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DIREITO CIVIL II

EMENTA:

● Fato e ato jurídico.


● Negócio jurídico.
● Existência, validade e eficácia do negócio jurídico.
● Prova do fato jurídico.
● Ato ilícito.
● Prescrição e decadência

ATO JURÍDICO E NEGÓCIO JURÍDICO

O direito também tem o seu ciclo vital: nasce, desenvolve-se e extingue-se.

Essas fases ou momentos decorrem de fatos, denominados fatos jurídicos, exatamente por
produzirem efeitos jurídicos. “A chuva é um fato, que ocorre e continua a ocorrer, na normal
indiferença da vida jurídica, o que não quer dizer que, algumas vezes, este mesmo fato não
repercuta no campo do direito, para estabelecer ou alterar situações jurídicas.

Outros se passam no domínio das ações humanas, também indiferentes ao direito: o


individuo veste-se, alimenta-se, sai de casa, e a vida jurídica se mostra alheia a estas ações, a
não ser quando a locomoção, a alimentação, o vestuário provoque a atenção do
ordenamento legal”.

Todo fato para ser considerado jurídico deve passar por um juízo de valoração. O
ordenamento jurídico, que regula a atividade humana, é composta de normas jurídicas, que
preveem hipóteses de fatos e consequentes modelos de comportamento considerado
relevantes e que, por isso, foram normatizados.

Estes após concretizados, servem de suporte fático para a incidência da norma e o


surgimento do fato jurídico. O fato jurídico em sentido amplo é, portanto, todo
acontecimento da vida que o ordenamento jurídico considera relevante no campo do
direito.

Finalidade Negocial
Aquisição de Direitos

Originaria – quando se dá sem qualquer interferência do anterior titular. Ocorre, por


exemplo, na ocupação de coisa sem dono (res derelicta ou res nullius – art. 1.263 e 1.251,
CC).
Derivada - quando decorre de transferência feita por outra pessoa. Nesse caso, o direito é
adquirido com todas as qualidades ou defeitos do título anterior, visto que ninguém pode
transferir mais direitos do que tem.

A aquisição pode ser ainda:

Gratuita – quando só o adquirente aufere vantagem, como acontece por exemplo na


sucessão hereditária, na doação pura e etc.

Onerosa – quando se exige que do adquirente uma contraprestação, possibilitando a ambos


os contratantes a obtenção de benefícios, como ocorre na compra e venda, na locação e etc.

Todo negócio oneroso é bilateral, mas a recíproca não é verdadeira (ex.: doação, comodato).

Os negócios jurídicos onerosos podem ser:

a) Comutativos – quando a prestação de uma parte depende de uma contraprestação da


outra, equivalente, certa e determinada.
 
b) Aleatórios – quando a prestação de uma das partes depende de acontecimentos incertos
e inesperados. A álea, a sorte, é elemento do negócio (ex.: contrato de seguro).

NEUTROS – há negócios que não podem ser incluídos na categoria dos onerosos, nem dos
gratuitos, pois lhes falta atribuição patrimonial. São chamados neutros e se caracterizam
pela destinação dos bens. Em geral, coligam-se aos negócios translativos, com atribuição
patrimonial, como, por exemplo, a instituição das cláusulas de inalienabilidade e
incomunicabilidade.
 
BIFRONTES – são os contratos que podem ser onerosos ou gratuitos, segundo a vontade das
partes (ex.: mútuo, mandato, depósito, etc.).

Quanto a extensão, a aquisição pode ser:

A Título Singular – que ocorre no tocante a bens determinados: em relação ao comprador,


na sucessão inter vivos, e em relação ao legatário, na sucessão causa mortis.

A Título Universal – quando o adquirente sucede o antecessor na totalidade de seus


direitos, como se dá com o herdeiro.

Classificação dos Negócios Jurídicos

Unilaterais – quando só o adquirente aufere vantagem, como acontece na sucessão


hereditária.

Bilaterais – quando se exige que do adquirente uma contraprestação, possibilitando a


ambos os contratantes a obtenção de benefícios, como ocorre na compra e venda, na
locação e etc.

Plurilaterais – são os contratos que envolvem mais de duas partes, ou seja, mais de dois
polos distintos (ex.: contrato social de sociedades com mais de dois sócios).

INTER  VIVOS e MORTIS CAUSA


 
Inter vivos – destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as partes ainda vivas
(ex.: promessa de venda e compra).
 
Mortis causa – são os negócios jurídicos destinados a produzir efeitos após a morte do
agente (ex.: testamento).

Principais e Acessórios
 
Principais – são os negócios jurídicos que têm existência própria e não dependem da
existência de qualquer outro para produzir efeitos (ex.: compra e venda, locação, etc.).
 
Acessórios – são os que têm sua existência subordinada a um negócio jurídico principal (ex.:
cláusula penal, fiança, etc.), de forma que seguem o destino do principal (nulo este, nulo
também será o negócio acessório, sendo que a recíproca não é verdadeira).

Solenes ou Formais
 
Solenes ou formais – são os negócios jurídicos que devem obedecer à forma prescrita em lei
para que se aperfeiçoem. Quando a forma é exigida como condição de validade do negócio,
este é solene e a formalidade é “ad solemnitatem”, isto é, constitui a própria substância do
ato (ex.: escritura pública na alienação de imóvel, no testamento público, etc.). Mas
determinada forma pode ser exigida apenas como prova do ato. Nesse caso, se diz tratar-se
de uma formalidade “ad probationem tantum” (ex.: assento do casamento no livro de
registro – art. 1536, CC).

 
Não Solenes ou de Forma Livre

Não solenes ou de forma livre – são os negócios jurídicos de forma livre. Como a lei não
reclama nenhuma formalidade para o seu aperfeiçoamento, podem ser celebrados por
qualquer forma, inclusive a verbal (art. 107, CC).

SIMPLES, COMPLEXOS E COLIGADOS


 
Simples – são os negócios que se constituem por ato único.
 
Complexos – são os que resultam da fusão de vários atos com eficácia independente.
Compõem-se de várias declarações de vontade, que se completam, emitidas pelo mesmo
sujeito ou diferentes sujeitos, para a obtenção dos efeitos jurídicos pretendidos na sua
unidade (ex.: alienação de um imóvel em prestações, que se inicia pela celebração de um
compromisso de compra e venda, e se completa com a outorga da escritura definitiva). O
negócio jurídico complexo é único e não se confunde com o coligado.

Coligados – são os que se compõem de vários outros negócios jurídicos distintos (ex.:
arrendamento de posto de gasolina, coligado pelo mesmo instrumento ao contrato de
locação das bombas, de comodato de área para funcionamento de lanchonete, de
fornecimento de combustível, de financiamento, etc.).

ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURIDICO

Elementos Essenciais (essentialia negotii) – são elementos indispensáveis à existência do


ato e que lhe formam a substância: a declaração de vontade nos negócios em geral: a coisa,
o preço, e o consentimento na compra e venda, por exemplo.

Os elementos essenciais subdividem-se em gerais e particulares. Os primeiros são comuns a


todos os negócios, como a declaração de vontade, por exemplo. Os particulares são
peculiares a certas espécies, como a coisa, o preço e o consentimento, na compra e venda
(art. 482, CC).

Elementos Naturais (naturalia negotii) – são as consequências ou efeitos que decorrem da


própria natureza do negócio, sem necessidade de menção expressa. Normas supletivas já
determinam essas consequências jurídicas, que podem ser afastadas por estipulação
contrária. Assim, por exemplo, a responsabilidade do alienante pelos vícios redibitórios (art.
441, CC) e pelos riscos da evicção (art. 447, CC); o lugar do pagamento, quando não
convencionado (art. 327,CC).

Elementos Acidentais (accidentalia negotii) – consistem em estipulações acessórias, que as


partes podem facultativamente adicionar ao negócio, para modificar alguma de suas
consequências naturais, como a condição, o termo e o encargo ou modo (art. 121, 131 e
136, CC).

REQUISITOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

Os requisitos de existência do negócio jurídico são os seus elementos estruturais, sendo que
não há uniformidade, entre os autores, sobre a sua enumeração. Podemos dizer serem os
seguintes: A Declaração de Vontade, A Finalidade Negocial e A Idoneidade do Objeto.

Desta forma, faltando um desses elementos o negócio será considerado inexistente.

REQUISITOS DE EXISTÊNCIA
Declaração de vontade – a declaração de vontade é pressuposto básico do negócio jurídico
e é imprescindível que se exteriorize. Assim, a vontade é um elemento de caráter subjetivo,
que se revela através da declaração, requisito de existência do negócio jurídico.

Pelo tradicional princípio da autonomia da vontade as pessoas têm liberdade para


celebrarem negócio jurídico, criando direitos e contraindo obrigações.

A vontade uma vez manifestada, obriga os contratantes. Esse principio é o da


obrigatoriedade dos contratos (Pacta Sunt Servanda) e significa que o contrato faz lei entre
as partes, não podendo ser modificado pelo judiciário, visando dar segurança aos negócios
jurídicos.

Opõe-se a ele o princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva, baseado na


cláusula rebus sic stantibus e na teoria da imprevisão e autoriza o recurso ao Judiciário para
se pleitear a revisão dos contratos, diante da ocorrência de fatos extraordinários e
imprevisíveis.

A manifestação de vontade pode ser expressa, tácita e presumida.

Expressa – é a que se realiza por meio da palavra, falada ou escrita, e de gestos,


sinais, possibilitando o conhecimento imediato da intenção do agente.

Exemplo: contratos verbais ou escritos, os gestos utilizados dos leilões e pregões das bolsas
de valores.

Tácita – é a declaração de vontade que se revela pelo comportamento do agente.


Todavia, a manifestação pode ser tácita quando a lei não exigir que seja expressa.

Exemplo: nos casos da aceitação da herança, que se infere da prática de atos próprios da
qualidade de herdeiro (art. 1.805, CC e art. 1.263, CC).

Presumida – é a declaração não realizada expressamente, mas que a lei deduz de


certos comportamentos do agente. Assim, acontece, por exemplo, com as
presunções de pagamento previstas nos arts. 322, 323 e 324 do CC.

A manifestação tácita se difere da presumida porque esta é estabelecida em lei, enquanto


aquela é deduzida do comportamento do agente pelo destinatário. As presunções legais
são juris tantum, ou seja, admitem prova em contrário.

OBS: RESERVA MENTAL

Ocorre reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é,
quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Tem por objetivo enganar o outro
contratante ou declaratário. Se este entretanto, não souber da reserva, o ato subsiste e
produz os efeitos que o declarante não desejava.

A reserva, isto é, o que se passa na mente do declarante, é indiferente ao mundo jurídico e


irrelevante no que se refere à validade e eficácia do negocio jurídico.
OBS: RESERVA MENTAL

Segundo Nelson Nery Junior: “a emissão de uma declaração não querida em seu conteúdo,
tampouco em seu resultado, tendo por único objetivo enganar o declarativo”. Em seguida,
declina os seus elementos constitutivos: a) uma declaração não querida em seu conteúdo;
b) proposito de enganar o declarativo (ou mesmo terceiro).

Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva
mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.

FINALIDADE NEGOCIAL

A finalidade negocial ou jurídica é o propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir


direitos. Sem essa intenção, a manifestação de vontade, pode desencadear determinado
efeito, preestabelecido no ordenamento jurídico, praticando o agente, então, um ato
jurídico em sentido estrito.

A existência do negócio jurídico, porém, depende da manifestação de vontade com


finalidade negocial, isto é, com a intenção de produzir os efeitos supramencionados.

O negócio jurídico, como já dito, consiste no exercício da autonomia privada. Há um poder


de escolha da categoria jurídica. Permite-se que a vontade negocial proponha, dentre as
espécies, variações quanto à sua irradiação e intensidade de cada uma. Numa compra e
venda, por exemplo, podem os contratantes estabelecerem termos e condições, renunciar a
certos efeitos, limitá-los e ainda estabelecer outras avenças.

FINALIDADE NEGOCIAL

A finalidade negocial ou jurídico é o propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir


direitos. Sem essa intenção, a manifestação de vontade pode desencadear determinado
efeito, preestabelecido no ordenamento jurídico, praticamente o agente, então, um ato
jurídico em sentido estrito.

A existência do negócio jurídico, porém, depende de manifestação de vontade com


finalidade negocial, isto é, com a intenção de produzir os efeitos supramencionados.

O negócio jurídico, como já foi dito, consiste no exercício da autonomia privada. Há um


poder de escolha da categoria jurídica. Permite-se que a vontade proponha, dentre as
espécies, variações quanto à sua irradiação e a intensidade de cada uma. Numa compra e
venda, por exemplo, podem os contratantes estabelecerem termos e condições, renunciar a
certos efeitos, como o da evicção, limitá-los e ainda estabelecer outras avenças.

IDONEIDADE DO OBJETO

A idoneidade do objeto é necessária para a realização do negócio que se tem em vista.


Assim, se a intenção das partes é celebrar um contrato de mútuo, a manifestação de
vontade deve recair sobre coisa fungível. No comodato, o objeto deve ser coisa infungível.

Segundo Francisco Amaral “O objeto do negocio Jurídico deve ser idôneo, isto é, deve
apresentar os requisitos ou qualidades que a lei exige para que o negócio produza os efeitos
desejados”.

REQUISITOS DE VALIDADE

Para que o negócio jurídico produza efeitos, possibilitando a aquisição, modificação ou


extinção de direitos, deve preencher certos requisitos, apresentados como os de sua
validade. Assim, preenchidos os requisitos de validade, o negócio jurídico irá produzir seus
efeitos.

Requisitos de validade do negócio jurídico de Caráter Geral estão elencados no art. 104, do
Código Civil.

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Os Requisitos de Caráter Especifico são aqueles pertinentes a determinado negócio jurídico.


A compra e venda por exemplo tem como elementos essenciais a coisa (res), o preço
(pretium) e o consentimento (consensus).

CAPACIDADE DO AGENTE

A capacidade do agente (condição subjetiva) é a aptidão para intervir em negócios jurídicos


como declarante ou declaratório. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício, necessária
para que uma pessoa possa exercer por si só, os atos da vida civil.

Agente capaz, portanto, é o que tem capacidade de exercício de direitos, ou seja, aptidão
para exercer direitos e contrair obrigações na ordem civil. Esta é adquirida com a
maioridade, aos 18 anos, ou com a emancipação (art. 5º, CC). A Incapacidade é a restrição
legal ao exercício da vida civil e pode ser de duas espécies: ABSOLUTA ou RELATIVA.

A absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito, sob pena de
nulidade (art. 166, inciso I, CC) e decorre não só da idade com também das outras
causas elencadas no art. 3º do Código Civil, concernentes à falta de higidez metal,
mesmo que transitória.

A relativa (art.4º, CC) acarreta a anulabilidade do ato (art. 17, inciso I, CC), salvo
hipóteses especiais (art. 228, 1.666, 1860, CC e outros), e também quando o incapaz
é assistido por seu representante legal.
Segundo Francisco Amaral “A declaração de vontade é elemento necessário à existência do
negócio jurídico, enquanto a capacidade é requisito necessário à sua validade e eficácia,
bem como ao poder de disposição do agente.”

A incapacidade de exercício é suprida, pelos meios legais: A Representação e a Assistência


(art. 1634, inciso V, CC).

Dá-se a Representação quando uma pessoa, denominada representante, substitui outra, na


prática de ato ou negócio jurídico, agindo em nome e no interesse desta. Pode ser legal ou
convencional (art. 115, CC). Nos casos dos incapazes, trata-se de uma representação legal.
Os pais são os representantes legais dos filhos (art. 1.634, inciso V, CC); os tutores dos
tutelados (art.1.747, inciso I, CC); e os curadores, do curatelados (art. 1.781, CC). Em alguns
casos, necessitam os mencionados representantes de prévia autorização judicial (art.
1.691,CC).

A Assistência aos relativamente incapazes é necessária para validar a sua manifestação de


vontade, pois, embora, já tenham um certo discernimento que lhe permite participar
pessoalmente dos atos e negócios jurídicos, exige a lei que sejam acompanhados e
orientados por seus assistentes legais, deles participando com estes.

Obs. As pessoas jurídicas participam dos negócios jurídicos, em geral por intermédio de
quem as represente, ativa e passiva, judicial e extrajudicial.

A incapacidade não se confunde com impedimentos ou falta de legitimação. Esta é a


incapacidade para a prática de determinados atos. O ascendente, por exemplo, não estará
legitimado a vender bens a um descendente enquanto não obtiver o consentimento do seu
cônjuge e dos demais descendentes (art. 496, CC), embora não seja incapaz, genericamente,
para realizar negócios jurídicos. A proibição imposta ao tutor de adquirir bens do pupilo,
mesmo em hasta pública, também gera um impedimento ou falta de legitimação que
importa em incapacidade genérica.

OBJETO LÍCITO, POSSIVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL

A validade do Negócio jurídico requer, ainda, objeto lícito, possível, determinado ou


determinável.

Objeto lícito é o que não atenta contra a lei, a moral ou aos bons costumes. Objeto jurídico,
objeto imediato ou conteúdo do negócio é sempre uma conduta humana e se denomina
prestação, dar, fazer ou não fazer. Objeto material ou mediato são os bens, ou prestações
sobre os quais incide a relação jurídica obrigacional.

Quando o objeto jurídico do é imoral, os tribunais por vezes aplicam o principio de direito de
que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem
allegans). Art.150 e 883, CC.
O objeto deve ser, também, possível. Quando impossível, o negócio é nulo. A
impossibilidade do objeto pode ser física ou jurídica.
Impossibilidade física é a que emanada das forças físicas ou naturais. Deve ser absoluta,
isto é, alcançar a todos, indistintamente, como, por exemplo, a que impede o cumprimento
da obrigação de colocar toda água do oceano em um copo d’água. A relativa, que atinge o
devedor mas não outras pessoas, não constitui obstáculo ao negócio jurídico. Art. 106, CC.

A impossibilidade jurídica do objeto ocorre quando o ordenamento jurídico proíbe,


expressamente, negócios a respeito de determinado bem, como a herança de pessoa viva
(art. 426, CC), de alguns bens fora do comércio, como gravados com cláusula de
inalienabilidade etc. A ilicitude do objeto é mais ampla, pois abrange os contrários à moral e
aos bons costumes.

O objeto do negócio jurídico deve ser, igualmente, determinado ou determinável


(indeterminado relativamente ou suscetível de determinação no momento da execução).

Admite-se, assim, a venda de coisa incerta, indicada ao menos pelo gênero e pela
quantidade (Art. 243, CC), que será determinada pela escolha, bem como a venda
alternativa, cuja indeterminação cessa com a concentração. (Art. 252, CC).

FORMA

O terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma, o meio de revelação da


vontade.

Há dois sistemas no tange à forma como requisito de validade do negócio jurídico: o


consensualismo, da liberdade de forma, e o formalismo ou de forma obrigatória.

Assim, podemos dizer que a forma é livre quando não for estabelecida em lei, devendo ser
observado os casos em que a lei proíbe determinada prática.

“Art. 107. A validade da Declaração de vontade não dependerá especialmente, senão


quando a lei expressamente a exigir.”

É nulo o negócio jurídico quando “não revestir a forma prescrita em lei” ou “for preterida
alguma solenidade que a lei considere essencial para sua validade” (Art. 166, IV, V, CC). Em
alguns casos a lei exige um formalismo e a publicidade do ato jurídico. OBS: Art. 221, 366,
154, CC.

1- FORMA LIVRE – É predominante no direito brasileiro (Art. 1047, CC). É qualquer meio de
manifestação de vontade, não imposto obrigatoriamente pela lei. (a forma pode ser escrita
ou verbal, escritura pública ou particular e etc0.

2- FORMA ESPECIAL OU SOLENE – É requisito de validade do negocio jurídico, ou seja, se a


lei estabelece a compra e venda de imóveis somente terá validade contra terceiros se for
registrada no RGI, não sendo a mesma registrada regularmente o contrato não poderá ser
utilizada contra o terceiro interessado.
2.1- A forma especial ou solene pode ser única ou múltipla – quando se tratar de forma
única, não haverá a possibilidade de se praticar o ato de outra forma. Art. 108, 1.535, 1.536,
CC

2.2- Forma múltipla ou plural – É quando o ato é solene, mas a lei permite que se formalize
de diversos modos, podendo o interessado optar por um deles. Exemplo 1 reconhecimento
de um filho que pode ser efetivada de quatro formas. Ver Art. 1.609, CC
Exemplo 2 Renuncia da herança que pode ser por escritura pública ou termo judicial. Art.
1.806, CC.

DA CONDIÇÃO, DO TERMO E DO ENCARGO

CONDIÇÃO – É o acontecimento futuro e incerto de que depende a eficácia do


negócio jurídico. Da sua ocorrência depende o nascimento ou extinção de um direito.
Art. 121, CC.

Os Elementos para haver Condição são: a voluntariedade, a futuridade e a incerteza, ou


seja, a cláusula tem que ser voluntaria, o acontecimento a que se subordina a eficácia ou
resolução do ato jurídico deve ser futuro e também deve ser incerto. Ver. Art. 123 e 124, do
CC.

TERMO – É o dia ou o momento em que começa ou se extingue a eficácia do negócio


jurídico, podendo ter como unidade de medida a hora, o dia, o mês e o ano.
Ver. Art. 131, CC.

Obs: O termo não se confunde com o prazo do contrato, pois o prazo é o intervalo entre o
termo a quo e o termo ad quem, ou entre a manifestação de vontade e o advento do termo,
estando regulamentado no art. 132 a 134 do CC.

ENCARGO OU MODO – É uma determinação que, imposta pelo autor de liberalidade, a esta
adere. Trata-se de cláusula acessória, através da qual se impõe uma obrigação ao
beneficiário. É admissível, também, em declarações unilaterais da vontade, como na
promessa de recompensa. Não pode ser aposta em negócio a titulo oneroso, pois
equivaleria a uma contraprestação.

O encargo é muito comum em doações feitas ao município, em geral com a obrigação de


construir um hospital, escola, creche ou algum outro beneficio para a sociedade. Também é
comum nos testamentos, onde a pessoa que vai se beneficia do bem deixado pelo falecido,
tem a obrigação de cuidar de uma pessoa ou de animais. Ver. 136 e 137 CC.

DEFEITOS DO NEGÓCIO JURIDICO

Os defeitos dos negócios jurídicos se classificam em:


a) Vícios do Consentimento: são aqueles em que a vontade não é expressa de maneira
absolutamente livre, podendo ser eles: Erro; Dolo; Coação; Lesão e; Estado de
Perigo.(negocio jurídico anulável)

b) Vícios Sociais: são aqueles em que a vontade manifestada não tem, na realidade, a
intenção pura e de boa-fé que enuncia, sendo eles: Fraude contra Credores e Simulação.
(negocio jurídico nulo).

ERRO OU IGNORÂNCIA

O erro é um engano fático, uma falsa noção da realidade, ou seja, em relação a uma pessoa,
negócio, objeto ou direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o
negócio jurídico.
Quando o erro se dá na formação da vontade, tem-se o chamado erro vício; quando ocorre
na declaração da vontade configura-se o chamado erro obstáculo, também denominado
erro obstativo. O erro vício se forma antes da declaração, mas é com ela que se
substancializa. Nele não há desconformidade entre a vontade e a declaração, por exemplo,
“Antonio compra o prédio de Benito que, na verdade, é de José”. Já o erro obstáculo se dá na
comunicação, por exemplo, o agente quer que Amarildo e diz Antonio. O nosso
ordenamento não diferencia uma espécie da outra.

Então, erro é o vício de consentimento que se forma sem induzimento intencional de


pessoa interessada. É o próprio declarante quem interpreta equivocadamente uma situação
fática ou lei e, fundado em sua cognição falsa, manifesta a vontade, criando, modificando ou
extinguindo vínculos jurídicos.

O Código Civil equipara o erro à ignorância, mas ambos expressam situações


distintas. Enquanto no erro a vontade se forma com base na falsa convicção do agente, na
ignorância não se registra distorção entre o pensamento e a realidade, pois o agente sequer
tomara ciência da realidade dos fatos ou da lei. Ignorância é falta de conhecimento,
enquanto o erro é o conhecimento divorciado da realidade.
Entretanto, o erro sé é considerado como causa de anulabilidade ou nulidade relativa
do negócio jurídico se for: essencial ou substancial (art. 138, do CC) e escusável ou
perdoável.
O erro essencial ou substancial é aquele que incide sobre a essência (causa) do
negócio que se prática, sem o qual este não teria se realizado. É o caso dos colecionados
que, adquirirei uma estátua de marfim, compra, por engano, uma peça feita de material
sintético.
As hipóteses de erro substancial estão enumeradas no art. 139, do CC. O erro
substancial se caracteriza por uma das seguintes modalidades:

1)  ERROR IN NEGOTIO: neste tipo de falsa representação intelectual diz respeito à natureza
do negocio jurídico celebrado. Pensa o agente que o imóvel lhe está sendo entregue a titulo
de comodato e na realidade se trata de contrato de locação.

2)  ERROR IN CORPORE: o dissenso entre a vontade real e a declarada refere-se à identidade


do objeto do negócio, como no caso de que se declara que quer comprar o animal que está
diante de si, mas acaba levando outro, trocado.
3)  ERROR IN SUBSTANTIA: o agente identifica corretamente a natureza do vinculo
estabelecido, bem como o objeto em função do qual se opera o negócio, todavia,
desconhece algumas qualidade ou características essenciais, por exemplo: alguém adquire
um aparelho televisor na crença de ser LCD, verificando se tratar de TV apenas de Plasma.

4) ERROR IN PERSONA: Esta espécie diz respeito à identidade da pessoa com que o agente
pratica o negócio jurídico ou alguma de suas qualidades, por exemplo, A sociedade XY
Eletrônica LTDA contrata José latrina pensando se tratar do famoso José latinhas.

5) ERRO JURIS OU ERRO DE DIREITO: consiste no desconhecimento das implicações jurídicas


trazidas pelo negocio jurídico. Em regra o erro de direito não é causa de anulabilidade ou
nulidade relativa do negócio, porem, às vezes a doutrina e a jurisprudência flexibiliza esse
entendimento. Desta forma, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2008, p. 138)
afirmam que “desde que não se pretenda descumprir preceito legal, se o agente, de boa-fé,
prática o ato incorrendo em erro substancial e escusável, há que reconhecer, por imperativo
de equidade, a ocorrência do erro de direito”. (ex: alguém eventualmente celebra contrato
de importação de uma determinada mercadoria, sem saber que, recentemente, for
expedido decreto proibindo a entrada de tal produto no território nacional. Neste exemplo,
tem aplicação o erro de direito). (art. 139, III, do CC).

O Erro escusável ou perdoável é aquele que dentro do que se espera do homem médio que
atue com grau normal de diligência. Não se admite, outrossim, a legação de erro por parte
daquele que atuou com acentuado grau de displicência, pois o direito não deve amparar o
negligente.
CONTRATOS

É o acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir direitos. É o mais
expressivo modelo de negócio jurídico. Condições de Validade (Art. 104, CC)

1. De Ordem Geral: comuns a todos os atos e negócios jurídicos

• Capacidade do agente
• Objeto licito, possível, determinado ou determinável
• Forma prescrita ou não defesa em lei

2. De Ordem Especial: especifico dos contratos

• Consentimento reciproco ou acordo de vontades

CONTRATOS

Condições de Validade (Art. 104, CC)


1. Negócio Jurídico NULO – Art. 166, CC.

2. Negócio Jurídico ANULÁVEIS – Art. 171, CC.

CONTRATOS

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL

Princípio da autonomia da vontade


 
Significa ampla liberdade de contratar, que tem as partes a faculdade de celebrar ou não
contratos, sem qualquer interferência do Estado. Podem celebrar contratos nominados ou
fazer combinações, dando origem a contratos inominados. Tal princípio teve o seu apogeu
após a Revolução Francesa, com a predominância do individualismo e a pregação de
liberdade em todos os campos, inclusive no contratual.

Princípio da Supremacia da Ordem Pública

Limita a autonomia da vontade, dando prevalência ao interesse público. Resultou da


constatação, feita no início do século passado e em face da crescente industrialização, de
que a ampla liberdade de contratar provocava desequilíbrios e a exploração do
economicamente mais fraco. Em alguns setores fazia-se mister a intervenção do Estado, para
restabelecer e assegurar a igualdade dos contratantes.

Princípio do Consensualismo
 
Decorre da moderna concepção de que o contrato resulta do consenso, do acordo de
vontades, independentemente da entrega da coisa. A compra e venda, por exemplo, quando
pura, torna-se perfeita e obrigatória, desde que as partes acordem no objeto e no preço (CC,
art. 482). O contrato já estará perfeito e acabado desde o momento em que o vendedor
aceitar o preço oferecido pela coisa, independentemente da entrega desta. O pagamento e a
entrega do objeto constituem outra fase, a do cumprimento das obrigações assumidas pelos
contraentes (CC, art. 481).

Princípio da Relatividade dos Contratos


 

Funda-se na ideia de que os efeitos do contrato se produzem em relação às partes, aqueles


que manifestaram sua vontade, não afetando terceiros. Desse modo, a obrigação, não sendo
personalíssima, opera somente entre as partes e seus sucessores, a título universal ou
singular. Só a obrigação personalíssima não obriga os sucessores. O aludido princípio
comporta, entretanto, algumas exceções expressamente consignadas na lei, permitindo
estipulações em favor de terceiros, reguladas no art. 436 e 438 9 comum nos seguros de
vida e nas separações judicias consensuais) e convenções coletivas de trabalho, por
exemplo, em que os acordos feitos pelos sindicatos beneficiam toda uma categoria.

Princípio da Obrigatoriedade dos Contratos

Representa a força vinculante das convenções. Pelo princípio da autonomia da vontade,


ninguém é obrigado a contratar. Os que fizerem, porém, sendo contrato valido e eficaz,
devem cumpri-lo. Tem por fundamentos: a) a necessidade de segurança nos negócios
(função social dos contratos), que deixaria de existir se os contratantes pudessem não
cumprir a palavra empenhada, gerando a balbúrdia e o caos; b) a intangibilidade ou
imutabilidade do contrato, decorrente da convicção de que o acordo de vontade faz lei entre
as partes (pacta sunt servanda), não podendo ser alterado nem pelo juiz.

Princípio da Onerosidade Excessiva ou da Revisão dos Contratos


 
Opõe-se ao princípio da obrigatoriedade, pois permite aos contratantes recorrerem ao
judiciário para obter alteração da convenção e condições mais humanas, em determinadas
situações. Originou-se na Idade Média, mediante a constatação, atribuída a Neratius, de que
fatores externos podem gerar, quando da execução da avença, uma situação muito diversa
da que existia no momento da celebração, onerando excessivamente o devedor. A teoria
recebeu o nome de rebus sic stantibus, e consiste basicamente em presumir, nos contratos
comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a existência implícita (não expressa)
de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a
inalterabilidade da situação de fato. Se esta, no entanto, modificar-se em razão de
acontecimentos extraordinários (exemplo: uma guerra), que tornem excessivamente
oneroso para o devedor, causando o seu inadimplemento, poderá este requerer ao juiz que
o isente da obrigação, parcial ou totalmente.

Princípio da Boa-Fé
 
Proibição do venire contar factum proprium; supressio, surrectio e tu quoque; duty to
mitigate the loss. O princípio da boa-fé objetiva exige que as partes se comportem de forma
correta não só durante tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do
contrato. Guarda relação com o princípio de direito segundo o qual ninguém pode
beneficiar-se da própria torpeza. Recomenda ao juiz que presuma a boa-fé, devendo a
má-fé, ao contrário, ser provada por quem a alega. Preceitua o art. 422 do Código Civil que
“os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé”.

O aludido princípio biparte-se em boa-fé subjetiva, também chamada concepção psicológica


da boa-fé, e boa-fé objetiva, também denominada concepção ética da boa-fé. A primeira diz
respeito ao conhecimento ou á ignorância da pessoa relativamente a certos fatos. Serve à
proteção daquele que tem a consciência de estar agindo conforme o direito, apesar de ser
outra a realidade. A boa-fé objetiva classifica-se como normas de comportamento fundada
em um princípio geral do direito segundo quais todos devem agir de boa-fé nas relações
recíprocas. Nessa acepção, está fundada na honestidade, na retidão, na lealdade e na
consideração para com os interesses do outro contraente, em especial no sentido de não lhe
sonegar informações relevantes a respeito do objeto e conteúdo do negócio.

A cláusula geral da boa-fé objetiva é tratada no Código Civil em três dispositivos, sendo de
maior repercussão o art. 422. Os demais são: o art. 113 e o 187.

Um dos principais efeitos da boa-fé no campo dos contratos traduz-se na proibição de


VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM, ou seja, na vedação de que a parte tenha uma posição
jurídica contraria ao comportamento assumido anteriormente.

O enunciado 362 da VI Jornada de Direito Civil assim dispõe: “A vedação do comportamento


contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como
se extrai dos artigos 187 e 422 do Código Civil”.

Supresio, surrectio e tu quoque são também conceitos correlatos à boa-fé.

Na supressio um direito não exercido durante determinado lapso de tempo não poderá mais
sê-lo, por contrariar a boa-fé. O comprador que deixa de retirar as mercadorias, por
exemplo, não pode obrigar o vendedor a guardá-la por tempo indeterminado.

A surrectio é a outra face da supressio, pois consiste no nascimento de um direito,


consequente a continuada prática de certos atos. Assim, a duradoura distribuição de lucros
da sociedade comercial em desacordos com os estatutos, pode gerar o direito de recebe-lo
do mesmo modo, para o futuro.

O tu quoque veda que alguém faça contra o outro o que não faria contra si mesmo,
consistindo em aplicação do mesmo princípio da exceptio non adimpleti contractus.

Assim, o condômino que viola a regra do condomínio e deposita móveis em área de uso
comum, ou a destina para uso próprio, não pode exigir do outro comportamento obediente
do preceito.

O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio


prejuízo. A mencionada máxima tem sido aplicada especialmente aos contratos bancários,
em casos de inadimplência dos devedores, em que a instituição financeira, ao invés de
tomar as providências para a rescisão do contrato, permanece inerte, na expectativa de que
a dívida atinja valores elevados, em razão da alta dos juros convencionada no contrato.

INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS

O art. 114 do Código Civil, dispõe que “os negócios jurídicos benéficos e a renúncia
interpretam-se estritamente”. Benéficos ou gratuitos são os que envolvem uma liberalidade:
somente um dos contratantes se obriga, enquanto o outro apenas aufere um benefício. A
doação pura constitui o melhor exemplo dessa espécie. Devem ter interpretação estrita
porque representam renúncia de direitos.

A vontade das partes exterioriza-se através de sinais ou símbolos, dentre os quais as


palavras.

Nos contratos escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) conduz, em regra, à


descoberta da intenção das partes. Parte-se, portanto, da declaração escrita para se chegar à
vontade dos contratantes (interpretação subjetiva), alvo principal da operação. Quando, no
entanto, determinada cláusula mostra-se obscura, passível de dúvida, e um dos contratantes
demonstra que não representa com fidelidade a vontade manifestada por ocasião da
celebração da avença, deve-se considerar verdadeira esta última, pois o art. 112 do Código
Civil declara que:

“Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao


sentido literal da linguagem”.

Portanto, o Código Civil brasileiro deu prevalência à teoria da vontade sobre a da declaração.

Declara o art. 422 do Código Civil que “os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Estes
princípios, bem como o da função social do contrato como limite à autonomia privada (CC,
art. 421), são exemplos de cláusulas gerais, que, por serem normas de ordem pública (CC,
art. 2.035, parágrafo único), devem ser aplicadas de ofício pelo juiz.

O Código Civil contém outros artigos que também estabelecem regras sobre interpretação
de determinados negócios: quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou
contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (art. 423); a
transação interpreta-se restritivamente (art. 843); a fiança não admite interpretação
extensiva (art. 819); sendo a cláusula testamentária suscetível de interpretações diferentes,
prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador (art.1.899).

O Código de Defesa do Consumidor tem um único dispositivo sobre interpretação dos


contratos:

“art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao


consumidor”.

O dispositivo em destaque aplica-se a todos os contratos que tenham por objeto relações de
consumo e harmoniza-se com o espírito do referido diploma, que visa à proteção do
hipossuficiente, isto é, do consumidor, visto que as regras que ditam tais relações são, em
geral, elaboradas pelo fornecedor.

Alguns critérios técnicos podem ser observados, no tocante à interpretação dos contratos:

a) a melhor maneira de se apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo pelo


qual o vinham executando, de comum acordo;

b) deve-se interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor


(princípio da extrema ratio);

c) as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em conjunto com
as demais;

d) nos contratos de adesão, a interpretação das cláusulas duvidosas deve ser feita sempre
em favor dos aderentes.

PACTOS SUCESSÓRIOS

Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva (CC, art. 426). Trata-se de regra
tradicional e de ordem pública, destinada a afastar os pacta corvina ou votum captandae
mortis. A sua inobservância torna nulo o contrato em razão da impossibilidade jurídica do
objeto.

O nosso ordenamento só admite duas formas de sucessão causa mortis: a legítima e a


testamentária. O dispositivo em questão afasta a sucessão contratual. Podem os pais,
todavia, por ato inter vivos, partilhar o seu patrimônio entre os descendentes (art. 2.018).
Esta é a única exceção à norma do art. 426 no Código de 2002, uma vez que as mencionadas
por alguns autores, previstas nos arts. 546 e 1.668, que tratam de doações entre cônjuges,
não contemplam a hipótese de recíproca sucessão causa mortis.

FORMAÇÃO DO CONTRATO

A PROPOSTA

A OFERTA NO CÓDIGO CIVIL

O contrato resulta de duas manifestações de vontade: a proposta e a aceitação.

A primeira, também chamada oferta, policitação ou oblação, dá início à formação do


contrato e não depende, em regra, de forma especial. É antecedida de uma fase, às vezes
prolongada, de negociações preliminares (conversações, estudos), também denominada fase
da puntuação (Termo jurídico que define uma das fases do processo de formação dos
contratos).

A proposta, desde que séria e consciente, vincula o proponente (CC, art. 427). Pode ser
provada por testemunhas, qualquer que seja o seu valor. A sua retirada sujeita o proponente
ao pagamento das perdas e danos. A lei abre, entretanto, várias exceções a essa regra.

O art. 427 do Código Civil, que assim dispõe:

“A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela,
da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”
Destarte, não obriga o proponente,

❖ em primeiro lugar, se contiver cláusula expressa a respeito. É quando o próprio


proponente declara que não é definitiva e se reserva o direito de retirá-la.

❖ Em segundo lugar, em razão da natureza do negócio. É o caso das chamadas propostas


abertas ao público, que se consideram limitadas ao estoque existente.

❖ E, por último, em razão das circunstâncias do caso, mencionadas no art. 428 do Código
Civil.

O art. 428 do Código Civil. O referido dispositivo declara que a proposta deixa de ser
obrigatória:

I — Se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita.

Quando o solicitado responde que irá estudar a proposta feita por seu interlocutor, poderá
este retirá-la.

Considera-se também presente - aduz o dispositivo em tela - “a pessoa que contrata por
telefone ou através de comunicação semelhante”.

Presente, portanto, é aquele que conversa diretamente com o proponente, mesmo que por
algum outro meio mais moderno de comunicação a distância, e não só por telefone, e ainda
que os interlocutores estejam em cidades, estados ou países diferentes.

II — Se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a
resposta ao conhecimento do proponente.

Cuida-se de oferta enviada, por corretor ou correspondência, a pessoa ausente. O prazo


suficiente para a resposta varia conforme as circunstâncias. É o necessário ou razoável para
que chegue ao conhecimento do proponente e denomina-se prazo moral.

III — Se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta no prazo dado.

Se foi fixado prazo para a resposta, o proponente terá de esperar pelo seu término.
Esgotado, sem resposta, estará este liberado.

IV — Se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a


retratação do proponente.

É facultado ao proponente retratar-se, retirando a proposta formulada, desde que tal


manifestação ocorra antes de seu recebimento pelo solicitado, ou simultaneamente a ele.

Por exemplo: antes que o mensageiro entregue a proposta ao outro contratante, o ofertante
entende-se diretamente com ele, por algum meio rápido de comunicação, retratando-se. A
proposta, in casu, não chegou a existir juridicamente, porque retirada a tempo.
O art. 429 do Código Civil declara que “a oferta ao público equivale à proposta quando
encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias
ou dos usos”.

Em geral, como já dito, entende-se que é limitada ao estoque existente. Acrescenta o


parágrafo único que “pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que
ressalvada esta faculdade na oferta realizada”.

Contrato

O contrato resulta de duas manifestações de vontade: a proposta (oferta) e a


aceitação. Não dependem especialmente.

A Proposta no Código Civil

É antecedida de uma fase de negociações preliminares, em que não há vinculação ao


negócio.

A proposta, desde que séria e consciente, vincula o proponente (art. 427). A sua retirada
sujeita o proponente ao pagamento das perdas e danos. O CC abre exceções a essa regra no
art. 427: se o contrário resultar dos termos dela, da natureza do negócio ou das
circunstâncias do caso. Tais circunstâncias são elencadas no art. 428 do CC.

A OFERTA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

É mais ampla do que no Código Civil, pois normalmente dirige-se a pessoas indeterminadas
(contratação em massa). A recusa indevida de dar cumprimento à proposta dá ensejo a
execução específica (CDC, art. 35), podendo o consumidor optar, em seu lugar, por aceitar
outro produto, rescindir o contrato e pedir perdas e danos.

A ACEITAÇÃO

É a concordância com os termos da proposta. É a manifestação da vontade imprescindível


para que se repute concluído o contrato.

Requisitos Deve ser pura e simples.


Se apresentada fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova
proposta (art. 431), denominada contraproposta. Pode ser expressa ou tácita (art. 432).

Hipóteses em que não tem força vinculante

a) quando chegar tarde ao conhecimento do proponente — caso em que


este deverá avisar o aceitante, sob pena de pagar perdas e danos (art. 30);
b) se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante (art. 433).
Contrato entre Ausentes

Entre presentes, os contratos reputam-se concluídos no momento da aceitação.

Entre ausentes, por correspondência ou intermediário, a resposta passa por três fases.
Divergem os autores a respeito da conclusão do negócio. Há duas teorias:

a) Da informação ou cognição. Aperfeiçoa-se o negócio quando o proponente se inteira da


resposta.

b) Da declaração ou agnição. Subdivide-se em três: da declaração propriamente dita


(considera o momento da redação), da expedição e da recepção (entrega ao destinatário).

OBS: Art. 434 do CC.

LUGAR DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO

Segundo dispõe o art. 435 do CC:

“reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto”.

A LICC, art. 9º, § 2º, também estatui que:

“a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o


proponente”.

IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO

Resolve-se a obrigação quando se impossibilita o seu cumprimento (art. 106), visto


que ninguém pode fazer o impossível. A resolução só ocorre, porém, se a impossibilidade for
absoluta, isto é, alcançar todas as pessoas.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

Quanto aos efeitos

Unilaterais são os contratos que criam obrigações unicamente para uma das partes (doação
pura, p. ex.).

Bilaterais são os que geram obrigações para ambos os contratantes (compra e venda,
locação, etc.).

Plurilaterais são os que contêm mais de duas partes (contratos de sociedade e de consórcio,
p. ex.).

Gratuitos ou benéficos são os contratos em que apenas uma das partes aufere beneficio ou
vantagem (doações puras).

Onerosos são aqueles em que ambos os contraentes obtêm proveito, ao qual corresponde
um sacrifício (compra e venda, p. ex.).

Comutativos são os de prestações certas e determinadas, porque não envolvem nenhum


risco.

Aleatórios são os que se caracterizam pela incerteza para uma ou ambas as partes. Os
contratos de jogo, aposta e seguro são aleatórios por natureza, porque a álea, o risco, lhes é
peculiar.

OBS: Os tipicamente comutativos, que se tornam aleatórios em razão de certas


circunstâncias, denominam-se acidentalmente aleatórios (venda de coisas futuras e de
coisas existentes, mas expostas a risco).

Quanto à formação

Paritários. São os contratos do tipo tradicional, em que as partes discutem livremente as


condições, porque se encontram em pé de igualdade (par a par).

De adesão. São os que não permitem essa liberdade, devido à preponderância da vontade
de um dos contratantes, que elabora todas as cláusulas. O outro adere ao modelo
previamente confeccionado, não podendo modificá-las (consórcio, seguro, transporte etc.)
(arts. 423 e 424).

Contrato-tipo (de massa, em série ou por formulários). Aproxima-se do contrato de adesão,


porque é apresentado em fórmula impressa ou datilografada, mas dele difere porque
admite discussão sobre o seu conteúdo. Em geral, são deixados claros, a serem preenchidos
pelo concurso de vontades.

Quanto ao momento de sua execução

De execução instantânea. São os que se consumam num só ato, cumpridos imediatamente


após a sua celebração (compra e venda à vista, p. ex.).

De execução diferida. São os que devem ser cumpridos também em um só ato, mas em
momento futuro.

De execução continuada ou de trato sucessivo. São os que se cumprem por meio de atos
reiterados.
Quanto ao agente

Personalíssimos ou intuitu personae. São os celebrados em atenção às qualidades pessoais


de um dos contraentes.

Impessoais. São aqueles cuja prestação pode ser cumprida, indiferentemente, pelo obrigado
ou por terceiro.

Individuais. São aqueles em que as vontades são individualmente consideradas, ainda que
envolva várias pessoas.

Coletivos. São os que se perfazem pelo acordo de vontades entre duas pessoas jurídicas de
direito privado, representativas de categorias profissionais.

Quanto ao modo

Principais. São os que têm existência própria e não dependem, pois, de qualquer outro.

Acessórios. São os que têm existência subordinada à do contrato principal (fiança, cláusula
penal, etc.).

Derivados ou subcontratos. São os que têm por objeto direitos estabelecidos em outro
contrato, denominado básico ou principal (sublocação e subem preitada, p. ex.).

Quanto à forma

Solenes. São os que devem obedecer à forma prescrita em lei para se aperfeiçoar. Quando
esta é da substância do ato, diz-se que é ad solemnitatem.

Não solenes. São os de forma livre. Basta o consentimento para a sua formação,
independentemente da entrega da coisa e da observância de determinada forma. Daí serem
também chamados consensuais. Em regra, a forma dos contratos é livre (art. 107), podendo
ser celebrados verbalmente se lei não exigir forma especial.

Reais. Opõem-se aos consensuais ou não solenes. São os que exigem, para se aperfeiçoar,
além do consentimento, a entrega da coisa que lhe serve de objeto (depósito, comodato,
mútuo etc.).
Quanto ao objeto

Preliminar, “pactum de contrahendo” ou pré-contrato. É o que tem por objeto a celebração


de um contrato definitivo.Tem, portanto, um único objeto. Quando este é um imóvel, é
denominado promessa de compra e venda, ou compromisso de compra e venda, se
irretratável e irrevogável. Quando gera obrigações para apenas uma das partes (promessa
unilateral), chama-se opção.

Definitivo. Tem objetos diversos, conforme a natureza de cada um.

Quanto à designação

Nominados. São os que têm designação própria.


Inominados. São os que não as têm.
Típicos. São os regulados pela lei; os que têm o seu perfil nela traçado.

Atípicos. São os que resultam de um acordo de vontades, não tendo, porém, as suas
características e requisitos definidos e regulados na lei.

Misto. É o que resulta da combinação de um contrato típico com cláusulas criadas pela
vontade dos contratantes. Constitui contrato unitário.

Coligado. Constitui uma pluralidade, em que vários contratos celebrados pelas partes se
apresentam interligados.
Contratos bilaterais

Nos contratos bilaterais, as prestações são recíprocas. Em consequência:

a) Aquele que não satisfez a própria obrigação, não pode exigir o implemento da do outro
(exceptio non adimpleti contractus — art. 476). A cláusula solve et repete importa em
renúncia ao direito de opor a exceção do contrato não cumprido.

b) O art. 477 do CC prevê uma garantia de execução da obrigação a prazo, acautelando os


interesses do que deve pagar em primeiro lugar.

c) O art. 475 do mesmo diploma admite o reconhecimento do inadimplemento como


condição resolutiva. Por isso se diz que todo contrato bilateral contém uma cláusula
resolutiva tácita.

Distrato e quitação

Distrato é o acordo de vontades cujo fim é extinguir um contrato anteriormente celebrado.


Deve obedecer à mesma forma do contrato a ser desfeito quando este tiver forma especial,
mas não quando esta for livre (art. 472).

Quitação: vale, independentemente da sua forma. Exige-se apenas a forma escrita (art.
320).

Contrato com pessoa a declarar

No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade


de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações deles decorrentes
(art. 467).

Trata-se de avença comum nos compromissos de compra e venda de imóveis, nos quais o
compromissário comprador reserva-se a opção de receber a escritura definitiva ou indicar
terceiro para nela figurar como adquirente (cláusula pro amico eligendo).
DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS

São defeitos ocultos em coisa recebida por contrato comutativo, que a tornam imprópria ao
uso a que se destina, ou lhe diminuam o valor. A coisa defeituosa pode ser rejeitada pelo
adquirente (art. 441). Este tem, contudo, a opção de ficar com ela e reclamar abatimento no
preço (art. 442).

Ações Edilícias

O art. 442 do CC deixa duas alternativas ao adquirente:

a) rejeitar a coisa, rescindindo o contrato, mediante a ação redibitória; ou

b) conservá-la, malgrado o defeito, reclamando abatimento no preço, pela ação quanti


minoris ou estimatória.

OBS: Prazo decadencial para o ajuizamento: trinta dias, se relativas a bem móvel, e um ano,
se relativas a imóvel, contados da tradição.

CLASSIFICAÇÃO DO CONTRATO

— Unilaterais são os contratos que criam obrigações unicamente para uma das partes
(doação pura, p. ex.).

— Bilaterais são os que geram obrigações para ambos os contratantes (compra e venda,
locação, etc.).

— Plurilaterais são os que contêm mais de duas partes (contratos de sociedade e de


consórcio, p. ex.).

— Gratuitos ou benéficos são os contratos em que apenas uma das partes aufere benefício
ou vantagem (doações puras).

— Onerosos são aqueles em que ambos os contraentes obtêm proveito, ao qual


corresponde um sacrifício (compra
e venda, p. ex.).

— Comutativos são os de prestações certas e determinadas, porque não envolvem nenhum


risco.

— Aleatórios são os que se caracterizam pela incerteza para uma ou ambas as partes. Os
contratos de jogo, aposta e seguro são aleatórios por natureza, porque a álea, o risco, lhes é
peculiar. Os tipicamente comutativos, que se tornam aleatórios em razão de certas
circunstâncias, denominam-se acidentalmente aleatórios (venda de coisas futuras e de
coisas existentes, mas expostas a risco).
QUANTO A FORMAÇÃO

a) Paritários. São os contratos do tipo tradicional, em que as partes discutem livremente as


condições, porque se encontram em pé de igualdade (par a par).

b) De adesão. São os que não permitem essa liberdade, devido à preponderância da


vontade de um dos contratantes, que elabora todas as cláusulas. O outro adere ao modelo
previamente confeccionado, não podendo modificá-las (consórcio, seguro, transporte etc.)
(arts. 423 e 424).

c) Contrato-tipo (de massa, em série ou por formulários). Aproxima-se do contrato de


adesão, porque é apresentado em fórmula impressa ou datilografada, mas dele difere
porque admite discussão sobre o seu conteúdo. Em geral, são deixados claros, a serem
preenchidos pelo concurso de vontades.

QUANTO AO MOMENTO DE SUA EXECUÇÃO

a) De execução instantânea. São os que se consumam num só ato, cumpridos


imediatamente após a sua celebração (compra e venda à vista, p. ex.).

b) De execução diferida. São os que devem ser cumpridos também em um só ato, mas em
momento futuro.

c) De execução continuada ou de trato sucessivo. São os que se cumprem por meio de atos
reiterados.
QUANTO AO AGENTE

a) Personalíssimos ou intuitu personae. São os celebrados em atenção às qualidades


pessoais de um dos contraentes.

b) Impessoais. São aqueles cuja prestação pode ser cumprida, indiferentemente, pelo
obrigado ou por terceiro.

c) Individuais. São aqueles em que as vontades são individualmente consideradas, ainda que
envolva várias pessoas.

d) Coletivos. São os que se perfazem pelo acordo de vontades entre duas pessoas jurídicas
de direito privado, representativas de categorias profissionais.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

O instituto da prescrição é necessário, para haver segurança jurídica e consequentemente


consolidação de todos os direitos.

Segundo Cunha Gonçalves, a prescrição é indispensável à estabilidade consolidação de todos


os direitos; sem ela, nada seria permanente; o proprietário jamais estaria seguro de seus
direitos, e o devedor livre de pagar duas vezes a mesma dívida.

O decurso de tempo tem grande influência na aquisição e na extinção de direitos. Existem


duas espécies de prescrição: a extintiva e a aquisitiva.

Câmara Leal “a extinção de uma ação ajuizável, em virtude da inércia de seu titular durante
um certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu curso.”

Clóvis Beviláqua, prescrição extintiva “é a perda da ação atribuída a um direito, e de toda sua
capacidade defensiva, em consequência do não uso dela, durante determinado espaço de
tempo.”

Assim, podemos concluir que a prescrição é a perda da possibilidade de exercer seu direito
de pleitear um posicionamento da justiça, referente a algum negocio jurídico, ou seja, se
você deseja questionar algum direito ou clausula contratual, você tem que observar o prazo
prescricional estabelecido na lei para cada espécie de negócio jurídico, pois uma vez
transcorrido o prazo, não há mais como ajuizar a ação.

O artigo 189, do Código Civil estabelece o seguinte: “violado o direito, nasce para o titular a
pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206”.

A violação do direito, que causa dano ao titular do direito subjetivo, faz nascer, para esse
titular, o poder de exigir do devedor uma ação ou omissão, que permite a composição do
dano verificado.

A esse direito de exigir, chama a doutrina de pretensão. A pretensão revela-se, portanto,


como um poder de exigir de outrem uma ação ou omissão.

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Art. 206. Prescreve:

§ 1o Em um ano:

I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no


próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;

II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:

a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado


para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a
este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos,
pela percepção de emolumentos, custas e honorários;
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do
capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembleia que aprovar o
laudo;
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes,
contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.

PRESCREVE EM 2 ANOS

§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que
se vencerem.

PRESCREVE EM 3 ANOS

§ 3o Em três anos:


I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis,
em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;

IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;

V - a pretensão de reparação civil;

VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o


prazo da data em que foi deliberada a distribuição;

VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto,
contado o prazo:

a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;

b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço


referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou
assembleia-geral que dela deva tomar conhecimento;

c) para os liquidantes, da primeira assembleia semestral posterior à violação;

VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento,


ressalvadas as disposições de lei especial;

IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de


seguro de responsabilidade civil obrigatório.

PRESCREVE EM 4 ANOS

§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas.
PRESCREVE EM 5 ANOS

§ 5o Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou


particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e
professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação
dos respectivos contratos ou mandato;

III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

Conforme o autor Câmara Leal, existem quatro elementos integrantes ou condições


elementares da prescrição.

Existência de uma ação exercitável (actio nata)

Inércia do titular da ação pelo seu não exercício

Continuidade dessa inércia durante um certo lapso de tempo

Ausência de algum fato ou ato a que a lei atribua eficácia impeditiva, suspensiva ou
interruptiva do curso prescricional.

Configura-se prescrição intercorrente quando o autor de processo já iniciado permanece


inerte, continuadamente e ininterrupta, durante lapso temporal suficiente para a perda da
pretensão.

Quanto aos efeitos, a prescrição não corre contra determinadas pessoas, enquanto a
decadência corre contra todos.

A prescrição pode suspender-se ou interromper-se, enquanto a decadência tem curso fatal.

São causas que impedem ou suspendem a prescrição:

Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal

Entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar

Entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

Contra os incapazes de que trata o artigo 3º

Contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios

Contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra


Pendendo condição suspensiva

Não estando vencido o prazo

Pendendo ação de evicção

CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO:

Qualquer ato de exercício ou proteção ao direito interrompe a prescrição extinguindo o


tempo já decorrido, que volta a correr por inteiro, diversamente da suspensão da prescrição,
cujo prazo volta a fluir somente pelo prazo restante.

DA DECADÊNCIA
Segundo Francisco Amaral é a perda do direito potestativo pela inércia do seu titular no
período determinado em lei. Seu objetivo são direitos que conferem ao respectivo titular o
poder de influir ou determinar mudanças na esfera jurídica de outrem, por ato unilateral,
sem haver dever correspondente, apenas uma sujeição.

O Código Civil trata apenas de suas regras gerais. Distingue a decadência legal da
convencional, para estabelecer que, quanto a esta, a parte a quem aproveita pode alega-la
em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

O Código Civil trata apenas de suas regras gerais. Distingue a decadência legal da
convencional, para estabelecer que, quanto a esta, a parte a quem aproveita pode alega-la
em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

A decadência pode ser decretada de ofício, quando estabelecida por lei.

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