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Revista Urutágua – revista acadêmica multidisciplinar –

Nº 18 – mai./jun./jul./ago. 2009 – Quadrimestral – Maringá – Paraná – Brasil – ISSN 1519-6178

A questão do ressentimento na ética trágica de Nietzsche


Renato Nunes Bittencourt*

Resumo: Propomos neste artigo uma análise textual das passagens das obras de Nietzsche nas
quais se dedicam importantes considerações sobre a “psicologia” do ressentimento, em prol de
uma reflexão filosófica sobre tal disposição psíquica que tanto influenciou os rumos
axiológicos e morais de nossa civilização. O artigo expõe, conforme a interpretação de
Nietzsche sobre a história da cultura ocidental, que um dos principais sintomas da sua
decadência residiria no ressentimento, que se manifesta no indivíduo incapaz de criar valores
afirmativos da existência. Ao sofrer uma ofensa, tal indivíduo, impotente em reagir
efetivamente, desenvolve no seu íntimo o anseio por uma reparação imaginária, motivada pelo
sentimento de vingança. O ressentido sofre de enfraquecimento da vitalidade, e perde qualquer
tipo de vínculo efetivo com a realidade. Essa conduta é característica do que Nietzsche
denomina de “moral dos escravos”, que prevaleceu ao longo de nossa civilização ao subjugar a
“moral nobre”, adepta dos valores afirmativos da existência. A moral cristã seria a grande
responsável por essa situação, ao inverter a ordem dos valores ativos em vigor, depreciando-
os, enquanto os valores que, na acepção nobre seriam considerados como “decadentes”, foram
alçados ao patamar das grandes virtudes morais.
Palavras-chave: Nietzsche; Ressentimento; Vitalidade; Decadência; Fisiologia.
Abstract: We consider in this paper a literal analysis of the works of Nietzsche in which if
they dedicate important considerations on the “psychology” of the resentment, in favor of a
philosophical reflection on such psychic disposal that as much influenced the axiologics and
moral courses of our civilization. The paper displays, as the interpretation of Nietzsche on the
history of the occidental culture, who one of the main symptoms of its decay would inhabit in
the resentment, that if manifest in the individual incapable to create affirmative values of the
existence. When suffering an offence, such individual, impotent in reacting effectively,
develops in its soul the yearning for an imaginary repairing, motivated for the revenge feeling.
The resented one suffers from weakness of the vitality, and loses any type of effective bond
with the reality. This behavior is characteristic of what Nietzsche calls of “moral of the
slaves”, that took advantage throughout our civilization when overwheling the “noble moral”,
adept of the affirmative values of the existence. The Christian moral would be great
responsible for this situation, when inverting order of the active values in vigor, depreciating
them, while the values that, in the noble meaning would be considered as “declining”, they
had been elevated to the platform of the great moral virtues.
Keywords: Nietzsche; Resentment; Vitality; Decadence; Physiology.

*
Doutorando em Filosofia pelo PPGF-UFRJ. Professor Substituto do Departamento de Filosofia da UFRJ (2008)

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O problema do ressentimento na cultura significando o ato de se sentir novamente


ocidental uma determinada impressão motivada por
um estímulo externo violento na
A temática do ressentimento é certamente
afetividade pessoal. Esse processo
uma das questões nevrálgicas da filosofia
ocorreria da seguinte maneira: um
de Nietzsche, e é de grande pertinência
indivíduo, ao sofrer a impressão de uma
para a compreensão da vitalidade de seu
força externa, sente imediatamente esse
pensamento de que modo o ressentimento
contato, cuja afecção gera imediatamente
se manifesta no seio da cultura ocidental e
uma experiência psíquica. Todavia, em
influencia as suas valorações morais.
dadas circunstâncias, uma impressão pode
Propomos então, através desse artigo, uma
vir a gerar um efeito reativo e negativo em
análise textual de algumas passagens das
nossa afetividade, debilitando assim a
obras de Nietzsche nas quais se dedicam
força expansiva de nosso próprio
importantes considerações sobre a
psiquismo em decorrência de uma espécie
“psicologia” do ressentimento,
de entorpecimento das capacidades
favorecendo, na medida do possível, uma
criativas pessoais, pois ocorre uma espécie
reflexão filosófica sobre tal disposição
de “envenenamento psicológico”.
psíquica que tanto influenciou os rumos
Conforme veremos mais detalhadamente
axiológicos e morais de nossa civilização,
ao longo deste texto, o ressentimento
assim como os mecanismos
decorreria da incapacidade de interagirmos
psicofisiológicos que Nietzsche propõe
adequadamente com os signos da
como um possível recurso para que as
diferença, com os antagonismos, de
forças vitais e criativas se sobressaiam
maneira que, quando marcados por esse
sobre as disposições decadentes da
transtorno, tendemos a transferir a
existência, assoladas por tendências
responsabilidade de um acontecimento
ressentidas e rancorosas, que tanto são
para uma determinada causa externa,
prejudicais para os padecentes dessas
tornada simbolicamente culpada pela nossa
afecções, como também toda a realidade
fraqueza vital e por nosso próprio mal-
com as quais esses padecentes interagem
estar afetivo. O ressentido atribui a outrem
no cotidiano. Não pretendo neste escrito
a responsabilidade pelo que o faz sofrer, a
realizar uma suma acerca do tema do
quem delega em um momento anterior, o
ressentimento na obra de Nietzsche, mas
poder de decisão, de modo a poder culpá-
realçar alguns dos seus aspectos mais
lo caso venha a fracassar. Conforme
destacados, que favoreçam um
argumenta Maria Rita Kehl,
entendimento pertinente ao estudo
filosófico dessa questão. O ressentimento é uma doença que se
origina do retorno dos desejos
Podemos afirmar que o estado psíquico do vingativos sobre o eu. É a fermentação
ressentimento seria a expressão maior da da crueldade adiada, transmutada em
decadência da vitalidade humana, valores positivos, que envenena e
denunciada pelo pensador alemão intoxica a alma, que fica eternamente
especialmente na Genealogia da Moral. condenada ao não esquecimento (2004,
Todavia, antes de iniciarmos a p. 93-94).
problematização analítica do ressentimento O que caracteriza o tipo ressentido é que,
na filosofia de Nietzsche é importante ao sofrer essa impressão desagradável, ele
realizarmos uma breve análise semântica não se torna capaz de agir afirmativamente
acerca da palavra “ressentimento” no mediante ao estímulo externo sofrido,
contexto de nossa Língua Portuguesa. Tal assimilando positivamente essa
termo deriva do verbo “ressentir”, experiência, direcionando sua abertura

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pessoal para a participação efetiva em “escravo”, sempre “escravo”. Afinal, tal


novas interações. Dessa maneira, o compreensão retiraria o caráter
sentimento que se origina a partir dessa intrinsecamente dinâmico da vida,
impressão, ao invés de estimular a ação, conforme a tônica da filosofia trágica
motiva a inação, a interiorização nietzschiana. “Senhor” e “escravo” não são
psicológica desse indivíduo, cada vez definições axiológicas que se esgotam
menos disposto a expandir sua força vital numa significação de cunho social,
através da participação em circunstâncias representando os seus estamentos
que exigem o dispêndio de energias antagônicos que se confrontariam no
intrínsecas. Tal como Nietzsche destaca, decorrer do processo histórico tendo por
Todos os instintos que não se finalidade a preponderância de uma classe
descarregam pra fora, voltam-se para sobre a outra. Conforme a perspectiva
dentro – isto é o que eu chamo de nietzschiana revela, pode perfeitamente
interiorização do homem: é assim que haver pessoas socialmente desfavorecidas
no homem cresce o que depois se com muito mais disposições “nobres” (de
denomina sua “alma”. Todo o mundo modo que tais pessoas axiologicamente são
interior, originalmente delgado, como “nobres”), do que os nobres de nascimento
que entre duas membranas, foi se que jamais fizeram uso de quaisquer
expandindo e se estendendo, disposições valorativas mais elevadas. Um
adquirindo profundidade, largura e escravo propriamente dito, livre do
altura, na medida em que o homem foi
ressentimento e do seu inerente mal-estar
inibido em sua descarga para fora
(NIETZSCHE, 2000, p. 73). psíquico, é uma pessoa mais “nobre” e
digna eticamente do que o seu opressor
Nietzsche desenvolve a hipótese da social, que é “oprimido”, todavia, pela
coexistência de dois tipos básicos de incontinência das suas inclinações pessoais
valoração da vida ao longo da formação e dos seus afetos tortuosos. Por
histórica da civilização ocidental: a “moral conseguinte, tais valorações se referem ao
dos senhores” e a “moral dos escravos”, modo como um dado indivíduo desenvolve
tipologia axiológica enunciada no § 260 de ao longo de sua vida o fluxo de seu ímpeto
Além do bem e do mal: criativo, mediante as interações com outros
Numa perambulação pelas muitas corpos. “Nobre” e “escravo” são símbolos
morais, as mais finas e as mais psicológicos que representam as
grosseiras, que até agora dominaram e disposições afetivas e axiológicas de uma
continuam dominando na terra, pessoa perante o seu modo de agir
encontraremos traços que regularmente cotidianamente em suas interações com o
retornam juntos e ligados entre si: até mundo circundante. Nessas condições,
que finalmente se revelaram dois tipos uma pessoa manifesta uma qualidade
básicos, e uma diferença sobressaiu: há
“nobre” pela sua capacidade de fazer
uma moral de senhores e uma moral
de escravos (NIETZSCHE, 1999, p.
prevalecer na sua existência os afetos que
172). favorecem a ampliação de sua força vital,
de sua vontade criadora, requalificando
Antes de tudo, é imprescindível assim os seus afetos decadentes (ódio,
esclarecermos que os termos “senhor” e raiva, medo etc.), em afetos
“escravo”, na filosofia de Nietzsche, não se psicofisiologicamente saudáveis, que
referem necessariamente a tipos humanos estimulam a superação dos limites da
rigidamente delimitados concretamente e vitalidade do seu corpo. Certamente tal
definidos de antemão, como se porventura pessoa também porta consigo afetos
o indivíduo que denominamos como degenerativos, mas, no entanto, sabe
“senhor” fosse sempre “senhor”, e o tipo conviver com eles em seu âmago,

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transformando-os em possibilidade e complexidade das relações das suas forças


estímulo para a ação. A tipologia vitais.
“escrava”, por sua vez, representaria a A rebelião escrava na moral começa
disposição psicológica de um indivíduo quando o próprio ressentimento se
que deixa prevalecer na sua vida os afetos torna criador e gera valores: o
decadentes, que impedem uma ressentimento dos seres aos quais é
compreensão positiva da existência, negada a verdadeira reação, a dos atos,
pautada na afirmação da potência criativa e que apenas por uma vingança
intrínseca. Dessa maneira, a valoração imaginária obtêm reparação. Enquanto
“escrava” motiva a repressão da vitalidade toda moral nobre nasce de um
fisiológica, fato este que mitiga a triunfante Sim a si mesma, já de início
capacidade do indivíduo que se encontra a moral escrava diz Não a um “fora”,
um “outro”, um “não-eu” – e este não
nesse estado de forças agir criativamente
é seu ato criador. Essa inversão do
ao longo de sua existência, vilipendiando olhar que estabelece valores – este
então tudo aquilo que coadune com os necessário dirigir-se para fora, em vez
aspectos da saúde e da força como estados de voltar-se para si – é algo próprio do
deploráveis do ponto de vista da ressentimento: a moral escrava sempre
consciência moral. Podemos ainda dizer: a requer, para nascer, um mundo oposto
idéia de “nobre” e “escravo” em Nietzsche e exterior, para poder agir em absoluto
se afasta categoricamente – sua ação é no fundo reação
(NIETZSCHE, 2000, p.28-29).
Após esses esclarecimentos, há ainda algo
muito importante a se salientar no Há que se ressaltar que mesmo o “nobre”
desenvolvimento dessa questão: reside no valorativo nietzschiano mantém no seu
fato de que a tipologia afetiva estabelecida psiquismo elementos “fracos”, enquanto o
por Nietzsche na sua análise do tipo “escravo”, ressentido, também pode
ressentimento não se pauta em relações conter disposições afetivas e axiológicas
dualistas de forças vitais, como se mais potentes, somente não conseguindo
houvesse uma personalidade que pudesse dar vazão ao quantum de forças vitais
ser denominada categoricamente como concentradas no seu âmago. Como a
“forte” ou “fraca”. Um tipo psicológico é tipologia do ressentimento é o foco de
considerado “forte” ou “nobre” quando nossa atenção neste escrito, cabe que nos
consegue prevalecer as suas valorações detenhamos na interpretação acerca das
ativas sobre as “reativas” e “decadentes”, particulares inerentes ao seu sistema de
circunstância que denota a confluência das valoração e posicionamento diante da
duas disposições vitais no seu organismo; realidade e do fluxo vital dos seus
já a tipologia da “fraqueza” denota a processos fisiológicos em constante
predominância das valorações depressivas processo de seleção e assimilação de
e/ou reativas sobre as fortes, criativas, qualidades e energias. Uma definição clara
expansivas e assimiladoras, motivando do termo “fisiologia”, na perspectiva
assim o empobrecimento da capacidade nietzschiana, é dada por Wilson Frezzatti
interativa daquele que é afetado por tal Jr. (2006, p.102, n. 15) como a
disposição. De acordo com Nietzsche, da configuração de impulsos, em luz por
“moral dos senhores” e da “moral dos potência. Podemos tomar a liberdade de
escravos” derivariam atitudes e valorações dizer, de acordo com o enfoque
diametralmente opostas entre si no tocante nietzschiano, que a única “atividade”
ao modo de conduta pelos quais os seus perpetrada pelo tipo “ressentido”
respectivos enfoques axiológicos acerca da consistiria em relembrar continuamente os
maneira pela que é elaborada a seus afetos, que retornam, nalgumas vezes,
numa intensidade ainda mais poderosa do

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que o afeto derivado da impressão original. ao próprio fraco (NIETZSCHE, 2001,


Em linhas gerais, esta seria a p.30-31).
sintomatologia básica do ressentimento. Talvez o traço mais polêmico da
Vejamos então as implicações dessa investigação de Nietzsche sobre o
questão na filosofia de Nietzsche, problema da inoculação do ressentimento
conforme o projeto inicial do presente na vida humana decorra da idéia de que
texto. esse distúrbio se manifestaria em sua
Nietzsche, na Genealogia da Moral, forma mais potente na história da cultura
considera que a manifestação do ocidental através do advento da religião
ressentimento nas valorações da cristã institucionalizada teologicamente,
civilização ocidental seria uma das pois esta, para se consolidar no seio de
principais evidências da sua decadência nossa civilização, teria necessitado inverter
criativa (2000, p. 28-31). Esse estado de a qualidade afirmativa dos valores
declínio vital se caracteriza pela “pagãos” (greco-romanos) até então em
incapacidade do indivíduo ressentido se vigor, que privilegiavam a saúde, uma
desvencilhar das impressões afetivas compreensão refinada da sensualidade e a
avaliadas como ruins que estão registradas legitimação da corporeidade, em favor de
dolorosamente na sua estrutura uma disposição ascética doentia. Se
psicofisiológica. Mais ainda, devido ao retrocedermos alguns séculos ao
caráter de passividade peculiar do tipo surgimento da valoração moral cristã,
ressentido, as recordações ruins tornam a perceberemos que a dissolução da
aflorar na sua mente continuamente, afirmação trágica da existência já ocorre a
motivando a degenerescência de suas partir do surgimento do pensamento
forças vitais, uma vez que é abalada a socrático-platônico e a formulação do ideal
estabilidade de sua estrutura psíquica, pois teórico da existência, no qual a
que nesse ato de lembrar novamente as racionalidade se distancia dos afetos,
vivências passadas, o indivíduo consome tornando-se fria e desvinculada do plano
vorazmente a sua força vital. Nessas da imanência (NIETZSCHE, 1993, p. 92-
condições, o ressentido perde a capacidade 93). É justamente a fuga dos instintos, que
plástica de criar o novo, tornando-se, por têm lugar no corpo, e a hipertrofia da
conseguinte, um indivíduo decadente razão, que levaram à negação da vida tal
existencialmente, destituído de sua como ela se apresenta (BORGES &
vitalidade intrínseca. A única “atividade” OLIVEIRA, 2008, p. 64). Segundo a
do tipo ressentido, para Nietzsche, se reduz interpretação nietzschiana, a cultura grega
a uma mórbida rememoração de vivências alcança o seu máximo de forças criativas
dolorosas: através da harmonia conflitante entre o
impulso apolíneo (moderação e
O aborrecimento, a suscetibilidade
autoconsciência) e o impulso dionisíaco
doentia, a impotência de vingança, o
desejo, a sede de vingança, o revolver (desmedida e legitimação da alteridade),
venenos em todo sentido – para os princípios naturais que, materializados
exaustos é esta certamente a forma culturalmente na antiga Hélade após um
mais nociva de reação: produz um período de divergências, interagiram entre
rápido consumo de energia nervosa, si, proporcionando a criação da Tragédia
um aumento doentio de secreções Ática, autêntica celebração estética e
prejudiciais, de bílis no estômago, por religiosa da vida na qual a existência como
exemplo. O ressentimento é o proibido um todo era divinizada, para além de
em si para o doente. (...) O qualquer conotação moral de mundo.
ressentimento, nascido da fraqueza, Entretanto, a racionalidade socrático-
não é prejudicial a ninguém mais que
platônica rompe esse laço primordial da

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vida grega, vislumbrando uma elevação conseguinte, ele projeta a infelicidade


espiritual que coloca a corporeidade em como responsabilidade de outrem,
um nível axiológico inferior ao da alma, tendo, como pano de fundo, a
preparando assim o terreno para a difusão necessidade de se sentir como bom.
da moral cristã. Dessa maneira, conforme (AZEREDO, 2003, p. 104).
Nietzsche destaca, o que era considerado Essa transformação radical dos valores,
“bom” na cultura trágica dos gregos, passa conforme Nietzsche apresenta, decorreria
a ser considerado “mau” na civilização da insatisfação da moralidade coletiva
cristã (e no pensamento socrático- diante das condições vitais até então
platônico), e o que era considerado “mau” estabelecidas, pois os valores vigentes na
na cultura trágica, passa a ser considerado Antigüidade grega da cultura olímpica e da
“bom” na civilização cristã (NIETZSCHE, era trágica preconizavam a beleza, a saúde
2000, p.30-31). É possível identificarmos do corpo e a afirmação da vida como
uma disposição ressentida no pensamento virtudes primordiais da existência, virtudes
socrático-platônico em relação ao corpo e a que, conforme podemos constatar através
vida, especialmente no Fédon, mediante a da leitura das epopéias homéricas, se
idéia de que o corpo é o túmulo da alma e associavam ao plano da imanência,
que viver é estar constantemente enfermo, dignificando assim a existência humana.
e só a morte libera o homem sábio das Tanto Aquiles como Heitor, ambos
cadeias da sensibilidade; aliás, a própria inimigos figadais, são enaltecidos em
Filosofia é considerada como um exercício diversos momentos da Guerra de Tróia
para a morte, pois adestra o domínio (Ilíada, Canto IX, no qual se relatam as
racional sobre as paixões, mitigando honras em favor de Aquiles, para que este
progressivamente todos os apelos sensíveis retorne ao combate; Canto XXII, vs. 109-
do homem (PLATÃO, 2000, 118a; 82d- 130, nos quais Heitor pondera sobre a
83b). Há que se ressaltar, todavia, que a necessidade de afirmar sua dignidade em
moralidade cristã potencializa ainda mais qualquer circunstância), e mesmo a morte
esse espírito de rancor contra a existência, de Heitor pelas mãos do seu implacável
considerando toda boa constituição vital rival é um evento glorioso que recebe as
como substancialmente “má”. A valoração homenagens sagradas (Canto XXIV, vs.
ressentida sempre parte primeiramente de 782-804); mais ainda, cada grande herói
uma avaliação do outro, do forte e épico (Diomedes, Menelau, Agamêmnon,
saudável como “má”, para em seguida se Pátroclo) merece o seu momento de
autoproclamar como a “boa”, enquanto na destaque (“aristia”), para que se
valoração forte, nobre, primeiro ocorre a evidenciem as suas qualidades agonísticas
avaliação pessoal como “boa”, para se ver (Ilíada, Cantos V, XI, XVI e XVII,
o “fraco”, o desvitalizado, como “mau”, respectivamente). Odisseu, o herói que luta
isso é, o desprezível, pois que tal tipo para retornar ao lar após anos de ausência,
pessoal não é apto a participar de contínuas mantém sua beleza e fortaleza de ânimo
atividades agonísticas. Segundo os graças ao beneplácito de Atena (um
comentários de Vânia Dutra de Azeredo, exemplo se encontra na Odisséia, Canto
Como a impotência do ressentido o VI, vs. 227-235). Em todas essas
impede de realizar qualquer atividade, circunstâncias não há quaisquer
ele espera que os outros a realizem por considerações morais de valor acerca dos
ele. No momento em que isso não seus atributos: a coragem e o amor pela
acontece, procura alguém para culpar glória torna-os todos “bons”. Entretanto,
por não conseguir o que deseja, através da consolidação da filosofia
principalmente pela sua dor e socrático-platônica no mundo antigo,
sofrimento. A frustração conseqüente, ocorre uma radical mudança de perspectiva
porém, lhe desagrada e, por

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axiológica em relação aos valores épicos e daquilo que Nietzsche denomina como a
trágicos. As virtudes do corpo, associadas formação da “má consciência”, pois o tipo
na cultura homérica aos caracteres viris e “fraco”, incapaz de interagir
heróicos, e a afirmação trágica da afirmativamente com o tipo “forte”,
existência, são suplantadas, na perspectiva pretende se desvencilhar da
socrático-platônica, pelas virtudes da responsabilidade de sua própria impotência
consciência interior, e exacerbadas ainda de agir, denominando, consequentemente,
mais com o advento da moral cristã, que aquele que o sobrepuja numa interação
estabelece a expectativa por uma vida baseada na qualidade de forças como o
eterna no Paraíso destinada aos justos e culpado moral maior pelo seu próprio
puros. Entre o platonismo e o Cristianismo declínio vital (NIETZSCHE, 2000, p. 69-
haveria uma curta distância de ideais e de 71). Por outro lado, podemos dizer que,
valores. Tal como observado por Nietzsche numa perspectiva afirmativa da existência,
no Prólogo de Além do Bem e do Mal, “o os indivíduos inseridos em tal categoria
Cristianismo é um platonismo para o valorizam justamente a idéia de superação
povo” (1999, p.8), isto é, a sua mais de suas forças corporais, preconizando,
completa vulgarização axiológica, para tanto, a realização de atividades que
mediante um violento repúdio ao mundo proporcionem a concretização deste
concreto em que vivemos. Conforme objetivo, através da salutar
esclarece Scarlett Marton, competitividade. A agonística se
Incapaz de suportar a própria finitude, desenvolve por meio dessa consideração,
o homem concebeu a metafísica; na qual os membros de um grupo, ao
incapaz de tolerar a visão de pretenderem que prevaleça o melhor,
sofrimento imposta pela morte, promovem uma salutar disputa, na qual,
construiu o Cristianismo. Na tentativa em verdade, todos saem vencedores, pois
de negar este mundo em que nos cada competidor procura dar o melhor de si
achamos, a metafísica procurou forjar nessa interação de forças, esforço esse que
a existência de outro; durante séculos, amplia a vitalidade do corpo e proporciona
fez dele a sede e a origem dos valores. o florescimento de alegria do ânimo.
Perniciosa, ela postulou um mundo
verdadeiro, essencial, imutável, eterno. Para enriquecer essa questão, pensemos na
Desprezando o que ocorre aqui e idéia da “Boa Éris” de Hesíodo, que
agora, a religião cristã arquitetou a promove, por meio da emulação entre
vida depois da morte para redimir a rivais semelhantes, uma qualidade de
existência; assim, fabricou o reino de disputa que aprimora e fortalece o homem,
Deus para legitimar avaliações proporcionando assim o benefício da
humanas. Nefasta, ela levou os homens própria sociedade em que ele vive. Nos
a desejar ser de outro modo, querer
versos iniciais de Os Trabalhos e os Dias,
estar em outra parte. Para tentar
justificar a existência, foi desses meios Hesíodo enuncia as qualidades divinas da
que o homem se valeu: inventou o “Boa Éris”, afirmando que
pensar metafísico e fabulou a religião Esta desperta até o indolente para o
cristã. Mas o preço que teve que pagar trabalho:/ pois um sente desejo de
foi a negação do mundo, a condenação trabalho tendo visto/ o outro rico
da vida. Ao camuflar a dor, hostilizou apressado em plantar, semear e a/ casa
a vida; ao escamotear o sofrimento, beneficiar; o vizinho inveja ao vizinho
tratou o mundo como um erro a refutar apressado/ atrás de riqueza; boa Luta
(MARTON, 2001, p. 82). para os homens esta é;/ o oleiro ao
A catastrófica inversão de valores na oleiro cobiça, o carpinteiro ao
cultura ocidental, promovida pelo espírito carpinteiro/ o mendigo ao mendigo
inveja e o aedo ao aedo (vs. 20-26).
de ressentimento, seria a causa eficiente

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Contudo, devemos ressaltar que, nessa necessitará da civilização, da moral


perspectiva, não existiria a pretensão de inclusive, pois verá em todo lugar – na
um indivíduo prevalecer hegemonicamente vida, no mundo, no próprio corpo – o
sobre o outro, posto que, se tal fato “Reino do Mal” (2006, p. 112)
ocorresse, as disputas cessariam, Há que se ressaltar que a própria idéia
impossibilitando a renovação e a pessimista de que o mundo no qual
ampliação das forças dos competidores, vivemos seria um grande “vale de
motivando, consequentemente, o declínio lágrimas” (Sl 64, 7), idéia perpetuada pelos
da vitalidade humana. Esse evento versos iniciais do célebre hino católico
agradaria profundamente a perspectiva dos Salve Regina, comprova adequadamente a
“fracos”, que renunciam a qualquer afirmação de que a nossa vida física é
qualidade de disputa, em favor de uma ontologicamente degradada e que nós
pretensa conservação da vida, a qual, na humanos somos miseráveis de nascença,
verdade, motivaria o aniquilamento da cabendo-nos apenas aguardar
mesma, pois é justamente o aprimoramento piedosamente a clemência divina:
da vitalidade corporal que proporciona o
Salve Rainha, mãe de misericórdia,
desenvolvimento da saúde individual.
Vida, doçura, esperança nossa, salve!
Como adendo ao problema exposto,
devemos salientar que o “ressentido” A vós bradamos os degredados filhos
vislumbra a idéia de permanência do ser e de Eva.
da existência em todas as perspectivas A vós suspiramos, gemendo e
possíveis: na própria tentativa de conservar chorando
a força do corpo, conforme dito Neste vale de lágrimas.
anteriormente, e no anseio de que exista
uma dimensão considerada perfeita, na Essa situação de desprezo pela existência é
qual não exista mais qualquer tipo de extraordinariamente contrária ao projeto de
transformação. Ao se considerar, na uma religião da imanência tal como a
perspectiva do ressentimento, que o mundo vivenciada pelos gregos da era pré-
concreto não possui uma beleza intrínseca socrática, pois essa prática religiosa que
e um grau de perfeição autêntico, seus proporcionava ao seu praticante a
adeptos, legitimando tal posicionamento, aquisição de uma serenidade e alegria nas
postulam a existência de um mundo supra- suas disposições de ânimo através da
sensível como contraponto ao físico. Nesse contemplação da beleza da divindade,
projeto, a dimensão supra-sensível não é considerando que o mundo seria expressão
considerada uma espécie de complemento do seu resplandecente reflexo, de maneira
do mundo físico, mas a sua antítese que o homem se sentiria unificado com a
irreconciliável, pois a sensibilidade é potência da natureza. Na arcaica
imputada como corruptível e pecaminosa, religiosidade grega, nada há que lembre
e o mundo o palco do triunfo dos homens ascese, espiritualidade e dever, aqui só fala
vis, apegados aos ditos prazeres vulgares uma opulenta e triunfante existência, onde
da carne. Comentando a problemática tudo o que se faz presente é divinizado,
levantada por Nietzsche, Wilson Frezzatti seja bom ou mau (NIETZSCHE, 1993,
Jr. afirma que p.35-36). Destaquemos que, numa
perspectiva diametralmente oposta, uma
Quanto mais um homem aceita seus religião cuja base teológica se fundamente
impulsos, em sua rudeza e crueza,
através de uma axiologia de caráter
menos é domesticado e mais elevado é
a cultura da qual faz parte. No sentido
transcendente, pelo contrário, retira do
inverso, quanto mais um homem é mundo cotidiano a própria justificação da
medíocre, fraco, servil e covarde, mais vida, através da separação da esfera do

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sensível (inferior) e do espiritual se come frio”, diz o vulgo. A vingança


(superior). Eis, apresentada de maneira deve ocorrer depois de um espaço de
breve, uma hipótese nietzschiana para o tempo durante o qual o contra-ataque
desenvolvimento da idéia de um mundo da vítima fica como que em suspenso,
adiado, mas nunca renunciado,
supra-sensível, não por um ato valorativo
alimentado pela raiva, ou pela
de afirmação da vida, mas da tentativa de impossibilidade do esquecimento de
supressão rigorosa da mesma. Este uma raiva passada. Entretanto, no
empreendimento de negação do mundo, ressentimento, o tempo da vingança
capitaneado pela insalubre moral do nunca chega. O ressentido é tão
ressentimento, ocasionará circunstâncias incapaz de vingar-se quanto foi
ainda mais grotescas para a expansão impotente em reagir imediatamente aos
saudável da vida, conforme veremos no agravos e às injustiças sofridas”
próximo tópico. (KEHL, 2004, p. 14).

O entrelaçamento entre o ressentimento No entanto, uma vez que em diversas


e o espírito de vingança circunstâncias a ansiada justiça temporal
jamais se concretiza, para profunda
De acordo com a perspectiva nietzschiana, decepção da figura ofendida (incapaz de se
o estado de ressentimento se manifesta na defender através da elevação de seu
sua forma mais pestilenta quando o processo de forças vitais), esse indivíduo,
indivíduo “fraco”, mediante a sua por demonstrar a presença predominante
reconhecida impossibilidade de superar as de um comportamento desprovido de
suas limitações pessoais, assim como de ímpeto criativo nas suas mais diversas
interagir, na sua vida concreta, com os ações, deposita as suas esperanças na
níveis de forças dos seus adversários, afirmação de uma esfera de moralidade
desenvolve na sua engenhosa imaginação perfeita e eqüitativa, o mundo divino, que
uma série de causas puramente ilusórias, exerce rigorosamente a justiça que não é
nas quais considera que, enfim, viria a alcançada na imanência da vida concreta.
ocorrer uma punição ao agressor, o forte. Nesta perspectiva, a constância de uma
Todavia, há que se ressaltar que essa vida segmentada na retidão da virtude
punição não nasceria através de uma ação moral é considerada como condição
efetiva, real, que fizesse fazer valer a sua indispensável para que se torne possível o
própria força, mas tão somente através da alcance da plenitude, enquanto o vício
fantasia da imaginação, restringindo-se, moral, por outro lado, é punido
portanto, na satisfação mórbida de seu implacavelmente pela autoridade de fé.
próprio íntimo no regalo do sofrimento do Inclusive, podemos considerar que a noção
seu inimigo (NIETZSCHE, 2000, p.39-43). de pecado seria outro marcante efeito do
Como o tipo “fraco” se encontra na ressentimento no desenvolvimento da
incapacidade de reagir de modo efetivo ao moralidade teológica, posto que o
longo dos eventos constituintes de sua vida legislador religioso, como forma de evitar
prática, a solução mais viável para que ele a prática de ações contrárias aos seus
obtenha uma espécie de satisfação pessoal ideais, postula uma série de regras de
nessa situação deplorável, consiste no conduta que, sendo contrariadas,
desenvolvimento da crença de que a desfavorecem a concretização dos seus
agressão por ele sofrida poderá obter interesses particulares. Dessa maneira se
reparação por algum aparato legal numa origina o sentimento de transgressão ao
oportunidade posterior. Para Maria Rita mandamento religioso, o pecado, que deve
Kehl, ser purgado da alma o mais imediatamente
A vingança decorre da falta de resposta
possível, para que o juízo divino seja
imediata ao agressor: é “um prato que benevolente para com o homem, ser finito

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e orientado segundo os ditames aceitarem a verdade divina desses


transcendentes. Como destacado de modo mandamentos, por outro lado, sofrerão
perspicaz por Nietzsche, “Deus perdoa sanções no mundo supra-sensível.
quem faz penitência, isto é, quem se Esse tipo de comportamento intolerante
submete ao sacerdote” (2007, p. 33). seria um grave sintoma do espírito de
Certamente o aspecto mais grave adquirido vingança contra a vida, e também uma
por essa perspectiva se manifesta quando o manifestação da incapacidade do homem
tipo de homem ressentido, adquirindo o comum de conviver adequadamente com
poder espiritual na casta sacerdotal, indivíduos que adotem outras perspectivas
vislumbra adquirir o poder sobre o rebanho valorativas ao longo das suas práticas
de seguidores através do sentimento de cotidianas. O ressentimento impossibilita
medo. Esse procedimento ocorreria da ao indivíduo que sofre desse transtorno
seguinte forma: o adepto dessa crença afetivo desenvolver uma relação de
religiosa, ao pretender agir contrariamente alteridade com os homens que não são
ao estabelecido pelas normas sacerdotais, adeptos de sua visão de mundo, reservando
pondera meticulosamente sobre se é para eles, portanto, todas as suas mais
pertinente ou não de agir desse modo. Por ríspidas invectivas. Esse procedimento do
justamente temer sofrer sanções das esferas homem ressentido, decorrente de sua
transcendentes, esse indivíduo abdica de compreensão parcial da realidade,
agir de acordo com suas inclinações, nalgumas circunstâncias pode vir a motivar
rebaixando-se humildemente aos valores a formação, nas suas disposições de ânimo,
morais estabelecidos por seus líderes. Este de um sentimento ilusório de superioridade
é o sistema de conduta existente entre os em relação aos demais, justamente por
membros de uma determinada religião que considerar que a sua visão de mundo é
venha a exercer o seu controle moral por mais perfeita do que a adotada pelos
esse viés. Todavia, devemos ressaltar que outros.
tal comportamento se exacerba ainda mais Como complemento dessas questões
quando se trata das ameaças contra o levantadas, podemos dizer que a
“outro”, o diferente, pois uma das elaboração da idéia da existência do
características do ressentido consiste em Inferno como local de expiação da
não aceitar as qualidades do indivíduo iniquidade seria uma das mais grotescas
cujos valores e condutas se manifestam criações do espírito de ressentimento
como discrepantes em relação ao seu contra a divergência, contra todo tipo de
próprio modo de viver. Esse sentimento de ação que vai de encontro aos interesses e
desvalorização das qualidades alheias, valores teológicos instituídos
considerado no âmbito religioso, motiva a dogmaticamente pela estrutura dominante
formação do preconceito do devoto de um dos sacerdotes. É a partir de tal perspectiva
dado credo a acreditar que a verdade se que Nietzsche ironiza o fato de Dante
encontra apenas no seu credo, e que os Alighieri ter colocado no portal do
indivíduos seguidores das demais religiões “Inferno” de sua Divina Comédia a
ainda não alcançaram a autêntica luz da inscrição “Também a mim criou o eterno
divindade. Contudo, ao invés de amor” (DANTE, “Inferno”, III, vs. 5-6),
permanecer satisfeito com esse sentimento quando na verdade seria mais justificado
de crença nos seus próprios valores, esse dizer “Também a mim criou o eterno ódio”
indivíduo procura impor a sua própria fé (NIETZSCHE, 2000, p. 40). Esta seria
aos demais, por considerar que somente uma das mais funestas conseqüências do
desse modo os demais homens, os entrelaçamento da religião de caráter
descrentes e infiéis, poderão obter a transcendente com o espírito de
salvação espiritual. Aqueles que não

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ressentimento: uma vez sendo vedada ao sua grotesca sensibilidade diante do seu
“fraco”, transfigurado como devoto infortúnio. Na concepção de Nietzsche,
religioso, a capacidade de reagir, ou, tanto Os sofredores são todos horrivelmente
melhor, de agir criativamente, ele se dispostos e inventivos, em matéria de
encontra na necessidade de idealizar a pretextos para seus afetos dolorosos;
existência de um código de conduta que eles fruem a própria desconfiança, a
proíbe a reação, a violência, justificando, cisma com baixezas e aparentes
moralmente, a sua natural impotência de prejuízos, eles revolvem as vísceras de
agir. Como expressão mais acabada da sua seu passado e seu presente, atrás de
constante fraqueza vital, esse homem histórias escuras e questionáveis, em
transfere o direito de punição para uma que possam regalar-se em uma
entidade metafísica, uma idéia de Deus suspeita torturante, e intoxicar-se de
seu próprio veneno de maldade – eles
dotada de traços vingativos, que
rasgam as mais antigas feridas, eles
concretizaria inapelavelmente a reparação sangram de cicatrizes há muito
dos atos do homem infiel, do pecador, na curadas, eles transformam em
dimensão espiritual (NIETZSCHE, 2000, malfeitores o amigo, a mulher, o filho
p. 52-54). Conforme podemos ver, o tipo e quem mais lhes for próximo (2000,
“ressentido”, ao legitimar os estatutos de p. 117)
uma tradição teológica de caráter
Nessas condições, o problema do
transcendente, vislumbra a existência de
entrelaçamento entre o ressentimento e a
uma noção de divindade radicalmente
moral religiosa decorreria diretamente da
discrepante em relação à idéia de um Deus
incapacidade do indivíduo se desvencilhar
pleno de amor, tal como preconizava a
das impressões psíquicas inadequadas para
mensagem evangélica de Jesus.
o florescimento saudável da vida. A
O código moral da casta sacerdotal cristã, memória, nesse tipo de relação, é
justamente por ser fruto do espírito de exercitada continuamente na sua acepção
ressentimento, do ódio contra a diferença, mais terrível possível, justamente para
não permite que o “fraco” dissolva fazer lembrar ao rebanho dos devotos a
precisamente o efeito desses mesmos experiência da dor (NIETZSCHE, 2000, p.
afetos “corrosivos” que se encontram no 53-54). Para que o fiel se liberte de tal
seu psiquismo. Esse problema gera uma distúrbio, o sacerdote impõe ao grupo de
situação incompatível com a autêntica devotos a plena submissão, através da
possibilidade de interação que poderia garantia de que Deus velará pelo benefício
existir entre a esfera do humano e a o de todos. Caso contrário, a divindade
divino, deturpada pela inserção de despejará sua ira contra o rebanho, cuja
mesquinharias pessoais e pela presença de imagem descritiva das ameaças da punição
disposições afetivas vis, no decorrer da eterna fica registradas na mente do fiel
prática religiosa, que acaba por se tornar justamente para que ele, no momento em
um pretexto para o indivíduo mascarar a que vislumbre agir contrariamente aos
sua decadência instintiva, a sua interesses da casta sacerdotal, se lembre do
degenerescência fisiológica, assim como a que o aguarda numa outra dimensão. A
sua instabilidade afetiva diante das memória reforça violentamente o
inúmeras atribulações cotidianas com as sentimento de medo do tipo “fraco” diante
quais se defronta. A moral religiosa se de causas imaginárias elaboradas por sua
torna uma espécie de fuga do “fraco” mente mediante os estímulos reativos
diante da sua impotência de agir proporcionados pelos manipuladores da
criativamente, de modo que ele se experiência religiosa.
aproveita dessa disposição para expressar a

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Essas questões que foram expostas têm derivados de uma causa externa, consistiria
como causa básica o ressentimento, o qual, no ato de se esquecer as impressões
conforme destacado anteriormente, decorre afetivas decorrentes dos encontros ruins
originalmente do excesso de atividade que não foram satisfatoriamente
mnemônica, da incapacidade do indivíduo assimilados pela mente (NIETZSCHE,
se livrar dos efeitos maléficos provenientes 2000, p.47-48). O esquecimento, segundo a
das impressões ruins no decorrer de sua filosofia nietzschiana, mitiga os efeitos do
vida prática. Para Roberto Machado, “O ressentimento na vida prática do homem,
ressentimento é o predomínio das forças ao retirar da consciência afetiva as
reativas sobre as forças ativas. O ressentido impressões ruins, que somente motivam a
é alguém que nem age nem reage formação de afetos degenerativos, tais
realmente; produz apenas uma vingança como o ódio, o rancor, o medo, dentre
imaginária, um ódio insaciável” outros, afetos que se caracterizam por
(MACHADO, 2001, p. 61). A impedirem o desenvolvimento pleno da
manifestação contínua de traços rancorosos vitalidade de um indivíduo. Esses afetos,
na afetividade humana promove o tal como podemos constatar na vida
enfraquecimento nervoso das condições prática, enfraquecem o nosso fluxo criador,
fisiológicas do corpo, o que caracteriza o que então passa a ser direcionado para a
ressentimento como uma espécie de rememoração intermitente dessas questões.
doença afetiva, que convém ser tratada Conforme vimos, tal tipo de
para que se torne possível a instauração de comportamento é próprio do tipo de
uma condição de vida mais favorável aos “homem escravo”, o qual, incapaz de
estados ativos de alegria. conviver de forma harmônica com o jogo
dos afetos (utilizando-os como uma
Quem sofre o distúrbio fisiológico do
espécie de instrumento para a sua ação), se
ressentimento visa alcançar a sua plena
deixa dominar por eles, sofrendo assim os
satisfação através da contemplação
seus terríveis revezes ao longo da sua vida.
deleitosa do tormento alheio, uma vez a
compensação da dor com a dor o satisfaz Quando desenvolvemos a capacidade de
intimamente (NIETZSCHE, 2000, p.41- esquecer, superamos o nível valorativo
42). Esta é a solução adotada pelos típico dos decadentes. O uso potente da
seguidores da moral dos homens “fracos”, faculdade do esquecimento estaria
do rebanho de seguidores. Contudo, vinculado principalmente ao tipo “nobre”,
Nietzsche apresenta outra possibilidade de cuja vida se desenvolve geralmente através
superação desses transtornos afetivos, por da formação de afetos saudáveis,
meio de uma circunstância muito mais efetivados pela supressão das ameaças do
adequada e satisfatória para o homem, que afloramento do ressentimento na sua
garantiria efetivamente o desabrochar da afetividade. Por não sofrer desse
felicidade e da criação: o uso da faculdade transtorno, o tipo “nobre” afirma a
do esquecimento, que podemos considerar singularidade criativa da sua capacidade de
como um dos grandes enunciados de sua agir, sendo dotado de uma inestimável
ética trágica, por favorecer uma estabilidade psíquica, de forma que
compreensão sadia e vitoriosa acerca da qualquer tipo de impressão “ruim” não
existência. consegue diminuir a potência da sua
vitalidade. Pelo contrário, essa qualidade
Da importância do esquecimento para a
de impressão somente proporciona o
vida
fortalecimento da sua própria estrutura
Podemos dizer que, segundo a perspectiva fisiológica, uma vez que esse tipo de
de Nietzsche, uma situação mais adequada homem retira das adversidades cotidianas
do que o ato de reagir aos estímulos da existência as energias vitais que

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proporcionam a constante superação das memória. Uma recordação adequada é


suas forças intrínsecas, pois que, tal como considerada saudável quando favorece a
Nietzsche argumenta: “Da escola de guerra ampliação da nossa força vital, de maneira
da vida – o que não me mata me fortalece” que adquirimos então uma qualidade de
(2006, p. 10). Mais ainda, podemos dizer ação mais intensificada e mais potente.
que Nietzsche demonstra grande ousadia Conforme esclarece Oswaldo Giacóia,
ao defender a tese de que o estado de Nos termos dessa teoria nietzschiana
esquecimento não decorreria de uma do ativo e do reativo, forte não é
passividade da mente humana, tal como aquele que é capaz de sujeitar o outro
preconizado pela tradição filosófica, pela violência, ou de impor de modo
consistindo então numa atividade no mais impiedoso e desconsiderado seus
pleno sentido da palavra, que garantiria a apetites de poder, seus interesses. Em
estabilidade de nossa vida psíquica: sentido próprio, forte é aquele que
possui uma força plástica de
Esquecer não é uma simples vis esquecimento e assimilação mais
inertiae [força inercial], como crêem inteira, mais organicamente sadia
os superficiais, mas uma força (2001, p. 84-85).
inibidora ativa, positiva no mais
rigoroso sentido, graças a qual o que é Pensemos nos afetos de alegria e de
por nós acolhido, não penetra mais em coragem, os quais, quando lembrados,
nossa consciência, no estado de favorecem o acréscimo de nossas forças
digestão (ao qual poderíamos chamar intrínsecas, ao proporcionarem o estímulo
assimilação psíquica), do que todo o para o desempenho de novas ações. Afetos
multiforme processo da nossa nutrição ruins, como o ódio, a tristeza ou medo,
corporal ou “assimilação física” (...).
tendem, por outro lado, a nos prejudicar, e
Fechar temporariamente as portas e
janelas da consciência; permanecer
tal deficiência psicofisiológica pode vir a
imperturbado pelo barulho e a luta do motivar o desmoronamento de nossa
nosso submundo dos órgãos serviçais a vitalidade, pois a recordação de tais
cooperar e divergir; um pouco de paixões evoca continuamente a fraqueza da
sossego, um pouco de tabula rasa da força pessoal, a incapacidade de agirmos
consciência, para que novamente haja de forma criativa. Nessa interação entre
lugar para o novo, sobretudo para as memória e esquecimento, as duas
funções e os funcionários mais nobres, instâncias convergem para um benefício
para o reger, prever, predeterminar comum, a manutenção da nossa qualidade
(pois nosso organismo é disposto de vida, assim como a possibilidade de
hierarquicamente) – eis a utilidade do
ampliação da mesma mediante a superação
esquecimento, ativo, como disse,
espécie de guardião da porta, de
das adversidades práticas e das resistências
zelador da ordem psíquica, da paz, da vencidas.
etiqueta: com o que se vê que não Podemos considerar que a superação do
poderia haver felicidade, jovialidade, estado de ressentimento, na ética
esperança, orgulho, presente, sem o nietzschiana, seria a oportunidade maior
esquecimento. O homem no qual esse
para o desenvolvimento de um nível de
aparelho inibidor é danificado e deixa
de funcionar pode ser comparado (e
vida que se paute na criação de valores
não só comparado) a um dispéptico afirmativos, mesmo das condições mais
(NIETZSCHE, 2000, p. 47-48). desfavoráveis da existência, fazendo com
que não elaboremos uma compreensão
Quando desenvolvemos a habilidade de pessimista acerca da realidade. Aliás,
esquecer os eventos desagradáveis, podemos considerar que é a tristeza e o
realizamos uma espécie de seleção daquilo consequentemente declínio da vitalidade
que é pertinente ou não de ser registrado na que leva um homem a desenvolver uma

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visão de mundo pessimista, decadente, pois isto é, da vida. Através dessa associação de
ele perde os seus referenciais de ação forças, podemos dizer que o ressentimento
criadora, tornando-se um inepto na arte de é satisfatoriamente superado pelo homem,
interagir afirmativamente com os demais. evento esse que proporciona o
O ressentimento, ao minar lentamente a florescimento de uma compreensão
potência de agir de um indivíduo, faz com adequada da existência, livre dos
que ele se torne uma figura triste e transtornos motivados pelas mágoas, pelas
acabrunhada na sua existência. Esse tristezas adquiridas no decorrer da vida.
indivíduo, tomado pela tristeza, elabora
Considerações finais
uma compreensão extremamente miserável
da vida, problema demasiado prejudicial O grande problema do ressentimento na
para a saúde da sua própria estrutura vida humana decorre da incapacidade de
psicofisiológica (na acepção nietzschiana nos desvencilharmos do peso dos afetos
do termo), pois as impressões desses afetos tristes ao longo das experiências
na sua mente motivam graves problemas cotidianas. Acumuladas na mente humana,
na valoração acerca de sua conduta, tais afetos impedem o desenvolvimento do
truncando ainda as suas disposições para a fluxo criativo de um indivíduo, pois este se
ação. deixa levar pela preponderância dos
estados de declínio no seu psiquismo. Por
Dessa maneira, quando ocorre a grata não conseguir assimilar as experiências
associação entre a memória e o afetivas ruins, esse tipo de homem sofre,
esquecimento, adquirimos a capacidade de na sua mente, do efeito corrosivo dos
superar esses transtornos desagradáveis, sentimentos degenerativos da constituição
livrando a mente do estado de fisiológica, problema esse que motiva os
ressentimento e de seus malefícios mais lamentáveis acontecimentos ao longo
decorrentes. Podemos justificar essa ação da sua vida prática.
extraordinária pelo fato de que o
esquecimento, no exercício de suas Todavia, esses contratempos são
funções, seria muito mais poderoso do que razoavelmente superáveis, quando
a da memória. Contudo, devemos ressaltar desenvolvemos a capacidade de, mediante
que o esquecimento não pode atuar a interação entre o esquecimento e a
sozinho pela ampliação da nossa qualidade memória, realizarmos uma espécie de
de vida, pois que, destituído do caráter triagem dos conteúdos afetivos e
seletivo nas suas ações, ele poderia excluir impressões adquiridas no cotidiano: a
da nossa mente inclusive o que é favorável recordação que motiva a tristeza, o declínio
para a instauração de nosso bem-estar ou o rancor, é excluída pelo esquecimento;
afetivo, ou seja, as lembranças agradáveis. por sua vez, a lembrança que proporciona a
Nessas condições, o esquecimento se ampliação da vitalidade, o acréscimo de
tornaria tão prejudicial para o forças ou a própria alegria, deve ser
florescimento saudável da vida como a guardada adequadamente na memória, para
própria memória, pois que, quando que conceda sempre que necessário o
exacerbado, impede também que baseemos estímulo para a ação, mediante o exemplo
as nossas ações nos bons modelos de do sucesso do passado. Agindo desta
cultura, uma vez que tudo aquilo que maneira, nos capacitamos a desenvolver
adquiríssemos pela instrução seria uma espécie de ética trágica da existência,
rapidamente perdido pela mente. Portanto, tal como Nietzsche propôs ao longo de sua
a afetividade genuína do homem se obra. Vivendo os valores de uma ética
desenvolve quando a memória e o trágica, que abole os efeitos deletérios do
esquecimento atuam unidos em favor da ressentimento, adquirimos uma
ampliação da nossa capacidade de ação, compreensão da vida destituída de

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qualquer consideração moral psicólogo. São Leopoldo: Editora da Unisinos,


(transcendente) de mundo, pois os 2001.
elementos que constituem os seus pontos HESÍODO. Os Trabalhos e os Dias. Trad. de Mary
nevrálgicos se encontram na própria de Camargo Neves Lafer. São Paulo: Iluminuras,
2000.
imanência, proporcionando, de tal modo, a
aprovação incondicional de tudo aquilo HOMERO. Ilíada. Trad. de Carlos Alberto Nunes.
que existe, sem manifestemos qualquer Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
traço de rancor contra as perspectivas, ________. Odisséia. Trad. de Carlos Alberto
tipologias e mesmo pessoas que não Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
agradem as nossas particularidades KEHL, Maria Rita. Ressentimento. São Paulo:
singulares. Afinal, a ética trágica propõe a Casa do Psicólogo, 2004.
aprovação plena do saudável MACHADO, Roberto. Nietzsche e a verdade. Rio
desenvolvimento da vida, e qualquer tipo de Janeiro: Rocco, 2001.
de insatisfação diante do poderoso fluxo da MARTON, Scarlett. Extravagâncias: ensaios sobre
existência, do perene jogo do devir, denota a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Discurso
uma espécie de objeção ao valor das Editorial, 2001.
relações vitais sustentadas numa NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal –
compreensão imanente da realidade. Dessa Prelúdio a uma Filosofia do Futuro. Trad. de Paulo
maneira, como saída para o mal-estar César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras,
existencial do ressentimento, torna-se 1999.
indubitavelmente pertinente a aplicação de ___________. O Anticristo / Ditirambos de
uma axiologia trágica, diametralmente Dionísio. Trad. de Paulo César de Souza. São
oposta aos critérios rancorosos e Paulo: Companhia das Letras, 2007.
normativos de entendimento da existência. ___________. Crepúsculo dos Ídolos ou como se
filosofa com o martelo. Trad. de Paulo César de
Souza. Companhia das Letras: São Paulo: 2006.
Bibliografia ___________. Ecce Homo – como alguém se torna
AZEREDO, Vânia Dutra de. Nietzsche e a o que se é. Trad. de Paulo César de Souza. São
dissolução da moral. São Paulo: Discurso Editorial, Paulo: Companhia das Letras, 2001.
2003. ___________. Genealogia da Moral – Uma
BORGES, Wilton & OLIVEIRA, Jelson. Ética de polêmica. Trad. de Paulo César de Souza. São
Gaia – Ensaios de Ética socioambiental. São Paulo: Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Paulus, 2008. ___________. O nascimento da Tragédia ou
DANTE ALIGHIERI. A Divina Comédia. Trad. de helenismo e pessimismo. Trad. de J. Guinsburg. São
Ítalo Eugênio Mauro. São Paulo: Ed. 34, 1998. Paulo: Companhia das Letras, 1996.

FREZZATTI JR, Wilson Antonio. A Fisiologia de PLATÃO. Fédon. Trad. de Maria Tereza Schiappa
Nietzsche: a superação da dualidade de Azevedo. Brasília: Editora da UnB, 2000.
cultura/biologia. Ijuí: Ed.Unijuí, 2006.
GIACÓIA JÚNIOR, Oswaldo. Nietzsche como

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