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VARIAÇÕES EM TORNO
DE
TEMAS TEOSÓFICOS
Coletânea de Conferências
Editorial Teosófica
Rio de Janeiro
1955
2
AO DR. BHAGAVAN DAS DEDICO
ESTE LIVRO COMO PREITO DE
SINCERA HOMENAGEM POR ME
HAVER APONTADO O CAMINHO
QUE CONDUZ AO REAL
3
VARIAÇÕES EM TORNO DE TEMAS TEOSÓFICOS
“Os arquivos do Passado"
Shelley
Uma outra imagem, desta vez geométrica, servirá para melhor fixação da ideia
de repouso absoluto num Cosmos transbordante de movimento.
É fato conhecido que podemos representar velocidades por vetores. A resultante
desses vetores é obtida pelo método do paralelogramo. Ex:
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Colocando-nos como observadores internamente ao sistema, como se fizessemos
parte dele, o movimento é incessante, ao passo que, externamente, o cubo nos
parece perfeitamente determinado em seu repouso. Aí estão os dois aspectos, a
qualidade emanada da unidade: Purusha-Prakriti, Movimento-Repouso, Energia-
Matéria, Bem-Mal, Luz-Sombra, dependendo unicamente do ponto de vista em que se
coloca o observador. A lei suprema no universo é a da unidade, de onde todas as
outras emanam como corolários. Essa Unidade, - Brahman, é simultaneamente
Purusha e Prakriti para os hindus. Os filósofos chineses Taoístas chamam Tao à Grande
Unidade; e aos seus dois aspectos yang e yin. Lao-Tse assim se expressava a respeito:
"A origem do universo é um problema que desafia a mente e a linguagem do
homem. Tentarei contar-vos aproximadamente como ela ocorreu. O grande yin esta
majestosamente silencioso e o grande yang impressionantemente ativo. Um
imponente silêncio vem do céu, uma notável atividade provém da Terra. Quando os
dois se encontram e fundem, todas as coisas são formadas. Alguns podem ver a
junção, mas não veem as formas. O crescimento alterna-se com a decadência, a
plenitude com a exaustão, as trevas com a luz. A cada dia que passa as coisas mudam,
e em cada mês são transformadas. Vedes o que está ocorrendo diariamente e
observais que a mudança é imperceptível. A vida provém de uma origem, e a morte
nada mais é do que o retorno a ela. Assim, ao começo, segue-se o fim em um contínuo
ciclo infindável. Portanto, sem o Tao, qual seria o princípio gerador que uniria o
Todo?"
Daí decorre que o aspecto dual nasce da contemplação da unidade. A eterna raiz
comum a todas as coisas e que as congrega ao grande Todo, jaz sob a enganosa
diversidade da natureza. A separação é irreal, aparente, pois não há no Cosmos
sistemas estanques. Tudo é inter-relacionado de um modo perfeito. A imagem de uma
grande e frondosa árvore com múltiplas raízes mergulhadas em todas as direções no
seio da mãe terra, com o tronco único do qual nascem vários ramos que sustentam as
mais delicadas folhas, dá uma ideia aproximada do Universo. A mais humilde folha,
isoladamente observada, constitui um sistema separado. Esse sistema isolado faz
parte de um outro de ordem superior (o galho) que por sua vez junto com todos os
outros galhos provém de um tronco único profundamente enraizado. Como vemos, na
árvore como no Cosmos, a integração progressiva de sistemas se verifica. Da folha
chega-se à majestosa árvore; com o elétron edifica-se o Universo.
A relação do homem para o Todo foi magistralmente fixada por Spinosa no trecho
que se segue:
"Imaginemos, com vossa permissão, um pequeno verme vivendo no sangue, mas
apto a distinguir pela visão as partículas desse sangue, a linfa, etc., e a raciocinar sobre
a maneira pela qual cada partícula ao encontrar outra partícula, a repele ou lhe
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comunica uma parte do seu próprio movimento. Este pequeno verme viveria no
sangue da mesma forma que nós vivemos nesta parte do Universo. e consideraria cada
partícula sanguínea não como uma parte, mas como um todo".
Acabamos de analisar o que somos, e o que são os objetos que nos rodeiam;
passemos, portanto, a cogitar do modo pelo qual se relacionam no espaço a no tempo
esses objetos e pessoas.
Como já referimos, cada objeto animado ou inanimado é um campo energético
espaço-temporal. A ação desses campos verifica-se em torno deles e em todos os
sentidos de forma análoga ao magnetismo em relação a um ímã, ou à atração
gravitacional de um corpo celeste. Cada objeto possui, portanto, dentro de certas
características, um campo similar ao da gravidade. Temos a considerar que todo objeto,
além da sua tônica que é a constante gravitacional, emite uma série de vibrações
produzidas pelas modificações do seu campo, e que estão constantemente ocorrendo,
quer por causas internas quer por ações externas. Essas vibrações ou radiações são
perturbações periódicas no espaço e no tempo caracterizadas por:
1) Comprimento de onda;
2) Frequência;
3) Velocidade de propagação;
4) Intensidade.
Comprimento de onda é, por definição, a distância que medeia entre dois pontos
simétricos. A ciência vem estudando e classificando as radiações de acordo com os
respectivos comprimentos de onda, agrupando-os num conjunto denominado espectro
eletromagnético. O espectro é dividido em zonas congnominadas respectivamente
Raios cósmicos, Raios X, Raios Gama. Raios Ultravioleta, Raios Luminosos, Raios
Infravermelhos e ondas hertzianas. Acima dessas, toda a série enorme de vibrações
verificadas em planos suprafísicos, como sejam: o pensamento, e as emoções, são
ignoradas.
A frequência, que é o número de variações na unidade de tempo, está
intimamente ligada à velocidade de propagação. Essa velocidade é função das
características do meio em que a radiação se manifesta. Para a ciência, a velocidade de
propagação das radiações eletromagnéticas no vácuo é admitida como sendo igual à
velocidade da luz, isto é, 300.000 km/seg. Essa constante é a pedra sobre a qual se
apoia todo o imponente edifício da física moderna. Velocidades superiores à da luz são
impossíveis, sob pena de desmoronar-se toda a física Einsteiniana de modo análogo à
física Newtoniana quando apareceu em cena a teoria da relatividade. Estamos nos
aproximando do dia em que serão reconhecidas radiações com velocidades superiores
à da luz. Nessa ocasião, os horizontes do conhecimento humano serão iluminados por
uma nova física de caráter, podemos dizer, cósmico. Essa nova física não invalidará a
física de Einstein, da mesma forma que esta última não invalidou a de Newton. Cada
uma dessas físicas terá validez dentro de certos limites, acima dos quais serão aplicados
os princípios e métodos da física de ordem superior.
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Falta-nos abordar, ligeiramente, o que seja Intensidade de uma vibração.
Intensidade ou "altura" é função da maior ou menor "ação" com que foi produzida essa
vibração e também, dos característicos do receptor que a sintoniza. Aproximemo-nos
de um piano e levemente calquemos uma tecla: o efeito dessa ação será a produção de
um som de baixa intensidade. Se gradualmente aumentarmos a força de percussão da
tecla, o som irá, paralelamente, aumentando de intensidade. Imaginemos que
continuamos no nosso hipotético piano a percutir a mesma nota cada vez com mais
força. O som aumentará progressivamente, causando ao nosso ouvido sensações cada
vez mais fortes. Quando o número de decibéis, - que é unidade física de intensidade
sonora, - atingir um determinado valor, a sensação sonora tornar-se-á dolorosa. O
tímpano do aparelho auditivo atinge nesse momento o máximo de vibrações que a sua
constituição morfológica lhe permite para responder às ondas que com ele se chocam.
É o ponto critico da audição. Após esse limite, a onda sonora de intensidade crescente,
irá tornando-se aos poucos num leve zumbido até atingir a inaudibilidade. Essa zona de
silêncio para nós, poderá constituir para um animal um som de intensidade fortíssima.
Resumindo. o comprimento de onda é a qualidade da radiação. Conforme esse
comprimento uma radiação será som, onda de rádio, etc. Fato a relembrar é que a
radiação não perde a sua qualidade quando a intensidade aumenta,
O homem, é um campo energético, espaço-temporal, que emite e recebe
vibrações. A emissão é feita através de palavras, emoções, e pensamentos. A recepção
pode ser consciente ou inconsciente. A recepção consciente verifica-se dentro da
estreita faixa dos chamados cinco sentidos; e a inconsciente através de todos os seus
veículos sutis sem interferência da percepção sensorial. Acima ou abaixo dessas
limitadas zonas sensoriais, o homem é cego, surdo-mudo, sem olfato, sem tato, da
mesma forma que um aparelho receptor de rádio de ondas longas permanece
insensível às vibrações emitidas pelas estações rádio difusoras de ondas curtas.
Examinemos agora o mecanismo dos fatos ocorrentes na natureza. Suponhamos
um "evento". Seja ele, uma palavra, um som, um gesto, um pensamento ou qualquer
outra manifestação. Qualquer evento ao "ocorrer" produz perturbações vibratórias no
meio em que primitivamente se originou. Essas vibrações propagam-se ao meio que as
produziu e, simultaneamente, "aprofundam-se" propagado-se em planos mais sutis.
Suponhamos uma nota sonora: à medida que a mesma se afasta em sua propagação no
plano físico, amortecendo-se gradativamente até se tornar inaudível, essa mesma nota está
se aprofundando e fazendo-se sentir no plano astral, constituído de matéria muito mais
sutil que o físico. Nesse novo plano a vibração propaga-se com maior facilidade, sendo
portanto a sua duração, consequente a um menor amortecimento, muito superior à do
plano físico. A manifestação continua em planos mais rarefeitos que o astral. O mecanismo
é sempre o mesmo: propagação, aprofundamento, e duração cada vez maiores, à medida
que o coeficiente de amortecimento diminui. Vemos que em um plano infinitamente sutil a
duração será infinitamente longa. Esquematicamente podemos representar o processo da
seguinte forma:
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Convém frisar que a velocidade com que uma vibração se "aprofunda" é quase
instantânea, e relembrar que todos os planos da natureza não estão superpostos, e sim
interpenetrados, daí as aspas que usamos na palavra "aprofundar".
A todos os outros eventos, quer sejam sons ideais, anseios, ou corpos, - que como já
vimos nada mais são do que formas vibratórias, ou concentrações energéticas, - o mesmo
raciocínio poderá ser aplicado. Qualquer "evento” tem raízes profundas que escapam à
percepção humana. São essas raízes que perduram indelevelmente durante os períodos de
manifestação cósmica. Um outro esquema servirá para melhor fixarmos as ideias.
Imaginemos uma região montanhosa em que existam desde picos os mais altos até às mais
humildes elevações, e que um súbito dilúvio, inundando planícies e vales, só deixasse à luz
do solos mais elevados picos das serras. Um observador que presenciasse, perplexo, o
cataclisma, postado em uma das elevações, verificaria que aquela vasta região constituindo
primitivamente um só todo, havia mudado de aspecto, apresentando apenas uma série de
ilhas dispersas no seio da massa líquida. Essa a situação do homem: sentimo-nos como
ilhas. completamente isolados dos nossos semelhantes, desconhecendo que abaixo da linha
das águas todos somos um no grande todo que é a base, a raiz da manifestação.
Nesta base é que se acham registrados os anais, ou arquivos do passado. A eles têm
acesso somente os seres que podem "ver" e interpretar essas raízes perenes,
reconstituindo, desse modo, o passado.
Vejamos para terminar a maneira pela qual se processam as relações espaço-
temporais do homem com as entidades que o cercam, a fim de formularmos uma teoria
sobre o processo pelo qual o homem tem acesso a esses anais.
Já vimos que cada entidade é um conjunto energético com características próprias ao
sistema do qual faz parte. Uma entidade, isoladamente considerada, é um Universo
resultante da soma de um número infinito de universos de ordem inferior. É pois infinito o
número de universos dentro do Universo. Nesta sala existe, neste instante, um número
incalculável deles. Eu, vocês, todos esses objetos visíveis, bem como os invisíveis aos
nossos sentidos, aqui se encontram momentaneamente reunidos. E cada um deles,
isoladamente, é e resultado da integração de electrons, átomos e moléculas aglutinando-se
em torno de um centro polarizador. Esse centro polanizador é uma espécie de baricentro
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energético. Além desses, muitos outros nomes têm sido dados a essa essência divina da
alma: ápice, base, centelha, fogo, luz interna. Não importa o nome; o que importa é termos
consciência da existência desse fogo aglutinador que existe no âmago de todas as coisas.
As entidades quer sejam homens, animais ou vegetais, movimentam-se e vivem em
função dos quadros de referência que lhes são peculiares. Para os homens esses quadros
de referência são de quatro dimensões. Três espaciais: comprimento, largura e altura,
(x, y, z) e uma temporal: o tempo (t). Além dessas dimensões externas existem
"dimensões internas" que se vão revelando à medida que o indivíduo evolui, tornando-
o sensível a regiões muito acima do plano físico. Os "sentidos", nesses planos, são
completamente diferentes daqueles de que comumente somos dotados. A "visão
interna" proporciona concepções radicalmente afastadas das que provêm dos nossos
órgãos sensoriais. Homem verdadeiramente consciente é então aquele que passa a
viver em regiões de muito maior número de dimensões.
Em uma das "slokas" do Bhagavad-Gita as palavras do Divino-Instrutor (Krishna) ao
seu discípulo Arjuna, são as seguintes:
"O que é obscuro para o comum dos mortais, é claro para o Mestre; e o que é claro
para o homem comum, não passa de espessa treva para o Mestre".
A maioria da humanidade, especialmente os ocidentais, vivem cegos às belezas
desses espaços interiores, apegados que estão ao utilitarismo da vida atual de fundo
eminentemente objetivo e entorpecedor. Esse dinamismo, a luta pela existência, é o
maior entrave à descoberta do portal onde tem início a senda que nos conduz ao "reino
dos céus" que todos inconscientemente possuímos dentro de nós mesmos. Os outros
obstáculos mascaradores são os que Francis Bacon chamou de Ídolos. Esses ídolos ele
os classificou em quatro espécies a saber: Ídolos de tribo, gerados pela corrupção da
inteligência que com a sua mania de generalizar pretende explicar a natureza em
termos de atividade humana. Ídolos de caverna, os preconceitos individuais, e de
educação que terminam enredando o homem, quase o sufocando, mantendo-o cativo
como se preso estivesse em uma caverna. Ídolos de praça pública, os impedimentos
por nós mesmos criados pelo exagerado valor que damos às palavras. Por fim Bacon
cita os ídolos do Teatro, que no meu entender são os de pior espécie. Esses ídolos são
os argumentos das autoridades. Bacon cita como principais tiranos a Aristóteles que ele
chama "o pior dos sofistas"; e Platão "esse teólogo entusiasta, e poeta cheio de
ênfase". Esses ídolos são, em resumo, os tabus e fórmulas pré-estabelecidas que
amedrontam e acorrentam o homem, impedindo-o ou dificultando-o de descobrir por
si próprio o caminho da libertação. Caminho tão curto na aparência: O Portal, como a
meta, estão dentro de nós próprios. Mas que abismos insondáveis se nos afigura
conter essa região interna quando timidamente ensaiamos os primeiros passos
vacilantes em direção ao âmago do nosso próprio ser! Nessa ocasião voltamos a ser
novamente crianças. Recém-nascidos um mundo espiritual, temos que nos submeter
ao aprendizado que diz: “Quando o discípulo está pronto o Mestre aprece”; pois nessa
ocasião o Mestre, o Instrutor Divino, o Cristo, manifesta-se no mais íntimo do nosso
ser, como uma Presença, ou uma voz – como dizia Sócrates, - saturando-nos
inteiramente, amparando-nos, dirigindo·nos em nossa peregrinação. Temos então
conhecimento de que tal presença sempre existiu mas, oculta pelas nossas limitações,
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te esse momento a ignorávamos.
O professor Melo e Souza em uma de suas obras cita um exemplo que serve para
demonstrar a situação de incapacidade de apreensão em que o homem se encontra
antes de chegar a ocasião do seu nascimento espiritual
Supunhamos que em uma linha reta vivam seres conscientes. Para eles o seu
universo seria uni-dimensional. Poderiam movimentar-se livremente num ou noutro
sentido compreendendo perfeitamente esse estado de coisas. Um círculo, ou outra
figura geométrica plana, parecer-lhes-ia inconcebível. Analogamente aos "planianos", -
seres hipotéticos que habitariam no plano, só conhecendo duas dimensões, - uma
apenas, seria aberração. O mesmo acontece à maior parte da nossa humanidade que
vive dentro de três dimensões espaciais e uma temporal, completamente cega para
essas regiões que tem dentro de si mesma e onde terá de mergulhar para atingir os
arquivos do passado.
Poderíamos continuar a tecer variações em torno do nosso tema, mas de que
serviria? Vêm-nos novamente à memória os conceitos de Lao-Tseu, Chuang-Tse, e
Buda, sobre a futilidade das palavras. Lembro o silêncio de Cristo à pergunta de Pilatos,
recusando-se a definir o indefinível. Prefiro, portanto terminar, contando-vos uma
passagem citada por Radakrishnam em um dos seus livros. Certo dia perguntaram a um
yogi em profunda meditação qual a natureza de Deus. O tempo passava e o mesmo
continuava imperturbável. Insistiram diversas vezes na pergunta até que o santo
homem, quebrando o seu mutismo respondeu: "Como posso eu definir o Absoluto, se
ele é Silêncio"? e após essa breve interrupção, continuou sua meditação mais imóvel do
que nunca.
O mesmo posso dizer-vos. Não adianta ao homem papaguear, pois a verdadeira
realidade é inexpressável por palavras. Não temos em nossa linguagem elementos
para descrevê-la. É um fato que cada um deve sentir na quietude do seu próprio
coração. É SILÊNCIO.
Para que falar mais então?
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O HOMEM PERANTE O UNIVERSO
Forma: lenticular.
Diâmetro: 100.000 anos-luz.
Espessura aproximada: 5000 à 10000 anos-luz.
N° de estrelas: 50 bilhões.
Não há mais dúvida. É ela enfim! Mas e agora? Como encontrar dentre os seus 50
bilhões de estrelas, uma que se chama Sol em torno da qual gravitam 10 partículas
infinitesimais? E ainda mais, como identificarmos uma das menores partículas.
chamada Terra, sobre a qual poderemos encontrar esses seres infinitesimais de 20a
ordem; essa espécie tão insensata que tem a coragem de se intitular, - imaginem o
que, e explodam em uma cósmica gargalhada que atingindo a todas as nebulosas. e
estrelas as faça entrar em ressonância. - "OS REIS DA CRIAÇÃO"...
Precisamos agora de telescópio ainda mais acurado para encontrar o Sol dentro
de 50 bilhões de estrelas. Oh luta infinda até depararmos com uma que,
aparentemente, é aquela que buscamos. Meçamo-la com todo o cuidado. Se por
acaso não for esta, o que fazer? Uma decepção a mais ou a menos não fará diferença!
Anotemos os dados colhidos:
Observemos porém que essa estrela não é fixa, girando em torno de uma outra
chamada Sagitário que por sua vez também se move. A duração da sua translação é
de 200 milhões de anos, sendo de 30.000 anos luz o raio de sua órbita.
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Finalmente! É indubitável que essa estrela que examinamos é o Sol. Agora é só
descobrir dentre os seus planetas a Terra, e pronto: o grande voo imaginário estará
terminado. Mas ó azar dos azares, nada vemos! Aonde é que eles estarão?
Subitamente notamos que em nosso desespero tinham os esquecido de ajustar
devidamente o aparelho. Remediando o esquecimento, focalizamo-lo rapidamente.
Agora, finalmente, distinguem-se claramente 10 minúsculas partículas a girar em
redor do Sol. Analisemos esta que teimosamente foge da centragem em nosso
retículo. Será a Terra? Compilemos cuidadosamente os seus elementos:
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A ARTE MODERNA À LUZ DA TEOSOFIA
Cumpro agora uma promessa feita a vários irmãos por ocasião do último
congresso de Teosofia realizado em Belo Horizonte e, simultaneamente, pago também
uma dívida a mim mesmo ao abordar este tema. Sei que o caminho a trilhar é áspero e
controvertido, sobre ele rugindo ao máximo a tempestade das paixões humanas. Mas
que importa, se a iluminá-lo levo o seguinte pensamento de Gautama Buda:
"Não aceites aquilo que é irrazoável, mas não te descartes de nada que te pareça
irrazoável sem o devido exame".
No brilho e profundeza dessas palavras, no seu sentido esotérico, encontrar-se-á
a resposta ao enigma que a tantos atormenta.
Ao iniciar o percurso deste tema vou ouvindo frases soltas como estas:
- Olhem que coisa pavorosa! Como as figuras estão deformadas! Como é possível
fugir-se do real e da beleza de maneira tão espantosa, tão sádica, até cristalizá-los
nessas figuras sem nexo!
Ou então com todo o dogmatismo:
- A arte moderna é a negação da beleza. É o fruto de espíritos mórbidos e
decadentes, que tentam por meio do inédito, pelo desejo de brilhar e ganhar dinheiro,
oportunidade de dar vazão às suas mentes malformadas, nada mais conseguindo do
que produzir aleijões que são verdadeiras aberrações doentias!
Aos poucos o alarido cresce de tal forma, que não percebemos mais frases
completas; entretanto ainda podemos registrar expressões desconexas:
Loucos. Snobes. Pedantes. Cabotinos. Artes negras. Magia negra. Representações
astrais, etc, etc.
Pouco depois o clamor é tão grande, que mesmo se pudéssemos compreender as
frases, para repeti-las, teríamos trabalho equivalente ao de copiar um dicionário
completo.
Mas como em tudo na vida, existe uma parte que intransigentemente as defende,
mesmo que para tal tenham que demolir todo o existente. Não citaremos argumentos
de defesa ou ataque, pois meus amigos, no decurso desta despretensiosa conversa, não
nos move a finalidade de defender ou atacar o que quer que seja, - é bom frisar, - nosso
único objetivo é harmonizar, mostrando que a Verdade pode ser encontrada em qualquer
dos campos.
Shakespeare sentiu bem essa presença do bem no seio do mal aparente, ao fazer um
dos personagens da sua obra, Henrique V dizer:
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compreensão global, afastada de todas as paixões pessoais, abrangendo e purificando
todos os aspectos, a fim de conseguirmos a mais difícil das compreensões. - a de
sentirmos a unidade na diversidade. Caso contrário, apesar de nos intitularmos tais, não
seremos realmente teósofos. Sei que nada é mais difícil do que compreender e aceitar
tudo, mesmo o que a nosso ver pareça estar contra os princípios que adotamos; mas,
amigos, é a única forma de, mediante esses aspectos paradoxalmente diversos, formar a
maravilhosa síntese do Uno, que está acima de todas as paixões e controvérsias.
Mais uma vez eu vos lembro a máxima de Sócrates:
"Só sei uma coisa: é que, realmente, nada sei". Dela fazendo tema de meditação
tornar-se-á singularmente confortadora e calmante dos nossos exaltados sentimentos.
Vemos, por essa razão, que ninguém tem o direito de rejeitar o quer que seja pelo simples
motivo da não compreender. Se em última analise nada sei, como poderei repelir o que não
sei ou não alcanço? Esta a nossa resposta às interrogativas mentais neste particular.
Lembramo-nos de que qualquer manifestação, aparentemente boa ou má, de acordo com
este quadro de referência, tem uma realidade intrínseca que muitas vezes supera o nosso
alcance, intimamente relacionado que está com as matérias cerebrais mais densas.
Recordemo-nos de que os instrumentos musicais têm limites para a vibração que os
sensibiliza, e não podem ultrapassá-los em virtude da sua própria natureza constitutiva.
Convém notar que ao falar em vibrações, estou extrapolando para atingir a qualquer tipo
de radiação, inclusive as dos planos em que a matéria é menos densa. Entre estas
agrupamos as emoções, os desejos, os pensamentos concretos e abstratos e a intuição.
Sabemos que os sentidos, em outros planos além do físico, são completamente diferentes,
sendo logicamente condicionados ao tipo de matéria cujas vibrações os fazem entrar em
ressonância. Logo, em um deles, um fato ou coisa tem uma realidade com "r" minúsculo
completamente diferente do que nos parece o real no plano físico. A Realidade (com R
maiúsculo) total, é a soma dessas infinitas realidades parciais a que costumamos nos
aferrar, considerando-as como totais, aí se originando a causa de todas as disputas. Por
essa razão, para termos o conhecimento global do que "é", não podemos em absoluto fixar-
nos em um ponto de vista estreitamente pessoal ou unilateral, função apenas da nossa
consciência, ponto de vista coado e matizado por essa lente deformadora que é nossa
mente. Lembremo-nos de que a validade das leis físicas é muito mais ampla do que
geralmente se admite.
Passemos a um exemplo esclarecedor: As leis da ética sobre a reflexão, refração e
polarização são também aplicáveis a mundos de matérias infinitamente menos densas do
que a física. Aquilo que nos parece mau, antiestético, dissonante ou irracional.
correspondente a qualquer dos inumeráveis aspectos relativos que por pura convenção
consideramos negativos, em virtude única e exclusivamente do "condicionamento" ao qual
fomos submetidos desde o berço pela ação coercitiva do meio, é a imagem formada na
mente após as deformações produzidas pelas refrações, reflexões e polarizações, oriundas
das matérias astral, mental e búdica que constituem o nosso envoltório limitador. Um
exemplo de ordem física permitirá melhor compreensão do que se passa. A maioria das
pessoa, se observarem distraidamente o céu, - pequeno em verdade é o número daquelas
que se preocupam realmente em cogitações distanciadas da "terra a terra", - julgam que a
posição real de uma estrela é efetivamente aquela em que a estão vendo; entretanto
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sabemos que em virtude das modificações introduzidas pela atmosfera e pela atração de
grandes massas no percurso dos raios que unem o ponto luminoso situado na abóbada
celeste ao olho do observador, a posição real da estrela é muito diferente da que temos
como certa. A trajetória dos raios luminosos em absoluto não segue a reta nessas
distâncias, e sim linhas de "menor resistência" se me permitem dizê-lo. Qual será, portanto,
a realidade: a aparente reta dos raios luminosos que aos olhos nos fornece a errônea
impressão da posição da estrela, ou a curva que é, efetivamente, a trajetória real?
Prossigamos a nossa digressão a respeito do real Peçamos auxílio à matemática e à
geometria para orientação do nosso raciocínio. Vivemos em um espaço tridimensional; não
temos a menor dificuldade em compreender o que seja altura, largura e profundidade.
Facilmente poderemos memorizar um cubo ou uma esfera, pois temos conhecimento
imediato desses sólidos. Entretanto, sabemos que existe o espaço de quatro dimensões.
Não é um fato evidente e provado matematicamente? Os nossos planos astral, mental etc.
nada mais são do que espaços com número de dimensões superior a três. Nessas regiões
existem formas vibratórias as mais diversas, tão reais quanto os nossos cubos e esferas.
Não temos o direito de negar aquilo que está matematicamente provado. O hipercubo, um
dos sólidos de quatro dimensões, é tão real quanto o nosso humilde cubo de 3 dimensões.
Passemos a examinar agora as bases em que se apoia a geometria da nossa vida comum.
A geometria euclidiana baseia-se numa série de postulados entre os quais citamos:
1) De um ponto a outro só se pode traçar uma reta.
2) Dada uma reta é sempre possível prolongá-la em um sentido ou no outro.
3) De um ponto dado com um raio qualquer podemos descrever um círculo,
4) Todos os ângulos retos são iguais.
Não são afirmativas essas diretas, claras e intuitivas?
Pois, tais postulados, aparentemente tão límpidos e fundamentais, tão ('reais", podem
ser refutado, rebatido e logicamente provar-se a sua não validade. As geometrias de
Bernhard Riemann e Nicolau Lobatchevski são duas entre as muitas que provam
logicamente a não validade dos tão simples e "reais" postulados euclidianos.
Vejamos por exemplo o seguinte enunciado de Euclides:
1) Dada uma reta R e um ponto P, do ponto P só pode tirar-se uma reta que não
encontre a reta R. É a paralela a essa reta.
A geometria baseada nos postulados de Lobatchevski anula esse 1º enunciado
euclidiano provando:
2) Do ponto P pode-se tirar uma infinidade de retas que não encontrem a reta R.
Ao passo que a geometria de Riemann prova logicamente a falsidade das geometrias
Euclidiana e Lobatchevskiana comprovando matematicamente e logicamente que:
3) Do ponto P não se pode traçar nenhuma reta que não encontre R em algum ponto.
Em que ficamos?
Afinal, qual a geometria verdadeira - deveis estar perguntando? A resposta que vos
posso dar, é dada por Poincaré e citada em um dos livros do matemático brasileiro Prof.
Mello e Souza:
"Esta pergunta logicamente não tem razão de existir. É como perguntássemos qual o
verdadeiro, se o centímetro ou a polegada; se os graus Reaumur ou os de Celsius, ou
Farenheit: ou se as coordenadas polares ou as cartesianas... Logicamente as geometrias são
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apenas quadros formais. Elas podem ou não oferecer aos fenômenos do mundo físico sem
que por isso diminua a coerência a lógica e a legitimidade delas no corpo de ciência da
matemática pura.
A maior ou menor adequação ao fenômeno servirá ao físico ou ao geômetra prático
como critério de escolha.
Já vimos que Einstein escolheu em casos determinados a geometria de Riemann para a
interpretação de fenômenos de física matemática".
Como vedes os fatos mais intuitivos e aceitos como reais são relativos. Portanto, com
que direito rejeitarmos qualquer manifestação artística somente pelo único fato de não
concebermos como reais o que aqueles sons ou formas querem expressar? Porque são
irracionais, porque fogem à natureza, porque não têm beleza - será certamente a refutação.
Amigos, a racionalidade e a beleza, quando observadas isolada e profundamente, são
valores relativos. Quereis a prova? Sereis capazes de ler e achar beleza em um tratado de
matemática transcendente, ou de encontrar beleza e vibração num poema em sânscrito?
Não. Logicamente não. E porque? Porque não temos o necessário conhecimento da
matemática ou dessa língua. Entretanto a beleza neles existe e poderá ser percebida por
aqueles que tiverem o cabedal necessário para tanto. Ouço já a pergunta pairando no ar: -
A arte, em suas manifestações, deve estar ao alcance de todos, ser intuitiva como a beleza
de uma rosa ou o sorriso de uma criança. Concordo plenamente; justa mente essa
acessibilidade que nos arrebata e nos faz sentir as mais puras emoções, quando vemos ou
ouvimos qualquer criação artística. Entretanto volto mais uma vez ao assunto: qual o
direito que nos assiste de não admitir as criações daqueles que estão muito abaixo ou
muito acima de nós na escala evolutiva? Talvez as formas abstratas e os ásperos tons
musicais que repudiamos superem a nossa compreensão.
Quero apresentar um pequeno exemplo para esclarecer como o mesmo fato ou coisa
pode ter infinitas representações, dependendo apenas do ponto de vista em que o
consideramos: Suponhamos para melhor representação mental, um sólido geométrico dos
mais conhecidos: o cone. Observais agora, nas figuras que se seguem, seis dos infinitos
aspectos sob os quais podemos representá-lo:
"OH, AMITAYA! NÃO MEÇAS POR PALAVRAS O IMENSURÁ VEL, NEM MERGULHES A
CORDA DO TEU PENSAMENTO NO INSONDÁVEL. O QUE PERGUNTA ERRA. O QUE
CONTESTA ERRA. NÃO DIGAS NADA.”
32
A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO SOBRE A PERSONALIDADE
41
MEUS AMIGOS
42
é claramente expressa:
Continuo a refletir sobre -, esta enfatuada humanidade que pode ser contida em
um cubo de 750 m de aresta e que pulula enjaulada na superfície de um planeta de
6.378 m; de raio, que gravita como os seus irmãos em torno de uma estrela 100 vezes
maior denominada Sol: O próprio magnificente Sol que é o centro vivificante do nosso
sistema, já é uma estrela em fase de decadência, pertencente a um sistema de ordem
superior denominado Galáxia da Via Láctea, sendo uma dentre os 40 bilhões de estrelas
que a compõe. A imensamente grande Via láctea quase se aniquila quando pensamos
nos últimos resultados das pesquisas efetuadas pelo observatório de Mount Palomar,
demonstrando que existem no Universo 500 trilhões de Galáxias semelhantes à Via
láctea, distanciadas umas das outras em média, 1.5 milhões de anos-luz! Todas essas
Galáxias acham-se contidas em uma inconcebível super esfera em expansão, de
diâmetro equivalente à distância que um raio de luz que se desloca no espaço com a
inconcebível velocidade de 300 mil quilômetros por segundo, percorreria se viajasse
sem parar durante 6 trilhões de anos.
Julgo que a meditação sobre esses dados e o fatal confronto com as nossas
limitações constituem a melhor lição de humildade que nos seja dado a aprender.
O que é o Homem afinal? Quando nos julgamos através dos órgãos dos sentidos, o
fantasioso véu da nossa concepção faz-nos crer que somos concretos e perfeitamente
caracterizados no tempo e no espaço. Entretanto, nós, como tudo que nos cerca neste
imenso Cosmos, nada mais somos do que formas especiais de radiação. A matéria é
uma ilusão! Platão no século 3 a. C. já afirmava esse conceito quando dizia:
"As aparências são ilusórias; as Ideias, isto é, nossas abstrações baseadas nas
aparências de que nos recordamos, é que são verdadeiras.”
No Surungama Sutra, livro que expõe os fundamentos filosóficos do Budismo,
encontra-se um trecho em que o grande instrutor da humanidade, Siddharta Gautama,
que viveu no século 6 a. C., explica aos seus discípulos a verdadeira natureza da mente.
São suas as seguintes palavras:
"Ananda e todos vós meus discípulos! Sempre vos ensinei que todo o fenômeno e
seu desenvolvimento são uma simples manifestação da mente. Todas as causas e
efeitos, desde os imensos universos até ao pó finíssimo, apenas visível com a luz do Sol,
só chegam à existência aparente, devido à mente de distinção. Se examinarmos a
origem de qualquer coisa no Universo, achamos que não é mais do que a manifestação
de alguma essência original. Até nas tenras folhas das árvores, ou em qualquer coisa
que se examine cuidadosamente, se verifica que ali existe alguma essência em estado
43
primitivo. Tão pouco o imenso espaço é um "nada". Como é possível então que a
formosa mente pura, tranquila e iluminada pela origem de todas as concepções, não
tenha a Essência em si mesma?”
O Taoismo que é talvez a mais antiga religião chinesa, explica em sua forma
científica que um primeiro princípio, único, primariamente concentrado e inativo,
denominado "TAO", engendrou o céu, a terra e o ar, que constituem a Santíssima
Trindade, de onde provém todos os seres. O TAO habita em tudo, não pensa e sim é
pensado, não quer, mas é a lei. Todo ser dele emanado contém uma alma participante
do princípio universal.
Deparamos na Bíblia a reafirmação dessa verdade, na primeira epístola de São
Paulo aos Coríntios no capítulo 8, versículo 6 que diz:
"Todavia para nós há um só Deus, o Pai que é de tudo, para quem nós vivemos; e
um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas e nós por Ele".
Na Índia, o conceito expedido por São Paulo, Buda, Lao-Tsé, e Platão, transcritos
anteriormente, é encontrado em um antiquíssimo texto sânscrito que se chama
Chandogya Upanishad: nele se encontra a belíssima parábola dialogada que reproduzo
a seguir:
"Quando Svetaketú tinha doze anos, foi encaminhado a um mestre com o qual
estudou até completar vinte e quatro, Depois de aprender todos os Vedas, regressou
ao lar cheio de presunção e críticas, crente de que possuía uma educação completa,
Seu pai perguntou-lhe então:
- Svetaketú meu filho, tu que está tão cheio de ciência e críticas terás o
conhecimento pelo qual ouvimos o inaudível, vemos o que não se pode perceber, e
sabemos o que não se pede saber?
- Qual é esse conhecimento? Perguntou Svetaketú.
Seu pai respondeu: É o conhecimento que uma vez adquirido, nos permite tudo
saber. E que quando contemplamos um torrão de argila. Faz-nos sentir que tudo é feito
de argila, pois a diferença é só no nome, meu filho.
Mas sem dúvida os meus veneráveis mestres ignoram esse conhecimento, pois se
o possuíssem me o teriam comunicado, revelai-me-o, pois, meu pai.
- Assim seja, disse o pai. Traz-me um fruto da árvore do nyagroda.
- Aqui está, pai.
- Parte-o
- Está partido pai.
- Que vês, aí?
- Umas pequeníssimas sementes.
- Parte uma.
- Já a parti
- Que vês agora?
- Nada.
Pois meu filho, nessa essência sutil que não podes aí perceber, mas que existe,
está o ser da enorme árvore do nyagroda. Nessa sutil essência tudo que existe tem o
seu EU. ISSO é o verdadeiro, ISSO, é o eu, e tu meu querido filho, és ISSO também..."
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Nesse maravilhoso diálogo escrito séculos antes de Cristo, como em todos os
outros já citados, prenunciam-se em toda pujança fatos que somente no século atual a
ciência conseguiu comprovar.
Para a ciência exata é a ENERGIA essa essência sutil que tudo interpenetra: para
nós, teosofistas, ela representa DEUS com os seus atributos de onipotência onisciência
e onipresença. Entretanto Essência sutil. Energia ou Deus, qualquer que seja o nome.
que se lhe dê, são denominações humanas. Na realidade esse fator que se transforma
incessantemente não pode ter nenhuma representação mental quanto à sua origem e
fim. As sábias palavras de Krishna a Arjuna encontradas no Bhagavad Gita iluminam
perfeitamente esse ponto,
"Aquele que me conhece sem nascimento e sem princípio, como o Supremo
Senhor do Universo, é o que entre os mortais estará livre de todos os erros e faltas."
Deus ou energia manifesta-se em vários estados que a ciência denominou
mecânicos, térmicos, luminosos, elétricos, magnéticos, químicos, gravitacionais ou
radiantes, que são fundamentalmente a mesma coisa. Coube a Albert Einstein a glória
de poder formular em Dezembro de 1949 a nova teoria do campo unificado, uma
generalização da teoria da gravitação, de sua autoria, conseguindo abarcar, por
intermédio de quatro equações matemáticas, todos os estados da manifestação divina
acima mencionados, em um só todo.
A matéria física que era dogmaticamente considerada como uma substância
extensa e impenetrável capaz de receber toda espécie de formas, às quais as inflexíveis
leis de Newton eram aplicadas, passou a ser considerada como resultando de uma
concentração de energia. Sendo a matéria energia concentrada, que através de nossos
órgãos sensoriais produz representações mentais de rigidez, delimitação espacial e
temporal, decorre, na realidade, de regiões do espaço onde a concentração de energia
atingiu, por um procedimento desconhecido, um grau determinado que permite,
através de radiações características emitidas, a sensibilização dos nossos órgãos.
Encontramos no filósofo chinês Su-Tungpo que viveu no século X da nossa era,
um pequeno conto em que está perfeitamente demonstrado o papel ilusório dos
nossos sentidos no julgamento da verdade. Preferimos, para não perder-lhe o sabor,
transcrevê-lo inteiramente:
"Era uma vez um cego de nascença que nunca tinha visto o Sol e que costumava
pedir aos que o podiam ver, que lhe dissessem como é que o mesmo era. Alguém lhe
disse: O Sol tem a forma de uma bandeia de latão. O cego bateu na bandeia e ouviu-a
ressoar e mais tarde ao ouvir um sino ao longe pensou que era o Sol que estivesse
tocando. Aí uma outra pessoa penalizada com a sua confusão informou-o: A luz do Sol
é como uma vela. O pobre homem pegou então em uma vela. ficando com a impressão
de que o Sol tivesse aquela forma. Tempos depois ao tocar em uma chave imaginou
que estivesse pegando no Sol. Ora o Sol é diferente dos sinos e das chaves. mas o cego
não pode perceber a diferença porque nunca o vira. A verdade ainda é mais difícil de
perceber do que o Sol, e quando alguém não sabe o que é a verdade, fica exatamente
como o pobre cego de nascença. Mesmo que alguém se esforce ao máximo para
explicar com exemplos e analogias, não o elucidará mais do que no caso da vela e da
bandeja de latão. Porque, aquilo que se diz da bandeja se deduz quanto ao sino, e o
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que se diz sobre uma vela, imagina-se na chave. E assim cada vez mais se distancia uma
pessoa da verdade, porque aqueles que falam sobre ela quase sempre lhe dão um
nome de acordo com aquilo que ela lhes pareça ser, ou então sem a estarem vendo
imaginam que ela seja desta ou daquela maneira. E tudo são enganos, cometidos pelas
pessoas no esforço para compreender a Verdade."
Continuemos porém a nossa explanação sobre a Energia. Já tive oportunidade de
falar a respeito das perturbações ondulatórias ou radiações, características da
manifestação energética. Essas perturbações são identificadas pelo comprimento de
onda e velocidade de propagação e participando do conhecimento científico as que se
compreendem entre os cumprimentos de onda de 10-1² em. (raios cósmicos) e 30 km
(ondas hertzianas). Em qualquer instante da nossa vida, estamos rodeados e
transpassados por ondas as mais diversas que exercem variadíssimas influências sobre
o organismo humano. Antes de lhes estudarmos mais detalhadamente a ação, convém
refletir sobre o que somos em última análise. A matéria física que constitui o nosso
corpo denso é formada de um número inconcebível de células dos tipos mais diversos.
Essas células são o resultado da aglomeração dos átomos de diferentes elementos
químicos em proporções determinadas. Esses átomos são por sua vez edificados por
partículas menores denominadas cientificamente elétrons, pósitrons, prótons.
nêutrons, mesons, que são realmente a pedra fundamental de todas as coisas. As
partículas subatômicas estão dotadas de massa e possuem cargas elétricas de sinal
positivo ou negativo, exceto o nêutron cuja carga é nula, sendo considerado entretanto
como a resultante da conjugação de duas partículas de sinais contrários. Chega a
Ciência atual à comprovação do que já no século II a. C. o filósofo chinês Huainan-tsé que
foi um dos intérpretes de Lao-tsé, ensinava: que da Causa Primeira (Tao) originaram-se
o princípio YIN que é Feminino e positivo, e o princípio YANG masculino e negativo,
provindo de sua interação todos os seres e coisas.
Os elementos químicos, desde o Hidrogênio até ao Urânio vão se diferenciando à
medida que aumenta o número de elétrons que gravitam em torno do núcleo central
atômico. Sendo a matéria física uma concentração energética ou divina, será
fatalmente sede de fenômenos oscilatórios. A pedrinha fundamental dos seres que
chamamos vivos, é a célula orgânica que pode perfeitamente ser assimilada, como
veremos a seguir, a um microscópico circuito oscilante, que sob a ação de radiações de
comprimento de onda determinados, entra em ressonância produzindo o conjunto de
oscilações que conhecemos como VIDA.
A moderna Ciência, por intermédio de pesquisadores como D'Arsonval, Beresdka,
Boutaric, Lakhcwiscky entre outros, vem se dedicando a estudos que prenunciam a
solução parcial do enigma. Após demoradas especulações e experiências de laboratório
já se pode afirmar que o núcleo desse sacrário que é a célula viva, é comparável à
micro-bobina de self, em virtude da sua constituição revelar que o mesmo é formado
por um filamento tubular, enrolado em espiral que se acha flutuando no interior do
protoplasma. Internamente esse tubo é cheio de uma substância orgânica altamente
condutora de eletricidade, ao passo que as suas paredes são de um composto isolante
denominado colesterina. A analogia é flagrante se compararmos esse microtubo com
uma dessas bobinas utilizadas nos domínios da eletrotécnica que se formam enrolando-
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se um fio isolado em várias espiras. Utilizando-se uma dessas bobinas, e submetendo-a
a um campo magnético variável, verifica-se que entre os terminais do enrolamento
aparece uma força electromotriz alternada, que dependerá entre outros fatores, do
comprimento da bobina, diâmetro do fio, período de variação do campo, etc. Sobre
esse princípio está baseada toda a técnica dos modernos geradores, motores, e
transformadores, que vieram causar uma verdadeira revolução na vida da humanidade.
Com o microcircuito oscilante que possuem as células vivas, o mesmo fato se
processa. Estando as mesmas sob a ação de um campo magnético terrestre conjugado
a uma série infinita de radiações, a variação desse campo induzirá na microbobina a
emissão de ondas de enorme frequência:
Experiências interessantíssimas vêm sendo efetuadas por M. Nodon comprovando
a radioatividade de vários organismos. Inicialmente, demonstrou que os insetos vivos
apresentam uma radioatividade equivalente de 3 a 15 vezes a do Urânio de mesma
massa. A seguir executou medições em plantas e animais mortos, chegando a
resultados que atestam ser o teor emissivo praticamente nulo, donde se conclui que a
radioatividade é um fenômeno característico da vida.
Quanto aos resultados obtidos na observação do Homem, o mais interessante é
dar a palavra ao próprio cientista, que afirma no seu trabalho "As radiações
ultrapenetrantes e o fenômeno da vida":
"Resulta de fatos precedentemente expostos que as células vitais do corpo
humano emitem elétrons provenientes de uma verdadeira radioatividade, sendo que a
sua intensidade parece muito mais considerável do que a emitida por insetos e
plantas."
Delineia-se portanto sob a fria luz da Ciência, a teosófica Senda que cada ser
inexoravelmente percorre à medida que o sopro vital o anima cada vez mais
intensamente em sua escalada para a perfeição!
Para a Teosofia são em número de sete os reinos da natureza que se escalonam,
harmoniosamente, desde os três primeiros que denominamos elementares até atingir
os reinos mineral, vegetal, animal e por fim o humano. Dentro de cada reino sentimos
que os elementos que o constituem desenvolvem-se continuamente imantados por um
ideal que é a força que os faz atingir o tipo de máxima perfeição nesse setor.
Geometrizaremos esses conceitos a fim de melhor podermos expressar o evolutivo.
Imaginemos que cada reino da natureza é um circulo de centro 0. A evolução de cada
indivíduo processar-se-á da periferia onde estão localizados os mais atrasados, para o
centro 0 que simboliza o arquétipo ou ponto em que a máxima perfeição é alcançada,
segundo uma trajetória radial em um tempo que depende única e exclusivamente do
próprio indivíduo. Essa trajetória é o que denominamos Senda, Caminho, Dever, ou
então, de um modo mais amplo, pela palavra DHARMA. Logo que o arquétipo é
atingido, o indivíduo em sua incessante peregrinação, integra-se no reino
imediatamente superior, indo ocupar a circunferência de um outro reino onde o
processo se repetirá, até que, alcançando o arquétipo animal, possa ingressar na esfera
humana, onde então obterá o prêmio dos seus esforços ao se transmutar em "Homem
perfeito”.
47
EVOLUÇÃO DOS REINOS DA NATUREZA
48
EVOLUÇÃO
"ESTUDO COMPARATIVO DOS CONCEITOS TEOSÓFICO E CIENTÍFICO
SOBRE O UNIVERSO"
MEUS AMIGOS
Secundo Huxley, a questão das questões para a humanidade, o problema que jaz
no fundo de todos os demais, e é mais profundamente interessante que nenhum
outro, é o de chegar à certeza do lugar que o homem ocupa na Natureza e das suas
verdadeiras relações com o universo das coisas.
Através dos tempos a concepção do Universo sofreu radicais transformações.
Para Thales a Terra era um disco plano e circular que flutuava no oceano. Ao passo
que Anaximandro afirmava: “a Terra é plana e centro do Universo; e o Sol é um
orifício da abobada celeste por onde vemos o fogo dos deuses". Enquanto que
Anaximenes, com convicção, sustentava que a superfície da Terra era plana, e as
estrelas eram alfinetes dourados incrustados no cristal do céu. Entretanto, nessas
épocas remotas, já Pitágoras ensinava aos seus discípulos que a Terra era esférica, e
girava em torno do Sol; e Aristarco de Samos no ano de 250 a. C. chegou a calcular de
maneira aproximada a distância a que se encontrava do Sol. Outros pensadores
gregos, entre os quais Filolau, Hiketas, Demócrito, estavam já no rastro das grandes
verdades universais, que somente foram enunciadas ao mundo em 1543 por Nicolau
Copérnico. Eram entretanto demasiado avançadas para a época em que viveram,
50
sendo ridicularizados os seus ensinamentos pela maioria da Humanidade que ainda
não se encontrava suficientemente desenvolvida para compreendê-los. A todos os
anteriores à Copérnico, como aos que o sucederam coube o papel doloroso de
pioneiros que à custa de esforço e sacrifício, romperam a selva da ignorância
preparando o caminho, por onde passariam os que hoje, continuando o
desbravamento, lutam por alargar os horizontes da humanidade!
Um dos maiores pesquisadores atuais, dessa primeira linha, é o astrônomo
americano Edwin Huble, do observatório de Mount Wilson. Para ele o Universo é
uma gigantesca esfera finita, com um diâmetro de aproximadamente 6 trilhões de
anos luz. Um raio de luz que se propaga com a fantástica velocidade de 300.000
km por segundo demoraria 6 trilhões de anos para percorrer o diâmetro do nosso
Universo! O número que represento essa distância em quilômetros é 5,7 seguido de uma
procissão de 24 zeros! Segundo a mesma autoridade, o número provável de nebulosa
iguais à nossa Via Láctea da qual o nosso sistema é parte integrante, existentes nessa
super- esfera, é de 500 bilhões. Ao fazer essa afirmação baseia-se em que o alcance do
telescópio de 2,54 m de diâmetro de lente, instalado no observatório de Mount Wilson,
atinge provavelmente somente 1% do Universo completo. Além disso calcula que a
distância media entre os 500 trilhões de nebulosas é de 1 milhão e meio de anos luz; e
que cada nebulosa contém a energia necessária para formar a matéria de bilhões de
estrelas, sendo entretanto a densidade média da matéria no espaço inconcebivelmente
pequena, da ordem de 10-30 gr. por cm3.
Em proporção toda a matéria contida no Universo pode ser comparada a um grão de
areia ocupando um volume equivalente ao da nossa Terra! O mais potente vácuo obtido
por nossos moderníssimos aparelhos é densísimo comparado com o vazio do Universo!
Estudando o deslocamento das raias dos espectros das nebulosas. Huble admite que
a esfera-Universo encontra-se em expansão com uma velocidade de 300 km por segundo.
Uma tosca imagem pode ser obtida imaginando-se um balão de borracha sobre o qual
estejam marcados vários pontos. A medida que começamos a enchê-lo, produz-se a
distensão provocando o aumento da distância entre esses pontos. Somente acontece que,
no caso do nosso Universo, o nosso balão teria 6 trilhões de anos luz de diâmetro e o
"Divino Sopro" o expande com uma velocidade de 300 quilômetros em cada segundo!
Reflitamos por instante sobre o quanto de razão assistia ao antigo salmista bíblico,
quando empolgado pelo espetáculo glorioso do firmamento afirmava:
"Quando considero os Teu Céus, obra de Tuas mãos, e contemplo a Lua e as estreias
que criaste, e cuja ordem estabeleceste, penso no que é o Homem para que Tu te
preocupes com ele; e o que são os filhos dos Homens para que mereçam as tuas
atenções".
Verifiquemos agora a maravilhosa identidade existente entre os conceitos científicos
moderníssimos, resumidamente mencionados anteriormente, com os contidos no
proêmio da obra de Blavatsky “A Doutrina Secreta" escrita no ano de 1888, em que a
autora interpreta as pré-históricas estâncias do Livro de Dzyan. Transcreveremos a seguir
alguns trechos para melhor apreciarmos esse fato:
..."Quem vos escreve estas linhas tem sob as vistas um manuscrito arcaico, uma
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coleção de folhas de palma refratárias à ação da água, do fogo, e do ar, por um
procedimento específico desconhecido. Há na 1ª. página um disco de perfeita brancura.
destacando-se sobre um fundo de um negro intenso. Na página seguinte aparece o
mesmo disco, mas com um ponto no centro. O simbolismo dessa representação contida
na primeira página, - sabe-o, quem se dedica a esses estudos, - representa o Cosmos na
eternidade antes de despertar, a energia ainda em repouso, a emanação do mundo em
sistemas anteriores. O ponto no interior do disco até então imaculado. Espaço e
Eternidade em repouso, indica, a aurora da diferenciação. É o ponto no Ovo do Mundo, o
gérmen interno de onde se desenvolverá o Universo, o Todo, o Cosmos infinito e
periódico: gérmen que é latente ou ativo, periodicamente, em turnos. O circulo único é a
Unidade Divina de onde tudo procede e para onde tudo volve; sua circunferência, símbolo
forçosamente limitado em virtude da limitação de mente humana, indica a Presença
abstrata, sempre incompreensível, e o seu plano, a Alma Universal, sendo as duas Uma"...
Como poderios ver, o conceito científico de um Universo esférico e o teosófico do
círculo (que nada mais é do que a projeção de uma esfera em um plano), são
perfeitamente idênticos: em ambos se verifica a delimitação de uma região no espaço
onde a Unidade Divina se manifestará.
Segundo a ciência, esse universo-embrião teria, inicialmente, um diâmetro de
somente 10 milhões de quilômetros, o que seria pouco mais que 8 vezes a distância atual
da Terra ao Sol. Nessa esfera encontrava-se condensada, ao máximo, toda a energia
dispersa hoje no nosso Universo de 6 trilhões de anos-luz de diâmetro! Segundo cálculos
matemáticos, os cientistas dão como sendo de 1,8 x 10⁹ o tempo decorrido entre a esfera
inicial e o estado atual da esfera em expansão. Entretanto determinações recentes
realizadas por Shapley para a idade do Universo, apresentam como resultado o
número 5 x 10⁹ anos.
No volume 1º de A Doutrina Secreta, pag. 83 e 84, encontramos a 1ª Estância
de Dzyan que diz o seguinte:
"1 - O eterno Pai, (o espaço), envolto em suas sempre invisíveis vestiduras,
havia dormido uma vez mais durante sete eternidades".
Nos seus comentários, a autora explica que as sete eternidades significam evos
ou períodos de tempo, e correspondem à duração de uma "grande idade" ou
Mahakalpa, ou 100 anos de Brahma perfazendo um total de 311 trilhões de anos.
Cada ano de Brahma compõe-se de 360 dias e igual número de noite de Brahma,
sendo cada dia de Brahma composto de 4,3 x 10⁹ dos nossos anos, e esse tempo é o
equivalente ao intervalo decorrido entre o estado inicial do Universo quando a
expiração ,da "Essência Desconhecida" inicia a sua dilatação, e o estado atual desse
círculo em expansão.
É simplesmente maravilhosa a identidade entre o número 5 x 109 anos
calculado pelos céticos cientistas modernos, e o número 4,3 x 10⁹ anos contido nos
arcaicos textos sagrados! O que vem provar que o nosso intelecto progride seguindo
a trilha inflexível da Evolução, e que as verdades filosóficas tão duramente discutidas
há milênios vão se tornando perceptíveis à Humanidade.
Continuemos a citar Blavatsky nos seus comentários. Na aludida obra,
encontramos o seguinte:
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"Ao inaugurar-se um período de atividade tem lugar uma expansão dessa
Essência Divina de fora para dentro e de dentro para fora, em relação à lei eterna e
imutável, sendo o universo fenomenal e visível o resultado último da larga cadeia de
forças cósmicas, postas assim em movimento progressivo. Do mesmo modo,
sobrevém a condição passiva: tem lugar uma contração da Essência Divina, e a obra
prévia da Criação é gradua e progressivamente desfeita. O Universo visível
desintegra-se, seus materiais dispersam-se, e solitárias trevas voltam a reinar.
Empregando-se uma metáfora dos livros secretos, que explica a ideia de um
modo mais claro, uma expiação da "Essência desconhecida" faz aparecer o mundo; e
a inalação é a causa do seu desparecimento. Este processo prossegue durante toda a
Eternidade e o nosso presente Universo é somente um elemento da série infinita que não
teve princípio nem jamais terá fim...”
É perfeita a identidade do conceito científico moderno de universo em expansão
com os encontrados no arcaico e pré-histórico Livro de Dzyan! A concepção científica
moderna admite o movimento de expansão, partindo de um Universo - embrião de
dimensões já mencionadas anteriormente, ao passo que os ensinamentos exotéricos
admitem o seu ciclo de contração e expansão periódicas.
Entretanto o professor Gamow, - no momento uma das maiores autoridades de
Física teórica, - entrevê a possibilidade da alternância: expansão - contração do Universo!
Lerei a seguir trechos da obra do físico citado em que os conceitos teosóficos encontrados
na obra de Blavatsky são inteiramente confirmados:
..."De acordo com a melhor informação disponível relativamente às massas galácticas
ou nebulosas, parece que atualmente a energia cinética das galáxias que se afastam é
várias vezes maior que seu potencial mútuo de energia gravitacional: de onde se deduziria
que o nosso universo está se expandindo até ao Infinito sem nenhuma probabilidade de
se contrair, para reunir o todo novamente mediante as forças da gravitação. Devemos
recordar que a maior parte dos dados numéricos relativos ao universo como um Todo, não
são muito exatos, e é possível que futuros estudos invertam esta conclusão. Mas, ainda que
o Universo que atualmente se expande se detivesse bruscamente em sua marcha, e o seu
movimento e transformasse em movimento de compressão, passar-se-iam milhares de
milhões de anos antes desse dia terrível concebido pelo "negro espiritual" que canta
"quando as estrelas começarem a cair".
E qual seria esse material tão explosivo que enviou os fragmentos do Universo
voando a tão aterradora velocidade? A resposta pode causar alguma desilusão:
provavelmente não houve nenhuma explosão no sentido comum da palavra. O Universo
expande-se agora porque em algum período anterior de sua história (da qual entretanto
não ficou nenhum vestígio) contraiu-se do infinito a um estado muito denso e logo
expandiu-se como se fosse impulsionado por forças elásticas inerentes à matéria
comprimida. Se entrarmos em um quarto de jogo no momento exato em que a bola de
ping-pong se eleva do solo chegaremos à conclusão de que no instante anterior ao da
nossa entrada a bola havia caído de uma altura comparável, e estava saltando de novo
por efeito da sua elasticidade. Podemos portanto fazer voar a nossa imaginação mais
além de qualquer limite, e perguntar se durante as etapas pre-compressivas do Universo
tudo que agora está ocorrendo sucedia em ordem inversa...”
53
Matemáticos como Sitter e Lemaitre já demonstraram a impossibilidade da
existência de um Universo estável que, obrigatoriamente, deve estar em processo de
expansão ou contração, sendo que o nosso atualmente se dilata. É, portanto,
perfeita a identidade dos conceitos da ciência e da teosofia a esse respeito. Contudo
maravilhoso é que, somente neste agitado século em que vivemos, os sábios e
herméticos conhecimentos expendidos em antiquíssimos textos, estão sendo
comprovados pela nossa fria e cética Ciência exata!
55
FORMAS DE RADIAÇÕES
ESTUDO COMPARATIVO DOS CONCEITOS CIENTÍFICO
E TEOSÓFICO DAS RADIAÇÕES
MEUS AMIGOS
1 – Raios cósmicos – comp. Ondas 0,000 000 000 0001 cm a 0,000 000 000 7 cm
2 – Raios gama – comp. Ondas 0,000 000 000 7 cm a 0,000 000 01 cm (1 A°)
3 – Raios X – comp. Ondas 0,000 000 01 cm a 0,000 001 cm
4 – Raios ultra violeta – comp. Ondas 0,000 001 cm a 0,000 04 cm
5 – Raios 1. Visível – comp. Ondas 0,000 04 cm a 0,000 08 cm
6 – Raios infravermelhos – comp. Ondas 0,00008 cm a 0,02 cm
7 – Ondas hertezianas – com. Ondas 0,02 a 3000000000 cm
1 - FOHAT ou eletricidade
2 – PRANA ou vitalidade
3 - KUNDALINI ou fogo serpentino
61
IMPRESSÕES A RESPEITO DO KARMA
A lei de ação e reação é uma das leis aplicadas ao movimento dos corpos. O seu
conhecidíssimo enunciado "a cada ação corresponde uma reação de intensidade
igual mas de direção contrária", foi formulado pelo grande filósofo inglês Sir Isaac
Newton no século 17. Entretanto em todas as épocas e regiões do mundo
encontramos essa lei dissimulada sob diversas roupagens. Os hindus a conhecem sob
o nome genérico de Karma, no caso em que é aplicada ao mundo suprafísico, ao
mundo moral. O alcance da lei de ação e reação estende-se porém a todas as regiões.
O Svetasvatara Upanishad estabelece que Deus é o ordenador e senhor do Karma:
(Karma-Dhyaksali). O grande filósofo Radhkrisnan em um ensaio, tem ocasião de
assim se expressar:
"Há leis na natureza de caráter físico, biológico e psicológico. Essas leis são
englobadamente intituladas de Karma. O Criador não usa as forças da natureza para
recompensar a virtude e punir o pecado. Jesus disse: "Pensais que os dezoito sobre os
quais caiu a torre em Siloam eram os únicos pecadores que habitavam Jerusalém?
Digo-vos que não. Deus faz o sol brilhar para os maus e os bons e envia chuva para
os justos e injustos" (Mateus 5.45).
Vivemos em um mundo em que não há lugar para caprichos e incertezas, onde a
palavra milagre é o recurso que usamos para ocultar a nossa ignorância dos fatores
que concorrem para modificar o curso provável dos acontecimentos. Além das leis
conhecidas, tabeladas, estudadas pelo homem, existem leis que governam o
Universo que nos são completamente desconhecidas. Essas leis constituem o
arcabouço, as fundações em que se apoiam as leis reveladas à humanidade. O
chamado "destino”, quer se trate de homens, animais ou qualquer outra entidade, é
a resultante lógica, matemática, de uma série de circunstâncias anteriores. Quando
elas se verificam de acordo com determinada ordem, certo resultado deverá ocorrer.
É inevitável. Da mesma maneira que uma reação física pressupõe a existência de
uma ação ou conjunto de ações componentes anteriores, tudo que ocorre hoje, e
atinge particularmente o nosso pequeno mundo provocando-nos alegrias ou dores, é
também a resultante da soma de várias ações componentes que podem ser
representadas por pequenos vetores. A resultante da soma deles será obtida pelo
método do paralelogramo na forma indicada pelo desenho:
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Na realidade o número de circunstâncias pode ser praticamente infinito, e variar
continuamente. As reações do instante anterior, torna-se ações determinantes do
instante vindouro. Valendo-nos novamente dos gráficos podemos figurar 3
instantâneos do desenvolvimento do "destino" de uma entidade qualquer:
Num homem, por exemplo, a energia se densifica desde um foco polarizador mais sutil
- o espírito - até às camadas mais materiais do corpo físico. Em cada um dos distintos
planos, a energia encontra-se cristalizada entre certos limites. E sustentada, tem o seu ser,
no plano imediatamente mais sutil.
Se fosse possível a visualização dos vários campos de energia que coexistem no
homem, da mesma maneira simples com que levantamos o espectro magnético de um imã
mediante um pedaço de papel e um pouco de limalha de ferro, ver-se-ia o processo
harmonioso pelo qual esses campos se entrosam. Os diferentes campos de força que
constituem o homem ou qualquer outra entidade são, na realidade, um único campo,
Consideramo-lo distintamente devido às limitações da mente humana. Graficamente
podemos ter uma ideia dessa interpenetração superposta, podemos dizer, pois cada campo
de ordem superior interpenetra e vivifica todos os outros que lhe são inferiores e, ao
mesmo tempo, superpõe-se, dirigindo-os com a sua ação, conforme o seguinte diagrama:
De um centro 0, traçamos uma serie de círculos concêntricos, A, B, C etc. Cada um
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desses círculos contém todos os outros de menor raio e é por sua vez contido por todos
aqueles que tem raio maior. Suponhamos que cada círculo representa a zona do espaço em
que se manifesta um campo de energia de característicos determinados. Esses campos
energéticos estão portanto interpenetrados, vivem em função uns dos outros.
Qualquer ação no campo C provocará uma reação nos campos B e A, que por sua vez
repercutirá novamente no campo C. Analogamente se provocarmos uma ação em um
tanque cheio de água tranquila, produz-se uma perturbação ondulatória, circular,
concêntrica a partir do ponto em que se iniciou a perturbação, e que se propaga no meio
líquido até encontrar um obstáculo. Esse obstáculo reflete a onda propagada dando
nascimento a uma nova perturbação ondulatória que volta em direção ao ponto inicial,
produzindo interferências na onda principal marcando essa onda principal. O karma, sendo
essencialmente de caráter energético, está também sujeito às mesmas leis que regem os
campos de força estudados na Física. Analogamente como nas interferências luminosas,
elétricas, temos interferências kármicas. Essas interferências são as "marcas" advindas das
mutações que se processam no campo energético total da entidade observada, devido ao
choque com os campos circunvizinhos. O homem em virtude de suas ações físicas, morais e
intelectuais, "vive" simultaneamente em vários planos. Os distintos campos humanos de
energia compatíveis a esses planos, estão em ressonância. Viver em um plano é estar
sintonizado com ele. Quando pensamos, - voltando à figura anterior - a matéria que
constitui o nosso campo mental, C, entra em vibração com um ritmo diferente do normal.
Uma série de ondulações concêntricas são produzidas, propagam-se ao meio ambiente, e
se "aprofundam" nos campos de energia B e A, produzindo perturbações nesses planos.
Interfere, modifica-lhes o ritmo. A característica vibratória do pensamento está para ser
aceita pela Ciência. Acreditamos que pouco falta para tanto. O estudo das ondulações
cerebrais é o primeiro passo nessa direção. O aparelho em que essas ondas são medidas e
registradas graficamente chama-se eletroencefalograma. Inúmeras experiências vêm
sendo feitas em todo o mundo no sentido de observar essas irradiações emitidas pelo
cérebro humano em pacientes submetidos às mais diversas condições. A ocorrência de
ondas cerebrais pressupõe logicamente a existência de um campo de energia. Os diferentes
tipos de onda estudados e decorrentes dos distintos pensamentos, caracterizam a mudança
da frequência e intensidade vibratória do campo energético. Existindo, conforme
demonstram os encefalogramas, radiações mentais, elas forçosamente se propagam no
espaço e se entranham no homem ao pensar. A propagação dos pensamentos e sua
recepção constitui a chamada telepatia. Os fenômenos telepáticos e inúmeros outros estão
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sendo estudados detidamente, em várias organizações de pesquisas psíquicas. Surge,
então, uma nova ciência, a parapsicologia. O que está além da psicologia comum, do
domínio da percepção sensória normal, e que antes era encarado com desprezo, e como
simples curiosidade de circo ou teatro, está hoje sendo medido, observado, fichado. Tenta-
se, mediante o cálculo das probabilidades matemáticas. Confirmar a exatidão das
informações. Como exemplo relataremos uma experiência com cartas de jogar realizada em
Londres pelo matemático Dr. S. G. Soal, e citada por Aldous Huxley em um dos seus ensaios.
O paciente chamado Basil Shackleton, submetido a todos os controles, conseguiu em cerca
de 11000 ensaios "adivinhar" as cartas com tal precisão que caso essas adivinhações
fossem somente o produto da sorte a probabilidade matemática para que isso ocorresse
seria de 1 para 10³⁵ ou seja o nº 10 acompanhado de 35 zeros. Ao mesmo tempo que se
propagam, as radiações cerebrais aprofundam-se no homem. A ação do pensamento sobre
o corpo físico não pode mais ser negada. A psicologia, a psicoanálise, a psiquiatria, são
ciências de conhecimento geral. As modificações na circulação, na digestão, no
metabolismo, na respiração, devidas às emoções podem ser registradas em aparelhos.
Reciprocamente a repercussão das dores, e sofrimentos físicos e de modo de pensar e
agir do indivíduo, são fatos comuns. Quantas poesias, pinturas, sistemas filosóficos e
religiosos não teriam nascido se o fígado e vesícula, ou qualquer outro órgão dos pacientes
tivesse sido socorrido a tempo por um médico consciencioso?
O pessimismo de Schopenhauer, o azedume de Pascal, os êxtases de puro gozo dos
místicos, a filosofia visceral de Maine de Biran que filosofava em função do funcionamento
das suas vísceras conforme se depreende pela leitura de seu "Journal Intime", não serão
unicamente o produto das modificações do temperamento do paciente devido ao mau
funcionamento orgânico? Talvez seja um modo um tanto cínico de pensar, mas é inevitável
quando somos cientificados pela medicina das modificações que ocorrem no paciente
devidas a alterações da saúde física. De como se modificam os temperamentos quando se
alteram as taxas sanguíneas de ureia, adrenalina, açúcar...
Vemos portanto que o homem, em seu conjunto, é um sistema em constante
desequilíbrio. A vida é um eterno desequilíbrio uma morte eterna. Expiração e inspiração;
sístole-diástole, movimento-descanso. É um eterno tender para o repouso. Todos os
campos de energia que constituem em seu conjunto uma entidade estão em constante
movimento. Todos interferem, marcam-se à medida que o tempo escoa, à medida que o
karma se transforma de energia potencial em energia cinética. De potencialidade prenhe de
todas as possibilidades em destino e inexorável. Sob o nome de destino estão grupados
todos os resultados da ação do karma.
O indivíduo dentro de certos limites pode modificar o seu destino. Não somos
fantoches acionados por deuses estranhos. Deus está dentro de nós. Deus é o núcleo. É o
nosso baricentro energético. É a nossa razão de ser. Desse núcleo dimanam todas as forças
que, grupadas harmoniosamente, constituem o homem. As sementes da futura colheita
estão dentro de nós. O que somos hoje é o efeito lógico do que fomos ontem. O sermos
chamados bons ou maus depende somente da qualidade dessas sementes, das
interferências, marcas do passado. Está porém ao nosso Alcance, mediante um processo de
seleção interna, a separação do joio e do trigo. A esterilização das sementes do joio, e o
estímulo do campo a fim de que proliferem em toda sua plenitude as sementes do trigo. A
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única dificuldade está em reconhecermos o que é joio e o que é trigo. Antes de termos a
consciência plenamente desperta não devemos agir. O bem e o mal são padrões humanos.
Relativos. O verdadeiro bem é muita vez considerado pelos padrões humanos um mal e
vice-versa. Cita o Bhagavad Gita, que as trevas para o comum dos mortais é luz radiosa para
o sábio. Esperemos que chegue o momento de abandonarmos o caminho de ida, da
perseguição de riquezas, das satisfações materiais, dos desejos, do separativismo. O
“Pravriti Marga" dos indús. É entremos no caminho da volta, da renúncia, do
desprendimento, da união com o Todo. O "Nivriti·Marga".
Na ocasião em que cruzarmos o ponto de reversão; em que enveredarmos pela nova
senda, estaremos maduros para apressarmos a nossa evolução. Antes disso não.
Não se retire a fruta das árvores antes que ela atinja determinado tamanho. Aí sim,
mesmo que ela ainda esteja verde, pode-se apressar a maturidade. Antes, e impossível.
Estarmos verdes ou maduros é uma questão a que cada um deve responder por si. É
de foro íntimo. De constituição morfológica. Voltemos porém ao karma.
O karma é de 3 espécies:
a) Operativo - (Prarabda)
b) Acumulado - (Sanchita)
c) Novo - (Kriyamana)
O Karma Acumulado é o total do Karma, que em algum dia, desta ou de outra vida,
entrará em manifestação.
O Karma operativo ou maduro é aquele que está a ponto de manifestar-se. E o
novo é o que está sendo criado através da transformação do Karma maduro. Convém
notar porém que as 3 espécies: operativo, acumulado e novo, são aspectos de uma
única e indivisível realidade. Não há 3 karmas e sim um único campo de energia
potencial transformando-se constantemente em energia cinética, produzindo trabalho
nos vários planos. O símbolo da corda do relógio que ao se distender provoca a
movimentação dos ponteiros, é adequado.
Karma é a mola propulsora da Evolução. A extinção dessa potencialidade
congênita que dinamiza a roda dos nascimentos e das mortes; a parada do relógio, é a
liberação. É o atingimento do Nirvana. Está ao nosso alcance a aceleração do processo
evolutivo para por fim a esse constante retornar ao plano físico, alcançando-se mais
depressa o limiar de uma alta Evolução. Para o grande filósofo Radakrisnan, "o
indivíduo é liberado quando alcança a universalidade do espírito; mas ao ser liberado
retém a sua individualidade como centro de ação enquanto perdurar o processo
cósmico". Não há em absoluto a extinção ao atingir-se a liberação. Apenas se inicia um
novo caminho, nada mais.
Qual a razão dessa Evolução, dessa auto-evolução, dessa eterna escravização à
existência - temos o direito de perguntar?
Infelizmente essa pergunta não poderá ter resposta por palavras.
Identicamente, não podemos especificar, a razão porque o verde é verde, porque
um círculo tem a sua forma característica, porque vivemos, porque as leis da natureza
agem da forma que agem. As raízes, as razões, o porque desses fatos está acima do
71
conhecimento intelectual humano. A realidade perceptiva que até nós chega apenas os
ecos quebrados de encontro as montanhas. São sombras refletindo-se em parede
cheias de reentrâncias. Deformações irreais. Compete ao homem transcender essas
barreiras. Estabelecer pontos a fim de ter conhecimento do real. Buscar dentro de si
em zonas muito além do intelecto, a resposta aos enigmas que o assolam. Ao ser
atingido esse alvo, transcendemos o tempo e o espaço. Reconhecemos a
transitoriedade da vida humana. E apesar de vivermos sob as contingências do plano
físico nele nos movemos, vivemos e temos consciência dos valores eternos. De Deus.
Do Absoluto.
72
TEOSOFIA
Teosofia é um termo forjado pela fusão de duas palavras gregas, Theos: que
significa Deus; e Sophia, equivalente a Sabedoria. Portanto, etimologicamente
falando, Teosofia é Sabedoria Divina. Pela primeira vez encontramos esse termo no
século II da nossa era, aplicado pelo filósofo de Alexandria Ammonius Saccas (160-
242), considerado tradicionalmente como fundador do Neoplatonismo. Como
Sócrates, ele aconselhava aos que dele se aproximavam a meditarem sobre o Céu e a
Terra. Parece que nada escreveu, sendo todo o seu ensinamento oral. Consta que não
foi aluno de ninguém. Era o tipo do filósofo de nascença. Devido a sua extraordinária
bondade, os seus discípulos entre os quais se contavam Longinos, Orígenes e Plotino,
o cognominaram Theodidaktos, que significa "o instruído por Deus".
A origem desse sistema de conhecimento rotulado pela palavra Teosofia, perde-
se, porém na noite dos tempos. Sempre existiu em todos os locais e épocas um
conjunto de regras, transmitidas oralmente de mestre a discípulo, após ser este
submetido a provas que constituem a base comum, a raiz de todas as ciências,
filosofias e religiões. Com o aparecimento da escrita, parte desse conhecimento foi
gravado, perpetuando-se até nós. Chamam os hindus a esse sistema de
conhecimento Brahmavidya. Sabedoria Divina. Os egípcios também a conheciam,
sendo estudada e transmitida nos templos pelos chamados mistérios de Isis. Os
gregos tiveram pleno conhecimento dela. Os mistérios de Delfos. Eleusis, Demeter,
Dionísios, e tantos outros difundidos em toda Grécia, atestam esse fato
perfeitamente. Em Roma havia mistérios de Cibele. Attis e Ceres. Na Sicilia eles
existiram com o grande Pitágoras e seus discípulos. Na Palestina com os Essênios na
época do nascimento de Jesus. Em Alexandria com os Neoplatônicos. Ammonius
Saccas, Plotino, Porfírio, Jamblico. No Gnosticismo com Valentin e Basiledes. Entre os
místicos de todo o mundo independentemente de época, local e religião. Dentre eles
avultam as figuras de Ruyoroeck. Santa Gertrudes, Hildegarda, Mestre Eckart, Suso,
Jacob Boehme, Catarina de Sienna, S. Francisco de Assis. Francisco de Sales, no
Ocidente. E Patanjali, Viasa, Mahavira, Sankara, Valmiki, Lau-tseu, Milarepa, Tson-ka-
Pa, Nagarjuna, e tantos outros, no Oriente.
Em suma, em todo o mundo, se procurarmos sob as camadas superpostas que
constituem o conhecimento humano, encontraremos a base comum, a Teosofia, que
é a raiz de todo esse conhecimento. Em alguns locais, mais à flor do solo: em outros
nas mais recônditas profundidades. O Dr. Evans-Wentz na introdução do seu magnífico
livro "A yoga tibetana e suas doutrinas secretas", afirma que: "Qualquer dentre os
mais instruídos no ocultismo dos Lamas e Hindus, diz que não há povo por mais
degenerado e inculto, que não possua um Fragmento, embora pequeno, do
ensinamento secreto dos Grandes Sábios".
Teosofia é como que a iguisfera (inner core), o cerne, o miolo candente da nossa
Terra. Assim como a crosta terrestre é o resultado da solidificação desse magma em
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fusão; lava resfriada, assim o conhecimento humano procede de um núcleo comum de
ideias em fusão. São essas ideias solidificadas, essas crostas, que são colocadas ao
alcance das limitações da restrita mente do homem, É justamente desse magma em
fusão, dessa filosofia perene como a intitulava Leibnitz, da Teosofia, enfim, que
pretendo falar. Digo pretendo, pois querer explicá-la, seria abarcar o infinito com o
finito. A sua doutrina engloba a origem e o destino de toda a vida e matéria existente
no Universo. Vários são os caminhos que nos conduzem a esse conhecimento-base.
Ciência, Arte, Religião, Filosofia, Ética, eis alguns. Teosofia é o conjunto e, como tal,
abrange todo o conhecimento revelado e não revelado ao homem, Matematicamente
podemos defini-Ia pela fórmula:
T = CR + CNR, em que T é Teosofia. CR é conhecimento revelado. CNR é
conhecimento não revelado.
Um exemplo concreto servirá para aclarar a questão. Suponhamos que uma zona
do espaço contida numa esfera de raio infinito se encontre sob trevas compactas, e
que o centro dessa esfera comece pouco a pouco a incandescer. Nascem os primeiros
raios de luz que irão formar uma pequenina esfera. À medida que o tempo passa a luz
aumenta de intensidade. Paralelamente a esfera luminosa se expande. Comparamos a
super esfera infinita no início, em trevas, à Teosofia. É o conhecimento embrionário
no qual todo o conhecimento têm o seu ser, a pequenina esfera luminosa, em
crescente expansão, que surgiu de uma tímida brasa e hoje se transformou em uma
fogueira de razoáveis proporções, é o conhecimento revelado à humanidade. Seu
crescimento é ininterrupto. A zona das trevas, equivalente ao conhecimento não
revelado é constantemente penetrada pela luz, Teosofia é, portanto, o Todo. A soma da
luz com as trevas. O conhecimento total da Teosofia é incompatível com a condição
humana. Lembro-me de imagem muito citada, mas nem por isso isenta de beleza, que
compara a Teosofia ao Oceano, pois tem como ele pontos em que até uma criancinha toma
pé, e abismos que o maior dos gigantes nem sonha explorar. As suas leis fundamentais são
as seguintes:
1 - Lei da Unidade
2 - Lei da Evolução
3 - Lei da Ação e Reação
4 - Lei da Manifestação Periódica
A primeira, de importância capital, é portanto a Lei da Unidade. É a Lei das leis. Dela
todas são corolários. É o fundamento. A base de todo o Universo manifestado e
imanifestado está contida nela. Matematicamente é de uma simplicidade espantosa. Eis a
sua fórmula: 1 = . O seu enunciado é simplíssimo: "A UNIDADE ENGLOBA A
DIVERSIDADE". Essa Unidade suprema da qual estamos embebidos e como dizia S. Paulo
"nos movemos, vivemos e temos o ser", é conhecida sob diversos nomes. Deus, Energia,
Brahman, Allah, Paraatman, Base, Aquilo, Absoluto, são alguns dos rótulos empregados
para identificá-lo. O Um foge entretanto a todas as representações. Não tem nome; não
tem forma. Não tem atributos. Não pode ser captado pela mente humana. A realidade
ultima é Silêncio. Somente podemos dar impressões desse grande Um, Deus, que tudo
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contém dentro de si. Está esplendidamente expressa essa incapacidade funcional de
descrição verbal no trecho seguinte do Ishopanisad:
"Os sentidos nunca alcançarão aquilo que, mesmo imóvel, é mais rápido do que a
mente. Aquilo que apesar de imóvel ultrapassa a todos por mais rápidos que se desloquem.
Aquilo que está ao mesmo tempo longe e perto, dentro de tudo e fora de tudo".
A unidade, Deus, o Todo, - mais uma vez o afirmo, nome não importa. - pode ser
comparado ao Sol do qual provém um número infinito de raios luminosos. Qualquer
desses raios poderá ser seguido até ao grande Todo de cuja natureza participa. Seja, por
exemplo, o raio da Religião. Desde tempos imemoriais existe a manifestação religiosa na
humanidade. Essa sensação de dependência às forças emanadas de um ou de vários entes
supremos invisíveis. Não pretendo analisar aqui a origem das religiões com suas várias
teorias que de passagem menciono: culto ao sol, aos astros, às forças da naturezas, ao
sexo, etc., cada uma delas tendo-se por única detentora da verdade, desprezando em
inúmeras ocasiões toda contribuição de outras escolas. Mesmo quanto à definição do que
seja Religião não há acordo. São numerosas e controversa. Vejamos algumas:
"Como Religião entendo a crença e o culto da Mente e Vontade Suprema que,
dirigindo o Universo, sustentam as relações morais com a vida humana" - J. Martineau.
"Como Religião entendo o conhecimento de Deus, da sua vontade e dos nossos
deveres em relação a ele" - J. H. Newman.
"Religião é a propiciação ou conciliação de poderes superiores ao homem, os quais se
acredita dirijam e controlem o curso da natureza e da vida humana" - Frazer.
Uma coisa é certa, apesar da variabilidade das opiniões: é que todas as religiões se
enraizam, sorvem a seiva do mesmo solo de uma base comum, imutável, que não está
sujeita aos costumes e·hábitos dos povos e épocas, O estudo das religiões comparadas
demonstra a existência desses fatores comuns. Vemos então que dentro do grande
conjunto chamado Religião, Cristianismo, Budismo, Zoroastrismo, Islamismo, Judaísmo, etc.
são aspectos de uma mesma Realidade Imanente e Transcendente. Nesse estágio surge
então a verdadeira compreensão de Religião como aquilo que, ''religa'' que une novamente
todos esses pontos de vista exclusivistas em um grande Todo. Caem as últimas barreiras.
Os limites antes tão amargos, se esfumam, e vemos que salvação, libertação, liberação,
Moksha, pode ser alcançada em qualquer religião, ou mesmo em nenhuma.
A Teosofia, como Sabedoria Divina, é o sumo de todas as religiões, não admitindo em
nenhuma delas superioridade sobre as outras. Cada qual é uma mensagem digna de
estudo. Parece-me que a mais sábia atitude é aquela adotada pela filosofia vedanta que
proclama:
"Da mesma forma que os diversos riachos, cada qual nascendo em um diferente local.
misturam suas águas no grande Mar, Oh Senhor! Todas as diferentes religiões seguidas por
homens de temperamentos e tendências diferentes, tão variadas que parecem tortuosas
ou retas, todas conduzem a Ti.”
Filosofias, ciências, e artes, são como as religiões, meros raios dessa grande Unidade -
a Teosofia. Todas estão interligadas nesse fundo comum de onde provêm. São pétalas de
uma mesma Flor.
A lei suprema da Teosofia, já o mencionamos anteriormente, é a da Unidade. Os
hindus têm na palavra Dharma a melhor expressão dessa lei. Essa palavra sânscrita é de
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difícil tradução. Sua raiz é DHR que significar unir, juntar, ligar, sustentar alguma coisa.
Talvez aglutinar, que subtende todas as citadas. Bhagavan Das em sua obra "The Science of
Social Organization", assim define Dharma:
"Dharma é aquilo que sustenta uma coisa unida, fazendo-a o que ela é, evitando que
se fragmente mudando-se em outra coisa distinta. É a sua natureza essencial. A lei do seu
Ser. Dharma é aquilo que faz o Processo Universal ser o que é. E que une todas as partes do
Universo em um grande Todo, em uma inteiriça e abrangedora cadeia de causas e efeitos. É
a lei, ou melhor a totalidade das leis da natureza.”
Da lei suprema, Dharma, deduzem-se todas as demais. A da Evolução por exemplo, é
lei de âmbito cósmico. Sua definição é simples como a de todas as leis transcendentais. Há
uma regra paradoxal que estabelece a variação inversa da complexidade em função da
simplicidade. Quanto mais simples mais transcendente... Dentre todas as definições parece-
me a melhor aquela que diz:
"No Universo tudo tende para a Perfeição". Esse tender para um ideal é Evolução. É a
mola propulsora do progresso. É a força motriz. É a eterna adaptação a novos estados.
Lembremo-nos da imensa nebulosa primitiva da qual se destacou uma gotícula
incandescente há cerca de 2 bilhões de anos, conforme diz a ciência confirmando a
cronologia dos Puranas, e que viria a constituir a nossa atual Terra. E dos estágios por
que passou essa gota resfriando-se gradualmente até que surgiu a primeira crosta. Frágil a
princípio e partindo-se frequentemente, extravasando o magma candente em gigantescas
inundações. E das chuvas torrenciais que se seguiram, até que nos oceanos surgiram os
primeiros germens da vida. Recordemos as infinitas transformações que sofreu esse
gérmen até que surgisse o homem em sua atual forma. Esse homem que é apenas um
humílimo elo da infinita cadeia evolutiva. Na Teosofia estuda-se o desenvolvimento gradual
do sistema solar, em especial o caso da nossa Terra. Estuda-se como surgiram, e porque
surgiram os reinos da natureza. Etéreos a princípio e, gradualmente, como subindo uma
escada de número infinito de degraus, a manifestação vai se corporificando em outros
reinos: Mineral, Vegetal, Humano e Super-humano. Já dizia um antigo místico persa: "Deus
dorme no mineral, sonha no vegetal, desperta no animal e olha para frente e para trás,
pensa e conhece a si próprio no homem".
No limiar de uma nova manifestação cósmica existe a grande Unidade ou Deus. A
matriz de onde surgirá a nebulosa primordial. Uniforme. Homogênea. Isotrópica.
Gradualmente, dessa Unidade surge a Diversidade. A regra da Evolução é pois: da
Unidade à Diversidade. Do Homogêneo ao Heterogêneo.
Em linhas gerais a Evolução desenvolve-se nos 3 estágios seguintes.
1) Uma existência real, eterna, infinita, incognoscível. O Deus imanifestado.
Paramatman. Nirguna Brahman.
2) Dessa existência procede o Deus manifestado. Isvara, Saguna Brahman.
Desdobrando-se da unidade em dualidade e da dualidade em trindade.
3) Da trindade provém várias inteligências, guias da atividade cósmica. Da interação
desses guias surge toda a diversidade.
O homem é uma das centelhas dessa divindade. Um trecho dos Upanishads apresenta
em uma belíssima imagem poética a comparação de Deus a uma imensa fogueira
expelindo centelhas que são essencialmente da mesma natureza da fogueira, e o homem
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como uma dessas fagulhas que procedem de Deus mas tem como destino a Ele se unir
novamente. A Evolução constitui o caminho de volta da centelha à fogueira. Cada objeto,
cada mineral, vegetal, ou animal, tudo enfim, são também fagulhas desse mesmo Deus do
qual fazemos parte, e que todos nós abrigamos no intimo do nosso ser um pouco mais ou
menos revelado. A única diferença entre o homem e os outros seres está na distância em
que se encontram do centro. Não são os homens os reis privilegiados da criação. Todos
fazem parte do Todo e por tanto alcançarão a felicidade de atingirem a "outra margem".
Essa volta no Todo é a libertação da roda dos nascimentos e mortes, (Sansara) como dizem
poeticamente os Budistas. "Moksha" no dizer dos hindus. A salvação dos cristãos. O
atingir dos Campos Elíseos dos Gregos. A Evolução atua inflexivelmente. A Dra. Annie
Besant proclama em um dos seus livros:
"A lei divina do homem é a Evolução. O selvagem de hoje será o santo do futuro, pois
todos percorremos caminhos semelhantes".
Não existem, conforme uma perfeita compreensão da lei da Evolução, nem penas
eternas nem salvação eterna. Nada é eterno neste mundo... nem a própria eternidade. O
Nirvana do Budismo tão incompreendido pelos orientalistas ocidentais não é, em absoluto,
cessação. Extinção como os primeiros tradutores dos antigos textos quiseram fazer
acreditar. Nirvana não é sinônimo de aniquilamento, e muito menos ele gozo eterno. É,
sim, uma transcendência. Uma sublimação. Uma mudança de escala de valores. É apenas o
início da lei da Alta Evolução. Alta Evolução para as nossa limitações humanas. Acima dessa
Alta-Evolução outras evoluções inconcebivelmente mais complexas se estendem. A cadeia
evolutiva não tem fim.
No Maha-Para Nibbana Suta que é um arcaico texto páli do budismo primitivo, são
atribuídas ao próprio Buda as seguintes palavras:
"Nirvana é a extinção do egoísmo e de todos os receios e dúvidas de todos os maus
pensamentos e paixões que inevitavelmente brotam do egoísmo e do apego ao corpo. É a
extinção de toda inquietude e descontentamento da mente. É o alcançar do repouso
interno, equilíbrio, calma. paz.
"A paz da mente é atingida somente após extirpar-se o egoísmo.” Surge então uma
nova gradação de valores A única diferença é que esses valores apesar de coexistentes,
são incomensuráveis com a realidade de outros planos e consciências estando
infinitamente distantes dos quadros de referência da existência humana no plano físico.
Outra das leis deduzíeis da lei geral da Unidade, e também fundamental, tal a sua
importância, é a lei de ação e reação. O seu enunciado, como o das leis já citadas, é
também de uma singeleza a toda prova. Ei-lo:
"A cada ação corresponde uma igual reação, mas com sentido contrário". Esse é o
enunciado do grande sábio inglês Newton que assim a formulou no século 17 para o caso
especial do movimento dos corpos. Tal lei tem entretanto âmbito geral. Os Hindus já a
conheciam sob o nome de KARMA. Essa palavra sânscrita pode ser parcialmente traduzida
como ação. Além disso significa também movimento trabalho. De um modo geral a
terminologia ocidental não tem, a maior parte das vezes, termos adequados para traduzir
os vocábulos das línguas orientais que, nos domínios da vida subjetiva, possuem toda uma
gama de expressões qualificadoras que não apresentam, tal a sua diversidade de matizes,
paralelismo nos idiomas ocidentais.
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Já nos Vedas que são um texto antiquíssimo, encontramos esboçada na palavra
RTA o princípio que mais tarde tornar-se-ia conhecido como... KARMA. RTA
caracteriza a ordem física e moral do Universo. É a força coordenadora que sustém
o Todo e em função da qual ele existe. É a lei. É devido à ação do RTA, dizem os
Vedas, que o Sol (Varuna) percorre os céus todos os dias. Pouco a pouco a ideia
germinativa contida no conceito da RTA desabrocha na concepção absolutamente
geral do Karma.
Encontramo-la na Bíblia, na epístola de São Paulo aos Gálatas 6 versículo 7 - "Não
erreis: Deus não se deixa escarnecer, porque tudo que o homem semear, isso
também ceifará".
8 – “Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que
semear no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.”
E por fim no versículo 9:
9 - "E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos se não
houvermos desfalecido.”
No Budismo encontramos essa lei em inúmeras passagens; cito somente aquele
trecho do Dhammapada 1 – 1,2 onde se lê:
"Se um homem fala ou age com mau pensamento, a dor o segue como a roda
segue o boi que puxa o carro. Se um homem fala ou age com pensamento puro, a
felicidade o acompanha como uma sombra, não o deixando nunca.”
São inúmeros os exemplos que poderiam ser citados para mostrar a ocorrência
dessa lei em todas as religiões do mundo.
Aos que desejarem mais exemplos eu os reporto ao livro da Dra. Annie Besant
intitulado "The Universal Text Book of Religion and Morals”.
A lei de ação e reação por ser cognominada como lei de justiça. O seu alcance é
total, nada fugindo ao seu controle. Deparamos a sua ação quer nos planos físico quer
nos planos morais e espirituais. A sua exata compreensão esclarece o porque das
dificuldades desta vida. Porque sofrem inocentes enquanto os culpados
impunemente se vangloriam.
O nosso Universo é um conjunto regido por leis. Muitas os homens as estudam.
tabelam e, agindo de acordo com a sua natureza, conseguem dominá-las pondo-as a
seu serviço. Outras fogem inteiramente a seu controle. Os métodos humanos são
ainda muito rudimentares para atingirem fenômenos que ocorrem em zonas muito
afastadas das regiões comuns do conhecimento humano. É o caso da lei de ação e
reação. Quando sua ação se desenvolve no plano físico, da percepção sensorial, os fatos
são logo por nós apreendidos, podendo os seus efeitos ser previstos. Quando por
exemplo jogamos uma bola de borracha contra a parede sabemos em virtude de
experiências anteriores por nós realizadas que, logicamente seguir-se-á uma reação
inversa. Em relação ao domínio de acontecimentos ocorridos em regiões fora da nossa
percepção sensorial, atribuímos aos fatos que nos surgem na vida produzindo-nos
sensações de dor e alegria, uma origem hipotética. E como recurso, adotamos as
palavras vagas;destino, milagre, desígnio da providência, para explicá-los.
O filósofo Plotino em sua Eneadas, vol. IV, já afirmava no século II a. C.:
"A ordem universal distribui exatamente aquilo que a cada um convém, mas como
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nós, pela nossa ignorância, desconhecemos suas causas, começamos a blasfemar.”
Essa revolta contra o que nos ocorre é fruto da ignorância. Ignorância da
existência das leis que ordenam o funcionamento do Universo. A posição do homem é a
de um elo dessa infinita cadeia que se desenvolve dentro do Universo. É um dente da
engrenagem da máquina suprema. O seu destino está sob seu controle, dentro de
certos limites. Podemos modelar o nosso futuro. O que nos ocorre hoje em dia e contra
que tanto nos revoltamos, é a resultante lógica da interação de vários fatores
movimentados imprevidentemente no passado. Não temos o direito de nos revoltar
contra o que nos acontece por nossa culpa exclusiva.
Quando nos queimamos, logicamente a dor física proveniente da irritação dos
tecidos, seguir-se-á. Culpa exclusivamente nossa e não do fogo.
E qual a natureza dessa lei universal de ação e reação? Há vários modos de
abordar o assunto.
A 1ª maneira é o polo negativo da questão. É a fatalista dos que adimitem que
tudo que ocorreu, ocorre e ocorrerá no Universo, está em estado embrionário
registrado na nebulosa primitiva. E que, devido a isso, não adianta qualquer esforço
para modificar o irremediável. É a teoria do determinismo.
O polo positivo é o da teoria do livre-arbítrio. Para os adeptos desse ponto de vista
tudo o que ocorreu, ocorre e ocorrerá no Universo é somente função do acaso: Da sorte.
E o 3º modo com que podemos abordar o problema é através da ligação dos dois
polos da questão. Na realidade não há nem determinismo nem livre-arbítrio. Tais palavras
são rótulos com que procuramos identificar uma "coisa" puramente unitária. A “coisa em
si" não é nem determinada nem indeterminada. É um misto das duas. A determinação e a
indeterminação parecem decorrer principalmente da maior ou menor "precisão" com
que o fato é observado, sendo essa palavra "precisão" empregada no seu sentido mais
geral. Fenômenos que em relação ao nosso sistema de referência se desenvolvem em
macro ou micro-escalas, são determinados ou indeterminados. De modo análogo a uma
chapa fotográfica que pelas características de sua gelatina só permite o registro
perfeitamente determinado de um certo grupo de ondas. Todas as outras ondas de
comprimentos maiores ou menores são indeterminadas em relação à sensibilidade da
chapa.
A última lei que nos propusemos examinar, deduzível também da lei da Unidade, é a
lei da manifestação cíclica.
Vivemos cercados de dualidade. Alternâncias. Dia – noite, positivo – negativo, sístole –
diástole, expiração – inspiração, vida – morte. Esses dois aspectos são indispensáveis à
nossa percepção fenomênica. Entre eles entende-se a escala gradativa de valores que
permite a distinção de um e outro fato. É o contraste que permite o reconhecimento da
realidade. Um objeto negro diante de um fundo negro dissolve-se em uma grande treva.
Só há manifestação quando há reconhecimento. Tudo que não conhecemos é
imanifestado para nós. O característico da manifestação é a dualidade, o contraste, o
choque, a alternância. A vida e a morte são os aspecto dessa existência eterna equivalendo
ao sono e vigília. Da mesma forma que ao levantar-nos pela manhã somos a mesma pessoa
que à noite se deitou, somente um pouco mais velhos, é lógico, a existência do homem não
se resume somente ao período limitado pelo nascimento e morte. A cadeia é contínua. Ao
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longo dela o desenvolvimento é cíclico. Constante.
O homem e todos os seres se aglutinam no espaço e no tempo em torno de um centro
polarizador. Uma espécie de baricentro energético. Esse centro polarizador é também
chamado Ser, Foco, Ápice, Centelha, Vórtice, Espírito, Atman. São palavras sinônimas para
descrever aquele "substractum" imutável e eterno dentro da relatividade da manifestação
cósmica. Vida e morte são aspectos da existência contínua do Espírito.
Essas são resumidamente as leis fundamentais da Teosofia.
Para dedicar-se inteiramente ao seu estudo foi fundada em 1875, por dois idealistas,
HELENA P. BLAVATSKY e HENRY S. OLCOTT, a Sociedade Teosófica. Sua sede é em Adyar,
Madras, Índia, ramificando-se por todo o mundo. Seus objetivos principais são 3:
1º - Formar um núcleo de Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de
raça, crença, sexo ou cor.
2º - Estimular o estudo comparativo das religiões, filosofias e ciências.
3º - Estudar as leis não explicadas da natureza e os poderes latentes no homem.
Constituem esse núcleo estudantes pertencentes a todas as religiões ou a nenhuma. A
Sociedade Teosófica não pretende ser a única detentora da verdade. Isso seria ir contra os
seus próprios fundamentos. A própria fundadora, Sra. Helena P. Blavatsky, em um folheto
intitulado "É a Teosofia uma Religião ?", após desmentir uma falsa ideia, diz que a
Sociedade Teosófica e os Teosofistas não são perfeitos. Nada melhor do que transcrever as
suas próprias palavras:
- A Teosofia é perfeita, não os teósofos. Os dois, a Teosofia e a Sociedade Teosófica,
assim como um jarro e a água nele contida, não devem ser confundidos. Um é o ideal. A
Sabedoria Divina. A perfeição em si mesma. O outro é uma pobre coisa imperfeita tentando
segui-la. É a sua sombra na Terra.
A Sociedade Teosófica adota como lema uma frase que vale como uma bandeira:
"Não há religião superior à verdade". Com esse espírito de pesquisa da Verdade é
que devemos orientar a nossa vida. Lembro-vos a história daqueles janaistas cegos e o
elefante, cuja profunda significação é digna de ser meditada.
Certa vez um grupo de cegos aproximou-se de um elefante. Um deles abraçando-se a
uma das patas e logo a seguir às outras, gritava que estava num templo pois confundia
as patas com colunas. O outro seguro pela tromba pedia socorro pois julgava-se
capturado por uma gigantesca serpente; enquanto o 3°, ao roçar as suas costas em
uma das ponte agudas presas do animal julgava que tivesse se encostado numa lança.
Como vedes cada um dos pobres cegos tinha da realidade uma noção diversa. É o
perigo das deduções apressadas. De se querer extrapolar acima daquilo que os dados
colhidos permitem. Devemos sempre recordar esse simples conto antes de formarmos
um conceito definido sobre uma coisa qualquer. Temos por obrigação, a não ser que
conscientemente queiramos incidir em erro, de examiná-la sob todos os pontos de
vista. A resultante do exame do objeto sob diversos pontos de vista é que deve
constituir a nossa opinião. A nos, a verdade é relativa, e como tal passível de
imperfeição. É capital que o reconheçamos. Tolerância é uma palavra chave para
aqueles que querem atingir a liberação. Se a humanidade, em suas relações, busca-se
sua atitude sob o signo da Tolerância o mundo seria muito diferente do que na
realidade é. E justamente o trabalho por um mundo melhor é o principal dos objetivos
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da Sociedade Teosófica. Um mundo em que a fraternidade dos homens e dos seres
seja real. E que as palavras fraternidade, tolerância, deixem de ser meras palavras.
Sejam menos usadas e mais vividas. Uma das formas de se conseguir acelerar esse
estado de coisas é lutar contra a ignorância sob todos os seus aspectos. A principal
ignorância de onde decorrem todas as supertições, é a do autoconhecimento. Nunca
simples regra do oráculo de Delfos "Conhece-te a ti próprio" foi tão necessária de ser
lembrada. A vida atual é extrovertida. O homem completamente dominado pelo ato de
acumular posses materiais, esqueceu-se completamente do seu mundo interno. Todo
estudo sério e aprofundado é de um modo geral evitado Para que, - diz - qual o
benefício imediato que isso me traria? São as respostas mais comuns. Ou então: não
tenho tempo. O trabalho, os filhos as preocupações me absorvem toda a atenção. No
futuro, na velhice, me dedicarei à introspecção. Até lá não tenho tempo de me
conhecer a mim próprio. Enquanto isso para não pensar, o homem toma em doses
cada vez maiores os derivativos das diversões. É o ópio que impede de conhecer.
Mecanizado ao grau supremo não pensa mais. Reúne fórmulas gastas de textos
consagrados. A própria religião em que nasceu é aceita sem discussões. Cumprindo as
suas principais regras, automaticamente, sem se dar ao trabalho de analisá-las, julga
poder comprar o céu a prestações, Para que? É tão mais cômodo não pensar. Deixar que
os outros pensem por nós. É muito mais fácil em vez de abrir caminho seguir o caminho
aberto pelos outros. Adotar fórmulas preestabelecidas. A inércia mental é tão confortável.
As "gaiolinhas" em que nos abrigamos são mais aconchegantes, do que os perigos do
desbravamento de terras desconhecidas... Essa tendência à acomodação é congênita no
homem. Contra ela todos os instrutores e filósofos se debateram. Sócrates e seu método de
ensinar fazendo perguntas para que o interlocutor pudesse chegar às suas conclusões;
fazendo o papel de porteiro de ideias como ele próprio se identifica no diálogo. Tetetus, é
um exemplo vivo entre tantos. O filósofo Schopenhauer em um dos seus "Ensaios" afirma
que "a constante ingestão de pensamentos alheios confina e abafa o nosso, e no decorrer
do tempo paralisa o nosso poder de pensar... A inclinação da maior parte dos estudiosos é
uma espécie de ventosa, por meio da qual um espírito pobre suga o pensamento dos
outros... É perigoso ler a respeito de um assunto sobre o qual nunca meditamos por nós
mesmos... Quando lemos, outra pessoa pensa por nós; meramente lhe repetimos o
processo mental. Quem passa o dia inteiro lendo, gradativamente perde a faculdade de
pensar..." Lembro-me daqueles pungentes versículos do Mundaka Upanishad:
"Mergulhados nas profundezas da ignorância e do erro, julgando-se sábios por
conceito próprio, grandes em sua imaginação, lá se vão os infelizes tropeçando a cada
passo no caminho, como cegos conduzidos por cegos".
Abramos os olhos. Pensemos. Deixemos de ser cegos. A nossa cegueira é voluntária,
por comodidade, Não façamos da Teosofia e da Soc. Teosófica outros tantos guias.
Aceitemos o testemunho daqueles que tiveram ou têm mais prática. Mas não nos limitemos
a ver com os olhos de Blavatsky, Leadbeater, Krishnamurti e fazer das suas opiniões
justamente aquilo contra o qual eles se bateram: um dogma. A Teosofia, a Sabedoria
Divina, deve ser viva, vivida e não aceita sem discussão. O nosso objetivo deve ser o de
demolir as prisões menores e não de construir um presídio maior.
Procuremos o caminho e cumpramos as nossas obrigações com a maior perfeição
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possível, sem nos preocuparmos com os resultados.
Desapaixonadamente. Desinteressadamente.
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