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FUPAC/ Ubá

Teoria da Contabilidade

Professor: Marcelo Parreiras Maniezzi

Quatro Mil Anos de Contabilidade

A contabilidade é um produto do Renascimento Italiano. As forças que conduziram a essa


renovação do espírito humano na Europa foram às mesmas que criaram a contabilidade. Alguns argumentam até
que essas forças não teriam progredido a ponto de moldar nosso mundo atual se não tivesse havido a invenção da
contabilidade por partidas dobradas, pois ela criou a base para o desenvolvimento do capitalismo privado, gerador
da riqueza que sustentou o artista, o músico, o religioso e o escritor.
A história da contabilidade é a história da nossa era; de muitas formas, a própria contabilidade
conta essa história, pois os registros contábeis fazem parte da matéria-prima dos historiadores. Aprendemos muito a
respeito de homens como Isaac Newton e John Wesley graças aos livros de contabilidade que mantiveram.

Renascença

Não sabemos quem inventou a contabilidade. Sabemos, portanto, que sistemas de escrituração
por partidas dobradas começaram a surgir gradativamente nos séculos XIII e XIV em diversos centros de comércio
no norte da Itália.
O primeiro registro de um sistema completo de escrituração por partidas dobradas é encontrado
nos arquivos municipais da cidade de Gênova, Itália, cobrindo o ano de 1340. O primeiro codificador da
contabilidade foi um frei franciscano chamado Irmão Luca Pacioli (Luca Bartolomeo de Pacioli), nascido em
Sansepolcro, Província de Arezzo, Toscana em 1447, que passou a maior parte de sua vida como professor e
estudante nas universidades de Perúgia, Florença, Pisa e Bolonha. Era a Renascença, e Pacioli era um de seus
produtos mais autênticos.
Seus comentários sobre a contabilidade são tão relevantes e atuais quanto há quase 500 anos.
Por exemplo, veja-se o que escreveu sobre o que fazer após a confecção de um balancete.
“ Para que tudo fique mais claro no encerramento mencionado, é necessário que faça esta outra
comparação, a saber somar numa folha de papel todos os débitos de Razão + e colocá-los do lado esquerdo, e
somar todos os créditos e colocá-los do lado direito, e depois estas últimas somas serão ressomadas; uma das
somas será o total dos débitos, e a outra será o total dos créditos. Agora, se as duas somas forem iguais, ou seja,
uma for igual á outra, ou seja, as somas dos débitos e dos créditos, sua conclusão será a de que seu Razão terá
sido bem mantido; mas, se uma das somas for maior do que outra, terá havido um erro no Razão, o qual, com
diligência, será melhor que o encontre, e com os recursos de raciocínio que tiver adquirido, e que são muito
necessários para o bom comerciante, como dissemos no início; caso contrário, não sendo um bom contador em
seus negócios, andará como um cego, e muitas perdas poderão surgir.(...)
 Durante o período que se estende até o século XVI, o principal objetivo da
contabilidade era produzir informação para o proprietário – geralmente proprietário único. Em conseqüência, as
contas eram mantidas em sigilo e não havia pressão externa, como hoje, no sentido de exatidão ou da adoção de
padrões uniformes de divulgação.
 Em parte, em decorrência da primeira observação, geralmente não era feita distinção
clara entre os negócios pessoais e empresariais de um proprietário, ou seja, o conceito atual de entidade não havia
sido desenvolvido. Houve exceções, porém, e não era raro encontrar um comerciante com um conjunto de contas
para sua casa e outro para seu negócio.
 Os conceitos de exercício contábil e empresa em funcionamento inexistiam. Muitos
empreendimentos eram de curta duração, ou continuavam apenas após a realização de algum objetivo empresarial
especifico. Em conseqüência, o lucro só era calculado quando da conclusão do empreendimento. Sem o conceito
de lucro periódico, não havia necessidade de lançamento de receitas e despesas a realizar. Como os ativos
imobilizados desempenhavam papel muito pequeno nos negócios, não era necessário calcular depreciação. Mesmo
para os empreendimentos que eram organizados por períodos mais longos, tampouco havia necessidade de cálculo
periódico de lucros, porque os proprietários estavam em contato direto com os negócios.
 A Quarta característica decorre da ausência de uma única unidade monetária estável.
Sem um denominador comum, a escrituração por partidas dobradas é impossível; dada a grande quantidade de
unidades monetárias existentes durante a Idade Média, as partidas dobradas eram possíveis, mas complicadas.
Assim, os lançamentos de diário, também denominado Memorial ou Livro Diário, eram bastante descritivos,
incluindo detalhes tais sobre as mercadorias, com seu peso, seu tamanho e suas dimensões, bem como seu preço.
As propostas atuais sobre divulgação relativa a instrumentos financeiros parecem indicar que os primeiros
contadores estavam 500 anos à frente de seu tempo.

Antecedentes da Contabilidade

Mas porque na Itália? Por que o século XIV? O que é apresentado a seguir conta uma
história estranha e interessante de como a contabilidade finalmente floresceu nessa época e nesse lugar. À medida
que a história é contada, torna-se rapidamente evidente que a contabilidade foi o produto de muitas mãos e muitas
terras. A história da contabilidade revela o quão cosmopolitas foram nossos ancestrais. A história da contabilidade
rapidamente mostra que nossa cultura deriva quase inteiramente de outras culturas. A história também serve para
ressaltar o fato de que a humanidade tem dado seus maiores passos intelectuais e sociais em períodos de paz e
tolerância.

Primeiras Civilizações
 Muito antes que a Europa emergisse de tendas e peles, economias sofisticadas já existiam no Oriente
Médio e no Extremo-Oriente. A dinastia Shang, na China, remonta a 1600 a.C. As grandes pirâmides do
Egito, a primeira das quais foi construída 4 mil anos atrás, confirma a antiguidade dessa civilização. O
conhecimento dessas civilizações antigas atingiu seu ápice na Grécia clássica. Filósofos como Homero e
Sófocles, e matemáticos como Euclides e Pitágoras ainda influenciam nosso pensamento. Mais de dois
milênios após a morte de Hipócrates, os médicos continuam a prometer cumprir seu juramento.
 Alexandre o Grande, um dos discípulos de Aristóteles criou o maior império conhecido na Antiguidade –
cuja extensão só foi menor do que a do Império Britânico. Em 322 a.C funda a cidade de Alexandria, na
qual foi montada a mais extraordinária biblioteca do mundo antigo. Em 235 a.C continha mais de 500 mil
manuscritos.
 Vários registros contábeis datam desses períodos. Por exemplo, agricultores egípcios nas margens do Nilo
pagavam aos coletores de tributos com cereais e linhaça pelo uso de água para irrigação. Recibos eram
dados aos agricultores desenhando-se figuras de recipientes de cereais nas paredes de suas casas.
 Arqueólogos crêem que as fichas de argila abundantes na Mesopotâmia eram usadas, de maneira similar,
para fins contábeis.
 Descoberta pelos árabes do conceito de zero e posteriormente do sistema arábico.

Progressos Tecnológicos e Mudanças Socioeconômicas

 O maior progresso foi à invenção da vela triangular, chamada vela latina, superando a vela quadrada
dos romanos. A vela latina permitia navegar contra o vento. Antes de sua invenção, o comércio
limitava-se à navegação numa direção em uma época do ano. Navegando-se em outra direção oposta
em outra época, à vela latina permitiu navegar em qualquer época do ano.
 Com as Cruzadas surgiam as necessidades de navios e suprimentos, e traziam do Oriente produtos
que ajudaram a estimular sua demanda: sedas, especiarias e corantes fluíram da Europa e sal,
madeira, cereais, lã eram dela exportados. Mercadores baseados em portos com Gênova, Amalfi e
Veneza enriqueceram com esse comércio.
 À medida que o comercio expandia a riqueza era acumulada, a negociação individual sendo
substituída pelo comércio por meio de representantes e associações. O uso de sociedades permitia
que os riscos da navegação marítima de longo curso fossem compartilhados.
 A sociedade silenciosa, denominada commenda, o capital fornecido pelo sócio inativo(o commendator)
era como um empréstimo ao sócio ativo(tractator), um esquema que evitava o pagamento de juros.
 A sociedade, portanto, foi importante ao desenvolvimento da Contabilidade porque levou ao
reconhecimento da firma como entidade separada e distinta das pessoas de seus proprietários. A
relação de representação foi importante porque exigiu prestação de contas. Também foi importante no
desenvolvimento posterior da sociedade por ações, pois a responsabilidade de commendator era
tipicamente limitada ao montante investido.
 O efeito colateral trágico do desenvolvimento do comércio foi o surgimento das doenças. A fortuna
deixada pelos que morriam aos felizes sobreviventes, contribuiu para a escassez de mão-de-obra e fez
com que os salários subissem. O sistema feudal começou a declinar à medida que os camponeses
deixam os campos em busca de salários mais altos. Uma economia monetária começou a tomar o
lugar das velhas obrigações de classe. A propriedade privada começou a suplantar a posse conjunta
da Idade Média.
 Gutenberg revoluciona o mundo com o tipo móvel. Veneza se transformou então no centro mundial da
imprensa.

Débitos e Créditos

Mas por que especificamente a escrituração por partidas dobradas? O conceito de dualidade
freqüentemente utilizado para justificar as partidas dobradas apenas exige que sejam reconhecidos dois
lados de cada transação. Isso poderia ser com igual facilidade feito numa única coluna, usando sinais
positivos e negativos, quanto em duas colunas com débitos e créditos. Por exemplo, aos se usar caixa para
adquirir estoques, por que não simplesmente colocar número positivo na coluna de estoque e um número
negativo na coluna caixa. O fato curioso é o de que, embora os inventores da contabilidade dispusessem de
conceitos tais como moeda, capital próprio e despesas, não dispunham de números negativos, estes na
verdade só foram utilizados em matemática antes do século XVII.
As contas em forma de T foram desenvolvidas, portanto, para indicar aumentos de um lado e reduções de
outro.

A Era da Estagnação

A partir do final do século XV, as cidades Italianas começaram a decair tanto politicamente quanto como
centros de comércio. Com o descobrimento do Novo Mundo e a abertura de novas rotas de comércio, os
centros comerciais deslocaram-se para Espanha e Portugal, e posteriormente par Antuérpia e aos Países
Baixos. Era natural que o sistema italiano de partidas dobradas se espalhasse a esses outros países.

Os autores preocupavam-se com a apresentação do mecanismo de escrituração desenvolvido nos


negócios. Ninguém se interessou em desenvolver uma teoria das partidas dobradas e ninguém foi além das
necessidades de escrituração da empresa mercantil. No segundo ciclo de 1559 a 1795, surgiu um novo
elemento – a crítica da escrituração. Esse também foi o período no qual a partidas dobradas estenderam
sua aplicação a outros tipos de organizações, tais como mosteiros e o estado. Com a crítica e ampliação da
esfera da escrituração, teve início a pesquisa teórica sobre o assunto.

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