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Kayfabe. Uma neologia de origem incerta, supostamente oriunda dos

NO EPISÓDIO DE HOJE
circos itinerantes americanos dos anos de 1980; usada até hoje quando 04. Quadradinho do Inferno
fala-se da luta livre, o “vale-tudo” performático profissional que de alguma Texto por Marcão (@Vegeta_d_Bigode);
forma perseverou pelas gerações. Teoriza-se que o termo kayfabe veio de Arte surpresa por Dronto (@drontocore);
“be fake”, ou “seja falso” em inglês, com as letras trocadas. Edição por Virgula (@virgulaleal).
Eu não sou muito fã de luta livre, tem muito homem e eu não gosto, mas 07. Classificados
eu consigo apreciar a virtuosidade, é um trabalho orquestrado, ensaiado, Texto, curadoria e edição por Virgula.
calculado; infelizmente demasiado suado. Escritores se sentam juntos 08. O Bloguinho Moleu!
e escrevem narrativas, conflitos, resultados, reviravoltas. E estes arcos Arte e texto por Dronto (@drontocore).
são apresentados como reais para pessoas que não se importam, ou não 10. Amor
querem saber que eles não são. Eu não me importaria de fazer isso. Texto por Marcão como Zaphael Zinco;
Uma anedota de Pat Patterson, um lutador Canadense-Americano, fala Edição por Virgula.
do rapaz que trazia as toalhas para os lutadores no vestiário. Todas as 12. Zeebo Jinsoo, Suspiros do Criador
vezes que ele aparecia, conta Patterson, alguém gritava “KAYFABE!”, para Texto e edição por Virgula como Betinha Morton;
que os lutadores voltassem para seus personagens. Um dia, o rapaz ficou Revisão adicional por Marcão.
puto, e falou pra todos no vestiário: “Tudo bem vocês gritarem, mas eu 14. Bebês no Gerúndio
quero que vocês saibam que o meu nome não é Kayfabe, é Mark!”. Mark, Agradecimento especial aos membros do nosso
ou alvo, vejam só, é outra palavra que lutadores usam para se referir às clubinho secreto no Discord pelas sugestões.
pessoas fora da indústria. Junte-se a nós em discord.gg/dAT3eCT
Infelizmente, com o tanto de desgraça que se passa aqui na Looca, não 15. Cavalaria e Amizade III
nos sobra muito tempo para ficar fantasiando e inventando histórias. Texto por Ducky;
Quem sabe um dia. Arte e edição por Virgula.

Editora Chefe da Panocu

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QUADRADINHO DO INFERNO
Cotidiano e Geopolítica por Marcão
E
m 1929, Giuseppe Zinco deixou sua família em Campânia para
construir seus sonhos no Brasil. Sua pequena e modesta fábri-
ca de tecelagem clandestina trouxe vida à região entre a Lapa e a
Mooca, que no futuro veio a se tornar no tradicional bairro da Looca.
Como Looques de verdade, jamais nos esqueceremos dos esforços de
Giuseppe Zinco em construir os alicerces da nossa cultura, da nossa
boa índole, e também em mandar matar líderes sindicalistas. Sabemos
do legado de Giuseppe, e por isso podemos imaginar o desgosto que
teria este titã Looque ao saber da nova espécie que zune pelas nossas
calçadas:
TERNO JUSTO
GRAVATA FINA
E ALL-STAR...
Atropelando pedestres, montados em seus patinetes, apressados
rumo às suas start-ups, onde são aguardados para calls urgentes.
Nosso Giuseppe Zinco operava trabalho escravo como deveria ser,
desmoralizante e transparente. Não disfarçava de “PJ” e nem maquiava
com vernáculo norte-americano.
Imagine o apavoro no coração do nosso querido bairro quando um
quarteirão inteiro de prédios espelhados brotou em nossas ruas do dia
para a noite. Start-ups, gyms, food trucks, escape rooms. Looques já
apedrejaram vidraças no Buracão e já explodiram bancas de jornal por
muito menos do que tamanha afronta ao nosso estilo de vida.
Sábio quanto às necessidades do nosso povo, Zangief, o famoso “ZZ”,
subprefeito do bairro da Looca, tomou vanguardista e histórica atitude
em defesa da ira popular. Apoiado por abaixo-assinado do punho de
figuras Looques basais como Alice Mostarda, Zaphael Zinco, e o Amigos
do Bar do Amigos, o nosso bem-eleito subprefeito apresentou projeto
de lei determinando que o quarteirão das start-ups, ou “Quadradinho
do Inferno”, seja imediatamente emancipado - não somente do nosso
bairro, mas de todo o território nacional.
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A escória jurídica do país, naturalmente, logo se pôs a implicar com

a suposta existência de dezenas de inconstitucionalidades na lei em

CLASSIFICADOS
questão, mas, pela graça dos Lídimos Parentes do Firmamento, sua
vigência entrou em vigor no momento de sua aprovação. Assim, as ruas
do quarteirão foram de imediato seladas em quarentena, de modo que
ninguém tenha autorização para entrar ou sair sem passar pelo gabinete
de imigração. Zangief, o famoso “ZZ”, já tem planos para que as obras do
gabinete de imigração iniciem-se por volta da próxima década.
A medida do subprefeito atraiu louvor dos populares, que já se
comprometem a efetuar boca de urna na próxima eleição, promovendo os
vereadores envolvidos na aprovação legislativa. Houve também redução ANUNCIE AQUI, ENVIE UM EMAIL PARA: PANOCUINC@GMAIL.COM
significativa nas despesas da vizinhança, uma vez que os privilégios de
água e luz permanecem suspensos na nova nação do Quarteirão até que
todas as questões diplomáticas sejam resolvidas (e decididas).
EMPREGO AUTO
A atual porta-voz da nação quadrada, Laura Franchinni, expressa que ESTÁGIO EM REVISTA FAMOSA CELTA REMONTADO R$6.000
nenhum dos emancipados pediu pela independência do novo país, Devido a um pequeno desastre Oportunidade única por preço de
estando a grande maioria deles desesperada para retornar aos seus geopolítico, precisamos de uma urgência. Entrego em até 2 me-
lares. Proteções trabalhistas não existem no Quarteirão, os turnos de nova pessoa para ocupar vaga de ses conforme confirmação de
trabalho já vem durando quase um mês. estágio. Período integral, possi- pagamento. Perguntar por Alice
Em comemoração a este passo tão importante dado pela subprefeitura bilidade de salário após período Mostarda em @PanocuInc
da Looca (e remediando a inevitável perda de alguns clientes), o Bar de experiência. Enviar carta para

do Amigos realiza nesta quarta feira uma promoção de feijoada, que endereço no verso do envelope.
contará com a presença de quase toda a nossa redação, com a exceção
de nosso estagiário, Dalailama do Caralho, que teve a má-sorte de estar
atravessando o agora território do Quarteirão no momento da aprovação
da nova lei. Desejamos boa sorte para o Sr. Caralho (seu pai mandou
IMÓVEIS
ALUGO APARTAMENTO B. LOOCA
você transferir um dinheiro pra ele).
01 quartos, 0.5 banheiros. Pró-
ximo ao Clube de Crochê Santa
Looca. Limpeza do local por conta
da 13-CILOC. (11) 00785-0008
PASSO O PONTO DE PIZZARIA
Tradicional, boa clientela. Proble-
mas c/ vigilância. Cazzo: (11) 120
GALPÃO NO BURACÃO
Alugo ou vendo, galpão próximo
da divisa Bavaria/Looca, sala fe-
chada nos fundos, só alguns bu-
racos de bala. (11) 00221-0003
ROLO
CONTRATA-SE CLIENTE
Procura-se cliente disposto a
pagar por incríveis desenhos
online do ilustrador “Drontocore”,
baratinho, até ofende, torne sua
visão realidade e gaste dinheiro
shorturl.at/djHO5
LIQUIDIFICADOR ESQUISITO
Tô com um liquidificador que fica
citando diálogos fictícios onde
uma pessoa é esperta e a outra
discorda. (11) 00874-0001
PC GAMER USADO/ABENÇOADO
Defeito faz aparecer o Papa xin-
gando. Benassi: (11) 00982-0004
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AMOR Não existe manual pro amor. Como um carro sem
freio, é preciso atropelar alguns pedestres antes de
Por Zaphael Zinco se aprender a pegada de cada curva.
Essas palavras não são minhas, são de Motoca,
professor da falecida, porém histórica, Autoescola
da Looca. Ele me guiou pelas principais casas de
tolerância do bairro, e sempre me fez um belo des-
conto na hora do quebra. Mas uma coisa que Mo-
toca nunca foi capaz de me ensinar, foi a arte do
capote. Polir o capô no asfalto, todo mundo já poliu,
a arte está em sobreviver e, nas condições ideais, já
estar dirigindo de novo no dia seguinte.
Foi nessa época que conheci mia dulce Lissandra, no curso de economia
da GV. Meu nonno Giuseppe, já nas últimas, entendia que eu não tinha
condições de ficar empoleirado naquela UTI esperando ele vestir o paletó
de madeira, não com um avião desses me esperando lá fora. Ao menos
eu acho que ele entenderia se não estivesse em estado vegetativo.
Lissandra era torcedora fanática do Atléticos, sobrinha do Lovecraft,
camisa 4. Ver ela passando uma onça por entre as grades do Buracão,
pra dentro do bolso do juiz... me arrematou. L’amore della mia vita.
Nosso primeiro encontro foi na saudosa Fratelli di Cazzo, aquela
pizzaria que fechou esses dias por causa dos ratos. Saímos dali direto
pro apartamento dela e, de lá, pro mundo. Não demorou para que ela
estivesse me ajudando a contar dinheiro dos negócios da família.
Quando encontrei seu caderno de poesias, fiz uma grana que eu não
acredito até hoje, vendi todas a preço farto para os jornaleiros do bairro.
Ela achou essa brincadeira toda uma “invasão de privacidade”, me deu
um pé na bunda, sem mais nem menos. Uma parte de mim morreu.
Nota editorial:
Zaphael Zinco não foi contratado pela Panocu. Recebemos esta “matéria”
em um saco de pão no porta-luvas do carro da editora chefe. Dado o
nosso respeito à Famiglia Zinco, não tivemos opção senão publicar tudo.
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Minha única figura paterna respondendo em liberdade na época era
o Motoca, mas eu o encontrei enterrado na Quarta Parada. O que eu
ouvi é que ele tentou meter a mão em um videogame raro, coisa de
colecionador, e apagaram o coitado. Fiz o que faria qualquer homem
adulto naquela situação: me isolei no meu quarto em um ritual quase
religioso de repetição da segunda fase do Sonic 3.
Aquela bem filha da puta, da água.
A repetição me consumia. Meu completismo fetichista em coletar todas as
argolas jamais bastante em esquecer de Lissandra, a minha insistência
se mostrava tão nociva quanto meu amor incorrespondido. Meu irmão
Zangief batia na porta do quarto, espiava aquela cena decadente como
quem sente pena de um animal no zoológico. Na época eu estava
tão fissurado que nem lembrei que ele já tinha cumprido a pena por
estelionato, quando o homenzarrão sentou ao meu lado, o susto bastou
para afogar o ouriço azul nas águas poluídas de Dr. Robotnik.
Antes que eu pudesse mandar o ZZ ao cazzo, como é costume da família,
ele me deu um abraço apertado, me olhou bem nos olhos e disse:
“Zapha, Sonic é um jogo sobre desapego”.
Me livrei daquela angústia. Sonic deve correr o seu caminho, sem gastar
seu tempo neste mundo tentando se agarrar naquilo que já passou.
Aprendi a andar pra frente. Descobri que o amor, assim como Sonic 3, é
sobre desapego e que, às vezes, o mais saudável para ambas as partes
é abandonar a mãe dos seus filhos e gastar o dinheiro da pensão em
advogados, para não precisar pagar a pensão. Nunca mais ouvi nada de
Lissandra, nem procurei ouvir. Todos os dias agradeço a ela por todas as
lições que aprendi.
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Zeebo Jinsoo, Sussurros do Criador
Jornalismo Investigativo por Betinha Morton
Você, que dedica tanto da sua leitura à Panocu, deve ter percebido que
a minha coluna não foi atualizada na última edição desta publicação.
Meu nome é Betinha, eu sou provavelmente a única jornalista de ver-
dade nesta redação inteira, eu acabei de sair da cadeia.
Com o frio do inverno vieram novas notícias sobre o Zeebo Jinsoo.
Uma alteração caseira do infame “console brasileiro” da Tec-Toy, mo-
dificado para atender às necessidades do jogador contemporâneo,
mas principalmente notável pela trilha de sangue que acompanha a
sua história. A primeira vítima, o criador, Daniel “Jinsoo” Miyura de
Oliveira, foi encontrado morto em sua kitchenette na baixa Looca,
agulhas de crochê cravadas no coração. O console não foi encontrado.
No mês seguinte, Aquila Micael Zinco, fidalgo da família mais podero-
sa da Looca, encontrado empalado nos chifres da estátua de um boi. O
console não foi encontrado.
Eram os primeiros dias gélidos de Junho, eu fui visitar pessoalmente
um galpão na zona industrial da Looca. A placa na porta era cheia de
si: “Museu de Eletrônicos Esotéricos”. Rosângela Medeiros, que me
convidou para visitar uma prévia de sua exposição antes do lança-
mento, me recebeu com uma expressão de assombro, algo acabara de
acontecer: “ele falou comigo”.
Corremos para o escritório nos fundos, sem tempo para apreciar os
itens em exposição, como a máquina de jogar truco valendo a vida, ou
o liquidificador filósofo.
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Lá estava ele, plástico prateado, curvas elegantes, luzes azuis, perfeito
estado de conservação. O Zeebo Jinsoo, ligado em uma pequena tela
plana. A imagem na tela:
Meio perturbadora.
“Ele está falando comigo, Bete. Ele não morreu.
O Jinsoo está vivo.”
As palavras de Rosângela eram delirantes, seus olhos assemelhando-
-se aos de Paulo Geraldo em dia de fechamento, privados de descanso.
Enquanto eu fotografava aquele milagre da engenharia caseira, Rosân-
gela foi trancar o portão. Adolescentes costumam invadir o galpão para
fumar algumas coisas, mas não foi nenhum adolescente que invadiu a
nossa reunião. Eu ouvi tiros, mas encontrei Rosângela esmagada por
uma geladeira vermelha, parte da exposição; a plaqueta explicativa co-
berta pelo conteúdo do crânio de sua curadora. Um momento de cho-
que, confusão, fui golpeada por trás, levada ao chão, o sangue de outra
pessoa prensado em meu rosto. Gritos. Estava cercada, um rosto em
particular era familiar:
CA-
Felix Cabrão, 56, Delegado da Décima-Ter-
ceira Civil da Looca (13-CILOC). O mesmo
que encontrou Aquila Zinco empalado no
BRÃO
porão da própria casa. O mesmo que segu-
rou o corpo do jovem moribundo por horas
antes de sua morte inevitável.
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Cabrão berrava ordens aos seus capangas, policiais sem rosto, sem
medo de acreditar na falsa realidade que lhes era ditada.
“O nome dessa aqui é Bete, ela jogou a geladeira naquela ali, e atirou no
homem na entrada. Ela vai presa, e eu vou cuidar do videogame.”
O homem na entrada, que Cabrão mencionou enquanto me pisoteava,
estava tentando fugir quando ouviu a polícia se aproximando. Talvez mais
um atraído pela linhagem de sangue do Zeebo Jinsoo; não consegui seu
nome, profissão, nada. Nas mãos de Cabrão, o homem na entrada é um
Zé Ninguém.

Eu não fui presa pela polícia.

Eu fui presa por Felix Cabrão.
Eu fui acusada por Felix Cabrão.
Eu fui julgada por Felix Cabrão.

Quando fui solta, sem nenhum pedido de desculpas pela falta de evidên-
cias, o Zeebo Jinsoo não estava em posse da polícia.
Esta história, agora, mais do que nunca, a minha história, continua na
próxima edição.

BEBÊS NO GERÚNDIO
Por Paulo Geraldo
Bebês degringolando Bebês marejando Bebês minguando
Bebês mastigando Bebês tendo Bebês aferindo
Bebês bisbilhotando Bebês posando Bebês deixando
Bebês velando Bebês autografando Bebês planfetando
Bebês pilhando Bebês renovando Bebês peleando
Você pode sempre comprar uma Panocu na loja
da panocu, dá uma olhada, compra uma panocu,
uma assinatura, tem até Queijus Maximus.
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