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novas reflexões
Ao tratar das Formas de Estado, José Afonso da Silva, com razão, afirma que é do modo
de exercício do poder político em função do território que teremos o conceito de forma de
Estado. [1]
Estados Unitários:
Centralizados ou puros/Descentralizado
Estados Compostos:
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Adotaremos uma classificação de Formas de Estado mais adequada à realidade atual e
perceptível nas Constituições de Estados Nacionais e de Estados membros:
1. Estado Unitário
1.1. Simples
1.2. Desconcentrado
1.3. Descentralizado
2. Estado Regional
3. Estado Autonômico
4. Estado Federal
O ESTADO UNITÁRIO
O Estado Unitário, entendido como aquele que possui apenas uma esfera de poder
legislativo, executivo e judiciário tem hoje três configurações diferentes: O Estado Unitário
simples, o Estado Unitário desconcentrado e o Estado Unitário descentralizado.
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aproximando-a da população das regiões e das cidades, assim como agiliza os serviços
prestados.
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províncias, comunas ou municipalidades earrondissements ou regionais. A terminologia é
diferenciada de país para país mas em geral encontramos quatro níveis administrativos.
Desta forma, o Estado nacional pode ser dividido em regiões, que, por sua vez, podem
ser divididas em departamentos ou províncias, estes em comunas ou municipalidades, estas, de
acordo com a dimensão, em regionais, distritos,arrondissementes ou qualquer outro nome que
possa ser adotado para designar está última subdivisão. Entretanto, havendo apenas a
desconcentração, em cada uma destas divisões para finalidades administrativas haverá um
representante do poder central, que não poderá tomar nenhuma decisão autônoma, tendo a
função de levar ao Poder central as questões que sejam de interesse das diversas esferas de
divisão territorial para a decisão final, permitindo, assim, que a decisão central possa ocorrer
sobre bases de informações e verdadeiras reivindicações de cada divisão territorial, aproximando
o Poder central da população. Entretanto, por outro lado, a criação de diversas esferas apenas
desconcentradas, ou seja sem autonomia de decisão, sobrecarrega o poder central, criando uma
imensa burocracia, o que torna a decisões lentas, tomadas fora do tempo adequado.
Importante lembrar que o território pode ter diversas divisões, com finalidades diferentes.
Desta forma, uma divisão territorial que tenha a finalidade de desconcentrar ou mesmo
descentralizar a administração pública territorial pode ser diferente da adotada para a finalidade
jurisdicional ou para a desconcentração dos tribunais com a sua regionalização. Obviamente,
num Estado Unitário, haverá sempre uma ultima instância central, uniformizadora, de acordo com
a organização judiciária adotada e com a legislação processual.
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Poder central, torna-se lento. Os Estados democráticos avançados não mais adotam este
modelo, que permanece apenas em estados autoritários.
O ESTADO REGIONAL
No Estado regional, a descentralização ocorre de cima para baixo, sendo que o Poder
central transfere, através de lei nacional, competências administrativas e legislativas ordinárias.
Não há que se falar, no Estado Regional, assim como no Estado Autonômico, que estudaremos a
seguir, em poder constituinte decorrente que implica em descentralização de competências
legislativas constitucionais e só ocorre no Estado federal. No Estado Regional, o poder central
concede autonomia, amplia e reduz esta mesma autonomia administrativa e legislativa ordinária.
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O Judiciário, como ocorre na Itália, permanece unitário e meramente desconcentrado. As
expressões, União, poder constituinte decorrente e Estado membro só se aplicam ao Estado
Federal. No Estado Regional, as Regiões elaboram seus Estatutos nos limites da Lei nacional.
Estado Nacional
A tradicional classificação das formas de Estados entre Estado Unitário e Estado Federal
não é mais pertinente, uma vez que surgiram novas formas de organização territorial
descentralizada Tampouco o grau de descentralização (ou seja o numero de competências
descentralizadas) é o elemento diferenciador entre o Estado Regional, o Estado Autonômico e o
Estado Federal, mas sim a forma de sua constituição e organização, expressa na maneira de
criação dos entes descentralizados e a relação entre as esferas autônomas de organização
territorial assim como em relação ao Estado federal, na qualidade de competências
descentralizadas, e não necessariamente na quantidade.
O ESTADO AUTONÔMICO
Importante notar que estes aspectos acima citados podem estar presentes
simultaneamente, alguns deles, todos eles, um deles, mas devem ser suficientemente fortes para
manter a unidade ou sentimento de pertinência a um estado nacional. Sem este elemento, o
Estado nacional está fadado a seu esfacelamento. Vários são os exemplos de Estados que
desapareceram quando da perda desta identidade comum e o mais recente é a Iugoslávia.
Formada pela União federal de povos distintos, com idiomas distintos, religiões distintas, passado
histórico que nem sempre uniu, a Iugoslávia foi concebida após a Segunda Guerra Mundial como
um Estado socialista autogestionário e por anos o seu fator de unidade foi este projeto comum,
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assim como durante muitos anos um outro fator agregador foi a liderança carismática e eficiente
do croata Josip Bros Tito.
1.A iniciativa de estabelecimento de regiões autônomas parte de baixo para cima, sendo
que as províncias devem unir-se, formando uma região e, através de uma assembléia, elaborar
seu estatuto de autonomia.
3.Uma vez elaborado o estatuto, este deve ser aprovado pelas Cortes Gerais (parlamento
espanhol), transformando-o em lei especial que não pode ser mais modificada pelo próprio
parlamento espanhol através de lei ordinária, voltando para ser aplicado nos limites do território
da região autonômica.
4.De cinco em cinco anos, estes estatutos podem ser revistos, seguindo-se o mesmo
procedimento, sendo que, neste período, a região pode reduzir suas competências ou amplia-las,
admitindo a Constituição espanhola que a região possa inclusive reivindicar competências que na
Constituição espanhola estejam destinadas ao Estado nacional espanhol.
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Este modelo extremamente inteligente tem o condão de levar as discussões por
autonomia a um espaço democrático e constitucional, evitando a exacerbação dos ânimos em um
debate extraconstitucional. A manutenção da unidade espanhola pela forma autoritária do Estado
Unitário franquista teria como conseqüência uma guerra civil, como ocorreu na Iugoslávia e na
Russia. A criação de um processo constitucional, para onde podem ser levadas as reivindicações
por mais autonomia permitindo que estas possam ser solucionadas democraticamente através do
debate político, da argumentação séria no parlamento, é hoje a principal responsável pela
continuidade da unidade territorial. Problemas existem e sempre existirão, pois são eles que
fazem os sistemas evoluírem e se adaptarem constantemente a novas realidades, mas, sem
dúvida, o Estado autonômico é a fórmula de administração territorial mais criativa surgida
recentemente.
O ESTADO FEDERAL
1.1.No estado unitário descentralizado, as regiões autônomas recebem por lei nacional
competências administrativas, caracterizando a descentralização pela existência de uma
personalidade jurídica própria e eleição dos órgãos dirigentes. Esta descentralização de
competências administrativas pode ocorrer em nível municipal, departamental ou regional, em um
nível ou em vários níveis simultaneamente. Exemplo: a França.
1.3.No estado autonômico espanhol, outro modelo altamente descentralizado, ocorre uma
descentralização administrativa e legislativa ordinária, diferenciando-se este modelo de estado do
regional pela forma ímpar de constituição das autonomias, onde a Constituição espanhola de
1978 permitiu que a iniciativa partisse das províncias para constituírem regiões autonômicas e
que estas elaborassem seus estatutos, que, para terem validade, devem ser aprovados pelo
parlamento nacional, transformando-se em lei especial.
Importante portanto lembrar que o federalismo centrípeto (EUA, Suiça e Alemanha) são
formados a partir de Estados soberanos que formam uma Confederação e depois uma federação.
Por este motivo percebe-se uma tensão típica deste modelos, onde o movimento constitucional é
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centrípeto para resistir a uma matriz de poder político e cultural centrífuga, o que é o oposto do
nosso modelo.
Alguns autores têm rejeitado a ideia do município como ente federado, por ser uma ideia
nova, mas seus argumentos (ausência de representação no Senado, impossibilidade de falar-se
em União histórica de municípios, ausência de poder judiciário no município) são frágeis ou
inconsistentes diante da hoje característica essencial do federalismo, que difere esta forma de
Estado de outras formas descentralizadas, que é a existência de um poder constituinte decorrente
ou de competências legislativas constitucionais nos entes federados.
Quanto à união histórica, esta não existiu no Brasil, assim como em vários Estados
federais, e, quanto à inexistência de representação no Senado, existem estados federais não
bicamerais (Venezuela), assim como existe o bicameralismo em Estados unitários (França),
regional (Itália), autonômico (Espanha), sendo que, no caso brasileiro, o nosso Senado na
realidade não representa uma casa de representação dos Estados (isto é apenas formal), mas
sim uma casa extremamente conservadora, que distorce a representação popular e por isto deve
ser extinta ou reformada como visto no primeiro capítulo.
O nosso Estado federal surgiu a partir de um Estado unitário, criado pela Constituição de
1824. O seu processo de formação é, portanto, exatamente o inverso do norte-americano, o
modelo clássico, com o qual não pode ser comparado. A Constituição brasileira de 1891,
copiando várias instituições norte-americanas, copia deles o federalismo, mas, como a história
não pode ser copiada e o modelo norte americano, tanto de Suprema Corte, como de
presidencialismo, como de bicameralismo, como federalismo, são modelos históricos, a nossa
cópia quase nada tem com o modelo original.
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A federação descentralizada de 1891 recua no grau de descentralização em 1934 e 1946,
sendo que, na Constituição de inspiração social-fascista de 1937, a federação foi extinta. A
conexão entre autoritarismo e centralização é muito forte na nossa história.
Desta forma, o reflexo desta compreensão ocorre, por exemplo, na leitura correta das
limitações materiais previstas no artigo 60, § 4º, quando dispõe que é vedada emenda tendente a
abolir a forma federal. Alguns autores referem-se a este dispositivo como cláusula pétrea. Não
acreditamos que esta terminologia seja a mais adequada para nomear as limitações materiais do
poder de reforma na atual Constituição, uma vez que não estamos nos referindo a cláusulas
imutáveis, mas sim a cláusulas não modificáveis em um certo sentido. No caso específico da
vedação de emendas tendentes a abolir a forma federal, esta limitação só pode ser compreendida
a partir do sentido do nosso federalismo, no caso um federalismo centrífugo.
1.O artigo 60 não veda emendas sobre o federalismo, mas emendas tendentes a abolir a
forma federal.
2.Ao vedar emendas tendentes a abolir a forma federal, no nosso caso específico, em um
federalismo centrífugo, que tem que tender constitucionalmente à descentralização, só serão
permitidas emendas que venham a aperfeiçoar o nosso federalismo, ou, em outras palavras, que
venham a acentuar a descentralização.
NOTAS
1. Silva, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 13ª ed. São Paulo:
Malheiros, 1997, p.100.
2. União pessoal: união precária que se dá quando dois ou mais Estados soberanos
vêem-se governados por um só chefe de Estado (ex.: Inglaterra até a subida ao trono da Rainha
Vitória)
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