DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA HISTÓRIA ORAL DOCENTE: Maria da Conceição Fraga DISCENTE: Pedro Henrique de Assunção Trigueiro
Análise Textual: Michael Pollak
NATAL/RN 2020 Memória e Identidade Social
Neste trabalho, me proponho a analisar a ideia de Memória e Identidade trazida
por Michael Pollak. O conceito se mistura a partir da individualidade e cresce para o coletivo: as memórias vão existir em um âmbito individual mas também se manifesta de maneira geral, sendo várias memórias individuais a constituição não só de uma construção dos próprios acontecimentos mas também de um imaginário do que ali acontecia, sendo assim, mesmo indivíduos que não participaram ativamente daquilo que gerou a memória possuem consigo um imaginário ou uma ideia de tudo que ali aconteceu. Dessa forma, a coletividade é construída. Se aqui cabe uma reflexão, dessa forma também um regionalismo ou até mesmo uma tradição vai ser criada, a história vai usar de seus agentes para construir todo um cenário temporal, elencando aqueles que participaram ativamente da ação como os geradores da memória enquanto aqueles que viveram “por tabela” a grande reação e, talvez, as consequências da ação da memória, acontecimentos esses que podem ser afetados por uma memória pregressa que foi consagrada como tradição. Pollak vai tratar de três critérios da memória: acontecimentos, personagens e locais. Logo, pelos exemplos por ele narrados, é possível notar que os acontecimentos geram uma memória, os personagens perpetuam, sejam eles ativos ou “por tabela”, e os locais manifestam a memória concreta em suas estruturas, desde um museu até mesmo um local à natureza que traz uma memória aos agentes que ali viveram os acontecimentos. Fazendo uma alusão à história do Rio Grande do Norte, podemos ver a perpetuação de uma memória que iniciou sendo individual a partir dos personagens que diretamente enfrentaram mas que tomou proporções coletivas pela sua população: a chegada do Cangaço em Mossoró. Por mais que os líderes até hoje sejam lembrados, desde Padre Mota até Rodolfo Fernandes, a cidade viveu o cerco e possui também o seu imaginário, contando assim os dias que passaram nesse acontecimento. Os locais, como a Igreja, que mesmo sendo um local de culto divino católico possui em evidência as chagas causadas pelos tiros dos cangaceiros, e o Palácio da Resistência, que se tornara o prédio da Prefeitura, guardam e perpetuam uma memória pregressa; os indivíduos perpetuam a memória até ela se tornar cultura, como é visto no espetáculo “Chuva de balas no País de Mossoró”, sendo assim, um acontecimento que aconteceu em 1927 se perpetua por 93 anos e permanece até hoje no imaginário da população que, quase, senão toda a população não tenha vivido este período. Deste modo, Pollak também explica que a história também é herdada, não completamente mas em parte, já que a memória vai sofrer com as alterações que o tempo fará aos conceitos e ao próprio objeto da memória. Ele cita as memórias nacionais, organizadas de maneira que vá aludir a nação quais são as principais datas que devem ser preservadas na memória coletiva, sendo estas escolhidas e tornadas oficiais, logo, essas datas são importantes para um perfil identitário de um povo como povo, ou seja a reafirmação de um conceito de identidade dentro de uma determinada sociedade. Dessa forma, memória e cultura se misturam com a identidade, para um povo católico, as principais datas dos santos e das festas litúrgicas são sempre muito lembrados, visto um povo majoritariamente católico como o brasileiro, as datas religiosas se misturam com os feriados temporais, para a contestação dos que não comungam da mesma fé, solicitando com que se acabem os feriados religiosos. Ora, uma pessoa vai usar de diversas culturas: um natalense pode ter o “jeitinho brasileiro”, a fé católica, o sotaque nordestino e as gírias geralmente faladas na sua cidade, sendo assim, para esse natalense, várias datas podem ser passivas de celebração, porém, como Estado, a memória deverá ser coletiva, logo, comum a todos. Conectando com os exemplos acima, Pollak vai elucidar que Memória e Identidade são valores disputados, disputas estas que são evidenciadas em conflitos sociais e políticos. Logo, a memória vai se unir ao sentimento de identidade pelo que foi herdado pelas relações familiares, sociais e políticas. Vejamos, por exemplo, a ascensão da Oligarquia Alves no Rio Grande do Norte, com seu decano Aluísio Alves. Aluísio vai se tornar um líder extremamente amado, com o apoio da Igreja e com a mentalidade da época que tinha a luta contra o comunismo herdada do Regime Militar e dos EUA. Para aqueles que viveram as eleições no tempo de Aluísio, a grande popularidade dele, os rios de dinheiro que os EUA investiram em Natal a partir da Aliança pelo Progresso, e o carisma, Aluísio só sai do poder, passado o executivo e entrando no legislativo, graças ao AI-5, no momento de maior aperto da Ditadura, trazendo ainda mais ao imaginário do potiguar o saudosismo, que se perpetuou a ponto de gerar uma oligarquia. Então, parte dos hábitos políticos do Norte-riograndense herdam uma memória política que foi criada há mais de 50 anos, mas que não deixou de abrir espaço para o crescimento de novas memórias políticas e, consigo, novas oligarquias. Logo, por causa disso, existem ainda cidades no interior do Rio Grande do Norte que, herdando a tradição do Verde usado nas campanhas do Bacurau Aluísio, usam também para apoiar seus candidatos que apoiam a mesma vertente, mesmo que não seja nem vinculado diretamente a oligarquia. Logo, a memória também é imagética e possui em si a ramificação dos costumes das populações. O autor vai trabalhar ainda com dois outros conceitos, o trabalho de enquadramento da memória, que consiste em literalmente enquadrar a memória, ou seja, registrar a memória de determinado movimento ou nação na perspectiva própria do movimento, e o trabalho da própria memória em si, que consiste na manutenção da memória para ela se manter coerente e dar continuidade aos seus projetos. Podemos ver isso de maneira resumida no processo de instauração da Ditadura Militar no Brasil. Os historiadores, professores, jornalistas e outros intelectuais que viveram a época, relataram o processo de opressão e perseguição que o período trouxe consigo. Relacionando primeiramente àqueles que foram contrários a Ditadura, os escritos passaram pelos principais atingidos pelos seguimentos das ditaduras, sendo estes os sindicatos, os jornais, os artistas e tantos outros, elucidando os acontecimentos e os conectando com seus personagens. Esse processo de enquadramento teve seu “boom” ao final da ditadura, quando, com o fim da opressão, esses trabalhos puderam ser divulgados, porém, essa memória sofre manutenção a partir de que facetas do processo que levou a ditadura surgem no meio da sociedade, numa perspectiva educativa e vigilante para que esse período nunca mais aconteça. Por outro lado, os discursos pró- Regime Militar cresceram com os anos, a ponto de hoje no Brasil termos um vice- presidente militar e um presidente da reserva. Esses agentes também estão produzindo as suas visões da história da Ditadura, coletando depoimentos, fazendo também seu projeto de história oral e tentando manter o discurso da necessidade de se passar por outro regime aceso. Esse discurso ganha ainda mais força quando o líder do Estado corrobora com esse tipo de estudo, usando das suas mídias para fazer a manutenção da memória ditatorial, gerando os conflitos das vertentes e gerando até mesmo novos personagens para a historiografia, como é o exemplo do Carlos Alberto Brilhante Ustra, militar da Ditadura que foi elucidado pelo presidente enquanto ele ainda era deputado, levando aos grupos opositores também escreverem sobre o coronel e explicarem sua atuação diante da ditadura. Logo, dois agentes políticos geram duas discussões distintas, cada uma crescendo a partir também do crescimento da política ao redor dos casos. O Autor conclui sua reflexão apresentando que, quando uma memória e uma identidade já estão completamente consolidadas, nenhum agente externo é capaz de provocar em si alterações em seus segmentos, logo o exercício da memória e a afirmação da identidade não se fazem necessários. Visto isso, podemos comparar a antiga metrópole do Brasil, Portugal. Um país já consolidado que passara pela perda de sua maior colônia perderia seu tamanho mas não sua memória, memória esta que vem da sua tradição e já consolidada identidade. Porém, o Brasil no ato da Independência nunca tivera uma memória própria ou sua identidade, então, o processo de criação da identidade do Brasil aconteceu de maneira desordenada graças a velocidade que a tentativa de criação levou. Hoje, o Brasil, devido ao seu tamanho, possui diversas culturas em suas 27 federações, cada uma com sua memória, sua identidade, trazendo consigo a diversidade e miscigenação de cada um de seus estados, compondo em si uma grande memória e uma grande cultura, por mais que muitas vezes grande parte dela seja esquecida por causa da cultura do eixo São Paulo-Rio de Janeiro.
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