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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO INFANTIL
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO INFANTIL
TERMO DE APROVAÇÃO
Banca Examinadora:
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer aos meus pais, padrasto e madrasta que tanto me apoiaram nessa
grande jornada de estudar numa universidade pública e em tudo que eu me propus a fazer nessa
vida.
Aos amigos que fiz durante o curso que foram um grande suporte para os momentos
difíceis e principalmente para o esclarecimento de todas as minhas dúvidas sobre a graduação.
À professora Fernanda que aceitou o desafio de ser minha orientadora nesse momento
tão difícil e me auxiliou em todo o processo mesmo com tão pouco tempo, enfrentando diversas
dificuldades.
E a Deus por todas as bençãos e oportunidades que me deu durante toda a minha
trajetória.
v
RESUMO
Esse trabalho de conclusão de curso de Pedagogia da Faculdade de Educação tem como objetivo
descrever e analisar as brincadeiras protagonizadas das crianças pequenas, da faixa etária de
três anos, em diferentes espaços de uma instituição particular de Educação Infantil do Distrito
Federal. Partimos da relação entre a importância do espaço na Educação Infantil contida na
teoria de Horn e da valorização da brincadeira na legislação brasileira e nas teorias de Corsaro;
Vigotski e Elkonin sobre os papéis infantis no faz de conta. Considerando a relação entre os
diferentes ambientes e a organização da brincadeira pelas crianças pequenas, observamos duas
sessões em cada um dos três diferentes espaços da instituição, a saber: sala de referência, parque
do terraço e parque de areia, numa abordagem qualitativa de investigação. Obtivemos como
resultados nas sessões descritas que as crianças realizaram brincadeiras protagonizadas, nas
quais puderam desempenhar papéis, enfrentar desafios e conflitos, demonstrar conhecimentos
prévios e interagir nos diferentes ambientes com o outro em fala comunicativa e fala
egocêntrica. Concluímos que os ambientes da Educação Infantil são importantes por
desencadearam as brincadeiras livres, a comunicação entre crianças e, por fim, objetivaram o
desenvolvimento infantil, sobretudo quando se levam em conta os interesses e as preferências
das crianças pequenas.
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 08
1. MEMORIAL ACADÊMICO E PERSPECTIVAS FUTURAS................................. 10
2. A BRINCADEIRA LIVRE DA CRIANÇA PEQUENA NO DESING DOS
ESPAÇOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................................ 13
2.1 A EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................................................... 13
2.2 OS ESPAÇOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL .............................................................. 16
2.3 ESPAÇOS ESPECÍFICOS PARA A BRINCADEIRA DE CRIANÇAS PEQUENAS 19
2.4 A CRIANÇA DE TRÊS ANOS EM CRECHES........................................................... 23
3. PASSOS METODOLÓGICOS..................................................................................... 26
3.1 CONTEXTO DA PESQUISA........................................................................................ 26
3.2 PARTICIPANTES.......................................................................................................... 29
3.3 INSTRUMENTOS E MATERIAIS............................................................................... 29
3.4 PROCEDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE DADOS............................................... 30
3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS......................................................... 30
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 31
4.1 RESULTADO DO PRIMEIRO OBJETIVO ESPECÍFICO.......................................... 31
4.1.1 DESCRIÇÃO DA PRIMEIRA SESSÃO OBSERVADA.......................................... 33
4.1.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PRIMEIRA SESSÃO..................................... 33
4.1.3 DESCRIÇÃO DA SEGUNDA SESSÃO OBSERVADA....................................................... 35
4.1.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA SEGUNDA SESSÃO.................................................. 35
4.2 RESULTADO DO SEGUNDO OBJETIVO ESPECÍFICO..................................... 36
4.2.1 DESCRIÇÃO DA TERCEIRA SESSÃO OBSERVADA.......................................... 36
4.2.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA TERCEIRA SESSÃO..................................... 37
4.2.3 DESCRIÇÃO DA QUARTA SESSÃO OBSERVADA............................................. 38
4.2.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA QUARTA SESSÃO........................................ 39
4.3 RESULTADO DO TERCEIRO OBJETIVO ESPECÍFICO................................... 40
4.3.1 DESCRIÇÃO DA QUINTA SESSÃO OBSERVADA.............................................. 40
4.3.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA QUINTA SESSÃO......................................... 41
4.3.3 DESCRIÇÃO DA SEXTA SESSÃO OBSERVADA................................................ 42
4.3.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA SEXTA SESSÃO............................................ 43
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 44
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 46
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INTRODUÇÃO
Geralmente, a maioria das lembranças que temos da infância estão ligadas a fatores de
ambiente, diversão e felicidade. Estes aspectos podem também estar presentes na instituição de
crianças pequenas. A relação entre esses fatores interfere na forma como o contexto escolar
pode estar planejado e organizado a fim de favorecer processos de desenvolvimento de amizade
e brincadeiras infantis. Em suma, as várias ações das crianças são propiciadas pelos diferentes
momentos e ambientes da rotina em que estão inseridas.
Para responder esta questão definimos como o objetivo geral: descrever e analisar as
brincadeiras protagonizadas das crianças pequenas, da faixa etária de três anos, em diferentes
espaços de uma instituição particular de Educação Infantil do Distrito Federal. E como objetivo
específico delimitamos descrever e analisar a brincadeira das crianças nos ambientes:
1. Verificar a brincadeira das crianças pequenas na sala referência;
2. Analisar como as crianças brincam no parque do terraço;
3. Observar as brincadeiras das crianças no parque de areia.
1. MEMORIAL ACADÊMICO
Minha trajetória escolar começou com apenas 1 ano, morávamos no Rio de Janeiro, na
frente de uma creche pequena. Que todos os dias da janela do apartamento eu queria ir lá. O
primeiro dia de aula foi incrível para mim e terrível para minha mãe, porque ela esperava choro
e tristeza de minha parte, mas eu apenas dei tchau. Troquei de instituição um tempo depois.
Meus pais diziam que eu amava todos os colegas e professores. Mas o que eu gostava era levá-
los ao parque, ou apenas para um tour pela instituição todos os dias quando eles iam me buscar
ao final da tarde.
Aos quatro anos, meus pais se separaram e eu me mudei para Brasília com a minha mãe,
onde fui matriculada em uma escola particular bem pequena, pertinho de casa. Restam-me
poucas recordações dos momentos nessa instituição, mas lembro que tínhamos muitas
atividades do lado de fora, brincadeiras envolvendo as árvores e muitas fantasias para datas
comemorativas, por exemplo, o dia dos povos indígenas.
A partir dos 9 anos comecei a estudar em outra escola, um pouco maior. Lembro-me
tínhamos duas professoras, uma para matemática e português e outra para história, geografia e
ciências. As salas de aula eram no modelo tradicional, assim como a metodologia e toda a
escola. Assim estudávamos pelos livros didáticos e fazíamos prova. Lembro que, até o quarto
ano, o parque era bem colorido, com alguns brinquedos. A partir do quinto ano, nós apenas
íamos para a quadra ou para os bancos perto da lanchonete. A escola era pintada em tons azul
escuro e cinza.
Aos 13 anos, meus pais me colocaram em uma escola na Asa Sul com três vezes o
espaço da outra e cinco vezes o número de alunos. No início fiquei meio assustada, pois a escola
era conhecida por ser difícil e demorei para me adaptar. O que foi acontecendo gradativamente
com o suporte da escola, coordenação, professores e colegas. A escola não era colorida, não
tinha parques, nada adaptado para crianças. Esse fato pode ser explicado por receber turmas de
Educação Infantil. Em compensação, a escola era bem equipada para atender os jovens, contava
com salas de dança, laboratórios de química, física, informática, cinco quadras esportivas,
auditórios, laboratórios de estudo, área de cantina e áreas verdes com poucas árvores.
Aos 16 anos, troquei mais uma vez de colégio. Nesse último fiz o segundo e o terceiro
ano do ensino médio. Fui muito bem recebida nessa escola nova, mas não sentia a mesma
empolgação dos colegas em estudar e passar num vestibular como eu via na escola antiga. Essa
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outra era menor, entretanto mesmo assim, havia turmas desde a Educação Infantil ao ensino
médio, surpreendente e infelizmente, não havia nenhum parque ou ambiente destinado às
crianças pequenas. Para essa faixa etária, as carteiras das salas eram menores e era mantida a
mesma dinâmica de recreio no pátio ou nas quadras de esporte. Também havia estrutura
pensada para os alunos mais velhos, como laboratórios, biblioteca e auditório.
Nessa época começamos o processo de escolha da profissão, o curso dos sonhos e tudo
mais. Pensei muito sobre o que escolher e tive ajuda de dois professores incríveis nessa
caminhada. Ao final a escolha do curso veio sem muitas dúvidas, na terceira etapa do PAS
coloquei Pedagogia como minha escolha principal. Quando ingressei na UnB, em 2017, foi um
misto de sentimentos, no início muita alegria, depois, porém, uma certa frustração, havia dúvida
se era realmente esse o curso que eu queria. Meus pais não me deixaram desistir, ainda bem,
eu segui no curso buscando motivação. Quando fiz a matéria Língua Materna com a professora
Paula e ela nos levou para conhecer a escola do Varjão, tive uma experiência incrível! Eu fiquei
muito mais animada com o curso, buscando novas áreas.
Até que encontrei a instituição onde trabalho, inscrevi-me por ser uma escola bilíngue
que utilizava metodologias ativas. O que mais me chamou atenção, além da autonomia dada
aos professores e às crianças, foi era mudança de faixa etária. Passei a trabalhar com crianças
de três anos. Sobretudo foi a arquitetura e o projeto do design da escola que me cativaram. Eles
eram totalmente pensado para a criança, de forma que fosse funcional pra ela. Fiquei encantada
desde minha primeira visita para a entrevista de emprego. Só tinha visto uma escola tão incrível
assim durante o curso, quando fizemos uma visita na disciplina de Geografia à uma escola
localizada no Lago Norte que tem um espaço pensado para as crianças. Quando então comecei
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a trabalhar lá fiquei muito curiosa, fazia questão de levar as crianças para utilizarem todos os
espaços da escola. Desde os corredores com imensas estantes cheias de livros ao alcance deles
até os parques coloridos e cheios de brinquedos.
No ano de 2020, além de estar totalmente imersa na prática docente, entrei também em
uma segunda graduação, de Design, pois me interessei profundamente por esse tema. Acabei
colocando muito em prática a observação sobre a maneira que as crianças utilizavam esse
espaço físico para se desenvolver e se relacionarem entre si.
Para o futuro pretendo seguir estreitando a relação entre o Design e a Pedagogia, visto
o valor que atribuo aos espaços pensados para a criança de forma singular, favorecendo o
desenvolvimento infantil. Espero continuar estudando em cursos de aperfeiçoamento e pós-
graduação sobre o assunto e atuando de forma positiva para criar projetos de ambientes
favoráveis às crianças, tanto como docente em sala de referência.
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Além disso, Moruzzi (2014) acrescenta que a Educação Infantil é o espaço, o tempo de
interação e a brincadeira, na qual a interação se resume em articular as linguagens que a criança
utiliza para se expressar e explorar ao máximo todas elas e a relação com as outras crianças.
Por isso, a socialização das crianças entre si e das crianças com o ambiente precisa ser priorizada
e incentivada dentro da instituição, visto que é parte fundamental do processo de
desenvolvimento.
As memórias que temos da infância geralmente vêm atreladas à algum lugar ou espaço
específico onde aconteceram, isso porque, de acordo com Camargo (2008), os espaços da nossa
infância nos marcam profundamente, podendo ser a casa, a rua, a praça, a escola, a cidade,
sendo bonito ou feio, agradável ou não, influenciam definitivamente na maneira de ver o mundo
e de se relacionar com ele. Quando se trata da escola, local onde passamos a maior parte da
nossa infância e adolescência, essas memórias vêm atreladas à espaços específicos, como
parques, corredores, salas de aula, entre outros.
A partir daí pode-se perceber que a temática dos espaços ainda é recente na área da
educação, mas já houve grande evolução, visto que nos últimos anos foram dados muitos passos
e hoje faz parte da profissão de professor planejar o espaço de suas aulas, de forma que seja um
espaço polivalente e utilizado de diversas formas, onde se pode extrair grandes possibilidades
para a formação (FORNEIRO, 2008).
Deste modo, é preciso que o espaço seja organizado de forma a ser pensado como um
ambiente acolhedor e prazeroso para a criança pequena, um lugar em que proporcione
oportunidades de interação entre pares e que ela possa brincar e criar suas próprias brincadeiras.
Esse espaço pode ser organizado de acordo com a faixa etária, além de propor desafios para
que a criança consiga avançar e desenvolver suas habilidades. Isso vai de acordo com o
pensamento de Horn (2004), que também enfatiza a necessidade de uma melhor visão do
educador para com a organização desses espaços:
diariamente, e como esses poderiam, ser desenvolvidos pelo professor de modo a ser mais rico
em desafios e bem organizado favorecendo a criança (HORN, 2004).
Nessa mesma perspectiva, o espaço pensado e organizado para e com as crianças não
deve ser restrito ao cuidado visual, é necessário que se pense em outros elementos que possam
afetar os sujeitos, e assim se destaca a necessidade de contemplar os sensores remotos e
receptores imediatos. As crianças pequenas revelam uma sensibilidade perceptiva e
competências de nível extremamente elevado, então ao pensar no ambiente para a criança, que
favoreça o desenvolvimento sensível, se está potencializando as relações infantis e a interação
com o meio (RINALDI, 2012).
completam e não existem um sem o outro, sendo que o espaço é o palpável e o ambiente é o
que traz os significados que são ressignificados pelo sujeito que o ocupa conforme vive suas
experiências. Assim, os ambientes da Educação Infantil devem ter a criança como foco e ser
organizados em função dela, desde os móveis até os pequenos detalhes. E, também, o
documento prevê que esses ambientes permitam explorações individuais e em grupo,
simultâneas, de forma livre ou dirigidas, e para que isso seja possível, sugere que a organização
desse espaço seja feita de forma a promover a construção da identidade da criança, o
desenvolvimento da independência, como por exemplo que consigam tomar água ou ir ao
banheiro sozinhas, alcançar o que for necessário e se orientar com segurança não só pela sala
de aula mas pela instituição por inteiro, ter amplitude e segurança para explorar movimentos
corporais como se arrastar, correr e pular. Além das possibilidades estimuladoras dos sentidos,
como iluminação, odores, sensações táteis, visuais e sonoras, e que o ambiente seja estimulante,
agradável, propício, funcional e seguro para a faixa etária (DISTRITO FEDERAL, 2013).
E, assim, durante a brincadeira, ela interage com o espaço e com o ambiente, enriquecendo seu
processo de desenvolvimento.
crescendo e provocando mudanças nos processos de pensamento e fala. Isso porque a fala
egocêntrica demonstra o pensamento externalizado da criança bem pequena. Ela fala sozinha
como se guiasse o seu agir. Com os passar dos anos, a criança fala menos sobre o que vai fazer
e, assim, sugere que seus pensamentos estão se internalizando. (VIGOSTKI, 1987; VIGOTSKI;
LURIA, 1996).
De acordo com Cavaton (2010) quando a criança está em brincadeira de faz de conta ou
em atividades escolares, sobretudo no desenho, ela fala sozinha para organizar sua ação e, desse
modo, pode desencadear a fala comunicativa com o outro. Damos como exemplo, um colega
que se interessa pelo conteúdo veiculado no turno de fala egocêntrico e responde, estabelecendo
o diálogo. Quanto à organização do pensamento, podemos observar esse processo nas crianças
quando falam sozinhas, estão narrando suas ações, seja durante a brincadeira, no interagir com
pares, no desenho, na escrita, nas interações sociais e culturais (BARBATO; CAVATON, 2016;
CAVATON, 2010). É por meio da observação desses momentos, que o professor obtém muitas
informações sobre o desenvolvimento da criança, como por exemplo sobre o seu
comportamento com os objetos durante a brincadeira, a sua relação com o outro, a imposição
de regras, os conflitos, lideranças, o desenvolvimento da fala, entre outros pontos.
Nessa perspectiva, Ferreira (2009) afirma que a brincadeira de faz de conta é um meio
para que as crianças explorem suas vivências, imitando e desenvolvendo ações de pessoas
adultas de referência que estão próximas a ela no dia-a-dia, e que ao brincar procuram
compreender o que acontece na realidade. Por isso, muitas vezes as crianças, ao brincar, criam
fantasias situações cotidianas, incluindo a escola como cenário.
como a ação dela com os objetos. Quando a observamos brincando, é possível vê-la interagindo
com o ambiente, no qual a brincadeira pode se tornar mais interessante quando os objetos e o
ambiente forem melhor organizados.
Outro aspecto que sublinhamos na brincadeira é a relação existente entre a situação real
e a imaginária. Vigotski (2008) afirma que as crianças bem pequenas, faixa etária foco deste
trabalho, não conseguem diferenciar o real do imaginário. Elas saem da realidade durante suas
brincadeiras, criando situações imaginárias nas quais a fantasia lhes parece real. Conforme
crescem, as crianças gostam do faz de conta, mas percebem haver limitações em relação ao
mundo que já estão conhecendo melhor. No entanto, a criança consegue realizar atividades
presentes no mundo adulto, aquilo que tem vontade de fazer, por meio da brincadeira e da
imaginação. Para tal, ela entende as regras de condutas que observa dos adultos com quem
interage nas diferentes experiências vividas no cotidiano e as aplica na brincadeira como forma
de conhecimento e não apenas imaginação. Assim, segundo Elkonin (2009), toda brincadeira
protagonizada, mesmo livre, apresenta regras de conduta, por exemplo, quando a criança faz de
conta que é mamãe, ela age segundo o que ela compreende da ação da mãe com ela, porque
consegue reviver situações do cotidiano mãe-filha. Assim, as regras tiram as crianças de sua
condição de criança e as transportam para protagonizar papéis de outros atores sociais que elas
conhecem e vivenciaram em situações de interações pessoais. As regras que elas utilizam
durante as brincadeiras, podem ser simples ou complexas a depender da idade da criança,
quando não são seguidas, podem geram conflitos entre elas.
Dentro da cultura de pares, Corsaro (2005) apresenta alguns tipos de brincadeiras, como
por exemplo a brincadeira de dramatização de papéis. Essas ações são importantes para o
desenvolvimento social e emocional das crianças, porque são nesses momentos que elas imitam
os modelos adultos, porém os reelaboram e os enriquecem para que atendam seus próprios
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interesses. Assim, ao utilizar uma licença dramática, a criança projeta um futuro imaginário, no
qual faz experiências sobre a maneira das pessoas agirem em sociedade e se relacionarem entre
si, de forma a quebrar expectativas sociais, como as de gênero, por exemplo.
Para finalizar, de acordo com Moruzzi (2014), a brincadeira não é uma linguagem
específica para a criança, mas ocorre especificamente na criança. Por ser um meio para a criança
construir narrativas, experimentar o mundo, fazer escolhas e amizades, estabelecer preferências
e critérios; criar e entender regras de convivência, entre outros. Consequentemente, a
brincadeira é uma forma de socialização entre as crianças, por estarem em contato com
diferentes regras sociais, linguagens e expressões culturais.
Analisando toda a importância que a brincadeira tem para a criança, o professor que
observa a ação lúdica infantil, pode utilizá-la como forma de ouvir suas crianças. Mesmo que,
na hora do parque e da brincadeira livre ou não direcionada, o professor venha a interagir com
as crianças, esses momentos representam uma fonte de observação e escuta atenta das condutas
delas, com intuito de obter informações que venham a alimentar o planejamento da rotina da
aula e a organização dos ambientes (MORUZZI, 2014).
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Entretanto, a creche ainda tem oferta de vaga e qualidade desigual e com pouca
regulamentação, segundo Paniagua e Palácios (2007), em relação às crianças menores de três
anos, mesmo tendo procura dos pais e sendo a faixa etária de matrícula não obrigatória.
De acordo com Corrêa (2007), é preciso sempre lembrar o ECA (BRASIL, 1990) no
direito que a criança pequena tem de ser respeitada por seus educadores da Educação Infantil,
em sua esfera física, como também em suas opiniões e seus gostos.
Dentro do CMEBDF-EI (DISTRITO FEDERAL, 2013), há uma seção para essa faixa
etária, no qual são pontuados diversos aspectos fundamentais da instituição de Educação
Infantil para que seja efetivo o desenvolvimento das crianças. Dentre eles, o que trata sobre os
espaços e ambiente. O espaço deve ser lúdico; transmitir segurança tanto para as crianças
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Além disso, aborda questões como: a necessidade de o planejamento ser voltado aos
interesses da criança; trabalhar o cuidado consigo e com o outro, as interações com a natureza
e com o meio natural e social, incluindo a importância da preservação, os cuidados com o corpo
e os vínculos afetivos. Pontua-se também a exploração das diferentes possibilidades de
linguagem (oral e escrita), e a interação com diversos tipos de linguagem, como a Linguagem
Artística: manipular diferentes objetos, expressar criatividade, serem apresentadas a pinturas,
músicas, sons, dança e expressões corporais; a Linguagem Matemática: interagir com situações
do dia a dia para representar quantidades por meio de brincadeiras e com a ajuda dos colegas,
dos brinquedos e dos objetos; a Linguagem Corporal: fundamenta o trabalho educativo, visto
que as crianças necessitam aprender de forma lúdica e prazerosa e assim é esperado que ela
aprenda a conhecer seu corpo e o do outro, ampliando a consciência e controle motor, através
de jogos e brincadeiras; e a Digital: dá a oportunidade para que a criança tenha contato com
equipamentos tecnológicos a serem descobertos e manipulados (DISTRITO FEDERAL, 2013).
Sendo assim, pode-se observar, de acordo com Moruzzi (2014) para a Educação Infantil
não há propriamente o currículo com matérias e disciplinas específicas para serem ensinadas,
mas sim o processo educativo promovendo experiências variadas, principalmente nessa faixa
etária da creche, do Maternal. É por meio do ensinar sem dar aula que o professor da Educação
Infantil trabalha com as crianças pequenas e organiza as atividades lúdicas que dão suporte a
seu desenvolvimento.
Fonte: Ana Carolina Fróes, 2021. Fonte: Ana Carolina Fróes, 2021.
Fonte: Ana Carolina Fróes, 2021. Fonte: Ana Carolina Fróes, 2021.
Fonte: Ana Carolina Fróes, 2021. Fonte: Ana Carolina Fróes, 2021.
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3.2 PARTICIPANTES
Os participantes da pesquisa eram 9 crianças de 3 anos, de uma turma denominada como
Nursery na instituição, sendo 4 meninos e 5 meninas, visto que nem todos os dias de observação
contaram com a presença de todos.
As crianças foram apresentadas com nomes fictícios, sendo as meninas: Laura, Ayla,
Carla e Júlia e os meninos: Guilherme, Henrique, Antônio e Felipe, Maria também fazia parte
do grupo, mas não participou de nenhum momento durante a pesquisa pois encontrava-se em
ensino remoto.
Felipe era o mais novo da turma, seguido de Carla, sendo que Carla e Ayla eram as
únicas que nunca haviam frequentado a escola antes, e Ayla era estrangeira e acabara de chegar
de seus país natal. Felipe, Guilherme, Laura e Antônio já frequentavam essa mesma instituição
no ano anterior e eram da mesma turma.
gravar as falas das crianças; e o diário de bordo para anotações dos comportamentos,
sentimentos e falas das crianças durante a interação nos espaços propostos.
Duas crianças chegaram juntas, Guilherme e Laura, e então se sentaram na mesa onde
haviam os animais e começaram imediatamente a imitar os sons de alguns animais conforme
iam brincando com eles. Laura levantou e pegou alguns blocos da outra mesa para
complementar a brincadeira e eles começaram a montar formas aleatórias e verbalizar que eram
letras, como por exemplo, Guilherme montou uma forma e disse que era a letra G, e quis ensinar
Laura como montar a letra dela também.
Eles utilizavam os blocos para fazer uma pista de corrida para os animais, e quando
Laura tentou comandar dizendo o que Guilherme deveria fazer, ele respondeu com um tom
incisivo “não, eu não quero!” e ela seguiu brincando com ele e tentando dar outros comandos
como: “agora vamos colocar isso aqui?!”.
Carla, que chegou chorando, ao entrar logo tentou se inserir na brincadeira pegando um
elefante e entregando para Laura, ela se voltou para os blocos, depois pegou um animal e tentou
mais uma vez se inserir na brincadeira de Guilherme e Laura. Estes últimos responderam que
estava na hora de dormir e que os animais precisavam ir para a cama. Guilherme então
respondeu pegando duas zebras: “nossa, elas são iguais”.
Carla, por sua vez trouxe alguns animais para a mesa dos blocos e montava sozinha sua
brincadeira, de forma que fantasiava a fala dos animais entre si, segurando um em cada mão
como se estivessem conversando.
Antônio também chegou e foi preciso ir buscá-lo na porta, pois não queria entrar
sozinho. Mas ao aceitar entrar, ficou parado observando os colegas de longe. Ao ver o colega,
Guilherme disse “acho que ele não quer”.
Guilherme e Laura, então, interagiram com os sons que Henrique estava reproduzindo
dos animais e Laura criou uma fantasia sobre a amizade entre os animais, e enquanto
verbalizava o enredo da história que inventou, Guilherme dizia “sim” e “não” o tempo todo.
Antônio tentou empilhar os blocos, mas sem verbalizar nada. Enquanto Laura e
Guilherme discordavam sobre o rumo dos brinquedos, não chegaram a brigar. Embora, o que
Laura sugerisse, ele respondia com “não, eu não quero!”. Enquanto isso, Henrique veio se unir
a brincadeira deles, apenas nos momentos de imitar os sons dos animais, mas não interagiu na
fantasia criada, criando seu próprio enredo para seus personagens, como: “agora eles vão
passear”. Guilherme disse que a comida dos animais havia acabado e Laura respondeu que
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eles estavam tomando leite ainda. Guilherme tentou mais uma vez inserir Henrique na
brincadeira lhe entregando um galo, e ouviu dele: “eu não quero!”.
Henrique chegou depois e se sentou na mesa dos livros, observando um, como se estivesse
lendo. Em seguida Guilherme trocou de lugar e veio se ao lado de Henrique, levando uma
frigideira.
Ayla chegou em seguida e se sentou na mesa das panelinhas, ela começou a contar sobre
não ter tomado banho antes de vir para escola pois estava atrasada, enquanto montava diversos
pratinhos com comidinhas dentro.
Antônio chegou junto com Júlia, ele apresentou resistência para entrar na sala, mas logo
aceitou, porém ficou observando os colegas e não se aproximou da mesa para brincar. Enquanto
Júlia entrou, pegou um livro da mesa e levou para a terceira mesa vazia, quando a professora
perguntou se ela não queria se juntar aos outros na mesa, ela disse que não, pois estava lendo.
Sozinha e demonstrando muita concentração passando as páginas do livro ela permaneceu por
alguns minutos, até que levantou e disse para ninguém: “agora eu vou pra lá” e se sentou na
mesa dos livros com os outros colegas, trocou o livro que estava em sua mão por outro e
continuou folheando em silêncio.
Carla chegou e foi direto para a mesa dos livros, ela imitou o que Júlia estava fazendo,
passando as páginas de cada livro que pegava, mas sem dizer nenhuma palavra. Enquanto isso
Guilherme e Henrique foram para a mesa das panelinhas e começaram a dizer que estavam
fazendo um snack porque já estava na hora. Ao que Ayla decidiu trocar e sentar no lugar ao
lado de Laura, ela pegou um livro que tinha uma centopeia na capa e disse “agora eu vou ler
um book pra você”, e começou a contar “uma ‘cartepila’ morava na floresta, e ela tinha muita
fome, até que ela encontrou muita comida...” Enquanto isso, Carla, Júlia e Laura prestavam
atenção, olhando para a amiga. Ao que Laura tentou pegar o livro da mão de Ayla, ela reagiu:
“não! Agora é minha vez de contar” e continuou lendo.
Antônio finalmente se juntou a mesa das panelinhas e fingiu que estava fazendo comidas
narrando seus passos “agora eu vou colocar o tomate” disse, jogando um tomate de brinquedo
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em dentro da frigideira, “agora a apple” e por fim disse que estava pronto e me ofereceu, eu
perguntei o que era e ele disse “é macarrão com queijo”. Eu fingi que aceitei. Ele se voltou para
Guilherme lhe perguntando se aceitaria também. Ele disse que sim e Antônio esticou para ele
a frigideira, Guilherme fingiu que pegou o conteúdo e disse “hmmm, delicioso”.
Júlia tentou tomar da mão de Carla o livro que ela estava lendo, que respondeu “não! É
meu!” Júlia me olhou esperando alguma intervenção, mas deixei que as duas se entendam, então
Júlia puxou mais uma vez e Carla disse “não pode tomar do amigo!”, Júlia ameaçou chorar,
ao que Carla respondeu “não precisa, quando eu terminar eu te dou!”, ela ficou satisfeita e
disse “tudo bem”.
A respeito da fala, quando Júlia conversa consigo mesma, dizendo “agora eu vou pra
lá”, sugere que respondia ao convite feito anteriormente pela professora, era a fala egocêntrica,
organizando seus pensamentos antes de concretizar a ação (VIGOTSKI, 2008). A fala
egocêntrica também pode ser constatada no episódio de Antônio narrar seus passos enquanto
faz de conta que cozinhava com os objetos que simulavam aparatos de cozinha. Dessa forma
que ele demonstrou estar organizando seus pensamentos, narrando a própria brincadeira para si
mesmo.
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de um navio. Laura disse também que ele não poderia subir no castelo, e ele aceitou, dizendo
para ela que ele estava no mar.
Carla e Henrique passearam sozinhos pelo parque, ao que ele se escondeu no buraco
imaginário, Carla chamou Laura e Guilherme para mostrar onde Henrique estava.
Todos se reuniram novamente e Laura liderou a nova brincadeira dizendo que Henrique
seria o personagem X, enquanto ela será a Diana, todos aceitaram e eles começaram a correr
em volta das estruturas do parque. Carla foi sozinha para a rede, enquanto os outros amigos
continuaram correndo e fantasiando sobre uma brincadeira de super-heróis, fingiam que
jogavam super poderes com as mãos e emitiam sons como “iáaaa”, quando ela percebeu que
não teria companhia no brinquedo, desistiu e foi atrás dos outros, imitando os movimentos que
Ayla fazia.
que precisavam ser respeitadas, pois caso não o fossem, haveria conflitos entre elas (ELKONIN,
2010), como por exemplo, quando Laura diz que Antônio pegou o castelo, que anteriormente
ela o havia negado. Esse fato gerou um conflito ao que Antônio resolveu de forma a deixar a
situação.
Ayla, Júlia e Carla foram até as marcações de amarelinha e pista de corrida e tentaram
imitar a brincadeira, enquanto Laura e Guilherme, ao observaram as amigas, saíram correndo
para tentar brincar também. Eles foram seguidos por Felipe e Antônio. Eles formaram uma fila
para tentar pular amarelinha. Enquanto pulavam, os outros amigos esperavam a vez, quando o
amigo terminava, eles vibravam com sons como “uhu”. Então, quase todas as crianças estavam
lá, exceto por Laura que brincava fingindo ser um carro na pista de corrida.
Ainda dentro da rede, eles começaram a correr uns atrás dos outros. Laura disse “eu sou
o big shark e eu vou pegar você!”. Consequentemente, as outras crianças começaram a correr
e gritar. Júlia observando de fora da rede, perguntou para Carla e Antônio “vamos brincar na
rede?”. Carla respondeu que sim e Antônio foi atrás delas sem responder. Quando ele chegou
perto da rede, disse “não, não, não” repetidas vezes, enquanto as amigas já tinham entrado.
Júlia voltou e disse “vem Antônio, entra” e ele repetiu “não, não”. A professora da turma
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interviu perguntando para ele se estava tudo bem, e ele respondeu “eu tô com medo”. Quando
a professora disse que não precisava ter medo, ele disse “tudo bem” e entrou para brincar com
as outras crianças da turma.
Ayla e Felipe tentaram subir na parede de escalada, mas ele não obteve sucesso e disse
alto consigo “não consigo”. Guilherme escutou o amigo e disse “você consegue”, dirigindo-se
à parede para ajudar o amigo. Os dois conseguiram subir até o primeiro espaço e se jogaram na
rede comemorando. Enquanto isso, Laura esbarrou em Carla e se virou para a professora para
reclamar, mas ao ver Carla puxando sua mão dela e falando “desculpa”, acabou desistindo de
falar sobre o episódio com a professora.
O parque terraço demonstra diversos desafios para as crianças, de forma que elas podem
desenvolver diversas habilidades brincando. De acordo com Martins e Garanhani (2011), o
espaço da instituição de Educação Infantil é o integrador de todas as ações da criança, seja
brincar, descansar, rir, realizar atividades, interagir com os adultos e com as outras crianças, e
por isso deve ser pensado para elas, de forma a promover a autonomia e o desenvolvimento
infantil. Consideramos que o parque aqui estudado apresentou a cada detalhe ser acessível e
seguro para as crianças e ter desafios inerentes que promoveram o desenvolvimento infantil.
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No episódio em que Felipe fala sozinho sobre não conseguir escalar a parede, Cavaton
(2010) diz que as crianças, quando utilizam da fala egocêntrica, tendem a falar sozinhas para
realizar as atividades que têm mais dificuldade. Nesse momento, ele estava concentrado em
subir, mesmo verbalizando que não conseguiria, o que demonstra que estava tentando organizar
seus pensamentos e ações. Ainda segundo a autora, a fala egocêntrica proferida naquele
momento por Felipe desencadeou a fala comunicativa de Guilherme ao incentivar o colega a
superar a dificuldade com a rede.
Ainda relacionando com o ambiente, as crianças têm preferência por esse parque, por
ser mais colorido e diferenciado do comum para parques de escolas de Educação Infantil. Horn
(2004) apresenta o ambiente para a criança, não só como estrutura física, mas como um
conjunto de coisas do interesse da criança pequena, isso inclui as cores, muito presentes nesse
ambiente, cheiros, texturas e desafios, etc. Estes dois últimos também fazem parte do parque
em toda sua extensão.
estava tirando as meias pois não havia ouvido a orientação da professora antes de irem ao parque
e acabou indo calçada, depois disso se juntou a Ayla e Júlia.
Ayla disse “Vou fazer um bolo de aniversário” e Júlia concordou, enquanto as duas
utilizavam as panelinhas para encher de areia, “Agora pode colocar morango no nosso bolo”
disse Júlia. Ayla respondeu de forma incisiva “Não! Eu não gosto de morango!”. Júlia tentou
convencê-la “mas é strawberry”. Ayla continuou negando. Então Júlia disse “tudo bem!”.
Assim elas continuaram o diálogo, negociando os outros ingredientes que colocariam no bolo.
Os outros estavam todos dentro do balanço, ao que Guilherme disse “eu não quero mais
balançar” e decidiu se juntar a Ayla, Júlia e Carla. Ele buscou uma peneira que estava do outro
lado e se sentou ao lado de Carla, jogando areia nos seus olhos, sem querer. Ela se levantou e
chamou a professora, dizendo que o amigo jogou areia nela. A professora perguntou o motivo
desse fato ao Guilherme. Ele sem sair do lugar, disse que ter sido sem querer. Então, a
professora orientou Carla a dizer para ele ser mais cuidadoso da próxima vez. Carla retornou à
brincadeira e disse, com as mesmas palavras ditas pela professora “seja mais cuidadoso, não
faça mais isso”, ele respondeu que tudo bem e eles continuaram a brincadeira.
No balanço, Felipe desceu para balançar os outros amigos, mas Laura gritou “eu quero
descer!” e o menino tentou parar o balanço para ela. Henrique também desceu e se juntou a
Felipe para fazer um buraco. Laura questionou os amigos sobre “para onde vai esse buraco?”
Felipe disse “esse buraco vai pra China” e ela respondeu “não, eu acho que ele vai levar a
gente pro Brasil”.
Nessa sessão, as crianças demonstraram grande interesse pelo parque de areia, mas
alguns conflitos surgiram dada à dificuldade deles em lidar com a areia de forma a não invadir
o espaço do colega. Exemplificado pelo episódio em que Felipe joga, sem querer, areia em
Carla, pode-se ver a resolução de um conflito com o auxílio da professora. Kishimoto (2010)
traz que a participação do professor em momentos de conflito durante as brincadeiras é
fundamental, isso porque essa mediação serve de base para que a criança aprenda a enfrentar
de maneira autônoma os seus conflitos. O fenômeno da imitação (ELKONIN, 2009) também
aconteceu quando Carla compreendeu a fala da professora, fez sentido e, então, repete
exatamente o que ela lhe disse.
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Pudemos verificar no parque de areia, que as crianças se relacionaram bem uns com os
outros, brincaram, criaram situações em que elas aproveitaram os objetos e o ambiente proposto
para criar faz de conta, relacionando o ambiente com a fantasia, por exemplo um buraco que
vai até a China. Elas demonstram trazer para a brincadeira conhecimentos prévios e vivências
anteriores (CORSARO, 2005). Além disso, quando Ayla e Júlia trazem os conceitos de bolo,
ingredientes, cozinhar, etc. utilizaram a brincadeira protagonizada, por estarem imitando as
ações da vida adulta (ELKONIN, 2009; MARCOLINO, 2014). É também a dramatização de
papéis de defendido por Corsaro (2005).
Ayla, Guilherme e Carla foram para o balanço, quando Laura entrou, Ayla percebeu que
não havia ninguém para balançá-los e disse “Laura você vai ter que descer né, porque alguém
tem que balançar a gente”. Laura obedeceu e desceu do balanço para empurrar os colegas, mas
perguntou “e quem vai me balançar?”, ao que Ayla respondeu “depois você sobe e alguém
desce pra balançar, e depois o outro, e o outro”.
Enquanto isso, Júlia e Antônio brincaram com as panelinhas, fingindo que eram
caldeirões de bruxa. Júlia disse “eu vou ser a bruxa e você a outra bruxa”. Antônio concordou
dando risadas altas simulando a personagem “HAHAHAH”.
Felipe chegou durante a brincadeira, deixou a mochila perto do parque junto com os
sapatos e entrou na areia, se dirigindo ao balanço onde estavam os colegas. Carla pediu pra sair
do balanço “Para, eu vou descer”, ao que Laura parou o balanço Quando Carla desceu, Laura
subiu no balanço e Felipe, que observava, se dirigiu até lá para balançar os colegas, perguntando
“para onde vamos?” e Ayla respondeu “vamos para Jacarta”. Laura, que aparentemente não
sabia o que significava Jacarta, respondeu que gostaria de ir para Maragogi, já Guilherme, sem
ouvir a amiga, disse que eles iriam para Ponyville. Felipe concordou e empurrou o balanço,
enquanto as crianças que balançavam, fingiam que viajavam num navio. Então ele disse
“chegamos em Ponyille pessoal” e todos desceram do balanço.
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Nessa sessão pudemos observar a organização das crianças quanto à diversas questões,
a primeira delas logo ao chegar ao parque, quando organizaram os sapatos sem auxílio da
professora, isso porque já sabiam da regra para entrar na areia.
No episódio em que Ayla e Laura discutiram sobre quem vai empurrar os outros amigos
no balanço, constatamos que elas se organizaram e criaram uma regra para aquela brincadeira,
na qual em cada momento seria a vez de alguém empurrar, para Corsaro (2011) durante as
brincadeiras podem surgir regras, comportamentos que as crianças criam e aplicam durante as
ações lúdicas. Nesse mesmo episódio, as crianças fizeram de conta que viajavam ao balançar,
denominaram várias cidades que conheciam como destinos finais e eram comandados pelo
Felipe de fora do balanço. Portanto, apresentaram conhecimento prévio e vivências que
desencadearam vários momentos de faz de conta (VIGOSTKI, 2008).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na sala referência, as crianças brincavam nas mesas e faziam uso dos brinquedos
disponíveis, algumas vezes podendo escolher quais objetos seriam utilizados. Já nos parques, a
brincadeira era totalmente livre e eles utilizavam os espaços para criar as brincadeiras.
Quando as crianças brincavam livremente mostraram o quanto traziam para a
brincadeira conhecimentos prévios e experiências vividas anteriormente, mas também saem do
real, entram no mundo imaginário, criam fantasias, regras, conflitos, e demonstram toda uma
cultura própria.
O espaço físico diferenciado e pensado para a criança pequena é importante numa
instituição de Educação Infantil, porque funcionam como um mundo de oportunidades da
criação do faz de conta para as crianças, em ambientes ricos em cores, texturas, cheiros e sons.
Verificamos que as crianças conseguiram se desenvolver em diversas áreas com o
auxílio dos recursos disponíveis proporcionados pelos espaços escolhidos, por exemplo, a
motricidade proporcionada pelas brincadeiras na areia, pelo equilíbrio, pela destreza e pela
confiança dentro da rede; além disso, o raciocínio lógico para as brincadeiras nas pinturas no
chão, o senso de justiça e de criação de regras com as brincadeiras dentro da sala e o incentivo
à autonomia, sobretudo pelas escolhas infantis de forma independente do adulto.
Se os espaços da Educação Infantil fossem propriamente projetados objetivando o
desenvolvimento e pensando no uso pelas crianças, não haveria necessidade de que as
brincadeiras fossem sempre planejadas pelo adulto, pois o próprio ambiente incentivaria o
desenvolvimento infantil por meio de desafios, interações sociais e criação do faz de conta.
Quando o professor observa o comportamento das crianças durante os momentos de
brincadeira livres em espaços planejados e organizados para isso, consegue verificar como
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ocorre a interação delas entre si e com o ambiente. Assim, ele pode analisar preferências,
facilidades e dificuldades das crianças, de forma que, com esses dados, é possível criar
situações, atividades, rotinas, baseadas nas necessidades infantis.
O presente trabalho visa elucidar ainda mais a importância dos estudos sobre os espaços
da Educação Infantil e o quanto eles podem contribuir para o desenvolvimento de brincadeiras
protagonizadas. Tanto o professor quando o designer ou arquiteto devem ter conhecimento
sobre o quanto é importante para a criança ter um ambiente pensado para suas necessidades,
não só físicas, mas cognitivas, motoras e sociais. O ambiente que proporciona a imaginação e
a brincadeira é um ambiente rico para aprendizagem e, consequentemente, para
desenvolvimento infantil.
Consideramos, portanto, o papel importante que o espaço desempenha para o
desenvolvimento da brincadeira, pois assim proporcionamos experiências ricas para as nossas
crianças, de maneira que elas possam interpretar papéis, realizar ações lúdicas, externalizar
pensamentos e se relacionar com seus pares.
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REFERÊNCIAS
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a aprendizagem. In: BARBATO, Silviane; CAVATON, Maria Fernanda Farah.
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traditions. Thousand Oaks, California: Sage1998.
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RINALDI, Carla. Diálogos com Reggio Emília: Escutar, investigar e aprender. São Paulo: Paz
e Terra, 2012. RINALDI, Carla. O ambiente da infância. IN: CEPPI, Giulio; ZINI, Michele
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Alegre: Penso: 2013.