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Clero Manuel Robate

Transcendência de Deus torna a ciência pura e racionalmente mecanicista da natureza


(Licenciatura em ensino de Matemática com Habilitações em Estatística)

Universidade Rovuma
Lichinga
2021
Clero Manuel Robate

Transcendência de Deus torna a ciência pura e racionalmente mecanicista da natureza

Trabalho de investigação
científica da cadeira de Estudos
Contemporâneos em Ensino de
Matemática, a ser apresentado
ao departamento de Ciências
Naturais e Matemática para fins
avaliativos, leccionado pelo:
Msc. Roberto Preto

Universidade Rovuma

Lichinga

2021
Índice

1. Introdução............................................................................................................................4

2. Transcendência de Deus torna a ciência pura e racionalmente mecanicista da natureza....5

2.1. Transcendências...........................................................................................................5

2.2. Fé Bahá'í.......................................................................................................................7

2.3. Budismo.......................................................................................................................8

2.4. Cristianismo.................................................................................................................8

2.5. Hinduísmo....................................................................................................................9

2.6. Judaísmo.......................................................................................................................9

2.7. Platonismo....................................................................................................................9

3. Conclusão..........................................................................................................................10

4. Referências Bibliográficas.................................................................................................11
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1. Introdução

O presente trabalho tem como tema a Transcendência de Deus torna a ciência pura e
racionalmente mecanicista da natureza.

A Transcendência significa o que ultrapassa o conhecimento comum, e vai além da


experiência meramente humana. Sendo a transcendência um dos atributos naturais de Deus.

A ideia de Deus deve ser tratada como uma possibilidade para a fenomenologia. Se a
fenomenologia se propõe ser ciência primeira (metafísica e/ou a sua substituta), isto é, aquela
que subordina todo conhecimento e todas as outras ciências pela essência de fundamento,
então deverá servir de suporte para toda possibilidade de aparecimento ou ausência do
mesmo, justificando suas direcções e realizações de sentido.

A questão de Deus surge na fenomenologia em torno de sua doação, do que poderia


ser intuído desse fenómeno. Reduzindo qualquer religião ou fé, bem como modificando a
atitude crente da realidade do mundo natural, psicológica e espiritual, com Husserl, a
fenomenologia deve encarar este desafio de descrever a possibilidade do fenómeno Deus por
meio da sua fundamentação legítima do conhecimento na subjectividade transcendental,
analisar o que não se apresenta imediatamente para a consciência, mas que coloca em questão
a própria racionalidade, a teleologia da realização da essência humana.

Deus não precisa do homem para nada, excepto para ser Deus. Cada homem que
morre é uma morte de Deus. E quando o último homem morrer, Deus não ressuscitará.
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2. TRANSCENDÊNCIA DE DEUS TORNA A CIÊNCIA PURA E


RACIONALMENTE MECANICISTA DA NATUREZA
Na religião, a transcendência é o aspecto da natureza e do poder de uma divindade que
é totalmente independente do universo material, além de todas as leis físicas conhecidas.
Na teologia, diz-se que Deus é transcendente (em grego, hyperbekós) da Criação na medida
em que Ele está acima dela e não é limitado por ela, não sendo limitado pelo espaço e pelo
tempo como é o mundo natural e possuindo tal característica em relação ao seu atributo de
infinitude. Isso é contrastado com a imanência, onde se diz que um deus está completamente
presente no mundo físico e, portanto, acessível às criaturas de várias maneiras.

2.1. Transcendências
A Transcendência segundo o Dicionário Teológico etimologicamente essa palavra tem
origem latina transcendentia e significa “o que ultrapassa o conhecimento comum, e vai além
da experiência meramente humana. Sendo a transcendência um dos atributos naturais de
Deus”.

Conforme PEARLMAN (2009), “Na experiência religiosa, a transcendência é um


estado de ser que superou as limitações da existência física e, por algumas definições,
também se tornou independente dela, como tipicamente é dito se manifestar
em oração, estado numinoso, iluminação espiritual, séance, meditação, psicodélicos e
“visões” paranormais”.

Na trajectória espiritual do Ocidente a relação entre Deus e o mundo constitui uma questão
cardial desde o tempo dos primeiros pensadores gregos, que na esteira do volume de W. Jaeger
(A teologia dos primeiros pensadores gregos) é possível denominar “teólogos”, ainda que o
termo revista um significado algo diverso do que se tornou corrente com o cristianismo. O
politeísmo grego, no qual era difusa a ideia da omnipresença do divino no cosmo, conduzia ao
respeito impregnado de veneração pela physis, uma vez que “tudo está cheio de deuses”
(Tales). CHEUNG ( 2008)

Não se deve pensar que tal posição fosse limitada aos albores da civilização grega, já
que nos seus desenvolvimentos sucessivos, especialmente no estoicismo, era frequente a ideia
do mundo como templo, ou seja, como manifestação de Deus em virtude da visibilidade do
divino no cósmico.
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No início de tudo está o encontro com Deus, não ao lado, dentro ou acima do mundo,
mas juntamente com o mundo, no mundo e através do mundo.

Deus somente é real e significativo para o ser humano se emergir das profundezas de
sua própria experiência no mundo com os outros. Por ser real e significativo, apesar de ser
Mistério, ganha um nome; projectamos imagens dele; construímos representações. E a forma
como concretizamos nossa experiência.

As pessoas que verdadeiramente experimentam Deus sempre testemunharam: Ele é superior


summo meo, Deus é superior a tudo o que podemos imaginar. E o Totalmente rio e o mistério
de Deus. Deus transcendente é representado como o Deus acima do mundo e, o que é pior, fora
do mundo. E um Deus sem o mundo. O mistério vem representado como um enigma a ser
decifrado. Para o místico, o mistério é um acontecimento a ser acolhido com total
disponibilidade. E como tal não está em oposição à inteligência. Como dizíamos, pertence ao
mistério ser conhecido mais e mais. Mistério que vem representado como enigma começa a
significar aquilo que não pode ser alcançado pela razão. Então se envia Deus ao exílio da
razão. Aparece como o limite da razão, quando, na verdade, ele é o ilimitado da razão.
CHEUNG (2008)

Representado como totalmente fora do mundo, Deus de fato não seria experimentável.
Ele é feito objecto da revelação, a irrupção dentro do mundo daquele que está fora do mundo.
Então ele revela verdades e representações de si. Segundo tal compreensão, crer é crer em
verdades sobre Deus. Deus se transforma em puro objecto da fé intelectual, fé que nada sente
de Deus, mas que adere a ele num total despojamento e na assunção de doutrinas e
representações acerca de Deus. Esse Deus está muito próximo do Deus do deísta. “O deísta é
um homem que não teve ainda tempo de se tornar ateu”, porque separou o mundo de Deus.
Deus é antes uma projecção do homem do que o nome do Mistério que tudo penetra. Diante
de um Deus representado como distante, acima e fora do mundo, ninguém cai de joelhos, não
junta as mãos, não abre o coração para a intimidade amorosa, não chora, não canta nem
dança.

Segundo STURZ (2012), “Essa representação da Transcendência nos impede de


valorizar a encarnação de Deus em Jesus Cristo. Não é um Deus que se abaixa com profunda
simpatia para com o ser humano. Não assume a nadidade humana. Mas conserva,
contrariamente ao que diz São Paulo, sua majestática e transcendente divindade”. Então
representamos Jesus Cristo, Deus-encarnado, como aquele que sabe tudo desde o ventre
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materno, que sabia de sua morte desde o início da vida e que sabia cada passo de seu
caminho.

Destarte, a encarnação como os evangelhos no-la apresentam vem pulverizada de sua


densidade profundamente humana. Não se entende então por que Jesus Cristo pôde ser
verdadeiramente tentado, porque embora fosse Filho teve de aprender a obedecer pelo
sofrimento.

Esta representação da transcendência divina como distância do mundo tem


consequências desastrosas para a vida de fé. Ele habita em nossas representações, mas está,
também e sempre, para além e aquém delas.

Da análise do conceito de Deus, concebido como primeiro motor imóvel, conquistado


através do precedente raciocínio, Aristóteles, pode deduzir logicamente a natureza essencial
de Deus, concebido, antes de tudo, como ato puro, e, consequentemente, como pensamento de
si mesmo. Deus é unicamente pensamento, actividade teorética, no dizer de Aristóteles,
enquanto qualquer outra actividade teria fim extrínseco, incompatível com o ser perfeito,
auto-suficiente. Se o agir, o querer têm objecto diverso do sujeito agente e “querente”, Deus
não pode agir e querer, mas unicamente conhecer e pensar, conhecer a si próprio e pensar em
si mesmo. Deus é, portanto, pensamento de pensamento, pensamento de si, que é pensamento
puro. E nesta autocontemplação imutável e activa, está a beatitude divina.

Se Deus é mera actividade teorética, tendo como objecto unicamente a própria perfeição, não
conhece o mundo imperfeito, e menos ainda opera sobre ele. Deus não atua sobre o mundo,
voltando-se para ele, com o pensamento e a vontade; mas unicamente como o fim último,
atraente, isto é, como causa final, e, por consequência, e só assim, como causa eficiente e
formal (exemplar). De Deus depende a ordem, a vida, a racionalidade do mundo; ele, porém,
não é criador, nem providência do mundo. Em Aristóteles o pensamento grego conquista
logicamente a transcendência de Deus; mas, no mesmo tempo, permanece o dualismo, que vem
anular aquele mesmo Absoluto a que logicamente chegara, para dar uma explicação filosófica
da relatividade do mundo pondo ao seu lado esta realidade independente dele. ANDRADE
(2015)

As Escrituras retratam acerca de um Deus transcendente, todavia não distante, Ele


apresenta-se disposto a se relacionar com o homem, objectivando se comunicar com o mesmo
e se utiliza daquilo que o homem conhece, ou seja, aquilo que é intrínseco à realidade
detectável do homem para se manifestar e se fazer conhecer, ou seja, se utiliza do imanente.
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2.2. Fé Bahá'í
Bahá'ís acreditam em um único e imperecível Deus, o criador de todas as coisas,
incluindo todas as criaturas e forças do universo. Deus é descrito como “um Deus pessoal,
incognoscível, inacessível, provedor de toda revelação,
eterno, omnisciente, omnipresente e todo-poderoso.” Embora inacessível directamente, Deus
é, no entanto, visto como consciente de sua criação, com uma mente, vontade e propósito. Os
bahá'ís acreditam que Deus expressa essa vontade em todos os momentos e de muitas
maneiras, inclusive através de uma série de mensageiros divinos referidos como Manifestação
de Deus ou, às vezes, “educadores divinos”. Conforme PEARLMAN (2009), “Para expressar
as razões de Deus, existiriam essas manifestações estabelecedoras da religião no mundo. Os
ensinamentos bahá'ís dizem que Deus é muito complexo para que a humanidade possa
compreendê-lo completamente, não podendo, a humanidade, nem mesmo criar uma imagem
precisa dele”.

2.3. Budismo
Diz PEARLMAN (2009), que “No budismo, “transcendência”, por definição,
pertence aos seres mortais dos reinos sem forma da existência”. No entanto, embora esses
seres estejam no “pico” de Samsara, o budismo considera o desenvolvimento da
transcendência temporário e um beco sem saída espiritual que, portanto, não ocasiona uma
cessação permanente do Samsara. Essa afirmação foi um diferenciador primário dos outros
professores de Sramana durante o treinamento e desenvolvimento do próprio Gautama Buda.

2.4. Cristianismo
Para PEARLMAN (2009), “A Igreja Católica, assim como outras igrejas cristãs,
sustenta que Deus transcende toda a criação. Segundo Tomás de Aquino, “... em relação a
Deus, não podemos entender o que ele é, mas apenas o que ele não é, e como os outros seres
se relacionam com ele”. 

Esse modo de investigação que considera uma transcendência incompreensível de


Deus e que apenas pode negar o que ele não é foi chamado de teologia apofática, ou via
negativa, descrita por Pseudo-Dionísio, o Areopagita, mas este autor também considerou
a via positiva na descrição dos atributos divinos e, em seu platonismo, afirmou a
transcendência divina junto com a imanência, relação que foi discutida por neoplatonistas
cristãos posteriores como João Escoto Erígena, Mestre Eckhart, Nicolau de Cusa e Giordano
Bruno, e é importante para os teólogos cristãos até hoje. As representações antropomórficas
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de Deus são amplamente metafóricas e reflectem o desafio dos “modos de expressão


humanos” na tentativa de descrever o infinito.

2.5. Hinduísmo
A transcendência é descrita e vista de várias perspectivas diversas no hinduísmo. Algumas
tradições, como Advaita Vedanta, vêem a transcendência na forma de Deus como o Nirguna
Brahman (Deus sem atributos), sendo a transcendência absoluta. Outras tradições,
como Vishishitadvaita e Bhakti yoga, vêem a transcendência como Deus com atributos
(Saguna Brahman), sendo o Absoluto uma divindade pessoal (Ishvara), como Vishnu ou Shiva.
PEARLMAN (2009)

Para explicar a complexidade da unidade de Deus e da natureza divina, o Alcorão usa


99 termos referidos como “Os Mais Belos Nomes de Alá”. Além do nome supremo “Allah” e
do neologismo al-Rahman (referindo-se à beneficência divina que constantemente (re)cria,
mantém e destrói o universo), outros nomes podem ser compartilhados por Deus e pelos seres
humanos.

2.6. Judaísmo
Os teólogos judeus, especialmente desde a Idade Média, descreveram a transcendência
de Deus em termos de simplicidade divina, explicando as características tradicionais de Deus
como omnisciente e omnipotente. Intervenções da transcendência divina ocorrem sob a forma
de eventos fora do campo da ocorrência natural, como milagres e a revelação dos Dez
Mandamentos a Moisés no Monte Sinai, ou como providência divina, que é parte do Deus
transcendente, segundo Fílon de Alexandria  (século I) por ser Ele a causa activa na
manutenção do universo.

2.7. Platonismo
As noções de transcendência e imanência estão presentes nos conceitos platónicos,
como na Teoria das Ideias, em que há uma subdivisão do Mundo Inteligível das Formas
imutáveis, acima do Céu (hiperurânio), eternas e transcendentes, e do mundo sensível das
formas aparentes, os fenómenos sensíveis manifestos que delas participam. Conceitos como o
princípio criador Uno e Nous, Demiurgo e Alma do Mundo seguem todo o neoplatonismo e
influenciam as filosofias religiosas posteriores.
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3. Conclusão
Em fim, fica evidente que Deus é um fenómeno extraordinário, pois transcende a
constituição subjectiva, e toda a possibilidade de uma doação objectiva é prender a figura
divina na idolatria. A excelência da doação que põe Deus indisponível provoca uma carência
receptiva de sua presença, pois a própria doação originária se oculta no momento mesmo que
se realiza a doação, abandonando-se invisivelmente. A experiência de Deus não constitui um
luxo só de alguns. É a condição indispensável para toda a vida de fé. Toda religião assenta
sobre uma experiência de Deus. Sem ela os dogmas são andaimes rígidos; a moral, uma
couraça opressora; a ascese, um rio seco; a prática religiosa, um desfiar monótono de gestos
estereotipados; a devoção, um estratagema para combater o medo; e as celebrações, uma
ostentação vazia, sem a graça da vida interior.

A carência é radicalizada e desprendida na pura transcendência do sensível, nas


possibilidades que se doam em tudo o que é essencial para a realização da obra comunitária,
que se preenche e se doa em excesso, apontando para a síntese da continuação do todo
universal. O bem universal, expresso na doação da estrutura intersubjectiva do dever absoluto,
e concisa de sua manifestação pura, efectiva-se teleologicamente no bem comum disposto da
finalidade da realização racional (inter)monádica, organizada e desprendida na devolução de
seu dom, agora mais aprimorado e sintético, constituindo sua obra que se direcciona além de
si mesmo, ou do que se presenciar como obra em continua realização.

A base das relações intersubjectivas, verificadas intencionalmente e responsivamente


por uma reflexão imparcial do que se mostra na doação de suas acções, devem ser evidentes e
visíveis para a constituição absoluta que envolve o todo comunitário. O todo comunitário se
desenrola num infinito que impossibilita a objectividade imediata, deixando-se abandonado
invisivelmente na concretização humana de sua obra racional.

O mundo provém do Logos criador, e este é Pessoa, Razão, Amor. O fio condutor,
segundo o qual Deus atua na história, significa assim que Deus é Pessoa. Ele não é um deus
sem nome, mas tem um “rosto” e um Nome. Não é uma ideia ou uma fórmula, mas um
Vivente pessoal. Assim se supera o pressuposto de um Deus inútil e deixado fora do mundo,
ao qual corresponde facilmente um cristianismo marginalizado, que não representa uma
alternativa epocal, que não consegue pôr-se como motor da história.
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4. Referências Bibliográficas
ANDRADE, C.C. Dicionário Teológico. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias
de Deus. 2015.

CHEUNG, Vincent. Introdução à teologia sistemática. Arte Editorial. São Paulo. 2008.

PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da bíblia. Vida. São Paulo. 2009.

STURZ, Richard. Teologia Sistemática. Vida Nova. São Paulo. 2012.

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