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Universidade de Cabo Verde

Departamento de Engenharia e Ciências do Mar

GESTÃO DE SISTEMAS
de
ENERGIA ELÉCTRICA

2013 -2014
2012/2013 Apresentação I 1
Universidade de Cabo Verde
Departamento de Engenharia e Ciências do Mar

•Reestruturação
•Privatização
Terminologia associada à evolução dos modelos
•Regulação
de gestão dos SEEs, um pouco por todo o Mundo
•Desregulação
•Re-regulação
“modelo tradicional do sector eléctrico”
“vertically integrated regulated monopoly companies”
Produção, transporte, distribuição e comercialização de electricidade
concentradas numa só empresa nacional ou regional, pública ou privada.
O Estado exerce um papel de Regulador Técnico e Económico
aprovando tarifas, controlando a qualidade de serviço técnico, controlando o
planeamento dos centros produtores (faseamento e tecnologias) e da rede de
transporte e impondo regras técnicas a serem seguidas obrigatoriamente no projecto
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de instalações de produção, transporte, distribuição e utilização.
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Esta intervenção regulatória do Estado é feita em nome da estratégia nacional de cada
País para satisfazer a procura crescente de electricidade e da defesa do equilíbrio dos
interesses das empresas monopolistas e dos consumidores.
A Indústria de Electricidade é, nesta fase assumida como sendo um monopólio natural.
• Estas empresas que prestam um serviço público essencial ou, que prestam um
serviço de interesse geral, se usarmos a mais recente terminologia, no caso de se
tratar de empresas de capitais privados, são geralmente designadas por “utililities”,
mesmo fora dos países de língua inglesa.
• Os conceitos de serviços públicos essenciais (aplicáveis ao abastecimento de água,
energia eléctrica, gás, e serviço de telefone, serviços postais, serviço de comunicações
electrónicas, serviços de recolha e tratamento de águas residuais, serviço de gestão de
resíduos sólidos urbanos) e de serviços de interesse geral coincidem quando se trata
do abastecimento dos serviços mencionados, embora formalmente sejam definidos de
diferente maneira. Importa também introduzir o conceito de serviço universal
(conjunto de princípios e obrigações que determinados serviços deverão cumprir por
forma a serem acessíveis a todos os cidadãos a preços razoáveis). É pois corrente3 que
os serviços públicos essenciais contenham algumas exigências de serviço universal.
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É a partir dos anos 90 do Século XX que as empresas verticalmente
integradas, de capitais públicos ou privados, são reestruturadas numa
nova lógica, em nome da defesa da concorrência e dos interesses do
consumidor final de electricidade, lógica que inclui normalmente a
privatização das empresas de capitais públicos Tem sido um processo
evolutivo que está longe de estar concluído. Esta reestruturação muita
vezes feita sob a bandeira da desregulação tem consistido
fundamentalmente na procura de processos que possam permitir a
criação de mercados de electricidade regidos pela lei da oferta e da
procura à semelhança dos já existentes para outro tipo de bens.
Ao contrário do que o termo desregulação possa parecer querer dizer as
reestruturações levadas a cabo não implicaram o abandono de procedimentos
regulatórios e em muitos casos implicaram o seu reforço, mas agora, quase sempre, a
regulação é assegurada por um Regulador independente do Estado e dos actores4 que
intervêm no sector eléctrico.
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Na Europa, independentemente de processos específicos conduzidos


por políticas próprias de alguns Países, a Comissão Europeia estabeleceu
três Directivas conducentes à implementação uniformizada em cada
País dos processos de reestruturação e de regulação dos respectivos
sectores eléctricos. Essas Directivas foram as seguintes: 96/92/CE,
2003/54/CE e 2009/72/CE, cada uma delas anulando e substituindo a
anterior e tendo como objectivo contribuir para a implementação do
chamado Mercado Interno de Electricidade

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OS PRIMEIROS PASSOS DA INDÚSTRIA DE ENERGIA ELECTRICA:
A exploração comercial da electricidade só se tornou economicamente viável após o
início do fabrico industrial da lâmpada incandescente, de filamento de carvão,
desenvolvida por Thomas Edison que, em 1880, já é competitiva face aos custos da
iluminação a gás, comercializada desde 1812, e aos custos da iluminação por
lâmpadas de arco voltaico.
É também Edison que configura a estrutura típica, até há poucos anos, dos Sistemas de
Energia Eléctrica (SEE) quando estabelece o conceito de “estação central” geradora
de energia eléctrica abastecendo uma rede de distribuição de electricidade que
alimenta todos os utilizadores públicos e privados, numa área, com centro na “estação
central” e raio até um milha.
Em 1882, a Edison Electric Iluminating Company inaugurou a primeira central eléctrica
dos Estados Unidos em Pearl Sreet, Brooklyn, Nova Iorque, alimentando uma rede de
iluminação pública e particular com 400 lâmpadas de 83 Watt cada, dentro de uma área
com cerca de 1,5 km de raio.
O ano de 1882 marca o início da era da indústria de energia eléctrica, isto é, da
utilização de tecnologias de produção e distribuição que permitem 6 a
comercialização da electricidade com viabilidade económica.
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Este novo negócio que, como vamos ver, é de capital intensivo (long term equity,
em inglês) vai crescer rapidamente por todo o Mundo, principalmente depois da
descoberta do transformador por Ferranti e do motor de indução por Tesla, passando
então a geração de electricidade a ser feita em corrente alternada.
O consumo final a nível mundial cresceu extraordinariamente e podemos ver nos
gráficos seguintes da IEA-International Energy Agency, a sua evolução entre 1971 e
2010 (39 anos):

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Recordando que uma Tonelada Equivalente de Petróleo vale 11.630 GWh, estamos na presença
dum consumo, em 2010, de 18.864 mil milhões de kWh, 3,5 vezes maior em 2010 do que em
1973, o que corresponde a um crescimento médio anual de 6,75%.
É evidente que este crescimento do consumo de electricidade se deve não só à comodidade da
sua utilização, mas também ao crescimento da população Mundial cuja evolução se pode
examinar no gráfico seguinte em que os valores indicados a partir de 2005 são previsões, que
até hoje se confirmam:

Mas, infelizmente, em 2003, havia ainda uma fracção significativa de seres humanos que não
tinha tido o privilégio de usufruir da comodidade possibilitada pelo uso da energia eléctrica
(17,9% da população mundial – 1.600 milhões, com 35,8% na África subsariana e 24% na Ásia
8
- Japão não incluído, segundo Brian Min da Universidade da Califórnia).
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A IEA refere que, em 2008, este


número de pessoas sem acesso à
electricidade era de 1.500 milhões e
prevê que em 2030 ainda haverá
1.300 milhões de pessoas sem
acesso à electricidade. Devemos
salientar também que, muitos outros
seres humanos, tendo acesso à
electricidade, ainda não dispõem da
continuidade e qualidade de serviço
mínima a que têm direito.

É também interessante ver que


apesar da enorme expansão do seu
uso, o peso da electricidade no
consumo final de energia em 2010 é
de apenas 17,7%, contra 9,4% em
1973. 9
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Logo que o exemplo de Pearl Street é conhecido, a indústria de energia
eléctrica, isto é, as empresas de produção e, ou, distribuição de electricidade
começam a surgir por todo o Mundo.

• Em Cabo Verde, surge em S. Vicente a primeira central, em 1925, após a


assinatura de um contrato de concessão celebrado entre a Câmara Municipal e
a empresa Bonucci & Leça, Lda. Esta concessão é rescindida em 31.01.1948,
ficando a Câmara de S. Vicente a operar os Serviços de Electricidade
• Em 04.10.75 esses serviços passam a constituir um organismo autónomo a
CEM - Central Eléctrica do Mindelo que se fundirá com a JAIDA em Agosto de
1978, dando origem à EAM - Electricidade e Água do Mindelo
• A EAM, por sua vez, em Abril de 1982 fundir-se-á com a CEP - Central
Eléctrica da Praia, e com a EAS - Electricidade e Água do Sal dando origem à
ELECTRA- Empresa Pública de Electricidade e Água, privatizada mais tarde,
em1999.
• A cidade da Praia foi abastecida em corrente contínua até 1960, altura em
que foi constituída a empresa pública designada por CEP - Central Eléctrica
10
da
Praia e construída a central da Gamboa, então fora de portas.
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Uma vez estabelecido o domínio incontestado da corrente alternada, no início
do século XX iniciou-se o desenvolvimento continuado das centrais eléctricas e
redes de distribuição associadas, implantadas em cada cidade ou centro de
consumo e funcionando isoladamente.
A etapa seguinte, cujo início se pode situar nos anos 20 no caso da Europa
central e Inglaterra (em Portugal nos anos 40), consistiu na construção da rede
de transporte em alta e posteriormente, muito alta tensão, ligando todos os
centros produtores. Esta rede permitiu o aproveitamento de recursos
energéticos distantes – hidroeléctricos ou carvão à boca da mina – tendo a
potência do central sido continuamente aumentada, a fim de tirar partido das
economias de escala.
No tocante à produção térmica, a turbina de vapor emergiu como tecnologia
dominante no caso dos grandes sistemas e o motor diesel de média velocidade
(500 a 800 r.p.m) no caso de pequenos sistemas insulares ou de sistemas
isolados em regiões continentais, como aconteceu no Sul da China nos anos
11
80 do século passado na fase inicial do esforço de electrificação dessa região.
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As empresas que se foram constituindo para explorar o negócio da


electricidade, asseguravam inicialmente as actividades de produção e
distribuição, mas exerciam também, necessariamente, a actividade de
comercialização para garantir a colecta da remuneração dos serviços
prestados. Inicialmente eram empresas locais que foram progressivamente
crescendo atingindo por vezes uma dimensão regional ou nacional, integrando
para tal a actividade transporte.
Quanto à estrutura física do SEE nascentes, ela seguiu, até há bem poucos
anos, o modelo de Edison, em Brooklyn.
O Posto de Transformação MT/BT ocupou, nas zonas urbanas e povoações
rurais, o lugar da “estação central”, o raio da área a alimentar é muitas vezes
bem menor que 1,5 km (por vezes alimenta um só edifício ou apenas alguns
andares dum edifício) em função das cargas que se preveem vir a ser
requeridas pelos utilizadores.
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Para responder ao crescimento das áreas electrificadas em cada País e ao
aumento do consumo nas áreas já electrificadas, surgiram novos níveis de
tensão e as necessárias, Linhas e Subestações (S/Es) de transformação
AT/MT e MAT/AT onde, eram geralmente ligadas as Centrais, afastadas quase
sempre para longe dos centros urbanos. Linhas de MAT, AT e MT aéreas ou
subterrâneas asseguram a ligação das Centrais, S/Es e PTs.

Com este crescimento das áreas de consumo surge uma outra actividade, a do
transporte (suportada fisicamente na rede de transporte incluindo
Subestações e Linhas de Transporte e a sua operação). A actividade
transporte, assegura também a gestão de interligação de SEEs pré-
existentes, quer no plano regional, quer no plano nacional, quer, mais tarde, no
plano internacional.
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Necessariamente a gestão da Produção, do Transporte do Distribuição e da
Comercialização torna-se mais complexa, quer porque aumenta o número de
utilizadores de energia eléctrica e o espaço geográfico onde se situam, quer
porque aumenta o consumo individual, quer porque o investimento necessário
para responder ao aumento da procura, também aumenta significativamente.

A complexidade aumenta também porque o número de empresas produtoras


de electricidade aumenta, e como a electricidade não é facilmente
armazenável, torna-se necessário a criação duma nova função que assegure
uma partilha da electricidade produzida que seja economicamente aceitável
quer para produtores quer para os utilizadores finais. Surgem então os
Despachos de Carga, ou Reguladores Nacionais de Carga que, com mais
rigor, deveriam ser designados por Despachos de Produção, que também vão
assumindo a gestão da configuração das Redes de Transporte respectivas, em
regime estacionário e em caso de perturbações.

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Nesta fase os Despachos eram geridos por uma estrutura com representantes
de todas as empresas privadas públicas ou de capitais mistos que
asseguravam o equilíbrio dos interesses dos diferentes produtores. o que nem
sempre correspondia à solução de menor custo de produção.

Esta função, Despacho ou Dispatching em inglês com uma componente de


gestão económica da produção e do trânsito de energia nas redes primárias,
torna-se mais complexa à medida que as interligações nacionais e
internacionais vão aumentando.
Os Centros de Despacho, numa fase inicial recebiam informações telefónicas
sobre as cargas produzidas por cada grupo de cada central, das cargas
transitadas nas linhas, da posição aberto ou fechado de cada disjuntor de
grupo e de cabeceira de linha e controlavam a frequência. As perturbações na
rede eram também comunicadas telefonicamente com recurso à injecção de
determinadas frequências nas próprias linhas, depois conduzidas aos telefones
do Centro de despacho.
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Mais tarde, a evolução tecnológica permite receber estas informações


directamente das centrais e subestações (telemedida) com recurso à
transmissão dessas informações por altas frequências.

Mais tarde ainda, com a evolução dos sistemas de comunicação e dos


computadores de pequeno porte, é possível dispor, em tempo real, nos
Centros de Despacho, dos esquemas unifilares das centrais e subestações
com a indicação instantânea do estado de fecho ou abertura dos disjuntores e
por vezes de seccionadores, com a representação das linhas de transporte,
com indicação da medida de todas as grandezas eléctricas necessárias à
gestão do SEE e ainda com indicação da actuação das protecções de cada
grupo linha, bateria de condensadores, etc.

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As empresas desenvolvem as actividades de Produção e, ou, Transporte e,
ou, Distribuição e também necessariamente a actividade de Comercialização
que inicialmente assegurava a colecta da remuneração dos distribuidores
devida pelos utilizadores de energia eléctrica e também a colecta da
remuneração entre os actores intervenientes na Produção, Transporte e
Distribuição, actividade que hoje em dia sofreu considerável ampliação como
veremos mais tarde.

No que se refere à propriedade das Centrais e Redes várias foram as soluções


adoptadas em cada País. Centrais construídas e geridas por empresas de
capitais públicos, centrais construídas e geridas por empresas de capitais
privados, centrais construídas e geridas por empresas de capitais mistos.
Subestações de rede primária e Linhas de Transporte construídas e geridas
por empresas de capitais privados. Subestações e Redes de Distribuição
construídas por empresas de capitais públicos ou privados ou cooperativas de
utilizadores.
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As empresas que intervinham na área do Transporte e da Distribuição passam
a ter uma intervenção nacional ou regional.

As Empresas de Produção, cujas centrais se situam quase sempre bem longe


das áreas urbanas vendem geralmente a energia produzida à(s) empresa(s)
que explora(m) a(s) Rede(s) de Transporte que por sua vez vende(m) a
energia à(s) empresa(s) que explora(m) as Rede(s) de Distribuição. São as
Empresas Distribuidoras que tradicionalmente vendem a electricidade ao
utilizador final, muito embora no caso de grandes consumos se verifique a
venda em AT ou MAT pelas Empresas de Transporte, a grandes cimenteiras,
indústria siderúrgica, grande indústria química, etc..
Nalguns países, em particular na Europa, em que os SEE ficaram praticamente
destruídos, durante a 2ª Guerra Mundial, surgiram, na maioria dos casos por
intervenção do Estado, empresas verticais, que asseguravam as actividades
Produção, Transporte, Distribuição e Comercialização, na sua maioria de
capitais públicos. Eram empresas monopolistas de âmbito regional ou
nacional. 18
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A FASE MONOPOLISTA DA INDÙSTRIA DE ELECTRICIDADE

Na década de 60 do século XX, a tendência para a centralização reforçou-se,


cresceram as potências dos centros produtores e surgiram as primeiras
centrais nucleares. A taxa de crescimento anual da procura, nos países
industrializados, atingiu 7%, o que significa a duplicação em 10 anos.
Chegou-se assim ao que poderemos designar por modelo tradicional do
sector eléctrico[1], que poderemos identificar como suportado em dois pilares:

1. Grandes centrais eléctricas, com potências instaladas atingindo em alguns


casos os milhões de kW – afastadas dos centros de consumo e ligadas a uma
rede em corrente alternada com elevada capacidade de transporte;

2. Concessão monopolista (a nível regional ou nacional) para financiar,


construir, e explorar o sistema de energia eléctrica, atribuída a empresas
verticais assegurando a produção, o transporte, a distribuição e a
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comercialização de electricidade.
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Na maioria dos Países em que este modelo foi aplicado o Estado assumia um
papel regulatório assumindo implícita ou explicitamente as tarefas a seguir
descritas, que impunha aos dois actores principais que nessa altura actuavam
no sector eléctrico: empresa monopolista de produção transporte e distribuição
e consumidores:
• Aprovação das tarifas de venda de electricidade nas diversas opções
colocadas à disposição dos consumidores nos diferentes níveis de tensão;
• Controlo da qualidade de serviço técnico prestado aos consumidores;
• Planeamento de novos centros produtores e da rede de transporte;
• Estabelecimento de regras técnicas também designadas por
Regulamentação de Segurança a que deveriam obedecer as instalações de
produção, transporte, distribuição e de utilização de electricidade para garantir
a qualidade de serviço técnico e a protecção física dos cidadãos em geral e do
pessoal das empresas de produção transporte e distribuição e dos utilizadores
finais em particular. 20
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A viragem na concepção da gestão dos SEE
Este modelo tradicional do sector eléctrico tem vindo a ser questionado, desde
o final da década de 70 do século passado. A inovação tecnológica vem pondo
em causa o primeiro pilar e a inovação institucional, na lógica do
neoliberalismo, tem vindo a introduzir grandes alterações no segundo pilar,
ainda que não uniformes em todos os países.
A inovação tecnológica resulta do advento de novas tecnologias de produção,
mais eficientes e com custos de investimento mais reduzidos e, ou,
rendimentos mais elevados, nomeadamente:
• a turbina de gás, possui uma gama alargada de potências unitárias que cobre
dos 20 aos 600 MW; o rendimento não vai além de 33-38% mas o custo de
investimento é baixo o que torna esta tecnologia interessante para energia de
ponta (peaking power);
• o ciclo combinado (turbina de gás associada à turbina de vapor), usando gás
natural, que permitiu atingir rendimentos superiores a 55% e reduziu
21
substancialmente as economias de escala;
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• a expansão da cogeração (produção combinada de electricidade e calor), que


proporciona uma significativa melhoria do aproveitamento da energia primária
dos combustíveis e permite descentralizar a produção para junto dos locais de
consumo;
• o aproveitamento das energias renováveis (eólica, mini-hídrica, solar, etc),
que têm um impacte ambiental reduzido, mesmo agrupadas em centros
produtores de alguma dimensão, contribuem para a redução do efeito de
estufa originado pela queima de combustíveis fósseis nas centrais térmicas;
também o aproveitamento das energias renováveis nas habitações (home
power) e os incentivos à sua utilização vem contribuir para abanar o primeiro
pilar;
As novas tecnologias permitem, em cada País, um novo “mix” das tecnologias
de produção, despertam o interesse dos investidores privados, e altera-se
muito a localização dos centros produtores com a introdução da cogeração,
das energias renováveis, começando a acontecer a existência de produção
distribuída, isto é, inserida nas malhas do consumo. 22
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A inovação institucional resulta da onda de liberalização iniciada nos anos 70,
que está a transformar o modelo monopolista (público ou privado), baseado na
lógica do serviço público, assegurado pelos governos, visando alcançar
ganhos de eficiência e consequente redução de preços, em benefício dos
consumidores. Esta inovação institucional está também muito associada aos
progressos tecnológicos registados na informática e nas comunicações.
Hoje reconhece-se a bondade do mercado e procura-se introduzir um clima de
competição sempre que possível, mesmo em sectores como a electricidade,
tradicionalmente considerados monopólios naturais. A exigência de maior
transparência nos preços e a eliminação da subsidiação cruzada, põe em
causa o modelo dominante de empresa concessionária integrada.
Por outro lado, assiste-se a uma crescente pressão para tomar em conta os
custos ambientais resultantes da produção e consumo da energia eléctrica,
tendo a integração da vertente ambiental passado a ser um dos objectivos
principais da política energética.
Neste contexto, a eficiência energética assume importância crucial, quer a
nível da oferta (produção/transporte/distribuição) quer a nível da procura
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(consumo).
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Cabo Verde pretendeu saltar etapas, apoiado nas experiências já percorridas
noutros países e, em finais de 1998 foi publicada legislação que pretendeu
juntar as etapas de constituição do modelo tradicional do sector eléctrico tendo
em conta a especificidade do País, e a etapa de liberalização do sector. A
legislação então publicada pretendeu atingir três objectivos fundamentais:
1. Constituir uma empresa de âmbito nacional, monopolista, verticalmente
integrada, que em cada ilha asseguraria o serviço público de produção,
transporte e distribuição de electricidade. Isso implicou a mudança do estatuto
da ELECTRA de empresa pública para sociedade por acções e a integração na
ELECTRA de todos os serviços de produção e distribuição de electricidade
municipais. O Estado passaria a deter 85% do capital social da empresa e os
municípios, no seu conjunto, deteriam 15%.
2. Estabelecer a competitividade na produção, abrindo a possibilidade de
acesso à rede de produtores independentes e cogeradores e regular a
produção e a distribuição através de uma entidade independente a ARM -
Agência Reguladora Multisectorial, rebaptizada em 2003 de ARE - Agência
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Reguladora Económica.
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3. Vender 51% do capital, reduzindo o capital do Estado na ELECTRA para
34%, a um operador privado experimentado, designado como parceiro
estratégico, com capacidade financeira para promover o investimento
necessário e capaz de aumentar a eficiência da exploração dos sistemas de
energia eléctrica em cada ilha.
Estas metas foram parcialmente atingidas, tendo a verticalização da empresa
decorrido entre 1999 e 2001 e a privatização, efectuada em 1999, teve início de gestão
pelo parceiro estratégico, em 18 de Janeiro de 2000. Todavia a subida do preço dos
combustíveis, que começou a verificar-se no segundo semestre de 1999 no mercado
internacional, veio criar, a partir de Março de 2001 um conflito, entre o Concedente e
o Concessionário, que acabou pela ruptura entre as partes em 2006. Em 2000 essa
subida de preço dos combustíveis foi suportável para a ELECTRA, porque o Governo
subsidiou o gasóleo, então o combustível mais usado pela ELECTRA na produção de
electricidade, mantendo o seu preço em 20$10, mas tendo os preços começado a
disparar em Março de 2001, o Governo não aceitou fazer reflectir nas tarifas esse
aumento de custo dos combustíveis. Só em 1 de Janeiro de 2003 foi revisto o tarifário
de electricidade e publicada uma primeira tarifa de remuneração da Iluminação 25
Pública.
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Como entretanto os combustíveis continuaram a aumentar, o concedente e o
concessionário mantiveram um acordo não formal na base do qual as partes
aceitaram a estratégia, desastrosa para o País, de “não há tarifas não há
investimento” na leitura do Concessionário ou “não há investimento não há tarifas”
na leitura do Concedente.
Assim apesar dos vultuosos investimentos planeados em 2000/2001, que entraram
em serviço em 2002, não foi possível obter a redução dos custos de produção e
distribuição esperados e não foi possível responder ao crescimento da procura. O
conflito nunca foi assumido, por nenhuma das partes, junto das instâncias que o
deveriam redimir tal como previsto no “Contrato de Compra e Venda de 51% da
ELECTRA” e, em 2006, a situação tornou-se insustentável, tendo as partes negociado
uma indemnização a pagar pelo Estado ao parceiro estratégico para este sair do
capital da empresa. A ELECTRA voltou então a ser uma empresa vertical,
monopolista, de capitais públicos.

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A evolução da organização do
sector de energia eléctrica em
Cabo Verde

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O SECTOR ELÉCTRICO CABOVERDIANO APÓS A CONSTITUIÇÂO DA LECTRA E ANTES DA INTEGRAÇÃO SERVIÇOS ELÉCTRICOS MUNICIPAIS

Actividades de Produção Transporte Distribuição e Comercialização Regulação Técnica Regulação Económica

Sto Antão Câmara Municipal do Paúl

1982/1999
Câmara Municipal da Ribeira Grande
Câmara Municipal do Porto Novo Direcção Geral de Energia
S.Vicente ELECTRA
S.Nicolau Câmara Municipal de S. Nicolau (SEEs Ribeira Brava e Tarrafal)
Sal ELECTRA
Boavista Câmara Municipal da Boavista => Concessionada à ELECTRA
Maio Câmara Municipal do Maio
PRODUÇÃO Santiago ELECTRA (SEEs da Praia, Porto Mosquito e Barce-Barce)
Câmara Municipal de S. Domingos
Câmara Municipal de Sta Cruz
(A Concessão à ELECTRA dos Câmara Municipal de Sta Catarina (SEEs Assomada e Ribeira da Barca)
Câmara Municipal de S. Miguel
Serviços de Produção e Câmara Municipal do Tarrafal
Distribuição de electricidade Fogo Câmara Municipal de S. Filipe
Câmara Municipal de Mosteiros
e água pela Câmara da Brava Câmara Municipal da Brava

Boavista só teve lugar em


Dezembro de 1992) Sto Antão Câmara Municipal do Paúl
Câmara Municipal da Ribeira Grande
Câmara Municipal do Porto Novo
S.Vicente ELECTRA Consumidores de
S.Nicolau Câmara Municipal de S. Nicolau energia eléctrica
Sal ELECTRA
Boavista Câmara Municipal da Boavista => Concessionada à ELECTRA
TRANSPORTE + Maio Câmara Municipal do Maio
DISTRIBUIÇÃO + Santiago ELECTRA (SEEs da Praia, Porto Mosquito e Barce-Barce)
COMERCIALIZAÇÃO Câmara Municipal de S. Domingos Promotores de
Câmara Municipal de Sta Cruz investimentos
Câmara Municipal de Sta Catarina urbanisticos
Câmara Municipal de S. Miguel industriais e
Câmara Municipal do Tarrafal turísticos
Fogo Câmara Municipal de S. Filipe 28
Câmara Municipal de Mosteiros
Brava Câmara Municipal da Brava
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Consequências da organização existente (1):


• Proliferação de tensões na MT, com a seguinte situação em 1999)
• 10 kV em Sto Antão
• 6 ->20 kV em S. Vicente
• 20 kV em S. Nicolau
• 13,8 kV-> 20 kV no Sal
• 20 kV na Boavista
• 20 kV no Maio
• 15 kV na Praia
• 15 kV em S. Domingos
• 20 kV em Sta Cruz, Sta Catarina, S. Miguel e Tarrafal
• 6 -> 15 kV em S. Filipe
• 20 kV em Mosteiros
• 6 ->20 kV na Brava

• Uniformidade da tensão de 380/220 V na BT, no todo nacional 29


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Consequências da organização existente (2):


• Mesmo quando havia idêntica tensão não havia uniformidade de critérios
na utilização condutores, de cabos, de equipamentos de corte, de
isolamento, e de protecção quer na MT quer na BT.
• Os tarifários eram diferenciados como se pode verificar em valores de
1999:
• ELECTRA (S. Vicente, Sal, Boavista e cidade da Praia)
1º Escalão: (até 40 kWh) : 14$00/kWh
2º Escalão: (>40 kWh): 17$00/kWh
• Ribeira Grande
1º Escalão: (até 40 kWh) : 17$00/kWh
2º Escalão: (>10 kWh): 17$00/kWh
• Porto Novo:
1º Escalão: (até 50 kWh) : 18$00/kWh
2º Escalão: (>50<100 kWh): 26$00/kWh
3º Escalão: (>100 kWh) : 30$00/kWh 30
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• Paúl:
1º Escalão: (até 70 kWh) : 15$00/kWh
2º Escalão: (>70kWh) : 20$00/kWh
• S. Nicolau:
1º Escalão: (até 40 kWh) : 18$00/kWh
2º Escalão: (>40kWh) : 20$00/kWh
• Maio:
1º Escalão: (até 35 kWh) : 16$00/kWh
2º Escalão: (>35<60kWh) : 18$00/kWh
3º Escalão: (>60 kWh) : 20$00/kWh
• Sta Cruz:
1º Escalão: (até 40 kWh) : 24$00/kWh
2º Escalão: (>40kWh) : 24$00/kWh

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• Tarrafal (Santiago):
1º Escalão: (até 50 kWh) : 15$00/kWh
2º Escalão: (>50<75kWh) : 17$50/kWh
3º Escalão: (>75kWh) : 20$00/kWh
• Sta Catarina:
1º Escalão: (até 40 kWh) : 17$00/kWh
2º Escalão: (>40kWh) : 17$00/kWh
• Praia Rural:
1º Escalão: (até 60 kWh) : 500$00/mês
• São Domingos:
1º Escalão: (até 40 kWh) : 20$00/kWh
2º Escalão: (>40kWh) : 20$00/kWh
• São Miguel:
1º Escalão: (até 50 kWh) : 15$00/kWh
2º Escalão: (>50<75kWh) : 17$50/kWh
3º Escalão: (>75kWh) : 20$00/kWh
32
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• S. Filipe:
1º Escalão: (até 20 kWh) : 22$00/kWh
2º Escalão: (>20<40 kWh) : 28$00/kWh
3º Escalão: (>40<70 kWh) : 30$00/kWh
4º Escalão: (>70 kWh ) : 34$00/kWh
• Mosteiros:
1º Escalão: (até 40 kWh) : 22$00/kWh
2º Escalão: (>40kWh) : 22$00/kWh
• Brava:
1º Escalão: (até 25 kWh) : 20$00/kWh
2º Escalão: (>25<50kWh) : 23$00/kWh
3º Escalão: (>50<70 kWh) : 25$00/kWh
4º Escalão: (>70 kWh ) : 30$00/kWh

(Com efeito aos consumos de Janeiro de 2000, em todos os serviços eléctricos municipais
integrados na ELECTRA as tarifas foram uniformizadas para a tarifa da ELECTRA, em vigor
desde 1985. Só S. Filipe e Sta Cruz ficaram fora da ELECTRA até 01.01. 2001 e
33
01.03.2002 respectivamente)
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O SECTOR ELÉCTRICO CABOVERDIANO APÓS INTEGRAÇÃO SERVIÇOS ELÉCTRICOS MUNICIPAIS

Actividades de Produção Transporte Distribuição e Comercialização Regulação Técnica Regulação Económica

2000/2010
Sto Antão ELECTRA
Direcção Geral de ARE - Agência de
S.Vicente ELECTRA
Energia Regulação Económica
S.Nicolau ELECTRA
Sal ELECTRA
PRODUÇÃO Boavista ELECTRA
Maio ELECTRA
Santiago ELECTRA
Fogo ELECTRA
Brava ELECTRA

Sto Antão ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT


S.Vicente ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT Consumidores de
S.Nicolau ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT energia eléctrica
TRANSPORTE + Sal ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT
DISTRIBUIÇÃO + Boavista ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT Promotores de
COMERCIALIZAÇÃO Maio ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT investimentos
Santiago ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT urbanisticos
Fogo ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT industriais e 34
Brava ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT turísticos
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O SECTOR ELÉCTRICO CABOVERDIANO EM MARÇO 2013

Actividades de Produção Transporte Distribuição e Comercialização Regulação Técnica Regulação Económica

Sto Antão ELECTRA + Electric


Direcção Geral de ARE - Agência de
S.Vicente ELECTRA + Cabeólica
Energia Regulação Económica
S.Nicolau ELECTRA
Sal ELECTRA + Concessão Parque Fotovoltaico à ELECTRA + Cabeólica
PRODUÇÃO Boavista EAB
Maio ELECTRA
Santiago ELECTRA + Concessão Parque Fotovoltaico à ELECTRA + Cabeólica
Fogo ELECTRA
Brava ELECTRA

Sto Antão ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT


S.Vicente ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT Consumidores de
S.Nicolau ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT energia eléctrica
TRANSPORTE + Sal ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT
DISTRIBUIÇÃO + Boavista ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT => Subconcessão à EAB Promotores de
COMERCIALIZAÇÃO Maio ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT investimentos
Santiago ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT urbanisticos
Fogo ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT industriais e
Brava ELECTRA enquanto Concessionária das Redes AT/MT/BT turísticos

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O SECTOR ELÉCTRICO CABOVERDIANO após 1 de Julho de 2013

Actividades de Produção Transporte Distribuição e Comercialização Regulação Técnica Regulação Económica

Após 1 de Julho de 2013 só se conhece publicamente o


texto e os logotipos que retirámos do ste da ELECTRA .
Não é possível ter a certeza de qual é, no novo contexto, a
relação das empresas com a regulação técnica e econó-
A Resolução Governamental n° 19/2010, de 16 de Abril, alterada pela Resolução n° 26/2011, de 8 de mica, nem com os consumidores e promotores de projec-
Agosto, marcou o arranque efectivo do processo de reestruturação da ELECTRA SARL, criando a tos de investimento.
ELECTRA-SUL, Sociedade Unipessoal, SA, com Sede na Praia e a ELECTRA NORTE – Sociedade
Consumidores de
Unipessoal, SA, com Sede em S. Vicente.
energia eléctrica
O processo de reestruturação da ELECTRA, SARL visa imprimir uma maior eficiência operacional e de
gestão à empresa. Os objectivos subjacentes ao processo de reestruturação da ELECTRA são múltiplos. Promotores de
A prioridade é resolver os problemas graves verificados, sobretudo, em Santiago a nível da investimentos
performance técnica e comercial da empresa, resultado que se espera alcançar através da medida de urbanisticos
descentralização efectiva da gestão. industriais e
turísticos
O âmbito das actividades operacionais das empresas Norte e Sul mantêm-se, conforme as da
ELECTRA, SARL. Haverá sim a separação geográfica, de base regional, pelo que a empresa ELECTRA
NORTE circunscreverá as ilhas de Santo Antão, S. Vicente, São Nicolau e Sal e a ELECTRA-SUL as ilhas
do Maio, Santiago, Fogo e Brava.
Parece que a relação com os consumidores será feita
A ELECTRA, SARL vem trabalhando na criação de condições objectivas para que as referidas empresas pelas empresas regionais e talvez também com os promo-
operacionais possam funcionar com a prevista descentralização. Assim, marcou se como início das tores. Mas, a ser assim, daqui por uns tempos vamos ter
actividades das 3 (três) empresas, o dia 1 de Julho de 2013. procedimentos e normalização de equipamentos
36
diferentes a Norte e a Sul.
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A Legislação base do Sector Eléctrico


de Cabo Verde

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O quadro jurídico de base do Sector Eléctrico
em Cabo Verde
A legislação de base do sector eléctrico cabo-verdiano assenta em três
Decretos-lei:

• DL 54/99 com as modificações que lhe foram introduzidas pelo DL


14/2006 e DL 4/2013 que estabelece as bases do Sistema Eléctrico;
• DL 30/2006 com as modificações que lhe foram introduzidas pelo
DL 61/2010 que rege a produção de energia eléctrica com origem
em fontes não renováveis.
• DL 1/2011 que rege a produção de energia eléctrica com recurso
a energias renováveis.

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De que trata o DL 54/99 (com as modificações que lhe
foram introduzidas pelo DL 14/2006 e DL 4/2013) que
estabelece as bases do Sistema Eléctrico
O DL 54/99 num Capítulo I - Disposições Gerais, começa por definir os Objectivos e Princípios
Gerais a que deve obedecer o Sistema Eléctrico , define depois genericamente num Capítulo II –
Estrutura e funções relacionadas com o Sistema Eléctrico a articulação entre as diversas
entidades que intervêm no sector, onde o Consumidor fica esquecido e num Capítulo III -
Sistema Eléctrico e Regulação caracteriza o os princípios a que devem obedecer os serviços
regulados ou seja os princípios que devem balizar os normativos e a acção reguladora.
Num Capítulo IV – Concessões/Princípios definem-se os serviços objecto de Concessão
(transporte e distribuição), determina-se a necessidade dum Contrato de Concessão outorgado
pelo Estado, que se caracteriza sumariamente, define as regras a seguir para a atribuição de
Concessões, as regras base do relacionamento entre o Concedente e o Concessionário e os
procedimentos a adoptar para resolução de conflitos.
Num Capítulo V – Licenças Operacionais definem-se os serviços objecto de Licença Operacional
(Produção e Distribuição de pequena dimensão em zonas geograficamente isoladas) e atribui
à DGIE o poder de conceder essas licenças, ouvido Agência de Regulação. E define
genericamente critérios para a atribuição de licenças e o relacionamento do Estado com os39
Licenciados.
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O Capítulo VI – Licença de Construção , aplica-se ao licenciamento para construção de
instalações (produção, transporte e distribuição) é um capítulo que está pouco claro e faz pouco
sentido ou está pouco especificado.
O Capítulo VII – Questões legais, fiscais, técnicas e sociais é também pouco claro e visa
minimizar impactos construtivos da construção de instalações.
O Capítulo VIII – Produção de Electricidade define a forma como se deve processar a obtenção
de licenças operacionais para produção e distribuição isolada, incluindo os auto-produtores e as
limitações a impor pelo Regulador à potência a instalar em cada central.
O Capítulo IX – Serviços de Transporte define fundamentalmente a obrigatoriedade da
Concessionária do Transporte conceder livre acesso dos produtores, incluindo os auto-
produtores à rede de transporte.
O Capítulo X – Distribuição define as formas de concessão e de licença (em zonas isoladas), o
livre acesso de produtores incluindo auto-produtores e consumidores com micro-geração se
ligarem à rede e também as condições de prestação e remuneração dos serviços de IIuminação
Pública.
O Capítulo XI – Outros Serviços de energia Eléctrica abre espaço para o aparecimento de
empresas que permitam a terciarização de alguns serviços nomeadamente na área da
comercialização. 40
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O Capítulo XII – Operação Despacho e Segurança do Sistema define sumariamente as formas de


gestão operacional do Sistema Eléctrico , atribuindo ao Regulador a competência de
regulamentar nestes domínios.
O Capítulo XIII – Tarifas estabelece as regras de base que o Regulador deve seguir na
regulamentação, estabelecimento e revisão de tarifas de electricidade.
O Capítulo XIV – Arquivos e contabilidade define regras gerais a que o arquivo de
documentação, a contabilidade das entidades reguladas devem obedecer para que a auditoria
económica da Entidade Reguladora possa ser feita com rigor, bem como define em termos
muito genéricos a documentação que as Entidades Reguladas devem apresentar ao Regulador
bem como a sua periodicidade.
O Capítulo XV- Planeamento, expansão e emergência atribui à Entidade Reguladora a
responsabilidade da supervisão do planeamento do Sistema Eléctrico, mas limita esse
planeamento ao previsto no Contrato de Concessão. E define regras a seguir pelo Governo caso
o Sistema Eléctrico atinja uma situação de crise disponibilidade de electricidade ou seja alvo
duma situação de emergência.
O Capítulo XVI – Acesso aos serviços reafirma o direito dos cidadãos a o Serviço universal de
abastecimento de electricidade. 41
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O Capítulo XVII – Relação com os consumidores reafirma o princípio da não discriminação de
consumidores no que respeita a tarifas, condições e qualidade de serviço e obriga as entidades
reguladas a responder às reclamações dos consumidores.
O Capítulo XVIII – Contagem e facturação estabelece regras para a contagem, facturação e
suspensão de fornecimento de electricidade pelas entidades reguladas. Estabelece ainda o
principio da não transferência e da não revenda de electricidade pelos consumidores.
O Capítulo XIX –Qualidade de Serviço estabelece critérios mínimos de qualidade de serviço e
atribui ao Regulador a responsabilidade de supervisionar essa qualidade e a publicação de
regulamentação específica no domínio da qualidade de serviço. Estabelece ainda procedimentos
a seguir pelas entidades reguladas em caso de desvio da qualidade de serviço.
O Capítulo XX – Direitos e prorrogativas das Entidades Reguladas garante o livre acesso das
entidades reguladas às instalações dos consumidores, o direito destas entidade utilizarem os
bens do Estado e das Autarquias , o direito a solicitar a expropriação ou servidão de
propriedades privadas para estabelecimento de instalações e as regras de indemnização
correspondentes.
O Capítulo XXI – Violações e penalidades define o direito e as circunstâncias do Estado revogar
Concessões ou Licenças Operacionais, tipifica as contra-ordenações por prática de actos ilícitos
por parte das entidades reguladas e define coimas a aplicar em cada caso. Estabelece ainda os
procedimentos que devem ser seguidos nestes casos, o direito de recurso. Estabelece ainda que
o furto de electricidade ou a prática de actos de vandalismo em instalações de energia eléctrica
42
e em contadores é punível civil e criminalmente.
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O Capítulo XXII – Condições Finais e Interinas define a forma de transição que as entidades
que em 1999 actuavam no Sector Eléctrico deviam seguir para ficarem enquadradas nas
regras definidas pelo DL 54/99.

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De que trata o DL 30/2006 (com as modificações que lhe
foram introduzidas pelo DL 61/2010) que rege a produção
de energia eléctrica com recursos não renováveis;

O Capítulo I – Disposições Gerais estabelece as disposições relativas ao acesso, licenciamento e


exploração de instalações de produção de electricidade com origem em fontes não renováveis
(combustíveis fósseis) incluindo a produção independente e a auto-produção. Ficam excluídas
deste diploma as instalações com uma potência inferior ou iguala a 7,5 kVA. Este capítulo
reafirma ainda o principio do livre acesso às redes, a imparcialidade que deve ser observada
com produtores independentes interessados na concretização de projectos de produção.
Estabelece ainda o princípio da obrigatoriedade da compra de electricidade pela rede a auto-
produtores e cogeradores. Admite também o princípio do concurso para construção e
exploração de novas centrais.
O Capítulo II – Meios estabelece as prorrogativas a que os promitentes produtores podem ter
acesso para utilizar os terrenos em que pretendem construir suas centrais quer se trate de
terrenos pertencente ao domínio público ou privado.
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O Capítulo III – Licenciamento de Instalações de Produção estabelece :
a) que a atribuição de licenças operacionais pode ser feita por via concursal ou por autorização
de pedidos;
b) que, no caso da auto-produção e da cogeração , se aplica um regime especial de
licenciamento sendo na licença definido a acesso, a remuneração da energia a entregar à
rede e a vigência;
c) o conteúdo das licenças operacionais incluindo eventuais restrições e valores limite da
emissões poluentes.
d) os procedimentos a seguir para atribuição da Licença Operacional;
e) a emissão pela dum Licença de Estabelecimento autorizando a construção da central e
estabelecendo o valor da garantia bancária que o produtor deve entregar ao concessionário
das redes que será accionada em caso de incumprimento do produtor na fase de construção.
f) que deva ser emitida pela DGE uma Licença de Exploração previamente à emissão da
Licença Operacional mas após uma vistoria que comprove a conclusão integral do projecto;
g) que a recusa de Licença por parte da DGE pode ser objecto de recurso hierárquico.
h) as condições em que pode haver transmissão da Licença,
i) as condições de extinção da licença por caducidade ou por revogação;
j) a obrigatoriedade do produtor participar à DGE e á ARE a ocorrência de desastres ou
45
acidentes
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k) que os titulares de licença são responsáveis civil e criminalmente por eventuais danos
causados pela actividade licenciada;
l) a obrigação do titular da licença manter um seguro de responsabilidade civil de valor a fixar
pela DGE em cada ano de exploração;
m) a obrigatoriedade das entidades licenciadas darem acesso, sempre que requerido, pela DGE
e pela ARE a auditorias, inspecções e fiscalizações;
n) que tipo de informação periódica devem as entidades licenciadas prestar à DGE , à ARE e ao
INE;
o) a existência dum regime simplificado de obtenção de licenças para centrais até 100 kVA
localizadas em localidades geograficamente isoladas;
O Capítulo IV –Ligação à Rede Eléctrica estabelece:
a) as regras a seguir pelo produtor para obter um ponto de entrega da energia a produzir;
b) como deve ser caracterizada a eventual falta de capacidade de recepção das redes
concessionadas;
c) as situações em que pode haver recusa de atribuição de ponto de entrega;
d) a intransmissibilidade do ponto de entrega
e) as condições a estabelecer para o ramal de ligação à rede;
f) a prestação de garantias pelos produtores na fase de exploração
g) as bases a que deve obedecer um concurso quando a atribuição de licença é feita por essa46
via;
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O Capítulo V – Requisitos Técnicos e de Segurança:
a) define os requisitos técnicos a que devem obedecer as instalações de produção;
b) limita a 100 KVA a potência de centrais ligadas à rede de BT e a 20 MVA a potência das
centrais ligadas à rede de MT ou AT no caso das instalações de auto-produção e cogeração.
c) limita a 5000 kVA a potência de cada gerador no caso de se utilizarem geradores
assíncronos;
d) limita a 5% da potência de curto-circuito no ponto de entrega em regime de mínima geração
a potência aparente da central no caso da ligação em MT ou AT e a4% no caso da ligação em
BT;
e) impõe um factor de potência 0,85 indutivo às centrais com geradores assíncronos, e uma
gama de regulação de 0,8 indutivo a 0,8 capacitivo no caso de geradores síncronos;
f) define que nas horas de vazio compete a concessionário da rede definir o factor de
potência;
g) os produtores obrigam-se a cumprir os regulamentos sobre a qualidade de energia eléctrica
incluindo a não injecção de harmónicas na rede.
h) define as protecções a usar na protecção da rede quando de ocorrência de defeitos internos
ao produtor;
i) Define as condições a observar na ligação de geradores assíncronos e síncronos:
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j) Estabelece regras a não seguir na ligação dos neutros dos geradores
k) Estabelece o principio de equipas de contagem duplas, uma para a emissão outra para a
recepção de energia eléctrica;
l) estabelece que o ramal de ligação da central à rede é custeado pelo produtor mas que
constituirá pertença da rede;
m) estabelece que é o produtor que fixa o diagrama de entrega de energia à rede, quando devia
estabelecer o princípio do despacho, eventualmente por ordem de mérito.
O Capítulo VI – Remuneração fixa a remuneração dos produtores com base num sistema de
negociação entre produtores e concessionário da rede.
O Capítulo VII- Contra-ordenações estabelece quais os actos da responsabilidade do produtor
sujeitos a contraordenação e fixa a respectiva coima.
O Capítulo VIII – Produção para distribuição em rede autónoma fixa as condições de
licenciamento de centrais e redes em regiões geograficamente isoladas.
O Capítulo IX –Disposições finais admite o princípio de incentivos para instalação de tecnologias
inovadoras, estabelece o regime de transição para as centrais existentes à altura da
publicação do decreto e estabelece as taxas a aplicar em diversos casos.

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