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Título Original:
The Disobedient Mistress
De Lynne Graham
(2002)
“Este Livro faz parte de um projeto individual, sem
fins lucrativos e de fã para fãs de romances. A
comercialização deste produto é estritamente
proibida.”
Capítulo 2
Misty ainda não havia terminado de dizer aquelas palavras e
já estava arrependida. Não conseguia entender o que lhe dera
para apresentar aquele tipo de reação. Ao menos daquela
vez, não podia culpar Leone Andracchi por estar olhando
para ela com reprovação. - Desculpe - disse Misty -, mas
pareceu bom demais para ser verdade.
- Então começa a admitir que está à beira de abrir falência?
Um arrepio percorreu as costas de Misty. Jamais poderia
aceitar o fracasso após tanto trabalho, tanto esforço.
- Sr. Andracchi...
- Enquanto você não admitir essa realidade, não podemos
prosseguir - ele avisou.
Misty mordeu o lábio. Por que aquele homem insistia em
coloca-la contra a parede? Por que a estava julgando por sua
tentativa de firmar o contrato? Ela não seria capaz de trair a
confiança de ninguém. Se soubesse que não conseguiria
cumprir o prazo, não estaria lutando para manter aquela
conta. Faria qualquer coisa para leva-la a termo, até mesmo
passar a pão e água.
- Estou à beira da falência - Misty admitiu, por fim, com um
fio de voz.
- Como eu estava dizendo, tenho uma proposta para lhe
fazer. Não tem nada a ver com arte culinária, embora esteja
liberada para preparar pratos típicos da Sicília caso sinta
vontade de cozinhar em suas horas livres.
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
O ar estava inesperadamente frio para a estação. Antes de
vestir o casaco, Misty esfregou as mãos nos braços em um
gesto instintivo. A sua frente erguia-se uma construção que
parecia uma torre. Estava inteira às escuras.
- Que horas são? - Dez.
- É cedo ainda para todos estarem dormindo. Você tem
certeza de que estamos no castelo certo?
- Claro que tenho. - Leone tornou a bater à porta. Minutos
carregados de tensão se passaram até que uma luz tênue foi
acesa acima das cabeças de Leone e de Misty. - Pretendem
acordar todo o mundo com esse barulho? - reclamou o
homem velho de pijama que abriu a porta. - Sabem que horas
são? Já passa das dez!
Misty precisou conter a vontade de rir. Leone, mais sério,
apresentou-se ao homem, enlaçou-a pela cintura e a fez en-
trar no castelo.
Diante da beleza antiga, quase medieval do lugar, Misty não
pôde evitar uma exclamação. A seu lado, Leone continuava a
falar com o homem.
- Seu nome, por favor? - Murdoch, sir.
- Gostaria de apresentar minhas desculpas ao pessoal, sr.
Murdoch.
- Hoje não será possível. Todos já se recolheram - explicou
Murdoch enquanto os conduzia a uma escada de pedra em
espiral que ficava a um canto do hall. - Dormimos cedo no
castelo Eyrie. Só abrimos exceções em ocasiões especiais.
Após uma longa caminhada por corredores sombrios, o
velho homem abriu uma porta que dava para um quarto.
- Se quiserem comer algo terão de se servir na cozinha no
fim do corredor. Como eu acabei de dizer, todos estão
dormindo.
A expressão de Leone não poderia traduzir maior incre-
dulidade. Misty, contudo, conseguiu arrancar um pequeno
sorriso do homem ao se entusiasmar com a decoração do
quarto. Ela nunca havia visto uma cama de dossel antes, a
não ser em filmes.
O que não ocorreu a Misty, a não ser alguns instantes depois,
foi que aquele era o único leito do quarto.
- Per meraviglia! - Leone exclamou, sarcástico. - Está
congelando aqui dentro! E não tem nem sequer um chuveiro
neste banheiro! - reclamou a seguir.
- Só há uma cama... - Misty balbuciou.
Leone tentou fechar a porta do banheiro e o trinco saiu em
sua mão.
- O castelo está praticamente em ruínas. Não é de admirar
que os Garrison o tenham aberto ao público. Será preciso
uma fortuna para tirar este lugar de seu estado de
decadência.
- Só há uma cama...
- Eu já notei - Leone finalmente respondeu -, mas no
momento estou mais preocupado em arranjarmos algo para
comer e para nos aquecer.
- Você poderia acender a lareira enquanto eu preparo uma
refeição rápida - Misty sugeriu.
- Não era o que eu tinha em mente para um fim de semana
no campo.
- Quer parar de reclamar? É óbvio que os Garrison estão
lutando pela sobrevivência deles e do castelo. Como pode-
riam dispor de mais facilidades se não têm condições de pa-
gar nem sequer um mordomo mais jovem e dinâmico?
- Você está enganada. Eles são ricos e famosos por ex-
plorarem seus empregados. Fizeram fortuna no ramo de con
fecções, que exportam para diversos países. Portanto, poupe
seu fôlego para quem merece.
Embora a cozinha não parecesse ter sido reformada desde a
construção do castelo, em épocas medievais, havia uma
geladeira ampla e sortida. Em poucos minutos, Misty pro-
videnciou uma salada e uma omelete que eles comeram em
silêncio.
No quarto a temperatura estava agradável quando eles
terminaram de comer. Misty olhou para a cama e em seguida
para Leone.
- Eu não imaginava que seria preciso dividir uma cama com
você.
- E eu não imaginava que não seríamos recebidos pelos
donos deste lugar - Leone confessou sem tirar os olhos do
fogo. - Acha que eles estão vivos? E se o velho Murdoch se
livrou deles e espera fazer o mesmo conosco? Quer que eu
monte guarda durante a noite com o atiçador?
De repente, Misty sorriu à tentativa de Leone de fazer graça.
A verdade era que não conseguia parar de pensar nele.
Queria-o. Quase morrera de ciúme na noite anterior e se
fosse sincera consigo mesma admitiria que adoraria dividir
aquela cama com ele.
- Vou tomar um banho. - Misty resolveu colocar um fim
naqueles pensamentos. E enquanto apanhava a roupa e os
objetos de toalete, deu vazão mais uma vez à curiosidade.
- Com quem esteve ontem à noite?
- Com amigos que não via faz algum tempo. - Ele estreitou
os olhos. - Então foi isso que a deixou tão irritada...
Corada, Misty se apressou a fechar a porta do banheiro para
tornar a abri-Ia antes do que esperava.
- Não há água quente - murmurou e subiu na cama, já de
camisola. A única que colocara na mala, aliás. Um modelo
curto, mas discreto, de seda branca.
Leone ainda estava desabotoando a camisa.
- Terei de recorrer a um banho frio outra vez esta noite?
O silêncio pesou no ambiente. Misty não esperava por uma
pergunta tão direta. Cobriu-se até o pescoço.
- Sim. - Ela não daria chance à tentação. Por isso, nem
sequer olhou para Leone ao responder. Aquela intimidade
não tinha um significado real. Ela estava atraída por Leone,
mas contava com bom senso suficiente para saber que não
seria mais do que uma diversão temporária para ele.
Fazia tanto frio que os dentes de Misty começaram a bater.
Ao notar que havia uma janela aberta, ela se levantou e
fechou-a. De que adiantava acender a lareira para se aque-
cerem se Leone deixava uma janela aberta de par em par?
Ao ter de tossir por causa da fumaça, Misty entendeu a
razão. E tornou a abrir a janela.
Leone saiu do banheiro naquele instante, usando apenas
cueca. Ela examinou-o de um só golpe: torso moreno e mus-
culoso, pêlos pretos por todos os lugares...
O colchão cedeu sob o peso de Leone. Ao tentar se cobrir,
ele rasgou o lençol.
- Céus! O tecido deve estar corroído...
- Eu dou um jeito - Misty ofereceu.
- Deveríamos ir para um hotel.
- Não se preocupe. - Misty se levantou e sugeriu que Leone a
imitasse para poder virar o lençol e colocá-lo com o rasgo
sob os travesseiros.
- É vergonhoso tratar hóspedes dessa maneira - Leone
resmungou.
- Mas a idéia de estarmos em um castelo é maravilhosa. - A
umidade e o desconforto também?
Pelo canto dos olhos Misty viu uma traça pousar em uma
mecha de seus cabelos. Sacudiu-os e deu um pequeno grito. -
Saiu?
- Calma! Ela não irá lhe fazer nenhum mal.
Ainda nervosa, embora Leone já tivesse espantado o inseto,
Misty sentou-se no pé da cama.
- Pretende ficar aí muito tempo? - Leone resmungou um
minuto depois. - Contra as chamas, você parece estar nua.
Com um estremecimento, Misty se apressou a deitar. Mas
antes que terminasse de se acomodar, Leone a atraiu para o
aconchego de seus braços e a beijou antes que ela pudesse
reagir. Se é que dava para chamar de reação a rapidez com
que os braços dela o enlaçaram pelo pescoço.
Louco de paixão, Leone a colocou sob seu corpo e a fez
sentir a intensidade de seu desejo. Misty permitiu que Leone
lhe entreabrisse as pernas. Nem sequer uma célula de seu
corpo estava tentando resistir à excitação que a engolfava.
Cada beijo de Leone a incendiava mais.
Por fim, ele ergueu a cabeça e perguntou, quase sem fôlego:
- Você tomou precauções?
A dura realidade substituiu a paixão por um instante. Leone
queria saber se ela poderia engravidar. Ela se lembrou do
acidente e do diagnóstico do médico que ela nunca poderia
conceber.
- Sim.
Um sorriso de satisfação curvou aqueles lábios. - Isto era
inevitável, amore.
Por mais que a razão tentasse fazê-la parar, Misty não
conseguiu. O cheiro e o toque de Leone exerciam um poder
afrodisíaco sobre seus sentidos.
- Eu quis ter você desde o primeiro instante - Leone
confessou. - Fiquei enfeitiçado quando vi seus cabelos bri-
lharem ao sol como se fossem chamas.
Eles ficaram se olhando. A impressão de Misty era que
Leone não estava mais acostumado a dizer aquelas coisas do
que ela a ouvi-Ias.
- Quanto mais eu tenho você, mais o desejo - Misty
murmurou.
Com um sorriso de prazer, Leone mergulhou nos seios de
Misty e sugou-os até fazê-la curvar as costas e gemer alto. E
sem parar de beijá-la, ele a despiu.
- Você é perfeita...
- O que foi? - Misty perguntou algum tempo depois quando
Leone ficou parado, apenas olhando para ela.
- Engraçado. Você pareceu tímida de repente...
- Só um pouco - Misty concordou e, por um momento, seu
coração se encheu de dúvida sobre o que estava prestes a
acontecer. Mas Leone tornou a se apossar de seus seios e ela
não conseguiu pensar em mais nada. Porque seu corpo
parecia estar se derretendo. Apesar de nervosa e apreensiva
com a possibilidade de sentir dor, de trair sua inexperiência,
ela queria ir adiante e não permitir que Leone descobrisse
que seria seu primeiro amante.
Porque Leone poderia imaginar que ela estava com segundas
intenções se soubesse que ainda era virgem. E ela seria
incapaz de se entregar a um homem se não fosse por amor...
- É seu jeito de olhar para mim - Leone contou. - Sua reação
quando a toco...
- Eu te detestava - Misty sussurrou, incapaz de compreender
como pudera passar da hostilidade para o ponto de se
entregar de corpo e alma a ele como se fosse a coisa mais
natural do mundo.
- Agora não mais, não é? - Leone continuou, ao mesmo
tempo que lhe acariciava os cabelos com uma das mãos e os
seios com a outra.
- Não. - A realidade assustou Misty por um instante. No
espaço de alguns dias ela havia se apaixonado por Leone
sem que pudesse explicar como ou por quê. - Eu nunca quis
tanto alguém.
Leone a fez erguer o corpo naquele instante para poder beijá-
la e explorar o interior de sua boca.
O desejo atormentou-a com força avassaladora. Ela sentiu as
pontas dos dedos cravarem nos ombros de Leone e depois
percorrerem toda a extensão das costas.
- Acaricie-me...
Ela obedeceu. A pele de Leone era lisa e macia. Enquanto o
tocava, ele gemia de prazer. Ela gostou disso. Significava
que estava fazendo tudo certo. Mas antes que pudesse se
tornar mais ousada, Leone a fez deitar novamente e mergu-
lhou a língua entre seus lábios ao mesmo tempo que come-
çava a explorá-la em sua parte mais íntima.
Ela não conseguiu conter um gemido mais alto. Leone disse
algo que não deu para ouvir, e se posicionou de forma a
penetrá-la. Quando o fez, com um movimento firme e rá-
pido, Misty sentiu uma dor tão aguda que quase a fez voltar
para o mundo real.
Capítulo 6
Capítulo 7
O dia ainda não havia amanhecido e Misty já estava
acordada olhando Leone dormir. Ele parecia ainda mais
bonito quando relaxado. Seus cílios eram longos e espessos.
Os lábios eram cheios e sensuais. Em um espaço curto de
tempo aquele homem havia se tornado a pessoa mais
importante em sua vida. Ao mesmo tempo, que tipo de
proximidade era aquela que não lhe permitia nem sequer
desabafar sobre o aviso lúgubre que Oliver Sargent lhe dera?
Por outro lado, como ela podia esperar uma intimidade total
entre eles quando mal começavam a se conhecer? O que ela
estava pretendendo não era razoável. Além disso, Oliver
Sargent havia bebido e como Leone devia ser um desafeto,
ele aproveitara a oportunidade para tentar prejudicá-lo.
Essa suposição poderia estar correta. No fundo, porém,
Misty não acreditava na possibilidade. Porque apesar de ter
bebido além da conta, Oliver Sargent parecia estar sendo
sincero com ela.
Leone respirou mais fundo naquele instante e Misty se
apressou a lhe dedicar toda sua atenção outra vez. Não iria se
deixar contagiar pelo pessimismo. Leone estava a seu lado e
a queria. O outro homem vivia no mundo da política. Era
especialista em convencer as pessoas de suas idéias.
- Preciso saber aonde chegaremos com este relacionamento -
Misty desabafou a caminho de Londres.
0 silêncio invadiu o interior da limusine.
- Ainda não posso lhe dar uma resposta - Leone respondeu.
A calma não abandonou Misty, mas seu rosto se cobriu de
uma profunda palidez.
- Não quero me tornar sua amante. O acordo que fizemos
continuará valendo?
- Sim - Leone respondeu sem hesitação.
- Você ainda não tem planos de me contar a razão de toda
essa farsa?
- Por enquanto não.
- Nesse caso, nosso acordo inicial deve prevalecer - Misty
afirmou, categórica. - Será estritamente comercial. Leone
passou uma das mãos pelos cabelos.
- Isso é ridículo!
- Sinto muito, mas não poderá ser de outra maneira. Ou você
confia em mim ou eu continuarei a ser apenas sua con-
tratada.
- O uso de chantagem só tornará a situação mais difícil -
Leone resmungou.
- Não estou chantageando você! - Misty protestou.
- Estarei em Nova York durante a próxima semana.
Aproveite minha ausência para refletir.
Diante dessa notícia inesperada, Misty sentiu o fôlego lhe
faltar. A simples idéia de não ver Leone durante uma semana
inteira a afetava como um golpe físico. Como pudera se
abandonar tão completamente às emoções?
- Não sentirei sua falta - ela respondeu, ressentida. - Você
está falando como se tivesse sete anos de idade, amore -
Leone brincou e colocou sua mão sobre a mão de Misty. -
Por que está tão determinada a acabar com algo que está
dando certo?
-Porque talvez não esteja dando certo para mim - Misty
respondeu, mais para si mesma.
Durante a ausência de Leone, Misty ficou com Birdie por
alguns dias e o tempo passou rápido. Mas de volta à solidão
do apartamento em Londres, ela não sabia o que fazer para
se distrair. Na penúltima noite, depois de ficar horas inu-
tilmente diante do telefone esperando que Leone ligasse, ela
resolveu ir ao cinema.
Deitou-se mais tranqüila e ficou pensando em Leone e em
como seria o reencontro. Estava quase adormecendo quando
lhe ocorreu que seu período estava atrasado. Quase se le-
vantou para verificar a data da última menstruação, mas
desistiu. Não havia nada de extraordinário com ela. Era fato
conhecido e provado que a tensão emocional podia causar
esse tipo de reação nas mulheres.
O telefone tocou no meio da noite. Misty atendeu sonolenta,
mas tornou-se instantaneamente alerta ao aviso de Leone de
que estaria chegando em Londres às sete da manhã.
- Volte para seu sono - ele murmurou. - Estarei em casa
quando você acordar.
Ela sorriu e sorriu. Em casa. Mal cabia em si de felicidade.
Tornou a deitar e a adormecer, mas a adrenalina venceu e a
colocou de pé por volta das cinco horas.
O certo seria ela permanecer na cama, calma e tranqüila.
Mas a vontade de ver Leone foi mais forte. Misty saltou da
cama, vestiu uma calça de sarja branca e uma blusa turquesa
e chamou um táxi.
Consultou seu relógio de pulso dezenas de vezes durante o
trajeto para o aeroporto. Não queria chegar atrasada. Não
queria correr o risco de se desencontrarem.
Por sorte, Misty o viu enquanto atravessava o saguão.
Apressou o passo. Sentia vontade de acenar e gritar o nome
dele. Em vez disso, parou no meio do caminho e prendeu os
cabelos na nuca com as mãos, como se esse gesto fosse
conter sua excitação.
Leone parecia ainda mais lindo, mas sua expressão não
poderia estar mais preocupada. Então ele a viu e se deteve
por uma fração de segundo. Quando tornou a andar, seu
olhar estava tão frio que ela se assustou. Não deveria ter
cedido ao impulso de ir recebê-lo em sua chegada. Movida,
agora, pelo bom senso, ela se virou em direção à saída e
começou a correr.
O mundo explodiu em flashes no minuto seguinte. Ela ficou
atordoada com tantos disparos. E com o vozerio. As pessoas
pareciam estar gritando com ela. O que poderia estar
acontecendo? E por que Leone não ficou contente ao re-
conhecê-la?
- Você sabia que Oliver Sargent era...? - um homem com
uma máquina fotográfica estava perguntando quando outro o
atropelou com outra pergunta direcionada a ela. - Como se
sentiu, srta. Carlton, quando soube? Zangada? De-
cepcionada?
Subitamente, Leone surgiu ao lado dela e a assustou ainda
mais ao tomar a câmera de um dos jornalistas e atirá-la longe
antes de protegê-la do terrível assédio com o próprio corpo.
- O que está acontecendo? - Misty quis saber. - Ouvi
mencionarem o nome de Oliver Sargent.
Não houve tempo para explicações. Até que Leone e Misty
alcançassem a limusine, ela estava sem condições de falar e
até mesmo de respirar.
- Não imaginei que você fosse resolver ir me esperar tão
cedo - Leone admitiu. - A imprensa estava a postos para me
entrevistar. No instante em que vi você adivinhei que aquilo
viraria um inferno. Você está bem?
Misty moveu negativamente a cabeça, que começava a
latejar apesar do alívio da descoberta de que não era por sua
causa que Leone se aborrecera.
- Por favor, conte-me o que está acontecendo.
- Um desses jornais sensacionalistas publicou uma matéria
que envolve você.
Misty não pôde evitar uma exclamação.
- Eu? Meu nome está em um jornal? Já me ligaram a você?
- Não - Leone tirou um recorte de jornal do bolso e entregou-
o a ela. - Sinto muito. A notícia foi publicada em Nova York
em primeira-mão. Nunca me arrependi tanto antes por algo
que fiz.
Por que motivo Leone estava sentindo pena dela?, Misty
cogitou, mais e mais perturbada com o passar dos minutos. E
por que estava arrependido?
Subitamente, ela entendeu. Aquele recorte exibia a foto dela
tirada na noite de estréia daquele filme. A manchete dizia:
Será Melissa Carlton a filha que Oliver Sargent abandonou?
- De onde tiraram esse despropósito? - Misty indagou,
incrédula.
- Ninguém pode provar nada sem o teste de DNA - Leone
explicou -, mas com base nas informações que obtive há uma
grande probabilidade de Sargent ser seu pai.
Misty sentiu-se duplamente atingida. Era dificil saber o
nome do homem que a abandonara ao nascer e que nunca se
importara com sua vida. Mais ainda era tê-lo conhecido e
não gostado de seu jeito.
- Você acha que essa história pode ser verdadeira? - Sim.
Aquela pequena palavra representou o colapso de tudo que
Misty sabia sobre si mesma. Todos os seus esforços em
conhecer seu pai haviam sido infrutíferos. Quando criança
esse era seu maior sonho. A idade trouxe a conformação,
porém, de que havia poucas chances de esse sonho ser rea-
lizado. Após a morte de sua mãe, Misty perdeu a esperança
de encontrá-lo e o afastou de sua mente.
Agora, um jornal qualquer não apenas vinha lhe provar que
ele existia como lhe mostrava quem ele era.
Chocada com a revelação, Misty começou a tremer.
- Deixe para ler depois, quando chegarmos em minha casa -
ele a aconselhou.
- Em sua casa?
- A essa altura o apartamento já deve ter sido invadido pela
imprensa.
A expressão séria e preocupada de Leone enterneceu Misty.
Sentia-se grata a ele e constrangida ao mesmo tempo. - Você
voltou antes de Nova York por minha causa. Sinto muito.
A reação brusca a pegou desprevenida.
- Não sinta. Fui o responsável por tudo isso.
Responsável em que sentido? Por tê-la exposto ao interesse
dos jornalistas? Nesse caso, a culpa não cabia a ela por ter se
negado a responder algumas perguntas? Tivesse saciado a
curiosidade daquela gente, ninguém teria se preocupado em
investigá-la. Por outro lado, como eles puderam ter acesso a
um segredo que nunca ninguém lhe revelara apesar de todo
seu empenho? De qualquer modo, a maior coincidência que
poderia existir era ela ter conhecido Oliver Sargent havia
uma semana.
Em silêncio, ela começou a ler a matéria. Mas antes que
conseguisse passar da primeira linha, Leone tirou o papel de
sua mão.
- Não perca seu tempo. Os tablóides adoram explorar o
sensacionalismo.
A casa de Leone era grande e imponente. Não deu para
Misty conhecê-la no primeiro momento. Assim que deu ins-
truções ao mordomo para que lhes servisse um bom café da
manhã, Leone a levou para a sala.
- Procure não levar essa história para o lado pessoal - ele
avisou-a. - O alvo era Oliver Sargent, não você. Misty
mordeu o lábio. Não sabia se ria ou se chorava. Como os
homens podiam ser tão insensíveis? Ela havia acabado de
descobrir a identidade de seu pai e Leone não queria que ela
levasse o caso pelo lado pessoal?
- Sargent fez muitos inimigos na mídia - Leone prosseguiu. -
Eles estão ao encalço dele, não de você. Naquele instante,
veio à mente de Misty um dos temas mais defendidos por
Oliver Sargent em sua campanha: o número de crianças
nascidas fora do casamento e o efeito dessa situação na
sociedade e nas próprias crianças. O homem vivia sendo
atacado por uns e aplaudido por outros por sua tese moral.
Seria uma revelação e tanto para seus eleitores que ele
tivesse abandonado a jovem que seduzira e a própria filha.
Sua carreira política teria fim. Ele seria considerado um
hipócrita. E ela, Misty notou pelas fotos da casa opulenta de
Oliver e do lar adotivo onde ela fora inicialmente acolhida,
seria alvo da piedade geral.
- 0 primeiro marido de sua mãe era bem mais velho do que
ela - Leone contou antes que Misty pudesse ler o artigo. - Ele
era professor em uma faculdade e a incentivou a estudar.
Sargent estudava na mesma faculdade.
- Não consigo imaginar minha mãe envolvida com livros e
cursos - Misty murmurou.
- Infelizmente, ela e Sargent tiveram um romance na época, e
quando você e sua irmã nasceram e ficou provado que vocês
não eram filhas do professor, Sargent estava namorando
Jenny e se recusou a assumi-Ias, e a sua mãe.
Misty se lembrou da mulher tão simpática e agradável que
conhecera no castelo Eyrie e lamentou que ela estivesse
prestes a descobrir que o homem com quem se casara e
vivera todos aqueles anos a tivesse traído de maneira tão
ignóbil.
Os olhos de Misty pousaram, de repente, em uma linha que
mencionava seu noivado com Philip e a razão pela qual ele
rompera com ela. Misty nunca havia se sentido tão hu-
milhada em sua vida. Porque agora seu maior segredo havia
sido exposto com brutalidade. Leone tinha conhecimento da-
quele artigo. Ele sabia!
- Não!
Diante do grito de agonia, Leone tentou abraçar Misty, mas
ela se recusou a ser consolada.
- Por favor, deixe-me sozinha. Preciso lidar com tudo isso
por mim mesma.
Mas Leone era persistente. Mesmo contra a vontade de
Misty, ele a atraiu de encontro ao peito e a fez deitar a
cabeça em seu ombro. Ela não queria, mas não resistiu por
muito tempo. Chorou e soluçou até cansar.
- Per amor de Dio! - Leone implorou. - Não fique assim.
Misty ergueu os olhos brilhantes de lágrimas.
- Não quero que você se envolva nessa história horrível. Vou
me sentir ainda pior.
- Eu já estou envolvido - Leone respondeu subitamente
pálido. - Estou mais envolvido do que você pode imaginar.
Misty entendeu que Leone estava se culpando por tê-la
exposto ao interesse público.
- Isso não é verdade.
- Tudo que estão dizendo é favorável a você - Leone tentou
consolá-la.
- Também sobre minha infertilidade depois do acidente? -
Misty ressaltou, amarga.
Incapaz de suportar tanta dor, Misty se desvencilhou do
abraço, mas Leone a seguiu e a segurou pelos braços.
- Não faz nenhuma diferença para mim - ele garantiu. A
vontade de Misty foi chorar ainda mais. É claro que não
fazia nenhuma diferença para Leone. Ele a havia contratado
para ajudá-lo em uma farsa. Nada mais. Casamento jamais
lhe passara pela cabeça.
Mas Leone tornou a abraçá-la e suas defesas ruíram. Ela o
amava. Ela o amava porque ele fazia questão de ampará-la
quando outros homens fugiam ao primeiro sinal de
problema. - Faça amor comigo - Misty sussurrou.
A tensão que se apoderou de Leone a deixou rígida. No
instante seguinte ela o empurrou.
- Esqueça o que eu disse.
Ele a alcançou quando já estava saindo da sala.
- Como pôde pensar que eu não queria você? Sonhei em tê-la
em meus braços cada dia e cada noite que estive longe! Mas
antes precisamos conversar...
O alivio que Misty sentiu ao ouvir aquelas palavras foi tão
grande que o resto do mundo deixou de existir naquele
momento.
- Mais tarde. Nada mais me importa agora a não ser nós dois.
- Misty...
Ela não o deixou terminar. Colocou-se nas pontas dos pés e
tomou a iniciativa de beijá-lo. E Leone, incapaz de continuar
se contendo, carregou-a para o quarto.
- Você tem certeza? - ele perguntou no último instante. -
Posso esperar, caso você prefira tomar o café primeiro. -
Misty tentou brincar.
Leone não teve tempo de responder, mas ainda conseguiu
sorrir para ela antes de ser obrigado a desligar o celular que
começou a tocar no mais inoportuno dos momentos.
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11