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Resumo: Propomos neste artigo uma análise textual das passagens das obras de Nietzsche nas
quais se dedicam importantes considerações sobre a “psicologia” do ressentimento, em prol de
uma reflexão filosófica sobre tal disposição psíquica que tanto influenciou os rumos
axiológicos e morais de nossa civilização. O artigo expõe, conforme a interpretação de
Nietzsche sobre a história da cultura ocidental, que um dos principais sintomas da sua
decadência residiria no ressentimento, que se manifesta no indivíduo incapaz de criar valores
afirmativos da existência. Ao sofrer uma ofensa, tal indivíduo, impotente em reagir
efetivamente, desenvolve no seu íntimo o anseio por uma reparação imaginária, motivada pelo
sentimento de vingança. O ressentido sofre de enfraquecimento da vitalidade, e perde qualquer
tipo de vínculo efetivo com a realidade. Essa conduta é característica do que Nietzsche
denomina de “moral dos escravos”, que prevaleceu ao longo de nossa civilização ao subjugar a
“moral nobre”, adepta dos valores afirmativos da existência. A moral cristã seria a grande
responsável por essa situação, ao inverter a ordem dos valores ativos em vigor, depreciando-
os, enquanto os valores que, na acepção nobre seriam considerados como “decadentes”, foram
alçados ao patamar das grandes virtudes morais.
Palavras-chave: Nietzsche; Ressentimento; Vitalidade; Decadência; Fisiologia.
Abstract: We consider in this paper a literal analysis of the works of Nietzsche in which if
they dedicate important considerations on the “psychology” of the resentment, in favor of a
philosophical reflection on such psychic disposal that as much influenced the axiologics and
moral courses of our civilization. The paper displays, as the interpretation of Nietzsche on the
history of the occidental culture, who one of the main symptoms of its decay would inhabit in
the resentment, that if manifest in the individual incapable to create affirmative values of the
existence. When suffering an offence, such individual, impotent in reacting effectively,
develops in its soul the yearning for an imaginary repairing, motivated for the revenge feeling.
The resented one suffers from weakness of the vitality, and loses any type of effective bond
with the reality. This behavior is characteristic of what Nietzsche calls of “moral of the
slaves”, that took advantage throughout our civilization when overwheling the “noble moral”,
adept of the affirmative values of the existence. The Christian moral would be great
responsible for this situation, when inverting order of the active values in vigor, depreciating
them, while the values that, in the noble meaning would be considered as “declining”, they
had been elevated to the platform of the great moral virtues.
Keywords: Nietzsche; Resentment; Vitality; Decadence; Physiology.
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Doutorando em Filosofia pelo PPGF-UFRJ. Professor Substituto do Departamento de Filosofia da UFRJ (2008)
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axiológica em relação aos valores épicos e daquilo que Nietzsche denomina como a
trágicos. As virtudes do corpo, associadas formação da “má consciência”, pois o tipo
na cultura homérica aos caracteres viris e “fraco”, incapaz de interagir
heróicos, e a afirmação trágica da afirmativamente com o tipo “forte”,
existência, são suplantadas, na perspectiva pretende se desvencilhar da
socrático-platônica, pelas virtudes da responsabilidade de sua própria impotência
consciência interior, e exacerbadas ainda de agir, denominando, consequentemente,
mais com o advento da moral cristã, que aquele que o sobrepuja numa interação
estabelece a expectativa por uma vida baseada na qualidade de forças como o
eterna no Paraíso destinada aos justos e culpado moral maior pelo seu próprio
puros. Entre o platonismo e o Cristianismo declínio vital (NIETZSCHE, 2000, p. 69-
haveria uma curta distância de ideais e de 71). Por outro lado, podemos dizer que,
valores. Tal como observado por Nietzsche numa perspectiva afirmativa da existência,
no Prólogo de Além do Bem e do Mal, “o os indivíduos inseridos em tal categoria
Cristianismo é um platonismo para o valorizam justamente a idéia de superação
povo” (1999, p.8), isto é, a sua mais de suas forças corporais, preconizando,
completa vulgarização axiológica, para tanto, a realização de atividades que
mediante um violento repúdio ao mundo proporcionem a concretização deste
concreto em que vivemos. Conforme objetivo, através da salutar
esclarece Scarlett Marton, competitividade. A agonística se
Incapaz de suportar a própria finitude, desenvolve por meio dessa consideração,
o homem concebeu a metafísica; na qual os membros de um grupo, ao
incapaz de tolerar a visão de pretenderem que prevaleça o melhor,
sofrimento imposta pela morte, promovem uma salutar disputa, na qual,
construiu o Cristianismo. Na tentativa em verdade, todos saem vencedores, pois
de negar este mundo em que nos cada competidor procura dar o melhor de si
achamos, a metafísica procurou forjar nessa interação de forças, esforço esse que
a existência de outro; durante séculos, amplia a vitalidade do corpo e proporciona
fez dele a sede e a origem dos valores. o florescimento de alegria do ânimo.
Perniciosa, ela postulou um mundo
verdadeiro, essencial, imutável, eterno. Para enriquecer essa questão, pensemos na
Desprezando o que ocorre aqui e idéia da “Boa Éris” de Hesíodo, que
agora, a religião cristã arquitetou a promove, por meio da emulação entre
vida depois da morte para redimir a rivais semelhantes, uma qualidade de
existência; assim, fabricou o reino de disputa que aprimora e fortalece o homem,
Deus para legitimar avaliações proporcionando assim o benefício da
humanas. Nefasta, ela levou os homens própria sociedade em que ele vive. Nos
a desejar ser de outro modo, querer
versos iniciais de Os Trabalhos e os Dias,
estar em outra parte. Para tentar
justificar a existência, foi desses meios Hesíodo enuncia as qualidades divinas da
que o homem se valeu: inventou o “Boa Éris”, afirmando que
pensar metafísico e fabulou a religião Esta desperta até o indolente para o
cristã. Mas o preço que teve que pagar trabalho:/ pois um sente desejo de
foi a negação do mundo, a condenação trabalho tendo visto/ o outro rico
da vida. Ao camuflar a dor, hostilizou apressado em plantar, semear e a/ casa
a vida; ao escamotear o sofrimento, beneficiar; o vizinho inveja ao vizinho
tratou o mundo como um erro a refutar apressado/ atrás de riqueza; boa Luta
(MARTON, 2001, p. 82). para os homens esta é;/ o oleiro ao
A catastrófica inversão de valores na oleiro cobiça, o carpinteiro ao
cultura ocidental, promovida pelo espírito carpinteiro/ o mendigo ao mendigo
inveja e o aedo ao aedo (vs. 20-26).
de ressentimento, seria a causa eficiente
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ressentimento: uma vez sendo vedada ao sua grotesca sensibilidade diante do seu
“fraco”, transfigurado como devoto infortúnio. Na concepção de Nietzsche,
religioso, a capacidade de reagir, ou, tanto Os sofredores são todos horrivelmente
melhor, de agir criativamente, ele se dispostos e inventivos, em matéria de
encontra na necessidade de idealizar a pretextos para seus afetos dolorosos;
existência de um código de conduta que eles fruem a própria desconfiança, a
proíbe a reação, a violência, justificando, cisma com baixezas e aparentes
moralmente, a sua natural impotência de prejuízos, eles revolvem as vísceras de
agir. Como expressão mais acabada da sua seu passado e seu presente, atrás de
constante fraqueza vital, esse homem histórias escuras e questionáveis, em
transfere o direito de punição para uma que possam regalar-se em uma
entidade metafísica, uma idéia de Deus suspeita torturante, e intoxicar-se de
seu próprio veneno de maldade – eles
dotada de traços vingativos, que
rasgam as mais antigas feridas, eles
concretizaria inapelavelmente a reparação sangram de cicatrizes há muito
dos atos do homem infiel, do pecador, na curadas, eles transformam em
dimensão espiritual (NIETZSCHE, 2000, malfeitores o amigo, a mulher, o filho
p. 52-54). Conforme podemos ver, o tipo e quem mais lhes for próximo (2000,
“ressentido”, ao legitimar os estatutos de p. 117)
uma tradição teológica de caráter
Nessas condições, o problema do
transcendente, vislumbra a existência de
entrelaçamento entre o ressentimento e a
uma noção de divindade radicalmente
moral religiosa decorreria diretamente da
discrepante em relação à idéia de um Deus
incapacidade do indivíduo se desvencilhar
pleno de amor, tal como preconizava a
das impressões psíquicas inadequadas para
mensagem evangélica de Jesus.
o florescimento saudável da vida. A
O código moral da casta sacerdotal cristã, memória, nesse tipo de relação, é
justamente por ser fruto do espírito de exercitada continuamente na sua acepção
ressentimento, do ódio contra a diferença, mais terrível possível, justamente para
não permite que o “fraco” dissolva fazer lembrar ao rebanho dos devotos a
precisamente o efeito desses mesmos experiência da dor (NIETZSCHE, 2000, p.
afetos “corrosivos” que se encontram no 53-54). Para que o fiel se liberte de tal
seu psiquismo. Esse problema gera uma distúrbio, o sacerdote impõe ao grupo de
situação incompatível com a autêntica devotos a plena submissão, através da
possibilidade de interação que poderia garantia de que Deus velará pelo benefício
existir entre a esfera do humano e a o de todos. Caso contrário, a divindade
divino, deturpada pela inserção de despejará sua ira contra o rebanho, cuja
mesquinharias pessoais e pela presença de imagem descritiva das ameaças da punição
disposições afetivas vis, no decorrer da eterna fica registradas na mente do fiel
prática religiosa, que acaba por se tornar justamente para que ele, no momento em
um pretexto para o indivíduo mascarar a que vislumbre agir contrariamente aos
sua decadência instintiva, a sua interesses da casta sacerdotal, se lembre do
degenerescência fisiológica, assim como a que o aguarda numa outra dimensão. A
sua instabilidade afetiva diante das memória reforça violentamente o
inúmeras atribulações cotidianas com as sentimento de medo do tipo “fraco” diante
quais se defronta. A moral religiosa se de causas imaginárias elaboradas por sua
torna uma espécie de fuga do “fraco” mente mediante os estímulos reativos
diante da sua impotência de agir proporcionados pelos manipuladores da
criativamente, de modo que ele se experiência religiosa.
aproveita dessa disposição para expressar a
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Essas questões que foram expostas têm derivados de uma causa externa, consistiria
como causa básica o ressentimento, o qual, no ato de se esquecer as impressões
conforme destacado anteriormente, decorre afetivas decorrentes dos encontros ruins
originalmente do excesso de atividade que não foram satisfatoriamente
mnemônica, da incapacidade do indivíduo assimilados pela mente (NIETZSCHE,
se livrar dos efeitos maléficos provenientes 2000, p.47-48). O esquecimento, segundo a
das impressões ruins no decorrer de sua filosofia nietzschiana, mitiga os efeitos do
vida prática. Para Roberto Machado, “O ressentimento na vida prática do homem,
ressentimento é o predomínio das forças ao retirar da consciência afetiva as
reativas sobre as forças ativas. O ressentido impressões ruins, que somente motivam a
é alguém que nem age nem reage formação de afetos degenerativos, tais
realmente; produz apenas uma vingança como o ódio, o rancor, o medo, dentre
imaginária, um ódio insaciável” outros, afetos que se caracterizam por
(MACHADO, 2001, p. 61). A impedirem o desenvolvimento pleno da
manifestação contínua de traços rancorosos vitalidade de um indivíduo. Esses afetos,
na afetividade humana promove o tal como podemos constatar na vida
enfraquecimento nervoso das condições prática, enfraquecem o nosso fluxo criador,
fisiológicas do corpo, o que caracteriza o que então passa a ser direcionado para a
ressentimento como uma espécie de rememoração intermitente dessas questões.
doença afetiva, que convém ser tratada Conforme vimos, tal tipo de
para que se torne possível a instauração de comportamento é próprio do tipo de
uma condição de vida mais favorável aos “homem escravo”, o qual, incapaz de
estados ativos de alegria. conviver de forma harmônica com o jogo
dos afetos (utilizando-os como uma
Quem sofre o distúrbio fisiológico do
espécie de instrumento para a sua ação), se
ressentimento visa alcançar a sua plena
deixa dominar por eles, sofrendo assim os
satisfação através da contemplação
seus terríveis revezes ao longo da sua vida.
deleitosa do tormento alheio, uma vez a
compensação da dor com a dor o satisfaz Quando desenvolvemos a capacidade de
intimamente (NIETZSCHE, 2000, p.41- esquecer, superamos o nível valorativo
42). Esta é a solução adotada pelos típico dos decadentes. O uso potente da
seguidores da moral dos homens “fracos”, faculdade do esquecimento estaria
do rebanho de seguidores. Contudo, vinculado principalmente ao tipo “nobre”,
Nietzsche apresenta outra possibilidade de cuja vida se desenvolve geralmente através
superação desses transtornos afetivos, por da formação de afetos saudáveis,
meio de uma circunstância muito mais efetivados pela supressão das ameaças do
adequada e satisfatória para o homem, que afloramento do ressentimento na sua
garantiria efetivamente o desabrochar da afetividade. Por não sofrer desse
felicidade e da criação: o uso da faculdade transtorno, o tipo “nobre” afirma a
do esquecimento, que podemos considerar singularidade criativa da sua capacidade de
como um dos grandes enunciados de sua agir, sendo dotado de uma inestimável
ética trágica, por favorecer uma estabilidade psíquica, de forma que
compreensão sadia e vitoriosa acerca da qualquer tipo de impressão “ruim” não
existência. consegue diminuir a potência da sua
vitalidade. Pelo contrário, essa qualidade
Da importância do esquecimento para a
de impressão somente proporciona o
vida
fortalecimento da sua própria estrutura
Podemos dizer que, segundo a perspectiva fisiológica, uma vez que esse tipo de
de Nietzsche, uma situação mais adequada homem retira das adversidades cotidianas
do que o ato de reagir aos estímulos da existência as energias vitais que
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visão de mundo pessimista, decadente, pois isto é, da vida. Através dessa associação de
ele perde os seus referenciais de ação forças, podemos dizer que o ressentimento
criadora, tornando-se um inepto na arte de é satisfatoriamente superado pelo homem,
interagir afirmativamente com os demais. evento esse que proporciona o
O ressentimento, ao minar lentamente a florescimento de uma compreensão
potência de agir de um indivíduo, faz com adequada da existência, livre dos
que ele se torne uma figura triste e transtornos motivados pelas mágoas, pelas
acabrunhada na sua existência. Esse tristezas adquiridas no decorrer da vida.
indivíduo, tomado pela tristeza, elabora
Considerações finais
uma compreensão extremamente miserável
da vida, problema demasiado prejudicial O grande problema do ressentimento na
para a saúde da sua própria estrutura vida humana decorre da incapacidade de
psicofisiológica (na acepção nietzschiana nos desvencilharmos do peso dos afetos
do termo), pois as impressões desses afetos tristes ao longo das experiências
na sua mente motivam graves problemas cotidianas. Acumuladas na mente humana,
na valoração acerca de sua conduta, tais afetos impedem o desenvolvimento do
truncando ainda as suas disposições para a fluxo criativo de um indivíduo, pois este se
ação. deixa levar pela preponderância dos
estados de declínio no seu psiquismo. Por
Dessa maneira, quando ocorre a grata não conseguir assimilar as experiências
associação entre a memória e o afetivas ruins, esse tipo de homem sofre,
esquecimento, adquirimos a capacidade de na sua mente, do efeito corrosivo dos
superar esses transtornos desagradáveis, sentimentos degenerativos da constituição
livrando a mente do estado de fisiológica, problema esse que motiva os
ressentimento e de seus malefícios mais lamentáveis acontecimentos ao longo
decorrentes. Podemos justificar essa ação da sua vida prática.
extraordinária pelo fato de que o
esquecimento, no exercício de suas Todavia, esses contratempos são
funções, seria muito mais poderoso do que razoavelmente superáveis, quando
a da memória. Contudo, devemos ressaltar desenvolvemos a capacidade de, mediante
que o esquecimento não pode atuar a interação entre o esquecimento e a
sozinho pela ampliação da nossa qualidade memória, realizarmos uma espécie de
de vida, pois que, destituído do caráter triagem dos conteúdos afetivos e
seletivo nas suas ações, ele poderia excluir impressões adquiridas no cotidiano: a
da nossa mente inclusive o que é favorável recordação que motiva a tristeza, o declínio
para a instauração de nosso bem-estar ou o rancor, é excluída pelo esquecimento;
afetivo, ou seja, as lembranças agradáveis. por sua vez, a lembrança que proporciona a
Nessas condições, o esquecimento se ampliação da vitalidade, o acréscimo de
tornaria tão prejudicial para o forças ou a própria alegria, deve ser
florescimento saudável da vida como a guardada adequadamente na memória, para
própria memória, pois que, quando que conceda sempre que necessário o
exacerbado, impede também que baseemos estímulo para a ação, mediante o exemplo
as nossas ações nos bons modelos de do sucesso do passado. Agindo desta
cultura, uma vez que tudo aquilo que maneira, nos capacitamos a desenvolver
adquiríssemos pela instrução seria uma espécie de ética trágica da existência,
rapidamente perdido pela mente. Portanto, tal como Nietzsche propôs ao longo de sua
a afetividade genuína do homem se obra. Vivendo os valores de uma ética
desenvolve quando a memória e o trágica, que abole os efeitos deletérios do
esquecimento atuam unidos em favor da ressentimento, adquirimos uma
ampliação da nossa capacidade de ação, compreensão da vida destituída de
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FREZZATTI JR, Wilson Antonio. A Fisiologia de PLATÃO. Fédon. Trad. de Maria Tereza Schiappa
Nietzsche: a superação da dualidade de Azevedo. Brasília: Editora da UnB, 2000.
cultura/biologia. Ijuí: Ed.Unijuí, 2006.
GIACÓIA JÚNIOR, Oswaldo. Nietzsche como
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