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A prostituição e as maneiras de
combatê-la
Alexandra Kollontai
1921
Nossa república operária até então não criou leis direcionadas à eliminação
da prostituição, e nem ao menos lançou uma fórmula clara e científica sobre a
visão de que a prostituição é algo que fere o coletivo. Sabemos que a
prostituição é um mal, também temos conhecimento de que no momento, neste
período transicional com todos os seus problemas, a prostituição se tornou
extremamente difundida. Mas varremos tal problema para de baixo do tapete,
temos estado em silêncio sobre isso. Isto é, parcialmente, por conta das atitudes
hipócritas que herdamos da burguesia, e parcialmente por causa de nossa
relutância em considerar e aceitar os danos que a prostituição em larga escala
causa à coletividade. E nossa falta de entusiasmo na luta contra a prostituição se
refletiu na nossa legislação.
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Algumas pessoas talvez digam que já que a prostituição não terá lugar uma
vez que o poder dos operários e a base do comunismo estão fortalecidos,
nenhuma campanha é necessária. Este tipo de argumento falha em levar em
conta o efeito nocivo e dissociativo que a prostituição tem na construção de uma
nova sociedade comunista.
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Nós, assim sendo, não condenamos a prostituição e lutamos contra ela como
uma categoria especial de deserção do trabalho. Para nós na república operária
não importa se uma mulher se vende para um homem ou vários, se ela é
classificada como uma prostituta profissional vendendo seus favores para uma
série de clientes ou uma esposa se vendendo para seu marido. Todas as
mulheres que evitam o trabalho e não tomam parte na produção ou cuidam de
crianças são sujeitas, do mesmo modo que as prostitutas, à serem forçadas a
trabalhar. Não podemos traçar uma diferença entre uma prostituta e uma esposa
fiel mantida pelo seu marido, seja lá quem for seu marido – mesmo que ele seja
um “comissário”. É a falha em tomar parte no trabalho produtivo que é o fio
conectando todos os desertores do trabalho. Os trabalhadores coletivos
condenam a prostituta não porque ela dá seu corpo para muitos homens, mas
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porque assim como a esposa legal que permanece em casa, ela não presta um
serviço útil para a sociedade.
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Mas enquanto a comissão aceitou que clientes não podem ser punidos pela
lei, isso falou abertamente pela condenação moral daqueles que visitam
prostitutas ou de alguma forma fazem da prostituição um negócio. De fato as
teses da comissão apontam que todos os intermediários que lucram com a
prostituição podem ser processados como pessoas que lucram com o trabalho
alheio e não o seu próprio. Propostas legislativas foram elaboradas pela comissão
interdepartamental e expostas diante do Conselho dos Comissários do Povo. Elas
entrarão em vigor em um futuro próximo.
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atitudes que nos apega a hábitos ideológicos superados pela economia. A velha
estrutura econômica está se desintegrando e com ela o velho tipo de casamento,
mas estamos apegados a estilos de vida burgueses.
Nós estamos prontos a rejeitar todos os aspectos do velho sistema dar boas
vindas à revolução em todas as esferas da vida, mas… não toque na família, não
tente mudar a família! Até mesmo comunistas conscientes estão com medo de
olhar diretamente para verdade, eles deixam de lado a evidência que mostra
claramente que os velhos laços familiares estão se enfraquecendo e que as
novas formas de economia ditam novas formas de relacionamentos entre os
sexos. O poder soviético reconhece que a mulher tem um papel a desempenhar
na economia nacional e a colocou no mesmo nível que o homem a este respeito,
mas na vida diária nós ainda estamos presos aos “velhos modos” e estamos
prontos a aceitar como normais casamentos que são baseados na dependência
econômica da mulher pelo homem. Em nossa luta contra a prostituição nós
devemos esclarecer nossa atitude com as relações matrimoniais que são
baseadas nos mesmos princípios de “compra e venda”. Nós devemos aprender a
ser implacáveis nesse assunto, não devemos ser desviados de nossos propósitos
por reclamações sentimentais de que “por sua crítica e pregação científica você
está invadindo laços familiares sagrados”. Nós devemos explicar
inequivocamente que a velha forma de família foi superada. A sociedade
comunista não precisa dela. O mundo burguês deu sua bênção à exclusividade e
ao isolamento do casal em matrimônio da coletividade; na sociedade burguesa
atomizada e individualista, a família era a única proteção das tormentas da vida,
um porto seguro em meio ao mar de competição e hostilidade. A família era um
coletivo fechado e independente. Na sociedade comunista não pode ser assim. A
sociedade comunista pressupõe assim um forte senso de coletividade que
qualquer possibilidade de existência da família como um grupo isolado e
introspectivo está excluída. No presente momento laços de parentesco, família e
até mesmo de vida matrimonial podem ser vistos enfraquecendo. Novos laços
entre o povo trabalhador estão sendo forjados e a camaradagem, interesses
comuns, responsabilidade coletiva e fé na coletividade estão estabelecendo-se
como os mais elevados princípios de moralidade.
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Notas de rodapé:
(1) Sonya Marmeladova trata-se da personagem da obra “Crime e castigo” de Dostoiévski, jovem
proletária prostituta que auxilia sua família, pela qual o personagem Raskólnikov de apaixona.
(Nota dos tradutores) (retornar ao texto)
Fonte
Inclusão: 29/02/2020
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