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6/23/2018 Documento:40000321516

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
REMESSA NECESSÁRIA CÍVEL Nº 5026178­05.2017.4.04.7000/PR
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ
PARTE AUTORA: MONICA COUTO DI FRANCO (IMPETRANTE)
ADVOGADO: VITÓRIO LEMOS DA ROSA
PARTE RÉ: UNIÃO ­ FAZENDA NACIONAL (INTERESSADO)

RELATÓRIO

Trata­se  de  mandado  de  segurança  impetrado  por  MÔNICA


COUTO DI FRANCO  em  face  de  ato  do  Inspetor  da  RECEITA  FEDERAL
EM  CURITIBA­PARANÁ,  EMPRESA  BRASILEIRA  DE  CORREIOS
E  TELEGRAFOS  E  SEFAZ­RS­SECRETARIA  DA  FAZENDA
DO  ESTADO  DO  RIO  GRANDE  DO  SUL,    objetivando  a  suspensão  da
exigibilidade  do  crédito  tributário  referente  ao  Imposto  de  Importação  sobre  a
mercadoria  importada  destinada  a  pessoa  física  no  valor  de  até  cem  dólares
norte­americanos.  Consta  da  inicial  que  "a  impetrante  adquiriu  o  produto
Oukitel U20 pLUS 5.5­INCH 2.5D 2GB ROM 16GB MTK6737T Quad­core 4G
Smartphone,  atráves  do  site  https:  //www.banggood.com  em  28/03/2017,  com
pagamento  por  meio  de  cartão  de  crédito  no  valor  de  U$90,91  (R$284,58  em
conversão com o dólar a US$3,13) sem acréscimo de despesas de postagem. O
objeto foi recebido para entrega no Brasil pela Agência Brasileira de Correios e
Telégrafos  sob  o  localizador  RX249525415CH.  Ocorre  que  "em  20/06/2017  a
recebeu  o  aviso  de  chegada  da  agência  dos  correios  de  Gravataí/RS  (AC
Gravataí),  e  lhe  foi  cobrado  imposto  e  taxas  totalizando  o  valor  de  R$312,15,
bem  como  de  taxa  de  postagem  no  valor  de  R$12,00,  totalizando  a  cobrança
indevida de R$324,15 para a retirada do produto nº de ordem 343". Afirma que
o  condicionamento  da  entrega  dos  produtos  ao  pagamento  do  imposto  é  uma
violação  ao  Decreto­lei  1.804/1980,  que  prevê  expressamente  que  produtos
adquiridos  via  correio  estão  isentos  até  o  limite  de  US$  100,00  (cem  dólares).
Haja  vista  o  valor  total  e  a  natureza  da  importação  realizada  o  impetrante
possui direito à isenção tributária. Refuta a exigência com base no artigo 2º, II,
do Decreto­Lei nº 1.804/80 que determina que os bens que integram a remessa
postal  internacional  de  valor  não  superior  a  US$  100,00  (cem  dólares)  serão
desembaraçados com isenção quando destinados a pessoas físicas. Afirma que a
Portaria  MF  nº  156/99  e  a  IN  SRF  096/99  que  estabeleceram  o  valor  de  US$
50,00  (cinquenta  dólares)  e  exigiram  que  o  remetente  seja  pessoa  física
extrapolam os limites estabelecidos pelo Decreto­Lei acima referido, violando o
princípio da legalidade.

Regularmente instruído o presente feito, sobreveio sentença (E.25)
concedendo  a  segurança  "(...)  para  o  fim  de  reconhecer  a  inexigibilidade  do
imposto de importação sobre a mercadoria importada pela impetrante no regime
simplificado,  destinada  à  pessoa  física  e  com  valor  de  remessa  de  até  cem
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dólares  norte­americanos,  objeto  da  remessa  postal  internacional  nº


RX249525415CH , tudo em conformidade com a fundamentação supra". Custas
processuais ex lege. Sem condenação em honorários advocatícios.

Por força do reexame necessário, vieram os autos para julgamento.

É o relatório.

VOTO

O presente feito tem como ponto controvertido a possibilidade de
isenção  do  Imposto  de  Importação  no  Regime  de  Tributação  Simplificada,
incidente sobre bens que integrem remessa postal internacional no valor de até
US$  100,00  (cem  dólares  norte­americanos),  seja  o  remetente  pessoa  física  ou
jurídica.

A  tributação  das  remessas  postais  e  das  encomendas  aéreas


internacionais  obedece  ao  Regime  de  Tributação  Simplificada,  instituído  pelo
Decreto­Lei n.º 1.804/80, que dispõe:

Art. 2º ­ O Ministério da Fazenda, relativamente ao regime de que trata o art.
1º deste decreto­Lei, estabelecerá a classificação genérica e fixará as alíquotas
especiais a que se refere o § 2º do art. 1º, bem como poderá:

(...)

II ­ dispor sobre a isenção do imposto sobre a importação dos bens contidos em
remessas  de  valor  de  até  cem dólares  norte  americanos,  ou  o  equivalente  em
outras moedas, quando destinados a pessoas físicas.

A Portaria MF n.º 156/99, dispõe:

Art. 1º ­ O regime de tributação simplificada ­ RTS, instituído pelo Decreto­Lei
nº  1.804,  de  3  de  setembro  de  1980,  poderá  ser  utilizado  no  despacho
aduaneiro de importação de bens integrantes de remessa postal ou encomenda
aérea internacional no valor de até US$ 3.000,00 (três mil dólares dos Estados
Unidos  da  América)  ou  o  equivalente  em  outra  moeda,  destinada  a  pessoa
física ou jurídica, mediante o pagamento do Imposto de Importação calculado
com  a  aplicação  da  alíquota  de  60%  (sessenta  por  cento)  independentemente
da classificação tarifária dos bens que compõem a remessa ou encomenda.

(...)

§2º ­ os bens que integrarem remessa postal internacional no valor de até US$
50,00 (cinquenta dólares dos Estados Unidos da América) ou o equivalente em
outra  moeda,  serão  desembaraçados  com  isenção  do  Imposto  de  Importação,
desde que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas.

A IN SRF n.º 096/99, em seu art. 2º, estabelece:

Art.  2º  ­  O  Regime  de  Tributação  Simplificada  consiste  no  pagamento  do


Imposto de Importação calculado à alíquota de sessenta por cento.

(...)

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§ 2º ­ Os bens que integrem remessa postal internacional de valor não superior
a  US$  50,00  (cinquenta  dólares  dos  Estados  Unidos  da  América)  serão
desembaraçados com isenção do Imposto de Importação desde que o remetente
e o destinatário sejam pessoas físicas.

Verifica­se que o Decreto­Lei n.º 1.804/80, no art. 2º, II, estabelece
que  as  remessas  de  até  cem  dólares  são  isentas  do  imposto  de  importação
quando destinados a pessoas físicas, nada mencionando sobre o remetente.

Após, a Portaria MF n.º 156/99 e a IN SRF n.º 096/99 passaram a
exigir  que  tanto  o  destinatário  quanto  o  remetente  fossem  pessoas  físicas  e
diminuiu o valor da isenção para o limite de US$ 50,00 (cinquenta dólares).

Entende­se,  ao  encontro  decisão  ora  revista,  que  não  pode  a


autoridade  administrativa,  por  intermédio  de  ato  administrativo,  ainda  que
normativo  (portaria  ou  instrução  normativa),  extrapolar  os  limites  claramente
estabelecidos em lei, pois está vinculada ao princípio da legalidade.

Não  havendo  no  Decreto­Lei  restrição  relativa  à  condição  de


pessoa física do remetente, tal exigência não poderia ter sido introduzida por ato
administrativo, afastando­se do princípio da legalidade.

Assim,  considerando  que  a  impetrante  é  pessoa  física  e  busca  a


isenção  do  imposto  de  importação  incidente  sobre  mercadorias  com  valor
inferior  a  US$  100,00  (cem  dólares  norte­americanos),  tal  postulação  encontra
amparo  na  legislação  em  análise,  especialmente  porque  a  Portaria  na  qual  se
fundamenta  a  exigência  do  tributo  está  em  clara  contraposição  quanto  ao  que
determina  a  legislação  de  regência  da  matéria,  violando  o  princípio  da
legalidade.

Da  mesma  forma,  enfrentando  feito  similar,  este  Tribunal


manifestou­se contrariamente a pretensão da parte autoridade coatora, in verbis:

TRIBUTÁRIO  E  ADUANEIRO.  IMPOSTO  DE  IMPORTAÇÃO.  ISENÇÃO.


REMESSA  POSTAL.  PORTARIA  MF  Nº  156/99  E  IN  SRF  96/99.
ILEGALIDADE. 1. Conforme disposto no Decreto­Lei nº 1.804/80, art. 2º, II, as
remessas  de  até  US$  100,00  (cem  dólares),  quando  destinadas  a  pessoas
físicas, são isentas do Imposto de Importação. 2. A Portaria MF 156/99 e a IN
096/99,  ao  exigir  que  o  remetente  e  o  destinatário  sejam  pessoas  físicas,
restringiram o disposto no Decreto­Lei nº 1.804/80. 3. Não pode a autoridade
administrativa,  por  intermédio  de  ato  administrativo,  ainda  que  normativo
(portaria),  extrapolar  os  limites  claramente  estabelecidos  em  lei,  pois  está
vinculada  ao  princípio  da  legalidade.  (TRF4,  APELAÇÃO/REMESSA
NECESSÁRIA  Nº  5042684­27.2015.404.7000,  2ª  TURMA,  Des.  Federal
OTÁVIO  ROBERTO  PAMPLONA,  POR  UNANIMIDADE,  JUNTADO  AOS
AUTOS EM 06/07/2016)

TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO.
ISENÇÃO.  REMESSA  POSTAL.  DECRETO­LEI  N.º  1.804/1980.  PORTARIA
MF N.º 156/99 e IN SRF N.º 96/99. ILEGALIDADE. 1. Conforme disposto no
Decreto­Lei  nº  1.804/80,  art.  2º,  II,  as  remessas  de  até  cem  dólares,  quando
destinadas  a  pessoas  físicas,  são  isentas  do  Imposto  de  Importação.  2.  A
Portaria MF 156/99 e a IN 096/99, ao exigir que o remetente e o destinatário
sejam  pessoas  físicas,  restringiram  o  disposto  no  Decreto­Lei  nº  1.804/80.  3.
Não  pode  a  autoridade  administrativa,  por  intermédio  de  ato  administrativo,
ainda que normativo (portaria), extrapolar os limites claramente estabelecidos

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40000321518&versao_gproc=4&crc_gproc=1eb0a158&termosPesquisados… 3/5
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em  lei,  pois  está  vinculada  ao  princípio  da  legalidade.  (TRF4,
APELAÇÃO/REMESSA  NECESSÁRIA  Nº  5036435­26.2016.404.7000,  1ª
TURMA, Des. Federal JORGE ANTONIO MAURIQUE, POR UNANIMIDADE,
JUNTADO AOS AUTOS EM 12/05/2017)

Assim,  não  se  verificam  razões  para  alterar  a  decisão  do  juízo  a
quo, devendo ser reconhecida "(...) a inexigibilidade do imposto de importação
sobre  a  mercadoria  importada  pela  impetrante  no  regime  simplificado,
destinada  à  pessoa  física  e  com  valor  de  remessa  de  até  cem  dólares  norte­
americanos, objeto da remessa postal internacional nº  RX249525415CH".

Ante o exposto, voto por negar provimento à remessa oficial.

Documento eletrônico assinado por SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ, Desembargador Federal Relator, na
forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº
17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico  http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php,  mediante  o  preenchimento  do  código
verificador 40000321516v3 e do código CRC bc3f5371.
   
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ  
Data e Hora: 18/4/2018, às 16:10:17  
   

 
5026178­05.2017.4.04.7000 40000321516 .V3

Conferência de autenticidade emitida em 23/06/2018 18:24:32.

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
REMESSA NECESSÁRIA CÍVEL Nº 5026178­05.2017.4.04.7000/PR
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ
PARTE AUTORA: MONICA COUTO DI FRANCO (IMPETRANTE)
ADVOGADO: VITÓRIO LEMOS DA ROSA
PARTE RÉ: UNIÃO ­ FAZENDA NACIONAL (INTERESSADO)

EMENTA

TRIBUTÁRIO.  MANDADO  DE  SEGURANÇA.  IMPOSTO


DE  IMPORTAÇÃO.  ISENÇÃO.  REMESSA  POSTAL.
DECRETO­LEI  N.º  1.804/1980.  PORTARIA  MF  N.º  156/99  E
IN SRF N.º 96/99. ILEGALIDADE.

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6/23/2018 Documento:40000321516

1.  Conforme  disposto  no  Decreto­Lei  nº  1.804/80,  art.  2º,  II,  as
remessas de até cem dólares, quando destinadas a pessoas físicas, são isentas do
Imposto de Importação.

2. A Portaria MF 156/99 e a IN 096/99, ao exigir que o remetente e
o  destinatário  sejam  pessoas  físicas,  restringiram  o  disposto  no  Decreto­Lei  nº
1.804/80.

3.  Não  pode  a  autoridade  administrativa,  por  intermédio  de  ato


administrativo, ainda que normativo (portaria), extrapolar os limites claramente
estabelecidos em lei, pois está vinculada ao princípio da legalidade.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
a Egrégia 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade,
decidiu  negar  provimento  à  remessa  oficial,  nos  termos  do  relatório,  votos  e
notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 17 de abril de 2018.

Documento eletrônico assinado por SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ, Desembargador Federal Relator, na
forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº
17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico  http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php,  mediante  o  preenchimento  do  código
verificador 40000321518v4 e do código CRC 1eb0a158.
   
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ  
Data e Hora: 18/4/2018, às 16:10:16  
   

 
5026178­05.2017.4.04.7000 40000321518 .V4

Conferência de autenticidade emitida em 23/06/2018 18:24:32.

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