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Esta obra de referência é um dos resultados do Projeto Tradições Étnicas entre os Pataxó no Monte
Pascoal: subsídios para uma educação diferenciada e práticas sustentáveis, financiado pela Petrobras
através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. Além desta publicação, produziu-se
também a sua versão em CD-ROM, os Vídeos Didáticos, a Apostila Didática e os centros de referência
digital nos grupos de pesquisa NECCSos-UESB e PINEB-UFBA e um sítio na internet, acerca da
cultura Pataxó Meridional.
PLANEJAMENTO GRÁFICO
ADLA VIANA
MÁRCIO COSTA (COLABORAÇÃO)
ILUSTRAÇÃO DA CAPA
MARCELO RAMPAZZO
CONSTRUÇÃO DO E-BOOK
ADLA VIANA
AUTORES
Bernard Bierbaum
Chestmír Loukotka
Francisco Cancela
(clique e acesse o currículo do autor)
Doutorando em História Social pela Universidade Federal da
Bahia, UFBA. Especialista em Docência, bolsista CAPES.
E-mail: franciscocancela@yahoo.com.br
Gabriele Grossi
(clique e acesse o currículo do autor)
Professor de Antropologia e Sociologia Geral da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.
E-mail: ggrossi2@yahoo.com.br
Joaquim Perfeito
(clique e acesse o currículo do autor)
Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Rio
de Janeiro, UERJ. Professor de Metodologia Científica e
Métodos e Técnicas de Pesquisa da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia, UESB.
E-mail: jsilva@uesb.br
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Sheila Brasileiro
(clique e acesse o currículo do autor)
Técnica pericial do Ministério Público Federal e mestre em
Ciências Sociais/Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia –
PPGCS-UFBA.
E-mail: sheilab@prba.mpf.gov.br
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
MARIA ROSÁRIO GONÇALVES DE CARVALHO E JOSÉ LUÍS CAETANO DA SILVA
5.2 FAZER A FLECHA CHEGAR AO CÉU NOVAMENTE: OS PATAXÓ NO EXTREMO SUL DA BAHIA
BERNHARD F. BIERBAUM............................................................................................454
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6.3 UMA BARREIRA CONTRA OS PERIGOS DO SERTÃO DO MONTE PASCOAL: A CRIAÇÃO DA VILA
DOPRADO, OS ÍNDIOS PATAXÓ E A RE-SIGNIFICAÇÃO DO CONTATO (1764-1820)
FRANCISCO CANCELA..................................................................................................601
1
1. INTRODUÇÃO
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2
2.1 . OS PATAXÓ MERIDIONAIS: UMA BREVE RECENSÃO HISTÓRICO-BIBLIOGRÁFICA
4 Segundo o mapa de Wied-Neuwied, eles alcançavam o rio de Santa Cruz Cabrália como limite setentrional.
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5 O Príncipe de Wied-Neuwied assinala que “Já em 1662, os Aimorés (botocudos), Puris e Patachós foram mencionados por Vasconcellos
Simão de Vasconcellos “Memórias curiosas sobre os índios” entre as tribos tapuias do rio Doce; e embora sejam os primeiros os verdadeiros
senhores dessas paragens, os outros incursionavam algumas vezes até aí” (1958: 163). Por outro lado, Emmerich & Monserrat, buscando
delimitar as áreas ocupadas pelos Aimorés ou Botocudos, afirmam que Salvador Correa de Sá, ao realizar uma entrada em 1577, os encontrou
nas imediações do rio Doce, “juntamente com outras nações tapuias, como Patachós, Apuraris e Puris” (1975: 5).
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Verde, Porto Seguro e outros lugares, não logrou resultado, pois não
os encontrou.
O Príncipe de Wied-Neuwied encontrou os Pataxó na vila do
Prado, em 1816, quando haviam chegado, dias antes, das florestas
para as plantações, portando grandes bolas de cera para vender.
Estariam em contato amigável com os habitantes dessa Vila há três
anos, desde 1813, portanto, através da mediação dos Maxakali, que
há mais tempo se mantinham em convívio pacífico. Na ocasião do
encontro mantinham comércio, observando o sábio que “tinham
muito tino para comerciar”, desejando principalmente facas e
machadinhas (ib.: 214). Pela sua descrição, fica-se sabendo que os
Pataxó usavam os cabelos soltos, cortados no pescoço e na testa,
raspando alguns a cabeça e mantendo apenas um pequeno tufo na
frente e atrás, sendo a maioria de estatura média e conservando o
costume de atar o prépucio com um ramo de cipó. Seriam entre
todas as “tribos selvagens” “os mais desconfiados e reservados”,
lembrando, em vários aspectos, os “Machacaris” ou “Machacalis”
(ib.: 215).
Aceitando 1813 como data de início do estabelecimento de
relações pacíficas entre Pataxó e regionais, estaríamos incorrendo
em contradição sobre o que afirmamos anteriormente em relação à
possibilidade de serem Pataxó os índios que já em 17... mantinham
relações amigáveis com o Capitão-mor de Porto Seguro. Supomos,
porém, dado o grande número de bandos desse grupo que parecia
existir, que seu contato se tenha feito de forma não simultânea e sim
distinta de bando para bando, hipótese que julgamos bastante
plausível, se considerarmos que mesmo entre aqueles definidos
como meridionais havia alguns bandos ainda hostis e outros já em
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6 Para Pedro Agostinho, o Governo Provincial tinha por objetivo colocar os índios num sítio onde, liberando as florestas da vila do Prado para a
colonização, permanecessem acessíveis a uma catequese que os transformasse em reserva de mão-de-obra (Agostinho 1978: 23).
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ponta de Corumbau, que fica Leste-Oeste com o monte Pascoal, e na altura à margem (latitude 17.000) nesta dita ponta forma a costa ao S. dela
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uma belissima enceada, onde ancorão embarcações a abrigar-se das tempestades, pois faz reparo ao maior número de ventos; por fora a grande
recife de pedras, que chamão Itacolomins, e o fim dele dista da costa léguas e meia, cujo recife também serve de reparo ao mar, pelo que se
conservão as embarcações nesta enseada, como em rio manso; por terra dos Itacolomins também a canal de navegação da costa havendo bom
prático: O terreno da distância sobre dita são barreiras das mesmas cores já em outras declaradas, e acompanhão 1 légua, e a outra e mata
virgem, que vem até o comoro da praia, e terras boas para plantações, e nesta última distância e a dita praia lisa, e boa até a ponta já anunciada:
desta para o Norte uma légua se encontra o rio Corumbau; a sua barra só serve para canoas, e nela se entra ao sudoeste, e depois segue a Sul até
a dita ponta da costa, que se lhe dá o mesmo nome...” (Castro e Almeida1918: 241).
A distância entre a ponta de Corumbau e a foz referida pelo Capitão-mor é a mesma que há entre as duas localizações nos mapas
8 O autor comete um erro, pois Trancoso não se localiza à margem direita do Rio do Frade mas no rio do mesmo nome.
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9 A esse respeito consulte-se Calderón, Valentim “Os Pataxó não são descendentes dos Tupiniquins” Jornal da Bahia, Salvador, 7/12/1968.
10 Fuga semelhante ocorreu à nossa chegada em 1971, quando o grupo celebrava a festa da sua padroeira, N. Sra. da Conceição, no dia oito de
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dezembro.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2.2. "SOB O SIGNO DA CRUZ". RELATÓRIO CIRCUNSTANCIADO DE IDENTIFICAÇÃO E
11
DELIMITAÇÃO DA TERRA INDÍGENA PATAXÓ DA COROA VERMELHA
1 – Introdução
11Relatório antropológico para identificação e delimitação da Terra Indígena Coroa Vermelha Grupo Técnico constituído pela Portaria 860, de
***
Devo registrar aqui o inestimável apoio prestado, durante o trabalho
de campo, pelos companheiros do Grupo Técnico: o engenheiro
agrimensor José Aparecido Brinner e o técnico agrícola Francisco
Nogueira Lima, da Diretoria de assuntos Fundiários da Funai, e o
também engenheiro agrimensor Ismar Galvão, do Instituto de Terras
da Bahia. Registro também a eficácia e a diligência com que a coor-
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para o período inicial da colonização, bem como Navarro, 1846 [1808], Wied-Neuwied, 1958 [1817] e Aires do Casal, 1976 [1820], dentre
rítima, por parte de povos tupi (no caso Tupiniquim); e outra menos
sedentária, dispersa preferencialmente pelo interior das matas - es-
pecialmente após a intrusão tupi ao longo da costa - orientada para
a caça e a coleta silvestres e para uma agricultura menos intensa,
ou quase nenhuma agricultura, sem excluir o estabelecimento sazo-
nal na faixa costeira para acesso às importantes fontes protéicas aí
disponíveis, ainda que sem recurso à pesca oceânica, por parte dos
povos não tupi. Destes, as identificações étnicas e faixas territoriais
mais específicas só se tornariam mais claras para o colonizador nos
fins do século XVIII, com a intensificação dos contatos.
De fato, apenas a partir do início do século XIX, quando se torna
mais efetiva a conquista das matas interiores da região, conhece-se
melhor a identidade dos diversos povos indígenas que aí viviam,
principalmente a partir de relatos de viajantes estrangeiros como
Spix e Martius (1971[1831]) e, em especial, Wied-Neuwied (1958
[1817]), e de alguns nacionais como Navarro (1846 [1808]). Destes
relatos se pode depreender com segurança a distribuição geográfica
dos povos não tupi na área, tal qual predominante durante todo o pe-
ríodo colonial e ainda prevalecente ao seu final:
16 Ver a respeito - além de Wied-Neuwied e Spix e Martius, op. cit. - Paraíso, 1981, para uma sinopse histórica.
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17 Ver Nóbrega, op. cit.; Aspicuelta Navarro et al, 1988 [sec. XVI]; Anchieta, op. cit.
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17) Antes disto porém, é fundamental que se registre aqui que, retor-
nando a atenção sobre a comunidade pataxó em foco, alterações
significativas em sua ordem sociopolítica interna passaram a se pro-
cessar de modo perceptível a partir, aproximadamente, de 1993
(Sampaio, 1993 e 1994). Com efeito, a constatação do malogro dos
acordos de 1990 com a Prefeitura e a Centauro, e, sobretudo, a con-
tinuidade inapelável do avanço das intrusões sobre suas terras, a
ponto de lhes retirar o controle sobre o comércio de artesanato e ou-
tros no próprio centro da sua aldeia, no entorno do monumento,
comprometendo completamente o próprio eixo da sua tradicional
base de subsistência, levaram-nos a superar as divergências acirra-
das em 1990 e 1991 (Leitão, op. cit. e Carvalho & Sampaio, op. cit.).
Neste sentido também interviu, a partir de 1994, a presença do Pro-
detur, que os Pataxó, escaldados, perceberam como mais uma inter-
venção indevida de esferas do poder público não comprometidas
com a atenção e a proteção aos seus direitos.
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5.1 – Demografia
queles anos de 1970, vivia o período mais crítico de sua invasão por
fazendas (Paraíso, 1981). Deste pequeno grupo afluente provieram
importantes líderes da consolidação da comunidade, como "Nélson
Saracura" e "Chico Branco".
Por fim, a partir principalmente já dos anos de 1980, é perceptível a
consolidação de novos polos de afluxo, como a aldeia de Boca da
Mata, implantada na década anterior também na área do Monte Pas-
coal e que passou a sofrer problemas graves por isolamento e esgo-
tamento de solos (Sampaio, 1994), e a geograficamente mais próxi-
ma Mata Medonha. Boa parte do fluxo de população originário des-
tas aldeias tem caráter temporário, o que contribui, por um lado, para
a grande importância que tem a Coroa Vermelha como centro socio-
político e de informações para todos os Pataxó e, por outro, para a
existência de um significativo contingente populacional flutuante e
sazonal, o que configura outra destacável característica demográfica
desta aldeia.
Não se conhecem informações populacionais para a primeira déca-
da da aldeia. O estudo identificatório de 1985 (Rogedo et al, op. cit.)
recenseou 235 pataxós na Coroa Vermelha. Em 1988, um outro pes-
quisador (Bierbaum, 1990) estimaria sua população em "250 habi-
tantes no inverno e cerca de 300 no verão" (ib.), realçando assim,
pela primeira vez, a presença de um contingente flutuante, justamen-
te no ano que marcou o início do período mais crítico de insegurança
territorial da aldeia. Um grande salto populacional parece se registrar
no início da década seguinte, quando, em um autocenso, a comuni-
dade refere a presença de 650 índios no verão de 1991-92 (Carva-
lho & Sampaio, op. cit.), não se especificando qual o critério adotado
na avaliação do grau de permanência deste contingente. Novas in-
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com muita precisão qual a importância relativa, hoje, das duas mo-
dalidades de obtenção da matéria-prima, mas é importante assina-
lar, tendo em vista os objetivos do presente estudo identificatório,
que os pataxó da Coroa Vermelha almejam e avaliam ser possível
lograr a auto-suficiência ou quase auto-suficiência na produção des-
ses materiais básicos, sobretudo a madeira, através do manejo sus-
tentado dos recursos do seu próprio território, o que esperam poder
ser implementado com o necessário apoio técnico e, evidentemente,
uma vez obtida a sua regularização.
Praticamente todo membro adulto da comunidade, de ambos os se-
xos, está apto a desempenhar tarefas na elaboração das peças arte-
sanais, o que não implica que não haja graus muito diversos de ha-
bilidade e especializações bem marcadas quanto à confecção de al-
guns tipos de peça. As exigências do mercado consumidor geraram,
ao longo dos últimos vinte anos, sensíveis alterações, tanto na varie-
dade das peças artesanais produzidas pelos Pataxó, quanto no seu
padrão de qualidade, em especial no que diz respeito ao acabamen-
to, o que exige, em geral, algum tipo de tratamento secundário ou
"beneficiamento".
Por beneficiamento se entende o tratamento dado às peças, em es-
pecial às de madeira, por meio de artefatos eletromecânicos de lixa,
polimento, etc. A relevância desta etapa intermediária entre a elabo-
ração primária e a comercialização fez crescer a importância relativa
da Coroa Vermelha dentre as comunidades pataxó: com o aumento
dos custos e complexificação do processo produtivo, suas condições
de acesso direto ao mercado consumidor, maior capitalização e dis-
ponibilidade de energia elétrica tornaram ainda mais favorável a sua
estratégica localização. Com isto, muitos moradores da aldeia pas-
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30 Para uma iniciação ao tema veja-se Rocha Júnior, 1987 e Grunewald, 1995.
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6.1 – Identificação
Gleba A:
***
Pode ser verificado, pelo exposto acima, que a Terra Indígena Coroa
Vermelha, apesar da sua reduzida extensão, abriga formas muito di-
versas de ocupação indígena, configuradas em áreas de praia (setor
4) ou restinga (setor 3), urbanas ou periurbanas (setores 1 e 2) e de
floresta secundária (gleba B). Pode-se constatar também que, ape-
sar dessa variedade, a complexidade do tradicional sistema econô-
mico e cultural indígena aí desenvolvido faz com que os cinco seto-
res identificados apresentem caracteristícas múltiplas, de modo tal
que apenas um deles - o três - atende a somente uma - a terceira -
das condições constitucionais de definição das terras de ocupação
tradicional indígena.
Para que se disponha de uma perspectiva de conjunto da distribui-
ção espacial de tais condições, apresenta-se a seguir, em conclu-
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Gleba A:
setor 1: condições 1, 2 e 4;
setor 2: condições 1 e 3;
setor 3: condição 3;
setor 4: condições 2 e 3.
Gleba B: condições 2, 3 e 4.
6.2 – Delimitação
res (Boaventura, ib.) no período entre 1989 e 1993 que retiraram aos
índios o domínio exclusivo de uma faixa livre, para trânsito e para
exploração secundária, desde o núcleo da aldeia até o rio Jardim,
faixa que, até então, se mantinha desimpedida entre o limite da orla
e a Avenida Temponáutica, limite oriental da gleba "1" do "Nina". O
claro domínio indígena sobre esta faixa está inequivocamente de-
monstrado, em 1988, no minucioso trabalho do Interba (Toffolette,
op. cit.).
Em suma, o que se quer aqui ressaltar é que, por ocasião desse que
foi o primeiro diagnóstico detalhado da situação ocupacional - real e
"cartorial" - do pontal, os Pataxó ainda mantinham, em que pesem
aforamentos já concedidos, o controle efetivo - e, mais que isto, o
domínio social pelo uso - de toda a área aqui delimitada da Terra In-
dígena em sua gleba A. Ou seja, toda a extensão do pontal à es-
querda da BR-367, à exceção da maior parte do "Nina 1", então já
em franco processo de edificação.
Há, assim, um conjunto de elementos que favorecem a eleição da
real situação de ocupação da área em 1987/8 como um momento
privilegiado na definição de limites da gleba A dessa Terra Indígena,
o que se pode sintetizar do seguinte modo:
tação. Deste modo, o limite sul da área definida por ocupações não-
indígenas consolidadas com a Terra Indígena, foi aqui traçado com
base nesta real ocupação, conforme memorial descritivo que acom-
panha este relatório.
Num balanço das variações de delimitação e de extensão desta gle-
ba A, tem-se que, no levantamento de 1986 (Furtado, op. cit.), a gle-
ba foi estimada em 70 hectares; por sua vez, o trabalho topográfico
mais preciso feito pelo Interba revelou, para os mesmos limites, uma
extensão mais exata de 77 hectares. Esta área, de conformidade
com a proposta de 1992 (Leitão, op. cit.), seria subtraída em algo em
torno de 15 hectares. Por fim, de acordo com os limites aqui adota-
dos, essa "subtração" se reduz, face as constatações acima relata-
das quanto à efetiva situação ocupacional. Este ajustamento, acres-
cido de uma melhor definição da extremidade sul da praia da Coroa
Vermelha, entre as pontas do Mutá e Grande, revela uma extensão
total de 72 hectares para a gleba A, conforme aqui delimitada.
O que importa ressaltar destes dados comparativos é apenas que,
apesar dos ajustes, as identificações dos modos e dos espaços de
ocupação tradicional indígena permanecem coerentes ao longo de
todo o processo, definindo-se, claramente, a partir da caracterização
dos quatro setores acima descritos.
***
38 De norte para sul: Belmonte, Santa Cruz, Porto Seguro, Trancoso, Cumuruxatiba, Prado, Alcobaça, Caravelas, Vila Viçósa e Porto Alegre.
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7 - Levantamento Fundiário
7.1 - Gleba A
ce ser a visão dos executivos estaduais, não teriam com isto nada a
perder.
O que não se compreende é que o Estado pretenda não admitir que
a forma "legal" encontrada para que se promova a consensualmente
necessária recuperação fere direitos territoriais indígenas muito cla-
ramente contemplados na Constituição Brasileira.
O ante-projeto da "recuperação urbanístico-ambiental da Coroa Ver-
melha" (BAHIA, op. cit.) previa, em julho de 1995, uma despesa de
R$5.000.000,00 (cinco milhões de reais) com indenizações, constru-
ção do "mercado de artesanato" e tratamento paisagístico, além da
relocação das moradias dos Pataxó; um montante que os próprios
técnicos do Prodetur reconhecem hoje estar defasado e subestima-
do.
Do ponto de vista dos Pataxó, a perspectiva de que o Estado possa
promover uma rápida desintrusão da sua Terra é, naturalmente, en-
carada como positiva, mas, muito justificadamente, preocupa-os
bastante a possibilidade de que mais intervenções venham a ser fei-
tas nesta sem que seja tomado em conta o seu direito. Concreta-
mente, embora não descartem a possibilidade de vir a transferir to-
das as suas moradias para a "Aldeia Nova", esta alternativa é trata-
da com muitas reservas por parte de alguns, sobretudo se ela tender
a ser adotada de modo autoritário e compulsório.
Assim, em síntese, o exame de qualquer alternativa com relação a
perspectivas de intervenção externa passa, necessariamente, pelo
pronto encaminhamento do processo de regularização da Terra Indí-
gena, a partir do que a comunidade e o órgão indigenista se porão
em melhor posição de autoridade para, se assim o desejarem, esta-
152 Ir para o sumário >>
7.2 - Gleba B
2.3 O ALDEAMENTO, O FOGO E O PARQUE: RESISTÊNCIA PATAXÓ EM BARRA
39
VELHA
40E deve se ter em mente os aspectos diaspóricos que periodicamente reconstroem a territorialidade Pataxó.
41 Termo genérico para populações de índios não-Tupi que dominavam originalmente o litoral e de onde foram expulsas na conquista Tupi (cf.
Fausto, 1998).
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42 Digo desterritorializadas porque antes da colonização do europeu houve a expansão Tupi pelo litoral, promovendo certamente diásporas
Lembra que Vale Verde torna-se vila (Vila Verde) em 1762, logo
após a expulsão dos jesuítas, quando moravam 400 índios nessa al-
deia supostamente mongoió e botocudo, embora provável tam-
bém a presença tupinaki (e é de se levar em consideração também a
presença sempre constante nas matas da região dos botocudos e
também dos pataxós). Na década de 20 do século XIX, Vila Verde
abarcava a mão-de-obra indígena que foi escasseando paralelamen-
te à decadência da vila de tal forma a que, na década de 1880, os
índios só fossem encontrados nas matas, restando ali apenas “ma-
melucos” que eram “produção do princípio de criação da Villa” (ibid.).
Se esses índios foram aldeados tão perto de Barra Velha e saíram
desse aldeamento em meados do século passado, me pergunto por
que não poderiam pelo menos alguns terem ido ocupar essa locali-
dade paralelamente (conjuntamente com) aos índios oriundos do
Prado? De fato, Mascarenhas informa em comunicação pessoal que
os nomes de família mais característicos dessa população indígena
no século passado seriam os Palmas, Patativa e Santos, este último
nome muito comum também em Barra Velha. Por fim, Mascarenhas
conta que dona Dió, idosa senhora de Vale Verde que se diz Pataxó
e que estava na frente da ocupação da Fazenda Santo Amaro re-
conhecida agora como Aldeia Velha conta que no “fogo de 51”, ín-
dios da Barra Velha (“aquela aldeia ao lado de Caraíva”) andaram
por Vale Verde procurando parentes para asilo.
Carvalho evoca outros episódios envolvendo pataxós e “bran-
cos”, bem como informações datadas e com datações hipotéticas
sobre o início do contato amistoso entre pataxós e regionais, da
onde sugiro se pensar de forma mais genérica a virada dos séculos
XVIII para o XIX como o característico dessa situação histórica, na
167 Ir para o sumário >>
45 O avião depois levantou vôo novamente. Talvez se trate da visita do Gago Coutinho à aldeia em 1939.
172 Ir para o sumário >>
lha, o que bastaria atestar pelo simples exame do fenótipo das famí-
lias da aldeia, como pelo “jeito de falar dos antigos dessas famílias
que era muito diferente” entre si.
As principais famílias Pataxó são: os Ferreira (a principal),
Braz, dos Santos, Nascimento, Alves, Santana, da Conceição, do
Espírito Santo, Brito etc. Essas famílias guardariam a descendência
direta de famílias indígenas que foram para a aldeia no século pas-
sado ou em meados do século atual. Os Ferreira e os dos Santos,
por exemplo, seriam de Barra Velha mesmo; os Alves teriam ido
para Barra Velha a partir de um lugar chamado Caveira, perto do
Brejo Grande e do Ribeirão, depois do Rio Corumbau, já no municí-
pio do Prado; os Nascimento eram de Barra Velha, com o “fogo” fo-
ram para o Rio dos Frades e voltaram; os Brito habitavam entre Bar-
ra Velha e o Rio Caraíva e começaram a se retirar a partir da década
de 40 para a fundação de Mata Medonha; Espírito Santo é pessoal
oriundo dos córregos e rios afluentes do rio Caraíva até Monte Pas-
coal, vários foram para a Coroa Vermelha passando por Juacena e
outros ainda se encontram espalhados pelos locais de origem; a fa-
mília Conceição também habitava as matas, porém mais próximas
ao rio Corumbau; Santana apareceu depois da II Guerra Mundial e
chegaram de barco do norte (“lá das bandas de Olivença ou Ilhéus”)
procurando lugar para ficar foram recusados em Trancoso e Ita-
quena mas acolhidos em Barra Velha.
Essa família Santana já chegou em Barra Velha “misturada
com sangue negro”, já “eram índios misturados com negro”, tanto
que assim que chegaram foram acolhidos num lugar chamado Jue-
rana, na Lagoinha, área tradicionalmente habitada por negros em
Barra Velha. Na verdade, é de se supor (e há indícios de) que no sé-
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“esse mesmo costume que tá tendo hoje porque tem um bocado que mora aí pra dentro dessas matas (para cima do rio Caraíva e até para perto
do Monte Pascoal, que é tudo parente) e quando a gente pensa que não chega eles aí com uma farinha essas coisas e faz troca pra levar de novo,
por peixe né, e aí eu acho que ele tá no mesmo costume”. Ambos informantes enfatizam que os Pataxó sempre andaram muito fazendo essas
trocas, “que maior parte dos parentes outros mora na roça, então traga coisa da roça e troca com os daqui, e é boa convivência” e “os daqui
também sai e troca lá e já traz também, é uma convivência unida né?”. É assim que o velho Boré afirma que Pataxó não brigava nem se
encontrava com (ou conhecia) nenhum índio de outra qualidade porque era tudo Pataxó, que “é o índio do Extremo Sul da Bahia”. A partir desta
hipótese paralela, todo o comércio que circulava entre praia e mato faria parte de uma distribuição das mercadorias Pataxó.
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mato. Sua “bisavó” era a única índia de Barra Velha que participava
de tal encontro periódico. Ela precisava ir “se esfregar na mata” para
tirar o “cheiro de branco” do corpo, “porque os índios daqui já não ti-
nham o cheiro de índio do mato e os índios que se encontravam lá
poderiam estranhar”. Essa mulher conseguia se comunicar na língua
deles e “passou algumas palavras para os daqui”. Parece que esses
índios se reuniam lá para trocas comerciais, trocas de informação e
tal encontro era sempre ritualizado.
Segundo Penina, essa mulher se chamava Maria Correia, e
era mulher do Vicente velho, pai do Vicente e Epifane Ferreira:
no Céu “não eram índios daqui não”. Nana diz que eram índios Pata-
xó (e também ciganos) que andavam lá por Monte Pascoal e que
marcavam de se encontrar no lugar do cacique48 Caetano no Céu.
49
Levavam “uma feira”, tomavam muito Aluá (já era feito para esse
encontro) e iam para o mangue pegar ouriço, caranguejo etc para le-
var para eles. José Baraiá diz que a história do Céu é dos Tapuios
Velhos que vinham do mato encontrar com os que moravam no lito-
ral. Itajá (Conceição), por fim, disse que “nós recebia os Maxacali”
no Céu.
50
De tudo isso, percebe-se a riqueza com que os Pataxó tra-
tam não só de sua história, mas também de sua variada composição
étnica. Mas vale agora voltar aos documentos a fim de continuar
apontando uma cronologia dos acontecimentos historicamente signi-
ficativos relativos à Barra Velha.
Conforme Diário Oficial de 5 de julho de 1925, tramitava proje-
to em Primeira Discussão tratando da conservação das terras do
“Rio Pardo” e seu afluente “Água Presta”, que se destinavam aos
“índios Tupinambás Patachós”. Afora esta notícia registrada em ar-
quivos da FUNAI, destaca-se também, na informação do índio Arauê
sobre a mudança da barra do Corumbau, uma referência à queda de
48 Na verdade, “nessa época não tratava como cacique, era guerreiro de bandeira (que andava na frente da trilha [triocá]), cacique veio pela
FUNAI, Luis Capitão é coisa depois dos brancos, comparando com os guardas brancos” do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
(IBDF).
49 Diz-se também que Maria Correia (ou Caetano, em outra versão) teria sido morta(o) por esses índios uma vez que eles chegaram e o Cauim
50 Acredito que a variedade de versões orais que sustentam o passado, episódios históricos ou até os mitos indígenas deve ser incentivada pelo
pesquisador como algo rico de sua historiografia. Mais importante do que a busca por uma verdade é a evocação interpretativa das versões que
constituem o passado e sua relação com os que o elaboram no presente. Esta perspectiva vai contra o que alguns educadores indígenas –
amparados muitas vezes por ONGs indigenistas – fazem ao estabelecer uma única versão (quase como uma história oficial) nos livros escolares,
canonizando assim um passado disputado interpretativamente num movimento próprio à história oral.
176 Ir para o sumário >>
51 www.caraiva.com.br
178 Ir para o sumário >>
52 Note-se que a aldeia é sempre chamada de Belo Jardim (e não Bom Jardim) e não há qualquer referência nem por parte do Honório nem pelo
“posto para proteção... com posto médico, escola etc”; uma “identifi-
cação da linha, que existe pessoas invadindo essas terras”; “forneci-
mento de ferramentas agrícolas, roupas, sementes etc”; uma pessoa
para introduzi-los nos “novos costumes”; e, por fim, que fosse confia-
da àquela comarca a proteção dos índios que, tendo muita madeira
de lei, produção agrícola etc para se evitar exploração dos mesmos.
Assim, Noronha sugere que a “Aldeia necessita de urgência” de cria-
ção de um posto, construção de uma estrada de rodagem devido ao
isolamento e criação de um armazém geral. Por fim, Noronha pede
para ficar responsável pela chefia do Posto, seguindo vontade do
Capitão Honório.
Mas, quando estava na sede do SPI, Honório foi ludibriado
por dois homens que, se identificando como Tenente e Engenheiro,
afirmaram que resolveriam seus problemas e apareceram em Barra
Velha em 1951 e lideraram os índios em um saque a uma mercearia
de Prado e a um roubo de uma vaca em Caraíva, fazendo com que
as polícias militares de Prado e de Porto Seguro cruzassem, numa
madrugada, fogo cerrado na aldeia, fazendo com que os índios se
dispersassem pelas matas e fazendas da região.
Assim, como afirmou Carvalho (1977), só em 1951 chegou ao
conhecimento do público a sua existência, através dos noticiários
dos jornais devido a um conflito armado em que se viram envolvidos
os Pataxó, apontados no jornal A Tarde53 como pessoas em “lasti-
mável estado de miséria, todas passando fome e alguns doentes”,
que teriam sido insuflados por dois indivíduos, identificados como
“engenheiro” e “tenente”, que o “capitão Honório” conhecera no Rio
de Janeiro e que se deslocaram para a aldeia a fim de realizar a me-
53 A “revolta dos caboclos de Porto Seguro”, segundo o jornal A Tarde de 30 de maio de 1951.
182 Ir para o sumário >>
mesmo não sendo índio tratou de esconder-se, levando pertences e animais. Ninguém queria ficar nas proximidades das estradas.” (Oliveira,
1985:31).
186 Ir para o sumário >>
55 O Parque, com localização 16º 45’ e 16º 55’ / 39º 08’ e 39º 30’, foi criado pelo Decreto 242 de 29 de novembro de 1961, quando começou a
Muitos foram para cidades mais distantes como Canavieira, Itabuna, Ilhéus e mesmo para Vitória e Linhares, no Espírito Santo” (Oliveira,
1985:36).
188 Ir para o sumário >>
e sua mulher Penina, que é uma das três filhas do finado Alfredo
Braz e também negada pelo irmão deste Álvaro Braz. Todos dizem
que o livro de Oliveira contém vários erros e que, nesse caso, a in-
formação correta é a de que novamente a família Ferreira foi que es-
teve na vanguarda da reconstrução da aldeia através de Epifânio e
seus filhos Josefa e Luis Capitão.
Nesse tempo começou a aparecer pessoas do Pongo e do rio
Preto que vendiam farinha, beiju e também banana e batata. Os índi-
os iam todos “para o mangue buscar o dinheiro do pagamento: ca-
ranguejos e siris” (ibid.). Josefa queria “botar uma roça”, mas “os
guardas do IBDF estavam sempre de olho, sempre prontos a cair em
cima deles” (ibid.:44) e os homens estavam com medo. A “viração”
deles “foi apanhar piaçava. Mas tinham que trabalhar de noite para
não serem surpreendidos pelos guardas. Era durante a noite tam-
bém que iam vendê-la em Caraíva. Batiam devagarinho na porta do
comerciante para não acordar os vizinhos.” (ibid.). Assim, “viviam
como ladrões, roubando as suas próprias terras” (ibid.:45) e ainda se
sentindo espreitados pelas inúmeras onças que abundavam naquela
época.
Segundo Tururim, “quando existiu esse problema do IBDF,
saiu todo mundo andando pelas fazendas dos outros. Aí nós volta-
mos, tinha um velho chamado Epifânio, era um índio velho. Então ti-
nha um velho chamado Heuretiano Braz, morava em Caraíva, era
um inspetor de Caraíva, feito uma autoridade, então ele conhecia as
leis do índio todinha, aquele livro grande, contava as histórias do Pa-
taxó, o dia de quando Cabral chegou...”. Tururim continua conver-
sando e explicando que “aí que se começou as crianças a aprender
o idioma do civilizado” e perder o idioma deles, mas que o trato com
189 Ir para o sumário >>
57 Arauê também afirma que Heuretiano Braz Gonzaga (de Caraíva, escrivão, juiz de menor) era quem fazia as guias de viagem para o velho
58 Segundo seu filho José, que já foi cacique várias vezes, quando o Epifânio morreu, os guardas teriam dito: “agora tá fácil da gente tomar a
terra dos índios porque quem lutava pela terra morreu, agora ficou uns bestas que num sabe de nada; quando a minha mãe escutou a palavra. Ela
escutou e disse: não, morreu o velho, mas ficou eu pra resolver. E essa véia enfrentou uma parada dura, uma barreira forte pela frente e que
lutou, lutou, lutou com a maioria dos índios e eu que tava pequeno... mas acompanhei a luta dela do início ao fim. E por aí, da luta dela, ela
graças a Deus, Deus deu poder e deu força pra ela agir a parada dela, a batalha. Por que? Por que ela lutou e ela tava em riba do dela, do direito
dela, e era dela a terra. Agora, o cara queria botar o dono pra fora e tomar conta do que não era dele. Então ela lutou com os índios junto, lutando
mais ela e querendo o que era direito deles, e até lutou e tomou uma parte da terra. É essa terra que nós tamo”.
190 Ir para o sumário >>
59 As viagens para contatos com o SPI tornaram-se constantes: só o Luís esteve oito vezes em Brasília, quatro em Recife (porque a região deles
60 Parece ser a primeira vez que o etnônimo do grupo de índios da Barra Velha aparece documentado.
191 Ir para o sumário >>
61 Um homem que conheci no ônibus entre Ajuda e Trancoso me disse que foi caminhoneiro de profissão, mas que se mudou para trabalhar na
região em 1965 onde acabou por se tornar dono de serraria. Segundo ele, naquela época “os índios de Barra Velha vinham a Porto Seguro ou de
canoa ou à pé puxando animais com farinha ou abóbora para vender. Era comum as abóboras ficarem estragando. Às vezes deixavam na mão de
comerciantes para esses venderem”. Os índios confirmam essa história, e acrescentam que deixaram de fazer isso porque não tinham retorno
nenhum: deixavam as abóboras até em Porto Seguro e quando iam pegar o dinheiro, as encontravam apodrecendo e nada de dinheiro.
195 Ir para o sumário >>
trabalhar. Eu não saí porque era daqui, meus pais também, os avós também”. Os pais sempre pediram muito para ela não largar a aldeia e nem
os índios. Se agora tem muita gente na aldeia, houve época em que só tinha ela, seu irmão Luis Ferreira e seu pai Epifânio, que juntaram todo
mundo de novo. O Céu já era do pai dela, ela foi morar lá a pedido do pai. Já Arauê diz que foram quatro os “fundadores disso aqui”: o avô dele,
avô do Tururim, avô do Luis e avô do Patrício. “Quatro irmãos que segurou essa área de terra”. O avô dele morava em São João de Mina (onde
ele nasceu), “aqui quem morava era o finado Epifânio. São João de Mina era um povoado que morava umas oito famílias — tudo índio, era a
quarenta e dois.
66 Depois de reunião do Conselho de Caciques Pataxó realizada entre os dias 16 e 18 de agosto de 1999, os Pataxó ocuparam no dia 19 do
mesmo mês o PNMP que, segundo tais lideranças, está dentro dos limites de sua terra. O discurso apresentado em carta às autoridades
brasileiras foi o de uma “retomada” do seu território que a partir de então deveria passar a ser visto como Parque Indígena. Com isto, as aldeias
que rodeiam o Parque (Boca da Mata, Meio da Mata, Barra Velha, Águas Belas e Corumbauzinho) seriam integradas numa nova terra indígena,
que passaria por um re-estudo. Os Pataxó dizem ainda que não são “destruidores da floresta” e que preservariam e recuperariam o Parque da
situação que o governo, através do IBDF e depois IBAMA, deixou suas terras. Atualmente, não apenas o Parque continua ocupado, como
também há várias outras retomadas de terras tradicionais Pataxó entre os municípios de Prado, Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália.
67 Das entrevistas com os visitantes do Parque, destaco a “importância histórica” como o principal motivo (quase exclusivo) da visitação —
embora houve quem dissesse que estava visitando o Parque “sem nenhum motivo especial”. Quanto ao que pensam dos índios vendendo
artesanato nesse lugar de importância histórica, poucos quiseram falar alguma coisa, limitando-se geralmente a dizer que não podem emitir
dedicado à preservação ambiental. Este Parque também procura atualmente expulsar de seu interior residentes Pataxó.
200 Ir para o sumário >>
Mas a aldeia ainda não era visitada pelo turista, então eles
vendiam esse artesanato em Porto Seguro, Prado, Cumuruxatiba.
Tururim também conta que foi mesmo o Leonardo quem sugeriu o
artesanato69:
69 Maria, uma índia, lembra também quando Leonardo sugeriu que fizessem o colarzinho para irem “melhorando mais de vida” e que houve
uma festa na Coroa Vermelha e ele convidou os índios para fazer uma representação lá e mandou eles fazerem colares, flechas, e “aquela roupa
201 Ir para o sumário >>
que o índio usava primeiro”, e eles foram nessa representação e venderam tudo o que levaram.
202 Ir para o sumário >>
70 Segundo informante que trabalhou na FUNAI, são estrangeiros que vêm ao Brasil em férias e aproveitam para “tirar um pouco do prejuízo
Referências:
71
2.4 A TERRITORIALIZAÇÃO PATAXÓ MERIDIONAL EM TORNO DO MONTE PASCOAL
72Os números de famílias e/ou indivíduos foram conseguidos no site da FUNAI, para o caso de TIs já homologadas como Águas Belas e Trevo
do Parque. Os números das demais comunidades baseiam-se em estimativas dos seus líderes.
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74Inicialmente os Pataxó colheram e produziram farinha com a mandioca plantada pelos parceleiros do INCRA; acordos posteriores permitiram
75A atuação como consultor em Sociologia e Antropologia da empresa que elabora o PDU de Prado permitiu-me estar por duas vezes no
município em 2003 (de 31/07 – 04/08 e 02/10 – 07/10) levantando informações que estão também na base deste texto.
221 Ir para o sumário >>
76Na viagem de campo seguinte se saberia que ele já possui uma esposa também adolescente e que está grávida e mora na área do Córrego
77Na Barra do Cahy, ponto zero do contato entre portugueses e índios, anterior a chegada da frota a baia de Santa Cruz de Cabrália e as missas
78Organizado pela Associação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – APOINME, ANAI e CIMI, na Casa
Paroquial de Prado/Ba numa demonstração aos fazendeiros e pistoleiros que ameaçavam os grupos Cahy e Pequi, impedindo inclusive o acesso
79Em alguns casos os registros existem, em outros não. Adiante se tratará de um caso onde herdeiros afirmam o registro de uma fazenda
desapropriada pelo INCRA e o registro não é encontrado pelo perito que analisou a propriedade.
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muito de certos crimes que eram imputados aos Pataxó. Segundo ele sempre que alguém desaparecia ou morria na mata se acusava aos Pataxó e
a morte ou desaparecimento deixava de ser investigada. Enquanto isso os verdadeiros culpados ficavam impunes.
233 Ir para o sumário >>
81 Seu relevo é plano e ondulado e o clima é quente e úmido, com 1 a 2 meses secos. A temperatura média anual é entre 22 a 24ºC, e as
temperaturas absolutas, máxima e mínima, chegam a 38 e 8ºC, respectivamente. O solo varia entre latossolo amarelo distrófico e vermelho-
amarelo distrófico e a pluviosidade anual, entre 1.500 e 1.750mm. O tipo vegetacional dominante é a Floresta Ombrófila Densa, ocorrendo
também vegetação litorânea, como restinga e mangue. (Leitão et al. 2003: 03).
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declararam que "os índios terão que deixar a área, nem que seja
através de ação judicial" (CIMI 2003b). A negociação, entre o órgão
e as comunidades tem sido tensa; até um veiculo foi seqüestrado na
retomada da sede administrativa do Parque. Os Pataxó
denunciaram, nas entrevistas conduzidas em novembro de 2003 que
caçadores tem agido no Parque. Além do que, todo verão
caminhões pipas despejam o esgotamento de fossas assépticas das
pousadas e hotéis próximo a cabeceiras dos rios e córregos. Este foi
outro entre os motivos apresentados por lideres da comunidade Tiba
para terem optado por permanecer no Parque, a água dos rios na
periferia do núcleo urbano de Cumuruxatiba (onde estavam
acampados antes) e na Barra do Cahy estaria contaminada por
estes despejos. Alem de terra para plantar a terra onde celebram e
vivem como seus pais a avos é também onde buscam uma vida
mais saudável, nos moldes também do contato ancestral com a
natureza “...quando eu era criança nossa carne era a paca e o peixe,
mas agora tem o IBAMA”. No entanto, em restaurantes de
Cumuruxatiba pagando-se o preço se pode comer Paca denuncia
deles que já ouvira também no Seminário de Abertura do PDU de
Prado. Da mesma forma a denuncia sobre o despejo de
esgotamento sanitário foi confirmada pelo Ministério do Meio
Ambiente, segundo informação pessoal da engenheira que trata das
questões de saneamento básico no PDU de Prado.
Enquanto isso a FRLP denuncia que, "a atuação do Ibama,
através da chefe do parque nacional do Monte Pascoal tem
provocado divisão interna e jogado índios contra índios". É a
execução do "Termo de cooperação Técnica" imposto aos Pataxó
em meio à pressão causada pelos múltiplos incêndios do verão de
242 Ir para o sumário >>
82Esta interpretação do laudo antropológico foi rechaçada anos mais tarde, quando se reafirmou a imemorialidade de Águas Belas e outras Tis
83Percebe-se que o IBAMA, no caso da Bralanda, não foi o primeiro órgão governamental a premiar desmatadores com desapropriações e
indenizações na região.
245 Ir para o sumário >>
84Com exceção da intrusão de um fazendeiro de Itamaraiu – cujos favores aceitos por alguns Pataxó teriam gerado desavenças internas na
aldeia – não havia no território de Corumbauzinho “...nenhum grupo doméstico não Pataxó; apenas, como é de comum, alguns indivíduos
ligados aos Pataxó por casamentos interétnicos” (Bierbaum 1989: 53 apud Carvalho, Sampaio 1992a: 9).
247 Ir para o sumário >>
85A. Sampaio (1993) registrou seus limites norte, o rio Corumbau que a separa do Parque, e sul, a linha divisória da TI Águas Belas, faltavam
86Informações veiculadas nos jornais televisivos locais. Confirmada pelo advogado que assessora o MST em informação pessoal.
252 Ir para o sumário >>
deviam abandonar estas idéias de ser índio que vir pintado para a aula era ridículo. Como as tintas usadas nos grafismos com que se pintam
durante o Toré demoram semanas para sair algumas crianças optam por não participar do Toré, outras deixam de ir a escola.
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• Referências
3 TRADIÇÕES ÉTNICAS PATAXÓ
89 Esses santos são extremamente populares na região, não somente entre os Pataxó, e existem vários santuários dedicados a alguns deles.
90 Com a exceção de Sebastião, considerado um santo índio, e de Cosme e Damião que pertencem a mitologia do candomblé.
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“Se quando sai tivesse ventado logo eu não ia, mas acontece que
esse tempo me pegou lá no mar. Eu quase morro, tava todo
entravado de frio, as pernas não funcionam..água fria, vento frio ... e
eu dentro da água, não tem quem guente... o único santo que vou
me pegar agora é são Benedito, vou me pegar nele porque tenho
muita fé no santo. Me peguei ao Santo. E ai não tinha ele em casa
não, mas pedi que virasse o vento do norte pro sul, virasse pro leste,
que o vento do leste só traz pra terra. Ai no espaço de meia hora
que eu tinha me pegado na promessa com o santinho o vento parou.
O vento calmou, ai “ com essa calma eu vou pra terra” ai daqui a
pouco formou o vento leste e ai choveu forte, choveu, e vim para
terra, cheguei em Caraiva. Rapaz, cheguei em Caraiva quase morto
de frio, morto de frio.. O dia todo batendo os dentes de frio. Quem
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indígena, pois na iconografia è representado como guerreiro que morreu vitimas das flechas. Cosma e Damião foram provavelmente
introduzidos pelos escravos de origem africana que procuravam refugio, que os recebiam em cultos de possessão e que ainda hoje os recebem.
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92 As festas do mastro são amplamente difundida no sul da Bahia e se encontram em cidades como Trancoso, Caraiva e Porto Seguro. De
origem católica as festas do mastro foram importadas pelos padres jesuítas e capuchinhos, utilizadas como eficaz método de catequese dos
povos indígenas por sua analogia com a “corrida de tora”, tradição presente entre diversos grupo macro-je (Nimuendaju, 2001: 151-194).
93 Ver Augé (1988) sobre o problema posto pela materialidade ao pensamento humano.
287 Ir para o sumário >>
“Minha irmã deixou uma coisa tão boa. . Eu recebia o caboclo dela.
Tem uns caboclo que quando chega conta todo os princípios da
aldeia. Como era, conta tudo. Ai vai dizendo e vai contando.. vai
dizendo e vai contando..”.
94 Andrade (2202:82) observou o mesmo fenômeno entre os Timbalalà, no sertão norte da Bahia.
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95 Descola (19)8) fala de uma “ética da caça” que implica de não matar mais animais do que necessário, de manter um comportamento
96 O mangue desempenhou um papel fundamental na vida econômica da aldeia , e sua importância aumentou durante os anos 60 e 70, quando o
Ibama tentou impedir qualquer tipo de atividade agrícola ou de caça no território, expropriando os Pataxó do seu território, considerado
propriedade do Parco. O mangue era, na época, o único lugar onde podiam assegurar sua sobrevivência, coletando moluscos , sobretudo quando
Conclusão
crentes e não vocês. Dizem eles que nosso Deus é morto e o deles
é vivo”.
Nas relações sociais, a deslegitimação dos rituais e do sistema de
crenças representa uma ameaça a continuidade das festas dos
santos, mas sobretudo tende a impedir a comunicação com os
índios velhos, os caboclos, que se manifestam em sonhos e
possessão, cortando definitivamente o elo que liga o passado ao
presente e, impedindo sua transmissão as gerações futuras. A
dimensão religiosa se articula intimamente com aquela política, as
reivindicações pela terra se sustentam da revelação dos índios
velhos que pretendem defender seu território. As festas dos santos
constituem o elo de ligação com os parentes que “morreram nesta
religião” e que através delas continuam a comunicar seus desejos as
novas gerações. Como expressava angustiado um índios “Eles não
querem nossas tradições, nossas danças, mas o que vai ser daqui a
10 –20 anos?Quem vai cuidar dos índios velhos, dos caboclos?”.
Este atitude de recusa não è porem generalizada nem constante no
tempo. Alguns índios se converteram a essas igrejas, embora a
adesão a uma igreja crente não implica necessariamente a renuncia
ao culto dos santos e aos caboclos, como pretenderiam os pastores,
da mesma forma como a adesão ao catolicismo não implicou o
abandono da devoção a caboclos e encantados.
Um interessante exemplo è fornecido por Rosário, uma índia que se
converteu à Igreja Universal do Reino de Deus, apos sofrer por
longo tempo de uma doença na perna que os caboclos não
conseguiram curar. O pastor da igreja foi então na casa delas, a
pedido dos filhos já convertidos, rezou para a cura e apos um dia a
299 Ir para o sumário >>
pastor e professa sua religião não por isso adere na sua totalidade
ao novo sistema doutrinal, pelo contrario opera algumas adaptações
que lhe permitem, dependendo do contexto, transitar entre os dois
sistemas de crenças: rezar para o “Deus vivo” e ao mesmo tempo
cultivar amizade e carinho com santos e caboclos, condenados
veementemente como forças demoníacas pelo pastor .
REFERENCIAS
3.2. A REPRESENTAÇÃO RITUAL: O TORÉ/AWÊ E OS SENTIDOS DOS
97
PERSONAGENS
Introdução
• Brincadeira, luta, fé
99 Ex-cacique de Corumbauzinho.
102 O cacique do Cai tentou incorporar os espíritos, foi a mata, foi mesmo a terreiros de candomblé. Sua mulher, segundo ele, explicou que ele
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tinha o corpo cruzado, fato que o protegia dando-lhe capacidade de liderança, mas, concomitantemente impedia a relação com os espíritos.
306 Ir para o sumário >>
pacatos que lá habitavam pelo explorador da areia monazítica, quando do fim da mina. Afirmam ter uma cópia desta carta, o que não foi
• A representação
104 Explicaram-me diversas vezes que este arco por ser feito com uma madeira arredondada possuía uma mira melhor, sendo assim mais
utilizável do que os arcos que são vendidos para os turistas como símbolo Pataxó que é exatamente o arco ritual, mais largo e feito da casca do
Pati, uma palmeira local. Ou seja, é uma arma útil quer na caça quer em batalhas e não estava fincada no chão, como se tivesse pronta para ser
314 Ir para o sumário >>
usada.
315 Ir para o sumário >>
106Disse-me poder mostrar os esteios das cabanas deles inclusive, como fez o cacique Imbé na última viagem ao campo em janeiro de 2007
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o cacique da aldeia Cai, que é da família conceição fez questão de se afirmar como primo desses irmãos Brás, parentesco que em conjunto com
o fato de ser casado com uma jocana poderosa espiritualmente e filho da matriarca da aldeia explicam sua escolha para a chefia sobre a mesma.
317 Ir para o sumário >>
108 Os dois, desde então, vem liderando movimentos de retomada. O filho do cacique de forma individualizada, sem o apoio da comunidade,
mas com o apoio de alguns Pataxó e de pessoas não-pataxó, tentou retomar em maio, uma área no litoral de Cumuruxatiba que pertence a um
policial. Seu pai teve que intervir para que a policia não cometesse violências contra o grupo. O coordenador de FRLP veio em abril até a UFBA
para conversar com Rosário sobre o laudo, agora em junho passaram a retomar fazendas entre Parado e Itamaraju, palcos de diversas outras
“Oi pisa, pisa, pisa / Oi pisa devagar / Vou pisar devagarinho na folha da jurema”. A cada verso, na palavra pisa ele batia o pé direito à frente do
111 Na entrevista com o morador de Coroa Vermelha em setembro de 1998 ele, um líder, afirmou que não participavam mais das
representações vinculadas a chegada dos portugueses em 1500. Após as agressões em Porto Seguro, na comemoração dos 500 é possível que
tenham se tornado um tabu. Em abril último uma ONG ecológica de Santa Cruz de Cabrália tentou reeditar o Auto do Descobrimento usando
atores vestidos como índios, os participantes da encenação foram dispersos e seu organizador agredido por um grupo de Pataxó (Sampaio,
2004).
112 Entre elas uma das mais determinadas era uma Pataxó de dois anos que desde que ouviu falar que se ia dançar o Toré passou a chamar as
demais crianças para dançar o Toré numa animação só suplantada pelo seu esforço em acompanhar o passo dos mais velhos no círculo.
324 Ir para o sumário >>
eu estava emocionado, como não ficara nos outros dois Toré. Foi
difícil agradecer a matriarca e despedir-me. Só em casa, ouvindo a
fita do início do Toré, percebi que o canto inicial que eu entendera
como um ensaio, a música, cantada em tom baixo, apenas por pré-
adolescentes, era também a oração a Tupã, estilizada pelo aprendiz
de perito e que a usava para abrir agradecendo a Tupã e afinar seu
“coral”. O fato do “regente” ter cantado a oração antes que o
cinegrafista ligasse a câmera, oração que foi ouvida por sua mãe e
que a levou a retrucar com a matriarca que o menino havia feito,
aponta para que mesmo uma representação montada rapidamente
para um público externo é praticada como um ato religioso, um ato
de fé.
Mesmo um Toré brincado nesta aldeia gerada pela pressão do
turismo e da comercialização de artesanato, uma apresentação
montada rapidamente para outsider, no momento da entrada da
matriarca se torna um momento solene, de ouvir a aprender com os
peritos velhos de não sair do padrão de permanecer no ritmo. É
interessante notar, sobretudo, que a avó, com a qual todos faziam
brincadeiras durante a entrevista e que brincava com todos, no
momento que se aproxima do círculo e assume seu personagem no
rito, rapidamente deixa transparecer o respeito que a sua pessoa
113
impõe e que é atribuído a ela pelos demais; mãe, avó, parteira e
rezadeira de todos ali.
113 Cujos métodos denotam um conhecimento tradicional. Segundo Tereza ela “...já pegou muito menino na trevo, só não tem pegado agora
porque não tem mais sustância aqui nos braços, pra fazer remédio, pegar folha, passar na barriga, pra subir né. Agora eu não posso mais. [...]
Aprendeu com uma parteira que pegava menino dela, chamava Nastácia. Me ensinou a pegar menino, me ensinou a oração, como é que faz se o
menino estiver travessado, agente vira. Agora se tiver assentado tem que dar emborcação pra virá a criança. [...] Vira a mulher de perna pra
cima, ai faz o remédio. Torna a virar umas três vez pra poder desvirar o recém-nascido”. Não quis falar sobre a oração “Você pode ter filho?”
• A transformação no personagem
114 Diferentes significados foram atribuídos aos grafismos e suas cores. Alguns eram símbolos religiosos, outros, desenhos abstratos. O
cacique de Corumbauzinho afirmou que estes diferenciavam os casados dos solteiros, um identificador categórico. Quanto às cores uma
moradora da aldeia Cai, proveniente dos Pataxó Hahahãi explicou que vermelho e preto significavam paz, só vermelho guerra. Ao contrário,
para o cacique da facção Tiba o vermelho e preto significavam sangue e luto recente, o preto luto pelas mortes dos antepassados.
327 Ir para o sumário >>
115 Dois outros causaram impressão. Entrevistados apenas uma vez foram encontrados transformados em seu personagem: um líder da aldeia
Pequiatã que não aceitou ser entrevistado fora da área que retomara e o Conselheiro, espécie de consultor sobre problemas internos da Aldeia
Nova do Monte Pascoal. Mesmo que tenham percebido minha aproximação antes que os percebessem e se preparado para o encontro de tal
forma. O fato de assim terem agido já seria tão significativo quanto o fato, também possível, de que possam se vestir, assim, todo o dia.
330 Ir para o sumário >>
Referências
3.3 IDENTIDADE PATAXÓ NA FESTA DE SÃO SEBASTIÃO EM CUMURUXATIBA/BA
Introdução
116 Dados retirados do mapa etnográfico de Nimuendaju que relaciona outros variados etnômios ao longo do Nordeste.
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117 “ O termo etnogênese foi empregado por Gerald Sider (1976), no contexto de oposição ao etnocídio.” (OLIVEIRA, 1998, p. 9).
118 Toré é um ritual com danças, cantos e uso de ervas. Com o objetivo de espantar os males e atrair o bem é realizado por vários grupos do
119 Bexiga é nome popular dado à varíola. Na primeira metade do século XX ocorreram várias epidemias da doença no Brasil.
344 Ir para o sumário >>
de uma comunidade; o dono da casa oferece aos participantes em troca do trabalho comida e bebida.
350 Ir para o sumário >>
O mito
Conclusão
Referências
3.4. “PAU DO BASTIÃO”: SINCRETISMO, COR, DANÇA E CANTO NO AWÊ
Introdução
3.5. O ANTIGAMENTE E O HOJE EM DIA (NOTAS INÉDITAS DE 1988/89)
Bernhard F. Bierbaum
Questão de Terra
368 Ir para o sumário >>
A gente tem que botar duro. Somos os donos da terra (Pedro, pai do
Arapati, CV)
À causa de falta do meio ambiente para pescar e caçar, o Índio tem
que trabalhar na roça e entrar na competição no mercado regional
para se sustentar (Manuel Santana, BdM)
O ultimo recurso do que o Índio tem que fazer -si continua assim
com a mata- é que ele
tem que ir pra maré. Lá ninguém é dono, lá não tem direito de pegar
caranguejo pra comer e pra pegar marisco. Na hora de chegar de
novo na praia o Índio vai saber o que é fome, porque não tem mais
terra. Por isso nos queremos lutar por essa terra. (Manil Pacheco,
MM)
Natureza e Desmatamento
O Tupan deixava (as frutas) lá na mata. Por isso a gente não quer
deixar acabar a floresta. (Shoré, BV).
A mata serve como saúde pra gente (“Doutor”, BV)
Si a gente não agüentava, fugia pela mata (Manil Pacheco MM)
Índio passa fome. Por isso a gente tem que queimar a mata para
bota roça. (Manil Pacheco, MM)
Aqui a gente precisa de terra para sobreviver. A gente tem que
queimar as roças, porque também tudo aqui é a nossa terra (Manuel
Santana, BdM)
Trabalho e Artesanato
Uma parte dos Pataxó trabalha com (plantas) de tudo, cereais, outro
com artesanato. (Manil Pacheco, MM)
Antigamente a gente foi pra trabalhar nas fazendas, hoje tem o
artesanato. Gente está mais com isso. (Velhos de BV)
369 Ir para o sumário >>
Ser Ìndio
Hoje puro (de sangue) não tem, acabou o segredo do Índio, porque
o Índio era segredo (Manil Pacheco, MM).
O índio tinha medo de qualquer obra do Branco. Ele nem quis falar
com o Branco. Índio não sabia comprar nem vender. Mas ele tinha
que aprender quando foi reconhecido. (Manil Pacheco, MM)
O Branco faz tudo como o Índio. Índio tem que preservar os
segredos do Índio. Si não, o Branco aprende tudo. Hoje, tudo Branco
já anda nu na praia, fica com as pernas no chão e bebe kaiboka.
Mas o Índio também já faz como o Branco fez antes, tem roupa do
Branco e na cidade só quer beber cerveja ou guaraná bem gelada.
(Manil Pacheco, MM).
Muita gente aqui vem de fora, cresciam lá fora, nas fazendas,
cidades. Tem outra formação e muitos já não querem aprender as
coisas do Índio. Tem outros que procuram aprender de novo
(Manoel Santana, Boca da Mata)
Antes eu não sabia de nada de fora. Hoje eu já sei de tanta coisa de
fora (Manil Pacheco, MM)
A gente…se juntavam pra fazer … a terra (Baiara, MM)
Não tem separação, Tudo mundo é uma coisa só (Rafael de
Imbiriba)
Eu gosto de ser Pataxó. Quero ser Pataxó. Acho a vida como Pataxó
melhor. (Arapati, CV)
O contato
medo por causa dos Brancos. Sempre fugiam pra cima na mata.
Mas sempre voltavam, pra assistir a primeira missa.
(Shoré, “Doutor”, Tururim e os velhos de BV)
O Tupão fez século. Ele criou tudo. O ultimo século começou com o
Arco do Noé. Quando não volta o Tupão, que mora no céu, não vai
ter mais séculos (Domingo Brito, Santa Cruz de Cabralia)
A estrela corrente (estrela cadente) corre de um lado ao outro; é
causa do vento e tempo. Corre pra ficar longe do sol, da lua, da
chuva. Depois fica no lugar.
Si a estrela d’Alva fica perto da lua, um casal, homem e mulher, tem
que morrer. Depois, a estrela pode se afastar da lua. A posição das
“cente águas” depende do vento e do tempo. (Domingo Brito, indo
de barco de Santa Cruz de Cabralia a Mata Medonha).
Cada um, os bravos e os mansos tem as suas línguas. Eles não
entendem a gente (os velhos de BV)
Os Índios Bravos botavam fogo longe daqui. O fogo correu de lá pra
baixo na praia, queimando toda mata e puxando todos os bichos lá
pra praia onde morreu na água. Os Índios matava e comia. (Luciana,
Cumuruxatiba)
Os Baquira, os Índios Bravos, que comem gente, moram no pé do
monte (Pascoal), são bichos eles, que moram na terra (Tururim e os
velhos de BV)
375 Ir para o sumário >>
4 ETNOECOLOGIA: VISÃO E DI-VISÃO DE MUNDO
INTRODUÇÃO
121Publicado originalmente em “Homenagem a Agostinho da Silva”, Tulane Studies in Romance Lenguage and Literature, n.º 10 , p. 125-148.
122 Trabalho realizado em quatro etapas, assinaladas aqui por um número de código: seminário preparatório sobre aculturação e fricção
interétcnica (1); pesquisa de campo (2); análise de dados (3); preparação do manuscrito final (4); Teve os seguintes colaboradores: Prof.
Johannes Augel (2,4); Iracema Pinto Brandão (3, 4); Ângela Maria Borges de Carvalho (1, 2, 3, 4); Maria Rosário Gonçalves de Carvalho (1, 2,
3, 4); Yandê Candeal (1); Antonio Sérgio Guimarães (2, 3, 4); Lucia Maria Tavares Hasselman (1, 3); Maria Stella F. Gomes Lobo (1, 3, 4);
Gerson Oliveira e Oliveira (2); Prof. Cap. Alberto Salles Paraíso (2, 4); Maria Hilda Baqueiro Paraíso (1, 2); Sérgio Elísio Araújo Alves (1, 3);
376 Ir para o sumário >>
José Pereira de Queiroz (1, 2); Neuza Maria de Salles Ribeiro (1, 2); Fernando Antono Fonseca Sobral (1, 2); Lúcia Leão Mascarenhas de Souza
(1, 2, 3, 4); Marinaldo dos Santos Teixeira (2); Graça Maria Rocha Torres (1, 2, 3); Dulce Dias Tourinho (1, 2, 3); Hildete da Costa Dória e
Célia dos Santos Costa fizeram levantamento da documentação histórica e manuscrita. Desse trabalho resultou o manuscrito inédito, Identidade
e situação dos Pataxó de Barra Velha, Bahia, do qual foi extraído o presente artigo.
123 De dois tipos: um, o questionário padrão do Museu Nacional para estudos comparativos preliminares de línguas indígenas brasileiras; o
outro, de cunho dialectológico, destinado a verificar as características atuais do português falado pelos índios.
124 V. A Tarde, de Salvador, Bahia: 25/05/1951, 28/05/1951, 29/05/1951, 30/05/1951, 01/06/1951, 02/06/1951, 07/06/1951, 08/05/1951,
11/05/1951.
377 Ir para o sumário >>
126 Lista de 71 palavras dos índios Pataxó Hãhãhã cedida pelo Cel. Antonio Medeiros de Azevedo e por ele obtida quando no comando da
tropa que, em 1936, submeteu o Posto Paraguaçu por ocasião de conflitos ali ocorridos.
127 Rufino Vicente Ferreira (“Tururim”). Pataxó que é capitão da Aldeia, conhecendo Brasília, Belo Horizonte e Salvador, por onde viajou
4.2. OS PATAXÓ MERIDIONAIS (PORTO SEGURO, BAHIA): CONSIDERAÇÕES SOBRE
• Notícia Histórica
394 Ir para o sumário >>
• Conclusões
• Recomendações
Referências
402 Ir para o sumário >>
4.3. ASPECTOS ECOLÓGICOS DA PESCA EM ALDEIAS PATAXÓ, EXTREMO
128
SUL/BAHIA
Introdução
128 Texto baseado em projeto de mestrado aprovado no Programa de Pós-Graduação em Zoologia Aplicada da Universidade Estadual de Santa
Cruz
404 Ir para o sumário >>
129 Esporadicamente já são citados desde o século XVI. No entanto, foram descritos de forma mais pormenorizada no século XIX por Wied-
Neuwied (1958: 222 apud Carvalho, Sampaio 1992: 4) que os registrou “...em toda a faixa entre o Mucuri e o Rio de Cabrália...”. Ainda,
segundo o mesmo autor, toda a costa, desde o Rio do Prado [possivelmente o Jucuruçu], era temida pela presença de selvagens que,
“...vagueiam pelas matas e as suas hordas surgem alternadamente, em alcobaça, no Prado, em Comechatiba, Trancoso...”.
405 Ir para o sumário >>
Referências
4.4 ETNOCONHECIMENTO DOS ÍNDIOS PATAXÓ NO MONTE PASCOAL, BAHIA:
CONHECENDO OS MAMÍFEROS ATRAVÉS DE PEGADAS
Referências consultadas
4.5. CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS DOS INDÍGENAS PATAXÓ
Referências consultadas:
Ervas Indicações
medicinais
Artemísia antiespasmódica,calmante,c
ólicas menstruais,
digestivo,tônico para circula-
ção.
Bicuíba asma,perda de memória e
problemas de
estômago.
Boldo tônico amargo,distúrbios in-
testinais e hepáticos.
Capim santo tônico nervoso para a exaus-
tão e cansaço,
anti-depressivo, combate
stress e ansiedade.
Cana de brejo diurético,bom para rins e su-
dorífero.
Catuaba queda de nervos,frigidez e
impotência.
Carqueja inflamação da garganta,fíga-
do,icterícia,afecções
urinárias,feridas,distúrbios na
circulação,diabetes.
leucorréia,vesícula.
Cardo santo febrífugo, coqueluche, asma,
bronquite e estomacal.
depurativo e triglicérides.
Jatobá casca:anemia,balsâmico,bro
nquite e laringite.
Mastruço fortalecedor pulmonar, gastri-
te e cicatrizante.
Salsa Caroba sífilis,reumatismo,falta de
Janaúba apetite,inflamação
do fígado,estreitamento das
vias urinárias,
inflamação de rins e
bexiga,asma.
Saúde inflamação do útero,corri-
Feminina mento,ardor vaginal,
menopausa,regulador do sis-
tema urinário,
útero baixo,menstruações di-
fíceis,dolorosas e
irregulares,gonorréia.
Tônico anemia,falta de apetite,fra-
Forte queza geral,insônia,
415 Ir para o sumário >>
emagrecimento,fortificante,es
gotamento físico,
impotência,dores nas
pernas,reumatismo,
câimbras,estômago.
416 Ir para o sumário >>
4.6. A CURA DE DOENÇAS ATRAVÉS DO CONHECIMENTO ETNOZOOLÓGICO
Referências consultadas:
4.7. O PLANTIO DE EUCALIPTO PRODUÇÃO DE CELULOSE:
E A NOTAS SOBRE O
130 Para conseguir a aprovação do projeto a empresa teve realizou 16 projetos ambientais com a aprovação dos órgãos reguladores e
providenciou a transferência de 80 famílias do município de Salto da Divisa (MG). Elas estão morando em um novo bairro construído com uma
- A Fauna e o Eucalipto
131A proposta do setor é ampliar suas plantações de 5 milhões de hectares para 11 milhões nos próximos 10 anos (FASE et al. 2003)
428 Ir para o sumário >>
- Os Impactos Sociais
* Agricultura familiar
* As Contrapartidas
132 Novamente aqui o padrão é o do projeto Corredores Ecológicos da Veracel, prática questionada em outros fóruns pelo seu vínculo ao
• Considerações Finais
Referências
5 EXPRESSIVIDADE PATAXÓ MERIDIONAL
133
5.1. A Língua dos Patachos
Chestmír Loukotka
Muitas vezes o prefixo nio significa “meu”, mas isso não é certo. O
sentido da partícula nhip, niip é variável e pode significar “grande”.
No vocabulário abaixo figuram todas as palavras até agora
conhecidas da língua dos Patachos. Na medida do possível foram
incluídas comparações com palavras análogas de outros idiomas
sul-americanos. A ortografia das palavras indígenas é a checa,
adotada, com algumas modificações pelo “Instituto d’Etnologie de
Paris”.
epotoi
Monoso: toi
Koropó: pitáo
cabelo epotoy
cama mip-cap
canoa mib-koy
cantar Sumniatá
comer ok-nike-nag
raiz: ik Iate: di-iká
Masubi: iko
Guama: eikia
Caima: ake
Makiritaré:
eke
Kadurukré:
ikim
443 Ir para o sumário >>
Enimaga: iki
Guaná: ni-ige
Karif: ná-iga
Kumanagota:
ako
Koian: águia
corno nio-cokapcoi
correr dopa-kanei Botocudo:
anei
coxa cakep-queton Iaté: iso-
kotane
curto nioñam-keton
dedo nip-ketó
dedo polegar niip-ketó (=dedo grande)
deus niamissum
doente akcopetam Camikuro:
ixcapián
dormir somnay-mohon Masakali:
monon
espingarda kehehui Mongoyo:
kiakó
espinho mihiam
faca amanay Yaruro: ku-
ananiá
Feder Niung-hasingua
Fígado Akicp-kanay
Filha Nakta-nanian Koropó: ektó-
bom
Filho Nio-akcum Uro: uksa
Flexa Pohoy Mura:
apoahái
444 Ir para o sumário >>
Pirabá:
apoaháy
Guanibo:
puya
Huari: pái
Omurana:
pai
Piaroá: poi
Fogo Köa Botocudo: ké
Monoso: kö
Makoni: kö
Savante: kö
Piokcbzé: kó
Krao: kó
Masakali: kó
Karaho: kó
Usikrin: kõã
Kaposo: ka
Cangena:
heu
Muiname:
köxögai
Bora:
köxögua
Mekubengok
rä: kuö
Frio Nupca-aptangmang Opaie: heco-
áta
tsukakahan
Makoni:
tiukakan
Malali:
sukaka
Gente Patasi
Grande Niip, ñip, nioketoiná
Graxa Tomaisom Makasali:
tomanin
= fome
Homem Nio-naktim Tora: nakón
Pozitxa:
nagá
Inimigo Nio-naikipepá
Irmã Ehö Trumai:
axeat
Irmão Eketãnoy Koropo:
esatai
Opaie: eg-
ñdn = irmão
mais velho
Isto é bom Nomaison
Isto não é bom Mayogená
Lançar Cahá
Longo Mip-toy Kaingán: téie
Aweikoma:
téie
Machado kaxö Ikito: kaxí
Záparo: káxic
Muiname:
kö-gaxe
Mura: taxi
446 Ir para o sumário >>
Koropó:
kifuing
Mãe Atön Kandosi:
atáata
Camakoko:
otáie
Opaie: ci-ó-
téye
Piokobzé:
atõn = irmã
Mandioca Kchom Makcni: koon
Kaposo: kón
Malali: kuniä
Koropó: kón
Mayoruna:
kono
Sabela: kána
Tariána: kani
Wapisána:
kania
(todos ex
raix: kana =
milho em
línguas
Arawak)
Menino Cauaum
Meu Nio Kamakan:
uñio = eu
tenho
Milho Pascon Kaingán: pisi
= milho
moído
447 Ir para o sumário >>
Monte Eñetopne
Morder Kaag-caha Apinazé:
kcóuntha
Morrer Nokcoom Zeikó: non-
eró
Muito Kanan
Não Tapetapokpay
Nariz Insikap
Negro Tomeninñá
Noite Temeniey-petam Coroados:
tamari-poñan
Savante:
toman-mara
Olho Anguá Casakali:
ingué
Monoso:
íngua
Awelkoma:
akaná-ma
Pioxe:
nyákoa
Kóto: ñakoa
Yupúa:
yãkõá
Ovo Petetiöng
Paciência Niaistó
Paca capá Boróc: apo
Pedro Mikay
Peito Eköp Krâo: ikó,
hikó
Kayapó: i-kó
= mamma
448 Ir para o sumário >>
Kradaho: iko
= mamma
Mekubengikr
ã: iko =
mamma
Peixe Maham Makasali:
maam
Makoni: mam
Omurana:
mámá
Matanawí:
mami
Bribri: má
Pena Potoitan Makoni:
poteñenang
Pequeno Kenet-ketó
(v. dedo, beija-flor.
Erro sign. “dedo mínimo”)
Remkokame
nkran: patä =
pié
Guahibo:
petauto =
perna
Pintar Noytaneo
Um Apetiönam Makoni:
epoxanan
Unha Nion-menã
Velho Hitap
Venha! Nano Botocudo:
nin
Vermelho eoató Ñambikwára:
ñangan
Masakali : 16 vezes
Zé : 10 “
Coroado : 8 “
451 Ir para o sumário >>
Botocudo : 6 “
Kamakan : 5 “
Kaingán : 5 “
Opaie : 5 “
Bora : 4 “
Iaté : 3 “
Mura : 3 “
Aruak : 3 “
(Camikuro)
Guahibo : 3 “
Copokura : 2 “
Boróro : 2 “
Tukano : 2 “
Omurana : 2 “
Piárca : 2 “
Kandosi : 2 “
Cibca : 2 “ etc.
Referências
453 Ir para o sumário >>
Bernhard F. Bierbaum
• História
sido mandados pelo governo local para uma área de pouco interesse
ao colonizador da época, o sítio de Barra Velha (Agostinho 1974,
Carvalho 1976). Esquecidos, estes índios teriam pouquíssimos
contatos com o mundo durante quase um século. Em 1939, quando
um piloto aterriza na área e se depara com os índios tem um choque
ao ver que "estes índios sujos e abandonados nem conhecem a
bandeira nacional." (Castro 1940: 55f). Um ano mais tarde seria
criado o Parque Nacional de Monte Pascoal (PNMP), situado em
território indígena, sem a consulta dos próprios índios. Em 1951,
com o “Fogo”, os Pataxó de Barra Velha entram em sua última fase
de contato interétnico: forças estaduais invadem a área, matando,
violentando, enfim incendiando as casas da aldeia. (As "razões" não
precisam ser elaboradas, pois não existe razão para um ato tão
violento.) Dos que conseguiram fugir, alguns voltariam, outros
dispersariam-se pelas fazendas ou povoados da região, marcando
assim a perda de coesão do grupo e o começo de integração e
aculturação forçada. (Nesse contexto verdadeiros eufemismos). Isso
é só o começo dos conflitos com o PNMP. Sem terra, a emigração
prevalece, o subsistema econômico muda, novas dependências e
assimetrias surgem.
• Demografia
• Mobilidade espacial
457 Ir para o sumário >>
• Economia
• Organização social
• A situação do contato
• Conclusão
461 Ir para o sumário >>
Referências
5.3. EXPRESSIVIDADE PATAXÓ MERIDIONAL: CARACTERÍSTICAS ÉTNICAS E O CICLO
“Eu pisei na folha seca eu vim fazer chuá chuá. Sabe o que me
traz a recordação, o índio vive na folha seca. Nós não temos
direito mais de pegar um Tatu, o índio foi privado de comer um
tatu, o tatu era a minha carne, a paca era a minha carne,
estamos perdendo uma liberdade que deus tinha nos dados”
(Pataxó da aldeia Tibá, 2003).
“Hoje é dia de festa meus filho tão passando sem roupa nova,
descalço. Os parentes entregam ele, se ele faz uma caçada os
parente entrega, esses dias ele foi pra mata caçar e os
parentes(...). Hoje a festa de São Sebastião. Meu marido tá
sentido de não poder comprar as coisas pro filho. O cacique só
consegue as coisa pra ele. A comunidade quando chega as
coisas é tudo do cacique. Táva decidido, hoje era pra ter a
reunião. Vai ter a reunião segunda-feira Disse que vai mudar o
cacique, mas maioria não quer tirar ele de cacique, porque aqui
465 Ir para o sumário >>
não tem outro pra ser cacique como ele, ele é meu primo,
primo e compadre. Tem outros parentes aqui que não adianta
botar de cacique.”
135 O NECCSos – UESB, Núcleo de Estudos em Comunicação Culturas e Sociedades, registrado no CNPq, e foi um dos núcleos que apiou o
projeto juntamente com o PINEB – UFBA Programa de Estudos dos Povos Indígens do Nordeste Brasileiro
467 Ir para o sumário >>
Referências
136
5.4. Etnicidade e Adesão Pessoal: a escolha do nome indígena
137 Comida e roupa no léxico. A Jandaia usou a mesma frase para explicar porque veio para a trevo do Parque vender artesanato.
138 Boltanski chama a atenção para esta obsessão dos antropólogos de ver ritual em tudo (Becker, Boltanski, Claverie, 1995)
476 Ir para o sumário >>
completa me foi dada por Tucsai, que escolheu seu próprio nome e
indicou que já há alguma ritualização envolvida na escolha.
“Marcel Mauss (1950) has shown that even tough every person
is aware of his own identity (‘selfhood’) many primitives
societies do not implement his distinctiveness socially.
Sometimes the individual is in some respects functionally
interchangeable with other individuals, and he may freely
acknowledge this fact (Devereux, 1942)” (apud Devereux, 1996
[1975]: 405).
dele) foram mortos na sua adolescência e que lhe motivam pra luta e
anima para participar dela e das tradições indígenas como o Toré.
Esta unidade familiar extensa, segundo um outro entrevistado, era
conhecida como os Quati.
Diversas unidades de família extensa tem seu nome ultrapassando
esta função e passando a nomear a própria área onde o grupo
habita. Assim foi com os Brás, os Pires, mesmo uma aldeia Águas
Belas já foi conhecida como os Emílio, numa masculinização do
nome da matriarca da unidade de parentesco extenso que lhe deu
origem: Maria Emília. Outros nomes de facções, aldeias e áreas
onde habitam unidades familiares se devem a acidentes naturais:
Barra Velha, Boca da Barra, Barra do Cai, Corumbauzinho, Veleiro,
Tauá, Riacho Grande. Alguns demarcam sua localização em relação
a mata: Boca da Mata, Meio da Mata, ou ao meio ambiente que lhe
cerca: Bom Jardim, Águas Belas, Mata Medonha, Mato Grosso, ou a
espécimes vegetais ali plantados: Jaqueira, Craveiro, Imbiriba e
Pequi. Esta última aponta para mais uma semelhança entre a
escolha de um nome de aldeia e um nome indígena pessoal.
Quando composta por famílias que moravam na mata de
Cumuruxatiba a aldeia foi nomeada como Pequi [madeira]: ao
receber parentes que tinham migrado a muito para Mata Medonha e
retomarem uma área no Parque Nacional do Descobrimento se
renomearam como Pequiatã [uma outra variedade de Pequi, assim
como os citados nomes indígenas que são variedades de uma so
espécie: Pati / Patiburi, Oiti / Oitiguaçu]. O certo é que da mesma
forma que se assumir enquanto um Pataxó é assumir um nome
indígena, assumir-se coletivamente enquanto aldeia é nomear a
mesma.
Devereux (op cit: 406-407) discute a teoria de Parsons (1939) sobre
a implementação da individualidade a partir de tipos de relações
funcionalmente específicas onde tudo que não é explicitamente
incluído é excluído (ex: comprador/vendedor); difusas onde tudo que
não é explicitamente excluído é julgado como incluso (ex:
482 Ir para o sumário >>
139 Foram listados no quadro de análise 26 mulheres e 44 homens (a diferença explica-se pelo horário das entrevistas, no qual as mulheres
estavam trabalhando e foram menos entrevistadas). 42% das mulheres não possuem ou não falaram o seu nome indígena (11), 23 por cento dos
homens fizeram o mesmo (10). Parece que o costume é mais difundido entre os homens. Note-se que entre os Pataxó com mais de 50 anos
Referências
S
Signific Aldei e Significa
Sexo N Índio Nasceu N Índio Aldeia Nasceu
ado a x do
o
H Bakira um BV BV M Não AB AB
fenótipo tem
H Pati Pe de AN AN M Não AB AB
coco tem
iba escolhe
r
H Jacunarrã
495 Ir para o sumário >>
5.5. As Múltiplas Facetas da Festa do Mastro de São Sebastião. A
Máquina de Ascese do Poder Religioso140
A Alegoria da Festa
“São Sebastião vem cá vem ver, a nossa batalha temos que vencer”
(Chula Pataxó).
O Devir-Guerreiro
Devir-Mulher: Devir-Molecular
pelas reservas, mas também pela presença de escamas e de gemas, com terminal bem desenvolvido. Geralmente, em sua formação apresenta
nós, e na época da floração exibe um escapo florífero. Em pteridófitos tropicais há rizomas aéreos. O gengibre e o bambu têm rizoma.
512 Ir para o sumário >>
144 WILHEM, Richard. IChing O Livro das Mutações. São Paulo: Editora Pensamento. 1995: 177 , 178.
513 Ir para o sumário >>
“Fome” dos que tendo fome por não terem o que comer, também
penso no desperdício daqueles e daquelas que tendo mais do
precisam para viver, não sonham e nem encontram razão para
dividir, nem motivação para viver. É diante deste paradoxo que o
devir se torna uma força rizomática. Sejam elas, forças do ar, da
água, da terra ou do fogo. Neste sentido é o nosso próprio corpo que
é um rizoma. Os povos Tupi-Guarany por saberem bem disso, nos
ajudam a fazer esta passagem, entre o corporal, o oral e o
conceitual escrito, porque, conforme dizem:
145
O nosso corpo é uma flauta que é feita da urdidura de quatro
angás-mirins ou espíritos-criança (pequenas almas): Terra, Água,
Fogo e Ar. Eles precisam estar afinados para melhor expressar a
porção-luz que sustenta o Corpo-Ser, o Fogo Sagrado que move os
guerreiros, dando-lhes vitalidade, capacidade criativa e realizadora
(JECUPÉ,. 1998).
Na cosmovisão dos povos Tupy-Guarany e na sua Tradição, o corpo
ocupa o centro vital onde emanam os movimentos da vida orgânica
e inorgânca. Este culto ao corpo significa cuidar do corpo,
proporcionar-lhe prazer, dor, desafio, resistência, dureza e
flexibilidade máxima. Nele, se articulas e se acumulam os saberes
que lhes são inerentes. O corpo é também, potência de conhecer,
que pode vir a ser valorizada e desenvolvida pelas instituições ou, o
oposto disso, ser fechada, limitada, impedida, silenciada.
No imaginário grupo-pesquisador Pataxó, esta potência refere-se à
sustentação do corpus criativo, à vitalidade e à capacidade
realizadora que produz o Ser-Tribo, o sábio do Caraíba (pajé ou
xamã),o Caçador e o Guerreiro.
Do ponto de vista da Botânica, os rizomas podem ser terrestres,
aéreos, aquáticos e porque não, do Fogo. No processo de produção
das informações e da experimentação do brincar, vimos rizomas de
fogo sob a forma de violência, mas também, sob a forma do “corpo-
145 Segundo o dicionário Aurélio , é o conjunto de fios disposto no tear , e por entre os quais passa os fios da trama.
514 Ir para o sumário >>
novo reduzida pela idéia de liberdade que eles uniram com a idéia
desse perigo, quando foram liberados dele, o que os torna
novamente seguros, e por isso se alegram novamente (Apud:
NEGRI, 1993: 207).
Para nos iniciarmos não ‘abdicamos’ da erótica e do prazer que
engravida; sem que soframos para (re) nascer, sem
experimentarmos a alegria do florir, do frutificar, do doer para
amadurecer.
O filósofo Rubem Alves costuma dizer que é “o prazer que
engravida, mas que só a dor faz parir”. É bom que se diga que os
povos nativos desta terra, não são os infantes da humanidade como
fez crer a Antropologia inventada por nossos colonizadores. É o
oposto disso. Já se passaram 500 anos e todos nós já estamos
bastante crescidinhos para fazermos interpretações ao pé da letra a
respeito do que dizem as “histórias da carochinha” ou cairmos no
146
“conto do vigário”. Nossos pesquisandos, possivelmente, ‘menos
sabidos’, porém, muito mais sábios do que aqueles engenhosos
147
“caraíbas” que os espiaram (e que ainda os espiam) em suas
aldeias para “pesquisá-los”, demonstraram que a “maturidade” para
148
eles é a maturidade de Espinoza . Amadurecer para os Pataxó
significa raspar o mínimo de resíduo de diferença ontológica.
Inclusive, se liberar do próprio conceito de produtividade ontológica,
quando desejam se manterem articulados em tribo, formando um
enorme corpo coletivo em que o Ser individualizado dá lugar ao ‘Ser-
Tribo’. Anteriormente, interpretado como “bando”, “bárbaro” e
“selvagem” pelos etnólogos que não conseguiram vê-los separados
da multiplicidade nativa (donos da terra colonizada) que os qualifica
146 Expressões populares para se referirem às ilusões, o engodo e as mentiras que são contadas.
147 PRÉZIA (1999), historiador e assessor do CIMI define este termo que vem do Tupy-Guarany como uma nomeação utilizada pelos povos
nativos para se referir aos pajés ambulantes, os intelectuais, os feiticeiros interculturais das aldeias. Expressão que também serviu para nomear
rigor para identificar grupos totalmente diferentes entre si. Razão pela qual tem sido atualmente evitado pelos antropólogos. Embora, grupos
anteriormente identificados como tribais continuem sendo qualificados como "tribais". Assim como, vêm sendo qualificados outros que vêm
emergindo na contemporaneidade. O fato é que a força da expressão parece ser muito mais poderosa que as forças que tentam vergá-la.
150CLASTRES, Pierre. Arqueologia da Violência: ensaio de antropologia política. São Paulo: Brasiliense, 1982.
151 “Tornar-se adulto é morrer para a infância e nascer para a vida social , pois desde então rapazes e moças podem deixar sua sexualidade
152 Segundo o Dicionário Aurélio (2000), a palavra jurema vem do Tupi-Guarany e serve para nomear um arbusto ou arvoreta armada de
espinhos, da família das leguminosas (Pithecolobium tortum), muito difundida no litoral brasileiro e nas regiões de Caatinga. Seus ramos em
ziguezague são muito duros e suas folhas com numerosos folíolos pequenos, flores alvacentas ou esverdeadas, agregadas em pequenos
glomérulos, legume recurvado como alça intestinal, grosso e rígido, sendo a madeira dura, pouco utilizável. Mas, são das raízes, da casca e dos
frutos dessa planta, que se produz uma bebida muito forte, com propriedades alucinógenas.
518 Ir para o sumário >>
153 Uma forma popular de nomeação dos cultos tipicamente brasileiros, relacionados às práticas de magia que podem se apresentar associados
154 Trata-se dos modos de agenciamento e de aliança que produzimos neste estudo. Esta expressão foi utilizada por Deleuze e Guattari (1997:
p.19) para definir a formação dos blocos de devir. Um termo derivado de rizoma para se referir aos modos através do qual a natureza opera suas
alianças por contágio, aproximando e gramando formas de vida heterogêneas. Muito presente no fenômeno natural que consorcia determinadas
raízes jovens e certos microorganismos em torno das matérias orgânicas sintetizadas nas folhas que operam esta aliança. No plano complexo da
rede dos conhecimentos que foram tecidos nesta pragmática, descreve as alianças interdisciplinares que foram realizadas epistemologicamente e
metodologicamente.
* BIBLIOGRAFIA
6 Noções Pataxó: processo identitário, luta e posse da terra
531 Ir para o sumário >>
156
6.1 Pataxó Meridionais: um sobrevôo histórico-analítico
Sheila Brasileiro
156 Texto produzido originalmente como parte do trabalho da autora como Técnica Pericial em Antropologia do Ministério Público
Federal/Bahia.
532 Ir para o sumário >>
157 Para uma descrição sucinta das fases do processo de regularização da TI Barra Velha, vide Sampaio 1996 e Santos, 1997 (DID/FUNAI,
Informação nº 15)
535 Ir para o sumário >>
158 A Costa do Descobrimento compreende um trecho da Mata Atlântica que vai do município de Una, litoral sul da Bahia, até Linhares, no
• Situação atual
Até o presente, os resultados dos trabalhos do Grupo Técnico
de Identificação e Delimitação Territorial da Terra Indígena
Corumbauzinho e de Revisão dos Limites da Terra Indígena Barra
Velha não foram publicados. E os propalados recursos advindos do
termo de cooperação técnica têm sido liberados a conta-gotas, e
administrados, segundo informações de líderes pataxó, de forma
pouco transparente pela atual “gerente” do Parque, Milene Maia, que
se encontra baseada em um escritório do Ibama, localizado na
cidade de Itamaraju, a doze quilômetros de distância.
A idéia inicial do Ibama de estabelecer uma sede no interior do
PNMP foi inviabilizada face à recusa dos índios pataxó de
permanecer abrigando estruturas desse órgão em suas terras, fato
que evidencia não se haver estabelecido, até então, uma relação de
confiança entre ambos os “parceiros”. Dentre as intervenções do
IBAMA na área, destacam-se a realização esporádica de cursos de
gestão ambiental e de treinamento de “fiscais do Parque”, uma
estratégia de cooptação individual que vem surtindo efeitos, gerando
intrigas, aprofundando as dissenções e disputas tradicionalmente
existentes entre grupos familiares pataxó. Os “fiscais” pataxó, após
formados, passam a receber um salário mensal de trezentos reais e
são incumbidos de coibir e denunciar a existência de quaisquer
159
atividades extrativistas no interior da UC . Eles constituem uma
espécie de “milícia de elite” do IBAMA na área e suas ações acabam
por questionar e, em muitos casos, por em xeque, os pressupostos
159 Essas informações têm sido amplamente divulgadas por representantes da Frente de Resistência e Luta Pataxó e pela Equipe do
Referências
160 Consolidadas no Programa de ação Ambiental Conjunta da Costa do Descobrimento, lançado pelo Ministério do Meio Ambiente em
161
6.2. Diversidade cultural e Diversidade biológica no Monte Pascoal
161 Texto extraído do relatório de trabalho da autora no Brasil para a Human Dignity and Humiliation Studies
544 Ir para o sumário >>
162 Os de Megadiversidade são os 17 países mais ricos em diversidade biológica do mundo, concentrando mais de 70% das espécies
[
545 Ir para o sumário >>
163 Ministério do Meio Ambiente 2002: SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da natureza; Lei N° 9.985, de 18 de julho de
2000; Decreto N° 4.340, de 22 de agosto de 2002. Brasília: Centro de Informação e Documentação Luis Eduardo Magalhães.
164 As unidades de conservação de uso sustentável permitem o uso direto dos seus recursos, sob certas condições.
546 Ir para o sumário >>
165 E que competem muitas vezes com uma terceira, o INCRA, responsável para a situação fundiária do pais.
166 A utilização da expressão “o índio” foi escolhida para reforçar a idéia de uma imagem estereotipada sobre os índios do Brasil, enquanto a
pelos índios, será bem maior que a área do atual Parque Nacional e
da Terra Indígena de Barra Velha. A terra incluiria as atuais
propriedades de centenas de fazendeiros, áreas de plantio de
eucalipto, cidades com consideráveis empreendimentos turísticos e
territórios atualmente ocupados por assentamentos do MST.
Enquanto a sociedade brasileira parecia ter chegado a algo que
quero chamar de “pseudo-concordância”168, os conflitos sobre o
direito à terra continuam no Monta Pascoal. Logo depois, o enfoque
voltará para a população indígena, as aldeias que atualmente
existem e suas atividades econômicas. Pelo fato de o atual território
dos Pataxó ser insuficiente para sua reprodução física e cultural, as
aldeias começaram a se organizar politicamente e realizam ações
pontuais para despertar a atenção pública para sua situação.
No ultimo tópico serão expostos os principais argumentos
ortodoxos contra a presença indígena dentro e no entorno do Monte
169
Pascoal . A tentativa de aproximar os defensores dos direitos
ambientais e aqueles que advogam os direitos indígenas, no caso
concreto do Monte Pascoal, concluirá o presente estudo.
uma condição de ser “politicamente correto”, na maioria das vezes coincidindo com uma visão romântica sobre “os índios da selva”. Essa
concordância porém, encontra-se mais nas regiões e entre as partes da sociedade que não costumam ter contato direto com as populações
indígenas. Nas áreas de contato, de disputa concreta sobre a terra, a visão muda, volta-se à imagem do índio mau e agressivo. Essa imagem
169 Esses argumentos serão contestados no percorrer do texto, assim que podem ser vistos antes o depois de começar a leitura dos capítulos.
549 Ir para o sumário >>
170 O eucalipto é uma arvore da Austrália com a característica de crescer muito rápido.
550 Ir para o sumário >>
172 Depois do tráfico de armas e drogas, o trafico com animais silvestres é a terceira industria mais lucrativa no Brasil (Bright/Mattoon 2001).
553 Ir para o sumário >>
Francisco da Cunha Menezes para o Visconde de Anadia em 1805, constando que os índios foram removidas da área e levados para a Vila do
Prado para facilitar sua inserção na sociedade civilizada e sua utilização no mercado de trabalho. Mais adiante, em 1808, o Desembargador Luiz
Thomas de Navarro registrou na sua viagem ao Rio de Janeiro, passando pela Vila do Prado, uma grande decadência da Vila, dada aos ataques
constantes dos Pataxó e Botocudos. O Príncipe alemão Wied-Neuwied, também consta ter encontrado com Pataxós, Cumanxós, Maxacalís e
outras tribos na região. O príncipe encontrou os Pataxó na Vila do Prado, convivendo pacificamente com os habitantes da Vila do Prado desde
1813, provavelmente guiados pelos Maxacalís, que já tinham estabelecido um convivo amigável com os moradores da Vila (Carvalho, 1977).
556 Ir para o sumário >>
- O “fogo de 51”
175 Os marcos foram colocados em Bangalô, Marco do Ferrinho, Areia Branca, Zé Bedeu, Farol do Corumbau, Bunda da Nega, Gaturama,
Monte Pascoal, Montinho, Pindoba e Riacho Grande. Os marcos foram quase todos encontrados pelo biólogo Jean-Francois Timmers no
176 Suspeita-se que os dois homens desconhecidos eram membros do partido comunista brasileiro (Sampaio 2000).
177 Segundo entrevistas do Jornal da Bahia de 1969, os dois homens falaram: “Nós somos do Governo. Viemos aqui a mando do Pai Velho
(Presidente da Republica) informar que ele fez uma lei dizendo que vocês de agora em diante são os donos do Brasil. Agora, tudo o que vocês
quiserem podem pegar, e mandar em todo mundo porque o Pai Velho disse que vocês chegaram primeiro que Cabral e por isso são os donos de
178 Vieira indica que os índios que fugiram para mata e foram encontrados, sofreram intensa repressão: “O pessoal do povoado ia se juntando
para ver as brincadeiras que os soldados organizavam. Obrigaram a Maria Ruiva brigar de cipó com o Antonio Calamba. Quem não batesse com
fúria, apanhava dos soldados. Faziam os índios dançarem em roda e ficavam cantando “chô, chô, peneira” (Vieira 1985: 24). Varias mulheres
foram estupradas: “Os soldados davam-lhes um pedaço de sabonete e obrigavam-nas a se banharem e depois as levavam. Faziam o que queriam
com elas. Depois ainda falavam para os homens. [...] Uma índia muito bonita, chamada Luciana, prima do Manoel Santana, sofreu na mão de
todos. Essa índia ate hoje não teve coragem de voltar a Barra Velha” (Vieira 1985: 25).
179 „Josefa Ferreira havia se agüentado com as crianças no Campo do Boi, durante toda aquela semana. A Estela, o Adolfo e o Airton ainda
estavam pequenos. Para não morrerem de fome, saiam ao entardecer para procurar banana nas capoeiras. Tinham que tombar as bananeiras e
abrir as bananas verdes com um pedaço de pau, porque não tinham nenhuma faca para cortar. [Josefa] Resolveu voltar para a aldeia. Poderia ate
ser morta mas não continuaria mais fugindo (Vieira 1985: 27). Josefa foi uma pessoa chave e uma grande líder na luta para a causa dos Pataxó,
180 A aldeia indígena „Águas Belas“ foi criada em 1951 pelos irmãos Edson e Manoel Braz (Carvalho 1999).
559 Ir para o sumário >>
182 Só indenizava-se as plantações de coco, banana, cana, cacau e café. Os mandiocais tinham que ser abandonados (Vieira 1985).
183 O primeiro chefe do Parque Nacional do Monte Pascoal por parte do IBDF era Miravaldo Siquara.
184 O Jornal da Bahia do 15 de julho de 1969 testemunha essa situação através de entrevistas com os índios Pataxó: “Atrás da casa da velha
Zefa [Josefa – minha explicação] existe um principio de capoeira – mas quando ela começa a plantar alguma coisa chega Siquara e derruba tudo:
ela volta a fazer de novo, ele torna a derrubar. [...] “Um dia ele [Duca] matou um saruê e ficou alegre porque a família ia comer melhorzinho.
Mas, eis que chegam Siquara e Ferrinho e tomam a saruê e a espingarda de Duca”.
185 Em 1971, a proposta era de realocar os Pataxó em Itaquena, foi considerada inviável por causa de 400 posseiros que moravam na região. A
segunda proposta, de 1973, de transferir os Pataxó para uma área contígua ao Parque Nacional, no lado norte da foz do Rio de Caraiva, também
foi desconsiderada.
561 Ir para o sumário >>
186 A professora e antropóloga Maria Rosário Gonçalves de Carvalho, que chegou junto com o Professor e Antropólogo na aldeia Barra Velha
562 Ir para o sumário >>
- A produção do artesanato
em meados dos anos 70, testemunha que a situação da população era desesperadora, de miséria e penúria graves. A equipe técnica passou a
deixar na aldeia quase toda sua roupa, sua comida e outros utensílios que tinham levado para Barra Velha, pois segundo a antropóloga, lá não
havia absolutamente nada (Entrevista realizada com M. Rosário G. de Carvalho no 24 de junho de 2004).
563 Ir para o sumário >>
90% 84%
79%
80%
p ro d u z em ar te sa n a to
70%
60% 55,9%
50%
40%
30%
20%
7,50%
10%
0%
Ba rra Ve lh a Bar ra Ve lh a Ba rra Ve lh a Bo ca da M a t a
(a n t es de 1 9 7 5 ) (1 9 7 5 ) (2 0 0 0 ) (2000 )
Village
187 Sampaio cita os nomes e as instituições que, por causa da falta de processamento adequado e legal, recusaram-se a assinar a resolução
188 Esse primeiro Grupo Técnico de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Corumbauzinho e Revisão de Limites da T.I.Barra Velha
inicia seu trabalho em outubro de 1999 e o interrompe um mês depois por falta de recursos. A segunda tentativa de criar o GT foi feita em 2000.
O relatório desse GT deve ser entregue, apos várias prolongações de prazo, no ano 2004.
189 O Monte Pascoal foi incluído na Lista do Patrimônio Cultural como Bem Natural da Humanidade em 1999.
567 Ir para o sumário >>
- Os empreendimentos turísticos
191 O termo “não” agrega “pessoas físicas e jurídicas, alheias ou estranhas a um grupo indígena, que exploram terra indígena ou nela moram”
- A atuação do MST
192 As informações desse parágrafo baseiam-se principalmente nas publicações do jornal “A Tarde” de Salvador da Bahia.
572 Ir para o sumário >>
193 A Veracel usa o inseticida Mirex-S, em quantidades de 1,5 toneladas por km². O Mirex-S é menos tóxico que o Mirex, mas mesmo assim é
194 Fundada em 1991 como Veracruz, a empresa mudou seu nome em 1998, apos a obtenção da licença ambiental e da entrada da
196 Outra fonte de reclamação é o terminal portuário de Belmonte. Destinado ao escoamento das colheitas de eucalipto, o porto tem causado
inúmeros problemas: perturbação do ambiente de procriação de tartarugas marinhas, a morte de baleias jubarte (o santuário de Abrolhos está
bem próximo da rota das balsas), erosão da praia e efeitos negativos em mangues e bancos de corais.
197 A fábrica implicará custos de 1,250 milhões US$, dos quais 50% serão financiados por investimentos públicos(Overbeek, 2004).
198 Em 1998, um alqueirão custava em média R$ 15.000 e subiu para R$ 80.000 em 2004 (Timmers 2004).
199 O INCRA tem relatado crescente dificuldade em fazer novos assentamentos (Overbeek, 2004). Com o alto valor da terra, é grande o
número de assentados e outros proprietários que preferem vender a terra. Outro problema é o abandono da agricultura de subsistência
(Thuswohl, 2004), em favor do plantio de eucalipto. Com isso aumenta o êxodo rural e o custo de vida na região.
200 O fomento de terras é uma opção econômica de aumentar os plantios sem licenciamento ambiental, envolvendo grandes e médios
proprietários e permite evitar a desapropriação de terras improdutivas para a reforma agrária (Timmers 2004).
575 Ir para o sumário >>
fazendeiros.
202 O site da Veracel prevê um faturamento anual de 500 milhões de dólares para a nova fábrica. O lucro líquido da Aracruz em 2003 foi da
203 A ONG FASE, do ES, relata que desde a compra de 50 % da Veracel pela Aracruz, o diálogo com a empresa tem se deteriorado. A Aracruz
colecionou muitos conflitos com comunidades indígenas e quilombolas, ONGs e órgãos oficiais nos mais de 30 anos de atuação no Espírito
Santo.
204 Os dados das populações de 1998 foram todas extraídos do texto de Sampaio (2002), que, por sua vez, baseia-se em dados levantados pela
ANAI – Associação Nacional de Ação Indigenista – em 1998. Os números das populações de 2002 baseiam-se em dados da FUNASA. Dados
1. Barra Velha
2. Boca da Mata
3. Meio da Mata
4. Águas Belas
Criada depois do fogo de 51, contava com 100 pessoas nos anos
setenta, cujo número aumentou para 615 em 2002. A aldeia esta
localizada a seis quilômetros do limite sul do Parque Nacional do
Monte Pascoal e a 30 quilômetros da costa. No dia 8 de setembro de
1998, Águas Belas foi homologada como Terra Indígena pelo
Presidente da República. Atividade econômica principal: artesanato,
57%; atividade econômica secundaria: agricultura, 29%.
5. Corumbauzinho
8. Aldeia Nova
Comercio
2% Artesanato
Pesca
20%
18%
80% 69%
P orcenta gem de grupos domesticos
70% 62%
60% 47%
que produzem
80%
69% 69%
70%
60%
Porcentagem de grupos domesticos
50%
41% Barra Velha
40%
32% Boca da Mata
30%
21% 22%
20%
10%
0% 0%
0%
pesca pesca marítima
Tipo de Pesca
80%
60%
40%
20%
0%
ma ab ab fei me co ban bat ca ca mi ma lar jac fav and feij ur ma qu ou
nd aca óbo jão lan co an ata na fé lho nga anj a a ú ão ucu xix iab tros
ioc xi ra çia a do a de m e o cu
a ce co l tiv
rda os
Cultivo
Barra velha Boca da Mata
• Considerações finais
Para os índios existe alternativa, mas para a Mata Atlântica não ha.
A sua preservação é incompatível com a presença humana (Brant
1995).
- Argumentos indigenistas
583 Ir para o sumário >>
205 “A regra que deverá nortear as tarefas dos grupos de trabalho a serem instituídos segundo determina o artigo 57 da Lei do SNUC, é a de
que qualquer unidade de conservação cujos limites se sobreponham, total ou parcialmente, ao perímetro de terra indígenas, deixarão de existir,
– Conclusões
586 Ir para o sumário >>
Referências
598 Ir para o sumário >>
Francisco Cancela
Introdução
206 Texto baseado em projeto de Doutorado do autor no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia UFBA.
599 Ir para o sumário >>
207 Segundo o Diccionário da Língua Portuguesa, as Vilas eram unidades urbanas menores que as cidades, mas que contavam com juizes,
se afirmar, portanto, que, “sertão” ou “certão”, usada tanto no singular quanto no plural, constituía no Brasil noção difundida, carregada de
significados. De modo geral, denotava “terras sem fé, lei ou rei”, áreas extensas afastadas do litoral, de natureza ainda indomada, habitadas por
índios “selvagens” e animais bravios, sobre as quais as autoridades portuguesas, leigas ou religiosas, detinham pouca informação e controle
209 Segundo o auto de criação da Vila do Prado, as habitações deveriam se organizar da seguinte forma: “cada morada de casa de cada um dos
moradores deve ter de frente 50 palmos, de fundo 35 e que se há de compor de uma sala, com sua porta e duas janelas para a rua, um quarto para
os pais dormirem, outro para os filhos, uma casa de dispensa e outra para cozinha e o quintal há de ter de cumprimento 80 palmos e de largo os
50 de fronteira das casas, os quais todas hão de ter a mesma frente, altura, portas e janelas” (BNRJ, doc. I-5, 2, 29)
612 Ir para o sumário >>
Considerações finais
Referências
Fontes manuscritas
AHU – Projeto Resgate. Ofício do Ouvidor de Porto Seguro Tomé
Couceiro de Abreu (para o Ministro dos Negócios do Ultramar Francisco
Xavier de Mendonça Furtado), no qual transmite muitas e interessantes
informações, sobre as povoações, rios, população e madeiras da sua
Capitania. Coleção Castro e Almeida - Documento nº 6.508.
AHU – Projeto Resgate. Relação sobre as Vilas e Rios da Capitania de
Porto Seguro, pelo Ouvidor Tomé Couceiro de Abreu. Coleção Castro e
Almeida - Documento nº 6.430.
AHU – Projeto Resgate. Carta do Ouvidor de Porto Seguro, José Xavier
Machado Monteiro, dirigida ao Rei, na qual relata o sucessivo
desenvolvimento desta Capitania. Coleção Castro e Almeida – Documento
nº 8787.
BNRJ – Manuscritos. Relação dos autos da creação da Villa Nova do
Prado que mandou fazer o Doutor desembargador Geral desta Comarca e
Capitania de Porto Seguro, Tomé Couceiro de Abreu, doc. I-5, 2, 29.
Fontes impressas
Referências
ver. e ampl. – Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal,
PT: Instituto Camões, 2001, pp. 227-243.
PÁDUA, José Augusto. Um sopro de destruição: pensamento
político e crítica ambiental no Brasil escravista, 1786-1888. – 2. ed. –
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
PARAÍSO, Maria Hilda. Os Botocudos e sua trajetória histórica. In.:
CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo:
Cia das Letras, 1992.
PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios Livres e Índios Escravos:
princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI
a XVIII) In.: CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil.
São Paulo: Cia das Letras, 1992.
617 Ir para o sumário >>
211 “Para Rondon, os índios eram seres que deveriam ser respeitados, a quem dever-se-ia pedir licença de passagem, porque
justamente a República estava passando por terras deles. Enquanto isso, no sul do Brasil, no Paraná e em Santa Catarina, as
terras do oeste estavam sendo loteadas e doadas a empresas de imigração. Alemães e italianos, desvalidos de suas terras e de
suas condições de vida por força das mudanças econômicas em suas regiões, estavam vindo aos milhares para o mundo novo do
Brasil. Uma América tropical! E os empresários iam se livrando dos índios que lá viviam, ou escondidos e arredios, ou já
estabelecidos em aldeias. Os bugreiros, caçadores profissionais de índios, matavam muitos à bala, envenenando suas aguadas,
deixando brindes de cobertores contaminados por vírus de varíola e tuberculose. Será que os índios, brasileiros natos, não
mereceriam alguma proteção e assistência, já que o governo vinha gastando tantos recursos há tanto tempo em prol de
imigrantes para se estabelecerem em suas terras? Os incipientes centros de debates e divulgação de ciência brasileiros da
época, muitos com afiliação positivista, diversos jornais e alguns políticos, certamente formando algo que poderia ser chamado de
opinião pública, e junto, em seus boletins, o Apostolado Positivista Brasileiro, levaram a República a tomar uma atitude: criar um
órgão para cuidar da questão. E imediatamente convocaram o coronel Cândido Rondon, de quem já se ouvira falar por suas
palestras sobre seu trabalho no Mato Grosso, para vir ao Rio de Janeiro e levar essa nova tarefa a cabo. O Serviço de Proteção
aos Índios -- foi instituído no Dia da Pátria de 1910 com a sigla SPILTN -- Serviço de Proteção aos Índios e Localização de
Trabalhadores Nacionais. Índios e trabalhadores sem terra eram a preocupação dos nacionalistas republicanos de então, ainda
sem ideologia de esquerda ou direita, apenas seguindo uma visão positivista da história. Os nacionalistas, ou patriotas, talvez um
termo mais adequada à época, protestavam contra o descaso do governo com os homens sem terra que, ou viviam perambulando
pelo país, sem ficarem nas cidades porque os empregos eram poucos e tomados pelos imigrantes estrangeiros, ou estavam
sendo expulsos das fazendas por mudanças tecnológicas. [...] Alguns críticos de Rondon, anos depois, consideraram que ele
aceitou dirigir o SPILTN porque queria ver o índio virar um brasileiro pobre e que demarcar terra para índio e localizar (assentar)
trabalhadores sem terra eram a mesma coisa. Não, sete anos depois, os trabalhadores sem terra haviam saído do SPI e movidos
para outra seção do Ministério da Agricultura, e ficaram, como demonstrou o desenrolar dos tempos, ao deus-dará, até serem de
novo percebidos pelo movimento dos camponeses na década de 1950” (GOMES 2008) .
640 Ir para o sumário >>
Referências