e que as verdades filosóficas tão duramente discutidas
há milênios vão se tornando perceptíveis à Humanidade.
Continuemos a citar Blavatsky nos seus comentários. Na aludida obra,
encontramos o seguinte:
52
"Ao inaugurar-se um período de atividade tem lugar uma expansão dessa
Essência Divina de fora para dentro e de dentro para fora, em relação à lei eterna e
imutável, sendo o universo fenomenal e visível o resultado último da larga cadeia de
forças cósmicas, postas assim em movimento progressivo. Do mesmo modo,
sobrevém a condição passiva: tem lugar uma contração da Essência Divina, e a obra
prévia da Criação é gradua e progressivamente desfeita. O Universo visível
desintegra-se, seus materiais dispersam-se, e solitárias trevas voltam a reinar.
Empregando-se uma metáfora dos livros secretos, que explica a ideia de um
modo mais claro, uma expiação da "Essência desconhecida" faz aparecer o mundo; e
a inalação é a causa do seu desparecimento. Este processo prossegue durante toda a
Eternidade e o nosso presente Universo é somente um elemento da série infinita que não
teve princípio nem jamais terá fim...”
É perfeita a identidade do conceito científico moderno de universo em expansão
com os encontrados no arcaico e pré-histórico Livro de Dzyan! A concepção científica
moderna admite o movimento de expansão, partindo de um Universo - embrião de
dimensões já mencionadas anteriormente, ao passo que os ensinamentos exotéricos
admitem o seu ciclo de contração e expansão periódicas.
Entretanto o professor Gamow, - no momento uma das maiores autoridades de
Física teórica, - entrevê a possibilidade da alternância: expansão - contração do Universo!
Lerei a seguir trechos da obra do físico citado em que os conceitos teosóficos encontrados
na obra de Blavatsky são inteiramente confirmados:
..."De acordo com a melhor informação disponível relativamente às massas galácticas
ou nebulosas, parece que atualmente a energia cinética das galáxias que se afastam é
várias vezes maior que seu potencial mútuo de energia gravitacional: de onde se deduziria
que o nosso universo está se expandindo até ao Infinito sem nenhuma probabilidade de
se contrair, para reunir o todo novamente mediante as forças da gravitação. Devemos
recordar que a maior parte dos dados numéricos relativos ao universo como um Todo, não
são muito exatos, e é possível que futuros estudos invertam esta conclusão. Mas, ainda que
o Universo que atualmente se expande se detivesse bruscamente em sua marcha, e o seu
movimento e transformasse em movimento de compressão, passar-se-iam milhares de
milhões de anos antes desse dia terrível concebido pelo "negro espiritual" que canta
"quando as estrelas começarem a cair".
E qual seria esse material tão explosivo que enviou os fragmentos do Universo
voando a tão aterradora velocidade? A resposta pode causar alguma desilusão:
provavelmente não houve nenhuma explosão no sentido comum da palavra. O Universo
expande-se agora porque em algum período anterior de sua história (da qual entretanto
não ficou nenhum vestígio) contraiu-se do infinito a um estado muito denso e logo
expandiu-se como se fosse impulsionado por forças elásticas inerentes à matéria
comprimida. Se entrarmos em um quarto de jogo no momento exato em que a bola de
ping-pong se eleva do solo chegaremos à conclusão de que no instante anterior ao da
nossa entrada a bola havia caído de uma altura comparável, e estava saltando de novo
por efeito da sua elasticidade. Podemos portanto fazer voar a nossa imaginação mais
além de qualquer limite, e perguntar se durante as etapas pre-compressivas do Universo
tudo que agora está ocorrendo sucedia em ordem inversa...”
53
Matemáticos como Sitter e Lemaitre já demonstraram a impossibilidade da
existência de um Universo estável que, obrigatoriamente, deve estar em processo de
expansão ou contração, sendo que o nosso atualmente se dilata. É, portanto,
perfeita a identidade dos conceitos da ciência e da teosofia a esse respeito. Contudo
maravilhoso é que, somente neste agitado século em que vivemos, os sábios e
herméticos conhecimentos expendidos em antiquíssimos textos, estão sendo
comprovados pela nossa fria e cética Ciência exata!

Um dos problemas que mais atormentavam os investigadores era o da


possibilidade da existência de outros sistemas planetários similares ao nosso e, no
caso de confirmação, qual o número deles. As noções contidas nos textos secretos
indica que são 10 esses sistemas. No livro de Annie Besant e Leadbeater escrito no
ano de 1911, denominado "O Homem de Onde, Como Veio e Para Onde Vai" o
problema é exposto de forma magnífica. Nada mais esclarecedor para sentirmos a
identidade do pensamento científico moderno com os dos autores da obra citada
escrita em 1911. - é bom repetir, - do que transcrevermos trechos, relativos à
questão:
0 eminente sábio Platão, uma das mais poderosas inteligências do mundo, cujas
elevadas ideias dominaram o pensamento europeu, declara numa fecunda afirmação
"que Deus geometriza". Quanto melhor conhecermos a natureza mais nos
convenceremos dessa verdade. As folhas das plantas estão dispostas de uma maneira
ordenada. As vibrações de uma escala representa-se, correspondentemente, em
serie regular. Algumas enfermidades seguem o seu curso em um ciclo definido de
dias em que o 7°, 14°, 21° assinalam crises, cujo resultado é a continuação da vida
física. ou a morte. Não há necessidade de multiplicar os exemplos. Portanto, não é
estranho que na ordenação do nosso sistema solar intervenha continuamente o nº 7,
que por essa razão se denomina "número sagrado", ainda que melhor lhe
corresponderia o epíteto de "número expressivo".
“Vemos que o 7 é o número radical do nosso sistema solar, cujos departamentos
ou distritos são sete, os quais por sua vez se multiplicam em outros 7 subalternos, e
estes em outros 7, e assim por diante. O estudante das religiões recordar-se-á neste
ponto dos 7 Ameshaspentas zoroastrianos e dos sete Espíritos defronte do trono do
Senhor, segundo os Cristãos; e o Teósofo pensará no supremo e trino Logos do
Sistema, rodeado dos seus ministros, governadores das 7 cadeias, cada um dos quais
rege seu próprio departamento do Sistema, como vice-rei de um imperador. Aqui
somente consideraremos em detalhe um departamento dos 10 que existem no nosso
sistema solar. Sinnett denominou a esses departamentos "planos de evolução", em
cada um dos quais evoluciona ou evolucionará uma Humanidade".
De acordo com a ciência a nossa galáxia denominada Via láctea, é composta de
40 à 50 bilhões de estrelas individuais, que gravitam no Universo formando uma
verdadeira ilha plana em forma de espiral com um diâmetro de 150.000 anos luz.
Nesse conjunto o nosso Sol, centro e vida do nosso sistema, é uma dessas estrelas.
54
Cálculos matemáticos baseados na probabilidade, demonstram que a possibilidade
de colisão entre estrelas da nossa galáxia é menor do que 1 para 2 bilhões!
Sendo assim, no conjunto de 40 bilhões de estrelas, somente 20 teriam colidido.
e como de acordo com a teoria aceita, de choque de duas estrelas resulta somente
um sistema planetário, o número provável de sistemas idênticos ao nosso dentro da
galáxia da Via láctea será de 10!
Como vemos, mais uma vez, os conceitos teosóficos são confirmados pela
ciência após terem sido, considerados durante anos, como especulações metafísicas
sem a menor validade cientifica; e terem, os que os professam sido estigmatizados
como loucos visionários avançando doutrinas irracionais e dissolventes,
Inúmeras outras identidades são encontradas, - e é o que procuraremos abordar
em palestras subsequentes, à medida que nos formos aprofundando no estudo da
Teosofia.

Descansemos pois um pouco antes de prosseguir. Deixemos em repouso o frágil


bordão da ciência exata que nos auxiliou nesta íngreme escalada até ao ponto em
que nos encontramos, e contemplemos a visão magnífica que temos a ventura de
vislumbrar, recor dando os magníficos versos de Raimundo Correia que melhor expressam
a sensação de aniquilamento diante da imensidão que nos cerca:
“...Assim, quem vai o píncaro galgando
De uma alta serra, do horizonte infindo
Nota, que à proporção que vai subindo
Se vai em torno o círculo ampliando.
E íntimo, em Face de amplidão tão grande
Fosca, a pupila com pavor expande...
Abaixo, mares vê, selvas, cidades,
Montanhas... E até onde o olhar atinge,
Vê ligarem-se ma is imensidades...”

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FORMAS DE RADIAÇÕES
ESTUDO COMPARATIVO DOS CONCEITOS CIENTÍFICO
E TEOSÓFICO DAS RADIAÇÕES

MEUS AMIGOS

Pela segunda vez tenho a ventura de dirigir-me a este bondoso e


condescendente auditório a quem antecipadamente agradeço a atenção que me irá
dispensar. Nesta simples palestra procurarei expor alguns conceitos a respeito da
infinidade de radiações que nos cercam, e seus efeitos sobre essa entidade tão
estudada mas ainda tão tremendamente desconhecida que se chama Homem.
Para os Teosofistas esse Ser complexo é constituído de 7 princípios, sendo 3
imortais que constituem a individualidade, e 4 mortais, que se manifestam em cada
um dos 7 planos em que consideramos dividida a natureza. Esses planos coexistem
interpenetrados, e são constituídos por matérias características de densidades
decrescentes em rarefação.
Sendo por definição densidade a relação entre a massa de um determinado
volume de um corpo e a massa de igual volume de água destilada à 4° C., podemos
dizer que o nosso corpo é composto de matérias cujas densidades variam desde um
número finito até um número infinitamente próximo de zero. A substância
constitutiva de cada um dos 7 planos da natureza é formada pelos seus átomos
característicos, e que se podem combinar da mesma forma que no plano físico, a fim
de formarem os corpos compostos. Em cada um desses planos os átomos emitem
constantemente radiações ou ondas caracterizadas pela frequência, intensidade e
velocidade de propagação.
Vivemos, ou melhor, num instante qualquer, estamos rodeados e transpassados
por ondas as mais diversas, algumas delas percebidas através dos nossos órgãos dos
sentidos, receptores que entram em ressonância com as mesmas. Entretanto a nossa
percepção é rudimentaríssima, sendo pequeno o número das radiações que nos
sensibilizam. Algumas pessoas, porém, possuem dons extraordinários que as
capacitam a captar ondas a que a maioria é insensível: - são receptores de grande
sensibilidade.
Em cada um dos 7 planos da natureza existem, como já mencionamos, radiações
características que não podemos perceber enquanto vivos, a não ser em casos
excepcionais após muito aperfeiçoamento na Senda da Verdade. Em cada plano
habitam entidades que possuem órgãos dos sentidos diferentes dos nossos e que
respondem a vibrações diferentes das que normalmente nos afetam. É evidente que
podemos passar ao seu lado ou penetrá-las sem nos apercebermos. Sobre o assunto lerei
um trecho escrito pelo grande físico Crookes:
"É provável que outros seres conscientes possuam órgãos dos sentidos que não
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respondam a algum ou nenhum dos raios para os quais a nossa vista tem sensibilidade, e no
entanto capazes de apreciar outras vibrações para as quais somos insensíveis. Tais seres
viveriam realmente num mundo diferente do nosso. Ponhamos no espírito a ideia que
formaríamos daquilo que nos cerca se, em vez de dotados de olhos sensíveis aos raios de
luz comum, estivéssemos providos de olhos sensíveis às vibrações concernentes aos
fenômenos elétricos e magnéticos. O vidro e o cristal contar-se-iam entre os corpos mais
opacos. Os metais teriam todo certa transparência, segundo a sua condutibilidade elétrica
ou magnética, e um fio telegráfico pelo espaço afora dar-nos-ia a impressão de um furo
cumprido feito com uma broca num corpo sólido e impenetrável. Um dínamo parecer-nos-
ia um pavoroso incêndio, e pelo contrário um irmã permanente realizaria o sonho dos
místicos medievais: constituiria uma lâmpada de luz eterna, sem a mais pequena perda de
energia, nem consumo de combustível.”
O conjunto de radiações cujos comprimentos variam de próximo a zero até 30000 m
constituem o que a ciência denomina espectro do éter ou electromagnético: O espectro
está dividido no sentido crescente dos comprimentos da onda nas 7 zonas seguintes:

1 – Raios cósmicos – comp. Ondas 0,000 000 000 0001 cm a 0,000 000 000 7 cm
2 – Raios gama – comp. Ondas 0,000 000 000 7 cm a 0,000 000 01 cm (1 A°)
3 – Raios X – comp. Ondas 0,000 000 01 cm a 0,000 001 cm
4 – Raios ultra violeta – comp. Ondas 0,000 001 cm a 0,000 04 cm
5 – Raios 1. Visível – comp. Ondas 0,000 04 cm a 0,000 08 cm
6 – Raios infravermelhos – comp. Ondas 0,00008 cm a 0,02 cm
7 – Ondas hertezianas – com. Ondas 0,02 a 3000000000 cm

Estudemos rapidamente cada um dos 7 setores. Verificaremos que os grupamentos


dessas formas de radiação são escalonados segundo a velocidade vibratória que lhes é
peculiar. A primeira forma correspondente à máxima frequência vibratória, é constituída
pelos chamados raios cósmicos. A segunda, formada pelos raios gama, é a região da
radioatividade. A seguir entramos na região dos chamados raios X. À medida que se dá o
decrescimento da velocidade da vibração ou frequência, o comprimento de onda aumenta,
entrando-se na zona dos raios ultravioleta, que só são sensíveis pela ação química que
exercem. A zona abaixo é a que se estende dos 400 aos 750 trilhões de vibrações per
segundo na qual se manifesta a luz do violeta ao vermelho em todas as 7 cores do espectro
solar. Aí, estão as 7 notas dessa nova oitava ótica e tudo que o nosso olhar pode
normalmente perceber. A nossa música de cores não ultrapassa uma oitava de vibrações.
Entretanto, que maravilhosa sinfonia é dado ao homem presenciar nessa estreita faixa! A
sua captação é executada pelos olhos, através do sistema retina-nervo-ótico-cérebro. A
retina, membrana sensível por excelência, é composta de células em forma de bastonetes e
cones de estrutura muito complexa; são verdadeiros circuitos atômicos de ressonância,
afins a essas microndas provindas dos átomos, e que nos produzem a divina sensação da
Luz! A zona a seguir, constituída por notas por demais graves para os nossos olhos, é a dos
raios infravermelhos ou caloríficos. Divaguemos um pouco para repousar da árdua
caminhada e imaginemos que, se a nossa retina registrasse os raios infravermelhos de
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grande comprimento de onda, a natureza apresentar-se-ia aos nossos olhos com um
aspecto completamente diverso. Devido às modificações de temperatura, a cor das águas,
das rochas e das árvores variaria com as estações. Os dias claros, em que as menores
particularidades da paisagem se distinguem, seriam obscurecidos por um nevoeiro
avermelhado. O raios caloríficos, tornados visíveis esconderiam todos os objetos. Durante
os dias frios de inverno, a atmosfera se tornaria clara e nítido o contorno das coisas. Mas o
aspecto do homem seria bem diferente. O seu perfil seria indeciso Uma nuvem vermelha
saindo da boca e das narinas iria esconder o rosto. Após um exercício violento, o volume do
corpo aumentaria, porque o calor libertado formaria à sua volta uma larga aura!
Voltemos porém à realidade para encerrar o rápido estudo que vai das formas de
radiações admitidas pela ciência atual, até ao conjunto de onda, denominada hertezianas
cujos comprimentos variam de dois décimos de milímetro a 30000 metros.
Detenhamo-nos agora mais demoradamente na 1ª zona do espectro.
correspondente aos raios cósmicos que já foram cognominados por alguns sábios
como a Sombra de Deus. Estudemos comparativamente o conceito da Ciência e o da
Teosofia sobre essas radiações e vejamos a forma maravilhosa segundo a qual a
pesquisa científica, em aproximações sucessivas, tende para a Sabedoria Divina.
Esses raios parecem provir, em proporções constantes, dos espaços
interplanetários; são extremamente penetrantes e dotados de enorme energia. O
professor Hess demonstrou recentemente que atingem a intensidade máxima ao
meio dia. Experiências efetuadas por Regener a 26 quilômetros de altura, por meio de
balões sonda comprovaram que nessa altitude a intensidade da radiação é 150 vezes
superior aos valores registrados ao nível do mar.
Quanto à sua penetração Corling há pouco tempo, comprovou a existência de
radiações cósmicas à 500 m de profundidade no oceano, e que as mesmas podem
penetrar uma camada de 10 m de chumbo. Essa prodigiosa energia e poder de
penetrabilidade é devida ao comprimento de onda, mais longo, desses raios, inferior a
um milésimo do diâmetro de um átomo; e o comprimento de onda mais curto é, em
dimensão da ordem do diâmetro de um elétrons!
A vida humana, como toda a natureza que nos cerca está sendo constantemente
bombardeada por esses raios cujo potencial foi estimado em 100 bilhões de volts!
Supõe-se que o fluxo total que cai sobre a terra sob a forma de raios cósmicos.
representa aproximadamente a metade da energia total que nos chega das estrelas
sob a forma de calor ou de luz; de modo que haveria no universo muito mais energia
(de trinta a trezentas vezes mais, segundo estimativas), sob a forma de raios cósmicos
do que em estado de luz ou calor. Estas cifras demonstram a importância dessas
radiações na estrutura do Universo. Atualmente supõe-se que um corpúsculo primário
cósmico produz ao chocar-se com a matéria física a desintegração atômica. Uma série
de experiências extremamente convincentes já foi realizada. Primeiramente o físico
americano Milikan, em 1931, apresentou fotografias obtidas por Anderson na
Câmara de Wilson, comprovando a desintegração. Occhialini e Blachett após
aperfeiçoarem os métodos fotográficos, conseguiram fotografias extremamente
nítidas por onde se verifica que o choque de uma partícula cósmica com a matéria,
acarreta numerosos fragmentos atômicos que aparecem constituídos na sua maior
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parte por elétrons negativos e positivos, prótons e talvez nêutrons.
No nosso corpo o processo deve repetir-se constantemente, produzindo-se a
desintegração contínua; os fragmentos resultantes, ao atravessarem os nossos
tecidos, produziriam verdadeiras tempestades celulares locais com desprendimento
de milhões de volts ocasionando alterações constantes no nosso metabolismo. E
como há milênios todo o conjunto dos organismos celulares está sendo submetido a
essa radiação, ela deve participar para bem ou para mal, do nosso equilíbrio funcional.
E qual a origem dessa radiação? A ciência apresenta várias teorias discordantes.
Uma delas proposta há alguns anos por Regener considera os raios cósmicos como
uma espécie de radiações fósseis geradas em uma época remotíssima, quando as
condições físicas eram mais propícias para a produção de enormes energias. Pela
teoria de Einstein do espaço curvo, o Universo pode ser assemelhado a uma
gigantesca bolha, e as radiações cósmicas deslocar-se-iam há milênios em trajetórias
circulares. Outra teoria que mencionaremos a título de curiosidade é a do sacerdote
Lematre que considera todo o Universo como um átomo imenso, no qual os raios X
seriam cósmicos! Enquanto isso o enigma dos raios cósmicos que envolve mais um
problema fundamental da matéria, talvez a própria origem do Universo e da Vida,
permanece indecifrável para a Ciência.
Estudemos e comparemos agora os conceitos científicos das radiações cósmicas
com os das forças solares admitidas na Teosofia.
Os cultores da filosofia esotérica consideram várias forças independentes e
distintas, oriundas das várias estrelas existentes no Universo. No caso do planeta Terra
essas forças são em número de 3, emanadas do Sol que é o núcleo do nosso Sistema
ou Logos :

1 - FOHAT ou eletricidade
2 – PRANA ou vitalidade
3 - KUNDALINI ou fogo serpentino

Essas 3 forças constituem o conjunto das radiações que a ciência denomina


cósmicas, e que os físicos, como Milikan, Hess, Hoffman, Teans, e Eddington entre
outros, vem estudando intensamente dando origem a inúmeras teorias controversas.
Das forças citadas, a segunda denominada Prana, que em sânscrito quer dizer
"sopro" ou energia vital é, no plano físico, a energia que coordena as moléculas e as
reúne em organismos definidos, sendo absorvido por todos os organismos vivos,
podendo, pelo seu excesso ou escassez, produzir a doença e a morte. Prana, ou
vitalidade é uma das formas da radiação cósmica. Manifesta-se em todos os plano:
físicos, astral, mental etc., provindo do Sol e penetrando no corpo através dos 7
centros de força ou Chakras. Esses centros de força nada mais são do que receptores
acordes a radiações de ultra-micro comprimento de onda. A influência dos raios
cósmicos sobre o Homem ainda não foi determinada experimentalmente; entretanto
alguns fisiólogos do cérebro admitem que certas células cerebrais são sensíveis a essas
radiações e que talvez o desequilíbrio intelectual, a apatia ou o gênio, possam originar-
se do choque entre uma partícula cósmica e alguma dessas células delicadas e
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sensíveis. Estudos recentes do Dr. H. Thomas imprimiram nova direção ao
interessantes problema da origem das espécies. Considera ele que as bruscas mudanças
conhecidas por mutações observadas no estudo dos insetos e plantas, não têm
caráter espontâneo e que se podem provocar mutações definidas tratando-se os
espécimes com radiações de onda curta, ou elétrons rapidamente acelerarados. Não
há dúvida que a ação dos raios penetrantes tais como os raios X sobre células em vias
de divisão, pode gerar novas formas. Pode-se pensar então que a ação sobre o núcleo
de uma célula viva, dos corpúsculos carregados que constituem a radiação cósmica e
das radiações secundárias, seja análogo. E que se um gene, que é o elemento que
determina os caracteres hereditários, receber o choque de uma dessas partículas,
sofrerá modificações de estrutura que acarretarão uma mutação. Como a intensidade
da radiação cósmica, aumenta rapidamente com a altitude, é interessante a
comparação da riqueza da flora das elevadas regiões montanhosas com as das planícies
de baixa altitude. Segundo H. Thomas a flora das regiões altas seria particularmente
rica em variedades diferentes de uma mesma espécie, constatação que vem em apoio
da sua teoria.
Para o Ocultista a ação da força denominada Prana ou vitalidade, - que já vimos
ser uma das formas de radiação cósmica, - é receptada pelo chamado duplo etérico,
constituído pelas quatro ordens mais tênues da matéria física.
São duas as funções principais do corpo etérico: primeira, absorver Prana; a
segunda, a de servir de ponte entre o corpo físico e o corpo astral. No duplo etérico
como em todos os nossos corpos, encontram-se centros de forças cuja finalidade é a
absorção de Prana nos vários planos. No plano físico Prana é o agente vital responsável
por todas as transformações químico fisiológicas do protoplasma, e o responsável pela
formação e diferenciação dos diversos tecidos dos corpos das plantas e animais.
A ciência atual, entretanto, ainda não admite como comprovada a hipótese de
serem as radiações dos espaços interplanetários as responsáveis pelo fenômeno da
Vida. Ultimamente a Biologia recebeu um impulso rejuvenescedor graças às
descobertas recentes da física corpuscular e química nuclear. Através do microscópio
eletrônico já é possível ver certos organismos antes insuspeitados, como por exemplo
a molécula de certos vírus filtráveis. Estuda-se se a localização das substâncias
absorvidas pelo organismo utilizando-se a técnica da marcação radioativa dos átomos,
e os processos de identificação posteriores.
Admitem-se como elementos fundamentais da matéria viva os compostos
orgânicos denominados prótides que são as substâncias nitrogenadas; lípides que
constituem as matérias gordurosas, e glúcides que são os hidratos de carbono. Desses,
os lípides e glúcides só são combustíveis armazenados e destinados a prover a energia
calorífica indispensável para os processos vitais. A origem do fenômeno vital, porém,
considera-se relacionada com a constituição própria dos prótides. A massa principal do
organismo vivo é composta de moléculas proteicas dotadas de multiplicação prodigiosa
mas, junto a elas, foram constatadas outras moléculas em número extremamente
restrito, constituindo simples traços e encarregadas de missão diretora em nossas vida.
Essas moléculas conhecidas pela denominação geral de “erginas” constituem os
chamados hormônios, vitaminas e diástases. cuja carência pode provocar graves
60
transtornos no organismo.
A luta do Homem contra o desconhecido prossegue, tentando de todos os modos
explicar o porque de todas as coisas: grande parte do caminho já foi trilhado;
entretanto, a meta final está longe de ser atingida.
Terminarei citando os últimos parágrafos do "Idílio do Lótus Branco" que sintetiza
de modo admirável os princípios que nos devem nortear nessa pesquisa contínua pela
senda da Verdade e do aperfeiçoamento.
O futuro é mais grandioso, mais majestosamente misterioso do que o passado.
Em uma progressão lenta e imperceptível, os instrutores da humanidade sorvem a
vida de fontes mais puras, a alma de toda a existência lhes dá mais diretamente a
mensagem da qual estão encarregados. A existência tem um valor que ultrapassa
toda a concepção; ela se expande em realidade acima do homem e seu bulbo
mergulha as raízes no rio da vida. No seio dessa flor, o homem poderá ler os
segredos das forças que governam o plano físico: Ali encontrará inscrita a ciência da
energia mística; e então, aprenderá a expor as verdades espirituais e a peneirar na
vida do Eu Supremo, bem como a preservar sua glória, embora continuando a viver
neste planeta, se for preciso, enquanto ele existir. Prosseguirá existindo com todo o
vigor de sua virilidade, até que a sua missão esteja inteiramente cumprida e tenha
ensinado, a todos os que buscam a luz estas três verdades:

1ª - A alma do homem é imortal, e seu futuro é o de uma vida, cujo desenvolvimento


possui horizontes ilimitados.
2ª - O princípio da vida, em nós e fora de nós, é imortal e eternamente benfazejo; não
pode ser ouvido, nem visto, nem sentido, mas pode ser percebido pelo homem que
sinceramente o desejar.
3ª - Cada homem é o seu próprio legislador, o dispensador da glória ou das trevas, para
si próprio, mestre de sua vida, de sua recompensa ou castigo.
Estas verdades, grandes como a própria vida, não simples como a mais simples
inteligência humana.
Que o saber seja dado a todos que a ele aspirem!

61
IMPRESSÕES A RESPEITO DO KARMA

A lei de ação e reação é uma das leis aplicadas ao movimento dos corpos. O seu
conhecidíssimo enunciado "a cada ação corresponde uma reação de intensidade
igual mas de direção contrária", foi formulado pelo grande filósofo inglês Sir Isaac
Newton no século 17. Entretanto em todas as épocas e regiões do mundo
encontramos essa lei dissimulada sob diversas roupagens. Os hindus a conhecem sob
o nome genérico de Karma, no caso em que é aplicada ao mundo suprafísico, ao
mundo moral. O alcance da lei de ação e reação estende-se porém a todas as regiões.
O Svetasvatara Upanishad estabelece que Deus é o ordenador e senhor do Karma:
(Karma-Dhyaksali). O grande filósofo Radhkrisnan em um ensaio, tem ocasião de
assim se expressar:
"Há leis na natureza de caráter físico, biológico e psicológico. Essas leis são
englobadamente intituladas de Karma. O Criador não usa as forças da natureza para
recompensar a virtude e punir o pecado. Jesus disse: "Pensais que os dezoito sobre os
quais caiu a torre em Siloam eram os únicos pecadores que habitavam Jerusalém?
Digo-vos que não. Deus faz o sol brilhar para os maus e os bons e envia chuva para
os justos e injustos" (Mateus 5.45).
Vivemos em um mundo em que não há lugar para caprichos e incertezas, onde a
palavra milagre é o recurso que usamos para ocultar a nossa ignorância dos fatores
que concorrem para modificar o curso provável dos acontecimentos. Além das leis
conhecidas, tabeladas, estudadas pelo homem, existem leis que governam o
Universo que nos são completamente desconhecidas. Essas leis constituem o
arcabouço, as fundações em que se apoiam as leis reveladas à humanidade. O
chamado "destino”, quer se trate de homens, animais ou qualquer outra entidade, é
a resultante lógica, matemática, de uma série de circunstâncias anteriores. Quando
elas se verificam de acordo com determinada ordem, certo resultado deverá ocorrer.
É inevitável. Da mesma maneira que uma reação física pressupõe a existência de
uma ação ou conjunto de ações componentes anteriores, tudo que ocorre hoje, e
atinge particularmente o nosso pequeno mundo provocando-nos alegrias ou dores, é
também a resultante da soma de várias ações componentes que podem ser
representadas por pequenos vetores. A resultante da soma deles será obtida pelo
método do paralelogramo na forma indicada pelo desenho:

62
Na realidade o número de circunstâncias pode ser praticamente infinito, e variar
continuamente. As reações do instante anterior, torna-se ações determinantes do
instante vindouro. Valendo-nos novamente dos gráficos podemos figurar 3
instantâneos do desenvolvimento do "destino" de uma entidade qualquer:

T, t1, t2 etc. são pontos infinitamente próximos que constituem a "linha” do


destino de uma entidade. É o "rastro" produzido pelo eterno fluir do tempo. É a
projeção do karma no tempo.
No instante t a resultante será R. No instante infinitamente próximo t1 a
resultante R será uma das ações componentes que somadas irão constituir a
resultante RI. No momento t2, R1 transforma-se em uma das ações que somando-se
durão como resultado R2. E o processo continua analogamente, à medida que o
tempo se escoa. É a eterna concatenação do destino das coisas, a transformação da
energia potencial em energia cinética. É o Karma em ação. Destino é a palavra que
aplicamos aos resultados do Karma. Karma é natureza material afirmam certas escolas
filosóficas hindus, como por exemplo, a dos Jainas. Essa escola fundada no século 6º a.
C. por Vardhamana contemporâneo de Buda, é digna de estudo, tal a profundidade
das suas teorias. Para termos ideia da antiguidade das ideias expostas pelos Jainas,
digamos que o próprio fundador Vardhamana, também chamado pelos seus discípulos
de Jina (conquistador espiritual), e Mahavira (grande herói) não emprestava
originalidade às suas doutrinas. Ele se intitulava expositor da sabedoria transmitida
por uma sucessão de 23 sábios que o precederam. Os épicos hindus sobre cuja
antiguidade não se chegou ainda a um acordo, como, por exemplo, esse monumento
da Sabedoria Eterna que é o Bhagavata Purana, atribuem a um personagem semi-
legendário chamado Rsabha a fundação da escola Jaina. As teorias dessa escola
filosófica especialmente aquelas que dizem respeito ao Karma, sua natureza e
funcionamento, são modernas quando as analisamos à luz do conhecimento científico
atual. O objetivo deste trabalho é a comprovação desse fato. Em resumo, para os
Jainas, o caráter e a duração da vida humana são determinados pela lei do Karma. Esse
Karma é natureza material. A matéria primordial, (Akasha) apta a se manifestar como
Karma, enche todo o espaço cósmico. O espírito, (Jiva) é um centro, um ponto, de
natureza muito mais sutil do que essa matéria kármica. Jiva, à medida que se envolve
em véus, involuindo no sentido da materialidade, vai se infiltrando paulatinamente
nas partículas dessa matéria sutil. Estas partículas constituem um corpo especial
chamado Karma Sarira que não deixa a Alma até à sua final emancipação. A matéria
kármica age como um retardador, ou amortecedor como um lastro que impede a
radiância da alma. Karma funciona de tal modo que cada mudança que tem lugar no
63
corpo kármico deixa uma marca que é retida incorporando-se ao organismo como
semente de uma ação futura.
No curso natural das coisas karma produz os resultados previstos. Até à liberação
final (mukti), a alma, está unida aos corpos mais densos pelos laços ou elos do karma.
Somente quando este é extinto, é que jiva se libera dos renascimentos periódicos,
(Sansara). A matéria kármica é que produz a reencarnação. É essa matéria que impede
a livre manifestação do conhecimento e intuição, que são condições intrínsecas da
alma. Até que o karma seja purgado, gasto, extinto, mediante processo de descarga, e
a alma brilhe intensamente livre das nuvens que a cercam, o movimento cíclico não
terá fim.
Estas são, em resumo, as principais ideias da filosofia Jaina a respeito de Karma. De um
modo geral esse sistema de pensar encontra-se difundido em todo o Oriente, e em muitas
escolas de pensamento ocidental.
Vejamos agora a maneira pela qual podemos explicar com o ferramental que a ciência
atual pôs a disposição dos homens, essas ideias cuja antiguidade é indiscutível, e cujo valor
é eterno.
Inicialmente abordaremos a noção atual de matéria. O antigo conceito Newtoniano de
matéria como uma coisa determinada, ponderável, está superado. Houve uma época áurea,
em que duvidar da sua validade era sinônimo de perturbação mental, da mesma forma que
o sistema geocêntrico de Ptolomeu, as leis de Galileu, a geometria de Euclides, a medicina
de Hipócrates, e tantos outros conceitos, eram considerados como definitivos, irrefutáveis.
Cada conceito novo, nasce e é sustentado pelos conceitos anteriores. Entre os sábios que
mais contribuíram para a renovação da física, devemos situar Planck e Einstein. No início
deste século caíram as barreiras relativas a imutabilidade da matéria ao embate de novas e
revolucionárias teorias. Começou-se a ver que muitas ideias expendidas por filósofos,
místicos e ocultistas através de todos os tempos tinham a sua razão de ser. Que esses
indivíduos pela acuidade de suas percepções obtiveram o conhecimento da realidade tal
qual ela é, antes que a ciência oficial dela tivesse contato.
Cito um único exemplo para mostrar essa antecipação. Há cerca de 2.500 anos, o
filósofo chinês Lau-Tseu escreveu o texto intitulado Tao Te King. No capítulo inicial aonde se
estuda o aspecto transcendental do Tao e a sua manifestação física, está exposto o
conceito oficialmente aceito pela ciência, da matéria como concentração de energia, com
as seguintes palavras:
"Essa duas coisas, o espírito e a matéria, embora as chamemos por diferentes nomes,
em sua origem são uma coisa única. Essa identidade é um mistério - o mistério dos
mistérios. É a fonte de toda a espiritualidade."
Daí a forma nebulosa, por vezes vaga ou poeticamente metafórica, com que essa
realidade é descrita e a reação exagerada com que eram combatidas essas ideias pelos
doutores ortodoxos da ciência. A cicuta de Sócrates, a Cruz de Jesus, a abjuração de Galileu,
a fogueira de Giordano Bruno, são símbolos dos processos usados pela sociedade ignorante
contra aqueles que ousam ir contra o modo de pensar aceito pela maioria.
Diz C. J. Jung em sua obra "A realidade da alma", a esse respeito: "Não se pode ir
contra o espírito da época, pois este equivale a uma religião, ou melhor dizendo, a uma
confissão ou credo cuja irracionalidade não deixa nada a desejar, e que por sua vez reúne a
64
desagradável condição de ser considerado como medida absoluta da verdade". Um pouco
mais adiante usa das seguintes expressões:
"Pensar de modo diferente da corrente do momento tem sempre um caráter
clandestino, danoso, quase indecente, doentio ou blasfematório e por essa razão, é
socialmente perigoso para o indivíduo. O que pensa por sua conta, nada insensatamente
contra a corrente.”
Felizmente, no dizer de Jung sempre existiram em todos os tempos "indivíduos que
insensatamente nadam contra a corrente" e não se submetem às bitolas, cabrestos, ou
viseiras do pensar da época. São os artistas, os místicos, os santos, os revolucionários que
impedem a estagnação do espírito humano. Bendita insensatez que promove a evolução da
espécie humana!
Os tabus de qualquer espécie vão pouco a pouco sendo removidos apesar dos choques
inevitáveis e da resistência passiva contra as inovações dos revolucionários. Foi esse o caso
do conceito de matéria. Hoje em dia é fato admitido pela ciência, que matéria nada mais é
do que energia concentrada. Uma concentração energética. A ideia da invariabilidade da
massa é substituída pela da variabilidade da massa em função da velocidade. Os horizontes
ampliaram-se. As leis de Galileu, a mecânica de Newton a geometria de Euclides tiveram o
seu campo de ação restringido. Acima de determinados valores perderam a sua validez, e
foram substituídos pela física relativista de Einstein e pelas geometrias especiais de Rieman
e Lobatchevsky.
O conceito arcaico do Karma de fundo material, está de acordo com as últimas teorias
da Ciência oficial. Revive, a bem dizer, quando o encaramos através das lentes da ciência.
Morte e renascimento encontra-se também no mundo das ideias. Nada existe de novo sob
o Sol. O "novo" é aspecto de uma mesma realidade imutável. A ciência é a decifração da
mensagem proveniente, do meio que nos cerca. A compreensão total dessa "mensagem"
está inteiramente fora do alcance da mente discursiva humana. Não pode ser expressa
por palavras. Transcende a todos os recursos para captá-la integralmente. Pode ser
somente sentida no mais fundo do nosso ser. Daí o valor incomensurável do estudo sério,
metódico, profundo de certas escolas filosóficas orientais. Numerosos físicos de vanguarda
da atualidade, entre os quais avulta Philips Oppenheimer, estudam línguas mortas do
oriente especialmente o sânscrito, a fim de poderem beber na fonte original dos velhos
textos uma metafísica capaz de explicar as suas descobertas, e provocar intuições que os
levem a novos resultados.
Antes de maiores detalhes a respeito da natureza do Karma, torna-se necessário tecer
algumas considerações a respeito dos chamados sistemas "isolados". Por definição
"sistema" é uma combinação de fatos entrosando-se em um conjunto. No Universo
comprova-se a existência de sistemas englobando sistemas. Qualquer "fato", "coisa" ou
"evento", constitui um conjunto, uma unidade de ordem superior quando observado
externamente. É um sistema isolado. O observador, pela introspecção verificará que essa
unidade perde a sua inteireza e se dissociará em uma série de sistemas de segunda ordem.
Esses sistemas de segunda ordem, também considerados "internamente", serão a
resultante da interação de sistemas de terceira ordem. E assim por diante. O sistema de
ordem mais elevado é o Todo. A Unidade Suprema é formada por um número infinito de
sistemas de ordem inferior. À semelhança de uma casa, que é o produto da junção de
65
diversos elementos constitutivos, cada um deles por sua vez sendo o resultado de outras
conglomerações, assim é o Universo.
Fundações. Vigas, lages, colunas, paredes, são sistemas de ordem superior. Pedras,
tijolos, areia, cimento, madeira, ferro, são sistemas de 2ª ordem. Moléculas, átomos,
prótons, elétrons, são sistemas de 3ª ordem. Todos eles somando-se progressivamente
constituem o sistema de ordem mais geral chamado “casa". Os componentes, isolados
quando observados externamente, são estanques. Na realidade, porém, não existe
isolamento. Este é ilusório. Todos os sistemas estão interligados, embebidos uns nos
outros.
Bergson em sua obra a “Evolução criadora” descreve magistralmente esse esfumaçar
de fronteiras. A queda das pseudo-barreiras. Diz ele:
"O contorno distinto que notamos num objeto, e que lhe dá a sua individualidade, é
somente a expressão de uma espécie de influência que podemos exercer sobre
determinados pontos do espaço. As superfícies e arestas das coisas contrastando contra um
fundo, são enviadas de volta como que por um espelho, quando as contemplamos.
Suprima-se a ação e, consequentemente, essas direções principais, traçadas pela
percepção, desaparecerão e a individualidade do corpo será reabsorvida no âmbito
universal, o qual fora de qualquer dúvida é a própria realidade.”
Suponhamos um sistema qualquer. Um pedaço de giz por exemplo. Este pedaço de giz,
quando observado externamente, constitui um sistema isolado. Podemos chamá-lo um
"fato" ou "coisa". É enfim uma realidade na nossa percepção fenomênica. Esse "fato",
diz-nos a Ciência, é um campo de energia. Ou melhor é uma concentração energética-
espaço-temporal. Cada sistema é um campo de forças. Sendo um campo de forças dispõe
de um centro polarizador. Em torno desse ponto aglutinam-se os sistema de ordem inferior
que constituem o "fato" sob observação. Nas leis do equilíbrio estudadas na físicas,
encontra-se o conceito de centro de gravidade ou baricentro. É um ponto hipotético aonde
se considera aplicada a resultante da soma das distintas forças que agem simultaneamente
sobre um corpo. Conforme a posição relativa desse baricentro em relação ao plano
horizontal, diz-se que o corpo se encontra em equilíbrio estável, instável ou indiferente.
Generalizando o conceito de centro de gravidade, o mencionado centro polarizador, é um
baricentro energético. É o centro de ação de um campo. Esse campo manifesta-se ao redor
dele, de modo similar ao magnetismo em torno dos polos de um imã. O centro, é a região
do espaço onde é maior a intensidade do campo. Dele irradia-se o campo de forças, que é a
região adjacente permeada pelas linhas de força. Essas linhas de força são linhas
imaginárias ao longo das quais se considera que atuam forças atrativas ou repulsivas.
Teoricamente o campo estende-se em todas as direções até ao infinito, diminuindo de
intensidade à medida que nos afastamos do centro irradiador. O nosso humilde pedaço de
giz vai portanto muito além dos limites determinados pela nossa percepção sensorial. O seu
campo interpenetra a outros. Ao campo da mesa em que porventura se encontre apoiado,
ou ao campo do indivíduo que o segura. O homem em contado com seus semelhantes e
com os demais seres participantes do meio que o cerca, está em contínua interferência com
campos de forças diversos. Cada ser é um campo. Aplico a palavra "ser" no sentido mais
amplo. De tudo aquilo que "é", e não no sentido restrito de entidades orgânicas. A interação
constante provoca alterações nas características próprias de cada um deles. Uma espécie
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de impregnação. Essas alterações podem ser mais ou menos marcantes. Mais ou
menos sensíveis, mas nem por isso deixam de existir. Dois campos em contacto retêm,
cada um deles, um pouco da natureza essencial do outro. Analogamente, um objeto
empoeirado, ao ser tocado pelos nosso dedos, deixa neles sinal desse contato. São
inúmeros os exemplos que pode ser retirados da física para demonstrar esse fato. Os
fenômenos de eletrização a distância, por influência, constituem um deles.
Aproximando-se uma esfera carregada de eletricidade de uma outra esfera isolada,
completamente descarregada, nota-se imediatamente que esta última adquire uma
carga elétrica, apesar de não ter sido tocada pela esfera carregada. A presença dessa
carga perdura depois de se retirar a primeira esfera e pode ser comprovada mediante
um eletroscópio. Os fenômenos da indução eletromagnética por exemplo, são de
notável significação. Constata-se experimentalmente que toda corrente elétrica ao fluir
por um condutor provoca em torno deste um campo magnético que pode ser
detectado mediante a aproximação de uma simples agulha magnética. Se deslocarmos.
em relação ao campo magnético produzido no 1º condutor, um 2º condutor sem ser
percorrido por nenhuma corrente elétrica, positiva-se nesse 2º condutor o nascimento
de uma corrente gerada por indução. Toda a revolução industrial porque passou a
humanidade ao iniciar-se a era da Eletricidade, baseia-se na lei de transformação da
energia mecânica em energia elétrica por esse processo.
Uma massa de metal ao deslocar-se no interior de um campo magnético é freada
em seu movimento pelas correntes elétricas induzidas no seu seio. Essas correntes
chamadas correntes de Eddy em honra ao pesquisador que as descobriu, são o
resultado da interação de 2 campos de energia. O campo magnético, e o campo de
energia correspondente à aglomeração de partículas elétricas subatômicas, que
constituem a massa de metal móvel. Inúmeros outros exemplos poderiam ser aduzidos,
tirados de todos os domínios da física e da química A transformação da Energia em seus
vários estados, eletricidade, magnetismo, luz, calor, gravidade, etc, está baseada, em
última análise, na lei da ação e reação aplicada aos campos de energia.
Retornando às noções de campos de forças, vemos que ao redor de determinados
pontos do espaço condensam-se partículas subatômicas ordenadamente. Muitos
nomes têm sido dados a esse centro polarizador dos distintos campos. Vortex, apex,
centelhas, espírito, alma, polo, atman, jiva, base, fogo interno. Todos são sinônimos. As
diversas concentrações energética-espaço-temporais processam-se em torno desses
pontos. Se em vez do pedaço de giz que constituiu o nosso exemplo anterior,
examinarmos essa entidade chamada homem, vemos que a mesma é também uma
concentração de energia, um sistema isolado. A energia que constitui no seu conjunto
a entidade, a coisa, chamada homem é de natureza idêntica. A única diferença está no
grau da concentração. É o caso da água que pode ser encontrada como vapor, líquida e
sólida sem deixar de ser essencialmente água. A energia primordial é também uma só.
Manifesta-se porém sob várias roupagens, sob várias forças nos diversos planos físicos
e supra físicos ou, adotando-se a nomenclatura teosófica, nos planos físicos, astral.
mental, etc, Essa energia primordial está difundida uniformemente em todo o espaço,
Não há um ponto que ela não permeie, não sustente: é a base eterna, é o terreno onde
tudo tem sua raiz. É o "Aquilo" do Chandogya Upanishad.
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Toda a Sabedoria que pode ser revelada ao homem está na compreensão do "TAT
TVAM ASI". "Tu és Aquilo". A tua base, como a dos teus, enfim de tudo que te rodeia, é
a mesma.
A Energia primordial densifica-se progressivamente em torno de pontos que são
da mesma natureza que ela, até alcançar um máximo de concentração no plano físico.
Nesse plano o estado sólido é aquele em que a densidade atingiu um máximo. Além do
plano físico existem entretanto planos mais sutis que servem de ponte ao físico, que
estabelecem a ligação com a base comum. Os corpos, tais como aparecem através da
nossa percepção sensorial, são afloramentos, ilhas emergindo do grande Oceano. O
que nos dá essa impressão de isolamento são as limitações dos nossos sistemas de
referência. O que não é compatível, por estar abaixo ou acima das nossas referências,
não existe para nós. O manifestado é tudo aquilo de que ternos, ou poderemos vir a ter
conhecimento, consciência. O imanifestado é aquilo para o qual somos cegos, surdos e
mudos, insensíveis em suma, devido à nossa própria constituição: inconsciência. Nem
por isso, entretanto, o imanifestado deixa de ter valor. É nele que o manifestado tem
sua raiz, da mesma forma que é das trevas que nos parece surgir a luz. É impossível
dissociar, em sua origem. o manifestado do imanifestado, bem como qualquer outra
das infinitas dualidades que nos rodeiam. Elas são aspectos de uma única realidade,
que foge aos nossos horizontes perceptivos.
O que sentimos é que a matéria sólida, o que é denso, é função, tem o seu ser, é
dirigido pelo mais sutil. Há uma interpenetração de crescente complexidade. Há, um buscar
e forças, um sugar de energias nos planos mais etéreos por parte do que é mais denso. De
forma similar as plantas que tendo acima do solo “individualidades" distintas umas das
outras, imergem todas elas suas raízes no mesmo solo, onde sugam os mesmos alimentos, -
a água e os sais minerais, indispensáveis à sua manutenção.
O filósofo Lao-Tseu diz poeticamente:

"A mais sutil substância do mundo, embebe a mais densa.


Aquilo que não tem forma penetra naquilo que não tem fendas.”

Num homem, por exemplo, a energia se densifica desde um foco polarizador mais sutil
- o espírito - até às camadas mais materiais do corpo físico. Em cada um dos distintos
planos, a energia encontra-se cristalizada entre certos limites. E sustentada, tem o seu ser,
no plano imediatamente mais sutil.
Se fosse possível a visualização dos vários campos de energia que coexistem no
homem, da mesma maneira simples com que levantamos o espectro magnético de um imã
mediante um pedaço de papel e um pouco de limalha de ferro, ver-se-ia o processo
harmonioso pelo qual esses campos se entrosam. Os diferentes campos de força que
constituem o homem ou qualquer outra entidade são, na realidade, um único campo,
Consideramo-lo distintamente devido às limitações da mente humana. Graficamente
podemos ter uma ideia dessa interpenetração superposta, podemos dizer, pois cada campo
de ordem superior interpenetra e vivifica todos os outros que lhe são inferiores e, ao
mesmo tempo, superpõe-se, dirigindo-os com a sua ação, conforme o seguinte diagrama:
De um centro 0, traçamos uma serie de círculos concêntricos, A, B, C etc. Cada um
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desses círculos contém todos os outros de menor raio e é por sua vez contido por todos
aqueles que tem raio maior. Suponhamos que cada círculo representa a zona do espaço em
que se manifesta um campo de energia de característicos determinados. Esses campos
energéticos estão portanto interpenetrados, vivem em função uns dos outros.

Qualquer ação no campo C provocará uma reação nos campos B e A, que por sua vez
repercutirá novamente no campo C. Analogamente se provocarmos uma ação em um
tanque cheio de água tranquila, produz-se uma perturbação ondulatória, circular,
concêntrica a partir do ponto em que se iniciou a perturbação, e que se propaga no meio
líquido até encontrar um obstáculo. Esse obstáculo reflete a onda propagada dando
nascimento a uma nova perturbação ondulatória que volta em direção ao ponto inicial,
produzindo interferências na onda principal marcando essa onda principal. O karma, sendo
essencialmente de caráter energético, está também sujeito às mesmas leis que regem os
campos de força estudados na Física. Analogamente como nas interferências luminosas,
elétricas, temos interferências kármicas. Essas interferências são as "marcas" advindas das
mutações que se processam no campo energético total da entidade observada, devido ao
choque com os campos circunvizinhos. O homem em virtude de suas ações físicas, morais e
intelectuais, "vive" simultaneamente em vários planos. Os distintos campos humanos de
energia compatíveis a esses planos, estão em ressonância. Viver em um plano é estar
sintonizado com ele. Quando pensamos, - voltando à figura anterior - a matéria que
constitui o nosso campo mental, C, entra em vibração com um ritmo diferente do normal.
Uma série de ondulações concêntricas são produzidas, propagam-se ao meio ambiente, e
se "aprofundam" nos campos de energia B e A, produzindo perturbações nesses planos.
Interfere, modifica-lhes o ritmo. A característica vibratória do pensamento está para ser
aceita pela Ciência. Acreditamos que pouco falta para tanto. O estudo das ondulações
cerebrais é o primeiro passo nessa direção. O aparelho em que essas ondas são medidas e
registradas graficamente chama-se eletroencefalograma. Inúmeras experiências vêm
sendo feitas em todo o mundo no sentido de observar essas irradiações emitidas pelo
cérebro humano em pacientes submetidos às mais diversas condições. A ocorrência de
ondas cerebrais pressupõe logicamente a existência de um campo de energia. Os diferentes
tipos de onda estudados e decorrentes dos distintos pensamentos, caracterizam a mudança
da frequência e intensidade vibratória do campo energético. Existindo, conforme
demonstram os encefalogramas, radiações mentais, elas forçosamente se propagam no
espaço e se entranham no homem ao pensar. A propagação dos pensamentos e sua
recepção constitui a chamada telepatia. Os fenômenos telepáticos e inúmeros outros estão
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sendo estudados detidamente, em várias organizações de pesquisas psíquicas. Surge,
então, uma nova ciência, a parapsicologia. O que está além da psicologia comum, do
domínio da percepção sensória normal, e que antes era encarado com desprezo, e como
simples curiosidade de circo ou teatro, está hoje sendo medido, observado, fichado. Tenta-
se, mediante o cálculo das probabilidades matemáticas. Confirmar a exatidão das
informações. Como exemplo relataremos uma experiência com cartas de jogar realizada em
Londres pelo matemático Dr. S. G. Soal, e citada por Aldous Huxley em um dos seus ensaios.
O paciente chamado Basil Shackleton, submetido a todos os controles, conseguiu em cerca
de 11000 ensaios "adivinhar" as cartas com tal precisão que caso essas adivinhações
fossem somente o produto da sorte a probabilidade matemática para que isso ocorresse
seria de 1 para 10³⁵ ou seja o nº 10 acompanhado de 35 zeros. Ao mesmo tempo que se
propagam, as radiações cerebrais aprofundam-se no homem. A ação do pensamento sobre
o corpo físico não pode mais ser negada. A psicologia, a psicoanálise, a psiquiatria, são
ciências de conhecimento geral. As modificações na circulação, na digestão, no
metabolismo, na respiração, devidas às emoções podem ser registradas em aparelhos.
Reciprocamente a repercussão das dores, e sofrimentos físicos e de modo de pensar e
agir do indivíduo, são fatos comuns. Quantas poesias, pinturas, sistemas filosóficos e
religiosos não teriam nascido se o fígado e vesícula, ou qualquer outro órgão dos pacientes
tivesse sido socorrido a tempo por um médico consciencioso?
O pessimismo de Schopenhauer, o azedume de Pascal, os êxtases de puro gozo dos
místicos, a filosofia visceral de Maine de Biran que filosofava em função do funcionamento
das suas vísceras conforme se depreende pela leitura de seu "Journal Intime", não serão
unicamente o produto das modificações do temperamento do paciente devido ao mau
funcionamento orgânico? Talvez seja um modo um tanto cínico de pensar, mas é inevitável
quando somos cientificados pela medicina das modificações que ocorrem no paciente
devidas a alterações da saúde física. De como se modificam os temperamentos quando se
alteram as taxas sanguíneas de ureia, adrenalina, açúcar...
Vemos portanto que o homem, em seu conjunto, é um sistema em constante
desequilíbrio. A vida é um eterno desequilíbrio uma morte eterna. Expiração e inspiração;
sístole-diástole, movimento-descanso. É um eterno tender para o repouso. Todos os
campos de energia que constituem em seu conjunto uma entidade estão em constante
movimento. Todos interferem, marcam-se à medida que o tempo escoa, à medida que o
karma se transforma de energia potencial em energia cinética. De potencialidade prenhe de
todas as possibilidades em destino e inexorável. Sob o nome de destino estão grupados
todos os resultados da ação do karma.
O indivíduo dentro de certos limites pode modificar o seu destino. Não somos
fantoches acionados por deuses estranhos. Deus está dentro de nós. Deus é o núcleo. É o
nosso baricentro energético. É a nossa razão de ser. Desse núcleo dimanam todas as forças
que, grupadas harmoniosamente, constituem o homem. As sementes da futura colheita
estão dentro de nós. O que somos hoje é o efeito lógico do que fomos ontem. O sermos
chamados bons ou maus depende somente da qualidade dessas sementes, das
interferências, marcas do passado. Está porém ao nosso Alcance, mediante um processo de
seleção interna, a separação do joio e do trigo. A esterilização das sementes do joio, e o
estímulo do campo a fim de que proliferem em toda sua plenitude as sementes do trigo. A
70
única dificuldade está em reconhecermos o que é joio e o que é trigo. Antes de termos a
consciência plenamente desperta não devemos agir. O bem e o mal são padrões humanos.
Relativos. O verdadeiro bem é muita vez considerado pelos padrões humanos um mal e
vice-versa. Cita o Bhagavad Gita, que as trevas para o comum dos mortais é luz radiosa para
o sábio. Esperemos que chegue o momento de abandonarmos o caminho de ida, da
perseguição de riquezas, das satisfações materiais, dos desejos, do separativismo. O
“Pravriti Marga" dos indús. É entremos no caminho da volta, da renúncia, do
desprendimento, da união com o Todo. O "Nivriti·Marga".
Na ocasião em que cruzarmos o ponto de reversão; em que enveredarmos pela nova
senda, estaremos maduros para apressarmos a nossa evolução. Antes disso não.
Não se retire a fruta das árvores antes que ela atinja determinado tamanho. Aí sim,
mesmo que ela ainda esteja verde, pode-se apressar a maturidade. Antes, e impossível.
Estarmos verdes ou maduros é uma questão a que cada um deve responder por si. É
de foro íntimo. De constituição morfológica. Voltemos porém ao karma.

O karma é de 3 espécies:
a) Operativo - (Prarabda)
b) Acumulado - (Sanchita)
c) Novo - (Kriyamana)

O Karma Acumulado é o total do Karma, que em algum dia, desta ou de outra vida,
entrará em manifestação.
O Karma operativo ou maduro é aquele que está a ponto de manifestar-se. E o
novo é o que está sendo criado através da transformação do Karma maduro. Convém
notar porém que as 3 espécies: operativo, acumulado e novo, são aspectos de uma
única e indivisível realidade. Não há 3 karmas e sim um único campo de energia
potencial transformando-se constantemente em energia cinética, produzindo trabalho
nos vários planos. O símbolo da corda do relógio que ao se distender provoca a
movimentação dos ponteiros, é adequado.
Karma é a mola propulsora da Evolução. A extinção dessa potencialidade
congênita que dinamiza a roda dos nascimentos e das mortes; a parada do relógio, é a
liberação. É o atingimento do Nirvana. Está ao nosso alcance a aceleração do processo
evolutivo para por fim a esse constante retornar ao plano físico, alcançando-se mais
depressa o limiar de uma alta Evolução. Para o grande filósofo Radakrisnan, "o
indivíduo é liberado quando alcança a universalidade do espírito; mas ao ser liberado
retém a sua individualidade como centro de ação enquanto perdurar o processo
cósmico". Não há em absoluto a extinção ao atingir-se a liberação. Apenas se inicia um
novo caminho, nada mais.
Qual a razão dessa Evolução, dessa auto-evolução, dessa eterna escravização à
existência - temos o direito de perguntar?
Infelizmente essa pergunta não poderá ter resposta por palavras.
Identicamente, não podemos especificar, a razão porque o verde é verde, porque
um círculo tem a sua forma característica, porque vivemos, porque as leis da natureza
agem da forma que agem. As raízes, as razões, o porque desses fatos está acima do
71
conhecimento intelectual humano. A realidade perceptiva que até nós chega apenas os
ecos quebrados de encontro as montanhas. São sombras refletindo-se em parede
cheias de reentrâncias. Deformações irreais. Compete ao homem transcender essas
barreiras. Estabelecer pontos a fim de ter conhecimento do real. Buscar dentro de si
em zonas muito além do intelecto, a resposta aos enigmas que o assolam. Ao ser
atingido esse alvo, transcendemos o tempo e o espaço. Reconhecemos a
transitoriedade da vida humana. E apesar de vivermos sob as contingências do plano
físico nele nos movemos, vivemos e temos consciência dos valores eternos. De Deus.
Do Absoluto.

72
TEOSOFIA

Teosofia é um termo forjado pela fusão de duas palavras gregas, Theos: que
significa Deus; e Sophia, equivalente a Sabedoria. Portanto, etimologicamente
falando, Teosofia é Sabedoria Divina. Pela primeira vez encontramos esse termo no
século II da nossa era, aplicado pelo filósofo de Alexandria Ammonius Saccas (160-
242), considerado tradicionalmente como fundador do Neoplatonismo. Como
Sócrates, ele aconselhava aos que dele se aproximavam a meditarem sobre o Céu e a
Terra. Parece que nada escreveu, sendo todo o seu ensinamento oral. Consta que não
foi aluno de ninguém. Era o tipo do filósofo de nascença. Devido a sua extraordinária
bondade, os seus discípulos entre os quais se contavam Longinos, Orígenes e Plotino,
o cognominaram Theodidaktos, que significa "o instruído por Deus".
A origem desse sistema de conhecimento rotulado pela palavra Teosofia, perde-
se, porém na noite dos tempos. Sempre existiu em todos os locais e épocas um
conjunto de regras, transmitidas oralmente de mestre a discípulo, após ser este
submetido a provas que constituem a base comum, a raiz de todas as ciências,
filosofias e religiões. Com o aparecimento da escrita, parte desse conhecimento foi
gravado, perpetuando-se até nós. Chamam os hindus a esse sistema de
conhecimento Brahmavidya. Sabedoria Divina. Os egípcios também a conheciam,
sendo estudada e transmitida nos templos pelos chamados mistérios de Isis. Os
gregos tiveram pleno conhecimento dela. Os mistérios de Delfos. Eleusis, Demeter,
Dionísios, e tantos outros difundidos em toda Grécia, atestam esse fato
perfeitamente. Em Roma havia mistérios de Cibele. Attis e Ceres. Na Sicilia eles
existiram com o grande Pitágoras e seus discípulos. Na Palestina com os Essênios na
época do nascimento de Jesus. Em Alexandria com os Neoplatônicos. Ammonius
Saccas, Plotino, Porfírio, Jamblico. No Gnosticismo com Valentin e Basiledes. Entre os
místicos de todo o mundo independentemente de época, local e religião. Dentre eles
avultam as figuras de Ruyoroeck. Santa Gertrudes, Hildegarda, Mestre Eckart, Suso,
Jacob Boehme, Catarina de Sienna, S. Francisco de Assis. Francisco de Sales, no
Ocidente. E Patanjali, Viasa, Mahavira, Sankara, Valmiki, Lau-tseu, Milarepa, Tson-ka-
Pa, Nagarjuna, e tantos outros, no Oriente.
Em suma, em todo o mundo, se procurarmos sob as camadas superpostas que
constituem o conhecimento humano, encontraremos a base comum, a Teosofia, que
é a raiz de todo esse conhecimento. Em alguns locais, mais à flor do solo: em outros
nas mais recônditas profundidades. O Dr. Evans-Wentz na introdução do seu magnífico
livro "A yoga tibetana e suas doutrinas secretas", afirma que: "Qualquer dentre os
mais instruídos no ocultismo dos Lamas e Hindus, diz que não há povo por mais
degenerado e inculto, que não possua um Fragmento, embora pequeno, do
ensinamento secreto dos Grandes Sábios".
Teosofia é como que a iguisfera (inner core), o cerne, o miolo candente da nossa
Terra. Assim como a crosta terrestre é o resultado da solidificação desse magma em

73
fusão; lava resfriada, assim o conhecimento humano procede de um núcleo comum de
ideias em fusão. São essas ideias solidificadas, essas crostas, que são colocadas ao
alcance das limitações da restrita mente do homem, É justamente desse magma em
fusão, dessa filosofia perene como a intitulava Leibnitz, da Teosofia, enfim, que
pretendo falar. Digo pretendo, pois querer explicá-la, seria abarcar o infinito com o
finito. A sua doutrina engloba a origem e o destino de toda a vida e matéria existente
no Universo. Vários são os caminhos que nos conduzem a esse conhecimento-base.
Ciência, Arte, Religião, Filosofia, Ética, eis alguns. Teosofia é o conjunto e, como tal,
abrange todo o conhecimento revelado e não revelado ao homem, Matematicamente
podemos defini-Ia pela fórmula:
T = CR + CNR, em que T é Teosofia. CR é conhecimento revelado. CNR é
conhecimento não revelado.
Um exemplo concreto servirá para aclarar a questão. Suponhamos que uma zona
do espaço contida numa esfera de raio infinito se encontre sob trevas compactas, e
que o centro dessa esfera comece pouco a pouco a incandescer. Nascem os primeiros
raios de luz que irão formar uma pequenina esfera. À medida que o tempo passa a luz
aumenta de intensidade. Paralelamente a esfera luminosa se expande. Comparamos a
super esfera infinita no início, em trevas, à Teosofia. É o conhecimento embrionário
no qual todo o conhecimento têm o seu ser, a pequenina esfera luminosa, em
crescente expansão, que surgiu de uma tímida brasa e hoje se transformou em uma
fogueira de razoáveis proporções, é o conhecimento revelado à humanidade. Seu
crescimento é ininterrupto. A zona das trevas, equivalente ao conhecimento não
revelado é constantemente penetrada pela luz, Teosofia é, portanto, o Todo. A soma da
luz com as trevas. O conhecimento total da Teosofia é incompatível com a condição
humana. Lembro-me de imagem muito citada, mas nem por isso isenta de beleza, que
compara a Teosofia ao Oceano, pois tem como ele pontos em que até uma criancinha toma
pé, e abismos que o maior dos gigantes nem sonha explorar. As suas leis fundamentais são
as seguintes:

1 - Lei da Unidade
2 - Lei da Evolução
3 - Lei da Ação e Reação
4 - Lei da Manifestação Periódica

A primeira, de importância capital, é portanto a Lei da Unidade. É a Lei das leis. Dela
todas são corolários. É o fundamento. A base de todo o Universo manifestado e
imanifestado está contida nela. Matematicamente é de uma simplicidade espantosa. Eis a
sua fórmula: 1 = . O seu enunciado é simplíssimo: "A UNIDADE ENGLOBA A
DIVERSIDADE". Essa Unidade suprema da qual estamos embebidos e como dizia S. Paulo
"nos movemos, vivemos e temos o ser", é conhecida sob diversos nomes. Deus, Energia,
Brahman, Allah, Paraatman, Base, Aquilo, Absoluto, são alguns dos rótulos empregados
para identificá-lo. O Um foge entretanto a todas as representações. Não tem nome; não
tem forma. Não tem atributos. Não pode ser captado pela mente humana. A realidade
ultima é Silêncio. Somente podemos dar impressões desse grande Um, Deus, que tudo
74
contém dentro de si. Está esplendidamente expressa essa incapacidade funcional de
descrição verbal no trecho seguinte do Ishopanisad:
"Os sentidos nunca alcançarão aquilo que, mesmo imóvel, é mais rápido do que a
mente. Aquilo que apesar de imóvel ultrapassa a todos por mais rápidos que se desloquem.
Aquilo que está ao mesmo tempo longe e perto, dentro de tudo e fora de tudo".
A unidade, Deus, o Todo, - mais uma vez o afirmo, nome não importa. - pode ser
comparado ao Sol do qual provém um número infinito de raios luminosos. Qualquer
desses raios poderá ser seguido até ao grande Todo de cuja natureza participa. Seja, por
exemplo, o raio da Religião. Desde tempos imemoriais existe a manifestação religiosa na
humanidade. Essa sensação de dependência às forças emanadas de um ou de vários entes
supremos invisíveis. Não pretendo analisar aqui a origem das religiões com suas várias
teorias que de passagem menciono: culto ao sol, aos astros, às forças da naturezas, ao
sexo, etc., cada uma delas tendo-se por única detentora da verdade, desprezando em
inúmeras ocasiões toda contribuição de outras escolas. Mesmo quanto à definição do que
seja Religião não há acordo. São numerosas e controversa. Vejamos algumas:
"Como Religião entendo a crença e o culto da Mente e Vontade Suprema que,
dirigindo o Universo, sustentam as relações morais com a vida humana" - J. Martineau.
"Como Religião entendo o conhecimento de Deus, da sua vontade e dos nossos
deveres em relação a ele" - J. H. Newman.
"Religião é a propiciação ou conciliação de poderes superiores ao homem, os quais se
acredita dirijam e controlem o curso da natureza e da vida humana" - Frazer.
Uma coisa é certa, apesar da variabilidade das opiniões: é que todas as religiões se
enraizam, sorvem a seiva do mesmo solo de uma base comum, imutável, que não está
sujeita aos costumes e·hábitos dos povos e épocas, O estudo das religiões comparadas
demonstra a existência desses fatores comuns. Vemos então que dentro do grande
conjunto chamado Religião, Cristianismo, Budismo, Zoroastrismo, Islamismo, Judaísmo, etc.
são aspectos de uma mesma Realidade Imanente e Transcendente. Nesse estágio surge
então a verdadeira compreensão de Religião como aquilo que, ''religa'' que une novamente
todos esses pontos de vista exclusivistas em um grande Todo. Caem as últimas barreiras.
Os limites antes tão amargos, se esfumam, e vemos que salvação, libertação, liberação,
Moksha, pode ser alcançada em qualquer religião, ou mesmo em nenhuma.
A Teosofia, como Sabedoria Divina, é o sumo de todas as religiões, não admitindo em
nenhuma delas superioridade sobre as outras. Cada qual é uma mensagem digna de
estudo. Parece-me que a mais sábia atitude é aquela adotada pela filosofia vedanta que
proclama:
"Da mesma forma que os diversos riachos, cada qual nascendo em um diferente local.
misturam suas águas no grande Mar, Oh Senhor! Todas as diferentes religiões seguidas por
homens de temperamentos e tendências diferentes, tão variadas que parecem tortuosas
ou retas, todas conduzem a Ti.”
Filosofias, ciências, e artes, são como as religiões, meros raios dessa grande Unidade -
a Teosofia. Todas estão interligadas nesse fundo comum de onde provêm. São pétalas de
uma mesma Flor.
A lei suprema da Teosofia, já o mencionamos anteriormente, é a da Unidade. Os
hindus têm na palavra Dharma a melhor expressão dessa lei. Essa palavra sânscrita é de
75
difícil tradução. Sua raiz é DHR que significar unir, juntar, ligar, sustentar alguma coisa.
Talvez aglutinar, que subtende todas as citadas. Bhagavan Das em sua obra "The Science of
Social Organization", assim define Dharma:
"Dharma é aquilo que sustenta uma coisa unida, fazendo-a o que ela é, evitando que
se fragmente mudando-se em outra coisa distinta. É a sua natureza essencial. A lei do seu
Ser. Dharma é aquilo que faz o Processo Universal ser o que é. E que une todas as partes do
Universo em um grande Todo, em uma inteiriça e abrangedora cadeia de causas e efeitos. É
a lei, ou melhor a totalidade das leis da natureza.”
Da lei suprema, Dharma, deduzem-se todas as demais. A da Evolução por exemplo, é
lei de âmbito cósmico. Sua definição é simples como a de todas as leis transcendentais. Há
uma regra paradoxal que estabelece a variação inversa da complexidade em função da
simplicidade. Quanto mais simples mais transcendente... Dentre todas as definições parece-
me a melhor aquela que diz:
"No Universo tudo tende para a Perfeição". Esse tender para um ideal é Evolução. É a
mola propulsora do progresso. É a força motriz. É a eterna adaptação a novos estados.
Lembremo-nos da imensa nebulosa primitiva da qual se destacou uma gotícula
incandescente há cerca de 2 bilhões de anos, conforme diz a ciência confirmando a
cronologia dos Puranas, e que viria a constituir a nossa atual Terra. E dos estágios por
que passou essa gota resfriando-se gradualmente até que surgiu a primeira crosta. Frágil a
princípio e partindo-se frequentemente, extravasando o magma candente em gigantescas
inundações. E das chuvas torrenciais que se seguiram, até que nos oceanos surgiram os
primeiros germens da vida. Recordemos as infinitas transformações que sofreu esse
gérmen até que surgisse o homem em sua atual forma. Esse homem que é apenas um
humílimo elo da infinita cadeia evolutiva. Na Teosofia estuda-se o desenvolvimento gradual
do sistema solar, em especial o caso da nossa Terra. Estuda-se como surgiram, e porque
surgiram os reinos da natureza. Etéreos a princípio e, gradualmente, como subindo uma
escada de número infinito de degraus, a manifestação vai se corporificando em outros
reinos: Mineral, Vegetal, Humano e Super-humano. Já dizia um antigo místico persa: "Deus
dorme no mineral, sonha no vegetal, desperta no animal e olha para frente e para trás,
pensa e conhece a si próprio no homem".
No limiar de uma nova manifestação cósmica existe a grande Unidade ou Deus. A
matriz de onde surgirá a nebulosa primordial. Uniforme. Homogênea. Isotrópica.
Gradualmente, dessa Unidade surge a Diversidade. A regra da Evolução é pois: da
Unidade à Diversidade. Do Homogêneo ao Heterogêneo.
Em linhas gerais a Evolução desenvolve-se nos 3 estágios seguintes.
1) Uma existência real, eterna, infinita, incognoscível. O Deus imanifestado.
Paramatman. Nirguna Brahman.
2) Dessa existência procede o Deus manifestado. Isvara, Saguna Brahman.
Desdobrando-se da unidade em dualidade e da dualidade em trindade.
3) Da trindade provém várias inteligências, guias da atividade cósmica. Da interação
desses guias surge toda a diversidade.
O homem é uma das centelhas dessa divindade. Um trecho dos Upanishads apresenta
em uma belíssima imagem poética a comparação de Deus a uma imensa fogueira
expelindo centelhas que são essencialmente da mesma natureza da fogueira, e o homem
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como uma dessas fagulhas que procedem de Deus mas tem como destino a Ele se unir
novamente. A Evolução constitui o caminho de volta da centelha à fogueira. Cada objeto,
cada mineral, vegetal, ou animal, tudo enfim, são também fagulhas desse mesmo Deus do
qual fazemos parte, e que todos nós abrigamos no intimo do nosso ser um pouco mais ou
menos revelado. A única diferença entre o homem e os outros seres está na distância em
que se encontram do centro. Não são os homens os reis privilegiados da criação. Todos
fazem parte do Todo e por tanto alcançarão a felicidade de atingirem a "outra margem".
Essa volta no Todo é a libertação da roda dos nascimentos e mortes, (Sansara) como dizem
poeticamente os Budistas. "Moksha" no dizer dos hindus. A salvação dos cristãos. O
atingir dos Campos Elíseos dos Gregos. A Evolução atua inflexivelmente. A Dra. Annie
Besant proclama em um dos seus livros:
"A lei divina do homem é a Evolução. O selvagem de hoje será o santo do futuro, pois
todos percorremos caminhos semelhantes".
Não existem, conforme uma perfeita compreensão da lei da Evolução, nem penas
eternas nem salvação eterna. Nada é eterno neste mundo... nem a própria eternidade. O
Nirvana do Budismo tão incompreendido pelos orientalistas ocidentais não é, em absoluto,
cessação. Extinção como os primeiros tradutores dos antigos textos quiseram fazer
acreditar. Nirvana não é sinônimo de aniquilamento, e muito menos ele gozo eterno. É,
sim, uma transcendência. Uma sublimação. Uma mudança de escala de valores. É apenas o
início da lei da Alta Evolução. Alta Evolução para as nossa limitações humanas. Acima dessa
Alta-Evolução outras evoluções inconcebivelmente mais complexas se estendem. A cadeia
evolutiva não tem fim.
No Maha-Para Nibbana Suta que é um arcaico texto páli do budismo primitivo, são
atribuídas ao próprio Buda as seguintes palavras:
"Nirvana é a extinção do egoísmo e de todos os receios e dúvidas de todos os maus
pensamentos e paixões que inevitavelmente brotam do egoísmo e do apego ao corpo. É a
extinção de toda inquietude e descontentamento da mente. É o alcançar do repouso
interno, equilíbrio, calma. paz.
"A paz da mente é atingida somente após extirpar-se o egoísmo.” Surge então uma
nova gradação de valores A única diferença é que esses valores apesar de coexistentes,
são incomensuráveis com a realidade de outros planos e consciências estando
infinitamente distantes dos quadros de referência da existência humana no plano físico.
Outra das leis deduzíeis da lei geral da Unidade, e também fundamental, tal a sua
importância, é a lei de ação e reação. O seu enunciado, como o das leis já citadas, é
também de uma singeleza a toda prova. Ei-lo:
"A cada ação corresponde uma igual reação, mas com sentido contrário". Esse é o
enunciado do grande sábio inglês Newton que assim a formulou no século 17 para o caso
especial do movimento dos corpos. Tal lei tem entretanto âmbito geral. Os Hindus já a
conheciam sob o nome de KARMA. Essa palavra sânscrita pode ser parcialmente traduzida
como ação. Além disso significa também movimento trabalho. De um modo geral a
terminologia ocidental não tem, a maior parte das vezes, termos adequados para traduzir
os vocábulos das línguas orientais que, nos domínios da vida subjetiva, possuem toda uma
gama de expressões qualificadoras que não apresentam, tal a sua diversidade de matizes,
paralelismo nos idiomas ocidentais.
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Já nos Vedas que são um texto antiquíssimo, encontramos esboçada na palavra
RTA o princípio que mais tarde tornar-se-ia conhecido como... KARMA. RTA
caracteriza a ordem física e moral do Universo. É a força coordenadora que sustém
o Todo e em função da qual ele existe. É a lei. É devido à ação do RTA, dizem os
Vedas, que o Sol (Varuna) percorre os céus todos os dias. Pouco a pouco a ideia
germinativa contida no conceito da RTA desabrocha na concepção absolutamente
geral do Karma.
Encontramo-la na Bíblia, na epístola de São Paulo aos Gálatas 6 versículo 7 - "Não
erreis: Deus não se deixa escarnecer, porque tudo que o homem semear, isso
também ceifará".
8 – “Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que
semear no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.”
E por fim no versículo 9:
9 - "E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos se não
houvermos desfalecido.”
No Budismo encontramos essa lei em inúmeras passagens; cito somente aquele
trecho do Dhammapada 1 – 1,2 onde se lê:
"Se um homem fala ou age com mau pensamento, a dor o segue como a roda
segue o boi que puxa o carro. Se um homem fala ou age com pensamento puro, a
felicidade o acompanha como uma sombra, não o deixando nunca.”
São inúmeros os exemplos que poderiam ser citados para mostrar a ocorrência
dessa lei em todas as religiões do mundo.
Aos que desejarem mais exemplos eu os reporto ao livro da Dra. Annie Besant
intitulado "The Universal Text Book of Religion and Morals”.
A lei de ação e reação por ser cognominada como lei de justiça. O seu alcance é
total, nada fugindo ao seu controle. Deparamos a sua ação quer nos planos físico quer
nos planos morais e espirituais. A sua exata compreensão esclarece o porque das
dificuldades desta vida. Porque sofrem inocentes enquanto os culpados
impunemente se vangloriam.
O nosso Universo é um conjunto regido por leis. Muitas os homens as estudam.
tabelam e, agindo de acordo com a sua natureza, conseguem dominá-las pondo-as a
seu serviço. Outras fogem inteiramente a seu controle. Os métodos humanos são
ainda muito rudimentares para atingirem fenômenos que ocorrem em zonas muito
afastadas das regiões comuns do conhecimento humano. É o caso da lei de ação e
reação. Quando sua ação se desenvolve no plano físico, da percepção sensorial, os fatos
são logo por nós apreendidos, podendo os seus efeitos ser previstos. Quando por
exemplo jogamos uma bola de borracha contra a parede sabemos em virtude de
experiências anteriores por nós realizadas que, logicamente seguir-se-á uma reação
inversa. Em relação ao domínio de acontecimentos ocorridos em regiões fora da nossa
percepção sensorial, atribuímos aos fatos que nos surgem na vida produzindo-nos
sensações de dor e alegria, uma origem hipotética. E como recurso, adotamos as
palavras vagas;destino, milagre, desígnio da providência, para explicá-los.
O filósofo Plotino em sua Eneadas, vol. IV, já afirmava no século II a. C.:
"A ordem universal distribui exatamente aquilo que a cada um convém, mas como
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nós, pela nossa ignorância, desconhecemos suas causas, começamos a blasfemar.”
Essa revolta contra o que nos ocorre é fruto da ignorância. Ignorância da
existência das leis que ordenam o funcionamento do Universo. A posição do homem é a
de um elo dessa infinita cadeia que se desenvolve dentro do Universo. É um dente da
engrenagem da máquina suprema. O seu destino está sob seu controle, dentro de
certos limites. Podemos modelar o nosso futuro. O que nos ocorre hoje em dia e contra
que tanto nos revoltamos, é a resultante lógica da interação de vários fatores
movimentados imprevidentemente no passado. Não temos o direito de nos revoltar
contra o que nos acontece por nossa culpa exclusiva.
Quando nos queimamos, logicamente a dor física proveniente da irritação dos
tecidos, seguir-se-á. Culpa exclusivamente nossa e não do fogo.
E qual a natureza dessa lei universal de ação e reação? Há vários modos de
abordar o assunto.
A 1ª maneira é o polo negativo da questão. É a fatalista dos que adimitem que
tudo que ocorreu, ocorre e ocorrerá no Universo, está em estado embrionário
registrado na nebulosa primitiva. E que, devido a isso, não adianta qualquer esforço
para modificar o irremediável. É a teoria do determinismo.
O polo positivo é o da teoria do livre-arbítrio. Para os adeptos desse ponto de vista
tudo o que ocorreu, ocorre e ocorrerá no Universo é somente função do acaso: Da sorte.
E o 3º modo com que podemos abordar o problema é através da ligação dos dois
polos da questão. Na realidade não há nem determinismo nem livre-arbítrio. Tais palavras
são rótulos com que procuramos identificar uma "coisa" puramente unitária. A “coisa em
si" não é nem determinada nem indeterminada. É um misto das duas. A determinação e a
indeterminação parecem decorrer principalmente da maior ou menor "precisão" com
que o fato é observado, sendo essa palavra "precisão" empregada no seu sentido mais
geral. Fenômenos que em relação ao nosso sistema de referência se desenvolvem em
macro ou micro-escalas, são determinados ou indeterminados. De modo análogo a uma
chapa fotográfica que pelas características de sua gelatina só permite o registro
perfeitamente determinado de um certo grupo de ondas. Todas as outras ondas de
comprimentos maiores ou menores são indeterminadas em relação à sensibilidade da
chapa.
A última lei que nos propusemos examinar, deduzível também da lei da Unidade, é a
lei da manifestação cíclica.
Vivemos cercados de dualidade. Alternâncias. Dia – noite, positivo – negativo, sístole –
diástole, expiração – inspiração, vida – morte. Esses dois aspectos são indispensáveis à
nossa percepção fenomênica. Entre eles entende-se a escala gradativa de valores que
permite a distinção de um e outro fato. É o contraste que permite o reconhecimento da
realidade. Um objeto negro diante de um fundo negro dissolve-se em uma grande treva.
Só há manifestação quando há reconhecimento. Tudo que não conhecemos é
imanifestado para nós. O característico da manifestação é a dualidade, o contraste, o
choque, a alternância. A vida e a morte são os aspecto dessa existência eterna equivalendo
ao sono e vigília. Da mesma forma que ao levantar-nos pela manhã somos a mesma pessoa
que à noite se deitou, somente um pouco mais velhos, é lógico, a existência do homem não
se resume somente ao período limitado pelo nascimento e morte. A cadeia é contínua. Ao
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longo dela o desenvolvimento é cíclico. Constante.
O homem e todos os seres se aglutinam no espaço e no tempo em torno de um centro
polarizador. Uma espécie de baricentro energético. Esse centro polarizador é também
chamado Ser, Foco, Ápice, Centelha, Vórtice, Espírito, Atman. São palavras sinônimas para
descrever aquele "substractum" imutável e eterno dentro da relatividade da manifestação
cósmica. Vida e morte são aspectos da existência contínua do Espírito.
Essas são resumidamente as leis fundamentais da Teosofia.
Para dedicar-se inteiramente ao seu estudo foi fundada em 1875, por dois idealistas,
HELENA P. BLAVATSKY e HENRY S. OLCOTT, a Sociedade Teosófica. Sua sede é em Adyar,
Madras, Índia, ramificando-se por todo o mundo. Seus objetivos principais são 3:
1º - Formar um núcleo de Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de
raça, crença, sexo ou cor.
2º - Estimular o estudo comparativo das religiões, filosofias e ciências.
3º - Estudar as leis não explicadas da natureza e os poderes latentes no homem.
Constituem esse núcleo estudantes pertencentes a todas as religiões ou a nenhuma. A
Sociedade Teosófica não pretende ser a única detentora da verdade. Isso seria ir contra os
seus próprios fundamentos. A própria fundadora, Sra. Helena P. Blavatsky, em um folheto
intitulado "É a Teosofia uma Religião ?", após desmentir uma falsa ideia, diz que a
Sociedade Teosófica e os Teosofistas não são perfeitos. Nada melhor do que transcrever as
suas próprias palavras:
- A Teosofia é perfeita, não os teósofos. Os dois, a Teosofia e a Sociedade Teosófica,
assim como um jarro e a água nele contida, não devem ser confundidos. Um é o ideal. A
Sabedoria Divina. A perfeição em si mesma. O outro é uma pobre coisa imperfeita tentando
segui-la. É a sua sombra na Terra.
A Sociedade Teosófica adota como lema uma frase que vale como uma bandeira:
"Não há religião superior à verdade". Com esse espírito de pesquisa da Verdade é
que devemos orientar a nossa vida. Lembro-vos a história daqueles janaistas cegos e o
elefante, cuja profunda significação é digna de ser meditada.
Certa vez um grupo de cegos aproximou-se de um elefante. Um deles abraçando-se a
uma das patas e logo a seguir às outras, gritava que estava num templo pois confundia
as patas com colunas. O outro seguro pela tromba pedia socorro pois julgava-se
capturado por uma gigantesca serpente; enquanto o 3°, ao roçar as suas costas em
uma das ponte agudas presas do animal julgava que tivesse se encostado numa lança.
Como vedes cada um dos pobres cegos tinha da realidade uma noção diversa. É o
perigo das deduções apressadas. De se querer extrapolar acima daquilo que os dados
colhidos permitem. Devemos sempre recordar esse simples conto antes de formarmos
um conceito definido sobre uma coisa qualquer. Temos por obrigação, a não ser que
conscientemente queiramos incidir em erro, de examiná-la sob todos os pontos de
vista. A resultante do exame do objeto sob diversos pontos de vista é que deve
constituir a nossa opinião. A nos, a verdade é relativa, e como tal passível de
imperfeição. É capital que o reconheçamos. Tolerância é uma palavra chave para
aqueles que querem atingir a liberação. Se a humanidade, em suas relações, busca-se
sua atitude sob o signo da Tolerância o mundo seria muito diferente do que na
realidade é. E justamente o trabalho por um mundo melhor é o principal dos objetivos
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da Sociedade Teosófica. Um mundo em que a fraternidade dos homens e dos seres
seja real. E que as palavras fraternidade, tolerância, deixem de ser meras palavras.
Sejam menos usadas e mais vividas. Uma das formas de se conseguir acelerar esse
estado de coisas é lutar contra a ignorância sob todos os seus aspectos. A principal
ignorância de onde decorrem todas as supertições, é a do autoconhecimento. Nunca
simples regra do oráculo de Delfos "Conhece-te a ti próprio" foi tão necessária de ser
lembrada. A vida atual é extrovertida. O homem completamente dominado pelo ato de
acumular posses materiais, esqueceu-se completamente do seu mundo interno. Todo
estudo sério e aprofundado é de um modo geral evitado Para que, - diz - qual o
benefício imediato que isso me traria? São as respostas mais comuns. Ou então: não
tenho tempo. O trabalho, os filhos as preocupações me absorvem toda a atenção. No
futuro, na velhice, me dedicarei à introspecção. Até lá não tenho tempo de me
conhecer a mim próprio. Enquanto isso para não pensar, o homem toma em doses
cada vez maiores os derivativos das diversões. É o ópio que impede de conhecer.
Mecanizado ao grau supremo não pensa mais. Reúne fórmulas gastas de textos
consagrados. A própria religião em que nasceu é aceita sem discussões. Cumprindo as
suas principais regras, automaticamente, sem se dar ao trabalho de analisá-las, julga
poder comprar o céu a prestações, Para que? É tão mais cômodo não pensar. Deixar que
os outros pensem por nós. É muito mais fácil em vez de abrir caminho seguir o caminho
aberto pelos outros. Adotar fórmulas preestabelecidas. A inércia mental é tão confortável.
As "gaiolinhas" em que nos abrigamos são mais aconchegantes, do que os perigos do
desbravamento de terras desconhecidas... Essa tendência à acomodação é congênita no
homem. Contra ela todos os instrutores e filósofos se debateram. Sócrates e seu método de
ensinar fazendo perguntas para que o interlocutor pudesse chegar às suas conclusões;
fazendo o papel de porteiro de ideias como ele próprio se identifica no diálogo. Tetetus, é
um exemplo vivo entre tantos. O filósofo Schopenhauer em um dos seus "Ensaios" afirma
que "a constante ingestão de pensamentos alheios confina e abafa o nosso, e no decorrer
do tempo paralisa o nosso poder de pensar... A inclinação da maior parte dos estudiosos é
uma espécie de ventosa, por meio da qual um espírito pobre suga o pensamento dos
outros... É perigoso ler a respeito de um assunto sobre o qual nunca meditamos por nós
mesmos... Quando lemos, outra pessoa pensa por nós; meramente lhe repetimos o
processo mental. Quem passa o dia inteiro lendo, gradativamente perde a faculdade de
pensar..." Lembro-me daqueles pungentes versículos do Mundaka Upanishad:
"Mergulhados nas profundezas da ignorância e do erro, julgando-se sábios por
conceito próprio, grandes em sua imaginação, lá se vão os infelizes tropeçando a cada
passo no caminho, como cegos conduzidos por cegos".
Abramos os olhos. Pensemos. Deixemos de ser cegos. A nossa cegueira é voluntária,
por comodidade, Não façamos da Teosofia e da Soc. Teosófica outros tantos guias.
Aceitemos o testemunho daqueles que tiveram ou têm mais prática. Mas não nos limitemos
a ver com os olhos de Blavatsky, Leadbeater, Krishnamurti e fazer das suas opiniões
justamente aquilo contra o qual eles se bateram: um dogma. A Teosofia, a Sabedoria
Divina, deve ser viva, vivida e não aceita sem discussão. O nosso objetivo deve ser o de
demolir as prisões menores e não de construir um presídio maior.
Procuremos o caminho e cumpramos as nossas obrigações com a maior perfeição
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possível, sem nos preocuparmos com os resultados.
Desapaixonadamente. Desinteressadamente.

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