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BUSCA ATIVA ESCOLAR E A GARANTIA DE DIREITOS DAS CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

Na efetivação dos direitos fundamentais da pessoa humana, o direito à


educação, segundo o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
Lei 8.069/90, é um dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e
do poder público, e tem a responsabilidade de assegurar, com absoluta
prioridade, o acesso à educação de qualidade.

Nesse sentido, o direito à educação é uma das prioridades do Estatuto. A


escola é o único órgão do Estado que, na maioria dos dias, tem acesso às
crianças e adolescentes do nosso país, uma vez que é a segunda principal
instituição responsável pela formação do indivíduo, depois da família. Por isso,
destaca-se a sua importância no cuidado, proteção e garantia dos direitos
fundamentais advindos do ECA.
Dentre os vários desafios que afligem a educação, a evasão escolar e a
reiteração de faltas injustificadas apresentam-se como dificuldades àqueles que
estão envolvidos em assegurar o referido direito. Nesse sentido, em janeiro de
2019, o Presidente da República sancionou a Lei n. 13.803, que determina a
notificação imediata aos conselhos tutelares, no caso de faltas escolares de
estudantes dos ensinos fundamental e médio que ultrapassarem em 30% o
percentual permitido pela legislação em vigor.

Entretanto, para que a garantia de direitos seja efetiva, é preciso que a


escola tome as medidas necessárias muito antes desse número total de faltas,
a fim de identificar, diante das faltas injustificadas, possíveis situações de
violências ou violações de direitos das crianças e adolescentes.

O cenário atual, de distanciamento social, decorrente da situação


emergencial de saúde pública devido à Pandemia desencadeada pelo
Coronavírus (COVID-19), exigiu das escolas reconfigurar sua metodologia de
atividades presenciais e passar a ofertar aulas remotas aos estudantes. As
estratégias de aulas remotas devem coadunar com a apreensão da realidade
dos(as) estudantes e se realmente o processo de aprendizagem está sendo
efetivo e, se efetivo, está sendo significativo.

Nessa metodologia, a Resolução SED/MS n. 3.745, de 19 de março de


2020, publicada no Diário Oficial n. 10.120, estabelece em seu Art. 27, inciso II
que, nos “diários de classe online, [...] o campo frequência deverá ser tracejado
no período de suspensão de aulas presenciais”. Com isso, a computação de
faltas deixou de ser indicativo de abandono e evasão escolar, devendo a escola
adotar outras medidas a fim de identificar a violação do direito à educação.
Dessa forma, a interrupção das devolutivas das Atividades Pedagógicas
Complementares (APCs) tem sido o indicador para identificar aqueles(as)
estudantes que não estão cumprindo as suas atividades escolares e,
consequentemente, está havendo a descontinuidade do seu processo de
aprendizagem.

Diante das dificuldades apresentadas neste período, especialmente


aquelas voltadas para o acesso, realização e devolutiva das Atividades
Pedagógicas Complementares (APCs), e as condições de apoio material e
emocional nesta pandemia, propõe-se para as escolas da Rede Estadual de
Ensino a estratégia de acompanhamento das atividades escolares pela
metodologia da Busca Ativa Escolar. A proposta é facilitar e orientar o trabalho
da escola por meio de um instrumento comum a toda Rede, que deve ser
utilizado como uma bússola para subsidiar as ações das escolas no atendimento
às necessidades que limitam e/ou impedem o(a)estudante no cumprimento das
atividades propostas pela escola.
A Busca Ativa, neste momento de isolamento social, tem como objetivos:

- conhecer a realidade dos(as) estudantes;


- identificar necessidades e demandas das famílias e dos territórios;
- manter o vínculo do(a) estudante com a escola;
- estabelecer, afinar e adequar a comunicação com as famílias;
- planejar estratégias de superação das demandas que inviabilizam a realização
das APCs propostas pelas escolas;
- planejar ações da rede socioassistencial e educacional com vistas à prevenção
da evasão escolar;
- identificar a existência de violações de direitos com vistas à efetivação da
proteção integral.

A escola é peça fundamental e central na execução e efetivação do


processo de Busca Ativa, bem como no preenchimento subsequente fidedigno
dos dados. Parte-se do entendimento que o(a) professor(a) é quem inicia o
processo, mas os atos seguintes devem ser concatenados com a coordenação
pedagógica e a direção escolar, para uma ação efetiva e eficiente.

Esse instrumental consistirá no documento-base para as deliberações e


estratégias de intervenções que se mostrarem necessárias para a escola.
Reitera-se, assim, que este formulário é um documento para uso da escola com
vistas a aplacar os prejuízos pedagógicos e psicossociais, principalmente
aqueles advindos do distanciamento físico. Portanto, não se trata de um
instrumento de mero encaminhamento do caso para outro órgão.

Contudo, compreendendo o(a) estudante em sua multidimensionalidade


e em sua condição de sujeito em desenvolvimento, reforça-se o papel protetivo
da escola que, ao identificar situação que ultrapasse a sua esfera de atuação (ou
seja, questões que não sejam meramente pedagógicas) deve realizar a
articulação com os demais atores da rede de proteção (CRAS, CREAS, ESF,
NASF, Conselho Tutelar etc.) para, de acordo com o tipo de violação de direito
constatado, num diálogo horizontal, construir de forma conjunta um plano
individual e familiar de atendimento para cada caso.
FLUXO DA BUSCA ATIVA
Diante do cenário que a crise sanitária trouxe, é importante destacar que
temos diferentes realidades que devem ser analisadas e ponderadas para uma
coleta de informações com nossos(as) estudantes para o bom andamento do
Processo de Busca Ativa.

Entende-se que existem estudantes que não estão entregando nenhuma


atividade desde o início do distanciamento físico, e aqueles(as) que iniciaram
realizando algumas APCs e depois pararam e também aqueles(as) que
entregam de forma descontínua, TODOS eles, sem exceção, devem estar no
nosso radar, com o propósito de mapear as situações vividas por cada um para
minorar os prejuízos pedagógicos e demais violações que possam estar
ocorrendo.
O fluxo deverá ocorrer da seguinte forma:

1) Após 5 dias úteis, a contar do prazo estabelecido para a entrega da(s)


APCs, o(a) professor(a) deverá entrar em contato com o(a) estudante,
(aproveitando as ferramentas de comunicação já estabelecidas no envio da
atividade), seus familiares ou responsáveis, para compreender os
condicionantes que estão impedindo de realizar as atividades.

Obs.:1 Caso o(a) professor(a) que identificou a ausência das APC’s não consiga
realizar o contato com o(a) estudante, o(a) mesmo deve dar ciência ao(à)
coordenador(a) pedagógico(a) para que ele(a) dê continuidade na Busca Ativa e
faça o registro do formulário.

2) Preferencialmente, sugere-se que o(a) Coordenador(a) Pedagógico(a)


preencha o formulário com as informações trazidas pelo(a) professor(a),
lembrando que já existem 07 (sete) protocolos elaborados pela Coordenadoria
de Psicologia Educacional - COPED de atendimento às seguintes situações:
bullying, dependência química, comportamento autolesivo, resolução de
conflitos, saúde mental, ameaças e sobre os fluxos da Rede de Atendimento.

3) Serão enviadas cópias das informações contempladas na ferramenta da


Busca Ativa para o e-mail cadastrado pela escola no formulário. Dessa forma, a
escola deve armazenar os dados para sua utilização posterior no planejamento
das ações ou nos encaminhamentos realizados.

3) A escola, como qualquer instituição, não consegue contemplar a


multidimensionalidade humana e deve buscar na Rede de Atendimento a
articulação necessária para traçar estratégias em conjunto na garantia de
direitos, quando as ações necessárias ultrapassarem as suas possibilidades de
intervenção.

4) Abaixo disponibiliza-se o link para o preenchimento dos dados da Busca


Ativa Escolar na plataforma Google Formulários:
https://forms.gle/F1eGnGYkQuVrkAS98
PONTOS DE ATENÇÃO NO PREENCHIMENTO DO FORMULÁRIO:

1- Ressalta-se a importância da leitura atenta às orientações acima e àquelas


constantes no cabeçalho do formulário online.

2- Destaca-se que as questões, relacionadas no grupo 4 do formulário, têm por


objetivo identificar possíveis situações que estejam impedindo a realização das
APCs propostas pela escola. Por mais complexas que sejam as razões que
limitam ou impedem o acesso à educação neste momento, a ideia é que elas
sejam identificadas e que a responsabilidade seja assumida de forma
compartilhada por todos os atores da Rede de Proteção, inclusive a escola, de
modo que a relação família-escola possa se fortalecer e exercer as funções
protetivas que porventura estejam prejudicadas.

3- Especialmente quanto às informações complementares (4.F e 4.G) solicitadas


no formulário: reforça-se que mudanças comportamentais podem significar uma
multiplicidade de fatores. Não é esperado que sejam realizadas avaliações
aprofundadas na busca ativa, mas deve-se atentar a todos os sinais (tanto do/a
estudante, como da realidade que o(a) circunda). Numa avaliação sistêmica, são
dados que podem ser de suma relevância para a compreensão do contexto e,
eventualmente, para a realização de intervenções. O mesmo vale para a
identificação de fatores relacionados à saúde e outras vulnerabilidades.

4- O grupo 5 de questões está diretamente relacionado à articulação da escola


com o restante da rede de proteção. Reforça-se que essas são alternativas no
sentido de fomentar a responsabilidade compartilhada. Ainda que os serviços
estejam dispostos separadamente nas questões do formulário, entende-se que
a articulação ultrapassa a ação do simples encaminhamento entre eles, pois
supõe o diálogo permanente e a corresponsabilidade entre todos os atores da
rede de proteção.
5- Quanto à questão 6 do formulário, reforça-se o caráter intersetorial da busca
ativa e a necessidade da construção conjunta, entre rede e família (inclusive o(a)
estudante), de estratégias para a garantia de intervenções efetivas, respeitando
as reais possibilidades dos sujeitos.

6- Encaminhar é compartilhar responsabilidades, significa intervir em conjunto,


deliberar plano de ações de curto, médio e longo prazo de forma dialogada e,
sempre que possível, em consenso com a família e o(a) estudante. Em outras
palavras, encaminhar não significa exonerar-se de atuar na situação concreta,
mas sim compartilhar as informações para somar forças com outros órgãos.
7- Realça-se, por fim, a importância da manutenção do sigilo externo (à rede de
proteção) quanto aos dados identificados no formulário.

Destaca-se que o sucesso dessa ação advém do engajamento de todos


os atores educacionais. Assim, conta-se com a colaboração da equipe escolar
nesse processo.

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