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Direito Penal III

Professor Oswaldo

Princípio da Alteridade: a conduta só é criminosa se atingir outra pessoa.

Objetividade Jurídica das Leis: proteger a vida extrauterina.

Art 29- Lei 7170/83: Nas hipóteses de tentativa de homicídio de pessoa já morta,
bem como quando o meio utilizado possui ineficácia absoluta, ocorre o instituto do
crime impossível, razão pela qual não será o agente responsabilizado pela tentativa
de homicídio, mas tão somente pelos atos praticados.
Se a morte ocorrer motivada pelo cargo que a pessoa ocupa (presidente, presidente
da Câmara, presidente do Senado, presidente do STF), valendo apenas para os
citados, o crime é contra a segurança nacional, não homicídio.

Obs: Caso o agente criminoso mate com a intenção de destruir, no todo ou em


parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, temos a prática do crime de
genocídio Art 1° alínea a- Lei 2883/1956.

Crimes comuns: são aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa

Crimes próprios: são aqueles que são praticados por agente dotados de condições
especiais. Ex: peculato (só pode ser praticado por funcionário público).

Crimes bipróprios: São aqueles que exigem condições especiais para o agente e
para a vítima. Ex: infanticídio (o agente ativo é a mãe em estado puerperal enquanto
o filho recém nascido é o agente passivo).

Ação Penal 447 - STF

Direito Penal III


Súmula 579/16- Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na
pendência do julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o
resultado anterior.

Homicídio:
● Autoria Colateral: Se dá quando mais de um sujeito ativo se responsabiliza
pelo cometimento de um mesmo crime e, sem saber das intenções alheias,
um tem sucesso, enquanto o outro não o consegue/ Ocorre no caso em que
duas ou mais pessoas, concomitantemente, sem que uma saiba da intenção
da outra, atentam contra a vida da vítima, a qual falece tão somente em
razão dos disparos de um dos agentes, pois o outro errou os tiros
desfechados. Neste caso a primeira responde por crime consumado e o
segundo por crime tentado. Ocorreria outro resultado caso os dois agentes
tivessem agido em conluio, com vínculos subjetivos pois aqui ambos
responderiam por crime consumado (inclusive aquele que sequer atingiu a
vítima).

● Autoria Incerta: Se dá quando mais de uma pessoa é responsável por


cometer um crime, porém, não há como identificar quem teve sucesso e
quem não o teve (um tiro acerta o coração e o outro, o asfalto). Aqui ambos
responderão por crime tentado./ Ocorre no caso em que duas pessoas,
também sem liame (ligação) psicológico, tentam, ao mesmo tempo, matar
determinada vítima, a qual falece. Entretanto, neste caso constata-se
posteriormente que a vítima morreu em razão da conduta de um dos agentes,
mas não se consegue identificar qual foi o responsável pela consumação.
Embora não haja regra legal sobre o tema, na doutrina e jurisprudência
prevalece o entendimento de que, por razões de equidade, ambos devam
responder por crime tentado, mesmo tendo falecido a vítima.

Obs: a morte é entendida como cessação da atividade encefálica devido à lei


federal que versa sobre doação de órgãos, pois esta permite que tal ato ocorra
neste cenário (não-atividade cerebral)./ Nos termos do artigo 3° da Lei 9434/97,
regulamentada pelo Decreto 2268/97, que tratam da doação de orgãos e tecidos do
corpo humano, ocorre a morte do ser-humano com o fim da atividade encefálica.

Consumação:

Crimes instantâneos: são os crimes em que é possível saber o exato momento de


sua consumação.

Crimes permanentes: São aqueles em que a consumação se prolonga no tempo.


ex: sequestro, porte de drogas por longo período, etc.

Crimes instantâneos com efeitos permanentes: São aqueles que, apesar de


serem instantâneos, mantém respingos, efeitos prolongados ou mesmo
permanentes. Em virtude da possibilidade de a consumação do homicídio ocorrer
em momento certo, exato, todavia cujos resultados são irreversíveis, o homicídio é
classificado como crime instantâneo de efeitos permanentes.

Em virtude do homicídio ser um crime que deixa vestígios, é denominado crime não
transeunte. Nesta forma de crime prevê o artigo 158 do CPP que a prova da
existência do crime (materialidade) deva ocorrer por meio de laudo pericial, o qual
somente poderá ser substituído por prova testemunhal caso o corpo de delito
desapareça (conjunto de marcas), conforme artigo 167 do CPP.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

No caso de ataque físico contra a vítima, responderá o agente pela sua intenção e
não pelo resultado alcançado. Portanto, se a intenção nos disparos efetuados é a
morte da vítima, mesmo que ela saia ilesa do ataque, sem qualquer lesão, o crime
será de homicídio, na forma tentada. De outro lado, se a intenção dos tapas
desferidos era tão somente lesionar a vítima mas esta venha a cair e falecer em
virtude de bater a cabeça contra instrumento perfurante, responderá o agente por
crime de lesão corporal seguida de morte.

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o
resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:*

*É um caso de diminuição de penas mínima e máxima.

Um crime preterdoloso (dolo na conduta antecedente e culpa no resultado). É


denominada pela doutrina como animus mecandi ou animus occidendi.

Tentativa falha: branca/incruenta


Tentativa funcional: vermelha/cruenta

No caso de tentativa de homicídio cuja vítima não sofre qualquer lesão é chamada
pela doutrina de tentativa branca ou tentativa incruenta, ao passo em que a tentativa
que deixa lesões na vítima é chamada tentativa vermelha ou cruenta.

Direito Penal III


Desistência voluntária e Arrependimento eficaz: Quando o agente criminoso,
durante os atos executórios para matar a vítima, desiste de prosseguir (desistência
voluntária), bem como quando esgotados os atos executórios o agente promove o
socorro da vítima, impedindo o resultado morte (Arrependimento eficaz), responderá
tão somente pelos atos praticados (ameaça, disparo de arma de fogo ou lesão
corporal),mas não pela tentativa de homicídio.
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa,
por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

Crime Impossível: Ocorre quando o agente atenta contra uma vítima que já se
encontrava morta ou utilizando de instrumento ou meio absolutamente incapaz de
causar o resultado morte
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Homicídio Privilégiado: Na verdade o parágrafo primeiro do art 121 possui a


natureza jurídica de causa especial de diminuição de pena, todavia, a doutrina
denomina como homicídio privilegiado. Embora a redação do parágrafo contenha o
verbo “pode”, trata-se, na verdade, de direito subjetivo do réu, razão pela qual,
havendo reconhecimento da causa de diminuição pelo conselho de sentença, (sete
jurados) deverá o juiz reduzir a pena de ⅙ a ⅓ (o quanto de redução é faculdade
judicial).

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social
ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode* reduzir a pena de um sexto a um terço.

*É entendido como “deve”, concedendo ao magistrado apenas a liberdade de


quantificar a diminuição.

São casos de homicídio privilegiado:

1. Morte cujo motivo seja decorrente de relevante valor social: ocorre nas
hipóteses em que hajam interesses da coletividade, o agente mata
acreditando estar fazendo um bem à comunidade. Ex: morte de um traidor da
pátria; de um criminoso que atacava determinada comunidade

2. Morte em razão de relevante valor moral: Se dá quando o agente pratica o


homicídio por motivos considerados nobres ou altruístas. Ex: pai que mata o
estuprador da própria filha; casos de eutanásia*.

*Eutanásia: No Brasil é crime a eutanásia (hipótese em que o agente provoca a


morte da vítima que se encontre com alguma doença gravíssima ou incapacidade
física/ mental), entretanto não há ilicitude penal nos casos de ortotanásia* (hipótese
em que o médico deixa de aplicar tratamentos de combate à uma doença
irreversível e fatal), limitando-se apenas a cuidar dos sintomas da patologia para um
melhor fim da vida.
-Além do mar (filme)

*Ortotanásia: O conselho federal de medicina (CFM) editou a resolução


1.805/2006, regulamentando a ortotanásia com fundamento no inciso III do art 5° da
CF/88, que prevê que ninguém é obrigado a ser submetido a tratamento desumano.

3. Homicídio praticado sob domínio de violenta emoção logo em seguida à


injusta provocação: Esta forma privilegiada exige três requisitos
concomitantes, que são: 1. A existência de emoção intensa do agente; 2.
Decorrência de injusta provocação da vítima; 3. Existência de resultado morte
como reação imediata.
Caso o agente criminoso não tenha matado sob domínio da violenta emoção, mas
tão somente por influência da emoção, terá em seu benefício a circunstância
atenuante prevista na letra c do inciso III do artigo 65 do Código Penal.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70


(setenta) anos, na data da sentença; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

II - o desconhecimento da lei; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - ter o agente:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;

b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o
dano;

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de


ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção,
provocada por ato injusto da vítima;

Caso a morte decorra de injusta agressão e não de injusta provocação teremos a


excludente de ilicitude ‘legítima defesa’, desde que tenha ocorrido por meios e
modos moderados.
Esta forma qualificada não tem expressa previsão de qual seria o prazo para a
configuração da reação imediata da injusta provocação, todavia prevalece o
entendimento de que entre a provocação e o homicídio não deve haver interrupção.
Também é pacífico o entendimento de que caso a provocação tenha sido pretérita
(anterior/ passada) e o conhecimento dela hoje, matando logo após será caso da
privilegiadora.

Direito Penal III


Obs: a diferença entre crime simples e crime qualificado está na pena em abstrato,
ou seja, as penas mínima e máxima.

Homicídio qualificado: São espécies de homicídio qualificado aqueles praticados


nas seguintes circunstâncias:
● Mediante paga ou promessa de recompensa: ocorre quando o homicida
previamente recebe dinheiro ou outra vantagem econômica para matar a
vítima, bem como no caso em que o agente mata em razão de promessa de
futuro pagamento, mesmo que após a morte o contratante não quite o
débito. Está forma de homicídio exige a participação de, no mínimo, duas
pessoas (executor e mandante), razão pela qual é denominado crime
plurisubjetivo. Em virtude da motivação do homicida ser econômica, é
chamado de “homicídio mercenário”.

● Cometido por outro motivo torpe: ocorre nas hipóteses em que a causa da
morte é um motivo vil, repugnante, cuja sociedade tem maior reprovação. Ex:
matar a troco de sexo; por rivalidade profissional; herança ou pelo simples
fato de preconceito contra homossexual.
Na hipótese de homicídio praticado contra grupo ou parte do grupo, visando destruí-
lo, sendo o grupo nacional, étnico, racial ou religioso, teremos o crime de genocídio
- Lei 2.889/56 Art 1°.

● Cometido por motivo fútil: Aqui há desproporção entre a motivação e o


resultado morte./ Ocorre quando o homicídio é praticado por motivação de
pequena ou insignificante importância. Ocorre, portanto, falta de proporção
entre o comportamento da vítima e sua morte. Segundo corrente majoritária,
a falta de motivo não acarreta a futilidade, em prestígio à vedação da
analogia em prejuízo do réu, decorrente do princípio constitucional da
legalidade (inciso Art 5° XIL CF/ Art 1° CP)

● Homicídio cometido com emprego de veneno (venefício): é chamado de


venefício. Ocorre somente quando a vítima desconhece que está sendo
atacada pelo agressor, sendo envenenada. Caso a vítima seja obrigada, à
força, a ingerir veneno sabendo do que se trata, ocorreria outra qualificadora
(homicídio por meio cruel).
● Homicídio mediante fogo ou explosivo: Ocorre esta forma de homicídio
quando o fogo ou explosivo é o meio utilizado para matar a vítima. Caso seja
utilizado fogo para destruir o corpo de pessoa já morta, não qualificará o
homicídio, configurando o crime de destruição de cadáver*. Caso o incêndio
ou explosivo também cause dano a bens materiais não configurará o crime
de dano qualificado pois o inciso II do parágrafo único do artigo 163 do
Código Penal (Dano) é tipo Penal subsidiário expresso, ou seja, somente
aplicável quando não configurar crime mais grave.

*Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

● Homicídio mediante asfixia:

Em razão da asfixia causar o impedimento da atividade respiratória, cuja morte


demorará alguns minutos, trata-se como homicídio qualificado. Pode a asfixia ser:

a) Mecânica:
- Esganadura: apertar o pescoço com o próprio (do agente ativo) corpo (as
mãos, por exemplo)
- Estrangulamento: utilizar instrumento (cordas, cabos, etc) para envolver o
pescoço da vítima.
- Enforcamento: Aqui, apesar de haver utilização de instrumentos (cordas,
fios), não é a força do agente ativo que mata a vítima, mas sim seu peso. Ex:
forca
- Sufocação: Ocorre ao inserir objetos na garganta da pessoa no intuito de
impedí-la de respirar.
- Afogamento: É a imersão do corpo da vítima em qualquer meio líquido,
impedindo-a de respirar.
- Soterramento: Se dá quando o corpo da vítima é imerso em meio sólido que
a impeça de respirar
- Imprensamento: Ocorre quando há um peso colocado sobre o corpo da
vítima de forma que a impeça de respirar.

b) Tóxica:
- Uso de gás asfixiante: Ocorre quando se faz uso de gás que impeça a vítima
de respirar
- Por meio de confinamento: Se dá ao confinar a vítima em um local sem
entrada para oxigênio, preenchendo-o com o gás carbônico produzido pelo
corpo e causando asfixia.
● Homicídio por meio insidioso: Se dá quando o agente utiliza uma fraude para
atingir a vítima sem que ela perceba que está sendo atacada. Ex: sabotagem
nos freios de veículo automotor ou no motor de um avião.

● Homicídio por meio que possa resultar perigo comum: Ocorre quando o
agente, visando matar pessoa determinada causa resultado em que um
número considerável de pessoas são expostas ao risco quanto à vida ou à
integridade física. Se é utilizado um desmoronamento, uma inundação ou
desabamento que poderia por em risco outras pessoas mas, no momento do
crime, somente a vítima encontrava-se no local, teremos o homicídio
qualificado, mas, se naquela ocasião estivessem outras pessoas que,
efetivamente, foram expostas a perigo, configuraria também o crime previsto
nos arts 250 e ss.

Homicídio qualificado no CP
Art. 121. Matar alguém:

§ 2° Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

II - por motivo futil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que


dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de


outro crime:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

● Homicídio praticado mediante tortura ou outro meio cruel:


Caso o agente tenha a intenção de matar a vítima, utilizando-se como meio a
tortura, responderá pelo crime de homicídio qualificado. Diferentemente, se o agente
tinha tão somente a vontade de torturar, todavia, em razão das gravidades das
lesões sofridas, cause culposamente a morte da vítima, teremos o crime de tortura
seguida de morte, previsto no artigo 1° parágrafo 3° da Lei 9.455/97. Trata-se este
crime de delito preterdoloso/ preteritencional (dolo na conduta anterior e culpa na
posterior).
Pode ocorrer, ainda, uma terceira possibilidade, quando o agente prática tão
somente a tortura e, após, resolve praticar outro crime (matar a vítima). Nesta última
hipótese, responderá o criminoso por dois crimes: tortura simples e homicídio, em
concurso material* (soma-se as penas).

*Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de
reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena


privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será
incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado


cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as
demais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

● Homicídio cometido à traição:


Ocorre quando o agente utiliza-se de uma prévia confiança que a vítima nele
deposita para atacá-la de forma que aquela tenha dificuldade em reagir.

● Homicídio cometido mediante emboscada:


Ocorre nos casos em que o agente aguarda escondido a aproximação da vítima
com a finalidade de matá-la. Em outras palavras, emboscada é a mesma coisa que
“tocaia”

● Homicídio mediante dissimulação:


Ocorre quando o agente faz uso de recursos destinados a enganar a vítima, visando
sua aproximação para que possa matá-la.
Pode a dissimulação ser material quando o agente utiliza disfarce ou método
análogo para aproximar-se da vítima.
Pode, ainda, ser moral quando, falsamente, o agente faz provas de amizade, de
admiração ou de interesse para aproximar-se da vítima e executá-la.

● Homicídio mediante recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da


vítima:
Ocorre esta forma de crime qualificado em todos os casos em que o homicida
prática sua conduta em momento que a vítima tenha dificuldade ou impossibilidade
de se defender.
Ex: matar alguém dormindo/em coma.
Não é necessário que o agente tenha dado causa à dificuldade ou impossibilidade
da defesa da vítima.
O tiro pelas costas qualifica o homicídio mas o tiro nas costas não necessariamente
o fará.
Também é exemplo dessa forma de homicídio o crime de linchamento.
Segundo a doutrina majoritária, o fato de a vítima encontrar-se desarmada quando
do ataque ou o criminoso utilizar arma, por si só não qualifica o homicídio

● Homicídio cometido para assegurar a execução de outro crime:


Ocorre quando o agente visa praticar determinado crime mas realiza, no mesmo
contexto, o crime de homicídio para que possa praticar o outro crime cometido.
Ex: Para estuprar a esposa, mata seu marido momentos antes. (Esta hipótese é
denominada “conexão teleológica”.)

Mesmo que o agente não consiga prática o segundo crime (motivador do homicídio),
bem como desista de sua praticá-lo, responderá pelo homicídio qualificado pois será
levada em conta sua motivação, bem como os atos ja praticados.

Latrocínio: em relação ao caso de matar para subtrair, não teremos o crime de


homicídio qualificado, mas sim o crime de latrocínio (Parágrafo 3° do Art 157 do
Código Penal).
O roubo é crime contra o patrimônio, portanto o juiz singular julgará o latrocínio
(Súmula 603 STF).

● Homicídio cometido para assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de


outro crime:
Ocorre quando o agente mata a vítima para esconder a ocorrência de um crime
(ocultação), quando mata com a finalidade de evitar que seja reconhecido e
responsabilizado (impunidade) ou, ainda, quando mata para ficar com o produto de
determinado crime.
Ex: matar o comparsa após o roubo (garantir a vantagem do outro crime).

Se a morte tinha a finalidade de assegurar a execução, ocultação, impunidade ou


vantagem de uma contravenção penal, será também homicídio qualificado, mas por
outra causa: a torpeza.

Mesmo que transcorridos vários anos entre o crime antecedente que se busca
ocultar, assegurar a impunidade ou vantagem, teremos a forma qualificada do
homicídio.

● Feminicídio:
Este crime surgiu em razão da violência frequente de gênero.
Art 121 par. 2° VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
O fato de apenas matar uma mulher não configura feminicídio. Para que este fique
caracterizado deve-se fazê-lo em razão de cenários previstos na Lei Maria da
Penha ou em razão da própria condição de ser mulher da vítima./ Esta forma de
homicídio qualificado não ocorre pelo simples fato da vítima ser mulher, sendo
necessário que o motivo seja a sua condição feminina.
O parágrafo 2° a do Art. 121 do CP esclarece que somente ocorre feminicídio
quando o agente mata uma mulher:
a) Em circunstâncias em que configure o caso de violência doméstica (Lei
11.340/06 - Lei Maria da Penha). Em outras palavras, a morte deve ocorrer
em razão de uma ação ou omissão baseada no gênero, no âmbito da
unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto;
b) Quando o agente praticar o homicídio em virtude de menosprezo ou
descriminação em razão da vítima ser mulher.
Obs: Nos casos de eventuais homicídios realizados em razão de preconceito,
inclusive em decorrência da orientação sexual, não teremos o feminicídio se a
vítima for homem, mas continuará a ser homicídio qualificado por ter motivo torpe
(inciso I do parágrafo 2° do artigo 121 do Código Penal).

São causas específicas de aumento de pena para o crime de feminicídio (aumento


de ⅓ até ½) quando a conduta:

1) Ocorre durante a gestação ou durante o prazo de 3 meses após a vítima ter


dado a luz.

2) Contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou deficiente (física ou


mental).

3) Na presença de descendente ou ascendente da vítima.

● Homicídio praticado contra autoridades ou agentes do sistema de segurança,


contra membro das forças armadas ou contra seus familiares.
Ocorre esta forma qualificada quando figura como vítima do homicídio as seguintes
pessoas:
a) Integrantes das forças armadas (exército, marinha e aeronáutica)
- Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

b) Integrantes das polícias federal, rodoviária federal, ferroviária federal, civil,


militar, bombeiros militares ou guardas civis metropolitanos - 144 CF*
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

c) Integrantes do sistema prisional;

d) Integrantes da força nacional de segurança pública;

e) Cônjuge ou companheiro de qualquer das autoridades ou agentes


mencionados em razão dessa condição;

f) Parente consangüíneo até 3° grau das autoridades ou agentes mencionados


em razão dessa condição;

Novamente, não basta apenas matar pessoas que se enquadrem na condição


acima, mas fazê-lo em razão daquela.
Esta forma de homicídio qualificado contra membros da área de segurança exige
que a vítima encontre-se, quando dos fatos, no exercício de suas funções ou que o
crime seja praticado em razão dela. Se o homicida desconhecia que a vítima se
enquadrava nas funções supracitadas, não poderá ocorrer esta qualificadora.
O código penal é expresso em exigir o parentesco consanguíneo, motivo pelo qual
não se aplica aos parentes por afinidade.
Em razão do parágrafo 6° do Art 227 da CF*, o filho ou irmão adotivo não pode
receber tratamento diverso do parente consanguíneo, exceto se houver expressa
previsão legal, motivo pelo qual está qualificadora também os alcança quando são
vítimas.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão
os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.
Art 121 par. 2° VII - contra autoridade ou agente, descrito nos artigos 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da força nacional de
segurança pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3° grau, em razão desta
condição.

O homicídio simples só é crime hediondo se praticado como atividade típica de


grupos de extermínio, porém todos os homicídios qualificados (com exceção do
homicídio privilegiado-qualificado) são crimes hediondos./ É crime hediondo todo
homicídio qualificado, bem como o homicídio simples praticado mediante atividade
típica de grupos de extermínio, mesmo realizado por um só agente. Todavia, nos
casos de homicídio qualificado - privilegiado tem prevalecido o entendimento de que
não se trata de crime hediondo, sendo, inclusive, a posição adotada pelo STJ e
STF.

Estes três crimes (três “T’s”) são equiparados (têm tratamento igual) aos crimes
hediondos mas não o são.

1. Tráfico de drogas (Art 33 Lei 11.343/06)


2. Tortura (Lei 9.455/87)
3. Terrorismo

Direito Penal III


Causas de aumento de pena para os crimes de homicídio doloso

1. Será aumentada a pena em ⅓ se o homicídio doloso (simples, privilegiado ou


qualificado) for praticado contra menor de 14 anos ou maior de 60 anos.
Leva-se em consideração a idade da vítima no momento da ação/omissão,
pois adotamos a teoria da atividade (artigo 4° CP).
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que
outro seja o momento do resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)

2. Também será causa de aumento de pena, de ⅓ até ½, o homicídio praticado


por milícia privada (Art 288-A CP prevê o crime de constituição de milícia
privada), bem como o homicídio praticado por grupo de extermínio. Em
relação à milícia, a morte deve ter ocorrido sob pretexto de prestação de
serviço de segurança.

Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código;


em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por
último, as causas de diminuição e de aumento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição
previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só
diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Dolo:
a) Direito: o agente quer o resultado
- 1° grau:
- 2° grau:

b) Indireto: o agente assume o resultado


- Alternativo:
- Eventual:

Culposo:
Ha quatro espécies de culpa:
1) Consciente: trata-se do caso em que o agente sabe que está agindo com
imprudência, negligência, imperícia e assume o resultado por excesso de
autoconfiança.

2) Inconsciente: a pessoa não percebe que está agindo com conduta culposa.

3) Própria: trata-se de quando o agente propriamente age com imprudência,


negligência ou imperícia.

4) Imprópria: trata-se do erro de tipo, ou seja, o agente não sabe que está
cometendo crime não por desinformação, mas por achar sinceramente que a
conduta não é crime.

Direito Penal III


Homicídio Culposo

Nos casos em que o agente, por meio de imprudência (realização de um ato


perigoso), negligência (ausência de cautela ou precaução) ou por meio de imperícia
(inaptidão para o exercício de determinada função) causa a morte da vítima,
responde pelo artigo 121 parágrafo 3°:
Art 121 § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)

Pena - detenção, de um a três anos.


Este tipo Penal não será adotado nos casos de mortes culposas relacionadas a
acidente de trânsito, pois será o caso da tipificação do Art. 302 do CTB.

No âmbito penal não há compensação de culpas, razão pela qual se, no mesmo
evento, duas pessoas, culposamente, praticarem um crime e, concomitantemente,
sofrerem lesões, não haverá possibilidade de compensação de culpas. Todos
responderão pelo crime.

Na prática de crimes culposos em que dois ou mais agentes são os causadores de


determinada morte, suas condutas serão consideradas independentes, em outras
palavras, não será possível coautoria ou participação em crimes culposos.
São causas de aumento de pena (⅓) nos casos de homicídios culposos:
a) Quando o agente pratica a conduta sem observar regra técnica, de arte,
profissão ou ofício.

b) Quando o agente não presta socorro imediato à vítima

c) Quando o agente não procura diminuir as consequências de seu ato

Perdão Jucidial

Trata-se de causa dale extinção da punibilidade, prevista no inciso IX do artigo 107


do CP. Não é cabível perdão ao homicídio doloso, é exclusivo do culposo. Conforme
a súmula 18 do STJ, a sentença que concede o perdão judicial não é sentença
condenatória, mas decisão declaratória de extinção da punibilidade.
O perdão judicial só se dá quando as consequências do crime foram tão danosas ao
agente que a sanção se torna desnecessária.

Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio


Art 122 CP

Referido crime também é conhecido como participação em suicídio. Pode ocorrer de


três formas:
● Quando o agente induz (cria a ideia de suicídio na mente da vítima);
● Quando o agente instiga (reforça a ideia de suicídio na mente da vítima) ou;
● Quando o agente auxilia (fornecendo meios ou materiais para a prática do
ato).

Nas duas primeiras formas (induzir e instigar) temos a participação moral, enquanto
na hipótese de auxílio teremos a participação material.

*É suicídio o ato voluntário e consciente da supressão da própria vida.


Não haverá crime de participação em suicídio quando a vítima é obrigada, mediante
violência ou grave ameaça, a se matar, bem como não tem consciência do ato que
pratica. Nestes casos o responsável pela conduta da vítima será autor de homicídio.
Conforme prevê o preceito secundário (pena do crime), somente haverá o crime de
participação se a vítima atentar contra sua vida e sofrer, no mínimo, lesões graves
ou, caso venha a óbito. Em outras palavras, se da conduta da vítima restar apenas
lesão leve ou não venha ela a praticar o suicídio, será fato atípico.
Por exigir resultado naturalístico trata-se de crime material.
Não há necessidade de proximidade temporal entre o induzimento, instigação ou
auxílio ao suicídio e o efetivo atentado contra a vida, razão pela qual mesmo
passados meses, se o agente foi a causa por meio de tais condutas, responderá
pelo artigo 122. Se a vítima pratica o suicídio por outras razões ou usando material
diverso daquele fornecido pelo agente (o agente empresa faca e a vítima se mata
enforcada).
O artigo 122 do CP é tipo Penal misto alternativo, ou seja, um crime de ação
múltipla ou de conteúdo variado (possui mais de 1 núcleo do tipo), caso em que
praticando um verbo ou todos o agente responderá por um só crime se as condutas
forem no mesmo contexto e contra a mesma vítima.

Livros e músicas que tenham conteúdo que estimule a prática do suicídio não
configura o artigo 122, pois este crime exige que a conduta tenha como destinatário
pessoa (s) determinada (s).

Se várias pessoas realizam roleta russa, uns estimulando os outros, caso um dos
envolvidos faleça, teremos, em relação aos sobreviventes, a prática do artigo 122.
Da mesma forma no caso de pacto de morte em que um casal combina o suicídio
em conjunto mas tão somente um executa. O sobrevivente responde pela
participação.
O artigo 146 parágrafo 3° II prevê que quem, mediante constrangimento ilegal,
impede que alguém se suicide, fique isento de pena.

Direito Penal III


Súmulas
a) Vinculantes: são publicadas pelo STF e obrigam as instâncias inferiores.

b) Impeditivas: são publicadas pelo STF ou STJ e impedem as instâncias


inferiores de julgarem de determinada maneira.

c) Orientadoras: são publicadas a partir da segunda instância é orientam todos


os tribunais a julgar daquele jeito, sem, contudo, obrigá-lo.

Súmula vinculante n° 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a


manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso,devendo-se observar,
nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.
Súmula 580 STJ: A correção monetária nas indenizações do seguro DPVAT por
morte ou invalidez, prevista no parágrafo 7° do artigo 5° da Lei 6.194/74, redação
dada pela 11.482/2007, incide desde a data do evento danoso. (01/08/2016)

Súmula 581 STJ: a recuperação judicial do devedor principal não impede o


prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores
solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória*.
(19/09/2016)

*Garantia pessoal. Ex: fiador

Súmula 582 STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. (19/09/2016)

Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio


Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o
faça:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um


a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

Parágrafo único - A pena é duplicada:

Aumento de pena

I - se o crime é praticado por motivo egoístico;

II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de


resistência.

A pena do Art 122 do CP será em dobro nos seguintes casos:


a) Quando o agente pratica o crime por motivos egoísticos;
b) Quando a vítima tem menos de 18 anos e é maior de 14; Condutas contra
menores de 14 anos configuram o crime de homicídio pois a sua
manifestação de vontade será irrelevante;
c) Quando a vítima, por qualquer causa, encontre-se com capacidade de
resistência diminuída (vítima com depressão aguda ou com problemas
mentais).
Infanticídio

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto
ou logo após:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

Ocorre este crime quando a mãe (por exigir qualidade especial do agente é
denominado crime próprio) mata seu próprio filho (parte da doutrina observa que,
em razão do crime, exigir também qualidade especial da vítima seria crime
bipróprio), durante o parto ou logo após, quando se encontrava em estado
puerperal. Somente será o crime de infanticídio se, quando da conduta da mãe, ela
se encontrar sob influência do estado puerperal, uma alteração psíquica, decorrente
das mudanças biológicas ocasionadas pela gestação. Em outras palavras, deverá
ser comprovado o estado psíquico da agente criminosa. Todavia, na eventualidade
do crime ter sido descoberto anos após, impossibilitando laudo psiquiátrico,
segundo a doutrina majoritária, deverá ser presumido o estado puerperal (princípio
do In dubio pro reo).
Não existe, na lei, prazo legal quanto a duração do estado puerperal, podendo durar
horas, dias e, excepcionalmente, até meses, em razão da diversidade orgânica de
cada mulher.
O crime também exige que seja praticado durante o parto (começa com a dilatação
do colo do útero e termina com a expulsão do feto) ou logo após o parto (enquanto
durar o estado puerperal).
Obs: Em casos excepcionais a alteração psíquica sofrida pela mãe afasta seu
discernimento e compreensão dos fatos, razão pela qual temos hipótese de psicose
puerperal. Nesta situação será considerada a agente, doente mental (Art. 26 - É
isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em


virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto
ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984))

Caso a mãe, no momento em que ataca a criança, em virtude de sua confusão


mental, acaba investindo contra criança diversa, teremos ainda o crime de
infanticídio, pois trata-se de erro sobre a pessoa, no parágrafo 3° do art. 20 do CP.
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
Descriminantes putativas (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,


supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção
de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Erro determinado por terceiro (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

Erro sobre a pessoa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena.
Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. (Incluído pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Temos o mesmo raciocínio quando a mãe ataca a criança correta mas, por erro no
disparo, atinge outra, situação denominada erro de execução , previsto no artigo 73
do CP.

Quando terceira pessoa auxilia a mãe no contexto de infanticídio será partícipe


deste crime, pois, nos termos do artigo 29 do CP, todos que dolosamente colaboram
para a prática de um crime, respondem pelo mesmo crime (teoria unitária ou
monista). O fato do terceiro não ser mãe da vítima é resolvido pelo artigo 30 do CP,
que determina que, nos casos em que a condição pessoal do agente é elemento do
tipo, esta condição será comunicada aos partícipes.

De outro lado, a mãe que ajuda terceiro logo após o parto a matar seu filho, mesmo
em estado puerperal, responde pelo crime de homicídio na modalidade participação.

Direito Penal V
Aborto

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
(Vide ADPF 54)

Pena - detenção, de um a três anos.

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de três a dez anos.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de


quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido
mediante fraude, grave ameaça ou violência

Forma qualificada

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um
terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da


gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Conceito: trata-se de crime que tutela a vida intra uterina, portanto configura o crime
de aborto a interrupção dolosa da gravidez com a consequente morte do produto da
concepção.
O produto da concepção, nos dois primeiros meses da gravidez, é denominado ovo,
nos dois meses seguintes, embrião e somente a partir do quinto mês é considerado
feto.
Embora haja divergência na doutrina,prevalece o entendimento de que a gravidez
se inicia com a Nidação, que é o momento em que o ovo adere na parede do útero,
tendo fim a gravidez com a expulsão do feto do corpo da gestante.

Obs: não será crime de aborto a destruição de tubo de ensaio contendo óvulo já
fertilizado in vitro.
Espécies de aborto:
a) Natural: Quando se dá espontaneamente a interrupção da gravidez.

b) Acidental: Ocorre nas hipóteses em que- em razão de traumas, quedas ou


acidentes- a gravidez é interrompida.

c) Criminoso: Previsto nos artigos 124 a 126 do CP.

d) Aborto legal ou permitido: o código penal, no artigo 128, prevê duas


modalidades de abortos legais:
- Aborto feito pelo médico para salvar a vida da gestante. A lei não exige
consentimento da gestante para este caso.
Obs: Se a intervenção for por pessoa diversa de um médico, esta também não
responderá pelo crime de aborto, pois estará agindo em estado de necessidade.

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de


perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-
se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar
o perigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena


poderá ser reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

No caso do médico errar o diagnóstico, não sendo o caso de aborto para salvar a
vida da gestante, mesmo assim, não responderá pelo crime, pois trata-se fe
hipótese de descriminante putativa.

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

Descriminantes putativas (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,


supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção
de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

- Aborto praticado em mulher que sofreu o crime de estupro. Neste segundo


caso exige-se o consentimento da gestante ou de seu representante legal,
quando incapaz. Não se exige, para esta forma de aborto legal, sequer o
boletim de ocorrência, pois o ministério da saúde editou a portaria n°
1145/2005, a qual disciplinou o procedendo para a realização desse aborto,
sendo exigida a manifestação de dois profissionais da saúde que concordem
que é caso de aborto legal, bem como a assinatura de termo de
responsabilidade pela gestante ou seu representante legal.
No primeiro caso, para salvar a vida da gestante, a doutrina denomina como aborto
necessário ou terapêutico. No segundo caso, (gravidez em razão do estupro) o
aborto é chamado sentimental ou humanitário.

Espécies de crimes de aborto:


a) Autoaborto:
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
(Vide ADPF 54)

b) Consentimento para o aborto:


Ocorre este crime quando a gestante consente para que terceiro realize o aborto em
si.
Nestas duas primeiras formas, somente pode ser autora do crime a própria
gestante, razão pela qual trata-se de crime próprio.

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
(Vide ADPF 54)

Obs: O consentimento da gestante sem qualquer ato efetivo do aborto trata-se de


ato preparatório, sequer caracteriza crime tentado.

Obs2: terceiras pessoas que influenciem no consentimento da gestante ou, de


alguma forma, colaborem dolosamente, respondem como partícipe do crime
previsto no artigo 124 do CP.

Obs3: A pessoa que realiza o aborto em razão do consentimento da gestante


responderá pelo crime previsto no artigo 126 do CP (aborto provocado com o
consentimento da gestante)

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Na hipótese do consentimento ter sido dado pela gestante menor de 14 anos,


doente ou deficiente mental, obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência, o
consentimento não será considerado válido, razão pela qual o agente responderá
pelo crime de aborto provocado sem o consentimento da gestante.
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de três a dez anos.

Aquelas pessoas que colaboram com o autor do aborto responderão como


partícipes dos crimes previstos no art 125 ou 126, conforme o caso.

Três ou mais pessoas que se unam para a prática de aborto responderão pelo crime
de associação criminosa (Art 288 do CP), além dos abortos realizados.
O simples fato de anunciar processo, substância ou objeto destinado ao aborto
configura a contravenção penal de anúncio de meio abortivo.

O artigo 127 do CP prevê duas causas especiais de aumento de pena, sendo elas:
● A pena será aumentada em ⅓ se a gestante sofrer lesões graves ou
gravíssimas. Se a lesão for leve, esta será absorvida pelo crime de aborto.
● A pena será em dobro se houver a morte culposa da gestante.
A lesão grave, gravíssima ou a morte da gestante deve ser culposa, pois é caso de
crime qualificado pelo resultado, onde há dolo no antecedente (aborto) e culpa no
consequente, razão pela qual se trata de crime preterdoloso ou preteritencional.
Caso o agente tenha a intenção de realizar o aborto e, também, a vontade de matar
a gestante,responderá por ambos crimes, cujas penas serão somadas.

- Aborto de anencéfalo: o pleno do STF, ao julgar a Argüição de


Descumprimento de Preceito Fundamental n° 54, pacificou o entendimento
de que a retirada do feto sem cérebro trata-se de mera antecipação do parto,
sendo considerado, para alguns, fato atípico e, para outros, crime impossível.
Em relação à antecipação do parto de anencéfalo, o conselho federal de medicina
editou a resolução 1.989/12, regulamentando o procedimento.
De outro lado, será crime o aborto em razão do feto possuir alguma doença ou
anomalia (aborto eugênico ou eugenésico), bem como quando o aborto é realizado
porque a gestante é solteira ou não tem condições de sustentar filho (aborto social).

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